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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 765 PAULÍNIA (SP): UMA CIDADE EM PEDAÇOS Sophia Damiano Rôvere 1 Lindon Fonseca Matias 2 Resumo: Ao longo do processo recente de urbanização e industrialização, o espaço de Paulínia, município na Região Metropolitana de Campinas (RMC), foi sofrendo intensas modificações no que se refere à produção do seu espaço urbano, o que vai resultar em diversos recortes do seu território. Imbuído nessa temática o presente trabalho procura apresentar os diferentes usos e delimitações que se faz do território paulinense, a fim de discutir como se dão essas diferentes apropriações e quais são seus principais agentes e interesses. Com o entendimento dessas diversas fragmentações do território existentes em Paulínia, pode-se estabelecer uma melhor compreensão do processo de produção do seu espaço urbano e, desta forma, produzir conhecimentos para auxiliar futuras ações de planejamento e gestão municipal vislumbrando a promoção de um espaço urbano mais equitativo. Palavras- Chave: planejamento urbano, espaço urbano, território, Paulínia. Abstract: Over a recent urbanization and industrialization process, the Paulínia space, municipality of the Metropolitan Region of Campinas (RMC), has undergone intense modifications with regard to the production of its urban space. Imbued in this thematic this paper seeks to presents the different uses and delimitations that are made in the Paulinia’s territory, in order to discuss how these different appropriations are and who are main agents and their interests. With an understanding of this diverse territory fragmentation in Paulínia, can establish a better comprehension of production process of its urban space and thus produce knowledge to assist futures planning and municipal management actions to glimpse the promotion of an urban space more equitable. Key words: urban planning, urban space, territory, Paulínia. 1- Introdução O município de Paulínia, localizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC), ganha destaque com a chegada no seu território da Rhodia -1942 -e a Refinaria de 1 Acadêmica mestranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de Campinas. Bolsista CNPq. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de Campinas. E-mail de contato: [email protected]

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DE 9 A 12 DE OUTUBRO

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PAULÍNIA (SP): UMA CIDADE EM PEDAÇOS

Sophia Damiano Rôvere1

Lindon Fonseca Matias2

Resumo: Ao longo do processo recente de urbanização e industrialização, o espaço de Paulínia, município na Região Metropolitana de Campinas (RMC), foi sofrendo intensas modificações no que se refere à produção do seu espaço urbano, o que vai resultar em diversos recortes do seu território. Imbuído nessa temática o presente trabalho procura apresentar os diferentes usos e delimitações que se faz do território paulinense, a fim de discutir como se dão essas diferentes apropriações e quais são seus principais agentes e interesses. Com o entendimento dessas diversas fragmentações do território existentes em Paulínia, pode-se estabelecer uma melhor compreensão do processo de produção do seu espaço urbano e, desta forma, produzir conhecimentos para auxiliar futuras ações de planejamento e gestão municipal vislumbrando a promoção de um espaço urbano mais equitativo. Palavras- Chave: planejamento urbano, espaço urbano, território, Paulínia. Abstract: Over a recent urbanization and industrialization process, the Paulínia space, municipality of the Metropolitan Region of Campinas (RMC), has undergone intense modifications with regard to the production of its urban space. Imbued in this thematic this paper seeks to presents the different uses and delimitations that are made in the Paulinia’s territory, in order to discuss how these different appropriations are and who are main agents and their interests. With an understanding of this diverse territory fragmentation in Paulínia, can establish a better comprehension of production process of its urban space and thus produce knowledge to assist futures planning and municipal management actions to glimpse the promotion of an urban space more equitable. Key words: urban planning, urban space, territory, Paulínia.

1- Introdução

O município de Paulínia, localizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC),

ganha destaque com a chegada no seu território da Rhodia -1942 -e a Refinaria de

1 Acadêmica mestranda do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de

Campinas. Bolsista CNPq. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Estadual de Campinas.

E-mail de contato: [email protected]

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Paulínia (Replan) -1969 - indústrias do ramo petroquímico. Segundo a Petrobrás (2015),

Paulínia foi escolhida para sediar a Replan graças a sua localização geográfica,

possibilitando uma logística efetiva de toda a produção.

