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BIOLOGIA O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA Território é um conceito que pode aparecer associado a vários elementos, sejam eles de ordem biológica ou de ordem social, política ou económica. Leia os significados dessa palavra que aparecem no dicionário Aurélio: Território: l. Extensão considerável de terra; torrão. 2. A área de um país, ou estado, ou província, ou cidade etc. 3. Nos EUA, região que não constitui Estado e é administrada pela União. 4. Base geográfica do Estado sobre a qual ele exerce a sua soberania, e que abrange solo, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías e portos. Fonte: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Edição eletrônica. Curitiba: Positivo, 2009. Na Biologia, uma das formas de se referir ao território é como uma área dominada por uma de- terminada espécie animal. Como exemplo, podemos citar o território de um leão, em uma savana, ou de uma onça, na floresta. Na Antropologia, o território pode estar associado à área vivida por uma comunidade indígena, na qual ela sobrevive e mantém sua cultura. Já na Geografia, é comum se referir ao território no sentido político-administrativo, ou seja, relacionado aos limites espaciais de um país, estado ou município. Ao observar as imagens da abertura do capítulo, portanto, é possível verificar diferentes represen- tações de território. Há o território de um país (Angola), de um grupo indígena do Parque Indígena do Xingu (os Kalapalo) e o de um grupo de animais (leões). As duas primeiras representações de território são as que mais interessam nos estudos geográficos, pois decorrem das relações e ações da sociedade e sua apropriação do espaço. Neste capítulo, analisaremos algumas concepções geográficas de território e formas como esses territórios se expressam efetivamente no espaço geográfico. Nas Ciências Sociais, de modo geral, o território é definido pelas relações entre um grupo ou so- ciedade e o espaço. De acordo com alguns pesquisadores, essas relações são mediadas pelo poder, enquanto outros estudiosos afirmam que são as ações culturais que as norteiam. Ao longo da história, estabeleceram-se debates sobre o conceito de território envolvendo diversas áreas de conhecimento, como a Sociologia, a Geopolítica, a História, a Economia e a Geografia. Para o geógrafo Rogério Haesbaert, é importante compreender as várias abordagens e concepções sobre o território: • a concepção naturalista compreende duas definições de território: uma estabelecida pelos animais, como vimos no exemplo no início deste capítulo, e outra que envolve o comporta- mento "natural"dos homens. Nela há, assim, importante relação entre Geografia e Biologia, pois compreende-se o território em uma perspectiva que transpõe o darwinismo para as análises sociais - o chamado darwinismo social; • a concepção económica entende o território como fonte de recursos, ou seja, uma área estabe- lecida que garante os recursos necessários à (re)produção material de um grupo social. Nessa perspectiva económica, destacam-se as análises do geógrafo brasileiro Milton Santos. Segundo esse estudioso, para aqueles que têm o poder económico e político, o território constitui-se como um conjunto de recursos a serem explorados de acordo com seus interesses particulares; para os que não têm, ele constitui um abrigo, onde se busca uma adaptação constante ao meio geográfico, ao mesmo tempo que se recriam estratégias que garantam a sobrevivência;

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Page 1: O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA Xingu (os Kalapalo) e o de um grupo de animais (leões). As duas primeiras representações de território são as que mais interessam nos estudos

BIOLOGIA

O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA

Território é um conceito que pode aparecer associado a vários elementos, sejam eles de ordem

biológica ou de ordem social, política ou económica. Leia os significados dessa palavra que aparecem

no dicionário Aurélio:

Território: l. Extensão considerável de terra; torrão. 2. A área de um país, ou estado, ou província,

ou cidade etc. 3. Nos EUA, região que não constitui Estado e é administrada pela União. 4. Base

geográfica do Estado sobre a qual ele exerce a sua soberania, e que abrange solo, rios, lagos, mares

interiores, águas adjacentes, golfos, baías e portos.

Fonte: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.Edição eletrônica. Curitiba: Positivo, 2009.

Na Biologia, uma das formas de se referir ao território é como uma área dominada por uma de-

terminada espécie animal. Como exemplo, podemos citar o território de um leão, em uma savana,

ou de uma onça, na floresta. Na Antropologia, o território pode estar associado à área vivida por

uma comunidade indígena, na qual ela sobrevive e mantém sua cultura. Já na Geografia, é comum

se referir ao território no sentido político-administrativo, ou seja, relacionado aos limites espaciais

de um país, estado ou município.

Ao observar as imagens da abertura do capítulo, portanto, é possível verificar diferentes represen-

tações de território. Há o território de um país (Angola), de um grupo indígena do Parque Indígena

do Xingu (os Kalapalo) e o de um grupo de animais (leões). As duas primeiras representações de

território são as que mais interessam nos estudos geográficos, pois decorrem das relações e ações

da sociedade e sua apropriação do espaço.

