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As relações familiares têm uma grande influência no âmbito da dependência química, podendo tanto gerar conflitos que levam o indivíduo ao uso, quanto retomar e estabelecer vínculos importantes para a sua recuperação e sua ressocialização. Visando compreender como esse fenômeno influencia no contexto do tratamento da dependência química na região do Vale do Paranhana, realizou-se entrevistas semiestruturadas com psicólogos de um hospital geral e de três comunidades terapêuticas. Esse procedimento foi gravado e, depois, transcrito e analisado segundo o método de análise de conteúdo de Bardin (2002). Os resultados evidenciaram que os psicólogos dessa região percebem que a participação dos familiares é indispensável para a recuperação dos dependentes químicos. No entanto, percebem a família como enferma, apresentando dificuldades de adesão ao programa de tratamento, não sustentando regras e combinações determinadas pelos profissionais responsáveis. Constataram também que a família percebe o dependente como o único problema, o que dificulta seu engajamento e sua responsabilidade. Mesmo assim, na visão desses profissionais, quando se consegue orientar os familiares a respeito do processo de recuperação da dependência química, eles conseguem restabelecer o vínculo com o dependente e se comportam de maneira mais produtiva em relação ao tratamento. Desta forma, faz-se necessário incentivar programas que acolham e orientem as famílias, apropriando-as do tema para auxiliar o dependente químico e a si próprias em sua recuperação.

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    PERCEPES DE PSICLOGOS SOBRE A PARTICIPAO DOS FAMILIARES NO TRATAMENTO DE DEPENDENTES QUMICOS NO VALE

    DO PARANHANA1

    Alexandre Herzog2

    Maria Isabel Wendling3

    RESUMO As relaes familiares tm uma grande influncia no mbito da dependncia qumica, podendo tanto gerar conflitos que levam o indivduo ao uso, quanto retomar e estabelecer vnculos importantes para a sua recuperao e sua ressocializao. Visando compreender como esse fenmeno influencia no contexto do tratamento da dependncia qumica na regio do Vale do Paranhana, realizou-se entrevistas semiestruturadas com psiclogos de um hospital geral e de trs comunidades teraputicas. Esse procedimento foi gravado e, depois, transcrito e analisado segundo o mtodo de anlise de contedo de Bardin (2002). Os resultados evidenciaram que os psiclogos dessa regio percebem que a participao dos familiares indispensvel para a recuperao dos dependentes qumicos. No entanto, percebem a famlia como enferma, apresentando dificuldades de adeso ao programa de tratamento, no sustentando regras e combinaes determinadas pelos profissionais responsveis. Constataram tambm que a famlia percebe o dependente como o nico problema, o que dificulta seu engajamento e sua responsabilidade. Mesmo assim, na viso desses profissionais, quando se consegue orientar os familiares a respeito do processo de recuperao da dependncia qumica, eles conseguem restabelecer o vnculo com o dependente e se comportam de maneira mais produtiva em relao ao tratamento. Desta forma, faz-se necessrio incentivar programas que acolham e orientem as famlias, apropriando-as do tema para auxiliar o dependente qumico e a si prprias em sua recuperao.

    Palavras-chave: Relaes Familiares; Dependncia Qumica; Tratamento.

    INTRODUO A dependncia qumica uma preocupao na sociedade brasileira e tambm no

    mundo, pois o acesso ao lcool e outras drogas tem se tornado cada vez mais fcil. Assim, para enfrentar esse problema, nos ltimos anos vm sendo desenvolvidas e implementadas diversas medidas polticas.

    1 Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de

    Taquara, como requisito parcial para aprovao na disciplina Trabalho de Concluso de Curso II. 2 Acadmico do Curso de Psicologia da FACCAT. Endereo Postal: Rua Borges de Medeiros, 1236. Rolante-RS.

    Email: [email protected]. 3 Psicloga, Mestre em Psicologia Clnica (PUCRS), Docente do Curso de Psicologia da FACCAT e Orientadora

    do Trabalho de Concluso de Curso II. Endereo Postal: Rua Cristovo Colombo, 1390/304, Porto Alegre-RS. Email: [email protected].

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    Essas iniciativas pblicas se baseiam em trs estratgias principais para lidar com essa situao: a reduo da oferta de drogas na sociedade, que visa acabar com o trfico, com a produo e com a venda de substncias ilcitas; a reduo da demanda de procura pela droga, que se articula a partir da construo de centros especializados de atendimento dependncia qumica, e, por fim; a reduo de danos, que considera a possibilidade de uma trajetria mais gradual com relao abstinncia e que busca reduzir os comportamentos de risco associados dependncia qumica (MARLATT, 1999).

    No que se refere questo do tratamento, centros especializados de atendimento como os hospitais gerais e as comunidades teraputicas so alternativas relativamente recentes, uma vez que se estabilizaram a partir da lei 10.216 (BRASIL, 2001). Essa legislao prev a presena de equipes multidisciplinares nesses contextos, contando com profissionais como psiclogos, psiquiatras e assistentes sociais, dentre outros, o que possibilita um olhar mais abrangente e uma melhor ateno ao paciente.

    Contudo, nesta pesquisa destaca-se o foco para os psiclogos, os quais, segundo Daz Heredia e Marziale (2010), encarregam-se de uma escuta e um acompanhamento mais frequente com os pacientes e os familiares nesses ambientes, orientando-os e desenvolvendo estratgias de tratamento. Sendo assim, neste estudo buscou-se compreender a participao dos familiares no tratamento a partir da percepo desses profissionais, aproveitando-se da proximidade de contato que eles tm com as famlias.

    De acordo com Shenker e Minayo (2004), a famlia o principal grupo de relaes do ser humano e, segundo Caldeira (1999), nesse grupo que se criam e se estruturam relaes importantes de afeto, segurana e autoconfiana nas pessoas, pois se comea a estabelecer o limite entre o eu e o no eu, essencial ao ser humano. Contudo, essas relaes so to marcantes que podem gerar conflitos que faam com que um dos membros se torne dependente qumico (SHENKER e MINAYO, 2004), fazendo com que ele busque um refgio na droga, visando estabelecer uma fronteira aparentemente mais segura (GUIMARES et al, 2009); mas tambm podendo representar uma fora de apoio, capaz de retomar vnculos importantes para o seu tratamento e para a sua recuperao (SHENKER e MINAYO, 2004).

    Buscou-se, portanto, atravs desta pesquisa, verificar a percepo dos psiclogos de hospitais gerais e de comunidades teraputicas da regio do Vale do Paranahana a respeito de como as relaes familiares se manifestam no ambiente de tratamento, a fim de compreender como elas interferem nesse processo.

    1 FUNDAMENTAO TERICA

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    Hoje em dia j estamos acostumados a ouvir falar de dependncia qumica. Segundo Moraes (2008), esse problema e suas consequncias, tanto individuais quanto sociais, fazem parte do nosso cotidiano h muito tempo, visto que a relao do ser humano com as substncias psicoativas antiga.

    Atualmente, elas abandonaram a sua posio histrico-cultural de meros artifcios para aliviar tenses ou alterar a conscincia em rituais msticos (SIELSKI, 1999) e passaram a ter outra funo dentro da cultura da sociedade moderna. Tanto que Mangueira (2005) aponta que o prazer propiciado pelas drogas de fcil aceitao, podendo suprir as carncias afetivas do sujeito, o que pode fazer com que as substncias sejam vistas como uma alternativa prtica e vivel para os males da vida.

    Para Stahl (2002), essa relao das drogas com a cultura o que determina o uso, o abuso e a dependncia qumica. Segundo o autor, a partir do momento em que o uso de drogas excede ou difere daquilo que aceito pela cultura da sociedade, configura-se uma questo de abuso. Assim, pode-se entender o abuso como uma autoadministrao de droga, de maneira desaprovada culturalmente e que pode acarretar consequncias adversas. Portanto, a adico e a dependncia estariam em um estgio alm, pois o adicto mantm um padro de uso compulsivo da droga e tende a reincidir, mesmo quando esse interrompido, e o dependente qumico est to adaptado substncia que a utiliza para evitar os sintomas de abstinncia.

