parsons - esquema de aula

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TEORIA DA AÇÃO de Talcott Parsons A AÇÃO A Ação é a unidade básica ou o ato unidade na Teoria da Ação; A Ação é uma iniciativa que provoca algum tipo de mudança numa situação, composta de um conjunto de objetos (sociais e não-sociais) dotados de significado para o agente; As condições são os elementos na situação que o agente pode avaliar, mas sobre os quais não tem controle e que, às vezes, funcionam como obstáculos; As orientações do agente são de caráter motivacional ou valorativo e servem tanto para estimulá-lo e guiá-lo na seleção de fins e meios desejáveis quanto para que realize o esforço necessário à sua obtenção; A racionalidade da ação é medida em função das decisões e escolhas feitas pelo agente tendo em vista todos os meios possíveis e a adequação dos meios selecionados face aos fins almejados. O AGENTE O agente pode ser um indivíduo ou uma coletividade, e é um sistema empírico de ação, o ponto de referência da análise; O agente atua tendo em vista um fim – um futuro estado de coisas para o qual a ação se orienta, que o agente estima ser desejável e que difere do estado que sobreviria senão houvesse sua intervenção, e supõe opções entre meios alternativos para seu alcance; O agente individual é tratado pela teoria da ação como um eu (self), capaz de fazer escolhas, não importando seus processos fisiológicos, sua estrutura interna, mas apenas em que ele se baseia ao optar por uma determinada conduta, isto é, seus interesses e valores; A ação do agente individual poderá ser guiada por suas próprias motivações, mas também ser incentivada ou tolhida

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TEORIA DA AO

TEORIA DA AO

de Talcott Parsons

A AO

A Ao a unidade bsica ou o ato unidade na Teoria da Ao;

A Ao uma iniciativa que provoca algum tipo de mudana numa situao, composta de um conjunto de objetos (sociais e no-sociais) dotados de significado para o agente;

As condies so os elementos na situao que o agente pode avaliar, mas sobre os quais no tem controle e que, s vezes, funcionam como obstculos;

As orientaes do agente so de carter motivacional ou valorativo e servem tanto para estimul-lo e gui-lo na seleo de fins e meios desejveis quanto para que realize o esforo necessrio sua obteno;

A racionalidade da ao medida em funo das decises e escolhas feitas pelo agente tendo em vista todos os meios possveis e a adequao dos meios selecionados face aos fins almejados.

O AGENTE

O agente pode ser um indivduo ou uma coletividade, e um sistema emprico de ao, o ponto de referncia da anlise;

O agente atua tendo em vista um fim um futuro estado de coisas para o qual a ao se orienta, que o agente estima ser desejvel e que difere do estado que sobreviria seno houvesse sua interveno, e supe opes entre meios alternativos para seu alcance;

O agente individual tratado pela teoria da ao como um eu (self), capaz de fazer escolhas, no importando seus processos fisiolgicos, sua estrutura interna, mas apenas em que ele se baseia ao optar por uma determinada conduta, isto , seus interesses e valores;

A ao do agente individual poder ser guiada por suas prprias motivaes, mas tambm ser incentivada ou tolhida pelos estmulos ou sanes (motivao ou controle) colocadas pela sociedade e regulada por sanes e normas ditados socialmente e presentes nos sistemas culturais das coletividades (orientao normativa);

Quando o agente uma coletividade, sua ao no equivalente ao conjunto das aes de todos os seus membros, dado que cada um deles participa tambm de outras coletividades, onde exerce em cada uma delas papis diferentes, ainda que, em geral, congruentes;

A coletividade incita seus membros conduta desejvel para a obteno de certos objetivos, isto , em conformidade com os fins por ela prescritos e com os valores constantes de seu sistema cultural;

Uma coletividade pode ter por objeto de sua ao uma outra coletividade ou um indivduo;A SITUAO

A ao inicia-se numa situao nos objetos aos quais e pelos quais ele se orienta porque so significativos para ele - que o agente leva em conta e que pretende modificar;

A situao ou os objetos de orientao de cada ao forma um conjunto de possibilidades alternativas e/ou obstculos s metas pretendidas;

Os objetos podem ser sociais ou no-sociais;

OS OBJETOS SOCIAIS

Os objetos sociais definem-se pela propriedade de serem interativos: indivduos (sistemas de personalidades) ou coletividades (sistemas sociais);

Quando ocorrem relaes estveis e regulamentadas entre agentes passa-se da anlise da ao de um agente singular para a de um sistema social;

As interaes, isto , estas aes mutuamente orientadas que compe um sistema social, so a base dos sistemas sociais, sendo a unidade mnima de interao a relao entre ego e alter;

As aes de ego numa interao so orientadas pelos significados das aes e atitudes esperadas de alter;

As reaes de alter s aes de ego so chamadas sanes, que podem ser positivas (gratificao) ou negativas (punio);

As sanes tendem a reforar o consenso do sistema social, j que sustentam a previsibilidade de condutas que se coadunam aos valores dominantes;

OS OBJETOS NO-SOCIAIS

So os objetos fsicos e os recursos culturais (portanto, no-reativos ou interativos embora afetem e sejam afetados pela ao do agente) que servem como meios, regras, condies ou ainda empecilhos ao, podendo ser elementos simblicos da tradio cultural ou mesmo seres humanos;

Os objetos no-sociais mais importantes so os objetos culturais, tais como idias, crenas, leis, smbolos e valores, que podem vir a fazer parte do sistema de personalidade do agente quando internalizados;

Estes objetos culturais podem ser objetos da situao e/ou componentes internalizados dos padres de orientao do agente;

Os significados dos objetos culturais, antes de serem particulares a um agente, se inserem numa rede padronizada de significaes (padres culturais), tornando as orientaes dos agentes em relao a eles estveis;

Os padres culturais participam da estrutura do sistema de interao ou social, quando institucionalizados, e do sistema de personalidade, quando internalizados, sendo, por um lado, um produto dos sistemas de interao social humana e, por outro, um determinante destes sistemas;

A ORIENTAO

Constitui-se de referncias para o agente quanto s escolhas a serem feitas diante de possveis cursos de ao; Tais escolhas resultam numa combinao de decises relativas aos objetos em uma situao e aos prprios fins: uma coletividade fornece ao agente motivaes ou punies, sanes positivas ou negativas, para que o agente atinja sua meta ou seja dissuadido de ating-la; As orientaes podem ser, portanto, motivacionais (gratificaes) os motivos que levam o agente a desejar ou repelir um objeto - ou valorativas os valores que organizam as relaes do agente com um objeto, as avaliaes que orientam a ao do agente;