Neste capítulo, analisaremos algumas concepções geográficas de território e formas como esses

territórios se expressam efetivamente no espaço geográfico.

Nas Ciências Sociais, de modo geral, o território é definido pelas relações entre um grupo ou so-

ciedade e o espaço. De acordo com alguns pesquisadores, essas relações são mediadas pelo poder,

enquanto outros estudiosos afirmam que são as ações culturais que as norteiam.

Ao longo da história, estabeleceram-se debates sobre o conceito de território envolvendo diversas

áreas de conhecimento, como a Sociologia, a Geopolítica, a História, a Economia e a Geografia. Para

o geógrafo Rogério Haesbaert, é importante compreender as várias abordagens e concepções sobre

o território:

• a concepção naturalista compreende duas definições de território: uma estabelecida pelos

animais, como vimos no exemplo no início deste capítulo, e outra que envolve o comporta-

mento "natural"dos homens. Nela há, assim, importante relação entre Geografia e Biologia, pois

compreende-se o território em uma perspectiva que transpõe o darwinismo para as análises

sociais - o chamado darwinismo social;

• a concepção económica entende o território como fonte de recursos, ou seja, uma área estabe-

lecida que garante os recursos necessários à (re)produção material de um grupo social. Nessa

perspectiva económica, destacam-se as análises do geógrafo brasileiro Milton Santos. Segundo

esse estudioso, para aqueles que têm o poder económico e político, o território constitui-se

como um conjunto de recursos a serem explorados de acordo com seus interesses particulares;

para os que não têm, ele constitui um abrigo, onde se busca uma adaptação constante ao meio

geográfico, ao mesmo tempo que se recriam estratégias que garantam a sobrevivência;

Page 2: O CONCEITO DE TERRITÓRIO NA GEOGRAFIA Xingu (os Kalapalo) e o de um grupo de animais (leões). As duas primeiras representações de território são as que mais interessam nos estudos

a tradição jurídico-política associa território ao Estado. Entre os autores que defendem essa

concepção, destaca-se o geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904), para quem o território

é um espaço definido pelo controle político de uma determinada área (leia o boxe a seguir);

a perspectiva idealista analisa o uso do espaço vivido e as relações culturais que nele se es-

tabelecem. Entende-se que os laços com o território são mediados pelos valores materiais e

também pelos culturais, espirituais, simbólicos, afetivos, e pela noção de pertencimento. Nessa

concepção utiliza-se mais a expressão territorialidade, e não território.

Per f i l

Friedrich Ratzel

Um revigoramento do processo de sistematização daGeografia vai ocorrer com as formulações de FriedrichRatzel. Este geógrafo alemão publica suas obras no últi-mo quartel do século XIX. Enquanto Humboldt e Rittervivenciaram o aparecimento do ideal de unificação alemã,Ratzel vivência a constituição real do Estado Nacionalalemão e suas primeiras décadas. A Geografia de Ratzelfoi um instrumento poderoso de legitimação dos desígniosexpansionistas do Estado alemão recém-constituído.

A Geografia proposta por Ratzel privilegiou o ele-mento humano e abriu várias frentes de estudo, valori-zando questões referentes à História e ao espaço, como:j formação dos territórios, a difusão dos homens noglobo (migrações, colonização etc.), a distribuição dospovos e das raças na superfície terrestre, o isolamento esuas consequências, além de estudos monográficos dasáreas habitadas. Tudo tendo em vista o objeto central queseria o estudo das influências que as condições naturaisexercem sobre a evolução das sociedades.

[...] Os discípulos de Ratzel radicalizaram suas colo-cações, constituindo o que se denomina "escola determi-nista" de Geografia. Os autores dessa corrente partiramda definição ratzeliana do objeto da reflexão geográfica e

simplificaram-na. Orientaram seus estudos por máximas,como "as condições naturais determinam a História",ou "o homem é um produto do meio" - empobrecendobastante as formulações de Ratzel.

Fonte: MORAES, António Carlos Robert de. Geografia: pequena

história crítica. São Paulo: Hucitec, 1984. p. 53-58.

Diante da diversidade de abordagens sobre o território, é necessário pensar em uma proposta

que integre as contribuições citadas anteriormente, para que esse conceito não seja estritamentenatural, político, económico ou cultural.

Dessa forma, o território poderia ser entendido considerando-se as múltiplas relações de poder:

do poder material das relações político-econômicas ao poder simbólico das relações culturais. Apesar

de haver a possibilidade de ampliar esse conceito, muitos estudiosos ainda continuam a utilizaraquelas noções fragmentadas e separadas de território.

No entanto, ainda há um predomínio da ideia de território como um espaço definido e delimitado

a partir de relações de poder, em geral relacionado ao Estado Nacional, por exemplo, o territóriobrasileiro, paraguaio, nicaraguense, paquistanês, entre outros.

