florestas comunitárias sustentáveis (2012)

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Florestas Comunitarias Sustentaveis Justica Ambiental

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Publicação sobre o uso e gestão sustentável de florestas

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Sustentaveis

Justica Ambiental

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Ficha técnica:

Titulo: Florestas Comunitárias Sustentáveis

Publicação: Justiça Ambiental

Editado por: Janice de Lemos

Por: Vanessa Cabanelas e Sílvia Dolores

Revisão e comentários: Anabela Lemos

Layout Gráfico e Produção: João Marum

Ilustrações: Alejandro Levacov e João Marum

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Indice:

I. Florestas

•Definição e importância de florestas•Diversidade e tipos de floresta em Moçambique

II. Plantações não são Florestas

• As plantações florestais são “florestas plantadas” • As plantações florestais melhoram o meio ambiente • As plantações servem para aliviar a pressão sobre as florestas• As plantações permitem aproveitar e melhorar terras degradadas• As plantações servem para conter o efeito de estufa• As plantações são necessárias para satisfazer um crescente consumo de papel• As plantações são muito mais produtivas do que as florestas• As plantações geram emprego• Os possíveis impactos negativos das monoculturas florestais industriais podem ser evitados ou mitigados com uma boa gestão •As plantações não podem ser julgadas isoladamente

III. Uso e Gestão sustentável da floresta

•Legislação •Fiscalização •Certificação de produtos florestais

•Referências bibliográficas

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Prefácio:

No início do presente século, cerca de ¾ da área de Moçambique era ocupada por floresta, entretanto devido a vários factores tais como, desflorestamento, para obtenção de madeira para fins comerciais e agrícolas,lenha e carvão, e também às queimadas descontroladas, esta área reduziu para menos de metade. Moçambique não é um caso isolado, a desflorestação é um problema sério à escala global e tem se agravado a um ritmo muito acelerado, a tendência é que apesar dos inúmeros esforços de alguns, o problema persista e venha inclusive a agravar-se. Já passou o tempo de pensar no assunto, de discutir o assunto, é tempo de agir, agora, já!!! As comunidades locais estão numa posição única no que se refere à conservação florestal, detêm o conhecimento local tanto sobre a área, as espécies, valor sobre os usos e cos-tumes assim como seus direitos sobre a terra; as florestas são protegidas pela lei. É essencial que as comunidades tomem consciência da importância do papel e da tarefa que se propoem fazer no uso e gestão sustentável dos recursos florestais e conservação da floresta nativa, não são de modo algum tarefas fáceis, requer muita dedicação, muito trabalho e só faz sentido se realmente conhecermos o potencial dos mesmos e saber o porquê de conservá-las, poderemos até utilizar vários termos e palavras mais bonitas ou mais na moda, mas é preciso entender que estas são as nossas florestas, que desde sempre forneceram inúmeros bens e serviços dos quais dependemos directamente e que se não actuarmos agora, amanhã será tarde demais. É inaceitável ver tanta pobreza numa terra tão rica, em recursos naturais, sejam estes florestais ou outros, é preciso que tenhamos bem claro na mente que estamos a fazer isto para nós mesmos, a comunidade faz para a comunidade e não porque vem alguém de fora da comunidade dizer que deve

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fazer!!! Sim, alguém com outro tipo de conhecimento pode apoiar, é uma mais valia que assim seja, mas, deve estar claro qual o papel da comunidade, as suas responsabilidades e os seus deveres... Não pretendemos de forma alguma neste manual ensinar sobre a floresta, pois temos consciência de que são as comunidades locais que melhor entendem a importância destes recursos, pretendemos sim dar uma imagem do que se passa a nível nacional e até global, demonstrar a urgência que existe na sua conservação, clarificar alguns conceitos importantes, dar algumas ferramentas para apoiar na tomada de decisões neste processo.

I. FlorestasDefinição e importância de florestas

As florestas são uma fonte de riqueza viva e rica em bio-diversidade, fundamental ao equilíbrio da natureza e à manutenção da vida na Terra. As florestas renovam o oxigénio do ar, fixam o carbono atmosférico, protegem os campos e os solos, regularizam os regimes hídricos, valorizam a paisagem, oferecem os melhores espaços de recreio e diversão. Quando devidamente geridas são um recurso natural renovável de cuja exploração ordenada se obtêm inúmeros bens e produtos, constituindo uma importante fonte de riqueza e bem estar social, ambiental e económico, não apenas pela sua multiplicidade de funções, mas também pelos serviços e bens que proporciona (1). É preciso estar claro que nem sempre é possível tirar proveito de todas as funções da floresta num mesmo local. A complexidade da gestão florestal prende-se com a dificuldade de conciliar as diferentes finalidades dos espaços florestais, na tomada de decisões e na resolução de problemas. A gestão florestal deve conciliar a necessidade e objectivos de conservação de recursos vivos, da água e do solo, e as funções produtivas dos espaços

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florestais, satisfazendo as exigências e necessidades da economia e da sociedade em geral sem, no entanto, comprometer as necessidades das gerações futuras, em bens e serviços provenientes da floresta – gestão florestal sustentável (2). A defesa, conservação e melhoria da gestão das nossas florestas passa pela alteração da relação que nós, sociedade civil e cidadãos, temos com estas, pelo aumento do nosso conhecimento a nível individual do seu valor, do funcionamento dos seus ecossistemas, de como cuidar e ainda, inevitavelmente pela mudança de atitudes e comportamentos (2).

