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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Psicologia Percepção de qualidade de vida entre idosos freqüentadores de Centros de Referência e residentes em Casas de Repouso Gabriela Chaves de Sousa São Paulo 2006

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Psicologia

Percepção de qualidade de vida entre idosos freqüentadores de Centros de Referência e

residentes em Casas de Repouso

Gabriela Chaves de Sousa

São Paulo 2006

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Psicologia

Percepção de qualidade de vida entre idosos freqüentadores de Centros de Referência e

residentes em Casas de Repouso

Trabalho apresentado à professora DINORAH FERNANDES G. MARTINS da disciplina TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR II como requisito parcial para obtenção da média semestral.

São Paulo Novembro/2006

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Aos meus pais, por todo amor e dedicação.

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Agradeço aos meus pais, pois não pouparam esforços em minha educação, mostrando, assim, a importância do aprender.

A Professora Dinorah, por transmitir saberes

fundamentais a este trabalho e à minha formação.

Ao Léo, por todo incentivo, paciência e apoio

nos momentos difíceis. Ao meu irmão, pela companhia e compreensão. Aos meus amigos, pelo carinho e motivação.

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SUMÁRIO

Resumo...................................................................................................................................V

Abstract.................................................................................................................................VI

Introdução...............................................................................................................................7

Desenvolvimento do idoso......................................................................................................9

Auto-estima e autoconceito...................................................................................................16

Qualidade de Vida do Idoso..................................................................................................19

O Idoso na Sociedade............................................................................................................28

Objetivos...............................................................................................................................34

Metodologia..........................................................................................................................35

Resultados.............................................................................................................................37

Discussão de Resultados.......................................................................................................66

Considerações Finais.............................................................................................................82

Bibliografia...........................................................................................................................85

Anexos...................................................................................................................................88

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RESUMO

A elevação proporcional do número de idosos na população de um país em desenvolvimento dá início a um grave problema, pois não possui estrutura para esta demanda da população. Torna-se fundamental refletir sobre a implementação de alternativas de intervenção em programas que melhorem o cotidiano do idoso. O presente trabalho pretende verificar a percepção do idoso sobre qualidade de vida em geral e sobre si próprio, além de avaliar sua auto-estima e autoconceito. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semi-estruturada e da aplicação do Desenho da Figura Humana em 10 idosos freqüentadores de um Centro de Referência do Idoso e 10 idosos moradores de uma Casa de Repouso, de ambos os sexos. As entrevistas foram analisadas qualitativamente numa abordagem psicodinâmica. As interpretações dos testes foram somadas a elas para estabelecer uma relação entre ambos. Os resultados indicam que, em ambas as amostras, saúde, boas relações afetivas e ter atividades foram apontados como requisitos para uma boa qualidade de vida pela maioria dos idosos. Os freqüentadores do Centro de Referência do Idoso demonstram possuir melhor qualidade de vida por apresentar os requisitos citados por eles próprios. Em ambos os grupos existem dificuldades de aceitação da auto-imagem. Entretanto, os moradores da Casa de Repouso inferem uma auto-estima mais baixa, bem como um autoconceito menos adequado, devidos a falta de atividades e ao isolamento. Palavras-chave: Qualidade de Vida; Velhice; Auto-estima; Autoconceito; Instituições.

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ABSTRACT The proportional rise of the number of elderly people in the population of a developing country unleashes a serious problem, because it does not has structure for this demand of the population. It´s very important to consider about the implementation of alternatives of intervention in programs that improve the daily life of the elderlies. This present research intends to verify the elderly peolple´s perception of quality of life in general and in themselves, besides evaluating their self-esteem and self-concept. The data had been collected by means of a structuredinterview and of the application of the The Human Figure Drawings being in 10 elderlies who use to go to a Center of Reference of Elderly People and the 10 elderlies inhabitants of a House of Rest, of both sexes. The interviews had been analyzed qualitatively in a psicodinamic approach. The interpretations of the tests had been added them to set up a relation between both. The results indicate that, in both the samples, health, relationship and to have activities had been pointed as requisite with respect to a good quality of life for the majority of the elderly people. The people who use to go to the Center of Reference of the Elderly People demonstrate to have better quality of life for presenting the requirements cited for proper them. In both the groups exist a difficulty of accept their auto-images. However, the inhabitants of the House of Rest infer lower self-esteem, as well as a less adapted self-concept, had the lack of activities and to the isolation. Key-words: Quality of Life; Elderly; Self-esteem; Self-concept; Institutions.

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1. INTRODUÇÃO

A contínua elevação da população idosa tem um reflexo nas dimensões bio-psico-

sociais do indivíduo. Nos países em desenvolvimento, este fenômeno ocorre em um quadro

de grande desigualdade social, sem estrutura para esta demanda da população. Esse fato

traz consigo a necessidade de se desenvolver políticas públicas e programas sociais que

aprimorem a qualidade de vida (Q.V.) dessa faixa etária e garantam o bom funcionamento

das instituições geriátricas. Dentre essas medidas, está presente o âmbito do lazer e da

convivência social. Com o aumento da expectativa de vida, torna-se ainda mais importante

refletir sobre a implementação de alternativas de intervenção em programas que melhorem

o cotidiano do idoso.

O presente trabalho pretende verificar a percepção do idoso sobre qualidade de vida

em geral e sobre si próprio, além de avaliar sua auto-estima e autoconceito.

O estudo foi realizado com 20 idosos de ambos os sexos, acima de 60 anos, sendo

que 10 são freqüentadores de um Centro de Referência do Idoso (C.R.I.) e 10 são

moradores de uma Casa de Repouso. Os dados para o estudo foram coletados por meio de

uma entrevista semi-estruturada com informações sobre como definem qualidade de vida,

se consideram que possuem e quais são os principais aspectos que interferem positiva ou

negativamente nesse fator. Também foram feitas perguntas relacionadas à interação social e

a aspectos do dia-a-dia. Além disso, foi aplicado o Desenho da Figura Humana (D.F.H.),

com o intuito de verificar a imagem corporal que o indivíduo possui se si mesmo, sua

estrutura psíquica e sua capacidade de orientar-se e conduzir-se em uma situação

determinada, adaptando-se a ela.

A qualidade de vida alcança inúmeros aspectos da vida, que inclui desde a

“satisfação com a vida” ou “bem-estar social” a modelos baseados em conceitos de

independência, controle, capacidades sociais e cognitivas (VICTOR et al In: RUIZ,

CHALITA & BARROS, 2003). Vale ressaltar que o conceito de qualidade de vida está

estritamente atrelado ao bem-estar pessoal, bem como à auto-estima (VECHIA et. al,

2005).

Acredita-se que para haver um envelhecimento bem-sucedido o indivíduo ser pró-

ativo, capaz de equilibrar definindo objetivos e buscando alcançá-los, além de acumular

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recursos importantes para a adaptação a mudanças e possuir atividades ligadas a

manutenção do bem-estar (SOUSA, GALANTE & FIGUEIREDO, 2003).

No envelhecimento bem sucedido, o indivíduo deve ser pró-ativo, equilibrando sua

qualidade de vida por meio da definição de objetivos e lutando para atingi-los, somando

recursos importantes na adaptação à mudança e na manutenção do bem-estar. Sendo assim,

um envelhecimento bem sucedido é acompanhado por qualidade de vida e bem-estar e deve

ser desenvolvido ao longo da vida (SOUSA, GALANTE & FIGUEIREDO, 2003).

Como hipótese, espera-se encontrar uma melhor qualidade de vida, auto-estima e

autoconceito na amostra do Centro de Referência do Idoso, comparado à amostra da Casa

de Repouso, já que a primeira amostra possui uma maior rede de relações, além de ocupar o

tempo livre com atividades de seu interesse.

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1. DESENVOLVIMENTO DO IDOSO

Envelhecer acarreta mudanças físicas, psicológicas e sociais, sendo elas naturais e

gradativas. Essas alterações são gerais, podem estar presentes em idade mais precoce ou

avançada e em grau maior ou menor, variando de acordo com as características genéticas e

com o estilo de vida de cada indivíduo (ZIMERMAN, 2000).

Segundo Bee (1997) em todos os sistemas do corpo humano, em média aos 40 anos,

há um declínio, que vai prosseguir de forma gradativa ao longo da vida. Este processo pode

se tornar mais rápido depois dos 75 ou 80 anos, porém não em todos os

sistemas.Transformações físicas somadas aos maus hábitos de saúde são fatores

importantes para o aumento dos problemas de saúde e das incapacitações depois dos 65

anos. Não há como evitar o desgaste com o passar do tempo, propõe ZIMERMAN (2000).

A velhice é um período no qual o indivíduo fica mais vulnerável a doenças. As doenças

crônicas estão dentro do quadro de normalidade desta faixa etária. GARCIA et al. (1998)

propõem que pessoas idosas têm doenças coexistentes, chegando, em média, a seis

condições crônicas aos 75 anos, sendo as mais comuns: hipertensão, diabetes, artroses,

afecções respiratórias, acidentes vasculares, insônia, cardiopatias diversas, infecções

urinárias, deficiências visuais, etc. Este quadro de cronicidade mostra-se incapacitante e

ocasiona dependência e fragilidades.

Um dos principais problemas no tratamento de idosos está neste quadro de múltipla

morbidade, no qual as doenças interferem entre si e ficam ainda mais graves devido as

condições sócio-econômicas que dificultam o acesso a serviços e tecnologias (TRAD,

2002; RAMOS, 1999 In: GARCIA et al., 1998).

Zimerman (2000) afirma que não se encontra uma pessoa por volta de 70 anos que

não tenha a visão, a audição, a força e a memória rebaixadas e que não possua algum tipo

de problema cardiovascular ou reumático. Por outro lado, Bee (1997) afirma que a velhice é

a fase em que as habilidades cognitivas declinam de forma visível. Entre os 65 e 75 anos,

essas alterações são pequenas, existindo poucas tarefas, como conhecimento de

vocabulário, que demonstram pouco ou nenhum declínio médio. Entretanto, entre os mais

idosos existem declínios médios em todas as medidas de habilidade intelectual. Os

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declínios maiores aparecem nas medidas que envolvem velocidade ou habilidades não-

exercitadas.

A vida é composta por situações adversas e favoráveis que se alternam. A maior

parte das pessoas interioriza mais facilmente as situações adversas, e fazem isso de tal

forma que levam as conseqüências para o resto da vida. Quando as situações ruins não são

enfrentadas de maneira apropriada, podem ter como conseqüência a ansiedade e a

depressão, que muitas vezes levam ao desencadeamento de doenças, como as do tipo

crônico-degenerativas, que podem se tornar fontes de estresse (TRENTINI, SILVA &

VALLE , 2005).

Trentini, Silva & Valle (2005) afirmam que a doença crônica pode ser um risco aos

projetos de vida, especialmente quando se refere a idosos. Os portadores desse tipo de

doença precisam manter controle rígido no seu estilo de vida, além de vigilância extrema

aos sintomas que, se não equilibrados, podem acarretar situações graves e até mesmo a

morte.

Zimerman (2000) ressalta que para viver bem é preciso aprender a conviver com

essas limitações. Pode-se diminuir os problemas com exercícios físicos, exercícios de

memória, boa alimentação, bons hábitos, participação em grupos, etc.

O autor supra-citado ainda lembra que atualmente, com o avanço da ciência, a

melhoria nas condições de vida e com a atenção dada à prevenção de doenças através da

adoção de um estilo de vida saudável, o envelhecimento está acontecendo mais

tardiamente.

Mesmo que tarde a ter início, a incidência de incapacitações físicas aumenta com a

idade. Entretanto, não é correto pressupor que a incapacitação funcional seja universal,

mesmo entre os realmente idosos. Também é um erro presumir que uma incapacitação

estará presente o resto da vida do idoso. É fato que, observando um grupo de idosos por

vários anos, nota-se que os que apresentam alguma incapacitação funcional, inicialmente,

apresentam números mais elevados de mortalidade e também de incapacitação ao longo dos

próximos anos. Porém, alguns deles, até mesmo com mais de 80 anos, manifestam uma

melhora de suas condições físicas, devido a adoção de um novo estilo de vida mais

saudável (BEE, 1997).

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Bee (1997) cita outro fator significativo ligado à incapacitação, a demência. Ela é

muito freqüente entre os indivíduos com mais de 65 anos, sendo descrita como qualquer

deterioração global das funções intelectuais, como perda de memória, julgamento,

funcionamento social e controle das emoções. Ela é um sintoma, não uma doença. Pode ser

causada por uma grande variedade de condições, principalmente pela doença de Alzheimer

(que corresponde a metade dos casos) e a demência com multiinfartos.

Para programar o que deve ser feito em relação aos cuidados com a saúde, é

fundamental que haja um bom diagnóstico. Esta programação vai estar de acordo com o

problema, limitações, possibilidades e vontade (ZIMERMAN, 2000).

A atividade sexual é um outro ponto que declina na velhice, porém os 65 anos não

correspondem a um marco em sua mudança. Os dados da pesquisa de Marsiglio & Donnely

(1991 In: Bee, 1997) mostram que, por volta dos 70 anos, apenas metade dos indivíduos

casados ainda é sexualmente ativa. Entre eles, a freqüência de intercurso diminui, mas não

de forma acelerada. Os idosos de 75 anos ou mais, sexualmente ativos, afirmam ter relações

sexuais, em média, três vezes ao mês, e este número equivale à metade da freqüência dos

adultos de 50 anos.

Para Bee (1997) essa queda na atividade sexual possui muitas causas. Com o

aumento da idade, ambos os sexos afirmam ter problemas com o desejo sexual. As

alterações da menopausa podem influenciar no declínio da atividade sexual, devido à

menor lubrificação vaginal e à redução na espessura das paredes vaginais. A saúde também

influencia. Medicamentos para a pressão sanguínea podem provocar impotência como

efeito colateral. As dores crônicas podem interferir no desejo sexual. Além disso, pode

existir aborrecimento ou desinteresse em relação ao parceiro, também podem ser levados

em conta esteriótipos que retratam a velhice como um período assexuado.

Mesmo com todas as mudanças físicas, Zimerman (2000) acredita que os problemas

físicos são mais simples de resolver, comparados aos problemas psicológicos: paranóia,

depressão, hipocondria, etc. A velhice acarreta muitas transformações psicológicas, que

podem ocasionar:

- dificuldade de se adequar a novos papéis;

- falta de motivação e dificuldades em fazer planos para o futuro;

- necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afetivas e sociais;

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- problemas em se adaptar às transformações rápidas;

- alterações psíquicas que necessitam de tratamento;

- depressão, hipocondria, paranóia, somatização, suicídios;

- problemas com a auto-imagem e com a auto-estima.

Esta mesma autora acredita que a experiência demonstra que os aspectos

psicológicos também estão ligados à hereditariedade, com a história e com a atitude de cada

um. Os indivíduos mais saudáveis e otimistas costumam se adequar mais facilmente às

alterações da velhice. Têm mais condições de perceber a velhice como uma fase de

experiência acumulada, de maturidade, de liberdade para assumir outras ocupações e de

liberação de determinadas responsabilidades.

Erik Erikson afirma que a tarefa de chegar a integridade do ego tinha início na meia-

idade, entretanto era mais significativa na velhice. Para alcançá-la, o adulto de terceira

idade precisa concluir quem ele é e tem sido, como viveu, que escolhas fez, quais

oportunidades aproveitou ou perdeu. Também se trata da capacidade de aceitar a morte e

sua proximidade. Existem poucas informações sobre o assunto, mas essas mostram que os

que chegaram à Integridade são menos temerosos à morte e possuem uma propensão maior

de relembrar a vida com alegria (BEE, 1997).

Gaspari e Schwartz (2005) acreditam que o idoso passa por uma experiência

semelhante ao adolescente. Como na fase de transição entre a juventude e a vida adulta do

homem, o idoso também passa por uma crise de identidade, a qual influencia em sua auto-

estima positiva e até mesmo na aceitação dele próprio. A auto-estima baixa e as

inseguranças em relação à identidade tem seus efeitos na autonomia, liberdade, convívio

social e não refletem apenas na freqüência, mas também na qualidade das relações e nos

vínculos afetivos.

Ainda propõem que com este quadro fica evidente a importância de ações

educativas, porque, ao elaborar no grupo os aspectos geradores desta crise, o idoso pode se

deparar com os fatos, idéias e realidades, que se contrapõem ao seu cotidiano, como tomar

uma nova postura frente ao envelhecimento, (re)encontrar-se e (re)edificar sua identidade.

Neste ponto a identidade do indivíduo ligada à identidade social, ressalta a

importância do relacionamento interpessoal, como forma de ressignificação da auto-

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imagem e da auto-estima (SANTANA & SENA, 2003 In: GASPARI & SCHWARTZ,

2005).

O papel profissional é deixado para traz com a aposentadoria; o de filho(a) é

abandonado com a morte do último dos pais; o papel de cônjuge deixa de existir com a

viuvez; muitos outros papéis em instituições (comunitárias, por exemplo) são perdidos para

indivíduos mais jovens (BEE, 1997).

Os papéis que restam nessa etapa possuem menos conteúdo, afazeres e expectativas

(IRVING ROSOW, 1985 In: BEE, 1997). Grande parte dos adultos mais idosos ainda

desempenha o papel de pai ou mãe, porém esta função passa a ser menos exigente.