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PARAGUAI: POLÍTICO - 2010

ALÍO'PARAN,

ARGENTINA ~i COROlLLERA CAAGUAZlKAssunção^ Caacupé; Coronel

"*-• ' ' oudacK __^ Fonte: Geografia de Paraguay. Portal

paraguayo de notícias. Educação.PARAGUARÍ' • Caazapg--'—-"-*-->

....cAAZApA- / Disponível em: <http://www.ppn.com.py/html/servicios/futuro/

educacion/geografia_paraguay.

J^—— asp>. Acesso em: 18 jul. 2012.

Porém, como discutimos anteriormente, o conceito de território abarca mais do que o poder do

Estado Nacional, uma vez que todo espaço definido e delimitado a partir de relações de poder também

é um território. Isso pode ser visto desde um pequeno quilombo, área estabelecida pelas relações de

pertencimento, até uma organização supranacional, como a União Europeia.

Neste capítulo o conceito de território será abordado a partir de relações que delimitam um

espaço pela sociedade, mediadas por relações de poder, seja ele político, económico, cultural ou

simbólico.

EUROPA: FORMAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA - 1952-2007

Ano de adesão à UE

l l 1952

l l 19731981

19861995

[~~Í20042007

Fonte: União Europeia. Países. Disponível em: <http://europa.eu/about-eu/countries/indexjJt.htni>. Acesso em: 18jul. 2012.

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l UM TIPO DE TERRITÓRIO: OS ESTADOS NACIONAIS

Os Estados Nacionais constituem uma das formas de organização do território mais representa-

as em mapas políticos. Neste tópico, será analisado como essa forma de organização espacial se

ixistituiu na modernidade. Para tanto, mostraremos exemplos de países europeus, pois foi nesse

rntinente que se organizaram os primeiros territórios com as características de Estado-Nação.

Geralmente se tem a ideia comum de que os países são organizações"naturais"do espaço, tendo em

sta que seus limites muitas vezes são definidos por rios, montanhas, mares, entre outros elementos

a natureza. Outro fator que contribui para essa ideia é a crença de que os limites dos países estão

stabelecidos há muito tempo e, assim, seriam definitivos.

É preciso reconhecer que os países são organizações espaciais constituídas de relações sociais e,

esse modo, a dinâmica de suas transformações é estabelecida pela história dos povos que neles

wm e pelas relações desses povos com o espaço. Além disso, os limites de um país, que nem sempre

50 demarcados por elementos naturais, podem realmente ter sido conformados há muitos anos e

c= séculos, mas nem por isso são imutáveis, pois podem mudar no decorrer da história.

O Estado-Nação só se consolida no século XIX. Sua constituição está diretamente relacionada ao

esenvolvimento e à expansão do capitalismo na fase industrial. Esse modelo de organização do

soaco teve início na Europa Ocidental e, posteriormente, expandiu-se para o Oriente e mesmo para

s antigas colónias europeias, após os movimentos de independência.

As fronteiras do continente europeu: um pouco de história

Antes de se constituir como Estados-Nações, o espaço geográfico hoje conhecido como con-

snente europeu estava organizado de um modo muito diferente do que conhecemos atualmen-

•=. A organização dos povos gregos e romanos, que chegaram a ocupar terras além da Europa,

ãác exemplos de como esse espaço geográfico era organizado na Antiguidade (entre os séculos

' a.C.elVd.C).

Na Grécia Antiga, a cidade-Estado ou polis era uma for-

—è de organização territorial, autónoma e independente.

jz DS romanos constituíram um grande império, que

acrangia áreas dos três continentes conhecidos na épo-

3.0 império era tão extenso que, em certo momento,

se j território foi dividido entre Ocidente e Oriente, para

lue se pudesse viabilizar sua administração. Observe no

—apa da próxima página como era a organização desse

território. Compare-o com um mapa político atual da

Ejropa e observe como o aspecto e os limites territoriaisdesse continente foram transformados.

Os limites entre os territórios do Império Romano e

as partes não pertencentes a ele eram muito ténues,

pois era difícil estabelecer com precisão onde as áreas

3€ domínio iniciavam e onde terminavam efetivamente.

Geralmente, os grupos que eram conquistados e tinham

seus territórios dominados precisavam pagar impostos,porém, muitas vezes permaneciam vivendo conforme N° lmPéri° R°™"° -frança *Apostos era uma forma de

garantir certa unidade territorial. Na foto, moeda de prata do século l,seus costumes e sua Cultura. cunhada pelos romanos.

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IMPÉRIO ROMANO - SEC. II a.C.-SEC. Ill d.C.

[___J Territórios conquistados 200 anos a.C.

[____] Territórios conquistados 100 anos a.C.