    Entretanto, Zago (2011) aponta para uma situao intrigante nesse sentido. A prpria sociedade, atravs do estmulo ao consumismo incentivado pela mdia, leva as pessoas ao uso de lcool e outras drogas. Isso reflete o fato de que, em meio s desigualdades sociais existentes no Brasil e dos falsos valores muitas vezes vendidos pela mdia, as pessoas sentem-se includas socialmente ao cumprir com essa expectativa de consumo e aquisio de objetos. Assim, o uso das drogas lcitas como o lcool, por exemplo, torna-se um meio de incluso social, uma vez que pessoas se renem para beber e que ele tambm se faz presente dentro dos nossos lares.

    Portanto, importante verificar que, no contexto brasileiro, as ideias trazidas por Stahl (2002) a respeito do uso, abuso e dependncia podem parecer de difcil compreenso. Afinal, a cultura da sociedade, como Zago (2011) diz, incentiva o consumo de produtos e aquisio de objetos, entre eles o lcool. A grande questo que, por ser uma substncia lcita, tem-se a ideia de que normal consumi-la e h o vis da incluso social que o consumo permite. A ento estamos diante daquilo que pode ser o padro culturalmente aceito descrito por Stahl (2002), mas que nos impede de quantific-lo precisamente, ou seja, tornando difcil saber at que ponto o consumo apenas um uso ou j est sendo um abuso.

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    No Brasil, o abuso de substncias tem sido historicamente associado criminalidade e a prticas antissociais (MINISTRIO DA SADE, 2005), e, segundo Marlatt (1999), podem ser relacionadas a uma viso moral da dependncia, considerando o uso e a distribuio dessas um crime passvel de punio, o que influencia as autoridades a criarem polticas de repreenso que visam libertar a sociedade das drogas. A lgica por trs desse forma de pensar, segundo o autor, acabar com as drogas atravs de polticas pblicas que restrinjam a oferta de substncias psicoativas sociedade. Dentre outras medidas, Zanchin (2011) ressalta que essas polticas buscam a destruio das drogas, o combate ao trfico, produo e ao livre comrcio de substncias.

    Isso se evidencia atravs das posturas costumeiramente adotadas antes da terceira Conferncia Nacional de Sade Mental. At esse evento eram comuns os tratamentos inspirados em modelos de excluso e separao dos usurios do convvio social (MINISTRIO DA SADE, 2005). As poucas intervenes existentes at ento diziam respeito a servios ambulatoriais ou hospitalares vinculados a programas universitrios e, de acordo com Zanchin (2011), a legislao historicamente criminalizava os usurios.

    Contudo, Marlatt (1999) ressalta que h tambm outras formas de compreender a dependncia qumica. O autor aponta para um modelo que visualiza a dependncia qumica como uma doena biolgica que requer tratamento e reabilitao. Aqui, o enfoque acabar com o problema das drogas, atacando o consumo do indivduo com intervenes que reduzam a sua demanda pela droga e que se vinculem a questes de educao, sade, cultura e assistncia social (ZANCHIN, 2011). Nessa abordagem, o autor refere que a dependncia qumica, enquanto doena, progressiva e no tem cura, sendo o compromisso vitalcio com a abstinncia a nica alternativa para det-la.

    Essa ideia talvez possa ser justificada pela atividade que as drogas exercem no sistema de recompensa do crebro. Segundo Stahl (2002), as drogas de abuso atuam na regio meso-lmbica do crebro, incrementando a atividade dos receptores que produzem o neurotransmissor chamado dopamina. Essa regio associada obteno de prazer no crebro e, para o autor, a ao da droga permite um prazer mais intenso do que o organismo est acostumado, em funo da sobrecarga resultante de dopamina, o que provoca a necessidade de buscar a droga novamente.

    Conforme Stahl (2002) e Graef (1989), essa propriedade das substncias psicoativas propicia ao longo do tempo uma adaptao neuroqumica do crebro, conhecida como tolerncia. Isso faz com que sejam necessrias dosagens cada vez maiores da substncia para

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    conseguir o efeito obtido de incio, o que ressalta o carter progressivo desse fenmeno, anteriormente apontado por Marlatt (1999).

    Entretanto, para esse autor, outro modo de encarar a questo pela perspectiva da reduo de danos. Ele salienta que essa proposta considera a abstinncia apenas como um resultado ideal a ser alcanado e no uma alternativa nica para sanar o problema, o que abre espaos para opes que reduzam os danos e os riscos aos dependentes. Cabe aqui ressaltar que tal proposta no parte de princpios extremistas como reduo de oferta ou reduo de demanda, como as previstas nos outros modelos. Ela prev uma trajetria gradual at a abstinncia e no uma busca imediata. Segundo Zanchin (2011), essa alternativa baseia-se na liberdade de escolha por parte dos dependentes qumicos, pois mesmo que optem por continuar fazendo uso de substncias, eles podem conseguir ampliar sua qualidade de vida.

    1.2 Contexto Hospitalar e Comunidades Teraputicas A alternativa do hospital geral para o tratamento de pacientes dependentes qumicos

    relativamente recente. Ela advm da reforma psiquitrica que vem ocorrendo no pas desde os anos 90, aps um perodo de crticas ao modelo hospitalocntrico (MINISTRIO DA SADE, 2005) e, conforme a lei estadual 9716, (RIO GRANDE DO SUL, 1992) pretende substituir gradativamente o atendimento desses pacientes em hospitais psiquitricos por opes mais humanizadas como ambulatrios, hospitais gerais, centros de convivncia, centros de ateno psicossocial, entre outros.

    A lei 10216 (BRASIL, 2001) garante ao paciente dependente qumico, dentre outros, o direito ao tratamento, o sigilo das informaes prestadas, o livre acesso aos meios de comunicao disponveis e a proteo ante qualquer forma de abuso. Todavia, mesmo que a tentativa legal de humanizao do cuidado prestado ao dependente qumico nos hospitais gerais seja uma ideia interessante, necessrio salientar que, na prtica, difcil observar a efetividade dessa proposta, pois existem diversos fatores que atuam sobre esse contexto.

    Um fator interessante a questo da condio de assistncia e dos leitos oferecidos populao atendida pela psiquiatria nos hospitais. sabido que na poca do modelo hospitalocntrico essas condies eram desumanas e desumanizantes. Por isso, surgiu a necessidade da criao de instrumentos de gesto pblica que possibilitassem o fechamento de leitos irregulares e a adequao dos demais s normas do Sistema nico de Sade (SUS), o que ocorreu em 2002 com a criao do Programa Nacional de Avaliao do Sistema Hospitalar/Psiquiatria (MINISTRIO DA SADE, 2005), que possibilitou uma avaliao mais eficaz dos centros de atendimento e adequao s normas do SUS.

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    Como se pode perceber, a reforma psiquitrica contribuiu de maneira imprescindvel humanizao do contexto hospitalar, permitindo reavaliar e reorganizar, de maneira gradual, desde 1992, o atendimento oferecido aos pacientes de sade mental, dentre os quais tambm se incluem os dependentes qumicos. No que diz respeito ao tratamento desses pacientes, o hospital disponibiliza sua estrutura para um perodo de internao, que varia em mdia de quatro a quinze dias, cujo objetivo a desintoxicao. Trata-se de uma interveno breve, que possibilita o incio do tratamento e deve oferecer, segundo Araujo et al (2004), uma espcie de espao onde se possa conter o desejo de consumir lcool ou outras drogas, o qual no se consegue conter no ambiente ambulatorial.

    Aps essa etapa, ocorre o encaminhamento para outras unidades que do seguimento ao tratamento, como comunidades teraputicas e centros de ateno psicossocial para lcool e outras drogas, entre outros. Nesses locais, segundo Zampieri (2004), so feitas intervenes que visam evitar a recada e promover a volta da pessoa ao convvio social com um novo estilo de vida, desta vez, livre da droga. Seus esforos surgem e concentram-se para que o paciente possa aprender novas formas de se relacionar, encarando as suas dificuldades de maneira mais madura e adequada. Mesmo assim, ao retornar sociedade, muitos pacientes se expem novamente aos riscos e recaem, suscitando questionar a fragilidade do tratamento dependncia qumica.

