paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA MARIANA DE AZEVEDO PINTO Paripe, Ações Comunitárias e Visibilidade Pública através do Programa de TV “Que Venha o Povo” Conceição do Coité, 2011.

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Page 1: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA

MARIANA DE AZEVEDO PINTO

Paripe, Ações Comunitárias e Visibilidade Pública através

do Programa de TV “Que Venha o Povo”

Conceição do Coité, 2011.

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MARIANA DE AZEVEDO PINTO

Paripe, Ações Comunitárias e Visibilidade pública através

do Programa de TV Que Venha o Povo

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social - Habilitação em Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Comunicação, sob a orientação da Professora: Patrícia Rocha de Araújo.

Conceição do Coité, 2011

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MARIANA DE AZEVEDO PINTO

Paripe, Ações Comunitárias e Visibilidade Pública através

do Programa de TV “Que Venha o Povo”

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social - Habilitação em Radialismo, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Comunicação, sob a orientação da Professora: Patrícia Rocha de Araújo.

Data:__________________________

Resultado:_____________________

BANCA EXAMINADORA Prof.(orientadora)_________________

Assinatura_______________________

Prof.(orientadora)_________________

Assinatura_______________________

Prof.____________________________

Assinatura________________________

Page 4: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

Dedico a Deus Companheiro fiel.

Page 5: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

AGRADECIMENTOS:

Avante. Conhecimento a gente aplica na vida pública, na esfera profissional, e

nas próprias relações da vida privada. Tanto quis que assim foi. Uma das etapas de

conhecimento e aprendizado que se conclui. Feliz é aquele que abdica, porque

abdicar faz parte do processo de ser humano. Nessa caminhada muitos foram

humanos comigo: Inailde Azevedo, que sempre se mostrou atuante enquanto mãe,

educadora e amiga; meu irmão Danilo Azevedo, que sempre abriu meus olhos para

as possibilidades da vida; meu pai Wilson Pinto, que sempre investiu na educação

de seus filhos; Aloisio Ferreira, pela companhia e paz nos momentos de inquietude,

aos amigos, em especial ao grupo de faculdade: Bela Almeida, Glécia Carneiro,

Leandro Daniel, Maicon Emerson, Robson Silva que, aos trancos e barrancos,

nunca deixaram de seguir em frente e ter confiança na vida. Aos demais colegas de

turma, a minha orientadora Patrícia Rocha em aos que entraram no meio do

caminho e acabaram por me dar base permitindo-me caminhar com foco, Raiane

Lopes, Duda, Juçara, meu muito obrigado. Fácil não foi, a cidade era desconhecida,

repleta de peculiaridades, mas nada que a juventude não tirasse de letra. O melhor

de tudo é que tivemos a oportunidade de nos conhecer e conviver com universos

diferenciados. Hoje parto para um novo retângulo de vida, mais conhecedora e

completamente grata a todos que comigo estiveram, conviveram e que me

ensinaram. Muitíssimo obrigado.

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“Há, contudo quem não veja civilidade como virtude”. Kennedy (1998)

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RESUMO:

Verificamos se o programa de televisão “Que Venha o Povo” configura-se em um instrumento estratégico de diálogo e visibilidade para os problemas e anseios da comunidade de Paripe, por meio do das ações desenvolvidas pelas lideranças comunitárias perante as autoridades do poder público. Foram verificadas também as possíveis influências da linha editorial do programa nesse diálogo, através de materiais fornecidos pela própria produção do programa. Para tanto, adotamos como corpus de análise dados obtidos a partir da confecção de Grupos Focais envolvendo seis Associações comunitárias: o CECOP, Associação de Moradores, Associação de Pescadores, Centro dos Amigos de Paripe, Associação Jovem de Paripe, Centro Comunitário da Igreja Católica de Paripe. Através dos dados obtidos junto a esse corpus pudemos formular e compreender os procedimentos adotados para visibilidade da comunidade junto ao programa QVP, bem como perceber os elementos, interesses e consequências que essa tentativa de visibilidade desenvolve para a comunidade. Palavras-chave: Mobilização Comunitária,Paripe; Programa de TV QVP;

Visibilidade.

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ABSTRACT: We check that the television program "What the People Come" set in a strategic

instrument of dialogue and visibility to the problems and aspirations of community

Paripe through the actions undertaken by community leaders, before the authorities

of the government. We also noticed the possible influences of the editorial line of the

program in such a dialogue, through materials provided by own production of the

program. To this end, we adopted as corpus analysis, data obtained from the

construction of six focus groups involving community associations: the CECOP,

Residents Association, Fishermen's Association, Friends of the Center Paripe, Paripe

Youth Association, the Catholic Church Community Center of Paripe. Using data

obtained from this corpus we formulate and understand the procedures adopted for

visibility of the program QVP community together, and perceive the elements,

interests and consequences that this attempt to develop visibility for the community.

Keywords: Community Mobilization-Paripe; TV QVP; visibility.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Imagens do Programa Que Venha o Povo. .................................................. 29

Figura 2 - Localização de Paripe. ..................................................................................... 31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Associações comunitárias, total de associados, líderes e tempo de

atuação .................................................................................................................................... 32

Tabela 2 - Relação das Pautas ........................................................................................... 43

Tabela 3 - Relação das pautas de saúde .......................................................................... 44

Tabela 4 - Relação das pautas de educação ................................................................... 45

Tabela 5 - Relação das pautas de entretenimento .......................................................... 45

Tabela 6 - Relação das pautas de violência ..................................................................... 46

Tabela 7 - Relação das pautas de assistencialismo ....................................................... 46

Tabela 8 - Relação das pautas de infraestrutura ............................................................. 46

Tabela 9 - Relação das pautas de eventos ....................................................................... 47

Tabela 10 - Relação das pautas de saúde ....................................................................... 48

Tabela 11 - Relação das pautas de educação ................................................................. 49

Tabela 12 - Relação das pautas de entretenimento ........................................................ 50

Tabela 13 - Relação das pautas de violência ................................................................... 51

Tabela 14 - Relação das pautas de assistencialismo ..................................................... 51

Tabela 15 - Relação das pautas de infraestrutura ........................................................... 52

Tabela 16 - Relação das pautas de eventos .................................................................... 53

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APP Associação dos Pescadores de Paripe

AJP Associação Jovem de Paripe

AMP Associação dos Moradores de Paripe

CAP Centro dos Amigos de Paripe

CCICP Centro Comunitário da Igreja Católica de Paripe.

CDI Comitê de Democratização da Informática

CECOP Centro Comunitário da Igreja Batista de Paripe

FHC Fernando Henrique Cardoso

GF Grupo de Focal

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MCM Meios de Comunicação de Massa

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPNADL Projeto Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local

QVP Que Venha o Povo

SAC Serviço de Atendimento ao Consumidor

SECULT Secretaria de Cultura da Bahia

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IWG International Working Group

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

1. SOCIEDADE CIVIL E MEIOS DE COMUNICAÇÃO: UMA RELAÇÃO PARA A

CIDADANIA. ............................................................................................................. 16

1.1. CIDADANIA .................................................................................................... 16

1.2. SOCIEDADE CIVIL. ........................................................................................ 17

1.3. MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E SEUS REFLEXOS NA

CONTEMPORANEIDADE. .................................................................................... 19

1.4. MÍDIA TELEVISIVA NO BRASIL: HISTÓRIAS E PERSPECTIVAS ............... 21

1.4.1. MÍDIA TELEVISIVA NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO. .................. 21

1.4.2. TELEVISÃO: MOBILIZAÇÃO E VISIBILIDADE. ...................................... 24

2. JORNALISMO POPULAR E VISIBILIDADE ..................................................... 26

2.1. O PROGRAMA DE TELEVISÃO “QUE VENHA O POVO” ............................. 28

3. PARIPE – MOBILIZAÇÕES COMUNITÁRIAS E VISIBILIDADE PÚBLICA

ATRAVÉS DO PROGRAMA DE TELEVISÃO QVP ................................................. 31

3.1. PARIPE ........................................................................................................... 31

3.1.2. ASSOCIAÇÃO JOVEM DE PARIPE - (AJP) ............................................ 33

3.1.3. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE PARIPE– (AMP) ....................... 33

3.1.4. ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES DE PARIPE – (APP) ..................... 33

3.1.5. CENTRO DOS AMIGOS DE PARIPE- (CAP) .......................................... 34

3.1.6. CENTRO COMUNITÁRIO DA IGREJA CATÓLICA DE PARIPE – (CCICP) ........................................................................................................................... 34

3.1.7. CENTRO COMUNITÁRIO DA IGREJA BATISTA DE PARIPE-(CECOP) 35

3.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................... 36

3.2.1. FASE 1: LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS E SEU TRABALHO DE MOBILIZAÇÃO. .................................................................................................. 37

3.2.2. FASE 2: A VISIBILIDADE DAS MOBILIZAÇÕES E DAS DEMANDAS TRAZIDAS PELO LÍDER COMUNITÁRIO NO QVP .......................................... 41

3.2.3. DEMANDAS DA COMUNIDADE TRAZIDAS PELOS LÍDERES COMUNITÁRIOS QUE FORAM VISIBILIZADAS NO QVP ............................... 42

3.2.4. FASE 3: MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA QUE EFETIVA OU NÃO A VISIBILIDADE DA AÇÃO NO PROGRAMA. ...................................................... 44

3.2.5. FASE 4: DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA: QUE VERIFICA A POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA DA LINHA EDITORIAL DO PROGRAMA QVP. ............................................................................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 56

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13

INTRODUÇÃO A emergência por cidadania e melhorias nas condições de vida da população

traz consigo, segundo Peruzzo (2005), um forte esforço por reorganização social,

principalmente das classes sociais que se vêem por caráter de ordem econômica

excluídas do processo e da vida política do país. Aparentemente desamparadas pelo

Estado e por suas estruturas e utilizando-se da televisão como veículo de

visibilidade, as populações de baixa renda tentam trabalhar por melhorias nas

condições de vida de sua comunidade.

Paripe é uma dessas comunidades de baixa renda de Salvador, que

desacreditadas por algumas instituições sociais, vão em busca de veículos de

comunicação como forma de resolver seus problemas e alcançar para eles alguma

visibilidade. Através de instituições representativas da comunidade como lideranças

comunitárias e associações, Paripe tenta através do programa de Televisão Que

Venha um Povo, buscar melhorias na infraestrutura, educação, saúde e habitação

para seu bairro e consequentemente para os seus moradores.

Por compreender a importância dessas mobilizações com bases comunitárias

e a fim de levantar instrumentos que possam contribuir com a valorização dessas

ações desenvolvidas pela comunidade de Paripe e suas lideranças, esse trabalho se

justifica. O nosso problema aqui é entender se o programa popular e sensacionalista

“Que Venha o Povo” pode funcionar para as lideranças sociais de Paripe como um

instrumento de diálogo e visibilidade com as autoridades na busca da resolução dos

problemas da comunidade.

Visando responder este problema, temos como objetivo central de pesquisa

verificar se o programa de Televisão “Que Venha o Povo” pode configurar-se em um

instrumento estratégico de diálogo e visibilidade para as ações desenvolvidas pela

comunidade e lideranças comunitárias de Paripe, com as autoridades do poder

público. Para alcançar este objetivo maior, outros precisaram ser alcançados. Entre

nossos objetivos específicos, estão: a verificação da importância atribuída pela

comunidade aos movimentos e lideranças comunitárias no que compete a garantia e

bem estar coletivo da comunidade de Paripe e a verificação da interferência editorial

do programa nesse processo dialógico de visibilidade.