[ Extensão do Império no princípio da E

[ ^ J Conquistas no século ! da Era Cristã

Conquistas ulteriores (Trajano, Severo

Fonte: SALLES, C. Larousse das civilizações antigas. Paris: Larousse, 2008.

r*Fronteiras e limites

Ampliando conceitos

Muito ouvimos falar de fronteira como algo que

separa um território do outro, ou mesmo uma região

da outra, como se fosse sinónimo de limite. Porém é

importante perceber que existe uma diferença entre

esses dois conceitos.

Enquanto o conceito de fronteira pressupõe aqui-

lo "que está na frente", sendo um fenómeno da vida

social que acontece de forma espontânea, o conceito

de limite busca denominar o fim daquilo que mantém

uma unidade político-territorial coesa.

A fronteira, diferentemente do que se pensa, não

consiste em uma ideia de fim, mas sim de começo, ou

seja, um lugar para onde se tende a expandir, sendo

possível perceber tal conotação quando falamos de

fronteira agrícola, fronteira tecnológica etc.

Já a ideia de limite se reforça e se estrutura com

base na concepção do Estado Moderno, em que há

por parte deste um controle efetivo (língua nacional

e moeda comum, sistema de impostos etc.) exercidopor um governo central.

Enquanto a fronteira é dinâmica e se encontra

orientada para fora, onde a presença social é funda-

mental, o limite é fixo, sendo, portanto, uma abstração

somente, determinada por lei ou acordos (internos e

externos), não estando ligado à presença de pessoas

para caracterizá-lo, sendo um elemento de separação

entre uma unidade territorial e outra.

Um exemplo atual para entender essa diferença

é a questão que envolve Brasil e Paraguai. Embora

os dois países estejam separados por um limite que

determina até onde vai o território de um e de outro,

sendo isso o que se visualiza em um mapa político, a

fronteira entre os dois países é algo mais dinâmico e

implica uma relação económica peculiar, em função

do interesse dos brasileiros em comprar produtos

paraguaios, vendidos a preços mais baixos que os

nacionais, levando a uma intensa mobilidade popu-

lacional na fronteira, onde se encontra a Ponte da

Amizade.

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Na Idade Média, outras formas de organização do espaço europeu foram estabelecidas, e não

existiam Estados da forma como os conhecemos na atualidade. Nem sequer existia a ideia de Europa

como a concebemos hoje. Naquela época havia reinos, principados, senhorios, condados ou ducados.

Observe no mapa a seguir como era a organização do espaço europeu na Idade Média. Compare-o

com o mapa dos respectivos países na atualidade.

55'A/ 20° O I. Faroe

* REINO DACONDADO/ -NORUEGA

DASÓRCAiíAS /# »

i REINO DA™«u« í J SUÉCIA;SCÓCIA

REINO DA

EUROPA - IDADE MEDIA40' L

DINAMARCA"í «LU. ri

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/"-"í; IMPÉRIO '----í; GERMÂNICO

Irlandeses

OCEANO t~-ATLÂNTICO \O DA /\ FRANÇA J ';

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CALIFADO-, ' BUnG,f0<-nmiAnA / X Gaeta^ ;\O iOMÍADA

. Amalfí |.\O DE.

M 3 ,

DO lOCIDENTE

DOMÍNIOS MUÇULMANOS

SALERNO ff

PRINCIPADO DE

"^^-x-, cis^ IMPÉRtoBIZANTINO

•3*,

PRINCIPADO DECÁPUA-BENEVENTO

370 740 kn

^ne. McEVEDY, C. Atlas de história medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Com o fim da Idade Média, o desenvolvimento de outras formas de governo, a expansão do

capitalismo e a ascensão da burguesia, a organização do espaço europeu passou a ter uma nova

configuração. Entre os séculos XV e XVIII, constituíram-se as monarquias e os regimes absolutistas

e, como consequência, uma nova organização territorial foi estabelecida. É nesse período que a

Inglaterra e a França, por exemplo, iniciam a consolidação de Estados absolutistas, com um controle

maior do Estado sobre o espaço e a definição de fronteiras.

No século XVII, os territórios de alguns países como França, Espanha, Portugal e Inglaterra, entre

outros, apresentavam uma configuração próxima à da atualidade. Porém, não se pode afirmar que

nesse período eles já tinham uma unidade cultural e linguística.

No caso das terras das atuais Alemanha e Itália não havia organizações territoriais com poder

centralizado; havia pequenos territórios fragmentados, com características de organização espacial

próximas ao do período medieval. Isso indica que a organização territorial dos Estados europeus não

se deu de forma regular, mostrando que a história não é linear para todos os países. Ao contrário: há

mudanças, avanços e retrocessos.

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EUROPA - SÉCULO XVII

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^ / ^ y^y^si^&JÍ*. l MBrcl°C^^^V^UBPs / Norte ^-,* \-.\ ;/ ,

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REINO -./r: SUÍÇA Sattborgò

DA l_^n-íff\x FRANÇA

^clo^—v_^ X - la^o , \„ Moidâ^ft ^~^ te Crimeia \ Mncipado i

""•a*** Império Ger nanico

Fonte: McEVEDY, C. Atlas de história moderna (até 1815). São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Mas o que é o Estado-Nação? O texto a seguir discute os significados de Estado e nação, e suas

implicações para a sociedade.