Com a fixação da Rhodia e Replan, outras empresas e indústrias foram se instalando

no município e com isso contribuindo para reconfiguração do seu espaço geográfico. A

industrialização promoveu a chegada de um contingente populacional para servir como

mão de obra nas indústrias recém-instaladas e como consequência promoveu mudanças

importantes no seu território. Esse crescimento populacional e industrial foi decisivo no

processo de organização territorial e as mudanças decorridas marcam a apropriação do

espaço enquanto processo de urbanização capitalista, que se manifesta pelas

desigualdades locais (FAGUNDES, 2012).

A indústria petroquímica fez com que o município passasse a reunir um dos maiores

PIBs da RMC e do estado de São Paulo (SEADE, 2011) e com a vinda desse capital

industrial, o território de Paulínia, antes de predominância rural, passou a receber uma

configuração mais urbana. Essa nova configuração justifica-se, porque esse novo

ambiente industrial construído que compõe um vasto campo de meios de produção e

consumo absorve os excedentes do capital para a sua própria manutenção, e a produção

de um espaço urbanizado é uma das formas de absorver esse excedente (HARVEY,

2011).

Nesse sentido, cabe mencionar Lefebvre (1973) para quem todo crescimento

econômico pressupõe, simultaneamente, a reprodução ampliada da força de trabalho e da

maquinaria. Mas, mais do que isso,

[...] não é apenas toda a sociedade que se torna o lugar da reprodução (das relações de produção e não apenas dos meios de produção): é todo o espaço. Ocupado pelo neo-capitalismo, setorizado, reduzido a um meio homogêneo e, contudo fragmentado reduzido a pedaços (só se vendem pedaços de espaço) o espaço transforma-se nos paços do poder. (LEFEBVRE, p. 95, 1973).

O espaço então se torna a residência oficial do poder, o que marca, portanto, a

participação efetiva do capital no que se refere à produção do espaço urbano. Em

Paulínia, o marco principal desse processo de industrialização e urbanização e

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consequentemente de transformação do seu território decorre da chegada da Rhodia e da

Replan e dos posteriores desdobramentos desse processo inicial de industrialização.

Esse espaço urbanizado, caracterizado por uma determinada técnica de produção,

essencialmente industrial, um sistema de valores e uma forma específica de organização

espacial, a cidade (CASTELLS, 1983), é gerido segundo normas e regras ditadas pelo

Estado e por órgãos administrativos que preveem o seu ordenamento. Tal ordenamento

nem sempre se concretiza de uma forma conjunta e uniforme, seguindo uma lógica

diferente dependendo de quem o faz. Sendo assim, compreender como se dão as

diferentes repartições do território paulinense se faz indispensável para pensar em novas

formas de produzir um espaço urbano mais equitativo, contribuindo para uma melhor

distribuição dos serviços e equipamentos urbanos, o que pode favorecer todos os

cidadãos.

2 – Discussão

A concepção de se trabalhar com os “pedaços” da cidade de Paulínia faz referência

aos trabalhos desenvolvidos por Aldaíza Sposati (2001) e Dirce Koga (2003). O trabalho

desenvolvido por Sposati (2001) apresenta a cidade de São Paulo e suas várias divisões

intraurbanas (bairros, distritos, subdistritos, setores censitários etc.) e, a partir disso,

discute como todos os serviços chegam ao cidadão. Para isso, Sposati (2001) faz uma

análise da qualidade de vida da população de São Paulo enquanto a sua inclusão e

exclusão aos serviços prestados pela cidade, e como resultado elabora o mapa de

exclusão/inclusão social da cidade de São Paulo.

Koga (2003) faz uma abordagem comparando cidades e discute as divisões

territoriais presentes em São Paulo (96 distritos), Belo Horizonte (81 unidades de

planejamento), Curitiba (75 bairros) e Recife (253 unidades de desenvolvimento social).

Dessa forma, Koga (2003, p. 136) expressa que “[...] o parcelamento do território de uma

cidade representa um processo geopolítico, cuja autoria normalmente se restringe aos

atores técnicos e políticos”.

Em Paulínia, a realidade é posta apresentando 39 bairros (PAULÍNIA, 1999). Os

bairros podem ser apontados como um dos principais “pedaços” que uma cidade pode

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apresentar, eles são uma parte do urbano, ou seja, é “[...] uma das partes em que se

costuma dividir uma cidade, definição justificada na promoção da operacionalização das

pessoas e do controle administrativo dos serviços públicos, como os correios, telefonia e

limpeza” (BEZERRA, 2011, p. 26).

