livro bibliotecas comunitÁrias 2020

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BIBLIOTECA E COMUNIDADE Entre vozes e saberes Lidia Eugenia Cavalcante Fátima Maria Alencar Araripe (Organizadoras) Alain Souto Rémy Ana Maria Sá de Carvalho Juliana Buse de Oliveira Rémy Luís Tadeu Feitosa Maria Eugenia Bentemuller Tigre Virginia Bentes Pinto

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BIBLIOTECA E COMUNIDADE Entre vozes e saberes

Lidia Eugenia Cavalcante Fátima Maria Alencar Araripe (Organizadoras)

Alain Souto Rémy Ana Maria Sá de Carvalho Juliana Buse de Oliveira Rémy Luís Tadeu Feitosa Maria Eugenia Bentemuller Tigre Virginia Bentes Pinto

BIBLIOTECA E COMUNIDADE Entre vozes e saberes

BIBLIOTECA E COMUNIDADE Entre vozes e saberes

Lidia Eugenia Cavalcante Fátima Maria Alencar Araripe (Organizadoras)

Alain Souto Rémy Ana Maria Sá de Carvalho Juliana Buse de Oliveira Rémy Luís Tadeu Feitosa Maria Eugenia Bentemuller Tigre Virginia Bentes Pinto

Biblioteca e Comunidade: entre vozes e saberes© 2014 Copyright by Lidia Eugênia Cavalcante e Fátima Maria Alencar Araripe (Organizadores) Impresso no Brasil/Printed in Brazil Efetuado Depósito Legal na Biblioteca Nacional e na Biblioteca Pública Governador Menezes Pimental - CE

Todos os Direitos Reservados

Produção Editorial Revisão de Texto Vianney Mesquita Amanda Alboino Hortência Siebra

Programação Visual e Diagramação Amanda Alboino

Colaboração projeto gráfico Hortência Siebra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Catalogação na fonte

Bibliotecária Mirislene Vasconcelos

B581 Biblioteca e Comunidade: entre vozes e saberes / Lidia Eugenia Cavalcante; Fatima Maria Alencar Araripe [orgs]; Alain Souto Rémy; Ana Maria Sá de Carvalho; Juliana Buse de Oliveira Rémy; Luís Tadeu Feitosa; Maria Eugenia Bentemuller Tigre; Virgínia Bentes Pinto – Fortaleza, CE: ed., 2014

160p. ISBN: 978-65-00-08286-9

1. Biblioteca comunitária. 2. Organização de biblioteca 3. Informação e comunidade. I. Título. CDD 023.2

SUMÁRIO

Metodologias para implantação de Bibliotecas Comunitárias LidiaEugeniaCavalcante

Bibliotecas autogeridas e participação comunitária LidiaEugeniaCavalcante

Bibliotecas Comunitárias: Questões jurídicas AlainSoutoRémy

Elaboração de projetos de leitura para Bibliotecas Comunitárias AnaMariaSádeCarvalho

Perfil de usuários, fontes de informação e constituição de acervos Juliana Buse de Oliveira Rémy JulianaBusedeOliveiraRémy

Leitura e Dinamização de Acervos: Um Banquete de Luzes, Cores, Fantasias, Realidades... FátimaMariaAlencarAraripe

Comunicação e Cultura: As faces e os sotaques da Biblioteca Comunitária LuísTadeuFeitosa

Biblioteca comunitária e Educação Ambiental: Construindo comunidades sustentáveis MariaEugêniaBentemullerTigre

Ideias de como elaborar projetos sociais para Bibliotecas Comunitárias VirgíniaBentesPinto

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A todas(os) as(os) moradoras(es)

das comunidades que nos ajudam nessa tarefa de ler o mundo e as suas

histórias

PREFÁCIO

Convidadaparaescreveroprefáciodestaobra,vejo-menacondiçãodeorientaroleitornajornadaqueseinicia.Umacondiçãomuitoespecial,poisnosúltimosanostenhoviajadopeloPaís, pesquisando e conhecendo experiências e lideranças envolvidas na constituição debibliotecascomunitáriase,nessesencontros,tenhomedeparadocomquestõesrecorrentesqueestelivropropõearesponder.

Biblioteca e Comunidade: entre vozes e saberes é um exemplo de produção coletivaresultantedeumaexperiênciapedagógicavivenciadaedereflexõesgeradasemumambienteacadêmico,comorigemnoprojetodeextensãouniversitária“LerparaCrer:oficinasitinerantespara a implantação de bibliotecas comunitárias emmunicípios cearenses”, coordenado pelaProfa.LídiaEugeniaCavalcante,daUniversidadeFederaldoCeará(UFC).