Ampliando conceitosl)A formação primitiva do Estado

O conjunto de instituições que exercem essas funçõesde legislar, executar e julgar em nome do conjunto doscidadãos de uma sociedade se chama Estado. Uma funçãoessencial e preliminar do Estado é a organização de sua de-fesa em relação às pretensões territoriais de outros Estadose assim garantir a sua soberania sobre o seu território e apopulação que nele habita. O Estado, ainda que em suas for-mas primitivas e de alcance pouco abrangente, é, portanto,essencial para a convivência pacífica dos diversos gruposde indivíduos que habitam um determinado território epara a defesa de seus interesses em confronto com outrascomunidades organizadas sob a forma de Estado. [...]

Nação em seu sentido político moderno é uma comu-nidade de indivíduos vinculados social e economicamen-te, que compartilham certo território, que reconhecema existência de um passado comum, ainda que divirjamsobre aspectos desse passado; que têm uma visão defuturo em comum; e que acreditam que esse futuro serámelhor se se mantiverem unidos do que separados, ainda

Fonte: GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Nação

que alguns aspirem modificar a organização social danação e seu sistema político, o Estado.

Nesse sentido, é possível falar de uma nação brasileira,de uma nação mexicana, de uma nação indiana, de umanação norte-americana, e assim por diante, ainda que gru-pos sociais dentro dessas nações possam ter interpretaçõesdiferentes de seu passado e aspirações distintas para seufuturo em comum, sem, todavia, que nenhum grupo sig-nificativo chegue a desejar e a lutar pela secessão.

Nacionalismo é o sentimento de considerar a naçãoa que se pertence melhor do que as demais. São mani-festações extremadas desse sentimento a xenofobia, oracismo e a arrogância imperial. Nacionalismo é, tam-bém, o desejo de afirmação e de independência políticadiante de um Estado opressor ou, quando o Estado jáse tornou independente, o desejo de assegurar em seuterritório um tratamento melhor dado pelo Estado, oupelo menos igual ao tratamento concedido ao estrangei-ro, seja ele pessoa física ou jurídica., nacionalismo, Estado. Estudos Avançados, Universidade de São Paulo,

São Paulo, v. l, n. l,p. 145,148-149,1987.

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O Estado-Nação resulta de processos históricos que se estabeleceram na Europa desde a cons-

tituição dos Estados absolutistas, e só assume a configuração atual na Europa e América entre os

séculos XVIII e XIX. É importante destacar ainda que, se de um lado, a constituição do absolutismoestá vinculada ao desenvolvimento inicial do capitalismo, de outro, as tentativas de definição detonteiras, a organização de um Estado centralizador e a constituição dos Estados Nacionais estão

apoiadas no capitalismo industrial.

• Estado-Nação: o exemplo da Alemanha

O caso da Alemanha é um bom exemplo de constituição de um Estado Nacional.

No fim da Idade Média, o que conhecemos hoje como Alemanha era uma reunião de mais ou-nenos trezentos principados, feudos eclesiásticos, reinos, cidades livres, entre outros. Eram unidades

teritoriais e políticas praticamente autónomas, de modo que não existia unidade entre elas, ou seja,

-ao existia um Estado centralizado, que controlasse ou comandasse tudo.Essas unidades apresentavam níveis de desenvolvimento económico distintos; algumas já estavam

içadas às atividades pré-capitalistas e outras ainda apresentavam características tipicamente feudais,

como a existência da servidão e da vassalagem. A Renânia e a Vestfália, por exemplo, mais próximasZc. Europa Ocidental, destacavam-se entre as que já desenvolviam o comércio e as primeiras formas

ré indústria. De outro lado, a Prússia e a Áustria constituíam monarquias absolutistas com grande

ceder militar e atreladas às tradições medievais.É somente no século XIX que a organização do espaço da Alemanha se configura de modo a obter

jna unidade nacional. Com o acordo feito entre as monarquias absolutistas europeias no Congresso

ae Viena, em 1815, foi constituída a Confederação Germânica, conforme se pode observar no mapa

a seguir, composta de 39 Estados soberanos, sob a hegemonia da Áustria.No entanto, não se pode afirmar que já havia um Estado centralizado, pois cada um dos membros

•zà confederação permanecia politicamente independente.

CONFEDERAÇÃO GERMÂNICA - 1815

DINAMARCA

Mar Báltico- v -,SCHLESWIG-

OLDEMBURGO -HÕtíTÊÍN ' f*~íí-úlseck \ -

i Hamburgo -••'ftx ; ""• ' »* M|CKLEMBUfíGO - -

^^ ,.-- :-... POMERANfA PRiXíiaÀ>. / S >Breme7V<—H;RELITz;: ooplm

Fronteiras da ConfederaçãoGermânica

Reino da Prússia

Império Austríaco

^__^ Estados germânicos foraj do controle prussiano ouaustríaco

Fonte: DUBY, George. Grand atlas historíque. Paris: Larousse, 2008.

