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  • 7/27/2019 Perguntas Terapia Familiar Sistemica

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    1GEORGE S BARBOSA

    PERGUNTAS NA TERAPIA FAMILIAR SISTMICA

    Um panorama histrico.

    Monografia atendendo os requisitos de trabalho de concluso de curso deespecialista em Terapia de Casal e Famlia, nvel Latus Censo na Pontifcia

    Universidade Catlica - SP.

    1996

    Como citar essa Monografia :

    Barbosa, GS. (1996). Perguntas na terapia familiar sistmica: Um panorama histrico.

    Monografia apresentada no programa de Terapia de Casal e Famlia na PUC-SP.

    Endereo de acesso: www.sobrare.com.br

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    INTRODUO

    Organizamos uma pesquisa bibliogrfica, em autores relacionados ao

    questionamento psicoterpico sistmico, onde se procurou dedicar ateno

    ao desenvolvimento histrico do movimento da terapia familiar sistmica.

    Elaborar perguntas intrnseco a qualquer evento teraputico; mais

    que isso, perguntar pertence ao processo da comunicao humana. Dentro

    de um referencial familiar sistmico, nos demos conta de que a estruturao

    de uma pergunta atende a critrios especficos da Teoria Geral dos

    Sistemas (TGS), e que esses critrios nem sempre foram os mesmos. Eles

    foram organizados tendo em vista as peculiaridades de cada escola que se

    organizou, das tcnicas de interveno que foram propostas ao longo do

    tempo, da compreenso que cada grupo teve do referencial terico e das

    necessidades das pessoas que se submeteram ao processo teraputico.

    O esforo dessa monografia se justifica, na medida em que se procura

    delinear um caminho para ns, que desejamos melhor entender a importncia

    e o lugar do questionamento no processo teraputico.

    Tambm por intentar refinar nossa prtica, atravs de uma melhor

    habilidade em elaborar perguntas, quanto interao com as pessoas que

    participam de um atendimento psicoterpico e por prover uma melhor

    comunicao do entendimento do que seja a realidade e as descries que faz

    da mesma.

    Tambm temos que a proposta se justifica por ver-mos na prtica

    clnica, a importncia de uma melhor habilidade e domnio na estruturao de

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    perguntas, por serem mecanismos que desencadeiam possibilidades de

    mudanas no sistema teraputico.

    Essa proposta surgiu da percepo de algumas dificuldades em nossareflexo entre a teoria e a prtica clnica. Nas leituras e reflexes sobre a

    prtica teraputica, nos deparamos com os problemas relacionados

    elaborao de perguntas dentro de um processo teraputico, embasado na

    literatura sobre Terapia Familiar Sistmica.

    O problema central com que nos deparamos, foi: Que estrutura tem uma

    pergunta que desencadeia uma conversao circular sistmica no atendimento

    familiar. Percebemos que a resposta dada para esse problema, orientava a

    epistemologia e a prtica do clnico.

    Um segundo problema suscitado, foi: Que autores sistmicos podemos

    encontrar em uma reviso bibliogrfica, que j estudaram esse problema? Pelo

    olhar do movimento histrico, percebamos que em deferentes momentos,

    autores estiveram envolvidos com essa problemtica.

    Um ltimo problema relacionado ao problema central, foi: Que solues

    foram apresentadas para esse problema dentro da Terapia Familiar Sistmica

    (TFS)? Essas solues pressupem que estariam relacionadas histria da

    TFS.

    Em face dos problemas estabelecidos, tivemos como objetivo principal,

    alistar as principais proposies sobre a formulao de perguntas, dentro de

    uma psicoterapia nos moldes sistmicos.

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    Estabelecemos tambm a verificao de possveis desdobramentos que

    houve no tempo, sobre a discusso da formulao de perguntas dentro do

    processo sistmico.Para dar conta destes objetivos, traamos um plano de trabalho, que se

    constituiu depois na prpria monografia. O primeiro item planejado foi uma

    introduo geral, onde se buscou demonstrar a insero do assunto em nossa

    prtica clnica.

    Um segundo item foi apresentar de modo conciso a Teoria Familiar

    Sistmica. Nesse mesmo item procuramos destacar o assunto da

    Comunicao Circular e suas implicaes na estruturao de perguntas no

    contexto da clnica familiar sistmica.

    Em seguida, procuramos apresentar as estruturas de perguntas, que

    encontramos em nossas leituras. Relacionando-as com as mudanas

    epistemolgicas da teoria ciberntica - sistmica.

    E apresentar uma concluso, onde se pudesse tecer um perfil histrico

    de como se organizou a elaborao de perguntas dentro dessa abordagem

    sistmica familiar.

    Em todo o tempo de desdobramento de nossa pesquisa, assumimos que

    perguntas no so feitas somente para revelar algo no sabido, mas tambm

    so regularmente utilizadas por terapeutas, para verificar determinados

    significados, valores, saberes, etc. Aqui nessa monografia, estamos nos

    dedicando apenas ao aspecto da formulao, destinando outros aspectos para

    futuras leituras e pesquisas.

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    Outro fato que desejamos ressaltar que assumimos que a prtica

    teraputica exercida a partir de uma ciberntica de 1a. ordem, ainda uma

    realidade que encontramos em discusses com terapeutas dedicados aotrabalho com famlias, e por isso mesmo tratamos dela como sendo ainda uma

    prtica atual.

    O REFERENCIAL TERICO

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    A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS E A TERAPIA FAMILIAR

    Pensando a famlia a partir da Teoria Geral dos Sistemas, Cerveny

    (1994) diz que em uma dada famlia o comportamento de cada componente

    interdependente do comportamento relacional dos outros membros.

    Ressalta que as particularidades que podemos ver em cada um dos

    membros de uma famlia, se somadas no bastam para explicar a totalidade

    do comportamento de outros membros da famlia. Quando nos deparamos

    com uma famlia, essa no se constitui na soma de comportamentos

    individuais, e sim, um complexo de interaes de um componente em

    relao ao outro.

    Cerveny postula que a famlia quando entendida a partir da

    perspectiva de um sistema, passa a ser capaz de desenvolver padres e

    modelos prprios de expresses sociais.

    Tambm afirma que em nosso encontro com a famlia, ainda nos

    damos conta de que cada membro atribui para si prprio um significado

    para suas interaes e possui um modo singular de transmiti-lo no meio

    familiar. Esse modo singular est de acordo com o aprendido no contexto

    familiar.

    A partir da compreenso a famlia pode ser entendida no s como um

    sistema, mas tambm como um sistema de interaes. Quando nos referimos

    a um padro relacional, queremos especificamente falar do conjunto de

    comportamentos e comunicaes de um membro do sistema familiar como

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    um todo. Tudo o que acontece no seio da famlia e aquilo que venha a ser

    expresso atravs de seus componentes, resultado desta realidade

    interrelacional.Von Bertalanfy (1968) que formulou a teoria dos Sistemas define um

    sistema como um todo organizado de elementos que esto em contnua

    interao. Esses elementos estabelecem trocas entre si que mantm a

    organizao e perpetuao do sistema.

    Dessa forma, os membros da famlia podem ser organizados em

    subsistemas. Juntos os membros constituem-se no ncleo familiar, sem

    perder as caractersticas do todo.

    Nessa monografia usamos o termo famlia nuclear quando nos

    referimos aos membros que vivem na mesma residncia, embora ns

    estejamos conscientes que em outros trabalhos, o termo utilizado para

    membros unidos diretamente por laos sanguneos. Entendemos tambm,

    que a famlia quando olhada em seu contexto maior pode ser entendida

    como se constituindo em um subsistema de uma famlia mais extensa

    ainda, que so os familiares distantes. A esse subsistema maior

    denominados de famlia extensa.

    Esta famlia extensa tambm um subsistema de uma famlia de

    mltiplas geraes, que chamamos de sistema geracional, que se inserem

    dentro de um sistema maior ainda, denominado de sistema social.

    Torna-se extremamente amplo o nmero de relaes possveis

    dentro de uma famlia, quando passamos enxerg-la em trocas com seus

    subsistemas (nuclear, extenso, geracional ou social / cultural). Isto lembra a

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    todos que se achegam famlia, que impossvel entender partes do todo

    como entidades isoladas, ou como exclusivas de processos intrapsquicos

    membros, como que ilesos das repercusses das aes de outros membrosfamiliares.

    Os membros de uma famlia sero compreendidos, ao longo da

    monografia, a partir das teias interacionais que se articulam no todo, como

    um sistema.

    Como um sistema, procura manter um funcionamento de

    interdependncia. Minuchin (1982) acerca dessa propriedade entende que

    quando o terapeuta compreende a famlia na tica de um sistema em

    contnua interdependncia e mudana, como tambm um sistema que

    busca sua adaptao junto s peculiaridades das diferentes etapas do seu

    ciclo de desenvolvimento, preciso compreender que esse movimento

    sistmico de interdepender e mudar, visa garantir a continuidade e

    crescimento psicossocial do sistema. Esse processo continuidade e

    crescimento descrito como parte resultante de uma busca de equilbrio

    que ocorre entre duas funes aparentemente contraditrias: a tendncia

    homoesttica e a capacidade de transformaes presentes no sistema

    familiar.

    Quando isso ocorre na busca de equilbrio, o circuito de

    retroalimentao trabalha no sentido de manter o sistema em ambientes ou

    situaes no favorveis; atravs da correo do desvio que busca manter

    a homoestase.

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    Quando a busca do equilbrio, ocorre por meio da amplificao do

    desvio, ou na intensificao da atividade dentro do sistema, e resulta em

    uma nova organizao sistmica ou funcional, o fenmeno chamado deretroao positiva.