Bee (1997) salienta que a perda de conteúdo dos papéis faz com que o dia-a-dia não

seja mais estruturado por meio de papéis específicos. Este fato é visto por alguns

pesquisadores como desfavorável, pois acarretam um risco de isolamento ou alienação.

Outros consideram que há vantagens na etapa marcada pela ausência de papéis. Por não

existir mais os limites decorrentes dos papéis, consideram que o indivíduo poderá expressar

sua própria individualidade.

Papalia & Olds (2000) lembram que casamentos duradouros se tornaram raros nos

dias de hoje; grande parte dos casamentos, da mesma forma que grande parte das pessoas,

costumam ter uma vida mais curta. Atualmente, de 5 casamentos, apenas 1 dura 50 anos. Já

que as mulheres geralmente se casam com homens mais velhos e tem uma expectativa de

vida maior do que eles, e os homens têm maior probabilidade de se casar novamente depois

da separação ou da morte da esposa, um número mais elevado de homens do que mulheres

está casado na velhice.

Com o aumento do tempo livre, casais idosos costumam passar mais tempo na

companhia um do outro, do que com amigos e parentes, mesmo que seja um fato que a

maior parte do tempo seja voltada para atividades passivas ou manutenção básica (trabalhos

domésticos, assistir TV, realizar atividades simples fora de casa), é fato também que esses

casais que passam mais tempo com o cônjuge afirmam ser mais felizes.(LARSON,

MANNELL & ZUZANEK, 1986 In: BEE, 1997)

Bee (1997) afirma que o significativo grau de assistência e cuidados nos casais

idosos, no qual um cônjuge sofre de alguma incapacitação, deixa clara a existência de laços

profundos. Até mesmo quando ambos os cônjuges possuem alguma incapacitação

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relevante, diversos casais continuam a cuidar-se mutuamente. Os casamentos entre idosos

podem não ser tão românticos, tão intensos afetivamente, porém são satisfatórios e

extremamente comprometidos. Esses relacionamentos geram vantagens: maior grau de

satisfação de vida, saúde melhor e menores taxas de internação.

A maioria dos idosos que possuem, ao menos, um filho vivo, costuma se encontrar

com freqüência os(s) filho(s) e neto(s). Parte dessa relação está ligada à ajuda ao idoso e

ajuda por parte do idoso. Entretanto, Bee (1997) ressalta que este contato não está apenas

relacionado à ajuda. Grande parte não encontra os filhos por obrigação, mas sim porque

isso é proporciona prazer, e um alto número vê ao menos um dos filhos como confidente.

Também existem exceções – relações frias, tensas, distantes.

Os irmãos também têm um papel significativo na vida do idoso (SCOTT &

ROBERTO, 1981 In: PAPALIA & OLDS, 2000). Nessa fase da vida, eles costumam se

encontrar com a mesma freqüência e continuam envolvidos como na meia-idade (FIELD &

MINKLER, 1998 In:. PAPALIA & OLDS, 1998). Para aqueles que possuem poucos filhos

ou nenhum, o contato com irmãos pode ser fundamental como forma de apoio emocional e

auxílio prático (CICIRELLI, 1980; RUBINTEIN, ALEXANDER, GOODMAN &

LUBORSKY, 1991; SCOTT & ROBERTO, 1981 In: PAPALIA & OLDS, 1998).

Bee (1997) afirma que a partir dos 65 anos, é possível que o número de amizades

decline gradativamente. A maioria das amizades íntimas nessa etapa é muito antiga; à

medida que esses indivíduos falecem, a rede diminui. Os indivíduos viúvos ainda podem se

afastar dos amigos casados. A relação com os amigos é um fator significativo na satisfação

de vida, na auto-estima e na quantidade de solidão.

Os amigos satisfazem diversos tipos de necessidades, se comparados à família. Eles

geram contatos com grande probabilidade de se tornarem mais recíprocas e imparciais.

Também proporcionam companhia, diversão, compartilham atividades. Como geralmente

vêm do mesmo grupo, ainda dividem a história e a cultura, as antigas canções favoritas,

brincadeiras e experiências sociais (BEE, 1997).

A autora supracitada destaca dois pontos no relacionamento desta faixa etária. Um

deles é o fato de haver relacionamentos longos, desde os primeiros períodos da vida. As

mulheres ainda criam amizades íntimas e continuam como mantenedoras do parentesco; os

homens seguem confiando nas esposas como confidentes. Essa continuidade também está

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presente a nível individual: aqueles que tem muitos amigos no início da vida adulta e na

meia-idade tendem a continuar criando redes nessa etapa, já os mais solitários ou

introvertidos continuam com essas características.

O outro ponto levantado por Bee (1997) é que essa longa duração das relações

persiste mesmo com conflitos importantes no comboio pessoal dos idosos. É uma fase de

muitas perdas. De qualquer maneira, grande parte dos idosos se adapta a essas mudanças de

forma significativa e seguem mantendo relações sociais pelo resto da vida. Encontram a

família, amigos, freqüentam igrejas e/ou organizações. O fator que limita a vida social é a

incapacitação física, sendo esse fato mais importante do que a perda de um parceiro ou

amigo. A continuidade das relações sociais, além de mostrar a importância dessas

interações para sensação de satisfação e conexão, deixa evidente a enorme capacidade de

adaptação que persiste nessa etapa da vida.

Bossé, Aldwin, Levenson, Spiro & Mroczek (1993 In: Bee, 1997) comentam o

declínio social e apontam mais um fator como responsável através da teoria da escolta

social. Para eles esse declínio ocorre apenas nos círculos sociais menos íntimos. Com a

aposentadoria, os amigos do trabalho e outros casuais tendem a ser distanciar. Entretanto,

eles podem ser substituídos por novos amigos ou por maio convivência com amigos de

longa data.

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2. AUTO-ESTIMA E AUTO-CONCEITO

De acordo com Assis et al. (2003), as representações sociais são um tema muito

pesquisado, que recebeu inúmeras contribuições de diferentes correntes de pensamento,

como Durkheim (1978), Weber (1974), Shutz (1979) e Marx (1984). Podem ser vistas

como senso comum, imagens, concepções e visão de mundo que os atores sociais têm da

realidade. As representações sociais de cada um se constituem a partir de figuras e

expressões socializadas, decorrentes das contradições do cotidiano das diversas classes

sociais; também são conseqüência do conteúdo psíquico, da individualidade, da forma que

o indivíduo interpreta as figuras e expressões socializadas de acordo com seu próprio

potencial. São, concomitantemente, “ilusórias, contraditórias e verdadeiras” e consideradas

matéria-prima para uma análise da sociedade e também para a ação pedagógica-política de

mudança (MINAYO, 1999 In: ASSIS et al., 2003).

Os autores supra-citados lembram que as representações sociais são um tema muito

abordado pela Psicologia Social. O autoconceito pode ser visto como uma organização

hierárquica e multidimensional de um conjunto de percepções de si mesmo. Essas

percepções são constituídas por tudo que o indivíduo considera fazer parte dele. É

adaptável, equilibrada pela dinâmica individual, pelas características de interação social e

pelo contexto situacional. É acarretada pelas situações sociais e representa uma visão

racional de si próprio.

A auto-estima é uma parte do autoconceito. Corresponde a um sentimento de

aprovação ou de repulsa de si mesmo, e o limite que o indivíduo considera-se capaz,

relevante e bem-sucedido. É um julgamento que surge nas atitudes que o sujeito tem

consigo próprio (COOPERSMITH, 1967; ROSENBERG, 1989 In: ASSIS et al. 2003).

O auto-conceito e a auto-estima são as bases da representação social que o indivíduo

tem de si. São fatores extremamente individuais, mesmo que constituídos através das

relações cotidianas desde a infância. São determinantes na relação que o indivíduo

estabelece com si próprio e com terceiros, exercendo uma forte influência na percepção dos

fatos e dos outros, influenciando de maneira marcante o comportamento e as vivências e

cada um (SÁNCHEZ & ESCRIBANO, 1999; 1969 In: ASSIS et al., 2003).

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Gobitta & Guzzo (2002) citam idéias de autores que trouxeram contribuições para o

conceito de auto-estima, como, por exemplo, a de que o indivíduo elege os seus objetivos,

no ponto de vista de W. James; a aceitação de si próprio, na opinião de A. Adler; a

relevância do outro significante, proposta por C. H. Cooley e G. H. Mead, e a autenticidade

do eu em K. Rogers.

Uma auto-estima elevada (sentimento de valor pessoal) é um aspecto positivo.

Indivíduos que se sentem bem consigo mesmo têm menos noites mal dormidas, não se

entregam a pressões para se conformarem, têm menor probabilidade de usar drogas, são

mais persistentes e felizes (BROCKNER & HULTON, 1978; BROWN, 1991 In: MYERS,

1999.

Um indivíduo com um alto grau de auto-estima possui uma imagem bem constante

de suas capacidades e de sua distinção como pessoa. Considera-se que as pessoas criativas

possuam uma alta auto-estima. Esses indivíduos com auto-estima elevada possuem maiores

chances de assumirem papéis atives em grupos sociais e costumam expressar seus pontos

de vista. Tem menor preocupação com medos e ambivalências. Parecem se dirigir de forma

mais realista a seus objetivos pessoais (COOPERSMITH, 1967 In: GOBITTA & GUZZO,

2002).

Ao suprir a necessidade de auto-estima, o indivíduo passa sentir-se seguro em

relação a seu valor, sua força, capacidade, adequação. Percebe-se como útil e necessário.

Caso essa necessidade não seja suprida, o indivíduo é tomado por um sentimento de

inferioridade, fraqueza e impotência. Diversos processos patológicos podem se desencadear

em função da permanência desses sentimentos (MASLOW, 1970 In: ANDRADE &

ANGERAMI, 2001).

Aqueles que possuem baixa auto-estima não se acham necessariamente inúteis ou

sem valor, entretanto precisam de boas coisas para falar a respeito delas mesmo. Em muitos

casos, a infelicidade e o desespero coincidem com a baixa auto-estima, e essas pessoas são

até mesmo mais propensas à depressão. Indivíduos com auto-imagem aquém do que

pensam que deveriam ser passam a ficar vulneráveis à ansiedade (HIGGINS, 1987 In:

MYERS, 1999).

A baixa auto-estima acontece de formas diversificadas. Os indivíduos vulneráveis à

depressão sentem que estão ficando abaixo de suas esperanças. Aqueles vulneráveis à

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ansiedade sentem que estão ficando abaixo do que deveriam ser (HIGGINS, 1987 In:

MYERS, 1999). Dentre os indivíduos que sentem que estão fracassando, a angústia da

rejeição antecipada, vivida como baixa auto-estima pode ser adaptativa.

William Damon (1995), Robyn Dawes (1994) & Martin Seligman (1994) In: Myers

(1999) acreditam que a causa da baixa auto-estima está nos problemas e nos fracassos. É

possível que a auto-estima seja um reflexo da realidade. Sentir-se bem pode ser

conseqüência de fazer bem. Pode estar relacionada a enfrentar desafios e vencer obstáculos.

Mruk (1995) In: Assis et al. (2003) propõe no mínimo 5 motivos principais para a

necessidade de um enfoque científico na consideração da auto-estima: 1) está

extremamente relacionado a outros constructos da personalidade, por isso é um fenômeno

muito complexo; 2) influencia diretamente no dia-a-dia, pois está ligado à saúde mental ou

bem-estar psicológico; 3) pode ser um julgamento depreciativo de si mesmo, que se

relacione com sérios fenômenos psíquicos como depressão, suicídio, sentimentos de

inadequação e ansiedade; 4) tornou-se um tema freqüentemente abordado nas ciências

sociais, já que trata-se da percepção das pessoas sobre si mesmas, tendo uma ligação direta

com a experiência das condições sócias básicas, estruturais e relacionais vividas na

sociedade; 5) este conceito nunca atingiu o significado social como obtido hoje.

Para Assis et al. (2003), a auto-estima e o autoconceito são as bases da

representação social que o indivíduo tem de si, e atingem a área da saúde pública, pois

englobam o bem-estar individual e social. O National Advisory Health Council (1996)

propõe que a auto-estima é o principal indicador de saúde mental. Mesmo tendo um

reconhecimento internacional, a relevância da percepção de si mesmo nas relações sociais,

no Brasil há uma escassez de estudos sobre o autoconceito e a auto-estima, existindo um

desconhecimento da significância que a visão de si próprio tem na vida pessoal e social.

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3. QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO

A qualidade de vida tem sido uma questão que preocupa o homem desde o início de

sua existência e, nos dias de hoje, a procura contínua de uma vida saudável se tornou um

compromisso pessoal (SANTOS, SANTOS, FERNANDES & HENRIQUES, 2002).

Entretanto, definir o conceito de qualidade de vida não é uma tarefa fácil. Por volta

da década de 70, Campbell (1976, apud Awad & Voruganti p. 558) procurou explicitar as

dificuldades em conceituar o termo qualidade de vida: “qualidade de vida é uma vaga e

etérea entidade, algo sobre a qual muita gente fala, mas ninguém sabe claramente o que é”.

Através dessa citação, nota-se que há controvérsias sobre o conceito desde que ele surgiu

na literatura ligada a trabalhos empíricos (SEIDL &ZANNON, 2004).

Para Santos, Santos, Fernandes & Henriques (2002), o termo Qualidade de Vida

acumulou uma diversidade de definições ao longo do tempo. Sua definição pode tomar por

base três princípios fundamentais: capacidade funcional, nível socioeconômico e satisfação

com a vida. Também pode estar ligada a fatores como: capacidade física, estado emocional,

interação social, atividade intelectual, situação econômica e autoproteção de saúde.

(SANTOS, SANTOS, FERNANDES & HENRIQUES, 2002).

De acordo com Seidl & Zannon (2004) existem indícios de que o termo apareceu

pela primeira vez na literatura médica na década de 30. Nas últimas décadas houve um

aumento nos esforços que buscam o amadurecimento conceitual e metodológico do uso do

termo na linguagem científica.

O conceito de qualidade de vida é utilizado em dois seguimentos: (1) na linguagem

do dia-a-dia, pela população em geral, jornalistas, políticos, profissionais de inúmeras áreas

e gestores relacionados às políticas públicas; (2) na área da pesquisa científica, em diversos

campos do saber, como economia, sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia

e outras especialidades da saúde (SEIDL & ZANNON, 2004).

Ainda os mesmo autores afirmam que o conceito de qualidade de vida é recente no

campo da saúde, e, em partes, provém dos novos paradigmas que têm influenciado nas

políticas e práticas da área nas últimas décadas. Saúde e doença constituem processos vistos

como um continuum, ligados a questões econômicas, socioculturais, à experiência pessoal e

estilos de vida. Decorrente dessa mudança de paradigma, a melhoria da qualidade de vida

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se tornou uma das metas esperadas, tanto das práticas assistenciais quanto das políticas

públicas na área de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Desde o início da década de 90, pareceu haver um consenso sobre dois pontos

significativos do conceito de qualidade de vida: subjetividade e multidimensionalidade.

Está relacionado à subjetividade, à maneira como o indivíduo percebe a si mesmo e a sua

saúde, ou seja, como ele avalia a sua situação pessoal em todas as dimensões ligadas à

qualidade de vida (SEIDL & ZANNON, 2004). Santos, Santos, Fernandes & Henriques

(2002) corroboram com este ponto de vista, propondo que a subjetividade do conceito de

qualidade de vida baseia-se na realidade individual que converge no subjetivismo,

constituindo um conceito muito complexo.

Existem duas vertentes em relação à conceituação do termo no campo da saúde:

qualidade de vida como um conceito mais genérico, e qualidade de vida ligada à saúde

(health-related quality of life) (SEIDL & ZANNON, 2004).

Os autores supracitados afirmam que a primeira vertente possui um significado mais

abrangente, provavelmente influenciado pela sociologia, e não possui referências a

disfunções e agravos. Uma característica significativa das definições genéricas de qualidade

de vida é o fato das amostras utilizadas incluírem pessoas saudáveis da população, nunca se

restringindo a amostras de indivíduos portadores de agravos específicos.

Seidl & Zannon (2004) propõem que na segunda vertente associa-se qualidade de

vida à saúde. Essa forma é muito freqüente na literatura e tem sido utilizado com metas

semelhantes à conceituação mais geral. Entretanto, parece se referir somente aos fatores

mais diretamente ligados às doenças ou às intervenções em saúde.

Para Victor et al In: Ruiz, Chalita & Barros (2003), a qualidade de vida abrange

diversas áreas da vida, que inclui desde a “satisfação com a vida” ou “bem-estar social” a

modelos baseados em conceitos de independência, controle, capacidades sociais e

cognitivas. Para Smith (2001 In: Ruiz, Chalita & Barros, 2003), o conceito de bem-estar se

transformou em meados do século XX. Até então, era considerado apenas como a posse de

bens materiais, como comida, moradia, casa de banho, acesso a serviços de saúde, etc. Hoje

em dia, também está ligado a questões menos tangíveis, como sentimento de segurança,

dignidade pessoal, possibilidades de alcançar metas, satisfação com a vida, alegria, visão

positiva de si mesmo.