Sobopontodevistaacadêmico,éumreferencialparaaáreadeBiblioteconomiaeCiênciadaInformação,poiséaconstruçãodeumaricaaproximaçãoentreateoria,apráticaeaproduçãodeconhecimentonoambienteacadêmicoaplicadoàrealidadesocial.Sobopontodevistasocial,éumagrandecontribuiçãoparaaquelesqueatuamcomomilitantesculturais,enfrentandoosdesafios que envolvema criação emanutenção de espaços de leitura e informação em suaslocalidadescomvistasaminimizaracarênciadebibliotecaspúblicaseescolaresnoPaís.

Organizadoemnovemódulos,apresenta,deformaclaraeobjetiva,conceitos,orientaçõespráticas,modelosepropostasdeatividadesparapessoas,grupose/ouinstituiçõesenvolvidosnessetipodeiniciativa.

Cavalcanteiniciaaobracomdoistextos.Oprimeiroéreservadoàapresentaçãodemetodologias para a implantação de bibliotecas comunitárias. Ao descrever as açõesdesenvolvidasnoprojeto,pensadoeimplementadocomoobjetivodeenvolverosintegrantesnumprocessoeducativo,socialecultural,aautoradáaoleitorimportanteinstrumentalparaqueestametodologiapossasermultiplicada.Descreveoobjetivodoprojeto,asetapaspercorridas,ocuidadocomascomunidades,comaformaçãodasequipesqueatuaramnoprojetoecomasescolhasconceituaisemetodológicasparaenvolveredesencadearumprocessoparticipativodeconstruçãodebibliotecascomunitárias.

Nosegundotexto,demaneiraconceitual,Cavalcantediscuteaimportânciadaautogestãoedaparticipaçãodacomunidadenacriaçãoemanutençãodessesespaçoseserviços,ressaltandoopapeldessasbibliotecasparaavalorizaçãodadiversidadecultural,dageraçãodeautonomiasocialedofortalecimentodaeducaçãotransformadora.

AsquestõesjurídicasrelativasàconstituiçãodestetipodeiniciativasãoabordadasporAlain Rémy.Com uma linguagem fácil e de cunho didático, o autor esclarece os papéis e asresponsabilidadesqueenvolvemaspessoasenvolvidasnessetipodeprojeto.Apresentaopassoapassoparaaconstituiçãodepessoajurídica,demonstrandoaimportânciacomocuidadoemestabelecer condições legais e favoráveis para que o projeto se configure como uma açãocontínuaequepossasefirmarnacomunidade.

Outrotemafundamentalparaquematuaembibliotecascomunitáriasserefereaprojetosdeleitura.Carvalhotrazorientaçõesparaaelaboraçãodeprojetosdeleituravistoscomouminstrumentoparaaviabilizaçãodeumaideia,eacrescentadicassobreatividadesdeleituraparadistintosgrupos-crianças,jovenseadultos.

JulianaRémydiscuteanecessidadedabibliotecacomunitária,assimcomodequalqueroutrabiblioteca,destinarseufocoaousuário/leitor.Identificarasnecessidadesdeinformaçãoedeleituradosusuáriosdeumabibliotecaéprerrogativaparaaconstituiçãoeorganizaçãode

suascoleçõesedoseuacervocomoumtodo,assimcomoparaaproposiçãodeserviçoseaçõesdeestímuloàleitura.

Demaneira complementar,Araripe oferece ao leitor um texto encantador e envolventesobrealeituraeanecessidadedadinamizaçãodascoleções.Nessemomento,épossívelperceberquenãobastaumaestantecheiadelivros,nãoésuficientequeesteslivrossejamdequalidadeeestejam muito bem organizados, mas é preciso que a leitura, nas suas diferentes formas esentidos,estejapresenteemtodasasaçõesdabibliotecacomunitária.

Feitosadáocontornonecessárioparacontextualizarabibliotecacomunitárianoespaçosocial abordando aspectosque envolvema cultura, a identidade, amemória e a comunidade.Recomenda“ouviraspessoas,chamaraspessoasparamostraremoquesãooquegostameoquepodemfazerparaconstruirabibliotecacomunitária”,estabelecendoassimaculturadodiálogo.

O cuidado com o Planeta é tratado por Tigre, por meio da proposta da formação decomunidadessustentáveis.Aautoraenfatizaaimportantecontribuiçãodabibliotecanamudançadehábitosecomportamentosdasociedade,comvistasàmelhoriadasrelaçõesentreaspessoaseomeioambiente.

Porfim,Pintoelaboraumguiaparaafeituradeumprojetosocialvoltadoparaaconstituiçãodeumabibliotecacomunitária.Aautoraofereceàquelesqueestão iniciandoseutrabalhoummodelodetalhadodeprojetodecaptaçãoderecursosparaaimplantaçãodeumabiblioteca.