Diversidade e tipos de floresta em Moçambique A floresta moçambicana caracteriza-se pela predominância de savana arbórea de densidade baixa, com baixa produtividade por unidade de área, pouco volume comercial por hectare e alta variabilidade de espécies florestais arbóreas (mais de 100), as espécies são de difícil regeneração e de crescimento lento (3). Moçambique é um país rico em recursos florestais, com uma área florestal total de cerca de 40.1 milhões de hectares (4). Cerca de dois terços das florestas moçambicanas são com-postas por Floresta de Miombo, onde as espécies dominantes, como a Brachystegia spiciformis (conhecida localmente como Murotho, nome comercial Messassa) muitas vezes misturada com Jubernardia globiflora (conhecida localmente como Nampacala, nome comercial Messassa encarnada), ocorrem associadas a uma variedade de outras espécies. Este tipo de vegetação ocupa vastas áreas nas regiões Centro e Norte do país, com maior predominância na zona Norte (4). Estima-se que existem cerca de 334 espécies de árvores nas florestas de miombo moçambicanas. Estas florestas caracte-rizam-se por uma cobertura de vegetação densa, com árvores caducas e semi-caducas, de altura entre 10 e 30 metros quando adultas e não degradadas. O segundo tipo de floresta mais extensa encontrada no País é a Floresta de Mopane, que ocorre principalmente na área

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desde o Limpopo, passando pelo Save, até ao alto do Vale do Zambeze, dominada por espécies como Colophospermum mopane, Adansonia digitata (imbondeiro), Afzelia quanzensis (chanfuta) e a Sterculia rogersii. A vegetação de Mopane é caraterizada predominantemente pela ocorrência de árvores e arbustos, com grande diversidade de plantas. Algumas espécies impor-tantes encontradas na floresta de mopane são Sclerocarya birrea, Combretum sp., Terminalia sericea e Strychnos sp. Entre outras. O resto do país é caracterizado por vários outros tipos de vegetação como mosaícos costeiros, terrenos arborizados não diferenciados, elementos afromontane, vegetação alopática e pantanosa. De um modo geral, a zona Norte do País possui florestas mais densas e menos exploradas do que a zona Sul (4).

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II. Plantações não são Florestas

As plantações em grande escala de espécies de rápido crescimento, como eucaliptos e pinheiros, são as que produzem maiores impactos negativos, tanto a nível social quanto ambiental. As empresas ligadas a plantações têm vindo insis-tentemente a negar a ocorrência desses impactos e a divulgar uma propaganda enganosa, com o objectivo de convencer os sectores menos informados da sociedade, de modo obter o apoio destes. Entre os vários falsos argumentos utilizados em defesa das plantações, destacam-se os seguintes 10:

As plantações florestais são “florestas plantadas Plantações não são florestas, ao contrário, do que tem sido insistente e vergonhosamente defendido pelas empresas, tentando deste modo aproveitar-se da crescente preocupação com o actual problema de desflorestação e desmatamento, criando a ilusão de que estas plantações de algum modo subestituem as florestas. A única semelhança entre florestas e plantações é que em ambas predominam árvores. Uma floresta tem: • numerosas espécies de árvores e arbustos de todas as idades; • uma grande quantidade de outras espécies vegetais, tanto no solo quanto sobre as próprias árvores e arbustos (trepadeiras, epífitas, parasitas, etc.); • uma enorme variedade de espécies de fauna que aí en-contram abrigo, alimento e possibilidade de reprodução. Essa diversidade de flora e de fauna interage com outros elementos, como os nutrientes do solo, a água, a energia solar e o clima, de modo a assegurar a sua auto-regeneração e a conservação de todos os elementos que a compõem (flora, fauna, água, solo).

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Ao contrário da floresta, uma plantação comercial em grande escala é constituida por: • uma ou poucas espécies de árvores de rápido crescimento, plantadas em blocos homogêneos da mesma idade; • pouquíssimas espécies de flora e fauna que se con-seguem instalar nas plantações. As plantações comerciais requerem preparação do solo, seleção de plantas de rápido crescimento e com as caracterís-ticas tecnológicas requeridas pela indústria, fertilização, eliminação da vegetação rasteira com herbicidas, plantio com espaçamento regular, colheita em intervalos curtos de tempo, sendo assim mais semelhantes a uma machamba do que a uma floresta (5). Por outro lado, o acesso das comunidades às plantações é geralmente proibido, pois elas são consideradas um perigo para as mesmas. No melhor dos casos, as comunidades servem apenas de mão-de-obra barata, para o plantio das árvores e a colheita que será realizada anos depois. O objectivo das plantações é produzir e colher grandes volumes de madeira no menor tempo possível assemelhando-se a qualquer outro cultivo agrícola.