A descrição do parcelamento e uso do solo de Paulínia está na lei complementar

054 do ano de 2012 que prevê que este parcelamento seja feito segundo objetivos, que

podem ser resumidos em: garantir a concentração equilibrada das pessoas e das

atividades no território de Paulínia, preservar os espaços verdes, orientar o crescimento

urbano, dentre outros, vislumbrando o planejamento urbano. Esse parcelamento elenca

zonas de uso, divididas em 12 unidades de zoneamento urbano. Esse processo decorre

de decisões históricas, relacionadas ao crescimento urbano do município e as demandas

de sua gestão junto às necessidades da população.

Sobretudo, dividir uma cidade em partes, acontece na maioria das vezes, para

operacionalizar algum tipo de serviço ou auxiliar no controle e na gestão. A fim de

contribuir com o conhecimento detalhado sobre aspectos socioeconômicos do município,

o IBGE realiza o Censo Demográfico e para aplicá-lo de forma abrangente faz uso da

divisão em setores censitários.

Além da divisão feita pela Prefeitura, correspondente aos bairros e zoneamento,

para estabelecer uma melhor distribuição dos serviços e equipamentos urbanos e da

divisão dos setores censitários, feita pelo IBGE, que ajudam na identificação das

características da população, para Paulínia, também existe a delimitação feita pela

Emplasa.

O objetivo dos limites propostos pela Emplasa é de se conhecer os padrões de

urbanização dos municípios e, assim, contribuir com o conhecimento do território,

subsidiando seu planejamento e gestão, investimentos e áreas com carência de

equipamentos urbanos (EMPLASA, 2005). Tendo em vista esses objetivos, foram criadas

então as Unidades de Informação Territorializada (UIT), que correspondem às áreas

territoriais delimitadas segundo suas características predominantes urbanas. Para

Paulínia, a Emplasa (2005) definiu seis UIT diferentes, sendo elas UTI-1 Cidade, UIT-2

Complexo Petroquímico, UIT-3 Vale do Jaguari, UIT-4 Betel, UIT-5 Brasil 500/Bom

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Retiro/Pq. da Represa, UIT-6 João Aranha.

No caso específico de Paulínia, os órgãos prestadores de serviços públicos, como

Guarda Municipal, Polícia Militar, Secretaria da Saúde, Secretaria da Educação e,

instituições como a Igreja Católica, fazem a divisão do seu território, entendendo e

distribuindo territorialmente os seus serviços cada um a sua maneira.

Neste aspecto de coexistência de múltiplas divisões político-administrativas, faz-se

necessário entender esses diversos “pedaços” (SPOSATI, 2001) da cidade de Paulínia e

buscar compreender como se dá a organização e apropriação do seu território e,

principalmente, identificar como os diversos agentes sociais e políticos criam tantas

“Paulínias” dentro de uma só.

3 –Procedimento Metodológico

A metodologia do trabalho baseou-se em análise das informações produzidas a

partir de entrevistas junto à Prefeitura nas várias secretarias e também em busca nos nas

diferentes instituições que produzem dados sobre a área de estudo, além da consulta de

trabalhos já realizados com temática similar, e representação em mapas temáticos com

uso de geotecnologias.

Inicialmente foram adquiridos dados provenientes do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) e Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano

(EMPLASA). No website do IBGE foi possível acessar os limites dos setores censitários

(2010) especificamente para o município de Paulínia já no formato digital (arquivos tipo

shapefile).

Em seguida, no website da Emplasa, foi adquirido o documento que apresenta os

padrões urbanísticos da RMC, no qual contém também as delimitações das UIT (2005)

para Paulínia. No entanto, esse documento estava disponível somente no formato de

arquivo tipo pdf (Portable Document Format) e, por isso, foi necessário exportar a imagem

das UIT de Paulínia para o software ArcGIS 10.1 e nele fazer o georreferenciamento, que

significa atribuir uma localização a uma informação, ou seja, tornar suas coordenadas

adequadas e conhecidas para o projeto em execução (LONGLEY et al., 2013).

