paulo lobo - comentarios ao estatuto da oab

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Page 1: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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PAULO LOBO Doutor em Direito pela USP

COMENTARIOS A'OESTATUTO DA ADVOCACIA E DA

DAB

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4" edi<;ao revista e atualizada \"

2007

n_ Editor~ ~_Saralva

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Page 2: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Apresenta-;ao ~>,;:> ,~~ ,C:'," ;;i:i::ni, '>,~ ",':_' -":;::,'~" -, ",f' '-,,!;L"o' <; ;~~-,'r!'

Nesta 3' edi9aO, procurei aprofundar os comentarios a cada arti-. go do Estatuto da Advocacia eda GAB, revendo algumas orienta-

90es, ap6s 0 consideravel numero de decisoes dos tribunais superio­res e do Conselho Federal da GAB, que tem aplicado a lei acerca dos direitos e deveres dos advogados e de sua entidade, com freqiientes cita90es a esta obra. As duas edi90es anteriores, de 1994 e de 1996, esgotaram-se pouco tempo depois de seus lan9amentos. Para atender it demand a, autorizei reimpressllo da 2' edi91l0 sem altera90es, em 1999, tambem esgotada.

A estrutura basica da obra contempla os comentarios aos arti­gos agrupados em cada capitulo da lei, acrescidos de anota90es cor­respondentes ao Regulamento Geral, ao C6digo de Etica e Discipli­na, aos Provimentos em vigor e it legisla9aO federal correlacionada, aIem das aprecia90es criticas acerca das Olienta90es assentadas na jurisprudencia dos tribunais superiores e da GAB. Sao indicadas as fontes das decisoes, mas, com poucas exce90es, nao foram reproduzidas em sua integralidade. Atendendo a pedido de vario§Jei­tores, fDram ampliadas as considera90es doutrinarias sebre a etica profissional, inserindo-as nos comentarios a cada dispositivo legal.

A obra esta acompanhada, como anexos, dos textos do Regula­mento Geral do Estatuto da Advocacia e da GAB e do C6digo de Etica e Disciplina, nas suas reda90es atuais. Cresceram as referen­cias hist6ricas sobre a advocacia e sobre a GAB, que antecedem os comentanos a cada parte. Urn capitnlo foi dedicado ao perfil atual do profissional da advocacia, sobretudo com apropliagao de dados re­sultantes de inestimavel pesquisa realizada em 1996 pelo Conselho Federal da GAB junto aos advogados brasileiros.

VII

Page 3: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

Origem da denomina<,:ao .............. '" ................................ .

Uso da denominac;ao segundo 0 Estatuto ........................ .

Ato e atividade de advocacia ................................................. .

Postulac;ao perante os 6rgaos do Poder Judiciario. Jus postu-landi da parte

Consultoria, assessOlia e direc;ao jurfdicas ............................ .

Atos e contratos ..................................................................... .

Divulgac;ao de atividade de advocacia. Vedac;ao de exercicio conjunto com outra atividade .......................................... .

, Caracterfsticas essenciais da advocacia ................................ ..

Indispensabilidade do advogado

Natureza da advocacia. Servic;o publico. Func;ao social ........ .

Exercicio da advocacia no Brasil. 0 advogado estrangeiro .. ..

Advocacia publica ................................................................ ..

Atuac;ao de estagiario

Nulidade dos atos de advocacia praticados ilegalmente ........ .

Mandato judicial .................................................................... .

Poderes para 0 foro em geral ................................................ ..

Renuncia ao mandato judicial ............................................... ..

DIREITOS DO ADVOGADO (arts. 6Q e 7Q) ........................ ..

Direitos on prerrogativas ...................................................... ..

Independencia do advogado ante 0 juiz e os agentes publicos ./

Liberdade do exercfcio profissional ...................................... ..

Inviolabilidade do advogado .................................................. .

Immiidade profissional por manifestaC;6es e atos .................. .

Sigilo profissional .................................................................. .

Inviolabilidade do local e dos meios de exercfcio profissional

Comunicac;ao com cliente preso ............................................ .

Prisao em flagrante do advogado .......................................... ..

Prisao em sala de Estado Maior ....................... : .................... ..

Direito de ingresso em 6rgaos judiciarios e 10cais publicos .. .

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Relac;ao com magistrados ...... ........ .................... .............. ....... 75

Sustentac;ao oral nos tribunais ................................................ 76

Uso da palavra oral. Esclarecimentos e reclamac;6es ............. 78

Direito a exame e de vistas de processos e documentos ......... 79

Desagravo publico .................................................................. 83

Sfmbolos privativos do advogado ........................................... 86

Retirada do recinto .................................................................. 86

lNSCRI<;AO NA OAB (arts. 8Q a 14) .................................... 88

Requisitos para inscric;ao COmo advogado .. ...... .............. ........ 91

Capacidade civil ................. ...................... ..... .......... ......... 91

Diploma de graduac;ao em direito ........ ................ ............ 92

Regularidade eleitoral e militar ........ ...... ........ .......... ........ 93

Exame de Ordem .......... ........ ........ ........ .................... ....... 93

Ausencia de incompatibilidade ........................................ 98

Idoneidade moral ...... ........ .......... ................ ..................... 99

Crime infamante................... ................ ..... ............. .......... 101

Comprornisso ............................ ................ ........... ............ 102

Advogado estrangeiro ............................................................. 102

Estagiffiio ....... .............................. ..... ............. ........ ................. 104

Dornicflio profissional. InscriC;1io principal, suplementar e por

transferencia ................. ....... ..................... ........................ 108

Cancelamento da inscric;1io .. .......... ...... ............................ ....... 112

Licenciamento do advogado ................................................... 114

Documento de identidade do advogado .... ...... ........ .......... ...... 116

SOCIEDADE'DEADVOGADOS (arts. 15 a 17) .................. 117

Natureza e caracteristicas da sociedade de advogados ........... 118

Constituic;ao da sociedade e seu registro ................................ 120

Denominac;ao da sociedade .................................................... 122

Filial................................................................................. 123

XI

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Page 4: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Nulidade processual culposa ............................ '" .... '" ...... 213

Abandono da causa .......................................................... 213

Recusa da assistencia juridica ......................................... .

Publicidade de trabalho pela imprensa ........................... .

Manipula<;ao fraudulenta de cita<;oes ....... '" .. , ................. .

Imputa<;ao de fato criminoso .......................................... ..

Descumprimento a determina<;ao da OAB ...................... .

Pratica in'egular de ato pelo estagiano ............................ .

Viola<;ao ao C6digo de Etica e Disciplina ....................... .

Violagao de preceito do Estatuto ...... : ........................ : ..... :

Infra<;oes disciplinares puniveis com snspensao

Ato ilicito ou fraudulento ................................ '" ............. .

Aplica<;ao ilicita de val ores recebidos de c1iente ............ .

Recebimento de val ores da parte contrana ..................... .

Locupletamento it custa do c1iente .................................. .

Recusa injustificada de presta<;ao de contas .. '" ............ '"

Extravio on reten<;ao abusiva de autos ............................ .

Inadimplemento para com a OAB .................................. .

Inepcia profissional ......................................................... .

Conduta incompative1 ..................................................... ,

. Reincidencia ........................................................ :: .......... .

Infra<;oes disciplinares puniveis com exclnsao ...................... .

.Falsidade dos requisitos de inscri<;ao .......................... ~ .. . .. Inidoneidade moral ......................................................... .

Reincidencia ................................................ , ................... .

Crime infamante .............................................................. .

Tipos e consequencias das san<;oes disciplinares .................. .

Consequencias nos processos e atos praticados pelo advogado

Atenuantes e agravantes ......................................................... .

Reabilita<;ao ..................................................... ~ ..................... .

Prescri<;ao da pretensao disciplinar ........................................ .

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PARTE II:DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

BREVE mSTORICO DA OAB ............................................. 247

Hist6rico do atual Estatuto .................................. 251

FINS E ORGANIZAt;:AO DA OAB (alts. 44 a 50) ............... 253

Naturezajuridica e independencia da OAB ............................ 255

Finalidades da OAB ...................... ................... ............. ....... ... 260

Finalidades polftico-institucionais .......................................... 260

Defesa da Constituigao . ......... ....... ......................... ....... .... 262.

Defesa da ordem juridica ................................................. 263

Defesa dos direitos humanos ................... ....... ......... ... ..... 263

Luta permanente pela jnstiga social.......... .... .......... ......... 265

Boa aplicagao das leis e rapida administragao da justiga . 265

Aperfeigoamento da cultura e das institnigoes juridicas .. 266

Finalidades corporativas. Sindicatos ....... .... ... ........ ...... ...... ..... 266

Natureza e tipos de 6rgaos da OAB. A questao da personali-dade jnridica .......... ........ .... ...... ......... .......... ... ....... ....... ..... 268

Peculiaridades da OAB: imunidade tributaria e publicidade dos atos ......... ....... ........... ..... ..... ............ ...... ..... ..... ...... ..... 271

Contribui90es obrigat6rias ...................................................... 272

Cargos dos membros de 6rgaos da OAB ................................ 275

Presidente da OAB. Legitimidade para agir ........................... 275

CONSELHO FEDERAL DA OAB (arts. 51 a 55) ................. 277

Composigao e estrntura do Conselho Federal.. ...... ..... ... ... ..... 280

Voto e quorum ........................................................................ 281

Competencias do Conselho Federal ............. ... ..... ...... ... .... ..... 282

Cumprimento das finalidades da OAB .. ... ............... ........ 282

Representagao dos advogados ........... ... ..... ...... ..... ........ .... 283

Defesa das prerrogativas da profissao ................ '" ....... .... 283

Representagao internacional .... ......... .... ........ .............. ..... 284

XV

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Page 5: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Suspensao preventiva .... ........ .... ...... ... ... ....... ... ... ...... ...... ... ... ... 344

Representagao disciplinar of ens iva it honra do advogado ...... 345

Revisao do processo etico-disciplinar .................................... 346

RECURSOS (arts. 75 a 77) .................................................... 347

Tipos de recursos . ... ...... .... .... .... ..... .... ... ....... ... .......... .............. 348

Cabimento dos recursos .. .................... ....... ...... ............. .......... 350

Prazos e efeitos dos recursos .................................................. 352

DISPOSI<;OES GERAIS E TRANSITORIAS(arts.78 a 87)· "354·

Regulamento Geral................................................................. 356

Regime dos servidores da OAB .............................................. 357

Conferencias da OAB e Colegio de Presidentes ..................... 358

Participagao do Instituto dos Advogados ................................ 359

Situag6es transit6rias .............................................................. 359

Bibliografia ......... ......... ........ .... ...... .... .... .... ..... ........ ... ... .... ... ... 363

Anexos

Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB ....... 371

C6digo de Etica e Disciplina ........................ :......................... 416

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PARTE I ; W:;c,; <>'_.;"::>:'{'/' <.'r': ;:"t 'I"::',:: :\':' "'·:'tN:::':"'.\' 7·7,;:-, .:;i;'!:)::7i""V).~,\,;;_'{,_y>J-»;<;;;.>;;;;rT,a::;'1-L,<:.'';_ ;c::-:(i2r;?:'ci'.i!ii}Fj;~~~;:;,-.'"{::F;-i

DA ADVOCACIA 0, ,;'! -, '-" '.;0; :," ," "_'," ",,':"1'<"'~'Y Y:r,»?-"iv:r?:~,wi' "7 i; ;:''''':n~p7-T'' ';::t::;',::,!r/:;i;/ "';V:':-}.<:,i0:Qfl;:;:'c',,\'- 7-", :\\';j_:

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Page 6: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

dade cjentifica e moral de suas opinioes juridicas, granjearam, ao longo da hist6ria romana, reconhecimento imperial, inclusive para vincular as decisoes judiciais. Eram as responsia prudentium (dai, jurisprudencia) que seriam levadas em conta no julgamento. Le-se no preambulo das Instituic;:oes de Justiniano, voltadas a "mocidade que estuda as leis", 'que este grande Imperador de Constantinopla, em 530-533, promoveu a reuniao nos cinquenta livros do Digesto ou Pandectas do direito antigo, nomeadamente dos pareceres, opinioes e obras dos jurisconsultos romano;;', constituindo a fonte basic a do direito roma.no.

Em Roma, inicialmente, aadvocacia forense era tarefa cometi­da apenas aos patrfcios, que a desempenhavam como patronos de seus pares e clientes (patronus), porque somente eles tinham acesso ao direito. Ap6s a Lei das XII Tabuas, em mais ou menos 450 antes de Cristo, com a vit6ria politica da plebe, cessa tal monop61io do direito, aumentando 0 numero de advogados leigos e plebeus po stu­lando em juizo (advocatus)4.

No Digesto (D. 50, 13, I, 11) inexiste qualquer distinc;:ao, consi­derando-se advogados todos quantos "se dao ao estudo das leis e pleiteiam causas nas quais e1as se aplicam". Dessa forma, tornaram­se indistintas as func;:oes do jurisconsulto Gurista, no sentido estrito atual) e do advogado.

Durante a Idade Media europ€ia, segundo Max Weber, distin­guiu-se do advogado 0 "prolocutor" (counsel), que se colocava ao lado das partes no tribunal, contribuindo para a formulac;:ao da sen­tenga e para a proposta de decisao; de certa forma, pertencia ao grupo de julgadores. Ja 0 advogado (avoUli,.solicitor, attorney, procurator) assumia a direc;:ao tecnica na preparac;ao do procedimento e na obten-

3. Institui90es de Justiniano, ed. bilfngtie, trad. Sidnei Ribeiro de Souza e Darival Marques, 1979, p. 3.

4. Sabre a evolw;ao da advocacia em Rama, veja-se 0 interessante trabalho de AlexandreAugusto de Castro Correa, Breve apanhado sabre a hist6ria da advocacia em Rama, Revista do Instituto dos Advogados Bmsileiros. Rio de Janeiro, ana 20, 67-68:1-24, 1986-1987. 0 autor louva-se, sobretudo, em Komel Zoltan M€hesz e em Grellet-Dumazeau.

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«ao dos meios de prova. Mas essas func;:oes s6 puderam ser exercidas quando 0 procedimento foi em grande medida racionalizado. No pro­cedimento primitivo nao se concebia 0 advogado com as fun«oes atu­ais. Na Inglaterra quase todos os advogados procediam do grupo dos unicos que sabiam escrever, ou seja, os clerigos; somente a partiJ: do seculo XV os advogados laicos conseguiram se organizar em quatro gremios dos Jures of Court, excluindo os clerigos. Desses gremios saiam os juizes e faziam com eles vida comum. No mundo islamico, o Mufti foi urn perfeito paralelo do jUlisconsulto roman05 •

Longa tradi«ao aponta Santo Ivo como 0 patrono dos advoga­dos. Nascido na Fran«a, em 1253,cursQu direitoJilos()fia e te()jogia. Ordenado sacerdote, por quatro anos foi juiz eclesiastico na diocese de Rennes. Atuou perante os tribunais na defesa dos pobres e dos necessitados, sendo por isso conhecido como 0 "advogado dos po­bres". No dia 19 de maio de 1347 foi canonizado, comemorando-se nessa data 0 dia do defensor publico.

ADVOCACIA COMO PROFISSAO ORGANIZADA

Pode-se aflIDlar, a partir de fontes variadas, que a advocacia se converteu em profissao organizada quando 0 Imperador Jnstino, an­tecessor de Justiniano; constituiu no seculo VI a primeira Ordem de Advogados no Imperio Romano do Oriente, obrigando 0 registro a quantos fossem advogar no foro. Requisitos rigorosos foram impos­tos: ter aprovac;:ao em exame de jurisprudencia, ter boa reputa«ao, nao ter mancha de infamia, comprometer-se a defender quem 0 PlYtor em caso de necessidade designasse, advogar sem falsidade, nao pac­tuar quota litis, nao abandonar a defesa, uma vez aceita.

Varios autores, no entanto, apontam 0 seculo XIll, com a Orde­nan«a francesa do Rei Sao Luiz, que indicava requisitos para 0 exer­cicio da profissao, como 0 marco inicial da regulamentac;:ao legal da advocacia. Mas, na verdade, a Ordenanc;:a tinha por objeto as primei-

5. Max Weber, Econom(a y sociedad, trad. Jose Medina EchavalTfa e outros, Mexico: Fondo de Cultura Econ6mica, 1977, p. 588-9.

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Page 7: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

PERFIL ATUAl DO PROFISSIONAL DA ADVOCACIA

EVOLU<;AO NO BRASil

Durante 0 perfodo colonial, 0 exercfcio da profissao de advoga­do era mais ou menos livre, constitnindo 0 espa"o de atna9ao dos leguleios ou rabulas, ou seja, dos que aprendiam e exerciam ooficio na pnitica. As Ordena,,5es Filipinas (Livro 1, Titnlo XLVTII) deter­rninavam que "todos os Letrados, que houverem de advogar e pro­curar em nossos Reinos, tenham oito anos de estndo cursados na Uni­versidade de Coimbra em Direito Canonico, ou Civil, ou em ambos", com penas severas de prisao ou degredo para os infratores. Todavia, o Alvara regio de 24 de julho de 1713 declm·ou que, fora da Corte, poderia ser advogado "qualquer pessoa idonea, ainda que nao seja fonnado, tirando Provisao". Desse termo resultou a figura do provisionado, que perdurou no Brasil ate 0 advento do atual Estatuto da Adv09cia (Lei n. 8.906/94). Assim, pelas evidentes dificuldades de deslocamento para Coimbra, 0 titnlo de bacharel em direito era quase nobiliarquico, servindCi muito mais para a conquista de postos de comando da alta burocracia ou de efeito simb6lico dos estamentos do poder na Colonia e no Impelio.

Os cursos juridicos cliados no Impelio tinham finalidades ex­plfcitas de forma"ao dos quadros dirigentes, como se Ie nos Estatutos do Visconde Cachoeira, aos quais remete 0 art. 10 da Lei, e, residual­mente, de advogados. 0 carater genelico das disciplinas ministradas nao contribuiram para a profissionaliza"ao, servindo os cursos como espa"os de revela9ao de voca,,5es polfticas e literarias.

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Na Republica Velha, a hegemonia politica dos bachareis deu sinais de declinio, na propon;ao do crescimento da advocacia como profissao autonoma e independente do Poder Publico. Somente com a cria"ao da OAB, em 1930, iniciou no Brasil a regulamenta"ao pro­fissional do advogado, com exigencia de forma"ao universitaria, sal­vo nas regi5es do Brasil onde se fazia necessaria a figura do rabula ou provisionado. Ate 1994, os dois primeiros Estatutos da Advocacia (Dec. n. 20.784, de 14-12-1931, e Lei n. 4.215, de 27-4-1963) volta­ram-se exclusivamente para a advocacia entendida como profissao liberal, autonoma. Nao contemplaram a advocacia extrajudicial e 0 advogado assalariado dos setores publico e privado.

o descompasso com a realidade profissional e social levou ii necessidade de e1abora9ao de novo Estatuto, 0 de 1994. A advocacia passou a ser entendida como exercfcio profissional de postnla"ao a qualquer 6rgao do Poder J udiciario e como atividade de consultoria, assessoria e dire"ao jurfdicas. Tambem disciplinou 0 sentido e alcan­ce de sua indispensabilidade na adrninistra"ao da justi"a, prevista no art. 133 da Constitni"ao Federal; a insen;ao da advocacia publica; a tutela legal minima de um protagonista esquecido - 0 advogado empregado.

ADVOCACIA JUDICIAL

Apostula"ao emjufzo, ou seja, a representa"ao judicial profis­sional, sempre foi 0 lugar destinado ao advogado, ao longo de sua rnilenar hist6ria. Ainda 0 e, como escolha preferencial ou falta de op"ao.

Porem, a lentidao enervante, 0 formalismo processual, a estru­tnra obsoleta e os vicios latentes de alguns auxiliares e operadores do direito, que contaminam a administra"ao publica da justi"a, desestimulam ou abortam as voca,,5es e acirram a concon·encia e condutas nem sempre eticas.

Uma grande duvida, com que sempre se debateu a OAB, e saber a propor"ao dos graduados em direito que exercem efetivamente a advocacia, em suas varias dimens5es forenses e extrajudiciais. Afi-

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Page 8: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

o PAPEL DO ADVOGADO NA MEDIA<;:AO E NA ARBITRAGEM

Os cursos juridicos, de modo geral, formam para 0 litfgio foren­se. Contudo, as sociedades buscam incessantemente modos mais rii­pidos e mais informais de resolu<;ao e preven<;ao de conflitos. Ao lade do juiz de direito quer-se 0 juiz de eqUidade, na arbitragem e na concilia<;ao, alem da media<;ao.

o Brasil editou uma avan<;ada lei de arbitragem - a Lei n. 9.307, de 23.09.96 -, estabelecendo mecanismos viiiveis de decisao arbitral sobre direitos patrimoniais disponiveis que dispensam a administra­<;ao oficial de justi<;a; com seus aparatos eritos. 0 arbitro pode sec qualquer pessoa capaz, mesmo sem fonna~ao juddica.

Na media<;ao, nao se intenta decisao ou julgamento, mas a su-. pera<;ao das divergencias de modo a se alcan<;ar solu<;ao negociada. o mediador viabiliza 0 encontro, 0 consenso. Depende de sua habili­dade, born senso e experiencia de vida para obter concess6es recipro­cas e supera<;iio dos pontos de dissenso. Na media<;ao, a participa<;ao de grupos interdisciplinares e bem-vinda.

o trato do advogado com mediad ores e arbitros leigos importa conduta profissional desformalizada e aberta, porque deve sempre estar disponfvel para a transa~ao, com espfrito conciliador. 0 advo­gada nao pretende que se diga 0 direito contra 0 outro, a vitoria de urn e a derrota do outro, mas a justi<;a possivel e preferencialmente negociada. Sua aptidao para conciliar e mais importante.

ADVOCACIA DOS INTERESSES TRANSINDIVIIJUAIS

Os cursos jurfdicos voltaram-se sempre aos direitos do indivf­duo em face de outro individuo ou do Estado: 0 proprio direito pu­blico era visualizado sob a otic a da prote<;ao do espa<;o do individuo. Nessa perspectiva individualista, 0 art. 6" do Codigo de Processo Ci­vil e emblemiitico: "Ninguem poderii pleitear, em nome proprio, di­reito alheio, salvo quando autOlizado por lei".

Na atualidade, no entanto, 0 direito passou a ocupar-se de inte­resses que nao se contem no ambito das rela<;6es individuais ou no cliissico interesse publico-estatal. Citem-se a prote<;ao do meio ambi-

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ente, a defesa do consumidor, 0 patrimonio historico, artfstico ou tu­ristico, os direitos da crian<;a e do adolescente, os direitos das mino­rias. Sao interesses comunitiirios, no senti do de alcan~ar todos os integrantes da comunidade geml ou determinada, mas sem titular exclusivo, sejam indivfduos ou Estado. Quando alguem (indivfduo ou entidade publica ou palticular) postula a prote<;ao juridica desses interesses nao 0 faz na condi<;ao de titular de direito proprio mas de adequado representante da comunidade. AMm da cliissica a<;ao popu­lar, outras a<;6es coletivas tern surgido, com especial destaque para a a<;ao civil publica.

Essa radical mudan~a de paradigmas exige redirecionamento da forina9ao profission'ul do aifvogadoe certa: atitude de envolvimento com a pretensao levada a jufzo. Ultrapassa-se a tradi<;110 etiea liberal de nao se confundir 0 patrocfnio tecnico do advogado com 0 interes­se da parte, pois, afinal, ele tambem e parte da comunidade geral. A defesa do meio ambiente ou dos consumidores reflete-se positiva­mente nele.

o IMPACTO DA INFORMATICA

Impressiona como uma tecnologia de ponta avan<;ou tanto em uma das mais antigas e conservadoras profiss6es do mundo. Cogita­se de area de conhecimento especia:lizado a que se tern dado a deno­mina<;ao de informiitica jurfdica, abrangendo a legisla~ao (elabora­<;ao e infonna<;ao), 0 Judiciario (informatiza<;ao dos processos, infor­ma<;ao) e a advocacia. Nao se trata de modismo, porque 0 intense desenvolvimento de programas de computador voltados direta ou in­diretamente para a area jUrfdica tomaram otrabalho do advogado mais iigil e simplificado. 0 rapido aces so a banco de dados informatizados dos tribunais, de legisla<;ao e periodicos, alem dos cliados pelo pr6prio profissional, pennite notiivel ganho de tempo. 0 tormentoso ciileulo de indices e coeficientes estii mais confiiivel e pode ser obtido pelo advogado sem 0 trabalho de outros profissionais.

o modem, 0 fax, a Intemet simplificaram as comunica<;6es dos profissionais entre si, com seus clientes e com 0 aparato judiciario. 0 acompanhamento informatizado dos processos dispensou a necessi-

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Page 9: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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ATIVIDADE DE ADVOCACIA

LEI N. 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994

Dispoe sobre 0 Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Ad­vogados do Brasil- OAB

o PRESIDENTE DA REPUBLICA

Fa~o saber que 0 Congresso Nacional decreta e eu san­ciono a seguinte Lei:

TiTULO I

DA ADVOCACIA

CAPiTULO 1

DA ATIVIDADE DE ADVOCACIA

Art. 1" Sao atividades privativas de advocaeia: I - a postula<;;ao a qualquer orgao do Poder Judiciario e

aos juizados especiais; II - as atividades de consultoria, assessoria e dire<;;ao

juridicas. § I" Nao se indui na atividade privativa de advocacia a

impetrac;;iio de habeas corpus em qualquer instiincia ou tribunal. § 2" Os atos e coutratos constitutivos de pessoas juridi­

cas, sob pena de nulidade, so podem ser admitidos a registro, nos orgaos competeutes, quando visados por advogados.

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§ 3" E vedada a divulgac;ao de advocacia em conjunto com outra atividade.

Art. 2" 0 advogado e indispensavel a administrac;ao da justic;a.

§ I" No seu ministerio privado, 0 advogado presta servi­<;;0 publico e exerce func;ao social.

§ 2" No processo judicial, 0 advogado contribui, na postula<;;ao de decisao favoravel ao seu constituinte, ao con­vencimento do julgador, e seus atos constituem munus publico.

§ 3" No exercfcio da profissao, 0 advogado e inviolavel por sens atOs emanifestac;oes, nos timites desta Lei.

Art. 3" 0 exercfcio da atividade de advocaeia no territo­rio brasileiro e a denominac;ao de advogado sao privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil - OAB.

§ I" Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta Lei, alem do regime proprio a que se subordi­nem, os integrantes da Advocacia-Geral da Uuiiio, da Procu­radoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Publica e das Procuradorias e Consultorias Juridicas dos Estados, do Dis­trito Federal, dos Municfpios e de suas respectivas entidades de administrac;ao indireta e fundacional.

§ 2" 0 estagiario de advocacia, regularmente inscrito, pode praticar os atos previstos no art. I", na forma do Regu­lamento Geral, em conjunto com advogado e sob a responsa­bilidade dJ)Ste.

- Art. 4" Sao nulos os atos privativos de advogado pratica­(los por pessoa nao inscrita na OAB, sem prejuizo das san­c;oes civis, penais e administrativas.

Paragrafo unico. Sao tambem nulos os atos praticados por advogado impedido - no ambito do impedimento -, . suspenso, ticellciado ou que passar a exercer atividade incom­pativel com a advocacia.

Art. 5" 0 advogado postula, emjulzo ou fora dele, fazen­do prova do mandato.

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- ItaIia: avvocato

- Irlanda: barrister, solicitor

- Luxemburgo: avocat-avoue

- Portugal: advogado

Uso da denominac;:ao segundo 0 Estatuto

Apenas os inscritos na OAB podem utilizar a denominaqao ad­vogado, unica utilizada no Brasil. Os cursos juridicos nao fOlmam advogados (como nao formam magistrados, procuradores, promoto­res de justiqa, delegados de calTeira, defensores publicos), mas ba­chareis em direito. A legislaqao anterior que disciplinava us Cursos jurfdicos, inclusive a lei de 11 de agosto de 1827, fazia referencia tambem a doutor em direito, reservada pa.ra os professores catedriiti­cos. Advogado nao e genero mas especie de profissional do direito.

Deixam de ser advogados os que, por qualquer motivo, tern suas inscriqoes canceladas na OAB. Os licenciados nao perdem a qualifi­caqao, embora tenham 0 exercicio profissional suspenso.

Por hiibito bastante difundido, no Brasil, costuma-se tratar 0

advogado por doutor. No entanto, sao situaqoes distintas. Doutor e 0

que obteve 0 titulo de doutor em direito, conferido por instituiqao de p6s-graduaqao credenciada para tanto, com defesa de tese. Embora nao se possa evitar 0 t:ratamento social, 0 uso indevido do titulo de doutor em documentos profissionais enos meios de publicidade con­figura infraqao etica. Como lembra Ruy de Azevedo Sodre", hii "ve­Iha recomenda9ao, sempre renovada, de que 0 advogado nao use, em seus caltoes, impressos e placas indicativas, a denomina9ao de dou­tor, que nao !he e pr6pria".

ATO E ATiVIDADE DE ADVOCACIA

o alt. 1 Q diz quais sao os atos privativos da atividade de advoca­cia no estiigio atual. Apenas os advogados legalmente inscritos na OAB podem praticii-Ios, sob pena de exercicio ilegal da profissao.

12. A etica projissional e a Estatuto do Advogado, cit., p. 334.

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A atividade e concebida como urn conjunto de atos teleolo­gicamente orientados, em urn quadro de continuidade, pe1Tl1anencia e integra9ao. Ato e atividade distinguem-se e interpenetram-se na re­laqao de conteudo e continente.

Ressalte-se que as hip6teses deste altigo nao constituem enu­meraqao exaustiva (numerus clausus). Enuncialll tipos biisicos e in­confundfveis, mas nao excluem outros que par sua natureza enqua­dram-se na atividade pr6pria da advocacia, ditados pela evolu9ao das uecessidades julidicas e sociais.

POSTUlA<;:AO PERANTE OS ORGA.OS DO pbDER jUDICIARIO. JUS POSTULANDI DA PARTE

Postulaqao e ato de pedir ou exigir a prestaqao jurisdicional do Estado. Exige qualificaqao tecnica. Promove-a privativalllente 0 ad­vogado, em nome de seu c1iente. Esta e a funqao tradicional, hiStOli­camente cometida it advocacia. 0 advogado tern 0 monop6lio da as­sistencia e da representaqao das paltes em juizo. Ninguem, ordinali­amente, po de postular em jufzo sem a assistencia de advogado, a quem compete 0 exerdcio do jus postulandi. Sao nulos de pleno di­reito os atos processuais que, privativos de advogado, venhalll a ser praticados por quem nao dis poe de capacidade postulat6ria 13

o Estatuto procurou afastar as duvidas de interpretaqao relati­vas it necessidade de palticipaqao do advogado para postular perante detelTninados 6rgaos do Poder JUdiciano, presentes em decisoes flu­tuantes dos tribunais, ap6s 0 advento da Constitniqao de J988. En­volve a postulac;ao a qualquer 6rgao do Poder JUdiciiirio, a saber (art. 92 da Constituic;ao, com a redac;ao da EC n. 45/2004): .

"I - 0 Supremo Tribunal Federal;

I-A - 0 Conselho Nacional de Justic;a;

13. Assim decidiu 0 Supremo Tribunal Federal no AgRg 1.3S4/BA CD], 6 jun. 1997), que_ fez a distins:ao entre jus postulandi e direito de peti9iio assegurado a generalidade das pessoas, que nao inclui aquele.

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meios tecnicos, quando uma parte e defendida por profissional e ou­tra nao, fazendo com que os mais fracos sejam entregues a propria sOlie, a sua inexperiencia e ao desconhecimento dos procedimentos e do aparelho judici:hio. De toda sorte, a Constitui<;ao cometeu ao Es­tado 0 dever de presta<;ao de assistenciajuridica gratuita aos necessi­tados, mediante a Defensoria Publica, obrigatoriamente disponivel. Ese esta faltar, 0 advogado indicado pela OAB prestani a assistencia devida, percebendo os hononirios fixados pelo juiz e pagos pelo Es­tado ou pela Uniao (art. 22, § 12, do Estatuto).

A exce<;ao contida no § 1" do art. 1" (habeas corpus) merece uma explica<;ao. A historia desse magnifico instituto demonstra.que. ele nao se inclui na postula<;ao jurisdicional comum, mas diz com 0

exercicio estdto da cidadania, que nao pode ser necessariamente sub­metido a representa<;ao profisslonal, sob pena de obstar seu alcance de garante da liberdade pessoal. Esta e a unica exce<;ao mencionada na lei a obrigatOliedade da presen<;a do advogado.

Alem da impetra<;ao do habeas cO/pus, 0 Supremo Tribunal Federal, como vimos, apenas admitiu ojus postulandi direto da parte nos juizados especiais e na justi<;a trabalhista. Assim, 0 defensor dativo leigo, no processo criminal, nao e mais legalmente admissivel. Ha­venda falta de advogado ou impossibilidade da Defensoria Publica na Comarca, imp6e-se a solicita<;ao a OAB (Conselho Seccional ou Subse<;ao), que indican'i 0 advogado para a assistencia judiciana, a ser remunerado pelo Estado, segundo honon'irios fixados .pelo juiz, nos limites da tabela da OAB (art. 22, § 12, do Estatuto)!5.

No campo cr9:ninal, 0 direito ao advogado ou de ter assistencia de urn advogado para sua defesa (to have the assistance ofcoul1selfor his defense-. art. VI do Bill of Rights dos EUA) e urn direito fundamental do cidadao, tutelado pelas garantias da ampla defesa e do devido pro­cesso legal (incisos LIV e LV do art. 52 da Constitui<;ao).

o patrocinio de interesses de terceiros, no ambito extrajudicial, tambem constitui atividade da advocacia, apenas permitida aos ins-

15. Assim respondeu 0 6rgao Especial do Conselho Federal a consulta fOffi1Ulada por magistrado (Proc. n. 05/95·0B, DiU, 20 abr. 1996).

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critos na OAB, conforme decidiu 0 Superior Tribunal de Justi<;a, no caso de atua<;ao junto ao INPI16. No que respeita as Comissoes Parla­mentares de Inquerito, com intuito de assegurar 0 amplo direito de defesa e coibir os abusos praticados contra os cidadaos depoentes, dispos a Lei n. 10.676, de 23 de maio de 2003, alterando 0 ati. 32 da Lei n. 1.579, de 18 de mar<;o de 1952, que "0 depoente podera fazer­se acompanhar de advogado, ainda que em reuniao secreta".

A Conven<;ao de Haia, ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto n. 3.087, de 21 de junho de 1999, com fowa de lei ordinana intema, proibe a interveniencia de particulares no processo de ado­cao internacional. Entendeu 0 Conselho Federal da OAB (Proposi-9aO n. 0042/2003/COP) que a atua<;ao do advogado naa pode ser cori-' siderada interveniencia de patiiculat·, pOl'que decOlTe de exercicio pro­fissionallegalmente definido, nao podendo as Comissoes Estaduais Judicialias de Ado<;ao cercea-Ia.

CONSULTORIA, ASSESSORIA E D1RE<;:AO JURIDICAS

A atividade privativa de advocacia abrange situa<;oes que nao se enquadram na especifica administra<;ao da justi<;a, como se ve no item IT desse artigo sob comentano.

Em vi1iude da crise por que passa 0 Poder Judiciano, como reflexo da crise do proprio Estado Modemo, em cronica incapaci­dade de responder as demandas insatisfeitas da sociedade, cn~sce em todo 0 mundo adenominada advocacia preventiva, que busca solu<;oes negociadas aos conflitos ou 0 aconselhamento tecnico que evite 0 litigio judicial. Ao contrario da advocacia curativa, ou de postula<;ao em juizo, em que seus argumentos sao ad probandum, 0

advogado, ao emitir conselhos, vale-se de at'gumentos essencial­mente ad necessitatem. 0 paradigma profissional a que se voltaram o plimeiro Estatuto, dos anos 30, e 0 segundo Estatuto, dos anos 60 do seculo XX, era 0 advogado forense, marcando decisiva ruptura com 0 paradigma do Imperio e dos primeiros cursos juridicos, ou

16. REsp 35.24S·7·RJ.

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a controversia lavrava nos ambitos administrativo e judicial quanto a qualifica-Ia como atividade privativa de advogado. 0 atual Estatuto - no ambito da competencia exclusiva da Uniao de legislar sobre condigoes para 0 exercicio das profissoes, art. 22, XVI, da Constitui­gao - pas cobro a controversia ao definir explicitamente no inciso IT do art. 1" que constitui atividade privativa dos inscritos da OAB. Para os dirigentes juridicos e essencial a atividade-fim de gestao de servi­go juridico, enquanto sao complementares as atividades de assesso­lia e consultOlia juridicas, que podem ou nao ser por eles exercidas. Os atos de advocacia de qnem exerce diregiio juridica de ente estatal siiopresnmidos, sem necessidade de comprovagao especifica.

A consnltoria jurfdica nao pode ser prestada como oferta ao publico, de modo impessoal, por utilizagao de meios de comunica­gao como 0 telefone ou a Internet. 0 modele de sociedade de advo­gados adotado pelo Estatuto e 0 de organizagao de meios, nao po­dendo ter finalidades mercantis ou empresariais. Nesse sentido, en­tenden 0 Conselho Federal da OAB ser ilegal a implantagao de sis­tema de prestagao de servigos de consultoria jurfdica por telefone ("Disk-Direito") 19.

ATOS E CONTRATOS

Os atos jnridicos (atos juridicos em senti do eshito e neg6cios jurfdicos) estao se tornando cada vez mais tecnicos e complexos, em alguns casos parecendo verdadeiros c6digos de direitos e deveres, ./ sobretudo em materias envolventes de interesses difusos oucoleti­vos. Sao regulamentos de conduta, muito comnns na atividade eco­namica, que convivem ao lado do direito estataJ. Nao hil obliga­toriedade de pmticipagao de advogados em sua elaboragao, mas e inevitavel que tal ocorra, dadas as suas especificidades tecnicas. A Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994, que disp5e sobre 0 registro de empresas mercantis, nao modificou a exigencia do visto.

19. Consulta n. 147/97/0EP, DJU, 24 jun. 1997.

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A participagao obrigat61ia do advogado em qualquer ate juridi­co importaria lesao ao principio da liberdade de exercfcio da ativida­de econamica, assegurada na Constituigao, art. 170.

Afigura-se compatfvel com 0 principio constitucional, contudo, essa obrigatoriedade quanto aos atos constitutivos de pessoas juridi­cas, porque as conseqiiencias da criagiio desses entes sobre gmpos sociais diversos exigem uma cautela maior. A expeliencia demons­h'ou que esse campo foi ocupado por outros profissionais; sem quali­ficagao jUlidica (despachantes, contadores), utilizando fonnularios e modelos nem sempre adequados, provocando dificuldades e litfgios evitaveis, especialmente nos casos dedissolugoes societarias.

o Estatuto considera nulos os atos que nao estejam visados por advogado. 0 visto nao e mera formalidade; importa 0 comprometi­mento com a fOlma e 0 conteudo do ato, estando sujeito aos deveres etico-profissionais e a responsabilidade civil culposa por danos de­correntes. Nao consulta os fins sociais da nOIDla 0 entendimento que se satisfaga apenas com a fungao extrfnseca e cartonuia do vis to, 0

que converteria 0 advogado em notano, pois 0 interesse tutelado e 0 da coletividade e nao 0 de reserva de mercado de trabalho.

A norma estatutaria nao a1canga as empresas individuais, por­que estas nao configuram pessoas juridicas. A empresa individual (dita firma individual)'6 equiparada a pessoa jurfdica pm'a detelmina­dos fins legais, como, por exemplo, os tributanos. Mas a equiparagao visa a fins deterrninados que nao alteram a natureza do ente. Pessoas juridic as de direito privado, no Brasil, sao as associagoes civis (sem fins lucrativos), as fundagoes, as organizagoes religiosas, os pmtidos politicos, as sociedades simples e as sociedades empresarias (m't. 44 do CC). As empresas individuais sao registradas mediante formula­rio padronizado que dec1ara apenas dados predetenninados, nao ha­venda a formulagao de conteudo que os atos constitutivos societanos exigem para regulagao de conduta de administradores e associados.

Na ADIn n. 1.194,0 Supremo Tribunal Federal indeferiu por unanimidade 0 pedido de medida liminar de inconstitucionalidade fOlmulado pela Confederagao N acional da Industria contra 0 § 2" do

art. I", em 1996.

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a) a lei a que se remete e esta (0 Estatuto) e na~ outra20-A;

b) os limites dizem respeito apenas it inviolabilidade.

A indispensabilidade do advogado it administra<;ao da justi<;a e total; nao pode sofrer limitac;6es estabelecidas em norma infraconsti­tucional. Nesse ponto, 0 art. 133 e norma de eficacia plena, ou seja, independe de lei, pOl'que e da natureza da administra<;:ao da justi<;a, em nosso sistemajurfdico, a necessrn.ia pmticipac;ao do advogado, ao lado do magistrado e do membra do Ministerio public02!.

De qualquer forma, em face do texto expresso do Estatuto, este e a lei regulamentadora a que se refere 0 mt. 133 da Constitui<;ao.

Sobreinviolabilidade e aindependencia do' advogado, ver os comentarios aos mts. 72 e 31, § 12, respectivamente.

INDISPENSABIUDADE DO ADVOGADO

o ptincipio da indispensabilidade nao foi posto na Constitui<;ao como favor corporativo aos advogados ou para reserva de mercado profissional. Sua ratio e de evidente ordem publica e de relevante interesse social, como instlUmento de gm-antia de efetiva<;ao da cida­dania. E garantia da parte e nao do profissional.

Em face do litfgio, a administra<;ao da justi<;a pressup6e a pari­dade de mIDas, mediante a representa<;ao e defesa dos interesses das pmtes por profissionais com identicas habilita<;ao e capacidade tecni­ca. 0 acesso igualitatio it justi<;a e a assistencia jurfdica adequada sao direitos inviohiveis do cidadao (Constitui<;ao, art. 52, XXXV e LXXIV). Comprovando-se a insuficiencia de rendimentos pessoais, cabe ao Estado prestar assistencia juridica integral ao necessitado atraves de corpo de advogados remunerados pelos cofres pUblicos, a saber, os defensores publicos (Constitui<;ao, art. 134).

20-A. 0 STF declarou inteiramente constitucional 0 § 32 do art, 79., na ADln 1.127-8, especialmente as express6es "nos limites desta lei",

21. 0 Supremo Tribunal Federal jii havia decidido no Ml295-9/400-DF que 0 art. 133 e auto-aplicavel, quanta a indispensabilidade, e que "a referencia contida no art. 133 aos limites da lei diz respeito a inviolabilidade no exercfcio_ profissional e nao a regra perempt6ria segundo a qual 0 advogado e indispensavel a administrac;ao da justic;a".

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No ordenamento brasileiro, sao tres os figurantes indispensa­veis it administra<;ao da justic;a: 0 advogado, 0 juiz e 0 promotor. 0 plimeiro postula, 0 segundo julga e 0 terceiro fiscaliza a aplica<;ao da lei. Cada um desempenha seu papel de modo pmitmo, sem hierar­quia (ver os coment3J.1os ao art. 62 , abaixo). Pode-se dizer, metafori­camente, que 0 juiz simboliza 0 Estado, 0 promotor, a lei, e 0 advoga­do, 0 povo. Todos os demais sao auxiliares ou coadjuvantes.

Sao advogados todos os que patrocinam os interesses das par­tes, sejam elas quais forem, mesmo quando remunerados pelos co­fres publicos (advogados estatais, defensores publicos). Ou seja, sao os representantes necessarios, que agem em nome das.partes, mas no interesse da administrac;ao da justi<;a.

Como adverte Jose Afonso da Silva22, comentando 0 mt. 133 da Constitui<;ao, "0 principio [da indispensabilidade 1 agora e mais rigi­do, parecendo, pois, nao mais se admitir postula<;ao judicial por lei­gos, mesmo em causa proptia, salvo falta de advogado que 0 fa<;a".

NATUREZA DA ADVOCACIA. SERVI<:;O PUBLICO. FUN<:;AO SOCIAL

A administra<;ao da justi<;a e especie do genera atividade publi­ca. Atividade publica peculiar, porque expressao propria de urn dos Poderes estatais constitufdos, nao se confundindo com a Administra-. <;ao Publica, em sentido estrito, que 0 Judiciario tambem exerce com rela<;ao a suas atividades-m<3P' 0 magistrado eo promotor sao agen­tes do Estado e exercem fun<;ao publica. 0 advogado, no entanto, embora dela participe como figurante indispensavel, nao e titular de fun<;ao publica (ou estatal), salvo se for vinculado a entidade de ad­vocacia publica.

o § 22 do mt. 12 do Estatuto atribui-Ihe 0 carater de servic;o publico, mesmo quando exercida em "ministerio privado". Significa dizer que a advocacia nao e fun<;ao publica, mas e regida pelo direito

22. Curso de direito cOllstituciollal positivo, Sao Paulo, 1995. p. 533.

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Page 14: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

art. 8Q, inclusive a prova de gradua<;;ao em direito e de aprova<;;ao em

Exame de Ordem, que sup5e 0 conhecimento da lingua portuguesa e do direito nacional. Tal providencia nao pode ser considerada urn obstaculo a tendencia mundial de supera<;;ao das fronteiras e de for­ma<;;ao das comunidades de na<;;5es, salvo a ocon'encia de tratado in­temacional sobre a materia (art. 5Q, § 2Q, da Constitui<;;ao). Nao faz sentido que 0 advogado brasileiro obrigue-se a inscti<;;ao e fiscaliza­<;ao da corpora<;;ao profissional e 0 estrangeiro nao, porque a legisla­<;;ao de seu pais nao produz efeitos sobre a atividade profissional que venha a desenvolver no Brasil.

Deixa cle haver a' exigencia, co;'stante do Estatuto antetior, de reciprocidade de direitos e deveres, segundo a qual 0 advogado es­trangeiro s6 podetia inscrever-se na OAB se tal possibilidade ocor­resse em seu pais para 0 advogado brasileiro. Essas restri<;;5es nao contribuem para a aproxima<;;ao dos povos. Se a legisla<;ao brasileira pelmite 0 exerdcio da advocacia ao advogado estrangeiro no tenit6-rio nacional, desde que inscrito na OAB, 0 Brasil estara legitimado a pugnar politicamente por identica atitude em outros pafses que ado­tern norma diferenciada.

o Provimento n. 91/2000 do Conselho Federal da OAB admite que 0 advogado estrangeiro, nessa condi<;;ao, possa atuar no Brasil, se obtiver autoriza<;;ao do Conselho Seccional da OAB, pelo prazo renovavel de tres anos, e exclusivamente para pratica de consultoria sobre 0 direito de seu pais de origem, nao the sendo permitida a postula<;;ao a 6rgao do Poder Judiciillio, ainda que em parceria com advogado brasileiro. Tambem e vedada a advocacia extrajudicial (consultoria, asses soria, dire<;;ao juridicas) sobre 0 direito brasileiro. Os consultores em direito estrangeiro poderao reunir-se em socieda­de especifica, devidamente registrada no Conselho Seccional da OAB, acrescentando-se a seu nome de origem "Consultores em Direito Estrangeiro". A esses advogados e as respectivas sociedades aplica­se a legisla<;;ao brasileira sobre atividade de advocacia, inclusive as regras deonto16gicas. 0 Provimento n. 99/2002 do Conselho Federal detenninou a organiza<;;ao do Cadastro Nacionll,l de Consultores e de Sociedades de Consultores em Direito Estrangeiro.

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ADVOCACIA PUBLICA

A Constitui<;;ao, nos arts. 131, 132 e 134, cuida da advocacia publica, que pode ser assim classificada:

a) advocacia estatal (da Uniao, dos Estados-membros, do Dis­tlito Federal, dos Munidpios e de suas Autarquias e Funda<;;5es Publicas);

b) defensoria publica (da Uniao, do Distrito Federal e dos Esta­dos-membros ).

A Advocacia-Geral da Uniao esta disciplinada na Lei Comple­mentarn.73, de 10 defevereiro de 1993, e a defensOlia publica (em geral), pela Lei Complementar n. 80, de 12 de janeiro de 1994. Am­bas somente admitem 0 exerdcio da advocacia dentro dos limites de sUas atribui<;;5es institucionais, de modo exclusivo, ficando vedada a advocacia particular ou autonoma28.

Como conciliar 0 disposto no alt. 3Q, § 1 Q, do Estatnto com refe­

ridos diplomas legais especificos? 0 ponto em comum e que todos tratam de atividade de advocacia. A advocacia publica e especie do genero advocacia, porque integra a administra<;;ao da justi<;;a e nao tem natureza nem allibui<;oes da Magistratura ou do Ministerio PU­blico. Como os demais advogados, seus integrantes postulam em ju­fzo ou realizam servi<;;os de consultoria, assessotia ou direc;;ao ju­ridicas29, que sao justamente as atividades de advocacia tipificadas no art. 1 Q do Estatuto ..

28". Todavia, 0 Orgao Especial do Conselho Federal da GAB (Proe. n. 243/991 OEP) entendeu que a veqa<;ao da advocacia pat1icular aas defensores publicos apenas -­se aplica aas que ingressaram na carreira, ap6s 0 advento da Lei Complementar n.-80, de 12 de janeiro de 1994. .

29. Antes do Estatuto, 0 Conselho Federal, por seu Plenano, no Processo CP n. 3.739/93, Ac6rdao CP 06/93 (Jomal do COllselllo Federal- OAB, ano 4, n. 35:14, jan.lfev. 1994), ja decidiu que: "Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime do Estatuto da OAB, a16m do regime proprio a que se subordinem, as integrantes daAdvocacia-Geral da UnH'io. A postula<;ao perante orgao judiciario e,as fun<;6es de dire<;ao, assessoria e consultoria juridicas configuram atividade propria de advogado, que integra 0 tripe da administra<;ao da justi'ta, ao lado do magistrado e do membra do Ministerio Publico. Inteligencia compreensiva do art. 133 da Constitui<;ao Federal".

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Page 15: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

A regularidade da inscric;:ao na OAB e exigencia permanente, bern como a observancia das nOlIDas gerais da legislac;:ao da advoca­cia e dos deveres etico-profissionais, quando no exercfcio da advoca­cia publica.

Mesmo em seu ministerio privado, 0 advogado presta servic;:o publico (art. 2', § I') e nao servic;:o privado. E esse servic;:o publico peculiar, a advocacia, e tutelado pelo Estatuto, sendo inelevante a origem ou vinculo do profissional que 0 exerce. Sendo assim, 0 po­der de punir 0 advogado publico, por falta etica nao funcional e rela­cionada a atividade privativa da advocacia, e exclusivamente da OAB. Se esse profissional vern a ser suspenso ou exc1uido, fica proibido de exercer a advocacia, temponhia e permanentemente, afetandoas pr6-plias finalidades do cargo que ocupe, embora nao produza efeitos quanto a sua relac;:ao funcional intema. Contudo, certamente, por suas implicac;:oes eticas, a decisao da OAB refletira na Administrac;:ao PU­blica, qne tern 0 dever de observar 0 princfpio da moralidade admi­nistrativa (art. 37 da Constitnic;:ao), que se encontra acima de qual­quer regime juridico fnncional, contra ele tambem instaurando 0 de­vido processo disciplinar.

As regras do Estatuto relativas ao advogado empregado sao suO. pletivas das legislac;:oes especfficas da advocacia publica, no que for compatfvel. A legislac;:ao estadual pode, validamente, estabelecer proi­bic;:oes a advocacia pmticular a seus servidores, nao se constituindo invasao da competencia legislativa da Unia030• Nesta direc;:ao enten­deu 0 Conselho Federal, por seu Orga~ Especial, que os Estados e Municipios tern compe.;encia legislativa para vedar 0 exercfcio da advocacia privada e estabelecer dedicac;:ao exclusiva para seus procu­radores (Consulta n. 000412002/0EP-MS).

Com fnndamento no § 1 Q do art. 3Q do Estatuto, 0 STJ (REsp 480.598IRS, 2004) decidiu que essa nOlIDa "concede a todos os ado. vogados, inclusive aos defensores publicos, 0 direito a honorarios". o caso envolveu honoriirios de sucumbencia devidos pe10 Estado que

30. Assim decidiu 0 Conselho Federal da OAB (Conselho Plena), no Processo n. 4.509/99/COP, DJ, 20 set. 1999.

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restou vencido na ac;:ao, nao se podendo confnndir "orgao do Estado com 0 proprio Estado", que se enfrentaram. A lei estadual preve que os honoriirios devidos ao defensor publico se revel tern em favor de fnndo proprio de aparelhamento da Defensoria Publica.

ATUA<;:AO DE ESTAGIARIO

Ao contrario do Estatuto anterior, que pennitiu 0 exercfcio pelo estagiario dos atos nao privativos de advogado, 0 novo Estatuto fa­culta ao ptimeiro (regulannente inscrito na OAB) exercer todos os atos, des de que acolnparitiad6 riecessmiamente por advogado Cinelu­indo 0 procurador ou 0 defensor publicos) e sob a responsabilidade deste. A atuac;:ao do estagiiirio nao constitui atividade profissional; integra sua aprendizagem priitica e tern func;:ao pedagogica.

Assim, todos os atos profissionais e pec;:as processuais deverao ser realizados com a pmticipac;:ao do advogado, embora possam con­ter, tambem, 0 nome, 0 numero de inscdc;:ao e a assinatura do estagi­ario. A auseneia do advogado gera nulidade do ato e responsabilida­de disciplinar pm'a ambos, em viltude de infrac;:ao de nonna estatut3.ria expressa (mt. 36, III, do Estatuto).

Contudo, 0 art. 29 do Regulamento Geral especifica as hipote­ses em que e possivel a priitica isolada de alguns atos auxiliares pelo estagiario, embora sob a responsabilidade do advogado a que se vincule:

I - retirar e devolver autos em cmtorio, assinando a respectiva carga; .

II - obter junto aos esctivaes e chefes de secretarias certidoes de pec;:as ou autos de processos em curso ou findos;

ill - assinar petic;:oes de juntada de documentos a processos judiciais e administrativos.

Decidiu 0 Conselho Federal que tambem se inclui entre as hi­p6teses 0 pedido de informa<;oes sobre 0 andamento de processos judiciais, sem retirada e sem vistas dos autos (OE 49/95, DJU, 13 nov. 1995).

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Page 16: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Na hipotese de sociedade de advogados, 0 mandato judicial deve ser outorgado individualmente aos que dela fa<;;am parte, mesmo que o instrumento procurat6rio a ela se refira, conforme determina 0 art. 15, § 3Q

, do Estatuto.

o preceito legal (art. 5°) tem igualmente fundo deontol6gico. Dirige-se ao advogado atribuindo-Ihe 0 dever de provar 0 manda­to, quando postular em nome do cliente32

• De mesma natureza e a exce<;;ao prevista no § 1°, que admite possa atuar sem procura<;;ao em caso de urgencia, pOl'que pressup6e existir 0 mandato, confe­rindo fe it sua dec1ara<;;ao nesse sentido. 0 prazo para apresentar 0

.. igstrumento procurat6rio e de quinze dias, contados dodi~ se.,guin­te ao do ato de representa<;;ao. Nao mais prevalecem os pressupos­tos contidos no art. 37 do CPC, bastando a dec1ara<;;ao de urgencia feita pelo advogado, que e dotada de presungao legal de veracida­de. 0 prazo de quinze dias independe de qualquer ato ou manifes­ta<;;ao da autoridade judicial.

Pennite a lei a prorrogagao pOl' igual periodo de quinze dias, uma unica vez, totalizando trinta dias. A necessidade da pron'oga<;;ao deve ser justificada, dado 0 carater de excepcionalidade de que se reveste e 0 dever etico de provar 0 mandato. Essa justificativa deve ser dirigida ao magistrado, quando em juizo, e it pessoa com quem deve relacionar-se representando 0 c1iente, quando fora de juizo, an­tes do termino do primeiro prazo para que se nao converta em reno­vac;:ao, qne a lei desconsiderou. Nao cabe ao magistrado 0 juizo de. conveniencia, mas 0 de razoabilidade da justificativa apresentada.

/ A falta de mandato produz conseqtiencias em face de terceiros e ,

do suposto mandante. Atinge-se 0 plano da existencia e nao apenas 0

da eficacia. Contudo, em deferencia ao velho principio de direito que veda 0 enriquecimento ilicito, responde 0 suposto mandante ·ate 0

proveito que teve. Quanto ao advogado, ha responsabilidade discipli­nar e civil.

32. Decidiu ace11adamente 0 Tribunal de AI~ada do Rio Grande do SuI (AC 24.734, Jurisprudencia Brasileira. 123: 148) que a procurac;ao ad negotia outorgada por pessoajurfdica a mandatario seu, sem poderes para 0 foro, nao auto;riza a outorga de procuragao a advogado para a representac;ao judicial da man dante.