Bibliotecas são instituições carregadasde significados.Especialmente aquelas criadas emantidaspelasprópriascomunidades,caracterizadasnoPaíscomobibliotecascomunitárias,setransformaramemumtemaemergente,talaforçacomqueessasiniciativasseposicionamnouniversodeorganizaçõessociaisvoltadasparaademocratizaçãodoacessoàleituraeàinformação.Criaremanterumabibliotecacomunitária,noentanto,nãoéumatarefasimpleseaquelesquesepropõemenfrentaressedesafioprecisamdeinstrumentosparadesvendarseuscaminhosequalificarsuasações.Estaobra,elaboradaporespecialistasdaáreadeBiblioteconomiaeCiênciadaInformação,vemcumpriressepapel,poissemostracomouminstrumentodeapoioepropiciaapercepçãodosconceitos,práticasenormasbalizadorasqueenvolvemessaatividade.

ElisaMachado

APRESENTAÇÃO

Oquintal,cuidadosamentezeladopelaavóepelamãe,tinhanasmuitasfruteirasorefúgio do menino. De tão frondosos, todos os “pés-de-pau” – era assim que ele oschamava–pareciamexibirem-seunsaosoutros,comsuasfolhagensdensas,farfalhandoaosventoseseuscaules,emcujosentroncamentosomeninoconstruíasuascabanasdepalhadecoco.Paraavisãodaquelacriança,aqueleparaísoverdeeracompostodegente.Nãogentecomoele,masaextensãodeseussonhosefantasias.Asárvoresnãoapenastinhamseusnomes,masdialogavamcomoimagináriodaqueleinfantesobosignodeoutrasnomeações.

Amangueiraeraavovó,corpulentaeacolhedora.Ocajueiroeraovovô:alto,esbeltoedegostoazedo,quandonãosetinhaapaciênciadeesperarpeladoçuradeseusfrutos.Contrastando com o verde das folhagens, o azul do céu parecia dar as mãos com abrancuradasareiasdaquelebairrodistante.Obrancofofodasareiasdebaixodoparaísoeraamãe.Ocoqueiromaioreraopai.Ospésdelimão,degraviola,desapoti,delaranja,de cajarana formavamaoutra famíliadomenino sonhador.Ali elepassou todaa suaprimeirainfância,sonhando,criando,conversando,imaginando.Edalisóseausentavanasmanhãsfriasparaasprimeirasdescobertasdasaladeaula.

Atéosdezesseisanos,omeninoviveucomintensidadeamagiadoseuquintal,queselheapresentavacomoumlaboratórioperceptivo.Dodiálogosolitárioquetravoucomasárvores,comocéuqueascobriaecomaareiabrancaqueasacolhia,nossopersonagempassouamediarasfalasdoparaísoverde,comasvozesqueouvianaescola.Somenteaosdozeanosfoiqueomeninosoubequeaqueleparaísotinhaumnome,entretantosoutrosquesepoderiadaràqueleconjuntodefruteiras.Assim,oquintalacolhedor,queeleumdiadescobriu,sechamavapomar.Iniciadopelolaboratórioperceptivonatural,queofaziaumleitordomundo,omeninodescobriu-seleitordelivros.Foinumdelesquedescobriuqueoseuparaísoseconstituíanumpomar.

Choviamuitoquandoomenino,entãocomdozeanos,entroupelaprimeiraveznabiblioteca escolar de uma escola pública, da mesma periferia onde nascera e aindamorava.Adisposiçãodeestantesformavaoutramodalidadedelabirinto;diferentenacomposiçãodascoresdeseuparaísonatural,masnadadistantedasinfinitaspossibilidadesdeexercícioperceptivo,criador,imaginativo.Seoespaçoeoformatodaquelelugarselhepareciamnovos,nãoseriadiferenteamagiadadescoberta.Aofolhearoprimeirolivro,omeninopercebeuoutroslabirintos:osdasdisposiçõesdasvozesdeitadasnaescrita,alhecontarcoisas;alhedescrevermundos;alhedirigiraofantástico.

EmReinaçõesdeNarizinho,umlivrosemnenhumagravuraoucor,oagoraleitordeletrasviusaltardaquelaspáginasavozdoceefortedeumaavóacontarhistóriasecausos.Seriaavoz,metaforizadaemletras,dosrelatosqueomeninoouviradasduasavósalhecontaremahistóriadoPavãoMisterioso,rimadaemcordel,oudeJoãoeMaria,frutosdasmemóriasdasavós.Sentadonochão,deondepercebiaaextensãodasestantes,omeninoaprendizdeleitorsentia-secomoentreasárvoresdeseuquintal;quintalqueagoraseestendiaparaomágicoeencantadoSítiodoPicapauAmarelo.Eraabiblioteca

proporcionandoaopequenoleitoraimortalidadedascoisas;apermanênciadossonhos;aatualizaçãodosmitos;oafagodasvozessábias;omundoemeternomovimento.