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ALEMANHA - 1871

A liderança da Confederação era almejada pela Prússia, que, estando em uma etapa avançada do

desenvolvimento industrial, via na unidade política a possibilidade de desenvolvimento económico

e de ampliação do mercado. Desse modo, em 1834, a Prússia conduziu um processo de abolição das

barreiras comerciais existentes entre os Estados da Confederação.

Foi em 1866, porém, que o choque de interes-

ses entre Áustria e Prússia tornou-se insustentá-

vel. A disputa pelo poder de administração dos

territórios levou as duas potências a entrar em

uma guerra que ficou conhecida como Guerra

Austro-Prussiana, da qual a Prússia saiu vitorio-

sa. A Áustria então foi obrigada a ceder gran-

de parte de seu território à sua oponente. Em

1867, a Prússia organizou a Confederação Alemã

do Norte, provocando a dissolução da antiga

Confederação Germânica. Os esforços de seus

governantes estavam voltados ao estabelecimen-

to de condições favoráveis ao desenvolvimento

do capitalismo, de modo a consolidar o domínio

sobre áreas fornecedoras de matéria-prima e fon-

tes de energia.

Napoleão III, rei da França, temia a expansão do

poder prussiano sobre seu território. Após a bata-

lha de Sedan pela disputa do domínio da região

da Alsácia-Lorena, o temor de Napoleão foi então

concretizado, já que, tendo perdido a guerra, foi

obrigado a ceder a região à Prússia. Finalmente,

em 1871, com a proclamação do Império Alemão

e a coroação de Guilherme l imperador, constituiu-

-se a unificação nacional alemã.

É importante destacar que os diferentes gru-

pos sociais que viviam nesses territórios e traziam

identidades distintas tiveram de assumir uma

nacionalidade baseada nos ideais prussianos. A

Alemanha passou então a apresentar a organi-

zação territorial representada no primeiro mapa.

Após esse processo histórico, a Alemanha

teve seu território configurado e passou por um

desenvolvimento industrial significativo. Sua

derrota na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

e as disputas entre os países socialistas e capi-

talistas no pós-guerra resultaram na divisão do

território germânico e na criação de dois Estados

antagónicos, em 1949: a República Federal da

Alemanha (Alemanha Ocidental - RFA), capitalis-

ta, e a República Democrática Alemã (Alemanha

Oriental - RDA), socialista (ver mapa ao lado).

Fonte: DUBY, George. Grand atlús historique. Paris: Larousse, 2008.

ALEMANHA - 1967

^] Alemanha Oriental

^] Alemanha Ocidental

— Fronteiras externas

Limites internos

SUÉCIA

DINAMARCA?§?li. V

JdembuWJB- _-PomerâniaOcidental

/ Renânia do ::Norte-Vestfália/-,

Fonte: DUBY, George. Grandatlas historique. Paris: Larousse, 2008.

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O MURO DE BERLIM EM DOIS MOMENTOS HISTÓRICOS

A cidade de Berlim, capital da Alemanha antes da divisão e situada no lado oriental, também ficou

dividida em duas, cada parte pertencendo a uma Alemanha. Em 1961, o governo socialista ergueu

jm muro entre as duas áreas. Por essa razão, o Muro de Berlim é considerado um dos símbolos do

oeríodo que ficou conhecido como Guerra Fria (1945-1991), marcado por disputas indiretas entre

rs dois Estados hegemónicos da época: Estados Unidos e União Soviética.

Foi somente na década de 1990,

após a queda do Muro de Berlim,

que o território da Alemanha

chegou à configuração atual. A

AJemanha Ocidental incorporou

a Alemanha Oriental, de modo

que a constituição, o nome e os

s."nbolos da República Federal da

i.emanha foram mantidos. A anti-

ga República Democrática (RDA) foi

r^tão reorganizada e dividida em

z -co novos estados que compõem

: atual Estado alemão.

Como se pode observar, a cons-

rtuição de um Estado-Nação é

_n processo histórico complexo,

r nâmico, decorrente de fatores

sociais, económicos e políticos que

nplicam a definição de um terri-

tório e a relação entre sociedade

f espaço.

Atualmente, é possível falar de

nacionalidade alemã, fato que foi

_—ia realidade para os alemães em

um primeiro momento, a partir de

:" l, e, em um segundo momento,

a partir da década de 1990, quando

3 reunificação propiciou a ideia de

"acão e os cidadãos puderam com-

cartilhar o desejo de reconhecer um

rassado em comum.