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o Tribunal de Justic;:a de Sao Paulo julgou interessante caso em que 0 advogado, l'epl'esentando cliente hospitalizado e acometido de AIDS, ajuizou cautelar contra seguradol'a de saude para obriga-Ia ao pagamento das despesas, nao tendo podido juntar procura<;;ao, que prometeu exibir no prazo legal, nao 0 fazendo. Entendeu 0 Tribunal que· 0 art. 5°, § 1°, do Estatuto era compativel com 0 art. 37 do CPC, responsabilizando 0 advogado pelas despesas e perdas e danos, em decorrencia do cumprimento da liminar33

Considera-se falta de mandato a ausencia de demonstrar;ao de regular inscrir;ao do mandatario judicial nos quadros da OAB, ge­raudo. "a inexistencia dos atos processuais praticados", confonne decidiu 0 Pleno do STp34. Igualmente no caso de advogado exclui­do da OAB ou durante 0 periodo da pena disciplinar de suspensao, de nada valendo 0 substabelecimento postelior a profissional habi­litado. Em decisao de 2004, 0 TST considerou irregular a represen­tagao tecnica para recorrer de um advogado que havia recebido po­deres tipicos e privativos de advogado pOl' meio de substabelecimento feito pOl' uma estagiaria de advocacia, pOl'que "nao poderia substabelecer poderes de que nao era pOltador" (remissao ao ac6rdao

A-E-RR-365996/1997).

Na instancia especial (Sumula 115-STJ) e na extraordinfuia nao se tem admitido recurso interposto pOl' advogado sem procurar;ao nos autos. Na instancia ordinfuia admite-se que e defeito saIlavel a falta de instrumento procurat6rio quando da interposir;ao da apelar;ao.

No caso do defensor publico, a representar;ao da palte independe de mandato judicial, exceto para as hip6teses em que a lei exige po­deres especiais (cf. art. 44, XI, da LC n. 80, de 12~1-1994). Dames­ma forma, tem sido entendido que os procuradores autarquicos em geral, quando atuam em juizo em nome da autarquia respectiva a cujo quadro pertencem, estao dispensados de apresentar 0 instrumento procurat6rio, porque nao cumprem mandato judicial, mas exercem

33. RT, 718:131, ago. 1995. 34. MS 21.730-I-DF. DIU. 22 abr. 1994. p. 8942.

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Quando 0 mandato outorgado a advogado tiver finalidades extrajudiciais, 0 prazo de dez dias tambem seni exigfvel, com a noti­fica<;ao da re11llncia ao pr6prio c1iente.

A re11llncia nao e apenas uma faculdade aUibuida ao profissional; e uma imposi<;ao etica, em deter11linadas circunstancias, como as pre­vistas no C6digo de Etica e Disciplina (Cap'tulo II do Titulo I), a saber: a) se 0 c1iente tiver omitido a existencia de ouu'O advogado ja constitu­fdo; b) se sobrevier conflito de interesses entre seus clientes, devendo optar por um dos man datos, resgnardando 0 sigilo profissional; c) se conc1uir que a causa e conU'mia it etica, it moral ou it validade de ate

. jurfdico em que tenha colaborado; d) se 0 cliente impuser a indica<;ao de outro advogado para com ele trabalhar na causa.

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DIREITOS DO ADVOGADO ~"1 ~ >,. "-",.

CAPiTULO II

DOS DIREJ.TOS DO ADVOGADO

Art. 6" Nao h:i hierarquia nem subordina\;ao entre advo­gados, magistrados e membros do Ministerio Publico, deven­do todos tratar-se com considera\;ao e respeito reciprocos.

Panigrafo uuico. As autoridades, os servidores publicos e os serventuarios da justi\;a devem dispensar ao advogado, no exercicio da profissao, tratamento compativel com a diguidade da advocacia e condi\;oes adequadas a seu desempenho.

Art..7" Sao direitos do advogado:

I - exercer, com liberdade, a profissao em todo 0 terri­t6rio nacional;

II - ter respeitada, em nome da liberdade de defesa e do sigilo profissional, a inviolabilidade de seu escrit6rio ou local de trabalho, de seus arquivOs e dados, de sua corresp~n­dencia e de suas comunica\;oes, inclusive telefOnicas ou afins, salvo caso de busca ou.apreensao determinada por magistra­do e acompanhada de representante da OAB;

III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reserva­damente, mesmo sem procura\;ao, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicaveis;

IV - ter a presen\;a de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercicio da advo-

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xx - retirar-se do recinto onde se encontre aguardan, do pregao para ato judicial, apos trinta minutos do honirio designado e ao qual aiuda nao tenha comparecido a autori­dade que deva presidir a ele, mediante comunica~ao protocolizada emjuizo.

§ P Nao se aplica 0 disposto nos incisos XV e XVI:

1) aos processos sob regime de segredo de justi~a;

2) quando existirem nos autos documentos originais de dificil restaura~ao ou ocorrer circunstiincia relevante que jus-tifique a permanencia dos autos no cartorio, secretaria ou" ... ,_. i reparti~ao, reconhecida pe!a autoridade em despacho moti-vado, proferido de oficio, mediante representa~ao ou a re­querimento da parte interessada;

3) ate 0 encerramento do processo, ao advogado que hou­ver deixado de devolver os respectivos autos no prazo legal, e so 0 fizer depois de intimado.

§ 2Q 0 advogado tern imunidade profissional, nao consti­tuindo injuria, difama~ao ou desacato puniveis qualquer manifesta~ao de sua parte, no exercicio de sua atividade, em juizo ou fora dele, sem prejuizo das san~lies disciplinares pe­rante a OAB, pelos excessos que cometer.

§ 3Q 0 advogado somente podeni ser preso em flagrante, por motivo de exercicio da profissao, em caso de crime inafian~avel,observado 0 disposto no inciso IV deste artigo.

§ 4Q 0 P~der Judiciario e 0 Poder Executivo devem ius­talar, em todos os juizados, foruns, tribunais, delegacias de policia e presidios, salas especiais permanentes para os advo­gados, com uso e controle assegurados a OAB.

§ S" No caso de of ens a a inscrito na OAB, no exercicio da profissao ou de cargo ou fum;ao de orgao da OAB, 0 Conse­Ibo competente deve promover 0 desagravo publico do of en­dido, sem prejuizo da responsabilidade criminal em que in­correr 0 infrator.

(Obs.: As pmtes grifadas foram consideradas inconstitucionais pelo STP na ADln 1.127-8. 0 inciso IX do alt. 7Q tambem foi objeto da ADln 1.105-7,)

COME NT ARiOS

DIREITOS OU PRERROGATIVAS

o Estatuto trata de fOlma indistinta os direitos e/on prerrogati-vas do advagado. ContLidO; prerrogativas sao genera das quaiS'os' .', direitos do advogado sao especies. Elas peq)assam todo 0 Estaluto, nao se contendo apenas no capitulo dos direitos.

As prerrogativas profissionais diferenciam-se dos ptivilegios das corporac;:6es de oficio ou guildas medievais. Como esc1m'ece Max Weber", antes do Estado Modemo e da concepc;:ao de direito subjeti­yo, os direitos pmticulares apareciam nOlmalmente sob a fOlma de direitos privilegiados, isto e, em ordenamentos estatuidos autonoma­mente por tradic;:ao ou acordo de comunidades de tipo estamental ou de uni6es socializadas. 0 plincipio de que 0 priviIegio (direito parti­cular privilegiado, nesse sentido) prevalecia sobre 0 direito geral do pais (direito comum, vigente na ausencia daqueles) era urn postulado a que se reconhecia validade quase universal.

Se, no passado, prerrogativa podia ser confundida com ptivile­gio, na atualidade, pren'ogativa profissional significa direito exclusi­vo e indispensavel ao exercicio de detemlinada profissao no interes­se social. Em celta medida e direito-dever e, no caso da advocacia, configura condic;:6es legais de exercicio de seu munus publico.

o presidente do Conselho Seccional ou da Suhsec;:ao, ao tomar conhecimento do fato que tenha violado ou possa violar direitos ou prerrogativas da profissao, deve ado tar as providencias judiciais e

38. Cf. Econom(a y sociedad, trad. Jose Medina EchavalTfa e outros. 1977, p.556.

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Page 19: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

da profissao, legal e eticamente, nao podendo ser submisso, omisso ou conivente. Nao pode exceder os limites emergentes da reciproci­dade, nem abusar de seu direito ison6mico. Decidiu 0 STJ (REsp 684.532) que a of ens a de juiz a advogado em audiencia e crime con­tra ahoma, nao apenas abuso de autOlidade, pois enquanto este tem como objeto a atuac;ao da autoridade publica, "no tocante aos crimes contra a honra, a objetividade juridica em nada incide na preocnpa­C;ao do desvio do agente publico, mas no fato de sua responsabilida­de, como pes so a, em respeito a honra (objetiva ou subjetiva) de on­trem", admitindo-se 0 recebimento da queixa-crime pela difamaC;ao eseujulgamento pelojufzo competente.

Sem independencia, a advocacia fenece. Sem dignidade, ela se amesquinha (sobre independencia do advogado, ver comentarios ao art. 31).

o paragrafo unico do alt. 6Q estende 0 comando a todos os agen­tes publicos e serventuarios de jnstic;a, com os quais deve 0 advogado relacionar-se profissionalmente. Nao e privilegio porque advocacia e servic;o publico, quanta a seus efeitos - a lei assim 0 diz -, e seu desempenho tem de receber adequada colaborac;ao desses agentes. Quando 0 advogado se dirigir a qualquer 6rgao ou entidade publica, no exercfcio da profissao e no interesse do constituinte, com prova do mandato, exceto quando for U'atar de interesse pessoal, nao pode re­ceber U'atamento ordinario e identico as demais pessoas nao profissi­onais, cabendo aos agentes publicos oferecer condiC;6es adequadas ao desempenho de seu mister.

o art. 7Q, ao cuidar dos direitos de( advogado, especifica algu­mas dessas prerrogativas, que passaremos a analisar.

LIBERDADE DO EXERCICIO PROFlSSIONAl

A Constituic;ao (art. 5Q, XIII) determina que e livre 0 exercfcio

de qualquer profissao, "atendidas as qualificac;6es profissionais que a lei estabelecer". A locuc;ao qualificat;iio projissional tern sentido mais abrangente que capacidade a que fazia referencia a Constitui­«ao de 1967/1969 (alt. 153, § 23). Significa as condic;6es, requisitos

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e qualidades que sao estabelecidos em lei para exercer a profissao regulamentada. Esta e a func;ao do Estatnto. A liberdade de exercfcio profissional e, pOltanto, condicionada a esses elementos de qualifica­c;ao. 0 parametro que a lei qualificadora deve observar e 0 da igual­dade de todos perante ela, sem qualquer discrimina<;:ao, segundo 0

princfpio estruturante do caput do alt. 5Q da Constituic;ao a que se

subordina seu inciso XIII. A profissao de advogado, para os inscritos na OAB, pode ser

exercida em todo 0 tenit6rio nacional, observadas algumas qualifica­c;6es ou condiC;6es que 0 Estatuto estabeleceu para todos igualmente. A liberdade de exercfcio pode ser assim qualificada:

I - plena, com a seguinte classificaC;ao:

a) em razao do espac;o, no ambito do tenit6rio do Estado-mem­bro, do DisUito Federal ou do Tenit6rio Federal, em cujo Conselho Seccionalo advogado obteve sua inscric;ao principal ou sua inscri«ao suplementar ou por transferencia (v. alt. 10 do Estatuto);

b) em razao da materia, perante os Tribunais federais e superio­res, localizados em outras unidades federativas, nas causas em que haja seu patrocfnio profissional;

II - condicionada, para 0 exercfcio eventual da advocacia, fora . do territ6rio de sua inscriC;ao principal ou suplementar, assim enten­dido quando nao exceder de cinco causas ao ano.

INVIOlABllIDADE DO ADVOGADO

A garimtia constitucional da inviolabilidade do advogado per­passa todo 0 texto do Estatuto, que a regulamenta. Os limites legais referidos na Constituic;ao (alt. 133) tern uma dimensao positiva e ne­

gativa. Na dimensao positiva, a inviolabilidade do advogado, referida

expressamente nos arts. 2Q, § 3Q, e 7Q, II e XIX e §§ 2Q e 3Q, do Estatu­

to, ostenta as seguintes caracterfsticas:

a) imunidade projissiol1al, por manifestac;6es e palavras;

b) protec;ao do sigilo projissiol1al;

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Page 20: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

A regra da imunidade guru'da coerencia com 0 principio da ignal­dade dos figurantes da administra«ao da justi«a, que 0 rut. 6° do Esta­tuto tomou claro e incisivo. Por esse principio, 0 advogado e 0 ma­gistrado sao autoridades do mesmo grau, com competencias espe­cificas e harmonicas, ambos exercendo servi«o publico (aIt. 2", § 1°). Por nao dispor do poder de punir contra 0 advogado, e vedado ao magistrado excluir este do recinto judiciiUio, inclusive de audiencias e sessoes, ou censurar as manifesta«oes escritas no processo, por ele consideradas ofensivas, estando derrogadas as normas legais que as admitiam.

Nao M exigencia de se estabelecer qualquer vinculo entre a of en-. sa e a causa ou processojudiciai. 0 Supremo Tribunal Federal (reI. Min. Evandro Lins) ja decidiu que esse vinculo esta na pr6pria atua­«ao do advogado a quem se confere a imunidade, sendo aquela exi­gencia "uma restri«ao que a lei nao faz"44.

A imunidade profissional nao exclui a punibilidade etico-dis­ciplinar do advogado, porque cabe a ele 0 dever de tratar os mem­bros do Ministerio Publico e da Magistratura com considera«ao e respeito reciprocos. 0 art. 6°, como ja vimos, ao ablir 0 capitulo dos direitos dos advogados, impoe-lhes 0 dever de tratar magistrados e promotores de justi«a "com considera«ao e respeito reciprocos". Ja

Libertas Convinciandi - 1) A libertas conv'inciandi DaD se degra"da em licen~a de irrogar of ens as ao juiz da causa. 2) Todavia, a vivacidade excessiva do advogado, talvez provocada peia vivacidade menos intensa do julgador, pode oao constituir crime, mas apenas falta disciplinar punivel, talvez, peIo orgao de classe, sem prejufzo de serem riscadas das autos as expressoes descorteses".

II - A compreensao da irnunidade profissional do advogado, mesma em face do magistrado, ampliou-se no STJ, como se ve na ementa do RHC 560-DF, em que se trancou ac;ao penal par crime contra a honra de juiz federal: "A critica a atitudes do Juiz constantes da defesa previa pelas circunstancias e no contexto em que foi escrita, nao entremostra,primajacie, 0 animus de ofender. 0 advogado deve atuar como guardiao da Constituic;ao e defensor da ordem jurfdica; exercer a profissao com zeloe probidade; ( ... ) pois tanto quanto 0 juiz a sua missao_e a busca incessante de eficaz e justa distribuic;ao dajustic;a" (Paulo de Tarso Dias Klautau, Crime contra a homa de juiz federal. Imputac;ao feita a advogado. Ac;ao penal. Trancamento, Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, 55:209-14, set.!dez. 1991).

44. RTf, 48:42.

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o C6digo de Etica e Disciplina (arts. 44 e 45) considera dever etico do advogado tratar 0 publico, os colegas e as autOlidades com res­peito, discri«ao e independencia, empregando linguagem polida e agindo com lhaneza. Mas apenas a OAB tem competencia para pu­nir 0 excesso do advogado, por suas manifesta«oes, palavras e atos, no exercicio da advocacia, e que poderiam tipificar crime contra a homa. Se 0 fizer, 0 magistrado cometeni abuso de autoridade, tipificado como crime na Lei n. 4.898/65, que 0 configura no art. 3° como "qualquer atentado aos direitos e garantias legais assegnrados

ao exercicio profissional".

Afalta de reciprocidadede tratimento respeitoso pOl' prute de magistrados e promotores de justi«a, devidamente comprovada, afas­ta a infra«ao disciplinar impurnvel ao advogado, em situ~oes con­cretas, salvo por seus excessos.

A imunidade profissional importa ausencia de crircinalidade, por nao haver contrariedade a direito, que caracteriza 0 ilicito. Por suposto, 0 efeito imediato do § 2Q e 0 da descriminaliza«ao dos fatos cometidos no passado, no presente e no futnro, merce inclusive do plincfpio da retroatividade benefica da lei nova em materia crircinal

que 0 nosso sistema juridico adota.

Os atos e manifesta«oes do advogado, no exercicio profissional, nao podem ficar vulneniveis e sujeitos permanentemente ao crivo da tipifica«ao penal comum. 0 advogado e 0 niediador tecnico dos con­flitos humanos e, as vezes, depara-se com abusos de autoridades, prepotencias, exacerba«oes de animos. 0 que, em situa«oes leigas, possa considerar-se uma afronta, no aIllbiente do litigio ou do ardor da defesa deve sertolerado4S.Os excessos que transbordem dos limi­tes adrcitidos pelo C6digo de Etica e Disciplina e pelo Estatuto serao

punidos disciplinarmente pela OAB.

45. "Nao ha difamac;ao nem injuria, dizer 0 advogado, nos autos. em defesa de seus constituintes. se encontrar 0 magistrado ligado a facc;ao politica. Igualmente inexiste 0 animus calumnialldi em focalizar com certo calor sua personalidade"

(RT,439:448).

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do, parajustamente assegurar-se a plenitude da defesa do direito do cidadao. Nao se protege segredo proprio, mas de·outrem. Como diz Adriano de Cupis, aquele que e necessariamente destinado a receber segredos tem 0 particular dever de conserva-lo51 •

o sigilo profissionaJ e, ao mesmo tempo, direito e dever-52, os­

tentando natureza de ordem publica. Direito ao silencio e dever de se calar. Tem natureza de offcio privado (munus), estabelecido no inte­resse geral", como pressuposto indispensaveJ ao direito de defesa. Nao resulta de contrato entre 0 advogado e 0 cliente.

o dever de sigilo profissional existe seja 0 servi<;:o solicitado on contratado, remunerado ou nao remunerado, haja ou nao representa­<;:ao jndicial ou extrajudicial, tenha havido aceita<;:ao ou recusa do advogado.

Estende-se, 0 dever de segredo, as confidencias do cliente, as do adversario, as dos coJegas, as que resultam de entrevistas para conciliar ou negociar, as de terceiras pessoas feitas ao advo­gada em razao de sua profissao e, tambem, aos colaboradores e empregados54.

51.1 diritti della personalita, cit., p. 381. Diz 0 autor que a mesma necessidade corresponde a estmtura da sociedade modema, caracterfstica da qual e a distribuic;ao de competencias e fun~5es: em virtude de tal distribui<;ao, alguns sujeitas, e sornente estes, desenvolvem determinadas func;6es no interesse de Qutros, e em razao de tais func;6es encontram-se na condic;ao de penetrar em impOltantes segredos pessoais.

52. As Ordenm;oes Filipinas. cit. (Livro I, Titulo XLVTII), puniam 0 advogado que revelasse a segredo do cliente ao adversario com a Pena de degredo para 0 Brasil e impedimenta do aflcio. .

53. Por essa razao, Ruy de Azevedo Sodre (A etica pro fissional e 0 Estatllto do Advogado, cit., p. 396) afinna que ele nao foi institufdo no interesse particular do cliente, mas para servir ao direito de defesa, que e de ordem pUblica. Impoe-se "em qualquer circunsUincia, mesmo que 0 cliente autorize expressamente 0 advogado a revela-Io" (p. 399).

54. Nesse sentido e 0 C6digo de Etica da Union Iberoamericana de Colegios y Agrupaciones de Abogados - UIBA, can forme cOTI1€mtarios de Cremilda Maria Ramos Ferreira, Sigilo projissiol1allla advocacia. Coimbra: Coimbra Ed., 1991, p.15es.

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o Estado ou os particulares nao podem violar essa imunidade profissionaJ do advogado porque estariam atingindo os direitos da personaJidade dos clientes, e a fortiori a cidadania. 0 sigilo profis­sional nao e patrim6nio apenas dos advogados, mas uma conquista dos povos civilizados.

o dever de sigilo, imposto etica e legalmente ao advogado, nao pode ser violado por sua livre vontade. E dever perpetuo, do qual nnnca se libera, nem mesmo quando autorizado pelo cJiente, salvo no caso de estado de necessidade para a defesa da dignidade ou dos direitos legftimos do pr6prio advogado, ou para conjurar peligo atual e iminente contra si ou contra outrem, ou, ainda, quando for acusado pelo proprio cJiente. Entendemos cessado 0 dever de sigilo se 0 cJi­ente comunica ao seu advogado a inten<;:ao de cometer um crime, porque esta em jogo a garantia fundamental e indisponfvel a vida, prevista na Constitui<;:ao. Neste ultimo caso, deve 0 advogado pro­mover os meios para evitar que 0 crime seja cometido.

o inciso XIX do art. 7Q, ora comentado, assegura ao advogado 0

direito-dever de recnsa a depor como testemunha sobre fato relacio­nado com seu cJiente ou ex-cJiente, do qual tomou conhecimento em sigilo profissional55 • Esse impedimento incide apenas sobre fatos qne o advogado conhe<;:a em razao de seu offcio'6. A regra de tutela do sigilo profissional, mesmo em face do depoimento judicial, e larga­mente reafirmada na legisla~ao brasiJeira, como se ve no C6digo Ci­vil, art. 229, I, C6digo de Processo Civil, art. 347, II, Codigo Penal, art. 154, e Codigo de Processo Penal, art. 207. Entendeu 0 Superior Tribunal de'Justi<;:a qne 0 sigilo profissional, previsto no citado inciso XIX, que acoberta oadvogado, e relacionado "a qualidade de teste-

55. Decidiu 0 Conselho Federal (Rec. n. 174/SC/80, Revisto do Ordem dos Advogados do Brasil, 27-28: 193-9, set.ldez. 1990, janJabr. 1991) nao poder 0

advogado prestar depoimento ou testemunhar contra a ex-constituinte sobre 0 que esta Ihe teria transmitido.

56. "0 segredo profissionallimitar-se-a ao que Ihe foi confiado pelo constituinte, mas sobre os fatos que, por outros meios, tenham cbegado ao seu conhecimento, nao prevalece 0 sigilo" (TJSP. AgI 18.143-1, Jurisprudencia Brasileira. 123:233; ver tambOm RT, 127:212).

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A inviolabilidade dos meios de atuagao profissional do advoga­do conta com uma importante excec;:ao, que corresponde ao sentido da locugao limites da lei contida no rut. 133 da Constituic;:ao: e ada busca e apreensao determinada por magistrado. Nao pode 0 advoga­do reter documentos que the foram confiados para os subtrair as in­vestigag6es judiciais, sob pena de proteger 0 delito e a impunidade58•

o advogado que assim age, converte-se em cumplice de crime, vio­lando 0 exercicio lfcito da profissao. A apreensao devera ater-se ex­c1usivamente as coisas achadas ou obtidas por meios criminosos, como preve 0 art. 240, § P, b, do Codigo de Processo Penal, nao podendo ser feita-de modo aleatorio, alCanc;:ando 0 que for encontrado.

A busca e apreensao nao podem inc1uir correspondencias rece­bidas pelo advogado, pOl'que sao confidencias escritas, feitas ao abri­go da confianc;:a e da tutela da intimidade, gru'antidas pela Constitui­gao (rut. 5", XII), nem os demais documentos, arquivos e dados que nao se vinculem a finalidade ilicita, objeto da busca; nesses casos, a inviolabilidade e absoluta.

Acompanhando orientac;:ao internacional, nesta materia, 0 Esta­tuto condicionou a busca e apreensao ao acompanhamento de repre­sentante da OAB. Nesse sentido e 0 Codigo Internacional de Etica Profissional aprovado pela assembleia geral da International Bar Association. 0 Supremo Tribunal Federal, no julgamento definitivo da ADln n. 1.127-8, em 17 de maio de 2006, decidiu pela constitu­cionalidade das express6es "e acompanhada do representante da OAB". Os ministros ressalvaram que 0 juiz poden' comunicar a OAB pru'a que seja designado representante para acompanhar 0 cnrnPli­mento de mandado de busca e apreensao em carater confidencial para ser garantida a eficacia das diligencias. A busca e apreensao nao pode atingir documentos e dados cobertos com tutela do sigilo pro­fissional, porque essas coisas sao intocaveis, como acertadamente decidiu 0 Tribunal de Justiga do Parana, pois "sem essa segnranga 0

58. Cf. Cremilda Maria Ramos Ferreira, Sigilo pro fissional na advocacia, cit., p.51.

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cliente nao pode confiar ao advogado detalhes, minucias do caso, uns e ontros, as vezes, afetando-lhe a honra, dignidade e patrimonio"59.

o Codigo de Processo Penal estabelece requisitos do mandado de busca e apreensao, especialmente "nao sera pelmitida a apreensao de documentos em poder do defensor do acusado, salvo quando cons­tituir elemento do corpo de delito" (art. 243, § 2"). Portanto, e im­prescindivel que 0 mandado especifique que a busca e apreensao de qualquer documento ou dado em escritorio de advocacia visa a cons­tituigao do corpo de delito.

o Ministerio da Justiga, apos constantes rec1amag6es da OAB contra abus·os perpetrados pela Policia Fedetal em escritorios de ad­vocacia, editou a Portaria n. 1.287, de 30 de janeiro de 2005, regula­mentando a execugao de diligencias pelos policiais para cumprimen­to de mandados judiciais de busca e apreensao, sempre sob comando de delegado da Policia Federal. 0 mandado de busca e apreensao sera lido ao preposto encontrado no local da diligencia e sera cumpri­do de maneira discreta, sem a presenga de pessoas alheias ao cumpri­mento da diligencia e preservando ao maximo a rotina do local, de seus meios eletronicos e sistemas infOlmatizados. Nao podem ser apreendidos suportes eletronicos, computadores, discos rigidos ou bases de dados, que possam ser analisados por copia efetuada por perito criminal, salvo expressa detemtinagao judicial em conu·ario. Sera facultado ao interessado exu'air copia dos documentos apreen­didos, inclusive dos dados eleu·onicos. Quando se u'atar de escritorio de advocacia, haven do provas ou fOlieS indicios de que ha em poder

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59. MS 39/69, Jurisprudenda Brasileira, 123:141: Tratou-se de ,abusiva determina<;ao de juiz de direito para invasao do escrit6rio de urn advogado,localizado ern sua residencia, removendo todos as sellS arquivQs, compostos de mais de 500 pastas de clientes, com documentos, tttuiDS de cnSditos, processos com prazo para recurso, e tada a biblioteca corn mais de 3.000 volumes. A autoridade coatora alegou que pretendia colher prova de autoria pelo reu, de exercfcio ilegal da profissao, que, noentanto, encontrava-se inscrito na OAB. Como bern afirmou o relator, "a prevalecer atos do jaez do descrito nestes autos, ninguem mais revelara aos advogados a verdade inteira, receoso de que as que fizer venham selvir de pasta it parte contraria, atraves de violalfao de arqllivos e documentos confiados ao advogado".

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Page 23: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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fiscal da legalidade do ato, fazendo consignar os protestos e inciden­tes que julgue necessarios. Assim esta previsto no Estatuto. Contra essa norma indisp6s-se a AMB, na ADIn n. 1.127-8, tendo 0 STF suspendido em liminar as express5es do inciso IV que asseguram a presen~a de representante da OAB, em 1994. Todavia, no julgamento definitivo em 17 de maio de 2006, decidiu pela total constitucio­nalidade do inciso IV, ressalvando os ministros que, se a OAB nao enviar um representante em tempo habil, mantem-se a validade da prisao em flagrante. Tambem decidiu 0 STF, contrariando a liminal', que 0 § 3

Q do alt. 7Q nao sofreria restris:ao de sua interpretac;ao, quan­

to ao desacato, que deixava 0 advogado a merce db arbitrio do magis­trado, constituindo condenavel privilegio. Assim, apenas no caso de crime inafianc;avel, 0 advogado pode ser preso em flagrante, por motivo de exercfcio da profissao.

Cabe a autoridade competente, incluindo 0 magistrado, a prova da comunicac;ao express a da prisao a OAB. Nesse caso, 0 Presidente do Conselho ou da Subsec;ao integra a defesa, como assistente, no processo ou no inqu<£rito (alt. 16 do Regnlamento Geral), alem de adotar as providencias judiciais e extrajudiciais cabiveis.

PRISAO EM SALA DE ESTADO MAIOR

Em todas as hip6teses em que 0 advogado deva ser legalmente presQ, pelo cometimento de crimes comuns, inclusive os nao relacio­nados com 0 exercicio da profissao, e enquanto nao houver decisao transitad:yem julgado, cabe-Ihe 0 direito a ser recolhido a sala de Estado Maior. Por esta deve ser entendida toda sala utilizada para ocupac;ao ou detenc;ao eventual dos oficiais integrantes do quartel

. militar respectivo.

o Estatuto preve que a sala disponha de instalac;5es e comodi­dades condignas. Esse preceito procura evitar os abusos que se co­meteram quando os quarteis indicavam, a seu talante, celas comuns como dependencias de seu Estado Maior. Se nao houver salas com as caracteristicas previstas na lei, sem improvisa~5es degradantes, fica­ra 0 advogado em prisao domiciliar, ate a conclusao definitiva do pi'ocesso penal.

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Na Ac;ao Direta de Inconstitucionalidade n. 1.127-8, 0 Supremo Tlibunal Federal concedeu liminar para suspender a eficacia da ex­pres sao "assim reconhecidas pela OAB". Suprimido 0 reconhecimento da OAB, cabera ao advogado preso, ou a pr6plia OAB (por se tratar de defesa de prelTogativas profissionais), demonstrar em jufzo que a sala nao possui instalaC;5es e comodidades condignas. No Recurso de Habeas CO/pus n. 1O.442-SP (D], 7 maio 2001), 0 SupeliorTribunal de Justic;a decidiu que "A pren'ogativa que confere prisao especial aos advogados objetiva proteger 0 profissional que exerce atividade essencial a administrac;ao da justi~a, segundo 0 canon do alt. 133, caput, da CF. A priva~ao da liberdade do advogado em cela de dele­gacia de policianao ntende a exigencia de.prisao especial, na forma preconizada no art. 72 , V, da Lei n. 8.906/94".

Durante as discuss6es havidas no Conselho Federal da OAB, quando da aprova~ao do anteprojeto do Estatuto, prop6s-se a subs­titui~ao de sala do Estado Maior pOl' sala especial, em simetria com os demais profissionais universitruios. Prevaleceu, no entanto, a con­tinuidade dessa prerrogativa, ap6s os depoimentos dos advogados que se expuseram aos arbftrios dos regimes antocraticos, pOl' for~a de sua atuas:ao profissional em defesa de dissidentes polfticos. A exigencia de sala de Estado Maior minorou 0 sofrimento desses profissionais.

Julgado do Superior Tribunal de Justic;a62 deu inte1lgencia ao inciso V do alt. 7Q do Estatuto, entendendo que 0 recolhimento do advogado a dependencia especial do Batalhao da Polfcia Militar su­pre a exigencia legal, porque esta tem por objetivo proteger os advo­gados do convivio com presos comuns, negando 0 pedido de ptisao domiciliar. Postelionnente, em 2003, interpretando a Lei n. 10.258/ 2001, que modificou 0 alt. 295 do C6digo de Processo Penal, a Quin­ta Tunna do STJ decidiu que no caso.de inexistencia de salado Esta­do Maior, 0 advogado pode ser recolhido em prisao comum, desde que em dependencia reservada e separada dos outros presos.

Todavia, em 5 de maio de 2006, 0 Ministro Celso de Mello, do STF, invocando precedentes do Supremo, concedeu Habeas Corpus

62. RT, 718:483, ago. 1995.

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Page 24: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

arbitriria. Observadas as regras legais e eticas de convivencia pro­fissional harmonica e reciprocamente respeitosa, 0 advogado pode dirigir-se diretamente ao magistrado sem honirio marcado, nos seus ambientes de trabalho, naturalmente sem prejuizo da ordem de che­gada de outros colegas.

Se os magistrados criam dificuldades para receber os advoga­dos, infringem expressa disposi<;ao de lei, cometendo abuso de auto­ridade e sujeitando-se, tambem, a puni<;ao disciplinar a ele aplicavel. Cabe ao advogado e a OAB contra ele representarem, inclnsive a corregedoria competente ou ao Conselho Nacional de Justi<;a.

Decidiu 0 STJ que "a delimita<;ao de horario para atendimento a 'advogados pelo magistrado violao art. 7", inciso VIll, da Ld n: 8.9061 94" (RMS l5.706/PA). No caso, a OAB-PA impetrou mandado de seguran<;a contra decisao de magistrada (confinnada pelo Tribunal de Justi<;a) que s6 recebia os advogados em horirio preestabelecido, negando-se a faze-Io quando procm·ada.

SUSTENTM;:AO ORAL NOS TRIBUNAlS

A liberdade de palavra do advogado nas sess6es e audiencias judiciarias e urn dos mais impOltantes e insubstituiveis meios de sua atua<;ao profissional. Todas as reformas ten dentes a melhorar 0 aces­soe a propria administra<;ao da justi<;a sempre apontam para ampliar a oralidade processual. A participa<;ao oral dos advogados nos tribu­nais e orgaos colegiados contribuem decisivamente para 0 esc1areci­mento e convic<;ao dos julgadores.

./ ImpOltante inova<;ao, nessa sede, trouxe 0 inciso IX do art. 7Q

do Estatuto, ao modificar 0 momento em que 0 advogado possa rea­lizar sustenta<;ao oral nas sess6es de julgamento dos tribunais, apos a leitura do relat6rio e do voto do relator. 0 que isso representa de avan<;o? Se 0 advogado apenas se manifesta antes do voto do relator, ve-se na contingencia de realizar verdadeiro exercicio de premoni<;ao, para sacar do relatorio a possivel orienta<;ao do voto que ainda nao foi manifestado. Nem todos os jufzes primam por clareza e rigor na elabora<;ao do relatolio, omitindo pontos julgados importantes pelas partes ou complementando-os no voto.

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A sustenta<;ao oral do advogado e dificultada pela incerteza da Olienta<;ao do voto ou quando, em curto espa<;o de tempo, urn relat6-rio malfeito impele-o a complementa-lo. Manifestando-se ap6s 0 voto, no entanto, sobretudo quando the for desfavoravel, 0 advogado pode encetar 0 contraditorio de teses, no derradeiro esfor<;o de convenci­mento dos demais juizes do colegiado. Cumprem-se mais claramente as garantias constitucionais docontradit6rio e do amplo direito de defesa em beneficio da patte cujos interesses patrocina.

o argumento contr:liio funda-se no aspecto formal de que, ini­ciado 0 julgamento pela manifesta<;ao do voto do relator, nao pode ser mais intelTompido. Contudo, todos os meios que contribuam para

-al1mentat"ograu de certeza e justi<;a da decisao devem ser valOliza~ dos. Tanto 0 juiz quanta 0 advogado thn a missao incessante de efi­caz e justa distribui<;ao da justi<;a.

Nomm legal assemelhada, que modificava 0 C6digo de Processo Civil de 1939, foi dec1arada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, de officio em sessao administrativa de 5 de dezembro de 1956, sob 0 seguinte fundatnento, constante da ementa da decisao: "No exer­cicio de sua atividade, os tribunais judicialios elaboram seus regimen­tos intemos com independencia e soberania, confonne preceitos cons­titucionais inequivocos. E, decOlTentemente, so eles podem alterar seus regirnentos intern os" . 0 preceito constitucional refelido era 0 art. 97, II, da Constitui<;ao de 1946, que attibuia aos trihunais a competencia para elaborar seus regimentos internos, sem estabelecer linutes. A Cons­titui<;ao de 1988 nao manteve regra identica; ao contt':li1.o, excluiu dos tribunais a competencia para legislat' mediante regimento interno. 0 art. 96, I, a, da Carta de 1988, faz competir aos ttibunais a elabora<;ao

-de seus regimentos internos, mas estabelece uma fundamentallimita­<;ao: " ... com observancia das nonnas de processo e das garantias pro­cessuais das partes ... ". Ora, 0 inciso X do mt. 7Q do Estatuto e exata­mente norma de processo e, acima de tudo, garantia processual das partes, porque a estas e nao as pessoas dos advogados interessa a am­plia<;ao de suas possibilidades de defesa.

Apesat· dessas razoes, que militam em favor da constitucionalida­de do preceito introduzido no Estatuto, 0 Supremo Tribunal Federal manteve os mesmos fundamentos do precedente refelido, nas ADIns 1.105-7 e 1.127-8, alem de a maiotia, contra os votos dos Ministros

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mas procedimento administrativo66 . Com essas ressalvas e as previs­tas na Lei n. 10.409, de 11 de janeiro de 2002 (Lei de Toxicos), nao tem a autoridade policial competencia para decretar sigilo, assegn­rando-se 0 direito de exame ao advogado, com ou sem procnra<;ao.

No HC 82.534, de 2004, a Primeira Tnrma do Supremo Tribu­nal Federal, em decisao unanime, determinou que a proibi<;ao de vis­ta integral dos autos de inquerito policial viola os direitos do investi­gado. A defesa do acusado havia tentado, sem sucesso, obter direito de aces so aos autos de inquerito na Policia Federal, tendo sen pedido negado na primeira e segunda instancias e no STJ. Fazendo remissao ao inciso XIV do alt.72 do Estatuto, 0 STF concluiu que ao advogado do indiciado nao e oponivel 0 sigilo que se imponha aojJrocedimen­to, assegurando-se-lhe aces so aos autos e a obten<;ao de copias que interessar, antes da data da inquiri<;ao do investigado.

No HC 86.059-I-PR, em decisao cautelar de 2005, 0 Min. Cel­so de Mello, do STF, forte nos precedentes do tribunal, entendeu que o procedimento investigatorio policial em regime de sigilo, ainda que se cuide de hipotese de repressao a criminalidade organizada (Lei n. 9.034/95, alt. 32

, § 32), "nao constitui situa<;ao legitimamente oponivel

ao direito de aces so aos autos do inquerito policial, pelo indiciado, por meio do Advogado que haja constituido, sob pena de injustifica.vel transgressao aos direitos do proprio indiciado e as prerrogativas pro­fissionais de seu defensor tecnico, especialmente se se considerar 0

que dispoe 0 Estatuto da Advocacia (Lei n. 8.906/94), em seu art. 72,

. incisos XIn e XIV". Na forma do precedente HC 82.354/PR, Re!. Min. Sepulveda Pertence, 0 advogado tem direito de conhecer as in­forma<;oes 'ja introduzidas nos autos do inquerito, nao as relativas a decreta<;ao e as vicissitudes cia execu<;ao das diligericias em cnrso". Estas sao as unicas limita<;oes admissiveis.

A possibilidade do exame, sem procnra<;ao espedfica, justifica­se. 0 advogado pode estar ante situa<;ao de urgencia ou necessita de exame previo, para decidir se aceita ou nao 0 patrocinio da causa.

66. Cf. Luiz Fhivio Borges D'Urso, 0 sigila do inquerito policial eo exame dos auto~ por advogado, Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, Brasilia, 66:89, jan.ljun. 1998.

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Antes da cria<;ao da OAB, a possibilidade de exame de autos nao era considerada direito mas um favor do escrivao, "um favor que 0 escri­vao fica antorizado a conceder e concedera a seu arbftrio, recusara, ou frustrara, segundo as suas simpatias ou seus interesses"67, 0 que bem indica a importancia desse direito atua!.

o direito de ter vista dos processos e mais abrangente do qne 0

de simples exame. Pressupoe 0 patrocinio da causa e e imprescindf­vel para 0 seu desempenho. Em nenhuma hipotese pode ser obstado, nem mesmo quando em regime de sigilo. 0 direito de vistas associa­se ao de retirar os processos do cartorio ou da reparti<;ao competente, .parapoder manifestar-se nos prazos legais. A obstru<;aoe crime, in­clusive por abuso de autoridade, aIem da responsabilidade civil do . infrator desse preceito legal68. Como decidiu 0 Superior Tribunal de Justi<;a, 0 direito de vistas aos autos deve ser entendido como "mani­festa<;ao da sua atividade e lonva<;ao ao plincipio da liberdade da profissao"69.

o inciso XV do art. 72 inclui 0 direito de vistas do processo adrni­nistrativo, fora da reparti«ao, sob protocolo. Antes do novo Estatuto, 0

Supremo Tribunal Federalja tinha decidido que, "ressalvadas as exce­«oes previstas em lei, tem 0 advogado direito a vista de processos dis­ciplinares fora das reparti«oes ou secretarias"70. Decidiu 0 6rgao Espe­cial do Conselho Federal da OAB que pode a autoridade adrninistrati­va evitar a retirada dos autos nas hipoteses refericlas nos numeros 1, 2 e 3 do § 12 do alt. 72 do Estatuto (Proc. n. 299/2000/0EP).

o Estatuto nao se refere, na hip6tese do direito de vistas, a exi­gibilidade da procnra«ao. No entanto, a representa«ao do advogado (com ou_sem pnJcura«ao) deve ser indiscutivel, sob pena de respon­der por infra<;ao etico-disciplinar perante a OAB.

67. Cf. Levi Carneiro, 0 livro de urn advogado, 1943, p. 159. 68. 0 STF decidiu que "Nao pode ficar ao Duto do escrivao ter 0 advogado vista

dos autos fora do eartorio. Se fatos concretos contra 0 advogado forem apurados, at entaD· providencias devedio ser tomadas, mas fora isso nao ha como negar-lhe 0

direito aludido" (RE 77.882-PR, RTf, 107:192).

69. RO em MS 2.988-8-SP, Df, 27 jun. 1994. 70. RE 77.507-SP, furisprudencia Brasileira, Curitiba: Jurua, 123:56, 1987.

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ou of ens ores, porque tem natureza e finalidade distintas 73 Mas e ca­bive! quando 0 magistrado, para indeferir um pleito, "se sente no direito de agredir pessoalmente 0 advogado e indeferir sua tese, ta­xando-a de inadequada, teratol6gica, espuria, limitrofe a litigancia, fmproba, dizendo visualizar espfrito malicioso", confOlme decidiu a Primeira Camara do Conselho Federal (Rept: n. 00l412002IPCA-SP). Em contrapartida, nao e cabfvel se "a decisao de vistas ao advogado foi indeferida em despacho fundamentado, sem agressao ou of ens a pessoal, e dela foram movidos os recursos cabfveis" (Rec. n. 0109/ 2003IPCA-BA).

Deve ele serobjeto de delibeia9ao previa do COitselh6cOin~ . petcnte e consiste na leitura da nota pelo presidente na sessao a ele design ada, na publica9ao na imprensa, no seu encaminha­mento ao of ens or e as autoridades e no registro nos assentamen­tos do inscrito. Se a of ens a foi cometida por magistrado Oll outro agente publico, dar-se-a ciencia aos 6rgaos a que se vinculem. Nao ha exigencia de sessao especial do Conselho para 0 desagra­YO, mas ao momenta a ele destinado devera ser dado todo 0 des­taque possfve!.

Se a repercussao for mais favoravel ao of en dido, 0 desagravo pode ser realizado na sede da subse<;:ao, a cuj a sessao comparecera a representa9ao designada pelo Conselho Seccional.

Se 0 of en dido for 0 proprio Conselho Seccional ou seu presi­dente, 0 desagravo publico pode contar com a participa9ao da direto­ria do Conselho Federal, que se fara presente a sessao especial da­quele, quando for particularmente ~rave a of en sa.

o procedimento a ser adotado esta previsto no Regulamento Geral (arts. 18 e 19), sempre em virtude de of ens a em razao do exer­cfcio profissional ou de fun9ao da OAB, cabendo ao Conselho deci­dir de oficio ou mediante representa9ao de qualquer pessoa.

73. Sem razaa a Primeira Camara do Conselho Federal da OAB que entendeu nao pader ser apreciado 0 desagravo enquanto nao julgado, pelo Poder Judiciario, 0

processo criminal (Proc. n. 5.098/97/PCA-SP, DJ, 26 ago. 1999).

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o direito it ampla defesa deve ser assegurado a quem se imputa a of ens a, salvo em caso de urgencia e notoriedade do fato". Esses dois requisitos nao sao alternativos, mas cumulativos. A urgencia deCOtTe do prejufzo evidente do of en dido, que podera ser agravado pela demOl'a, com danos a sua reputa9aO profissional. A notoriedade do fato ha de ser comprovada, como se da com documentos autenti­cos ou manifesta96es oficiais publicadas, que praticamente tomam inocua qualquer defesa do ofensor. De qualquer fOlma, a notoriedade do fato pode ser enganosa, recomendando a prudencia que se apurem as causas ou motivos. Sem razao, entendeu a Primeira Camara do Conselho Federal da OAB que "nao se conhece de recurso da parte apontada como ofei1SOl1t, ein processo de desagravo, por ausencia de· legitimidade da me sma" (Rec. 0118/2002IPCA-MS); 0 ato de desa­gravo mal fundamentado pode se convelter e1e mesmo em of ens a ao suposto of ensor, em virtu de de suas repercuss6es.

Excepcionalmente, 0 desagravo pode ser promovido pelo Con­selho Federal, e por ele decidido, nas seguintes hipoteses:

a) quando 0 of en dido for conselheiro federal au presidente do Conselho Seccional, no exercfcio das atribui96es de seus car'gos;

b) quando a of ens a a advogado se revestir de re1evancia e graves repercuss6es as prenogativas profissionais; nesse caso, comprovar­se-a que 0 fato teve repercuss6es nacionais.

Nas duas hip6teses, salvo no caso de conselheiro federal, a ses­sao publica de· desagravo dar-se-a no local de inscri9ao do of en dido ou da of ens a, perante 0 Conselho Seccional respectivo, com a pre­sen9a dos representantes do Conselho Federal.

74. Em senti do distinta, entendeu a Primeira Camara do Conselho·Pederal da DAB (Proc. n. S.281198/PCA-SP, DJ, I" abr. 1999) que "a ouvida da parte ofensora e mera faculdade, que 0 Regulamento confere aD Presidente do Conselho Seccional. pOl' proposta do Relator, nao se constituindo em Direito da pm1e tida como ofensora, a qual, par conseguinte, nao tern legitimidade para reconer da decisao que defere 0

desagravo". Sem razlio. 0 desagravo publico nao e mera manifesta~ao de solidariedade corporativista, mas defesa da dignidade da profissao, sendo necessario que aprecie com isenc;ao os fatos, respeita~ldo a contradit6rio, para que nao se converta, ele pr6prio, em of en sa.

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INSCRU;;:AO NA DAB

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DA INSCRII;AO

Art. S· Para inscril,;iio como advogado e necessario:

1- capacidade civil;

II - diploma ou certidiio de gradual,;iio em direito, obti­do em instituil,;iio de ensino oficialmente autorizada e credenciada;

III - titulo de eleitor e quital,;iio do servil,;o militar, se brasileiro;

IV - aprova\;iio em Exame de Ordem;

V - niio exercer atividade incompativel com a advo-cacia;

VI - idoneidade moral;

VII - prestar compromisso perante 0 Conselho.

§ F 0 Exame de Ordem e regulamentado em provimen­to do Conselho Federal da OAB.

§ 22 0 estrangeiro ou brasileiro, quando niio graduado em direito no Brasil, deve fazer prova do titulo de gradual,;iio, obtido em instituil,;iio estrangeira, devidamente revaUdado, alem de atender aos demais requisitos previstos neste artigo.

§ 3· A inidoneidade moral, suscitada por qualquer pes­soa, deve ser declarada mediante decisiio que obtenha no mi­nimo dois terl,;os dos votos de todos os membros do Conselho

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competente, em procedimento que observe os termos do pro­cesso disciplinar.

§ 4" Niio atende ao requisito de idoneidade moral aquele que tiver sido condenado por crime infamante, salvo reabili­tal,;iio judicial.

Art. 9" Para inscril,;iio como estagiario e necessario:

I - preencher os requisitos mencionados nos incisos I, III, V, VI e VII do art. S";

II - ter sido admitido em esrogio profissional de advo­cacia.

§ F 0 estagio profissional de advocacia, com dural,;iio de dois anos, realizado nos ultimos anos do curso juridico, pode ser mantido pelas respectivas instituil,;oes de ensino superior, pelos Conselhos da OAB, ou por setores, 6rgiios juridicos e escrit6rios de advocacia credenciados pela OAB, sendo obri­gat6rio 0 estudo deste Estatuto e do C6digo de Etica e Disci­plina.

§ 2" A inscril,;iio do estagiario e feita no Conselho Seccional em cujo territ6rio se localize seu curso juridico.

§ 3" 0 aluno de curso juridico que exerl,;a atividade in­compativel com a advocacia pode freqiientar 0 esrogio minis­trado pela respectiva instituil,;iio de ensino superior, para fins de aprendizagem, vedada a inscri~iio na OAB.

§ 42 0 esrogio profissional podera ser cumprido por ba­charel em Direito que queira se inscrever na Ordem.

Art. 10. A inscril,;iio principal do advogado deve ser feita no Conselho Seccional em cujo territ6rio pretende estabele­cer 0 seu domicflio profissional, na forma do Regulamento Geral.

§ I" Considera-se domicflio profissional a sede principal da atividade de advocacia, prevalecendo, na duvida, 0 domi­dUo da pessoa fisica do advogado.

§ 22 Alem da principal, 0 advogado deve promover a inscril,;iio suplementar nos Conselhos Seccionais em cujos

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independentemente de idade ou estado mental-, mas a capacidade de fato ou negocial). Pode, no entanto, ser elidida quando OCOlTer alguma das hipoteses de incapacidade absoluta ou relativa, previstas na legislagao civil (insanidade mental, surdo-mudez que impega a manifestagao de vontade, ausencia, prodigalidade, toxicomania con­tumaz), que dependem de interdigao decretada judicialmente. A superveniencia de interdigao, conhecida de oficio pela OAB ou me­diante representagao, provoca 0 imediato cancelamento da inscrigao.

Antes de completar 18 anos, pode haver a inscrigao do interessa­do, se for comprovada sua graduagao no curso juridico. 0 Codigo Civil (art. 5", panl.grafo unico,IV) inc1ui a graduagao universitaria como cau­sa de maimidade civil, sem necessidade de emancipagao concedida pe­los pais. Nesse caso, 0 diploma e a prova da capacidade civil.

Diploma de gradua(,:ao em direito

o segundo requisito e 0 diploma ou celtidao de graduagao. A certidao supre a falta ou demora na concessao do diploma. Ao con­trario do anterior Estatuto, nao ha mais inscrigao provisoria; e sem­pre definitiva. Muito rigor deve ter a OAB no acatamento da certidao, porque aumenta a probabilidade de eno, fraude ou falsificagao. 0 diploma e objeto de cuidadosa conferencia, antes de ser registrado pela Universidade ou orgao educacional que recebe delegagao de competencia do Minist6io da Educa~ao.

A celtidao deve ser emitida apenas pelo orgao responsavel pela expedigao do diploma ou pelo controle dMegistro academico da ins­tituigao que mantenha 0 curso jUl'idico, nao sendo aceitas dec1m'a­goes ou manifestagoes de outra' esp~cie, ou celtidoes emitidas por orgao da instituigao que nao possa expedir 0 diploma. Toda institui­gao de ensino, para expedir diplomas, deve estar credenciada on recredenciada pelo Conselho de Edncagao competente, que constitui a segunda etapa necessaria para seu regular funcionamento. Como advertiu 0 Orgao Especial do Conselho Federal da OAB (0001120021 OEP-DF), por dever de cautela, "os Conselheiros Seccionais devem examinar as origens dos documentos, se validos, com relagao as ins­tituigoes de ensino certificantes".

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o Regulamento Geml (art. 23) detennina que a celtidao de gra­duagao em direito deve estar acompanhada de copia autenticada do respectivo historico escolar. A providencia e salutm', permitindo a OAB verificar 0 cumprimento efetivo da cm'ga horaria exigfvel e 0

conteudo minimo previstos nas diretrizes cuniculares emanadas do ConseJho Nacional de Educagao.

Alem do credenciamento da instituigao mantenedora (universi­dade, centro universitario, faculdades integradas ou estabelecimento isolado de ensino superior), 0 CUl'SO juridico deve estar autmizado a funcionar pela autmidade educacional competente e ser reconheci­do. 0 curso juridico, apos autmizado e com funcionamento regular, deve obter 0 reconhecimento doMEC, renovado pel'iodicamente, ou do Conselho Estadnal de Educagao competente, nesse caso quando se tratal' de instituigao mantida com recurs os public os estaduais ou municipais. A OAB apenas pode admitir a inscrigao de bachm'eis gra­duados em cursos juridicos autmizados e posteriormente reconheci­dos. Nao basta, pois, estar 0 curso autorizado; ha de estar tambem reconhecido77 •

Regularidade eleitoral e militar

o terceiro requisito e a regularidade eleitoral e militar, enquan­to compulsoria. 0 anteprojeto elaborado pelo Conselho Federal da OAB suprimia essa exigencia, pOl'que imp6e a corporagao profissio­nal uma fungao de fiscalizagao oficial que Ihe e estranha, mas 0 Con-gresso N acional a manteve. '

Exame de Ordem

o Exame de Ordem e um exame de aferigao de conhecimentos juridicos basicos e de pnitica profissional do bacharel em direito que ' deseja exercer a advocacia. Os estndantes dos cursos juridicos, antes da graduagao, nao podem faze-lo. Encarta-se entre as atribuig6es da OAB de selegao dos profissionais da advocacia.

77. Nesse sentido decidiu 0 Orgao Especial da OAB (Proe. n. 265/99/0EP, DJ, 9 mar. 2000.

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de ser unifOlwe a afeli<;:ao do conhecimento jurfdico geral, indepen­dentemente do Estado ou da institui<;:ao de ensino de onde provenha. o Provimento n, 10912005 avan<;:on nessa dire<;:ao, mas nao a consu­mou inteiramente, ao estabelecer a unifica<;:ao das datas da prova ob­jetiva, de modo a ser realizada sempre no mesmo dia e hormio, e ao facultar aos Conselhos Seccionais a unifica<;:ao do conteudo da pro­va, mediante convenio, A falta de unifica<;:ao nacional do Exame com­promete os resultados do "OAB Recomenda", que, peliodicamente, divulga os cursos jurfdicos que alcan<;:aram desempenho minimo.

Nunca e demais lembrar que os cursos jurfdicos na~ graduam advogados, magistrados, promotores de justi<;:a, de!egados de canei­ra, defensores pUblicos, procuradores publicos, mas bachareis em direito. Seja qual for a profissao juridica que desejarem exercer, de­vem ser selecionados previamente. No caso do advogado, 0 resultado de sua profissao e publico e nao privado, porque e elemento indis­pensavel a administrasoao publica dajusti<;:a.

Durante decadas, e antes da Lei n. 8.906/94, 0 Exame de Ordem foi alvo de cen'ada objec;;ao de interesses mercantilistas das mas esco­las de direito ou de equivocada rea<;:ao de alguns integrantes do meio academico. As plimeiras procuravam evitar, como lamentavelmente ainda ocon'e, qualquer requisito legal que as levasse a investir em qualidade dos cursos, em especial do COlpO docente; os segundos brandiam 0 poderoso argumento da autonomia universitaria e do con­flito de finalidades entre os profissionais do ensino e 0 pragmatismo dos operadores do direito.

Como a grande maioria dos egressos dos cursos jurfdicos pro­cura inscrever-se l}a OAB, e intuitive que 0 Exame de Ordem pro­voque uma demanda crescente pela melhoria do desempenho dos cursos jurfdicos (melhores professores, instala<;:6es, acervo biblio­grafico, estagio adequado etc.), 0 que resulta em mais investimento. Somente assim sera possivel vencermos a visao esperta e predat6-ria de que bastam para 0 curso juridico saliva (barata) e giz, Feliz­mente, os bons cursos jurfdicos publicos e privados entenderam a importancia do Exame como elemento indutor de eleva<;:ao gem I de qualidade, que deve ser 0 parametro de valorizac;;ao e de esco­lha dos estudantes.

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A rea<;:ao sincera que ainda havia em segmentos do meio aca­demico minorou quando se perceberam com mais clareza os papeis distintos, mas complementares, da comunidade universitaria e da comunidade profissional, e que 0 interesse da OAB na eleva<;:ao da qnalidade do ensino juridico e legitimo, sem qualquer m6vel intervencionista ou de quebra da autonomia universitaria. Por outro lado, e ai residia 0 equivoco, 0 Exame de Ordem - pOl' apreender apenas alguns aspectos da fOlma<;:ao juridic a, plincipalmente os pra­ticos - nao avalia 0 curso, nem mesmo 0 estudante, mas tao-so­mente constitui modo de selec;;ao para exercicio da profissao de ad­vogado, uma entre tantas que 0 bacharel em direito pode escolher. o Exame de Ordem'llao iilte.if';re na autonomia universitaria dos cursos juridicos, porque estes tem finalidade de fonna<;:ao do ba­chare! de direito, 0 grau que os cursos conferem e os diplomas que expedem nao dependem do Exame de Ordem. A finalidade de sele­<;:ao (e fiscaliza<;:ao) da OAB e posterior 1'1 gradua<;:ao conferida pe­los cursos juridicos.

o Exame de Ordem e compativel com 0 plincipio de liberdade de profissao, estabelecido no inciso XIII do art. 5" da Constitui<;:ao, que estabelece:

"XIII - e livre 0 exercicio de qualquer trabalho, oficio ou pro­fissao, atendidas as qualifica<;:6es profissionais que a lei estabelecer".