Aquelemeninosorveudaqueleespaçotodasasleiturasquepôdefazer.AprendeucomJoséLinsdoRegoaespertezadoespiar.ColheudeAlencaroromantismoeaespertezasertanejas.Viajoucom JorgeAmadopelomágicomundodasbaianidades. Sentiu comRachelocalordosertãoeprolongouestesertãocomosprimeiroscordéisdePatativa.Omenino cresceu, vivencioumuitas outras leituras, e hoje, homem feito, apresentaumlivrosobremodosdecriaredarvidaàsbibliotecas.Apenasdeumacoisaomeninonãogostava:abibliotecaestartrancadanasuaescola.Porqueaquelemundotãomágiconãoexistiapertodeseuquintal?

Estelivroqueoraapresentotentafazeressesonhovirarverdade.Abibliotecadeque este livro falará tem cheiro de gente e se oferece aos leitores como espaço demediaçãodeleituras;nãonosmoldesdaescola,mascomofomentadoradeumaleituramaisdinâmica,maisplural,maisinclusiva,dotadadeliberdadeplena;umabibliotecaquetraduzaparaoseupúblicoa linguagemdos livros,masqueseabraparaasvozes dacomunidade. Em síntese, que ela levea leitura e as práticas leitoras para o chão dascomunidades. Lugar de fantasia, criatividade emagia, mas também de informação eformação, a biblioteca comunitáriaprecisa ter as cores, os cheiros e saboresdaquelequintalmágico que embalouminhameninice. Como nos recônditos do sítio deDonaBenta,acriatividadeeosonho,ofantásticoeoimagináriodevemserestimuladospelabibliotecacomunitária.

Dosseuslivrosdevembrotarosconhecimentos,asinformaçõeseaspossibilidadesdeformaçãohumana.Porémumaformaçãodialógica,inteiradadoscotidianosdeseususuários;ensejadapelasexpectativasdesteseorientadapelademocratizaçãodaleitura.Umaleituraquesejaplural,democráticaenãoapenaspautadapelosditamesdaculturahegemônica.

Asmetodologias aqui apresentadas encarnam a esperteza informacional de umVisconde de Sabugosa, mas, também, a anarquia santa de uma Emília, Marquesa deRabicó.Nesselivro,vemosencarnadaaideiadeumabibliotecaquenãosódeveconheceros livros,mastambémavida.Umabibliotecaquepodeaté lidarcomoconhecimentoeruditodeumaDonaBenta,masquedevetambémseentregaraosconhecimentosdevidaeos imagináriosdeumTioBarnabé.Do labirinto formadopelasestantesdevembrotar as magias e os encantamentos de um Sítio do Picapau Amarelo, maravilhosacriaçãodeMonteiroLobato.

Boaaventura!TadeuFeitosa

Módulo 1 Metodologias para implantação de

Bibliotecas Comunitárias

é professora da Universidade Federal do Ceará. Tem pós- doutorado em Ciência da Informação pela Universidade de Montreal/ Canadá, doutorado em Educação pela UFC e mestrado em História Social pela UFRJ. Coordena os projetos de extensão Ler para Crer: metodologias para a implantação de bibliotecas comunitárias e o Grupo Convite de Contadores de História. Desenvolve pesquisa sobre mediação da informação e desenvolvimento local. Atua como docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília.

Metodologias para implantação de Bibliotecas Comunitárias

Contando uma história ... Eraumavez,nãomuitodistante,noanode2009,nasciaumprojetochamado“Ler

paraCrer:oficinasitinerantesparaaimplantaçãodebibliotecascomunitáriasemmunicípios cearenses”, desenvolvido como ação extensionista doDepartamento deCiênciasdaInformação,daUniversidadeFederaldoCeará(UFC),eapoiadocomrecursosdoProext2008,doMinistériodaEducação(MEC)eMinistériodaCultura(MinC).OLerparaCrernasceucomosobjetivosde:

• desenvolver metodologias para a implantação de bibliotecas comunitárias emmunicípiosdoCeará,mediantemovimentocolaborativoedagestãoparticipativadaspessoasemsuascomunidades,comoapoiodaUFCedopoderpúblicomunicipal;• darsubsídioparaaformaçãoprofissionaldosestudantesdocursodeBiblioteconomia,demodoafortaleceropapelsocioculturaldofuturobibliotecáriojuntoàsociedade,ampliadoasrelaçõesentreensino,pesquisaeextensão;• capacitarosmoradoresdecadamunicípioatendidoparasetornaremmediadoresde leitura, compreendendo o papel que a biblioteca comunitária deve exercer emrelaçãoàdemocratizaçãodoconhecimentoeà formaçãocidadãdo indivíduoedogruponoqualestáinseridoe• contribuir para a sustentabilidade das comunidades onde estão inseridas asbibliotecas,apoiandoiniciativasvoltadasparaodesenvolvimentolocal,medianteoacessoàinformação.