AS ORIENTAES MOTIVACIONAIS

So aplicveis a agentes individuais em busca de seus interesses (satisfao e fuga da privao) ou de uma coletividade (que os motiva a atingir objetivos significativos para elas atravs de meios considerados legtimos);

A motivao um elemento do sistema de personalidade mas que estruturada e organizada socialmente: uma ao depende em parte da motivao individual e em parte dos valores coletivos dentro dos quais o agente foi socializado e os quais internalizou;

OS MODOS DE ORIENTAO MOTIVACIONAL

1 Avaliativo (moral cultural): considerao (avaliao) se os objetos podem proporcionar possibilidades alternativas ou impor limites aos modos de gratificao das necessidades e alcance das metas;

2 Cognitivo (racional-universal): processo de discriminao de objetos e de vias de obteno de seus fins;

3 Cattico (afetivo-pessoal): determinao do valor positivo ou negativo do objeto em relao satisfao das necessidades do agente (catexia = fixao de um significado afetivo a um objeto);

A avaliao (moralidade) o princpio organizador do sistema de ao.

A cognio (racionalidade) apresenta as consequncias e a forma de alcanar determinado objetivo as quais o agente avalia para decidir por uma dentre as gratificaes possveis.

A catexia (afetividade) o impele a realizar uma ao em funo da obteno de um prazer imediato.

Atravs da avaliao, que implica em uma disciplina, possvel medir o custo que uma escolha representa face renncia a outras alternativas;

Atravs dela, possvel equilibrar o impulso a obter gratificao (saciar a fome a curto prazo com um alimento que lhe d prazer - orientao cattica - mas lhe faz mal orientao cognitiva) e a deciso de privar-se da satisfao (fazer dieta ou reeducar os hbitos alimentares visando a sade a longo prazo);

Cada ato concreto implica componentes cognitivos, catticos e avaliativos organizados de forma simultnea: a) os objetos com os quais o agente se relaciona e se orienta so discriminados e relacionados a distintos contextos (cognio - racionalidade); b) o agente lhes confere uma significao afetiva positiva ou negativa em funo da capacidade destes objetos satisfazerem as metas por ele propostas (catexia-afetividade); c) e busca, para cada tipo de opo, um equilbrio entre a gratificao ou privao fornecidas por tais objetos (avaliao-moralidade);

AS ORIENTAES VALORATIVAS

So critrios socialmente fornecidos para a seleo e soluo de problemas de conduta numa dada situao, que permitem ao agente responder questes do tipo: os fins e os meios so desejveis e aceitos do ponto de vista coletivo? As respostas, assim como as questes, variaro de acordo com os padres oferecidos pela cultura (nos sentidos amplo e restrito);

O agente age, portanto, em funo dos fins que lhe so significativos (motivaes), mas tambm segundo as normas colocadas por sua cultura (valores);

As orientaes de valor (morais) levam o agente a submeter-se a padres e normas a fim de fazer uma escolha que pode implicar num sacrifcio, custo, renncia, disciplina;

Estas orientaes compreendem os elementos culturais mais importantes na organizao dos sistemas de ao, organizando-se em sistemas coerentes que, portanto, no se encontram aleatoriamente dispostas em cada personalidade;

OS MODOS DE ORIENTAO VALORATIVA

1 Norma Cognitiva (de veracidade): prov ao agente um critrio de verdade que lhe permite avaliar a veracidade ou falsidade de dados e a importncia de diferentes problemas ao fazer juzos cognitivos (julgar), o agente se apia em normas que lhe fornecem a referncia para saber se os problemas so ou no vlidos (cincia, opinio ou crena);

2 Norma Apreciativa (de pertinncia): fornece critrios para julgar quais objetos sero capazes de nos gratificar ou de nos impor alguma forma de privao. Determina a propriedade ou constncia da satisfao-prazer (catexia) oferecida por um objeto;

3 Norma Moral (de retido): orienta-se para a integrao de um sistema mais amplo de ao, limitando os custos para o acesso s gratificaes, ao apontar para as suas consequncias sobre a integrao dos sistemas de personalidade e sociais, e definindo a responsabilidade do agente, que deve considerar se o fim justo, moral, digno, apropriado etc.

Um sistema de orientao valorativa contm, assim, trs subsistemas de normas para orientar o agente a decidir: se uma afirmativa confivel do ponto de vista objetivo (cognitivo), qual satisfao preferimos alcanar ou privao preferimos evitar (apreciativo ou cattico), qual dentre dois objetos ou aes deve levar adiante e qual deve se afastar (moral);

As formas de orientao motivacional e valorativa so corporificadas em smbolos, que compartilhados na interao, formam a tradio cultural; Cada forma de orientao motivacional (avaliativo, cognitivo e cattico) corresponde a uma forma de orientao valorativa (moral, cognitivo e apreciativo);

Os modos de orientao motivacional ligam-se a problemas de interesse pessoal relativos a atividades e objetos, j os modos de orientao valorativa referem-se aos problemas de primazia (prevalncia) de normas vlidas numa determinada coletividade; se existisse apenas os primeiros haveria uma guerra de todos contra todos; assim, os modos de orientao valorativa existem para impor limites aos interesses individuais;

Trs tipos bsicos de Ao

Combinando os trs modos de orientao motivacional com os trs modos de orientao valorativa tem-se:

1 Ao Intelectual ou de Investigao: predomnio de interesses cognitivos e de normas de valor, p.e., a busca de conhecimento;

2 Ao Expressiva: preponderncia de interesses afetivos (catticos), de smbolos expressivos e de normas apreciativas (quando j foram resolvidos os problemas cognitivos e morais);

3 Ao Responsvel ou Moral: ascendncia de interesses avaliativos e de normas morais. Busca-se integrar as aes em funo de um sistema mais amplo de ao. J so considerados solucionados os problemas cognitivos e catticos: trata-se, agora, de saber se uma ao ou no correta para que seja executada;

4 Ao Instrumental: primazia de interesses catticos e de normas apreciativas no referente aos fins da ao e, no mbito da escolha dos processos e meios para atingir tais fins, na preponderncia de normas cognitivas; distingue-se da ao intelectual porque se desenvolve em funo de um objetivo desejado/prazeroso (cattico) dado.