A selec;;ao inclui-se entre as qualijicQI;;oes profissiol1ais; a lei que a estabelece e 0 pr6prio Estatuto. A Constitui<;:ao nao contempla a liberdade absoluta; exige 0 requisito de qualificac;;ao, ou seja, nao tutel~ profissional desqualificado, que pora em risco a liberdade, a seguranC;;a e 0 patrimonio das pessoas cujos interesses patrocine. Na vigencia da Constitui<;:ao de 1967/1969, 0 Supremo Tribunal Federal ja tinha fixado 0 entendimento sobre a constitucionalidade de requi­sitos e limita<;:6es a liberdade de exercicio profissional previstos em lei (Representa<;:ao de Inconstitucionalidade 930).

A inscri<;:ao da liberdade de trabalho, nas Constitui<;:6es, e remi­niscencia hist6lica de um dos direitos e garantias chlssicos do cida­da~, dentro do conjunto de regras de ruptura da ordem cOlporativa medieval, que vinculava 0 individuo, desde seu nascimento, as corpora<;:6es de oHcio ou guiJdas.

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A extinr,:ao punitiva, no jufzo cdminal, de fato que caracterize inidoneidade moral nao a elide, impedindo-se a inscrir,:a082

• E tam­b6n irrelevante a ausencia de pena criminal ou administrativa como pressuposto do indeferimento do pedido de inscrir,:a083

A decisao do Conselho da OAB nao depende de decisao cdmi­nal, quando houver processo penal em curso, porque as instancias judicial e administrativa nao se confundem.

A dec1arar,:ao de inidoneidade moral e ato vinculado, motivado. Para se evitar 0 componente arbitralio, 0 Estatuto deterrnina que a decisao do Conselho obtenha no mfnimo dois ter<;;os dos votos dos membros do Conselho (considerada sua composi<;;ao total, e nao de presentes it sessao), assegurado ao interessado 0 amplo direito de defesa (defesa esclita, oral, recursos, instru<;;ao probat6da), segundo o procedimento disciplinar, onde couber. 0 processo e de natureza exc1usivamente administrativa, nao se subordinando it eventual pena criminal, que em rela<;;ao a ele nao prevalece, como anotamos nos comentarios ao art. 68, abaixo. 0 que emerge do § 42 do art. 82 e a presun<;;ao legal da inidoneidade, quando houver condena<;;ao crimi­nal transitada em julgado, sem prejufzo de investiga<;;ao pr6pda da OAB enquanto ela nao se der.

o indeferimento decorre de processo administrativo, cujo jufzo nao se vincula ao processo judicial, quando os elementos probat6rios forem suficientes para forma-Io. Portanto, mesmo autes da condena­r,:ao judicial, a inscri<;;ao pode ser negada se os fatos forem suficientes para a configura<;;ao da inidoneidade moral.

Decidiu 0 Conselho Federal da OAB que "a dec1ara<;;ao de inidoneidade moral depende de procedimeuto incidental e prejudi-

82. Configura inidoneidade moral a exonera~ao de cargo ou func;ao, a bern do servi~o publico, rnesmo que nao tenha havido conc1usao do processo criminal (Conselho Federal, Proc. n. 3.987190fPC, Ementario 1990/92, p. 66) ou tenha havido rejei'tao da denuncia na esfera criminal (Conselho Federal, Proc. D. 4.603/94/PC, DJU, 16 fev. 1995). Tambem configura inidoneidade moral a demissao do servi\=o publico ocasionada por apropria~ao de dinheiro pertencente ao enirio (1 i! Cam. do Conselho Federal, Proc. n. 4.602/94fPC, DIU, 16 fev. 1995).

83. Nesse sentido decidiu 0 Conselho Federal da OAB, no Recurso n. 4.289/921 PC, Ementario 1990/92, p. 162.

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cial da decisao, em que sej a garantido 0 amplo direito de defesa, instaurado mediante representar,:ao dos interessados ou de offcio pelo pr6prio relator ou 6rgao da OAB competente para decidir sobre a inscli<;;ao, observado, onde couber, 0 disposto no artigo 52, exceto 0 panigrafo 52, do C6digo de Etica e Disciplina. Suspende-se a tramitar,:ao do processo de inscri<;;ao ate que se decida sobre a inidoneidade. Compete ao Plenario do Conselho Seccional ou ao 61'­gao especial correspondente decidir pelo quorum mfnimo de dois ter<;;os de todos os seus membros"'4. Essa decisao tem efeito nOlmati­YO, porque nao se aplicou apenas ao caso concreto.

-De--qualquerforma,ap6s reabilita<;;ao judicial regularmente defericla, estara desimpecliclo para a inscri<;;ao, pOl'que no sistema ju­rfclico brasileiro inexiste conseqiiencia perpetua da pena.

Crime infamante

Ha umahip6tese taxativa de inidoneidade moral, dada sua gra­vidade, contida no § 42 do art. 82 e que merece destaque: a do cdme infamaute. Nao e qualquer crime, mas aquele, entre os tipos penais, que provoca 0 forte repudio etico da comunidade geral e profissional, acanetando desonra para seu autor, e que pode gerar desprestfgio para a advocacia se for admitido seu autor a exerce-Ia. Infamante e conceito indeterminado, de delimitar,:ao diffcil, devendo ser concreti­zado caso a caso pelo Conselho SeccionaL Sobre ele remetemos 0 leitor aos comentarios ao art. 34, XXVIII.

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A extin<;;ao cla punibilidade da prescri<;;ao punitiva nao afasta a existencia do fato tipificado como crime, notadamente se infamante. E infamante, e atentat6rio a dignidade da advocacia, 0 crime de estelionato e de falsifica<;;ao documental, impedindo a inscri<;;ao do interessado nos quadros da OAB".

84. Processo n. 4.635/95/PC, DIU, 13 set. 1995. 85. Assim decidiu a Primeira Camara do Conselho Federal (Proc. n. 4.591/941

PC, DIU, 8 dez. 1994)_

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difkil a atua~ao do advogado estrangeiro". No ambito da Comuni­dade Europeia, a Diretiva do Conselho da Europa de 22 de mawo de 1977 reconhece como advogado qualquer dos profissionais de advo­cacia, sem as distin~oes acaso existentes nos paises a ela vinculados. Impoe, no entanto, duas condi«oes basicas: a) 0 advogado de outro pais da Comunidade deve apresentar-se ao orgao profissional e atuar de acordo com preceitos ali determinados; b) deve atuar em conjunto com outro advogado local, que por ele se responsabilize.

ESTAGIARIO

o estagiario e 0 inscrito na OAB, nessa qualidade, devendo Sel' estudante de curso juridico legalmente autOlizado e l'econhecido ou bachal'el em direito".

Nao e ele um profissional do direito, e sua aprendizagem pra­tica e desenvolvida ao lado e sob a orienta~ao de um advogado. Por conseguinte, 0 estagiario nao pode isoladamente realizar qualquel' ate proprio da atividade de advocacia sem a assistencia do advoga­do. Todos os atos de que pal'ticipe, especialmente os de natureza processual, devem ser assinados por ele e pelo advogado, ou autori­zados expressamente por este, exceto aqueles previstos no Regula­mento Geral (v. comentarios ao art. 3"), os quais pode ele exercer diretamente.

A inscli~ao do estagialio perdurara pelo prazo maximo de rea­liza<;;ao do respectivo estagio, ou seja, dois anos, e sera feita no Con­selhg..Seccional em cujo territorio funcione 0 curso juridico respec­tivo. Em nenhuma hip6tese pode ser prorrogado, porque e transit6-rio em virtude de ser aprendizagem que antecede sua inscri~ao como advogado (Rec. 0l7912003fPCA-SP). 0 pedido de inscri~ao devera estar acompanhado de comprovante da matricula no esmgio, do re-

87. Cf. Samuele Animale, Le professioni legali. Tendenze e prospective, SOciologz'a del Diritto, ana 22, }Q quadrimestre 1995, p. 168.

88. Ha decisao controvertida do Orgao Especial do Conselho Federal da OAB admitindo a inscris;ao, no quadro de estagiarios, de estudantes de cursos jurfdicos autorizados e ainda flaD reconhecidos (Proc. TI. 92/96/0E, DJ, 25 mar. 1997).

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gistro civil, do titulo de eleitor, da quita~ao do servi«o militar e da dec1ara«ao de nao exercer atividade incompativel com a advocacia.

Aplica-se ao estagimio as mesmas regras de impedimento ou incompatibilidade89• A sua inscri~ao nao pode ser defelida pela OAB se exercer cargo ou fun~ao que 0 incompatibilize com a advocacia, dentre as hip6teses previstas no Estatuto. Essa rest!i~ao se justifica porque 0 leigo dificilmente sabe distinguir 0 profissional do estagia­rio, eo potencial de capta~ao de c1ientela e desprestigio para a profis­sao e muito grande. De qualquer forma podera cursar 0 estagio em sua institui«ao de ensino, para fins de aprendizagem.

ConcluJdo 0 esHigio e obtido ograu de bacharel em direito, pres­tara Exame de Ordem, para inscli«ao como advogado. Em nenhuma hip6tese havera dispensa do Exame de Ordem.

A lei preve que 0 estagio profissional de advocacia tera a dura­~ao de dois anos. Esse e 0 prazo minimo que se entende adequado para a devida aprendizagem pratica. 0 estagio profissional de advo­cacia nao e obrigat6rio; se-lo-a, apenas, para os que desejarem ins­crever-se no quadro de estagiarios da OAB.

A Lei n. 8.906/94, no seu alt. 87, revogou tanto a Lei n. 4.215/63 quanto aLei n. 5.842172, que disciplinavam respectivamente 0 esta­gio profissiona1 de advocacia e 0 estagio de pratica forense e organi­za~ao judiciaria, ambos facu1tativos para os alunos e para as institui­~oes de ensino, e ambos dispensando 0 Exame de Ordem. Os dois estagios tinham como objetivo exc1usivamente a forma~ao profis­sional para a advocacia.

Nao era por acaso que a OAB interferia fortemente no desen­vo1vimento dos estagios, regulando-os em provimentos para que pu­dessem Ser aceitos como titulo de dispensa do Exame de Ordem. Tambem nao era por acaso que 0 conflito latente instalava-se no re1a­cionamento da OAB com as institui«oes de ensino. Apesar de lodo 0

89. Entendeu a l' Camara do Conselho Federal da OAB (Proc. n. 5.301/98/ PCA-SP, DJ, 17 fev. 1999) que 0 estagio na magistratura paulista, regulamentado pelo Provimento n. 902/94 do TJSP, em virtude de seus amplos direitos e deveres, impede a inscric;ao do aluno no quadro de estagiarios em virtude de incidencia do art. 28, V, do Estatuto.

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que se graduou ou nao. A hip6tese, prevista na lei, e de pouca utilida­de pnitica, salvo para os que se sentirem inseguros a prestar direta­mente 0 Exame de Ordem.

Sobre 0 direito de condui-lo, sem obrigatoriedade do Exame de Ordem, para os que se matricularam em cursos de estagio segundo a legisla<;:ao anterior, ver os comentarios ao art. 84. Sobre a atua<;:ao permitida ao estagim.-io, ver os comenta.rios ao art. 3"-

DOMICfuo PROFISSIONAL. INSCRI<;:A.O PRINCIPAL, SUPlEMENTAR E POR TRANSFERENCIA

o advogado pode exercer livremente a profissao em todo 0 ter­ritorio nacional. Essa liberdade e plena ou condicionada, como ano­tamos nos comentarios ao alt. 7", 1.

A inscri<;:ao principal e promovida no Conselho Seccional, em cujo tenit6rio 0 advogado dec1ara que tera seu domicflio pro­fissional. Esse domicflio, que abrange 0 territ6rio do respectivo Estado-membro ou Distrito Federal, e de livre escolha do inte­ressado, e nao se vincula ao Conselho Seccional onde se localize o curso jurfdico que Ihe gra.duou ou onde prestou 0 Exame de Ordem. A dec1ara<;:ao ha de ser veraz, sob pena de constituir frau-

. de it lei, ensejando 0 cancelamento de oficio da inscri<;:ao. A frau­de e constatada posteriormente, quando a atividade do advogado passa a ser exercida predominantemente fora de sua sede princi­pal, ap6s a inscri<;:ao. N a duvida, ou sej a, na-1:tip6tese de pluralidade de centros de atividades, a lei estabelece uma pre­sun<;:ao juris tan tum de coincidencia entre 0 domicilio profissio­nal e 0 domicilio da pessoa fisica do advogado (onde tenha resi­dencia com animo defini tivo).

o domicilio profissional e imprescindfvel, porque vincula 0 advogado a jurisdi<;:ao do respectivo Conselho, para fins de fiscali­za<;:ao, elei<;:oes, pagamento de contribui<;:oes obrigat6rias, controle disciplinar, cadastro e assentamentos. A declara<;:ao falsa de domi­cilio profissional, posteriormente verificada, leva ao cancelamento

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da inscri<;:a090 Decidiu 0 Conselho Federal da OAB que e compe­tente para, de oficio ou mediante representa<;:ao de qualquer 6rgao da OAB, de advogado ou interessado, cassar ou modificar ato de orgao ou autOlidade da OAB, contrario ao Estatuto, ao Regulamen­to Geral ou ao C6digo de Etica, incluindo 0 ato administrativo de inscri<;:ao no quadro de advogados de Conselho Seccional, maxime quando haja indfcios de falsidade de declara<;:ao de domicilio pro­fissiona19

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o domicilio proflssional alcan<;:a todo 0 territ6rio da unidade federativa, a saber, do Estado-membro, do Distlito Federal ou do Territ6rio Federal(arts. 10 do Estatuto e 117 do Regulamento Geral). Nao po de estar circunscrito ao ambito de jurisdi<;:iio de uma subse<;:ao. o vinculo com a subse<;:ao e de natureza administrativa e de descentraliza<;:ao das atividades da OAB 92. 0 domicflio pro fissional, pOltanto, e relacionado ao espa<;:o de jurisdi<;:ao do Conselho Seccional respectivo.

o advogado pode, eventualmente, exercer sua advocacia fora da sede principal, sem necessidade de inscrever-se em outro Conse­lho Seccional. Mas Mum limite quantitativo, que nao pode sel' ultl'a­passado, para nao se sujeitar ao exercfcio ilegal da profissao e a cor­respondente san<;:ao disciplinar: ate cinco causas pOl' ano, em outro e mesmo Estado-membro. Nao importa que 0 patrocinio da causa seja inicial ou em fase posterior .

Causa deve ser entendida como processo judicial efetivamen­te ajuizado, em que haja participa<;:ao do advogado. A lei impoe 0

requisito expresso de "interven<;:ao judicial". Assim, a advocacia preventiva ou extrajudicial habitual independe de inscri<;:ao suple­mental'. Sobre 0 assunto decidiu 0 Conselho Federal da OAB que causa "e sempre a primeira, sendo irrelevante 0 acompanhamento nos anos subseqlientes. A defesa em processos administrativos, em

90. Conselho Federal, Processo n. 4.463/94/PC, DiU, 19 ju!. 1995. 91. Processo n. 4.622/95IPC, DiU, 24 out. 1995. 92. Nesse sentido decidiu 0 Pleno do Conselho Federal (Proc. I1. 4.057/95/CP,

DiU, 13 nov. 1995).

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1.:

CANCELAMENTO DA INSCRI<;:AO

o Estatuto regula em numelus clausus as hip6teses de cancela­mento da inscric,,:ao. Trata-se este de ate desconstitutivo, que afeta defi­nitivamente a existencia da inscric,,:ao. 0 efeito do cancelamento e ex tunc, salvo na hip6tese de insclic,,:ao obtida com falsa prova, pOl'que a natureza da decisao seria declarat6ria de inexistencia. Compete ao Con­selho Seccional decidi-lo, pOl'que somente este pode defelir a inscric,,:ao, salvo no caso da penalidade de exclusao, pOl'que e decorrencia automol­tica e 0 Conselho jol apreciara a materia. A sua decisao e imprescindivel para ressalvas de direitos, nao podendo a diretoria substituf-lo.

Mesillo quando 0 ex-inscrito deseje e possa retornara atividade de advocacia, cessando 0 6bice legal, sua inscric,,:ao anterior jamais se restaura, em nenhum de seus efeitos96. Outra insclic,,:ao havera de se dar, comprovados os mesmos requisitos do art. 8Q, exceto quanto a comprova<;:ao do diploma de graduac,,:ao em direito, regularidade elei­toral e militar, devendo seu pedido ser aprovado pelo Conselho Seccional e submeter-se a novo compromisso. E este 0 sentido da explicita<;ao do § 2Q do art. 11. 0 numero de inscri<;ao vago, por can­celamento, deve ser preservado como dado hist6rico da OAB, nao podendo ser reaproveitado, inclnsive mediante permuta97 . 0 STJ de­cidiu, em 2004, no REsp 475.616, no caso de magistrado aposentado, que "a imutabilidade da inscri<;ao somente pode ser assegurada a quem nao teve a inscli<;ao cancelada, pois 0 cancelamento implica a elimina­<;ao total do vinculo do profissional com a institni<;ao corporativa".

A Resolu<;ao n. 02/94 e 0 Provirnento n. 10912005 excepcionaram do Exame de Ordem os magistrados, os promotores de justi<;a e os integrantes das carreiras jurfdicas, quando requererem nova inscri­<;ao como advogado, mas sera nova a inscri<;ao, obtendo-se novo nu­mero de registro.

96. Inclusive no caSa de ex-presidente de Conselho. porque sua prerrogativa de membra nato de argao da OAB depende da regularidade da inscli~ao. Desaparecendo a inscIic;ao, desaparece definitivamente 0 vfnculo com 0 orgao de classe, em face do carater de.sconstitutivo do cancelamento que afeta a exi::;tencia e DaD apenas a efic,kia da inscric;ao.

97. Cf. Processo n. 4.177/97/CP, DIU, 15 out. 1997.

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o processo de cancelamento nao e prejudicado pela superve­niencia da aposentadoria do ocupante de cargo incompatlvel, porque tern natureza declarativa de inexistencia e eficacia ex tunc, desde a investidura, nao podendo convalidar a inscri«ao irregular9s•

o cancelamento pode ser requerido pelo inscrito, inclusive desmotivadamente, sendo defelido incontinenti. 0 pedido tem de ser pessoal (porque personalfssimo), nao podendo vir mediante procura­dor. E definitivo, nao havendo possibilidade de arrependimento.

A penalidade de exclusao acan-eta 0 cancelamento automatico e de oficio ap6s 0 transite em julgado da decisao. Sao duas situa«oes distintas, 0 que bem demonstra que 0 cancelamento nao detem a na­tureza'de pima, p'orque e conseqiienciadesta. Contrarian do esse en" tendimento, decidiu a Segunda Camara do Conselho Federal da OAB que "advogado condenado pela pratica do crime previsto no alt. 312 c/c 71 e 288 do C6digo Penal Brasileiro, havendo provas exuberantes de mol conduta profissional com a perda do requisito de idoneidade moral previsto no alt. 8Q

, inciso VI, da Lei n. 8.906, de 4-7-1994, deve ter a sua inscri«ao cancelada na fonna do art. 11, inciso V, da mesma Lei"99. Nao e caso de cancelamento direto, mas de ocorrencia de infra«ao disciplinar capitulada no inciso XXV do art. 37 do Esta­tuto, mediante procedimento disciplinar e assegurada a ampla defe­sa, para, ap6s 0 transito emjulgado da decisao, proceder-se ao cance­lamento.

No caso de fa1ecimento ou exercicio documentahnente com­provado de atividade incompativel, se os sucessores ou 0 inscrito nao tomarem a iniciativa, sera promovido 0 cancelamento de ofkio pe10 Conselho competente, c0a decisao, mesmo de ofkio, como ja disse­mos, e imprescindfvel para ressalva de direitos, nao podendo a dire­toria substitui-19.

A ultirna'hip6tese e ada perda superveniente de qualquer requi­sito de inscri«ao (por exemplo, perda da capacidade civil plena pela interdi«ao decretada em jnizo, cance1amento do diploma de gradua­«ao, inidoneidade ou conduta incompatfvel).

98. COllselho Federal, Processo n. 4.783/95/PC, DIU, 19 mar. 1996. 99. Reclll'so n. 0305/2002/SCA-RJ.

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DOCUMENTO DE IDENTIDADE DO ADVOGADO

A competencia para dispor sobre a identifica«ao do advogado ou do estagiario e do Conselho Federal da OAB (art. 54, X, do Esta­tuto). Os modelos e requisitos dos documentos (carteira e cmtao) foram definidos pelo Regulmnento Geral (arts. 32 a 36). 0 uso do cartao dispensa 0 da carteira. 0 Conselho Federal da OAB decidiu que, pm'a os fins da Lei n. 9.434/97, pode 0 advogado requerer que seja feito 0 registro das expressoes "doador de orgaos ou tecidos" e "nao doador de orgaos e tecidos" nas paginas destinadas a anota«oes, na Carteira de Identidade do Advogado, ou no espa«o destinado a "observa90es e impedimehtos", nO verso do Cmtao de Idehtid:1de do Advogado 104; Na Carteira de Identidade nao pode constar anota«ao de penalidadeimposta a seu titular, ainda que ap6s 0 transito em julgado da decisao, pois tal registro e feito no prontuario do advoga­do existente nos arquivos do Conselho Seccional105•

o documento de identidade emitido pela OAB tern validade nacional e produz efeitos de identifica«ao pessoal para todos os fins legais e nao apenas para a atividade profissionaJ.

o Estatuto obriga aos SeUS inscritos 0 uso permanente da iden­tifica«ao profissional, devendo esta sempre ser apresentada quando aqueles exercerem suas atividades.

Nenhum documento, papel, correspondencia, assinado pelo ad­vogado enquanto tal, pode ser encaminhado sem 0 numero de sua inscri«ao 'ou do registro da sociedade de advogados de que fa«a parte. A falta constitui infra«ao disciplinar, punfvel com a san«ao de censu­ra (art. 36, m, do Estatuto).

A obrigatoriedade do numero de inscri«ao estende-se aos meios de divulga«ao da atividade de advocacia, inclusive as placas indicativas do escrit6rio.

104. Processo n. 4.256/97/CP, DJ, 15 set. 1997. 105. Conselho Federal, Processo n. 119/9610E, DJ, 23 abr. 1997.

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SOCIEDADE DE ADVOGADOS '--'"0\'- _ r):~

CAPITULo IV

DASOCIEDADE DE ADVOGADOS

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Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade ci­vil de presta\;ao de servi\;o de advocacia, na forma disciplina­da nesta lei e no Regulamento Geral.

§ lQ A sociedade de advogados adquire personalidade jurfdica com 0 registro aprovado dos seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver

sede. § 2Q Aplica-se It sociedade de advogados 0 C6digo de Eti­

ca e Disciplina, no que couber. § 3. As procura\;oes devem ser outorgadas individual­

mente aos advogados e indicar a sociedade de que fa\;am

parte. § 4Q Nenbum advogado pode integrar mais de uma so­

ciedade de advogados, com sede ou filial na mesma area territorial do respectivo Conselho Seccional.

§ 5. 0 ato de constitui\;ao de filial deve ser averbado no registro da sociedade e arquivado juntoao Conselbo Seccional onde se instalar, ficando os s6cios obrigados a inscri\;ao su­

plementar. § 6. Os advogados s6cios de uma mesma sociedade pro­

fissional nao podem representar em juizo clientes de interes-

ses opostos.

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Page 35: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Apenas advogados regularmente inscritos podem integral' a so­ciedade. Bachareis em direito nao inscritos ou incompativeis, esta­giariosJ07 e leigos estao excluidos.

Na mesma area territorial do Conselho Seccional nao pode 0 advogado integrar mais de uma sociedade. Da mesma forma, uao pode constituir nova sociedade, enquanto nao for dissolvida regular­mente a primeira, com 0 respectivo cancelamento do registro, pouco impOltando que esteja de fato desativada. A lei procura evital' que a sociedade seja instmmentalizada para fins diversos do exclusivo exer­cfcio profissional. Essa regra, que preserva a unicidade da sede prin­'Cipal'da advQcacia, a1canc;;atambem 0 impedimento de atividadesi­multanea emsociedade de advogados e em escritorio de advocacia, no mesmo domicilio profissional. Nao a1canc;;a, no entanto, 0 advo­gado empregado, porque nao integra, como socio, a sociedade.

A lei brasileira optou por rejeitar 0 modele anglo-americano das law firms, que nao se distinguem das demais empresas mercantis, pois destas absorveram a etica dos negocios e dos resultados lucrativos. Desde quando as sociedades de advogados passaram a adotar 0 mode-10 empresmial, cresceu entre os jUlistas americanos a rea<;:ao aos seus nefastos desdobramentos com rela<;:ao a etica profissional, pois as law finns "converteram-se virtualmente em anexos de gmpos financeiros, especuladores e industriais; tais empresas, que passaram a dominar a profissao, pouco contribuem para 0 pensamento e a filosofia da ativi­dade advocaticia enada em rela<;:ao a responsabiJidade ou idealisnl0"108

..-CONSTlTUI<;AO DA SOCIEDADE E SEU REGISTRO

o ato constitu'tivo perfaz-se mediante contrato social, que deve conter os seguintes requisitos: denomina<;:ao, finalidade, sede, dura-

107. Quanta aos estagiarios, a Terceira Camara do Conselho Federal da OAB esclareceu que a inserr;:ao de estagiruios, antes permitida, pas sou a ser proibida com o advento da Lei n. 8.906/94 (Proc. n. 2.06612000rrCA-RS, DJ, 8 jan. 2001).

108. Cf. F. Raymond Marks et aI., The lawyer, the public, and professional responsability, Chicago, 1972, p. 37.

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<;:ao, administra<;:ao, representa<;:ao (reetius presenta<;:ao) judicial e extrajudicial, responsabilidade solidaria e subsidhiria dos socios, extin<;:ao, qualifica<;:ao dos fundadores e da diretoria provisoria.

Pnblicado 0 ato constitutivo, sera levado a registro, para que adquira personalidade jUlidica. 0 orgao registral competente e 0 Con­selho Seccional da OAB e nenhum outro. E prerrogativa insupenivel da OAB, delTogatoria do direito registrruio comum e da competencia da Junta Comercial ou do Registro Civil das Pessoas Juridicas. Esses orgaos nao podem proceder ao registro das sociedades de advogados, sendo nulo 0 que se·efetivar. Como se trata de nulidade (total) e nao de anulabilidade;qualquer pessoa ou a OAB podesuscita-la.

A existencia da sociedade de advogados depende da aprova<;:ao de seu ato constitutivo e do I'egistro, ambos pelo Conselho Seccional. o registro se realiza em livro proprio da OAB, recebendo numera<;:ao sucessiva. Qualquer alteI'a<;:ao do ato constitutivo devera ser averbada no respectivo registro, apos aprova<;:ao pelo Conselho Seccional. A constituic;;ao de sociedade de advogados sem registro no Conselho Seccional impOlta infra<;:ao ao art. 34, II, do Estatuto, sendo cabivel a

pena de censura aos advogados que a integrem.

A sociedade de advogados apenas pode conter como finalidade a atividade de advocacia. N ada mais. Sera neg ado 0 registro quando, sendo pouco exp]fcitas suas finalidades, dessuma do ato constitutivo

caracteristica empresarial. Como 0 registro e linico - e no Conselho Seccional competente

_ e a atividade de advocacia e exclusiva (nao pode estar associada a qualquer outra, remunerada ou nao), 0 registro civil das pessoas juri­dicas e as juntas comerciais estao proibidos de proceder ao registro de qualquer sociedade que inclua a atividade de advocacia entre suas finalidades, mesmo que esta seja secundaria ou residual

lO'.

109.0 antigo Tribunal Federal de Recursos, ao caracterizar a OAB-como orgao destinado ao registro peculiar das sociedades de advogados. decidiu que "0 registro de Sociedade de Advogados no Cadastro Geral de Contribuintes independe de inscric;:ao no Registro Civil de Pessoas Juridicas" (REO D. 90.337-SP, reI. Min. Costa

Lima, lurispmdencia Bmsileira, 123: 1 02).

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Page 36: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

atuac;:ao. 0 ato e averbado no registro da sociedade e e arquivado, no Conselho Seccional de sua atuac;:ao, mediante requerimento, 0 qual deve ser acompanhado de certidao do registro e de regulatidade fornecida pelo Conselho onde esteja registrada a sociedade.

Todos os socios da sociedade deverao requerer, simultaneamente, suas inscric;:6es suplementares, de cujo deferimento depende a filial para iniciar suas atividades.

RHA<;AO DA SOCIEDADE COM SEUS s6C1os. RESPONSABILIDADES

. Ao contl':ilio das sociedades intuitu pecuniae, na de advogados so quantitativamente se adrnitem diferenc;:as entre os socios, uma vez que 0 qualificativo e identico. As pretens6es de seus socios nao sao em dinheiro, mas na especificac;:ao dos servic;:os de cada nml".

Por essa razao, a sociedade j amais substitui os advogados na atividade privativa de advocacia. Esta somente pode ser desenvolvi­da diretamente pelo advogado socio ou empregado. As procurac;:6es nao podem ser outorgadas it sociedade, mas aos advogados socios (ou empregados)1I3. Embora, em princfpio, pessoas ffsicas leigas ou pessoas jnridicas possam receber poderes judiciais e substabelece­los a advogado, para exerce-los, cometerao infrac;:ao disciplinar a so­ciedade de advogados e seus socios que 0 fizerem, porque ha impedi- . mento etico-juridico.

Todavia, a sociedade de advogados tem legitirnidade ativa para executar, em seu nome, a verba honoraria concedida em proces§o para 0 qual foi outorgado mandato a um dos seus socios, conforme decidiu a Terceira Turma do STJ (REsp 651.157 -SP, 2004). A mesma Turma em outro julgado de 2005 (REsp 566.190) entendeu que a

112. Cf. Ruy de Azevedo Sadri, Sociedade de advogados, cit., p. 35. 113. Decidiu 0 STF que "0 simples fato de 0 subscritor do recurso integrar

sociedade civil de advocacia composta, tambem, pelos advogados credenciados nos autos, rHio revela a regularidade da representac;ao processual" (AgRg no RE 16] .650-5, DJU, 18 fev. 1994, Se<;ao 1, p. 1798).

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verba honoraria, ainda que cobrada pela sociedade de advogados, tern natureza alimentar, para fins de credito privilegiado em ac;:ao de falencia, em virtude da confusao de patrimonio entre os advogados socios e a sociedade de advogados.

A responsabilidade civil dos socios pelos danos que a socieda­de coletivamente, ou cada socio ou advogado empregado individual­mente, causar, por ac;:ao ou ornissao no exercfcio da advocacia, e soli­daria, subsidiaria e ilirnitada, independentemente do capital indivi­dual integralizado. Os bens individuais de cada socio respondem pela totalidade dessas obtigac;:6es. E nula a clausula do contrato social que estabelecer qualquer tipo de lirnitaqao a responsabilidade dos socios para tal fim .

A responsabilidade civil independe da responsabilidade disci­plinar, a cuja conseqiiencia sujeitar-se 0 socio pelo mesmo fato. So­bre a natureza e akance da responsabilidade civil do advogado reme­temos 0 leitor aos comentiirios ao art. 32.

ASPECTOS ETICO-DISCIPLINARES

A sociedade de advogados e punida nas pessoas de todos os seus socios. E este 0 sentido da norma que manda a ela aplicar 0

Codigo de Etica e Disciplina. Como a pes so a juridica nao pode co­meter infrac;:ao etico-disciplinar, esta e tida como praticada pelo ad­vogado responsavel pela sociedade, que, quando menos, responde pelo fato de nao ter zelado para que a sociedade nao se transviasse dos deveres morais 1J4.

Mas nao e so com relac;:ao it publici dade que se aplicam as nor­mas deontologicas, porque 0 Estatuto e abrangente e nao reproduziu semelhante restriqao contida na Lei n. 4.215/63.

Ha forte inspirac;:ao etica na deterrninac;:ao legal de impedimento it representac;:ao profissional de clientes de interesses entre si opos­tos. A regra, por sua etiologia, tambem abrange os advogados empre-

114. Cf. Ruy de Azevedo Sodre, Sociedade de a4vogados, cit .• p. 14.

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Page 37: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

ADVOGADO EMPREGADO

CAPiTULO V

DO ADVOGADO EMPREGADO

Art. 18. A relac;ao de emprego, na qualidade de advoga­do, nao retira a isen<;ao tecnica nem reduz a independencia pro fissional inerentes it advocacia.

Paragrafo unico. 0 advogado empregado nao esm obri­gado it presta<;ao de servi<;os profissionais de interesse pesso­al dos empregadores, fora da rela<;ao de emprego.

Art. 19. 0 salario minima profissional do advogado sera fixado em sentenc;a normativa, salvo se ajustado em acordo ou convenc;ao coletiva de trabalho.

Art. 20. A jornada de trabalho do advogado empregado, no exercicio da profissao, nao podera exceder a durac;ao dia­ria de quatro horas continuas e a de vinte horas semanais, salvo acordo ou convenc;ao coletiva ou em caso de dedicac;ao exclusiva.

§ 1Q Para efeitos deste artigo, considera-se como perfodo . de trabalho 0 tempo em que 0 advogado estiver it disposi<;1io do empregador, aguardando ou executando ordens, no seu escri­t6rio ou em atividades extemas, sendo-lhe reembolsadas as despesas feitas com transporte, hospedagem e alimentac;ao.

§ 2Q As horas trabalhadas que excederem a jornada nor­mal sao remuneradas por urn adicional nao inferior a cern por cento sobre 0 valor da hora normal, mesmo havendo con­trato escrito.

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§ 3Q As horas trabalhadas no perfodo das vinte horas de urn dia ate as cinco horas do dia seguinte sao remuneradas como noturnas, acrescidas do adicional de vinte e cinco por cento.

Art. 21. Nas causas em que for parte 0 empregador, ou pessoa por este representada, os honorarios de sucumbencia sao devidos aos advogados empregados.

Paragrafo unico. Os honorarios de sucumbencia, perce­bidos por advogado empregado de sociedade de advogados, sao partilhados entre ele e a empregadora, na forma

. estabelecida em.acordo.

(Obs.: 0 STF concedeu liminar, na ADln 1.194-4, para limitar a aplicac;ao do paragrafo unico do art. 21.) .

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ADVOGADO EMPREGADO. INDEPENDENCIA PROFISSIONAL

o Estatnto dedica urn capitnlo especifico ao advogado empre­gado, ou seja, ao profissional assalariado. E 0 reconhecimento legal a urn fenomeno que se tomou predominante na advocacia brasileira. 0 anterior Estatuto tomava como paradigma 0 advogado liberal, que nao se subordinava, por lac;os de empreg6, a seus clientes. Em algu­mas legislac;oes estrangeiras, a advocacia e incompativel com a rela­c;ao de emprego. No Brasil, contudo, e grande 0 numero de profis­sionais que se subordinam a algum vinculo empregaticio, nao poden­do esse enorme contingente ficar a margem da tutela legaL

A legislac;ao trabalhista comum e supletiva do Estatuto, porque este e lei especial que delToga necessariamente a lei geraL

A relac;ao de emprego configura-se com os mesmos pressupos­tos do direi to trabalbista comum. Nela nao se inc1uem os contratos de prestac;ao de servic;os advocaticios especificos, que nao ultrapas-

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estao adstritos aos atos que decorram necessariamente da rela<;ao de emprego.

Essa nOlma e cogente e nao pode ser afastada por" conven<;ao individual ou coletiva. Parece dizer 0 6bvio, mas julgou-se impres­cindfvel sua explicita<;ao no texto legal, diante dos abusos freqiientes de certos empregadores.

Quando 0 empregador necessitar de servi<;os de advocacia relaci­onados a seus interesses pessoais ou farniliares e estranhos 11 atividade empresarial, lera de remunerar 0 eventnal advogado empregado medi­ante honoriirios, nao inclufdos no sallliio ordinlliio, nas mesmas condi­<;5"s que suportmia se contratasse advogado independente."

SALARIO MINIMO PROFISSIONAL

Esta e uma das mais tormentosas quest5es qne envolvem 0 ad­vogado empregado e de solu<;ao diffcil.

A Constirni<;ao veda a utiliza<;ao do saliirio minima como refe­rencia. A fixa<;ao ern moeda corrente e irreal ern economia inflaciomi­ria como a nossa. Os indexadores nao sao confiiiveis e tendem a desa­parecer. 0 anteprojeto do Estatuto atribufra ao Conselho Federal da OAB competencia pm" fixar 0 saliirio rnfnimo profissional do advoga­do se nao houvesse acordo ou decisao coletiva. No entmlto, 0 Congres­so Nacional opton pela senten<;a nOlmativa da justi<;a do trabalho, cd­ando nm sistema difnso que, celtamente, nao tutela os interesses dos advogados empregados, especialmente dos que nao se encontrarn or­ganizados ern entidades sindicais nas vlliias regi5es do pafs.

Da forma como resultou no Estatuto, existe a seguinte grada<;ao de competencias pm'a fixa<;ao do salario minimo do advogado, apli­cando-se a postedor na falta da anterior:

1- conven<;ao coletiva do trabalho, envolvendo as representa­<;5es das categodas dos empregadores e dos advogados empregados (suas associa<;5es ou sindicatos); no sistema jurfdico brasileiro, a con­ven<;ao coletiva obdga nao apenas os signatarios mas todos os inte­grantes das respectivas categodas; assim, nao pode ser afastada pelo acordo individual;

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II - na falta de conven<;ao coletiva ou acordo coletivo, prevale­ce 0 acordo individual, celebrado entre 0 empregador e 0 advogado empregado, fixando 0 sallliio mfnimo cOlTespondente, e que nao pode ser alterado para menor por ato unilateral;

III - senten<;a nonnativa da justi<;a do trabalho ern decorren­cia de dissfdio instaurado entre 0 empregador e seus advogados em­pregados.

o Regulamento Geral atribui ao sindicato de advogados e, na sua falta, 11 federa<;ao ou confedera<;ao de advogados, a representa<;ao destes nas conven<;5es coletivas, nos acordos coletivos enos dissfdios coletivos. Nao podea OAB substitui-Ios em qualquer circunstancia.

Como se ve, nao ha um salario minimo padrao ou nacional pm"a os advogados empregados, salvo no caso de COnVel1<;:ao coletiva cele­brada corn entidades sindicais de carater nacional.

Alem do salado rnfnimo profissional, quando houver, inclui-se no salario do advogado empregado 0 adicional de produtividade e aumentos reais que sejam estipulados ern lei, conven<;ao coletiva ou senten<;a nonnativa. Esses valores nao podem ser deduzidos do sala­do rnfnimo ou do saliido jii percebido pelo advogado.

JORNADA DE TRABALHO

Seguindo 0 modele que foi adotado nessa materia, no estabele­cimento de normas legais supletivas: na falta de acordo individual ou conven<;ao coletiva, 0 Estatuto estabelece a jornada de trabalho do advogado ern quatro horas continuas em uma semana de cinco dias. o Regulamento Geral considerajornada normal de trabalho do advo­gada empregado nao apenas a de quatro horas diiirias mas outra mai­or, ate 0 limite de oito horas diiirias e quarenta semanais, nesse caso quando houver "acordo ou conven<;ao coletiva.

o acordo ou a conven<;ao coletiva, no entanto, podem deterrni­nar urn regime de trabalho diferenciado. 0 Estatuto nao fixou 0 limi­te maximo, aplicando-se nesse caso a norma equivalente da legisla­<;ao trabalhista comum. Najurisprudencia trabalhista ha entendimen­to de que somente faz jus 11 jornada de trabalho reduzida aquele pro­fissional que percebe 0 piso salruial.

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tividacle (afinal, 0 que impOlta) independe da presenqa fisica diante do empregador. Nem pOl' is so desaparecem os elementos nncleares da relaqao de emprego.

Presume-se cumprimento 11 jornada de trabalho qnando houver habitual tolerancia do empregador aos serviqos prestados pelo advo­gada em seu eSClitorio, mesmo em horfuios flexiveis, desde quando execute e aguarde ordens daquele. Essa hipotese e admissivel quan­do ajornada de trabalho for a legal (quatro horas diihias).

As horas extraordinfuias, a saber, as que excederem a jornada legal ou convencional, serao remuneradaspor urn adicional nao infe­rior a 100% da hora nOlIDal. Essa norma e cogente; nao admite con­venqao coletiva ou acordo individual em contrfu·io sendo nula a chiu­sula contratual que a contrmiar, para os contratos celebrados apos a vigencia do Estatuto.

Na eventualidade (por certo rara, na atividade de advocacia) de ajornada nonnal ser cumprida em honirio notumo, sera acrescido ao salario urn adicional de 25%.

Ressalte-se que, para solnqao dos conflitos temporais de leis que envolvam relaqao de emprego, preva1ece 0 principio do efeito imediato. 13 doutrina largamente adotada no direito brasileiro e no direito estrangeiro que as leis de proteqao ao trabalho a1canqam ime­diatamente os contratos em curso, porque visam aos homens como trabalhadores e nao como contratantes.

De acordo com 0 Enunciado n. 222 da SDI-I do TST, "0 advo­gado empregado de banco, pelo .simplesexercicio da advocacia, nao exerce cargo de confianqa, nao se enquadrando, portanto, na hipotese do § 2" do mt. 224 da CLT" . Com base nessa orientaqao, decidiu 0

TST (RR 795908/01) que nao se aplica a nOlIDa do Estatuto sobre a jornada de trabalho do advogado do Banco do Nordeste do Brasil submetido a jomada diaria de oito horas, pois "apesar de ter sua ati­vidade profissional regulamentada por legislaqao especffica, os ad­vogados nao integram 0 rol das categorias profissionais diferencia­das constante do Quadro de Atividades e Profissoes a que se refere 0

mtigo 57 da CLT".

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HONORARIOS DE SUCUMBENCIA DO ADVOGADO EMPREGADO

o Estatuto encerra a controversia reinante, inclusive, na juris­prudencia de nossos tribunais sobre a natureza e 0 destino dos hono­rarios de sucumbencia quando 0 advogado da causa for empregado do vencedor.

Entendia-se que seliam devidos ao empregador, porque 0 advo­gado estava assegurado com seu salario, nao se sujeitando aos riscos da demanda, e porque compensariam as des pes as efetuadas pelo empregador.

Invertendo-se a perspectiva, do empregador para 0 advogado, contrapoe-se com 0 argumento, que restou prevalecente na lei, de que honorarios constituem exc1usivamente remuneraqao de trabalho do advogado, seja qual for sna origem. 0 fato de serem pagos pela parte contraria, no ambito da condenaqao, nao altera essa natureza.

o Estatuto nao estabelece criterios para a partilha dos honora­rios de sucumbencia entre os advogados empregados do mesmo em­pregador. Em qualquer hipotese, todavia, a regra a ser seguida e a do acordo havido entre e1es. Em sua falta, pmticiparao os que houvererri atuado no processo na proporqao do desempenho de cada um. Essa soluqao nem sempre podera ser adotada, porque 0 processo judicial pode ter sido antecedido de trabalhos preventivos ou extrajudiciais a ele relacionados, realizados por outros colegas.

Quando se cuidar de sociedade de advogados, ha regra legal expressa: os hononlrios de sucumbencia serao partilhados na forma do acordo estabelecido entre ela e seus advogados empregados. E se nao tiver havido acordo? Nesse caso, e considerando que 0 principio legal e 0 da partilha entre sociedade e advogados, os honorarios de­sucumbencia deverao ser divididos em partes iguais, uma para a so­ciedade e outra para os advogados empregados. Essa soluqao pressu­poe a atuaqao efetiva dos advogados beneficiarios na conduqao do processo judicial respectivo. 0 Supremo Tribunal Federal concedeu liminar, na Aqao Direta de Inconstitucionalidade n. 1.194-4 (DiU, 27 fey. 1996), para limitar a aplicaqao dessa regra "nos casos em que

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§ 5g 0 disposto neste artigo nao se apJica quando se tra­tar de mandato outorgado por advogado para defesa em pro­cesso oriundo de ate ou omissao praticada no exercicio da profissao.

Art. 23. Os honorarios inclufdos na condenac;ao, por arbitramento ou sucumbencia, pertencem ao advogado, ten­do este direito autOnomo para executar a sentenc;a nesta par­te, podendo requerer que 0 precatorio, quando necessario, seja expedido em seu favor.

Art. 24. A decisao judicial que fixar ou arbitrar honora­rios e 0 contrato escrito que os estipular sao titulos executivos e constituem credito privilegiado na falencia, concordata, con­curso de credores, insolvencia civil e liquidac;ao extrajudicial.

§ 19 A execw;;ao dos honorarios pode ser promovida nos mesmos autos da ac;ao em que tenha atuado 0 advogado, se assim Ihe convier.

§ 2g Na hipotese de falecimento ouincapacidade civil do advogado, os honorarios de sucumbencia, proporcionais ao trabalho realizado, sao recebidos por seus sucessores ou re­presentantes legais.

§ 3g E nula qualquer disposi<,;ao, clausula. regulamento ou convencao individual ou coletiva que retire do. advogado 0

direito ao recebimento dos honorarios de sucumbencia.

§ 4g 0 acordo feito pelo clientedo advogado e a parte. contraria, salvo aquiescencia do profissional, nao !he preju­dica os honorarios, quer os convencionados, quer os concedi­dos por sentenc;a.

Art. 25. Prescreve em cinco anos a ac;ao de cobranc;a de honorarios de advogado, contado 0 prazo:

I - do vencimento do contrato, se houver;

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II - do transito em julgado da decisao que os fixar;

III - da ultimac;ao do servic;o extrajudicial;

IV - da desistencia ou transac;ao;

V - da remincia ou revogac;ao de mandato.

Art. 26. 0 advogado substabelecido, com reserva de po­deres, nao pode cobrar honorarios sem a intervenc;ao daque­Ie que the conferiu 0 substabelecimento.

(Obs.: 0 STF concedeu medida liminal' na ADIn 1.194-4, DIU, 27 fey. 1996, para suspender os efeitos de todo 0 § 3Q do art. 24.)

COMENT ARIOS

DIREITO AOS HONORARIOS

A remunera<;ao do advogado, que nao decorra de reJa<;ao de emprego, continua sendo denominada honorarios, em homenagem a uma longa tradi<;ao. Contudo, rigorosamente, 0 pagamento dos ser­vi<;os profissionais do advogado nada tern em comum com 0 sentido de honorarios que se empregava, por exemplo, em Roma. A advoca­cia inclufa-se nas atividades nao especulativas consideradas operea liberales, percebendo 0 advogado honoraria ou mUllera, com senti­do de compromisso social, em vez de salariollS

• Mas ate mesmo em Roma, apesar de a Lei Cfntia (205 a.c.) vedar as doa<;6es remu­neratolias, e duvidosa a afirma<;;ao de que 0 minist6io privado do advogado era gratuito, sendo enganoso 0 termohonorarium, como ressalta a doutrina119.

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118. Ao'lado do ret6rico. do medico, do jurisprudente, do agrimensor. do professor, dos funciomirios publicos e das amas-de-leite (cf. Reginald D. H. Felker, o direito romano e 0 contrato de trabalho, Intersindical, 417:888).

119. DizAlexandreAugusto de Castro Conea (op. cit., p. 22), seguro em Mebesz e Grellet-Dumazeau, que "em nenhum tempo, ao contrario da opiniao comum, 0

ministerio do advogado foi puramente gratuito, pois, nos primeiros tempos de Roma,· a assistencia do patrono representou compensa~ao, alias insuficiente, dos servi~os prestados peIo cliente; a Lei Cintia, pretendendo exigir do advogado completa renuncia dos mais leg!timos interesses, cortando-lhe, por assim dizer, as maos, fora

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juiz deve motivar sua decisao, a partir dos mesmos criterios das a](­neas a, bee acima referidas.

o direito aos hononuios contratados nao e iJimitado. Ha limites postos pela etica e pela razoabilidade que nao podem ser ultrapassa­dos. Os Conselhos Seccionais da OAB podem indicar, sob funda­mento etieo, os Ii mites maximos, embora seja mnito diffcil a previ­sao de todas as hipoteses. Um criterio, muito utilizado e seguro, e 0

padrao medio de honorarios praticado no meio profissional. Em qual­quer circunstancia, 0 advogado deve estar advertido contra a tenta~ao aetica de se transformar em socio, sucessor ou herdeiro do cliente. Sempre que possIvel deve evitar 0 pagamento iii natUra.

o Estatuto silencia quanta ao pacto de quota litis (participa~ao proporcional no resultado on ganho obtido na demanda) que 0 direi­to romano e as Ordena~oes Filipinas 120 condenavam. Sempre que possIvel deve ser evitado, pOl'que nao contribui para a dignidade da advocacia. 0 advogado e remunerado em fun<;ao de seus servi~os profissionais, nao podendo ser associ ado ao c1iente. Sera imoral, infringindo a etica profissional, se nao gUal'dar rela~ao com 0 traba­Iho prestado ou importar vantagem excessiva, considerando-se 0 que ordinariamente seja cobrado, para identico servi<;o, e ainda se hou­ver proveito do estado de necessidade ou de inexperiencia do clien­teo 0 Codigo de Etica e Disciplina (art. 38), ao contnhio da maioria dos codigos deontologicosJ 2J , admite em princIpio 0 pacto de quota litis, observados os seguintes limites: a) a quota do advogado deve ser constituida de pecunia, sendo proibida a palticipa<;ao em bens do cliente, salvo quando este nao dispuser de condi~oes pecuniarias e tenha havido contrata<;ao por escrito nesse sentido; b) quando hou­ver honorarios de sucumbencia, a quota do advogado nao pode ser superior as vantagens advindas ao c1iente. Apesar desses cuidados, entendemos que a op~ao do Codigo nao foi boa e deixa margens a abusos freqiientes.

120. Livro 1, Titulo XLVIII, 11. 121. 0 C6digo de Deontologia dos advogados da Comunidade Europeia,

aprovado em 1988, proibe 0 pacta de quota litis.

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o Estatuto preve uma unica hipotese de gratuidade no exercI­cio da advocacia: quando 0 advogado receber mandato de um colega para defende-Io em processo oriundo de ato ou omissao praticado profissionalmente. Presume-se, nesse caso, que os direitos e garan­tias do advogado, em geral, estejam em discussao e ha interesse transubjetivo da classe. 0 patrocinio e voluntario, nao pode ser im­posto. 0 defensor dativo no processo disciplinar, por exemplo, nao recebe mandato mas delegaC;ao da propria OAB para realizar essa nobilitante fun~ao.

As tabelas de honorarios estabelecidas pelos Conselhos Seccionais sao "simples referenciais nas rela~oes entre c1iente e ad­vogado", c~mo decidiu 0 6rgao Especial do Conselho Federal da OAB (Proc. n. 200/97/0EP), sendo apenas vinculante para 0 advoga­do que os cobrar do Estado quando prestar assistencia juridica aos. necessitados. Por nao constituir tabelamento, entendeu 0 CADE -Conselho Administrativo de Defesa Economica, do Govemo Federal, que na tabela de honorarios da OAB-SP nao havia indIcios de infra­~ao a ordem economic a (Repr. n. 116/92, Parecer n. 238/97).

HONORARIOS EM ASSISTENCIA JURiDICA

A legisla~ao anterior considerava dever etieo do advogado a presta~ao gratuita de seus servi~os em assistencia jndiciaria. E res­qU1cio da antiga concep~ao do pagamento ao profissional como uma remunera~ao hononiria e nao como uma real e efetiva contrapresta«ao pecuniaria pelo trabalho realizado. Modemamente, no Estado Social (welfare State), a assistencia jurfdica encarta-se nos mei:6"s de realiza­«ao da cidadania, como direito subjetivo publiC;; emface do proprio Estado, para 0 efetivQ acesso a justi«a. .

A assistenciajuridica nao se resume as questoes ajuizadas, mas inc1ui 0 trabalho profissional extrajudicial realizado no interesse do necessitado.

Apos a Constitui«ao de 1988 atribuiu-se ao Estado, definitiva e completamente, 0 encargo da assistencia juridic a gratuita, mediante a obriga«ao, dirigida a Uniao e aos Estados-membros, de instituir e man­ter a Defensoria Publica (art. 134 da CF; LC n. 80, de 12-1-1994).

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de mais de um profissional, as despesas e deslocamentos realizados pelo advogado.

II - 0 valor economico da questao, relativo ao qual se estipule uma percentagem, segundo a media praticada no meio pro fissional.

HONORARIOS DE SUCUMBENCIA

A legisla«ao anterior estabelecia que os hononirios fix ados na condena«ao contra a parte vencida on sucumbente, na a«ao, pertenci­am a parte vencedora. 0 Estatuto inverteu radicalmente a titularidade desses especfficos honorarios, a saber, da parte vencedora para seu advogado. Com efeito, mudou 0 fundamento e a natureza dessa con­dena«ao, deixando de ser indeniza«ao das despesas despendidas pela parte vencedora para consistir em parte da remunera~ao de seu advo­gado, cujo onus e imputado a parte vencida.

Os honorarios de sucumbencia podem ser acumulados com os honorarios contratados. Todavia, ha regra deontologica prevista no art. 35 do Codigo de Etica e Disciplina no sentido de serem levados em conta no acetto final com 0 cliente, 0 que significa relativa com­pensa«ao entre e1es, de modo a evitar que a soma se converta em vantagem exagerada e desproporcional aos servi~os contratados. So­bre a possibilidade de se atribuir os hononllios de sucumbencia it parte, ver abaixo.

o direito aos honorarios de sucumbencia estende-se aos advo­gados publicos, porque exercem atividade de advocacia, nos termos do § I" do art. 3" da Lei n. 8.906/94. A lei federal podera restringir ou proibir sna percep~ao, mas as leis estaduais ou municipais nao pode­rao faze-Io, pois a competencia para legislar sobre condi«oes de exer­cicio das profissoes e da Uniao (alt. 22, XVI, da Constitui~ao). Inexistindo lei federal limitativa ou proibitiva, os honoranos de su­cumbencia pertencem integralmente aos advogados integrantes da carreira respectiva, que os partilharao segundo 0 que entre eles for acordado.

Para os defensores publicos ha regra de veda~ao explfcita (arts. 46, ill, e 130, III, da LC n. 8/94). Quanto aos demais advogados

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publicos, a Lei n. 9.527, de 10 de dezembro de 1997, que deu nova reda~ao it Lei n. 8.112/90, exc1ui a aplica~ao das normas dos alts. 18 a 21 do Estatuto (sobre advogado empregado) aos advogados publi­cos, mas e silente quanto ao alt. 23, que cuida dos honor:itios de sucumbencia. 0 Parecer n. GQ-24 da Advocacia-Geral da Uniao, aprovado pelo Presidente da Republica (DOU, 10 ago. 1994), enten­deu que 0 direito aos honorarios de sucumbencia pelos advogados publicos "se nao compatibiliza com a isonomia de vencimentos pre­conizada nos mts. 39, § 1", e 135 da Constitui~ao" pot'que dependen­tes de "regime proprio a que se subordinem". Sem razao. Se era fra­gil 0 argumento da isonomia vencimental - que nao seria afetada pela percep<;ao de valores que nao lem natureza de vencimento ou subsidio, aIem de variaveis e nao decorrerem de receita publica pr6-pria -, perdeu substancia com 0 advento da Emenda Constitucional n. 19, de 1998, que suprimiu do mt. 39, § 1",0 requisito de isonomia vencimental. Por ontro lado, 0 argumento do regime proprio somente e cabivel se honver lei federal explicita qne suprima 0 direito.

o direito ao recebimento dos honor:itios de sucumbencia e in­disponivel, nao podendo ser objeto de negocia"ao em contrario, in­vettendo-se 0 entendimento jnrisprndencial anterior. A lei comina com a conseqUencia da nulidade qualquer disposi«ao negocial que 0 afaste, inclusive quando se tratal' de conven~ao coletiva entre repre­sentantes de trabalhadores e do empregador. Todavia, 0 preceito con­tido no § 3" do art. 24 do Estatnto teve sua eficacia suspensa em vittude de medida liminar concedida na A~ao Direta de Inconstitu­cionalidade n. 1.194-4.

Em face dessa decisao do STF, que afeta profundamente a siste­matica adotada pelo Estatuto, resulta 0 seguinte regime juridico:

a) os honorarios de sncumbencia pettencem ao advogado (art. 23) ou ao advogado empregado (art. 21) se nao tiverhavido expressa conven~ao elTI contnirio;

b) os honorarios de sucumbencia pertencem it patte vencedora se houver contrato ou conven<;ao individual ou coletiva que assim estabele<;am.

De qualquer fotwa, 0 direito do advogado aos honorarios de sucumbencia continua sendo a regra, e a transferencia a parte, a exce­«ao, ao contrario do entendimento anterior.

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Na fase de execu«ao da senten«a, 0 advogado pode, anexando seu contrato de presta<;ao de servi«os, requerer que seja deduzido 0 valor dos honon1rios contratados da importancia que 0 c1iente tem direito a receber. Assim decidiu 0 SupetiorTribunal de Justi«a (REsp 295.987-SP, DJ, 2 abr. 2001).

o direito a hOn01":1rios integra 0 patrimonio civil da pessoa do advogado. Em caso de morte, transmite-se a seus sucessores legfti­mos. Em caso de incapacidade civil superveniente e apos dec1arada sua interdi<;ao, legitima-se seu cm·ador a receber os honorarios. A lei apenas refere-se aos honormios de sucumbencia e a proporcionalidade pelo trabalho realizado. Essa referencia nao pode ser entendida como restri<;ao, mas como especifica«ao de hipotese que nao invalida as demais, ou seja, as dos hononhios convencionados e as dos arbitra­dos. A interpreta«ao restritiva levaria a resultado infqno: os honorari­os que nao fossem oriundos de sucumbencia tornar-se-iam inexigfveis, conduzindo ao enriquecimento sem causa do devedor.