AsaçõesdoLerparaCrercomeçaramaseefetivarnoanode2009,pormeiodecontatoinicialcomtrêsmunicípios-Aquiraz,ItaitingaeRedenção-queatenderamprontamente a nossa solicitação e embarcaram junto conosco nessa agradávelaventura.

Todootrabalhodesenvolvidonoprojetopartedeaçõesmetodológicasgeradorasde dinâmica para a realização das ações, mediante competências que vão seconstituindodemodoreflexivo,articulado,políticoetécnicoparaodesenvolvimentolocal,emâmbitosociocultural.

OLerparaCrer foisedesenvolvendoemetapas,demodoque tudo fossebem

planejadoeparticipativo:

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• seleçãodosmunicípiosaserematendidos;• contatocomassecretariasdeculturaeeducaçãodosmunicípios;• reuniãonaUFCparaexplicarametodologiaeosobjetivosdoprojeto;• constituiçãodaequipedetrabalho;• elaboraçãodocalendáriodosencontroseoficinas;• implantação,inauguraçãoeacompanhamentodasbibliotecas;e• realizaçãodeencontroscolaborativosentreosmunicípiosenvolvidosparaaelaboraçãodeplanejamentoestratégico.

Paraa realizaçãodessasatividades, foramconstituídasequipesde trabalhoque,

duranteosanosde2009e2010,desenvolverammetodologiasparaaimplantaçãodasbibliotecas comunitárias, tendo como ação inicial a realização de encontros desensibilizaçãonosmunicípios.AsequipesforamconstituídasporprofessoreseestudantesdocursodeBiblioteconomiadaUFCecomrepresentantesdostrêsmunicípiosenvolvidos.

OsencontrosdoLerparaCrertinhamcomoobjetivosensibilizarosmoradoresdosmunicípiosparaaimportânciadaimplantaçãodeumabibliotecaemsuascomunidades,deixandoclaroparaelesosignificadodestaedanecessidadedoenvolvimentodetodosnaefetivaçãodeumprojetoquevisavaaensejaraelesoacessoeademocratizaçãodainformação,bemcomoaformaçãodeleitores.Cadaencontroteriaaduraçãodedoisdias,iniciando com um grande cortejo pela cidade, convocando todos os moradores a sejuntaremanós.

Cortejo Ler para Crer (Encontro em Itaitinga/Ceará)

DatasderealizaçãodoIEncontrodeSensibilizaçãodoProjetoLerparaCrernosmunicípiosenúmerodepessoasatendidasdiretamente:

MUNICÍPIO DATADOSENCONTROS N.DEPARTICIPANTESAQUIRAZ 14e15março2009 185

MACIÇODEBATURITÉ 18e19março2009 255

ITAITINGA 28e29março2009 224

OsEncontrostiveramumaformataçãobásica,medianteaqual foramelaboradasmetodologiasquetivessemaimagemdaculturalocal,desuamemória,históriasdevidaenecessidadesdecadacomunidade,bemcomoaelaboraçãodoperfildosmoradoresdecadamunicípio.Esseestudodacomunidadefoiproduzidomediantepreenchimentodeformulários pelos participantes dos encontros, levando-se em consideração: idade,instrução,gênero,formaçãoprofissional,entreoutrosdados.Seria,podemosdizer,umencontroamoroso¸comoaqueledoqualPauloFreirefala:“[...]oencontroamorosodoshomens[emulheres]que,mediatizadospelomundo,o‘pronunciam’,istoé,otransformam,e,transformando-o,ohumanizamparaahumanizaçãodetodos.”(2010,p.43).

NossaideiadetransformaçãopelodireitoàinformaçãoestáancoradanainquietaçãoenavitalidadequetodososparticipantesdoLerparaCrerdemonstram,oquelevaàfeituradeumaaçãoamorosamenteplanejada,quebuscavercadapessoacomoumserimportanteeplenonoestabelecimentodaautonomiadaquiloquepensamosserumabibliotecacomunitáriaedasuainserçãonacomunidade.

Formatação Básica dos Encontros Primeirodia-atividades8h–CortejosaindodaprincipalPraçadoMunicípio,comaparticipaçãodasautoridades

locais,equipeUFC,comunidadeegruposdecultura:bandasdemúsica,gruposfolclóricos,teatro,coral,crianças,idosos,entreoutros.Objetivo:darvisibilidadeparaacomunidadelocal evidenciaropotencial culturaldomunicípio e a sua relação comumprojetodebibliotecacomunitária,deinformaçãoedeleitura.

9h – Abertura: apresentação artístico-cultural, palavras dos parceiros e dos

colaboradores(UFCeMunicípio).

9h30min – Conferência: LEITURA, BIBLIOTECA E COMUNIDADE (Apresentando o

projetoLerparacrer).

10h – Mesa Redonda: A IMPORTÂNCIA DA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PARA O

MOVIMENTOCULTURALDOMUNICÍPIO

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11h–ExtensãoemMovimento:atividadecultural.