    Quando partimos do entendimento que um sistema aberto aquele

    que possui uma sequncia dinmica de partes e processos, inmeras e

    contnuas trocas de materiais, energias, ou informaes com o meio

    externo, em consonncia com a Teoria Familiar Sistmica, podemos crer

    que a famlia por ter tais propriedades, tambm pode ser considerada como

    um sistema aberto. Ela, como um sistema aberto, constituda por muitos

    membros que esto ligados no todo por regras de comportamento e uma

    complexidade de funes, exercendo trocas entre si e com o seu meio

    externo.

    Dessa forma, pode-se compreender que a famlia est organizada

    por muitos outros diminutos sistemas que se mantm em trocas interativas.

    A famlia, portanto, passa a ser um sistema entre outros sistemas, em um

    sistema de outros sistemas. Esses sistemas se autoperpetuam atravs de

    trocas que estabelecem.

    MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS

    No momento em que um pesquisador enxerga a famlia como se

    estruturando e se organizando a partir de suas relaes intra e

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    intermembros nucleares e geracionais, parmetros de funcionamentos so

    organizados.

    O primeiro mecanismo que ordenamos a busca de equilbrio porparte da famlia, por meio de parmetros de funcionamento. Esse

    mecanismo responsvel pela autorregulo das funes de cada membro

    em funo do contexto. So parmetros que asseguram que mudanas e

    desvios podem desestabilizar o sistema familiar embora esse seja

    garantido pelo exerccio da autorregulao.

    A autorregulao das funes descrita por Calil (1987) como

    homoestase. Homo vem do grego (homs) e significa no portugus aquilo

    que semelhante, igual. J estase que tambm tem sua origem no grego

    (stsis) possui o significado em portugus de que aquilo est parado,

    segundo Aurlio (1975).

    E ns entendemos o conceito de homoestase, como a tendncia

    determinada dos membros da famlia, a buscarem sempre o equilbrio das

    foras relacionais dentro de sistema familiar, resistindo assim as mudanas

    nos seus padres comportamentais e comunicacionais. Mesmo quando as

    mudanas resultam em melhora de um dos seus membros, visto implicar a

    necessidade de mudana de todos os outros membros.

    Observando o processo da vida, constatamos que a mudana uma

    realidade implcita nesse processo. E toda mudana gera certo grau de

    desorganizao no contexto em que ocorre. Nos sistemas familiares, se

    procura (-se) evitar essa desorganizao por meio dos circuitos de feedback

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    negativos, que agem atravs de bloqueios ou correes das mudanas que

    se processam.

    Outro regulador do sistema que pode ser elencado o princpio dacausalidade circular. Segundo esse princpio as informaes que entram no

    sistema repercutem no todo. Da mesma forma tambm, em cada elemento

    em particular. Isso possvel atravs de inmeros processos recursivos que

    se potencializam indo ao encontro de um e outro membro do sistema; o que

    chamamos de circularidade.

    Na circularidade, um dado comportamento ou atitude que tem sua

    origem em um subsistema, possui certa repercusso em outro subsistema,

    que to logo tenha sido impactado pela mensagem enviada, responde ao

    subsistema de origem conforme a mensagem recebida, sobrepondo a ideia

    de causa e efeito.

    Esse intercmbio entre as partes do sistema circularmente repetido

    entre si, tantas vezes quanto o sistema necessitar para seu equilbrio.

    A partir deste funcionamento circular que se organizam as teias

    interacionais que revelam a face de cada famlia.

    Essa possibilidade para Cerveny (1994) de repercutir no outro

    membro pela mensagem que recebera, em uma intensidade prpria de cada

    subsistema, satisfaz ao princpio de no-somatividade. Esse princpio

    estabelece que para qualquer observador se torna impossvel, observar o

    sistema atravs de um membro isolado ou mesmo pensar um membro

    como uma entidade isolada e resultante de processos nicos intrapsquicos.

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    Ainda, precisamos elencar que a capacidade de organizar novas

    configuraes estruturais e funcionais dentro do prprio sistema, garantida

    pelo princpio de homoestase. No caso da famlia, ela viabiliza suasestruturas e organizaes.

    OS SISTEMAS ABERTOS

    Propomos-nos olhar a famlia a partir de uma tica sistmica, isso

    como j assumido acima, o que implica em compreend-la como um

    sistema aberto.

    A caracterstica da retroalimentao ora tambm referida como

    feedback que a relao mantida circularmente entre partes internas e

    elementos externos dos sistemas gerais, e particularmente nos sistemas

    familiares, leva-nos a postular uma ao teraputica que transcenda a

    postura de encontrar uma causa em um determinado membro da famlia. Da

    mesma forma, os inmeros subsistemas exigem mltiplas respostas de

    qualquer observador que se disponha compreend-los.

    A mudana de uma abordagem de busca de causas individuais, para

    uma abordagem familiar, nesse caso, significa mais do que eleger um

    elemento em detrimento de outros. Significa que nossa epistemologia parte

    de um parmetro conceitual inequivocamente diferente. uma nova

    maneira de enxergar e compreender o mundo: Todos os elementos de

    maneiras diferentes esto implicados na produo do problema.

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    Andolfi (1979) define o ser humano, no apenas atravs de suas

    palavras, mas tambm de suas aes, atravs de seus instrumentos,

    objetos, e o que significam para ele. Todos esses componentes criam ocontexto de nossas interaes e trocas, e so, por sua vez, condicionados

    por aquelas mesmas trocas. Essas dinmicas interativas podem direcionar a

    famlia, quando compreendida na abordagem de um sistema aberto, a

    padres de comportamentos rgidos ou para padres saudveis. O lado

    saudvel de uma famlia, tambm um processo formado no decurso de

    geraes, como consequncia de atualizaes que ocorrem nessa

    trajetria, nos papis e nas funes. Quando estas mudanas no so

    permitidas, nota-se o surgimento de problemas que se estruturam na forma

    de relaes patolgicas.

    Minuchin (1982) comenta que sua observao prtica revelou que

    todo indivduo possui um modo particular de perceber e de sentir seus

    vnculos, percepes e necessidades inerentes a seus relacionamentos, e

    essa particularidade que organiza a viso de si prprio e de mundo em cada

    pessoa do sistema. Ainda com base nessa percepo individual peculiar

    que construda no mbito familiarintergeracional, que estabelecida

    toda uma gama de percepes mltiplas, as crenas das mais diversas, as

    necessidades secretas que ocorrem nas trocas com outros elementos e

    eventos, originando uma profunda relao emotiva que caracteriza os

    vnculos familiares, que mais cedo ou mais tarde, intervm

    sintomaticamente no campo de sade mental.

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    Todas essas diferenas intrnsecas nas percepes, nas crenas e

    nas necessidades de um dado membro familiar, constituem-se a base dos

    conflitos familiares.As diferenas dentro do sistema familiar e o desenrolar dos conflitos

    so um dos focos centrais em um atendimento psicoteraputico familiar.

    um atendimento no qual se busca conhecer no s o leito do rio, como

    tambm as suas margens.

    Andolfi (1979) e Cerveny (1994) discorrendo sobre o carter que o

    atendimento de famlias possui, e quais as caractersticas de terapia

    familiar. Defendem que a terapia familiar tem cunho de interveno, e que

    por isso mesmo, a nosso ver, diferentes propostas de perguntas foram

    apresentadas ao longo do tempo, atendendo a essa pressuposio.

    Porm, as perguntas devem ser pensadas em uma condio

    sistmica. Andolfi (1979) ainda argumenta que a famlia uma boa terra

    para se trabalhar com uma abordagem interacional que, uma vez

    assimilada, facilitar, e muito, a superao das barreiras do grupo familiar.

    Sobretudo pela explorao da relao circular entre os prprios membros e

    entre a realidade social mais ampla.

    Isto requer uma postura que podemos chamar de ecolgica. Pois a

    famlia entendida como um sistema de interao, que supera e articula

    dentro dela, os vrios componentes individuais e suas articulaes

    ambientais.

    Watzlawick (1977) falando da interveno em sistemas que acabam

    tornando-se rgidos em suas interaes ao longo do tempo ressalta que os

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    sistemas familiares, os quais se estruturaram no tempo por um

    comportamento patolgico em qualquer dos seus membros, possui a

    tendncia de repartir quase que automaticamente certas interaes quevisam a manuteno de regras, e essas ficam cada vez mais rgidas a

    servio da homoestasia.

    Andolfi (1979) aponta essa tendncia como uma caracterstica de um

    sistema ativo. E a famlia como um sistema ativo, autorregulado por regras

    desenvolvveis e modificveis no decurso de suas geraes, atravs de

    tentativas e erros, permite aos seus membros experimentarem o que

    permitido na relao. A podemos esperar o surgimento de uma regra, uma

    crena, quem sabe, um mito familiar.

    Bertalanffy (1971) ressalta a exigncia de um processo de

    adaptao, que requer uma transformao constante das interaes

    familiares, que por essa alternncia acabam sendo bastante conflitantes.

    Por um lado, observamos exigncias de transformao para manter a

    continuidade da famlia, por outro lado, exigncias de adentrar em novas

    fases o que significa crise e fim do equilbrio atingido at o momento.

    E exatamente em ocasies de crise por presses intra ou

    interssistmicas, de particular intensidade, que surgem a maioria dos

    problemas, que nos propomos estudar.

    Partindo, portanto, dessa premissa, que construmos o diagnstico

    das relaes interpessoais e das normas que regulam a vida do grupo

    familiar, acreditando ser esta a atitude necessria para compreenso dos

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    seus comportamentos e para a estruturao de intervenes frente s

    queixas apresentadas.