    No que diz respeito ao hospital, h um aspecto interessante, pois esse um local onde as pessoas lidam diariamente com a doena e a iminncia da morte, o que o torna um ambiente emocionalmente tenso. De acordo com Angerami Camom (2003), os pacientes hospitalizados passam por uma situao de despersonalizao, em que perdem a identidade e a autonomia e comeam a ser reconhecidos apenas pela patologia diagnosticada ou o nmero do leito. Entretanto, Ferreira et. al. (2005) citam que, para o dependente qumico, o fato de no poder assumir a responsabilidade pelas suas decises durante o perodo de internao e ter que se sujeitar s normas da instituio e do tratamento, pode representar uma proteo emocional e uma forma de criar limites fsicos entre o mundo exterior e as suas compulses.

    Se levarmos em conta esses fatores, convm pensar no hospital como um ambiente ambivalente para pacientes dependentes qumicos, pois difcil saber ou determinar de que modo esse ambiente est sendo percebido e vivenciado pelo paciente, seja como hostil ou agradvel. Na tentativa de entender essa ambivalncia, pode-se pensar no que despersonaliza e no que protege o paciente. A verdade que, ao hospitalizar-se, o sujeito adquire um novo significado de si mesmo, que passa a influenciar o seu modo de agir e os seus vnculos interpessoais (ANGERAMI CAMOM, 2003). Ser necessrio que ele reveja seus hbitos,

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    adapte-se s regras da hospitalizao e realidade de estar doente, o que o faz perder o seu poder de escolha. Segundo Straub (2005), comum que nesse processo o sujeito tente responsabilizar algum pela sua doena, ou a si mesmo, o que dificulta a sua adaptao.

    Entretanto, o no poder escolher, no caso da dependncia qumica, toma um contorno importante, pois o dependente qumico um tipo de paciente cuja razo afetada pelo efeito das substncias, o que faz com que as suas compulses tornem as suas decises tendenciosas. Isso ocorre em funo de alteraes que a dependncia qumica produz no funcionamento cerebral, conforme citam Noel e colaboradores (apud KOLLING et al, 2007), como a restrio da capacidade mnemnica e de inibio resposta frente ao estmulo.

    De acordo com Bechara e colaboradores (apud KOLLING et al, 2007), alteraes no crtex pr-frontal levam o alcoolista a ter prejuzos na tomada de deciso, fazendo com que, na maioria dos casos, ele opte por opes que resultem em ganhos imediatos em detrimento de opes que demandem reflexo sobre suas consequncias. Tal peculiaridade demonstra que a submisso s regras do tratamento pode contribuir para a sua recuperao, representando um espao seguro enquanto eles no se encontram capazes de tomar suas prprias decises.

    De certa forma, segundo Ferreira et. al. (2005), essas normas tambm os protegem, pois impem limites s suas compulses. Ento, isso pode representar uma mudana no contexto do hospital para o dependente, uma vez que ali ele pode estar se percebendo livre de estmulos para o consumo de substncias e, ao contar com o apoio da famlia e da equipe de sade mental, ser estimulado a desenvolver habilidades para lidar com as suas dificuldades quando sair da instituio e der continuidade ao tratamento aps a desintoxicao.

    Outro espao importante no tratamento da dependncia qumica a comunidade teraputica. Segundo Raupp e Milnitisky-Sapiro (2008), ainda h preconceito de profissionais com essa alternativa, o que muitas vezes faz com que eles encaminhem pacientes para esse

    servio como ltimo recurso, por no encontrarem vagas em outras instituies. No entanto,

    elas crescem em nmero e recursos, muito em funo da iniciativa de ex-usurios, os quais criam suas prprias comunidades de acordo com o modelo daquelas em que foram atendidos, muitas vezes sem estarem preparados para adequar-se s legislaes que envolvem esses servios.

    De acordo com Sabino e Cazenave (2005), as comunidades so opes populares e acessveis de tratamento s drogas, buscando adaptar-se a diversos nveis culturais e sociais. A sua atuao pode ser pautada, segundo as autoras, de trs diferentes maneiras. Pode seguir uma linha voltada para preceitos religiosos e espirituais, com atuao de ex-internos; uma

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    linha cientfica, com presena de psiclogos, mdicos, assistentes sociais e voluntrios; ou ento, uma atuao mista.

    Na prtica, por meio de uma interveno ambiental, quando se promove a assuno de direitos, deveres e responsabilidades em ambiente seguro com relao s drogas, que as comunidades objetivam criar uma mudana de personalidade no indivduo para favorecer a sua reinsero na sociedade. Parte-se do princpio de que, se no se pode mudar o indivduo e sua demanda pela droga, que se mude ento o ambiente e remova-o da situao onde o consumo ocorre (SABINO e CAZENAVE, 2005).

    Diferentemente da internao hospitalar, o tratamento em uma comunidade teraputica dura alguns meses. Segundo De Leon (2003), nesse contexto utiliza-se a comunidade para auxiliar o indivduo em sua trajetria pessoal de mudana. A maneira como as rotinas se organizam e como as pessoas se relacionam nesses ambientes visa sempre ao bem estar e contribuio no processo de aprendizagem e cura do sujeito.

    Contudo, caracteriza-se tambm como um perodo em que o dependente fica um bom tempo isolado do mundo a sua volta, e a sua sada pode implicar uma recada, em funo de estar desacostumado sua antiga realidade (SABINO e CAZENAVE, 2005).

    1.3 Dependncia Qumica no contexto familiar A famlia um sistema aberto mantido por uma teia complexa de relaes entre seus

    membros, o ambiente e a sociedade (GOMES, 1987). No incio da vida, essas relaes so importantes na estruturao do afeto e da autoconfiana das pessoas, pois nesse momento elas comeam a estabelecer limites entre o eu e o no eu (CALDEIRA, 1999). Elas contribuem, ainda, para a criao de um padro especfico de tomada de deciso, que se desenvolve ao longo dos anos e se mantm como uma estratgia formal de lidar com os problemas (GUIMARES et. al., 2009) e tambm na transmisso de valores que esto presentes na famlia desde as geraes anteriores (SHENKER, 2005).

    Guimares et. al. (2009) relatam que a famlia cr na eficincia dessa maneira de agir e a transmite atravs das geraes. No entanto, os autores ressaltam que h um prazo de validade para isso e ocorrem crises quando essa estratgia perde a credibilidade. Segundo eles, isso muito comum na adolescncia, perodo em que h uma busca pela identidade e autonomia do sujeito e h a necessidade de reviso de papis por parte dos pais (CARTER e McGOLDRICK, 2001).

    Assim, diante das dificuldades que permeiam esse processo, a droga permite ao adolescente aliviar essa tenso, distanciar-se dos pais e criar uma espcie de nova fronteira.

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    Entretanto essa no mais do que uma falsa sensao de independncia (GUIMARES et. al., 2009). O uso e abuso de drogas fazem com que o foco de ateno do sistema seja voltado para si e isso faz com que a famlia passe a agir de uma forma diferente habitual, buscando adaptar-se situao (DO CARMO, 2003; GUIMARES et. al., 2009; ORTH, 2005). Segundo Do Carmo (2003), mudam as relaes estabelecidas e passa a ocorrer um redirecionamento das tarefas e das responsabilidades de cada membro, que se reorganizam em torno do dependente qumico e passam a acumular cada vez mais funes enquanto ele vai tornando-se disfuncional. Contudo, interessante observar que h um desgaste no sistema familiar proveniente dessa mudana, mas ela ocorre justamente para manter as coisas como esto, fazendo assim com que o comportamento adicto torne-se um mecanismo regulador da homeostase nas relaes familiares.

    Desse modo, Zampieri (2004) diz que o acmulo de funes no cuidado do dependente ao longo do tempo e as estratgias que os familiares desenvolvem para adaptar-se a essa convivncia podem gerar um quadro de codependncia nos familiares. No caso da dependncia qumica, isso pode ser entendido como uma preocupao constante de cuidar do dependente, uma vez que a situao de ter um membro dependente qumico na famlia demanda um grande estresse. Isso demonstra que a famlia tambm pode adoecer e que merece uma ateno especial no tratamento.