O trabalho foi dividido em três capítulos. Temos no primeiro capítulo a

promoção de uma reflexão conceitual acerca do termo e prática da cidadania.

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Verificamos o conceito, surgimento e importância da sociedade civil enquanto

estrutura de regulação dos direitos e deveres da sociedade junto as autoridades

competentes e ao Estado. Debruçamos-nos em entender o papel e o poder de

visibilidade dos meios de comunicação, em especial da televisão, no propósito de

alcançar esses objetivos pela sociedade.

No segundo capítulo, desenvolvemos uma abordagem conceitual acerca do

jornalismo popular e do programa de Tv “Que Venha o Povo”, apontando as

características que identificam as camadas populares com esse formato de

jornalismo.

No terceiro capítulo, enfocamos a comunidade de Paripe, apresentando- a

assim como suas associações, intenções e demandas, destrinchando o processo

para a visibilidade desenvolvido no programa, por meio da verificação das pautas

levadas pelas lideranças comunitárias ao programa de TV local “Que Venha o Povo”.

Verificamos também a interferência da linha editorial do programa no processo de

visibilidade junto ás autoridades locais.

O trabalho utilizou como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica,

levantamento e sistematização de informações sobre o tema abordado, promoção

de grupos focais (GF), reunindo lideranças comunitárias de seis associações, bem

como a coleta de dados junto ao programa de TV QVP. Temas como cidadania,

motivações para a mobilização comunitária, utilização de telejornal popular QVP

como instrumento de visibilidade da comunidade com autoridades locais foram

levantamentos feitos junto às lideranças.

Dentre o suporte teórico utilizado para entendimento e conceituação da

cidadania, Estado e seus papéis estão autores como Santana (2004), Quintão

(2001) e Silva (2002). Para compreender os meios de comunicação, especialmente

a televisão, seu poder de alcance e configuração de visibilidade, foram utilizados

autores como Herz (2001); Thompson(2008) e Raboy (2005).

Jambeiro (2002), Ortiz (2006), Zahar, (2001), Torres (2009) e Bayma (2010),

nos permitiram compreender o papel de interação e disseminação dos valores

sociais através dos veículos de comunicação de massa. A leitura de Jambeiro (2002)

e Dagnino (2002) nos permitiu compreender as características estruturais que

impedem o acesso real das populações carentes aos veículos de comunicação

tradicionais existentes, e como estas podem ser visualizadas na estrutura da

sociedade civil. Ortiz (2006) complementa a análise nos iluminando sobre quais as

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barreiras a serem enfrentadas pela sociedade para a promoção da cidadania e dos

diálogos a partir dos meios de comunicação. A noção necessária para entendimento

do trabalho e o conceito que envolve a sociedade civil, são trazidas por autores

como Gomes (2002, 2004, 2007) e Dagnino (2002, 2005). As conceituações,

análises e perspectivas envolvendo programas populares e sensacionalismo utilizou-

se dos conceitos de Amaral(2006), Peruzzo (2002, 2005), Paiva(1998). Estas

leituras ainda nos auxiliaram a perceber como as camadas populares enxergam,

reconhecem seus valores e utilizam espaços alternativos na busca da visibilidade.

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1. SOCIEDADE CIVIL E MEIOS DE COMUNICAÇÃO: UMA RELAÇÃO PARA A CIDADANIA

1.1. CIDADANIA

Para Santana (2004), quando falamos em promoção da igualdade de direitos

entre indivíduos, logo nos remetemos à vida no âmbito das relações públicas e

pensamos em ações que primem pela garantia do bem estar coletivo e social. A

esse conjunto de ações e padrões de conduta a serem adotados damos o nome de

cidadania. A palavra cidadania aparece em muitas civilizações da antiguidade, como

por exemplo, a grega e a romana. O modelo de cidadania confeccionado por essas

duas civilizações promovia uma diferenciação dos sujeitos a partir de sua posição

social e econômica. Na atualidade, essa concepção de cidadania desenvolvida na

antiguidade não é a pretendida. Segundo Santana (2004), o conceito de cidadania

para a atualidade é um conceito ampliado, em que a cidadania representa a

construção de uma sociedade e de consensos políticos organizados pela

coletividade, independente de sua posição econômica e social.

O exercício da cidadania é inerente a todo indivíduo. A ausência de cidadania

para um indivíduo resulta para ele, e para a sociedade em grandes preocupações de

ordem estrutural, pois submete esse sujeito à ficar a margem da sociedade.

“Organizar uma comunidade para a vida cívica e dentro dos princípios da cidadania,

evitando a existência dessa marginalização é uma atividade muito complexa.

Demandadora da regulação de algumas estruturas” (QUINTÃO, 2001, p. 34). O

papel estrutural de manutenção dos direitos e deveres de um cidadão e da

coletividade na vida em sociedade é do Estado. Entenderemos aqui por Estado:

[..]a organização político-jurídica de uma sociedade. Essa sociedade política é determinada por normas de direito positivo, é hierarquizada na forma de governantes e governados, e constitui essencialmente de um grupo de indivíduos unidos e organizados, permanentemente, para realizar um objetivo comum (AZAMBUJA, 2002, p. 6).

Para governar e desenvolver uma cidade sob os princípios da igualdade, o

Estado deve fornecer à sua população o suporte para atendimento de suas

demandas coletivas. Ocorre que, num país como o Brasil, que possui a quinta maior

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população do mundo1. Conhecer e contemplar todas essas demandas,

transformando-as em políticas públicas coletivas, torna-se uma atividade complexa

até para o Estado. SANTANA (2004). A extensão geográfica, o descomprometimento

de estruturas confeccionadas pelo próprio governo apresentam-se como barreiras a

serem enfrentadas pelo Estado e sociedade no alcance dessas politicas.

Segundo Dagnino (2002), nesse contexto de complexidade administrativa das

demandas coletivas, desenvolve-se como possível elemento de apoio para a

administração pública, estruturas próprias da sociedade, chamadas de Sociedade

Civil.

1.2. SOCIEDADE CIVIL

A Sociedade Civil “são organizações sociais voluntárias que a depender do

momento histórico que ela vivencia, segundo Dagnino (2002), atuam ora, opondo-se

ao Estado, ora em conformidade com o Estado e ora à frente do Estado no

direcionamento de suas políticas”. Segundo Kaldor (2003), em todos esses

momentos a Sociedade Civil é sinônimo de uma sociedade moderna, que busca

articular-se coletivamente para estabelecer um projeto de futuro que contemple a

sociedade e suas demandas em suas diferentes estruturas e grupos, possibilitando

assim, a igualdade.

Para Gomes (2007, p. 56), “apesar da importância trazida por essas

entidades sociais ao processo de cidadania, o desenvolvimento desse estímulo para

a participação política da sociedade nos processos do Estado ainda é difícil, tanto

por variáveis econômicas, como pelas variáveis políticas.” a Educação no país

contempla simultaneamente essas representações das variáveis econômicas e

política. Segundo Dagnino (2002), e Gomes (2007), por desconhecer os

conhecimentos técnicos e a burocracia que regem as políticas de administração do

Estado, a maioria da sociedade exime-se de dialogar com a máquina pública. Ou

ainda quando esta tem determinado conhecimento sobre os possíveis lugares legais

de recorrência para a participação da vida pública, logo se desmotiva por conta do

histórico de irregularidades e corrupções nos quais estas estruturas da

1 Segundo o censo 2011, do Instituto Brasileiro de Geografía Estatística (IBGE ), o Brasil possui 191mil

habitantes, distribuidos em 5564 municipios brasileiros.

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administração estão envolvidas. Um bom representativo dessas desmotivações,

para Dagnino (2002), são os partidos políticos, que deixaram de utilizar da

autoridade e de seus conhecimentos de representação social junto ao poder público.

Esse fato promoveu um fechamento e isolamento da sociedade para com essas

entidades e dificultou o processo de participação social, por vias normais de

representação. Embora não seja a solução efetiva para essa brecha deixada pelos

partidos políticos, e por outras instâncias de representação governamental, a

sociedade civil pode, para Dagnino (2002), fornecer uma pequena estrutura técnica

e política para a participação da sociedade nos processo de construção do país.

Esse poder de atuação e transformação existente na sociedade civil, através

de representações como organizações comunitárias e sindicatos de classe pode ser

entendido a partir de um período histórico do Brasil.

Entre os anos 1960 a 1970, por conta do projeto de desenvolvimento

nacional e do golpe instituído ao governo de João Goulart, o país enfrentou um

período de descontentamentos na política de administração do governo. Segundo

Quintão (2001), Vargas importava para o Brasil um modelo de desenvolvimento

econômico baseado na modernização no país, principalmente das zonas agrícolas.

Esse projeto trazido pelo governo e não planejado com a sociedade, promoveu um

processo de migração desordenado dos trabalhadores do campo para os centros

urbanos, situação que alargou o contingente de trabalhadores urbanos e promoveu

nas cidades e na vida da sociedade grandes cenários de doenças sociais. Diversos

setores das camadas populares descontentes com a situação que vivenciavam

mobilizaram-se em prol de melhorias nas condições de vida e dos interesses de sua

classe. Entidades da sociedade civil, como movimentos sociais, passaram a se

organizar em forma de sindicatos para traçar estratégias de negociação e buscar

melhorias nesse modelo de gestão junto ao Estado. Têm destaque para Dagnino

(2002), os sindicatos dos trabalhadores. Estes, unidos por sua classe,

confeccionaram um estatuto próprio, exigindo redução na carga horária de trabalho,

férias, condições adequadas de segurança no trabalho, entre outros benefícios.

Inspirados nesse grupo de trabalhadores, vários outros passaram a se

articular no período. Minorias até então invisíveis da sociedade civil, a exemplo dos

Movimentos feministas, anti-racistas, anti-homofobia, e vários outros movimentos

surgem em níveis locais e trabalham pela livre exposição de suas preferências e

pela conquista dos seus direitos junto ao Estado, (QUINTÃO, 2001).

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19

Como vimos, ações de grupos da Sociedade Civil atuantes naquele período

foram importantes na conquista de alguns direitos. Algumas ações lá

desencadeadas ainda são desfrutadas na atualidade, como é o caso das conquistas

envolvendo o trabalhador. Todavia, para Perruzo (2003), não podemos negar que

por conta de suas limitações de atuação envolvendo questões como a de geografia,

essas ações se viam impedidas de se tornar maiores e capazes de beneficiar a

sociedade como um todo.

Nessa perspectiva de construção da cidadania para o alcance de todos, os

meios de comunicação de massa, em especial a televisão, segundo Peruzzo (2003)

hoje deveriam servir como instrumentos para rompimento de algumas barreiras

geográficas, ideológicas e políticas presentes nos diálogos das sociedades e no

diálogo da sociedade com o Estado. Por conta disso, compreender a importância e o

papel que estes exercem em nosso meio é uma tarefa de fato importante.