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Não é possível plantar nem a diversidade de flora e fauna que caracteriza uma floresta, nem o conjunto de interações com os elementos vivos e inorgânicos que caraterizam uma floresta (5).

As plantações florestais melhoram o meio ambiente Erradamente apresentadas como”florestas plantadas”, argu-menta-se que as plantações servem para proteger e melhorar os solos, regular o ciclo hidrológico e conservar a flora e a fauna locais. Tudo isso é verdadeiro no caso das florestas, mas não no das plantações. As plantações em grande escala não só não melhoram o meio ambiente, como pelo contrário provocam impactos negativos: 1) Nos solos. Esse tipo de plantio tende a degradar os solos devido a uma série de fatores: • erosão, especialmente, porque o solo fica descoberto tanto nos dois primeiros anos posteriores ao plantio, quanto nos 2 anos posteriores à colheita, o que facilita a ação erosiva da água e do vento; • perda de nutrientes, tanto pela erosão, quanto pelos elevados volumes de madeira extraídos do lugar cada poucos anos; • desequilíbrios na reciclagem de nutrientes. Por se tratarem de espécies exóticas, os organismos responsáveis pela decomposição da matéria organica apresentam grandes dificuldades para decompor a matéria orgânica que cai das árvores (folhas, galhos, frutos), fazendo com que os nutri-entes que caem no chão demorem muito até que possam ser reutilizados pelas árvores. Tanto no caso dos pinheiros quanto dos eucaliptos, é comum observar como se acumula, sem se decompor, a folhagem sobre o solo; • compactação, pelo uso de maquinaria pesada, o que dificulta a penetração da água de chuva e facilita a erosão; • difícil reconversão, do conjunto desses e de outros

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impactos, segue-se que, em muitos casos, será muito difícil poder voltar a utilizar esses solos para a agricultura.

2) Na água, onde se verificam impactos tanto em termos de quantidade como em qualidade: • quanto à bacia, depois da instalação dessas plantações, o volume de água disponível tende a diminuir. Para crescer, as plantas necessitam de nutrientes que são transportados do solo até as folhas através da água. Para crescer rapidamente, como é objetivo no caso de plantações, são necessários mais nutri-entes, o que significa maior uso de água para transportá-los até as folhas. Tratando-se de extensas plantações, crescendo a um ritmo muito acelerado, os impactos na água tornam-se sempre mais graves, chegando, até, ao desaparecimento de reservas e cursos de água. • para confundir, os promotores das plantações argu-mentam que algumas espécies de árvores (em especial, os eu-caliptos) produzem mais biomassa por unidade de água emprega-da, e que, portanto, são mais “eficientes” do que as árvores nativas. No entanto, não consideram que as plantações de eucaliptos são, claramente, “ineficientes” na produção de alimento, forragem, remédios, fibras vegetais, frutos, fungos e outros produtos de que as comunidades locais dependem para a sua subsistência e obtém nas florestas. Além disso, é irrelevante estabelecer a eficiência duma plantação de eucalip-tos para produzir madeira com uma determinada quantidade de água se, de qualquer forma, esta requer mais água do que a que o sistema poderá satisfazer, afectando assim a disponibilidade de água para outros usos. • as espécies vulgarmente utilizadas nas plantações (eu-caliptos e pinheiros) dificultam a infiltração da água no solo, o que, somado ao enorme consumo de água, agrava os impactos a nível de bacia; • a qualidade da água é também afetada tanto pela erosão quanto pelo uso generalizado de agroquímicos, que a contaminam.

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3) Na flora. Os impactos na flora local são múltiplos e graves, devido à grande escala dessas plantações, que atingem uma enorme quantidade de hábitats: • em muitos casos, as plantações constituem um factor de desmatamento, pois para a sua instalação é necessário proceder ao corte ou queima da floresta preexistente. Nesses casos, o impacto é enorme; • na área ocupada pela plantação, grande parte da flora local é eliminada, para evitar competição entre a vegetação nativa e as árvores plantadas, e somente algumas poucas espécies conseguem se instalar nas plantações. Mas, até essas poucas espécies, são eliminadas cada poucos anos, quando a plantação é cortada e replantada, recorrendo, mais uma vez, à aplicação de herbicidas para eliminar a concorrência; • entre a flora que desaparece no centro da plantação, é importante destacar, muito especialmente, a flora do solo, que cumpre uma função essencial na conservação da fertilidade do solo a longo prazo; • o impacto na água, acima mencionado, também atinge a flora local, mesmo ela se encontrando a grande distância do local da plantação;

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4) Na fauna. Os impactos na fauna • para a maioria das espécies da fauna local, as planta-ções são desertos alimentares, motivo pelo qual estas tendem a desaparecer. As raras espécies que conseguem se adaptar são exterminadas (por serem consideradas “uma praga” para a plantação), ou, então, assistem ao desaparecimento de seu novo habitat, toda vez que a plantação é cortada para a venda da madeira; • quando a plantação é precedida pelo desmatamento, o impacto na fauna local é máximo; • assim como no caso da flora, tanto o desmatamen-to prévio ao plantio quanto as mudanças na quantidade e qualidade de água e no solo afectam negativamente um amplo espectro de espécies da fauna; • os desequilíbrios biológicos provocados por essas plantações dão lugar, frequentemente, ao surgimento de pragas que afetam as produções agropecuárias vizinhas (5).

