território antigo - gecorpa

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No início, foi o fascínio pelas Arqueo- ciências de acordo com o modelo francês: o rosário de arqueo-discipli- nas importadas da História Natural que se procurava evocar fundamen- talmente nos bastidores da esca- vação de sítios pré-históricos. O vestígio geológico, botânico, zoológico como indicador do ambiente (eco- lógico / económico) do passado dos homens implicou o início da mon- tagem de colecções de referência de grãos de pólen, sementes, madei- ras, conchas, ossos, rochas e mine- rais e o início da sua investigação enquanto “eco-factos”, ampliando os conjuntos de objectos de interesse da Arqueologia, populados com os seus tradicionais “artefactos”. Os artefactos expressam os gestos domésticos de afeiçoamento e con- sumo local, mas os “eco-factos” fala- vam frequentemente de um espaço extra-sítio cuja compreensão foge em regra à lógica estrita do monu- mento, do habitat. Contextualizar de fora para dentro pareceu ser a boa opção! As noções de ecossistema e de pai- sagem acabaram por se impor e o programa foi beber às Ciências do Quaternário e sobretudo à Paleo- botânica, desta vez dando atenção às escolas norte-europeias. A pai- sagem e seus arquivos naturais da memória ecológica passaram a cons- tituir focos e temáticas de pesquisa. Ao contrário dos “arqueo-sítios”, onde é a casuística enviesada dos gestos antropogénicos construtivos 6 Pedra & Cal n.º 42 Abril . Maio . Junho 2009 Tema de Capa EM ANÁLISE e destrutivos que constrói a evi- dência material dos vestígios, numa trama heterogénea de referências espacio-temporais, os “paleo-sítios” preservam, em geral, matrizes de acumulação contínua associados a processos recorrentes de dispersão e sedimentação dos vestígios dos vários componentes do ecossistema. Ambos decorrem, maioritariamen- te, dos ciclos sazonais, quer dos regimes geofísicos, quer dos de pro- dução biológica, envolvendo meca- nismos sistematicamente regulares, não casuísticos. Estamos a falar dos depósitos das lagoas, dos pântanos fluviais, dos depósitos de vertentes, dos solos húmicos, das depressões cársicas… enfim, de tudo o que é “depressão”, “bacia” favorável pela gravidade e contenção à acumulação de materiais e que se opõe à lógica e devir dos cabeços, cumeadas, inter- flúvios de uma paisagem inexora- velmente erosionável pelas intem- péries 1 . A revelação destes novos contextos da memória da paisagem implicou, entre nós, um esforço de prospecção da faixa litoral com suas terras húmidas e grandes bacias flu- viais e ainda do topo das montanhas – duas geografias algo polarizadas, favoráveis à presença destes “arqui- vos” 2, 3 . Nestes contextos, o estudo dos grãos de pólen, esporos, sementes e madei- ras é realizado em séries contínuas de amostras de lama, lodo e turfa – sedimentos que preservam de forma excelente a matéria orgânica. Surge, Território Antigo Sondagem da Lagoa do Saloio (Nazaré) e amostra- gem contínua do seu preenchimento de lodos por amostrador de pistão de tipo Livingstone. O programa Território Antigo, protagonizado pelos autores, nasce do encontro da Ecologia da Paisagem, da Arqueologia e da Computação Gráfica num percurso sui-generis por “terras” do Ministério da Cultura, do Museu de História Natural e das empresas para o Património. A evolu- ção, ao longo dos seus 28 anos traçada a modos de curto balanço, poderá interessar aos patrimo- nialistas enquanto imagem expressiva da procura de um alicerce técnico e metodológico cada vez mais comprometido com uma restituição holística do Património. Da arqueologia da paisagem à re-encenação virtual interactiva Aspectos da sub-amostragem e tratamento em laboratório de sedimentos orgânicos, e seu estudo palinológico através da microscopia óptica de transmissão.

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No início, foi o fascínio pelas Arqueo-ciências de acordo com o modelo francês: o rosário de arqueo-discipli-nas importadas da História Natural que se procurava evocar fundamen-talmente nos bastidores da esca-vação de sítios pré-históricos. O vestígio geológico, botânico, zoológico como indicador do ambiente (eco-lógico / económico) do passado dos homens implicou o início da mon-tagem de colecções de referência de grãos de pólen, sementes, madei-ras, conchas, ossos, rochas e mine-rais e o início da sua investigação enquanto “eco-factos”, ampliando os conjuntos de objectos de interesse da Arqueologia, populados com os seus tradicionais “artefactos”.Os artefactos expressam os gestos domésticos de afeiçoamento e con-sumo local, mas os “eco-factos” fala-vam frequentemente de um espaço extra-sítio cuja compreensão foge em regra à lógica estrita do monu-mento, do habitat. Contextualizar de fora para dentro pareceu ser a boa opção!As noções de ecossistema e de pai-sagem acabaram por se impor e o programa foi beber às Ciências do Quaternário e sobretudo à Paleo-botânica, desta vez dando atenção às escolas norte-europeias. A pai-sagem e seus arquivos naturais da memória ecológica passaram a cons-tituir focos e temáticas de pesquisa. Ao contrário dos “arqueo-sítios”, onde é a casuística enviesada dos gestos antropogénicos construtivos