1.3. MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E SEUS REFLEXOS NA

CONTEMPORANEIDADE

Para Herz (2001), a importância dos meios de comunicação na construção e

no desenvolvimento social, bem como sua intencionalidade e espontaneidade na

geração dos efeitos sociais, é inegável. Por ser importante na construção e

desenvolvimento social é que esses meios estão nas mãos de poucos. Essas

concentrações causam um desequilíbrio nas relações sociais, retardando o processo

de cidadania. A não utilização desses meios comunicacionais pela sociedade,

impede a confecção de um cenário social e econômico mais igualitário, e impede o

rompimento das barreiras de ordem espacial e política tão necessárias para o efetivo

processo de cidadania. “Possuir espaço num meio de comunicação é na atualidade

possuir um espaço de poder” (HERZ, 2001, p. 32). Esse poder existente nos meios

de comunicação, no âmbito das relações sociais e nas relações da sociedade para

com o Estado, pode efetuar-se como um poder de alienação ou ainda um poder de

conhecimento e conscientização. O primeiro “modelo de poder, que aliena e

desnivela economicamente e culturalmente as pessoas, já é muito utilizado no

modelo atual de governo, sendo, portanto, dispensável ao processo de cidadania e a

Sociedade Civil” (HERZ, 2001, p. 10). Já o segundo modelo de poder trazido pelos

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20

meios de comunicação, “que gera conhecimento e conscientização e é capaz de

mobilizar se torna favorável ao processo de cidadania, sendo objeto de ambição da

Sociedade Civil” (HERZ, 2001, p. 10). Entenderemos aqui como mobilizar “o ato ou

ação de convocar vontades, para atuar num objetivo comum, buscando resultados

cotidianos para a coletividade” (TORO, WERNECK, 2005, p.13).

Através dos meios de comunicação e do seu desenvolvimento técnico,

podemos romper barreiras espaciais e temporais, conhecer a realidade do outro e

fazer o outro conhecer a nossa, bem como convocar vontades. Essa capacidade de

romper barreiras espaço – temporais, proporcionadas por um meio técnico é

chamada por Thompson (2008) de “visibilidade mediada”. Sobre isso Thompson

discorre:

Visibilidade mediada diferente do ato de ver captado pelo olho é “sempre moldada por um espectro mais amplo de pressupostos e quadros culturais e pelas referências faladas ou escritas que geralmente acompanham a imagem visual e moldam a maneira como as imagens são vistas e

compreendidas (THOMPSON, 2008, p.21).

Para Medeiros (2011), a televisão enquanto meio técnico e no contexto de

produção do capital apresenta-se a sociedade civil como um importante instrumento

de visibilidade e mobilização. Ao romper barreiras espaços-temporais, a

possibilidade de disseminação de diferentes consciências e contextos culturais

torna-se uma realidade mais palpável.

Mesmo a televisão sendo um importante elo de visibilidade e ligação de

realidades, é uma estrutura que ainda encontra dificuldades em se tornar um objeto

livre a utilidade pública. Essa compreensão que envolve a liberdade da televisão

enquanto veículo está associada à própria entrada do veículo no país. Como o

nosso trabalho envolve a utilização da televisão como instrumento de visibilidade

para as ações da Sociedade Civil, conhecer um pouco mais sobre este veículo e sua

forma de implantação faz-se oportuno.

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21

1.4. MÍDIA TELEVISIVA NO BRASIL: HISTÓRIAS E PERSPECTIVAS

1.4.1. MÍDIA TELEVISIVA NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO

Segundo Zahar (2001), a televisão chegou ao país em 1939, com Edgar

Roquete Pinto e, diferente da tv norte-americana, que teve como influência a

indústria cinematográfica, a brasileira submeteu-se à influência do rádio. Apesar de

Roquete Pinto ter realizado algumas experiências com o novo veículo, foi nas

décadas de 1940 e 1950, já com Assis Chateaubriand, que começaram a entrar nas

casas brasileiras as primeiras trasmissões televisivas. A partir da sua entrada no

país, a televisão passa a ser vista como um instrumento de desenvolvimento

nacional e uma importante fonte de informação e construção da opinião pública,

principalmente quando esta construção de opinião pública centrava-se na divulgação

ou consolidação da imagem política de governos e regimes autoritários.

Segundo Mattos (2000, p.29), a Escola Superior de Guerra (ESG) foi uma

instituição criada por um pequeno grupo de militares que tinha como propósito

utilizar a televisão nos quatro campos de governo: 1)no campo militar: mobilizando

as forças armadas do território nacional a fim de cuidar de forças emergenciais

iminentes e cooperar com empreendimentos ligados ao desenvolvimento e à

segurança nacional, 2) no campo político: melhorando o processo administrativo do

país; 3) no campo econômico: estimulando a produtividade dos setores industriais; e

4) no campo psicossocial: promovendo o fortalecimento do interesse nacional pelos

valores espirituais, morais e cívicos da nação.

Ainda para Mattos (2005), a televisão transformou-se num veículo por meio

do qual o regime poderia persuadir, impor e difundir seus posicionamentos. Por a

televisão ser vista como agente de modernização e como ferramenta para a

manutenção da integração nacional, da segurança e da paz, o governo também se

preocupava com o conteúdo transmitido pelas emissoras de televisão. Os governos

de Médici até Geisel estipularam um “padrão cultural” na televisão. Produções como

telenovelas, telemusicais ou qualquer manifestação popular que fosse de encontro a

esse padrão cultural estaria impedida de ser transmitida na televisão. Esse

impedimento de produção de conteúdo do governo culminou em fortes críticas por

parte da população sobre a tutela do Estado a televisão. Por ser um bem público,

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22

problemáticas do cotidiano deveriam ser trazidos para a discussão na televisão, sem

que o Estado manifestasse censuras, pois enquanto instituição reguladora, deveria

permitir a livre expressão do pensamento individual e coletivo e não coibi-lo.

As manifestações envolvendo a participação e a visibilidade dos contéudos

da população dentro do espaço de televisão tornaram-se uma constante de luta para

a sociedade. A situação obrigou o Estado a redefinir os rumos da televisão, a fim de

promover espaços para a produção e a discussão social. As televisões públicas e

educativas surgiram como uma possível resposta às demandas da sociedade. Estas

permitiriam uma diversificação na programação que poderia oferecer cultura,

ciência, informação e visibilidade a diferentes públicos, sem se preocupar com as

questões da publicidade financiada, presentes nas televisões comerciais. Apesar da

importância visualizada e dos grandes avanços sociais que este modelo de televisão

importado da Europa poderia trazer para o Brasil, a utilização desse modelo também

foi equivocada, visto que com o passar do tempo, em especial no governo de

Fernando Henrique Cardoso (FHC) - (1995-2002) e Luís Inácio da Silva (2003-

2010), o uso dessas concessões de televisão educativas também passaram pelas

mesmas práticas existentes nas televisões comerciais, como a prática denominada

de “coronelismo eletrônico”. Bayma define:

A literatura política brasileira tem utilizado o termo coronelismo como uma forma peculiar de manifestação do poder privado, com base no compromisso e na troca de proveitos com o poder público. A ciência política trata como coronelismo a relação entre os coronéis locais, líderes das oligarquias regionais, que buscavam tirar proveito do poder público, no século 19 e início do século 20. Hoje, não há como deixar de se associar esse termo aos atuais impérios de comunicação mantidos por chefes políticos oligárquicos, que têm, inclusive, forte influência nacional. O compadrio, a patronagem, o clientelismo, e o patrimonialismo ganharam, assim, no Brasil, a companhia dos mais sofisticados meios de extensão do poder da fala até então inventados pelo homem: o rádio e a televisão. (BAYMA, 2010, p. 95)

Diante desse quadro, Torres (2009) presume, que parte significativa dessas

emissoras de TV estão a serviço de interesses particulares e distantes de sua

finalidade de utilidade pública. Inexiste, segundo Ortiz (2006), ação até então

desencadeada pelo governo que tente desvincular a iniciativa pública da privada,

quando o assunto é televisão. Pelo contrário, as ações desenroladas aproximam

mais as emissoras dessa lógica mercadológica. Ilustra:

Page 23: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

23

Praticamente as TVs Públicas funcionavam nos moldes de uma empresa privada. Seus programas (música popular, radio teatro, programas de auditório) em nada diferem dos outros levados ao ar pelas emissoras privadas. [...] quando se olha a porcentagem da programação dedicada aos chamados “programas culturais” observa-se que eles não ultrapassam 4,5. Ao que tudo indica, a acomodação dos interesses privados e estatais se realiza no seio de uma mesma instituição sem maiores problemas (ORTIZ, 2006, p. 53).

A intervenção do Estado para promover seus aliados políticos; as execuções

adversas aos princípios e fundamentações da televisão pública, tudo isso esbarrado

na dependência financeira impedem a independência das emissoras e consequente

independência do cidadão. Contudo, não há, segundo Torres (2009, p. 52), para o

quesito financeiro, justificativa aceitável. Embora o custo para a produção de

conteúdos seja para o governo muito alto, existe uma verba federal mínima anual de

430 milhões, destinada ao serviço de radiodifusão, verba que se chegasse de fato

ao seu destino daria para manter, bem como ampliar, a rede de televisão pública no

país. Para ele, o próprio governo utiliza-se dessa verba para a produção de suas

publicidades e de seus parceiros na televisão, privando a população da verba

destinada a produção de seus conteúdos.

Segundo Torres (2009), o cenário que temos com o surgimento da televisão

pública e educativa não se distancia muito do que tínhamos antes da sua existência.

A televisão pública criada sobre base educativa para promover a igualdade de

informação para a população não incorpora as demandas sociais e por isso, perde

sua autoridade política diante dessas classes. Por outro lado, as televisões

comerciais, criadas para incorporar propaganda em suas programações, vêem-se

preocupadas em atender demandas de responsabilidade do poder público e se

tornam fortalecidas e respaldadas pela sociedade. Assim, se transformam no maior

instrumento de comunicação com o poder público na atualidade. “Vemos uma

inversão de papéis. TV pública produzindo em nome de minorias e dialogando com

minorias, e televisões comerciais sendo procuradas pela sociedade como

instrumento de diálogo e visibilidade, (TORRES, 2009, p.54).

Page 24: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

24

1.4.2. TELEVISÃO: VISIBILIDADE

No estudo, daremos destaque ao modelo de televisão comercial. O que

percebemos a respeito de um conjunto de televisões comerciais que se

remodelaram e conseguiram alcançar grandes públicos. É importante mencionar

que a atitude adotada por essas TVs não é resultado somente de uma preocupação

com o direito de pequenos grupos, estão aí embutidos elementos mercadológicos de

interesse da cúpula administrativa. “Esses interesses econômicos, independente da

adaptação que forem feitas nesse modelo de televisão, sempre acabam por impedir

que a televisão atue em seu melhor propósito, que é estar a serviço do público”.

(GOMES, 2007, p.52).

A remodelação que estas televisões sofreram assemelha-se a uma estrutura

de rede. Vários pontos distintos produzem e recebem informação em níveis locais e

nacionais. Essa nova estrutura de mídia televisiva, “descentralizada” de pólos de

produção nacional e alcançada pela iniciativa privada que se baseia no local, tem se

mostrado um espaço interessante para que as populações geograficamente e

culturalmente afastadas tentem se comunicar umas com as outras e com as

autoridades da região em busca da resolução de suas problemáticas. Essa

situação, segundo França (2005), embora querida pelas TVs educativas, ainda não

se processou. Tem-se nessa experiência de abordagem e produção de conteúdo a

partir do local uma boa saída e modelo para investidura de visibilidade,

principalmente paras as comunidades de baixa renda.

A televisão, como já vimos, é uma ferramenta importante de visibilidade

THOMPSON (2008). Cerca de 96% da população tem o aparato técnico de televisão

em casa (IBGE-2010). Segundo Medeiros (2009), é muito comum falarmos e

assistirmos comunidades carentes em veículos televisivos, de forma a associar

somente questões ligadas à violência. Segundo ela, todos sabem quando uma

escola é invadida, um morador foi afastado por assassinato ou se envolveu no

mundo das drogas, porém é muito difícil termos o conhecimento sobre o que as

pessoas fazem para melhorar suas vidas, através de um programa de televisão.