As plantações servem para aliviar a pressão sobre as florestas O argumento é que, pelo fato de existir mais madeira disponível a partir das plantações, haveria uma menor extração de madeira das florestas nativas. Embora isso possa parecer lógico, na realidade constatou-se que as plantações são, em geral, mais um factor de desmatamento, pois: • em muitos países, as plantações são instaladas, eliminando previamente a floresta existente. Nalguns casos, essa eliminação é efectuada por meio de queimadas provoca-das, enquanto, noutros, o corte da floresta e a venda da madeira servem para financiar a plantação. Dá-se o caso, também, da plantação justificar o desmatamento, pois argumenta-se que o corte de grandes áreas não constitui desmatamento, se seguido do plantio de árvores. Nalguns casos, o simples anúncio do interesse das empresas plantadoras, por investir numa determinada região, provoca um movimento especulativo, que

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consiste em adquirir e degradar rapidamente áreas de floresta, para possibilitar que as mesmas possam, depois, ser destinadas ao plantio de árvores por essas mesmas empresas; • em numerosos casos, o processo acima mencionado determina a migração (voluntária ou forçada) dos moradores da região, os quais são obrigados a instalar-se noutras regiões florestais, onde iniciam um processo de desmatamento, para poder satisfazer as suas necessidades básicas. Isto é, nesses casos, o desmatamento provocado pela plantação é duplo; • a madeira produzida nas plantações não substitui, de forma alguma, as valiosas espécies da floresta, pois as duas têm mercados diferentes. Enquanto a maior parte da madeira da plantação destina-se à produção de papel e produtos de madeira de baixa qualidade, a maior parte da madeira extraída das florestas é transformada em produtos de alta qualidade; Decididamente, apesar do aumento das plantações florestais, a área florestal do planeta continua a diminuir, o que demonstra claramente que o argumento de que as plantações florestais aliviam a pressão sob as florestas é falso, trata-se apenas de um exercício de propaganda enganosa (5).

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As plantações permitem aproveitar e melhorar terras degradadas Esse argumento, promovido pelas grandes empresas plantadoras, é, no seu caso, absolutamente falso, pois as plantações comerciais em grande escala dificilmente são insta-ladas em terras degradadas. Simplesmente porque as árvores não crescem bem em solos degradados e pobres, fazendo com que o uso destas terras se torne demasiado dispendioso e consequentemente não é rentável. A própria definição de terras degradadas é discutível. A expressão “terra degradada” sugere uma imagem com solos gravemente erodidos e escassa ou nula vegetação. Nesses casos, qualquer atividade que vise a recuperação desses solos, seja através do plantio de árvores, ou por outros meios, pode ser considerada essencialmente positiva. Contudo, a expressão “terra degradada” pode designar, simplesmente, uma região de floresta que foi cortada, ou uma região agrícola de subsistência, que conserva o seu potencial produtivo. Costuma-se falar, também, de “terras subutilizadas”, como sinónimo de degradadas. Em síntese, as empresas plantadoras são as que determinam se a terra está degradada ou subutilizada, e, desse modo justificam as suas plantações perante a opinião pública. Apesar de muitas vezes as comunidades locais discordarem com o facto da terra ser caracterizada como degradada e muito menos com a intenção de ter que ser plantada com eucaliptos, pinheiros ou outras espécies comerciais. É falso argumentar que as plantações comerciais de eucaliptos ou pinheiros apresentam a mesma ou maior capacidade de reabilitação de terras degradadas daquelas que têm as plan-tações em menor escala de espécies forrageiras, alimentares, produtoras de lenha para o abastecimento da população local, ou fixadoras de nitrogênio (5).

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As plantações servem para conter o efeito de estufa Afirma-se que, ao crescerem, as árvores vão capturando o carbono em quantidades superiores às emitidas, de modo que apresentam um saldo neto positivo em relação à quantidade de dióxido de carbono (o principal gás de efeito estufa) na atmosfera. De um modo geral, qualquer área coberta de plantações, na ausência de provas contrárias, deveria ser considerada uma fonte neta de carbono, e não um sumidouro. Em primeiro lugar, porque, em muitos casos, essas plantações substituem as florestas, o que deter-mina que o volume de carbono liberado pelo desmatamento será superior aquele que a plantação em crescimento pode capturar, inclusive a longo prazo. Mesmo quando não há desmatamento, as plantações são instaladas noutros ecossistemas que também armazenam carbono (como as pradarias), o qual é liberado na atmosfera como consequência da plantação. Considerando os restantes impactos de plantações, tanto nas comunidades locais como no ambiente, é inaceitável que sejam promovidas com o propósito ambiental como o de conter o efeito de estufa. A solução para o efeito de estufa terá de resultar da redução das emissões de CO2 (resultantes do uso de combustíveis fósseis) e da protecção das florestas, e não através de tentativas de coloni-zar enormes áreas de terra, sem ter sido analisado plenamente as consequências (5).