    Conforme Seadi e Oliveira (2009), a prpria situao de internar um membro da famlia para desintoxicao mobiliza uma srie de sentimentos de dor, fracasso, raiva e necessidade de ajudar. As autoras salientam que a famlia enfrenta algumas dificuldades para realizar esse movimento e tomar conhecimento de que o tratamento no se restringe ao perodo em que o paciente estar recluso em um hospital, pelo contrrio; a continuidade desse demanda tempo e esforo, pode gerar desgaste, cansao e ocasionar desistncias. Outro pensamento trazido pelas autoras o de que havendo a participao de mais familiares no tratamento, mais pessoas estaro sendo informadas a respeito de seus papis e de como podem ajudar em cada etapa, sendo que a sua colaborao repercute no empenho do sistema familiar em reestruturar suas relaes, de forma que a droga no esteja mais presente.

    Em pesquisa no contexto de comunidades teraputicas, Souza e Pinheiro (2008) referem que a presena dos familiares nas sesses de grupo auxilia a motivao dos dependentes pelo simples fato de estarem ali. Pode-se associar isso a uma espcie de retomada dos vnculos estabelecidos nos primeiros anos de vida e que estruturam por muito tempo as relaes familiares, conforme ressalta Caldeira (1999) quando cita que a famlia representa a origem das relaes de afeto e da sensao de ser amado. Segundo pesquisa dessa autora,

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    importante para o dependente qumico poder perceber e sentir-se apoiado pela famlia durante o tratamento. A autora observa, tambm, que pode ocorrer uma mudana de atitude do dependente, fazendo com que ele apresente uma postura de cuidar de si prprio e preocupar-se com o sofrimento daqueles que o amam, caso ele faa algo que o coloque em risco.

    Por fim, citando Shenker e Minayo (2004), a famlia influencia tanto no aparecimento da dependncia como no tratamento do sujeito, pois ela a sua rede de apoio mais prxima. As complexas e variveis relaes familiares, como foram trazidas nessa reviso, vo de um extremo ao outro e correspondem a um elemento importante do tratamento da dependncia qumica.

    2 MTODO O presente estudo corresponde a uma pesquisa de campo, qualitativa e de carter

    exploratrio. Conforme Markoni e Lakatos (2002), esse um tipo de pesquisa destinado formulao de questes ou problema, com a inteno de criar hipteses, aumentar o conhecimento do pesquisador quanto a um fenmeno, para realizar depois uma pesquisa mais aprofundada ou clarear e rever conceitos.

    J para Rey (2005), o que importa pesquisa qualitativa a construo de um significado a partir do conhecimento, diferente de outros mtodos em que ocorre apenas uma apropriao linear de uma realidade que se apresenta.

    2.1 Participantes Foram entrevistados quatro psiclogos das equipes de sade mental de hospitais gerais

    e comunidades teraputicas do Vale do Paranhana, que foram indicados pela prpria equipe de cada servio. As instituies convidadas a participar da pesquisa foram o Hospital Geral Bom Pastor, da cidade de Igrejinha; e as comunidades teraputicas Criar Vitria e Vida Plena, da cidade de Parob; e Desafio Jovem, da cidade de Trs Coroas. Esses locais foram escolhidos de acordo com o vnculo prvio com o pesquisador e com a relevncia no atendimento dependncia qumica na regio.

    2.2 Instrumentos O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada, elaborada pelo prprio

    autor deste projeto, embasada na reviso de literatura sobre o assunto e com auxlio da professora orientadora acadmica (APNDICE A). Segundo Boni e Quaresma (2005), a entrevista semiestruturada caracteriza-se pela combinao de perguntas abertas e fechadas,

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    permitindo que o informante discorra sobre o tema pesquisado. Assim, mesmo que haja um roteiro a ser seguido, a entrevista ganha um contorno semelhante ao de uma conversa informal. Contudo, o pesquisador responsvel por manter a pauta da entrevista e pode fazer perguntas que retomem o tema quando a discusso estender-se para outros caminhos.

    2.3 Procedimentos Primeiramente, este projeto de pesquisa foi encaminhado banca de pr-qualificao,

    e depois submetido anlise por parte do comit de tica em pesquisa das Faculdades Integradas de Taquara. Aps a aprovao nessa etapa, foram feitos os contatos com o hospital e as comunidades teraputicas para apresentao do projeto e o agendamento das entrevistas que fizeram parte da coleta de dados do trabalho.

    No caso do Hospital Bom Pastor, encaminhou-se um ofcio presidncia da instituio, junto de uma cpia deste projeto, explicitando as caractersticas e objetivos da pesquisa. J no caso das comunidades teraputicas, foi feito contato direto com os representantes das instituies e agendado uma reunio, na qual o projeto foi apresentado. Todas as instituies receberam um termo de concordncia (APNDICE B), que caracteriza a pesquisa e os seus objetivos, solicitando a autorizao para a sua realizao.

    A coleta de dados se deu atravs da realizao de entrevistas semiestruturadas com os psiclogos de hospitais gerais e comunidades teraputicas do Vale do Paranhana. Eles receberam um termo de consentimento livre esclarecido (APNDICE C), o qual apresenta a pesquisa e a sua metodologia, explicitando detalhes como o no recebimento de benefcios em funo da pesquisa e a no exposio a nenhum risco de dano fsico, a necessidade da gravao das entrevistas e tambm a garantia de sigilo total das informaes prestadas.

    Como complemento, foi aplicado um breve questionrio para identificao do perfil dos profissionais (APNDICE D), visando melhor compreenso a respeito do contexto dos sujeitos entrevistados, que depois, foi gravado e transcrito, assim como a entrevista.

    2.4 Anlise dos dados Os dados encontrados foram analisados conforme o mtodo de Anlise de Contedo

    de Bardin (2002). Segundo a autora, esse mtodo corresponde a um conjunto de tcnicas de anlise de comunicaes atravs de processos sistemticos de descrio do contedo das mensagens analisadas e indicadores que permitam a inferncia de conhecimentos a partir dos resultados encontrados.

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    Esse procedimento ocorre em trs etapas: a pr-anlise, quando se escolhe os documentos a serem analisados, se definem objetivos e hipteses e se prepara o material; a explorao do material, quando ocorre a leitura exaustiva em busca da codificao de unidades de sentido dentro do texto; e no tratamento dos resultados e interpretao, quando se usa de grficos, tabelas e diagramas para dar corpo s informaes fornecidas pela anlise.

    Munido de resultados significativos e fiis, o analista ento capaz de criar inferncias que, aliadas aos objetivos previstos, permitem interpretaes acerca do que foi proposto e tambm do que surgiu no decorrer do procedimento (Bardin, 2002).

    3 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS A anlise das entrevistas e do questionrio complementar permitiu conhecer os

    psiclogos entrevistados e o que eles percebem acerca da participao dos familiares no tratamento da dependncia qumica, bem como identificar em quais servios de atendimento dependncia qumica trabalham e como se prepararam para atuar nessa rea, conforme a tabela 1.

    Tabela 1 - Perfil dos psiclogos entrevistados xxxxxxxxxxx Psiclogo 1 Psiclogo 2 Psiclogo 3 Psiclogo 4 Formao Psicologia na

    PUC/RS, residncia em sade mental coletiva.

    Psicologia na UNISINOS/RS.

    Psicologia na FACCAT/RS.

    Psicologia na FACCAT/RS.

    Tempo de atuao 11 anos. 10 anos. 2 anos. 3 anos Atuao na rea da dependncia qumica

    H 3 anos no Hospital Bom Pastor de Igrejinha/RS, experincia prvia na formao.

    H 6 anos na Comunidade Teraputica Vida Plena.

    H 12 anos, como voluntrio na Comunidade Desafio Jovem/RS e h 2 anos como psiclogo, na mesma instituio.

    H 2 anos, na Comunidade Teraputica Criar Vitria e no CAPS de Parob/RS.

    Formao complementar

    Especializao em abordagem Cognitivo comportamental na UFRGS.

    Treinamento no local de trabalho, curso de ps-graduao no Hospital Me de Deus, Porto Alegre/RS.

    No tem se dedicado a cursos de ps-graduao. No entanto, acompanha palestras, workshops e participa de cursos de extenso de curta durao.