O Conceito de Sistema

Adaptao do conceito de sistema em biologia e mecnica Teoria da Ao;

O nico meio de reconstruir mentalmente de maneira conceitual e terica a estrutura de qualquer realidade consider-la como constituindo um sistema, no sentido estrito do termo.

Um Sistema a expresso de um todo coerente, articulado, formado por estruturas integradas por partes interdependentes, tendo, portanto, um certo grau de organizao e consistncia;

distinto de seu ambiente, que lhe impe limites: existe uma diferena significativa, desde os pontos de vista terico e emprico, entre as estruturas e os processos internos do sistema e os que lhe so exteriores; o que ocorre no ambiente se reflete no sistema, mudando-o ou extinguindo-o.

Os sistemas so compostos de partes variveis ou subsistemas , cada uma delas interdependente e diferenciada, mais ou menos complexa, com organizao prpria e, como parte de um sistema mais amplo, tem funes especficas;

Uma mudana ou distrbio significativo em um subsistema provoca desequilbrios nos demais e pode gerar uma desestabilizao da estrutura do sistema, ou seja, h uma ordem nas relaes entre os componentes do sistema;

Entretanto, h uma tendncia de os subsistemas virem a restaurar o equilbrio do todo por meio de ajustes integrativos. O equilbrio sistmico resulta da satisfao das necessidades do sistema;

A Anlise Estrutural-Funcional

Os aspectos estruturais dos sistemas de ao so aqueles que delineiam os elementos relativamente estveis que possibilitam as interaes; permite captar as uniformidades dos processos dinmicos, as relaes mtuas entre as partes ( os sistemas de ao social, relaes sociais, grupos sociais e personalidade social) e as mudanas ocorridas; a perenidade da estrutura apenas um pressuposto analtico, j que ela tambm explica as possveis respostas dadas pelos sistemas s presses externas ou internas. Essa possibilidade de resposta do sistema s exigncias do ambiente o objeto da anlise funcional;

Os aspectos funcionais referem-se aos processos que atuam no sentido da conservao e manuteno ou no sentido de impedir a desintegrao e desequilbrio daquelas estruturas, conferindo-lhes dinamismo;

Um sistema tende auto-manuteno e auto-regulao (equilbrio), que trata de manter a sua estrutura ou suas relaes e limites (garantindo a sua existncia e identidade, ainda que a total estabilidade seja mais ideal do que real) . Entretanto, pode se dissolver (quando desaparecem seus limites) ou modificar-se na sua estrutura, com a reorganizao ou alterao das relaes entre as suas partes e com os demais sistemas externos (seu ambiente), de modo a compatibiliz-los; a auto-manuteno do sistema implica no controle das tendncias mudana (vindas de dentro ou fora);

O que garante o equilbrio e a integrao das distintas partes do sistema um padro do que desejvel, expresso no forma de valores e normas aos quais os membros aderem e com os quais se comprometem; ou seja, os padres normativos, presentes nos sistemas culturais, so voltados manuteno dos sistemas sociais. Esta a sua funo: a manuteno de modelos ou padres; quando existem incompatibilidades internas, surgem processos os imperativos funcionais que visam restaurar as relaes prvias, eliminando as causas dos desajustes ou reajustando partes do sistema visando o seu equilbrio;

A diferenciao funcional um dos princpios de reorganizao dos sistemas, de mudana estrutural, o que implica na diviso de uma unidade ou estrutura num sistema social, em duas ou mais unidades ou estruturas, que diferem em suas caractersticas e significao funcional para o sistema, isto , na criao de subsistemas distintos dos ento existentes ou com novas atribuies de sentido a certas partes do sistema visando o seu equilbrio;

Ex: na Idade Mdia, o lar como residncia e trabalho, e na Idade Moderna, separao (diferenciao funcional) entre o lar e o local da produo;

Para que o o processo de diferenciao funcional resulte em um sistema social mais evoludo cada nova subestrutura precisa ter maior capacidade adaptativa para realizar sua funo primria, em comparao com a realizao dessa funo na estrutura anterior, mais difusa (a fbrica mais eficiente, por ser a produo ali mais racional - ascenso adaptativa, que faz aumentar o domino das condies e a utilizao eficaz dos recursos tendo em vista os fins - do que no lar, que tambm passa a realizar melhor as funes anteriores que lhe restaram);

Os processos de diferenciao e ascenso adaptativa acarretam novos problemas de integrao para o sistema na medida em que implica, por exemplo, na necessidade de diferenciao de papis (pai patro);

O tipo mais primitivo de sociedade aquele em que a diferenciao entre os quatro sistemas da ao muito baixa; j as sociedades evoludas so aquelas onde h um aumento na capacidade adaptativa (diferenciao e ascenso) generalizada (de acordo com o modelo da evoluo orgnica ;

A Perspectiva Evolutiva

So trs os nveis (estgios) de evoluo: primitivo, intermedirio e moderno;

Na transio da sociedade primitiva para a intermediria, o fenmeno central o desenvolvimento da linguagem escrita parte fundamental do sistema cultural, j que todo cdigo lingustico, por ser constitudo por smbolos uma estrutura normativa paralela composta por valores e normas societrios; a linguagem escrita aumenta a diferenciao bsica entre o sistema social e o cultural, aumentando a amplitude e poder do ltimo, j que, com a escrita, os contedos simblicos da cultura se tornam independentes de contextos de interao; Na transio da sociedade intermediria para a sociedade moderna, o desenvolvimento decisivo refere-se aos cdigos institucionalizados de ordem normativa interna estrutura societria, e concentra-se no sistema legal, o que tambm significa que este tipo de sociedade possui maior universalismo;

Na passagem da sociedade primitiva para a intermediria, observa-se tambm uma maior estabilizao das relaes sociais na medida em que a escrita permite a documentao dos contratos, o que torna os componentes da organizao social mais extensos e complexos;

Os Sistemas Gerais de Ao

So quatro os (sub)sistemas gerais de ao e cada um deles tem uma estrutura prpria e no pode ser reduzido aos demais. Constituem-se de conjuntos organizados que orientam a conduta de um agente individual ou de uma coletividade frente aos objetos de uma situao;

1) o Sistema Cultural: compreende padres simblicos de orientao (normas, valores etc.);

2) Os Sistemas de Personalidade e 3) Social correspondem ao motivada, ligada a interesses, sejam eles individuais ou coletivos;