Os honorarios, contratados ou fixados em senten«a judicial, sao devidos ainda que 0 c1iente realize acordo com a parte contra­ria. Pode, no entanto, 0 advogadoconcordar em reduzi-los propor­cionalmente, por liberalidade sua. Nao ha dever etico para tal, por­que havia uma legftima expectativa em recebe-los, como previsao de receita de seu escritorio, e e razoavel supor que, no planejamen­to de sua atividade, tenha recusado 0 patrocfnio de outras cauSas em virtude daquela.

o advogadoque red>ber substabelecimento com reserva de po­deres nao pode cobrar os honormios diretamente do cliente nem esta­belecer com este qualquer tipo de acoi:do de n;cebimento. Exige-se a interven«ao necessaria do colega que substabeleceu, pot·que 0 substabelecimento se deu em carater de confian9a, mantendo-se aquele no patrocfnio e dire9ao principal da causa ou questao. E regra de natureza etica, cuja infra9ao esta sujeita a pena disciplinar. Conse­qiientemente, 0 advogado que recebeu 0 substabelecimento nao pode executar isoladamente os honoraIios, devendo faze-lo sempre em conjunto com 0 outro.

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A Sumula 14 do Supelior Tribunal de Justi«a estabelece que "Arbitrados os honorarios advocatfcios em percentual sobre 0 valor da causa, a corre«ao monetaria incide a partir do respectivo ajuizamento" .

PRESCRI<::AO

o Estatuto estabelece regra de prescri«ao especial, derrogatoria da legisla«ao comum sobre a matetia, relativa a pretensao de cobran-9a dos honorarios de advogado.

o prazo fix ado e 0 de cinco anos. A lei, incorretamente, refere­se a a«ao, repetindo um errO mnito comum em nossa legisla«ao, por­que nao e a ac;ao que e atingida pela prescti«ao, mas, antes dela, a pretensao. 0 art. 206, § 5", II, do C6digo Civil manteve identico pra­zo prescricional para "a pretensao dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais", contado a partir da conc1usao dos servi«os, da cessa«ao dos respectivos contratos ou mandato. Para 0 Estatuto, 0 tenno inicial e 0 do dia uti! seguinte a uma das seguintes hipoteses:

1-Do tenno final do contrato escrito. Esta devera ser a regra. No entanto, 0 Estatuto utiliza a locu«ao "vencimento do contrato", que devera ser entendido como terrno final do prazo de presta«ao pecunialia devida pelo c1iente. Havendo mais de uma presta«ao pecuniada, 0 "vencimento do contrato" sera correspondente ao da

ultima. II - Do transito em julgado da decisao judicial que fixar os

honoralios de sucumbencia ou por arbitramento.

III _ Do encerramento comprovado e efetivo dos servi«os pro­fissionais extrajudiciais contratados. Nesse caso, se nao houver con­trato escrito, os hononhios sedio arbitrados judicialmente, reabrin­do-se novo prazo presclicional, com fundamento no item anterior.

IV - Da desistencia da a«ao, considerada a data do transito em julgado da decisao que decretar a extin«ao da a«ao.

V _ Da transa«ao amigavel ou judicial entre 0 cliente e a parte contraria. Na primeira hipotese, a partir da data do contrato de tran­sa«ao, e na segunda, a partir da decisao que a homologar.

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VI - militares de qualquer natureza, na ativa;

VII- ocupantes de cargos ou funl;oes que tenham com­petencia de lanl;amento, arrecadal;ao ou fiscalizal;ao de tri­butos e contribuil;oes parafiscais;

VIII - ocupantes de funl;oes de direl;ao e gerencia em instituil;oes financeiras, inclusive privadas.

§ 1" A incompatibilidade permanece mesmo que 0 ocu­pante do cargo ou funl;ao deixe de exerce-Io temporaria­mente.

§ 2" Nao se incluem nas hipoteses do inciso III os que nao detenham poder de decisao relevante sobre illteresses de terceiro, a juizo do Conselho competellte da OAB, bern como a administral;ao academica diretamente relacionada ao ma­gisterio juridico.

Art. 29. Os Procm'adores Gerais, Advogados Gerais, Defellsores Gerais e dirigentes de orgaos juridicos da Ad­millistral;ao Publica direta, indireta e fundaciollal sao ex­c\usivamellte legitimados para 0 exercicio da advocacia vin­culada a funl;ao que exerl;am, durante 0 periodo da illvesti­dura.

Art. 30. Sao impedidos de exercer a advocacia:

I - os servidores da administr.al;ao direta, indireta e fundacional, contra a Fazenda Publica que os remull~re 0'!Jt qual seja villculada a entidade empregadora;

II - os membros do Poder Legislativo, em seus dife­rentes niveis, contra ou a favor das pessoas juridicas de direito publico, empresas publicas, sociedades de econo­mia mista, fUllda\:oes publicas, elltidades paraestatais ou empresas cOllcessionarias ou permissionarias de servil;o publico.

Paragrafo unico. Nao se illcluem nas hipoteses do illciso los do centes dos cursos juridicos.

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COMENT ARIOS

NATUREZA E AlCANCE DOS IMPEDIMENTOS E INCOMPATIBIUDADES

o Estatuto introduz urn sistema distinto de incompatibilidades e impedimentos, quanta it natureza e a seu alcance, com rela<;ao ao antelior. Neste, havia uma lista de causas especificas de incompatibi­lidades e outra de impedimentos, acrescidas de normas genelicas que adotavam conceitos indeterminados de capta,ao de clientela e redu­,ao de independel1cia. Ajurisprudencia da OAB flutuouconslante-·· mente, em face das duas correntes que disputavam a primazia da in­terpreta<;ao legal: uma, afinnava que as listas configuravam enuncia<;6es exemplificativas, devendo ser analisado cada caso con­creto, segundo os parametros genericos referidos; outra, sustentava que as listas constituiam numerus clausus, apenas acrescido de ou­tras hip6teses quando previamente fixadas em Provimento da OAB, uma vez que diziam com restri<;6es de direito.

o atual Estatuto optou por uma enumera<;ao taxativa, sem qual­quer referencia a couceitos genericos e indetenninados nem possibi­lidade de acrescimos mediante Provimento. As hip6teses sao as refe­lidas na lei, e apenas estas122. Sobre a natureza restlitiva da interpre­ta<;ao dos impedimentos e incompatibilidades, assim decidiu 0 STF, no RE 92.237-PI: "Por outro lado, os impedimentos constituem ex­ce<;ao it regra geral da possibilidade integral do exercicio da profissao de advogado, de modo que os dispositivos da lei que os estabelecem devem ser interpretados restlitivamente".

o paradigma que 0 Estatuto tem presente nao e 0 da advocacia com dedica<;ao excJusiva, segundo 0 modele tradicional frances, a saber, 0 advogado que nao pode exercer qualquer outra atividade,

122. 0 Conselho Federal, acertadamente, considerou ilegal resolulSao de Conselho Seccional que, sob pretexto de interpretar 0 C6digo de Etica e Disciplina, criou incompatibilidade temporaria para magistrados, promotores e delegadas de policia (Proe. n. 4.454/99/COP, DJ, 13 jan. 2000).

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Page 45: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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INCOMPATlBlUDADES COM A ADVOCACIA: AlCANCE ETIPOS

A incompatibilidade implica a proibit;ao total de advogal" ao bacharel em direito que passar a exercer cargos ou funt;oes que 0

Estatuto expressamente indica. A proibi<;ao pode ser permanente (ex.: magistratura) ou temporaria (ex.: secretario de Estado), dependendo do exercfcio ou natureza do cargo ou funt;ao.

A incompatibilidade e sempre total e absoluta, assim para a postulas;ao em jufzo como para a advocacia extrajudicial.

A incompatibilidade permanente acarreta 0 cancelamento defi­nitivo da inscric;ao (ver comentarios ao art. 11, IV), que, caucelada, jamais se restanra e extingue todos os efeitos dela decorrentes, in­clusive dos membros honorarios vitalfcios (antigos membros natos)l23

E impOitante ressaltar que a incompatibilidade e referida ao car­go, sendo irrelevante que seu titular esteja desempenhando ativida­des de outro cargo, ou desviado de fungao. Apenas cessa a incompa­tibilidade quando deixar 0 cargo pOl' motivo de aposentadoria, morte, remincia ou exonerat;ao.

Se 0 titular do cargo publico, considerado incompatfvel, for posto em disponibilidade remunerada, permanece a incompatibilidadel24. Nao gera direito adquirido nem faz coisa julgada a decisao sobre incompatibilidade ou impedimento, pois a superveniencia de situa­t;aO nova altera a decisao anterior e imp5e ao advogado 0 dever de cOlllunicac;ao l25

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123. No casa de incompatibilidade de membra hononirio vitalfcio, 0 Conselho Federal ja decidiu que ex-presidente do Conselho Federal, ao assumir'o cargo de procurador-geral do Estado, naD s6 estava incornpatibilizado para a advocacia, como, enquanto 0 exercesse, DaD poderia ter assento no Conselho, considerando 0

licenciamento compuls6rio (Rec. n. 3.095/83/PC, Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, 39:67-76, sel.ldez. 1985).

124. Assim decidiu 0 Orgao Especial no casa de magistracto em disponibilidade (OE 3/95, DJU, 24 maio 1995).

125. Cf. Processo D. 5.325/99fPCA-SC da Primeira Camara do CODselho Federal da OAB, DJ, 12 abr. 1999.

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No que respeita aos advogados publicos (art. 3", § I", do Estatu­to), 0 impedimento a advocacia privada, existente no funbito da Uniao, nao caracteriza incompatibilidade. E tipo especffico de impedimento.

Sao oito as hipoteses de incompatibilidade:

Titulares de entes politicos

I _ A primeira refere-se aoS cargos de presidente da Republica, govemadOi' de Estado e prefeito municipal, e seus respectivos vices, e aos membros das Mesas do Cqngresso Nacional, Senado Federal, Camara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Cihnaras Munici­pais. Quanto aos substitutos legais dos titulares (alcan«ando os vices ou suplentes), independe de que estejam no efetivo exercfcio, em subs­tituit;ao, dos cargos. A lei nao se dirige ao exercfcio, bastando a

virtualidade da substitui«ao. Os parlamentares que nao integrem as mesas das respectivas

casas legislativas sao apenas impedidos, na forma do art. 30, 1, do Estatuto. Assim decidiu a Primeira Camara do Conselho Federalda OAB (Proc. n. 5.513/2000IPCA-SC), em caso de vereador, admitin­do-se sua inscrit;ao como advogado, com impedimentos contra a Fa­

zenda publica que 0 remunera. A regra observa 0 principio da isonomia, pOl'que estabelece tra­

tamento igual a todos 'os que se encontrem na mesma situat;ao, ou seja, os titulares de orgaos maximos dos Poderes constitufdos dos

entes federativos .

Fum;:oes de julgamento

II _ A segunda alcant;a todos os que tenham funt;ao de jul­gamento, nao apenas os magistrados e os membros do Ministerio

Publico. No sistema jurfdico brasileiro, 0 magistrado e especie do gene­

ro juiz, ao contrario de outros sistemas em que 0 magistrado e genero que inclui 0 membro do Ministerio Publico. Nem todos os jufzes sao

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o Estatuto pretendeu cindir nitidamente a fun<;:ao de julgar da fun<;:ao de postular, que na atualidade nao se relacionam apenas aos orgaos do Poder Judiciiirio. Por essa razao, envolveu na in­compatibilidade com a advocacia os que integrem orgaos de deli­bera<;:ao coletiva da Administra<;:ao Publica direta ou indireta (nes­ta incluindo-se as autarquias, as funda<;:5es pUblicas, as empresas de economia mista e as empresas publicas). Entendem-se como tais os conselhos ou assemelhados, denfvel mais elevado de cada entidade ou unidade federativa, a exemplo das juntas comerciais, conselho de contribuintes, conselho de administra<;:fio nas empre­sas, salvo no caso de membra nato em viltude de cargo que so possa ser exercido por advogado. A mellS legis e sempre a de con­siderar 0 exercfcio em ato ou potencia de poder decisorio relevan­teo Por isso, os orgaos de delibera<;:ao coletiva primarios ou inter­mediarios, cujas decis5es estao sujeitas a recurso a outros orgaos de delibera<;:ao coletiva do mesmo orgao ou entidade, nao sao atin­gidos pela incompatibilidade.

Nao se incluem nas incompatibilidades os Conselhos e orgaos julgadores da OAB, pOl'que esta nao integra a Administra<;:ao Publica direta ou indireta (art. 44, § 19 , do Estatuto).

Quanto aos membros do Ministerio Publico, 0 Estatuto, no att. 83, das disposi<;:5es gerais e transitorias, excepciona os que in­gressaram na carreira e se inscreveram na OAB ate 5 de outubra de 1988, fazendo op<;ao ao regime anterior que permitia a acumula<;ao de atividades.

Consideram-se membras do Ministerio PUblico os que integram a respectiva carreira (promotores e procuradores). Os servidores que os auxiliam nao estao alcan<;ados pela incompatibilidade e sim pelo impedimento do art. 30, I, do Estatuto l28 .

128. Cf., Processo n. 4.640/95IPC, DJU, 11 maio 1995. No mesmo sentido, no caso de cargo comissionado de chefe de gabinete do proc-urador~chefe da Procuradoria da Republica, em Estado, decidiu a Conselho Federal, no Processo n. 4.538/941PC, DJU, 19 jul. 1995.

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Fun~oes de dire~ao

III - A terceira hipotese e a de Cat'gos e fun<;5es de dire<;ao em orgaos ou entidades vinculados Ii Administra<;ao Publica. A le­gisla<;ao antelior incompatibilizava todos os cargos de chefia e as­sessoramento a partir do nfvel de servi<;o, minudenciando tipos que nao se enquadravam mais na organiza<;ao atual das entidades e or­gaos publicos.

Interessa ao Estatuto muito menos os tipos ou denomina<;5es dos cargos e mais a fun<;ao de dire<;ao "que detenha poder de decisao rele­vante sobre interesses de terceiro". Portanto, nao e qualquer cargo, mesmo quando seu titular seja denominado diretol', que concretiza a hipatese. 0 cargo pode ser de dire<;ao, assessoramento superior, coor­dena<;ao, supelmtendencia, gerencia, adrninistra<;ao, mas havera de deter poder de decisao relevante que afete direitos e obliga<;5es de terceiros, ou seja, dos que nao integratn a respectiva entidade. Nao se incluem no tipo os ocupantes de cargos que, apesar da denornina<;ao, apenas assessoram mas nao decidem, pouco impOltando 0 grau de influencia que ostentem, ou aqueles cujas atribui<;5esl29 se sujeitem ao controle de superior hierarquico no mesmo estabelecimento ou argao da entidade. Nesse sentido, nao gera incompatibilidade cargo de dire­tor de escola publica, cuja atividade acha-se circunscrita a coordenar e executa!' determina<;5es superiores (proc. n. 5.540/2001IPCA-SC).

Em suma, e 0 da autoridade do orgao ou da entidade que ernitira o ato deCiSOlio final, esperado pelo terceiro, mesmo que contra tal ato caiba recurso a autoridade superior. Dada a multiplicidade e va­riedade desses cargos e fun<;5es, cab9a ao Conselho competente da OAB analisar caso a casoJ3o .. Contndo, a aprecia«ao da OAB nao e disClicioniiria, mas vinculada aos pressupostos dantes mencionados.

129. Conse1ho Federal, Processo n. 4.684/95IPC, DJU, 19 jul. 1995, em caso de comprador em prefeitura municipal do interior.

130. Pelo conteudo das atribui~6es do cargo, 0 gerente de cantrole da eONAB esta incompatibilizado, porque suas decis6es produzem efeitos externos a entidade (Conselho Federal, l' Cam., Proc. n. 4.607/94/PC). Mas 0 chefe do servi~o de contabilidade de prefeitura municipal esta apenas impedido (Proe. n. 4.690/9SIPC, DJU, 13 set. 1995).

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Judiciario, af inc1ufda a justic;a eleitoral e a trabalhista, por forc;a do art. 92 da Constituic;ao.

No Recurso Extraordinffiio n. 199.088-l-CE, em que se postula­va a declarac;ao de inconstitucionalidade desse dispositivo, no caso de assessor de desembargador, disse, em seu voto, 0 Ministro Francisco Rezek: "pasma-me saber que, ademais dessa realidade com que temos convivido, ainda existam coisas como a convicc;ao de que 0 assessor, 0

auxiliar imediato de confianc;a do magistrado no preparo dos feitos, na pesquisa que orienta 0 julgamento, 0 detentor da 'inside irifol1natio/1' esteja habilitado, ao ver de uma casa de justic;a, a competir livremente

. com os que, fora do llibunal, exercem a advocacia" ..

o Estatuto, nesse ponto, nao se restringe apenas ao cargo no­minal, pOl'que alcanc;a a vinculac;ao indireta do servic;o prestado em qualquer orgao do Poder Judiciario. Assim, qualquer func;ao publi­ca ou privada que se vincule, mesmo indiretamente, a atividade re­gular de orgao do Poder JUdiciario132, inclusive quando posto a dis­posic;ao deste, toma seu ocupante incompatibilizado com a advoca­cia. Esse aparente excesso de rigor e necessario para garantir a in­dependencia do advogado e a dignidade da profissao, sobretudo em face da populac;ao.

A regra e extensiva aqueles servic;os auxiliares cujos titulares nao se consideram "serventuffiios da justic;a", ou seja, os titulares e seus empregados dos servic;os notariais e de registro pUblico. 0 ter­mo "regisll'o" referido no dispositivo refere-se a regisll'o publico como tal determinado em lei e cuja atividade esteja sob controle do Poder Judlciario. Assim, nao.se incluem os que atuam em regiSll'o na Junta Comercial, OAB, INPI, Biblioteca Nacional e outros orgaos publi­cos similares que ostentem competencia registraria. Com relac;ao a atividade notarial e de registro publico, a Lei n. 8.935, de 18 de no­vembro de 1994, que regulamenta 0 art. 236 da Constituic;ao e dispi5e sobre esses servi<;os, ratificou a imposi<;ao da incompatibilidade com a advocacia expressamente em seu alt. 25.

132. E incompatfvel a func;ao de dentista exercida no Poder Judichirio (Proc. n. 4.571/94/PC, DJU. 23 nov. 1994).

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Nao ha qualquer exce<;ao a essa regra, mesmo em se tratando de func;i5es modestas. 0 mais simples serventuario pode exercer pe­rigoso tratico de influencia na tramita<;ao e resultado de processos jUdiciais, tendo em vista seu convfvio diutumo com jufzes, promo­tores e auxiliares de justi<;a. 0 exercfcio da advocacia, nessas cir­cunstancias, representa enorme risco 11 dignidade e a independencia da profissao.

Atividade policial

v _. A quinta hipotese diz com a incompatibilidade. dos ocu­pantes de cargos vinculados direta ou indiretamente a atividade po­licial de qualquer natureza, em carater transit6rio ou pennanente, sob regime estatutario ou ce1etista. Aqui tambem sao atingidos os que prestam servi<;os tanto nas atividades-fim quanto nas ativida­des-meio ou de apoio, inclusive quando postos a disposi<;ao, sejam ou nao policiais.

A razao de ser dessa incompatibilidade e que os policiais e equi­parados enconll'am-se proximos aos autores e reUs de processos, dos litigios jurfdicos, 0 que poderia propiciar capta<;ao de c1ientela, influ­encia indevida, plivilegios de acesso, enll'e outras vantagens, segun­do parecer do Procurador-Geral da Republica, na ADI 3.541, medi­ante a qual a Confedera<;ao Brasileira de Trabalhadores Policiais Ci­vis pretendeu impngnar 0 inciso V do art. 28. No interesse da popula­<;ao, devem os policiais exercer com exc1usividade a incnmbencia de seguranc;a pUblica.

Apreciando caso de psicologa, exercendo fun<;ao em estabe1e­cimento penitenciario, afirmou a Primeira Camara do Conselho Fe­deral da OAB que 0 sentido de natureza policial e amplfssimo, abran­gendo todo e qualquer cargo ou fun<;ao a ela vinculados, direta ou indiretamente, mesmo aquelas nao permanentes exercidas em repar­ti<;i5es policiais!33. No mesmo sentido, a Plimeira Camara (Rec. n. 0067 !2003IPCA-BA) entendeu que 0 exercfcio de agente penitencia-

133. Recurso n. S.182/97/PCA.

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Page 48: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

gera incompatibilidade 0 exercicio de cargo de auditor fiscal que da pareceres a assistente tecnico da Fazenda Publica (Rec. n. 0143/ 2003IPCA-BA), bern como qualquer agente de tributos estaduais, pouco importando a varia<;:ao de atribui<;:oes locais (Proc. n. 5.616/ 20011PCA-BA).

Tributos sao impostos, taxas e contribui<;:oes de melhoria (alt. 145 da Constitui<;:ao). Tambem se sujeitam aos principios do sistema tributario nacional os emprestimos compulsorios (art. 148 da Consti­tui<;:ao). Contribui<;:oes parafiscais sao as contribui<;:oes para a seguridade social (alt. 195 da Constitui<;:ao) e todas as fontes com­pulsorias de receita de entidades da Administra<;:ao publicanao. enquadnlveis como tributos138 ern sentido estrito.

Nao se incluem nesse tipo de incompatibilidade os servido­res dos tribunais e conselhos de contas, pOl'que esses orgaos nao tem finalidade de lan<;:amento, fiscaliza<;:ao e alTecada<;:ao de tribu­tosl 39 • A fiscaliza<;:ao das contas e do COlTeto emprego das receitas publicas sao de natureza distinta. Na primeira hipotese (a do tipo de incompatibilidade) tem-se a forma<;:ao e constitui<;:ao da receita publica; na segunda, a aplica<;:ao da receita publicaja constituida. Apenas os membros, ou sej a, os conselheiros e os auditores que possam substitui-Ios esrno incompatibilizados corn a advocacia.

Tambem nao se inc1ui no tipo 0 fiscal de pre<;:os e abastecimento da SUNAB, porque a fun<;:ao nao tem natureza tributaria nem e a ela equiparada, confOlme decidiu a Plimeira Camara do Conselho Fe- . derali4O. Do mesmo modo decidiu 0 Orga~ Especial do Conselho Fe-

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96.831-RJ, Jurisprud~nc:ia Brasileira, 123: 120). Do mesmo modo decidiu a Primeira Camara do Conselho Federal da OAB, na vigencia do novo Estatuto. no caSa de servidor de Secretaria da Fazenda que DaD exercia atribuic;5es legais de lanc;amento, fiscaliza,ao ou arrecada,ao de tribulo (Proc. n. 4.590/94IPC, DIU, 10 nov. 1994).

138.0 Conselho Federal da OAB (Plena) decidiu que 0 inspetor do Ministerio do Trabalho enquadra-se na hip6tese do inciso VII do rut. 34, porque tern atribuic;ao de fiscalizar a cobran<;a do impasto sindical (Ree. n. 3.60S/91/CP, Ementario 1990/ 92, p. 37).

139. Por exemplo, oficial de controle extemo de tribunal de contas nao exerce alividade incompalivel (Proc. n. 4.560/94IPC, DIU, 25 out. 1994).

140. Processo n. 4.531/94IPC, DIU, 5 abr. 1995.

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deral que "0 exercfcio das fun<;:oes de fiscal municipal de obras (agente fiscal de nrbanismo) nao caracteriza a hip6tese do citado inciso VII do alt. 28 da Lei n. 8.906/94, uma vez que nao se relaciona corn atividades fazendiirias, gerando, tao-somente, 0 impedimento previs­to no alt. 30, I, do mesmo diploma legal"141. Apenas corn impedi­mento esta 0 fiscal de servi<;:os publicos de municipio, salvo se ocu­par cargo ou fun<;:ao de dire<;:ao e assessoramento, neste caso por for­<;:a do art. 28, III, do Estatuto (Rec. n. 039612002/PCA-SC). 0 tecni­co do Tesouro Nacional de nfvel medio nao esta incompatibilizado para 0 exercfcio da advocacia, pois sna atividade nao e de arrecada­«ao, fiscaliza<;:ao e lan<;:amento de tributol42 Mas fiscal do trabalho esta incompatiblIlzado com a advocacia, pois exerce atdbui<;:ao de fiscaliza<;:ao de contribui<;:oes parafiscais I.B.

Instituic;oes financeiras

VIIl--A oitava e ultima hip6tese impoe-se pela experiencia da aplica<;:ao do anterior Estatuto: e ados dirigentes e gerentes de insti­tui<;:oes financeiras public as ou plivadas, que desfrutam de um enor­me potencial de captac;:ao de clientela, merce de um poder decisorio que pode influir profundamente na economia das pessoas.

A Constitui<;:ao dedicou especial aten<;:ao as institui<;:oes finan­ceil'as (alt. 192), constituindo atividade diretamente regulada e fisca­lizada pelo Poder Publico.

o Estatuto dirige-se apenas aos dirigentes e gerentes que dete­nham poder decisorio relevante sobre interesses de terceiros, nomea­damente 0 de conceder emprestimos ou aprovar projetos financei­rosl44, como os gerentes de contas de banco (Rec. n. 0024120021PCA-

141. Recurso n. 1 13/96/0E, DIU, 24 jun. 1997. 142. Cf. Recurso n. 5.15l/97/PCA do Conselho Federal da OAB. Todavia, 0

Tecnico do Tesouro Nacional exerce cargo incompatfvel (Proc. n. 5.47412000/PCA­MG, DI, 18 ago. 2000).

143. Cf. Processo n. 5.403/99IPCA-BA, DI, 16 dez. 1999. 144. A Primeira Camara incluiu na incompatibilidade 0 gerente de expediente

do Banco do Brasil (Proc. n. 4.581194IPC, DIU, 25 out. 1994) e 0 supervisor da

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anterior Estatuto. Os parlamentares municipais, estaduais ou fede­rais, que nao sejam membros ou suplentes das mesas diretoras, estao impedidos de advogar contra ou a favor de qualquer entidade de Ad­ministrac;ao Publica direta ou indireta municipal, estadual ou federal, nao apenas contra a respectiva Fazenda Publica, enquanto perdura­rem seus mandatos. Incluem-se na proibi<;;ao as entidades paraestatais, concessiomirias ou pennissiomirias de servi<;;o publico.

Procuradores-gerais e diretores juridicos

PorfiIn, ern tema de proibic;6es, ha de referir-se a um tipo espe­cifico, qne se localiza em zona de transite entre a incompatibilidade e o impedill1ento: os procuradores-gerais, os advogados-gerais, os de­fensores-gerais e dirigentes maximos dos 6rgaos juridicos da Admi­nistrac;ao Publica direta ou indireta federal, estadual on municipal e seus substitutos imediatos' 45 • Sempre houve duvida, durante a vigen­cia do anterior Estatuto, sobre a legitimidade para exercer a atividade de advocacia, especialmente a postulac;ao em juizo desses dirigentes da advocacia publica. Todavia, 0 exercicio da advocacia e exatamen­te a finalidade do orgao e a fortiori de seus cargos.

Como harmoniza-los com 0 sistema das proibic;6es, que tam­bem os alcanc;am? 0 Estatuto resolveu a controversia admitindo 0 exercicio da advocacia exclusivamente no ambito de suas atribuic;6es institucionais, vedando qualquer outro, mesmo em causa propria, ou seja, instituindo um peculiar tipo de impedimento.

Os dirigentes da advocacia publica exercem atividade variada e complexa de advocacia que nao se resume apenas a pareceres juridi­cos, pois podem representar judicialmente 0 ente federativo, autarquico ou fundacional, dirigir os servic;os juridicos, prestar assessoramento jUlidico e consultoria juridica. Em conclusao, exercem atividades de consultoria, assessoria e dire<;;ao juridicas (inciso II do art. 10 do Es-

145. Respondendo a consulta, 0 Orgao Especial do Conselho Federal da OAB esclareceu que na attibui9ao fixada por lei ou regulam:ento para 0 substituto, mesma eventual, de autro cargo e aplicavel a regra de incompatibilidade au impedimenta a que estiver sujeito 0 titular (Pmc. ll. 260/99/0EP, DJ, 29 nov. 1999).

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tatuto), e, quando for 0 caso, de postulaC;ao a orgao do Poder Judici­ario (inciso I do art. 10).

Quanto aos diretores, superintendentes ou chefes de orgaos ju­ridicos de autarquias, fundac;6es publicas, empresas publicas e em­presas de economia mista federais, estaduais ou municipais, incluem­se apenas 0 diIi.gente maximo do orgao juridico e seu substituto ime­diato, equivalentes aos procuradores-gerais e subprocuradores-gerais, excluindo-se as chefias subalternas, de carater local ou regional, cujos titulares ficam sujeitos apenas aos impedimentos em face da Fazenda Publica a que se vincule a respectiva entidade146.

Tipos especiais de impedimentos

Tendo em vista a interpreta<;;ao dada pelo Supremo Tribunal Fe­deral ao inciso II do mt. 28 do Estatuto, os juizes eleitorais e seus su­plentes, oriundos da classe dos advogados, estao impedidos de advogar contra a Fazenda Publica federal e perante a propria justic;a eleitoral.

Por forc;a do Regulamento Oeral, os advogados que atuem como membros de orgaos publicos de deliberaC;ao coletiva, com func;110 de julgamento, como representantes da classe dos advogados e indica­dos pela OAB, estao apenas impedidos diante de tais orgaos.

Os juizes leigos e conciliadores nos juizados especiais estao apenas impedidos de advogar perante tais juizados, merce do que disp6e 0 art. 72 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 199514

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146. Neste ultimo sentido, mesmo em face do art. 84, VI, do anterior Estatuto, ja tinha decidido 0 TJMS, com relac;ao a func;ao de Procurador Regional da Procuradoria-Geral do Estado. que naD se confundiria com a de Procurador-Geral au a de SUbprocurador-Geral (MS 26/80, Jurisprudencia Brasileira, 123:137).

147. Como acima ja advertimos, com relac;ao aas jufzes leigos, 0 Orgao Especial do Conselho Federal. por maioria, decidiu que, por aplicac;ao do pIincipio lex postelior generalis non derogat legi priori speciali, a GAB deve aplicar 0 art. 28, IV, do E5tatuto, em detrimento do art. 72 da Lei n. 9.099/95, porque este nao teria delTogado aquele (Proc. n. 84/96 OE, DiU, 19 abc. 1996). Filiamo-nos a corrente que entende pader uma lei ordimiria derragar outra (0 Estatuta), criando autra tipo especial de impedimenta, embora cancordemas que naa foi a melhar escolha.

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ETICA DO AOVOGAOO

CAPiTULO VIII

DA ETICA DO ADVOGADO

Art. 31. 0 advogado deve proceder de forma que 0 tome merecedor de respeito e que contribua para 0 prestfgio da classe e da advocacia.

§ P 0 advogado, no exercicio da profissao, deve manter independencia em qualquer circunstilncia.

§ 22 Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter 0 advogado no exercicio da profissao.

Art. 32. 0 advogado e responsavel pe\os atos que, no exer­cicio profissional, praticar com dolo ou culpa.

Paragrafo unico. Em caso de lide temeraria, 0 advogado sera solidariamente responsavel com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contraria, 0 que sera apur.a!Io em a~ao propria.

Art. 33. 0 advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Codigo de Etica e Disciplina.

Paragrafo unico. 0 Codigo de Etica e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, 0 c1iente, 0

outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patro­cinio, 0 dever de assistencia jurldica, 0 dever geral de urbani­dade e os respectivos procedimentos disciplinares.

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ETICA PROFISSIONAl

A etica profissional e parte da etica geral, entendida como cien­cia da condnta. Este nao e 0 espa<;:o apropriado para discussao da milenar tensao entre a etica e 0 direito, um dos principais objetos da reflexao da filosofia juridica.

Nosso campo de aten<;:ao e 0 da objetiva<;:ao da etica profissio­nal, que se denomina deontologia jurfdica, ou estudo dos deveres dos profissionais do direito, especialmente dos advogados, porque de to­das as profiss6es jurfdicas a advocacia e talvez a unica que nasceu rigidamente presa a deveres eticos. A deontologia (tenno criado por Jeremias Bentham (1748-1832), com sentido ntilitarista; 0 sentido atual deve-se a Rosmini)l51, ao lado da diceologia (estudo dos direi­tos profissionais), integra 0 todo da etica. A etimologia da palavra esclarece seu sentido: deontos significa 0 dever de fazer; logos signi­fica discurso sobre essa materia.

A etica profissional nao palte de valores absolntos on atemporais, mas consagra aqneles qne sao extrafdos do senso comum profissional, como modelares para a reta conduta do advogado 152. Sao t6picos ou topoi na expressao aristotelical53 , ou seja, lugares-comuns que se cap-

151. Cf. Nicola Abbagnano, Dicionririo de filosofia, Sao Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 224. Deonthologie or science afthe morality e 0 nome da obra p6stuma de . "/ Bentham, de 1834, na qual procurou estabr~Jecer uma moral em que a castigo e 0

prazer fossem as iinicos motivos da a~ao humana. Para Jacques Hamelin e Andre Damien (Les regles de ta profession d'q,,;ocat, p. 1),0 termo teria aparecido pela ptimeira vezem 1874, em artigo de Janet, ao menos na Franc;a.

152. Diz Goffredo Telles Junior CEtica - Do mundo da dlula aD mundo da cultura, Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 236) que "uma ordem etica e sempre expressao de urn processo historico. Ela e, em verdade, uma conshu1Sao do mundo da cultura. Em concreto, cada ordem etica e a atualiza~ao objetivae a vivencia daquilo que a comunidade, por convicc;ao generalizada, resolveu qualificar de etico e de norn1al".

153. Cf. -Theodor Viehweg, T6pica e jllrisprudencia, trad. Tercio Sampaio FelTaz Jr .• Brasilia: Departamento de Imprensa Nacional, 1979, p. 23 e s.

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advelte .que "0 talento sem a probidade e 0 mais funesto presente da natureza e a probidade sem 0 taiento nao basta porque, mesmo com a melhor inten~ao, cometem-se freqiientemente males irreparaveis"156

o Codigo de Responsabilidade Profissional da ordem dos ad­vogados dos Estados Unidos (Ame/ican Bar Association Model Code of Pmfessional Responsability) enuncia em seu preambulo que todo advogado deve descobrir em sua consciencia os standards minimos de conduta, mas, em ultima analise, e 0 desejo pelo respeito e con­fian~a dos membros de sua profissao e da sociedade a que ele serve que deve prove-lo do incentivo para 0 maximo grau posslvel de con-

. duta etica.

Os deveres de decoro,urbanidade e polidez sao obrigatorios para 0 advogado, inclusive nas referencias processuais it parte adver­sa; competitividade nao e sinonimo de agressaol57 Viola 0 dever de urbani dade 0 advogado que imputa it parte contriiria conduta climi­nosa, nao sendo admissivel a exce~ao da verdade.

Por fim, 0 dever de pennanente qualifica~ao, para bem cumprir seu comprornisso social. A incompetencia, infelizmente, pode causar tantos prejulzos sociais e individuais quanta a propria desonestidade, sendo alguns irrecuperaveis.

o advogado nao disp6e do poder do juiz e dos meios de coa<;ao da poifcia. Sua foWa deve residir na palavra e na autoridade moral que ostente, nunca no poder economico seu ou de seu cliente ou na alimenta<;ao da venalidade humana.

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.. INDEPENDENCIA DO ADVOGADO

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A independencia e um dos mais caros pressupostos da advoca­cia. Sem ela nao ha rigorosamente advocacia. Qualquer pessoa ape­nas confiara na justi<;a se contar com a assistencia de um defensor

156. In Erica de la abogada. Buenos Aires, 1940, p. 16-7, apud Luiz Lima Langaro, Curso de deontologiajurfdica, p. 42.

157. Assil11 decidiu a Segunda Camara do Conselho Federal da GAB, Processo n. 1.814/97/SCA,DJ, 19 out. 1999.

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independente. A independencia do advogado nao se lirnita a sua ati­vidade judicial; e tambem essencial it atividade extrajudicial de consultoria e asses soria, assim como impOitante fator de preserva<;ao do Estado de Direito, do govemo submetido a leis, da conten<;ao do abuso da autoridade e da lirnita~ao do poder econornico, porque foi instituida no interesse de todos os cidadaos, da sociedade e do pro­plio Estado. Uma antiga decisao da Suprema Corte norte-americana, que afastou a equipara<;ao do advogado a funcionario publico, pro­clamou: "0 publico tem quase tanto interesse na independencia dos advogados quanto na dos julzes"ISS.

A independencia do advogado esta estreitamente ligada a in­dependencia da Ordem, qne nao se vincula nem se subordina a qual~ quer poder estatal, econ6mico ou politico (ver comentarios ao art. 44, § 1 Q). E grande e pennanente a luta dos advogados, em todo 0

mundo, para preservar sua independencia diante das arremetidas autoriHirias freqiieutes dos donos do poder. 0 XXV Congresso da Uniao Intemacional dos Advogados, reunido em Madrid, em 1973, foi dedicado it independencia do advogado, e suas conclus6es con­tinuam presentes quando afirmam "que nao existe J usti<;a digna desse nome sem 0 concurso de advogados independentes; que a indepen­dencia do advogado condiciona sua liberdade imprescritfvel, e que o dever fundamental dos povos e mante-la em sua plenitude". 0 art. 3Q do Codigo Internacional de Deontologia Forense da International Bar Association estabelece que 0 advogado "devera conservar sua independencia no cumprimento de seu dever profissional", evitan­do qualquer negocio ou ocupa<;ao que possam afetar sua indepen­

dencia. A independencia do advogado e condi~ao necessaria para 0 re­

gular funcionamento do Estado de Direito. Por tais raz6es, e nma decorrencia natural que os advogados

tenham estado sempre na linha de frente das lutas emancipatorias e libertiirias da humanidade e do Estado Democratico de Direito. Nao e por acaso que os advogados sempre sofreram a intolerancia dos

158. Cf. E. E. Cheatham, Problemas do advogado nos Estados Unidos, p. 66.

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Page 52: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

momento ou pela manipulac;:ao das informac;:6es. A impopularidade pode ser 0 prec;:o a pagar pelo advogado na defesa do cliente, quando esta convencido de que e merecedor de justic;:a. A hist6lia de nossa profissao esm cheia desses exemplos grandiosos, como a do advogado frances Laboli, que perden qnase toda sua clientela ao promover a de­fesa de Dreyfus (militar acusado de traic;:ao contra a Franc;:a), previa­mente condenado pelo povo e cuja inocencia mais adiante se provou. Durante 0 julgamento do ditador iraquiano Saddam Hnssein, em 2005, assim responden Khamees Hamid AI-Ubaidi, nm dos advogados qne o defenderam, ap6s 0 assassinato de outro colega, que integrava a equipede defesa, sobre se deixaria 0 caso, ante 0 risco de sertambem morto: "En 0 deixo na mao de Deus. Meu trabalho exige que eu de­fenda qualquer acusado, razao por que nao posso recuar" (Time, 7 nov. 2005, p. 17).

RESPONSABllIOAOE CIVIL DO AOVOGAOO

Alem da responsabilidade disciplinar, 0 advogado responde ci~ vilmente pelos danos qne causar ao clientel62, em virtude de dolo on culpa. Lembra Yves Avrij163 qne a responsabilidade e a contrapartida da liberdade e da independencia do advogado.

No direito positivo brasileiro sao as seguintes as normas gerais de regencia da responsabilidade civil do advogado:

a) Art. 133 da Constituic;:ao Federal, que estabelece a inviola­bilidade do advogado por seus atos e manifes~c;:6es no exercicio da profissao. E norma de exonerac;:ao deresporisabilidade, nao po­dendo os danos daf decorrentes ser indenizados, salvo no caso de calunia ou desacato. Essa pecnliar imunidade e imprescindfvel ao exercfcio da profissao, que lida com a contradic;:ao e os conflitos humanos.

162. As Ordenac;6es Filipinas, Livro 1, Titulo XLVIII, 10, ja determinavam que "se as partes por negligencia, culpa, Oll ignorancia de seUs Procuradores receberem em seus feitos alguma perda, Ihes seja satisfeito pelos bens deles".

163. La respollsabiliti de ['avocat, Paris: Dalloz, 1981, p. 213.

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b) Art. 186 do C6digo Civil, regra biisica da responsabilidade civil subjetiva, que permanece aplicavel aos profissionais liberais.

c) Art. 32 da Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), que responsabiliza 0 advogado pelos atos que, no exer­cicio profissional, praticar com dolo ou culpa.

d) Art. 14, § 4°, do C6digo do Consumidor, que abre impOltante excec;:ao ao sistema de responsabilidade objetiva, na relac;:ao de con­sumo dos fornecedores de servic;:o, ao determinar a velificac;:ao da culpa, no caso dos profissionais liberais.

Tendo em vista 0 desenvolvimento da teolia da responsabilida-. de civil nos ultimos anos, a responsabilidade civil doadvogadoas-" .

senta-se nos seguintes elenlentos:

a) 0 ato (on omissao) de atividade profissional;

b) 0 dano material ou moral;

c) 0 nexo de causalidade entre 0 ato e 0 dana;

d) a cnlpa ou dolo do advogado;

e) a imputac;:ao da responsabilidade civil ao advogado.

o advogado exerce atividade, entendida como complexo de atos teleologicamente ordenados, com carater de permanencia. A atividade de advocacia nao e livre, visto que dependente de requisi­tos, qnalificac;:5es e controles previstos em lei, inselindo-se no con­ceito amplo de relac;:ao de consumo, pois 0 advogado e prestador de servic;:o profissional. A atividade obdgae qnalifica como cnlposa a responsabilidade pelo dana decon:ente de qnalqner de seus atos de

exercicio. A cnlpa perdeu progressivamente 0 lugar plivilegiado qne os­

tentava com 0 crescimento das hip6teses de responsabilidade objeti­va. Contudo, no qne respeita ao pro fissional liberal, ela ainda e ele­mento fnndamental, conquanto sempre presnmida, como demonstra­

remos a segnir. A impntac;:ao da responsabilidade e direta ao advogado qne pra­

ticou 0 ato de sna atividade cansador do dano, nao podendo ser esten­

dida it sociedade de advogados de que participe.

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Page 53: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

lIDE TEMERARIA

Ocon'e a lide temeniria quando 0 advogado coligar-se com 0

c!iente para lesar a paIte contnhia, sendo solidariilluente responsavel pelos danos que cansar. A !ide temerfuia funciona como meio indevido de pressao e intimida<;;ao, estando destituida de qualquer fundamen­ta<;;ao legal, consistindo em instmmentaliza<;;ao abusiva do acesso it justi<;;a, para fins improprios ou iHcitos.

A lide temeraria, no entanto, nao se presume, nem pode a con­dena<;;ao decorrente ser decretada pelo jniz na mesma a<;;ao. Tampouco basta aprova da temeridade, que pode ser resultado da inexperiencia ou da simples culpa do advogado. Para responsabilizar 0 advogado € imprescindivel a prova do dolo. Caracterizando-se a !ide temeniria, pode a patte prejudicada ingressar em juizo com a<;;ao propria de res­ponsabilidade civil contra 0 advogado que, coligado com 0 c1iente, causon-Ihe danos materiais ou morais, ante a evidencia do dolo. A competencia pat'a a a<;;ao propria de responsabilidade civil e da jnsti­<;;a comum, ainda que a !ide temerfuia tenha ou tra Oligem, como a Justi<;;a do Trabalho.

o dolo, entendido como inten<;;ao maliciosa de cansar prejniio a outrem, e especie do genero culpa, no campo da responsabilidade civil. Aproxima-se da culpa grave, qne 0 direito sempre repeliu. 0 dolo e qualificado em caso de lide temeraria. E gravissima infra<;;ao it etiea profissional. Ao contrario da culpa, onde 0 dana tera de ser indenizado na dimensao exata do prejuizo causado pelo advogado, 0

dolo emlide temeraria acaneta um plus ao advogado, pOl'qne e obri­gada solidario jnntamente com 0 c1iente, inclusive naquilo que ape­nas a este aproveitou indevidamente.

CODIGO DE ETICA E DISCIPLINA

A necessidade em se regnlamentar a etica profissional, median­te codigos de conduta rigorosos, vern de longa data. Como toda ativi­dade humana, a advocacia conheceu e conhece seus momentos de indignidade cometidos pelos maus profissionais. A lei Cintia (de 204 a.c.), em Roma, puniu os advogados com impedimento para receber

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remunera<;;ao em virtude do procedimento reprovavel de muitos pra­tieos. Ordenan<;;as dos reis espanhois, em 1495, foram editadas para "evitar a malicia e tirania dos advogados que USaIn mal de seus offci­os". Os aspectos deontologicos da profissao estao sempre presentes nos eventos e organiza<;;5es internacionais da advocacia.

o Estatuto evitou a duplicidade de tratamento legal dos deveres etieos, remetendo-os inteiramente ao novo Codigo de Etica e Disci­pJina, editado pelo Conselho Federal da OAB. A dnplicidade de tra­tamento dos deveres eticos, havida entre 0 anterior Estatuto e 0 Codi­go, foi a principal razao para 0 quase desconhecimento do antigo Codigo.de Etica l;'rofissional no seio dos advogados, com parca apli-ca<;;ao pela propria OAB. -'.

As regras deontologicas do Codigo de Etica e Disciplina estao concentradas em 48 attigos, assim disnibuidas em capitulos: a) regras deontologicas fundamentais l66 ; b) rela<;;5es com 0 c1iente I67 ; c) sigilo profissiorfal; d) pnblicidade; e) honoranos profissionais; f) dever de urbanidadel68 . Ao longo desses comentfuios ao Estatuto inc1uimos as referencias ao Codigo nas materias peltinentes, para 0 que chama­mos a aten<;;ao do leit~r (ver acima, por exemplo, os comentarios so­bre sigilo profissional, independencia e honorarios).

As regras de deontologia devem estar internalizadas no cotidia­no profissional dos advogados. Por essa razao, exige-se seu estudo

166. Nao fere a etica 0 advogado que, "depondo perante a Seccional, refere acusa\=ao feita por sell cliente a urn outro advogado, rnomlente quando este, por for<;a do aludf"do fato, vern a ser reu em a<;ao penal" (Proe. n. 1.252/93/SC, DIU, 20 abCl995).

167. "Nao deve 0 advogado aceitar procura~ao de quem ja tenha advogado ·constitufdo, e tampouco procura~ao para revoga<;ao do mandato, sem anuencia do anterior procurador au sem a ~ua inequivoca notifica~ao a este dos motivos apresentados como justos a tanto pelo constituinte" (Conselho Federal, Proc. n. 1.5211 94/SC, DIU, 13 dez. 1994). Ver, lamborn, 0 art. 11 do C6digo de Eliea e Diseiplina.

168. Nao fere 0 dever de urbanidade 0 advogado que, oa defesa dos direitos de seu constituinte, «lan~a em peti<;ao paIavras e expressoes fumes que refletem 0

comportamento da parte contraria" (Conselho Federal, Proc. n. 1.461/94/SC, DJU. 14 nov.' 1994). Fere 0 dever de urbanidade a cohran<;a efetuada pelo advogado em correspondencia redigida com tennos intimidativos e amea~adores (Conselho Federal, Proc. n. 1.523/94/SC, DIU, 17 ago. 1995).

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Page 54: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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A publicidade, no entanto, nao pode adotar a etica empresarial, ao contrario do que ocon'e nos Estados Unidosl69• No Brasil, assume contornos pr6prios mais adequados a uma profissao que desej a pre­servar-se em dignidade e respeito popular. 0 servi«o profissional nao e uma mercadoria que se ofere<;:a a aquisi«ao dos consumidores.

E vedado ao advogado utilizar-se dos meios comuns de publici­dade mercantil e a regra de aura e discri<;:ao e modera«ao, divulgando apenas as informa<;:oes necessarias de sua identifica<;:ao, podendo fa­zer referenciaa tftulos academicos conferidos por institui«oes univer­sitiirias (especializa«ao, mestrado ou doutorado), a associa<;:oes cultu­rais e cientfficas, aos ramos do direito em que atua,' aos horarios de atendimento emeios de comunic~ao. Estes sao os dados que pode conter a publicidade, conforme enuncia 0 art. 29 do C6digo de Etica e Disciplina 170. Nada mais. 0 anuncio nao pode conter fotografias, ilus­tras;oes, cores, figuras ou desenhos incompatfveis com a sobriedade da advocacia. Profbem-se iguaimente referencias a valOl"es de servi-90S, tabelas, formas de pagamentos e estrutura da sede profissional l71 .

A divulga<;ao nao pode ser feita em radio, teJevisao ou em pro­paganda de rua, tais como cartazes ou outdoors.

FOlmas indiretas, tais como programas de consulta em radios e televisao, altigos pagos na imprensa, veiculas;ao freqiiente de sua

169. 0 conflito e patente entre as mandamentos deonto16gicos da American Bar Association e a Suprema Corte que, em decisao de 1977, entendeu que a pUblici dade dos profissionais esta constitucionalmente protegida pela Primeira Emenda. Para os deont61ogos americanos a publici dade e vista como a manifesta<;ao de comercialismo, estranha a quieta dignidade da profissao. Para os advogados que promovem assistenciajudiciana (legal-aid lawyers), a publicidade e essencial para viabilizar econornicamente suas atividades. Cf. Carrol Seron, New strategies for getting clients: urban and suburban lawyer's views, Law & Society, 27:403, 1993.

170. 0 C6digo Internacional de Etica do Advogado, da International Bar ASSOciation, estabelece regra Inuito rigorosa a respeito (regra 8): "E contnirio a dignidade do advogado recorrer a anuncio".

171. Decidiu o Tribunal de Elica da OAB-SP (Proc. n. E-l.077) que e imoderado amincio em eartao de visitas que contenha a frase "uma SImples consulta vale, muitas vezes, um patrimonio"; au (Proe. n. E-l . .! 10) que contenha 0 brasao da RepUblica au 0 nome e simbolos da OAB au a menc:;ao de ser professor universitario.

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imagem e nome nos meios de comnruca«ao social, marketing ou merchandising sao atitudes que ferem aetica profissionaJ. E absolu­tamente condenavel a publici dade freqiiente de opiniao sobre mate­lias jurfdicas, salvo quando afirmada de modo geral ou em tese ou como trabalho doutrinario, e em nenhuma bip6tese quando esteja patrocinando interesse concreto a respeito. A pal'ticipa9ao do advo­gada na imprensa, para que nao incida em san«ao disciplinar, deve ater-se exclusivamente a objetivos instmtivos, educacionais e doutri­narios, sem qualquer intuito de prom09aO pessoal.

A influencia dos meios de comunica9ao social pas sou a ser uma tenta<;:ao aos advogados que buscam promover-se profissionalmente sob a aparenciadeesclarecil11eritose repoi:fagei1s desinleressildas.O C6digo de Etica e Disciplina, ao lado dos c6digos deontol6gicos de outros pafses, procurou encontrar 0 ponto de equihorio entre a pal'!i­cipas;ao epis6dica do advogado nos meios de comunica<;ao em mate­rias de cunho juridico, sem intuito promocional e visando ao interes­se geral, e aquela habitual, em que se presume a prom09ao indevida.

Como conseqiiencia, 0 advogado que se manifestar sobre deter­minado tema jurfdico nos meios de comunica9ao fica impedido eti­camente de patrocinar novas causas a ele relacionadas. E 0 que se depreende dos arts. 32 e 33 do C6digo de Etica e Disciplina. Nas causas sob seu patrocfnio deve limitar-se a se referir em tese a aspec­tos que nao violem 0 sigilo profissional.

Questao controveltida e a que se refere a mala diJ:eta. Ou se admite ou se profbe ou se limita. Depois de longos debates havidos no Conselho Federal, optou-se pela terceira altemativa, ou seja, a mala direta e admissivel apenas para comunicar a clientes e cO!egas a instala«ao do escrit6rio ou mudanga de enderego. -

o Provimento n. 94/2000 do Conselho Federal da OAB entende como publicidade infonnativa: "a) a identifica<;:ao pessoal e cunicular do advogado ou da sociedade de advogados; b) 0 numero de inscri­«ao do advogado ou da sociedade de advogados; c) 0 endere«o do escrit6rio principal e das filiais, telefones, fax e endere«os eletr6ni­cos; d) as areas ou materias juridicas de exercfcio pleferencial; e) 0 diploma de bacharel em Direito, tftulos academicos e qualificas;oes profissionais obtidos em estabelecimentos reconhecidos, relativos a

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IX - prejudicar, por culpa grave, interesse confiado ao seu patrocinio;

X - acarretar, conscientemente, por ato proprio, a anu­lac;;ao ou a nulidade do processo em que funeione;

XI - abandonar a causa sem justo motivo ou antes de decorridos dez dias da comunicac;;ao da renuneia;

XII - recusar-se a prestar, sem jnsto motivo, assisten­cia jurfdica, quando nomeado em virtude de impossibilidade da Defensoria Publica;

XIII - fazer publicar na imprensa, desnecessaria e habi­tualmente, alegac;;oes forenses ou relativas a causas pendentes;

XIV - deturpar 0 teor de dispositivo de lei, de citac;;ao doutrimiria ou de julgado, bern como de depoimentos, docu­mentos e alegac;;oes da parte contraria, para confundir 0 ad­versario ou iludir 0 juiz da causa;

XV - fazer, em nome do constituinte, sem autorizac;;ao escrita deste, imputac;;ao a terceiro de fato definido como cri­me;

XVI - deixar de cumprir, no prazo estabelecido, de­terminac;;ao emanada do orgao ou autoridade da Ordem, em materia da competeneia desta, depois de regularmente noti­ficado;

XVII - prestar concurso a clientes on a terceiros para realizac;;ao de ato contrario a lei ou destinado a frauda-la;

"'XVIII - solicitar ou receber de constituinte qualquer importancia para aplicac;;ao ilfcita ou desonesta;

XIX - receber valores, da parte contraria ou de tercei­ro, relacionados com 0 objeto do mandato, sem expressa au­torizac;;ao do constituinte;

XX - locupletar-se, por qualquer forma, a custa do cliente ou da parte adversa, POl' si ou interposta pessoa;

XXI - recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou de terceiros por con­ta dele;

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XXII - reter, abusivamente, ou extraviar autos recebi­dos com vista ou em confianc;;a;

XXIII- deixar de pagar as contribuic;;oes, multas e pre­c;;os de servic;;os devidos It OAB, depois de regularmente notifi­cado a faze-lo;

XXIV - incidir em erros reiterados que evidenciem inep­cia profissional;

XXV - manter conduta incompatfvel com a advocacia;

XXVI - fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para inscric;;iio na OAB;

XXVII - tornar-se moralmente inidoneo para 0 exer­cicio da advocacia;

XXVIII - praticar crime infamante;

XXIX - praticar, 0 estagiario, ato excedente de sua ba­bilitac;;ao.

lei;

Paragrafo unico. Inclui-se na eonduta incompatlvel:

a) pratica reiterada de jogo de azar, nao autorizado por

b) incontinencia publica e escandalosa;

c) embriaguez ou toxicomania habituais.

Art. 35. As sanc;;oes disciplinares eonsistem em:

1- eensura;

II - suspensao;

III - exclusiio;

IV-multa. Paragrafo unico. As sanc;;oes devem constar dos assenta­

mentos do inscrito, apos 0 transito em julgado da decisao, nao podendo ser objeto de pubUcidade a de censura.

Art. 36. A censura e aplicavel nos casos de:

I - infrac;;oes definidas nos incisos I a XVI e XXIX do art. 34;

II - violac;;ao a preceito do Codigo de Rtiea e Disciplina;

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Page 56: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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II - pela decisao condenat6ria recorrfvel de qualquer 6rgao julgador da OAB.

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INFRA<;6ES DISCIPlINARES

Diferenternente dos deveres eticos, que configurarn conduta po­sitiva ou comportamento desejado, encartados no C6digo de Btica,

- -as-infra<;:5es disciplinares caracterizam-se pela conduta negativa; pelo comportamento indesejado, que devem ser replimidos.- Sob a pers­pectiva da tradicional cJassifica<;:ao das nonnas, sao imperativas as que cuidam dos deveres, e proibitivas as que tratam das infra<;oes disciplinares.

Prevaleceu, no Conselho Federal da OAB, quando da discussao do projeto do Estatuto, a tese fortemente defend ida pelo Conselheiro Evandro Lins e Silva, de que as infrac;oes disciplinares, por constitu­irern resui<;5esde direito, develiam ser taxativamente indicadas em lei, nao podendo ser remetidas ao C6digo de Btica e Disciplina que as regulamentasse. Com efeito,a garantia de que as infrac;oes este­jam previamente tipificadas em nOlmas sancionadoras integra 0 de­vido processo legal da atividade sancionat6lia do Estado (art. 5", UY; da Constitui<;ao), "visto que sem a tipificagao do comportamento proi­bido resulta violada a seguran<;a juridic a da pessoa humana ou juridi­ca, que se expoe ao risco de proibi<;oes irrbitranas e disso/lantes dos comandos legais"l12.

As infrac;oes disciplinares sao apenas as indicadas no Estatuto, estando vedadas as interpretag5es extensivas ou anal6gicas.