Em visita na Prefeitura Municipal de Paulínia, na Secretaria de Planejamento, foi

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disponibilizado já em formato shapefile o arquivo da divisão oficial dos bairros, além do

limite do perímetro urbano. Também foram realizadas visitas junto à Guarda Municipal e à

Polícia Militar a fim de adquirir informações sobre suas áreas de atuação, que também

foram disponibilizados no formato de arquivo shapefile.

Os dados provenientes da Secretaria de Educação, Secretaria de Saúde e

Paróquias da Igreja Católica foram construídos diretamente no software ArcGIS 10.1,

usando técnicas de digitalização, já que essas entidades não possuíam nenhum tipo de

registro cartográfico para suas áreas de gestão.

Tendo em mãos os dados dos setores censitários, UIT, bairros, perímetro urbano,

Guarda Municipal, Polícia Militar, Secretaria de Saúde, Secretaria de Educação,

Paróquias foi possível elaborar um mapa (Figura 01) com o objetivo de localizar no

território de Paulínia, esses diversos recortes e suas simetrias e assimetrias. As análises

contaram com técnicas de geoprocessamento que são operações que contam com um

conjunto de dados de entrada, resultando em dados de saída, que pode ser sobreposição

de características geográficas, conversão de dados, processamento de topologia, entre

outros, o que permite gestão e análise de informação, usadas para tomada de decisões

(LEGATES, 2005).

Para isso, se fez uso da análise de contenção, presente no software ArcGIS 10.1

que, como expõe LeGates (2005), auxilia no conhecimento do que tem dentro de uma

área com o objetivo de se entender o que acontece nela, além de ser possível comparar

uma área com outra. Além da análise de contenção, também foi usado o conjunto de

ferramentas correspondente à sobreposição (overlay tools), que justapôs os diferentes

temas contendo os vários limites existentes no território paulinense.

Vale ressaltar que o software ArcGIS 10.1 compõe uma das muitas possibilidades

existentes dentro dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) que reúne formas de

aquisição, produção de análises e representação de informações sobre o espaço

geográfico (MATIAS, 2003). E esses sistemas, como já afirmou Koga (2003), são uma

linguagem indispensável quando se deseja representar o território e o uso que se faz

dele.

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4 – Resultados e Discussão Na Figura 01 apresenta-se o mapa da multiplicidade territorial elaborado a partir dos

diferentes limites existentes no município de Paulínia. Para este trabalho foram definidas

três situações de convergência/divergência entre os limites adotados pelas diferentes

instituições com ação no espaço municipal. A primeira corresponde à situação de baixa

multiplicidade territorial, isso quer dizer divisões comuns (“compartilhamento territorial”)

por somente uma ou até duas entidades de caráter sócio-político-administrativas. O

segundo diz respeito à situação de média multiplicidade territorial, limites compartilhados

entre três a quatro entidades. E, por fim, alta multiplicidade territorial, delimitações feitas

por mais de quatro agentes.

Ao apreciar o mapa, constatou-se que 47% do território de Paulínia, cuja área

municipal corresponde a 139 km², tem uma situação de alta convergência entre as

delimitações sócio-político-administrativas. O bairro Bonfim, a nordeste, e o bairro Betel, a

sudeste do município, são exemplos. São áreas extensas, com atividades urbanas pouco

variadas, de uso predominantemente industrial, com baixa concentração populacional, o

que justifica o fato de várias entidades compartilharem nessas áreas as mesmas

delimitações.

Figura 01. Mapa da multiplicidade territorial em Paulínia (SP)

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Org.: MATIAS; RÔVERE (2015)

O centro da cidade também está nesta situação, embora por razões diversas, pois

compreende territórios de alta convergência, isso porque, essa área é onde os primeiros

núcleos urbanos do município se fixaram e representam os bairros mais antigos da

cidade. Esses são os bairros menores, são aqueles que têm uma urbanização mais

consolidada, com maior variedade de serviços e equipamentos urbanos e, por isso,

requerem uma atenção maior junto à Prefeitura Municipal.

Em seguida, observa-se a situação de média multiplicidade territorial condizendo

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com 37% da área no município. Esses territórios correspondem a maior parte da área

municipal ao norte do rio Atibaia. Entidades como a Secretaria Municipal de Educação e a

Guarda Municipal, consideram toda a área norte do município como uma única unidade,

certamente pela maior parte dela corresponder ao polo-petroquímico. Outro território

relevante de média convergência está a sudoeste do município, seu limite equivale ao

mesmo delimitado pelo bairro Bom Retiro, sendo considerado também pela Polícia Militar

e a Secretaria de Saúde.