    Cursos de extenso de curta durao, curso de capacitao da FEBRACT, iniciando a ps-graduao em dependncia qumica na FACCAT/RS.

    Trabalho na rede Apenas no Hospital Bom Pastor de Igrejinha/RS.

    Apenas na Comunidade Teraputica Vida Plena/RS.

    Apenas na Comunidade Teraputica Desafio Jovem/RS

    Na Comunidade Teraputica Criar Vitria e no Centro de ateno Psicossocial (CAPS) de Parob/RS. V maior aderncia na comunidade teraputica.

    Percepo sobre a famlia

    Famlia assustada e insegura; carece de maior esclarecimento

    Famlia carece de esclarecimento sobre a

    Famlia enferma, acredita que apenas o

    Famlia enferma, busca isolar-se do dependente.

  • 13

    sobre a dependncia qumica

    dependncia qumica; vnculos fragilizados; apresenta dificuldade em sustentar as combinaes do tratamento.

    dependente precisa de tratamento, apresenta dificuldade de sustentar as combinaes do tratamento.

    Em geral, eles concluram a graduao e tm buscado recursos terico-prticos em cursos de ps-graduao e especializao em atendimento dependncia qumica, alm de frequentarem palestras e cursos de extenso, evidenciando-se assim, uma busca constante de atualizao profissional, mesmo aqueles que se graduaram recentemente.

    Outra caracterstica importante que, com exceo da psicloga 4, todos trabalham em apenas um local de atendimento dependncia qumica da rede disponvel no Vale do Paranhana. Perguntada sobre uma possvel diferena entre os seus dois locais de trabalho, ela respondeu que percebe maior aderncia na comunidade teraputica, muito em funo do tempo que os pacientes ficam em atendimento, que maior do que em um hospital ou em um Caps1.

    Com relao participao dos familiares no tratamento, os profissionais entrevistados creem que essa fundamental. Tanto que a psicloga 4 afirma:

    ...a questo, assim, de eles comearem a entender a prpria dependncia qumica, n, entender assim, os motivos que levam o familiar a usar drogas, n, e justamente como esses pacientes, eu tinha comentado antes, pra depois eles conseguirem assim, , ser o suporte, n, desse fam... desse familiar, pra assim, evitar a recada, n.

    Esse pensamento vai ao encontro das ideias de Caldeira (1999), que aponta a famlia como importante grupo organizador de condutas e de formao pessoal e social do ser humano. Caracterizando, assim, a importncia da ao de informar os familiares a respeito das peculiaridades da dependncia qumica e do seu tratamento, o que pode repercutir como um importante potencializador do apoio que a famlia pode dar ao dependente nesse processo, seja entendendo esse movimento e auxiliando o dependente a cumprir as regras do programa de recuperao ou buscando retomar os vnculos perdidos antes do tratamento, podendo ser ento o suporte referido pela psicloga 4.

    Ento, considerando que a participao dos familiares no tratamento da dependncia qumica na viso dos psiclogos entrevistados fundamental, eles apontam momentos em que os familiares participam e influenciam nesse processo.

    Conforme a tabela 2, as principais influncias positivas dizem respeito firmao de uma parceria entre os familiares e o programa de recuperao e tambm a questo do

  • 14

    esclarecimento e a busca de informaes a respeito da dependncia qumica por parte dos familiares.

    Tabela 2 Influncias positivas -Escuta -Quando ela consegue ouvir esses profissionais que esto trabalhando com esse

    dependente e com essa famlia. (psiclogo 3) -Disponibilidade -A famlia pode... ah... auxiliar positivamente, ... sendo parceira do programa

    de tratamento pela qual o dependente ta engajado.(psiclogo 3) -No boicote -Quando a famlia no boicota o tratamento ela acaba agindo positivamente

    ento, n, na recuperao do seu familiar. (psiclogo 3)

    Parceria no tratamento e apoio

    -Motivando o paciente

    -Eu acho que fundamental a participao, n, do familiar. Eles podem influenciar positivamente motivando pro tratamento, entendendo que um processo de recuperao, n. (psicloga 1)

    Esclarecimento e informaes sobre a dependncia qumica

    Percepo da dificuldade, busca

    de tratamento

    -Ela pode influenciar positivamente quando essa famlia ta percebendo as suas dificuldades, quando a famlia decide buscar tambm um tratamento. (psiclogo 3)

    Informaes sobre a dependncia qumica

    -Ento. Pelo tempo maior assim, n, que... se caracteriza assim uma internao, n, a questo assim de eles comearem a entender a prpria dependncia qumica, n, entender assim, os motivos que levam a, o familiar a usar droga, n. (...) Pra depois eles conseguirem assim, , ser o suporte, n, desse fam... desse familiar pra assim evitar a recada, n. (psicloga 4) -Que eles possam entender o qu que a dependncia qumica, quais os tipos de tratamento que existem por que eles vm com muita fantasia, n? (psicloga 1) -De que forma tratar em casa, trabalhar o medo da recada (...), ento tem toda uma psicoeducao tambm, que tem que ser feita com a famlia e eu acho que nesse sentido quando a famlia ta bem orientada, eu diria que ela, tipo sem exagero, ela 50% do tratamento. (psicloga 1) -Quando eles passam a conhecer ajudam e muito na recuperao do paciente. (psicloga 2)

    consenso entre os psiclogos entrevistados que o esclarecimento permite a apropriao do tratamento por parte dos familiares, o que, segundo o psiclogo 3, pode lev-los a tambm buscar ajuda teraputica. Em geral, os profissionais entrevistados percebem que a famlia do dependente qumico chega doente e desajustada ao tratamento. Essa condio pode ser fruto de aspectos importantes que acompanham a vida familiar, como as estratgias padro de resoluo de problemas (GUIMARES et al, 2009), que geram constantes tentativas de adaptao que elegem o dependente qumico como o problema central da famlia e produzem angstias que o motivam busca de um espao pessoal alternativo atravs da droga.

    Sendo assim, as propostas de ao que envolvem a psicoeducao dos familaires contribuem para que eles possam compreender e desenvolver o interesse pelo tratamento, motivando o dependente qumico em sua recuperao, conforme afirma a psicloga 1 (tabela 2). Da mesma forma, o esclarecimento quanto s particularidades do tratamento est relacionado s influncias negativas, tanto que os psiclogos entrevistados afirmam que o desconhecimento desses detalhes seja talvez o principal complicador do tratamento.

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    A tabela 3 aponta que h trs influncias negativas principais: o boicote, o desconhecimento e a superproteo, dos quais derivam-se vrias outras.

    Tabela 3 Influncias negativas Maus

    exemplos -Quando ela boicota o tratamento, quando ela acaba dando maus exemplos para o dependente que est em tratamento, como por exemplo, quando a comunidade teraputica ou o, o, local que est ajudando a pessoa determina algumas regras e essa famlia quebra as regras, ela envia mensagens pro dependente de que ele tambm pode quebrar regras dentro do programa. (psiclogo 3)

    No engajamento

    -Quando a famlia no est engajada no tratamento, quando pra participar de grupos de... de apoio e ela sempre tem alguma, a, justificativa para no pariticpar. (psiclogo 3) -Enfim, quando ela acaba de alguma forma no tendo aquela sintonia com a... o local em que se est fazendo trabalho e... ela acaba no fazendo a sua parte dentro do processo de recuperao. (psiclogo 3)

    Chamar o de volta o

    dependente antes do

    trmino do tratamento

    -Eles vm aqui s vezes, dar notcias. Fulano, teu irmo ta precisando muito de ti, se tu no sair daqui teu irmo vai morrer, porque ele ta... (psicloga 2) -Ento ligam, da pedem pra: Ai, to com dificuldade em casa de pagar as contas. De n desculpas que elas nem dizem, e vrios acontece isso, ele vo embora, n. (psicloga 2)

    Distoro: dependncia

    qumica como falta

    de amor

    -Elas que queriam que internasse, por que tem muito isso, de as esposas s vezes assim: Ah, mas se ele gostasse mesmo de mim ele mudava por mim. (psicloga 2)