Dentro desse contexto de sociedade civil que comentamos há pouco, vamos

neste trabalho enfocar na sociedade civil atuante em uma esfera local. Nessa

Page 25: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

25

perspectiva, tem destaque para Peruzzo (2002), a participação dos líderes e

associações comunitárias, também chamados de líderes cidadãos.

O líder cidadão se destaca pela forma de organização que implementa na comunidade, buscando sempre criar um nível de consciência critica junto à população, para que ela cobre seus direitos, dentro de um planejamento feito de forma coletiva, vendo os problemas, analisando e agindo com a população, junto a quem de direito resolver o problema. Ë uma pessoa que pensa, está mais informado que os demais da comunidade participam de grupos de estudos, pesquisas e se torna um comunicador educador. Eles fazem questão que as pessoas participem e que nasçam novas lideranças, capazes de ampliar a ação da comunidade , no campo das reivindicações estruturais e da cultura. (SAMPAIO ,1998, p. 32)

Para Peruzzo (2002), com poder de articulação, conhecimento dos problemas

e horizontes de suas comunidades favorecidos pelo aparato da televisão, esses

líderes promovem de forma conjunta com sua comunidade o exercício político e a

uma tentativa de diálogo com a máquina pública. Por conta da relação de confiança

nesses líderes eles conseguem mobilizar sua comunidade e desenvolver junto com

ela um trabalho político.

“Essa tentativa de diálogo dentro de veículos facilitada pela televisão só pode

ser efetiva quando espaços estão abertos para que os públicos efetivem uma

conversação.” (GOMES, 2008, p.203) Alguns programas da televisão na cidade de

Salvador têm sido procurados como possíveis substitutos das Instituições sociais,

como a delegacia e o tribunal, por exemplo. Justamente por ser um espaço de

visibilidade. França (2006) destaca os programas de televisão populares.

Page 26: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

26

2. JORNALISMO POPULAR E VISIBILIDADE

Segundo Amaral (2006),o Jornalismo popular possui diversas conceituações.

Em um momento é entendido como o jornalismo feito “pelo povo”, em outros,

compreendido como jornalismo feito “para o povo”. Na primeira direção do conceito

de Jornalismo Popular, conseguimos identificar um direcionamento positivo para o

fazer notícia. Nessa lógica de trabalhar pelo povo, o jornalismo popular atua de

forma desinteressada e inclusiva, permitindo a participação social através do espaço

e da confecção do conteúdo que vai ser visível. Dentro desse modelo de jornalismo

estão o jornalismo comunitário, o jornalismo cidadão e o jornalismo cívico. O outro

modelo de jornalismo feito “para o povo”, não permite participação. Finge permitir,

França (2005). Este jornalismo vincula-se a uma pseudo participação, uma vez que

estão embutidos nessa abertura para a participação interesses mercadológicos e de

espetacularização da notícia. Configuram-se como esse segundo modelo de

Jornalismo popular os tablóides, os programas de TV populares e veículos

sensacionalistas.

Independente dessas duas vertentes e de suas intencionalidades, o

jornalismo popular tem como público as classes sociais de menor poder econômico.

Nas duas linhas de jornalismo popular o povo é quem vai ser visto e visibilizado.

Essa visibilidade imbrica-se, segundo THOMPSON (2008, p. 21), “no ato do olho ver

a partir de um meio técnico e no ato de ser visto e construído a partir de perspectiva

simbólica.”

Na primeira forma de jornalismo popular, a visibilidade acontece a partir de

uma natureza positiva. Pois se entende que pessoas produzem seus próprios meios

técnicos e construções simbólicas de seus lugares para fazer visíveis a si e a suas

ações. Neste sentido, o Popular ganha uma conotação de respeitabilidade e não se

tem indícios de espetacularização. Na segunda modalidade de jornalismo popular,

em que o jornalismo é feito “para o povo”, o popular é tido como um ser ridículo e

passível de alienação, pois se submete a uma visibilidade ridicularizante e

mercadológica, de uma linha editoralista, (FRANÇA, 2005).

Essas duas determinações trazidas isoladamente para o jornalismo no plano

conceitual são muito difíceis de acontecer, segundo França (2005), no plano das

Page 27: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

27

experimentações sociais. Visto que, no plano real, o jornalismo popular “pelo povo”

e “para o povo” muitas vezes se confundem.

“O povo negocia a busca por um espaço de visibilidade para seus problemas e ações. Enquanto que os telejornais de jornalismo popular que são ou deveriam ser naturalmente instrumentos legítimos de poder da população no enfrentamento de suas questões negociam o que esta visibilidade do povo pode promover financeiramente aos seus donos.” (AMARAL, 2006, p. 23).

Segundo França (2005), por negociar e ao negociar com o povo a exposição

de sua realidade, o jornalismo popular tende a adotar uma postura mais liberal e

agressiva para com as estruturas a que se opõe. Essa ação agressiva pode ou não

funcionar como um instrumento de pressão para autoridades, fazendo com que

estas se tornem ou não mais atuantes. Essa pressão no jornalismo popular

desenvolve-se na linguagem. O texto verbal desenvolvido pelo apresentador dá a

entender um caráter condenatório e desafiador das autoridades públicas, pois

delega para si o papel de fiscalizador da atuação dos poderes públicos e isso

representa junto à audiência um sentimento de partilha quanto aos problemas e

dificuldades vividas pela maioria da população.” (AGRIMALDI, 1995, 20). Esse texto

verbal adotado pelo apresentador caracteriza-se pela forte tendência ao

sensacionalismo.

Sensacionalismo, caracteriza-se pelo exagero, pelo apelo emotivo, pelo uso de imagens fortes na cobertura de um fato jornalístico, pela manipulação da informação de forma incompleta ou parcial apresentando essa informação num formato exagerado. Sensacionalismo é, enfim, fazer apelo às reações mais ligadas à emoção do que na razão, trazendo sentimentos primários â tona, simplificando polêmicas em vez de fornecer elementos que permitam pensar, compreender, formar opinião.( DEBORD 2004, p. 101)

Essa pressão com base no sensacionalismo para Debord (2004), gera na

sociedade e nos críticos da área um sentimento e olhar negativos sobre essa forma

de confeccionar notícia e informação. E isto decorre da visualização das camadas

sociais de baixa renda, que sem espaço nos veículos de linguagem tradicional e

necessitados de buscar esses formatos de programa e jornalismo para recorrer a

estruturas do poder, vêem-se ridicularizadas.

Esse olhar negativo, possível de ser criado sobre a sociedade que procura os

programas populares, para Ferin (2002), não quer atestar um descompromisso por

parte dos jornais populares, ou ainda enquadrá-los como um tipo de jornalismo

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desnecessário à população de baixa renda. Se fossem assim concebidos, eles não

apresentariam os altos índices de audiência que possuem.

[..]o que se quer é aproveitar desse formato e de sua linguagem mais acessível, (lê-se acessível sem as características grotescas e de ridicularização), para promover caminhos saudáveis de negociação das populações carentes com a sociedade e autoridades para que essas consigam alcançar seus propósitos, e ainda auxiliar as autoridades na confecção de suas politicas, sem necessariamente parecer ridículas a estas estruturas” (FERIN,2002, p.74 )

No contexto de Salvador, quatros jornais disputam a audiência e o mercado,

apostando nessa linha e linguagem populares. São eles o “Se Liga Bocão” e

“Balanço Gera”l, da TV Itapoan e o Que Venha o Povo e Na Mira, da TV Aratu.

O programa sobre o qual esse trabalho se debruçou para entender as ações

sociais de comunidades de baixa renda em busca de resolução dos seus problemas

e um olhar mais enérgico da sociedade e das autoridades é um programa de

jornalismo popular. Outros formatos dentro da vasta grade de programação de

Salvador executam essa missão de negociar interesses por espaços com a

população. Porém pelos motivos que acima citamos, são esses jornais auto-

intitulados populares que ganham um maior destaque, entre comunidades de baixa

renda. (AMARAL,2006).

O jornal popular participante na pesquisa intitula-se Que Venha o Povo (QVP)

e embora tenha-se comentado levemente sobre sua matriz jornalística, esta não é o

objeto de estudo. Apesar de não ser objeto de nosso estudo, a linha editorial pode

provocar interferências no processo de visibilidade das ações desenvolvidas pelas

lideranças comunitárias do bairro, dessa forma situá-la também fez-se necessário.

2.1. O PROGRAMA DE TELEVISÃO “QUE VENHA O POVO”

O “Que Venha o Povo (QVP)” é um programa de jornalismo popular

sensacionalista transmitido pela TV Aratu, no horário do meio dia. O programa diz

atender comunidades de bairros periféricos da capital. Tem como âncora o jornalista

Casimiro Neto, antigo âncora do Bahia Meio – Dia, um telejornal concorrente e com

uma postura de jornalismo mais clássico. O programa tem como principais atrativos

quadros que trabalham a prestação de serviço público e o assistencialismo. O

programa popular adota uma linguagem fácil, é veiculado numa televisão aberta,

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29

num horário nobre, isto contribui para sua boa audiência entre as camadas de baixa

renda.

Figura 1 - Imagens do Programa Que Venha o Povo.

Embora seja transmitido para todo o Estado, a cobertura do QVP é

essencialmente local. A cidade de Salvador e tudo o que ocorre a população de

baixa renda é o principal ponto das discussões nesse telejornal. Segundo o censo

IBGE; 2010, Salvador representa a quarta capital do país em números

populacionais, possui 2.675. 656 (dois milhões, seiscentos e setenta e cinco mil,

seiscentos e cinquenta e seis) habitantes, distribuídos em 858.887 domicílios

urbanos e rurais. Desse total de residências 634.521, mais de 73 % tem como soma

de renda per capita de ¼ a 1 salário mínimo. Estes dados retratam para Furtado

(2010), cenários sociais onde prevalece a concentração em detrimento da

distribuição de renda. Entende-se por concentração de renda como o processo de

acumulação de capitais nas mãos de poucos, esse processo é proveniente de lucro

de fontes diversas, como salário, aluguéis e de outros rendimentos.

Segundo o censo IBGE 2011, Salvador apresenta a segunda pior distribuição

de renda do mundo. Atrás apenas da Namíbia. Em linhas gerais, esses números

representam uma distribuição desigual dos recursos financeiros arrecadados pelo

governo para promover qualidade de vida à população. Áreas como educação,

saúde, habitação, defesa pública, defesa social, meio ambiente, causas cíveis e

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30

criminais não são contempladas proporcionalmente bairro a bairro, por estas formas

de distribuição de renda. Os Resultados dessa canalização dos recursos do Estado

segundo Furtado (1997), reflete na má formatação social da cidade e de sua

população, pois influência no não pleno exercício da cidadania para classes

economicamente desprivilegiadas.

Apesar de Salvador e sua situação ser abrangida, existe ainda um recorte

“territorial” do programa sobre os bairros periféricos e mais pobres. Bairros como

Narandiba, Mussurunga, Calabetão, Alto do Coqueirinho, Paripe e Periperi. Compõe

as principais matérias do programa.