Por fim, o mapa representa a situação de baixa multiplicidade territorial, expressando

14% da área municipal. Ao mesmo tempo em que a área central do município apresenta

um território de alta convergência, pelo mesmo motivo, também pode-se analisar o

território de baixa convergência. Como o centro do município apresenta múltiplos usos

urbanos e concentra a maior parte da população, seu entorno imediato de expansão,

principalmente no sentido sudeste e sudoeste, ganha diversas acepções dependendo de

quem o delimita e, por esse motivo, apresenta-se pouco convergente entre as entidades

sócio-político-administrativas.

De forma geral, assim como a divisão territorial adotada pela Emplasa, a Guarda

Municipal, a Polícia Militar e a Secretaria de Educação, mantêm uma delimitação

equivalendo às áreas mais urbanizadas de Paulínia, o que se aproxima do limite dos

bairros, que, entretanto, têm um padrão espacial mais repartido no município. De todos os

temas analisados, a delimitação realizada pela Polícia Militar é a que mais equivale com a

divisão dos bairros de Paulínia, no que diz respeito à quantidade de “pedaços”. São os

mais recortados, correspondendo na divisão dos bairros 39 unidades e na divisão da

Polícia Militar 14 unidades. Porém, a delimitação da PM não respeita os mesmos limites

dos bairros, tendo um limite específico.

A divisão adotada pela Guarda Municipal, por sua vez, sintetizou essa repartição

feita pela Polícia Militar, isso porque, em entrevista, foi informado que a divisão ocorreu

segundo a incidência de crimes e disponibilidade de mão de obra e de viaturas. A Polícia

Militar apresenta um efetivo de funcionários maior no município de Paulínia e, por isso,

consegue atuar em mais áreas, ou seja, criar mais territórios de ação, ao contrário da

Guarda Municipal que tem equipamentos e mão de obra reduzida se comparadas com as

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da PM.

Em contrapartida, enquanto o limite dos bairros é o mais dividido, o recorte mais

sintético corresponde ao das Paróquias. Sua importância frente às questões gerenciais do

município não é tão relevante comparada às outras delimitações e, assim, foi realizada

somente em duas partes entre nordeste e sudoeste do município, que diz respeito à

Paróquia Sagrado Coração de Jesus, a nordeste, e Paróquia Belo Ramo a sudoeste. Vale

ressaltar que a linha limítrofe entre uma Paróquia e outra respeita os limites dos bairros.

Os limites apresentados quando analisados conjuntamente têm uma convergência

entre os territórios, isso porque as instituições que os materializam consideram dados

demográficos e características do uso urbano para realizar essa delimitação. Contudo, por

mais que se tenha essa convergência entre os territórios deve-se pensar em ações

conjuntas entre esses diferentes agentes para garantir que a distribuição dos serviços e

equipamentos urbanos seja feita de maneira a garantir uma cidade funcional para todos

os cidadãos.

5 –Considerações Finais

O desenvolvimento deste trabalho identificando esses diferentes “pedaços” de

Paulínia auxiliou na compreensão acerca do processo de produção espacial do seu

território, tanto no que diz respeito às delimitações oficiais usadas pela prefeitura (bairros,

perímetro urbano etc.) quanto pelas feitas por outras instituições administrativas (IBGE,

Emplasa, por exemplo). Pensar em como as nossas cidades estão organizadas, em seus

diferentes níveis (urbano e intraurbano) pode traçar um diagnóstico efetivo do uso que se

faz de todo seu território. Entretanto, cabe aos políticos e aos Estados, gestores e

produtores efetivos da cidade, pensar na sua organização interna de uma forma a

contemplar mais a cidade social do que a cidade econômica (SANTOS, 2009). A forma

como esses “pedaços” se colocam e se distribuem, como já salientado por Koga (2003),

faz parte da efetividade do município e entendê-los e reconhecê-los pode ajudar na busca

de soluções para valer os direitos sociais, políticos e econômicos de toda a população.

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6 – Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela

concessão de bolsa de mestrado que permitiu o desenvolvimento desta pesquisa.

7 - Referências Bibliográficas BEZERRA, J. A. Como definir o bairro? Uma breve revisão. GeoTemas. Pau dos Ferros,

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