    A TERAPIA FAMILIAR

    Vemos que cada famlia possui organizao e estrutura particular.

    Calil (1987) ressalta que essa organizao ir se alterar, de acordo com a

    maneira em que os membros interagem entre si e com os sistemas

    perifricos.

    Isso determina com quais dos membros comeamos a trabalhar.

    Solicitar para estar presente, pai, me, filhos e estabelecer que havendo

    necessidade poderamos contar com outros parentes prximos e at

    mesmo de amigos ou professores, um procedimento que atende a

    orientao de Haley (1979) que escreve ... se encararmos os problemas

    levando em conta o seu contexto, a dicotomia do passado, entre terapia

    individual e terapia familiar, torna-se irrelevante. Entrevistar um indivduo

    uma forma de fazer intervenes junto a uma famlia. Se um terapeuta

    entrevista o pai, a me, o av, ou a criana, e no faz contato com outros

    membros da famlia, ele forma uma coalizo no escuro, sem saber a

    natureza da organizao na qual est entrando. Aps a terapia ser iniciada

    o terapeuta poder sentir necessidade de entrevistar os membros da famlia

    isoladamente, tendo-se em considerao um objetivo particular, entretanto,

    no incio, melhor entrevistar todos aqueles que vivem na casa, de tal

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    forma que possa rapidamente captar o problema e a situao que o

    mantm. (p. 25).

    Em outro momento, Haley (1979) ressalta que como o objetivo de umterapeuta, fazer intervenes que tenham funo teraputica diagnstica,

    ele deve comear com todas as pessoas envolvidas. Assim as mudanas

    podero envolver a todos os membros.

    Andolfi e Angelo (1988) destacam que o objetivo prioritrio

    teraputico em uma terapia familiar, consiste em romper a rigidez dos

    modelos interacionais estereotipados e consolidados durante o decorrer do

    tempo, alcanando nveis de conflitos interpessoais submersos e temidos

    pela famlia; de vital importncia destacar o momento evolutivo em que

    ocorre o pedido de terapia por parte da famlia (ou de outras estruturas

    sociais). s vezes, decorrem anos at a famlia se decidir a pedir ajuda.

    Minuchin (1982), tambm trabalha na perspectiva de que tendo a

    famlia como um sistema entre sistemas, deve o terapeuta laborar na

    explorao das relaes interpessoais e das normas que regulam a vida

    daqueles que estruturam o problema.

    Quem convidado a estar presente no decurso do tratamento so as

    pessoas que fazem parte da manuteno de cada problema discutido. Isto

    auxilia na flexibilizao do sistema e abre portas para o rompimento de

    padres rgidos.

    Em geral, na prtica clnica percebemos que as famlias que

    convivem com a esquizofrenia, so famlias com padres rgidos. E

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    Watzlawick (1977), estudou que em famlias rgidas, o salto de um estgio

    evolutivo para outro , quase sempre, percebido como uma catstrofe. Se o

    sistema no de alguma forma flexibilizado, e por urgncia da existnciapermanece rgido, a famlia adotar uma soluo j conhecida, aplicada no

    presente e j programada para o futuro. Com isso ela vir estar fechada

    para a aprendizagem e experimentao que surgir no percurso do

    tratamento.

    Watzlawick (1977) ressalta que aquilo que j foi usado

    repetidamente aplicado em situaes novas, o que leva a uma confuso

    entre o que ele chama de espao pessoal e espao interativo, que, por

    conseguinte resulta em confuso entre identidade e funo dentro dos

    membros.

    Ainda suas pesquisas indicam que alm de intensificao da rigidez,

    e da confuso de papis e espaos, haver uma interrupo no ciclo de

    vida de cada indivduo e da prpria famlia. Aspecto bastante emblemtico

    em nossa pesquisa. Soma-se a isso o fato de que Watzlawick (1993), diz

    que neste contexto, o selo do Paciente Identificado (P.I.) colocado de

    modo irreversvel em um ou mais membros, tanto para evitar a instabilidade

    momentnea uma vez que para os membros da famlia a causa foi

    identificada como para evitar a evoluo do grupo em uma direo

    desconhecida.

    bom destacar que de acordo com Minuchin (1982), para que haja

    mudanas significativas no mbito e no conjunto de relaes do sistema

    familiar, necessrio que sempre haja uma situao de crise no

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    funcionamento do mesmo. Particularmente, por entender que um sistema

    familiar no simplesmente uma realidade bidimensional; mas sim uma

    realidade tridimensional, no qual os familiares do passado manifestam-se nopresente, a fim de tambm organizarem o futuro.

    Assumindo essa postura, Minuchin no v esse processo como um

    ignorar da pessoa individual. Entende sobretudo que o presente o seu

    passado, mais as suas circunstncias presentes. E fatos do passado

    sempre estaro vivos, ampliados e alterados pelas interaes atuais. Ora,

    essa maneira de enxergar, leva-nos a assumir que ningum uma ilha ou

    uma pessoa que se define por si prpria. Cada membro do sistema familiar

    um membro que atua e reage em sua casa, na escola, na igreja, na rua

    onde vive e em qualquer um dos contextos em que se inserir. A realidade

    percebida em cada um e na famlia como um todo resultado das

    interaes entre o seu repertrio e as experincias que tiver na interao

    com o seu meio ambiente. J dissemos antes que a interao que ocorre

    continuamente com o ambiente externo o que caracteriza os sistemas

    abertos. Essas trocas possibilitam o fluxo de materiais, informaes, energia

    e padres comunicacionais transformando o membro que recebe, e

    alterando-o no instante que doa ou reage. Alis, esse intercmbio se

    comporta como um sistema total.

    Como j ressaltado antes, estes processos esto carregados de

    incertezas e impem a necessidade do estabelecimento de regras ou

    enrijecimento de antigas regras, afim de que no haja problemas de soluo

    de continuidade no sistema.

  • 7/27/2019 Perguntas Terapia Familiar Sistemica

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    Minuchin (1982) estudou que isso acontece, particularmente, atravs

    do P.I. A famlia seleciona um membro para focar nele o estresse, e a

    tenso dessa percepo que expressa ao mundo por meio de sintomas dadoena. O P.I., por ser parte do sistema e do processo, eleito para cumprir

    esse papel, mesmo a ponto de sacrificar parte de sua autonomia, a fim de

    poder preencher a funo designada. Nada mais, nada menos que ser o

    foco de todas as dificuldades interacionais da famlia, at que ocorra a

    cristalizao da funo e do funcionamento interrelacional. Notamos que

    sabido por todos do sistema familiar que, um membro do sistema est

    doente e at mais de um como no sistema que pesquisamos porm, o

    perigo do fim do equilbrio sistmico, a ameaa da renegociao de regras

    aceitas que implicam na reorganizao de funes e espaos j outrora

    definidos. Alm da possvel alterao da posio de cada membro dentro da

    famlia aumenta o medo de qualquer mudana.

    A rigidez, devido ao medo, trar a perda de autonomia e sentido de

    vida.

    Nas famlias rgidas v-se, na prtica clnica, que a desconfiana de

    um terapeuta ou de algum que visto como de fora e que pode promover

    algum tipo de mudana nos seus esquemas interativos rotineiros o que

    significa afastar a todos das conhecidas regras do jogo pe cada membro,

    por meio de comportamentos, mensagens no verbais e verbais a vigiar aos

    outros de modo rgido e incessante, mesmo sob intenso desgaste

    psicoemocional. Isso no dia a dia implica que todos se vm forados pelo

    medo e insegurana a agir, sempre de um jeito tal, que parea que o

  • 7/27/2019 Perguntas Terapia Familiar Sistemica

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    sistema inteiro est coeso e fixo nas regras estabelecidas. Todos esto sob

    a bandeira de um mito cristalizado de unidade.

    Minuchin, ainda comentando esse fenmeno, pontua que a tensoque surge e se realimenta no processo, serve como alimentador vicioso do

    trabalho inesgotvel de transformar com o intuito de que nada realmente

    mude no sistema, que por ser aberto, se caracteriza como passvel de

    trocas.

    Tanto Minuchin (1982), como Andolfi (1979) e Watzlawick (1977),

    afirmam que h situaes em que a tenso no funciona como elemento de

    manuteno de equilbrio, e sim como um fator de favorecimento da

    mudana. Isso acontece no momento em que a tenso, resultante das

    trocas entre o sistema e seus subsistemas e ainda com outros sistemas

    elevam os nveis de tenso em uma magnitude tal que, a soluo

    encontrada pelo sistema para sua manuteno e sobrevivncia vem a ser

    um salto de mudana.

    Cerveny (1994) argumenta que, se o trabalho do terapeuta em

    momentos como esses, for realizado sem uma profunda considerao pela

    liberdade de cada membro da famlia, e se for feito sem uma sensibilidade

    singular no que concerne ao entendimento de qual seja o real sofrimento da

    famlia dentro da sociedade, o atendimento cair no crculo vicioso dos

    antigos esquemas interacionais familiares.

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    CIRCULARIDADE

    No trabalho com famlias onde se deseja mudanas em seus padres

    Haley (1979), Andolfi (1979) e Calil (1987) orientam de que o terapeutanecessita implementar uma sequncia de retro-alimentaes positivas

    circulares na conversao, que iro causar uma ampliao dos desvios

    existentes. Quando isto ocorre em uma escala acentuada o que se verifica

    que os mecanismos j existentes, passam a corroborar para a mudana.