12h-Almoço(realizadocoletivamentenoprópriolocaldoEncontroparadesenvolver

osentimentodepartilhaedeafetividade).

13h30min–17h30min-OFICINAS(turmasformadaspelosparticipantespreviamente

inscritos, levando-seemconsideraçãoadiversidadedas localidades,paraquedepoishouvessetrocadeexperiênciasesaberes).Cadaoficina,realizadaporummembrodaequipeUFC,tinhaascaracterísticaseobjetivos,conformedelineadonasequência.

1) LEITURAEDINAMIZAÇÃODEACERVOS:trabalharcomosparticipantesoconceitode “acervo”pessoal e coletivo, como intuito de gerar a compreensão dos tipos decoleçõesaseremconstituídas,combasenariquezadocumentaldecadacomunidade:fotografias,imagensdiversas,históriasdevida,músicasetc.2) LEITURA,COMUNICAÇÃOECULTURA:identificarjuntamentecomosparticipantes,a riqueza cultural de suas localidades, observando nas suas falas as identidadesculturais,sotaquesedicçõesculturais,alémdetraçarmetodologiasparaarealizaçãodeumadinâmicadecomunicaçãodosvaloresepotenciaisexistentesnaspessoasqueláhabitam.3) LEITURAECONTAÇÃODEHISTÓRIA:trabalharaoralidade–potencialidentificadoemtodasascomunidadesparticipantes–comointuitodeconstituircoletivamenteashistóriasdevida,aspectosdamemória,poesias,cançõeseoutrosvaloresdespertadosduranteaoficina.4) LEITURAEPESQUISA:identificar,juntamentecomosparticipantes,operfildosusuáriosdascomunidades,paraconhecerointeressedeinformaçãoedeleituraaserdesenvolvidonabibliotecacomunitária.Conceituarfontedeinformação,apresentandoaogrupoasdiversasfontesquepodemconstituirumacervo.5) ELABORAÇÃODEPROJETOS:elaborarprojetosdeleitura,apartirdasconcepçõesdeobjetivos,justificativas,metodologiaseidentificaçãodenecessidades,comointuitodecolaborarcoma formataçãode iniciativas,planejamentoebuscaderecursosdefinanciamentos.6) LEITURA,EDUCAÇÃOEMEIOAMBIENTE:levando-seemconsideraçãoofatodeque cadamunicípio trabalhado possui rico potencial ambiental, essa oficina buscaidentificarasriquezaseasbelezasdoslugares:praias,serras,rios,lagos,pessoasetc.Temcomopropósitodiscutiratemáticapreservaçãoerespeitoaoambiente,pormeiodaeducaçãoedainformação.7) LEITURA,CONTAÇÃODEHISTÓRIAEBRINQUEDOTECA:essaoficinadireciona-separaopúblicoinfantojuvenil,tendocomoobjetivoincentivá-losparacolaborarcomoprojetodebibliotecacomunitáriadesuaslocalidades.Tambémvisouàformaçãodeleitorespormeiodashistórias contadas e lidas e daproduçãodebrinquedos commaterialreciclávelereutilizável.

Segundodia8h–12h–OFICINAS(continuação)12h–Almoçoafetivo13h30min–GruposdeTrabalho(organizadospordistritos/comunidades)

Cadagrupo traçariaestratégias,açõese encaminhamentosparaa implantaçãode

bibliotecascomunitáriasemseusdistritosoubairros.OsresumosdosgruposforamapresentadosemplenáriaaofinaldoEncontro.EssesresultadosforamimportantesparaosencaminhamentosdasegundapartedoprojetoLerparaCrer,ouseja,aimplantaçãodasbibliotecas.

DuranteoEncontro,cadamunicípiosemobilizoucomocidadequelêederiquezaculturalprópria.Váriasatividades foramdesenvolvidasnaspraçase emoutros lugarespúblicos:RodasdeLeitura,ContaçãodeHistória,Cantorias,Brincadeiras,Teatro,Capoeiraetc.

A Implantação das Bibliotecas Comunitárias

Após a realização dos encontros, as comunidades, participativamente, semanifestavamsobreointeresseemimplantarbibliotecasemsuaslocalidades,discutindopossibilidades de espaços, formação dos acervos, reuniões entre os moradores econstituiçãodegruposdetrabalho.

Aorganizaçãodoacervoearealizaçãodeatividades,paraaefetivaimplantaçãodas bibliotecas, ocorreram por meio de mutirões. Semanalmente, agendava-se umavisitadaequipedaUFC,constituídapordocentesealunosdocursodeBiblioteconomia,comaproximadamentequinzecolaboradores,paracadaumadasbibliotecas.Ocomitêlocal,responsávelpelabibliotecanacomunidade,comoapoiodassecretariasdeculturae educação, responsabilizava-se pela infraestrutura e logística, como almoço, lanche,transporteetc.paraogrupodetrabalho.