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As plantações são necessárias para satisfazer um crescente consumo de papel O consumo de papel é percebido, geralmente, como uma coisa positiva, ligada à alfabetização, ao acesso à informação escrita e a uma maior qualidade de vida. Essa percepção do público é usada pelas empresas plantadoras, para justificar a suposta necessidade de aumento da produção de celulose a partir de suas extensas plantações de pinheiros e eucaliptos. Portanto, essa questão exige vários esclarecimentos: • grande parte da celulose produzida no sul não se destina ao abastecimento da população desses países, mas, sim, aos consumidores do norte. Enquanto os Estados Unidos e o Japão têm um consumo anual de papel de mais de 330 e 230 quilos por pessoa, respectivamente, países exportadores de celulose, como o Chile, a África do Sul, o Brasil e a Indonésia, mostram um consumo de 42, 38, 28 e 10 quilos por pessoa, respectivamente;

• Cerca de 40% do papel produzido no mundo é usado em embalagem e envoltório, ao passo que só 30% destina-se a papeis de escrita e impressão, motivo pelo qual o argumento da alfabetização não é tão relevante quanto se pretende mostrar;

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330kg

230kg

42kg38kg

28kg10kg

E.U.A Japão Chile Africa do sul

Brazil Indonésia

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• além disso, grande parte do consumo de papel de escrita e impressão vai para a publicidade. Nos Estados Unidos, 60% do espaço de revistas e jornais fica reservado para anúncios, ao passo que, anualmente, são produzidos uns 52.000 milhões de unidades de diversos tipos de material de publicidade, incluídos 14.000 milhões de catálogos para compras pelo correio, os quais, a grande maioria vai direta-mente para a lata do lixo. A questão consiste, então, em que o consumo actual de papel é ambientalmente insustentável, e em que grande parte do mesmo é socialmente desnecessário. Portanto, nem os planos de uso das florestas, nem os planos de expansão das plantações florestais, podem pretender se auto-justificar, alegando que “a humanidade” necessita de mais papel (5).

As plantações são muito mais produtivas do que as florestas Esse argumento pode parecer convincente se for considerado apenas o rápido crescimento das árvores numa plantação de pinheiros ou eucaliptos. Porém, depende do que se entende por “produtivo”, e de quem é beneficiado com essa produção. Uma plantação comercial produz um grande volume de ma-deira para a indústria, por hectare e por ano. Mas isso é tudo quanto produz. O beneficiário direto dessa produção é a empresa proprietária da plantação. Uma floresta não produz somente (como a plantação) madeira para o mercado; a sua produção abrange outros tipos de árvores, vegetais, animais, frutas, fungos, mel, forragem, adubo, lenha, madeiras para usos locais, fibras vegetais, remédios, e, além disso, gera uma série de serviços em matéria de conservação de solos, biodi-versidade, recursos hídricos e microclima. Quando se argumenta que as plantações são muito mais produtivas do que as florestas, somente se compara o volume de madeira para a indústria que pode ser extraído delas, e, nessa com-paração, a plantação aparece como sendo superior. Não

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obstante, quando se compara a totalidade de bens e serviços fornecidos pela plantação e pela floresta, comprova-se que esta é muito mais produtiva do que a plantação.

Em muitos aspectos, a produção da plantação é nula (por exemplo, na produção de alimentos, de remédios ou de forragem), podendo, até, ser negativa, quando afeta outros recursos, como a água, a biodiversidade ou o solo. Em especial, isso torna-se evidente para aquelas comunidades locais que sofrem os efeitos da implantação de extensas monoculturas florestais, pois suportam a perda da maior parte dos recursos que, até então, garantiam a sua sobrevivência. Para as comuni-dades locais a produtividade dessas plantações é nula, ou, até negativa (5).

As plantações geram emprego As grandes plantações geram emprego directo, fundamental-mente, nas fases de plantio e de colheita. Depois do plantio, o emprego cai substancialmente. No momento da colheita, a plantação necessita novamente de contratação de mão de obra, mas o número de vagas tende a diminuir visivelmente, pela crescente mecanização dessa operação. Os escassos em-

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pregos gerados são, em geral, de muito baixa qualidade, sen-do, na maioria das vezes, de caráter temporário, com baixos salários e em condições de trabalho caracterizadas pela má alimentação, o alojamento inadequado e o incumprimento da legislação de trabalho em vigor. Em quase todos os casos, as plantações trazem como resultado a expulsão das comuni-dades locais. No mundo inteiro é possível constatar que as plantações geram muito menos emprego que a agricultura e até menos que a criação de gado extensiva. Em relação ao emprego industrial, as plantações nem sempre dão lugar à criação de indústrias locais, em virtude da produção, em muitos casos, estar voltada para a exportação directa dos troncos sem pro-cessar. Mesmo quando são abertas indústrias de polpa e papel, seu alto grau de mecanização resulta na criação de poucas vagas. De todas as actividades capazes de gerar emprego a nível local, a actividade plantadora é, provavelmente, a pior opção. O objetivo das empresas florestais não é geração de emprego, mas, sim, a geração de lucros para seus accionistas. No entanto, utilizam esse falso argumento, para justificar socialmente o seu empreendimento (5).

