pensamento pedagógico brasileiro

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Pensamento pedagógico brasileiro. Moacir Gadotti. Professor da Universidade de São Paulo, Moacir Gadotti apresenta nesse livro várias sistematizações teóricas existentes no Brasil, a partir de diferentes estudiosos, que tecem o significado do pensamento pedagógico brasileiro. Em linhas gerais, o autor enfoca o papel do educador, da escola, da formação e do saber, hoje, em nossa realidade. Quais os valores, objetivos e ideologias que permeiam o ato de educar? O que se entende por democratização da educação? Em sua visão, essas questões estão intimamente relacionadas a temas como a educação enquanto ato político (ou “a pedagogia do oprimido”); a educação da classe; a educação popular; a educação do sistema; a paixão de conhecer o mundo; a “pedagogia dos conteúdos”; a educação e o poder; entre muitos outros, que o autor desenvolve no contexto educacional brasileiro. Entre tantos apontamentos, é válido ressaltar que, a obra fomenta discussões críticas em torno do pensamento pedagógico brasileiro à luz da pedagogia progressista, que pressupõe o processo democrático, propondo uma análise crítica do sistema capitalista e sustentando as finalidades sociopolíticas da educação. Defende, portanto, a autonomia, equidade e inclusão. O livro é organizado em nove capítulos, sendo eles: 1 – A teoria da educação brasileira.

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Pensamento pedagógico brasileiro

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Pensamento pedaggico brasileiro. Moacir Gadotti. Professor da Universidade de So Paulo, Moacir Gadotti apresenta nesse livro vrias sistematizaes tericas existentes no Brasil, a partir de diferentes estudiosos, que tecem o significado do pensamento pedaggico brasileiro.

Em linhas gerais, o autor enfoca o papel do educador, da escola, da formao e do saber, hoje, em nossa realidade. Quais os valores, objetivos e ideologias que permeiam o ato de educar? O que se entende por democratizao da educao? Em sua viso, essas questes esto intimamente relacionadas a temas como a educao enquanto ato poltico (ou a pedagogia do oprimido); a educao da classe; a educao popular; a educao do sistema; a paixo de conhecer o mundo; a pedagogia dos contedos; a educao e o poder; entre muitos outros, que o autor desenvolve no contexto educacional brasileiro.Entre tantos apontamentos, vlido ressaltar que, a obra fomenta discusses crticas em torno do pensamento pedaggico brasileiro luz da pedagogia progressista, que pressupe o processo democrtico, propondo uma anlise crtica do sistema capitalista e sustentando as finalidades sociopolticas da educao. Defende, portanto, a autonomia, equidade e incluso.O livro organizado em nove captulos, sendo eles:1 A teoria da educao brasileira.2 A educao como ato poltico: a pedagogia do oprimido.