    E se essa mudana de tal magnitude, que traga uma nova configurao

    ao sistema, chamada de Mudana de Segunda Ordem.

    A possibilidade de Mudana de Segunda Ordem advm das

    habilidades do terapeuta no curso do tratamento. Esse deve colocar-se em

    uma posio de interao como todos os membros presentes ou no nas

    consultas, de forma que no se focalize em um ou outro familiar apenas.

    Sua pessoa se torna agente e reagente dentro do sistema teraputico que

    se expande para fora das paredes do consultrio. Isso j um rompimento

    com a rgida organizao de sistemas, onde h portadores de esquizofrenia.

    Com vistas a esse intuito, a comunicao efetivada a partir de um prisma de

    circularidade, torna-se uma das ferramentas essenciais no trabalho com

    famlias, principalmente aquelas com dbito comunicacional. No

    atendimento que realizamos, vimos ser necessrio entrar no sistema

    familiar, por meio do cuidador integral e aprender as suas regras, avaliar o

    grau e a intensidade de congruncia entre as mensagens que acontecem

    na comunicao familiar; tanto as verbais como as no verbais.

  • 7/27/2019 Perguntas Terapia Familiar Sistemica

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    Percebemos em nosso trabalho que ao estabilizarmos nosso lugar

    dentro do sistema familiar, atravs do C.I. que passou a ser o interlocutor,

    terminamos por nos comunicar, tambm, com os outros membros da famliaque esto a distncia.

    O sistema teraputico obtido atravs do atendimento familiar entendido

    aqui em consonncia com Anderson e Goolishian (1988), como um sistema

    que se organiza por intermdio de um problema. As pessoas que participam,

    s estaro envolvidas e nele sero articuladas, porque esto de alguma forma

    em contato com a conversao que ocorre ao longo do processo. A

    consequncia dessa concepo a possibilidade de se trabalhar com

    diferentes configuraes de membros dos sistemas familiares, no sistema

    teraputico. Ele pode comear com o casal, e em alguns momentos conter

    somente um dos cnjuges e em outros perodos, contar com todos familiares

    do ncleo principal, ou mesmo, pessoas atreladas ao problema.

    Estruturas de perguntas.

    Temos assumido que crenas constroem realidades (Barbosa, 2002). E

    tais realidades passam a ser sustentadas no contexto da interao social, a

    qual, por sua vez, confirma as crenas que se originam a partir do social. De

    maneira mais detalhada, entendemos que as pessoas organizam uma ideia

    sobre uma dada percepo, constroem uma explicao ou teoria sobre ela e

    passam a viver como se tais percepes realmente existissem. Explicaes e

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    definies dessas crenas so estruturadas nos contextos interacionais e

    divulgadas por todos os protagonistas que se apoderam delas; autenticando ou

    refutando seu contedo ou forma.Em muito, a possibilidade de participar dessa construo, est no campo

    das perguntas que se pode fazer aos envolvidos na interao.

    Perguntas interacionais, numa perspectiva sistmica, trazem a

    potencialidade de, alm de obter informaes ou conhecimento do que ocorre

    em uma interao humana, a capacidade de gerar experincias entre os

    envolvidos.

    A estrutura das perguntas, dentro da ciberntica de 1a. ordem.

    Ampliando a discusso de como as crenas so geradas socialmente,

    McNamee e Gergen (1998) aponta para as dificuldades que ainda temos em

    explicar como tais crenas se transformam em uma aquisio social e como

    passam a ser uma propriedade individual. E constatamos na leitura que

    realizamos sobre o que h escrito acerca da Teoria Geral dos Sistemas, que

    essa tem sido a preocupao da ciberntica desde seu incio.

    E uma terapia com base sistmica, pode ser um valioso meio para dar

    conta de parte dessas dificuldades, ao possibilitar caminhos e alternativas que

    favoream a mudana, tanto na forma de explicar a realidade, como nos

    padres interacionais.

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    Haley (1979) comenta que nos primrdios dos anos 50, atravs do

    projeto dirigido por Gregory Bateson e posteriormente no trabalho do Mental

    Research Institute (M.R.I) de Palo Alto (USA), j se acreditava que nasinteraes onde ocorrem os dilogos esto os contextos no qual o problema

    produzido, e para elas toda e qualquer interveno deve ser dirigida; cremos

    estar implcito na afirmao, as perguntas do processo teraputico.

    Ns mesmos acreditamos que, certos questionamentos ocorridos nas

    interaes sucedidas dentro de um sistema teraputico e em suas conexes na

    sociedade, resultam em alguma mudana concreta, quando tais

    questionamentos sensibilizam especficos significados, gerando uma

    reorganizao em favor de uma autenticao ou de uma confrontao das

    crenas bsicas de uma pessoa; que acreditamos ser a base de sustentao

    para a comunicao e o comportamento dessa pessoa. Porm, cabe ressaltar

    que dentro de uma compreenso sistmica de ciberntica de 1a. ordem, como

    j mencionamos na discusso sobre a retroalimentao positiva, se trata de

    uma reorganizao com grandeza tal, que proporcione a construo de novos

    significados. Que por sua vez, iro sustentar novos padres comportamentais.

    Nessa perspectiva ciberntica de 1a. ordem, todo o trabalho de

    perguntar no transcorrer do processo, tem a finalidade de obter uma

    conversao que abarca o problema, na perspectiva de um problema que

    envolve as pessoas relacionadas com o sistema teraputico.

    A conversao que dai se origina, tem o carter de uma construo de

    realidades, uma vez que as pessoas passam a se comportar de acordo com

    tais conversaes.

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    Grandesso (2000), considerando a conversao teraputica nessa

    perspectiva, argumenta que a mesma se d devido a uma construo

    partilhada tanto pelo terapeuta, como pelas pessoas envolvidas. Ressalta quea convico de que toda e qualquer mudana ocorra proveniente dessa

    construo vivenciada atravs da conversao, onde se acredita existir a

    possibilidade de uma compreenso compartilhada. No nosso entender, esse

    aspecto terico promove o escape de um processo de apenas causa e efeito,

    uma vez que gera alternativas para um movimento com caractersticas tanto de

    confirmao, como de negao da experincia; como tambm traz embutido a

    possibilidade de outra explicao que no as aparentes. Essa confirmao e

    negao se impem a partir da experincia cultural, dos saberes acadmicos e

    das histrias existenciais - familiares dos integrantes do sistema teraputico.

    (Barbosa, 2002)

    Embora, esta concepo esteja trabalhando com premissas de

    construo compartilhada de uma realidade, o enfoque da ciberntica de 1a.

    ordem, tem uma conduta diretiva e controladora. Haley (1979) que possui uma

    orientao estrutural, defende que importante que o terapeuta no

    compartilhe suas observaes com as famlias, o terapeuta no dever nunca

    discutir com a famlia. (p. 31).

    O objetivo nessa perspectiva atravs de afirmaes que traduzam uma

    ressignificao e redefinies (Casabianca, s.d.) que possibilitem retirar os ns

    existentes nas condutas tidas pelos familiares como problema, alm de ter

    controle com o objetivo de conseguir que as pessoas se comportem de modo

    diferente. Tambm objetiva autenticar sua participao no sistema teraputico,

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    como aquele que tem um lugar de especialista. De igual forma, busca

    conseguir o mximo de informaes para compreender sobre os integrantes do

    sistema e do modo como respondero a ao do terapeuta.Casabianca (s.d.) trs alguns exemplos dessa conduta, esboada a

    partir de um modelo do M. R. I Palo Alto:

    - Qual a rea de sua conduta ou o problema que acredita ser

    mais urgente de ser resolvido?

    - O que diz A sobre o comportamento de B?

    - Que atitude sua pode nos ajudar em relao a B?

    - Perguntar se h algo que as pessoas no podem deixar de fazer

    como consequncia do problema, ou se h algo que ela quisera fazer e no

    pode.

    - Que rea de comportamento a mudana afetou?

    So perguntas que facilita o mapeamento progressivo do processo, para

    um fim claramente especificado e contratado entre as partes do sistema

    familiar e o terapeuta.

    Molda o pensamento e as aes dos familiares e do terapeuta para a

    obteno e doao da informao necessria e suficiente com o objetivo de se

    obter a mudana.

    Permite que o prprio terapeuta detecte quais informaes faltam, para

    quais dados obtidos no processo e a que altura do processo no foi dada a

    devida ateno.

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    O uso frequente leva a internalizar um modo de ler e operar sobre a

    realidade que se converte em algo automtico, exigindo menor desprendimento

    de energia do terapeuta.Podemos tambm mencionar como exemplo, a descrio do modo de

    argumentar em Palo Alto, atravs de um texto de Haley (1979):

    Terapeuta: Certo, Stuart, parece que voc acabou aprendendo

    algumas coisas.

    Menino: Sim.

    Terapeuta: Voc sabe o que eu quero que voc faa?

    Menino: No.

    Terapeuta: Se os seus pais estiverem de acordo, certo? Eu gostaria que

    voc adotasse um cachorro. Mas eu quero que voc adote um cachorro

    medroso.

    Menino: Com medo de mim?

    Terapeuta: No, no um que tenha medo de voc.

    Menino: Medo de todo mundo?

    Terapeuta: Um que voc ache que medroso.

    Menino: Por que que eu acho?

    Terapeuta: No, no nada disso, eu gostaria que voc pegasse um

    cachorro que voc acha que seria medroso. Eu sei que no tem jeito de saber

    isso e voc no pode perguntar isso para um cachorro.

    Menino: Eu sei, mas eu saberia como fazer isso.

    Terapeuta: Como teria de ser?