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Para Diskin (2000 In: Gaspari & Schwartz, 2005), a qualidade de vida pessoal,

institucional ou social também varia, em grande parte, de acordo com a capacidade se

relacionar com indivíduos (diferentes), e com o meio de forma respeitosa e responsável,

garantindo o direito de possibilidades para usufruir os bens naturais e culturais que todas as

comunidades humanas possuem. É a condição humana ocasionada por um conjunto de

fatores individuais e socio-ambientais, que pode ou não ser modificado, caracterizando as

condições de vida do indivíduo (NAHAS, 2001 In: GASPARI & SCHWARTZ, 2005).

Santos, Santos, Fernandes & Henriques (2002) citam saúde, moradia, educação,

lazer, transporte, liberdade, trabalho, auto-estima como fatores significativos para a

qualidade de vida.

Confirmando a natureza multidimensional da qualidade de vida, a OMS realizou um

estudo que divide os fatores ligados a qualidade de vida em quatro grandes dimensões: (a)

física - percepção do indivíduo sobre sua condição física; (b) psicológica – percepção do

indivíduo sobre sua condição afetiva e cognitiva; (c) do relacionamento social – percepção

do indivíduo sobre os relacionamentos sociais e os papéis sociais adotados na vida; (d) do

ambiente – percepção do indivíduo sobre aspectos diversos relacionados ao ambiente onde

vive. Também obteve-se uma avaliação da qualidade de vida percebida de modo global,

medida por quatro itens específicos que foram computados em um único escore (SEIDL &

ZANNON, 2004).

Santos, Santos, Fernandes & Henriques (2002) afirmam que a qualidade de vida boa

ou excelente proporciona um mínimo de condições para que se possa desenvolver ao

máximo o potencial de cada um, vivendo, sentindo, amando, trabalhando, produzindo, etc.

Todos buscam a realização. Muitos tentam relacionar a qualidade de vida com a saúde,

sendo ela resultado de condições de vida biológica, social e cultural e, especialmente, das

relações que os indivíduos estabelecem entre si e com o meio, através do trabalho.

Sousa, Galante & Figueiredo (2003) afirmam que as teorias do envelhecimento bem

sucedido percebem o indivíduo como pró-ativo, equilibrando sua qualidade de vida através

da definição de metas e buscando alcançá-las, acumulando recursos importantes na

adaptação à mudança e atividades ligadas a manutenção do bem-estar. Dessa forma, um

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envelhecimento bem sucedido é acompanhado por qualidade de vida e bem-estar e deve ser

desenvolvido ao longo da vida.

De acordo com Vecchia et. al (2005), o conceito de qualidade também está ligado

ao bem-estar do indivíduo e a auto-estima. Inclui inúmeros fatores como a capacidade

funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a capacidade

intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o estado de saúde, os valores culturais, éticos

e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e

o ambiente em que se vive.

Segundo Xavier et al. (2003), para a velhice ser um estágio agradável do ciclo vital,

dependerá dos fatores da vida subjetiva e da interpretação desta realidade pelo idoso. A

qualidade de vida positiva – como também a negativa – dos idosos depende da

subjetividade de cada um (sua atitude emocional frente aos fatos da vida) e do ambiente.A

qualidade de vida é vista como extremamente dependente da subjetividade de cada um. No

aspecto da saúde física, por exemplo, há uma variabilidade grande entre os povos a respeito

de suas capacidades de enfrentar limitações físicas, enfermidades e suas expectativas em

relação a saúde. Os conceitos que têm se si mesmo podem ter grande influência na

percepção da qualidade de vida. Duas pessoas com o mesmo estado funcional podem ter

um grau de qualidade de vida diferente, devido aos aspectos subjetivos.

Vecchia et al. (2005) lembram que este conceito varia entre os autores, além do

mais, é um conceito subjetivo relacionado ao nível sociocultural, à faixa etária e às

aspirações de cada um.

Rowe & Kahn (1997 In: Xavier et al., 2003) ressaltam que a importância da

resiliência, a potencialidade emocional de recuperar forças. Sadavoy (1995 In: Xavier et

al., 2003) afirma que a mais importante tarefa de desenvolvimento na velhice é encontrar

uma “restituição” para as perdas biopsicossociais inevitáveis neste estágio. Para muitos, a

tarefa de recuperar as forças é dificultada pela acumulação de perdas em um curto espaço

de tempo.

Além destes aspectos internos, também existe uma grande diversidade de fatores

ambientais. Depois de um acontecimento negativo, a presença de certos fatores – como

uma rede familiar sólida – poderia absorver seu impacto. Eventos negativos são desafios ao

bem-estar do idoso, e fatores como recursos econômicos e suporte familiar são

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significativos para superá-los e assim manter o bem-estar, propõem Xavier et al., 2003.

Entretanto, esses fatores “amortecedores” não estão disponíveis a todos. Em uma sociedade

desenvolvida uma doença incapacitante poderia ter um impacto mais baixo sobre a

qualidade de vida do que a mesma doença em uma sociedade sem recursos (REYNOLDS

III et al. In: XAVIER et al., 2003).

Segundo Gaspari & Schwartz (2005), o lazer do idoso é um fator de fundamental

para a qualidade de vida e da ocupação do tempo livre, com a finalidade de libertá-lo de

esteriótipos sociais, que o taxam de improdutivo e decadente. O lazer vem de encontro com

a satisfação de necessidades como convivência, introspecção, brincadeira, amizade, amor,

reduzindo as distâncias que segregam certos grupos sociais (DE MASI, 2000 In: GASPARI

& SCHWARTZ, 2005).

A velhice será um estágio agradável dependendo dos recursos da subjetividade de

cada um, assim como da intensidade de fatores estressantes e de recursos (amortecedores)

para enfrentá-los. A intensa variação das coordenadas internas e externas de muito

favorável a extremante desfavorável pode ser entendida como resultando de uma

intersecção entre a realidade externa e a opinião e o sentimento sobre esta realidade. Esta

intersecção pode ser chamada de qualidade de vida (XAVIER et al., 2003).

Vale ressaltar que quando se for pensar em qualidade de vida do idoso, deve ser

lembrado que a preocupação com o envelhecimento populacional tem aumentado,

especialmente nos países em desenvolvimento, nos quais este fenômeno acontece no

contexto de grande desigualdade social (RODRIGUES et al., 2000; TEIXEIRA, 2000;

ROSA et al., 2003 In: FREIRE JUNIOR & TAVARES, 2005). O Brasil está entre esses

países, com uma necessidade de um sistema de saúde mais estruturado para atender essa

parte crescente da população. Precisa-se de medidas urgentes por parte do governo e de

toda a sociedade (WHO, 1998, LIMA COSTA, 2003 In: FREIRE JUNIOR & TAVARES,

2005).

Em nosso país, uma parcela considerável da população idosa vive em casas de

repouso. Essas instituições oferecem assistência social a essa faixa etária. Proporcionam

abrigo, alimentação, cuidados em geral. Existem instituições públicas e privadas. O quadro

de profissionais e atividades varia de acordo com os recursos de cada estabelecimento.

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Para Freire Junior & Tavares (2005), nesse quadro, o idoso institucionalizado faz

parte, na maioria das vezes, de um grupo privado de seus projetos, pois está afastado da

família, do lar, dos amigos, das relações nas quais sua história foi estruturada. Somadas a

essa exclusão social, estão as seqüelas das doenças crônicas não transmissíveis, principal

causa de internações.

Segundo Zimerman (2000), a convivência faz com que o indivíduo sinta que

pertence a algo, a alguém, ter importância ao desenvolver determinado papel. Existe uma

troca constante de afeto, de carinho, de idéias, de sentimentos, de conhecimentos e dúvidas.

Além disso, existe outro fato significativo: a estimulação do pensar, do fazer, do dar, do

trocar, do reformular e, especialmente, do aprender. Mais um fator importante é o da

atualização, da discussão e da procura por novos conteúdos.

De acordo com a autora supra-citada, as instituições costumam ser alvo de

polêmicas. Sofrem muitas críticas que as consideram como guetos, depósitos de velhos para

onde os indivíduos são mandados para morrer, sofrendo maus-tratos, sendo mal-

alimentadas e há ausência de carinho e atenção. Em termos ideais, se coloca totalmente

contra instituições para idosos. No entanto, essas casas são uma forma de suprir as

necessidades da sociedade atual, um mal necessário. Seria ideal se todos os idosos

pudessem continuar com suas famílias. Mas essas instituições existem devido ao papel

representado pelo idoso na sociedade atual. Soma-se a isso o fator econômico: muitos não

têm condições de manter os idosos em casa. Também são a única forma de abrigar alguns

idosos sem família. Existem famílias, independente do nível econômico, que não

conseguem proporcionar um ambiente agradável para os idosos, também há idosos que são

de difícil convivência.

Papalia & Olds (2000) ressaltam que grande parte dos idosos não deseja viver em

casas de repouso, e a maioria dos familiares também não possui esse desejo. A internação

geralmente é vista pelo idoso como uma rejeição, e os filhos costumam interná-los com

muita resistência e sentimento de culpa. Entretanto, algumas vezes, em decorrência das

necessidades do idoso ou da situação da família, a internação se torna no único meio de

resolver o problema. BEE (1997) corrobora, propondo que se forem levadas em

consideração as escolhas pessoais e a situação financeira, os familiares optam pela

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internação com grande relutância, apenas depois terem sido descartadas todas as outras

possibilidades.

Os mais propensos a serem internados são aqueles que moram sozinhos, os que não

participam de eventos sociais, os que têm dificuldades em realizar as tarefas do cotidiano

devido às condições de saúde ou invalidez, e os que os cuidadores estão sobrecarregados

(MC FALL & MILLER, 1992; STEINBACH, 1992 In: PAPALIA & OLDS, 2000).

Idosos demonstram pouco interesse pela internação em instituições. A assistência

dada em casas geriátricas geralmente é compreendida como impessoal com ausência de

dignidade e controle pessoal (BIEDENHARN & NORMOYLE, 1991 In: BEE, 1997).

Para Zimerman (2000), quando o idoso vai para uma instituição, haverá dificuldade

para adaptar-se à nova realidade, devido a uma variedade de fatores. Faz-se necessária uma

boa preparação para a mudança. Ocorrerá uma mudança interna de parâmetros, ou seja, o

indivíduo estava adaptado ao seu lar (em muitos casos, morou no mesmo lugar a vida toda),

com sua divisão interna, e a geografia da casa compõe seu esquema de vida. Ele organizou

a localização de todas as coisas, sabe o que há ou não na casa. Também possui uma rotina,

determinados horários e convive com pessoas que já conhece. Com a mudança, haverá a

necessidade de se habituar a um novo esquema: rotina diferente, pessoas desconhecidas,

horários pré-determinados, etc. Tudo isso é estabelecido em função da casa e não mais de

acordo com o idoso.

Zimerman (2000) cita a convivência como outro aspecto a ser destacado. Grande

parte dos problemas que podem aparecer nas instituições estão ligados aos relacionamentos

que lá se estabelecem. Os atendentes e moradores da casa de repouso passam a conviver

muito mais com o idoso do que a família. Por isso, é importante uma atitude aberta do

idoso, para lidar com as diferenças que sempre estarão presentes. Haverá diferenças sociais,

econômicas, culturais, religiosas e de temperamento. Existem pessoas que mantém uma

atitude positiva frente a isso, entretanto outras não aceitam a mudança para a casa

geriátrica, queixam-se, estão sempre doentes, críticas e deprimidas.

O fato das instituições serem praticamente constituídas apenas por idosos (com

exceção dos que lá trabalham), é outro aspecto preocupante. Dessa forma, cria-se um

ambiente muito diferente do mundo real. Assim, vão perdendo contato com o sexo oposto e

com crianças. Esse afastamento contribui muito para a solidão dos idosos

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institucionalizados. Além disso, nas instituições mistas, a família se opõe a um

relacionamento do familiar com outro morador, sem levar em conta os benefícios que o

namoro pode ocasionar. Deveria ser proporcionado um intercâmbio com diferentes pessoas

de todas as faixas etárias a fim de evitar o isolamento (ZIMERMAN, 2000).

Ainda a mesma autora lembra que as perdas também fazem parte da problemática

das instituições. A morte é um fato praticamente diário nas casas geriátricas, entretanto há

uma grande resistência em aceitá-la. Existe uma negação em relação a ela devido à

dificuldade de elaborá-la. É importante que isso seja trabalhado, mesmo porque, para os

idosos, a morte é percebida normalmente com maior naturalidade, pois já vivenciaram

muitas perdas ao decorrer da vida. Faz-se necessário que os idosos institucionalizados

falem sobre a morte e trabalhem as questões de perdas freqüentes de pessoas com quem

criaram relações afetivas e também sobre sua própria morte.

Como último aspecto, Zimerman (2000) cita o abandono. Estudos indicam que no

início da internação as famílias visitam o idoso em média três vezes por semana. Depois de

um tempo, a freqüência passa a diminuir, existindo casos que recebem visitas apenas duas

vezes ao ano. O sentimento de abandono é um dos aspectos mais significativos que

contribuem para a depressão e os problemas da saúde em geral.

Freire Junior & Tavares (2005) confirmam algumas dificuldades expostas

anteriormente, através das respostas dos idosos institucionalizados de sua amostra.

Apontam a saudade da família, do trabalho, dos amigos e dos parentes como o aspecto que

sentem mais falta. A rede social tende a diminuir à medida que se envelhece. Essa

necessidade pode ser maior em relação ao idoso institucionalizado. Soma-se a esse fator a

diminuição das possibilidades de substituição para essas perdas.

Uma assistência de qualidade pode amortecer muitas dificuldades. PILEMER &

MOORE (1989 In: PAPALIA & OLDS, 2000) acreditam que em uma boa instituição deve

existir um quadro de funcionários profissional e experiente, um programa de seguro

governamental adequado e uma estrutura coordenada que possa propiciar vários níveis de

assistência (KAYSER-JONES, 1982 In: PAPALIA & OLDS, 2000). Tem que ser animada,

segura, atraente e limpa. Propicia atividades estimulantes e possibilidades para passar o

tempo com pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. Deve oferecer privacidade, em

parte para que os idosos da instituição possam levar uma vida sexual ativa e possam

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também receber visitas dos familiares sem serem incomodados. Também tem que

proporcionar serviços terapêuticos, sociais e reabilitativos. A assistência de boa qualidade

costuma existir em instituições mais amplas, não lucrativas, como proporção elevada de

enfermeiras em relação ao número de atendentes (PILEMER & MOORE, 1939 In:

PAPALIA & OLDS, 2000). É fundamental que ofereçam a oportunidade dos idosos

tomarem decisões e exercerem determinado controle sobre suas vidas (E. LANGER &

RODIN, 1976 In: PAPALIA & OLDS, 2000).

Os Centros de Referência do Idoso (CRI) são outro tipo de instituição para essa

faixa etária. Estão direcionados para o público acima de 60 anos de idade. Disponibilizam

atendimento médico e ambulatorial, juntamente com um espaço de convivência. Têm como

meta a integração dos idosos, e para tal fim, proporcionam atividades culturais e

educacionais que visam inseri-los novamente e também fortalecer sua rede de convívio

social.

Segundo a Prefeitura da Cidade de São Paulo, o Centro de Referência da Cidadania

do Idoso, da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SAMDS),

oferece, gratuitamente, diversas atividades para esse público, dentre elas: yoga, canto,

coral, ginástica recreativa, violão, artesanato, teatro e dança afro mix, bordado, xadrez,

informática, etc.

De acordo com o site NEV-USP, alguns Centros de Referência do Idoso oferecem,

na área médica, atendimento em geriatria, ortopedia, oftalmologia, ginecologia, cardiologia,

psiquiatria, urologia, neurologia, endocrinologia, dermatologia, fisioterapia,

gastroentologia, pneumologia, odontologia (colocação de prótese dentária), psicologia,

audiometria, nutrição, terapia ocupacional e assistência social. Os Centros de Referência

fazem parte do Sistema Único de Saúde, e através do encaminhamento de um clínico geral

da Unidade Básica de Saúde (UBS), o idoso poderá receber atendimento médico

ambulatorial no CRI.

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4. O IDOSO NA SOCIEDADE

Segundo Freire & Sommerhalder (2003) muitos consideram difícil viver e

envelhecer nessa época, já que o mundo vem sofrendo inúmeras mudanças rapidamente. As

grandes descobertas científicas e intensas transformações sociais e econômicas influenciam

profundamente a vida de todos. Toda essa mudança provoca um aumento das incertezas,

dúvidas e inseguranças, o que interfere nas relações interpessoais. A falta de tempo e

disponibilidade para interagir afeta a maneira de relacionar-se com o outro. A solidão e a

ansiedade freqüentemente demandam desse tipo de relacionamento.

Os autores supra-citados afirmam que a sociedade atual tem sido denominada pelos

pesquisadores de “sociedade da informação” ou “sociedade do consumo”. Algumas de suas

características marcantes são a velocidade com que as informações são transmitidas a

diversos pontos, a rapidez com que acontecem as transformações sociais, por sua

abrangência, e pela velocidade do aparecimento de novas tecnologias e conhecimentos. A

globalização é um destaque dessa etapa da história. É o processo de aumento das formas de

conexão entre regiões diversas ou contextos sociais, as quais se espalham por todo o

mundo. Isso acarreta novas formas de interdependência mundial. Há uma intensificação das

relações sociais em escala mundial, que podem conectar lugares distantes de maneira que

fatos locais podem ser modelados pelo que ocorre em país muito distante. Hoje em dia,

grande parte das pessoas, em qualquer parte do mundo, está consciente de que suas

atividades locais são influenciadas – e até mesmo determinadas – por acontecimentos e

organismos distantes.