3 Educao da classe, educao popular, educao do sistema.

4 O (des) prazer de ensinar e aprender.

5 A paixo de conhecer o mundo.

6 Crtica escola capitalista e democratizao do ensino.

7 A preocupao com a especificidade da educao: a pedagogia dos contedos.

8 Educao e poder: a pedagogia dos conflitos.

9 Advertncia final pensamento pedaggico brasileiro: unidade e diversidade.

A teoria da educao brasileiraAo longo da histria do Brasil houve mudanas na educao, sempre atreladas questo do poder. Desde a colonizao, os caminhos educacionais tm sido norteados por uma minoria dominante, embora perpassados pela luta da maioria em prol da igualdade, justia e democracia. Neste cenrio, tantas e diferentes tendncias pedaggicas vm permeando a nossa trajetria educativa. Contudo, duas delas so marcantes: a Pedagogia Liberal e a Pedagogia Progressista.A Pedagogia Liberal revela-se antidemocrtica, fechada e tradicional; focada nos interesses do sistema capitalista, prega o autoritarismo, a desigualdade e a excluso. Dessa forma, a educao est pautada nos moldes do Estado e no tem interesse de fazer o indivduo pensar, tornando-o um ser alienado, pronto para absorver tudo que lhe imposto.A Pedagogia Progressista, por sua vez, pressupe o processo democrtico, propondo uma anlise crtica do sistema capitalista e sustentando as finalidades sociopolticas da educao. Defende, portanto, a autonomia, eqidade e incluso.Cada uma das tendncias acima citadas apresenta vertentes.A Pedagogia Liberal Tradicional constitui aquela na qual o indivduo mero receptor do conhecimento; a excluso se d porque o professor detm o ensino e a aprendizagem, sendo o nico dono do saber. J a Liberal Tecnicista busca robotizar os indivduos por meio de tcnicas e procedimentos, ou seja, direcion-los para atender as exigncias do Estado e, consequentemente, do mercado de trabalho.A vertente Renovada Progressista direciona a escola para atender as necessidades do alunado. No Brasil, ela ficou conhecida como Escola Nova; os intelectuais acreditavam no crescimento do pas atravs da educao, que, poderia, efetivamente, combater as desigualdades. A tendncia Renovada no-diretiva prope a escola como formadora da personalidade, do autoconhecimento e realizao pessoal; as relaes interpessoais como fator de superao para aqueles que se encontram margem e ao centro do sistema.Na Pedagogia Progressista Libertadora, defendida por Paulo Freire, o saber ensinar no significa transferir conhecimento, mais criar possibilidades para o desenvolvimento da conscientizao; a escola deve ser um espao de luta coletiva para reavaliar a realidade, propondo o dilogo e a problematizao. J a Progressista Libertria, prope a autogesto, onde o estudante deve ser preparado para se tornar um agente transformador, revolucionando a sociedade capitalista. Por fim, a Progressista Histrica critica, tambm conhecida por Pedagogia Crtico-social dos Contedos, institui o pensamento crtico do excludo, a seleo de contedos significativos que propiciem a incluso social.2 A educao como ato poltico: a pedagogia do oprimidoPara Gadotti, a Pedagogia do Conflito no constitui uma teoria, tal qual, mas, sim, uma prtica pedaggica que procura desocultar o conflito reinante no mundo capitalista mediante o exerccio de uma filosofia crtica.Neste sentido, Gadotti apresenta o conflito como caminho de embate para se chegar a um denominador comum, ou seja, um caminho para desmitificar a ideologia dominante e fortalecer a educao dos oprimidos.Uma dessas colises de ideias centra-se na prpria educao contra si mesma. Segundo ele, lutar contra o analfabetismo, que para o nosso pas implica no saber ler nem escrever, vai muito alm da mera decodificao de letras e palavras. A minoria dominante no tem interesse em tornar o ato educativo como uma interpretao da realidade, pois o ato de alfabetizar implicar conhecer o mundo que nos cerca. Assim, o processo pedaggico tem sido uma luta contra a educao dominante, o que constitui um conflito, um embate.Esta pedagogia do colonizador, contrria pedagogia a qual conhecemos como progressista, que oportuniza ao estudante uma reflexo crtica do mundo no qual est inserido, ainda permeia as nossas salas de aula. Da, a educao deve ser repensada, abolindo-se as imposies do aparelho repressivo estatal, que est atrelado aos interesses do capitalismo. A poltica neoliberal objetiva demandar profissionais para atender as necessidades do mercado capitalista, tendo a periferia enquanto corpo braal. Por isso mesmo, a educao dominante canaliza esforos para a dominao das massas, o controle efetivo do pensar, do conhecer, do fazer.Gadotti apresenta uma similaridade com a Pedagogia Libertadora de Paulo Freire; os dois concordam que nenhuma pedagogia neutra; toda ao educativa pressupe uma ao poltica, o que implica dizer que os profissionais da educao devem atentar para suas convices: concordar com o sistema capitalista ou enfrentar suas disparidades; lutar contra os interesses da educao dominante ou defender a alfabetizao dos oprimidos.O professor, o pedagogo e outros profissionais da educao tm o papel de incomodar e coordenar debates, pois exercem as funes de pensador critico e formador de opinies. Talvez, por isso mesmo, o descaso e a perseguio com os trabalhadores educacionais, que, de certo modo, ameaam os desmandes do Estado, a ideologia vigente.Segundo Gadotti (...) a pedagogia do conflito, portanto, pretende mostrar, que no existe uma educao neutra e que toda vez que o educador evita a questo poltica da educao, a vinculao entre ato poltico e o ato educativo, est defendendo certa poltica, camuflando, ingenuamente ou conscientemente, essa vinculao.Quando Gadotti relaciona educao e poder, ele introduz questionamentos para repensarmos de que forma podemos fazer a diferena, em meio a pedagogia dita como certa, a educao dominante, que beneficia, unicamente, a burguesia dominante, interessada em continuar ditando as regras. Com isso, faz-se necessrio refletirmos e combatermos aos desmandos institudos pela sociedade capitalista, muitas vezes velados. Parece-nos que a educao um jogo de poder e, se assim for, no tem neutralidade. Sendo assim, se no nos posicionarmos, estamos, de alguma forma, assumindo uma posio partidria, contribuindo, seja l como for, para a permanncia da dominao, opresso e excluso.3 Educao da classe, educao popular, educao do sistemaGadotti apresenta esse tpico ressaltando a semelhana dessa corrente ideolgica com a de Paulo Freire, identificando a Educao Popular como o ato de participao popular, que nessa perspectiva representaria o progresso da humanizao.O autor retoma as ideias de Carlos Brando para fazer a distino dessa Educao em trs subitens. A saber:

1 a educao de classe, entendida como os processos no-formais de reproduo dos diferentes modos de saber das classes populares. Em outras palavras, ocorre na classe popular, mas que no se d de modo formalizado.2 a educao popular como processo sistemtico de participao na formao, fortalecimento e instrumentalizao das prticas e dos movimentos populares com o objetivo de apoiar a passagem do saber popular ao saber orgnico, ou seja, do saber da comunidade ao saber de classe na comunidade. voltada para as necessidades e interesses da classe trabalhadora. Exemplo: Movimento Sem Terra.

3 a educao do sistema (oficial), isto , os programas de capacitao de pessoas e grupos populares, sob o controle externo, visando produzir a passagem dos modos populares de saber tradicional para modelos de saber modernizado, segundo os valores dos plos dominantes da sociedade. Isto , busca reproduzir, atravs da domesticao, a lgica do sistema capitalista, servindo aos interesses da classe dominante. Para Carlos Brando, a educao do sistema conduz reproduo do poder dominante.4 O (des) prazer de ensinar e aprenderPara falar dos processos metolgicos que permeiam a educao escolar, Gadotti faz uma interessante distino entre o professor e o educador, advertindo que ambos so componentes mesclados no profissional da educao.O professor pode ser comparado (metaforicamente) rvore, que pode ser facilmente substituvel, que coloca a funo acima da pessoa, submisso ao papel social da profisso e controlados pelo sistema.

J o educador tem amor e paixo pelo que faz e enxerga o aluno como ser total, com todas as suas caractersticas: fsicas, sociais, econmicas, emocionais, enfim, possui uma viso global de educao escolar.Esse profissional no reproduz discursos e ideias prontas, mas, ao contrrio, chama para a conscincia e motiva para a existncia (participativa).

Para o educador a alegria tem um valor progressista e o otimismo considerado uma arma revolucionria, ideia essa oposta antiga escola crist, que considerava ( e se conformava) o mundo um lugar de corrupo.

Gadotti recorre a Rubem Alves para tecer crticas conduta de alienao reproduzida pela escola frequentemente. Na busca de superao desse fenmeno, o autor referenciado adverte para as funes bsicas do educador:

1 Funo crtica: os dogmas tem de ser transformados em dvidas, as respostas em questionamentos, os pontos de chegada em pontos de partida.

2 Funo criativa: o educador um criador de utopias, um indicador de horizontes utpicos, novas formulaes e novas snteses.

Ainda recorrendo a Rubem Alves, o autor, adverte sobre a essencialidade da escola no processo desalienao do homem. Esse espao educativo deveria cumprir a funo de motivar a fala e o prazer.

Mas, em oposio a isso, a escola, muitas vezes emburrece os alunos. O autor utiliza a metfora do Pinquio, que desejando se tornar um menino de verdade, busca a escola para se humanizar. J no modelo de escola tradicional, os meninos entram em forma de humanos, mas saem como bonecos de pau.

Rubem Alves tambm um crtico da religio e de qualquer educao controladora, que prive as pessoas do direito de falar e expor os seus pensamentos.

Em sntese, os autores em pauta afirmam que s se aprende quando se ama o que se estuda. No entanto, o capitalismo adia esse prazer em prol dos benefcios do capital. escola caberia superar essa realidade e promover uma educao mais humanizadora.5 A paixo de conhecer o mundoNesse captulo, Gadotti retoma as consideraes de Madalena Freire, que adverte para o fato de que possvel introduzir o dilogo na escola, mesmo quando as crianas ainda so pequenas, sem desvincular o conhecer e o viver.

Para Madalena Freire o ato de conhecer to vital como comer ou dormir, e eu no posso comer ou dormir por algum. A escola em geral tem esta prtica, a de que o conhecimento pode ser doado, impedindo que a criana e, tambm, os professores o construam. S assim a busca do conhecimento no preparao para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E vida que precisa ser resgatada pela escola.

A respeito do processo de alfabetizao na pr-escola, essa autora, introduz a discusso reiterando apontamentos j mencionados, que se referem ao fato de que o ensino no transmitido e sim (re) construdo continuamente. Nessa perspectiva, o professor atua como mediador da construo do conhecimento. Tais ideias assemelham-se s consideraes abordadas por Emlia Ferreiro.