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    Menino: , provavelmente teria que ser um cachorro que

    ....provavelmente um cachorro que eu achasse que no teria medo de mim.

    Terapeuta: Ok, ento quero que voc adote um cachorro que voc achaque tem medo, quero que cure este cachorro com a ajuda de seus pais...

    Vocs concordam?

    Me: Sim, est muito bem. (p. 213)

    Em Minuchin (1982), que de uma fase estrutural argumenta que nessa

    tica, a patologia pode estar dentro da pessoa focada no atendimento, no

    contexto social, ou na retroalimentao existente dentro do sistema. Portanto,

    afirma, de que a fronteira que se percebe artificial e indistinta, e carece de

    uma abordagem de questionamento que tenha em vista que o indivduo

    influencia seu meio e influenciado por ele. Que assuma que as mudanas

    nas estruturas familiares contribuem para mudanas nos comportamentos e

    nos processos psquicos internos dos envolvidos no sistema teraputico. Que

    tem para si que o terapeuta ao trabalhar com o sistema, se torna parte do

    sistema; e trabalha com sua argumentao se utilizando fundamentalmente de

    redefinies. Como por exemplo:

    Kaffman: E voc disse que estava cnscia da contradio entre o

    anseio de agredir Michael, quando se sente frustrada, e o senso comum, que

    Michael representa e que traz voc de volta para a realidade.

    Sra. Rabin: Sim, e por isso que as brigas no so srias. De qualquer

    maneira, no temos problemas srios, tanto quanto posso dizer.

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    Kaffman: Ento, quando h uma disputa entre vocs, uma das regras

    pelas quais a famlia funciona que Esther se encoleriza, faz alguma crtica

    veemente em voz alta, voc capaz de ouvir em silncio e engolir isso tudo e,ento, a tempestade passa. isso?

    Sra. Rabin: Apenas uma correo ... e muito importante,

    especialmente no Kibutz. Habitualmente, a crtica no to ruidosa. ... No se

    faz a briga com gritos, mas, costumeiramente, muito discretamente. Apenas

    uma tempestade moderada. Acho que muito bom que os vizinhos no

    participem de nossas questes particulares.

    Kaffman: Ento, o crculo gira e gira na mesma direo. Como isso afeta

    voc?

    Sr. Rabin: A verdade que muitas vezes fao planos de como gostaria

    de surpreender Esther, fazendo alguma nova pea de mobilirio ou fazendo

    algo em casa, mas objetivamente difcil para mim conseguir isso. ... Leva

    tempo para fazer o que Esther me pede para fazer. ...

    Kaffman: Ento vocs so uma famlia bastante ocupada e dividida...

    bem diferente da imagem idlica do kibutz, que muitas pessoas tm.

    Sr. Rabin: Certo. Conosco sempre uma temporada movimentada. ...

    Ento continuar depois do trabalho, com toda essa presso e fazer alguma

    coisa ...

    Sra. Rabin: E uma noite, passando uma semana, voc deve dormir,

    tambm (ri).

    Kaffman: Ento, quando vocs no brigam, ambos concordam que isso

    apenas uma questo de circunstncias objetivas.

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    Sr. Rabin: E ainda, Esther algumas vezes reclama que eu sou um

    vagabundo e que existe algo nisso. Eu acho que uma qualidade positiva.

    Sra. Rabin: Uma qualidade positiva?Sr. Rabin (ri): Sim, em alguns casos, melhor no ser trabalhador

    demais.

    Sra. Rabin: Ah, agora voc tem uma teoria, uma base ideolgica. Se

    voc tem princpios, observo que no h vantagem em incomodar voc para

    que se torne mais ativo.

    Kaffman: Mas uma coisa certa, na medida que observei, at agora. A

    censura constante de Esther, de fato, no estimula voc.

    Sr. E Sra Rabin (juntos): No, de fato.

    Kaffman: A questo que se apresenta , de que maneira, esta constante

    censura afeta voc. Como no estimula voc para fazer coisas, talvez, at

    certo ponto, irrite voc e cause a sua inatividade. Talvez aqui tenhamos uma

    explicao parcial da contradio entre a sua perseverana fora de casa e a

    sua vadiagem em casa.

    Sr. Rabin: Existe alguma verdade no que voc diz.... (p. 77)

    Com relao a esse tipo de conduta e planejamento de perguntas,

    Minuchin (1982) menciona que o terapeuta deve se habituar a fazer para si

    certo nmero de perguntas.

    Por exemplo:

    Quem o porta-voz da famlia?Se algum em especial est agindo

    como porta-voz, o que isso significa?Quem selecionou essa pessoa para fazer

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    a apresentao, para assumir a responsabilidade principal pelo primeiro

    contato.

    O que uma esposa est fazendo enquanto seu esposo fala?O contedodos dilogos apoiado ou contestado pelo agir dos outros?

    Enquanto est fazendo essas perguntas para si mesmo, tem subsdios

    para tabular sua conversao, estruturada em suas perguntas. Isso lhe

    capacita precisar os padres transacionais e as fronteiras, bem como gerar

    hipteses a respeito de quais padres so funcionais e de quais so

    disfuncionais. se mover para obter um mapa da famlia.

    As perguntas dentro de uma tica sistmica estrutural (logo, de uma

    ciberntica de 1 ordem), tambm no esperam que a mudana ocorra no

    interior da pessoa alcanada pela pergunta. tida como possvel devido ao

    terapeuta se associar famlia, e de sua reestruturao da famlia, de modo

    meticulosamente planejado.

    Outro modelo de perguntas que apresentamos como caracterstico da

    ciberntica de 1a. ordem o formato desenvolvido pelo Grupo de Milo

    Interrogatrio Circular.

    A nfase nesse modelo est em encontrar o significado que o sistema

    atribui ao problema apresentado (Casabianca, (s.d.)). O grupo de Milo,

    embora envolvido no posicionamento de que o terapeuta um expert, ou

    seja, trata de um assunto que lhe chega, buscando na sua especialidade

    desenvolver uma sistemtica teraputica de questionamento, desenvolveu uma

    conversao em que certa pessoa ao se expressar, gera possibilidades de que

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    os outros membros do sistema se auto-observem; o que fator essencial para

    possveis mudanas.

    Essa compreenso do funcionamento de um sistema teraputico passoua ser um processo de mudana da prpria epistemologia da ciberntica de 1

    ordem.

    Na estratgia desenvolvida, que veio ser chamada de Questionamento

    Circulares de Milo (Casabianca (s.d.)), o terapeuta se apropriando do lugar de

    um investigador que se interessa por padres relacionais, por conexes e por

    relaes existentes dentro de um sistema, se utiliza de perguntas circulares

    (Cecchin, 1987). Tais perguntas trazem a capacidade de desestruturar o

    sistema de crenas, por se organizar no que ocorre nas interaes e no na

    linguagem essencialista sobre como as coisas so. So perguntas que levam

    cada membro do sistema a vivenciar o lugar do outro, e enxergar as

    experincias atravs do referencial dessa outra pessoa. Tambm favorece a

    percepo de interaes que denotam diferenas, facilitam que se confronte a

    estrutura vigente nas histrias familiares. Possibilitando dessa forma, a

    ocorrncia de novas explicaes para as tramas familiares. Essas histrias,

    normalmente, so organizadas dentro de uma estrutura de causa e efeito, onde

    algum culpado, outro responsvel, mais algum vtima e h uma pessoa

    que trs a soluo. Nessa pessoa, que traz a soluo, so colocadas as

    expectativas de mudanas e, por vezes, vm-se em padres relacionais

    rgidos. O Questionamento Circular traz a possibilidade da ocorrncia de uma

    estrutura sistmica, onde se pode reconstruir outras histria, que no aquela

    apresentada. (Selvini, 1980).

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    Na realidade as perguntas buscam evidenciar a riqueza das interaes

    que se sucedem entre todos os envolvidos no sistema teraputico. ,

    propriamente, um padro que mobiliza a todos em interaes. Procura avaliaros padres relacionais existentes no sistema, e identificar o modo como eles se

    conectam dentro das pessoas envolvidas. Fazendo que se tornem explicitas a

    rede de ideias, o conjunto das crenas que do sustentao s interaes, os

    rituais envolvidos de forma recorrente.

    Nessa estratgia, o papel do terapeuta foi pensado tendo como

    referencial alguns princpios. (Selvini, 1980).

    Na capacitao do terapeuta de organizar suas perguntas com um

    objetivo definido, como tambm na sua habilidade de antecipar os possveis

    efeitos das perguntas, est a eficcia das tcnicas e o referencial para o

    contedo das perguntas.

    A hipotetizao, um dos princpios, se refere habilidade teraputica de

    estruturar as percepes de modo sistmico, buscando gerar um ambiente

    onde cada um dos integrantes do sistema teraputico possa se ver envolvido.

    H entre os integrantes uma comunicao que circula entre todos. Isso ocorre

    atravs das perguntas circulares.

    Selvini (1980) ressalta que fundamental que a hiptese articulada seja

    de cunho sistmico, a fim de dar sustentao retroalimentao circular.

    A circularidade, outro princpio propriamente dito, se refere capacidade

    do terapeuta em se envolver atravs da retroalimentao que recebe do

    sistema teraputico, voltando-se para todos implicados no contexto.

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    Outro princpio a neutralidade. Consiste no comportamento teraputico

    de se relacionar com todos e efetivamente no se vincular a algum especfico.

    A neutralidade e a hipotetizao so implementadas atravs dacircularidade.

    Uma Entrevista Circular se referiu a um modelo de questionamento que

    se organiza a partir desses trs princpios e ainda de um planejamento

    estratgico. Devido ao carter estrategista do plano de ao a Entrevista

    Circular por si mesma j de produzir mudanas teraputicas.