AequipedaUFCorganizava-seemduplasparaodesenvolvimentodasatividades:contaçãodehistóriacomascriançaserealizaçãodeoficinadebrinquedos,separaçãodoslivros,porassunto,carimbosdoslivros,registronolivrodetombo,pregadebolsos,classificaçãoporassuntosecolagemdeetiquetas,preenchimentodefichas,inscriçãodeusuários etc. Todas essas atividades desenvolveram-se devidamente acompanhadaspelaspessoasquedariamcontinuidadeaotrabalho,visandoacapacitá-lasparaagestãoparticipativanaprópriacomunidade.Aofinaldecadadia,contabilizaram-secercade300livrosprontosparaoempréstimoeaformaçãodoscolaboradoresdabiblioteca.

Uma das iniciativas mais significativas do projeto foi criar interação entre osmoradores,paraqueelespercebessemaimportânciadabibliotecanacomunidadeea conscientização de que a biblioteca pertence a todos. Com esse pensamento, osmoradoresseorganizamparaapinturadabiblioteca,limpeza,horáriodefuncionamento,realizaçãodeatividadesculturaisetc.

Paraaconstituiçãodosacervosdasbibliotecas,realizam-secampanhasdedoaçãodelivros,contandotambémcomaparticipaçãodaSecretariadeCulturadoEstadodo

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Ceará,quedoouummilequinhentoslivrosaseremdistribuídosentreasbibliotecas.Adoaçãofeitapeloscolaboradoresé,emsuamaioria,constituídaporenciclopédias,livrosdidáticos e literatura clássica. Por conseguinte, mediante recursos do ProExt 2008,destinadosàcompradeacervo,foramadquiridasobrassolicitadaspelopúblicojovem,ouseja, livrosconsideradosbest sellers,àvendaemlivrarias,quenãoconstituem,emgeral,materialdedoação.Essainiciativapossibilitoumaiorinteressedajuventudepelabibliotecacomunitária,hajavistaquenemmesmoasbibliotecaspúblicasouescolaresdosmunicípiospossuemrecursosparaacompradesseslivros.

Trabalho em mutirão: UFC e comunidade de Patacas, em Aquiraz/CE.

O ponto culminante deste trabalho comunitário é a inauguração festiva dasbibliotecas.NostrêsmunicípiosondeoLerparaCrerseiniciou,foraminauguradasnovebibliotecas,criadasporiniciativaslocais,contandocomgrandepresençadacomunidadeericasapresentaçõesculturaisdosartistaslocais.

ABibliotecaComunitáriaLauraBarros,emCarapió(Itaitinga)foiinauguradanodia13denovembrode2009.Foiumabonitafesta,ocorridaemfrenteàbiblioteca,comaparticipaçãodecercade200moradores,entrecrianças,jovens,adultoseidosos.Contoucomapresençadeprofessores,bolsistasealunosdaUFC,representantesdaAssociaçãodeMoradoresedaPrefeituraeSecretariadeCulturadeItaitinga.

Os resultados iniciais doLerparaCrer, coma implantaçãodenovebibliotecasinauguradas e funcionando ativamente em três municípios cearenses, significam aconquistaerealizaçãodeumsonho-sonhadojuntopelacoordenaçãodoprojeto,cursodeBiblioteconomiadaUFCemoradoresdascomunidadesatendidas.Significaaindaacompreensãodequeépossívelrealizarmuito,mesmocompoucosrecursos,desdequehajaunião,parceriaevontade.

Valesalientar,ainda,queaaçãoextensionista,especificamentenestecaso,cumpriuperfeitamenteoseupapel,deaproximarosconhecimentosproduzidosnosbancosda

Universidadedaquelesquedelaesperamcolherosfrutos,ouseja,asociedade.Épossívelaliarensino,pesquisaeextensão,pelaparticipaçãodosestudantesuniversitários,levandoàscomunidadesosconhecimentosteóricosapreendidosemsaladeauladeformaefetivaeafetiva.

Inauguração da Biblioteca Laura Barros, em Carapió (Itaitinga/CE)

Acompanhamento das Ações Desenvolvidas pelas Bibliotecas Comunitárias Jásabemosdoqueascomunidadessãocapazesquandoseunemembuscadeum

objetivocoletivamenteplanejadoedesejado.AintervençãodaUFC,pormeiodaequipecompostaporprofessoresealunosdocursodeBiblioteconomianoLerparaCrer,foioponta-péinicialparaqueosprópriosmoradoresdecadalocalidadeseguissemcomosseus projetos de bibliotecas comunitárias, não comomeros espectadores, mas comoconstrutoresdeumespaçoinformacionalqueédeles.