3) o Organismo Comportamental, que leva o agente individual motivado pela coletividade ou por suas prprias necessidades ou interesses (sede, produo de alimentos etc.) estabelea relaes diretas com um quinto sistema, que se situa abaixo do esquema da ao: o sistema ambiental, o mundo fsico-orgnico;

O Sistema Social o foco principal da teoria parsoniana, sendo que os outros trs servem ou funcionam como seus ambientes ou como pressupostos da conduta do agente;

As distines entre os sistemas de ao so funcionais: a cada um compete uma funo primria (esquema AGIL):

Organismo comportamental = adaptao (adaptation) Sistema de Personalidade = realizao de objetivos (goal attainment) Sistema Social = integrao (integration)

Sistema Cultural = manuteno de padro (limitation, pattern maintenance)

As inter-relaes entre os sistemas podem ser complexas a ponto de dificultarem uma clara diferenciao de suas funes, sobretudo nas sociedades modernas (ex. famlia = AIL)

Os Sistemas Culturais

So formados pela organizao dos valores, idias, crenas, gostos comuns, normas e smbolos que guiam a conduta e oferecem opes segundo as quais os agentes empreendem sua seleo de fins e de meios; no so dotados de fins, nem so capazes de agir, mas podem motivar atuao, influenciando tanto o sistema social quanto o de personalidade (so a ossatura destes sistemas). A constituio da estrutura social depende do compartilhamento de sistemas simblicos, sentimentos, normas, padres de conduta, que podem, inclusive, transcender uma sociedade (Igreja, Sistemas Polticos Internacionais etc.);

Os valores (morais, estticos, cognitivos, religiosos) inerentes ao Sistema Cultural podem ser internalizados (formando o superego no sistema de personalidade) e fornecer tambm as bases, expressas por meio de uma dada consistncia de comportamento, para as expectativas de papel institucionalizadas (no sistema social); A cultura um elemento do quadro de referncia da ao que pode ser abstrada e transmitida atravs de sistemas simblicos para o sistema de personalidade (por meio da aprendizagem, quando ocorre a internalizao) e para o sistema social (por meio da difuso, quando ocorre a institucionalizao); atravs do grau em que isso ocorre que se mede a integrao do sistema ou a sua anomia;

Uma instituio um complexo de padres de papis interdependentes que compreende expectativas definidas de conduta para seus integrantes, com seus direitos e obrigaes;

A cultura corresponde s idias e valores compartilhados pelos membros de um sistema social, tendo significados normativos para a conduta de seus diferentes membros; por meio dela que os indivduos concebem e discriminam objetos, agem relativamente a eles de certas maneiras, ou reconhecem neles meios de atendimento de suas carncias; fornece aos indivduos padres que, uma vez internalizados, permitem-lhes conhecer (padro cognitivo), avaliar (avaliativo) e apreciar (cattico), ou no, certos objetos, assim como fins e meios para consegui-los;

Padres Culturais: so pautas internalizadas de expectativas cognitivas e de seleo cattico-avaliativa, entre orientaes possveis, que so de significao crucial no sistema de personalidade e no sistema social. So modos presentes no sistema cultural que podem passar a fazer parte integrante tanto dos sistemas sociais como da personalidade de seus membros, dando-lhes padres para avaliar certos objetos, assim como fins e meios para consegu-los; Smbolos: a unidade bsica de anlise do sistema cultural o significado atribudo socialmente a seus componentes simblico, permitindo a comunicao atravs deste sistema comum, precondio para que ego e alter sejam objetos de orientao, um para o outro. So objetos de orientao, efetivamente existentes no mundo externo, cujo significado encerra possibilidades de orientao da conduta, e que so transmissveis por um agente a outro, podendo ter o mesmo sentido para alguns ou para todos os membros de uma coletividade; Smbolos, necessidades/disposies, papis e expectativas de papis so todos eles padres de orientao; Os Trs Sistemas Simblicos:

So os elementos estruturais da cultura que, estveis, permitem a comunicao e a abstrao de seus significados em situaes particulares a partir de suas funes:

Smbolos cognitivos: crenas e idias (como o sistema mtrico, sinais luminosos);

Smbolos expressivos (catticos): orientados a estados afetivos e permitem as emoes, sentimentos e pretenses do outro (como o desenho de um corao, uma tatuagem de uma caveira);

Smbolos (normas ou padres) avaliativos ou reguladores ou idias normativas: no se referem a objetos exteriores, mas s propriedades dos agentes e coletividades. So modos de avaliar e solucionar conflitos (como um sinal de proibio); se expressam na forma de normas avaliativas que permitem que o agente tome decises sobre as consequencias das aes referidas a objetos externos (a) que conhece (por meio da cognio), (b) que considera pela sua capacidade de satisfao das necessidades (catexia) e (c) que so aprovados ou reprovados (por meio do julgamento moral);

Os Sistemas de Personalidade

Organiza as orientaes e motivaes da ao de um agente individual, tratando de otimizar as gratificaes e, ao mesmo tempo, de minimizar as privaes; Estas necessidades/disposies correspondem a uma tendncia da personalidade a mobilizar o indivduo para que atenda s suas carncias, de carter social ou biolgico; neste sistema, as aes so motivadas por necessidades biolgicas, mas tambm pelos objetos do sistema social (que incentiva o agente para atingir metas coletivas) e as normas culturais (que fornece os fins e os meios desejveis) internalizados (introjetados, cf. Freud) em sua personalidade (atravs da socializao);

Desvio: ocorre quando um agente ignora ou contesta certas orientaes, iniciando uma mudana ou afastando-se da conformidade com os critrios normativos presentes numa cultura comum;

Controle Social: os mecanismos de controle so utilizados quando o sistema no consegue tolerar os desvios alm de certos limites para impedir que o prprio sistema se desintegre; o controle social um processo de motivao atravs do qual um sistema atua, no sentido de promover a conformidade do agente que tende ao desvio, sobretudo aqueles relativos ao desempenho de expectativas de papis;Os Sistemas Sociais

um sistema estruturado, fruto da interao (fundada em expectativas mtuas a respeito da conduta do outro, no compartilhamento de elementos simblicos de um sistema cultural comum que lhes permite atribuir significado situao) entre pelo menos dois indivduos, mas que no consiste apenas nas personalidades destes agentes; tambm diferenciado dos demais sistemas (personalidade e cultural) e, ao mesmo, tempo, integrado a eles;