De acordo com Messina (2003), são inúmeras as dimensões do envelhecimento no

contexto atual. Hoje predomina a ausência do Estado do bem-estar social em nosso dia-a-

dia, que gera o esvaziamento, assim como a falência das instituições em função de um

neoliberalismo que apenas produz desigualdade, exclusão, violência e pobreza de

pensamento. O homem passa a viver um individualismo exagerado, deixando para trás uma

filiação simbólica e nostálgica de uma figura paterna como representante da verdade, de um

poder. Como todas as instâncias protetoras estão em crise, torna-se difícil manter as

relações contemporâneas.

Neri (1991) ainda cita os efeitos da urbanização e da industrialização sobre o status

do velho, constatando que ele era mais respeitado em sociedades primitivas, entretanto,

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passam a ser visto de forma mais negativa com a modernização. A passagem de uma

sociedade essencialmente agrícola para industrializada ocorre concomitantemente com a

introdução de novas tecnologias e da es especialização do conhecimento e da

produtividade. Essas transformações ocasionam o rebaixamento do status do idoso, pois

suas habilidades e conhecimento passam a ter menor valor no mercado de trabalho.

Messina (2003) reforça essa opinião, propondo que o contexto atual é extremamente

diferente do que acontecia nas sociedades tradicionais, que possuíam estruturas simbólicas

de parentesco estáveis e garantiam aos indivíduos, durante toda a vida, um nome, um lugar,

um destino. Nessas sociedades a velhice ocupava uma boa posição, um lugar respeitado,

visto com sabedoria, e suas produções históricas, fazeres e dizeres proporcionavam

significado e sentido à vida.

Néri (1991) ainda ressalta que o destino do idoso foi alterado devido ao advento do

Capitalismo. Então, passou a depender essencialmente das famílias, que em alguns casos

tratavam bem, em outros, depositavam em instituições. A industrialização propiciou a

progressiva generalização dos sistemas públicos e privados de aposentadoria, assim como

de políticas sociais de apoio ao idoso, que se por um lado o beneficiam, por outro ajudam a

estigmatizar sua condição. O idoso vive uma situação de escândalo nas sociedades

contemporâneas, sofrendo com estigmas, saúde precária, indigência e solidão

(BEAUVOIR, 1970 In: NERI, 1991). São raros os casos em que o idoso consegue

estabelecer um bom status. Em alguns países em grande crise econômica, o idoso passa a

ter uma posição respeitada como antigamente, pois eles têm a responsabilidade de sustentar

seus descendentes através de suas pensões ou economias. Outro exemplo é quando os

idosos passam a ser guardiões das crianças em famílias onde todos trabalham.

De acordo com Neri (1991), os gerontólogos têm se empenhado na aceitação

acrítica dessa ampla generalização e, além da divulgação da idéia de que essa situação de

escândalo seria uma fase e reflexo de atitudes negativas em relação ao idoso. Felizmente,

esse ponto de vista é questionado por muitos estudiosos.

Para Freire & Sommerhalder (2003), o tema velhice se tornou freqüente em

programas de TV, jornais e revistas. Muitas vezes aparecem com o pano de fundo de dados

demográficos a respeito do envelhecimento populacional mundial e do aumento na

expectativa de vida. Mesmo com a ampla divulgação do assunto, parece haver um

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desconhecimento ou descaso das autoridades sobre as conseqüências desse fenômeno nos

aspectos sociais e econômicos. Pesquisadores dessa área ressaltam que, apesar dos esforços

de associações e sociedades não-governamentais, no Brasil ainda não existe um programa

sistemático de ações, em âmbito nacional, que possa beneficiar essa população (FREIRE &

SOMMERHALDER, 2003).

Essas autoras citam que estão sendo feitas pesquisas na área da gerontologia com o

intuito de identificar e compreender as mudanças necessárias, em relação ao que se pensa

sobre envelhecimento e à maneira como se trata o idoso. Entretanto, como é uma área

recente de estudos, os próprios estudiosos têm dúvidas e incertezas sobre que atitude tomar

frente a tantas mudanças – fato que faz crescer as controvérsias entre profissionais e a

insegurança das pessoas em geral. Até mesmo os profissionais da área de gerontologia

encaram a velhice de forma preconceituosa e lidam com os idosos com base nesses

preconceitos e com o que consideram ser significativo para eles, sem averiguar quais são

suas reais necessidades, sem perguntar o que pensam e desejam.

Neri (1991) considera haver escassez de pesquisas sobre atitudes em relação à

velhice no Brasil. Os poucos estudos realizados permanecem restritos ao interesse de seus

autores e/ou cumprem exigências de titulação acadêmica. Então, é possível que a atuação

de muitos profissionais ocorra de forma ideológica, contribuindo para a estruturação e

continuidade de mitos, preconceitos e estereótipos ligados a velhice.

Corroborando com este ponto de vista, Pintos (1993 In: Junqueira, 1998) propõe

que perdas e preconceitos estão ligados a coisas que não se conhece e não se procura

conhecer, os vazios de informações sobre o envelhecimento transformam-se em mitos,

inventos, fantasias, pareceres, suposições, que acabam sendo aceitas como verdades

comprovadas.

No Brasil, para que aconteçam as transformações necessárias nos aspectos políticos,

socioeconômicos e culturais, é preciso levar em consideração o fato de estar lidando com

uma diversidade de “velhices”, em função da grande extensão territorial do país e de sua

diversidade regional. A velhice adquire características particulares em virtude das

condições sociais, econômicas e culturais do contexto em que for observada (FREIRE &

SOMMERHALDER, 2003). Junqueira (1998) afirma que existe uma diversidade de

experiências interindividuais ao longo da vida (logo, no envelhecimento), pois estão

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totalmente relacionados a fatores pessoais, histórico-culturais e circunstanciais. Estudos

feitos entre indivíduos de diferentes faixas etárias e condições sócio-econômicas

demonstraram a heterogeneidade das experiências da velhice no Brasil. Portanto, não existe

o idoso brasileiro, mas sim diversas “velhices”, provenientes de diferentes realidades e

condições de vida. Néri (1991) também compartilha desta opinião, afirmando que o

discurso sobre a velhice no Brasil vai variar muito, porque o próprio fenômeno da velhice

tem muitos significados, contextualizados por aspectos individuais, interindividuais,

grupais e socioculturais.

É preciso considerar que na atualidade, devido à globalização, ao aumento da

divulgação de informações para muitas pessoas em um curto espaço de tempo, pode haver

características comuns às “velhices” de regiões brasileiras diferentes e até mesmo a

diversas partes do mundo. Dessa forma, é importante levar em conta as semelhanças e as

diferenças entre os idosos de diferentes contextos. Perceber quais são as suas habilidades e

suas necessidades, em que podem contribuir para a sociedade e de que apoio precisam

(FREIRE & SOMMERHALDER, 2003).

Os autoras supra-citadas ainda afirma que as pesquisas de envelhecimento atuais

têm uma ênfase preventiva, buscando perceber as necessidades e os problemas decorrentes

das mudanças biopsicossociais da velhice, com o objetivo de criar meios para evitá-las ou

atenuá-las. As conclusões são divulgadas entre os cientistas e os profissionais que procuram

informar a população em geral, contando com a credibilidade dos cientistas para que sejam

seguidas formas de viver bem (tipo de alimentação; quantidade de atividade física;

participação social; apoio emocional), para que se possa conquistar o bem-estar físico e

psicológico. Porém, os leigos se deparam com informações variadas, que podem até ser

contraditórias. Frente às dúvidas, as pessoas passam a desenvolver mecanismos para se

proteger do sofrimento gerado e escolhem por não fazer nada do que ouvem ou fazem tudo

que lhe dizem.

Na atualidade, as correntes de pensamento e idéias se alternam com grande

velocidade. Isso se contrapõe à maior agilidade mental que essa velocidade exige do idoso,

a lentidão do corpo e da mente que aumenta progressivamente na velhice. O idoso enfrenta

essa angústia procurando refúgio nas lembranças de um tempo estável e equilibrado, a fim

de se manter fiel a valores aprendidos ao longo da vida. Coloca-se resistente à mudança e

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ao futuro, conservando seus hábitos, por falta de motivação psíquica para compreender esse

tempo. Porém, é possível questionar-se se a permanência do idoso preso ao automatismo

dos hábitos não estaria contra ao ímpeto criador da vida (BOBBIO, 1997 In: MESSINA,

2003).

De acordo com Junqueira (1998), tem predominado uma atitude paternalista,

assistencialista ao lidar com o idoso, e conseqüentemente isso o exclui da sociedade. Ao

tratá-los como diferentes, acabam por segregá-lo.

No Brasil, a visão negativa relacionada ao significado da velhice é reforçada por não

haver uma preocupação em ter uma visão mais crítica sobre o assunto. Exemplos do dia-a-

dia, de novelas, programas humorísticos, da literatura de ficção, etc só fazem por

corroborar com essa posição (NERI, 1991).

Junqueira (1998) cita pesquisas realizadas com idosos e pessoas de meia-idade. Elas

sempre tiveram um alto índice de rejeição da velhice, tendo como principal motivo o

desprestígio que os idosos têm no contexto sócio-cultural brasileiro. Frente a um ambiente

desfavorável, o idoso desenvolve um sentimento de auto-rejeição do próprio

envelhecimento, negando-se a fazer uma reflexão sobre esse processo, o que ocasiona

despreparo para enfrentá-lo.

O mesmo autor também propõe que a percepção negativa do idoso fica evidente nas

oportunidades que lhe são proporcionadas e no descrédito em sua capacidade de

produtividade. O investimento na velhice é subestimado. Dessa forma, o estigma da

envelhecer limita as possibilidades de opção e de decisão por uma atividade.

Messina (2003) afirma que os avanços tecnológicos proporcionam situações

paradoxais que ocasionam efeitos psíquicos na subjetividade dos indivíduos, sem

proporcionar, necessariamente, uma plasticidade emocional ou um bem-estar psíquico. Um

exemplo muito comum são os mais velhos que não estão atualizados, ficam às margens da

tecnologia digital e passam a ter ainda mais desvantagens na briga por um emprego. Isso

pode ocasionar até mesmo uma aposentadoria precoce, pois perdem para os mais jovens.

Tem acontecido a proliferação se indivíduos “envelhecidos precocemente”,

excluídos da sociedade pois aos 45, 50 anos de idade já estão fora do mercado de trabalho

(KATZ, 1996 In: MESSINA, 2003). Até mesmo a maneira como é estruturada a economia

da sociedade gera exclusão. Aos 40 anos, já se torna marginalizado no mercado de trabalho.

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Essas condições acarretam a velhice precoce, pelas dificuldades de trabalho, pela má

qualidade dos transportes coletivos e pela má remuneração. Caso o idoso volte a trabalhar

depois de aposentado, pode sofrer sérias punições se for flagrado pela Previdência Social

(JUNQUEIRA, 1998).

Neri (1991) lembra da situação de marginalidade que a velhice ocupa devido ao

sistema econômico; ressalta a igualdade entre a posição social do idoso, da mulher, da

criança, da pobreza e das minorias raciais. Existe uma simetria entre os preconceitos contra

idosos, negros e homossexuais; e até mesmo a segregação imposta à velhice e aos doentes

mentais, através da institucionalização.

Freire & Sommerhalder (2003) afirmam que a sociedade tem repensado suas

práticas sociais, suas regras e seus recursos ligados à velhice, e os idosos desenvolveram,

ao longo da vida, a habilidade de auto-avaliação, se tornando capazes de mudar sua conduta

em função de suas necessidades e desejos, assim como o dos outros. Porém, isso não

garante um envelhecimento bem-sucedido, pois nem todas as situações, dificuldade e

doenças provenientes do envelhecimento são totalmente conhecidas e/ou adequadamente

controladas. Além do mais, nem todos estão preparados para envelhecer bem, e para lidar

com idosos.

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5. OBJETIVOS

6.1 Objetivo Geral:

Este trabalho pretende verificar a percepção do idoso sobre qualidade de vida em

geral e sobre si próprio.

6.2 Objetivo Específico:

Avaliar a auto-estima e autoconceito.

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6. MÉTODOS

7.1 Sujeitos:

20 idosos a partir de 60 anos, de ambos os sexos e de diferentes classes sócio-

econômicas, sendo 10 freqüentadores de Centros de Referência do Idoso e 10 residentes em

Casas de Repouso.

7.2 Instrumentos:

- Entrevista Semi-Estruturada (roteiro em anexo) com informações sobre a situação

sócio- econômica, o estado de saúde e a interação social. Também foram feitas perguntas

sobre como definem qualidade de vida, se consideram que possuem e quais são os

principais aspectos que interferem positiva ou negativamente nesse fator.

- Aplicação de D.F.H. (Desenho da Figura Humana) e inquérito.

Esse teste consiste, por meio de desenho da figura humana, em verificar a imagem

corporal que o indivíduo possui se si mesmo, sua estrutura psíquica e sua capacidade de

orientar-se e conduzir-se em uma situação determinada, adaptando-se a ela.

7.3 Procedimento: O contato com a Casa de Repouso foi feito através da Psicóloga da instituição. O

projeto de pesquisa foi lhe apresentado, então a visita foi marcada.

Em relação ao Centro de Referência do Idoso, o contato foi feito através de um

professor dessa instituição, que solicitou uma cópia do projeto para avaliá-lo. Após a

aprovação, também agendou a visita.

Em ambas as visitas, inicialmente, foi apresentada uma carta (modelo em anexo)

requerendo a autorização das instituições. Estas foram assinadas e devolvidas no final da

visita.

Então, foi feito o convite aos idosos freqüentadores ou residentes das mesmas.

Participaram da pesquisa aqueles que livre e espontaneamente assinarem o termo de

consentimento. Os freqüentadores do C.R.I. foram mais receptivos ao convite.

Primeiramente, a carta de consentimento ao sujeito (modelo em anexo) foi

apresentada e explicada a cada sujeito. Após o consentimento, foi realizada a entrevista

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semi-dirigida, seguida pela aplicação do D.F.H. A entrevista e o inquérito foram gravados

com a autorização dos sujeitos.

Os dados foram analisados qualitativamente numa abordagem psicodinâmica. As

entrevistas e os inquéritos foram transcritos e, posteriormente, foi feita uma análise. As

interpretações dos testes foram somadas a esses dados no intuito de estabelecer uma relação

entre ambos. As inicias dos sujeitos foram alteradas, a fim de manter os dados em sigilo.

Foi feita uma discussão comparando os resultados da amostra da Casa de Repouso com a

amostra do Centro de Convivência do Idoso.

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7. RESULTADOS

8.1 Resultados da Casa de Repouso:

- Dados dos sujeitos:

Sujeitos Sexo Idade Estado Civil N° de Filhos Alfabetização

N.C. Feminino 91 Solteira 1 Sim A.P. Feminino 64 Solteira 5 Sim C.V. Feminino 62 Solteira 1 Sim L.B. Feminino 82 Divorciada 2 Não B.S. Feminino 83 Viúva 0 Não T.A. Masculino 69 Divorciado 2 Não S.T. Masculino 77 Divorciado 5 Sim B.X. Masculino 68 Solteiro 0 Sim M.A. Masculino 82 Viúvo 8 Não T.O. Masculino 82 Viúvo 0 Não ----- ----- Média = 76 ----- ----- -----

50% dos sujeitos são do sexo masculino e 50% pertencem ao sexo feminino. A

média de idade dentre eles é de 76 anos.

- Estado Civil:

40%

30%

30%solteirodivorciadoviúvo

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40% dos sujeitos são solteiros, 30% são divorciados, 30% são viúvos.

- Alfabetização:

50%50%AlfabetizadosNão alfabetizados

50% desta amostra são alfabetizados, frente a 50% não alfabetizados.

- Filhos:

70%

30%

PossuiNão possui

70% dos sujeitos possuem filhos, enquanto 30% deles não possuem.

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- Freqüência que recebem visitas:

25%

50%

25% Recebem visitasfrequentementeNão recebemvisitasDeixando dereceber visitas

40% dos idosos não são visitados por ninguém. Por outro lado, 20% recebem visitas

com certa freqüência. O restante - 20% - está deixando de receber visitas.

- Participação nas atividades propostas pela Casa de Repouso:

60%

40%ParticipamNão participam

60% dos entrevistados afirmam que participa das atividades propostas. Entretanto,

40% relatam que não participam.

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- Interesse pelas atividades propostas pela Casa de Repouso:

50%50%

Possui interesse

Não possuiinteresse

50% dos sujeitos demonstram interesse pelas atividades propostas pela Instituição.

Enquanto, 50% não possuem interesse pelas mesmas.