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Os possíveis impactos negativos das monoculturas florestais industriais podem ser evitados ou mitigados com uma boa gestão Por fim, os promotores das plantações podem aceitar que estas não são florestas e que podem causar impactos negati-vos, mas acrescentam que esses impactos acontecem devido à má gestão e não às plantações, argumentando que a solução é técnica e consiste apenas em aplicar bons métodos de gestão. A implantação de plantações não pretende de modo algum solucionar questões sociais, nem tão pouco as considera, o principal objectivo é gerar lucro, daí que não se pode acreditar que bons métodos de gestão poderão solucionar as questões. O mesmo se pode dizer em relação aos impactos ambientais. As próprias características do modelo fazem com que ele seja, basicamente, insustentável, mesmo adoptando práticas mais ecológicas, ou monitorando os impactos de modo a minimi-zar os impactos, sendo muitas vezes apenas um exercício para melhorar a imagem da empresa diante dos possíveis oposi-tores ambientalistas. O modelo carateriza-se essencialmente: • pela grande escala. É completamente diferente o im-pacto ambiental causado por 1 eucalipto ou 1 pinheiro, aos impactos causados por dezenas ou centenas de milhares de hectares de eucaliptos ou pinheiros concentrados numa deter-minada região dum país; • pela monocultura de espécies exóticas. Apesar de ser verdade que a maioria das espécies agrícolas são exóticas, no caso das espécies usadas nos cultivos florestais, isso envolve fortes implicações negativas. A escolha de espécies exóticas prende-se com caraterísticas como rápido crescimento, resistência a doenças e pragas, no entanto, para a fauna local estas plantações constituem desertos alimentares, e sendo de grande escala o impacto é enorme. A biodiversidade do solo é gravemente afectada, devido a que os restos vegetais dos pinheiros e eucaliptos são tóxicos para grande parte da flora e da fauna do solo. Além disso, o sistema apresenta uma grande debilidade intrínseca, pois, se surgir uma espécie capaz de se

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alimentar das árvores vivas, se transformará numa praga, que poderá pôr em risco todas as plantações similares da região. • pela rapidez do crescimento. A lógica empresarial desses empreendimentos faz com que a rapidez de crescimento seja essencial para garantir a rentabilidade do investimento. Esse crescimento baseia-se, em parte, na seleção de espé-cies, mas, também, na utilização de fertilizantes e herbicidas (que afetam o solo e a água), e num consumo enorme de água, que afeta a região como um todo. • pelo corte em intervalos curtos de tempo. A mesma lógica determina que as árvores sejam cortadas cada poucos anos, o que pressupõe uma grande saída de nutrientes do sistema, processos de erosão, e a destruição do habitat daquelas pou-cas espécies que poderão adaptar-se à plantação (5). Perante as razões expostas, é evidente que são poucas as medidas técnicas que podem ser tomadas para evitar ou mitigar a maioria dos impactos ambientais causados pelas plantações. Embora possam ser melhorados alguns aspectos (usar agroquímicos menos nocivos, preparar o solo seguindo curvas de nível, precaver-se para que não surjam processos de erosão no momento de cortar as árvores, conservar áreas silvestres como remendos na paisagem, monitorar solos, água, flora e fauna, etc.), a verdade é que é impossível evitar os impactos, porque o próprio modelo não permite: não é possível (do ponto de vista da rentabilidade) fazer com que as árvores cresçam mais devagar, consumam menos água, prescindam de fertilizantes, não afetem os solos, não restrinjam a biodiversidade local. Em síntese, o problema é o modelo, e não a adopção de medidas de gerenciamento apropriadas (5).