A saber, a partir do vivido da criana, o educador pode planejar e organizar as atividades escolares sem perder a direo pedaggica e o seu papel organizativo. As atividades se configuram a partir dos interesses das crianas, da sua vivncia, para que o processo de construo do conhecimento e do afetivo, por exemplo, a alfabetizao e a construo de um sistema de representao (leitura e escrita), fluam naturalmente na vida da criana para que quando adulto, a vida possa fluir sem artifcios.Ademais, cabe aos professores o exerccio de se permitirem entender a espontaneidade dos alunos (crianas, jovens, adultos), enquanto condio possvel para desestabilizar uma pedagogia atrelada desde muito tempo autoridade, para reproduo homogeneizadora e, como campo de vigilncia sobre o tempo, o espao, o movimento, os gestos, para produzir corpos submissos, exercitados e dceis.

Ao assumir a docncia como ato poltico, algumas perguntas so imprescindveis: qual h de ser a funo do educador atual? Como romper com essa violncia chamada modernizao? Como no cair nas armadilhas do conhecer para no pensar, adquirir e reproduzir para no criar, consumir em lugar de realizar o trabalho de reflexo?

6 Crtica escola capitalista e democratizao do ensinoNesse captulo, o autor retoma fatos histricos que marcaram o processo de busca pela democratizao do ensino.

A saber, a questo da defesa da escola pblica, face aos interesses da classe dominante, desdobra-se envolvendo a luta entre liberais (conservadores ou progressistas) e revolucionrios.

Os liberais, defensores da Escola Nova e, tambm, ardorosos defensores do ensino pblico, durante as dcadas de 20 e 30, confrontaram-se com os catlicos iniciando um antagonismo entre escolas pblicas e particulares,tornando-se mais evidente entre 1946 e 1961 eque se estende at os dias de hoje, com a discusso da Lei de Diretrizes e Bases.

Alguns autores, defensores da escola nova, saram em defesa da escola pblica em prol da expanso e da melhoria da escola pblica, gratuita e de qualidade para todos. Escola pblica democrtica aquela que oportuniza o acesso aos conhecimentos culturais de forma igual para todos.

Com a intensificao da luta popular da escola pblica, nas dcadas de 50 e 60, contrapondo-se j nessa poca aconcepo liberale aconcepo popular operria, alguns autores reivindicam uma revoluo educacional, revendo uma mudana de mentalidade e de hbitos pedaggicos para o alcance de uma democratizao efetiva da educao. Para Florestan, a educao pblica o nico instrumento eficaz de democratizao do ensino, especialmente no que concerne a distribuies mais equitativas das oportunidades educacionais.

Com o apoio do governo s escolas privadas, liberais e catlicos (duas faces representantes da burguesia) contrapem-se concepo popular que aspirava ao investimento exclusivo do governo na escola pblica o que acabou no acontecendo devido deciso do presidente da repblica. Acarretando no predomnio dos ideais da burguesia nos legando at os dias de hoje uma escola pblica a servio dos ideais burgueses.

Darcy Ribeiroaponta o governo militar, no perodo da ditadura, como o responsvel pelo fracasso na educao. Esse governo no tinha a educao como prioridade, at porque a ignorncia da classe dominada lhes servia aos propsitos de dominao e subservincia.7 A preocupao com a especificidade da educao: a pedagogia dos contedos.

Nesse captulo Godotti disserta sobre o que chama de pedagogia dos contedos. Para isso, recorre as ideias deJos Carlos Libneo. Essa pedagogia est fundamentada na crtica pedagogia tradicional e a pedagogia da escola nova. Segundo Libneo a pedagogia tradicional peca ao centralizar no professor, enquanto a escola nova fracassa ao ter como preocupao central apenas o aluno.

A pedagogia dos contedos, ou crtico-social dos contedos, tem como escopo a transmisso e a assimilao dos contedos, estes minuciosamente selecionados com vistas ao desenvolvimento de uma conscincia crtica dos sujeitos.

Libneo utiliza elementos das duas pedagogias no-crticas (tradicional e escolanovista) Pedagogias Liberais para elaborar a pedagogia crtico-social dos contedos. Fazendo aluso teoria da curvatura da vara, enunciada por Lnin, e considerando que a tendncia para o lado da pedagogia da existncia (tradicional), acredita que puxando para o outro lado (pedagogia nova), em um dado momento ir se estabelecer um equilbrio.