- Como ocupam o tempo livre:

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30%

40%

10%

10%

10%

Faz serviços ouatividadessolicitados

Não faz nada

Faz serviços ouatividadessolicitados econversa com osamigosFaz serviços ouatividadessolicitados, jogadominó e fica nacamaFaz serviços ouatividadessolicitados e jogadominó

40% dos sujeitos afirmam que não fazer nada para ocupar o tempo livre. Já 30%

realizam atividades e serviços que lhes são solicitados. 10% fazem serviços e atividades

solicitadas e conversa com amigos. Outros 10% dos sujeitos realizam serviços e atividades

solicitadas, jogam dominó e ficam na cama. O restante - 10% - fazem as atividades

solicitadas e jogam dominó.

- O que mais gostam no dia-a-dia:

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40%

10%10%

10%

10%

10%

10%

Não sabe relatar

Conversar epassear

Comer e ficarquieto

Gosta de tudo

Ter um bomrelacionamentocom as pessoasTer um lugarconfortável paradormirAtividadespropostas pelaInstituição

40% dos sujeitos não sabem relatar o que mais gostam no cotidiano. 10% gosta de

tudo, 10% gosta mais de conversar e ficar quieto; 10% gosta mais de relacionar-se bem

com as pessoas, 10% gosta mais de ter um lugar confortável para dormir e 10% gosta mais

de realizar atividades propostas pela instituição.

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- O que gosta menos no dia-a-dia:

30%

10%

30%

10%

10%

10%

Não sabe relatar

Não fazer nada

Aspectos darotina daInstituiçãoSer incomodado

Depender decadeira de rodas

Falar da vidaalheia

30% dos sujeitos não sabe relatar o que menos gosta no cotidiano. 10% não gosta de

ficar sem fazer nada. Acordar cedo é preterido por 10%; insetos que atrapalham o sono são

preteridos por 10%; ser incomodado é preterido por 10%; depender de cadeira de rodas é

preterido por 10%; aulas de desenho e alfabetização são preteridos por 10%; falar da vida

alheia é preterido pelos 10% restantes.

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- Definições de Qualidade de Vida:

20%

10%

10%

10%

30%

10%

10%

Ter atividades

Não sabe

Receber umanotícia boa

Viver feliz e teratividades

Saúde

Boa alimentação,conversar,diversão eamizadesConversar,diversão eamizades

30% dos sujeitos definem Q.V. como possuir uma boa condição de saúde; 20%

acreditam que para possuir boa Q.V. é preciso ter atividades; 10% definem Q.V. como

viver feliz e ter atividades; 10% propõem que é necessário que haja boa alimentação,

alguém para conversar, diversão e amizade para ter boa Q.V.; 10% cita ter alguém para

conversar, diversão e amizades como fatores necessário para uma boa Q.V.; 10% não

sabem definir o conceito.

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- Como considera a própria Qualidade de Vida:

30%

50%

20%

Ruim

Boa

Melhorou depoisque mudou-se

50% dos sujeitos acreditam que têm boa Q.V., enquanto 30% relatam que possuem

Q.V. ruim. 20% afirma que a Q.V. melhorou após mudarem-se para a Casa de Repouso.

D.F.H.

- Realização do desenho:

70%

20%

10%Desenhou

Apenas garatujas

Recusou-se adesenhar

10% dos sujeitos recusam-se a participar do teste, enquanto 70% realizam o

desenho. 20% são capazes de fazer apenas garatujas.

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- Grau de regressão do desenho:

100% dos sujeitos desenham a figura de forma muito regredida, isto é, de forma

muito simples e com a omissão de partes importantes do corpo.

- Presença ou ausência de mãos na figura:

56%

44%Ausência demãosPresença demãos

56% dos sujeitos fazem a figura com a ausência de mãos, enquanto 44% as desenha.

- Posição dos braços:

56%

44%Braços afastadsdo corpoPosição normaldos braços

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56% dos sujeitos desenham os braços da figura afastados do corpo, enquanto o

restante não apresenta essa alteração.

- Percepção e Integração do Esquema Corporal:

67%

33%

Dificuldade napercepção eintegração daimagem corporalSem alterações

67% dos sujeitos apresentam dificuldade na percepção e integração da imagem

corporal, enquanto 33% não apresentam alterações nesse aspecto.

- Linha do solo:

100% dos desenhos não possuem linha do solo.

- Fragilidade:

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45%

55%FragilidadeSem alterções

45% dos desenhos demonstram aspectos de fragilidade. Por outro lado, 55% não

apresentam alterações.

- Tamanho do desenho:

33%

67%

Desenho PequenoDesenho Médio

67% dos desenhos possuem tamanho médio, enquanto 33% apresentam tamanho

pequeno.

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- Presença ou Ausência de Pés:

60%

40%Presença de PésAusência de Pés

60% das figuras são desenhadas com pés. Por outro lado, 40% deles possuem

ausência de pés.

- Posição do desenho na folha:

60%

30%

10%Centro da folha

Canto superioresquerdoCanto inferioresquerdo

60% das figuras localizam-se no centro da folha, enquanto 30% localizam-se no

canto superior esquerdo e 10% no canto inferior esquerdo da folha.

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- Sexo das Figuras:

Sujeitos do Sexo Masculino:

Todos os homens desenharam figuras do mesmo sexo.

Sujeitos do Sexo Feminino:

40%

60%

Figura do mesmosexoFigura do sexooposto

60% das mulheres desenham figuras do sexo oposto, enquanto 40% desenham

figuras do mesmo sexo.

- Comparação da Idade Real do Sujeito com a Idade da Figura:

Sujeitos Idade Real (anos)

Idade da Figura(anos)

N.C. 91 30 A.P. 64 3 C.V. 62 20 L.B. 82 82 B.S. 83 20 T.A. 69 8 S.T. 77 17 B.X. 68 15 T.O. 82 5

M= 75,333 M= 22,222

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Apenas 11% dos sujeitos referem-se a figura como sendo idosa (83 anos); 33% dos

sujeitos referem-se a figura como sendo uma criança (3, 5 e 8 anos). 56% dos sujeitos citam

idades entre 15 a 30 anos.

- Quem é a figura:

33%

11%45%

11%

Parente AmigoColegaA própria pessoa

45% dos sujeitos afirmam que a figura é um colega; 33% afirmam que é um

parente; 11% afirmam que é um amigo; 11% afirmam que a figura são eles próprios.

- Em que pensou enquanto desenhava:

22%

11%

34%

11%

22%

Épocas da vida

Ação

Na pessoa quedesenhouNo desenho

Em nada

34% dos sujeitos pensam na pessoa que desenhou; 22% pensam em épocas de sua

própria vida; 22% afirmam não ter pensado em nada; 11% pensam em ação; 11% pensam

no próprio desenho.

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- Como a figura se sente:

78%

22%

Sente-se bemNão responde

78% dos sujeitos afirmam que a figura sente-se bem, enquanto 22% não

responderam à questão.

- O que a figura faz pensar ou lembrar:

74%

13%

13%

Épocas da vidaDe nadaDe si próprio

74% dos sujeitos lembram-se de épocas da vida; 13% pensam em si próprio; 13%

afirmam não pensar em nada enquanto desenhavam.

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- O que a figura está fazendo:

24%

13%

37%

13%

13%

Descreve aposição da figurana folhaNada

Não sabe

Passeando econversando como próprio sujeitoDormindo

37% afirmam não saber relatar o que a figura está fazendo; 24% descrevem a

posição da figura na folha; 13% dizem que a figura está dormindo; 13% afirmam que a

figura não está fazendo nada; 13% não sabem.

- Como está o tempo no desenho:

50%

40%

10%

FrioCalorIntermediário

50% dos sujeitos propõem que o dia está frio no desenho; 40% afirmam que está

calor; 10% dizem que o tempo está intermediário (sol ameno, um pouco nublado). Vale

ressaltar que, no dia da aplicação do D.F.H., fazia muito frio e ventava.

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48

- Do que a figura mais precisa:

34%

11%11%

11%

11%

22% CarinhoCompanhiaSaúdeEstudarDe tudoNão respondeu

34% dos sujeitos relatam que carinho é o que a figura mais precisa; 22% não

respondem à questão; 11% acreditam que o estudo seja a maior necessidade; 11% citam

uma companhia como algo que a figura mais precisa; 11% afirmam que saúde é o que a

figura mais precisa; 11% dizem que a figura precisa de tudo.

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49

7.2 Resultados do Centro de Referência do Idoso • Centro de Referência do Idoso:

- Dados dos sujeitos:

Sujeitos Sexo Idade Estado Civil N° de Filhos AlfabetizaçãoC.L. Feminino 70 Viúva 8 Sim E.O. Feminino 68 Viúva 6 Sim L.S. Feminino 67 Viúva 3 Sim B.J. Feminino 72 Viúva 6 Sim G.F. Feminino 63 Casada 4 Sim D.O. Masculino 66 Viúvo 2 Sim A.F. Masculino 72 Divorciado 0 Sim V.M. Masculino 65 Casado 4 Sim J.L. Masculino 74 Viúvo 10 Sim A.S. Masculino 70 Casado 8 Sim ----- ----- Média= 68,7 ----- ----- -----

50% dos sujeitos são do sexo masculino e 50% pertencem ao sexo feminino. A

média de idade dentre eles é de 68,7. 100% dos sujeitos são alfabetizados. A grande

maioria dos sujeitos faz o Curso de Educação Continuada no próprio Centro de Referência

do Idoso.

- Estado Civil:

10%

60%

30%divorciadoviuvocasado

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50

60% dos sujeitos são viúvos, 30% são divorciados, 30% são casados e 10% são

divorciados.

- Filhos:

90%

10%

PossuiNão possui

90% dos sujeitos possuem filhos, enquanto 10% deles não possuem.

- Com quem moram:

80%

20%

FamiliaresSozinhos

80% dos idosos moram com familiares, enquanto 20% moram sozinhos

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51

- Encontros com familiares:

80%

20%

Com frequênciaPouca frequência

80% dos sujeitos encontram os familiares freqüentemente. Por outro lado, 20%

encontram com pouca freqüência.

- Tipo de trabalho ou atividade exercida:

90%

10%

Atividadesoferecidas peloC.R.I.Atividadesoferecidas peloC.R.I. e trabalho

90% participam das atividades oferecidas pelo Centro de Referência do Idoso; 10%

participam destas atividades e trabalham.

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52

- Como ocupam o tempo livre:

40%

40%

10%

10%

Frequenta o CRI efazem as tarefasdomésticasFrequenta o CRI

Frequenta o CRI epassam o tempocom os amigosVisita os filhos

40% dos sujeitos freqüentam o Centro de Referência do Idoso no tempo livre; 40%

dos sujeitos freqüentam o Centro de Referência do Idoso e fazer tarefas domésticas; 10%

freqüentam o C.R.I. e passam o tempo com os amigos; 10% visitam os filhos.

- O que mais gostam no dia-a-dia:

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53

40%

10%10%

10%

10%

10%

10%

Gosta de tudo

Passar o dia noCRI com asamigasPassear,conversar, teramigosTocar violão edançar

Conversar,alimentar-se bem,lerTarefasdomésticas

Dançar

40% dos sujeitos gostam de tudo. 10% gostaM mais de passar o dia no Centro de

Referência do Idoso com as amigos, 10% gosta mais de passear, ter amigos e diversão;

10% gosta mais de tocar violão e dançar, 10% gosta mais de exercer tarefas domésticas e

10% gosta mais de dançar.

- O que gosta menos no dia-a-dia:

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54

30%

20%20%

10%

10%

10%

SofreraborrecimentosFicar em casa

Não ter o quefazerMás companhias

Lembrar dopassadoFofocas

30% dos sujeitos gostam menos de sofrer aborrecimentos no cotidiano; 20% não

gostam de ficar sem fazer nada; 20% gostam menos de ficar em casa; más companhias são

o que 10% menos gostam no dia; 10% gostam menos de lembrar do passado; fofocas é o

que 10% menos gostam no dia-a-dia.

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- Definições de Qualidade de Vida:

20%

10%

10%

10%10%

10%

10%

10%

10%

Conversar, teramigos, diversão

Ter umacompanheira,dinheiro e saúdeSaúde, amigos eatividades

Saúde e paz deespírito

Saúde eatividades

Ser útil para aspessoas

Boa realçãofamiliar e ser útilpara as pessoasTer autonomia

20% dos sujeitos definem Q.V. como possuir conversar, ter amigos e diversão; 10%

acreditam que para possuir boa Q.V. é preciso ter uma companheira, dinheiro e saúde; 10%

definem Q.V. como ter saúde, amigos e atividades; 10% propõem que é necessário que haja

saúde e paz de espírito para ter boa Q.V.; 10% cita ter saúde e atividades como fatores

necessário para uma boa Q.V.; 10% definem como ser útil para as pessoas; 10 % acreditam

que para possuir boa Q.V. é preciso ter um bom relacionamento familiar e ser útil para as

pessoas; dinheiro, saúde e atividades são fatores considerados como requisitos para boa

Q.V. por 10%; boa Q.V. é definida como ter autonomia por 10%.

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- Como considera a própria Qualidade de Vida:

70%

30%

BoaMediana

70% dos sujeitos acreditam que tem boa Q.V., enquanto 30% relatam que possuem

Q.V. mediana.

D.F.H.

- Grau de regressão do desenho:

30%

70%

Desenho muitoregredidaDesenhoregredido

70% dos sujeitos desenham de forma regredida; 30% desenham de maneira muito

regredida.

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- Mãos na figura:

40%

50%

10%Presença demãosMão detalhadas

Mãos escondidas

40% dos sujeitos desenha a figura com mãos; 50% desenha as mãos de forma mais

detalhada; 10% faz a figura com as mãos escondidas.

- Posição dos braços:

20%

40%

40%

Braços coladosao corpoBraços afastadsdo corpoPosição normaldos braços

40% dos sujeitos desenham a figura com os braços posicionados normalmente; 40%

desenham os braços da figura afastados do corpo, enquanto o restante - 20% - desenha os

braços colados ao corpo da figura.

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- Percepção e Integração do Esquema Corporal:

50%50%

Dificuldade napercepção eintegração daimagem corporalSem alterações

Metade dos sujeitos apresenta dificuldade na percepção e integração da imagem

corporal, enquanto a outra metade não apresenta alterações nesse aspecto.

- Linha do solo:

100% dos desenhos não possuem linha do solo.

- Fragilidade:

50%50%FragilidadeSem alterções

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Metade dos desenhos demonstra aspectos de fragilidade, enquanto a outra metade

não apresenta alterações nesse aspecto.

- Tamanho do desenho:

30%

70%

Desenho PequenoDesenho Médio

70% dos desenhos possuem tamanho médio, enquanto 30% apresentam tamanho

pequeno.

- Traçado vacilante ou indeterminado:

30%

70%

Traçado vacilanteou indeterminadoTraçado norma

30% dos desenhos têm um traçado vacilante e indeterminado. Por outro lado, 70%

deles possuem traçado normal.

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- Posição do desenho na folha:

10%

90%

Centro da folha

Canto superioresquerdo

Apenas 10% das figuras localizam-se no centro da folha, enquanto 90% localizam-

se no canto superior esquerdo.

- Sexo das Figuras:

Sujeitos do Sexo Masculino:

60%

40% Figura do mesmosexoSexo oposto

60% dos homens desenham figuras do mesmo sexo. Por outro lado, 40% desenham

figuras do sexo oposto.

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Sujeitos do Sexo Feminino:

80%

20%

Figura do mesmosexoFigura do sexooposto

80% das mulheres desenham figuras do mesmo sexo, enquanto 20% desenham

figuras do sexo oposto.

- Comparação da Idade Real do Sujeito com a Idade da Figura:

Sujeitos Idade Real(anos)

Idade da Figura(anos)

C.L. 70 40 E.O. 68 12 L.S. 74 15 B.J. 67 8 G.F. 72 68 D.O. 65 25 A.F. 72 72 V.M. 66 28 J.L. 63 10 A.S. 70 15

M= 68,7 M= 29,3

Apenas 20% dos sujeitos referem-se a figura como sendo idosa (68 e 72 anos); 20%

dos sujeitos referem-se a figura como sendo uma criança (8 e 10 anos); 30% dos sujeitos

referem-se a figura como adolescente (12, 15 e 15 anos); 30% referem-se a uma figura

adulta (25, 28 e 40 anos).

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- Quem é a figura:

30%

50%

10%

10% Uma pessoa dedentro da famíliaUma pessoa defora da familiaNão sabe

A própria pessoa

50% dos sujeitos afirmam que a figura é uma pessoa de fora da família;30%

afirmam que é um familiar; 10% afirmam que a figura são eles próprios; 10% não sabe

quem é.

- Em que pensou enquanto desenhava:

10%

40%

50%

Não sabe

Na pessoa quedesenhouNo desenho

50% dos sujeitos pensam no desenho que estão fazendo; 40% pensam na pessoa

desenhada; 10% não sabe no que pensou.

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- Como a figura se sente:

80%

20%

Sente-se bemNão se sente bem

80% dos sujeitos afirmam que a figura sente-se bem, enquanto 20% afirmam que a

figura não se sente bem.

- O que a figura está fazendo:

20%

10%

10%

20%

10%

10%

10%

10%

Está assustada

Estudando

Andando

Pensando nopróprio sujeito

Está alegre

Descreve aposição da figurana folhaBrincando

Passeando

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20% afirmam que a figura está assustada por causa da posição de seus braços; 20%

relatam que a figura está pensando no próprio sujeito; 10% afirmam que a figura está

estudando; 10% descrevem a posição da figura na folha; 10% dizem que a figura está

andando; 10% afirmam que a figura está alegre; 10% relatam que a figura está passeando;

10% respondem que a figura está brincando com o irmão.