Os conceitos indeterminados, nesta sede, sao escassos e apenas os considerados imprescindiveis, dada a pr6pria dinamica da evolu-9ao dos compOltamentos profissionais e a adapta<;ao as mudan<;as. E

172. Fabio Medina Os6rio, Direito administratilJo sancionador, Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 265.

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o caso de conduta incompativel, cujas hip6teses sao exemplificativas. No entanto, nao l1a margem para os juizos subjetivos de valor. 0 conceito se concretiza mediante a apropria<;ao objetiva dos standards ou topoi de conduta, reconhecidos como valiosos em cada epoca pela consciencia nacional dos advogados, matizados pelo sentimento de justi<;a.

As infra<;oes disciplinares foram agmpadas em um mtigo uni­co, em numero de vinte e nove tipos, podendo ser divididas em tres partes, segundo 0 nivel de gravidade que ostentam e de acordo com as san<;oes a que estao sujeitas: censura (eventnalmente, reduzida a siInples advertencia), suspensao e excJusao.

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A multa e uma san<;ao disciplinar acess6ria que se acumula em outra san<;ao em caso de circunstancia agravante. Nao pode ser apli­cada de modo isoJado nem se refere especificamente a quaJquer in­fra<;ao disciplinar.

Cometem infra<;oes disciplinares os que estao inscritos na OAB. Para os nao inscritos, apJica-se a legisJaqao penal comum, por se tra­tar de exercicio ilegal da profissao. No entanto, 0 mesmo fato punivel disciplinarmente pode tambem repercutir no campo penal, nao de­pendendo umajmisdi<;ao da ouu·a (independencia das instancias). A punibilidade nao se extingue se 0 advogado passar a exercer fun<;ao incompatfvel com a advocacia, devendo a puni<;ao ser registrada para ser cumpdda quando for requerida e deferida nova insclis;ao.

Para uma amilise mais didatica do conjunto das infragoes disci­plinares, passaremos a agmpa-Ias segundo as san<;5es a que se vincu­lam na ordem dos incisos do art. 34 do Estatuto.

INFRA<;6ES DISCIPlINARES PUNIVEIS COM CENSURA

Exerdcio da profissao por impedidos ou incompatibilizados

I - A primeira hip6tese profbe 0 exercicio da profissao aos que estejam impedidos de faze-Io. Ja salientamos que a falta ou falsidade de inscd<;ao e caso de puni<;iio segundo a legisla<;iio penal comum

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o Tribunal de Etica da OAB-SP (Proc. n. E-l140) decidiu que tipifica a infra<,:ao 0 advogado que presta servi<,:o, como autonomo, 11 empresa imobiliaria que administra loca<,:ao de imoveis, advogando concomitantemente para os pretendentes a locatarios indicados pela empresa. Tambem incorre nessa infra<,:ao quem promove 0 exercicio da advocacia mediante pIanos assistenciaisl73 .

Autoria falsa de atos

v -. A quinta hipotese proibe que 0 advogado assuma a autoria de atos de advoc·aciaque ele nao praticou nem com des colaboiou .. Essa regra tern como principal alvo a deplonivel conduta de advoga­dos qne, a troco de alguns dinheiros, dao cobeltnra de legalidade ao exercicio ilegal da profissao de nibulas on assemelhados. 0 plagio total on parcial de pe<,:a elaborada por outro colega tambem configura a infra<,:ao. Quem age assim rebaixa-se em dignidade profissional e pessoal e desprestigia a classe.

Advogar contra literal disposif;ao de lei. Lei injusta

VI - A sexta hipotese envolve a proibi<,:ao de advogar contra literal disposi<,:ao de lei. Esta e regra generica de prote<,:ao da Adminis­tra<,:ao da Jnsti<,:a e do cliente, mas tern como pressupostos a inten<,:ao, a vontade consciente e a ma-fe do advogado. A finalidade desse tipo de san<,:ao e evitar que 0 advogado, com evidente intuito de obter proveito indevido do cliente ou de terceiros, postule on recomende soln<,:ao juri­dica qne sabe ser proibida ou que nao pode ser tutelada pela lei. Nele se enquadra a postula<,:ao contra orienta<,:ao pacifica dos tribunais sobre deterrninada materia, sem advertir 0 cliente do seguro insucesso, mas recebendo honorarios. E dever etico do advogado aconselhar seu clien­te a nao ingressar em aventura judicial, deterrnina 0 art. 2", paragrafo unico, VII, do Codigo de Etica e Disciplina.

173. Processo n. 215/98/0EP, Orgao Especial do Conselho Federal da OAB, DJ, 19 abr. 1999.

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A origem dessa regra, em nosso direito, pode ser encontrada na Lei daBoa Razao (de 18-8-1769, § 7"), que irnpunha severas san<,:oes aos advogados que aconselhassem contra as Ordena~oes e 0 direito expresso, "porquanto a experiencia tern mostrado que as sobreditas interpreta<,:oes dos advogados consistem ordinariarnente em raciocf­nios frivolos, e ordenados mais a implicar com sofismas as verdadei­ras disposi<,:oes das leis". Punia-se com multa de 50.000 reis a pri­meira vez, com priva<,:ao dos graus obtidos na Universidade a segun­da vez, e com degredo para Angola a terceira vez (neste caso, "se fizerem assinar c1andestinamente suas razoes").

o erro involuntario e escusavel, sobretudo em face da infia<,:ao legislativ:i incontrolavel, que caracteriza nossa epoca. Nesse caso, cabe ao advogado prova-Io. Na duvida deve ser presumido.

Mais interessantes nessa·hipotese sao as exce<,:5es, que engran­decem a atua<,:ao construtiva dos advogados na dimensao p1uralista do direito e da justi<,:a. Sao presun<,:5es de boa-fe, e ate mesmo diretri­zes que recomendam 0 afastamento da literalidade da lei ou de rea­<,:ao a ela, quando 0 advogado estiver convencido de sua inconstitu­cionalidade, de suainerente injusti<,:a ou quando a jurisprudencia impregna-Ia de sentidos diferentes. 0 combate 11 lei inconstitucional ou injusta nao e apenas urn direito do advogado; e urn dever.

A lei e injusta quando fere os parametros admitidos pela consci­encia juridica da justi<,:a comutativa, ou da justi<,:a distributiva on da jnsti<,:a social. A jnsti<,:a social (qne tern qne ver com a snpera<,:ao das designaldades sociais e regionais) foi elevada a principio estrnturante do Estado Democratico de Direito, da sociedade e da atividade eco­nomica pela Cowtitui<,:ao brasileira (arts. 3" e 170).

Vern a proposito as palavras de Antonio de Luna!74: "Quando 0

direito do demandante ou a oposi<,:ao do demandado se baseiam em uma lei in justa, 0 adYogado nao deve aceitar tal causa, ja que ao aceitii­la tornar-se-ia co-responsavel pelos efeitos dela". No entanto, no caso dos advogados estatais, essa op<,:ao nao e possivel, porque colide com o interesse publico que representam, salvo quando expressarnente autorizados.

174. VV.AA., Moral profesional, Madrid: C.S.I.C., 1954.

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magna negligentia), assim entendida uma negligencia extraordina­ria, superior a media da diligencia comum, ou seja, nao usar a aten­<;:ao mais vulgar, nao entender 0 que entendem todos. A culpa grave aproxima-se do dolo (dolus malus), mas com ele na~ se confunde porque falta a intenc;ao de prejudicar. A culpa grave e aquela inescusavel na atividade do advogado. Resulta da falta que 0 profissi­onal mais desleixado ou med,ocre nao poderia cometer. A perda do prazo para contestar, por exemplo, apos receber 0 mandado judicial, concretiza 0 tipo. A nao-interposi<;:ao de recurso, em tese cabfve1, importa prejufzo ao cliente175• Igualmente, "existe a infra<;:ao ao art.

.. 3A, IX, donosso Estatuto 0 fate do advogado contratado tel' optado pOl' uma via judicial, em detrimento da busca mais rapida e, conse­qiientemente, da concretizac;ao da Justic;a ao cliente, principalmente se a via escolhida, embora aceita pelo judiciario, e menos eficaz, tra­zendo prejuIzos ao c1iente"I76, ou quando 0 advogado prejudica inte­resse confiado ao seu patrocinio e deixa de ingressar com a ac;ao judicial para a qual foi contratado, acarretando a incidencia da pres­criC;ao da pretensao de seu c1iente (proc. n. 2.304/200l/SCA-MT).

o Conselho Federal da OAB decidiu que comete a infrac;ao dis­ciplinar 0 advogado que deixa escoar in albis 0 prazo para interposi­C;ao de recurso177

• Essa decisao nao deve ser aplicada de modo amplo, porque 0 advogado pode estar convencido do descabimento do recur­so ou da inutilidade de sua interposiC;ao, ficando tute1ado pelo princi­pio da independencia tecnica.

Em outra decisao, entendeu 0 Conselho Federal da OAB que 0

advogado que deixa de comparecer a sessao de julgamento do tribu­nal do juri por nao ter recebido a' integralidade de seus honorarios profissionais e pelo insuficiente material probatorio colhido na ins­truc;ao nao comete a infra<;:ao disciplinar. Levou em conta a ausencia de prejuIZO para 0 reu178.

175. Recurso n. 0070/2002/SCA-DF, julgado em 2003. 176. Recurso n. 030112002/SCA-RJ 177. Processo n. 1.655/95/SC, DJU, 23 nov. 1995. 178. Processo n. 1.673/95/SC, DJU, 22 jan. 1996.

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Nulidade processual culposa

x - A decima hipotese pune 0 advogado que acarreta a nulida­de ou anulaC;ao do processo em que funcione. Dois pressupostos de­vem ocorrer: a) que a invalidaC;ao do processo seja imputavel a ate ou omissao voluntaria do advogado; b) que tenha causado prejuIzo ao regular andarnento do processo. Ocorre, inclusive, quando 0 cliente nao tenha sido prejudicado definitiva ou financeiramente; basta 0 pre­jUIZO do tempo perdido.

Abandolloda causa

XI - A decima plimeira causa pune 0 injustificado abandono da causa. 0 abandono justificado da causa devera ser sempre prece­dido da remincia ao maudato, nunca sem aguardar os dez dias que 0

Estatuto preve, apos a efetiva comunicac;ao ao c1iente, salvo se este 0

substituir antes, conforrne nossos comentarios ao art. 5".

Decidiu 0 Conselho Federal da OAB que nao se considera justic ficativa escusavel para 0 abandono da causa a alegac;ao de acumulo de servic;o no escritorio; ou de dificulciade de contato do advogado com seu constituinte179; ou 0 desinteresse de seu cliente no andamen­to com 0 processo l80. Em outro julgamento, decidiu que "renuncia de advogado ao m",ndato outorgado"atraves de petic;ao dirigida ao Jufzo, sem expressa comprovac;ao de ciencia it parte, seja por assinatura em documento interno, seja pOl' notificaC;ao, em total descumprimento ao artigo 45 do CPC, causando-lhe prejufzos, caracteriza a infraC;ao ./ disciplinar prevista no inciso XI do art. 34 da Lei 8.906/94"181:-

o Codigo de Etica e Disciplina, no art. 12, deternrina que 0

advogado nao deve deixar ao abandono ou ao desamparo os feitos,

179. Cf. Recursos n. 1.101l89IPC e 1.023/89/SC, Ementario 1990/1992, p. 173 e 177.

180. Processo n. 1.575/94/SC, DJU, 21 fey. 1995.

181. Recurso n. 0063/2003/SCA-PA.

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porque esta is a imputac;ao falsa de fato que a lei tenha qualificado como crime. Para concretizar a infrac;ao disciplinar basta a imputac;ao a terceiro, mesmo que 0 fato definido como crime seja verdadeiro.

Caracteriza-se a infrac;ao disciplinar quando presentes os seguin­tes requisitos: a) imputac;ao de fato a terceiro, ai inc1ufda a parte con­tHiria; b) qualificac;ao legal do fata como crime; c) faze-Io em nome do cliente; d) falta de autorizac;ao expressa do cliente para faze-Io. E certo que ha presunc;ao de faze-Io em nome do c1iente, mesmo quan­do nao afnmado expressamente, se a imputac;ao ocorrer em razao do patrocinio da causa ou questao.

Adveltem Haddock Lobo e Costa Neto'82 que essaregraprecisa ser temperada com a da imul1idade profissional por of ens as irrogadas no exercfcio da advocacia (ver comentiirios ao rut. 7Q, IT).

A imputac;ao, em petic;ao il1icial, de conduta criminosa a prute contriiria constitui a infrac;ao disciplinar, que nao is afastada com 0

protesto da exce<;:ao da verdade'83 .

Descumprimento a determinal,;ao da OAB

XVI - A ctecima sexta hip6tese pune a falta de cumprimento de determinac;ao emanada da OAB. A determina<;ao devera estar contida em notificac,;ao de carater mandamental para obriga<;ao de fazer, prevista em norma legal. Sao estes seus requisitos: a) deter­mina<;ao de 6rgao ou autoridade da OAB; b) obriga<;ao legal impu­tavel ao advogado; c) notifica<;ao no prazo legal, que e sempre de quinze dias para cumprirflento, contados do ultimo dia uti! imedia­to ao da ciencia Cnotifica<;ao do recebimento do oficio ou publica­<;ao na imprensa oficia!).

Configura 0 tipo a recusa de entrega da cruteira profissional pelo advogado que haja sido suspenso'84.

182. Comentarios ao Estatuto da DAB e as regras da projissiio do advogado, cit., p. 328.

183. Conselho Federal, Processo n. 1.581/94/SC, DJU, 24 ju!. 1995. 184. Conselho Federal, Processo n. J.547/94/SC, DJU, 17 ago. 1995.

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Pratica irregular de ato pelo estagiario

Trunbem se inc1ui nos tipos infracionais, puniveis com a sanc;ao de censura, a hip6tese de pratica pe10 estagiiirio de ato excedente de sua habilitac,;ao (inciso XXIX do art. 34 do Estatuto). Como ja anota­mos acima, 0 Estatuto, ao contriirio da legisla<;ao anterior que permi­tia a pratica de atos nao privativos de advogado, apenas admite que 0

estagiiirio atue em conjunto e necessariamente com advogado, exceto nas hip6teses previstas no art. 29 do Regulamento Geral. Assim, a pratica de qualquer ato atribufvel a atividade de advocacia, pelo esta­gian.o isoladamente, provoca a incidencia do tipo; e ato excedente de sua habilita<;ao.

Violal,;ao ao C6digo de Etica e Disciplina

Alem dos tipos referidos nos incisos I a XVI e XXIX do art. 34, a san<;ao de censura e apliciivel em caso de qualquer viola<;ao aos preceitos e deveres eticos previstos no C6digo de Etica e Disciplina, salvo se 0 Estatuto cominou-Ihe san<;ao mais severa (suspensao ou

exc1usiio).

Violal,;ao de preceito do Estatuto

A censura e sempre a san<;ao aplicavel, se nao houver expressa comina<;ao de outra san<;ao, em caso de viola<;ao de qualquer precei­to do Estatuto, mesmo que estranho aos tipos de infra<;oes disciplina­res do art. 34 do Estatuto e do C6digo de Etica e Disciplil1a. Ou seja, o descumprimento pelo advogado das normas cogentes do Estatuto, que os obrigam, configura 0 tipo abrangente e deterrninavel (pela viola<;ao) de infra<;ao disciplinar puuivel com censura.

INFRAc:;:6ES DISCIPlINARES PUNIVEIS COM SUSPENSAO

Ato iIIcito ou fraudulento

XVII - A ctecima setima hip6tese e a colabora<;ao do advoga­do em ato ilicito ou fraudulento. Nao hii necessidade, para caracte-

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do promove 0 levantamento de dinheiro depositado em nome do cli­ente, com a agravante de postular beneficio de justi«a gratuita para 0

cliente com quem celebrou contralo de honoHlrios 'S9; quando recebe hononirios do cliente para intentar a a«ao e nao a promove, sem lhe dar explica«5es '90; quando recebe do cliente quantia destinada a propositura da a«ao trabalhista e se recusa a devolve-la quando, no dia seguinte, 0 cliente lhe comunica que desistiu de ajuiza-laI91 ; quando recebe, em penhor do constituinte, vefculo de propriedade deste e 0

vende, a pretexto de pagar-se pelos servi«os profissionais 192; quando entrega 0 valor ao cliente mediante cheque sem fundos'93 ; quando recebe procura«a:o e adianta.mento do c1ientee nao-ajufza'aa«ao'94; -" quando cobra honorarios em percentual exorbitante (no caso, 30% sobre 0 valor da condena«ao sem contrato escrito e concordancia do cliente)'95; quando fixa em contrato escrito honorarios equivalentes a 50% do valor do seguro a receber mediante alvara'96; quando cobra 40% para condu«ao de processo de inventiirio e recebimento de pen­sao previdenciaria 197.

A devolu«ao do valor indevidamente apropriado pelo advogado da-se pela atualiza«ao monetaria '9S. A infra«ao nao desaparece se houver a devolll'<ao ap6s a instaur~1io do processo disciplinar.

Note-se que, alem da infra«ao disciplinar, 0 advogado sujeita-se as conseqiiencias do C6digo de Defesa do Consuruidor, porque figu­ra na rela«ao de corisumo como fornecedor de servi«os.

189. Conse\ho Federal, Processo n. 1.551194IPC, DiU, 22 nov. 1994. 190. Conselho Federal,Processo n. 1.543/94/SC, DiU, 14 nov. 1994. 191. Conselho Federal, Processo n. 1.412193/SC, DiU, 22 nov. 1994.

192. Conselho Federal, Processo n. 1.620/95/SC, DiU, 25 set. 1995. 193. Conselho Federal, Processo n. 1.920/98/SCA-SC, DiU, 7 maio 1999. 194. Conselho Federal, Processo n. 2.038/99/SCA-PR, DiU, 19 Ollt. 1999. 195. Recurso n. 042812003/SCA-SC. 196. ReCllrso n. 0008/2004/SCA-MG. 197. Recllrso n. 0387/2004/SCA-RJ.

198. Conselho Federal, Processo n. 1.538/94/SC, DiU, 14 nov. 1994.

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Recusa injustificada de presta~ao de contas

XXI -A vigesima primeira hip6tese pune a recusa injustificada de presta«ao de contas. 0 advogado e obrigado a prestar contas dos valores recebidos do cliente ou em favor deste. Tal presta«ao importa a comprova«ao das despesas efetivamente realizadas e a devolu<;ao do valor lfquido nao utilizado.

Da mesma forma imp6e-se incontinenti a presta<;ao de contas quando 0 advogado receber quaisquer importancias, bens ou valores, de terceiros ou provenientes de ordem judicial, no exercicio de pode­res de receber e dar quita<;ao. Esses poderes sao sempre muito peri­gosos para 0 advogado, que os deve exercer com modera<;ao e m:iXi­ma probidade.

o dever de prest~ao de contas nao pode ser escusado sob alega«ao de compensa<;aol99 com os honorarios devidos pelo clien­teo A infra«ao disciplinar tem fundamento etico e nao se afasta em virtude do direito generico de compensa<;ao previsto na legisla<;ao civil. Ha iterativajurisprudencia do Conselho Federal da OAB no sentido de que eventual crectito do advogado decorrente de contra­to de honorarios nao deve nem pode servir de justificativa para nao-presta,.ao das contas devidas (cf. Rec. n. 0256/2002/SCA-SP, julgado em 2003).

Em caso de dificuldades ou recusa do cliente, cabe ao advogado promover a presta<;ao de contas, em j ufzo, nao consistindo em exc1udentes de seu deveroo. A inercia em prestar contas ao cliente equivale a recusa201 . A responsabilidade de prestar contas e do advo-

199.0 Conselho Federal da DAB decidiu que ''Eventual eredito do.advogado decorrente de centrato de honoranos nao cleve nero pade servir de justificativa para nao-presta<;ao das contas devidas" (Ree. n. 1 J33/SC/91, Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, 56:257-9, jan./abr. 1992).

200. Com muito mais razao. nao exclui do dever a alega9ao de nao ter sido procuradopel0 c1iente. porque a presta93.0 de contas judicial pode valer-se da cita~ao editalicia (Conselho Federal, Proc. n. 1.631195/SC, DJU, 24 ju!. 1995).

201. Cf. Processo 1.926/98/SCA-SC, Di, 17 mar. 1999.

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dolo do advogado ou que 0 fato tenha causado prejufzo as partes do processo judicial. Em sentido contnirio, entendeu a Segunda Ca­mara do Conselho Federal da OAB que "nao basta, para a caracteri­zac;ao da infrac;ao disciplinar, a comprovac;ao objetiva dos fatos. Impoe-se ainda a demonstrac;ao de prejufzo daf decon-ente, a16m de ausencia de boa-fe do representado" (Rec. n. 0031f2003/SCA-OS). Mas a mesma Segunda Camara decidiu por unanimidade, em outro julgado, que "nao ha necessidade de dolo para configurac;ao da in­frac;ao" (Rec. n. 0070f2003/SC).

o excesso de prazo, seja ele qual for, considera-se retenc;ao abusiva, salvo caso fortuito ouforc;a maior ouimpossi15iliCliide ' superveniente. As partes prejudicadas pela retenc;ao abusiva, al6n dos remedios processuais previstos, cabe a pretensao a responsabili­dade civil por danos. As consequencias eticas, no entanto, interessam a OAB, pelas repercussoes danosas ao prestfgio da classe.

Duas sao as hipoteses que tipificam a infraC;ao disciplinar:

I - a retenc;ao abusiva de autos recebidos com vista ou em con­fianc;a;

II - 0 extravio de autos tambem recebidos com vista ou em confianc;a.

A retenc;ao de autos, sujeita a sanc;ao disciplinar, exige 0 re­quisito da abusividade, que, por sua vez, envolve a intenc;ao de tirar proveito indevido ou de' prejudicar e a prova do prejufzo; nao se presume. Mesmo para os que entendem que 0 abuso do direito dis­tanciou-se da concepc;ao romana da intencionalidade, esvaziando­se do elemento psicologico, a prova do desvio do direito e indis­pensavel, maxime quando se tratar de sanc;ao disciplinar, que os­tenta natureza punitiva.

o abuso nao se confunde com ilicitude, porque supoe 0 exercf­cio (abusivo) de direito. Na hipotese de ilicitude, nao hi! exercfcio de um direito subjetivo, porque inexiste direito. A ilicitude infere-se por simples processo de subsunc;ao do fato a hipotese normativa, que nao pode ser aplicavel ao abuso ou mau usc do direito, sempre depen­dente de prova.

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A segunda hip6tese e a do extravio dos autos. Aqui tambem a marca da intencionalidade se impoe, acrescida de culpabilidade. No plano punitivo, nao basta 0 fato objetivo do extravio dos autos, pois a intenc;ao de faze-Io ha de estar provada ou inferida inquestiona­velmente das circunstancias. Outras sao as consequencias no plano da responsabilidade civil ou do direito processual. A responsabilida­de imputavel ao profissional e sempre a responsabilidade com culpa.

A intenc;ao se presume ante circunstancias que a evidenciam, como no caso julgado pelo Conselho Federal da OAB'°7, em que 0

advogado foi condenado criminalmente, com ouvidos moucos as intimru;oes para a devoluc;ao do processo, apos 0 decurso de quatro anos destas. '

Cuide-se, agora, das exc1udentes de punibilidade. Em nosso di­reito, tomou-se imltil a distinc;ao que alguns procuravam fazer entre caso fortuito e forc;a maior. Sao tipos interpenetrantes que tem em comum a inevitabilidade, a exc1usao de culpa e a inimputabilidade. Receberam ampla construc;ao conceitual no direito privado, com iden­tica configurac;ao no direito administrativo (a fortiori no direito ad­ministrativo sancionador). Nao importa que 0 acontecimento tenha side previsfvel ()u nao; importa a inevitabilidade dos efeitos, a teor do art. 393 do Codigo Civil (regra comum).

De ordinario, e de acontecimento natural que se trata, "mas pode dar-se que seja ate de terceiro, pelo qual nao responde 0 devedor, ou ate sem qualquer culpa do proprio devedor. Nao ha conceito de caso fOltuito que seja absoluto; 0 mesmo fato pode ser fortuito para A, e nao para B", como diz Pontes de Miranda (Tratado de direito pl'iva­do, t. 2, § 179). Da mesma form~ Clovi<Bevilaqua (C6digo Civil comentado, v. 4, p. 216) entende ser forc;a maior 0 fato de terceiro que criou obstaculo ao cumpriinento da obrigac;ao.

Constitui ato ou fato de terceiro 0 transporte dos autos de pro­cessos, por engano dos encanegados da mudanc;a dos objetos perten­centes ao advogado que os tinha em sua sala, que desse modo se extraviaram temporariamente.

207. Processo n. 1.583/94/SC, DIU, 25 out, 1994.

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sem requisitos minimos de qualidade, inclusive de seu corpo do­cente - acrescida da anterior limita<;ao legal para a OAB selecio­nar seus inscritos, em face da facultatividade do Exame de Ordem -, contribuiu para a queda assustadora do padrao minimo de qua­lifica<;ao dos profissionais de direito que chegam ao mercado de trabalho.

Sao assombrosos os exemplos de advogados que cometem er­ros grosseiros sucessivos de linguagem, nas pe<;as que redigem, inad­missiveis ate em estudantes de primeiro grau. 0 discurso e desarticu­lado, alem de agressao as regras rudimentares de regencia ou concordancia. E inadrrrlsslvel que um profissionaique-lida coni a linguagem, para exercer seu mister, nao a maneje bem. Nao se exige proficiencia ou erudi<;ao, mas regularidade e corre<;ao.

A condescendencia com a inepcia profissional expoe a comuni­dade a prejuizos, alem de comprometer 0 conceito publico e a digni­dade da advocacia.

Da-se 0 tipo quando: a) ha erros grosseiros de tecnicajurfdica ou de linguagem; b) ha reitera<;ao. Erros isolados nao concretizam o tipo. No entanto, a reitera<;ao pode emergir de uma unica pe<;a profissional, quando os erros se acumulem de forma evidente, em­bora seja recomendavel 0 cotejo com mais de uma. Decidiu, toda­via, a Segunda Camara do CF/OAB (Proc. n. 2.439/200l/SCA-GO, por maioria) que "erros reiterados devem ser verificados em vanos processos e em tempo razoavel".

Alguns exemplos, em casos julgados pelo Conselho Federal da OAB: quando 0 advogado "demoustra graves deficiencias de forma<;ao, a ponto de dirigir-se ao Chefe do M. P. invocando pode­res somente atribuidos aos Juizes e Tribunais, alem de usar expres­soes sem sentido, cometer erros grosseiros de linguagem e formu­lar pedidos manifestamente inadequados"20'; "Medida anterior do mesmo jaez, nao impede tratamento identico. para a inepcia superve-

209. Processo n. 1.576/94/Se, DJU, 14 nov. 1994.

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niente"210; "Aprova<;ao em Exame de Ordem nao significa declara­<;ao, para sempre, de aptidao"2lI.

Nesse caso, a suspensao perdura ate que 0 advogado seja apro­vado em exames de habilita<;ao, envolvendo tecnica jurfdica e lin­guagem, aplicados pela OAB. 0 suspenso fica interditado ao exercf­

. cio profissional, em todo 0 territorio nacioual; se descumprir a puni­<;ao, contra ele sera iustaurado processo por viola<;ao do art. 47 da Lei de Contraven<;oes, por exercfcio ilegal da profissao212

Condutaincompativel .

xxv - A vigesima quinta hipotese pune a conduta incompati­vel com a advocacia. 0 Estatuto nao a define, utilizando-se de con­ceito indeterrninado, cujo conteudo sera concretizado, caso a caso. De maneira geral, a conduta incompatfvel e toda aquela que se reflete prejudicialmente na reputa<;ao e na dignidade da advocacia.

o conceito indeterrninado nao se compadece com juizos subje­tivos de valor. Toda conduta e aferfvel objetivamente, porque se re­mete a standards de comportamento padrao ou medio, consider ados valiosos pela comunidade profissional, em detenninada epoca.

o Estatuto enuncia alguns exemplos, que nao esgotam as es­pecies, incluindo na conduta incompativel a pratica reiterada de jogos de azar, a incontinencia publica e escandalosa e a embriaguez ou toxicomania habituais. Emerge dessas especies 0 pressuposto da habitualidade, nao podendo ser considerado 0 evento episodico. Alem da demonstra"ao da habitualidade ou contumacia do ato pra­ticado, "0 Conselho Federal, a unanimidade, ja firmou posi"ao de que a atua"ao da OAB se justifica somente quando a falta praticada pelo advogado transgredir preceito regular da propria atividade pro­fissional ou quando acarretar repercussao negativa a imagem da

210. Processo n. 1.613/95/se, DJU, 24 ju!. 1995. 211. Processo n. 1.608/95/Se, DJU, 23 nov. 1995. 212. Nesse sentido decidiu 0 Supremo Tribunal Federal, negando habeas corpus,

por inexistencia de coa<;ao ilegal, no RHe 61.081-SP, RTJ, 108:574.

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Page 63: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

Inidoneidade moral

XXVII - A vigesima setima hip6tese comina com a exclusao de quem incorrer em inidoneidade moral superveniente it inscric;ao. A idoneidade moral nao e apenas exigfvel para se obter a inscric;ao, mas acompanha toda a vida profissional do inscrito. Sobre 0 seu con­ceito e a1cance remetemos 0 leitor aos coment!ilios ao alt. 8Q (inscli­c;ao), acima. Entendeu a Primeira Camara do CF/OAB (Repr. n. 00091 2002IPCA-PA) que a condenac;ao de advogado por juri popular, mas com recurso em trfunite, nao a caracterizaria, em virtude do prindpio de presunc;ao de inod~ncia (alt. 5Q

, LVII, da Constituic;ao). Todavia, 0

Orgao Especial do CF/OAJ;3 (Proc. n. 348/2001l0EP-RJ) decidiu que a pena de exclusao pode ser aplicada quando houver fatos not6rios, publicos e incontroversos, deeorrentes de condenagao criminal e re­eolhimento ao carcere.

Em decisao un3nime, entendeu a Segnnda Camara do CF/OAB que caracteliza 0 tipo a condenac;ao em ac;ao penal por infrac;ao dos alts. 138 (clime de calunia) e 344 (usa de violencia ou grave ameac;a no curso do processo) do C6digo Penal (Ree. n. 045212003/SCA-SP, julgado em 2004). TamMm earaeteliza inidoneidade moral a condena­c;ao por trMico intemacional de drogas (Proc. n. 2.4441200IlSCA-RJ).

A perda de qualquer dos requisitos necess!llios it inselic;ao acar­reta 0 cancelamento, sem outra sanc;ao. Contudo, no caso de inidoneidade moral superveniente, por suas repereussoes na etica pro­fissional, 0 caneelamento e agravado com 0 plus da sanc;ao discipli­nar de exclusao, aplicada em processo pr6plio. A dec\arac;ao de inidoneidade deve ter a manifestac;aO'favonivel de dois terc;os dos membros do Conselho Seccional competente (alt. 38, panigrafo uni-co, do Estatuto). .

Reincidencia

Alem das hip6teses contidas nos incisos XXVI a xxvm, a ex­clusao e aplica.vel a urn tipo generico de infrac;ao: a reineidencia, por trIOs vezes, em infrac;oes puniveis com suspensao. Assim, na terceira ocorrencia, a sanc;ao a ser aplicada nao mais sera a de suspensao, mas

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a de exc\usao. A composic;ao das infrac;oes, para efeito de exclusao, pode ser variada, uma vez que a reincidencia de infrac;ao punivel com censura converte-a em suspensao. Sera de exclusao a terceira sanc;ao se: a plimeira for de censura e a segunda de suspensao (origin!llia ou convertida); a primeira for de suspensao e a segunda de censura (con­vertida em suspensao); a primeira e a segunda forem de suspensao.

Decidiu a Segunda Camara do CF/OAB que "somente ap6s 0

transito em julgado da terceira pena de suspensao e que instaura-se urn quarto processo disciplinar especifico para a aplicac;ao da pena de exc\usao, assegurando-se ao Representado, tambem neste proces­so, amplo direito. de defesa. Este qUalto processo, instaurado como consectario das tres suspensoes aplicadas anteriormente, nao com­porta discussao sobre 0 acerto ou nao das tres decis6es transitadas em julgado, pois para isso ha rernedio juridico especifico, que e a revisao do processo disciplinar (altigo 73, § 5Q

, da Lei 8.906/94)"219. Entendemos que 0 qUalto processo constitui exigencia que a lei nao faz (alt. 37, II, do Estatuto), podendo a pena de suspensao ser conver­tida em exc\usao j a no terceiro processo, bastando que neste juntem­se certidoes do transito em julgado das duas primeiras.

Crime infamante

xxvm - Outro 6bice preexistente it inscric;ao tambem acarre­ta a sanc;ao disciplinar de exc\usao quando nao declarado ou superveniente aquela: a pnitica de crime infamante. Durante os deba­tes havidos no Conselho Federal, para aprovac;ao do anteprojeto do Estatuto, optou-se por esse conceito indeterminado, porque as quali­ficac;oes de crimes, existentes na legislac;ao penal, foram considera­das ifisuficientes para 0 alcance pretendido, inclusive a de crimes

hediondos. Crime infarnante entende-se como todo aquele que acarreta para

seu autor a desonra, a indignidade e a rna fama (dai infame). Bssas desvalorizac;oes da conduta criminosa sao potencializadas e carac-

219. Recurso n. 033712003/SCA-BA.

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sito emjulgado da decisao que aplicar a sanc;ao223. Nao sao permiti­das anotac;6es que indiquem a existencia de processos disciplinares ainda nao julgados, porque sugerem enganosamente precedencia ou prejulgamento, violando a presunc;ao legal de inocencia. A anotac;ao da sanc;ao nao e perpetua, sendo exc1uida totalmente dos assenta­mentos em caso de reabilitac;ao. Decidiu 0 Conselho Federal da OAB (Consulta n. 000712003/0EP-CE) ser inadmissivel anotac;ao em car­teira de advogado da penalidade sofrida pelo titular, mesmo ap6s 0 transito em julgado da decisao. 0 registro deve constar exc1usiva­mente nos arquivos da Seccional em que for inscrito.

Dequalquer forma, a sanc;aode censura (e a fortiori a deadver­tencia) nao pode ser objeto de publicidade ou divulgaC;ao. No entan­to, nao esta coberta pe10 sigilo absoluto, porque exclui os 6rgaos da OAB, que dela poderao ser informados, e ainda em atendimento a requisic;ao de autoridade judiciana.

Converte-se a censura em advertencia, a juizo da OAB, quando 0 advogado cometer a falta na defesa de prerrogativa profissional, quan­do for primano ou tiver exercido cargo de conselheiro ou dirigente da OAB. A conversao nao e direito sUbjetivo do punido, mas criterio de ponderac;ao do julgamento. 0 efeito pratico da advertencia, ao contra­rio da censura, e que nao constara de registro nos assentamentos do punido. A punic;ao se instrumentaliza em oficio reservado.

A advertencia e considerada para efeito de antecedente discipli­nar? Entendemos que sim, desde que 0 Conselho mantenha arquivo especifico das advertencias aplicadas e observe a proibic;ao legal de registro da primeira advertencia ao inscrito, caso contrario nunca se­ria configurada a reincidencia, permanecendo 0 infrator sucessiva­mente como prirnano.

223.0 Conselho Federal da OAB tern decidido que, apos 0 transito emjulgado da decisao, a puni~ao deve ser tamada publica, a fim de assegurar sua execuc;ao (v. Rec. n. 167/SC/80, Revista do Ordem dos Advogados do Brasil, n. 27, set./dez. 1980, ell. 28, jan.labr. 1981). Mas a anotac;ao nao pade ser feita na carteira de identidade do advogado, mesmo ap6s 0 transito em julgado da decisao, apenas senda passi'vel no prontumo existente nos arquivos da Seccional (Consulta OEP ll. 119/96, DJ, 23 abr.1997.

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A conseqiiencia da suspensao eo impedimento total do exerci­cio da atividade profissional e dos mandatos que lhe foram outorga­dos, em todo 0 territ6rio nacional, durante 0 perfodo estabelecido para a punic;ao, que varia de um a doze meses. Esse prazo sera pror­rogado por tempo indeterminado: a) ate que 0 infrator pague integral e atualizadamente 0 que deve, nos casos de falta de prestac;ao de con­tas e de pagamento das contribuic;6es obrigat6rias 11 OAB; b) ate que seja aprovado em exames de habilitac;ao, no caso de inepcia profis­sional.

A suspensao nao desobriga 0 inscrito dos pagamentos das con­tribuic;6es obrigat6rias nem 0 des vincula dos seus deveres eticos e estatutarios. .-.. - . _. ... . . . .

A conseqiiencia da exc1usao e 0 impedimento total da advoca­cia, em carater permanente ou ate quando sej a reabilitado pela OAB. Dada a gravidade da sanc;ao, exige-se quorum especial de votac;ao de dois terc;os dos membros do Conselho Seccional competente. Ou seja, ha necessidade de dois terc;os da composic;ao do Conselho votando favoravelmente 11 sanc;ao, confirmando 0 julgamento do Tribunal de Etica e Disciplina, que, nesse caso, deve recorrer de oficio, independentemente do recurso voluntario. Mas, se nao for atingido 0 quorum de dois terc;os, 0 6rgao julgador deve fazer incidir a penalidade que entender cabivel, salvo a exc1usao (Proc. n. 2.4101 200IlSCA-MS).

o Conselho Federal decidiu que, "em.caso de concurso mate­rial de infrac;6es disciplinares, aplicam-se autonomamente as penas pre)istas para cada infrac;ao"224,

CONSEQOENCIAS NOS PROCESSOS E AlOS PRAllCADOS PHO ADVOGADO

o art. 42 estabelece que as sanc;6es de suspensao e de exclu­sao acarretam 0 impedimento do exercicio dos mandatos que 0 puni-

224. Processo n, L609195/SC, DIU, 25 set. 1995.

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advocacia em geraL 0 Estatuto refere-se a dois tipos, nao excludentes de outi·os: a reincidencia em infragao disciplinar e a gravidade da culpa.

Mas, se a tipicidade legal das circunstancias agravantes e abelta (embora no sentido tfpico-social seja fechada), suas conseqliencias encenam-se em numerus clausus. Ou seja, quando comprovada a circunstancia agravante, as conseqiH~ncias apenas serao:

I - aplicagao da sangao imediatamente mais grave, sendo que para a exclusao exige-se dupla reincidencia;

II - aplicagao cumulativa de multa com Olltra sangao;

III - grada~ao do valor da multa, dentro dos·limites legais;

IV - giadagao do tempo de suspensao, nesse caso variando do tempo medio ao maximo.

A circunstancia agravante anula 0 efeito da circunstancia atenu­ante, prevalecendo sobre esta.

Caracteriza-se como caso de aplicagao de agravante, com cumnlagao de multa (alt. 39 do Estatuto), conforme decidiu 0 Conse­Iho Federal da OAB, 0 fato de 0 advogado reter qUailtia recebida em nome do constituinte por lapso de tempo superior a tres anos e que so veio a ser depositada por forga de determinagao judicial (Proc. n. 3391200l/0EP-SC, julgado em 2003).

REABllITA<;AO

o sistema julidico brasileiro nao admite sangao punitiva de ca­rater perpetuO.

Todas as sangoes disciplinares previstas no Estatuto repercutem no exercfcio profissional do inscrito, nao so imediatamente, mas de modo pennanente, uma vez que ficam registradas em seus assentos. Os profissionais liberais, como quaisquer prestadores de servigos, e acima de todos os advogados, dependem da credibilidade que trans­mitem.

A mais grave das sangoes, a exclusao, impede 0 culpado de exer­cer total e permanentemente a profissao, vedando-Ihe 0 acesso a esse determinado meio de sobrevivencia.

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E, pois, legftima a pretensao a que seja reabilitado, imaculando seus assentamentos e permitindo-Ihe a plenitude do exercfcio profis­siona!.

o Estatuto preve a reabilitagao, que sera apreciada a pedido do interessado, quando apresentar provas de bom comportamento, apos um ana do cumprimento efetivo da sangao, inclusive a exclusao. 0 pedido e personalissimo; nao pode ser fonnulado por terceiro.

o processo seguira tramites assemelhados ao do processo disci­plinar, e as provas de born compOltamento deverao guardar relagao com a infragao cometida. Como bern decidiu a Segunda Camara do CFfOAB, "a prova de born comportamento; necessaria 'neabilita­gao, nao se refere somente ao que consta do cadastro do advogado na OAB. E indispensavel que, durante um ano, apos 0 cumprimento da pena 0 advogado comprove que sua conduta no meio social nao te­nha motivado nenhum processo, dvel ou criminal, OU, ainda, qual­quer inquerito policial" (Rec. n. 038912003/SCA-RJ).

Se a sangao disciplinar tiver resultado de pnitica de crime, ape­nas apos a reabilitagao criminal decretada pelo Poder Judiciario po­den'i ser pedida a reabilitagao disciplinar. Nesse caso, nao havera ne­cessidade de outras pro vas de born comportamento, porque todas ja foram apreciadas no processo judicia!.

Nao faz jus a reabilitagao 0 advogado que, estando suspenso em virtude de sangao disciplinar, continua a exercer a advocacia225

PRESCRl<;AO DA PRETENSAO DlSC!!,LINAA

Seguindo regra comum de nosso sistema jUlidico, 0 Estatuto disciplina a prescrigao a pretensao de punibilidade de infragao disci­plinar, fix ada no prazo de cinco anos. Aproxima-se da Lei n. 6.838, de 29 de outubro de 1980, que nao se aplica a OAB.

225. Nesse sentido, 0 Conselho Federal, Processo n. 1.603/94/SC, DJU. 25 set. 1995.

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No dia 11 de agosto de 1827, apos decretada pelaAssembleia Ge­ral, foi saneionada pelo Imperador D. Pedro I a lei que cliou os dois plimeiros cursos juridicos no Brasil, um em Sao Paulo e outro em Olinda, que podedam confedr os graus de bacharel e doutor. A lei mandou apli­car os Estatutos do Visconde de Cachoeira e a sua data se populadzou como 0 dia brasileiro dajusti<;:a e das profissoes jUlidicas em geral234

No dia 7 de agosto de 1843, fundou-se 0 Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, associa<;:ao civil com a finalidade de congre­gar os profissionais da advocaeia, com vistas a cria<;:ao da Ordem dos Advogados. 0 Estatuto da associa<;:ao foi aprovado pelo Imperador D. Pedro II, nessa data, por Aviso finnado peloMinistro deEsJ:",dRdii. Justi<;:a, Honorio Hermeto Cameiro Leao, estabelecendo seU art. 22: "0 fim do Instituto e organizar a Ordem dos Advogados, em proveito geral da ciencia da jurisprudencia". Ha uma duvida quanta a denomi­na<;:ao; a portaria impelial refere-se a Instituto dos Advogados Brasi­leiros, mas a ata de instala<;:ao diz que ela foi expedida a favor do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, tendo prevalecido esse nome nos estatutos da entidade. No dia 7 de setembro desse ano, elegeu-se a primeira diretoria, tendo como presidente Francisco Ge Acaiaba de Montezuma, que exerceu 0 cargo ate 1851.

Ainda no Impelio, no dia 20 de agosto de 1880, foi apresentado ao Legislativo da Corte 0 Projeto de Lei n. 95, criando a Ordem dos Advogados do Brasil.

Nos anos de 1911 e 1914, novas tentativas.de projetos de lei foram feitas no sentido de separar a Ordem do Instituto dos Advoga­dos, sem resultado. Em 16 de abril de 1914, 0 presidente do Instituto; Alfredo Pinto Vieira, que muito trabalhou para_ a impl1illtagao da Or­dem, pronunciou discurso em que afirmava preferir criar no Brasil

234. Em 1 Q. de marC;o de 1828 realizou-se a solenidade de inaugurac;ao da Faculdade de Direito de Sao Paulo, em uma sala do Convento de Sao Francisco. Em 15 de maio de 1828 inaugurou-se solenemente a Faculdade de Direito de Olinda, no Mosteiro de Sao Bento, transferida para Recife em lOde agosto de 1854. Os CurSDS

desenvolviam-se em cinco anos e nove cadeiras (art. }!2 da Lei de 11 de agosto), podendo neles ingressar quem tivesse "quinze anos completos" (art. 89. ) e fossem aprovados em lingua francesa, gramatica latina, retorica, filosofia racional e moral, e geometria.

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uma institui<;:ao distante dos modelos europeus, "toda nossa, sem pri­vilegios hierarquicos, nem subordina<;:oes que afetem a nossa inde­pendencia" .

No dia 18 de novembro de 1930, finalmente, deu-se a clia<;:ao legal da Ordem dos Advogados do Brasil, em viliude da inser<;:ao do ali. 17 no Decreto n. 19.408 do Govemo Provisolio, que teve for<;:a de lei, assim dispondo: "Art. 17. Fica cliada a Ordem dos Advogados Brasileiros, orgao de disciplina e sele<;:ao dos advogados, que se re­geni pelos estatutos que forem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colabora<;:ao dos Institutos da Ordem dos Estados e aprovados pelo Govemo". Destinavacse a ser 0 orgao de disciplina e sele<;:1io da classe dos advogados. 0 diploma legal nao tinha essa finalidade, mas a de reorganiza<;:ao da Corte de Apela<;:ao do Disllito Federal. A inser<;:ao deveu-se ao autor do anteprojeto,Andre de Fada Pereira, com 0 apoio do Ministro da Justi<;:a Osvaldo Ara­nha. 0 instituto desdobrou-se em duas entidades: a Ordem dos Advo­gados do Brasil e 0 Instituto dos Advogados Brasileiros, este (e seus filiados) com finalidade de promo<;:ao da cultura e ciencia do direito

entre os advogados. Em 14 de dezembro de 1931 foi aprovado 0 Regulamento da Or­

dem dos Advogados do Brasil, adotando-se este nome pelo Decreto n. 20.784, cuja reda<;:ao deve-se a Levi Femandes Cameiro, primeiro pre­sidente da entidade, com vigencia difelida pelo Decreto n. 22.266, de 28 de dezembro de 1932, pma 31 de mal·<;:o de 1933. 0 modelo adotado foi 0 do Barreau de Paris, tanto pma a organiza<;:ao da entidade como pma 0 pal·adigma liberal da profissao de advogado.

o Regulamento da OAB foi consolidado pelo Decreto n. 22.478, de 20 de fevereho de 1933. No dia 6 de mar<;:o de 1933, as 14 horas, na sede do Instituto dos Advogados, 0 Conselho Federal da OAB foi instalado sob a presidencia de Levi Cameiro, que tinha side escolhi­do presidente proViSOlio em 18 de janeil·o de 1932. 0 Regulamento passou por varias refonnas, consubstanciadas no Decreto n. 24.631, de 9 dejulho de 1934; Lei n. 510, de 22 de setembro de 1937; Decre­tos n. 24.185, de 30 de ablil de 1940; 2.407, de 15 dejulho de 1940; 3.036, de 19 de fevereiro de 1941; 4.803, de 6 de outubro de 1942; 5.410, de 15 de abril de 1943; 7.359, de 6 de mal·<;:o de 1945; 8.403,

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No.dia 13 de maio de 1991, na pdmeira sessao ordinaria seguinte a posse do Presideute Marcello Lavenere Machado (AL), 0 Conselho Federal aprovou regimento intemo dos trabalhos de elaborac;;ao de novo Estatuto, nao mais de refonna do anterior, declarando-se em sessao pennanente e elegendo uma Comissao de Sistematizagao, composta dos Conselheiros Federais Paulo Luiz Netto Lobo (AL) (presidente e relator), Julio Cardella (SP), Eli Alves FOlte (GO), Jayme Paz da Silva (RS) e Elide Rigon (MS). A Comissao, apos analise de aproximada­mente 700 propostas de emendas ao texto preliminar por ela proplia elaborado, submeteu a redac;;ao final as sessoes do Conselho Federal durante os meses de margo e abril de 1992, que 0 aprovou com altera­goes em 17 de abril desse ano. 0 texto aprovado foi submetidoa revi- . sao gramatical do fil610go Antonio Houaiss. No dia 28 de maio de 1992, as liderangas dos advogados, de valias regioes do Pals, junta­mente com 0 Conselho Federal da OAB, sob a Presidencia de Jose Robelto Batochio (SP), acompanharam a entrega do Projeto de Lei n. 2.938/92, pelo Deputado Ulisses Guimaraes, que 0 subscreveu ao lado de aproximadamente setenta deputados. Na Camara dos Deputados, foi relator 0 Deputado Nelson Jobim (RS), durante os dois anos de tramitagao, tendo acolhido 43 emendas ao texto, que foi aprovado na Comissao de Constituigao e Justic;;a no dia 10 de margo de 1994, sob a presidencia do Deputado Jose Thomaz Nona (AL). 0 Senado Federal manteve 0 texto da Camara, aprovando 12 emendas de redagao pro­postas pelo relator Senador Ivan Saraiva (GO), em maio de 1994.

Em 4 de julho de 1994, 0 Presidente da Republica Hamar Fran­. co sancionou 0 projeto, sem qualquer veto, convertendo-o na Lei n. 8.906, perante os membros do Conselho Federal, os Presidentes dos Conselhos Seccionais e representagoes dos advogados de todo 0 Pals, no Palacio do Planalto. A lei (0 terceiro e atual Estatuto) foi publica­da no dia 5 de julho, entrando em vigor nessa data. No dia 16 de novembro foi publicado, no Ditirio da Justir;a da Uni{io, 0 Regula­mento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, aprovado pelo Conselho Federal, contendo 158 artigos. E no dia 1" de margo de 1995 publicou-se 0 Codigo de Etica e Disciplina, aprovado pelo Con­selho Federal da OAB.

A Lei n. 11.179, de 22 de setembro de 2005, introduziu a pri­meira alteragao ao Estatuto de 1994, modificando os criterios para eleigao da Diretoria do Conselho Federal da OAB.

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FINS E ORGANIZA<;;A.O DA OAB

TiTULO II

DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

CAPiTULO I

DOS FINS E DA ORGANIZA<;:AO

Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil- OAB, ser· vic;;o publico,. dotada de personalidade jUrldica e forma fe­derativa, tem por finalidade:

I - defender a Constituic;;ao, a ordem juridica do Esta­do democratico de direito, os direitos humanos, a justic;;a so­cial, e pugnar pela boa aplicac;;ao das leis, pela rapida admi­nistrac;;ao da justic;;a e pelo aperfeic;;oamento da cultura e das instituic;;oes juridicas;

n - promover, com exclusividade, a representac;;ao, a defesa, a sefec;;ao e a disciplina dos advogados em toda a Re­publica Federativa do Brasil.

§ P A OAB nao mantem com orgaos da Administrac;;ao Publica qualquer vinculo funcional ou hierarquico.

§ 2" 0 uso da sigla OAB e privativo da Ordem dos Advo-gados do Brasil.

Art. 45. Sao orgaos da OAB:

I - 0 Conselho Federal;

II - os Conselhos Seccionais;

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res afirmava sua indepeudencia em face do Poder Publico; outros, contudo, vinculavam-na a Administra<;ao Publica.

Quando 0 Poder Executivo intentou vincular a OAB, na decada de setenta, ao Ministerio do Trabalho, e 0 Tribunal de Contas da Uniao pretendeu controlar os recursos financeiros da entidade, houve a manifesta<;ao quase unissona dos publicistas ressaltando as peculia­ridades da OAB e sua independencia. Identica Olienta<;ao adotaram os tribunais superiores e a propria Consultoria-Geral da Republica (parecer do Consultor-Geral Rafael Mayer, PR-3974174-011/CI75, aprovado pelo Presidente da Republica, DO U, 14 fey. 1978). Em 19 de novembro de 2003, 0 plenario do Tribunal deContas da Uhiao" decidiu que a OAB nao se sUbmete ao regime das autarquias publi­cas, mantendo, assim, sua imunidade a fiscaliza<;ao do tribunal, uma vez que desde 1952 0 Tribunal Federal de Recursosdecidiu que a entidade nao precisava prestar contas ao TCU.

o Estatuto poe cobra a divergencia ao prescrever explicitamen­te que a OAB nao mantem qualquer vinculo com a Adrninistra<;ao Publica. A OAB possui fun<;oes constitucionais proprias, relativa­mente ao controle da constitucionalidade das leis, a defesa da Cons­titui<;ao, a participa<;ao na composi<;ao dos tribunais, a participa<;ao nos concursos publicos da magistratura.

Qual, no entanto, 0 sentido de servir,;o publico que desempe­nha?

Servi<;o publico nao significa necessariamente servi<;o estatal, este assim entendido como atividade tipica exercida pela Adminis­tra<;ao Publica. Servi<;o publico e genero do qual 0 servi<;o estatal e especie. A evolu<;ao dos conceitos e da experienciajurfdica, merce da transforma<;ao do Estado Modemo, fortalece a afirma<;ao COlTente de que nem tudo 0 que e publico e estatal.

A defesa da classe dos advogados, dos direitos human os, da justi<;a social e do Estado Democratico de Direito, encartada nas fi­nalidades da OAB previstas no art. 44 do Estatuto, supoe 0 virtual conflito com 0 Poder Publico. Se este impecie, dificulta ou viola 0

exercicio da advocacia, ou se malfere ou contraria os valores pelos

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quais deve ela pugnar, 0 confronto e inevitavel e 0 conflito de interes­ses se instala,

Como sera possivel que uma "autarquia", um eute concebido como Zonga manus do Estado, possa perseguir interesses a e1e opos­tos, estranhos (defesa dos advogados) ou conflituosos?

o Estado Moderno nao apenas se vale de entidades dele desmembradas (Administra<;ao descentralizada e indireta), sob sua tu­tela ou controle. Tambem reconhece competencia para 0 exercicio de fun<;oes publicas a entidades que nao 0 integram, aUibuindo-lhes po­deres que seriam originalmente seus, como ocorre com 0 poder

, intontrastadO da OAB de selecionar, fiscalizar e punir advogados, Nao se trata de um novo corporativismo, nos moldes medievais das guildas e corpora<;oes de oficio, mas delimita<;ao de autotute1a jUlidica a enti­dades organizadas, para exercicio de determinados servi<;os publicos.

As finalidades da OAB sao indissociaveis da atividade de advo­cacia, que se caracteriza pela absoluta independencia, inclusive diante dos Poderes Publicos constituidos. Se 0 advogado e necessario a admi­nisu'a<;ao da jnsti<;a, entao nao pode estar subordinado a qualquer po­der, inclusive 0 JudiciiiJ.io. A OAB ou a advocacia dependente, vincu­lada ou subordinada, resulta na nega<;ao de suas pr6prias finalidades.

A Constitui<;ao preve varias hipoteses de exercicio de servi<;os publicos por pessoas e entidades privadas, como ocone com 0 regi-me de concessao ou pennissao publicas (mt. 175) ou de servi<;os notmiais (art. 236). 0 Estado as vezes comete a pessoas juridicas de direito privado, a e1e vinculadas, atividade tipica de policia adrninis­trativa, dispensando 0 tipo autiiJ.·quico. POltanto, nao basta a execu- ./ <;ao de servi<;os publicos para concretizar 0 tipo autarquia, mesmo que especial ou sui generis.

Se a OAB apenas exercesse servi<;o publico estatal tipico, po­der-se-ia cogitar de jus singuZare, porque selia tutelada por norma posta contra tenorem rationis, na peculiar fonnula<;ao do Digesto. Ou seja, se tivesse natureza ampla de autarquia, seria sui genais ou independente, estando desligada ou desvinculada da Adminisu'a<;ao Publica. Mas nao e 0 caso, porque asfinalidades da OAB sao muito mais amplas e extra-estatais.

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Considerada a natureza de servi<;;o publico nao estatal, mas ser­vi<;;o publico de ambito federal, os processos judiciais em que a OAB seja interessada sujeitam-se a competencia da justi<;;a federal (STF, HC 71.3l4-9-PI).

FINALIDADES DA OAB

A controversia reinante no seio da OAB, sobre snas finalidades e objetivos, confrontando aqneles que postulavam a proeminencia, ou quase exclusividade, dos interesses corporativos com os que png­navam pela prevaleilcia da atua<;;ao politico-institucional, perdeu 0

sentido com 0 atual Estatuto.

As dnas finalidades sao previstas explicitamente no rut. 44, de modo harmonico, integrado, sem supremacia de uma sobre outra. Assim, os discursos de campanha e1eitoral ou as metas de trabalho dos dirigentes da OAB nao podem propugnru' pela exclusividade ou supremacia de uma sobre a outra, porque violarirun a norma estatutaria que nao admi te tal opc;:ao.

A OAB engrandeceu-se, adquirindo confiabilidade e prestfgio populares, porque nao se ateve apenas aos interesses de economia interna, fugindo it enganosa tenta<;;ao da paz burocnitica de seu microcosmo. Ao mesmo tempo, desempenhou com desenvoltura a tarefa de valoriza<;;ao da advocacia e do ingrato mister de policia ad­ministrativa da profissao, evitando que 0 Estado fizesse 0 que ela propria poderia fazer.

o que ja e;:a lugar-comum, na sua histolica atua<;;ao cotidiana, na incessante'busca do equilfbrio entre os dois niveis de interesse (corporativo e institucional), tornou-se norma legal clara no atual Estatuto.