Hierarquias de Controle dos Sistemas de Ao

Quanto mais informaes contiver, maior controle ciberntico ter um sistema sobre outro: o sistema cultural (que contm o mximo de informao) controla o social, que controla o de personalidade, que controla os organismos; a estrutura da personalidade, por exemplo, foi modelada pela interiorizao de objetos sociais e dos modelos de cultura institucionalizada (padres culturais), estando, portanto, num terceiro nvel de subordinao de acordo com a hierarquia de controle ciberntico;

Enquanto os sistemas situados acima em termos de quantidade de informao (cultural e social) exercem controle sobre os situados abaixo (personalidade e ambiente/organismo), estes fornecem energia aos de cima, so provedores, procurando responder s suas carncias; O sistema cultural , ento, o que tem a mxima capacidade de controle e o ambiente/organismo possui a mais alta energia;

A definio da situao de acordo com as variveis-padro

A ao orientada pelos significados que so atribudos pelo agente aos objetos;

Esta definio de significado se d a partir da escolha entre cinco pares (variveis-padro) com orientaes contrrias, cinco possibilidades de definio do significado de uma situao antes que se inicie uma ao; antes de agir o agente tem que escolher cinco destas dez orientaes, o que implica em um dilema de orientao; Cada um destes pares se refere s escolhas feitas com base nos padres normativos (s.cultural), necessidades e disposies do agente (s.personalidade.) e expectativas de papel (s.social);

As Variveis-Padro

Eis as variveis-padro nas quais se baseiam as escolhas indispensveis a qualquer ao; que fornecem uma direo para a soluo dos dilemas, ditando opes, expectativas ou predisposies (cada v.p. relaciona-se aos trs sistemas empricos de ao, s.cultural, s.social e s. de personalidade):

1) afetividade ou neutralidade afetiva: dilema mais elementar dos sistemas de ao: o agente deve satisfazer seus impulsos, sendo permissivo, ou disciplin-los? (houve ou no avaliao?)

2) orientao para si ou para a coletividade: em um determinado contexto, o agente d primazia aos interesses, metas e valores compartilhados com os outros membros de uma unidade coletiva ou o faz com respeito a seus interesses pessoais, sem levar em considerao possveis efeitos sobre a coletividade? (priorizou-se ou no as normas morais)?

3) universalismo ou particularismo: quais so os critrios a serem utilizados pelo agente quando ele deve decidir se trata os objetos de acordo com normas cuja validez transcende qualquer sistema especfico de relaes (universalismo) ou com base em normas inerentes quele sistema (particularismo)? (prevaleceram as normas cognitivas (racionais-universais) ou catticas/particulares?);

4) adscrio (qualidade) ou desempenho (realizaes): o agente deve considerar o objeto segundo os possveis resultados das aes deste objeto (atributos adquiridos) ou de acordo com suas qualidades intrnsecas (o que ele em si/atributos naturais)? (valorizou-se a qualidade ou as realizaes?);

5) especificidade ou difusidade: qual o significado que o agente atribui ao objeto social? De acordo apenas com os direitos que esto definidos explicitamente na formalizao de suas relaes mtuas (terapeuta-paciente) ou de forma indefinida, difusa (amizade)? (O objeto social (alter) tem um significado especfico ou difuso?);

As variveis-padro aplicadas a um problema emprico: a prtica mdica

Enquanto papel, o mdico universalista (sem influncia de amizades pessoais, relaes amorosas ou familiares), funcionalmente especfico ( um especialista) e afetivamente neutro (sem relaes erticas ou emoes); em relao varivel orientao, o mdico deve colocar o bem-estar do paciente (coletividade) acima de seus interesses pessoais sem contar com o lucro (orientao para si); alm disso, o mdico valorizado pela suas qualidades profissionais (desempenho/atributos adquiridos) e no pelo que ele pessoalmente (adscritivo/atributos naturais);

Os Sistemas Sociais

Um sistema social composto de, pelo menos, dois membros que interajam compartilhando modelos de cultura normativa; os indivduos participam como agentes e como objetos de orientao um para o outro; a sua conduta e a sua qualidade enquanto membro de um sistema social (mdico, professor etc.) definida pelos seus papis, cujos contedos so estabelecidos atravs de normas;

Quanto mais diferenciado internamente (complexo) for o sistema social maior ser a diversidade de sistemas de papis organizados e articulados; maior ser a pluralidade de agentes individuais e coletivos que contribuem, cada qual com o seu papel, para o bom funcionamento do sistema que se manter de acordo com sua capacidade de coordenar os papis visando evitar conflitos, garantir a satisfao das expectativas de seus membros e a possibilidade de se atingir as metas estipuladas

Exemplo de um sistema social complexo: um hospital;

Tomando como objeto de anlise o sistema social, Parsons considera os outros sistemas de ao (personalidade, cultural e o organismo comportamental) como seus ambientes;

No nvel emprico, um sistema social constitui-se como uma coletividade;

No nvel estrutural, podem ser analisados de acordo com quatro categorias: valores, normas, coletividades e papis;

No nvel funcional ou dinmico, possuem quatro imperativos funcionais: adaptao s condies do ambiente, realizao dos fins, integrao interna e manuteno de modelos ou padres latentes que controlam o sistema ou o manejo de tenses;Coletividades e Subcoletividades

A coletividade um agente emprico: um conjunto organizado e concreto de agentes individuais e/ou coletivos (membros) e deve atingir metas a fim de garantir sua continuidade, podendo orientar-se para outros agentes externos, entre os quais outras coletividades;

Dois critrios para que haja uma coletividade: 1) possibilidade de definir entre participantes e no-participantes do sistema; 2) possibilidade de haver uma certa diferenciao entre os participantes em termos de funes e status dentro da coletividade;

A existncia de uma coletividade, enquanto sistema de interaes singulares, limitada pela durao dos papis que a constitui (comisso de formatura, comunidade religiosa); os papis podem permanecer latentes at o surgimento de uma situao que os reative e permita a renovao da solidariedade entre os membros da coletividade

no a solidariedade que contnua que define a coletividade, mas a possibilidade de interao - que torna os agentes objetos uns para os outros, fazendo aflorar os interesses partilhados e a existncia de padres de valor que estabelecem direitos, obrigaes e sistemas de expectativas de papel;

Na condio de agente, a coletividade compreende o conjunto das aes coordenadas e articuladas de seus membros, que interagem em busca de fins comuns;

Quanto mais integrada uma coletividade supostamente maior a clareza (no certeza ou facilidade de atingir) de seus prprios fins;