6 Pedra & Cal n.º 42 Abril . Maio . Junho 2009

Tema de CapaEM ANÁLISE

e destrutivos que constrói a evi-dência material dos vestígios, numa trama heterogénea de referências espacio-temporais, os “paleo-sítios” preservam, em geral, matrizes de acumulação contínua associados a processos recorrentes de dispersão e sedimentação dos vestígios dos vários componentes do ecossistema. Ambos decorrem, maioritariamen-te, dos ciclos sazonais, quer dos regimes geofísicos, quer dos de pro-dução biológica, envolvendo meca-nismos sistematicamente regulares, não casuísticos. Estamos a falar dos depósitos das lagoas, dos pântanos fluviais, dos depósitos de vertentes, dos solos húmicos, das depressões cársicas… enfim, de tudo o que é “depressão”, “bacia” favorável pela gravidade e contenção à acumulação de materiais e que se opõe à lógica e devir dos cabeços, cumeadas, inter-flúvios de uma paisagem inexora-velmente erosionável pelas intem-péries1. A revelação destes novos contextos da memória da paisagem implicou, entre nós, um esforço de prospecção da faixa litoral com suas terras húmidas e grandes bacias flu-viais e ainda do topo das montanhas – duas geografias algo polarizadas, favoráveis à presença destes “arqui-vos”2, 3. Nestes contextos, o estudo dos grãos de pólen, esporos, sementes e madei-ras é realizado em séries contínuas de amostras de lama, lodo e turfa – sedimentos que preservam de forma excelente a matéria orgânica. Surge,

Território Antigo

Sondagem da Lagoa do Saloio (Nazaré) e amostra-gem contínua do seu preenchimento de lodos por amostrador de pistão de tipo Livingstone.

O programa Território Antigo, protagonizado pelos autores, nasce do encontro da Ecologia da Paisagem, da Arqueologia e da Computação Gráfica num percurso sui-generis por “terras” do Ministério da Cultura, do Museu de História Natural e das empresas para o Património. A evolu-ção, ao longo dos seus 28 anos traçada a modos de curto balanço, poderá interessar aos patrimo-nialistas enquanto imagem expressiva da procura de um alicerce técnico e metodológico cada vez mais comprometido com uma restituição holística do Património.

Da arqueologia da paisagem à re-encenação virtual interactiva

Aspectos da sub-amostragem e tratamento em laboratório de sedimentos orgânicos, e seu estudo palinológico através da microscopia óptica de transmissão.

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Pedra & Cal n.º 42 Abril . Maio . Junho 2009

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desta feita, a diacronia, o filme: não se trata mais de evocar um sim-ples “pano de fundo” de referências ambientais para os nossos sítios e monumentos mas aceder à mudança (secular, decadal, anual) do mosaico da vegetação das regiões através dos padrões dinâmicos patenteados pelos registos fósseis preservados. Note-se que estamos, sobretudo, a falar de aceder no tempo a uma espécie de “aura” de cada planta, materializada pela emissão anual de milhões a biliões de grãos de pólen, por centenas a milhares de semen-tes e folhas que o vento e a água transportam para todo o lado, mas, sobretudo, para o seio das bacias de captação1, 4. Nesta frente de trabalho, o progra-ma desvenda a trama da evolução geral das nossas paisagens natu-rais e culturais tocando para além do impacte humano ainda aspectos como a mudança do clima e da evo-lução da linha de costa2, 3. Estamos, no entanto, por vezes longe dos centros urbanos e dos monumen-tos de Pedra e Cal… Há que subir ou descer o curso dos rios e che-gar junto dos povoados! E, neste esforço, surge-nos uma surpresa: descobrimos que séries de lodos e lamas impressionadas pelas “auras” polínicas e carpológicas estão omni-presentes no que designamos por espaço eco-territorial doméstico e adjacente4. Desta vez, é o próprio homem a propiciar esta acumula-ção pelo afeiçoamento no espaço urbano, sub-urbano e das hortas de “estruturas negativas” como sejam as albufeiras, cisternas, poços, aquedutos, silos, valados e fossas, e ainda novos contextos húmidos nas