FINALIDADES POLITICO-INSTITUCIONAIS

Durante as discussoes do anteprojeto do Estatuto, 0 Conselho Federal decidiu por incluir de forma expressa os objetivos politico­institucionais entre as finalidades da OAB, e nao apenas do Conselho

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Federal, como constava no art. 18, I, do antelior Estatuto. Foi decisi­vo 0 discurso finne e persuasivo do saudoso ex-presidente nacional da OAB, Miguel Seabra Fagundes, que sempre evocou a trajet6ria da entidade nessa dire<;;ao de grandeza, civismo e generosidade. Seabra Fagundes influiu positivrunente na inclusao de dispositivo semelhan­te, no projeto da Lei n. 4.215/63, elaborado na epoca em que foi presidente da OAB.

Lembra Seabra Fagundes, em rutigo destinado ao tema24!, qne a organiza<;;ao inicial da OAB, mediante 0 Regulamento de 1931/1933, tomou como modelo 0 Barreau de Paris, destinando-se a ser 0 orgao de sele<;;ao e disciplina da classe. "Mas" com 0 COlTer do tempo, as vicissitudes institucionais pOl' que 0 pafs foi passando (da reconstitu­cionalizac;:ao em 1934 ao Estado Novo), tantas vezes com reflexo no exercfcio da atividade do advogado e mesmo no papel cfvico imanente na sua condi<;;ao profissional, fizeram com que 0 Congresso, sob a inspira<;;ao do Conselho Federal, pela elabora<;;ao de anteprojeto de reforma da regulamentac;:ao de 1931, al<;;asse a Ordem dos Advoga­dos do Brasil (mediante a Lei n. 4.215/63) a nivel que nenhuma congenere sua assumiu nos paises do nosso trato comum, e talvez em qualquer pais".

A re1a<;;ao de dependencia da profissao com 0 Poder Publico e a ideologia conservadora adqnirida no convfvio com os grupos domi­nantes da sociedade, requisitos sociais para 0 sucesso, distanciam 0

advogado, enquanto tal, das preocupa<;;oes politico-institucionais: Os advogadosliberilis que criru'am a OAB idealizaram uma entidade de organiza<;;ao estritamente profissional, de carater corporativo e apolitico, Todavia, as ditaduras do Estado Novo (1937/1945) e do regime militar (1964/1985) levaram os advogados a assumir coleti­vamente a defesa dos direitos humanos e os princfpios do Estado Democratico de Direito, ou seja, um papel politico. Sem as liberda­des publicas nao ha liberdade para 0 exercfcio independente da advo­cacia. A Lei n. 4.215/63 ja prenunciava essa dimensao, as sumida ex­plicitamente pelo rut. 44 da Lei n. 8.906/94.

241. A presenc;a da OAB no contexto poiftico-institucional brasileiro, Revista do OAB, 30:115-9, set.ldez. 1982.

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A defesa dos direitos humanos nao se resume a interven<;ao em casos de viola<;ao consumada, mas de promo<;ao de todos os meios preventivos e de efetiva<;ao do exercfcio pelas pessoas e co­munidades. A historia dos direitos humanos confunde-se com a do processo civilizatorio e da emancipa<;ao do homem; foi e e tra<;ada com sangue, suor e laglimas, contra a intolerancia, 0 abuso do po­del', as desigualdades. Adverte Fabio Konder Comparato que na Declara<;ao Universal dos Direitos Humanos 0 principio da liberda­de "compreende tanto a dimensao polftica como a individual. A primeira vem declarada no art. 21, e a segunda, nos arts. 39 e s. Reconhece-se, com isso, que ambas essas dimens5es da liberdade sao complementares e interdependentes. A liberdade polftica sem as Iiberdades individuais nao passa de engodo demag6gico de Esta­dos autoritarios ou totalitarios. E as liberdades individuais, sem efe­tiva participa<;ao politica do povo no govemo, mal escondem a do­mina<;ao oligarquica dos mais ricos"'·".

Atualmente, os direitos humanos nao se contem na dimensao apenas individual; alcan<;am tambem a dimensao coletiva ou comu­nitiiria onde se exprimem. Aos direitos humanos de plimeira gera<;ao (direitos e garantias individuais fundamentais), sucederam-se os de segunda gera<;ao, de carater social (especialmente os direitos dos tra­balhadores f44, os de terceira gera<;ao, de carater transindividual (como o direito dos consumidores e do meio ambiente saudavel), cogitan­do-se agora dos de quarta gera<;a0245

• Novos espa<;os humanos SUr­gem reclamando prote<;ao, quando os anteriores ainda nao foram to­talmente satisfeitos.

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243. In Direilos humanos: conquistas e desafios. VV.AA., Conselho Federal da OAB, p. 33.

244. Os Pactos Intemacionais sabre Direitas Civis e Polfticos e sabre Direitos Economicos, Sociais e Culturais foram promulgados rio Brasil pele Decreta n. 591, de 6 dejulho de 1992.

245. Sabre a evolu~ao hist6rica dos direitos do homem, oa escatologia dos direitos de primeira Oiberdades individuais), de segunda (direitas sociais), de terceira (direitos transindividuais) e de qua11a (direitos em face das manipular;:oes biol6gicas) geraltoes, v. 0 excelenteA era dos direitos de Norbelto Bobbio, trad. Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1992, passim.

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Luta permanente pela justi~a social

Em valias Conferencias Nacionais, a OAB consolidou seu com­promisso com a promo<;ao da justi<;a social, elevada a uma de suas finalidades explicitas. A justi<;a social difere das especies aristotelicas da justi<;a comutativa e da justi<;a distributiva, porque e dotada da fun<;ao de suplimir ou reduzir as desigua1dades sociais ou regionais (pressupostas) e promover a sociedade justa e solidaria. A Constitui­<;ao de 1988 elevou-a a objetivo fundamental da Republica (art. 32 ) e a princfpio reitor da atividade economica (art. 170). Cabe it OAB e aos advogados brasileiros contribufrem para essa grandiosa tarefa, na m~didade suas possibificlades:

Boa aplica~ao das leis e rapida administra~ao da justi~a

Outra finafidade polftico-institucional e a que toca mais proxi­mamente ao exercfcio profissional da advocacia: a luta pela boa ap1i­ca<;ao das leis e pela rapida administra<;ao da justi<;a. A aplicabilidade das leis da-se pOl' sua observancia espontanea pelos destinatarios ou pOl' apfica<;ao mediante 0 Poder Judiciario. Cabe it Ordem promover ambas, com todos os meios disponfveis.

E portanto legftima a atua<;ao da OAB na crftica e na busca de solu<;5es para a clisepor que pass a 0 Poder Iudici:irio e para as de­mandas crescentes por acesso it justi<,;a. Afinal, 0 advogado nao e apenas indispensave1 a administra<;ao dajusti<;a, mas 0 mediador ne­cessario entre 0 cidadao e 0 Estado-juiz.

Como diz Roberto Aguiar246, a crise do acesso it justi<;a so bene­

ficia os poderosos, porque a lentidao do Iudici:irio e a eficacia polici­al estao a seu favor e a habilidade bem paga dos advogados os garan­teo Para os poderosos, crise seria agilizar os procedimentos e os fun­damentos para garantir direitos aos despossufdos.

246. A crise da advocacia no Brasil, Sao Paulo: Alfa-Omega, 1991, p. 19.

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NATUREZA E TIPOS DE 6RGAOS OA OAB. A QUESTAO OA PERSONALlOAOE JURIOICA

o Estatuto considera orgaos da OAB 0 Conselho Federal, os ConseJhos Seccionais, as Subse~6es e as Caixas de Assistencia. A novidade fica por conta da inclusao das Caixas de Assistencia, cujos comentlilios teceremos mais adiante.

Com rela~ao ao anterior Estatuto, excluiu-se a Assembleia Ge­ral dos Advogados. Esse orgao fonnal nunca funcionou na pratica, pela impossibilidade ffsica de reunir em um mesmo espa~o, com resultados viaveis, todos os advogados inscritos nas Secc;6es me­dias ou grandes, e ate mesmo em muitas Subse~6es. Imagine-se a inviabilidade fatica de reunirem-se dezenas e ate centenas de mi­lhares de profissionais para discutirem ou aprovarem contas ou de­liberarem sobre materias excepcionais! Preferiu-se a instituciona­lizac,;ao das Conferencias nacionais ou estaduais de advogados, cuja experiencia resultou animadora. Quanto as elei~6es, adotou-se 0

sistema eleitoral comum, com 0 direito de voto direto assegurado a todos os advogados inscritos, sem necessidade de instalac,;ao de as­sembleia.

A teoria organicista da pessoa jurfdica, que forte influencia exer­cen sobre 0 direito brasileiro, especialmente pela autolidade das obras de Pontes de Miranda247

, concebe os orgaos (segundo 0 paradigma biologico) como partes integrantes do todo (a pessoa juridical. As­sim, selia inconcebfvel pessoajurfdica sem orgao ou orgao sem pes­soa juridica. Otto von Gierke, 0 mais conhecido dos fonnuladores da teoria, no direito alemao, construin 0 conceito de organismo abstra­indo-o originariamente do ente vivo, colocando "a existencia do or­ganismo total, do qual 0 homem constitni. uma parte, por cima do organismo individual"248.

247. Ver, especialmente, Tratado de direilO pn"vado, Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, t. 1, p. 381 e s.

248. La naturaleza de las asociaciones hwnanas, trad. J. M. Navarro de Palencia., Madrid: Soc. Es., p. 73.

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DecOlTe dessa teoria que a pessoa jurfdica manifesta-se mediante seus orgaos. Dai estes nao representarem, com significado de atuar no lugar e em nome de outra pessoa, mas de presentarem a propria pessoa. Metaforicamente, a mao que assina 0 ato nao representa a pessoa, mas e a proplia pessoa. A diretOlia que celebra contrato nao representa a pessoa, pOl'que e esta que atua mediante 0 ato daquela. Contudo, ate mesmo pelo fato do uso corrente, nunca se chegon a uma univocidade de seu conteudo. No direito administrativo, por exemplo, os autores sempre utilizaram 0 termo 6rgaos com variados significados, af incluindo as pessoas jurfdicas. Como exemplo de ambigliidade, note-seque a Constitui~ao considera orgaos do Pcider Iudiciario (que nao € pessoa juridical os tiibunais federai"s e estadu­ais, embora entre eles nao haja vfncnlos de subordinac,;ao.

Ve-se que nao e nesse sentido estrito (de patte da pessoajuridi­cal que 0 Estatuto define os orgaos da OAB, mas segundo 0 modelo do federaJismo, ou seja, um centro unificador, dividido em paltes autonomas dotadas de competencias proplias e privativas. Com ex­cec,;ao da Subsec,;ao, atribuiu aos demais orgaos capacidade jurfdica, ou seja, personalidade jurfdica propria, delimitada pelo sistema de vfnculos e competencias que instituiu.

o que importa, hoje, e muito mais definir se se encontra diante de um plexo de capacidades (direito das pessoas) ou de competencias (direito administrativo), e se tal plexo pode constituir um ente com graus de autonomia. 0 exemplo maximo de autonomia e a pessoa jurfdica. Mas nao apenas ela e dotada de capacidade; outros entes nao personificados a tem, como por exemplo 0 condomfnio de ediff­cio, a heranc,;a jacente, a maSsa falita.

Dentro de suas comperencias especfficas, 0 Conselho Federal tem jurisdic,;ao em todo 0 Pafs, os Conselhos Seccionais e as Caixas sobre 0 territorio das respectivas unidades federativas, a Subsec,;ao (a menor nnidade estrntural da OAB) sobre a area telTitorial a ela deli­mitada pelo Conselho Seccional (municfpio, parte de municfpio, va­rios municfpios). No ambito da competencia especffica, um orgiio nao pode sofrer interferencia do OutIO, salvo no caso de intervenc,;iio parcial ou total. 0 alt. 44 do Estatuto diz que essa peculiar organiza­c,;ao e federativa, sendo que as unidades federadas tiveram suas com-

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autarquia (note-se: equiparar nao e auibuir natureza), estendendo-Ihe o beneficio da imunidade, previsto no § 22 do mi. ISO da Constitui­<;:ao. A hipotese e verdadeiramente de imuuidade e nao de isengao.

A peculim' natnreza mista da OAB (entidade privada e publica) tambem se reflete na obriga<;:ao de publicidade de sens atos, que se da na imprensa oficial on, em falta desta, no Fornm. Ao contrario do Estatuto anterior, nem todos os atos necessitam de publicidade; ape­nas os conclusivos e terminativos que possam repercutir em direitos e obriga<;:oes de terceiros. Os de administra<;:ao interna ou rotineiros sao dispensados de publici dade.

CONTRIBUI<;OES OBRIGATORIAS

A OAB nao pmticipa de recursos or<;:ament8.1ios publicos. E mantida pelos proprios insclitos, mediante 0 pagamento de contli­bui<;:oes obrigat6rias, multas e pre<;:os de servi<;:os.

Essas contribui<;:oes nao tem natureza tributaria, inclusive e so­bretudo porque nao se destinam a compoI' a receita publica.

A Constitui<;:ao de 1988 nao revolucionou 0 tratamento da ma­teria, pois na~ atribuiu a entidade nao governamental 0 poder de fixm' e cobrar pm'a si mesma tributos. 0 carateI' de compulsoriedade das m1Uidades, dos pre<;:os de servi<;:os que sao prestados aos advogados e das multas no caso de san<;:ao disciplinm' nao convelie esses paga­mentos em u'ibutos. Por outro lado, nao integram a receita do Estado.

As contribui<;:oes anuais, os pre<;:os de servi<;:os e as multas fi­xados ou cobrados pda OAB nao tem, por conseqiiencia, a mesma natureza das contribnigoes sociais previstas no art. 149 da Consti­tui<;:ao. Estas estao inclufdas entre os instrumentos da Uniao "de sua atua<;:ao nas respectivas areas", tendo sido equiparadas a tribu­tos. Supoe, necessariamente, que componham a receita do Estado, no sentido amplo, mesmo quando haja interesse de categorias pro­fissionais ou economicas (previdencia, Sese, Senai etc.). Nao e 0 caso da OAB.

o Conselho Seccional e autonomo para fixar as anuidades e 0 modo de seu pagamento, cabendo ao Conselho Federal apenas

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modifica-Ias de oficio ou mediante representac;ao quando houver ile­galidade ou abusividade (art. 54, VIII, do Estatuto).

o valor e 0 modo de pagamento das contribui<;:oes anuais sao fixados pelo Conselho Seccional do inscrito. E a principal receita da OAB, que se destina it sna mannten<;:ao mas tambem se reverte em beneflcio do proprio inscrito, porqne metade da recei­ta Ifquida deve ser transferida para a Caixa de Assistencia dos Advogados.

o Conselho Seccional pode revogar resolnc;ao da gestao ante­rior que fixou anuidade, devida pelos advogados, para 0 ano segninte, ante a necessidade de viabilizar financeiramente a administra<;:ao da entidade, inexistindo viola<;:ao a direito adquirid0249

As multas decorrem de sanc;oes disciplinares acessolias, em face de circunstancias agravantes, e sao fixadas na decisao condenat61ia.

Os prec;os de servic;os correspondem it remunerac;ao de ser­vi<;:os prestados pela OAB no interesse pessoal de qnem os ntiliza, e sao fixados previamente para cada tipo, a exemplo do forneci­mento de certidoes, cursos, reprografias, inscri<;:oes para Exame de Ordem.

Ao contr8.1io do qne ocorre com a Adminisu'a<;:ao Publica, a OAB nao segue 0 procedimento de fOlma<;:aO da dfvida ativa. Basta a celti­dao passada pela Diretoria para constituir titulo executivo extrajndicial. A celiiaao nao necessita da assinatura de todos cis diretores, mas ape­nas do Tesoureiro, salvo disposi<;:ao expressa no Regimento Interno do Conselho Seccional.

A cobranc;a e comnm (titnlo executivo extrajudicial), seguindo o rito processual proprio e nao 0 da execuc;ao fiscal. Decidiu a Pri­meira Se<;ao do STJ (EREsp 462.273, 2005) qne as cobranc;as das anuidades da OAB devem ser julgadas e processadas pela justic;a es­tadual, contrariando decisao da Primeira Turrna do tlibunal que con­cluiu pela competencia da Justic;a FederaL Fundamenton-se 0 tribu­nal no fato de que as contribui<;:oes obrigatorias na OAB nao rem

249. Processo n. 55/95 OE, DIU, 26 fev. 1996.

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principios estabelecidos no Estatuto, da advocacia em geral e dos advogados individualmente quando violados seus direitos e prelTo­gativas profissionais por qualquer pessoa ou autoridade. Essa regra nao abrange 0 presidente da Caixa de Assistencia.

A legitirnidade ad causam e tanto ativa quanto passiva.

Na defesa dos interesses da advocacia pode ingressar com qual­quer tipo de a<;:ao, na qualidade de presidente da OAB.

No caso de mandado de seguran<;:a coletivo (mt. 5Q, LXX, da

Constitui<;:ao), em virtude dessa peculiar legitirnidade que !he e ou­torgada por lei, nao ha necessidade de autoriza<;:ao expressa dos ad­

.. vogados inscritos.

o presidente pode intervir, a qualquer titulo, inclusive como assistente, em inqueritos policiais e adrninistrativos ou em processo civil ou penal, quando 0 advogado seja indiciado, acusado ou of end i­do. A interven<;:ao sera sempre neCeSSa11a quando a imputa<;:ao atribu­fda a advogado tiver rela<;:ao com sua atividade profissional.

A legitirnidade extrajudicial e expandida para atribuir ao presi­dente da OAB autoridade publica, com poder de requisi<;:ao de docu­mentos a qualquer 6rgao dos Poderes Legislativo, Judiciiirio e Execu­tivo, e a entidades daAdministra<;:ao indireta (autarquias, empresas pu­blicas e de econornia rnista), sempre que haja necessidade para defesa dos direitos e prelTogativas da profissao. Na ADln 1.127-8, 0 Supre­mo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade do art. 50, mas conferiu interpreta<;:ao confonne a Consti tui<;:ao no sentido de compre­ender a expressao "requisitar" como dependente de motiva<;:ao, compatibiliza<;:ao com as finalidades do Estatuto e atendimento dos custos da requisi<;:ao, ressalvados os documentos cobertos pelo sigilo.

A materia tambem estii regulada no Regulamento Geral. Quan­do 0 fato imputado a advogado decolTer do exercicio da profissao ou em razao desse exercicio, 0 presidente integra a defesa, como assis­tente, no processo ou no inquerito. Quando 0 ate configurm' abuso de autoridade, inclusive de magistrado, configurando-se atentado a ga­rantia legal de exercfcio profissional, cabe ao presidente promover a representa<;:ao contra 0 responsiivel, na fonna da Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965.

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CONSElHO FEDERAL DA OAB

CAPiTULO II

DO CONSELHO FEDERAL

Art. 51. 0 Conselho Federal compoe-se:

I - dos conselheiros federais, integrantes das delega­<;:oes de cada unidade federativa;

II - dos seus ex-presidentes, na qualidade de rnernbros honorarios vitallcios.

§ P Cada delega<;:ao e formada por tres conselheiros fe­derais.

§ 2" Os ex-presidentes tern direito apenas a voz nas sessoes.

Art. 52. Os presidentes dos Conselhos Seccionais, nas sessoes do Conselho Federal, tern lugar reservado junto a de­lega<;:ao respectiva e direito somente a voz.

Art. 53. 0 Conselho Federal tern sua estrutura e funcio­narnento definidos no Regularnento Geral da OAR

§ 1Q 0 Presidente, nas delibera<;:oes do Conselho, tern apenas 0 voto de qualidade.

§ 2" 0 voto e tornado por delega<;:ao, e nao pode s·er exer­cido nas rnaterias de interesse .da unidade que represente.

§ 3" Na elei<;:ao para a escolha da Diretoria do Conselho Federal, cada rnembro da de\ega<;:ao tera direito a 1 (urn) voto, vedado aos rnernbros hononirios vitalicios. (NR)

• § 39 acrescelltado pdo art. 19 da Lei 1l. 11.179, de 22 de setembro de 2005.

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COMENT ARIOS

COMPOSI<;:AO E ESTRUTURA DO CONSElHO FEDERAL

A composi<;ao basica do Conselho Federal corresponde a tres vezes 0 numero de unidades federativas (Estados-membros, Distrito Federal e Territolios) e mais 0 presidente nacional. Apos a Constitui­<;ao de 1988, 0 Conselho Federal passou a contar com 81 conselhei­ros, alem do presidente.

A delega<;ao de cada unidade federativa e integrada portres con-. selheiros federais eleitos diretamente em conjunto coth oConselho ' Seccional, cumprindo mandato de tres anos. Ver os comentarios aos arts. 63 a 67. 0 Estatuto preve a possibilidade de serem eleitos su­plentes de conselheiros federais de cada deJega<;ao. Os suplentes tem direito ao exercfcio do mandato no caso de afastamento, temporario ou definitivo, do titular, observada a precedencia definida pelo Con­selho Federal, cuja competencia e plivativa, nessa materia, ou seja, nao pode 0 Conselho Seccional exerCe-Ia253.

Tambem integram 0 Conselho Federal seus ex-presidentes, com poder de voto equivalente ao de cada delega<;ao, exceto para os que foram empossados apos 0 infcio de vigencia do Estatuto. Estes ulti­mos comp6em 0 Conselho, mas sem direito a voto. Todos assumem a qualidade de membros hononhios vitalicios, nao apenas como ho­menagem da cJasse aos seus dirigentes maximos, mas porque a his­t6lia da OAB demonstrou que e imprescindfvel sua palavra de expe­riencia para tomada de posi<;ao da entidade, sobretudo em materia institucional. 0 voto, contudo, e assegurado apenas as delega<;6es,

- em face do princfpio da igualdade federativa da OAB. As express6es "membro honorario vitalfcio", contidas na lei, indicam qualidade e na~ denomina<;ao. Os ex-presidentes sao conselheiros ou, se se qui­ser assim den'omina-Ios, conselheiros vitalfcios.

o direito de voz foi tambem assegurado aos presidentes dos Conselhos Seccionais, quando se fizerem presentes as sess6es do Conselho Federal, mantido 0 voto da respectiva delega<;ao.

253. Conselho Plena do Conselho Federal. Processo n, 4.285/97/COP.

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Ao contrario do antelior, 0 Estatuto nao regulamenta a estrutura e funcionamento do Conselho, ou seja, sua divisao em Camaras, Co­miss6es, a compet€ncia desses orgaos internos, da diretOlia em con­junto e dos diretores individualmente. Essa materia, antes distlibufda entre 0 Estatuto e 0 Regimento Interno, passou para 0 Regulamento Geral editado pelo Conselho Federal.

o Regulamento Geral fixou a estrutura do Conselho Federal mediante os seguintes orgaos: Conselho Pleno, Orgao Especial, Pli­meira, Segunda e Terceira Camaras, Diretolia e presidente, definindo suas competencias especfficas. De modo geral, coube ao Conselho

Pleno" integrado por todos os conselheiros federais, deliberar sobre as materias de carater institucional, 0 ajuizanlento de a<;5es coletivas, a fixa<;ao de diretlizes para a c1asse, a tomada de posi<;ffo em nome dos advogados brasileiros, a aprova<;ao de textos nOimativos. 0 Or­gao Especial e a ultima instancia recursal e de consulta. As Camaras apreciam recursos de acordo com as materias em que foram distlibu­fdas. A diretolia delibera sobre certas materias executivas e de admi­nistra<;ao que ultrapassam a competencia especffica de cada diretor.

VOTO E "QUORUM"

o voto e por delega<;ao e nao individual. Em caso de divergen­cia entre os membros da delega<;ao prevalece 0 voto da maioria; es­tando presentes apenas dois membros e havendo divergencia, 0 voto e invalidado.

,,/ 0 presidente exerce apenas 0 voto unipessoal de qualidade, por­que nao integra qualquer delega<;ao; e presidente nacional, desligan­do-se de sua origem federativa. as demais diretores (vice-presidente, secretalio-geraJ, secretalio-geral adjunto e tesoureiro) votam em con~ junto com suas delega<;6es.

Alem do voto de quaJidade, 0 presidente e legitimado para um especial recurso: 0 de embargar a decisao, quando nao for unanime, obligando 0 Conselho a reapreciar a materia, em outra sessao.

o Conselho Federal, em todos os seus orgaos, delibera com a presen<;a da maiolia absoluta das delega<;5es (metade mais uma), re­tomando-se 0 princfpio comum. Nao se incluem no computo do

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gem e denegrida e defOlmada em novelas de televisao, porque a obra de fic<;:ao e 0 direito de critica estao assegurados na Constitui<;:ao. Em caso de of ens a individual, 0 atingido proceded. de acordo com a le­gisla<;:ao vigente254

Representa~ao internacional

IV - A representa<;:ao dos advogados brasileiros em eventos internacionais ou no exteJior e exclusiva do Conselho Federal. Nao podem os Conselhos Seccionais ou outras entidades de advogados representar 0 conjunto dos advogados brasileiros, salvo se forem credenciadospelo Conselho Federal.

A associa<;:ao da OAB e apenas possfvel a organiza<;:ao interna­cional que congregue entidades nacionais de advogados, podendo apenas patticipar de eventos ou entidades internacionais que abran­jam outras profissoes jurfdicas255 •

Diversas entidades internacionais congregam advogados. Ex­cluindo-se as que se voltam para detelminadas especializa<;:oes, po­dem ser refelidas: a UIA -. Uniao Internacional dos Advogados (Union International des Avocats), com sede em PaJis, fundada em 1924, constitufda de membros individuais e coletivos, sendo 159 co­tegios e ordens de advogados, inclusive a OAB; FIAIIABA - Fede­ra<;:ao Interamericana de Advogados, com sede em Washington, com­posta de membros individuais e coletivos, inclusive a OAB.

Legisla~ao regulamentarecomplementar do Estatuto

V - 0 Estatuto nao esgota todas as materias relativas 11 OAB e aos advogados. 0 legislador optou por uma lei concisa, cuidando exclusivamente dos temas contidos no que se considera reserva legal. Tudo 0 mais que tenha natureza regulamentar, e nao envolva cria"ao,

254. Processo n. 3.559/91/CP, Ementario 1990/1992, p. 34. 255. Nesse sentido decidiu 0 Conselho Pleno da OAB, no Processo n. 3.616/911

CP, Ementario 1990/1992, p. 35.

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modifica<;:ao ou extin<;:ao de direitos e obriga<;:oes, foi remetido a complementa<;:ao nOlmativado Regulamento Geral, do Cadigo de Etica e Disciplina e dos Provimentos, todos editados pelo Conselho Federal, por for<;:a de delega<;:ao da lei.

o Regulamento Geral e 0 diploma abrangente dos procedimen­tos, estrutura organizacional e atribui<;:oes dos argaos internos, e de todas as materias que sejam suscetfveis as mudan<;:as do tempo e das necessidades que se impuserem. Os Provimentos cui dam de temas especfficos que podem ser destacados do Regulamento Geral. Sobre o Cadigo de Etica e Disciplina remetemos 0 leitor aos comentiirios ao capftulo da etica do advogado. Essas nOlmas sao cogentes e obli­gam a todos os argaos e irtscritos da OAB ..

Sobre a legitimidade da OAB em editar 0 Regulamento Geral, ver os comentarios ao art. 78.

Interven~ao parcial

VI - 0 Conselho Federal pode adotar as medidas preventivas e corretivas que julgar necessarias para assegurar 0 funcionamento dos Conselhos Seccionais. E urn modo parcial e localizado de interven­<,;ao, sem os ligores da interven<;:ao completa, pOl'que nao implica 0

afastamento de seus dirigentes. Se as medidas que adotar forem descumpridas, a interven<;:ao

sera efetivadaintegralmente. Essas providencias podem ser minimas e pouco traumaticas, como na hipatese de envio de observadores ou auditores. Cabe aos Conselhos Seccionais prestat· toda a colabora<;:ao

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Interven~ao completa

VII - A interven<;:ao completa dar-se-a nos casos de extrema gravidade, quando OCOlTerem claras e flagrantes viola<;:oes ao Estatu­to e a legisla<;:ao regulamentar, ou quando as determina<;:oes do Con­selho Federal forem sistematicamente descumpridas ou desafiadas, ou ainda quando a entidade local esteja em situa<,;ao de grave perigo para a institui<;:ao.

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o Regulamento Geral fixa a obrigatoriedade de aprovac;ao do orc;amento anual, que deve servir de regulac;ao das receitas e das des­pesas. Cabe 11 Terceira Camara do Conselbo Federal fixar os modelos e os criterios para os orc;amentos, balanc;os e contas de sua diretoria e dos Conselhos Seccionais. Estes, pOl' sua vez, fixa-os para as Subsec;6es e as Caixas de Assistencia.

Listas sextuplas

XIII - A elaborac;ao de listas sextuplas para composic;ao dos tribunais competeao Conselho Federal qUaJldoa corte tiver abrangencia nacional ou interestadual2S6, ou seja, 0 Superior Tribunal de Justic;a, 0 Tribunal Superior do Trabalho e os tribunais federais, quando estes tiverem competencia territorial que abranja mais de um estado. Para os tribunais estaduais, a competencia e do Conselho Seccional respectivo.

Apenas podem concOlTer advogados que estejam em efetiva ali­vidade de advocacia (art. 94 da Constituic;ao) hi mais de dez anos ininterruptos e imediatamente antetiores 11 data do requerimento. Ha dificuldade em caractetizar tal atividade, mas nao basta a regularida­de da inscric;ao na OAB, porque nao se confunde com atividade po­tencial. 0 objetivo da Constituic;ao e integral' os tribunais com a efe­tiva experiencia profissional do advogado2S7. Incumbe ao candidato provar com documentos e certid6es que exerceu atividades privativas de advocacia nos ultimos dez anos, assim consideradas no art. 1 Q do

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2~6. 0 STJ decidiu que nos tribunais regionajs eleitorais nao existem as quintos nem sao eles compostos por membros do Ministerio Publico, porque as advogados sao indieados pelo Tribunal de Justi,a e nao pela OAB (RMS 898-0-MT, RT, 692: 163).

257. 0 Supremo Tribunal Federal, sob a egide da Constituic;:ao anterior, ja naD considerava como exercfcio efetivo da profissao apenas a inscrigao na OAB, como seveno MS 20.702-7-DF, DJU, 6 nov. 1987,RTJ, 123:39.Apesar de haver deeis5es contradit6rias no proprio STF, no RE 94.979-8-RJ (Jurisprudencia Brasileira. 123:80),0 relator Min. Firmino Paz fez a distin<;ao entre: a) inscric;ao na OAB; e b) o exercfcio da advocacia, dizendo: "Sao fates distintos. Nae significa que, inscrito, advogue. Pode-se ser inscrite e nae exercer a profissao de advogado".

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Estatuto (cinco atos privativos por ano, a saber, cinco pe<;as profissi­onais judiciais, subscritas pelo candidato, ou pareceres por e1e profe­ridos na rea1iza<;;ao de consultoria jl11idica, ou prova de exercfcio de atividades de assessoria ou de direc;ao jurfdicas. Para as duas ultimas devem ser provadas a re1ac;ao de emprego com tais finalidades, ou 0

contrato de prestac;ao de servic;os ou celtidao de nomeac;ao e exerci­cio do cargo publico equivalente). Nao pode ser considerado efetiva atividade profissiOl1ai 0 perfodo de desempenho de fun<;;ao que gere incompatibilidade temporiiria, pOl'que ha licenciamento compulso­rio, com suspensao dos efeitos da insctic;ao (alt. 12, II, do Estatnto). Mas a ocolTencia de impedimenta (alt. 30, I, do Estatuto) nao evita a participac;ao naiista sextupla~ conforn1edeCidiu 6CbhseJh6Federal' da OAB (Proc. n. 5.604/2001lPCA-AL), no caso de Procurador de

Estado. A comprovac;ao dos requisitos deve ser feita com a inscli,ao. A

satisfac;ao deles na fase recursal atenta contra 0 principio da igualda­de, porque nao e admitida para interessado que nao se inscreveu por nao comprovi-Ios a tempo (Conselho Federal Pleno, Proc. n. 00031 2002/COP-TO). Ressalve-se, evidentemente, 0 que a legislac;ao pro­cessual considera prova nova, cabive1 em recurso.

o Estatuto veda a inc1usao de conselheiros ou de membros de qualquer orgao da OAB (art. 54, XIII). Sao incompativeis a fun<;;aa de ju1gar ou de escolber com 0 interesse de ju1gado ou esco1hido. A regra tem fundamento etico, no sentido de se evitar 0 conflito de interesses e 0 trafico de influellcia. 0 Provimento n. 102/2004 exc1ui a possibilidade de 0 membro de orgao da OAB concorrer se renun­ciar antes it func;ao, como pennitia 0 Provimento n. 80/1996. 0 impe­dimento e definitivo desde 0 inicio do mandata e durante 0 trienio, ainda que se tenha encerrado antes por renuncia. A regra nao se diri­ge apenas aos membros do Conselho que elabora a 1ista, mas aoS de qualquer outro ol'gao da OAB. Assim, pal'a a lista de desembargador pel'derao os Cal'gos, se concorrerem, 0 conselheiro seccional, 0 con­selheiro federal, 0 diretor ou membro de Conse1ho de Subsec;ao ou 0

dil'etor de Caixa de Assistencia. Atualmente, a materia esta regulada no Pravimento n. 1021

2004, que estabelece os criterios e procedimentos para e1aborac;ao

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tambem e 1egitimada a impetrar mandado de seguran<;:a individnal, em sen proprio nome, para a defesa dos interesses co1etivos e indivi­dnais dos advogados (inciso II).

o mandado de injun<;;ao e outro poderoso instrumento de efetividade das garantias individuais e co1etivas, especialmente da cidadania, previsto no art. 5Q

, LXXI, da Constitui<;;ao, que a OAB pode utilizar. Infelizmente, a orienta<;;ao majoritaria do Supremo Tri­bunal Federal, frustrando as expectativas da comunidade juridica, inutilizou 0 alcance dessa a<;;ao constitucional, na medida em que lhe atribuiu apenas eficacia dec1aratoria da mora legislativa. A ten­dencia, no entanto, e de prevalecer a orienta<;;aono sentido de, cOllS­tatada a mora 1egislativa, tutelar-se jurisdicionabnente 0 direito sub­jetivo previsto na Constitui<;;ao e dependente de regnlamenta<;;ao, ado­tando-se os principios existentes no proprio sistema juridico.

Cursos juridicos. Autoriza~ao, reconhecimento e eleva~ao da qualidade

XV - Reconbecendo a legitimidade da OAB para manifestar­se sobre a forma<;;ao do profissional do direito, porque ela e qnem mais sofre as conseqiiencias do man ensino, a lei atribuiu-Ihe a com­petencia para opinar previamente nos pedidos de cria<;;ao, reconheci­mento ou credenciamento dos cursos juridicos. Assim, antes da de­cisao da autoridade educacional competente (Omselho Nacional e Estadual de Educa<;;ao, MEC e Secretarias Estaduais de Educa<;;ao), cabera ao Conselho Federal da OAB emitir parecer pJjvio. A materia atualmente esta regulada pelo Decreto n. 5.773, de lOde maio de 2006.

A prolifera<;;ao descriteriosa de curses jmidicos, sem as mini­mas condi<;;oes de qualidade, tem contribuido para a preocupante queda

henneneuticos, 0 Estatuto passou a atribuir legalmente tallegitimidade. Como bern argumenta 0 parecerista, a "DAB tern legitimidade para impetrar mandado de seguram;a coletivo, em defesa de direitos individuais de" sellS flliados, mesrno quando flaD guardem rela~ao ill1ediata com as interesses profissionais Oll de classe dos advogados" .

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do nivel profissional dos advogados. Em face disso, 0 Conselho Fe­deral da OAB cliou a Comissao de Ensino Juridico - e estimulou identica iniciativa nos Conselhos Seccionais -, que passou a exer­cer as atribui<;;oes que foram cometidas em lei ao Conselho (mt. 83 do Regulamento Geral), mediante estudos, promo<;;ao de eventos, pesquisas e apresenta<;;ao de propostas concretas voltadas a eleva<;;ao da qualidade do ensino juridico, ou melhoI', da educa<;;ao juridica em geral, que envolve a pesquisa e a extensao. Tambem passou a emitir pareceres previos nos pedidos de autOliza<;;ao de novos cursos juridi­cos e de seus posteriores reconhecimentos.

Esseesfo.f<;;o, mqbiIizapdop_s.especi.alistasno en sino do direito do Pais, I'esultou na edi<;;ao da Portaria-MEC n. 1.886/94, que fixon as diretrizes cuniculares e 0 conteudo minimo dos cnrsos juridicos, vigorantes a pmtir de 1997, e que podem ser assim sumatiadas: cm-ga hm-aria minima de 3.300 hm-as; I'ealiza<;;ao em tempo minimo de 5 anos letivos; padrao de qnalidade identico entre os cursos diurnos e noturnos, nao podendo estes ultrapassm- 4 horas diarias de atividades didaticas; interliga<;;ao obrigatoria do ensino com a pesquisa e a ex­tensao; atendimento as necessidades de fonna<;;ao fnndamental, so­cio-politica, recnico-juridica e pnitica do bacharel em direito; desen­vol vimento de atividades comp1ementm'es, alem das disciplinas em que se desdobrar cada curso, inc1uindo pesquisa, extensao, patticipa­<;;ao em eventos culturais e cientificos, disciplinas nao curricnlares; acel-VO bibliografico atualizado de no minima 10.000 volumes de obras jUlidicas e de peliodicos de jurisprudencia, doutrina e legisla~ao; fle­xibilidade do curso para ministrat· materias relativas a novos direitos e ado<;;ao de interdisciplinaridade; possibilidade, a pattiI' do quarto ano, de oferta de areas profissionalizantes; obrigatoriedade de monografia final do curso, defendida perante banca examinadora; estagio de pratica juridica obrigatorio, com no minimo 300 horas, desenvolvendo exc1usivamente atividades praticas.

Para qne urn curso jurfdico possa conferir diplomas a seus gra­dnados, exige-se primeiro que esteja autmizado e, depois, que seja reconhecido, tanto com rela<;;iio as universidades quanto em rela<;;ao as demais institui<;;oes de educa<;;ao superior. Os projetos devem de­monstrar a necessidade social do curso, os estudos de viabilidade e a qualidade do projeto pedagogico.

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CONSELHO SECCIONAL

CAPITULO III

DO CONSELHO SECCIONAL

Art. 56. 0 Conselho Seccional compoe-se de conselhei­ros em numero proporcional ao de seus inscritos, segundo criterios estabelecidos no Regulamento Geral.

§ 1" Sao membros honorarios vitalicios os seus ex-presi­dentes, somente com direito a voz em suas sessoes.

§ 2" 0 Presidente do Instituto dos Advogados local e membro honorario, somente com direito a voz nas sessoes do Conselho.

§ 3" Quando presentes as sessoes do Conselho Seccional, o Presidente do Conselho Federal, os Conselheiros Federais integrantes da respectiva delega~ao, 0 Presidente da Caixa de Assistencia dos Advogados eos Presidentes das Subse~oes, tern direito a voz.

Art. 57. 0 Conselho Seccional exerce e observa, no res­pectivo territorio, as competencias, veda~oes e fun\;oes atri­buidas ao Conselho Federal, no que couber e no ambito de sua competencia material e territorial, e as normas gerais estabelecidas nesta lei, no Regulamento Geral, no Codigo de Etica e Disciplina, enos Pl"Ovimentos.

Art. 58. Compete privativamente ao Conselho Seccional:

I - editar seu Regimento Interno e Resolu~oes;

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II - criar as Subse\;oes e a Caixa de Assistencia dos Advogados;

III - julgar, em grau de recurso, as questoes decididas por seu Presidente, por sua diretoria, pelo Tribunal de Etica e Disciplina, pelas Diretorias das Subse"oes e da Caixa de As­sistencia dos Advogados;

IV - fiscalizar a aplica"ao da receita, apreciar 0 relato­rio anual e deliberar sobre 0 balan\;o e as contas de sua dire­toria, das diretorias das Subse\;oes e da Caixa de Assistencia dos Advogados;

V - fixar a tabela de honorarios, valida pam todo 0

territorio estadual;

VI - realizar 0 Exanie de Ordem;

VII - decidir os pedidos de inscri\;ao nos quadros de advogados e estagiarios;

VIII - manter cadastro de seus inscritos;

IX - fixar, alterar e receber contribui\;oes obrigatorias, pre\;os de servi\;os e multas;

X - participar da elabora\;ao dos concursos publicos, em todas as suas fases, nos casos previstos na Constitui~ao e nas leis, no ambito do seu territorio;

XI _.' determinar, com excIusividade, criterios. para 0

traje dos advogados, no exercicio profissional;

XII - aprovar e modificar seu or\;amento anual;

XUI - definir a composi"ao e 0 funcionamento do Tri­bunal de Etica e Disciplina, e escolher seus membros;

XIV - eleger as Iistas, constitucionalmente previstas, para preenchimento dos cargos nos tribunais judiciarios, no ambito de sua competencia e na forma do Provimento do Conselho Federal, vedada a incIusao de membros do proprio Conselho e de qualquer orgao da OAB;

XV - intervir nas Subse\;oes e na Caixa de Assistencia dos Advogados;

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aquelas que sao privativas daquele. Sobre a materia remetemos 0 lei­tor aos comentanos ao art. 54, com indica<;ao dos incisos aplicaveis ao Conselho Seccional ("Competencias do Conselho Federal"). Sao competencias comuns, observada a supremacia do Conselho Federal.

Decidiu a Terceira Camara do CF/OAB (Proc. n. 0004120031 TCA-MS) que a apura<;ao de fatos pertinentes a obras realizadas pelo Conselho Seccional e da competencia deste, ainda que pmte da verba a ela destinada tenha pm·ticipa<;ao do Conselho Federal.

o Conselho Seccional representa, inclusive judicialmente, a coletividade dos advogados nela inscritos. Nesse sentido, 0 TRF da Quarta Regiao(MAS 2002.70:00:014508-6IPR) assegurou'a legiti­midade da OAB-PR como representante de todos seus inscritos em a<;ao judicial que discutia a cobran<;a do imposto sobre servi<;os (ISS) pelo Municipio de Curitiba.

Alem das competencias comuns, 0 Estatuto confere ao Conse­Iho Seccional competencias privativas, que nao podem ser exercidas pelo Conselho Federal diretmnente. Passaremos a comenta-las, se­guindo a ordem do Estatuto.

Regimento interno e resoluc;oes

I - Cabe ao Conselho Seccional editar seu regimento interno e resolu<;5es gerais e especificas, segundo 0 modele dos Provimentos. o regimento interno nao precis a ser submetido ao Conselho Federal, porque este disp6e de instrumentos inibitarios e invalidantes, se ul­trapassar a competencia do Conselho ou violar 0 Estatuto e legis la­<;ao regulamentar, inclusive cassa<;ao e interven<;ao. Quanto maior 0

grau de autonornia, maior 0 da auto-responsabilidade.

Como ja decidiu 0 Conselho FederaJ26" "de offcio ou a pedido, compete ao Conselho modificar ou cancelar dispositivo de Regimen­to de Conselho Seccional, que colida com 0 Estatuto, 0 Regulmnento Geral, 0 Cadigo de Etica ou Provimento".

262. Processo n. 1.864/95fTC, DiU, 27 jun. 1995.

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POl' tais raz5es nao ha liberdade total de conteudo, porque sao observados os limites de sua competencia e as diretrizes legais. N a duvida, 0 Regulamento Geral e sempre um parametro seguro. Deci­diu 0 Conselho Federal que 0 Regimento Interno da Seccional nao pode delegar a outr~ argao ate privativo do Presidente daquela263 .

Criac;ao de Subsec;oes e Caixa de Assistencia

II - Compete ao Conselho Seccional criar as Subse<;5es que julgm' necessarias, observados os criterios estabelecidos no Estatuto eno Regulamento Geral, definindo suas areasterritoriais e os limites de sua autonomia. A cria<;ao nao depende mais do referendo do Con­selho Federal.

Da mesma forma, com a revoga<;ao do Decreto-Lei n. 4.583, de 11 de agosto de 1942, a cria<;ao da Caixa de Assistencia nao depende mais de aprova<;ao do Conselho Federal, bastando que 0 seu Estatuto seja aprovado pelo Conselho Seccional, que tambem e 0 orgao pro­prio para registro, attibuindo-Ihe personalidade jurfdica. Os procedi­mentos, que tambem envolvem as aJtera<;5es do ate coustitutivo, sao estabelecidos pelo Regulamento Geral.

Recursos

III - 0 Conselho Seccional e instancia recursal em face das decis5es de todos os argaos da OAB a ele vinculados: Tribunal de Etica, sell presidente, sua diretoria, diretOlias das Subse<;5es e da Caixa de Assistencia.-

Nenhum recursd pode ser encarninhado diretamente ao Conse­Iho Federal sem decisao do Conselho Seccional. Mesmo quando a Subse<;ao conte com Conselho, este nao pode rever os atos de sua diretoria, como comentaremos adiante. Sobre a sistematica dos re­cursos remetemos 0 leitor aos comentarios ao art. 76.

263. Processo n. 001812003/TCA-RS.

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tica anterior, prevendo duas fases: a primeira, de instru<;ao, e a segun­da, de julgamento. 0 pedido de inscli<;ao ten\. infcio na Subse<;ao, onde seja domiciliado 0 interessado, desde que conte com Conselho (art. 61, panigrafo unico), que 0 instruira e emitira parecer previo (aprovado em sessao), submetendo-o ii decisao final do Conselho Seccional.

Quando nao houver Subse<;ao 0 pedido sera instruido pela Secre­talia do Conselho Seccional e distlibuido a relator ou comissao, que 0

submetera a sessao da Camara competente ou do Pleno do Conselho, na forma de seu regimento intemo. Nao ha l1ecessidade de analise pre­via de comissao de sele<;ao e prerrogativas, porque deixoude,ser obli­gatoria, salvo se 0 regimento intemo do Conselho a mal1tiver.

A instru<;ao-l~ relativa a comprova<;ao e amHise dos requisitos de inscri<;ao, para 0 que remetemos 0 leitor aos comentarios aos arts. 8Q

(advogado) e 9Q (estagiario).

Cadastro de inscritos

VllI - Cabe ao Conselho Seccional manter cadastro de seus il1scritos, na forma e condi<;5es estabelecidas em seu regimento inter­no, que definini 0 diretorresponsavel. 0 cadastro envolve os assenta­mentos necessarios de identidade do insclito, de altera<;5es e registro de infra<;5es disciplil1ares, 0 arquivo dos documentos e procesSo de il1scri<;ao, e 0 nome da sociedade de advogados de que fa<;a pmte 0 inscrito.

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Diante da tecnologia da informatica, todos os assentamentos podem ser processados em computador e, se for 0 casc" microfilmados os processos findos destinados a incinera<;ao. 0 cadastro nacional dos insclitos e organizado pelo Conselho Federal, com os dados de assentamentos dos Conselhos Seccionais, pemtitindo facil acesso para as infohna<;6es. Obriga-se 0 presidente do Conselho Seccional a re­meter Ii secretalia do Conselho Federal 0 cadastro atualizado de seus inscdtos ate 0 dia 31 de mar<;o de cada ano. 0 Cadastro Nacional dos Advogados esta regulado no Provimento n. 9512000, cujas il1fotma­<;5es (nome, numero de inscri<;ao, endere<;o e telefone profissionais,

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endere<;o eletronico, regularidade da inscri<;ao) estao disponiveis a qualquer consulente, principalmente nas paginas da web do Conse­Iho Federal e do Conselho Seccional.

Todas as informa<;5es contidas no cadastro sao publicas, exceto as relativas as san<;5es de censura (m. 35, paragrafo unico), cujo acesso so e admissivel aos orgaos da OAB. Nao podem ser anotados nem infonnados os processos disciplinares em andamento ou em grau de recurso, as san<;5es de adveltencia e as que foram canceladas em virtude de reabilita<;ao, que tem arquivo a pme e mantido sob sigilo.

Contribuic;:oes obrigatorias

IX - A competencia para fixar e receber contribui<;5es obriga­torias, multas e pre<;os de servi<;os e do Conselho Seccional. As anui­dades devidas pelos advogados devem ser fixadas ate a ultima sessao ordinalia do ano anterior, salvo em ana eleitoral, quando serao fixa­das na primeira sessao apos a posse, podendo ser estabelecidas em cotas periodicas. Sobre a natureza e cm'acterfsticas dessas receitas, ver os comentarios ao mt. 46. 0 Conselho Federal, as Subse<;5es e a Caixa da Assistencia nao as recebem diretaJ.nente, mas mediante trans­ferencia do Conselho Seccional.

o percentual cabivel ao Conselho Federal e definido no Regu­lamento Geral. As trimsferencias para as Subse<;5es e a possivel competencia destas pm'a recebe-Ias diretamente sao definidas no or<;amento anual, no regimento interno do Conse1ho Seccional ou no ato de constitui<;ao de cada Subse<;ao. A parte da Caixa de Assis­tencia ja esta determinada no Estatuto (art. 62, § 5Q

), ou seja, a me­tade Jiquida das anuidades, consideradas as dedu<;5es previstas no art. 56 do Regulamento Gem!. Os gastos com cursos juridicos pelo Conselho Seccional nao podem ser superiores ao valor devido ao fundo cultural (Ementa n. 009/2003rrCA).

o Conselho Federal da OAB admitiu que a Seccional da OAB possa cobrar anuidade de seus advogados e estagiarios inscritos pro­porcional ao perfodo de inscri<;ao (Consulta n. 001712003/0EP-PE).

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com 0 de sua competencia, inclusive dos tribunais federais. Tambi=,m participa da composi<;:ao da !ista quando 0 tribunal tiver abrangencia interestadual, inc1uindo 0 telTitorio de sua competencia. Tambem compete aos Conselhos Seccionais a indicagao dos candidatos que integrarao as listas para os respectivos tribunais de justi<;:a desportiva. A materia esta disciplinada no Provimento n. 10212005 do Conselho Federal. Ver, tambem, os comentanos ao art. 54, XIII.

Intervent;;ao

xv -. 0 Conselho Seccional detem 0 poder dein~tervii'nas . Subse<;:6es e na Caixa de Assistencia, diante das mesmas hipoteses e condi<;:6es da interven<;:ao do Conselho Federal nos Conse1hos Seccionais, para cujos comentarios remetemos 0 leitor (art. 54, VII). Paraintervir nas Subse<;:6es e na Caixa de Assistencia exige-se quorum especial de dois tergos.

Observado 0 paradigma de interven<;:ao previsto no art. 54, VII, do Estatuto, 0 Regulamento Geral atribui ao Regimento Interno do Conselho Seccional competencia para reguhi-la, supletivamente.

DlRETORIA DO CONSELHO SECCIONAL

A diretoria do Conselho Seccional e equivalente it do Conselbo· Federal, a saber: presidente, vice-presidente, secretano-geral, secre­Ullio-geral adjunto e tesoureiro. Rouve mudan<;:a·das denomina<;:6es anteriores de 12 secretano e 22 secretfuio.

As atribui<;:6es de cada membro da diretoria, e da diretoria como orgao conjunto deliberativo e executivo, sao definidas no regirriento interno do Conselbo Seccional, guardando simetria com as da diretoria do Conselho Federal, estas detenninadas pelo Regulamento GeraL

A representa<;:ao ativa on passiva, em ju(zo ou fora dele, e indelegavelmente do presidente, que detem apenas 0 voto de quali­dade nas sess6es do Conselho, alem de poder interpor 0 espedfico recurso de embargo it decisao nao unanime, para que seja reapreciada a materia em sessao seguinte.

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SUBSE<;AD DA DAB

CAPiTULO IV

DA SUBSE<;AO

Art. 60. A Subsec;ao pode ser criada pelo Conselho Seccional, que fixa sua area territorial e seus limites de com­petencia e autonomia.

§ 12 A area territorial da Subsec;ao pode abranger urn ou mais municipios, ou parte de municipio, inclusive da capital do Estado, contando com urn minimo de quinze advogados, nela profissionalmente domiciliados.

§ 22 A Subsec;ao e administrada por uma diretoria, com atribuic;iies e composic;ao equivalentes as da diretoria do Con­selho Seccional.

§ 32 Ravendo mais de cern advogados, a Subsec;ao pode ser integrada, tambem, por urn Conselho em numero de mem­bros fixado pelo Conselho Seccional.

§ 42 Os quantitativos referidos nos paragrafos primeiro e terceiro deste artigo podem !fer ampliados, na forma do Regimento Interno do Conselho Seccional.

§ 52 Cabe ao Conselho Seccional fixar, em seu orc;amen­to, dotac;iies espedficas destinadas a manutenc;ao das Subsec;iies.

§ 62 0 Conselho Seccional, mediante 0 voto de dois ter­c;os de seus membros, pode intervir nas Subsec;iies, onde cons­tatar grave violac;ao desta lei ou do Regimento Interno da­quele.

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interessante e deve ser viabilizada, para descentralizar ao maximo as atividades executivas do Conselho Seccional, sem risco de perda da importancia simbolica de sua representatividade. Afinal, como vi­mos acima, e imenso 0 elenco de suas atribuic;6es de coordenac;ao, representac;ao da c1asse, instancia recursal, fOlIDulac;ao de diretlizes gerais e de atuac;ao institucional.

Nao pode haver conflito de atribuic;6es entre Subsec;ao e Conse­Iho Seccional, porque para este prevalece 0 principio da supremacia do todo sobre a parte. Qualquer eventual conflito entre as diretorias de ambos os orgaos sen! dirimido pelo Conselho Seccional, sem in­terferencia do COhSelho Federal, salvo como instiincia recursalregu­lar, ou entao quando a maioria dos conselheiros for direta ou indire­tamente interessada na decisao.

Os advogados residentes na area tenitorial de jurisdic;ao da Subsec;ao a ela se vinculam. 0 vinculo e de carater administrativo e decolTe da descentralizac;ao das atividades da OAB. Contndo, 0 do­micilio profissional conesponde a todo 0 temtorio da unidade fe­derativa, a saber, do Estado-membro, do Distrito Federal ou do Teni­torio Federa1'66, como determinam os arts. 10 do Estatuto e 117 do Regulamento Gera!.

DlRETORIA DA SUBSE<;:AO

A Subsec;ao e administrada pOl' uma diretoria que tem as mes­mas composic;6es e atribuic;6es da diretoria do Conselho Seccional, que pOl' sua vez guarda equivalencia com a do Conselho Federal, ou

. seja, de cinco membros. 0 Estatuto, contudo, nao se refere a equiva­lencia das denominac;6es, sendo razoavel que nao reproduza os ter­mos que causem confusao com os cargos da diretoria do Conselho Seccional. Sao estes os cargos: presidente, vice-presidente, secreta­lio, secretario adjunto e tesoureiro.

266. Assim esclareceu 0 Plena do Conselho Federal (DJU, 13 nov. 1995. Proc. n. 4.057/95).

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Ao presidente compete a representac;ao ativa ou passiva, judi­cial e extrajudicial, daSubseC;ao e dos advogados e estagiarios juris­dicionados. 0 Estatuto outorga-lhe expressamente a legitimidade pro­cessual no art. 49 (ver, acima, os comentarios a respeito).

COMPETENCIAS DA SUBSE<;:AO

As competencias da Subsec;ao Sao de duas ordens: a) competen­cias legais; b) competencias delegadas.

As competencias legais sao estabe1ecidas no Estatuto, COlTes­pondentes as competencias comuns dos Conselhos Federal e Seccional da OAB, e no Regulamento Geral (competencias legais especfficas). Compete as Subsec;6es, no ambito de seu temtorio, cumprir as finali­dades da OAB (ver os comentarios ao art. 44), velar pela indepen­dencia, dignidade e prenogativas da advocacia (ver os comentarios ao art. 54, ill) e representar a OAB perante os poderes constituidos

locais. As competencias delegadas sao as estabelecidas pelo Conselho

Seccional, no ato constitntivo da Subsec;ao, no regimento intemo do Conselho Seccional ou em resoluc;ao deste que as defina. A delega­c;ao de competenciae ato discricioniilio do Conselho Seccional e nao de sua diretoria, qne tambem poden! estabelecer prazo e suprimi-Io, quando julgar conveniente. A delegac;ao podera ser geral ou especffi­ca para detenninadas Subsec;6es. Uma hipotese razoavel e a de poder receber diretamente as contribuic,;6es obrigatorias dos advogados e

aplica-Ias na propria Subsec,;ao. /'

CONSElHO DA SUBSE<;:AO

o Estatuto abre a possibilidade de as Subsec,;6es maiores conta­rem com Conselho para distribuic,;ao de suas atividades. 0 requisito minimo e a existencia de pelo menos cem advogados com domicilio profissional na area de jurisdic,;ao da Subsec,;ao, salvo se 0 regimento. intemo doConselho Seccional exigir numero maior. Cabe ao Conse­Iho Seccional definir 0 numero de seus membros e as competencias

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§ 7~ 0 Conselho Seccional, mediante voto de dois ter­"OS de sens membros, pode intervir na Caixa da Assistencia dos Advogados, no caso de descumprimento de suas finali­dades, designando diretoria provisoria, enquanto durar a interven"ao.