    Boicote

    Visualizar o dependente

    como o nico

    problema

    - o que acontece, quando eles internam aqui, geralmente o dependente qumico vira o bode expiatrio da famlia ali, n, onde vai ele que tem problema ento vamos tratar, vamos resolver. (psicloga 2) -No buscam o tratamento, n, que da acham que s o dep... o familiar que dependente qumico que precisa se tratar. (psicloga 4) -Geralmente essa famlia acredita que s o dependente que precisa de tratamento, n. (psiclogo 3)

    Desconhecimento Falta de informao

    -Eu percebo muito que s vezes a famlia no tem conhecimento. (psicloga 2) -No buscam assim, no tm interesse assim, de entender a doena, n. (psicloga 4) -Acho que tem muita coisa a, que, que a famlia, por falta de informao que a gente vai ver isso: eu no sei o que fazer, ento eu vou... fazer avaliao de moral, eu dou consolo, eu superprotejo. (psicloga 1)

    Superproteo Infantilizar -Impedindo que o paciente se responsabilize pelos seus atos, no arcar com as consequncias, tirar a responsabilidade, que no deixa de ser assim um infantilizar, n, e isso por... com o objetivo, n, na, na tentativa de ajudar, de cuidar as pessoas acabam misturando, fazendo uma superproteo, n. (psicloga 1)

    No que se refere ao desconhecimento, esse se manifesta de diversas formas. A psicloga 1 afirma:

    ...por falta de informao que a gente vai ver isso, eu no sei o que fazer, ento eu vou... fazer avaliao de moral, eu dou conselho, eu superprotejo.

    Desse modo, muitas vezes, pensando em ajudar, os familiares acabam atrapalhando o tratamento, justamente por no saberem ou no entenderem o efeito que determinadas decises que eles tomam ou aes que eles praticam tm sobre o dependente qumico. Isso aplicvel tambm questo de superproteo, apontada na tabela 3. Pois, de certa forma, a famlia impede que o dependente qumico aproprie-se da realidade do tratamento que impe

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    regras e limites organizadores essenciais sua recuperao, uma vez que ela assume a responsabilidade que deveria ser dele.

    O resultado disso uma infantilizao, que isola o dependente dentro do sistema familiar e faz com que os demais membros tomem decises por ele, desautorizando-o e gerando uma crena de que ele no capaz de crescer e se cuidar, estando, portanto, dependente tambm dos familiares. Segundo Hermeto et al (2010), o ambiente familiar oportuniza grande aprendizagem com relao a sentimentos, autonomia e compreenso de limites, vivncia da liberdade e da responsabilidade, que podem se tornar fatores de proteo quanto s ofertas qumicas de prazer, liberdade e autossatisfao. Contudo, experincias como a superproteo e a infantilizao, agem no sentido oposto a essas ideias e acabam se tornando fatores de risco mudana, prejudicando a continuidade e a eficcia do tratamento.

    Esse movimento evidencia tambm outra questo que apareceu nas entrevistas: a doena familiar. consenso entre os psiclogos entrevistados que os familiares que chegam acompanhando o dependente qumico esto enfermos e com vnculos fragilizados. Assim, possvel relacionar o desconhecimento acerca da dependncia qumica e o comporatamento de superproteo doena familiar e maneira como a famlia enxerga a situao.

    De acordo com eles, os familiares veem o dependente qumico como o nico problema da famlia. Para Caldeira (1999) isso se enquadra num estgio de percepo no qual a famlia se equilibra em torno do dependente qumico e esse, por sua vez, passa a encobrir os problemas dela, que busca sempre manter esse forma de equilbrio. Segundo Zampieri (2004), dentro desse ciclo de relaes doentias pode se originar a codependncia, situao que se atravessa intensamente nesse momento, contribuindo para que a famlia mantenha o foco no dependente qumico como paciente identificado.

    Desse modo, esse conjunto de variveis constitui uma esquema de retroalimentao, que faz com que a famlia tente manter o dependente qumico como nico problema. Advm da as dificuldades apontadas como boicote na tabela 2, pois as internaes teraputicas visam promover mudanas nesse funcionamento doentio do sistema familiar e as atitudes tomadas pelos familiares visam manter o equilbrio atual. Chamar de volta antes do prazo, chantagear e quebrar regras, so exemplos claros de condutas adotadas por essas pessoas e evidenciam dois pontos: um; que a famlia no est pronta para se adequar e participar do tratamento e, dois; que essas atitudes so uma espcie de resistncia mudana que proposta pelo tratamento e que ela merece uma grande ateno por conta disso, para que se possa ajud-la a vencer essas dificuldades.

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    Pode-se pensar nesse momento da famlia com membros dependentes qumicos como um momento de crise no sistema familiar. Segundo Webster (apud PITTMAN, 1995), a crise se define como um momento decisivo iminente, em que se decide por uma coisa ou outra. J Erikson (2011) v a crise como um conflito que o ser humano vive ao longo da vida e que deve resolv-lo de forma positiva ou negativa. Segundo o autor, as resolues positivas resultam em equilbrio mental, em desenvolvimento de virtudes e incrementam as habilidades de relacionamento social, enquanto que as resolues negativas levam sensao de estar socialmente desajustado e ao desenvolvimento de ansiedade e percepes de fracasso.

    Contudo, o que h de concreto e observvel nesse contexto uma tenso que recai sobre o sistema familiar, exigindo uma mudana que diverge do repertrio comportamental original (PITTMAN, 1995), ou seja, desautorizando ou questionando as estratgias de resoluo de problemas preexistentes, nas quais a famlia acredita (GUIMARES et al, 2009). Isso pode ser visto como perigo e motivar reaes como o boicote ao tratamento, ou pode ser visto como uma oportunidade de rever conceitos, reaproximar-se e retomar vnculos. Todavia, essa segunda opo menos frequente, visto que requer habilidade de elaborao e dar-se conta de suas dificuldades por parte dos familiares.

    Assim, observou-se, a partir das entrevistas realizadas, a existncia e permanncia de conflitos nas famlias que buscam atendimento dependncia qumica nos locais onde trabalham os psiclogos entrevistados. Conforme a tabela 4, existe falta de credibilidade no paciente e no tratamento e tambm disfuncionalidade nas relaes familiares:

    Tabela 4 Conflitos observados -Fragilidade nas relaes

    -Pra internar, pra tratar, porque a pessoa realmente ta precisando de ajuda e j a situao em casa na famlia ou com a esposa j ta bem fragilizada assim. (psicloga 2)

    -Familiares tambm com dependncia qumica

    -Muitas dificuldades no relacionamento familiar, n, muitas comorbidades tambm, n, dependncia qumica nos membros de outros familiares, ah, co-dependncia por parte de pais e companheiros, n, ou companheiras, , ento os conflitos dentro dessa famlia geralmente so muito grandes. (psiclogo 3)

    Relacionamento familiar

    -Desorganizao familiar

    -s vezes entre os prprios familiares Um quer agir dum jeito, o outro quer agir de outro. (psicloga 1) -, a famlia acaba gerando um problema, n, por diversos aspectos, a, sistmicos, n, ela gera um problema, que depois ela no consegue dar conta de suportar esse problema, toda vez que se tenta resolver, n, sem sucesso a famlia se decep-cepiona vamos dizer assim, com aquela pessoa e continua sempre gerando, n, esse ciclo a, de tentar, tentativas frustradas, e mais uma vez a pessoa se torna culpada e, e isso vai distanciando muito. (psiclogo 3)

    Desesperana -Exatamente, ento vrios deles chegam sozinhos, sem apoio de ningum, ah, meu pai enfim, no me apia mais, alguns a gente consegue retomar, trazer os pais de volta, porque tem muitos que a dcima terceira internao, dcima segunda, quinta, ento a famlia j passou por n coisas e j no ta mais disposta.

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    (psicloga 2) -Essa pessoa que chega para o tratamento j passou por outros tratamentos, diversas outras estratgias de tentativa de solucionar o problema sem soluo e a cada tentativa frustrada mais um conflito na famlia. (psiclogo 3)

    Nesse contexto, a psicloga 2 menciona a questo dos vnculos fragilizados, o psiclogo 3 menciona a presena de comorbidades nos demais membros da famlia e a presena de co-dependncia entre eles, e a psicloga 1 salienta que emergem lideranas distintas entre os familiares que acompanham o dependente qumico, no havendo uma comunicao clara que implique aes em conjunto. Todos esses exemplos revelam um nvel de tenso dentro do sistema familiar que advm da crise e de como a famlia est lidando com ela (PITTMAN, 1995).