Quanto mais institucionalizadas forem as orientaes de valor (e das respectivas normas) da coletividade, mais sua ao ser articulada e no conflitiva, sendo os seus membros capazes de avaliar e sancionar mutuamente e de modo coerente suas aes;

A coletividade se distingue dos agregados sociais (grupos de pessoas reunidas por seus atributos sexo, educao, idade ou por interdependncia ecolgica vizinhos) pela solidariedade entre seus membros e pela sua capacidade de agir tendo em vista a busca de gratificaes coletivas;

Uma coletividade pode segmentar-se em subcoletividades (independentes, justapostas, inclusivas) que desempenham funes dentro dela (exemplo: famlias na sociedade);

Quanto maior o nmero de subcoletividades, maiores os problemas de integrao e coordenao do sistema como um todo;

A Sociedade como Sistema Social Complexo

Um sistema social complexo composto de uma rede de sistemas interdependentes e que se recortam, sendo cada um deles um sistema social com suas prprias exigncias (ex.: universidade com departamentos, bibliotecas, cantinas, D.As., reitoria etc.);

A sociedade o mais importante dos sistemas sociais complexos porque:

1) tem o nvel mais elevado de auto-suficincia com relao a seu ambiente (sistemas de personalidade e organismo), onde se incluem outros sistemas sociais; 2) possui todos os pr-requisitos funcionais (organizao de relaes em torno de focos territoriais e de parentesco, sistema de determinao de funes e de atribuio de recompensas, estruturas integrativas que regulam as atribuies de recompensas, os conflitos e os processos competitivos) para uma existncia de longa durao com seus prprios recursos; 3) no pode ser um subsistema de uma coletividade de ordem superior;

4) possui valores institucionalizados, uma cultura comum que deve ser mantida; 5) possui um sistema de normas coerente (legal, integrado e administrado por tribunais) que governa as suas unidades diferenciadas (subcoletividades); 6) capaz de socializar seus membros (aprendizagem) e mantm a sua motivao (atravs de recompensas) para agir segundo padres de ao socialmente valorizados e controlados;

Os Quatro Imperativos Funcionais dos Sistemas de Ao (AGIL)

Os sistemas de ao mantm influncias mtuas e estabelecem permutas, interpenetrando-se e provocando, atravs da ligao com a estrutura do sistema de ao (seus subsistemas cultural, social, personalidade e organismo), esforos de adaptao (A), alcance de objetivos (realizao de fins)(G), integrao (I) e manuteno de seus limites (manuteno de modelos ou padres latentes que controlam o sistema e manejam tenses (L);

Adaptao (A)

Essa funo cuida da oferta e utilizao de recursos escassos indispensveis para atender s necessidades dos membros e colocar ao seu alcance os alvos definidos pelo sistema social; trata de decises relativas a custos, alternativas, sacrifcios, eficincia, acesso e planejamento do uso dos meios que a situao oferece, em funo de atingir seja uma pluralidade de fins ou alguns deles; Definidas as metas esta funo trata da organizao e distribuio dos meios disponveis com a finalidade de atingir os objetivos do modo mais eficiente (Ex: a construo de uma hidreltrica);

A Realizao dos Fins (G)

Vincula-se ao atendimento de necessidades do sistema por meio de trocas com a situao, representando um movimento na direo de um ou de diversos alvos que so, por sua vez, hierarquizados segundo a urgncia; encontra-se, em geral, em contradio com a funo de Adaptao (A), pois enquanto esta busca a racionalizao (a proposio da primazia ou abandono dos fins) em funo da escassez dos recursos e do que considerado prioritrio para a coletividade (economia), a funo G (exercida pela organizao poltica) define metas a atingir, motivando as personalidades dos participantes a agir em nome do objetivo coletivo;

A Integrao Interna (I)

A funo de Integrao (I) cuida da articulao das partes ou subsistemas mais amplos, coordenando-os, sendo essencial na definio dos limites sistmicos e na sua manuteno na medida em que, diante de mudanas no ambiente ou diferenciao interna, cabe a ela manter o equilbrio e evitar a desintegrao social; A integrao deve ocorrer nos trs sistemas de ao (cultural, social e de personalidade) a partir do compartilhamento de valores comuns; em um sistema social integrado as expectativas recprocas (papis) dos agentes em relao s suas condutas um elemento integrador;

Um sistema social integrado um grupo solidrio cujos membros possuem obrigaes positivas: deveres (metas ou interesses coletivos) que podem incluir sacrifcios em benefcio da coletividade e cujo cumprimento requer a contribuio de todos;

Quando h subdivises internas no sistema (processo de diferenciao/evoluo, separao de funes antes unificadas) necessrio coordenar as unidades recm-formadas, isto , resolver os problemas de integrao atravs de ajustes (por exemplo, atravs da mudana do contedo das normas), demonstrando a capacidade adaptativa do sistema;

Os subsistemas de normas legais e organismos encarregados de aplic-las (subsistema integrativo: tribunais e polcia) so os instrumentos capazes de cumprir a funo integradora, j que, atravs deles os papis so atribudos e executados, bem como deles provm as sanes e as recompensas relativas a condutas desviantes e conformes;

Latncia (manuteno de modelos)

Funo cumprida pelo Sistema Cultural, que promove a legitimao da ordem normativa: a base consensual de uma comunidade societria a obedincia aos valores e normas de uma sociedade que so internalizados a partir da socializao; a funo mais nobre dentro do Sistema de Ao, pois se situa no patamar mais elevado em termos de controle ciberntico;

tem a funo de 1) manuteno de padro bsico de valores institucionalizados e 2) manuteno e conformao dos compromissos motivacionais adequados de indivduos na sociedade;

A cultura garante a manuteno de padres culturais institucionalizados (no Sistema Social) ou legtimos (internalizados no Sistema de Personalidade) que fundamentam a identidade e a solidariedade de uma comunidade;

Os 4 Subsistemas Funcionais aplicados Sociedade

Quando aplicamos o modelo analtico do sistema de ao organizao interna da sociedade emprica, os 4 subsistemas correspondem a novas realidades:

A Adaptao , na sociedade, o conjunto das atividades que dizem respeito produo e circulao dos bens de consumo (trabalho), correspondendo, assim, Economia ou ao subsistema econmico;

A Realizao de Fins a procura de objetivos coletivos e a mobilizao dos atores e recursos da sociedade na perseguio destes objetivos, correspondendo Poltica;