    Por isso mesmo o terapeuta deve ter a habilidade de se mover entre os

    princpios.

    O criterioso planejamento das perguntas, que melhor se mostram ao

    quadro familiar, das possibilidades de respostas que podem ser obtidas atravs

    das perguntas esboadas (Grandesso, 2000) e chamadas de estrategizao;

    que tido como um quarto princpio.

    A estrategizao organizada por meio das informaes que so

    colhidas logo no incio do contato com a famlia. Consiste em primeiro

    estruturar uma hiptese, e partir dela traar um plano estratgico do que fazer

    e o que investigar no sistema familiar. O plano estratgico ser viabilizado

    atravs da circularidade. Essas aes so intercambiadas com a de

    neutralidade, que implica em entrar e sair do sistema familiar para verificar

    como as aes e perguntas esto repercutindo na famlia. O que dar

    informaes para que o processo volte a acontecer por todo o tempo do

    atendimento. Grandesso (2000) argumenta que essa linha de trabalho torna a

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    ao do terapeuta deliberadamente influenciadora ou confrontadora para com

    aqueles do sistema familiar.

    Comentando o perodo de 1

    a

    . ordem ciberntica, Cecchim (1998) in:McNamee (1998) declara: ... quando integrava o Grupo de Milo nos anos 80,

    por vezes sentiam que as pessoas ficavam juntas somente para brigar. No

    casal via-se uma competio tremenda e, quando tudo estava calmo,

    achvamos que era apenas um equilbrio temporrio e aparente em uma

    situao de permanente batalha. Os terapeutas costumavam ir para trs do

    espelho para planejar suas estratgias de contra-ataque. Cada movimento

    passava a ser uma manobra, e cada fala era entendida de dez maneiras

    diferentes. Perguntas eram feitas: Que tipos de jogo a famlia est jogando?

    Que outros jogos podemos jogar com eles?; Quem est fazendo aliana com

    quem? Nesse contexto era preciso que o terapeuta estivesse no controle da

    situao Vrias tcnicas eram utilizadas para obter o controle, mas, ao

    mesmo tempo, de conduzir a batalha a uma pausa ou a uma espcie de trgua

    aparente.

    V-se um exemplo dessa tcnica circular de perguntar em Selvini et al.

    (1980):

    Terapeuta: Quando Lorenzo comeou a perder o controle e a empurrar

    sua me, o que seu pai fez?

    Terapeuta: Como sua me reage ao que ele (o pai) fez ou no fez?

    Terapeuta: O que voc fez em reao ao que ele fez?

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    Outro exemplo onde a circularidade procura evidenciar as diferenas

    entre comportamentos:

    Filho: Ns vivemos com nossos avs, e eles realmente incomodam.Terapeuta: O que eles fazem, que os tornam incmodos?

    Filho: Eles insistem em ficarem interferindo com nossos pais, falando

    sobre o que devem fazer conosco.

    Terapeuta: Quem interfere mais, seu av, ou sua av?

    Filho: O av.

    Terapeuta: Com quem ele mais interfere, com seu pai ou com sua me?

    Filho: Com meu pai.

    Terapeuta: E quem se torna mais alterado com a interferncia do seu

    av, seu pai ou sua me?

    Filho: Oh, mame, lgico! Ela fica esperando que papai mande-o

    embora...

    Um outro exemplo onde a circularidade procura detectar o lugar que os

    membros se colocam em relao ao problema:

    Terapeuta: Classifique os vrios membros da famlia em relao

    tendncia deles de permanecerem em casa aos domingos. Comece por aquele

    que mais fica em casa.

    Terapeuta: Isso faz parecer que sua me chora muito em casa. Que ela

    seja bastante infeliz. Emily, diga-me quem pode melhor fazer carinhos nesses

    momentos, quando ele diz estar triste sua av; seu pai; seu irmo; ou voc.

    Faa uma escala.

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    Quando se deseja avaliar as posies em relao a possveis

    circunstncias:Terapeuta: Se algum de vocs os filhos, tivessem que permanecer sem

    casar-se para cuidar do pai, quem voc acredita que seria o melhor para o seu

    pai?

    Terapeuta: Quem voc acredita que seria o melhor para sua me?

    Outro exemplo, com relao ao mesmo propsito:

    Terapeuta: Quando sua me procura fazer seu irmo comer, e ele

    recusa-se. O que seu pai costuma fazer?

    Filha: No incio ela vira as costas, depois de um tempo, ele se torna

    furioso, e comea a gritar.

    Terapeuta: Com quem?

    Filha: Com Marcello (irmo).

    Terapeuta: E quando ele grita com o Marcello, o que sua me faz?

    Filha: Ela fica furiosa com o papai. Fala que ele est arruinando todas as

    coisas, que ele no tem pacincia, que ele faz tudo ficar pior.

    Terapeuta (para o pai): E ... enquanto tudo isso est acontecendo, o que

    sua filha faz?

    Pai (sorrindo para a filha com admirao): Ela apenas comea a comer

    como se nada estivesse acontecendo.

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    Um outro exemplo citado para ampliar o campo de obteno de

    informaes durante o atendimento familiar comear a investigao com os

    subsistemas:Para avaliar as diferenas dentro do sistema e seus subsistemas:

    Terapeuta (para o pai): Quem mais apegado me, Paolo ou

    Alessandro?

    Para verificar comportamentos especficos de interao:

    Terapeuta: Paolo, quando voc deixa o Alessandro furioso, o que sua

    me faz? Alessandro, quando voc deixa o Paolo enlouquecido, o que sua me

    faz?

    Esse processo pode se estender para os membros da famlia extensa e

    outros membros do sistema familiar.

    Abordando os contornos de uma terapia que ento inclui a perspectiva

    de Ciberntica de 1a. ordem, que so basicamente conversaes organizadas,

    tendo o propsito de se obter um alvio da dor e restaurao da condio de

    sade.

    Quando se enfatiza a tcnica de perguntas mesmo que num prisma de

    1a. ordem -, o terapeuta est ricamente contribuindo de maneira proposital e

    intencional para que mudanas efetivas aconteam e o processo teraputico

    seja algo til na vida dos envolvidos.

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    A estrutura das perguntas, dentro da ciberntica de 2a. ordem.

    Cecchin (1998) in: McNamee (1998) um segundo momento da terapia

    familiar foi quando se passou a ver que as pessoas estavam juntas, para

    produzirem sentido s suas relaes. Esta mudana de referencial propiciou

    uma renovao do interesse no papel do terapeuta dentro do contexto

    teraputico. Passou a haver um processo de auto-reflexo. O jogo passou a

    ser visto como algo que emergia da relao entre o terapeuta e a famlia. O

    que era descoberto na conversao teraputica, dependia do descobridor e do

    tipo de pergunta que ele fazia. Em essncia era uma co-construo.

    Tambm se passou a focar o terapeuta e no mais a famlia. Nesse

    sentido as perguntas que denotavam uma hiptese sobre o que estava

    ocorrendo com a famlia passaram a ser uma forma de conexo com o sistema,

    no mais um passo para a descoberta de uma histria real. O valor da hiptese

    no est em sua verdade, mas em sua capacidade de criar uma ressonncia

    em todos aqueles envolvidos. A despeito do seu contedo, as palavras e as

    hipteses so formas de se manter contato.

    A neutralidade passou a entender um sistema como um ajuste

    interacional entre pessoas, sendo mais uma qualidade da interao e, portanto,

    um dos estados da atividade que se desenrola na interao. A neutralidade a

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    procura, por parte do terapeuta, em encontrar padres e adequao, ao invs

    dos porqus e causas dos comportamentos, que constitui a ao de ser neutro.

    ANDOLFI, M.; ANGELO, C.; MENGHI, P. e NICOLO-CORIGLIANO, A.M. (1984) apresentam as diretrizes para o questionamento chamado de

    reflexivo. As perguntas reflexivas funcionavam como espcies de mini-

    intervenes, gerando mudanas produtivas, podendo, portanto, dispensar as

    clssicas intervenes finais da terapia sistmica de Milo. Resultando que o

    efeito teraputico das perguntas reflexivas decorria de uma espcie de loop

    inesperado, que, perturbando a organizao significativa da experincia das

    pessoas, disparava uma atividade reflexiva capaz de reverter a fora

    implicativa entre diferentes nveis de significados. Tal atividade resultava,

    assim, em uma alterao da organizao hierrquica entre nveis de significado

    inerentes ao sistema de crenas da pessoa. Um aspecto importante ressaltado

    foi que, embora disparando a mudana, tais perguntas no poderiam responder

    pela direo que ela assumiria. Portanto, a direo da mudana,

    desencadeada pelas perguntas reflexivas, decorria da organizao autopoitica

    dos prprios sistemas humanos no exerccio de sua autonomia.

    Em uma perspectiva ps-moderna, o terapeuta inteiramente includo

    como participante do sistema teraputico, tornando suas ideias sobre a terapia

    conhecidas dos clientes.

    Dessa forma as ideias so compartilhadas, externalizadas e os

    participantes podem coment-las, gerando uma nova forma de discutir a

    situao. Essa abordagem mantm uma perspectiva respeitosa para com

    todos. H uma nfase nos processos, e no nos objetivos. Clientes e

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    terapeutas esto em uma explorao mtua, mais do que em um curso dirigido

    a um objetivo com um resultado especfico em mente, ou com a inteno de

    terapeuta em manter a posio de especialista. No se trata de encontrar umsentido verdadeiro, nem de oferecer uma nova histria, nem de encontrar uma

    metaviso do terapeuta, e sim um questionamento contnuo das premissas de

    ambos os lados. A nova narrativa que surge dessa interao desenvolvida

    por todos os participantes.