baixas aluviais urbanizadas onde a drenagem é “irresponsavelmente” bloqueada pela construção e pelo aterramento. Nos últimos anos, o programa Território Antigo explo-rou estes novos contextos, sobretu-do medievais e modernos em várias cidades como Lisboa, Coimbra, Santarém, Torres Vedras5…A imensa quantidade de grãos de pólen e de sementes preservados na série acumulada de lodos no fundo dos poços, por exemplo, permite traçar a evolução anual / decadal do espaço urbano e suburbano em termos de vegetação (hortas, quin-tais, jardins, vegetação semi-natural dos baldios, beira dos caminhos, entulheiras, beirais dos telhados e afloramentos rochosos) e lançar nova luz sobre a sua estrutura e dis-tribuição espacial. Por outro lado, o acesso a fossas associadas a dejectos

domésticos permite conhecer com detalhe os padrões de consumo dos habitantes. O envolvimento da equi-pa de uma forma mais íntima com os monumentos constituiu uma opor-tunidade de se explorarem contex-tos inéditos de informação orgâni-ca. No caso de Santa-Clara-a-Velha (Coimbra), paralelamente ao estudo arqueobotânico das lixeiras e lodos, de idade essencialmente já seiscen-tista, a investigação debruça-se agora com sucesso sobre o conteúdo em pólen da estrutura estratificada das concreções calcárias (estalagmíticas) depositadas anualmente ao longo das goteiras das paredes do claustro góti-co – uma oportunidade única para um olhar sobre os jardins dos primei-ros três séculos de ocupação6-8.A proliferação inesperada de uma vasta diversidade de contextos de informação orgânica nos complexos

Crono-diagrama polínico da Lagoa Travessa (Carvalhal - Grândola), na sua forma simplificada. Em abcis-sas, valores de percentagem relativa de cada tipo ou grupo polínico cumulativo face ao total de grãos de pólen de origem regional. Em ordenadas, a cronologia interpolada de cada amostra através de série de datas convencionais de radiocarbono.

A paisagem da região do Carvalhal em três momentos de evolução, respectivamente há 7500, 6300 e 2000 anos.

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monumentais e urbanos antigos permite visões, não só sobre a sua estrutura ecológica humanizada, mas, ainda, sobre os aspectos da vida quotidiana e dos seus ciclos de recolecção – produção – transformação – consumo – reciclagem – rejeição.Trabalhar com milhares de partícu-las provenientes de “auras” ou inte-grando milhares de gestos de pro-dução é algo diametralmente dife-rente do enfoque sobre “a Peça de Arte Antiga / Artefacto”. A analo-gia com a “arqueo-fotografia” e a

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apropriação imagética do passado em “séries cinemáticas” tem sido por nós divulgada como um artifício didáctico, mas é de facto quase lite-ral. Para que se realize é necessário, no entanto, um esforço de concreti-zação e objectivação permitido pela Computação.Neste sentido, a evidência paleo-botânica é explorada pela análise numérica e integrada como entidade cartográfica num SIG. Neste pro-cesso têm papel central os estudos de calibração experimental do “sinal

paleo-ecológico” que decorrem tendo o Ecossistema Actual como foco. O referencial da paisagem portuguesa de hoje é apropriado, não só pelo princípio actualista mas, sobretudo, pelo facto de incluir estruturas eco-lógicas e programas de eco-trans-formação humana de longo termo, ainda funcionais, num processo de heranças colectivas emanadas de muitos e diversos tempos. Este esforço de espacialização concreta de dados imagéticos do passado recorre quando possível a fontes documentais históricas, sobretudo iconográficas e cartográficas5. No final com o que ficamos? O rela-tório técnico e o “paper científico” (este padecendo do paradigmático “problem-solving”) são claramen-te insuficientes… Que ambiciona-mos? – Uma “cenografia museográ-fica” de natureza transdisciplinar e suporte digital e que, pela sua multiplicidade de escalas e temáti-cas, ganharia com uma plataforma de acesso de natureza interactiva e multi-exploratória. O Programa Território Antigo recorre mais uma vez à Computação, desta vez às tec-nologias dos videojogos, abraçando a nova causa dos jogos sérios (“Serious games”)9. O que se pretende é tirar partido da aceleradíssima evolução do hardware de restituição virtual em 3D (sobretudo placas gráficas) e dos seus ambientes de programa-ção; reconverte-se o próprio concei-to de jogo, que neste contexto ganha os contornos de exploração de uni-versos territoriais simulados a partir de uma matriz de dados científi-cos10. Estes, transmutados em enti-dades de jogo, serão assim capazes de responder de forma expressiva e integrada ao estímulo do explorador--jogador e às circunstâncias da joga-bilidade, ela própria emanando do realismo histórico-científico. Vamos jogar o nosso Território Antigo, o nosso Património! Estes merecem ter lugar no ciber-espaço que cresce inexoravelmente.