- Como está o tempo no desenho:

10%

70%

20%

EsquisitoTempo bomIntermediário

70% dos sujeitos propõem que o dia está bom; 20% afirmam que está dia está

intermediário; 10% dizem que o tempo está esquisito.

- Do que a figura mais precisa:

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10%

10%

10%

10%

20%

20%

10%

10%

Ser mais bonito

Ir para a casa

Felicidade

Carinho eassistênciaAmizades

Ter atividades

Reconhecimento

Ajuda

20% dos sujeitos relatam que amizades é o que a figura mais precisa; 10%

acreditam ser felicidade; 10% afirmam que é reconhecimento; 10 propõem que é ter

atividades; 10% afirmam que é carinho e assistência; 10% dizem que é ir para a casa; 10%

relatam que é ajuda; ser mais bonito.

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8. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

9.1 Casa de Repouso

Os sujeitos da Casa de Repouso são de ambos os sexos (50% de cada). A média de

idade entre eles é de 76 anos. 40% dos sujeitos são solteiros, 30% são divorciados, 30% são

viúvos. 50% desta amostra são alfabetizados, mas possuem certa dificuldade na escrita,

devido a um baixo nível de escolaridade. A outra metade não é alfabetizada. 70% possuem

filhos, frente a 30% que não possuem.

O abandono por parte dos familiares é um fato muito comum nas Casas de Repouso.

Apenas 20% dos idosos recebem visitas com certa freqüência. 40% não são visitados por

ninguém. 20% estão deixando de receber visitas, pois o único amigo (a) que ainda os

visitava adoeceu e está deixando de ir. N.C. relata: “Eu tenho a M.L., mas agora ela está

muito doente”. Esse fato remete ao ponto levantado por Bee (1997), que afirma que o

número de amigos declina gradativamente nessa faixa etária, pois muito amigos falecem e a

rede diminui. Esse ponto também vem ao encontro do que propõem Freire Junior &

Tavares (2005), isto é, o idoso de uma casa de repouso faz parte, na maioria das vezes, de

um grupo privado de seus projetos, afastado da família, do lar, dos amigos, das relações nas

quais sua história foi estruturada. Zimerman (2000) acredita que a convivência faz com

que o indivíduo sinta que pertence a algo, a alguém, ter importância ao desenvolver

determinado papel. Com base nisso, pode-se pensar no impacto dessa situação. A mesma

autora ainda refere-se ao abandono. Depois de um tempo de internação, a freqüência de

visitas passa a diminuir, existindo casos que recebem visitas apenas duas vezes ao ano. O

sentimento de abandono é um dos aspectos mais significativos que contribuem para a

depressão e os problemas da saúde em geral.

A instituição apresenta um esforço em buscar algo para ocupar o tempo livre dos

idosos, porém se depara com o obstáculo da diversidade de preferências dos moradores.

Existem atividades como aulas de desenho, oficinas de memória, bijuterias, crochê, tricô,

pintura de vasos, costura. Para Santos, Santos, Fernandes & Henriques (2002), a boa Q.V.

proporciona condições mínimas para que se possa desenvolver ao máximo o potencial de

cada um. Percebe-se que o potencial dos idosos é pouco desenvolvido na Casa de Repouso.

Nota-se uma dificuldade em achar propostas que sejam interessantes a todos. 60% dos

entrevistados realizam a atividades propostas, enquanto 40% não participam de nenhuma

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delas. Porém, vale ressaltar que apenas a metade dos idosos da Casa de Repouso gosta das

atividades propostas pela casa de repouso. T.A. (10%) diz gostar das propostas, porém,

parece exercê-las por não ter outras opções, pois faz a seguinte afirmação: “Faço, porque

tem que fazer, né”. N.C. (10%) participa das atividades, porém não gosta: “... fazia um

trabalho muito estranho, uns colares, uns brincos”. 40% não gostam e não participam das

atividades.

As respostas dos sujeitos mostraram uma grande insatisfação com a rotina: 40% deles

não sabem relatar o que mais gosta no seu dia-a-dia, mas 60% deles utilizam-se da

expressão: “não faço nada” em seu discurso, mesmo citando em seguida alguma tipo de

tarefa realizada. T.A. faz o seguinte relato: “Não faço nada, fico parado só”. A visita à

instituição causou a impressão de que muitos deles realmente ficam apáticos (apenas

sentados, esperando o dia passar). 60% fazem todo tipo de pequenos serviços ou atividades

que lhes são solicitados, como entregar uma carta, preparar a instituição para uma festa ou

participar das oficinas. S.T. é questionado sobre algo que gosta, e então responde: “Ah

qualquer coisa que me mandarem fazer, eu faço. Faço de coração”. Dentre esses 60%, um

idoso gosta de jogar dominó; uma idosa passa parte do dia na cama e também joga dominó,

mas queixa-se da falta de parceiros para o jogo; um outro idoso também ocupa o tempo

conversando.

A falta de satisfação com o cotidiano torna-se ainda mais gritante, levando em

consideração que 40% da amostra não soube relatar o que mais gostam no dia-a-dia. 10%

dizem gostar de tudo no dia, porém essa fala vem no sentido de livrar-se da pergunta, pois

não consegue eleger algo que gostem. 10% elegem conversar e passear como as atividades

preferidas; 10% gostam mais de possuir conforto para dormir; 10% gostam de relacionar-se

bem com as pessoas; 10% gostam de alimentar-se e ficarem quietos. B.S. afirma: “Ah no

meu dia eu gosto de comer e ficar quietinha”. Esse relato retoma a questão da apatia, do

não ter atividades, de ver o dia se esvair.

Alguns parecem conformados com a insatisfação com o cotidiano, pois 30% não

sabem relatar o que menos gosta em seu dia. 30% gostam menos de aspectos da rotina da

Casa de Repouso, como ter que levantar cedo. A assistência da Instituição costuma ser vista

como impessoal, com ausência de dignidade e controle pessoal (BIEDENHARN &

NORMOYLE, 1991 In: BEE, 1997). O idoso deixa de ter autonomia em organizar seu dia-

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a-dia para adequar-se às regras da Casa de Repouso. 10% deles não gostam de ficar sem

fazer nada; 10% gostam menos de ser incomodado; 10% preterem falar da vida alheia; T.O.

(10%), que sofreu A.V.C. e está em fase de reabilitação, gosta menos de depender de uma

cadeira de rodas para locomover-se.

Segundo Gaspari & Schwartz (2005), o lazer do idoso é muito importante para

preencher o tempo livre e vem de encontro com a satisfação de necessidades como

convivência, introspecção, brincadeira, amizade, amor. Nessa Casa de Repouso, fica claro

que a falta de atividades tem um grande reflexo negativo na vida dos idosos

institucionalizados.

Para Vecchia et. al (2005), o conceito de qualidade de vida está relacionado ao bem-

estar do indivíduo e a auto-estima. Para tal, cita fatores como a capacidade funcional, o

nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a capacidade intelectual, o

autocuidado, o suporte familiar, o estado de saúde, os valores culturais, éticos e a

religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o

ambiente em que se vive.

Na definição de qualidade de vida feita pelos sujeitos, são listados alguns aspectos:

30% definem Q.V. como saúde; 20% acreditam que Q.V. seja possuir atividades; 10%

consideram que é preciso ter boa alimentação, companhia para conversar, amizades e

diversão para ter Q.V.; 10% consideram Q.V. como conversar, divertir-se e ter amizades;

10% não sabem definir o conceito; apenas 10% referem-se a Q.V. como ser feliz, além de

ter atividades. A felicidade parece ser considerada por eles como algo fora de suas

realidades, pois aparece em apenas 10% dos relatos. Possuir atividades no dia-a-dia e

estabelecer relações são os aspectos que acabam predominando na fala dos sujeitos. É

interessante observar que esses pontos estão em falta na Casa de Repouso.

Metade dos entrevistados acredita que possui boa qualidade de vida, frente a 30%

dos sujeitos que afirmam que a qualidade de vida está ruim. 20% dizem que a qualidade de

vida melhorou depois de mudar-se para a Casa de Repouso, pois passaram a ter melhores

condições de saúde. Entretanto, é importante ressaltar que aparecem no relato de apenas

30% dos sujeitos os aspectos considerados, por eles próprios, necessários para ter boa Q.V.

O restante que considera ter boa Q.V. não possui nenhum fator citado como necessário para

possuí-la.

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Na realização do D.F.H., 10% dos sujeitos apresentaram resistência, recusando-se a

realizar o desenho. 70% fizeram o desenho, enquanto 20% foram capazes de fazer apenas

garatujas. Todos eles efetuaram desenhos muito regredidos.

Apenas 44% dos desenhos possuíam mãos. 56% das figuram tinham ausência das

mãos, demonstrando a dificuldade em estabelecer contato e relações. Esta deficiência

condiz com a carência afetiva e isolamento citados anteriormente. Segundo Dikin (2000 In:

Gaspari & Schwartz, 2005), a Q.V. é influenciada pela capacidade de relacionar-se com os

outros. Percebe-se que esse ponto exerce uma influência negativa na qualidade de vida dos

moradores da Casa de Repouso.

56% das figuram apresentavam os braços afastados do corpo, inferindo deficiências

no conter-se, no controle de si próprio, no autocuidado. O restante (44%) não apresentou

alterações no posicionamento.

A deficiência na percepção e integração da imagem corporal foi muito freqüente –

67% dos sujeitos. Pode-se pensar que há uma dificuldade em aceitar a nova imagem

corporal, acarretando numa auto-imagem distorcida. Entretanto, 33% não apresentaram

deficiências nesse aspecto. O autoconceito e a auto-estima constituem a representação

social que o indivíduo possui de si. São aspectos individuais e formados a partir das

relações cotidianas (SÁNCHEZ & ESCRIBRANO, 1999; 1969 In: ASSIS et al., 2003).

Então, a representação de si próprio dos moradores da Casa de Repouso é bastante

prejudicada, devido ao isolamento presente no dia-a-dia dessa instituição.

Todos os desenhos não possuem a linha do solo. As figuras parecem estar soltas na

folha. Transmitem uma sensação de falta de apoio, o que reflete a situação de abandono na

instituição.

45% dos desenhos demonstram aspectos de fragilidade. Pode-se inferir uma

fragilidade tanto física, quanto egóica, pois alguns sujeitos não demonstram possuir muitos

recursos para lidar com a situação de institucionalização. De acordo com Bee (1997), na

velhice existe uma queda nas condições de saúde, que vai continuar se agravando de forma

gradativa. Além do mais, Zimerman (2000) acredita que problemas de saúde são mais

simples de solucionar, frente aos problemas psicológicos acarretados pelas intensas

transformações sofridas nessa etapa. Por outro lado, 55% não apresentam alterações.

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67% dos desenhos apresentam tamanho médio. Entretanto, 33% possuem tamanho

pequeno, fator que remete a uma deficiência em lidar com as pressões do meio e a

sentimentos de inferioridade e rejeição.

A falta de contato com a realidade aparece em 40% dos desenhos, sendo que neles

as figuras não tem pés.

A maioria das figuras (60%) está localizada no centro da folha, sem alterações.

Porém, 30% localizam-se no canto superior esquerdo da folha, o que remete a um viver

fora da realidade, no mundo da fantasia. 10% das figuras localizam-se no canto inferior

esquerdo da folha, demonstrando sentimentos de inferioridade e dificuldade de se impor.

100% dos homens desenharam a figura do mesmo sexo. Por outro lado, apenas 40%

das mulheres fizeram a figura do mesmo sexo, enquanto 60% desenharam a figura do sexo

oposto. Esse aspecto aponta para uma percepção de maior representação social do sexo

masculino.

Somente 11% dos sujeitos referem-se à figura como sendo idosa (83 anos, isto é, a

mesma idade do sujeito). 33% referem-se à figura como sendo uma criança (3, 5 e 8 anos).

56% deles citam idades entre 15 e 30 anos. Pode-se inferir um certo distanciamento, uma

defesa, como também um saudosismo ligado a fases da vida.

33% dos idosos afirmam que a figura é algum familiar. Por outro lado, 56%

referem-se à figura como alguém de fora da família, o que demonstra um certo afastamento

da mesma. 11% relatam que desenharam a si próprio.

Quando questionados sobre o que pensaram enquanto desenhavam, 34% pensaram

na pessoa que desenharam, apresentando uma necessidade de afetividade, amizade: “Pensei

em estar perto dela”. 22% remeteram-se a épocas da vida, demonstrando um saudosismo.

22% pensaram em determinado tipo de ação, representando uma necessidade de exercer

alguma atividade. 11% apresentam certo distanciamento, afirmando que pensaram apenas

no desenho. Os 11% restantes também se distanciam, afirmando que não pensaram em

nada.

78% dos sujeitos relatam que a figura sente-se bem, enquanto 22% não

responderam. Pode-se inferir que há uma dificuldade em entrar em contato com a real

situação, já que essa resposta de sentir-se bem não condiz com a realidade. Já os outros

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sujeitos não foram capazes de expor o verdadeiro estado, tomando distância e deixando de

emitir uma resposta.

A figura faz 74% dos sujeitos lembrarem de épocas da vida, apresentando

novamente a questão do saudosismo. 13% pensam em si mesmos, demonstrando uma certa

apatia. 13% distanciam-se, afirmando que não pensam em nada.

37% dos idosos não sabem relatar o que a figura está fazendo, apresentando uma

tomada de distância da questão. 24% descrevem a posição da figura na folha, ponto que

pode ser considerado como uma forma de pensamento concreto ou também distanciamento.

13% afirmam que a figura está passeando e conversando com ele, o que pode ser entendido

como uma necessidade de amizade. 13% relatam que a figura está parada, dormindo,

projetando nela o aspecto mais freqüente do cotidiano. 13% afirmam que a figura não está

fazendo nada, podendo ser vista novamente como uma projeção do dia-a-dia.

Deve se considerar que o teste foi realizado em um dia muito frio. 50% reproduzem

essa realidade, afirmando que faz frio no desenho. 40% fazem uma idealização, relatando

fazer sol. 10% descrevem uma temperatura intermediária: “Sol meio fraco, céu meio

nublado”.

Um aspecto relevante é o fato de 34% relatarem que carinho é a maior necessidade

da figura desenhada, ressaltando a situação de carência afetiva e isolamento. B.X. relata:

“Precisa de muito carinho, muito agrado né”. 22% não foram capazes de responder,

demonstrando uma dificuldade em entrar em contato com suas necessidades. 11%

acreditam que o estudo é o que a figura mais precisa. 11% dizem que uma companhia é a

maior necessidade, o que remete mais uma vez a situação de isolamento e carência afetiva.

11% afirmam que saúde é o que a figura mais precisa. 11% dizem que a figura precisa de

tudo, demonstrando novamente a dificuldade de entrar em contato com as necessidades.

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9.2 Centro de Referência do Idoso

Os sujeitos da casa de repouso ambos os sexos (50% de cada). A média de idade entre

eles é de 68,7 anos. Todos são alfabetizados e a grande maioria deles cursa a Educação

Continuada, oferecida pelo próprio Centro de Referência do Idoso. 60% dos sujeitos são

viúvos, 30% são casados e 10% são divorciados. A grande maioria (90%) possui filhos.

80% dos idosos moram com familiares, enquanto 20% moram sozinhos. 80% dos sujeitos

encontram os familiares freqüentemente, enquanto 20% encontram com pouca freqüência.

Vale ressaltar que todos idosos não somente são visitados pelos familiares, assim como

realizam visitas.

Todos eles realizam algum tipo de atividade oferecida pelo C.R.I.; 10% trabalham,

além de exercer essas atividades. Existe uma grande diversidade de atividades, como a

Educação Continuada, aulas de computação, de dança, de violão, oficinas de artesanato,

esportes, cabeleireiro, etc. Eles parecem estar muito satisfeitos com as atividades propostas.

É importante lembrar que essa instituição possui opções mais interessantes a essa faixa

etária.

A maioria dos entrevistados ocupa grande parte do tempo livre no Centro de

Referência. A.S. faz a seguinte afirmação, quando questionado sobre o que faz no seu

tempo livre: “Eu não tenho tempo livre, porque eu não paro em casa. Eu venho aqui de

manhã, na computação. Eu chego em casa, almoço e volto pra estudar. Daí eu chego umas

6 horas e não dá tempo de fazer mais nada...”. 40% dos sujeitos ocupam todo o tempo livre

no C.R.I.; 40% dos sujeitos freqüentam o Centro de Referência do Idoso e fazem tarefas

domésticas nesse; 10% freqüentam o C.R.I. e passam o tempo com os amigos e 10%

visitam os filhos.