Assim como o Estado alemão,

cada Estado-Nação da atualidade

apresenta o seu processo históri-

co de formação territorial. Agora

que você já conhece os conceitos

de território e de Estado-Nação,

procure identificar e analisar, nos

conteúdos estudados em História,

as particularidades dos processos

de formação territorial de outros

Estados-Nações. Fonte: DUBY, George. Grand atlas historique. Paris: larousse, 2008.

O Muro de Berlim, um dos mais famosos e polémicos da história da humanidade, foi erguidoapós uma decisão política autoritária do governo da Alemanha Oriental e derrubado pela pressãopopular das "duas Alemanhas", 28 anos após sua construção. Na foto à esquerda, a construção domuro, em 1962. À direita, sua queda, em 1989.

ALEMANHA - APÔS 1989

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TERRITORIALIDADES

Como foi dito no início do capítulo, o espaço delimitado por um país é apenas um tipo de território.

Existem outras formas de organização e subdivisão territorial: o território brasileiro, por exemplo, é

subdividido em estados, e estes, em municípios.

Assim como o Estado-Nação, o estabelecimento de territórios em âmbito estadual ou municipal

resulta da história dos grupos sociais que os habitam, das relações económicas, culturais e políticas

que foram desenvolvidas ao longo do tempo. No caso brasileiro, muitos estados tiveram seus territó-

rios definidos ainda no período colonial. Outros, no entanto, apresentam uma história mais recente.

Países como Argentina e Espanha são divididos em províncias, que, por sua vez, são divididas em

municípios, e estes apresentam a cidade como centro administrativo.

Nas cidades, principalmente nas grandes áreas

urbanas, podem-se encontrar vários grupos de

jovens, como góticos, esqueitistas, emos, punks,

skinheads, hip-hop, entre outros, que são defini-

dos como tribos urbanas. Parte desses grupos

estabelece relações espaciais na cidade, definin-

do espaços de encontro, como praças, ruas ou

bairros, onde buscam expressar livremente suas

posições políticas, culturais ou ideológicas, por

meio do discurso, das vestimentas, dos adereços,

das músicas, da dança, do grafite etc. Dessa for-

ma, esses espaços podem ser identificados como

territorialidades desses grupos sociais.

Outro caso comum em áreas urbanas são as

territorialidades estabelecidas com base nas

relações espaciais definidas pela ocupação de

grupos específicos ligados à orientação sexual (homossexuais e bissexuais); à procedência (nordes-

tinos, bolivianos, entre outros); à identidade étnica ou religiosa (judeus, árabes, entre outros).

Grupo de esqueitistas na Praça Roosevelt, em São Paulo (SP), em 2012.

Loja voltada à comunidade judaica, próxima ao bairro de

Higienópolis, São Paulo (SP), em 2010. Nessa região estão

localizados várias sinagogas e vários centros de cultura

israelitas, evidenciando uma territorialidade religiosa.

Bandeiras com as cores do arco-íris, símbolo do movimento GLBT (gays, lésbicas,

bissexuais e transgêneros), na praia.de Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ) em 2009. A

presença dessa bandeira em locais públicos, bares, restaurantes e lanchonetes indica

territorialidade ligada à comunidade GLBT.

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No campo também existem diferentes territorialidades, estabelecidas por grupos indígenas, pelos

^jilombolas, pelos sem-terra, pelas comunidades tradicionais (pescadores, extrativistas, entre outras).

Esse assunto será aprofundado no capítulo 11 deste livro.A definição dessas territorialidades tem origem em relações distintas das que estabelecem o

Estado, que são instituídas e oficializadas por meio de uma legislação e de uma organizaçãosolítico-administrativa. O Estado apresenta soberania e é reconhecido como organização político-

-administrativa por outros países. Nos casos que discutimos anteriormente (que envolvem homosse-ruais, jovens, judeus, entre outros), as territorialidades são definidas com base em relações políticas,

culturais, afetivas ou simbólicas, e não são mediadas por uma instituição como o Estado; é o própriogrupo que define condutas, relacionamentos, posicionamentos políticos.

Vejamos o caso dos indivíduos ligados ao hip-hop, por exemplo. Esse movimento tem forte relação

on a cultura negra e se originou nos Estados Unidos. Uma forma de expressão da identidade e cultura-,z-hop é a música. Em geral, os compositores criam raps, cujas letras falam do dia a dia da periferia

e aos lugares de origem dos artistas. Assim, expressam a territorialidade do grupo, demarcada pelas~idições sociais e económicas e pela exclusão socioespacial das cidades. Observe nos trechos de

" a seguir como isso aparece.

À minha favela

Favela, ôFavela que me viu nascerEu abro meu peito e canto amor por vocêAmor e ódio e muita vida sem culpa de nada

Favela, ô (e o respeito por ela)Favela que me viu nascerSó quem te conhece por dentro pode te entender(e o respeito por ela).

Fonte: HOOD, Rappin. À minha favela. Intérprete: Rappin

Hood. In: Sujeito homem 2. São Paulo: Trama, 2005.