COMENT ARIOS

ORIGEM E OBJETIVOS DA CAIXA DE ASSISTEI'.JCIA. DOSADVOGADOS

As Caixas de Assistencia dos Advogados tiveram origem legal com 0 Decreto-Lei n. 4.563, de II de agosto de 1942, que pennitia que as Sec;5es da OAB pudessem instituf-Ias por deliberac;ao das res­pectivas assembleias gerais, com aprovac;ao do Conselho Federal. Ravia previsao para uma diretoria de tres membros e tres suplentes e mais um Conselho Fiscal de tres membros, todos eleitos pelo Conse­lho Seccional. Nao havia clareza quanto a personalidade juridica das Caixas. 0 Decreto-Lei n. 4.563/42 conviveu com a Lei n. 4.215/63, que na~ 0 revogou.

o atual Estatuto revogou nao apenas 0 Decreto-Lei n. 4.563/42, mas toda a legislac;ao complementar, uma vez que cuidou inteira­mente das Caixas de Assistencia; elevando-as a condic;ao de orgaos da OAB (art. 45). As normas estatutarias procuram encen-ar conflitos e controversias que sempre emergiram entre ConseJho Seccional e Caixa, procurando redimensionar a natureza do vinculo entre ambas as entidades.

A Caixa e concebida COmo orgao assistencial e de seguridade da OAB, vinculada ao respectivo ConseJho Seccional. 0 vinculo esta assim constituido: a eleiC;ao da diretoria da Caixa e feita em conjunto com 0 Conselho na mesma chapa; 0 Conselho e 0 orgao que a cria; 0

Conselho tem poder de intervenc;ao e cassaC;ao; 0 Conselho destina metade Ifquida das anuidades para a manutenc;ao da Caixa; 0 Conse­Iho aprecia as contas da Caixa; 0 Conselho e a instancia recursal contra as decis5es da Caixa.

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A personalidade juridica da Caixa da-se com a aprovac;ao e re­gistro de seu estatuto pelo ConseJho Seccional, que detem competen­cia de registro, dispensado 0 registro civil de pessoas juridicas, como j a ocorria com as sociedades de advogados, durante a vigencia da Lei n. 4.215/63.

Para criaC;ao de Caixa, 0 Estatuto preve um requisito minimo de mil e quinhentos inscritos no Conselho Seccional (mt. 45, § 42).

o Estatuto nao mais especifica a assistencia e tipos de beneH­cios a serem prestados aos advogados pela Caixa, remetendo a mate­ria ao estatuto aprovado ou modificado pelo Conselho Seccional. Abre, no entanto, a possibilidade de atuar amplamente no campo da. seguridade complementar, em todas as snas dimens5es: saude, previ­dencia ~ assistencia social, nao so com seus recursos propdos mas com pIanos de saude e previdencia a que adiram os advogados, cons­tituindo fundo de pen sao estavel e seguro. Nao podera ser negado auxflio financeiro previsto pela Caixa (no caso, foi 0 auxflio-educa­C;ao), se 0 advogado estiver em debito com a Ordem, hipotese que deve ser analisada casu a cas0267

A Terceira Camara do CF/OAB decidiu que deve ser negado auxflio pecuniario a advogado que, suspenso do exercfcio profissio­nal em debito com a anuidade, requerer a Caixa auxflio mensal para pagamento desta e manter-se na fruiC;ao dos demais beneficios (Rec. n. 0233/2002ITCA-MG).

As Caixas de Assistencia tem autogovemo? Ou apenas exer­cem os atos que os Conselhos Seccionais deliberam? 0 autogovemo e conseqiiencia da autonomia inevitavel de quem e dotada de perso­naJidade juridica propria. Se as Caixas a tem, por forc;a de lei, entao os vinculos com 0 ConseJho Seccional sao estabelecidos com res­peito as suas competencias especificas. Da mesma forma como se da, no paradigma federalista, entre a Uniao e os Estados-membros. Embora haja coordenac;ao de atividades e competencias, nao ha su­bordinaC;ao ou hierarquia, 0 que ocorreria se a Caixa fosse um or­gao executivo desvestido de autonomia e personalidade juridica.

267. Cf. Processo n. 2.05812000rrCA-SP, DJ, 25 set. 2000.

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A Caixa goza de imunidade tributaria total em rela<;ao a seus bens, rendas e servi<;;os, conforme previsao expressa do § 5Q do art. 45 do Estatuto. 0 caput do art. 45 inc1ui entre os orgaos da OAB a Caixa. A Corte Especial do STJ (CC 36.557, 2003) decidiu que as Caixas de Assistencia, pOl' serem orgaos vinculados diretamente a OAB, prestam servi<;os publicos, devendo por is so tel' 0 mesmo tra­tamento jurfdico, particularmente quanto a competencia da Justi<;a Federal para julgar as a<;6es em que sejam interessadas. Argumen­tou 0 tribunal que 0 fato de 0 art. 45 do Estatuto dizer que as Caixas sao dotadas de personalidade j urfdica propria na~ subtrai a sua con­di«ao de orgao da OAB, assim como os sao osConselhos Seccionais, .

. que por igtial inchiem-se na competencia da Justi«a Federal. Antes, o STF ja tinha conferido imunidade tlibutru:ia as Caixas, cons ide­rando-as orgaos da OAB, constitufda da mesma natureza desta (RE 272.176-6).

A Caixa esta submetida a fiscaliza«ao dos Conselhos de Fanna­cia e de Medicina, bern como dos orgaos de saude publica, no que pertine ao exercicio do poder de policia desses orgaos, exclnsiva­mente no que disser respeito as atividades de saude e medicamentos por ela exercidas, e dos profissionais que empregue, nos limites da legisla«ao aplicavel.

Todos os atos conc1usivos e relevantes da Caixa, com efeitos em interesses de terceiros, devem ser publicados na imprensa oficial, na integra ou em resumo.

o Conselbo Seccional pode intervir na Caixa (arts. 58, XV, e 62, § 7Q, do Estatuto), em caso de descumprimento de suas finalida­des pela diretolia ou quando esta violar 0 i1statuto e legisla«ao regu­lamentar, nomeando-se diretoria .provisoria. Essa decisao depende de quorum especial de dois tewos (art. 108 do Regulamento Geral), assegurando-se a diretoria acusada amplo direito de defesa.

As Caixassao integradas par urn orgao coletivo de assessora­mento do Conselho Federal da OAB (Coordena«ao Nacional das Caixas) re1ativamente a polftica nacional de assistencia e seguridade.

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ElEIC;;OES E MANDATOS

CAPITVLoVI

DAS ELEI¢6ES E DOSMANDATOS .

Art. 63. A eleic;ao dos membros de todos os orgaos da OAB sera realizada na segunda quinzena do mes de novem­bro, do ultimo ano de mandato, mediante cedula unica e vo­tac;ao direta dos advogados regularmente inscritos.

§ 1 Q A eleic;ao, na forma e segundo os criterios e proce­dimentos estabelecidos no Regulamento Geral, e de compa­recimento obrigatorio para todos os advogados inscritos na OAB.

§ 2Q 0 candidato deve comprovar situac;ao regular junto II OAB, nao ocupar cargo exoneravel ad llutum, nao ter sido condenado por infrac;ao disciplinar, salvo reabilitac;ao, e exer­cer efetivamente a profissao ha mais de cinco anos.

Art. 64. Consideram-se eleitos os candidatos integrantes da chapa que obtiver a maio ria dos votos validos.

§ 12 A chapa para 0 Conselho Seccional deve ser com­posta dos candidatos ao Conselho e II sua Diretoria e, ainda, II delegac;ao do Conselho Federal e II Diretoria da Caixll de As- . sistencia dos Advogados, para eleic;ao conjunta.

§ 2Q A chapa para a Subsec;ao deve ser com posta com os candidatos a diretoria, e de seu Conselho quando houver.

Art. 65. 0 mandato em qualquer orgao da OAB e de tres anos, iniciando-se em primeiro de janeiro do ano seguinte ao da eleic;ao, salvo 0 Conselho Federal.

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caso da Subse«ao, a cedula sera complementada com as chap as con­correntes a diretOlia e ao seu Conselho, se houver.

o comparecimento dos advogados inscritos no Conselho Seccional a elei«ao e obligatorio, ficando sujeita a multa de 20% do valor da anuidade a ausencia nao justificada. 0 advogado licenciado, em virtude de incompatibilidade temporana, nao pode votar e nao pode ser multado em virtude de sua ausencia, desde que do conheci­mento da OAB272. Se nao comunicou a fungao incompatibilizante esta sujeito it san«ao disciplinar (art. 36, III, do Estatuto) e seu voto pode ser impugnado. Nessa dire«ao, decidiu 0 Orga~ Especial do Conse!ho Federal da OAB (Consulta n. OOJ3/2003/0EP-TO) que 0

assessor de desembargador, porexercer fun«ao incompativel com a advocacia, nao pode votar em eleic;ao da OAB.

Em qualquer hipotese, a impugna«ao ao voto de eleitor eventu­almente nao inscrito na OAB deve ser feita no ato da vota«ao, sendo defesa a posteriori, como decidiu 0 Orgao Especial (Proc. n. 00061 2002/0EP-SP); com efeito, a impugna«ao posterior it votagao deixa­la-ia it conveniencia da chapa concOlTente, se 0 resultado !he fosse desfavoravel, 0 que significaria agir contra 0 alo proprio (venire con­trafactum propriwn). Como decidiu a Terceira Camara (Rec. n. 03501 2004-TCA-MG), 0 resultado da elei«ao "deve serpreservado quando o ato motivador do recurso nao houver sido impugnado no momenta de sua realiza«ao", em virtude de preclusao.

o voto e secreto, invalidando-se a cedula que contiver qualquer rasura ou identifica«ao.

A Terceira Camara do Conselho Federal da OAB tern decidido que 0 Codigo Eleitoral constitui legisla«ao supletiva do Estatuto nas elei«oes da OAB2?'. 0 mesmo entendimento e 0 do Orgao Especial, de modo mais restrito, pois 0 C6digo Eleitoral apenas seni aplicave1 quando inexistir totalmente norma da entidade (Rec. n. 0004120031 OEP-SP), devendo ser esgotadas todas as possibilidades de interpre­ta«ao segundo as peculiaridades proprias.

272. Conselho Federal, Processo n. 1.642/95/SC, DIU, 14 set. 1995. 273. Cf. Processo n. 1.526/9 I lTC, Ementario 199011992, p. 236.

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Os procedimentos da elei«ao foram rninudentemente discipli­nados no Regulamento Geral, arts. 128 e seguintes, com a reda«ao dada em 9 de dezembro de 2005. Destaque-se a proibi9ao de propa­ganda por meio de emissora de televisao ou radio e por meio de outdoors em todo 0 pais. A propaganda deve ser moderada, assim entendida a qne nao ultrapasse urn oitavo de pagina de jornal e um quarto de pagina de revista ou tabloide, tendo por fito reduzir os cus­tos de campanha e evitar 0 abuso do poder politico e econ6rnico no ambito da OAB.

"As elei«oes vinculam-se ao disposto no Edital, cujos termos devem ser respeitados peloscandidatose suas respectivas chapas,a fim de assegurar um processo e1eitoral justo e democratico" (Rec. n. 0003/2004-TCA-MT) .

REQUISITOS DE ElEGlBlLlDADE

Os candidatos integrantes da chapa, para q ualqner cargo da OAB, necessitam comprovar que exercem a profissao ha mais de cinco anos, exclufdo 0 perfodo de estagio. Nao basta a inscri«ao regnlar. Apenas pode ser considerado 0 perfodo inintelTupto, nao podendo ser admitida a soma de periodos descontfnuos para 0

qiiinqiienio274. A prova ha de se fazer com documentos e certidoes de ef~tivo exercfcio profissional, no desempenho das atividades privativas de advocacia, previstos no art. 1 Q do Estatuto (ver co­mentarios acima). A exigencia do prazo de cinco anos pode ser cum­prida ate o-dia da posse legal e nao ate 0 dia das eJeic;oes, conforme deCidiu a Terceira Camara do Conselho Federal da OAB275, cujo entendimento foi mantido pelo Orgao Especial, seguindo orienta­gao adotada na jurisprudencia dos tribunais superiores (Proc. n. 3511 2001l0EP-PR). Advogado que exerce atividade h" mais de cinco anos pode ser candidato, mesmo que sua inscric;ao suplementar na

274. Cf. Processo n. 202/98/0EP do 6rgao Especial do Conselho Federal da OAB.

275. Cf. Recurso n. 1.544/91ITC, por maioria, Ementario 1990/1992, p. 238.

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ELEIGAO DA DIRETORIA DO CONSELHO FEDERAL

o Estatuto preve regras especificas para a eleic,:ao da diretoria do Conselho Federal. 0 sistema adotado e semidireto. N a vigencia da legislac,:ao anterior, os conselheiros federais escolhiam a diretoria, mediante 0 voto das delega\;oes, quando tomavam posse. 0 Estatuto criou um colegio eleitoral ampliado, composto dos Conselhos Seccionais. Manteve-se 0 principio federativo da igualdade do voto de cada unidade, ou seja, 0 resultado majoritiirio em cada Conselho Seccional valia um voto para a chapa concOlTenteescolhida. A Lei n. 11.179, de 22 de setembro de 2005, modificou 0 sistema, reassegu­rando ao Conselho Federal 0 direito de eleger sua Diretoria, com l11udanc,:a substancial: substitui 0 plincipio federativo (cada delega­\;ao UI11 voto) pelo voto unipessoal de cada conselheiro federal. As­sim, na mesma de1ega\;ao podeni haver divergencia na escolha das chapas. Eleitores sao apenas os conselheiros federais eleitos na elei­c,:ao havida no Conselho Seccional na segunda quinzena do l11es de novembro do ultimo ano do mandato. A elei\;ao far-se-a no dia 31 de janeiro do ano seguinte ao da e1eic,:ao dos conselheiros federais, por voto secreto, tomando posse a diretoria no dia 19 de fevereiro. A ren­niao eleitoral sera presidida pelo conselheiro eleito l11ais antigo, ou seja, 0 que contar com maior tempo de mandatos sucessivos ou inter­rol11pidos (art. 65 do Regulamento Geral); se ainda assim pennane­eel' 0 empate, ha de prevalecer 0 de inscri\;.ao mais antiga, ja que a experiencia foi 0 criterio legalmente adotado.

A elei\;ao dar-se-a por chapa que indique os candidatos aos car­gos da diretOlia do Conselho Federal, em cedula unica que contenha todas as chapas concorrentes, ou identificadas na uma eletronica.

A votac,:ao e secreta, devendo 0 presidente indicm' escrutinadores, resolver as questoes decorrentes do processo eleitoml e proclamar 0

resultado, valendo-se das regras do Capitulo VII do Regulamento Geral, onde couber. Recurso contra decisao do presidente da reuniao eleitoral nao lera efeito suspensivo e nao prejudicara a posse dos elei­tos no dia seguinte (mt. 77 do Estatuto).

A nova regra eleitoral, prevista no inciso V do art. 67, com a reda­c,:ao dada pela Lei n. 11.179/2005, preve dois requisitos para eleic,:ao

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dos l11embros da chapa que obtiver a maioria dos votos: a) maioria simples dos conselheiros eleitos presentes; b) quorum de presenc,:a de metade mais um dos conselheiros federais eleitos. 0 criterio da mai­oria simples difere do que foi utilizado como regra geral no art. 64 do Estatuto, isto e, a maioria dos votos vMidos, seja qual for seu percentual. Assim, se nenhuma chapa concorrente a Diretoria do Conselho Federal obtiver a maioria simples dos votos dos conselhei-1'os presentes, a vota\;aO devera ser repetida ate que alguma a atinja.

o registro de candidaturas na Secretaria do Conselho Federal e obrigat6rio, podendo ser realizado em duas etapas: a primeira, figu­rando apenas 0 candidatoapresidente,dentro do prazode seis meses anteriores it eleic,:ao; a segunda, da chapa completa, ate um mes antes da eleic,:ao. Tambem podera ser efetivado em uma unica oportunidade na data da segunda etapa, com a chapa completa. 0 Estatuto exige que haja 0 apoiamento de, no minimo, seis Conselhos Seccionais. Esse apoiamento nao significa vinculo para votac,:ao pelos respecti­vos conselheiros federais, mas celtifica\;ao de idoneidade eleitoral, pois 0 Conselho e livre para votar em quem enlender melhor.

A razao de ser das duas etapas e que, salvo 0 candidato a presi­dente, os demais integrantes aos outros cm'gos da diretoria devem ser conselheiros eleitos na elei\;ao geral imediatamente anterior.

Na legislac,:ao estrangeira, ha registro de eleic,:ao direta para pre­sidente. A Lei de Quebec,.de 1995 (Lai sur Ie Barreau), preve que todos os advogados sao elegiveis, desde que tenham side membros do Conselho Geml, no minima por um ano, e sejam apoiados por, ao menos, trinta advogados em exercicio. ./

MANDAlOS

o mandato para todos os cargos da OAB (Conselho Federal, Conselhos Seccionais, Subse\;oes e Caixa de Assistencia) e unifor­me: tres anos. A reelei\;ao nao esta vedada. Contudo, para os mesmos cargos de dire\;ao, 0 Conselho Federal e alguns Conselhos Seccionais tem adotado a praxe salutar da nao-reelei\;ao, permitindo maior 1'Otatividade democratica.

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Page 88: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

PROCESSO NA OAB

TiTULO III

DO PROCESSO NA OAB

CAPITULO I

DISPOSI<;OES GERAIS

Art. 68. Salvo disposi"lio em contrario, aplicam-se snbsidiariamente ao processo disciplinar as regras da le­gisla"lio processual penal comum e, aos demais processos, as r,egras gerais do procedimento administrativo comum e da legisla"lio processual civil, nessa ordem. '

Ar,!. 69. Todos os prazos necessarios a manifesta"ao de advogados, estagiarios e terceiros, nos processos em geral da OAB, sao de quinze dias, inclusive para interposi"ao de recursos.

§ lR Nos cas os de comunica"ao por oficio reservado, ou de notifica"ao pessoal, 0 prazo se conta a partir do dia uti! imediato ao da notifica"ao do recebimento;

§ 2R Nos casos de publica"ao na imprensa oficial do ato ou da decisao, 0 prazo inicia-se no primeiro dia uti! seguinte.

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COMENT ARIOS

PROCESSO E NORMAS SUPlETIVAS

o Estatuto concentrou em urn titulo especifico todas as mate­lias relativas a processo e procedimento administrativo na OAB. Po­rem, nem todas estao nele previstas, e sim as de carater geral e plinci­piol6gico, que provocam efeitos nos interesses de terceiros, Os pro­cedimentos especificos foram remetidos para 0 Regulamento Geral ou para 0 C6digo de Etica e Disciplina.

As normas supletivas ao Estatuto e it legislac;ao regulamentar estao previstas em duas areas determinadas: para 0 processo (e pro­cedimento disciplinar) aplicam-se supletivamente as nonnas da le­gisla«ao processual penal comum (plincipios gerais); para os demais processos (por exemplo, os relativos it inscri«ao ou a impedimentos), aplicam-se supletivamente, em primeiro lugar, as normas do procedi­mento administrativo comum (plincipios de direito administrativo e os procedimentos adotados na respectiva legislac;ao) e, em segundo lugar, as nonnas de processo civil.

o direito disciplinar tern natureza de direito administrativo e nao de direito penal, nao podendo ser aplicado a ele, inclusive quanta as infra<;6es disciplinares, as rep'as supletivas da legisla<;ao penal, nem mesmo seus plincipios gerais, Essa importante distin<;ao foi bem notada pela doutrina especializada, inclusive por eminentes juspenalistas280

, Pela mesma razao, e possivel a dupla san<;ao, penal e disciplinar, em virtude da mesma falta, nao havendo prevalencia da absolvi<;ao, no plano criminal, sobre 0 processo disciplinar.

Prevalece no processo administrativo 0 principio do infonnalismo ou do fonnalismo moderado. 0 processo administrati­vo e fonnal no sentido que deve ser escrito e observar os plincipios essenciais do devido processo legal e da ampla defesa. Mas nao se­gue a fOlma e os litos pr6prios do processo judicial, significando

280. Cf. Vincenzo Manzini, Trattato di diritto penale italiano, Torino: VTET, 1961, v. I, p. 106; L. Jimenez de Asua, 'fratado de derecho penal, Buenos Aires: Ed. Losada, 1950, t, 1, p. 39-40,

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Page 89: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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PROCESSO DISCIPLINAR

CAPiTULO II

DO PROCESSO DISCIPLINAR

Art. 70. 0 poder de punir disciplinarmente os inscritos na OAB compete exclusivamente ao Conselho Seccional em cuja base territorial tenha ocorrido a infra"iio, salvo se a fal· ta for cometida perante 0 Conselho Federal.

§ I" Cabe ao Tribunal de Etica e Disciplina, do Conse­lho Seccional competente, julgar os processos disciplina­res, instruidos pelas Subse"oes ou por relatores do proprio Conselho.

§ 2" A decisiio condenatoria irrecorrivel deve ser ime­diatamente comunicada ao Conselho Seccional onde 0 repre­sentado tenha inscri"iio principal, para constar dos'respecti­vos assentamentos.

§ 3" 0 Tribunal de Etica e Disciplina do Conselho orCde 0

acnsado tenha inscri"iio principal pode suspende:lo preventi­vamente, em caso de repercussiio prejudicial it'dignidade da advocacia, depois de ouvi-lo em sessiio especial para a qual deve ser notificado a comparecer, salvo se niio atender a noti­fica,>iio. Neste caso, 0 processo disciplinar deve ser concluido no prazo maximo de noventa dias.

Art. 71. A jurisdi,>iio disciplinar niio exclui a comum e, quando 0 fato constituir crime ou contraven"iio, deve ser co­municado as autoridades competentes. '

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Art. 72. 0 processo disciplinar instaura-se de oficio ou mediante representa"iio de qualquer autoridade ou pessoa interessada.

§ P 0 Codigo de Etica e Disciplina estabelece os crite­rios de admissibilidade da representa"iio e os procedimentos disciplinares.

§ 2" 0 processo disciplinar tramita em sigilo, ate 0 seu termino, s6 tendo acesso as suas informa,>oes as partes, seus defensores e a autoridade judici:iria competente.

Art. 73. Recebida a representa"iio, 0 Presidente deve designar relator, a quem compete a instru;;iiodo processo eo oferecimento de parecer preliminar a ser submetido ao Tri­bunal de Etica e Disciplina.

§ P Ao representado deve ser assegurado amplo direito de defesa, podendo acompanhar 0 processo em todos os ter­mos, pessoalmente ou por intermedio de procurador, of ere­cendo defesa previa ap6s ser notificado, razoes finais ap6s a instru"iio e defesa oral perante 0 Tribunal de Etica e Discipli­na, por ocasiiio do julgamento.

§ 2" Se, ap6s a defesa previa, 0 relator se manifestar pelo indeferimento liminar da representa"iio, este deve ser decidi­do pelo Presidente do Conselho Seccional, para determinar seu arquivamento.

§ 3" 0 prazo para defesa previa pode ser prorrogado por motivo relevante, a juizo do relator.

§ 4" Se 0 representado niio for encontrado, on for revel, 0

Presidente do Conselho ou da Subse,>iio deve designar-Ihe defensor dativo.

§ 5" E tambem permitida a revisiio do processo discipli­nar, por erro de julgamento ou por condena"iio baseada em falsa prova.

Art. 74. 0 Conselho Seccional pode adotar as medidas administrativas e judiciais pertinentes, objetivando a que 0

profissional suspenso ou excluido devolva os documentos de identifica,>iio.

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Page 90: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Advirta-se, como decidiu a Segunda Camara do Conselho Pe­deralda OAB, que "a instaura<;ao de processo disciplinar exige, ao menos, principio de prova aliado a indicios suficientes de infra<;ao etica. Prevalece 0 princfpio da inocencia, ate prova em contn'irio" (Rec. n. 0360/2002/SCA-SP).

FASES DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR

Em qualquer das fases do procedimento disciplinar, prevalece 0

principio da presun<;ao de inocencia do advogado representado, razao .. porque a leideten:nina que se respeite 0 sigilo.Enquantonao houver

decisao definitiva transitada emjulgado, ou arquivamento, 0 processo disciplinar nao pode ser objeto de divulgagao ou publici dade. S6 po­dem ter acesso a ele as partes, os defensores, 0 relator e seus auxilia­res. Assim, como decidiu 0 Orgao Especial (Pmc. n. 0007/2002/0EP­SC), nao pode ser divulgado 0 nome completo do representado na pauta de julgamento, podendo ser indicado pOl' suas iniciais.

o Estatuto e 0 C6digo de Etica e Disciplina simplificaram pro­fundamente 0 procedimento disciplinar, extinguindo as duas partes previstas na legisla<;ao anterior (investigagao e admissibilidade e ins­tauragao do processo disciplinar), e que contribuia para 0 desneces­smo retardamento da fun<;ao disciplinar da OAB.

A instauragao da-se automaticamente com a representagao de qualquer pessoa ou autoridade, contra 0 inscrito, ou POl' determina­gao de ofldo do presidente do Conselho Seccional ou da Subse<;ao, quando esta cont~U' com Conselho (ver os comentarios ao art. 61, paragrafo unico). Nao ha mais 0 procedimento cometido it comis­sao de etica e disciplina, que foi extinta como 6rgao necessario do Conselho. Nao se pode exigir requisitos formais determinados para o recebimento da representagao discipiinar, maxime quando e feita por leigos, que apresentam suas queixas, confiantes na OAB, utili­zando linguagem popular. Se for verbal, sera reduzida a escrito pela Secretaria.

Toda a instrugao processual e presidida pelo relator designado pelo presidente da Subsegao ou do Conselho Seccional, concluin­do-a com um parecer previo a ser submetido ao julgamento do Tribu­nal de Etica e Disciplina.

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Assim, 0 processo disciplinar desdobra-se em duas fases proce­dimentais sucessivas: uma de instru<;ao e olltra de julgamento.

INSTRUC;:AO E DEFESA

Cabe ao relator designado deten:ninar a notificagao do profis­sional representado e a instru<;ao do processo, baixando em diligen­cia, requisitando e produzindo provas, ouvindo testemunhas e as par­tes e tudo 0 mais que seja necessario para apura<;ao dos fatos.

.. Recebida a.notificagao, 0 profissional representado apresentara defesa previa escrita e provas, acompanhando 0 processo em todas as suas fases, pessoalmente ou mediante advogado. 0 prazo e 0 mesmo de quinze dias, mas pode ser prolTogado pelo relator, havendo moti­vo relevante.

Se 0 representado nao apresentar defesa previa ou nao for en­contl'ado, 0 relator solicitara ao presidente que designe defensor dativo. Todavia, "fora das estreitas hip6teses do § 42 do m.tigo 73, do Estatu­to, nao se procede it nomeagao de defensor dativo. Se a pm.te, pesso­almente intimada para razoes finais, comparece sempre aos autos, antes e depois dessa intimagao, ha de se entender que, se nao produ­ziu raz6es finais, foi pOl'que nao 0 quis" (2' Camara, CP/OAB, Rec. n. 0360/2004/SCA-SC) ..

Instruido 0 processo, ap6s a produgao das provas, inclusive com ·0 depoimento de no maximo cinco testemunhas, abre-se ao ...-representado a opOltunidade de oferecer raz6es finais ap6s notifi-cado pessoalmente .ou pela imprensa oficiaL Bncer,a-se 0 proce­dimento de instru<;:ao com 0 parecer preliminar do relator, que deve conter a descri<;ao clara dos fatos e 0 enquadramento legal. Cabe ao interessado incumbir-se do comparecimento de suas testemu­nhas. Compete ao responsavel pela instrugao a busca da verdade real dos fatos, ainda que as partes nao a facilitem, nao podendo prevalecer sentimentos corporativistas, que nao contribuem para a dignidade da profissao e a realizagao do poder de punir que a lei cometeu a OAB.

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SUSPENSAO PREVENTIVA

Em caso excepcional de graves repercussoes a dignidade da advocacia, 0 Tribunal de Etica e Disciplina poden\: tomar a iniciativa, deoficio ou por solicitac;ao do presidente do Conselho, de suspender preventivamente 0 inscrito. Recomenda-se extrema cautela, para que nao se converta em instrumento persecut6rio. Nao basta qualquer of ens a ou infrac;ao, por mais grave que seja, ou a autoridade do of en­dido. A suspensao preventiva, por envolver imediatas repercussoes no exercfcio profissional, apenas e admissivel em situac;oes not6rias e publicas, cujas repercussoes ultrapassem as pessoas envolvidas e "causem dana adigni"dadecoletiva da advocacia. Eo caso, p01:~xem­plo, de not6rio e permanente envolvimento de advogados com traiico de drogas, com danosa repercussao veiculada na imprensa, caracterizador de infrac;ao disciplinar grave (passivel de incidencia do art. 34, XXV, XXVII e XXVIII). Nesse sentido, decidiu 0 Couse­lho Federal da OAB que "a suspensao preventiva, a que se refere 0

art. 70, § 39 , do Estatuto, requer prova bastante, que, alem da pnitica de falta disciplinar grave, evidencie a repercussao prejudicial dessa a dignidade da advocacia. Nao pode a suspensao preventiva basear-se em simples suspeita, de que nao resultem indicios conc1udentes" (Rec. n.0145/2003/SCA-RJ).

Nessa hip6tese, 0 procedimento e cautelar e sumarissimo e to­talmente dirigido pelo Tlibunal, que ouvini previamente 0 acusado, antes de decidir pela suspensao preventiva. 0 art. 54 do C6digo de Etica e Disciplina faculta ao representado on a seu defensor a apre­sentac;ao de defesa, a produc;ao de provas documentais, testemunhais e outras, quanto ao cabimento da suspensao preventiva, nao apenas quanto ao aspecto formal mas quanto ao conteudo da suposta infra­c;ao. Cabe ao representado, para afastar a suspensao preventiva, de­monstrar que, mesmo havendo 0 fato, nao houve repercussoes publi­cas negativas ou danosas a dignidade coletiva da advocacia.

Se 0 acusado nao comparecer, sera substituido por defensor dativo designado pelo presidente do Conselho, segundo a regra do § 49

, do art. 73 do Estatuto. 0 prazo da suspensao perdurara ate ao julgamento do processo disciplinar, mas nao podenl ultrapassar no­venta dias.

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"Aplicada a suspensao preventiva, a que se refere 0 artigo 70 estatutario, 0 processo disciplinar tern de chegar a termo nos 90 (no­venta) dias subseqtientes, independentemente do oferecimento de recurso - que nao tem efeito suspensivo - contra a decisao cautelar. Os prazos prescricionais continuam fluindo, no curso da vigencia da suspensao preventiva ou da tramitac;ao do pertinente recurso" (2' Camara do CF/OAB, Rec. n. 031412003/SCA-MG).

A decisao pela suspensao preventiva cumpre-se imediatamen­te, porque 0 eventual recurso nao tem efeito suspensivo (art. 77 do

Estatuto). Deeidida it suspensao preventiva, 0 Tribunal remetera 0 pro­

cesso ao Presidente do Conselho (ou da Subsec;ao) para designar relator e promover a instruc;ao,retornando ao Tribunal para julga­

mento definitivo.

REPRESENTA~AO D1SCIPlINAR OFENSIVA A. HONRA DOADVOGADO

A representac;ao disciplinar, destituida de comprovas;ao e com evidente intuito de ofender a homa do advogado, pode ensejar res­ponsabilidade civil do of ensor, por danos morais. 0 abuso do direito de representar pode, no caso concreto, dar causa ao dana moral, ma­xime quando houver arquivamento determinado pelo presidente do Conselho Seccional au pelo Tribunal de Etica e Disciplina, que faz presumir a ausencia de prova ou fundamento da suposta infrac;ao.

Em caso julgado. pelo Tribunal de Justic;a do Estado de Sao Pau­lo (AC 118.710-4/0), ex-c1iente ingressou com representas;ao disci­plinar contra advogado, acusando-o "de nao ter escrupulo" e de "le- " var vantagens em situac;6es embarac;osas", tendo sido arquivada pelo Tribunal de Etica e Disciplina da OAB-SP, por falta de comprovac;ao dos fatos. De acordo com a decisao do Tribunal de Justic;a, "houve abuso eexcesso" por patte da ex-cliente, que foi condenada a pagar indenizac;ao por danos morais, ante os constrangimentos por que pas­sou 0 advogado perante seu 6rgao de classe e seus colegas, em virtu­

de da divulgas;ao do epis6dio.

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Page 92: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

COMENT ARIOS

TIPOS DE RECURSOS

o Estatuto preve um tipo geral e inominado de recurso contra decisao de qualquer orgao da OAB. 0 recurso e sempre voltado 11 reforma da decisao e dirigido ao orgao hierarquicamente superior.

Nao podem ser utilizados os tipos de recursos previstos na le­gisla<;ao processnal comum (penal ou civil), de modo supletivo, por­que nao ha lacuna no Estatuto. Ao contrario, a lei optou expressa­mente poruni unico recurso, com exc1usao de qualquer outro, por via de iuterpreta<;ao, seguindo a tendencia nniversal para simplifica<;iio e maxima economia processual. Contudo, 0 regulamento geral ou 0

regimento intemo do Conselho Seccional podem instituir modalida­de expressa de recurso, para situa<;ao especifica, a exemplo dos em­bargos de declara<;ao. 0 Conselho Federal admitiu os embargos infringentes, em virtude do princfpio da fungibilidade, ainda que nao previstos legalmente; no caso, 0 Presidente da Seccional opos em­bargos inflingentes em face da decisao nao unanime proferida em revisao (Proc. n. 2.4001200l/SCA-RJ).

o Regulamento Geral introduziu os embargos de declara<;ao, dirigidos ao relator da decisao reconida, que lhes pode negar segui­mento. Nao cabe recurso contra as decis6es nesses embargos.

Alem do recurso comum, 0 Estatuto preve dois tipos especiais:

a) embargo da decisao nao unanime do Conse1ho Federal, Seccional e de Subse<;ao, poryeu presidente (ver comentarios ao art. 55, § 32), para que a materia seja revista na sessao seguinte;

b) revisao do processo disciplinar (rut. 73, § 52), apos a decisao transitada em julgado, em virtude de erro do julgamento ou de con­dena<;ao baseada em falsa prova.

No caso da revisao, 0 pedido deve ser dirigido ao proprio Con­selho Seccional, porque envolve aprecia<;ao de materia de fato. Nao ha procedimento especffico, mas como possui a natureza de recurso, para 0 qual nao ha prazo preclusivo, deve ser .dirigido ao Conselho Seccional, e nao mais ao Tribunal de Etica e Disciplina, porque este foi a instancia julgadora originaria.

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Ao relator compete, sempre, 0 jufzo de admissibilidade, nome­adamente quanta 11 tempestividade e existencia dos pressupostos le­gais. Faltando qualquer deles, profere despacho indicando ao presi­dente 0 indeferimento liminar, devolvendo 0 processo ao orgao re­conido. Nao M necessidade, nessas preliminru'es, de delibera<;:ao do orgao colegiado. Contra a decisao do presidente, cabe recurso ao mencionado orgao julgador. Assim, decidiu a Segnnda Camara do Conselho Federal que "previsto 0 TED legalmente como orgao recursal, a submissao do recurso diretamente ao Conselho Seccional importa em supressao de uma instancia recursal de julgamento, 0 que caracteliza cerceamento de defesa paraorepresentadolexcipiente em raz1io de desobediencia ao arejado principio do due process of law"

(Rec. n. 008012003/SCA-SP). Prevalece 0 princfpio amplo da fungibilidade, poueo importan­

do a denomina9ao que se de ao recurso, em virtude do princfpio do formalismo moderado que preside 0 processo administrativo. Qual­quer manifesta9ao de inconformidade com a decisao, protocolada dentro do prazo de quinze dias, deve ser recebida como recurso. Con­tudo, como decidiu a Primeira Camara do Conselho Federal, ha de existir inten9ao de reforma do julgado ou claro inconformismo, para qne possa ser aproveitada296

, e fundamenta9ao adequada297•

o Conselho Federal deeidin que a sustenta9ao oral pelos pro­fissionais de advocacia, qnando da aprecia<;ao de recursos em or­gaos da OAB, e intangfvel; devendo ser anulada a deeisao em qne houve cerceamento de seu exercfcio298 • Mas nao acarreta nulidade a nao-intima<;ao do advogado para a sessao de julgamento dos em­bargos de declara<;ao, pOl'que nao comporta sustenta<;ao oral (Rec. n. 11212002/PCA-PR). Por outro lado, nao se admite nova snsten­ta<;:ao quando 0 julgamento do recurso administrativo for adiado em virtude de pedido de vista do revisor, por ser ato uno (Rec. n. 0143/

2003/PCA-BA).

296. Processo n. 4.587/94/PC, DJU, 25 out. 1994. 297. Processo n. 4.657/95/PC, DJU, 20 abr. 1995. 298. Processo n. 56/95/0E. DJU, 15 dez. 1995.

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Page 93: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

dente do Conselho Seccional. Mas 0 presidente do Conselho Seccional perde a 1egitimidade para recon'er se tiver participado do julgamento no orgao originario, exercendo seu direito de voto, tornando unaninle a decisao do orgao cOlegiado pOl' ele presidido (Rec. n. 0016/2002/ OEP-PE, julgado em 2003).

Contra decisao do presidente do Conselho Seccional, da direto­ria do Conselho Seccional, dos orgaos deliberativos em que se divida o Conselho (Camaras, Turmas, Seg5es etc.), do Tribunal de Etica e Disciplina, da diretOlia da Caixa de Assistencia dos Advogados, do presidente, da diretoria e do Conselho da Subsec;ao, caberecurso ao Conselho Seccionai. Nao cabe recursoa Comissao de Exame de Ore dem da Seccional (Proc. n. 306/2000/0EP-DF).

Essas regras basicas de cabimento de recurso sao suplementadas por outras estabelecidas no Regulamento Geral enos regimentos in­ternos dos Conselhos Seccionais, que devem definir qual 0 orgao recursal maximo em seu ambito.

o Conselho Federal da OAB ja decidiu que, mesmo na hipotese de nao cabimento de recurso, compete-Ihe cassar de offcio 0 ato, des­de que ensejado aos interessados 0 exercfcio do contraditoli0301 .

PRAZOS E EFEITOS DOS RECURSOS

Os prazos dos recui'sos, de qualquer tipo, .sao uniformes: quinze dias, inclusive se 0 regimento interno do Conselho Seccional admitir recursos assemelhados aos qne a legislac;ao comum allibui prazo breve, como os embargos de declarac;ao. Sobre a contagem dos prazos vel' os comentarios ao art. 69 .

. Os recurs os nos processos administrativos na OAB tem efeito devolutivo e suspensivo. 0 Estatuto abre tres excec;5es apenas: a) quando tratarem de eleic;5es, b) de suspensao preventiva apJicada pelo Tribunal de Etica e Disciplina (ver comentanos ao art. 70, acima) e c) de cancelamento da inscric;ao obtida com falsa prova (ver comen-

301. Recurso n. 3.900/90/PC, Ementario 199011992, p. 44.

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tarios ao rut. 11, acima)302. Sao hipoteses que nao admitem retarda­mento, em vittude do periculum in mora. No caso das e1eic;5es, gera­ria acefalia do orgao, porque a posse dos eleitos estru'ia suspensa e os mandatos anteliores, extintos. No caso da suspensao preventiva, a demora agravaria 0 dana a dignidade da advocacia. No caso do can­celamento da inscric;ao, seria prolongado 0 prejufzo pelo exercfcio ilegal da profissao.

302. 0 Conselho Federal decidiu que a amissao de informac;:ao de fatos impeditivos, no pedido de inscri<;ao, equivale a produ<;lio de falsa prova dos requisitos para inscri<;ao, 0 que leva a exclusao do inscrito, a qualquer tempo (Prce. n. 1.7651 95/SC, DIU, 24 abr. 1996).

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Art. 86. Esta lei entra em vigor na data de sua publica-I;ao.

Art. 87. Revogam-se as disposil;oes em contrario, especi­almente a Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963, a Lei n. 5.390, de 23 de fevereiro de 1968, 0 Decreto-Iei n. 505, de 18 de mar­I;o de 1969, a Lei n. 5.681, de 20 de julho de 1971, a Lei n. 5.842, de 6 de dezembro de 1972, a Lei n. 5.960, de 10 de de­zembro de 1973, a Lei n. 6.743, de 5 de dezembro de 1979, a Lei n. 6.884, de 9 de dezembro de 1980, a Lei n. 6.994, de 26 de maio de 1982, mantidos os efeitos da Lei n. 7.346, de 22 de julhode 1985 ..

Brasilia,4 de julho de 1994; 1732 da Independencia e 106Q da Republica.

ITAMAR FRANCO

Alexandre de Panla Dupeyrat Martins

COMENT ARIOS

REGULAMENTO GERAL

o Estatuto e uma lei compacta, que procurou tratar apenas das materias que se encartassem na denominada reserva legal (cria<;:ao, modifica<;:ao ou extin<;:ao de direitos e obriga<;:oes). Todas as demais foram l'emetidas ao seu Regulamento Geral, mediante delega<;:ao de competencia legal ao Conselho Federal da OAB, cumplindo-lhe edita-10 ou altera-lo, com identica fol'<;:a de obrigatoriedade a todos os or­gaos da institui<;:ao e a todos os inscritos.

A delega<;:ao legal nao colide com 0 art. 84, IV, da Constitui<;:ao, que tern finalidade diversa, pOl'que tern conteudo delimitador do Po­der Executivo, em face dos demais Poderes da Republica.

Com 0 desenvolvimento do Estado Moderno, e a complexidade das rela<;:oes sociojurfdicas, 0 principio do monopolio estatal da pro­du<;:ao jurfdica flexibilizou-se para admitir delega<;:oes, descentra-

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liza<;:oes e reconhecimento de ordenamentos complementares, estes delimitados a gmpos e classes de pessoas. Neste sentido, aponta a

Constitui<;:ao de 1988. Apesar da denomina<;:ao ntilizada na Lei n. 8.906, 0 Regula­

mento Geral tern forma e natureza de resolu<;:ao e de l'egimento in­terno e foi editado dentro desses precisos limites. A regulamenta­<;:ao de materias e campos especificos, quando prevista ern lei, nao e novidade no direito brasileiro. Exemplos de delega<;:oes regnlamen­tares foram as Leis n. 5.842172 e 8.195/91. E da competencia das enti.dades e orgaos de delibera<;:ao coletiva a edi<;:ao de resolUl;:oes de alcance·geral.e abstrato,.desde que nao criem, modifiq'lewOu . extingam direitos e obriga<;:oes. Todos os dispositivos do Estatuto qne sao remetidos a regulamenta<;:ao definem os direitos e obriga­

<;:oes correspondentes.

REGIME DOS SERVIDORES DA OAB

Considerando-se que a OAB nao se vincnla a Administra<;:ao Publica de qualqner especie, sendo servi<;:o publico independente (ver comentarios ao art. 44), nao se aplica a seus servidores 0 regime dos servidores publicos. 0 regime proprio e 0 trabalhista. Todavia, a Pro­curadoria-Geral da Republica ajuizou A<;:ao Direta de Inconstitu­cionalidade (ADI 3.026) corn intuito de. ver declarada a inconstitu­cionalidade do § I Q do alt. 79 e de ser conferida interpl'eta<;:ao confor­me com a Constituiqao ao caput do art. 79, pal'a 0 fim de sel' exigido concurso publico para contrataqao COl}lo empfegado da OAB. Parte a Procuradoria-Geral da Republica de premissa falsa, a saber, de ser a OAB autal'quia especial que deveria ser regida pelas normas da Ad­ministraqao Publica. Ate 0 fechamento desta ediqao (infcio de 2006), tres ministros do STF tinham votado contra 0 pedido e um favorave!.

Como 0 art. 148 daLei n. 4.215/63 mandava aplicar aos antigos servidores da OAB 0 regime estatutario do servidor publico, para essas situaqoes excepcionais, persistentes em alguns Conselhos Seccionais,.o Estatuto facultou a opqao para a conversao ao regime trabalhista, com algumas vantagens premiais.

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Page 95: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

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Osmandatos, a composigao e as atribuigoes dos orgaos da OAB, existentes quando da data do infcio de vigencia do novo Estatuto, fo­rammantidos ate 31 de janeiro de 1995, para os Conselhos Seccionais, e 31 de margo de 1995, para 0 Conselho Federal. Dessa fOlUla, penna­neceram as comissoes estatutmias previstas na Lei n. 4.215/63, ate es­sas datas, com suas atribuigoes e bem assim os procedimentos existen­tes para os processos disciplinares e de inscli<;ao. 0 Estatuto al1ibuiu aos Conselhos competencia para regularem mediante resolugoes os procedimentos de adapta<;ao ate a edigao dos diplomas definitivos.

Quanto as primeiras elei<;oes realizadas .na vigencia do novo . Estatuto,·este determinou que se observasse,para elas, 0 sistema elei-·

toral por ele illtroduzido, exceto quanto aos mandatos, que teriam 0

tempo de encenamento reduzido para adaptagao as datas de inicio dos proximos. 0 Conselho Federal aprovon, logo em seguida ao ini­cio de vigencia da Lei n. 8.906/94, 0 regnlamento eleitoral discipli­nando as plimeiras eleigoes da OAB, sob as novas regras.

o Estatuto, por emenda havida no Congresso Nacional, mante­ve a regra constitucional de preservagao dos direitos adquiridos dos antigos membros do Ministerio Publico, qne optaram por continuar exercendo cnmulativamente a advocacia.

Ainda qnanto aos direitos adqniridos, 0 Estatnto manteve a dis­pensa do Exame de Ordem para os que realizassem 0 estagio profis­sional de advocacia ou 0 de pnitica forense e de organiza<;ao jndicia­ria, desde que 0 conc1uissem regularmente ate 0 dia 5 de julho de 1996, com aprovagao em exame final. Embora a lei refira-se a inscli­gao, deve ser compreendido em seu alcance 0 reqnerimento ingressa­do na OAB ate aquela data, em virtude do principio adotado em nos­so sistema jnridico de irretroatividade da lei nova sobre pedidos ad­minisl1'ativos ja protocolizados, pOl"qne a demora da de"ei§ao nao po de sel' imputada ao requerente.

o estagiario, refelido no alt. 84, e 0 que se inscreven no respec­tivo qnadro da OAB. Os estudantes de cursos de estagio nao se qua­lificam assim, porque as instituigoes de ensino nao inscrevem esta­giarios mas matliculam estudantes. Sao situagoes distintas que gera­ram interessadas interpretagoes aos que nao desejaram submeter-se ao Exame de Ordem.

360

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A legislagao entao em vigor para 0 estagio pro fissional de advo­cacia (Lei n. 4.215/63, art. 50; Provimentos n. 33/67 e 38172) e para o estagio de pratica forense e organizagao judicialia (Lei n. 5.842172, Resolugao n. 15173 do CFE, Provimento n. 40173, revogados pelo art. 87 do Estatuto) detenninava seu cumprimento nos dois ultimos anos letivos (sobre a natureza e finalidades do estagio, no novo Esta­

tnto, ver os comentalios ao mt. 9Q).

Regendo as situa<;oes transitolias, palticulalmente quanta a dis­pensa do EXalne de Ordem, 0 Conselho Federal editou nonna especifi­ca, mediante a Resolngao n. 2/94. 0 bacharel elU direito que colou grau ate 0 ana deJ973 nao t;;stlj..s.ujeito aC01nprovagao de estagio profissio­nal ou de aprovagao em Exame de Orden}, por forgada Lei ri.S.960/73 e dos Provimentos n. 18 e 33 (Rec. n. 0162/2003IPCA-MS).

o ultimo artigo da lei revoga expressaJ.11ente os diplomas legais qne regiam, antes dela, a advocacia e a OAB. Estao revogadas (deno­gadas on ab-rogadas) todas as normas legais que com ela sejam in­

compativeis.

361

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Diario da Justir;a da Uniao

Ementarios do ConseZho Federal da OAB

Jamal do Conselho Federal da OAB

Jurisprudencia Brasileira

Revista de Direito Publico

Revista Forense

Revista da Ordem dos Advogados do Brasil

Revista do Superior Tribunal de Justir;a

Revista Trimestrai de Jurisprudencia (STF) .

Revista dos Tribunais

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ANEXOS . ;.,. -"'''OF"-' - - __ ';:~;'\ :"C. '~~n- ·"e' -

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Page 98: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

~anigrafo unieo. EsHio impedidos de exereer 0 ato de advocacia refe­rido neste artigo os advogados que presteln servic;os a 6rgaos ou entidades da Administra~ao Publica direta ou indireta, da unidade federativa a que se vincule a Junta Comercial, ou a quaisquer repartic;6es administrativas eom­petentes para 0 mencionado registro.

Art. 32 E defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simulta­neamente, como patrono e preposto do empregador au cliente.

Art. 42 A pnitica de atos privativos de advocacia, par profissionais e sociedades nao inscritos 11a OAB, constitui exerdcio ilegal da profissao.

Panigrafo unico. E defeso ao advogado prestar servi~os de assessoria e _c0!ls~ltoIj,a jurfdicas para terceiros, elll sociedades que- nao possam ser­registradas na OAB.

Art. 5Q Considera-se efetivo exerdcio da atividade de advocacia a par­ticipac;ao anual minima em cinco atos privativas previstos no art. 12 do Es­tatuto, em causas ou quest6es distintas.

Panigrafo unico. A comprovac;ao do efetivo exercicio faz-se me-diante:

a) certidao expedida por cart6rios ou secretarias judiciais;

b) c6pia autenticada de atos plivativos;

c) certidao expedida pelo 6rgao publico no qual 0 advogado exewa fun~ao privativa do seu offcio, indicando os atos praticados.

Alt. 62. 0 advogado deve notificar 0 cIiente da renuncia ao Inandato (art. 5", § 3", do Estatuto), preferencialmente mediante carta com aviso de recepC;ao, eomunicando, ap6s, 0 Juizo.

Art. 7" A fun~ao de diretoria e gerenciajmidicas em qualquer empre­sa publica, privada ou paraestatal, inclusive em instituic;6es financeiras, e privativa de advogado, nao podendo ser exercida por quem nao se encontre inscrito regularmente na OAB.

Art. 8" A incompatibilidade prevista no art. 28, II, do Estatuto, nao se aplica aos advogados que participam dos orgaos nele referidos, na qualida­de de titulares ou suplentes, como representantes dos advogados.

§ 1'2 Ficam, entretanto, impedidos de exercer a advocacia perante os orgaos em que atuaITI, enquanto durar a investidura.

§ 2" A indica~ao dos representantes dos advogados nos juizados espe­ciais devera ser promovida pela SubseC;ao ou, na sua ausencia, pelo Conse­Ibo Seccional.

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Se<;ao II Da Advocacia Publica

Art. 92 Exercem a advoeacia publica os integrantes daAdvocacia-Geral da Uniao, da Defensoria publica e das Procuradorias e Consultorias Jurfdi­cas dos Estados, do Disttito Federal, dos Municipios, das autarquias e das funda~6es publicas, estando obrigados a inscric;ao na OAB, para 0 exercfcio

de suas atividades. Panigrafo limco. Os integrantes da advoeacia publica sao elegiveis e

pOdelTI integTar qualquer argilo da OAB. Art. 10. as integrantes da advocacia publica, no exercicio de ativida­

de privC1.tivq. prevista no art.. 12 do Estatuto, sujeital11-se ao regime do Estatu­to, deste Regulalnento Oeral e do C6digo de Etica 'e riiscil}ili'm~ Inclus-ive quanto as infrac;5es e sanc;5es disciplinares.

Se<;ao ill Do Advogado Empregado

Art. II. Compete a sindicato de advogados e, na sua falta, a federa~ao Oll confederac;ao de advogados. a representa<tao destes nas eonvenc;6es co­letivas celebradas com as entidades sindicais representativas dos emprega­dores, rios acordos eoletivos celebrados com a empresa empregadora enos dissidios coletivos perante a Justi~a do Trabalho, aplicaveis as rela<;6es de

trabalbo. Art. 12. Para os fins do art. 20 da Lei n. 8.906/94, considera-se dedica­

<tao exclusiva 0 ~egime de trabalho que for expressamente previsto em COll­

trata individual de trabalho. Paragrafo unico. Em easo de dedicaC;ao exclusiva, serao remuneradas

como extraordinarias as horas trabalhadas que excederem a jornada normal ./

de aita horas diarias.

Art. 13. (Revogado.) Art. 14. Os hononilios de sucumMncia, por decorrerem precipuamente

do exerdcio da advocacia e s6 acidentahnente da relac;ao de emprego, flaO

integram 0 salaria ou a remunerac;ao, nao podendo, assim. ser considerados

para efeitos trabalhistas ou previdenciarios. Paragrafo unieo. as honorarios de sucumbencia dos advogados effi­

pregados constituem fundo comum, cuja destina~ao e decidida pelos pro­fissionais integrantes do servic;o jurfdico da empresa ou por seus repre-

sentantes.

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Page 99: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

A~. 21. 0 advogado pode requerer 0 registro, nos seus assentamen­tos, de fatos comprovados de sua atividade profissional ou cultural, ou a ela relacionados, e de servi<;os prestados a cJasse, a OAB e ao Pais.

Art. 22. a advogado, regularmente notificado, deve quitar seu debito relativo as anuidades, no prazo de 15 dias da notifica9aO, sob pena de sus­pensao, aplicada em processo disciplinar.

Panigrafo linico. Cancela-se a inscri~ao quando OCOITer a terceira SllS­

pensao, relativa ao nao pagamento de anuidades distintas.

An. 23. 0 requerente a inscri9ao no quadro de advogados, na falta de diploma regularmente registrado, apresenta certidao de gradua~ao em direi­

. to, acolnpanhada,. de c6pia autenticada dorespe.ctivo histo1icQ .. es-,~oIar.-. Paragrafo unico. (Revogado.)

An. 24. Aos Conselhos Seccionais da OAB incumbe atualizar, ate 31 de dezembro de cada ano, 0 cadasti'o dos advogados inscrito~, organizando a lista cOITespondente.

§ 12

0 cadastro contem 0 nome complete de cada advogado, 0 numero da inscri<;iio (principal e suplementar), os endere90s e telefones profissio­nais e 0 nome da sociedade de advogados de que fa<;a pane, se for 0 caso.

§ 2" No cadastro sao incJuidas, ignalmente, a lista dos cancelamentos das inscri<;6es e a lista das sociedades de advogados registradas, com indi­ca~ao de seus socios e do mlrnero de registrb.

§ 32

Cabe ao Presidente do Conselho :;;eccional remeter a Secretaria do Conselho Federal 0 cadastro atualizado de seus insclitos, ate 0 dia 31 de mar<;o de cada ano.

Art. 25. Os pedidos de transferencia de inscri9iio de advogados sao regulados em Provimento do Conselho Federal.

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Art. 26.,0 advogado fica dispensado de comunicar 0 exercicio eventu­al da profissao, ate 0 total de cinco causas pOl' ano, acima do qual obriga-se a inscric;ao suplementar.

CAPiTULO IV DO ESTAGIO PROFISSIONAL

Art. 27. a estagio profissional de advocacia, inClusive para gradua­dos, e requisito necessario a inscri9iio no quadro de estagiarios da OAB e meio adeqnado de aprendizagem pratica.

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§ 12 0 estagio profissional de advocacia pode ser oferecido pela insti­tuic;ao de ensino superior autorizada e credenciada, em convenio com a DAB, complementando-se a carga horatia do estagio cunicular supervisionado com atividades praticas tipicas de advogado e de estudo do Estatuto e do C6digo de Etica e Disciplina, observado 0 tempo conjunto minimo de 300 (trezentas) horas, distribuido em dois ou mais anos.

§ '2!' A complementa9ao da carga horatia, no total estabelecido no con­venio, pode ser efetivada na fonna de atividades jurldicas no micleo de pni­tica juridica da institui~ao de ensino, na Defensoria Publica, em escritorios de advocacia au em setores juridicos publicos ou privados, credenciados e fiscalizados pela OAB .

§ ].Q As' atividades de estagio ministrado por instituic;ao de ensine, para fins de convenio com a DAB, sao exc1usivmnente praticas, incluindo a redac;ao de atos processuais e profissionais, as rotinas processuais, a assis­tencia e a atuac;:ao eln audiencias e sess5es, as visitas a orgaos judiciarios, a presta~ao de servic;:os juridicos e as tecnicas de negociac;:ao coletiva, de arbi­tragelll e de conciliac;:ao.

Art. 28. a estagio reaJizado na Defensoria Publica da UnHio, do Dis­nito Federal ou dos Estados, na forma do art. 145 da Lei Complementar n. 80, de 12 de janeiro de 1994, e considerado valido para fins de inscri<;iio no quadro de estagiados da OAB.

Art 29. as atos de advocacia, previstos no an. 12 do Estatute, podem ser subscritos pOl' estagiario inscrito na OAB, em conjunto com 0 advogado ou 0 defensor publico.

§ 12 a estagiario inscrito na OAB pode praticar isoladamente os se­guintes atos, sob a responsabilidade do advogado:

1-retirar e devolver autos em cartorio. assinando a respectiva carga;

II - obter junto aos escrivaes e chefes de secretarias certid5es de pe~as au autos de processes em curso ou findos;~

III - assinar peti90es de juntada de documentos a processos judiciais ou administrativos.

§ 2" Para 0 exercicio de atos extrajudiciais, 0 estagiano pode compa­recer isoladamente, quando receber autorizac;:ao ou substabelecimento do advogado.