O texto tambm aborda a questo de como a classe dominante opera atravs da elaborao do senso comum, aceito pela maioria das camadas sociais, uma concepo de mundo hegemnica universalizada e organizada, de modo a impedir que a classe dominada se organize e reverta a situao. A mentalidade popular que representa os interesses da classe dominada desorganizada, fragmentada, incoerente, desarticulada, implcita, degradada, mecnica, passiva e simplista. Para o autor, a educao realizar seu papel revolucionrio na medida em que elevar o nvel cultural das massas.Para o autor, a concepo hegemnica (dominante) atua sobre a mentalidade popular, articulando-a em torno dos interesses de dominao e impedindo a expresso elaborada dos interesses populares e a prpria organizao das classes subalternas.As reflexes deDermeval Saviania respeito da educao so apontadas aqui quando se prope a falar sobre as relaes entre a educao e a poltica. Saviani, ao falar sobre a questo da marginalidade das classes menos favorecidas na educao, divide as teorias educacionais em duas vertentes: teorias no-crticas (pedagogias tradicional, nova e tecnicista) e teorias crtico-reprodutivistas, nesta ltima cita algumas teorias que tiveram grande repercusso, como ateoria do sistema de ensino enquanto violncia simblica: sustenta que a ao pedaggica uma imposio arbitraria da cultura (tambm arbitraria) dos grupos ou classes dominantes aos grupos ou classes dominadas; teoria da escola enquanto aparelho ideolgico de Estado: sustenta que a escola representa o instrumento mais acabado de reproduo das relaes de produo de tipo capitalista; e finalmente, ateoria da escola dualista: cujos autores se empenham em mostrar que a escola, em que pese a aparncia unitria e unificadora, uma escola dividida em duas ( e no mais do que duas) grandes redes, as quais correspondem diviso da sociedade capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado.

8 Educao e poder: a pedagogia dos conflitosGodotti segue as discusses do livro reiterando que, historicamente, a classe operria ou classe subalterna brasileira nunca foi significativamente representada em participaes populares.

O que ocorreu no perodo de 1930 a 1064, mediante industrializao, foi a ascenso de um movimento populista (poltico) que buscava o apoio popular para o exerccio do poder.

Nesse momento histrico, duas faces de classe mdia, militares e tecnoburocratas, por meio de um golpe do Estado, passaram a exercer o poder, sem nenhuma aspirao popular. Dominadas por uma ideologia de potncia emergente realizaram uma vasta modernizao estatal, a fim de controlar e manter o poder sem nenhum consentimento popular.Na esfera educacional, as formas de controle e manuteno do poder das classes dominantes sempre foi uma realidade. Embora garantido por lei o direito educao pblica e gratuita nas oitos sries do Ensino Fundamental, uma parcela expressiva da populao no consegue obter a concluso de seus estudos. Alm disso, o fracasso escolar (mesmo dos alunos frequentes) nunca conseguiu ser superado. Na viso do autor, concordando com Paulo Freire, a educao escolar deveria ser fundamentada na Pedagogia da Comunicao fundada numa concepo de homem em que tanto o aluno quanto o professor so entes inacabados, e, um precisa do outro para avanar.Nessa perspectiva dialgica, a pedagogia deveria ser imbuda de amor, simpatia, amizade, encontro com os alunos, em prol da libertao de qualquer forma de controle.

Por isso, a Educao Permanente deve ser levada a srio, pois ela nos diz que o homem nunca deixa de tornar-se homem.

Mas, conforme Gadotti, possvel o dilogo em uma sociedade do conflito? Uma Pedagogia do Conflito supe no s uma dialtica da sociedade (a explicao dos mecanismos de dominao e explorao), mas, igualmente uma dialtica do indivduo, que implica uma tica da esperana. No se pode construir uma dialtica baseada numa tica burguesa, os pressupostos so outros.O compromisso , portanto, no apenas social, tambm pessoal.A coerncia uma caracterstica bsica dessa pedagogia. Trata-se, portanto, de dimensionar a dialtica do indivduo no contexto da transformao revolucionria, necessariamente coletiva e a caminho da liberdade.

9 Advertncia final pensamento pedaggico brasileiro: unidade e diversidade.Moacir Gadotti oportuniza uma reflexo crtica sobre o nosso fazer pedaggico, que, quer queiramos ou no, tambm filosfico.Refletindo sobre a nossa prtica, podemos vislumbrar os caminhos que pretendemos seguir, tomando decises conscientes de como conduzir o processo ensino e aprendizagem.Assim, entende-se que as concepes de escola, que norteiam as nossas aes pedaggicas, pressupem uma ao poltica. Assumir uma filosofia crtica da educao significa assumir uma prtica pedaggica reflexiva, capaz de romper os liames da educao burguesa dominante no Brasil.Gadotti finaliza o livro falando que o pensamento pedaggico atual se encontra em uma encruzilhada entre as concepes da pedagogia liberal conservadora e a pedagogia progressista popular.