Diagrama carpológico (frutos e sementes) de um silo islâmico em Santarém (intervenção arqueológica de Maria Ramalho e Carla Lopes).

Diagrama antracológico (carvões de madeiras) de uma das lixeiras seiscentistas de Santa-Clara-a-Velha em Coimbra (coordenação arqueológica de Artur Côrte-Real).

Diagrama de restos de carvão de madeira - em cada uma das curvas de frequência indica-se em abcissa o peso (g) de carvão do tipo xilomórfico indicado presente em 100g de sedimento (x10), e em ordenada a profundidade da amostra correspondente.

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JOSÉ EDUARDO MATEUS, PAULA FERNANDA QUEIROZ,Terra Scenica e IGESPAR, I. P.www.terra-scenica.pt

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1 MATEUS, J. E. (1996) – Arqueologia da Pai-sagem e Paleoecologia. Al-madan. II.ª Série, 5, p. 96-108. 2 MATEUS, J. E. (1992) – Holocene and pre-sent-day ecosystems of the Carvalhal Region, Southwest Portugal. Tese de Doutoramento, Universidade de Utreque, p. 184.3 QUEIROZ, P. F. (1999) – Ecologia Histórica da Paisagem do Noroeste Alentejano. Tese de dou-toramento, Universidade de Lisboa, p. 300.4 MATEUS, J. E. (2004) – Território Antigo. Estudos do Património, 7, IPPAR. 5 MATEUS, J. E.; QUEIROZ, P. F.; VAN LEEUWAARDEN, W. (2003) – Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica. 4. O Labo-

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EM ANÁLISE

ratório de Paleoecologia e Arqueobotânica – uma visita guiada aos seus programas, linhas de trabalho e perspecivas. In MATEUS, J. E.; MORENO-GARCÍA, M. (eds) – Paleoecologia Humana e Arqueociências. Um programa multi-disciplinar para a arqueologia sob a tutela da Cul-tura. Lisboa: IPA (Trabalhos de Arqueologia; 29), p. 106-188. 6 QUEIROZ, P. F.; MATEUS, J.; PEREIRA, T.; MENDES, P. (2006) – Santa Clara-a-Velha. O Quotidiano para além da Ruína. Primeiros Resultados da Investigação Paleoecológica e Arqueobotânica. Trabalhos do CIPA. Lisboa: CIPA – IPA. 97 (www.terra-scenica.pt/arti-gos.htm).7 QUEIROZ, P. F; MATEUS, J. E. (2007) –

Santa Clara-a-Velha. O Quotidiano para além da Ruína. As Plantas do Mosteiro. Trabalhos do CIPA. Lisboa: CIPA – IPA. 108 (www.terra-scenica.pt/artigos.htm).8 QUEIROZ, P. F; MATEUS, J. E.; RUAS, J. P. (2007) – Santa Clara-a-Velha. O Quotidiano para além da Ruína. Frutos e Sementes reco-lhidos nos trabalhos de escavação arqueoló-gica (1996-2001). Trabalhos do CIPA. Lisboa: CIPA – IPA. 111.9 MATEUS, J. E.; QUEIROZ, P. F. (2008) – Serious-Games for Cultural Heritage: A theoretic-practical multidisciplinary approach – 1. Ancient territory spatial data acquisition and heritage game resources, 2. Virtual architecture and mobile heritage, 3. Organic protagonists of ancient terri-tories, 4. Paradigms in videogames and territory (heritage) sciences. Workshop “Serious Games in Cultural Heritage”, VAST2008, Braga, 2 Dezembro 2008 (www.terra-scenica.pt/pro-ducaocultural/jogos-serios/jogosserios.htm).10 MATEUS, J. E. (2008) – Jogos Criativos pela Ciência, Património e Arte no âmbito da Encena-ção Virtual Recria-activa. Considerações em torno da Nova Produção Cultural Partilhada entre a Ciência, a Arte e a Tecnologia. Terra Scenica (www.terra-scenica.pt/PDFs/EVRA.pdf).

Restituição virtual 3D do sector da Adega do Marquês de Pombal (Oeiras).

Ficha de ocorrência de uma das cerca de duzentas espécies vegetais registada nos contextos arqueobotânicos do mosteiro de Santa-Clara-a-Velha.

Análise polínica das “estalagmites” do claustro gótico. De notar a estratificação de carácter anual das concreções.