    Sobremaneira, com o passar do tempo parece inevitvel uma postura desamparada e de desmotivao por parte dos familiares como descrita na tabela 4, aprendida diante da dificuldade que a famlia encontra para se reorganizar perante a crise, pois se acumulam esforos e se obtm poucos resultados (SELIGMAN, 2005). Desse modo, o conhecimento acerca do tratamento e da dependncia qumica torna-se uma importante ferramenta para o sucesso na recuperao do dependente qumico, uma vez que permite o dar-se conta de que a internao no um perodo mgico que devolver, por si s, o dependente limpo e capaz de conviver novamente em sociedade.

    Entretanto, existem ainda outras variveis que afetam a famlia do dependente qumico nesse contexto. muito comum que se desenvolva um perfil de relao triangular entre o dependente e os pais. No caso de dependentes qumicos do sexo masculino, h uma aliana entre a me e o filho, na qual ela o superprotege, enquanto esse se torna rebelde e o pai visto como ausente; e no caso de dependentes qumicos do sexo feminino, h rivalidade com a me, e o pai visto como um sujeito fraco emocionalmente (DO CARMO, 2003).

    Nessas relaes, emaranhadas como a da me com o filho, ou de rivalidade; como a da me com a filha, torna-se difcil o cumprimento da tarefa familiar de educao para a autonomia e conscincia dos prprios limites. A no definio, ou a falta de uma definio melhor para essas fronteiras relacionais, acaba impedindo que os pais se apropriem da necessidade de dar limites ou se sintam culpados em faz-lo, em funo dessa vinculao disfuncional, o que os impede de estabelecer uma relao com linhas de autoridade e responsabilidade melhor estabelecidas (MINUCHIN, 1990).

    Entretanto, observa-se que talvez a dificuldade principal das famlias atendidas pelos psiclogos dessa pesquisa resida em responsabilizar o dependente qumico pelo sucesso ao

  • 19

    final do tratamento e visualizar o tratamento como uma soluo perfeita e praticamente instantnea para essa demanda, conforme pode ser visto na tabela 5.

    Segundo Andolfi (1996), quando um sistema familiar est em situao precria, a busca por um novo equilbrio pode descompens-lo ou acarretar um enrijecimento de fronteiras, gerando mal estar nas relaes que o permeiam. Dessa maneira, os familiares podem isolar o dependente qumico das suas relaes como forma de se proteger daquilo que se apresenta como diferente e prejudicial e conservar entre si as relaes disfuncionais que auxiliaram no aparecimento dessa dependncia qumica. Isso revela o carter cuidadoso que deve ter a interveno com a famlia, pois tais reaes podem ser consideradas prejudiciais ao tratamento.

    Com relao a isso, a psicloga 2 faz um comentrio importante: Eu falo pra eles quando eles saem: qu que vocs vo fazer se vocs recair, qu que se

    faz? E com a famlia na maioria das vezes eles no to a fim de ouvir isso no final do tratamento, n. Ningum quer ouvir isso.

    Muitas vezes tambm, de acordo com Do Carmo (2003), o sistema familiar acolhe o sintoma, adaptando-se a ele e minimizando as perturbaes advindas dos seus efeitos. Isso permite que o sintoma seja aparentemente reconhecido como normal. O que afeta a motivao para a mudana, fazendo com que ele se agrave e provoque o aparecimento de novos sintomas, cada vez mais graves. Assim, segundo a autora, pode haver uma famlia em que o pai menos funcional que a me em funo do alcoolismo e quando essa famlia se deparar com o surgimento do abuso de drogas por parte do filho, pode no conseguir dar

    Tabela 5 Barreiras mudana Sobre o tratamento/cura -A famlia est desacreditada, n, , j tentaram vrias vezes (psicloga

    4) -No uma coisa fcil a famlia entender a essa doena, mesmo assim, n, porque eles pensam assim: porque j fez tratamento, j ficou seis meses l dentro, qu que quer mais? Tem que sair bem. (psicloga 2) -Tem essa viso cada vez perfeita que ele sai daqui, tudo ocorre bem e nunca recai. (psicloga 2) -Eu falo pra eles quando eles saem: qu que vocs vo fazer se vocs recair, qu que se faz? E com a famlia na maioria das vezes eles no to a fim de ouvir isso no final do tratamento, n. Ningum quer ouvir isso. (psicloga 2)

    Percepes

    Paciente responsvel por tudo

    -Quando acontece algo de fato, na prtica, s vezes elas no conseguem a famlia, a ligam pra c: Ai, isso vagabundo mesmo (psicloga 2) -E, n, em dois anos bem, eles compraram carro, fizeram uma casa, formaram uma famlia, a do... tm uma recada no processo a, viu, a famlia vem: Eu disse! Sabia que no ia dar certo! Tudo fica desvalorizado, toda conquista daqueles dois anos, n, ento difcil assim uma... (psicloga 2) -Porque to ali, mas to com muita raiva, n, porque acham que semvergonhice. (psicloga 1)

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    conta desse sintoma. comum que outros membros da famlia acabem por assumir o papel de pai, mantendo esse em seu alcoolismo e caracterizando a adaptao da famlia ao sintoma. Esse arranjo de famlia dificulta a percepo da gravidade da situao, fazendo com que ela reconhea que precisa e procure ajuda somente em momentos de crise extrema.

    Certamente esses dizeres confirmam as afirmaes anteriores, uma vez que explicitam uma realidade muito importante: ningum quer ouvir isso. Contudo, apontam a necessidade de perseverana por parte do terapeuta em cumprir o seu papel e de habilidade para lidar com a frustrao, pois esse um dos momentos mais difceis do tratamento. Cabe se ressaltar aqui tambm, as dificuldades implcitas associadas ao tratamento da dependncia qumica, como a questo da recada descrita na tabela 5, que, na viso dos familiares, invalida todo o esforo feito at ento e que demanda grande tolerncia por parte do psiclogo, uma vez que esses vm lhe cobrar pela falta de resultados.

    A recada talvez um dos temas principais do tratamento da dependncia qumica. Visto que a recuperao se trata de um processo, normal e cientificamente provado que ocorram deslizes ao longo desse percurso, tanto que o DSM-IV (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002) considera os primeiros 12 meses de abstinncia como um perodo de alto risco para a reincidncia no uso de substncias.

    Em pesquisa de Rigotto e Gomes (2002), ela se mostrou associada a situaes de falta de apoio familiar, falta de acompanhamento apropriado, uso de bebidas alcolicas, envolvimento com antigos amigos usurios, frustrao diante de circunstncias adversas e necessidade de aprovao social. Isso evidencia outro ponto que exige perseverana e tolerncia do psiclogo, pois muitas vezes o tempo necessrio para que a famlia se aproprie da necessidade de reformular as suas relaes em prol da reabilitao e reinsero do dependente qumico dentro do sistema familiar e da sociedade maior do que o tempo que a instituio pelo qual ele trabalha dispe para tratamento, muitas vezes ocorrendo de uma mesma famlia voltar vrias vezes para ser atendida, em funo de recadas que ocorreram em funo de que elas ainda no conseguem fornecer a ajuda necessria para o dependente conter os seus impulsos e aprender a lidar com a abstinncia.

    Mesmo assim, mantendo o empenho e buscando orientar corretamente os familiares possvel conseguir bons resultados. A tabela 6 demonstra mudanas positivas que ocorrem no tratamento oferecido pelos psiclogos entrevistados.