40% dos sujeitos gostam de tudo na sua rotina. Essa resposta infere uma verdadeira

satisfação com a vida, não é dada no sentindo de não conseguir eleger algo que goste. Esse

aspecto fica claro na fala de D.O.: “Praticamente, eu gosto de tudo, porque tudo o que eu

faço é com amor né. Eu faço, me sinto bem e continuo”.10% gostam mais de passar o dia

no Centro de Referência do Idoso com as amigas, 10% gostam mais de passear, ter amigos

e diversão; 10% gostam mais de tocar violão e dançar, 10% gostam mais de exercer tarefas

domésticas e 10% gostam mais de dançar. É possível observar que o que mais gostam é de

possuir algum tipo de atividade no dia-a-dia. “O que eu mais gosto no meu dia é viver aqui

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com elas e qualquer pessoa assim de fora eu acho melhor do que em casa. Quando nós

estamos aqui eu adoro, né. Adoro ficar com elas assim”.

Sofrer aborrecimentos é o que 30% dos sujeitos menos gostam no cotidiano. Não ter

nada para fazer é preterido por 20%. Outros 20% gostam menos de ficar em casa.“Não

gosto muito de ficar em casa não... Hoje em dia, dentro da família mesmo, a gente não tem

aquele carinho, aquele amor. As pessoas não sabem conviver com a gente. A gente tem

amor né. Mas fora, aquele carinho, felicidade, conversar... às vezes, em casa a gente não

tem nem com quem conversar”. Más companhias, isto é, pessoas com quem não possuem

afinidade são o que 10% menos gostam no dia-a-dia. 10% gostam menos de lembrar do

passado. Por fim, 10% citam que fofocas como o que menos gostam no cotidiano.

Novamente, pode-se notar que a necessidade de ter atividades e amigos é um aspecto muito

comum entre eles. Para Xavier et al. (2003), acontecimentos negativos são obstáculos para

o bem-estar na velhice. Aspectos como recursos econômicos e suporte familiar são

relevantes para superá-los. Entretanto, esses fatores são raros na sociedade atual.

Conversar, ter amigos e diversão são fatores levantados como necessários para uma

boa qualidade de vida por 20% dos sujeitos; 10% acreditam que para possuir boa Q.V. é

preciso ter uma companheira, dinheiro e saúde; 10% definem Q.V. como ter saúde, amigos

e atividades; 10% dos entrevistados propõem que é necessário que haja saúde e paz de

espírito para ter boa Q.V.; 10% cita ter saúde e atividades como fatores necessário para

uma boa Q.V.; 10% definem como ser útil para as pessoas; 10 % acreditam que para

possuir boa Q.V. é preciso ter um bom relacionamento familiar e ser útil para as pessoas;

dinheiro, saúde e atividades são fatores considerados como requisitos para boa Q.V. por

10%; boa Q.V. é definida como ter autonomia por 10%. Uma senhora faz o seguinte relato

para responder o quer seria qualidade de vida para ela: “Eu gostaria de morar sozinha.

Sozinha não tem quem mande nem desmande. E a gente morar com os outros, de tudo quer

saber, quer às vezes ter autoridade e eu acho que não to ainda nesse ponto da pessoa ter

autoridade... Aí a gente morando sozinha, a gente faz o que quer, vai dormir na hora que

quer, come o que quer”.

Nas definições de Q.V., o fator saúde aparece na fala de 50% dos sujeitos. A doença

é uma aspecto extremamente presente no cotidiano dos idosos. Segundo Bee (1997), as

doenças crônicas estão dentro do quadro de normalidade da velhice. O indivíduo passa a ser

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bem mais vulnerável à doenças. A necessidade de relacionar-se afetivamente (com amigos,

parceira(o) ou familiares) é levantada também por 50% deles. Ter uma atividade ou um

lugar para freqüentar é citado por 40%. 20% dos entrevistados apresentam a necessidade de

ser útil a alguém.

Bee (1997) acredita que após os 65 anos, é comum número de amizades diminuir

gradativamente, já que, à medida que esses amigos falecem, a rede diminui. Os indivíduos

viúvos ainda podem se afastar dos amigos casados. A relação com os amigos é um fator

significativo na satisfação de vida, na auto-estima e na quantidade de solidão. Os amigos

satisfazem diversos tipos de necessidades, como estabelecer contatos com mais recíprocas e

imparciais, companhia, diversão, realizar atividades. Os sujeitos vêem no C.R.I. uma ótima

oportunidade para buscar novos vínculos afetivos e satisfação dessas necessidades.

A maioria dos sujeitos - 70% - definem sua qualidade de vida como boa, enquanto

30% a define como mediana. Ao contrário dos moradores da Casa de Repouso, os sujeitos

parecem fazer uma avaliação mais fidedigna desse ponto, pois os fatores que possuem no

dia-a-dia estão de acordo com os aspectos apontados como necessários a uma boa Q.V.

A.F. traça um paralelo entre o que acha fundamental para possuir Q.V. e sobre a sua

situação.“Hoje é muito boa. Bom, primeiramente é saúde. Hoje é muito boa a minha saúde.

Boas amizades, um ambiente muito bom que a gente possa aproveitar, como é aqui. E a

minha atividade que eu tenho no meu dia-a-dia, que não é pouco, mas eu acho legal aquilo

lá. Então eu cheguei no 72 assim, bom mesmo”. Apenas 10% dos sujeitos avaliaram sua

Q.V. boa, sem apresentar aspectos que não condizem com a mesma.

Todos os sujeitos apresentaram certa resistência em realizar o D.F.H., relatando que

não sabiam desenhar. 30% dos sujeitos desenharam de maneira muito regredida, enquanto

70% fizeram um desenho com mais recursos, mas sem deixarem de ser regredidos.

As mãos estão ligadas à capacidade de estabelecer contato interpessoal. 50% dos

sujeitos desenharam a figura com mãos. Vale ressaltar que 40% dos sujeitos concentrou-se

no desenho das mãos da figura, demonstrando um direcionamento da energia para

estabelecer contatos. Esse aspecto vem reforçar o que foi dito anteriormente sobre a

necessidade de estabelecer relações e como isso pode ser proporcionado pelo C.R.I. esse é

um fator muito positivo, pois, de acordo com Zimerman (2000), a convivência gera um

sentimento de importância e pertinência em relação a alguém. Dessa forma, torna-se

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possível a troca afetiva, a discussão de idéias e a busca de novos conteúdos.10% fizeram a

figura com as mãos escondidas, inferindo certa dificuldade em estabelecer esse contato.

Os braços estavam afastados do corpo em 40% dos desenhos, sugerindo

dificuldades no conter-se, no controle de si próprio, no autocuidado. Por outro lado, 20%

dos desenhos tinham os braços colados ao corpo da figura, inferindo sentimentos passivos

ou de defesa. Esse aspecto pode ser relacionado com a fragilidade que pode surgir na

velhice, decorrente de deficiências na saúde, de uma nova crise de identidade devida a

mudanças de papéis, etc. Metade dos desenhos demonstra aspectos de fragilidade.

Metade dos sujeitos apresentou dificuldade na percepção e integração da imagem

corporal, podendo estabelecer uma relação com a dificuldade de aceitar a nova imagem

corporal, criando uma auto-imagem distorcida.

Nenhuma das figuras possui linha de base e passam uma impressão de estarem

soltas no ar. Demonstram uma falta de apoio. Isso não era esperado, pois a maioria desses

idosos convive com familiares, possuem rede de amigos e recebem assistência no C.R.I.

O tamanho dos desenhos sugere a maneira como o indivíduo lida com as pressões

do ambiente. Grande parte dos desenhos (70%) tem um tamanho adequado. Porém, 30%

dos desenhos são pequenos, apresentando dificuldade de enfrentar as pressões, além de

sentimentos de inferioridade e rejeição.

Um traçado vacilante e indeterminado é característico de 30% dos sujeitos, o que

pode representar uma certa insegurança. Nessa fase da vida, essa insegurança pode se

decorrente dos novos papéis a serem assumidos e suas representações individuais e sociais.

60% dos homens desenharam figuras do mesmo sexo. Por outro lado, 40%

desenharam figuras do sexo oposto e afirmaram ter desenhado pessoas com as quais tem

afinidade, representando uma necessidade de estabelecer vínculo afetivos.

A maioria das mulheres (80%) desenharam figuras do mesmo sexo. 20%

desenharam figuras do sexo oposto, podendo demonstrar também uma necessidade de

estabelecer ligações afetivas, bem como uma percepção de maior representação social do

sexo oposto.

Apenas 20% dos sujeitos referem-se à figura como sendo idosa (68 e 72 anos); 20%

dos sujeitos referem-se à figura como sendo uma criança (8 e 10 anos); 30% dos sujeitos

referem-se à figura como adolescente (12, 15 e 15 anos); 30% referem-se a uma figura

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adulta (25, 28 e 40 anos). Isso pode apresentar uma certa defesa, como também

saudosismo.

Metade dos sujeitos relata que a figura em uma pessoa de fora da família, mostrando

busca de vínculos fora do círculo familiar, talvez porque a família não supra todos as

necessidade afetivas e/ou não seja capaz de compreendê-los. 30% afirmam que a figura é

um familiar, demonstrando um bom relacionamento com o mesmo, pois referem-se a figura

com muita ternura. 10% relatam não saber quem é a figura, apresentando uma defesa. Os

10% restantes afirmam que desenharam a si próprio.

A metade dos sujeitos relata que pensou no próprio desenho, enquanto desenhavam,

como uma forma de defesa. 10% também usam a defesa, dizendo não saber no que pensou.

40% pensaram na pessoa desenhada, inferindo novamente uma necessidade de ligação

afetiva. A.F. diz que desenhou a mulher pela qual é apaixonado e dá a seguinte resposta

sobre o que pensou: “Ah se eu pudesse desenhar você no meu coração e ficar com você pro

resto da vida, era tudo o que eu queria. Sou apaixonado”.

A maioria dos sujeitos acredita que a figura sente-se bem, parecem estar satisfeitos

com a vida que levam. C.L. afirma: “Pelo jeitinho dela, ela tá se sentindo muito feliz”. Em

contraposição, 20% que relata que a figura não está bem (está cansada ou amedrontada).

Xavier et al. (2003) acredita que uma velhice agradável está em função de inúmeros

fatores, como os recursos egóicos de cada indivíduo, a intensidade de eventos estressores e

a capacidade de enfrentá-los.

Quando questionados sobre o que a figura está fazendo, 20% afirmam que a figura

está assustada por causa da posição de seus braços no desenho, como A.S., por exemplo:

“Aqui ele tá meio com medo, querendo correr, tá meio espantado pelo jeito que ele fez

assim com a mão”. 20% relatam que a figura está pensando no próprio sujeito,

demonstrando uma necessidade afetiva e como sentem-se queridos. 10% afirmam que a

figura está estudando, 10% dizem que a figura está andando, 10% relatam que a figura está

passeando e 10% respondem que a figura está brincando, sugerindo sempre algum tipo de

atividade. 10% afirmam que a figura está alegre. 10% descrevem a posição da figura na

folha, apresentando uma defesa ou uma forma de raciocínio concreto.

A descrição de como está o dia no desenho pode remeter a como o sujeito percebe

sua situação e seu ambiente. A maioria dos sujeitos (70%) propõem que o dia está bom.

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20% afirmam que está dia está intermediário. Apenas 10% dizem que o tempo está ruim

(esquisito).

Sobre a maior necessidade do desenho, 20% dos sujeitos consideram que é possuir

amizades; 10% acreditam ser felicidade; 10% afirmam que é reconhecimento; 10 propõem

que é ter atividades; 10% propõem que é carinho e assistência; 10% relatam que é ajuda;

10% relatam que a figura precisa ir para a casa; 10% afirma que a figura precisa ser mais

bonita (dificuldade em aceitar a auto-imagem e o que projetou). Novamente, aparece uma

necessidade afetiva nos relatos. Também há uma necessidade de cuidado, quando se

referem à assistência e ajuda.

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9.3 Comparação dos resultados das duas instituições

Todos os sujeitos do Centro de Referência são alfabetizados, enquanto apenas 50%

dos sujeitos da Casa de Repouso possuem alfabetização. Esse fator pode influenciar no

nível de algumas respostas e desenhos.

Há um grande contraste na freqüência do contato com os familiares. 80% dos

freqüentadores do C.R.I. encontram a família com freqüência, enquanto apenas 20% dos

moradores da Casa de Repouso são visitados pelos familiares. Deve ser considerado o fato

de que os freqüentadores do Centro de Referência possuem condições de ir até os

familiares. Esses dados corroboram com o que propõem Freire Junior & Tavares (2005).

Para eles, o idoso que vive em uma instituição pode fazer parte de um grupo afastado de

seus projetos, já que está distante do lar, da família, dos amigos e das relações nas quais sua

história foi estruturada.

O não gostar de “fazer nada” é muito comum na fala dos sujeitos, observa-se uma

necessidade de ter atividades para ocupar o tempo livre.Todos os freqüentadores do C.R.I.

participam e estão satisfeitos em relação às atividades propostas pela instituição. Por outro

lado, na Casa de Repouso, muitos idosos não participam das atividades oferecidas e existe

uma dificuldade em fazer propostas que lhes sejam interessantes. Eles acabam realizando

qualquer tipo de atividade ou serviço que surgir, pois é a maneira que encontram para

ocupar o dia. Frente a isso, nota-se uma grande diferença na rotina dessas duas amostras em

relação a preencher o tempo livre de forma prazerosa, e isso tem um grande reflexo no

bem-estar, no autoconceito e na auto-imagem dos idosos. De acordo com Irving Rosow

(1985, In: BEE, 1997), os papéis restantes na velhice possuem menos conteúdo, afazeres e

expectativas. Bee (1997) propõe que esse seja um fator desfavorável, já que acarreta um

risco de isolamento ou alienação.

10% dos sujeitos da Casa de Repouso afirmam gostar de tudo no seu dia, porém

essa resposta transmite a impressão se ser emitida apenas como uma forma de livrar-se da

pergunta, por não conseguir citar algo que realmente goste na rotina. Entretanto, 40% dos

sujeitos do C.R.I. dão a mesma resposta, contudo realmente demonstram uma real

satisfação com o seu cotidiano.

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A necessidade de afetividade é um ponto que surge inúmeras vezes nas entrevistas e

nos D.F.H. das duas populações, porém, existe um grande contraste entre elas. Na Casa de

Repouso a tendência do morador é o isolamento (em relação às pessoas de fora e de dentro

da instituição). Já o C.R.I. serve como um recurso para o estabelecimento de vínculos

afetivos, pois acaba sendo um ponto de encontro para pessoas da mesma faixa etária, com

interesses em comum.

A definição de qualidade de vida não teve grande disparidade entre os dois grupos,

apesar da população do C.R.I. apresentar maior clareza sobre o tema. Saúde, necessidade de

afetividade e ter atividades são aspectos muito comuns, em ambos os grupos, como sendo

fundamentais para uma boa qualidade de vida.

Os sujeitos da Casa de Repouso não fazem uma real avaliação sobre a sua qualidade

de vida. 50% deles afirmam ter boa Q.V., contudo 30% não apresentam nenhum fator

apontado por eles próprio como requisito para obtê-la. Os freqüentadores do C.R.I.

realizam uma avaliação mais fidedigna da Q.V. Apenas 10% não apresentam aspectos que

estejam de acordo com a definição dada.

Na realização do D.F.H., todos os sujeitos desenharam de forma regredida. Porém,

70% dos sujeitos do C.R.I. fizeram um desenho regredido e 30% um desenho muito

regredido; 100% dos sujeitos da Casa de Repouso elaboraram um desenho muito regredido.

56% dos desenhos da Casa de Repouso não possuíam mãos, frente a 10% do C.R.I.

que estavam com as mãos escondidas. Além disso, 50% dos sujeitos do C.R.I.

concentraram-se no desenho dessa parte do corpo. Essa questão remete a como cada um

lida com o contato interpessoal: o isolamento dos moradores Casa de Repouso e a busca de

estabelecer vínculos dos freqüentadores do C.R.I.

Todos os sujeitos das duas amostras não fizeram uma linha de base, apresentando

uma falta de apoio da figura. Vale ressaltar que esse resultado não era esperado nos

freqüentadores do C.R.I., já que possuem contato com familiares, têm uma rede amigos e

recebem boa assistência dessa instituição. Pode-se inferir uma deficiência nas relações

familiares e/ou uma grande dificuldade em lidar com as questões da velhice.

90% dos sujeitos do C.R.I. fazem o desenho na parte superior da folha,

demonstrando uma falta de contato com a realidade e uma busca de refúgio da fantasia. Em

contra-ponto, apenas 30% dos sujeitos da Casa de Repouso fizeram o desenho nessa região

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do papel. Esse resultado também não era esperado. A expectativa era de que os moradores

da Casa de Repouso fugissem mais da realidade, já que vivem praticamente isolados desta.

A dificuldade de percepção e integração do esquema corporal é característica

freqüente em ambos os grupos (50% do C.R.I. e 67% da Casa de Repouso), remetendo à

dificuldade de aceitar o corpo da velhice, criando uma auto-imagem distorcida. A proposta

de Gaspari e Schwartz (2005) vem de encontro com esse ponto, pois acreditam que a

velhice é uma experiência semelhante à adolescência. O idoso passa por uma nova crise de

identidade, que vai influenciar fatores como a auto-estima e a aceitação de si próprio.