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As plantações não podem ser julgadas isoladamente Este é mais um dos argumentos dos promotores das planta-ções, em que afirmam que existe um “sistema contínuo” entre uma floresta primária e uma “floresta plantada”, voltada para a produção de madeira. Isso significa que deve-se considerar em conjunto florestas primárias protegidas, florestas de produção, florestas protegidas, florestas secundárias e plantações de todo tipo. No entanto, este argumento baseia-se na falsa premissa de que uma plantação é uma floresta. A única semelhança entre as plantações, cujo principal objectivo é a produção de grandes volumes de madeira no curto prazo, e as florestas é que ambas são constituidas por árvores, no caso das planta-ções estas árvores nem sequer são nativas. Portanto, não é possível falar dum “sistema contínuo” entre elementos intrin-secamente diferentes. Seria como dizer que a fauna nativa e a criação de gado de curral constituem um sistema contínuo entre o natural e aquilo voltado para a produção de leite, e que não é possível julgar isoladamente os impactos da pecuária, sem analisá-los nesse contexto. Em segundo lugar, porque, em geral, as plantações comerciais não só não complementam as florestas, mas também, em muitos casos, são causa direta ou indireta de desmatamento. O mesmo pode ser dito quanto à forma como afetam a biodiversidade, o solo, a água, e, especialmente, as comunidades locais. Este argumento pretende justificar a destruição da natureza em determinada área, argumentando que sua conservação se garante em outra área. Ao incluir as plantações nesse presumível sistema “floresta”, se encobre e justifica a destruição social e ambiental gerada a partir das monoculturas de árvores em grande escala. A questão de fundo é que este argumento pretende justificar uma lógica que divide a produção da conservação; ainda mais, que utiliza a conservação como um pretexto para habilitar a destruição. A existência de áreas protegidas de florestas (que efetivamente protegem o solo, a flora, a fauna e regulam o

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ciclo hidrológico), transforma-se na justificação para imple-mentar grandes monoculturas (neste caso, de árvores), que destroem todos os recursos naturais e os direitos e meios de vida dos povos locais (5).

III. Uso e Gestão sustentável da floresta

A exploração e utilização dos recursos florestais e faunísticos, da forma como vem sendo realizada, ameaça a conservação e a perpetuação destes recursos a médio e longo prazo. A agricultura itinerante, a exploração de madeira, lenha e a produção de carvão, as queimadas descontroladas e a caça furtiva são apontadas como as principaís ameaças aos recur-sos florestais e faunísticos no País (6).

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Porque devemos proteger/conservar as nossas florestas?

• 1) As florestas purificam o ar que respiramos;

• 2) As florestas protegem-nos contra as mudanças climáticas;

• 3) As florestas protegem os solos da erosão;

• 4) As florestas protegem as reservas de água;

• 5) As florestas previnem a desertificação;

• 6) As florestas enriquecem os solos com nutrientes;

• 7) As florestas fornecem bens e serviços essenciais;

• 8) As florestas são o habitat de uma grande de variedade de seres;

• 9) As florestas fornecem alimentos à população - frutos silvestres, cogumelos, amêndoas, nozes, mel;

• 10) As florestas constituem o habitat de muitos animais que contribuem também para alimentar a população;

• 11) As florestas têm por isso um papel importante na segurança alimentar e nutricional da população, em particular da população mais pobre que vive em redor;

• 12) É nas florestas que se encontram a maioria das plantas medicinais que se usam no tratamento de muitas doenças;

• 13) As florestas fornecem a lenha e o carvão com que a maioria da população cozinha;

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• 14) A gestão sustentável das florestas permite desenvolver várias actividades económicas que dão emprego à população e que contribuem para o desenvolvimento do país;

• 15) As florestas ajudam por isso a combater a pobreza;

• 16) As florestas saudáveis asseguram a sustentabilidade do meio ambiente;

• 17) As florestas nativas são um património nacional. A gestão sutentável das florestas deve beneficiar todo o povo moçambicano.

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Quando é que a floresta está em perigo?• 1) Não se respeitam as regras de corte;

• 2) As árvores são cortadas a um ritmo acelerado sem res-peitar o seu crescimento: para fazer agricultura, para vender madeira, etc;

• 3) As árvores são cortadas sem olhar ao seu tamanho;

• 4) As árvores são cortadas em áreas de conservação;

• 5) Se fazem queimadas descontroladas;

• 6) O corte descontrolado contribui para o desaparecimento das florestas naturais.

Consequências negativas: aumenta a erosão, destroi-se a base económica de subsistência de um grande número de pessoas, destroi-se o reservatório genético de muitas plantas e animais, perdemos pulmões naturais (6).

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O plano de maneio estabelece as directrizes segundo as quais a concessão deve funcionar, é importante recordar que o replantio, através da criação de viveiros com espécias nativas é crucial para o restabelecimento da vegetação natural, o controle dos furtivos e ilegais, o cumprimento das quotas máximas definidas entre outros factores são determinadas para a sustentabilidade do recurso.

Legislação Os factores que parecem estar associados ao maneio comunitário bem sucedido dos recursos e produtos florestais. Tais factores incluem:

• Participação clara dos membros da comunidade;

• Demarcação clara dos recursos florestais;

• Autoridade para manejar (segurança da posse, de fato (DUAT) ou de direito);

• Conhecimento comum sobre o valor dos recursos florestais;

• Conhecimento comum sobre o funcionamento da floresta;

• Regras realistas definidas internamente;

• Habilidade para monitorar e impor o cumprimento das regras;

• Mecanismos de baixo custo para resolução de conflitos;

• Capacidade para monitorar a situação dos recursos florestais;

• Tecnologias apropriadas para apropriação de produtos florestais (7).