    As perguntas sistmicas ajudam as pessoas a enxergarem que suas

    narrativas no so verdades essenciais, mas construes que podem ser

    consideradas sob outra perspectiva.

    As perguntas podem focar-se ora sobre a estrutura das narrativas, ora

    sobre os significados presentes nas narrativas, ora sobre a organizao dos

    significados, na dialtica entre pergunta e resposta dentro da conversao. Por

    isso no possvel dizer quais as perguntas so certas e relevantes. Mesmo

    porque, ainda que consegussemos ser felizes nessa descrio, sem os gestos,

    o tom de voz, e o contexto relacional, as descries seriam um tanto quanto

    vazias.

    Dessa forma se deve ter o cuidado de no afirmar que apenas um tipo

    de pergunta est dentro de cada um dos perodos cibernticos. No essa a

    realidade. Alis, argumenta que no o tipo de pergunta e sim a conduta e

    compreenso do terapeuta que mudou atravs do desenvolvimento da

    compreenso terica. Embora, mencione que um modelo de perguntas lineares

    esteja frequentemente associado a um contexto de reducionismo,

    determinismo causal e uma aproximao com base em estratgias

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    previamente estabelecidas, e um modelo de perguntas circulares que esteja

    associado a princpios interativos, viso integral e aproximaes sistmicas,

    no essa a realidade. As perguntas no implicam de forma inerente emcondies de identidade ou isomorfismo, nem to pouco so exclusivas;

    porm, so meios de se enriquecer o processo. E o terapeuta depois que

    obteve a perspectiva ciberntica de 2a. ordem, passou a se utilizar das duas

    categorias, dentro do referencial que tem como suposio que o terapeuta

    compartilha da construo do contexto e corresponsvel pelas mudanas que

    porventura venham acontecer.

    Dois modelos de perguntas so explorados em Seixas (1992) e

    Grandesso (2000) destacando que a diferenciao entre o tipo e o contedo de

    uma pergunta depende do alvo que o terapeuta pretende conseguir. Quando

    em uma situao de busca de informaes apenas, ou de oferecer orientaes

    aos membros do sistema teraputico, haver perguntas que intentam dirimir as

    ambiguidades, responder as lacunas existentes nas informaes conseguidas.

    o momento em que o terapeuta busca se envolver com o sistema, como um

    de seus membros j integrados.

    J as perguntas orientadoras, buscam concretizar aquisies na

    compreenso ou percepo no s do terapeuta acerca do sistema e sua

    descrio do problema, como tambm dos prprios familiares.

    Da conjugao que mencionamos no pargrafo anterior, se relaciona a

    possibilidade de quatro grandes tipos de questes de carter interventivo que

    podem surgir no ambiente de atendimento.

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    O primeiro grupo so aquelas que so vistas como perguntas lineares.

    So perguntas que subsidiam tanto o terapeuta como os familiares, e se

    baseiam nas suposies presentes no contexto teraputico. O propsito nelas de se obter uma conduta investigativa. So perguntas que se caracterizam

    como um produto de um pensamento calcado no raciocnio de causa e efeito.

    H citao de alguns exemplos no texto de Tomm (1988), que surgem

    no curso de um atendimento:

    Quem fez o qu?

    Onde isso acontece?

    Quando e qual a razo para ter acontecido?

    Para orientao quanto a condio de cada um dos membros em

    relao ao problema descrito, se pode questionar:

    Que problema temos para conversar?

    Pela caracterstica de tais perguntas, (no promovem a interao circular

    entre os membros), quando utilizadas pelo terapeuta, elas visam esmiuar na

    busca de uma causa especfica e por isso mesmo, traz o perigo de desenvolver

    sentimentos de julgamento ou de validao de crenas pr-existentes nos

    integrantes do sistema teraputico.

    J as chamadas perguntas circulares, por Tomm (1988), so perguntas

    que se assentam sobre uma pressuposio sistmica, procuram orientar o

    terapeuta e os familiares dentro de um contexto. Caracterizam-se por uma

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    condio de explorao de fatos e tm que todos esto de algum modo,

    conectados com algum mais. Por isso mesmo costumam revelar os padres

    existentes entre as pessoas, objetos, crenas, ideias, sentimentos ecomportamentos.

    No entanto, em McNamee (1992) quando um terapeuta formula uma

    pergunta circular, est se apoiando em um princpio relacional de estabelecer

    distines dentro de um dado contexto de interao, privilegiando as maneiras

    particulares de cada participante, presente ou virtual. Quando se pergunta a um

    dos participantes da sesso sobre a perspectiva do outro, se cria um contexto

    para que os participantes possam tornar-se observadores de seus prprios

    padres de interao medida que tal prtica discursiva valida mltiplas

    interpretaes a partir de distintas perspectivas. As diferenas surgidas desse

    contexto relacional que incentiva a escuta da verso da outra pessoa

    favorecem a validao de descries alternativas, uma vez que convidam mais

    a uma escuta interessada do que disputa por verses fatuais das histrias.

    Alguns exemplos so mencionados em Tomm (op. cit.):

    Como estamos (nesse encontro) dessa vez?

    Quem voc acredita que est mais preocupado com a situao?

    Quem voc acredita estar menos preocupado?

    Que voc faz, quando ela demonstra a voc que ela est preocupada?

    Quem mais percebe ela preocupada?

    O que seu pai geralmente faz, quando voc e sua me falam?

    Quando seu pai, a tarde, vai dormir como sua me costuma reagir?

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    Tais perguntas buscam revelar os padres interacionais recorrentes no

    sistema teraputico e so capazes de promoverem mudanas nos membros do

    sistema teraputico.Quanto as perguntas estratgicas, so efetuadas com a finalidade de

    influenciar os integrantes envolvidos na conversao teraputica. So

    estruturadas em suposies lineares sobre a natureza dos processos

    teraputicos. A pretenso que as envolve de correo das interaes no

    interior do sistema teraputico.

    No que concerne s perguntas com caractersticas estratgicas, Tomm

    (op.cit.) argumenta que possuem o carter de influenciar os participantes do

    sistema teraputico de um modo especfico. E por se viabilizarem atravs da

    interao que apresenta alternativas para os membros do sistema, possuem

    consequncias corretivas de padres de comportamentos ou crenas.

    Em geral, so elaboradas a partir de hiptese sobre os mecanismos

    envolvidos na situao descrita como problema, isto , o ambiente interacional

    que motivou o processo teraputico.

    Embora o terapeuta possa estar com uma postura aberta e no centrada

    em sua pessoa, tais perguntas guardam no seu contedo, contexto e postura

    daquele que faz a pergunta, uma certa diretividade.

    Do texto de Tomm podemos retirar alguns exemplos:

    Por que voc no conversa com ele sobre suas preocupaes, do que

    conversar com as crianas?

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    O que aconteceria se na prxima semana, sempre pela manh, voc

    sugerisse alguma responsabilidade para ele?

    Voc pode ver quanto seu trabalho torna sua esposa desapontada efrustrada?

    Esse hbito de pedir desculpas aos outros, por qualquer coisa, novo?

    Quando voc estar deixando de ser aptico para a vida e ir buscar por

    um trabalho?

    Quando o terapeuta que efetua perguntas com essas caractersticas,

    fica a impresso que ele est impondo sua viso sobre algum membro do

    sistema teraputico, trazendo o risco de ruptura entre aqueles que esto

    aliados com o terapeuta.

    No entanto, por vezes so eficazes para desestruturar padres

    repetitivos de problemas e comportamentos, tendo a riqueza de facilitar essa

    tarefa sem o uso de frases explcitas.

    Para as perguntas tidas como reflexivas Tomm (1988) comenta que elas

    procuram influenciar os integrantes do sistema teraputico de uma maneira

    geral. Tambm so estruturadas dentro de uma pressuposio de interao

    circular sistmica nas relaes que acontecem no contexto teraputico.

    So perguntas que buscam facilitar o processo comunicativo, assumindo

    que os membros do sistema teraputico so autnomos e no podem ser

    instrudos diretamente.

    A postura de terapeuta ser como a de um tcnico, de um facilitador

    onde mobiliza todos a encontrarem suas prprias solues. Na realidade, a

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    pressuposio que abarca essas perguntas de que o terapeuta co-constri a

    realidade, refletindo as crenas existentes nos outros envolvidos no processo

    teraputico.Alguns exemplos so citados:

    Se voc fosse dividir com ele quanto preocupado voc estava e, quanto

    isso estava deixando para baixo, o que voc imaginaria que ele estaria

    pensando ou fazendo?

    Imagine que algo estivesse acontecendo e ele no queria contar a voc

    por no desejar faz-lo sofrer ou ofend-lo, como voc poderia convenc-lo

    que est forte para ouvir?

    Se h algo em aberto entre dois de vocs, quem estaria mais apto a

    pedir desculpas?

    Suponhamos que seja impossvel nesse momento para ela reconhecer

    ou admitir algum erro da parte dela, quanto tempo voc acredita que levaria

    para perdo-la por no conseguir fazer isso?

    Se essa depresso repentinamente desaparecesse, como suas vidas

    seriam diferentes?

    Tais perguntas procuram fazer os membros refletirem sobre as

    implicaes de suas percepes e aes e considerarem novas opes.