Interagindo

Fórmula mágica da paz

.] Quantas vezes eu pensei em me jogardaqui, mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho. A minha. :da é aqui e eu nãoconsigo sair. É muito fácil fugir, mas eu não vou. Não vourrair quem eu fui,quem eu sou. Eu gosto de onde eu vou e de onde eu vim,ensinamento dafavela foi muito bom pra mim.rada lugar um lugar, cada lugar uma lei, cada lei uma razão^. eu semprerespeitei, em qualquer jurisdição, qualquer área. JardimSanto Eduardo,Grajaú, Missionária. Funxal, Pedreira e tal, Joaniza.

Fonte: BROWN, Mano. Fórmula mágica da paz. Intérprete: Racionais MC's.

In: Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Cosa Mostra, 1997.

Após a leitura dessas letras de rap, responda:

1. É possível identificar algumas semelhanças em relação aos lugares descritos nas duas letras? Comente.2. O que identifica a relação dos autores com o lugar onde vivem?

3. Crie uma letra em forma de rap que fale da identidade e da realidade social do bairro ou da cidade ondevocê vive. Apresente-a aos colegas.

Outra forma de expressão são as"pichações", cujo objetivo é demarcar áreas da cidade e mostrar

a presença do grupo, ou seja, definir territórios. Em geral, os integrantes do hip-hop são vistos como

problema por parte da sociedade, pois "rabiscam" as paredes de edifícios e residências com deter-minadas letras que os identificam.

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Mural de grafite feito pelos artistas Otávio e Gustavo Pandolfo (Osgêmeos), Nina, Nunca, Zefix e Finok,

no centro de São Paulo (SP), em 2010.0 estilo desses grafiteiros sofreu influência do hip-hop e hoje

seus trabalhos - muitos deles contendo críticas sociais - são conhecidos internacionalmente.

Iníerdisciplinaridade-

Atualmente o grafite, que se

diferencia da pichação, é uma

das formas de expressão desse

movimento e busca mostrar o

pensamento do grupo para as

pessoas que passam pelas ruas

das grandes cidades. Muitos

grupos de hip-hop estão intrin-

secamente ligados aos lugares de

origem e utilizam a palavra posse

para se referir a essas áreas, onde

desenvolvem suas atividades.

As territorialidades das tribos

urbanas apresentam algumas

características em comum. Estão

apoiadas em uma dinâmica es-

pacial e temporal muito intensa,

e em alguns casos efémera. A

mesma área estabelecida por um

grupo pode, ao longo do dia, ter

usos e funções sociais diferentes. Um mesmo território, como uma rua ou um quarteirão, pode apre-

sentar diversas funções ao longo do dia; por exemplo, de manhã e à tarde desenvolvem-se atividades

comerciais e, à noite, passa a ser frequentado por uma dessas tribos. Essa área pode se expandir, caso

haja um aumento no número de integrantes, ou pode desaparecer, caso o grupo chegue ao fim ou

o movimento perca o sentido. Mas o que define o território é a marca que o grupo social expressa

por meio de suas identidades. O que definem as territorialidades são as identidades dos grupos.

Nas cidades, outros tipos de território são estabelecidos, por meio da prática de atividades margi-

nais. Por exemplo, para o uso de drogas, a prostituição e o tráfico de entorpecentes, selecionam-se

determinadas áreas da cidade, geralmente onde não há presença do poder público. Esses territórios

também apresentam características em comum: a exclusão social, a degradação urbana, a falta de

investimentos públicos, a desvalorização imobiliária. São situações que podem mudar se houver

medidas efetivas por parte de instituições ligadas à segurança pública, à educação e à saúde.

Às áreas de prostituição podem ser estabelecidas em ruas próximas a boates, avenidas beira-mar,

quarteirões das áreas centrais da cidade, entroncamento de estradas nas saídas ou entradas dascidades, entre outras.

O grave problema do uso de drogas no Brasil também tem definido territórios, o que vem preo-

cupando a sociedade. Geralmente os usuários de drogas ocupam áreas relativamente abandona-

das, onde há pouco interesse imobiliário e escassa ação policial. Daí resulta o surgimento de áreasdenominadas "crackolândia".

O consumo de crack, no Brasil, é um problema de saúde pública e é considerado uma endemia.

Em 2011, o Governo Federal lançou um programa voltado ao tratamento dos usuários de drogas,

aumentando o número de leitos hospitalares; à prevenção, levando informações a escolas e comu-nidades; e à repressão ao tráfico.

Por meio dos estudos sobre o território é possível compreender a realidade em que você vive,

assim como as realidades vivenciadas por outros grupos sociais. Caso você preste atenção em seu

bairro, cidade, país, verá que existem territórios e territorialidades, sejam eles estabelecidos pelas

identidades ou resultantes de processos de marginalização de grupos sociais.