A Integrao, empiricamente, comunidade societria, ou seja, o conjunto das instituies que tm por funo estabelecer e manter as solidariedades que uma sociedade pode exigir dos seus membros, correspondendo ao objeto de estudo da Sociologia; A Latncia (Manuteno dos Modelos) , na sociedade, o conjunto da rede de socializao dos membros da sociedade, pelo qual a cultura proposta e transmitida aos sujeitos-atores (atividades educadoras), interiorizada por eles, tornando-se um fator importante da motivao de seu comportamento social; corresponde ao objeto de estudo da Psicologia Social e da Antropologia;

O Sistema de Trocas

Cada sistema recebe de cada um dos trs outros, elementos (fatores de produo) que so essenciais a seu funcionamento (input), oferecendo-lhes em troca produtos de sua atividade (output);

Os 4 meios de troca que tm, cada um como base particular, um dos 4 subsistemas:

Sistema Econmico = Moeda;

Sistema Poltico = Poder (obrigao);

Sistema Social = Influncia (persuaso);

Sistema Cultural = Compromisso;

As Categorias Estruturais dos Sistemas Sociais

Alm dos modelos dinmicos de anlise, que so funcionais, h 4 categorias ou elementos estruturais dos sistemas sociais (os dois primeiros vinculam-se ao plano abstrato e os dois ltimos s condies do ambiente emprico):

Os valores atuam no sentido da manuteno de padres (latncia) (L) (so mais gerais e estveis);

As normas so integrativas (I);

A coletividade busca atingir certos fins (G);

Os papis tm funo adaptativa (A);

As Mudanas de Estrutura

Se caracterizam por modificaes bastante importantes na organizao e funcionamento de uma sociedade (ou de um subsistema numa sociedade) que a leva a passar de um tipo social a outro (p.e.: sociedade feudal-burguesa);

Fontes de mudana: 1) Fatores exgenos (mudanas de clima, de tecnologia; 2) Fatores endgenos (tenses, contradies, conflitos) (quase sempre uma reao interna aos fatores exgenos de mudana);

Para que haja uma transformao efetiva, os fatores de mudana devem atingir os smbolos e valores (o lugar mais alto na hierarquia ciberntica;

Conceitos Relevantes da Teoria da Ao

de Talcott Parsons

Ao (entendida como ao do indivduo, do grupo, regio, sociedade, civilizao):

qualquer conduta humana motivada e inspirada pelos significados que o ator descobre no mundo exterior, significados que leva em considerao e aos quais responde;

- significados dos objetos tomada de conscincia dos significados reao s mensagens emitidas pelos objetos ou, em outros termos;

- percepo do ambiente sentimentos que o animam idias que tem motivaes que o impulsionam reaes prpria ao; (sentimento explicao (avaliao) ao)

Ambiente:

a) Fsico (Percepo da realidade) (objetos materiais, condies climticas, geografia e o organismo biolgico);

b) Social a) objetos sociais (os outros) (a ao torna-se interao) (so relaes sociais complexas j que envolvem a subjetividade de dois atores)

b) objetos culturais ou simblicos (normas e valores) (permitem a mediatizao entre os atores atravs da criao de significados comuns, o que permite a comunicao) (fornecem objetivos e meios que servem de orientao ao ator, atribuindo um significado da ao para si prprio e para os outros na interao);

A ao se situa entre ( limitada por) estes dois universos ou ordens de no-ao:

a) o meio fsico (clima, recursos disponveis, instrumentos, tcnicas, a constituio biolgica dos indivduos, o carter);

b) o meio simblico ou cultural (que indica metas e meios, estabelece limites ao permitida, define prioridades e sugere escolhas);

Toda ao social contm quatro elementos:

1) um sujeito-ator (indivduo, grupo ou coletividade); 2) uma situao (que compreende objetos fsicos e sociais com os quais o ator estabelece relaes); 3) smbolos (por intermdio dos quais o ator estabelece relao com os diferentes elementos da situao e lhes atribui um significado); 4) normas e valores que guiam a orientao da ao, ou seja, as relaes do ator com os objetos sociais e no-sociais do seu meio;

A Ao Humana sempre apresenta as caractersticas de um Sistema:

A ao no catica, nem imprevisvel, nem representa a guerra de todos contra todos; isto bvio, j que a ordem no um problema, mas uma constatao, um fato (mesmo diante de todos os sintomas e tentativas de criao da desordem);

Entretanto, o porqu desta previsibilidade da ao ainda no foi respondido; eis, ento, a tarefa da sociologia (que no pode se contentar com o fato do senso comum de que a ordem existe): explicar porque esta ordem existe, qual a sua estrutura e a sua dinmica; Toda ao se compe de unidades-atos de um ou vrios atores e pode ser decomposta (anlise) em fraes de gestos e palavras e recomposta (sntese) em, por exemplo, um papel social;

O papel se insere como um elemento de outro sistema, a famlia, que por sua vez, se insere em outro, o do parentesco: toda ao uma totalidade composta de unidades-ato, mas ao mesmo tempo ela prpria um elemento de uma totalidade mais ampla;

As Condies de um Sistema de Ao:

a)Estrutura: um sistema tem uma organizao relativamente estvel, garantida pelos modelos normativos e pelas variveis estruturais (o mais fundamental teorema da teoria da ao parece-me ser que a estrutura do sistema de ao consiste nos modelos culturais de significao, institucionalizados no sistema social (papis sociais) e no sistema cultural (normas e valores) (Durkheim) e internalizados na personalidade e no organismo (Freud), (os modelos culturais estruturam a ao porque esto na conscincia das pessoas e no universo simblico da sociedade, portanto nos atores e na sociedade, garantindo a ordem graas a uma certa previsibilidade das aes);

b) Funo: a funo um conjunto de atividades que visam responder as necessidades do sistema isto , para a sobrevivncia de um sistema certas necessidades suas tm que ser satisfeitas;

H dois modos de anlise dos sistemas:

1) Interno/Externo:

que enfatiza as relaes das partes dentro do sistema e as relaes do prprio sistema com uma totalidade maior composta de outros sistemas;

Neste caso, so de dois tipos as necessidades do sistema: a) as necessidades que se referem s relaes do sistema com o seu meio (p. ex. uma classe social enquanto um sistema de ao pertence a um todo mais vasto, com o qual est em relao de diversas maneiras, pois dele depende e com ele contribui de alguma maneira; b) por outro lado, o prprio sistema (a classe social, p. ex.) um composto de partes ou de unidades que mantm entre si relaes de diferenciao e de integrao; Se um sistema funciona porque foi capaz de satisfazer estas duas ordens (externa e interna) de necessidades;