    Tabela 6 Mudanas observadas

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    Reaproximao -A, a reaproximao assim em relao de restabelecimento ou melhora assim do vnculo (psicloga 4) -Ento isso um movimento que fica bem claro, a gente v, observa assim nas visitas, nos atendimentos, n, com o interesse, n, da famlia, n, mudar nesse sentido (psicloga 4). -tem mudanas que a gente nota na hora de, de conseguir impor mais limites, de conseguir, n, no cair na manipulao, s vezes at de demonstrar afeto. (psicloga 1)

    Orientao/conhecimento -E eles dizem isso. Eles falam que eles no sabem como agir, no sabem o que fazer, o que dizer, sabem as fantasias dos seus, n. (psicloga 1) -Quando compreendem que ele tem uma outra doena junto que no s a dependncia qumica ou que talvez at a dependncia qumica vem muito em funo dessa doena, acho que melhora assim, acho que muda o comportamento dessa famlia. (psicloga 1) -Na maioria das famlias a gente consegue observar mudana pra melhor, n, ou elas... ficam com mais conhecimento da doena, sabem mais com p... como podem ajudar. (psicloga 2)

    Mudam pra melhor

    Engajamento -Principalmente naquelas famlias comprometidas, assim, que se mantm depois daqui nos grupos, conseguindo ajudar. (psicloga 2) -Pois ento... quando a famlia ta engajada no, no tratamento tambm, a gente observa mudanas bem positivas, mudanas que geram, n, um ambiente propcio pra depois essa pessoa retornar e ter, estar abstinente, estar livre da dependncia, n. (psiclogo 3) -quando a famlia ta engajada no tratamento ela entende bem isso e ela comea ento, as mudanas no contexto familiar, nesse sentido, so muito importante, principalmente quando a famlia est engajada no problema. (psiclogo 3)

    Conforme a tabela, e como j vem sendo discutido, aparece novamente a questo da orientao dos familiares. Evidencia-se, a partir disso, que as informaes sobre a dependncia qumica e o seu tratamento representam uma varivel muito importante no processo de recuperao do dependente qumico. Paradoxalmente, ela atua fazendo com que os familiares boicotem o tratamento ou perturbem de outras formas, muitas vezes at, com o desejo de ajudar; ou fazendo com que os familiares possam se tornar parceiros do programa de tratamento, complementando as aes da equipe de atendimento.

    Estando eles engajados no tratamento, aprendendo sobre como agir com o dependente e contribuindo para que esse possa cumprir com as regras exigidas pelo programa, representam importantes parceiros para o processo de recuperao.

    CONSIDERAES FINAIS A partir dessa pesquisa foi possvel conhecer um pouco sobre os psiclogos que

    atendem a demanda da dependncia qumica na regio do Vale do Paranhana e quais so as suas percepes acerca da famlia de dependentes qumicos e de sua participao no tratamento.

    Em geral, eles as percebem como famlias doentes e de relaes fragilizadas, fazendo com que atrapalhem o processo de recuperao do dependente qumico em vrias oportunidades.

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    Porm, viu-se tambm que os psiclogos entrevistados percebem que h momentos em que a famlia consegue ajudar e, tanto em uma situao quanto em outra, atravessa-se a questo do conhecimento acerca da dependncia qumica e do tratamento, bem como a participao e o engajamento nesse.

    Isso to importante, segundo essas percepes, que faz com que se consigam mudanas positivas para os conflitos familiares no tratamento, ampliando as possibilidades de recuperao do dependente.

    Fica aqui, portanto, a sugesto de que se realizem novos e mais abrangentes estudos sobre essa temtica, para que se possa pensar na implantao ou mesmo no aprimoramento dos cursos de formao complementar existentes sobre essa demanda na regio.

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  • 23

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    APNDICE

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    APNDICE A - Roteiro de Entrevista

    1- Como voc percebe que a famlia pode influenciar positivamente no tratamento do dependente qumico?

    2- Como voc percebe que a famlia pode influenciar de forma negativa no tratamento do dependente qumico?

    3- possvel identificar algum tipo de conflito familiar durante a internao no histrico deste indivduo? Qual?

    4- Que mudanas so observadas na famlia durante o perodo de tratamento do dependente qumico?

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    APNDICE B Termo de Concordncia

    Faculdades Integradas de Taquara

    Credenciada pela Portaria N. 921, de 07/11/07, D.O.U. de 08/11/07 COMIT DE TICA EM PESQUISA CEP

    TERMO DE CONCORDNCIA

    1 Pesquisa: A viso dos Profissionais de Sade sobre a participao dos familiares no

    tratamento de Dependentes Qumicos

    Alexandre Herzog (pesquisador) e-mail: [email protected] Profe. Me. Maria Isabel Wendling (Orientadora) e-mail: [email protected]

    2 Informaes instituio:

    Sua instituio est sendo convidada a participar de uma pesquisa, que tem como objetivo conhecer a percepo de profissionais psiquiatras e psiclogos de hospitais gerais e comunidades teraputicas do Vale do Paranhana acerca da participao dos familiares no tratamento dos pacientes dependentes qumicos. Cada profissional participante ser convidado a participar de uma entrevista semi-estruturada, que ser registrada em um gravador de voz, onde sero feitas perguntas sobre o tema da pesquisa. A participao dos profissionais que integram a equipe de sade mental da instituio como voluntrios nesta pesquisa no lhes trar nenhum privilgio, nem instituio, seja ele de carter financeiro ou de qualquer natureza. Reserva-se instituio o direito de recusar-se a participar da pesquisa e de interromper o procedimento em qualquer momento, sem qualquer prejuzo. Durante a entrevista, se for o caso, os profissionais podero recusar-se a responder qualquer pergunta que lhes cause algum constrangimento. Sero garantidos o sigilo e a privacidade da identidade dos profissionais e das informaes que forem fornecidas, sendo-lhes reservado o direito de omisso de dados. Na apresentao dos resultados, no sero citados os nomes dos participantes.

    Confirmo ter conhecimento do contedo desse termo. A minha assinatura abaixo indica que a instituio concorda em participar dessa pesquisa e por isso dou meu consentimento. ___________ , _____ de __ de ______.

    Acadmico pesquisador Orientador da pesquisa Participante da pesquisa ou responsvel

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    APNDICE C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    Faculdades Integradas de Taquara

    Credenciada pela Portaria N. 921, de 07/11/07, D.O.U. de 08/11/07 COMIT DE TICA EM PESQUISA CEP

    TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

    1 Pesquisa: A viso dos Profissionais de Sade sobre a participao dos familiares no

    tratamento de Dependentes Qumicos

    Alexandre Herzog (pesquisador) e-mail: [email protected] Profe. Me. Maria Isabel Wendling (Orientadora) e-mail: [email protected]

    2 Informaes ao participante ou responsvel:

    Voc est sendo convidado a participar de uma pesquisa, que tem como objetivo conhecer a percepo de profissionais psiquiatras e psiclogos de hospitais gerais do Vale do Paranhana acerca da participao dos familiares no tratamento dos pacientes dependentes qumicos. Cada participante ser convidado a participar de uma entrevista semiestruturada, que ser registrada em um gravador de voz, na qual sero feitas perguntas sobre o tema da pesquisa.

    Voc poder recusar-se a participar da pesquisa e poder abandonar o procedimento em qualquer momento, sem qualquer prejuzo. Durante a entrevista, se for o caso, voc poder recusar-se a responder qualquer pergunta que lhe cause algum constrangimento.

    A sua participao como voluntrio nesta pesquisa no lhe trar nenhum privilgio, seja ele de carter financeiro ou de qualquer natureza.

    Sero garantidos o sigilo e a privacidade de sua identidade e das informaes que voc fornecer, sendo-lhe reservado o direito de omisso de dados. Na apresentao dos resultados, no sero citados os nomes dos participantes.

    Confirmo ter conhecimento do contedo desse termo. A minha assinatura abaixo indica que concordo em participar dessa pesquisa e por isso dou meu consentimento.

    , de de 2011.

    _____________________ ________________________ ______________________

    Acadmico pesquisador Orientador da pesquisa Participante da Pesquisa

    Obs.: Imprimir esse termo em duas vias, ficando uma com o acadmico (pesquisador) e a outra com o participante.

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    APNDICE D Questionrio de perfil dos profissionais

    1 Qual a sua formao?

    2 H quantos anos atua nessa rea?

    3 Buscas manter-se atualizado(a) , buscando formaes complementares graduao?

    4 H quantos anos trabalha com a demanda da Dependncia Qumica?

    4 Trabalhas tambm em outros servios da Rede de Atendimento Dependncia Qumica no Vale Do Paranhana?

    5 Se sim, observas diferenas de resposta ao tratamento, por parte dos familiares, entre uma instituio e outra?