“Dessa forma, percebemos que quanto mais empobrecida a população, maior

dificuldade que esta tem de ocupar espaços de informação, conscientização, na

imprensa tradicional”. (FRANÇA, 2005, p.52)

No programa Que Venha o Povo é muito comum encontrarmos pessoas

buscando o atendimento de necessidades individuais. Essas pessoas são produtos

dessa má distribuição de renda, o que elas solicitam são serviços básicos como um

tratamento de saúde, melhoria na rede de esgoto e saneamento, melhorias no

transporte público e outras tantas melhorias.

Ocorre que essas melhorias e tentativas de tornarem visíveis seus problemas

trazidos no plano da individualidade, são dramas particulares e por assim serem

tendem mais a espetacularização e abuso do sensacionalismo, Peruzzo (2006).

Mesmo diante do sensacionalismo embutido na produção das pautas pode

ocorrer para Simeone (2007), a partir de um trabalhado de seriedade e ação

conjunta desses sujeitos e comunidades a possibilidade ainda que pequena destes

burlarem esses olhares pejorativos, alcançando seus propósitos.

Para entendermos como a comunicação de uma comunidade com as

autoridades desenrola-se através da utilização programa de TV e sociedade,

partiremos para uma análise mais especifica: tomaremos como referencial a

comunidade de Paripe, subúrbio de Salvador.

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3 PARIPE – MOBILIZAÇÕES COMUNITÁRIAS E VISIBILIDADE PÚBLICA

ATRAVÉS DO PROGRAMA DE TELEVISÃO QVP

3.1. PARIPE

Paripe é um bairro do subúrbio ferroviário de Salvador que apresenta uma área

de 1,32 Km2. Possui como base econômica o comércio. Segundo o Atlas do

Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana de Salvador, em um trabalho

fruto da parceria PNUD (Programa Das Nações Unidas para o Desenvolvimento),

IPEA, (Instituto de pesquisa econômica aplicada) e que utiliza de alguns dados

produzidos pelo IBGE, Paripe divide-se em 10 localidades: Tubarão, Estrada da

Cocisa, Gameleira, Escola de menor , ladeira Almirante Tamandaré, Tororó,

Muribeca, Nova Canaã, Vila Naval da Barragem e São Tomé de Paripe. Essas dez

localidades totalizam uma população de trezentos mil habitantes (300.000

habitantes). Para efeito de pesquisa e pela impossibilidade da pesquisadora em

percorrer todas as localidades, tomaremos Paripe apenas pela localidade de São

Tomé de Paripe.

Figura 2 - Localização de Paripe.

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Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana de

Salvador, São Tomé de Paripe possui aproximadamente 16.000 mil habitantes,

apresenta índice Gini 0,5.2 Indicador econômico e social que reflete baixos índices

na educação, precária saúde pública, infra- estrutura e uma baixa expectativa de

vida da população de aproximadamente 60 anos. A escolha pela comunidade de

São Tomé de Paripe como o objeto de estudo acontece por três razões: audiência3

da comunidade pelo programa popular “Que Venha o Povo”, o enquadramento desta

comunidade no perfil de comunidade de baixa renda e a presença e atuação de

lideranças e associações comunitárias no bairro.

Dezesseis (16) associações comunitárias atuam na comunidade de Paripe.

No entanto nossa pesquisa só utilizará informações fornecidas por seis delas:

CECOP - Centro Comunitário da Igreja Batista de Paripe; APP - Associação dos

Pescadores de Paripe, CAP – Centro dos Amigos de Paripe, AJP - Associação

Jovem de Paripe, AMP - Associação dos Moradores de Paripe e CCICP - Centro

Comunitário da Igreja Católica de Paripe. A participação dessas seis associações

está associada a disponibilidade de agenda das lideranças comunitárias, bem como

o tempo de atuação enquanto associação4.

ASSOCIAÇÃO TOTAL DE ASSOCIADOS LIDER COMUNITÁRIO

TEMPO DE ATUAÇÃO

AJP 92 Marcelo Ribas 5 ANOS

AMP 234 Altino Arantes 27 ANOS

APP 75 Jairo Batista Reis 29 ANOS

CAP 176 Maria Silva 18 ANOS

CCICP 154 Leandro Lima 12 ANOS

CECOP 226 Israel Nascimento 18 ANOS

Tabela 1 - Associações comunitárias, total de associados, líderes e tempo de atuação

Explicadas as razões pela participação dessas associações comunitárias,

iremos agora partir para uma breve apresentação do trabalho desenvolvido por cada

uma delas.

-

2 O índice ou coeficiente de Gini é uma medida de concentração ou desigualdade. É comumente

utilizada para calcular a desigualdade da distribuição de renda. O índice de Gini aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de "0 a 1", onde o zero corresponde a completa igualdade de renda e 1 que corresponde à completa desigualdade e 1 que corresponde à completa desigualdade. 3 A audiência do programa foi obtida junto ao anuário de mídia e publicidade televisiva de Salvador

2010. 4 As demais lideranças quando convidadas para participar da pesquisa, explicaram que suas

associações estavam em fase de estruturação e tecendo ainda seus projetos políticos para a comunidade de Paripe e por conta desse processo de iniciação política não se viam tecnicamente

respaldadas a dar contribuições com a pesquisa.

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3.1.2. ASSOCIAÇÃO JOVEM DE PARIPE - (AJP) A Associação Jovem de Paripe foi criada em 16 de Março de 2006, possui 92

associados, tem como intenção fornecer a Jovens e adolescentes um espaço e

suporte para sua capacitação profissional e cidadã. Opera no plano técnico

oferecendo cursos profissionalizantes, palestras e desenvolvendo oficinas de

fomento ao desenvolvimento local na comunidade. Tem como líder comunitário o

também morador Marcelo Ribas. De acordo com Marcelo, a intenção maior desse

associativismo é promover a difusão e aplicação desse conhecimento técnico e

social aprendido pelos jovens de Paripe e vizinhança dentro da AJP, na comunidade,

promovendo soluções para um melhor convívio social e diminuição dos problemas

envolvendo violência, educação e sustentabilidade do bairro.

3.1.3. ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE PARIPE – (AMP) A Associação dos moradores de Paripe foi criada há 27 anos, possui 234

associados, e tem como objetivo situar-se como um canal de diálogo e colaboração

entre a comunidade e Poder Público, desenvolvendo ações que abranjam o campo

da gestão e das relações sociais. Tem como liderança comunitária o Sr. Altino

Arantes, morador há 50 anos do bairro. Segundo Altino todas as ações

desenvolvidas no âmbito da associação tem como finalidade centralizar os

problemas da comunidade em seus diversos níveis estruturais como; saúde,

educação, meio ambiente e encaminhá-los aos setores responsáveis da esfera

executiva, fiscalizando e cobrando deles as providências devidas.

3.1.4. ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES DE PARIPE – (APP)

A Associação dos Pescadores e Marisqueiras de Paripe, surgiu a partir da

vontade de um pequeno grupo de marisqueiras e pescadores que sentiram a

necessidade de se organizarem como profissionais, para buscar direitos e

qualificações para a classe. No dia 13 de Fevereiro de 1982, foi fundada APP,

atualmente a associação conta com 75 associados, tem como gestor Jairo Batista

Reis. A APP promove reuniões mensais, cursos e palestras de preservação

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ambiental para os pescadores e interessados na comunidade. Trabalha por

melhorias nas condições de trabalho da classe, bem como a valorização da

profissão junto aos orgãos do poder municipal.

3.1.5. CENTRO DOS AMIGOS DE PARIPE- (CAP)

A Associação dos Amigos de Paripe foi criada em 20 Setembro de 1993.

Atua, há 18 anos no combate a criminalidade e desigualdade social na região de

Paripe. Oferta cursos profissionalizantes em diversas áreas como informática,

Administração e artes. Através de um trabalho na área de educação e

conscientização social, tem como meta segundo a gestora Maria Silva, inserir a

comunidade num contexto social cidadão, fornecendo aos seus associados e a

comunidade, ferramentas técnicas e políticas para se buscar esses propósitos

junto as autoridades competentes.

3.1.6. CENTRO COMUNITÁRIO DA IGREJA CATÓLICA DE PARIPE –

(CCICP)

O Centro Comunitário da Igreja de Paripe é uma entidade religiosa, que atua

desde 22 de Agosto de 1999. Atualmente conta com 154 associados, tem como

objetivo segundo padre e líder comunitário Leandro Lima, promover um papel social

de preservação e disseminação de valores morais e éticos em instituições familiares,

nas escolas, bem como promover o assistencialismo na comunidade carente de

Paripe, através do fornecimento de cestas básicas, solidariedade social aos

dependentes químicos, aos presidiários e suas famílias, diminuindo a intolerância

entre grupos e auxiliando numa convivência pacífica e sadia entre os membros da

comunidade.

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3.1.7. CENTRO COMUNITÁRIO DA IGREJA BATISTA DE PARIPE- (CECOP)

O CECOP foi criado em 02 de Março de 1993. Tem como objetivo trabalhar

para atender as demandas e necessidades da população de Paripe, fornecendo a

cada pessoa um direcionamento em diversas atividades, para que estas possam

surgir como uma fonte de renda, aumentando assim a auto estima, a dignidade e a

condição social dos indivíduos na comunidade. O CECOP mantém parceria com o

Comitê de Democratização da Informática (CDI) que trabalha pela inclusão digital e

social de jovens e adolescentes, oferecendo suporte técnico, pedagógico e cidadão.

O centro Comunitário segundo Israel Nascimento, também mantém convênio anual

com IWG- International Working Group (uma organização não governamental,

composta por Jovens norte-americanos que visitam o Brasil para construir casas

para crianças carentes que frequentam as escolas públicas adotadas pelo CECOP).

A organização também realiza palestras de educação oral, sexual e algumas

campanhas de promoção da saúde para a comunidade de Paripe e vizinhança.

Juntas, essas seis associações apresentam um total de quase mil

associados. É importante frisar que nenhum valor é cobrado para a associação, com

exceção da associação de pescadores, que cobra uma taxa de R$ 3,00 reais

mensais por associado para custear as despesas com a instalação e limpeza da

sede. Como vimos a partir da tabela, essas associações já atuam na comunidade há

um bom tempo, sendo o menor tempo 5 anos e o maior 29 anos. Dentro desse

período de atuação, várias conquistas se processaram para a comunidade.

Conquistas que envolvem áreas específicas de atuação como é o caso da

certificação do pescador e de seu pescado pela prefeitura municipal, ou outras

conquistas maiores que se estenderam a sociedade soteropolitana como um todo, a

exemplo da educação, com o fornecimento de cursos profissionalizantes gratuitos e

oficinas de inclusão social. O fato é que apesar dos importantes avanços já

conquistados por essas associações e lideranças comunitárias, ainda há muito para

ser feito pela comunidade. Segundo os líderes Altino Arantes e Israel Nascimento

“Paripe, por ser uma comunidade de baixa renda ainda se encontra numa situação

de muito forte de invisibilidade junto as autoridades”, nós lideres comunitários e

enquanto formadores de opinião e conhecedores da realidade de nosso bairro,

devemos trabalhar para promover visibilidade e melhorias em Paripe.”

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Dessa forma exposta pelo Líder Altino Arantes, em que a comunidade de

Paripe e suas demandas ainda se mostram invisíveis as autoridades e aos demais

setores da sociedade, a televisão em seu nível local pode se mostrar para essa

comunidade e seus líderes como um possível instrumento de visibilidade na

conquista de melhores condições de vida para a população de Paripe.