As funes relativas ao meio Interno/Externo so:

a) Adaptao (externa): o conjunto de unidades-ato (atividades) que servem para estabelecer as relaes entre o sistema de ao e seu meio exterior (busca e intercmbio com outros sistemas dos recursos de que o sistema precisa e oferece em troca); garante a adaptao do sistema ao seu meio; atravs do Sistema Organismo Biolgico, atravs dos sentidos, que se estabelece o contato com o universo fsico, tanto para adapt-lo, quanto para manipul-lo ou mud-lo (pode haver a adaptao do meio ou uma adaptao ao meio de acordo com as necessidades da ao);

b) Integrao (interna): o conjunto de atividades que visam a estabilizao entre as partes do sistema, protegendo-o contra a desintegrao atravs do estabelecimento de controles, inibindo os desvios, coordenando as partes, mantendo a solidariedade entre as partes; atravs do Sistema Social que une as solidariedades, cria as lealdades, fixa os limites, impe coeres - que esta funo exercida;

2) Objetivo/Meio: que enfatiza as finalidades do sistema e os meios (instrumentos) de que dispe para atingir seus objetivos (bens, satisfaes, ideais);

c) Realizao de Fins (ou Consecuo de Objetivos):

Conjunto de aes ou atividades que servem para definir os objetivos do sistema, mobilizando e gerando recursos e energias em vista da obteno destes fins e, assim, a gratificao; no Sistema da Personalidade (psquico) que se definem os objetivos e que se mobilizamos recursos e as energias para atingir aos fins visados;

d) Latncia (meios): conjunto de atividades que asseguram aos atores a motivao necessria, que garante que a energia proveniente da motivao se mantenha pelo menos a um nvel mnimo; o ponto de contato entre o sistema de ao e o universo simblico e cultural, que fornece os smbolos, as idias, valores, ideologias, os modos de expresso e os julgamentos necessrios para criar a motivao e canaliz-la para a ao;

Paradigma Funcional do Sistema de Ao:

c) Regras de mudana ou evoluo: todo sistema deve ser analisado a partir do seu equilbrio (como ponto de referncia terico, j que toda ao um fator de desequilbrio j que provoca uma reao - num sistema que tende para um equilbrio que quase nunca atinge); Exemplo de um sistema de ao em equilbrio (um caso limite, excepcional, um tipo-ideal que permite avaliar os desequilbrios permanentes nas relaes do ator com a situao): um ator cuja ao satisfaz perfeitamente s expectativas de todos os outros atores para com ele (ele tem um papel), s normas e valores (cultura) do grupo e da coletividade aos quais pertence, ao mesmo tempo em que gratifica plenamente o prprio ator (seu psiquismo);

O que pode acarretar o desequilbrio nas relaes do ator com a situao, rompendo o equilbrio do sistema? A Atividade (a ao ou desempenho) produz perturbaes e a Aprendizagem, na medida em que o ator est constantemente aprendendo e interiorizando algo que pode modificar a sua conduta;

Os Sistemas de Ao no so uma realidade concreta ou objetiva, pertencem ordem da conceituao e anlise, modo de reconstruo mental da realidade, um instrumento heurstico (toda ao pode ser analisada como um sistema)

O Sistema de Ao refere-se organizao das relaes de interao entre o Ator e a Situao (sua Estrutura os Modelos Culturais - que mantm a estabilidade destas relaes)

Mas como so estruturados estes Modelos Culturais?

Atravs das Variveis-Padro ou Variveis-Estruturais (que tm uma grande generalidade analtica):

O modelo cultural impe escolhas e opes ao ator, obrigando-o a julgar, tomar posio, abrir mo de algo em favor de outra coisa, optar e renunciar; estas escolhas, entretanto, no se restringem entre a ao desinteressada e a ao interessada, como supe o utilitarismo;

Quais so estes dilemas com os quais se depara o ator?

Variveis Estruturais de Modalidade do Objeto: (visam o objeto e a sua significao para o ator e que define o seu julgamento nfase na Situao)

1)Universalismo (o professor julga seus alunos por certos critrios gerais) X Particularismo (o pai julga seu filho por critrios pessoais ao prprio filho) (o que no impede que um professor julgue um aluno atravs de critrios pessoais e o pai com critrios mais universais, mas a tnica dominante na deciso do julgamento a universal no primeiro caso e o particular no segundo);

2) Desempenho (o que o objeto faz, cumpre, produz) X Qualidade (o que objeto em si, independente do sucesso da ao ou do que o resultado da ao possa acarretar ao ator);

Variveis Estruturais de Orientao para o Objeto: (visam o ator, definindo a sua atitude em relao ao objeto e a sua relao com ele nfase na Ao)

3) Neutralidade Afetiva (abdicao dos sentimentos em relao ao objeto em funo de seu uso ou de seus objetivos) X Afetividade (ou leva em considerao seus sentimentos, afeto em relao ao objeto);

4) Especificidade (mantm relaes com objetos apenas sob certos aspectos especficos, ex. professor-aluno, patro-empregado, funcionrio-cliente que mantm uma relao especfica que no precisa ser necessariamente de amizade) X Difuso (ou optou por uma relao mais global, relacionando com o outro enquanto pessoa humana total, p.ex.: pai-filho, entre amigos cujo relacionamento abrange vrios aspectos, como amizade, amor, influncia etc.);

As primeiras so as variveis societrias (protestantes EUA) e as segundas, as comunitrias (catlicas, Brasil) - (cf. Tonnies);

A Hierarquia Ciberntica:

Todo sistema de ao o centro de incessante circulao de energia e informao, so as permutas de energia e informao entre as partes (os subsistemas organismo, personalidade, social e cultural) que provocam a ao do sistema; as partes mais ricas de informao (controle da ao) impem controle sobre as mais ricas de energia (condies para a ao) (princpio fundamental da ciberntica); Sendo assim, temos a hierarquia ciberntica:

Os elementos culturais dispem de controles que se exercem sobre o sistema social, a personalidade e o organismo, enquanto o sistema de personalidade exerce controle sobre o organismo, mas sofre controles mais poderosos por parte do sistema social e do cultural;

A mesma ordem prevalece na hierarquia dos quatro princpios funcionais: a adaptao se encontra mais prxima do dispndio de energia, enquanto a latncia mais rica de informao;