    Em Penn (1985) as perguntas so elaboradas como um ajuste de

    sintonia fina para o que pode acontecer ou ser esperado no futuro. So

    perguntas que se utilizam das consideraes da prpria famlia, sobre quais

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    padres de relacionamentos tero continuidade no futuro. Elas procuram dar

    subsdios para que aquilo que ainda no foi traado para o futuro, possa vir a

    s-lo.O desenho dessas realidades futuras projeta a famlia em uma situao

    de metaposio em relao aos prprios dilemas, favorecendo o uso do

    potencial evolutivo.

    Exemplo que podemos encontrar em Penn (op. cit.):

    Quando voc for a escola, voc imagina que sua me ser tentada a sair

    para trabalhar?

    Quando vocs comearam a ver isso diferente?

    Que consequncias futuras isto ter para encontrarem novas solues

    para os problemas?

    Se ningum deixar a famlia agora, a recuperao do pai ser mais

    rpida ou mais lenta?

    Penn (op. cit.) destaca que se as perguntas forem acompanhadas de

    conotao positiva, possibilitam a projeo do que pode ocorrer no futuro,

    permitindo a anlise das consequncias dos atos, bem como seu

    planejamento.

    Como:

    A esperada oportunidade da me trabalhar fora de casa ser

    postergada, se Johnny permanecer em casa?

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    Se Johnny no partir agora, ele e o pai descobriro um novo

    relacionamento?

    Voc est mais madura e ser capaz de ter suas prprias crianas, setiver alguma dificuldade com elas, quais dos seus pais voc escolheria para

    ajudar nessa situao? Voc escolheria sua me por ela ser experiente, ou

    tambm escolheria seu pai, da mesma forma que a me?

    Nessa linha de perguntas Seixas (1992), comenta que da parte do

    terapeuta, ele pode ler o contedo explicitado nas relaes dos integrantes do

    sistema teraputico, e fazer comentrios em cima dessa leitura, evitando

    imprimir uma diretriz de raciocnio.

    McNamee e Gergen (1998) apontam que essas perguntas sistmicas

    dentro de uma concepo ciberntica de 2a. ordem, retratam uma conduta

    metodolgica onde o terapeuta est atento para uma verificao sobre o

    sentido que suas aes podem assumir no sistema teraputico. Argumenta

    sobre como o terapeuta pode saber de quais significados so atribudos s

    suas aes e perguntas, uma vez que sabe que suas aes esto integradas e

    relacionadas em funo das aes dos outros membros do sistema

    teraputico. Defende que deve haver uma clareza de levar em conta que as

    perguntas sero explicitadas dentro de uma coerncia que cada estgio do

    processo requer. No estgio que se costuma chamar de sociabilidade, onde se

    mantm um dilogo quebra-gelo, as perguntas so de uma natureza, j nos

    estgios mais exploratrios asperguntas sero de outra natureza.

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    O entendimento de McNamee (1998) de que no se pode ter uma

    resposta objetiva que ajude o terapeuta saber o atribudo s aes e perguntas

    efetuadas; ele vai construindo sua participao atravs de suas hipteses;cada estgio contar com novas decises.

    Pela orientao pela qual me refino, as perguntas teraputicas devem

    ser guiadas pelos acontecimentos do dilogo, e no por qualquer metodologia

    voltada para fins apriorsticos. Nesse sentido, quando um terapeuta pina um

    evento qualquer para o qual dirige suas perguntas, esta contribuindo, para a

    coautoria da histria que emerge. A pergunta parte da escuta da narrativa de

    seus clientes. H coisas que saltam aos olhos, outras so desapercebidas,

    outras mexem com as emoes ou despertam as dvidas. As falas do

    terapeuta, assim como as do cliente refletem maneiras de agarrar o mundo.

    Lax (1998) in: McNamee (1998) expe que o modelo ps-moderno se

    fundamenta na reflexibilidade entre os participantes da conversao. Na

    aplicao prtica, empregam-se perguntas reflexivas e mudanas de posies

    como as principais abordagens clnicas. A entrevista segue o modelo proposto

    pelo grupo de Milo, expandido por Penn (1982; 1985) e Tomm (1987). As

    perguntas procuram criar uma tenso que possa levar a uma integrao das

    diferenas e / ou desenvolvimento de uma nova narrativa.

    Durante as entrevista se busca determinar quem fala com quem, sobre o

    que falar e como falar. Inicialmente se faz perguntas a respeito do contexto do

    encontro e da histria da ideia de vir ao terapeuta:

    Como surgiu a ideia de buscar uma terapia?

    Quem foi o primeiro a ter essa ideia?

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    Quem concordou mais com a ideia?

    Lax (1998) in: McNamee (1998) traz em seu texto perguntas a respeitodo contexto do encontro e da histria da ideia de vir buscar terapia, em termos

    das relaes entre as pessoas presentes e suas ideias:

    O que o trouxe aqui?

    Como voc v a situao?

    Se fossemos falar sobre essas questes agora, como seria para cada

    um de vocs?

    Existe outra pessoa que vocs acham interessante incluir nessa

    conversa?

    Ao formular perguntas, o terapeuta mantm a perspectiva de que no

    existem disposies hierrquicas nas conversaes. Cada discurso

    considerado relevante se os participantes assim o considerarem e o contexto

    da conversao to considerado, quanto seu contedo. Um discurso no

    necessariamente mais ou menos abrangente que outro. Ele pode ser mais

    significativo para os participantes, mas isto tem mais a ver com a extenso

    dos sentidos que cada um confere ao discurso do que com sua natureza

    inerente.

    Novas ideias podem ser introduzidas desde essa posio, e esse

    processo permite que tanto o cliente quanto o terapeuta determinem quais

    ideias e questes podem e no devem ser consideradas.

    Os novos significados decorrentes do processo de questionamento

    surgem, assim, como uma apropriao indita da experincia feita pelo cliente

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    por meio da reflexo, sem necessidade de qualquer estratgia de

    convencimento retrico do terapeuta. O terapeuta, se que apresenta uma

    metodologia na conduo das perguntas, mais no sentido de reconhecer umaabertura, uma fissura no discurso do cliente, de modo que favorea a reverso

    hologrfica entre figura e fundo no campo de sua experincia de sentido. Essa

    maneira de questionar, portanto, em vez de ser dirigida por uma metodologia

    especfica informada por uma teoria, determinando o que procurar como

    resposta, convida o terapeuta a deixar conduzir-se pelos seus clientes para

    seus universos particulares, apoiado em uma posio de no saber, como se

    fosse um estrangeiro ciceroneado por um bom anfitrio.

    CONCLUSO

    As interpretaes que o terapeuta faz entre o conflito do casal e o

    sofrimento expresso em um dos membros, no so estabelecidas apenas pelo

    uso de um conjunto de perguntas bem estruturadas, porm, tambm pela

    interpretao que os membros do sistema teraputico fizerem dentro do

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    processo. O que nos faz assumir que o processo embora tenha uma orientao

    terica e metodolgica imprevisvel em seus resultados, exatamente pelos

    contornos das perguntas abertas e exploratrias que foram trabalhadas.- Terapeuta e as pessoas envolvidas no sistema teraputico, passam a

    ser colaboradores na construo de diferentes papis e funes que estaro

    dentro de um novo entendimento.

    - O contedo que cada pergunta ter, estar intimamente vinculado ao

    sistema de crenas que norteiam a prtica do terapeuta e da mesma forma,

    que do modo como ele estrutura suas aes com as das pessoas que

    compem o sistema teraputico. O desenrolar do processo e quaisquer

    resultados que se chegar tem a ver com essa condio.

    Vimos que o terapeuta, atravs de suas perguntas, compartilha da

    construo de novas realidades que trazem a riqueza de serem diferentes

    daquelas at ento estruturadas pelos significados e crenas na vivncia das

    pessoas envolvidas no processo.

    Fica claro que os resultados so determinados pela forma de interpretar

    daqueles que se envolvem no processo, e no devido a certa pergunta ou ao

    do terapeuta.

    Para Grandesso (2000, p. 264) a linguagem cria uma realidade, logo faz

    diferena as perguntas que fazemos, por responderem a diferentes intenes

    do terapeuta, bem como suscitarem, potencialmente, diferentes nveis de

    respostas dos clientes. Isso permite ao terapeuta, um deliberado uso da

    linguagem em forma de um questionamento potencialmente teraputico. Tal

    possibilidade de mudana surge conforme tais perguntas favorecem ao cliente

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    se apropriar, reflexivamente, de outras partes de sua experincia,

    configurando, assim, um contexto propcio para a construo de novas

    narrativas que possam contradizer as verses problemticas dominantes.Tambm, alm do potencial generativo, as perguntas reflexivas fornecem um

    contexto para que o terapeuta possa tomar a sua prpria atuao,

    reflexivamente, durante as sesses que dirige.

    Grandesso (2000) comentando sobre a conversao que procura

    externalizar problemas, argumenta que o terapeuta pode muito contribuiu ao

    fazer perguntas que contribuam na reconstruo dos episdios determinantes.

    Tais perguntas procuram ajudar as pessoas a traarem um fio cronolgico

    condutor em suas descries e comentrios, donde se pode ver de modo

    privilegiado certos cenrios, enredos e julgamentos morais.

    Grandesso (2000) ressalta que na parceria entre o terapeuta e as

    pessoas atendidas, o terapeuta quando se coloca como um ouvinte pode

    contribuir com suas perguntas e comentrios, por manter-se em dilogo com

    todos, abrindo novas possibilidades diante de posturas e posies fixas ou

    apriorstico. Continua dizendo que cabe ao terapeuta gerar um contexto

    conversacional onde haja condies para a explorao, esclarecimentos,

    ampliao, gerao e ratificao de entendimentos.

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