3.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho de pesquisa nessa comunidade consistiu na promoção de grupos

focais (GF), reunindo lideranças comunitárias dessas seis associações. A confecção

desse grupo aconteceu na Igreja Batista de Paripe, no dia 08 Julho de 2011. O grupo

focal consiste em entender a partir da interação entre os participantes, suas

percepções sobre temas relacionados ao trabalho de pesquisa como cidadania,

motivações para a mobilização comunitária e utilização de telejornal popular “QVP”

como um possível instrumento de visibilidade da comunidade com autoridades

locais. Todas as conversações foram gravadas e a análise dessas informações

obtidas nos GF passaram por um plano descritivo, onde foram extraídas todas as

ideias relevantes ao tema. O trabalho também se utiliza de material e informações

coletadas junto ao programa de televisão “Que Venha o Povo”. Esse material serviu

de apoio as verificações obtidas nos Grupos Focais. A partir dessas informações

coletadas poderemos formular nossas considerações e perceber causas, condições

e elementos que evidenciam o uso ou não do programa QVP como instrumento de

visibilidade por lideranças comunitárias de Paripe, e o papel das lideranças em cada

etapa desse diálogo.

Os tópicos subsequentes se dividiram da seguinte forma:

Fase 1: Mobilização Comunitária que antecede a tentativade visibilidade no

programa.

Fase 2: Mobilização Comunitária em que se configura a transmissão das demandas

(pautas) no programa;

Fase 3: Mobilização Comunitária que efetiva ou não a visibilidade das ações

desenvolvidas pelas lideranças através programa;

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37

Fase 4: Mobilização Comunitária que verifica a possibilidade de interferência da linha

editorial do Programa QVP na obtenção da efetiva visibilidade das mobilizações de

Paripe.

Entenderemos aqui como visibilidade a partir do conceito trazido por

Thompson (2008) onde a ação de tornar público a partir da transmissão dos meios

não se configura como uma efetiva visibilidade. A efetiva visibilidade só se processa

quando ela alcança os níveis e objetivos pretendidos do ato.

Esquematizando esse conceito para o nosso trabalho de pesquisa:

1. A ação de tornar público o acontecimento ou o ato das lideranças comunitárias a

partir da transmissão pelo veículo de televisão, repercutirá na primeira instância de

visibilidade, porém não efetivará a visibilidade.

2. A obtenção de um retorno das autoridades ou da sociedade para a ação

mobilizadora desencadeada pela comunidade de Paripe. Configurará a segunda

instância e efetivará a visibilidade.

Seguiremos agora para a verificação de nosso problema a partir da

verificação das fases de mobilização para visibilidade.

3.2.1. FASE 1: LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS E SEU TRABALHO DE

MOBILIZAÇÃO

Nessa primeira etapa, pretendemos mostrar o papel de mobilização das

lideranças comunitárias, que antecede a apropriação do programa QVP, o

planejamento que isso envolve por parte do líder e de sua comunidade.

Segundo os líderes comunitários, o processo de mobilização parte da

comunidade. Cada associação traz as demandas de seus associados para reuniões

que acontecem semanalmente na sede da Igreja Batista de Paripe. Vejamos como

isso ocorre a partir do relato do líder Israel Nascimento, líder comunitário do CECOP.

“Trabalhamos em conformidade com nossa comunidade. As pessoas de

Paripe nos conhecem por conta do nosso trabalho de mobilização quando estão

demandando algo, seja esse algo de natureza individual ou coletiva nos procuram,

seja em nossas associações ou em nossos centros e nos comunicam sobre suas

demandas, fazemos uma sondagem das necessidades coletivas e tentamos junto

aos órgãos competentes conseguir soluções, quando vemos que isso é improvável

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38

de resolução por vias normais, ai entramos em contato com a produção dos

telejornais locais. Nessa situação podemos construir uma visualização de como se

inicia a mobilização na estrutura da comunidade, e já se observa o papel de

mediador exercido pelo líder dentro desse processo inicial.A sociedade observa seu

entorno, visualiza o seu papel na modificação do que acontece e busca alternativas

para contribuir com sua comunidade, através do coletivo e de uma figura

representativa do coletivo (seu líder comunitário). O líder, por sua vez, atua

mediando essas demandas nos órgãos de competência. Quando estes não são

atuantes, esses líderes buscam vias as quais consideram eficazes, neste caso a

televisão, para exigir atuação. Nessa situação, trazida pelo líder, podemos

compreender a importância que é atribuída ao veículo de televisão pela sociedade,

tanto por seu poder de alcance, como por conta de sua capacidade de formação da

opinião e consensos públicos. A televisão deve dessa forma utilizar e direcionar seu

poder para a confecção de uma atmosfera pública capaz de estimular a reflexão e a

participação dos sujeitos sociais, auxiliando na construção do processo de

cidadania, em lugar de utilizá-lo na confecção de uma atmosfera política meramente

mercadológica tão comumente fabricada pela televisão na atualidade.

Retornando ao processo de mobilização comunitária para a visibilidade e

selecionadas as demandas de interesse coletivo, ocorre, segundo o líder Jairo

Batista a busca pelo lugar possível de visibilidade: “Quando pensamos nessas

ações, tentamos levá-las aos telejornais da grande mídia, justamente pelo poder de

visibilidade desses veículos. Ocorre que a televisão promove visibilidade, mas nem

sempre quem está por trás dela deixa que essa visibilidade ocorra. Levamos nossas

demandas a três telejornais do meio dia, só alcançamos espaços em apenas um,

justamente o popular QVP.

Deduzimos desse relato o contexto de um veículo de comunicação comercial

e da grande mídia que, apesar de suas intenções intrinsecamente mercadológicas,

tenta aparentemente cumprir o seu papel de utilidade pública. Surge nesse mesmo

momento uma brecha (ou talvez pseudo brecha) para as comunidades tornarem-se

mais visíveis nesse espaço. Apontamos aqui como pseudo brecha o espaço

“fornecido” pelo programa. Esse fornecimento de espaço irá depender de

características e enfoques próprios da linha editorial adotada pelo QVP e o valor de

mercado visualizado por essa possível transmissão pelo programa. É inegável,

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39

principalmente pela conduta editorial de abordagem sensacionalista e de

espetacularização da notícia, a presença desse valor mercadológico,

Com a intenção ainda de verificar a informação dada acima pelo líder

comunitário, e por entendermos relevante essa verificação para nossa pesquisa,

entramos em contato com a produção do telejornal Bahia – Meio dia, para nos

informar sobre o processo de geração de pauta (a qual consideraremos uma

investidura na visibilidade).

Esse contato tentou se processar a partir de contato feito por telefone e

correio eletrônico. Até o fechamento deste trabalho de pesquisa, só recebemos o

retorno de um desses telejornais: O “Que Venha o Povo”. Essa atitude reforça a fala

da liderança comunitária. Quando esta acrescenta “A televisão promove visibilidade,

mas nem sempre quem está por trás dela (deduz-se produção, proprietários do

veículo, formato de programa) deixa que essa visibilidade ocorra. Não queremos

com isso atestar um descompromisso dos outros telejornais para com a sociedade

que os procura, até porque a permissão ou não desse espaço está relacionada a

interesses próprios de cada formato de programa de TV. No entanto, essa ausência

de retorno dos outros programas pode nos levar a inferir uma dificuldade de diálogo

entre esses meios de comunicação e sociedade local, em especial as de baixa

renda. Esse fato promove um distanciamento dessas classes e uma ruptura na

ideia de que meios de comunicação devem auxiliar na difusão de interesses

coletivos.

Como toda mobilização destina-se a um público, procuramos nos informar

com esses líderes acerca do público-alvo a ser atingido no processo de visibilidade:

Segundo o líder comunitário Israel Nascimento “O público-alvo de nossas

mobilizações é a sociedade, a gente espera que a sociedade se pronuncie, isso é

fato, por que ninguém pode ser insensível à situação do outro.” E a sociedade não é!

Portanto ela se pronuncia, e se pronunciando ela acaba forçando as autoridades a

se pronunciarem também” . Temos nessa situação uma aparente lógica do processo

de mobilização: sensibilizar mais mobilizadores para alcançar o objetivo comum

pretendido. Ocorre que o lugar possível de visibilidade encontrado pelas lideranças

pode não se configurar como um espaço de prospecção de mobilizadores numa

natureza positiva, estando suscetível a provocar o efeito inverso pretendido pelos

líderes, justamente por conta de sua linha editorial sensacionalista. Essa tentativa

de visibilidade pode conduzir a ação dessas lideranças a uma interpretação

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40

equivocada da sociedade, levando para os telespectadores do programa, aos

críticos da área de comunicação e a sociedade as ações da comunidade de Paripe

aos patamares de ridicularização e do grotesco. Há por outro lado uma chance não

descartável, porém muito reduzida de que essa tentativa de visibilidade realmente

promova uma sensibilidade positiva nos telespectadores e estes acabem de alguma

forma trabalhando para dar um retorno a essas ações para a comunidade. Toda

ação de mobilização é resultado de um objetivo.

Nessa situação, sabemos que o objetivo é obter da sociedade e das

autoridades municipais e responsáveis através da televisão um olhar mais ativo para

a realidade da comunidade de Paripe. Vamos então entender qual é essa realidade

a partir do olhar e relato de seu líder. Segundo Israel Nascimento: “O tempo todo as

pessoas chegam nos nossos centros, pedindo para viver, porque moram nos

barracos e palafitas com menos de 2 metros quadrados, e impedidas de procurar um

emprego de verdade porque não tem formação, então eu não vejo outro caminho

para esses sujeitos a não ser a marginalização, a todo momento nossa comunidade

vive o prejuízo aos valores sociais de cidadania. O que percebemos é que as

pessoas querem participar da vida social, elas trabalham para isso quando nos

procuram para auxiliar nessa conquista. Essa ação não só se relaciona com a

pobreza não, é geral. As pessoas daqui, mesmo pobres fiscalizam tudo. Se a

merenda escolar não vem, se a escola não esta fornecendo condições necessárias

ao aprendizado dos seus filhos, se a gestão não está satisfatória, se faltam

remédios, médicos, se o dinheiro está sendo aplicado para o propósito que foi

destinado, por vezes a gente traça planos de desenvolvimento para o bairro junto

com a comunidade. Não vou dizer que é todo mundo aqui da comunidade que

participa, por que não é todos, nem todo mundo vive miséria e se preocupa com o

coletivo, mas enquanto morador há 50 anos posso dizer a maioria da comunidade

é pobre, mas já foi-se o tempo que o pobre deixava que a situação de descaso

correr, eu sinto que o pobre daqui se politizou, e por ser assim politizado ele pensa

no trabalho coletivo e vias alternativas de resolução como chance de modificar sua

realidade de descaso”

O trecho nos permite perceber a noção que o líder tem em relação a sua

realidade e dos componentes (atores, estrutura) que a cerca. Esse conhecimento de

seu universo e de suas eficiências e deficiências é importante, e se define como

fundamental para o processo de visibilidade que se quer promover através da

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41

televisão. Pois, conhecendo esses elementos é possível traçar um planejamento

sobre o caso a ser levado à visibilidade, fazendo com que a ação desenrolada por

eles tenha maiores chances de obter o objetivo pretendido.

Temos então nessa primeira Fase: 1 A identificação dos interesses e

preocupações da comunidade, pela comunidade; 2. A análise desses interesses,

preocupações e de suas condições de enfrentamento; 3. A organização da

população e o planejamento das suas ações.

Partiremos agora para a etapa seguinte de averiguação da visibilidade.