Art. 30. a estagio profissional de advocacia, reaJizado integralmen­te fora da instituic;ae de ensino, compreende as atividades fixadas em con­venio entre 0 escrit6rio de advocacia ou entidade que receba 0 estagicirio e aOAB.

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Page 100: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

CAPiTULO VI DASSOCffiDADESDEADVOGADOS

Art. 37. Os advogados podem reunir-se, para colabara~ao profissional recfproca, em sociedade civil de prestac;ao de servic;os de advQcacia, regu­lar'mente registrada no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede.

Paragrafo unico. As atividades profissionais privativas dos advogados sao exercidas individualmente, ainda que revertam a sociedade as honora­rios respectivos.

Art. 38. 0 nome completo ou abreviado de, no minimo, urn advogado respons3vel pela 'sociedade cansta obi-igatorhiniente da raia:6'social, poden:'" do permanecer 0 1l0lne"de socio falecido se, no ata constitutivo OU na altera­<;3.0 contratual em vigor, essa possihilidade tiver side prevista.

Art. 39. A sociedade de advogados pode associar-se com advogados, sem vinculo de elnprego, para participac;:ao nos resultados.

Panigrafo uniCD. as contratos referidos neste artigo sao averbados no registro da sociedade de advogados.

Art. 40. Os advogados socios e os associados respondem subsidifuia e ilirnitadamente pelos danos causados diretamente ao cliente, nas hipoteses de dolo au culpa e por ac;ao au amissao, n~ exercfcio dos atos privativos da advo­cacia, sem prejuizo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer.

Art. 41. As sociedades de advogados podem adotar qualquer forma de administra<;ao social, permitida a existencia de s6cios gerentes, com indica­~iio dos poderes atribuidos.

Art. 42. Podem ser praticados pela sociedade de advogados, com uso da razao social, os atos indispensaveis as suas finalidades, que flaO sejam privativos de advogado. ./

Art. 43. 0 registro da sociedade de advogados observa os requisitos e procedimentos previstos em Provimento do Conselho FederaL

TiTULO II DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)

CAPiTULO I DOS FINS E DA ORGANIZA<;:Ao

Art. 44. As finalidades da OAB, previstas no art. 44 do Estatuto, sao

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cumpridas pelos Conselhos Federal e Seccionais e pelas Subse~6es, de modo integrado, observadas suas competencias espedficas.

Art. 45. A exclusividade da representa~ao dos advogados pela OAB, prevista no art. 44, n, do Estatuto, nao afasta a competencia propria dos sindicatos e associa<;:5es sindicais de advogados, quanta a defesa dos direi­tos peculiares da rela<;ao de trabalho do profissional empregado.

Art. 46. as noVOS Conselhos Seccionais serao criados mediante Reso­

lu~iio do Conselho Federal. Art. 47. 0 patrim6nio do Conselho Federal, do Conselho Seccional,

da Caixa de Assistencia dos Advogados e da Subse~iio e constituido de bens m6veis e imoveis e outros bens e val ores que tenham adquirido au venham

a adquirir. Art. 48. A aliena<;ao ou onera<;:ao de hens im6veis depende de aprova­

~iio do Conselbo Federal ou do Conselho Seccional, competindo it Diretoria do orgiio decidir pela aquisi~iio de qualquer bern e dispor sobre os bens

m6veis. Panigrafo unico. A aliena~iio ou onera~iio de bens imoveis depende de

antOliza~iio da maioria das delega~6es, no Conselho Federal, e da maioria dos membros efetivos, no Conselho Seccional.

Art. 49. Os cargos da Diretoria do Conselho Seccional tern as mesmas denomina~6es atribuidas aos da DiretOlia do Conselho Federal.

Paragrafo unico. Os cargos da Diretoria da Snbse~iio e da Caixa de Assistencia dos Advogados tern as seguintes denornina~6es: Presidente, Vice­Presidente, Secretfu'io, Secretario Adjunto e Tesoureiro.

Art. 50. Ocorrendo vaga de cargo de diretoria do Conselho Federal ou do Conselho Seccional, inclusive do Presidente, em virtude de perda do mandato (art. 66 do Estatuto), marte ou renuncia, 0 substituto e eleito pelo Conselh.9 a que se vincule, dentre os seus membros.

Art. 51. A elabora~iio das !istas constitucionalmente previstas, para preenchimento dos cargos nos tribunais judiciarios, e disciplinada em Pro­

vimento do Conselho Federal. Art. 52. A OAB participa dos concursos publicos, previstos na Cons­

titui<;;:ao e nas leis, em todas as suas fases, par meio de representante do Conselho competente, designado pelo Presidente, incumbindo-lhe apresen­tar relat6rio sucinto de suas atividades.

Paragrafo unico. Incumbe ao representante da OAB velar pela garan­tia da isonomia e da integridade do certame, retirando-se quando constatar irregularidades au favoreciInentos e comunicando os motivos ao Conselho.

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Page 101: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

~, 60. Os Conselhos Seccionais aprovarao seus on;amentos anuais, para 0 exercicio seguinte, ate 0 mes de outubro e 0 Conselho Federal ate a ultima sessao do ano, permitida a altera<;ao dos lnesmos no curso do exerci­cio, mediante justificada necessidade, devidamente aprovada pelos respec­tivos colegiados.

§ 1 Q 0 on,;amento do Conselho Seccional fixa a receita, a despesa, a destina<;ao ao fundo cultural e as transferencias ao Conselho Federal, a Cai­xa de Assistencia e as Subse<;5es.

§ 22 Aprovado 0 or<;amento e, igualmente, as eventuais suplementa<;5es or,amentarias, encaminhar-se-a c6pia ao Conselho Federal, ate 0 dia 10 do IneS sllbseqHente, para os fins regulaIllenta,r~s.

§ 32 A Caixa de Assistencia dos Advogados e as Subse<;6es aprovarao seus or<;amentos para 0 exercicio seguinte, ate a ultima sessao do ano,

§ 42 0 Conselho Seccional fixa 0 modele e os requisitos fmIDais e materiais para 0 on;arnento, 0 relat6rio e as contas da Caixa de Assistencia e das Subse,5es.

Art. 61. 0 relat6rio, 0 balan,o e as contas dos Conselhos Seccionais e da Diretoria do Conselho Federal, na forma prevista em Provimento, sao julgados pela Terceira Camara do Conselho Federal, com recurso para 0

Orgao Especial.

§ 12 Cabe a Terceira Camara fixar os modelos dos or,amentos, balan­,os e contas da Diretoria do Conselbo Federal e dos Conselhos Seccionais.

§ 2.2 A Terceira Camara pode detennin~r a realizagao de auditoria in­dependente nas contas do Conselho Seccional, com onus para este, sempre que constatar a existencia de graves ilTegularidades.

§ 32 0 relat6rio, 0 balan,o e as contas dos Conselhos Seccionais do ano anterior serao remetidos a Terceira Camara ate 0 final do gUa110 mes do ano seguinte.

§ 4" 0 relat6rio, 0 balan,o e as contas da Diretoria do Conselho Fede­ral sao apreciados pela Terceira Camara a partir da prinieira sessao ordimi­ria do ano seguinte ao do exercfcio.

§ 52 Os Conselhos Seccionais s6 podem pleitear recursos materiais e financeiros ao Conselho Federal se cOInprovadas as seguintes condig6es:

a) remessa de c6pia do orgamento e das eyentuais suplementag6es or,amentarias, no prazo estabelecido pelo § 22 do art. 60;

b) presta,ao de contas aprovada na forma regulamentar; e

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c) repasse atualizado da receita devida ao Conselbo Federal, snspen­dendo-se 0 pedido, em caso de controversia, ate decisao definitiva sobre a liquidez dos valores correspondentes.

CAPiTULO III DO CONSELHO FEDERAL

Sec;ao I Da estrutura e do funcionamento

Art. 62. 0 Conselho Federal, 6rgao supremo da OAB, com sede na Capital da Republica, comp6e-se de urn Presidente, dos Conselheiro'iFede­rais integrantes das de1egag6es de cada unidade federativa e de sellS ex­

presidentes. § 12 Os ex-presidentes tern direito a voz nas sess6es do Conselho,

sendo assegurado 0 direito de voto aos que exerceram mandata antes de 5 de julho de 1994 ou em seu exercfcio se encontravam naquela data.

§ 29. 0 Presidente, nas suas relag5es externas, apresenta-se ,como Pre­

sidente Nacional da OAB. § 320 Presidente do Conselho Seccional tern lugar reservado junto a

delegagao respectiva e direito a voz em todas as sess5es do Conselho e de

suas Camaras. Art. 63, 0 Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros e os agra­

ciados com a "Medalha Rui Barbosa" podem participar das sess5es do Con­selho Pleno, com direito a voz.

Art. 64, 0 Conselho Federal atua mediante os seguintes argaos:

I - Conselbo Pleno; , '" II - Orgao Especial do Conselho Pleno;

III - Plimeira, Segunda e-Terceira Camaras;

IV - Diretoria;

V - Presidente. Paragrafo unico, Para 0 desempenho de suas atividades, 0 Conselho

conta tambem com comiss5es permanentes, definidas em Provimento, e com comiss5es temporarias, todas designadas pelo Presidente, integradas au nao por Conselheiros Federais, submetidas a um regimento interno uru­co, aprovado pela Diretoria do Conselho Federal, que 0 levara ao conheci­

mento do Conselbo Pleno.

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Page 102: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

Art. 75. Compete ao Conselho Pleno deliberar, em caniter nacional, sabre propostas e indica~6es relacionadas as finalidades institucionais da OAB (art. 44, I, do Estatuto) e sobre as demais atribui~5es previstas no art. 54 do Estatuto, respeitadas as competencias privativas dos de­mais 6rgaos deliberativos do Conselho Federal, fixadas neste Regula­mento Geral, e ainda:

1-eleger 0 sucessor dos membros da Diretoria do Conselho Federal, em easo de vadtncia;

II - regular, mediante resolu~ao, materias de sua COlllpetencia que nao exijam edi<;ao de Provimento;

III - instituit; mediante Provimento, -comissoes· pernwnentes -para assessorar 0 Conselho Federal e a Diretoria.

Panigrafo unico. 0 Conselho Pleno pode decidir sobre todas as mate­rias privativas de seu Orgao Especial, quando 0 Presidente atribuir-lhes ca­niter de urgencia e grande relevancia.

Art. 76. As indica~5es on propostas sao oferecidas por escrito, deven­do 0 Presidente designar relator para apresentar relat6rio e voto escritos na sessao seguinte, acompanhados, senlpre que necessaria, de ementa do ae6rdae.

§ I" No Conselho Pleno, 0 Presidente, em caso de urgencia e relevan­cia, pade designar relator para apresentar relat6rio e voto orais na mesma sessao.

§ 22 Quando a proposta importar despesas nao previstas no or~amen­to, pode ser apreciada apenas depois de onvido 0 Diretor Tesoureiro quanto as dispouibilidades financeiras para sua execu~ao.

Art. 77. 0 voto da delega~ao e 9 de sua maioria, havendo divergencia entre sellS membros, considerando-se invalidado em caso de en1pate.

§ 12 0 Presidente nao integra a delega~ao de sua unidade federativa de oligem e nao vota, salvo em caso de empate.

§ 2" Os ex-presidentes empossados antes de 5 de jnlho de 1994 tern direito de voto equivalente ao de uma delegac;ao, em todas as materias.

Art. 7S. Para editar e a!terar 0 Regulamento Geral,.o C6digo de Etica e Disciplina e as Provimentos e para intervir nos Conselhos Seccionais e indispensavel 0 quorum de dois ter~os das delega~5es.

Panigrafo linico. Para as demais materias prevalece 0 quorum de ins­tala~ao e de vota~ao estabelecido neste Regulamento Gera!.

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Art. 79. A proposta que implique baixar normas gerais de competen­cia do Conselho Pleno ou encaminhar proj eta legislativo ou emendas aos Poderes con1petentes soinente pode ser deliberada se 0 relator ou a comis­sao designada elaborar a texto normativo, a ser remetido aos Conselheiras juntamente com a convocac;ao da sessao.

§ I" Antes de apreciar proposta de texto normativo, 0 Conselho Pleno delibera sobre a admissibilidade da relevancia da mateda.

§ 2" Admitida a relevancia, 0 Conselho passa a decidir sobre 0 conteu­do da pro posta do texto nonnativo, observados os seguintes eriterios:

a) procede-se a leitura de cada dispositivo, considerando-o aprovado se nao houver destaque levantado por qualquer membro au encruninhado por Conselho Seccioilal;

b) havendo destaque, sobre ele manifesta-se apenas aquele que 0 le­vantou e a comissao relatora ou,o relator, seguindo-se a votac;ao.

§ 39. Se varios membros levantarem destaque sabre 0 mesmo ponto controvertido, um, dentre eles, e eleito como porta-voz.

§ 4" Se 0 texto for totalmente rejeitado on prejudicado pela rejei~ao, 0

Presidente designa novo relator au comissao revisora para redigir outro.

Art. SO. A OAB pode participar e colaborar em eventos intemacio­nais, de interesse da advocacia, mas somente se associ a a organismos inter-nacionais que congreguem entidades congeneres. .

Panigrafo unico. Os Conselhos Seccionais podem representar a OAB em geral ou os advogados brasileiros em eventos internacionais ou no exte­rior, quando autorizados pelo Presidente Nacional.

Art. Sl. Constatando grave viola~ao do Estatuto on deste Regulamen­to Geral, a Diretoria do Conselho Federal notifica 0 Conselho Seccional para apresentar defesa e, havendo necessidade, designa representantes par~ promover verificac;ao ou sindidincia, s~bt:l1etendo 0 relat6rio ao Conselho Pleno.

§ 1" Se 0 relat6rio conduir pela interven~ao, notifica-se 0 Conselho Seccional para apresentar defesa por escrito e oral perante 0 Conselho Ple­no, no prazo e tempo fixados pelo Presidente.

§ 2" Se 0 Conselho Pleno decidir pela interven~ao, fixa prazo determi­nado, que pode ser prorrogado, cabendo a Diretoria designar diretoria pro­vis6ria.

§ 3" Ocorrendo obstaculo imputavel a DiretOlia do Conselho Seccional para a sindicancia, ou no caso de irreparabilidade do perigo pela demora, 0

Conselho Pleno pode aprovar liminarmente a interven~ao provis6ria.

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§ 32 0 Presidente da Camara, aJem de votar por sua delega<;ao, tem 0

voto de qualidade, no caso de empate.

Art. 88. Compete it Primeira Camara:

I - decidir os recursos sabre:

a) atividade de advocacia e direitos e prerrogativas dos advogados e estagiarios;

b) inscri<;ao nos qnadros da OAB;

c) incompatibilidades e impedimentos;

II - expedir resolu<;6es regulamentando 0 Exame de Ordem, para garantir sua eficiencia e padroniza~ao nacional, ouvida.a Comissao Nacio­nal de Examede Ordem;

III - julgar as representat;5es sabre as materias de sua competencia;

IV - propor, instruir e julgar os incidentes de uniformlza<;ao de deci­soes de sua cOlupetencia;

V - detenninar ao Conselho Seccional competente a instanra<;ao de processo quando, elll autos Oli pec;as submetidas ao seu julgamento, tomar conhecimento de fato que constitua infra<;ao disciplinar;

VI - julgar as recursos interpostos contra decis5es de seu Presidente.

. Art. 89. Compete a Segunda Camara:

1-decidir as recursos sabre etica e deveres do advogado, infrac;6es e san<;6es disciplinares;

. II - promover em ambito nacional a etica do advogado, juntamente com os Tribunais de Etica e Disciplina, editando resolu<;6es regulamentares ao C6digo de Etica e Disciplina;

III - julgar as representac;5es sabre as H1aterias de sua competencia;

IV - propor, instlUir e julgar osincidentes de uniformiza<;ao de deci­soes de sua competencia;

V - determinar ao Conselho Seccional competente a instaura<;:ao de processo quando, em autos Oll pe~as submetidas ao seu julgamento, tomar conhecimento de fato que constitua infra<;ao disciplinar;

VI - julgar os recursos interpostos contra decisoes de seu Presidente;

VII - eleger, dentre seus integrantes, os membros da Corregedoria do Processo Disciplinar, em numero maximo de tres, com atribui~ao, em carater micional, de orientar e fiscalizar a tramita<;:ao dos processos discipli­nares de competencia da OAB, podendo, para tanto, requerer informa<;:6es e

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realizar diligencias, elaborando relat6rio annal dos processos em tramite no Conselho Federal enos Conselhos Seccionais e Subse<;6es.

Art. 90. Compete it Terceira Camara:

1- decidir os rec'ursos relativos a estrutura, aos 6rgaos e ao processo eleitoral da OAB;

II - decidir os recursos sobre sociedades de advogados, advogados associados e advogados empregados;

III - apreciar os relat6rios anuais e deliberar sobre 0 balan~o e as contas da Diretoria do Conselho Federal e dos Conselhos Seccionais;

IV - suprir as omiss6es ou regulamentar as normas aplicaveis as Caixas de As'sisienda dos-Advogados, inclusive mediante resolu~6es~

V - modificar ou cancelar, de offcio ou a pedido de qualquer pessoa, dispositivo do Regimento Interno do Conselho Seccional que contrarie 0

Estatuto ou este Regulamento Geral;

VI - julgar as representac;.6es sobre as materias de sua competencia;

VII - propor, instlUir e julgar os incidentes de unifonniza<;ao de de­cis5es de sua competencia;

VIII --'- detenninar ao Conselho Seccional competente a instaura<;ao de processo quando, em autos ou pe<;as submetidas ao seu julgamento, to­mar conhecimento de fato que constitua infra<;ao disciplinar;

IX - julgar os recursos interpostos contra decis5es de seu Presidente.

Sel'ao V Das Sessoes

Art. 91. Os 6rgaos colegiados do Conselho Federal reunem-se ordina­riamente nos meSes de fevereiro a junho e de agosto a dezembro de cada ano, em sua sede no Distrito Federal, nas datas fixadas pela Diretoria.

§ 1" Em caso de urgencia ou nos perfodos de recesso (janeiro e julho), o Presidente ou um terl'o das delegal'oes do Conselho Federal pode convo­car sessao extraordinana.

§ 22 A sessao extraordinana, em carater excepcional e de grande relevancia, pode ser convocada para local diferente da sede do Conselho Federal.

§ 3" As convoca<;6es para as sess6es ordimlrias sao acompanhadas de minuta da ata da sessao anterior e dos demais documentos necessarios.

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Page 104: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

ocasionais, senda 0 ultimo substitufdo pelo Conselheiro Federal mais anti­go e, havendo coincidencia .de mandatos, pelo de inscri~ao mais antiga.

§ 2· No caso de licen~a temponlria, 0 Diretor e substitufdo pelo Con­selheiro designado pelo Presidente.

§ 32 No caso de vacancia de cargo da Diretoria, em virtude de perda do mandato, morte ou renuncia, 0 sucessor e eleito pelo Conselho Pleno.

Art. 99. Compete 11 Diretoria, coletivamente:

I - dar execu~ao as delibera~6es dos 6rgaos deliberativos do Con­selho;

II - elaborar e submeter a Terceira Camara, na forma e prazo estabe­leddos neste Regulrunento Oeral, 0 or~amento ·anual 'da receita e da despe­sa, 0 relatolio anual, 0 balan~o e as contas~

ill - elaborar estatfstica anual dos trabalhos e julgados do Conselho;

IV - distribuir e redistribuir as atribui~5es e competencias entre os seus membros~

V - elaborar e aprovar 0 plano de cargos e sahirios e a polftica de administra~iio de pessoal do Conselho, propostos pelo Secretario-Geral;

VI - promover assistencia financeira aos orgaos da OAB, elTI caso de necessidade comprovada e de acordo com previsao or~amentllii.a;.

VII - definir criterios para despesas com transporte e hospedagem dos Conselheiros, membros das comissoes e convidados;

Vill - alienar ou onerar bens m6veis;

IX - resolver os casos omissos no Estatuto e no Regularnento Geral, ad referendum do Conselho Pleno.

Art. 100. Compete ao Presidente:

1- representar a OAB em geral e os advogados brasileiros, no pafs e no exterior, em jufzo au fora dele;

II - representar 0 Conselho Federal, em jufzo ou fora dele;

III - convocar e presidir 0 Conselho Federal e executar suas de­cis6es;

IV - adquirir, onerar e alienar bens imoveis, quando autorizado, e administrar 0 patrimonio do Conselho Federal, juntamente com 0 Te­soureiro;

V - aplicar penas disciplinares, no caso de infra~iio cometida no ambito do Conselho Federal;

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VI - assinar, com 0 Tesoureiro, cheques e ordens de pagamento;

VII - executar e fazer executat· 0 Estatuto e a legisla~ao complementar.

Alt. 101. Compete ao Vice-Presidente:

I - presidir 0 6rgao Especial e executar suas decis6es;

II - executar as aU'ibui~5es que Ihe forem cometidas pela Diretoria ou delegadas, por portaria, pelo Presidente.

Art. 102. Compete ao Secretruio-Geral:

I - presidir a Primeira Camara e executar suas decis6es;

II - dirigir todos os U'abalhos de Secretaria do Conselbo Federal;

ill - secretariar as sess6es do Consell}o Pleno;

IV - lnauter sob sua guarda e inspe~ao todos os documentos do Con­selbo Federal;

V - controlar a presen~a e declat'ar a perda de mandato dos Conse-lheiros Federais;

VI - executar a administra~iio do pessoal do Conselho Federal;

VII - emitir certid6es e declara~6es do Conselho Federal.

Art. 103. Compete ao Secretmo-Geral Adjunto:

I - presidir a Segunda Camara e executar suas decis6es;

II - organizar e manter 0 cadastro nacional dos advogados e estagia­rios, requisitando os dados e informa~6es necessarios aos Conselhos Seccionais e promovendo as medidas necessarias;

III - executar as atribui~5es que the forem cometidas pela Diretoria ou delegadas pelo Secretario-Geral;

IV - ..... ecretatiar 0 Orgao Especial.

Art. 104. Compete ao Tesoureiro:

1- presidir a Terceira Camara e executar suas decis6es;

II - manter sob sua guarda os bens e valores e 0 almoxatifado do Conselho;

III - administrar a Tesouraria, controlar e pagar todas as despesas autoriza"ctas e assinar cheques e ordens de pagamento com 0 Presidente;

IV - elaborar a proposta de or~amento anual, 0 relat6rio, os balan~os e as contas mensais e anuais da Diretoria;

V - propor 11 Diretoria a tabela de custas do Conselbo Federal;

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Page 105: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

§ 22 A delibera~ao e tomada pela maioria dos votos dos presentes, inc1uindo os ex-presidentes com direito a yoto.

§ 32 Comprova-se a presenga pela assinatura no documento proprio. sob centrale do Secretario da sessao.

§ 42 Qualquer membro presente pode requerer a verifica<;ao do quorum, por chamada.

§ 5.2 A ausencia a sessao depois da assinatura de presen<;a, nao justificada ao Presidente, e contada para efeito de perda do mandato.

Art. 109. 0 Conselho Seccional pode dividir-se em 6rgaos deIiberativos e instituir comissoes especializadas, para Inelhor deselnpe­nho de suas atividades.

§ 12 Os 6rgaos do Conselho podem reccber a colabora<;ao gratuita de advogados flaO conselheiros, inclusive para instnwao processual, conside­rando-se fungao relevante e}TI beneficia da advocacia.

§ 22 No Conselho Seccional e na Snbse<;ao que disponha de conselho e obrigat6ria a instalagao e 0 funcionamento da Comissao de Direitos Hu­manos, da Comissao de Orc;amento e Contas e da Comissao de Estagio e Exame de Ordem.

§ 32 Os suplentes podem desempenhar atividades pennanentes e tem­poranas, na fonna do Regimento Interno.

Art. 11 O. Os relatores dos processos em tramita<;ao no Conselho Seccional tern competencia para instrn~ao, podendo ouvir depoimentos, requisitar documentos, determinar diligencias e prop~r 0 arquivamento Oll

outra providencia porventura eabfvel ao Presidente do 6rgao eolegiado e~m­petente.

Art. Ill. 0 Conselho Seccional fixa tabela de honorarios advocati­cios, definindo as referencias mfnimas e as propor<toes, quando for a caso.

Paragrafo unico. A tabela e amplamente divulgada entre os inscritos e encaminhada ao Poder Judiciario para os fins do art. 22do Estatuto.

Art. 112. 0 Exame de Ordem e organizado pela Comissao de Estagio e Exame de Ordem do Conselho Seccional, na forma do Provimento e das Resolu~6es do Conselho Federal, segundo padrao nacional uniforme de quaJidade, criterios e programas.

§ I" Cabe a Comissao fixar 0 calendano anual do Exame.

§ 22 0 recurso contra decisao da Comissao ao Conselho Seccional observa os criterios previstos no Provimento do Conselho Federal e no re­gulamento do Conselho Seccional.

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Art. 113.0 Regimento Interno do Conselho Seccional define 0 proce­dimento de interven<tao total ou parcial nas Subse<toes e na Caixa de Assis­tencia dos Advogados, observados os eriterios estabelecidos neste Regula­mento Geral para a interven~ao no Conselho Seccional.

Art. 114. Os Conselhos Seccionais definem nos seus Regimentos Inter­nos a COlnposi<tao, 0 modo de elei<tao e 0 funcionamento dos Tribunais de Etica e Disciplina, observados os procedimentos do C6digo de Etica e Disciplina.

§ 12 Os membros dos Tribunais de Etica e Disciplina, inclusive sens Presidentes, sao eleitos na primeira sessao ordinaria ap6s a posse dos Con­selhos Seccionais, dentre os seus integrantes ou advogados de notavel repu­ta<;3.o etico-profissional. observados os mesmos requisitos para a elei<;ao do

" .. C()nselho Seccional.

§ 2S! 0 Inandato dos membros dos Tribunais de Etica e Disciplina tern a dura~ao de tres anos.

§ 32 Ocorrendo qualquer das hip6teses do art. 66 do Estatuto, 0 mem­bro do Tribunal de Etica e Disciplina perde 0 mandato antes do seu termin~, cabendo ao Conselho Seccional eleger 0 substituto.

CAPiTULO V DAS SUBSE<;OES

Art. 115. Compete as Subsc~6es dar cumprimento as finalidades pre­vistas no art. 61 do Estatuto e neste Regulamento Gera!.

Art. 116.· 0 Conselho Seccional fixa, em seu or~amento anual, dota­~6es especificas para as Subse~6es, c as repassa segundo programa~ao fi­naneeira aprovada all em duodecimos.

Art. 1) 7. A Crfa~ao de Subse~ao depende, alem da observancia dos requisitos estabelecidos no Regimento Interno do Conselho Seccional, de estudo p.n'liminar de viabilidade realizado por comissao especial designada pelo Presidente do Conselho Seccional, inclnindo 0 numero de advogados efetivamente residentes na base territorial. a existencia de camarca judicia­ria, 0 levantamento e a perspectiva do mercado de trabalho, 0 custo de ins­tala~ao e de manuten~ao.

Art. 118. A resolu~ao do Conselho Seccional que criar a Subsegao deve:

1- fixar sua base territorial; II - definir os limites de suas cOlnpetencias e autonOlnia;

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Page 106: Paulo Lobo - Comentarios ao Estatuto da OAB

ill - modo de composi~ao da chapa, incluindo 0 numero de mem­bros do Conselho Seccional;

IV - prazo de tres dias tHeis, tanto para a impugna~ao das chapas quanto para a defesa, apos 0 encerramento do prazo do pedido de registro (item II), e de cinco dias 6teis para a decisao da Comissao Eleitoral;

V - nominata dos membros da Comissao Eleitoral escolhida pela Diretoria;

VI - locais de vota~ao;

VII - referencia a este capitulo do Regulamento Geral, cujo conteu­do estani a disposic;ao dos interessados.

-§ I" 0 edital define se as chapas concorrentes asSubse~6es s'lio' registradas nestas ou na Secret31ia do proprio Conselho.

§ 22 Cabe aos Conselhos Seccionais promover ampla divulga~ao das elei<toes, em seus meios de comunica<;ao, DaG podendo recusar a publica­~ao, em condi~oes de absoluta igualdade, do programa de todas as chapas_

§ 39 Mediante requerinlento escrito de candidato devidamente regis­trado, 0 Conselho Seccional ou a Subse~ao fomecerao, em 72 (setenta e duas) horas, listagem atualizada com nOlne e enderec;o, inclusive enderec;o eletTonico, dos advogados.

§ 4" A listagem a que se refere 0 § 32 sera fomecida mediante 0 paga­mento das taxas fixadas pelo Conselho Seccional, nao se admitindo mais de urn requerimento por chapa concorrente.

Art. 129. A Comissao Eleitoral e composta de cinco advogados, sen­dp urn Presidente, que nao integrem qualquer das chapas canCOl1-entes.

§ P A Comissao Eleitoral utiliza os servi~os das Secretarias do Con­selho Seccional e das Subsec;5es, COIn 0 apoio necessario de suas Diretori­as, convocando au atribuindo tarefas aos respeclivos servidores.

§ 22 No prazo de cinco dias tHeis, apos a publica~aO do edital de con­voca~ao das elei~oes, qualquer advogado pode argtiir a suspei~ao de mem­bro da Comissao Eleitoral, a ser julgada pelo Conselho Seccional.

§ 32 A Comissao Eleitoral pode designar Subcomissoes para auxiliar suas atividades nas Subse~oes.

§ 42 As mesas eleitorais sao designadas pela Comissao Eleitoral.

§ 52 A Diretoria do Conselho Seccional pode substituir os membros da Comissao Eleitoral quando, comprovadamente, nao estejam cumprindo suas atividades, em prejulzo da organizac;ao e da, execuc;ao das eleic;5es.

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Art. 130. Contra decisao da Comissao Eleitoral cabe recurso ao Con­selho Seccional, no prazo de quinze dias, e deste para 0 Conselho Federal, no meSIllO prazo, alTIbos selTI efeito suspensivo.

Art. 131. Sao adlnitidas a registro apenas chapas completas, com indi­ca<;ao dos candidatos aos cargos de diretoria do Conselho Seccional, de conselheiros seccionais, de conselheiros federais, de diretoria da Caixa de Assistencia dos Advogados e de suplentes, se hauver, sendo vedadas candi­daturas isoladas au que integrem mais de uma chapa.

§ 120 requerimento de inscri~ao, dirigido ao Presidente da Comissao Eleitoral, e subscrito pelo candidato a Presidente, contendo nome comple­to, m.lInero de inscric;ao na GAB e enderec;o proflssional de cada candidato; COIn indicac;ao' do -cargo a que cantone, aCOlllpanhado das aut0l1zac;5es es­

critas dos integrantcs da chapa.

§ 22 Somente integra chapa 0 candidato que, cumulativamente: ,

a) sej a advogado regulannente inscrito na respectiva Seccional da OAB, com inscric;ao principal au suplementar;

b) esteja em dia com as anuidades;

c) 11a.o ocupe cargos ou func;5es inCOlTIpatfveis com a advocacia, refe­ridos no art. 28 do Estatuto, elTI caniter permanente au telTIponirio, res salva­

do 0 disposto no art. 83 da mesma Lei;

d) nao ocupe cargos ou fun~6es dos quais possa ser exoneravel ad nutum, mesmo que compatfveis com a advocacia;

e) nao tenha sido condenado por qualquer infra~ao disciplinar, com decisao transi.tada em julgado, salvo se reabilitado pela OAB;

1) exer~a efetivarnente a profissao, ha mais de cinco anos, exclufdo 0

penodo de estagiario, sendo facultado it Comissao Eleitoral exigir a devida

comprovac;ao; ./ g) nao esteja em debito com a presta~ao de contas ao Conselho'Fede­

ral, no caso de ser dirigente do Conselho Seccional. § 32 A Comissao Eleitoral publica no quadro de avisos das Secretarias

do Conselho Seccional e das Subse~oes a composi~ao das chapas com re­gistro requerido, para fins de impugna~ao par qualquer advogado inscrito.

§ 4" A Comissao Eleitoral suspende 0 registro da chapa incompleta ou que inelua candidato inelegivel na forma do § 2", concedendo ao candidato a Presidente do Conselho Seccional prazo imprOlTOgaVel de cinco dias uteis para sanar a irregularidade, devendo a Secretaria e a Tesouraria do Conse­Iho ou da Subs~ao pres tar as informa~oes necessarias.

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e determinar a notifica<;ao da chapa representada, por intennedio de qual­quer dos candidatos a Diretoria do Conselho ou, se for 0 caso, da Subse<;ao, para que apresente defesa no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de do­cumentos e rol de testemunhas.

§ 5" Pode 0 Presidente da Comissao Eleitoral determinar a representa­da que suspenda 0 ato hnpugnado, se entender relevante 0 fundamento e necessaria a medida para preservar a nonnalidade e legitin1idade do pleito, cabendo recurso, a Comissao Eleitoral, no prazo de 3 (tres) dias.

§ 6" Apresentada ou nao a defesa, a Comissao Eleitoral procede, se for o casa, a instruc;ao do processo, pela requisi<;iio de documentos e a oitiva de testemunhas, no prazo de 3 (tres) dias,

§ 7Q EncelTada a dilac;::ao probat6da, as partes terao prazo COlnmn de 2 (dois) dias para apresenta,ao das alega<;6es finais.

§ 8" Findo 0 prazo de alega<;oes finais, a Comissao Eleitoral decidini, em no maximo 2 (dois) dias, notificando as partes da decisao, podendo, para isso, valer-se do usa de fax.

§ 9" A decisao que julgar procedente a representa,ao implica no can­celamento de registro da chapa representada e, se for 0 caso, na anula,ao dos votos, com a perda do mandata de sens componentes.

§ 10. Se a nulidade atingir mais da metade dos votos a elei,ao estara prejudicada, convocando-se outra no prazo de 30 (trinta) dias.

§ 11. Os candidatos da chapa que tiverem dado causa a anula<;ao da elei<;ao nao podem concorrer no pleito que se realizar em complemento.

§ 12. Ressalvado 0 disposto no § 4" deste artigo, os prazos correm em Secretaria, publicando-se, no quadro de avisos do Conselho Seccional ou da Subse<;ao, se for 0 caso, os editais relativos aos atos do processo eleitoral.

Art. 134. 0 votO e obrigatorio para todos os advogados inscritos da OAB, sOb pena de multa equivalente a 20% (vinte por cento) do valor da anuidade;salvo ausencia justificada por escrito, a ser apreciada pela Direto­ria do Conselho Seccional.

§ 1" 0 eleitor faz prova de sua legitima<;ao apresentando sua carteira ou cartao de identidade profissional e 0 comprovante de quita<;ao com a OAB, suprivel por listagem atualizada da Tesouraria do Conselho ou da Subse<;ao.

§ 2" 0 eleitor, na cabine indevassavel, devera assinalar 0 quadrfculo correspondente a chapa de sua escolha, na cedula fomecida e rubric ada pelo presidente da mesa eleitoral.

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§ 3Q Nao pode 0 eleitor suprir all acrescentar names all rasurar a cedu­la, sob pena de nulidade do voto.

§ 4" 0 advogado com inscri<;ao suplementar pode exercer op,ao de voto, comunicando ao Conselho cnde tenha inscrir;ao principal.

§ 5" 0 eleitor somente pode votar no local que the for designado, seudo vedada a vota'tao em transito.

§ 6" Na hipotese de voto eletr6nico, adotar-se-ao, no que couber, as regras estabelecidas na Legisla'tao Eleitoral.

Art. 135. Encerrada a vota<;ao, as mesas receptoras apuram os votos das respectivas umas, nos mesmos locais au em outros designados pela Comissao Eleitoral, preenchenda e assinando os- documentos dos resulta­dos e entregando todo 0 lnaterial a Comissao Eleitoral au a Subcomissao.

§ 1" As chapas conconentes podem credenciar ate dois fiscais para atuar alternadamente junto a cada l11esa eleitoral e assiuar as documentos dos resultados.

§ 2" As impugna<;6es promovidas pelos fiscais sao registradas nos documentosdos resultados, pela mesa, para decisao da Comissao Eleitoral ou de sua Subcomissao, mas nao prejudicam a contagem de cada uma.

§ 32 As impugna'toes devem ser formuladas as mesas eleitorais, sob pena de preclusao.

Art. 136. Concluida a totaliza<;ao da apura<;ao pela Comissao Eleito­ral, esta proclamara 0 resultado, lavrando ata encaminhada ao Conselho Seccional.

§ 1" Sao considerados eleitos os integrantes da chapa que obtiver·a maioria dos votos validos, proclarnada vencedora pela Comissao Eleitoral, seuda elnpassados no primeiro dia do inicio de seus mandatos.

§ 2f' A totaliza<;ao dos votos relativos as elei~6es para diretoria da Subse<;ao e do conselho, quando houver, e promovida pela Subeornissao Eleitoral, que proclama 0 resultado, lavrando ata encaminhada a Subse<;ao e ao Conselho Seccional.

Art. 137. A elei<;ao para a Diretoria do Conselho Federal observa 0

disposto no art. 67 do Estatuto.

§ I" A Diretoria do Conselho Federal procede a contagem dos votos, proclamando 0 resultado e a elei<;ao dos integrantes da chapa mais votada.

§ 2"Todos os membros dos Conselhos Seccionais tem direito de voto, inclusive seus ex-Presidentes empossados ate 4 de julho de 1994.

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§ 32 Durante 0 perfodo de recesso do Conselho da OAB que proferiu a decisao recorrida, as prazos sao suspensos, reiniciando-se no primeiro dia util ap6s 0 seu termino.

Art. 140. 0 relator, ao constatar intempestividade ou ausencia dos pressupostos Jegais para interposigao do recurso, profere 'despacho indican­do ao Presidente do orgao julgador 0 iudeferimento liminar, devolvendo-se o processo ao orgao recorrido para executar a decisao.

Panigrafo unico. Contra a decisao do Presidente, feferida neste artigo, 'cabe recurso voluntario ao orgao julgador.

Alt. 141. Se a relator da decisao recorrida tambem integrar 0 6rguo julgador superior, fica .neste. impedido de relatar 0 recurso.

Art. 142 .. Quando a decisao, inclusive dos Conselhos Seccionais, conflitar com orienta~ao de orgao colegiado superior, fica sujeita ao duplo grau de jurisdi~ao.

Art. 143. Contra decisao do Presidente ou da DiretOlia da Subse~ao cabe recurso ao Conselho Seccional, mesmo quando hOllver conselho fla Subse~ao.

Art. 144. Contra a decisao do Tribunal de Etica e Disciplina cabe re­curso ao plenano ou orgao especial equivalente do Conselho Seccional.

Paragrafo unico. 0 RegimentoIntemo do Conselbo Seccional disci­plina 0 cabimento dos reCll[SOS no ambito de cada 6rgao julgador.

Alt. 144-A. Para a forma~ao do recurso interposto contra decisao de suspensao preventiva de advogado (art. 77, Lei n. 8.906/94), dever-se-a jun­tar copia integral dos autos da representa~ao disciplinar, peIIDanecend,; 0

processo na origeln para cumprimento da pena preventiva e tramita~ao fi­nal, nos telIDOS do art. 70, § 32 , do Estatuto.

CAPITULO IX DAS CONFERENCIAS E DOS COLEGIOS

DE PRESIDENTES

Art. 145. A Conferencia Nacional dos Advogados e orgao consulti­va maximo do Conselho Federal, reunindo-se trienalmente, no segundo ano do mandato, tendo par objetivo 0 estudo e Q debate das questbes e problemas que digam respeito as finalidades da OAB e ao congra~arnento dos advogados.

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§ 12 As Conferencias dos Advogados dos Estados e do Distrito Fede­ral sao orgaos consu1tivos dos Conselhos Seccionais, reunindo-se triena1mente, no segundo ano do mandata.

§ 22 No primeiro ano do mandato do Conselho Federal ou do Conse­Iho Seccional, decidem-se a data, 0 local e 0 lema central da Conferencia.

§ 32 As conc1us5es das Conferencias tern can iter de recomenda~ao aos Conselhos correspondentes.

Art. 146. Sao membros das Conferencias:

I - efetivos: as Conselheiros e Presidentes dos orgaos da OAB pre­sentes, as advogados e estagiarios inscritos na Conferencia, todos com di­reito a voto;

II - convidados: as pessoas a quem a Comissao Organizadora conce­der tal qualidade, -seln direito a voto, salvo se for advogado.

§ 12 Os convidados, expositores e membros dos 6rgaos da GAB tern identifica~ao especial durante a Conferencia.

§ 22 Os estudantes de direito, mesmo inscritos como estagiarios na OAB, sao membros ouvintes, esco1hendo urn porta-voz entre as presentes em cada sessao da Conferencia.

Art. 147. A Conferencia e dirigida por uma Comissao Organizadora, designada pelo Presidente do Conselho, por ele presidida e integrada pelos membros da Diretoria e outros convidados.

§ 12 0 Presidente pode desdobrar a Comissao Organizadora em co­miss5es especfficas, definindo suas composi~6es e atribui~oes.

§ 2" Cabe it Comissao Organizadora definir a distribui~ao do telmirio, os nomes dos expositores, a programa~ao dos trabalhos, os servi~os de apoio e infra-estrutura e 0 regimento interno da Conferencia.

Art. 148. Dura:nte 0 funcionamento fla Conferencia, a Comissao Organizadora e representada pelo Presidente, com poderes para cumprir a prOgralna~aO estabelecida e decidir as q uestoes ocorrentes e as casas

omissos. Art. 149. Os trabalhos da Conferencia desenvolvem-se em sessbes ple­

mirias, paineis ou outros modos de exposi~ao ou atua~ao dos participantes.

§ 1 Q As sessbes sao dirigidas por urn Presidente e urn Relator, escolhi­dos pela Comissao Organizadora.

§ 2" Quando as sessbes se desenvolvem em forma de paineis, os expo­sitores ocupam a metade do tempo total e a outra metade e destinada aos debates e vota~ao de propostas ou conelusbes pelos participantes.

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ANEXO II

C6DIGO DE ETICA E DISCIPlINA

o CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, ao instituir 0 C6digo de Etica e Disciplina, norteou-se por princi­pios que fannam a consciencia profissional do advogado e representam im­perativos de sua conduta, tais como: os de lutar sem receio pelo pdmado da Justi<;a; pugnar peIo cUll1primento da Constitui<;ao e pelo respeita a Lei, fazendo com que esta seja interpretada com retidao, em perfeita sintonia com as fins sociais a que se dirige e as exigencias do bern comum; ser fiel a verdade para poder servir a Justi<;a como Ulll de sellS elementos essenciais; proceder com lealdade e boa-fe em suas rela~6es profissionais e em todos os atos do seu ofido; empenhar-se na defesa das causas confiadas ao seu patrocinio, -dando ao constituinte 0 amparo do Direito, e proporcionando­lhe a realizagao pnltica de seliS legftimos interesses; comportar-se, nesse mister, com independencia e altivez, defendendo com 0 mesmo den9do humildes e poderosos; exercer a advocacia com 0 indispensavel senso pro­fissional, mas tambem com desprendimento, jamais permitindo que 0 an­seio de ganbo material sobreleve a finalidade social do seu trabalho; apri­morar-se no culto dos princfpios eticos e no dominio da ciencia juridica, de modo a tonlar-se merecedor da confianc;a do cliente e da. sociedade como urn todo, pelos allibutos intelectuais e pela probidade pessoal; agir, em suma,. com a dignidade das pessoas de bern e a corre~lio dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe.

Inspirado nesses postulados e qne a Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, no usa das atribui~6es que the slio conferidas pelos arts. 33 e 54, V, da Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, aprova e edita este C6digo, exortando as advogados brasiIeiros a sua .fiel observancia.

Brasilia-DF, 13 de fevereiro de 1995.

Jose Roberto Batochio, Presidente

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TiTULO I DA ETICA DO ADVOGADO

CAPITULO I DAS REGRAS DEONTOLOGICAS FUNDAMENTAlS

Art. 1 Q 0 exercicio da advocacia exige conduta compativel com os preceitos deste C6digo, do Estatuto, do Regulamento Geral, dos Provimen­tos e com os demais princfpios da moral individual, social e profissional.

Art. 22 0 advogado, indispensavel a administra~lio da Justi~a, e de­fensordo estado democnitico de direito, da cidadania, da moralidade publi­ca, da Justi~a e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministeiio Privado a elevada fun~lio publica que exerce.

Paragrafo unico. Slio deveres do advogado: I _ preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a dignidade da

profisslio, zelando pelo seu carater de essencialidade e indispensabilidade;

II _ atuar COIn destemor, independencia, honestidade, decaro, vera­

cidade, lealdade, dignidade e boa-fe; III ~ velar par sua reputa~lio pessoal e profissional; IV _ empenhar-se, permanentemente, em seu aperfeic;oamento pes­

soal e profissional; V _ contribuir para 0 aprimoramento das institui~6es, do Direito e

das leis; VI _ estimular a concilia~ao entre os litigantes, prevenindo, sempre

que possivel, a instaurm;ao de litigios; VII _ aconselhar 0 cliente a niio ingressar em aventura judicial;

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VIn - abster -se de: ~

a) utilizar de influ€ncia indevida, em seu beneficio au do cIiente;

b) patrocinar interesses ligados aoutras atividades estranhas a advo­

cacia, em que tambe-m atue; c) vincular 0 seu nome a empreendimentos de cunho manifestamente

duvidoso; d) emprestar concurso aos que atentem contra a etica, a moral. a ho­

nestidade e a dignidade da pessoa humana; e) entender-se diretamente com a parte adversa que tenha patrono cons­

tituido, sem 0 assentimento deste;

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Art, 23. E defeso ao advogado funcionar no mesmo processo, simul­taneamente, como patrono e preposto do empregador ou cliente.

Art. 24. 0 substabelecimento do mandato, com reserva de poderes, e ato pessoal do advogado da causa.

§ 1 Q 0 substabelecimento do mandata sem reservas de poderes exige o previa e inequivoco conhecimento do cliente.

§ 220 substabelecido com reserva de poderes deve ajustar antecipa­damente seus hononirios com 0 substabelecente.

CAPiTULO III DO SIGILO PRO FISSIONAL

Art. 25. 0 sigilo profissional e inerente a profissao, impondo-se 0 seu respeito~ salvo grave mneac;a ao direito a vida. a honra, ou quando 0 advoga­do se veja afrontado pelo proprio cliente e, em defesa propria, tenha que revelar segredo, porem sempre restrito ao interesse da causa.

Art. 26. 0 advogado deve guardar sigila. meSIna eln depoimento judi­cial, sabre 0 que saiba ern razao de seu alicia, cabendo-lhe recusar-se a depor CDlna testemunha eln processo no qual funcionou Oll deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou tenha side advogado, mesmo que autorizado ou solicitado pelo constituinte.

Art. 27. As confidencias feitas ao advogado pelo cliente podem ser utilizadas nos limites da necessidade da defesa, desde que autorizado aque­Ie pelo constituinte.

Panigrafo tinieo. Presumem-se confidenciais as comunica~5es epistolares entre advogado e cliente. as quais nao podem ser reve1adas a terceiros.

CAPfTULO IV

DA PUBLICIDADE

Art. 28. 0 advogado pode anunciar os seus servi~os profissionais, in­dividual ou coletivamente, com discri~ao e modera~ao, para finalidade ex­clusivamente infonnativa. vedada a divu1ga~ao em conjunto com outra ati­vidade.

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Art. 29. 0 amlncio deve mencionar 0 nome completo do advogado e 0 nUlnero da inscrigao na OAB, podendo fazer referencia a tftu10s ou qualificagoes profissionais, especializagao tecnico-cientffica e associa­<toes culturais e cientfficas, endere<;os, horario do expediente e meios de comunica<tao, vedadas a sua veicula<tao pelo nidio e televisao e a deno­mina~ao de fantasia.

§ 12 Tflulos ou qualifica<;oes profissionais sao os relativos a profissao de advogado, conferidos par universidades ou institui<t5es de ensino superi­or, reconhecidas.

§ 2f' Especialidades sao os ramos do Direito, assim entendidos pelos doutrinadores au legalmente reconhecidos.

§ 3" Conespondencias, comunicados e pubhca~6es, versando sabre constituigao, colaborac;ao, cOlnposic;ao e qualificac;ao de componentes de escrit6rio e especificac;ao de especialidades profissionais, bern COlno bo­letins infonnativos e comentarios sabre legislac;ao, sornente podeln ser fornecidos a colegas, clientes, all pessoas que os solicitem au os autori­zero previaInente.

§ 42 0 amlncio de advogado nao deve mencionar, direta ou indireta­mente, qualquer cargo, funC;ao publica au relac;ao de emprego e patrocfnio que tenha exercido, passivel de captar clientela.

§ 52 0 uso das express5es "escrit6rio de advocacia" ou "sociedade de advogados" deve estar acompanhado da indicac;ao de nurnero de registro na OAB ou do nome e do 1111mero de inscri~ao dos advogados que 0 integrem.

§ 6£ 0 amlncio, no Brasil, deve adotar 0 idioma portugues, e, quando em idiOIna estrangeiro, deve estar acompanhado da respectiva traduc;ao.

Art. 30. 0 anuncio sob a forula de placas, na sede profissional ou na residencia do advogado, deve observar discri~ao quanta ao conteudo, fonna e dimens5es, seln qualquer aspecto mercantilista, ved,!da a utilizagao de "outdoor" au equivalente.

Art 31. 0 amlncio nao deve canter fotografias, ilustragoes, cores, fi­guras, desenhos, 10gotipos, marcas au sf'rnbolos incompatfveis com a sobri­edade da advocacia, sendo proibido 0 usa dos sfmbolos oficiais e dos que sejam utilizados pela Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 1£ Sao vedadas referendas a valores dos servi~os, tabelas, gratuidade ou forma de pagamento, termos ou express5es que passam iludir ou COll­fundir 0 pUblico, informa~6es de servi~os jurfdicos suscetfveis de implicar, direta au indiretamente, capta~ao de causa Oll clientes, bern como men<;ao ao tamanho, qualidade e estrutura da sede profissional.

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dos de hononirios da sucumbencia, na.o podem ser supeliores as vantagens advindas em favor do constituinte ou do cliente.

Panigrafo unico. A pmticipa9ao do advogado em bens pmticulares de cliente, cOlnprovadamente gem condi~5es pecuniarias, so e tolerada em ca­niter excepcional, e desde que contratada por escrito.

Art. 39. A celebra9ao de convenios para presta9ao de servi90s jundicos com redu9iio dos valores estabelecidos na Tabela de Honorarios implica cap­tagao de clientes ou causa, salvo se as condic;5es peculiares da necessidade e dos carentes puderem ser demonstradas com a devida antecedencia ao res­pectivo Tribunal de Etica e Disciplina, qne deve analisar a sua oportnnidade.

Art. 40. Os honorarios advocatfcios devidos ou fixados em labelas_no regiIne da assistencia judichiria nao poden1 ser alterados no quantum esta­belecido; mas a verba hononiria decOlTente da sucumbencia pertence ao advogado.

Art. 41. 0 advogado deve evitar 0 aviltamento de val ores dos servi90s profissionais, nao os fixando de forma irris6ria au inferior ao minimo fixa­do pela Tabela de Hononirios, salvo motivo plenamente justificavel.

Art. 42. 0 cnodito por honorarios advocatfcios, seja do advogado au­tonomo, seja de sociedade de advogados, nao autoriza 0 saque de duplicatas ou qualquer outrD titulo de credito de natureza mercantil, exceto a emissao de fatura, desde que constima exigencia do constituinte ou assistido, decor­rente de contrato escrito, vedada a tiragem de protesto.

Art. 43. Havendo necessidade de arbitramento e cobran9ajudicial dos hononirios advocatfcios, deve 0 advogado renunciar ao patrocinio da causa, fazendo-se representar por urn colega.

CAPiTULO VI DO DEVEKDE URBANIDADE

Art. 44. Deve 0 advogado tratar 0 publico, os colegas, as autoridades e os funcio.mirios do Juizo com respeito, discriC;ao e independencia, exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tern direito.

Art. 45. Impoe-se ao advogado Ihaneza, emprego de linguagem escorreita e polida, esmero e disciplina na exeCUC;ao dos servigos.

Art. 46. 0 advogado, na condi9iio de defensor nomeado, conveniado ou dativo, deve comportar-se COlD zelo, empenhando-se para que 0 cliente se sinta amparado e tenha a expectativa de regular desenvolvimento da demanda

CAPITULO VII DAS DISPOSI<;OES GERAIS

Art. 47. A falta ou inexistencia, neste C6digo, de definic;ao ou orienta­gao sobre questao de etica profissional, que seja relevante para 0 exercfcio da advocacia ou dele advenha, enseja consulta e manifesta9ao do Tribunal de Etica e Disciplina ou do Conselho Federal.

Art. 48. Sempre que tenha conhecimento de transgressao das normas deste C6digo, do Estatuto, do Regulamento Geral e dos Provimentos, 0 Pre­sidente do Conselho Seccional, da Subsec;iio, ou do Tribunal de Etica e Dis­ciplinadeve chamar a atenc;1iodo responsive1 para 0 dispositivo violado, sem prejufzo da instauragao do competente procedimento para apurac;ao das infra~oes e aplicaqiio das penalidades cominadas.

TfwLoU DO PROCESSO D1SCIPLINAR

CAPiTULO I DA COMPETENCIA DO TRIBUNAL

DE ETICA E DlSCIPLINA

Art. 49. 0 Tribunal deEtica e Disciplina e competente para orientar e aconselhar sobre etica profissional, respondendo as consultas em lese, e julgar os processos disciplinares.

Paragrafo tiniCD. 0 Tribunal reunir-se-a mensalmente all em menor perfodo, se necessario, e todas as sessoes serao p lemirias.

Art. 50. Compete tambem ao Tribunal de Etica e Disciplina:

I - instaurar, de ofici6, processo con1petente sobre ato Oll materia que considere passivel de configurar, em tese, infrac;ao a principio au norma de etica profissional;

II - organizar, promover e desenvolver cursos, palestras, semimrrios e discussoes a respeito de etica profissional. inclusive junto aos Cursos Ju­rfdicos, visando a fonnac;ao da consciencia dos futuros profissionais para os problemas fundamentais da Etica;

III - expedir provisoes ou resoluc;oes sobre 0 modo de proceder em casos previstos nos regulmnentos e costumes do foro;

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§ 52 Ap6s 0 julgamento, os autos vao ao relator designado ou ao mem­bra que tiver parecer vencedor para lavratura de ac6rdao, contendo ementa a ser publicada no 6rgao oficial do Conselho Seccional.

Art. 57. Aplica-se ao funcionamento das sess6es do Tribunal 0 proce­dimento adotado no Regimento Interno do Conselho Seccional.

Art. 58. Comprovado que os interessados no processo nele tenham intervindo de modo temenirio, com sentido de emuIac;.ao ou procrastinac;.ao, tal fato caracteriza falta de etica passivel de puni,ao.

Art. 59. Considerada a natureza da infra,ao etica cometida, 0 Tribunal pode suspender temporariamente a aplica,ao das penas de advertencia e censura i-mpostas, desde que ° infrator."primario. dentro do prazo de 120 dias, passe a frequentar e conclua. comprovadmnente, curso. siInp6sio, se­minario ou atividade equivalente, sobre Etica Profissional do Advogado, realizado por entidade de not6ria idoneidade.

Art. 60. Os recursos contra decis5es do Tribunal de Etica e Disciplina, ao Conselho Seccional, regenl-se pelas disposic;.oes do Estatuto, do Regula­mento Geral e do Regimento Interno do Conselho Seccional.

Paragrafo liniee. 0 Tribunal dara conhecimento de todas as suas deci­s6es ao Conselho Seccional, para que determine peliodicamente a publica­,ao de seus julgados.

Art. 61. Cabe revisao do processo disciplinar, na forma prescrita no art. 73, § 5·, do Estatuto.

CAPiTULO III DAS DISPOSlt;:OES GERAIS E TRANSITORIAS

Art. 62. 0 Conselbo Seccional deve oferecer os meios e suporte im­prescindiveis para 0 desenvolvimento das atividades do Tribunal.

Art. 63. 0 Tribunal de Etica e Disciplina deve organizar seu Regimen-· to Interno, a ser submetido ao Conselho Seccional e, apos, ao Conselho Federal.

Art. 64. A pauta de julgamentos do Tribunal e public ada em orgao olicial e no quadro de avisos gerais, na sede do Conselbo Seccional, com antecedencia de 7 (sete) dias, devendo ser dada prioridade nos julgamentos para os interessados que estiverem presentes.

Art. 65. As regras deste Codigo obrigam igualmente as sociedades de advogados e os estagiarios, no que Ihes forem aplicaveis.

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Art. 66. Este C6digo entra em vigor. en1 todo 0 tenit6rio nacionaI, na data de sua publicac;.ao, cabendo aos Conselhos Federal e Seccionais e as Subse,6es da OAB promover a sua ampla divulga,ao, revogadas as dispo­sic;.6es eln contnirio.

Brasilia - DF, 13 de fevereiro de 1995.

Jose Robelto Batochio, Presidente

Modesto Carvalhosa, Relator

(Comissao Revisora: Licinio Leal Barbosa, Presidente; Robison Baroni, Secretru:io e Sub-relator; Nilzardo Carneiro Leao, Jose Cid Campelo e Ser­gio Ferraz, Memhi:o's)

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