A fragilidade parece ser uma característica comum a essa fase da vida, pois é muito

freqüente nos desenhos: 55% dos desenhos da Casa de Repouso e 50% dos desenhos do

C.R.I. De acordo com Zimerman (2000), o processo de envelhecimento traz mudanças

físicas, psicológicas e sociais. Logo, a fragilidade torna-se uma característica esperada, já

que faz-se necessário assumir um novo posicionamento frente a vida, diante dessa

transformações.

A dificuldade de lidar com a pressão do meio, sentimentos de inferioridade e

rejeição (percebidas quando a figura é desenhada pequena) também é equivalente em

relação aos dois grupos, sendo que 30% dos desenhos do C.R.I. e 33% dos desenhos da

Casa de Repouso têm tamanho pequeno. Esses dados vêm de encontro com a proposta de

Biedenharn & Normoyle (1991 In: Bee, 1997). Segundo esses autores, a assistência dada

nas Casas de Repouso costuma ser percebida, por parte dos idosos, como impessoal, com

ausência de dignidade e controle pessoal.

A deficiência no conter-se, no controle de si próprio, no autocuidado também é

comum em ambos os grupo: 40% dos desenhos do C.R.I. e 56% dos desenhos da Casa de

Repouso apresentam os braços afastados do corpo.

Todos os sujeitos do sexo masculino da Casa de Repouso desenharam figuras do

mesmo sexo, frente a 40% do C.R.I. que desenharam figuras do sexo oposto. Pode-se

inferir que existe uma necessidade de estabelecer vínculos do sujeitos do C.R.I., pois

relatam terem desenhado pessoas com as quais possuem afinidade.

Apenas 20% dos sujeitos do sexo feminino da Casa de Repouso desenharam figuras

do mesmo sexo, diante de 80% do C.R.I. que fizeram figuras do sexo correspondente.

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Pode-se pensar que é comum nas mulheres da Casa de Repouso uma maior valorização da

representação social do sexo masculino.

Na Casa de Repouso, somente 10% dos sujeitos remetem-se à figura como sendo

idosa. No C.R.I., apenas 20% relataram que a figura estava no estágio da velhice. Esse

aspecto apresenta um grande saudosismo presente em ambos os grupos.

Em ambos os grupos, a maioria afirmou ter desenhado alguém de fora da família.

Apenas 33% dos sujeitos da Casa de Repouso e 30% do C.R.I. relataram ter desenhado

algum membro da família, demonstrando à dificuldade da relação entre idoso e família,

muitas vezes devida a todas as transformações provenientes da velhice (a família passa ter

problemas para compreender o idoso e suas questões), gerando um certo grau de

afastamento.

Os dois grupos também obtiveram um número de respostas semelhantes sobre

pensar sobre a própria pessoa que estava desenhando enquanto fazia o desenho: 34% dos

sujeitos da Casa de Repouso e 40% do C.R.I. Percebe-se, mais uma vez, a necessidade de

afetividade.

O número de sujeitos que responderam que a figura sente-se bem foi equivalente na

2 amostras (80%). Entretanto, o sentir-se bem dos sujeitos da Casa de Repouso não condiz

com toda a situação exposta nos dados pelos mesmos ao longo das entrevistas e da

realização do D.F.H.

A maioria dos sujeitos do C.R.I. afirma que o tempo está bom no desenho,

corroborando com a satisfação que demonstram em relação à vida e ao meio. Já na Casa de

Repouso, 40% dos sujeitos relatam que está sol nos desenhos. Acredita-se que houve uma

idealização dos desenhos, pois o teste foi realizado em um dia muito frio, além de esses

sujeitos apresentarem uma grande insatisfação com a situação atual.

Em ambos os grupos, quando questionados sobre o que a figura mais precisava, as

respostas freqüentemente remetem a uma necessidade de afetividade, aspecto este surge

inúmeras vezes no decorrer das entrevistas e da realização do teste.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS A qualidade de vida está diretamente ligada ao bem-estar e a auto-estima do indivíduo.

Em relação à percepção do idoso sobre qualidade de vida em geral e sobre si próprio,

saúde, boas relações afetivas e ter atividades foram fatores apontados como requisitos para

uma boa Q.V. pela maioria de ambas as amostras. Contudo, há uma disparidade na

avaliação desse aspecto. A maior parte dos freqüentadores do Centro de Referência do

Idoso considera sua qualidade de vida como boa. Esta avaliação parece ser fidedigna, pois a

situação atual de cada um está de acordo com os aspectos indicados pelo próprio idoso

como necessários à boa Q.V. Já na Casa de Repouso, a metade dos moradores avalia sua

Q.V. como boa, porém isso não condiz com a realidade vivida, pois não possuem os fatores

levantados, por eles próprios, como relevantes.

Ocupar o tempo livre com atividades prazerosas é crucial para o bem-estar psíquico

na velhice. A Casa de Repouso possui um esforço em relação a propiciar atividades aos

moradores, porém há uma grande dificuldade em encontrar tarefas interessantes a todos.

Muitos não realizam nada do que é proposto, e alguns participam somente porque não têm

outra opção. Há uma grande insatisfação com a rotina, pois passam o dia como se

esperassem o tempo se esvair. “Não faço nada” é uma expressão comum em quase todos os

discursos. Também existe um certo grau de conformismo, já que muitos não conseguem, ao

menos, eleger o que não gostam no dia-a-dia.

No C.R.I., todos os freqüentadores ocupam parte ou todo o tempo livre com

atividades propostas pela instituição. Possuem muitas opções e estão muito satisfeitos com

as mesmas, assim como com a rotina que levam. Deve-se levar em consideração que as

atividades dessa instituição, além de variadas, são mais interessantes.

A necessidade de afetividade, de criar e manter vínculos aparece diversas vezes nas

falas dos dois grupos. Entretanto, o contexto das instituições vai ter um grande reflexo

nessa questão. A situação da Casa de Repouso afasta o indivíduo da convivência social, e

existe certa apatia que dificulta os relacionamentos até mesmo entre os moradores. A

abandono da família é muito freqüente. Dessa forma, a Casa de Repouso agrava essa

necessidade, pois indivíduo passa a ter uma tendência ao isolamento. Por outro lado, o

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Centro de Referência passa a ser um meio de satisfazê-la. É uma forma ampliar a rede de

relações, pois reúne pessoas da mesma faixa etária com interesses em comum.

Os idosos freqüentadores do C.R.I. demonstram a energia psíquica muito voltada

para as relações interpessoais, enquanto os moradores da Casa de Repouso apresentam uma

grande deficiência nesse contato.

Existe um certo afastamento em relação à família nas duas amostras. Pode-se inferir

que a família não seja capaz de suprir as necessidades afetivas do idoso. Além do mais, é

fato que os relacionamentos tornam-se mais difíceis em decorrência das questões que

surgem na velhice.

Os relacionamentos e o preenchimento do tempo livre interferem de forma relevante

na auto-estima e no autoconceito. O relacionar-se, a convivência faz com que o indivíduo

sinta-se amado e importante para alguém. Enquanto a realização de uma atividade é

fundamental para que se sinta útil e capaz. Pode-se perceber uma auto-estima e um

autoconceito muito mais elevado nos freqüentadores do C.R.I., se comparados aos

moradores da Casa de Repouso.

A auto-imagem também possui grande influência na auto-estima. A dificuldade na

aceitação do “novo corpo” da velhice é muito freqüente, bem como a deficiência na

percepção e integração da imagem corporal.

Outro ponto comum em ambas às amostras é uma dificuldade no conter-se, no

autocuidado e no controle de si próprio, fatores estes que podem ser desencadeantes de

baixa auto-estima.

Todos os sujeitos demonstraram um sentimento de desamparo. Essa era uma

resposta esperada em relação à Casa de Repouso, em conseqüência da situação de

abandono e isolamento em que vivem. Contudo, também foi apresentada pelos

freqüentadores do C.R.I., indivíduos que possuem contato com a família, além de uma

extensa rede de relações. Esse fato sugere uma grande dificuldade em lidar com as

transformações ocorridas nessa fase da vida, como a formação de uma nova identidade,

novos papéis, a fragilidade física, as representações sociais, o cotidiano e suas novas

limitações, etc.

Não houve disparidade entre os sexos nas repostas. A única questão foi sobre

desenhar o sexo correspondente ou o sexo oposto. Na Casa de Repouso, a maioria das

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mulheres desenhou figuras do sexo oposto, enquanto todos os homens desenharam a figura

do mesmo sexo. Pode-se inferir que a representação social do sexo masculino é mais

valorizada por parte das mulheres.

Por outro lado, a maior parte dos homens freqüentadores do C.R.I. desenhou a

figura do sexo oposto. Entretanto, nesse caso percebe-se uma necessidade de afetividade, já

que relataram ter desenhado pessoas com as quais possuem afinidade. A maioria das

mulheres desenhou a figura do mesmo sexo.

Com base em todos os fatores discutidos, é possível afirmar que a hipótese do

presente trabalho foi confirmada, pois se encontrou uma melhor qualidade de vida, auto-

estima e autoconceito na amostra do C.R.I., se comparada à amostra da Casa de Repouso,

devido a ocupação do tempo livre com atividades de seu interesse e de uma maior rede de

relações.

Na velhice ocorrem constantes transformações. A dificuldade de lidar com as

mesmas está explícita na fala dos sujeitos. Vive-se o luto constantemente, seja ele por perda

de pessoas queridas, mudanças no corpo, na saúde, papéis são deixados para trás, etc.

Como citado anteriormente, o idoso passa por uma nova crise de identidade. O

acompanhamento psicológico pode trazer muitos benefícios, auxiliando a elaborar os

fatores desencadeantes de crises e a tomar um novo posicionamento frente ao envelhecer,

estruturando sua nova identidade. Também pode haver uma ajuda no sentido de preparar o

idoso para a internação em uma Casa de Repouso, pois precisará se adaptar a novas regras,

uma nova rotina, além de deixar para traz a rede de relações e muitos planos. Caso não haja

essa preparação na mudança, o psicólogo pode trabalhar com o idoso já institucionalizado,

com o intuito de tentar uma melhor adequação do idoso à instituição e vice-versa.

É significativo que haja assistência, por parte das instituições, para suprir as

necessidades do idoso e de sua família, dando apoio e orientação – a ele e à família - para

que seja possível lidar de forma mais adequada e saudável com as questões que emergem

na velhice. Por meio do cuidado, respeito e lazer, o idoso pode enfrentar todas essas

transformações, satisfeito consigo próprio e com a vida.

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13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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- XAVIER, Flávio M F, FERRAZ, Marcos P T, MARC, Norton et al. A definição dos idosos de qualidade de vida. Rev. Bras. Psiquiatr., mar. 2003, vol.25, no.1, p.31-39. ISSN 1516-4446. - ZIMERMAN, Guite I. Velhice – Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre, R.S. Editora Artes Médicas, 2000.

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14. ANEXOS

14.1 ANEXO 1: CARTA DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO

CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO O presente trabalho pretende verificar a visão do idoso sobre qualidade de vida, além de sua auto-imagem e auto-estima. Os dados para o estudo serão coletados por meio de uma entrevista semi-dirigida com roteiro em anexo, que será gravada com a autorização do colaborador, e da aplicação do D.F.H. (Desenho da Figura Humana). Para tal solicitamos a autorização desta instituição para a triagem de colaboradores e para a aplicação de nossos instrumentos de coleta de dados; o material e mo contato interpessoal não oferecerão riscos importantes, físicos e/ou psicológicos aos colaboradores e à instituição. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos colaboradores e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone mencionado a seguir. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a instituição e outra com os pesquisadores. Obrigada. ......................................................... .......................................................... Gabriela Chaves de Sousa Dinorah Gióia Martins Universidade Presbiteria Mackenzie Telefone: 2114-8451

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)

____________________________________, representante da instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,....... de ..............................de..................

________________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal

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14.2 ANEXO 2: CARTA DE CONSENTIMENTO DO SUJEITO DA CASA DE REPOUSO

CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA O presente trabalho pretende verificar a visão do idoso sobre qualidade de vida, além de sua auto-imagem e auto-estima. Os dados para o estudo serão coletados por meio de uma entrevista semi-dirigida com roteiro em anexo, que será gravada com a autorização do colaborador, e da aplicação do D.F.H. (Desenho da Figura Humana). Os instrumentos de avaliação serão aplicados pela pesquisadora responsável na Casa de Repouso e sua aplicação acarreta riscos mínimos aos sujeitos. Este material será posteriormente analisado, garantindo-se sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do local da coleta de dados. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum. Os dados coletados serão utilizados no Trabalho de Graduação Interdisciplinar de Gabriela Chaves de Sousa, aluna do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. ......................................................... .......................................................... Gabriela Chaves de Sousa Dinorah Gióia Martins Universidade Presbiteria Mackenzie Telefone: 2114-8451

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta.

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,....... de ..............................de..................

________________________________________

Assinatura do sujeito ou seu representante legal

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14.3 ANEXO 3: CARTA DE CONSENTIMENTO DO SUJEITO DO CENTRO DE REFERÊNCIA DO IDOSO

CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DE PESQUISA O presente trabalho pretende verificar a visão do idoso sobre qualidade de vida, além de sua auto-imagem e auto-estima. Os dados para o estudo serão coletados por meio de uma entrevista semi-dirigida com roteiro em anexo, que será gravada com a autorização do colaborador, e da aplicação do D.F.H. (Desenho da Figura Humana). Os instrumentos de avaliação serão aplicados pela pesquisadora responsável no Centro de Referência do Idoso e sua aplicação acarreta riscos mínimos aos sujeitos. Este material será posteriormente analisado, garantindo-se sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes, bem como a identificação do local da coleta de dados. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento, sem prejuízo algum. Os dados coletados serão utilizados no Trabalho de Graduação Interdisciplinar de Gabriela Chaves de Sousa, aluna do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. ......................................................... .......................................................... Gabriela Chaves de Sousa Dinorah Gióia Martins Universidade Presbiteria Mackenzie Telefone: 2114-8451

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a) ________________________________, sujeito de pesquisa, após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO DA PESQUISA, ciente dos serviços e procedimentos aos quais será submetido, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em participar da pesquisa proposta.

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal podem, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,....... de ..............................de..................

________________________________________ Assinatura do sujeito ou seu representante legal

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14.4 ANEXO 4: ENTREVISTA SEMI-DIRIGIDA 1) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Idade: ___ 3) Estado Civil: ______________ 4) Com quem mora? 5) Possui filhos? Quantos? 6) Com que frequência encontra seus familiares? Quais familiares? 7) Exerce algum tipo de trabalho? 8) Como ocupa seu tempo livre? 9) Do que gosta mais no seu dia-a-dia? E do que gosta menos? 10) O que é qualidade de vida para você? 11) Como é a sua qualidade de vida?

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14.5 ANEXO 5: MODELO DE INQUÉRITO DO D.F.H.

- Esta pessoa é um homem ou uma mulher?

- Quantos anos tem?

- Quem é ele(a)?

- É parente, amigo ou o que?

- Em que você estava pensando enquanto estava desenhando?

- O que ele(a) estava fazendo?

- O que ele(a) está pensando?

- Como ele(a) se sente?

- Em que a pessoa te faz pensar ou lembrar?

- Esta pessoa está bem?

- Como está o tempo nesse desenho?

- Do que essa pessoa mais precisa?

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14.6 ANEXO 6: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS E D.F.H. DOS SUJEITOS DA CASA DE REPOUSO

N.C., sexo feminino, 91 anos, solteira, 1 filho (falecido)

Entrevista:

- Qual é a sua idade?

Eu tenho 91. Eu tenho muita idade.

- Estado civil?

Sou solteira.

- A senhora teve filhos?

Não. Eu tive um filho, já há muitos anos. Já vai há mais de quinze anos. Ele morreu.

- Algum parente da senhora te visita aqui?

Eu tenho a Maria da Lurdes. Não sei se conhece. Ela á casada com o Jair Rocha. Ela mora

no Rosário. Mas ela agora está muito doente.

- Ela é parente da senhora?

Ela é minha prima.

- Aqui a senhora faz o que no seu tempo livre?

O trabalho?

- É.

Ah, não faço nada. Se me chamam para ir no salão fazer alguma coisa, eu vou. De resto,

não saio daqui.

- Que tipo de coisa a senhora faz lá?

É... fazia colares, brincos. Um trabalho muito esquisito.

- Fora isso, a senhora assiste televisão, faz outra coisa?

Não posso assistir. Eu tive glaucoma na vista e agora não posso mais ficar na televisão. Não

assisto nada.

- Então, no resto do dia a senhora faz o que?

Fico na cama e jogo dominó.

- Tem bastante gente que joga aqui?

Só eu e ela, a Dona Maria. Ninguém joga, não querem aprender.

- Daqui o que a senhora mais gosta no dia?

Não, eu aqui sou franca. Está muito enjoada. A comida agora já não está agradável.

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- E do que a senhora gosta menos?

Do que eu gosto menos? É de levantar cedo. Às 6h30 já estamos a levantar.

- O que acha que é qualidade de vida para a senhora?

Eu acho que a gente tem que ter umas atividades. Para agir e passear, mas não tem.

- E como a senhora considera a sua qualidade de vida?

Dar uns passeios.

- Mas como a senhora acha que está agora? Tá boa, tá ruim?

Não. Agora está ruim. Dizem que vamos para a praia agora não sei quando.

- Mas sempre tem passeio ou não?

Não. Não tem passeio. Muito raro.

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