3.2.2. FASE 2: A VISIBILIDADE DAS MOBILIZAÇÕES E DAS

DEMANDAS TRAZIDAS PELO LÍDER COMUNITÁRIO NO QVP

Essa fase visa verificar a continuidade da primeira ação de investidura para a

visibilidade. De acordo com os líderes, após manter contato com a produção do

programa para expor a necessidade que a comunidade tem de um espaço no

programa, para expor seus problemas e solicitar para eles uma solução das

autoridades, esse programa se vê suscetível a duas ações. A primeira delas é

permitir a visibilidade e a segunda, inibi-la. Como vimos na primeira fase, esse

programa aparentemente “permitiu” a utilização do espaço, embora tenhamos visto

também que a permissão não se configura como a concretização de visibilidade da

mobilização. Veremos como ocorre essa concretização:

Segundo o líder Marcelo Ribas, o processo de visibilidade acontece em seu

planejamento em duas instâncias:

1.Quando a ação se torna pública aos telespectadores (remete-se à

transmissão de TV, enquanto meio propagador da ação desenvolvida pela

comunidade);

2.Quando a ação de mobilização repercute nos receptores de destino e estes

visibilizam a ação dando a ela um retorno (remete-se à chegada da ação

desenvolvida pelas lideranças e comunidades, até as autoridades competentes para

quais a ação foi direcionada.

Em níveis de ilustração:

Ao encaminharem um repórter para confeccionar a pauta na comunidade ou

ainda “permitirem” que a própria comunidade seja o reportador da matéria, temos

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um potencial de visibilidade, porém esse potencial não significa que o programa

permita a participação e cidadania. É sempre bom pensar, nessas situações de

geração de pauta, sobre o que está por trás dessa abertura para uma pseudo

participação, contudo, há nessa contrapartida de intencionalidade (justificada ou

injustificada) fornecida pelo programa, um possível espaço de visibilidade para as

ações de Paripe.

Ao serem levados ao ar, têm-se a primeira visibilidade (visibilidade entendida

como a transmissão, telejornal enquanto meio propagador).

Ao receberem um retorno sobre o que foi propagado no telejornal ,tem-se aí a

efetiva visibilidade, pois a ação de mobilização planejada pelas lideranças alcançou

os níveis pretendidos de resolução.

Faremos agora um recorte sobre demandas disponibilizadas pela

comunidade de Paripe no QVP. Essas demandas em forma de pautas nos

permitiram observar em qual instância se afirma a apropriação do QVP enquanto

instrumento de visibilidade.

3.2.3. DEMANDAS DA COMUNIDADE TRAZIDAS PELOS LÍDERES

COMUNITÁRIOS QUE FORAM VISIBILIZADAS NO QVP

No período de janeiro a julho de 2011, segundo informação da assessoria de

comunicação do programa QVP, deram entrada no programa através da associação

de moradores e membros da comunidade, 23 pedidos de pautas sobre situações

existentes no bairro de Paripe.

Destes, segue tabela :

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

SAÚDE Denúncia nos serviços de saúde; Falta de medicamentos; Campanhas de vacinação.

3 pautas

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EDUCAÇÃO

Denúncia sobre a falta de merenda escolar na rede pública de ensino; Solicitação de material didático, de higiene pessoal e material de limpeza para a estrutura das escolas; Normalização do calendário acadêmico da rede pública de ensino de Paripe.

3 pautas

ENTRETENIMENTO Exposição de artista da comunidade; solicitação de investimento no esporte local.

2 pautas

VIOLÊNCIA Denúncia de criminalidade; solicitação de assistência a casa do dependente químico de Paripe.

3 pautas

ASSISTENCIALISMO

Solicitação de documentação: RG,CPF, carteira de trabalho; solicitação de políticas e melhorias para Associação dos Pescadores de Paripe.

2 pautas

INFRAESTRUTURA Pavimentação de ruas, rede de esgoto, saneamento básico.

5 pautas

EVENTOS

Divulgação de produção artística de Paripe; realização de campanhas de empreendedorismo, palestras saúde e meio ambiente.

5 pautas

Tabela 2 - Relação das Pautas

Deste total de 23 pautas, podemos dizer que todas foram visibilizadas em

primeira instância (foram levadas ao ar através do telejornal). Porém, para

verificarmos se efetivamente a utilização do QVP surge como um instrumento

estratégico de visibilidade para as lideranças sociais de Paripe, precisaremos

verificar se a segunda instância de visibilidade da mobilização se processou. Antes,

porém, é nessa etapa, à produção do programa irá orientar como vai se processar

a visibilidade da ação. (Quem será o repórter? a população? Ou uma pessoa

enviada pela produção? A mobilização acontecerá ao vivo, será uma nota, terá

participação de populares, ou somente do líder que estará no programa

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44

representando sua comunidade e falando sobre a situação? Decididas as formas de

aparição da mobilização na primeira instância de visibilidade partiremos agora para

a terceira fase.

3.2.4. FASE 3: MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA QUE EFETIVA OU NÃO A

VISIBILIDADE DA AÇÃO NO PROGRAMA

Essa é a fase de constatação, onde podemos observar se as pautas levadas

pelas lideranças obterão ou não um retorno e visibilidade.

Separaremos por temática:

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

SAÚDE

Denúncia nos serviços de saúde; Falta de medicamentos; Campanhas de vacinação.

3 PAUTAS

Tabela 3 - Relação das pautas de saúde

Destas 3 pautas apresentas pelas lideranças comunitárias e transmitidas pelo

QVP, duas obtiveram um retorno das autoridades competentes.

A questão dos remédios, segundo os líderes, foi solucionada, A Prefeitura,

através da Secretária de Saúde comprometeu-se a enviar os medicamentos

necessários aos postos de saúde da comunidade, bem como abriu edital para

preenchimento das especialidades médicas apontadas como deficientes.

Temos então para duas destas pautas envolvendo a temática de saúde, um

retorno efetivo.

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45

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

EDUCAÇÃO

Denúncia sobre a falta de merenda escolar na rede pública de ensino, solicitação de material didático, de higiene pessoal e material de limpeza para a estrutura das escolas, normalização do calendário acadêmico da rede pública de ensino de Paripe

3 PAUTAS

Tabela 4 - Relação das pautas de educação

Das temáticas envolvendo educação, apenas uma pauta obteve o retorno

desejado pelas lideranças e pela comunidade: a que se refere ao material didático. A

secretária de Educação do Estado solicitou junto às diretorias escolares a relação

desses materiais e dias depois, os encaminhou às escolas. Quanto à merenda

escolar e o reajuste do calendário acadêmico, estes permaneceram segundo as

lideranças sem nenhum retorno.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

ENTRETENIMENTO

Exposição de artistas, solicitação de investimento no esporte local

2 pautas

Tabela 5 - Relação das pautas de entretenimento

Das 2 pautas envolvendo entretenimento, o retorno aconteceu para todas.

Segundo as lideranças, a cultura local recebeu um incentivo financeiro através da

Secult (Secretária de Cultura do Estado da Bahia). Enquanto o esporte local recebeu

após três meses uma quadra poliesportiva.

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TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

VIOLÊNCIA

Denúncia de criminalidade, solicitação de assistência a casa do dependente químico

3 pautas

Tabela 6 - Relação das pautas de violência

Das 3 pautas visibilizadas em primeira instância, nenhuma, segundo as

lideranças obtiveram o retorno esperado pela ação de mobilização. Por não ocorrer

um retorno por parte de quem se pretendia. A ação configura-se como não

visibilizada.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

ASSISTENCIALISMO

Solicitação de documentação: RG,CPF, carteira de trabalho, solicitação de políticas e melhorias para a Associação dos Pescadores de Paripe.

2 pautas

Tabela 7 - Relação das pautas de assistencialismo

Todas as duas pautas envolvendo assistencialismo, segundo as lideranças

foram visibilizadas em primeira instância obtiveram o retorno por parte das

autoridades. Um pequeno posto do SAC (Serviço Atendimento ao Consumidor) foi

implantado na região e a Associação dos Pescadores recebeu a regulamentação da

prefeitura para o seu pescado.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

INFRAESTRUTURA Pavimentação ruas, rede de esgoto, saneamento básico.

5 pautas

Tabela 8 - Relação das pautas de infraestrutura

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47

As pautas envolvendo infraestrutura não obtiveram os resultados esperados

pelas lideranças comunitárias, portanto a ação de mobilização no programa QVP

não se efetivou como visível em segunda instância.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

EVENTOS

Divulgação de produção artística de Paripe, realização de campanhas de empreendedorismo, palestras saúde e meio ambiente.

5 pautas

Tabela 9 - Relação das pautas de eventos

Para a temática de eventos, segundo os líderes comunitários, a averiguação do

retorno é um tanto subjetiva, porém exclusivamente para a campanha de

empreendedorismo eles consideraram a partir do número de presentes no evento

que a visibilidade ocorreu.

Como vimos, nem todas as tentativas de visibilidade em segunda instância

foram efetivas para a comunidade, portanto propomos a criação de uma quarta fase,

a fim de verificar as possíveis interferências e barreiras causadas pela linha editorial

do programa em relação a utilização de sensacionalismo na confecção das

matérias. Adotaremos como critérios para enquadrar a postura do programa como

sensacionalista: a voz do apresentador, sua postura em frente as câmeras, a criação

de dramas pessoais, personagens, apelo a emoção, citação direta de pessoas

envolvidas, avaliando se esses elementos presentes ou não nas matérias puderam

gerar uma ação efetiva do poder público.

3.2.5. FASE 4: DE MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA: QUE VERIFICA A

POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA DA LINHA EDITORIAL DO PROGRAMA QVP.

Essa fase da pesquisa pretende promover uma avaliação das matérias

geradas pelas pautas, identificando como elas puderam, ou não, gerar uma ação

efetiva dos poderes públicos. Essa fase pretende também verificar se o tratamento

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48

editorial dado pelo programa às informações interferiram no processo de visibilidade

em segunda instância.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

SAÚDE

Denúncia nos serviços de saúde; Falta de medicamentos; Campanhas de vacinação.

3 PAUTAS

Tabela 10 - Relação das pautas de saúde

Pautas que obtiveram retorno – Denúncia nos serviços de saúde em Paripe e Falta de medicamentos.

As 2 pautas que obtiveram um retorno das autoridades competentes foram

levadas ao ar da seguinte forma: moradores aparecem se queixando sobre da falta

de médicos e de uma melhor estrutura para o atendimento aos pacientes. A matéria

é transmitida ao vivo e ocorre no interior do hospital, imagens de pacientes nos

corredores são exibidas e o repórter tece críticas à administração do hospital,

citando alguns nomes dentro dessa administração.

O tratamento dado à pauta pelo programa remete á espetacularização da

informação, o fato de se transmitir ao vivo e trazer imagens do ambiente de hospital,

bem como apontar nomes de pessoas ligadas a administração, aponta um possível

interesse do programa em visibilizar a pauta solicitada pela comunidade. Nessa

situação, podemos atribuir o retorno dado pelas autoridades à exposição trazida pelo

programa dos Administradores.

Pautas que não obtiveram retorno – Solicitação da campanha de vacinação contra meningite no bairro.

Em nota lida no programa, os moradores de Paripe pediram o aumento no

número de vacinas contra a meningite, segundo eles a quantidade enviada pela

Secretária de Saúde era insuficiente para a quantidade de moradores. O tratamento

dado a essa informação pelo programa não foi considerado espetacular, visto que o

apresentador apenas fez a leitura em tom normal, dessa nota no programa. Como a

ação dos moradores não obteve retorno, podemos inferir que a falta de uma leitura

mais enérgica e sensacional foi o fator responsável pelo não posicionamento das

autoridades responsáveis.