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Fiscalização A fiscalização das actividades florestais e faunísticas é da responsabilidade do Estado. Ao nível local, a fiscalização é feita pelos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia (SPFFB) e o sentimento geral que existe é de que esta importante tarefa está sendo realizada de forma deficiente; um pouco por todo país regista-se actos ilegais no licenciamento, exploração, transporte, processamento e na comercialização dos recursos florestais e faunísticos. A grande extensão do país, os limitados recursos humanos e materiais, fraco treino e capacitação dos fiscais florestais e a falta de uma estratégia para a fiscalização, são apontados como as principais causas da fraca capacidade do Estado de controlar a exploração e a utilização dos recursos florestais e faunísticos do país. Com a constatação de que o Estado, sozinho, não pode garantir a conservação e o uso racional dos recursos florestais e faunísticos, a nova Lei de Florestas e Fauna Bravia introduziu nova abordagem na gestão de florestas e da fauna bravia, que procura envolver e responsabilizar todos intervenientes no sector na gestão destes recursos. Nesse sentido, as comu-nidades locais, o sector privado, organizações e associa-ções de operadores e intervenientes no sector florestal, são encorajados a formar parcerias com o Estado, com vista a seu envolvimento e participação activa, não apenas na exploração e utilização destes recursos, mas também na fiscalização, con-trole e monitoria das actividades de exploração, maneio e conservação dos recursos florestais e faunísticos. No país não existem experiências sólidas, nem estão ainda estabelecidos mecanismos práticos de envolvimento dos parceiros na gestão dos recursos florestais e faunísticos. Entretanto, iniciativas de envolvimento de comunidades locais na gestão de florestas e de fauna bravia nas zonas de sua influência indicam melhorias substanciais na conservação destes recursos, uso racional e, principalmente, melhoria na fiscalização e controle da exploração comercial destes recursos por terceiros (6).

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Certificação de produtos florestais A certificação florestal é um mecanismo de controle, voluntário e não governamental pelo qual se atestam determinadas características do maneio praticadas por uma exploração florestal. A certificação é um processo voluntário em que é realizada uma avaliação de um empreendimento por uma organização independente, a certificadora, em que é verificado o cumprimento de questões ambientais, económicas e sociais que fazem parte dos princípios e critérios definidos por cada certificadora. A certificação permite ao consumidor identificar e escolher de entre produtos florestais (madeireiros ou não) aqueles que foram produzidos sob determinados padrões que visam garantir que o produto em questão foi obtido a partir de um maneio florestal que maximiza os benefícios sociais e a conservação ambiental e que considera a sua viabilidade económica a longo prazo. Todos os produtores podem obter o certificado, sejam pequenas ou grandes operações ou ainda associações comunitárias. Uma vez garantida a gestão sustentável da floresta e assegurados os aspectos básicos relativamente ao funciona-mento da concessão florestal comunitária, uma forma de valorizar o produto, neste caso, a madeira produzida seria através da certificação por um orgão independente. A cer-tificação beneficia não só os produtores como também os consumidores, os produtores certificados veêm os seus produtos valorizados e os preços a praticar poderão ser reajustados de acordo e os consumidores teêm a garantia de que o produto que adquirem foi produzido segundo padrões sociais e ambientais que visam acima de tudo garantir a sustentabilidade do recurso.

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Referências bibliográficas (1) Liao, C., Luo, Y., Fang, C., & Li, B. (2010). Ecosystem Carbon Stock Influenced by Plantation Practice: Implications for Planting Forests as a Measure of Climate Change Mitigation PLoS ONE, 5 (5) DOI: 10.1371/journal.pone.0010867 (2) Correia, Alexandre Vaz; Cristina Baptista; Cristina Gabriel; João Pinho; Mariana Carvalho; M. Conceição Colaço; Rui Queirós. (2006). Floresta, muito mais que árvores | Manual de educação ambiental para a floresta, Brazil, Portugal(3) Chitará, Sérgio. (2003). Apoio ao Desenvolvimento de Política Florestal no Âmbito do PROAGRI, Instrumentos para a Promoção do Investimento Privado na Indústria Florestal Moçambicana. Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia(4) Ribeiro, Daniel e Eduardo Nhabanga. (2009). Levantamento Preliminar da Problemática das Florestas de Cabo Delgado. Justiça Ambiental, Maputo, Moçambique(5) http://www.natbrasil.org.br/Docs/monoculturas/Dez%20respostas%20a%20dez%20mentiras.pdf(6) Bila, Adolfo. (2005). Estratégia para a Fiscalização Participativa de Florestas e Fauna Bravia em Moçambique. Maputo, Moçambique(7) Ritchie, B., C. McDougall, M. Haggith & N.B. Oliveira. (2001). Critérios e indicadores de sustentabilidade em florestas manejadas por comunidades. Centro para Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR). Indonésia

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Gestão Comunitária Sustentável e Boa Governação de Florestas, Zambézia - Moçambique