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TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

EDUCAÇÃO

Denúncia sobre a falta de merenda escolar na rede pública de ensino, solicitação de material didático, de higiene pessoal e material de limpeza para a estrutura das escolas, normalização do calendário acadêmico da rede pública de ensino de Paripe

3 PAUTAS

Tabela 11 - Relação das pautas de educação

Pautas que obtiveram retorno - Solicitação de material didático

Em participação ao vivo no programa, a líder comunitária, Maria Silva,

solicitou junto à Secretaria de Educação do Estado e a Prefeitura Municipal a

entrega do material didático para os alunos da rede pública municipal ela comentou

que desde o começo do ano letivo os alunos estavam impedidos de acompanhar

corretamente as aulas pela ausência desse material. A postura do apresentador em

relação a essa solicitação não pareceu espetacular, com mesmo tom de voz ele que

ele apresentou a informação, ele conduziu a finalização dela. Em nota, no final do

programa a Assessoria entrou em contato com a produção informando sobre esse

real atraso e se comprometeu a encaminhar esse material as escolas. Nessa

situação o retorno ocorreu, por conta do conhecimento que já existia da Secretaria

de Educação acerca dessa situação. A exposição só veio nessa situação, dar

celeridade ao processo de entrega desse material.

Pautas que não obtiveram retorno – Denúncia sobre a falta de merenda escolar

na rede pública de ensino; falta de material de higiene pessoal e de limpeza, para a

estrutura das escolas; normalização do calendário acadêmico da rede pública de

ensino de Paripe. Com exceção da pauta solicitando a normalização do calendário

acadêmico, que foi transmitida através de nota corrida, as outras foram levadas ao

ar através de matérias gravadas nas instituições escolares. E em todas o tratamento

atribuído à informação pode ser considerado sensacional, tanto pelas imagens

mostradas, quanto pelos relatos trazidos pelos estudantes. Ocorreu uma exploração

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50

dos alunos, principalmente no que envolveu a questão da merenda e da limpeza. A

voz do repórter também passou por alterações na matéria, oscilando entre tons altos

e baixos. Como vimos houve sensacionalismo, mas diferente do aplicado em outras

matérias não foi capaz de promover o retorno esperado. Nessa situação, a própria

confecção da notícia pelo telejornal atrapalhou o processo de visibilidade em

segunda instância.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

ENTRETENIMENTO

Exposição de artistas, solicitação de investimento no esporte local

2 pautas

Tabela 12 - Relação das pautas de entretenimento

As 2 pautas que foram levadas ao ar obtiveram um retorno positivo. A

exposição trabalhada pelo programa aconteceu em forma de matéria, teve pequenos

traços de dramatização. O programa apresentou de forma objetiva o trabalho e as

dificuldades enfrentadas por uma escola de música de Paripe e a necessidade que

esta tinha de obter maiores incentivos da Secretária da Cultura para poder ampliar

sua margem de atuação. O retorno se efetivou por conta da seriedade que envolve

o projeto, mesmo o programa tentando trazer pequenos traços de sensacionalismo,

obteve-se na aparição das sonoras dos gestores do projeto um posicionamento

muito sóbrio e firme, fato que se sobressaiu a tentativa de abordagem sensacional

da pauta pelo programa e isso pode, dedutivamente ter configurado o retorno à

solicitação.

A segunda pauta envolvendo a necessidade de investimento no esporte local

pode ser considerada a partir de um tratamento extremamente sensacionalista. O

programa fabricou personagens, deu a eles projeto de futuro, desqualificando seus

ambientes. O retorno ocorreu para essa situação, exclusivamente, porque uma

verba estava destinada a projetos envolvendo o esporte na região. Essa atitude de

“fornecer” e transmitir espaço para a população visibilizar a situação, leva-nos a

acreditar que a aceitação dessa pauta pelo programa foi estratégica

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51

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

VIOLÊNCIA

Denúncia de criminalidade, solicitação de assistência a casa do dependente químico

3 pautas

Tabela 13 - Relação das pautas de violência

Para esta temática, encontramos dificuldade de verificar o tratamento dado à

informação. Os vídeos das matérias não foram encontrados nos arquivos das

associações, nem nos arquivos do programa. Contudo, para não ficarmos com essa

lacuna na pesquisa, iremos verificar o porquê, do retorno dessas ações não

acontecer por parte das autoridades.

Essa verificação se processará a partir da memória do líder Marcelo Ribas.

Ele atribuiu sensacionalismo a todas as matérias envolvendo a temática violência.

Para ele, as autoridades já se acomodaram em não resolver problemas envolvendo

violência e criminalidade em comunidades carentes como a de Paripe. O

sensacionalismo nessa situação, só desvia a ação de seu objetivo raramente uma

ação dessa natureza ganha visibilidade das autoridades através do programa. Essa

afirmação trazida pela liderança comunitária reflete o tratamento editorial

sensacionalista geralmente atribuído pelo programa às questões ligadas à violência.

Essa abordagem grotesca direcionada ao tema, afasta a ação de seu objetivo. Não

por conta da comunidade que solicitou à pauta, mas por conta do próprio programa

que incorporou a pauta essa roupagem

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

ASSISTENCIALISMO

Solicitação de documentação: RG,CPF, carteira de trabalho, solicitação de políticas e melhorias para a Associação dos Pescadores de Paripe.

2 pautas

Tabela 14 - Relação das pautas de assistencialismo

O tratamento dado pelo programa a estas 2 pautas, envolvendo as questões

de assistencialismo, ocorreu de forma similar e sensacionalista. As matérias foram

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52

transmitidas ao vivo, ambas contaram com a presença da comunidade e, no caso

da pauta envolvendo a solicitação de melhorias para a Associação dos Pescadores,

o administrador da associação, de forma articulada, apresentou em frente às

cameras um abaixo assinado relacionando a posição de oposição da classe dos

pescadores e marisqueiras em relação a algumas posturas adotadas pelas

autoridades municipais, exigindo dessas autoridades uma contrapartida para a

situação da classe e de seu pescado.

Nessas duas situações, a visibilidade em primeira instância (transmissão na

TV) foi apenas uma ferramenta de celeridade para que o retorno acontecesse. Por

isso, a ação de retorno foi possível.

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

INFRAESTRUTURA Pavimentação ruas, rede de esgoto, saneamento básico.

5 pautas

Tabela 15 - Relação das pautas de infraestrutura

As matérias envolvendo a temática de infraestrutura foram levadas ao ar de

duas formas, três com transmissão ao vivo e duas em nota corrida no programa. Nas

matérias envolvendo nota corrida, a apresentação do problema se processou com

uma leitura diferenciada de voz e posicionamentos do apresentador do programa

contra autoridades públicas. Já as outras três matérias trouxeram imagens e

sonoras de pessoas mostrando o problema de saneamento no bairro. Apesar da

aparição de imagens e de pessoas mostrando problemas de sua realidade,

remeterem, nesses programas como sensacionalismo, estas matérias não soaram

como sensacionalistas, visto que seguiam o modelo tradicional de transmissão da

notícia. A ausência de um retorno por parte dessas ações de visibilidade resulta de

problemas internos da própria estrutura do poder público, não se configurando um

problema gerado por conta da linha editorial do programa. Nesse caso a postura do

programa durante a transmissão mostrou-se correta e não interferiu no retorno da

ação.

Page 53: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

53

TEMÁTICA ESPECIFICIDADES TOTAL

EVENTOS

Divulgação de produção artística de Paripe, realização de campanhas de empreendedorismo, palestras saúde e meio ambiente.

5 pautas

Tabela 16 - Relação das pautas de eventos

Como já foi dito pelas lideranças, nas pautas envolvendo a temática eventos,

a avaliação do retorno que esta ação desencadeou para a comunidade é um tanto

subjetiva. Das cinco pautas transmitidas, três apareceram como uma nota de

divulgação sobre os eventos. Essas leituras não foram sensacionais, apenas

informativas. As outras duas pautas apareceram em forma de matéria,

complementadoras da divulgação do evento. Assim, o retorno e visibilidade dos

eventos pode ser avaliado a partir dos presentes nos eventos. Nessa situação o

programa facilitou uma divulgação dos eventos, a partir da emissão de uma nota

corrida, fato que auxiliou as lideranças na divulgação e visibilidade do evento.

Page 54: Paripe, ações comunitárias e visbilidade pública através do programa de tv que venha o povo

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de pesquisa desenvolvido na comunidade de Paripe permitiu

identificar a dificuldade que existe dos líderes comunitários em encontrar lugares de

visibilidade para as ações desenvolvidas no âmbito da comunidade, principalmente

por esta ser enquadrada como uma comunidade de baixa renda. Essa dificuldade é

encontrada, principalmente, em meios de comunicação, como a televisão. Sem

alternativas e inseridas numa realidade de descasos e abandono, a comunidade de

Paripe negocia espaços, para fazer visíveis os seus problemas e anseios. Como

vimos esse espaço é falsamente encontrado no telejornal “Que Venha o Povo”. Esse

telejornal, por conta da sua linha editorial, não permite que a visibilidade aconteça de

forma natural e desprendida de interesses mercadológicos. A visibilidade e diálogo

que a televisão e o programa podem proporcionar à comunidade ocorrem, porém, de

forma distorcida da pretendida pelas lideranças de Paripe. Através de um enfoque

sensacionalista e de espetacularização próprios desse gênero jornalístico, esses

sujeitos, suas ações e sua realidade muitas vezes são elevados ao patamar do

grotesco e da ridicularização. A sensibilização dos que estão do outro lado da

televisão, referindo-nos nesse caso ao telespectador comum desprovido de cargos

no poder público ganha na maioria das vezes um plano e caráter contrários ao

pretendido pelas lideranças, e isso amplia ainda mais as diferenças entre esses

sujeitos.

A observação das pautas e das possíveis interferências a ela atribuídas pela

linha editorial do programa mostrou-nos que para alguns casos o diálogo aconteceu.

Porém, a exibição dessas pautas, em situações como as do esporte e educação,

sugeriu o prévio conhecimento por parte da produção do QVP acerca desse retorno

das autoridades. Essa atitude nos permite compreender a relação de mercado e de

autopromoção do programa enquanto “entidade do povo”. Visto que as próprias

autoridades têm vínculos com esses programas. Desta forma, ao expor a realidade

da comunidade de Paripe, o programa confecciona na visão dos que a eles recorrem

a ilusão de que este pode tentar cumprir seu papel de instituição jornalística,

promovendo também seus parceiros econômicos. É visível que o interesse mercado

do rege a relação do “Que Venha o Povo” para com as lideranças de Paripe. Este

trabalho não engessa o programa a partir dessa única lógica. Visto que mesmo

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mantendo uma postura sensacional e desrespeitosa para com as lideranças que o

procuram, o programa auxiliou na celeridade do processo, fato verificado em pautas

como as do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) .

Apesar de essa celeridade acontecer em certos momentos, entendemos que

ela não consegue por conta de todos os motivos mercadológicos delegar ao

programa, ainda, a característica de programa cidadão. Antes do programa QVP

tentar promover o diálogo com autoridades e a população carente de Paripe ou outra

que seja, ele deve tentar promover o diálogo, limpo e responsável com o povo, a fim

de que os interesses de Paripe, de comunidades carentes e da sociedade sempre

sobressaiam aos interesses excludentes do mercado. Compreendemos que isso se

dá numa estrutura complexa, porém essa apresenta-se como a melhor saída para o

processo real de cidadania

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