UmdossaberesnecessárioscomoqualtrabalhamoséaqueledefendidoporPauloFreire(2010),aoadvogaraideiadequenenhumapráticaeducativa,aautonomiasefaznecessária. Sobessepontodevista, a continuaçãodo trabalho sedápelo respeitoaodireitodascomunidadesdepensaremospróximospassosaseguir.AequipeLerparaCreracompanhaasaçõeseoferececolaboraçãosemprequesolicitada,mediantevisitasperiódicaserealizaçãodereuniõeseoficinasnasbibliotecasimplantadas.

Metas Alcançadas • Fortalecimentodovínculoentreascomunidadeseabiblioteca,pormeiodarealizaçãodepráticasleitoraseprocessosinterativos.• Formaçãoedinamizaçãodeacervosnascomunidades.• Capacitaçãodosmembrosdascomunidades,pormeiodosbolsistas,professoresevoluntários,paradarcontinuidadeaosprojetosdasbibliotecascomunitáriasiniciados.• Constituiçãodeparceriasentreascomunidadeseinstituições,favorecendoabusca

deapoionasaçõescomunitáriasdabiblioteca.• RealizaçãodetrêsencontrosLerparaCreremAquiraz,ItaitingaeRedenção.• Formaçãodeacervoinicial-obrasgerais,literárias,depesquisa,deinteressedecrianças,jovenseadultos-paraoincentivoàformaçãodeleitoresemcadaumadasbibliotecascomunitárias.• Realizaçãomensaldeoficinasdecapacitaçãoparaacomunidade,objetivandodarcontinuidadeàsaçõesdabibliotecacomunitária.• Realizaçãomensaldeencontrosliterários,oficinasdecontaçãodehistóriaerodasdeleituracomosjovensdacomunidade.• Inauguraçãodasbibliotecascomunitárias-aotodo,foraminicialmenteimplantasnovebibliotecas.

Outraação importante foi a realizaçãodosencontrosestaduaisdebibliotecas

comunitárias,doDepartamentodeCiênciasdaInformaçãodaUFC,vislumbrandoastrocassociaiseculturaisdasatividadesdesenvolvidaspelasbibliotecascomunitáriasdurantecadaano,nosmunicípioscearenses,sobaperspectivadacidadaniaedodesenvolvimentolocal.Trata-sedeeventodegranderelevância,tantoparaosmoradoresdascomunidades,usuáriosevoluntários,comoparaosalunosdocursodeBiblioteconomiaeacomunidadeemgeral,pelapossibilidadedeavaliarotrabalhodesenvolvidoeparaplanejarospassosseguintesdeatuaçãoparacadaano.Aideiadecontinuidadedosencontroséqueelesejaanual, demodo apromover o compartilhamento de todososprojetosdebibliotecascomunitáriasdesenvolvidosnoCeará,paraatrocadeexperiênciasesaberes.

OIEncontrodeBibliotecasComunitáriasfundamentou-secomoaçãobaseadaemconceitosdeinovaçãosocial,inclusãoemediaçãodainformaçãoparaodesenvolvimentolocal com suporte na autogestão de bibliotecas comunitárias, acompanhadas pelosdocentesdocursodeBiblioteconomiadaUFC.

Paraasuarealização,contou-secomaaçãocolaborativadeprofessoresealunosdoCursodeBiblioteconomia,emparceriacomascomunidadesenvolvidas,alimentadaporpesquisadecarátermultidisciplinarnoâmbitodasCiênciasSociaisAplicadas.IssodemonstraqueapresençadaUniversidade,emsuasvertentestécnica,socioculturalepedagógica,contribuinoquetangeaodesenvolvimentodemetodologiasativasparaoaprimoramentodasações,principalmentenoqueconcerneaelaboraçãoeimplementaçãodeprojetosdecidadaniaemovimentossociaismediadospela informação,amédioelongoprazo,aseremexecutadospelascomunidades.

Prêmio Vivaleitura 2010

Norteadoemovidoporverabiblioteca,ainformaçãoealeituranãosócomodireitodetodos,mascomoumarealidade,oLerparaCrerfoiagraciadoem2010comoprêmioVIVALEITURA.OreferidoprêmioéumaaçãodemobilizaçãoparaaeducaçãoeaculturanoBrasileintegraoPlanoNacionaldoLivroeLeitura(PNLL),emparceriacomaCâmaraBrasileiradoLivro,aAcademiaBrasileiradeLetraseosMinistériosdaEducação(MEC)eda

Cultura(MinC).Foiinstituídoem2006peloMEC,peloMinCepelaOrganizaçãodosEstadosIbero-AmericanosparaaEducação,aCiênciaeaCultura(OEI).ÉpatrocinadoeexecutadopelaFundaçãoSantillana.

Pode-se afirmar que a conquista e o reconhecimento nacional pelo prêmioVAVALEITURAforamoresultadodeamplotrabalhocoletivo,participativoedinâmico,razãoporquesetemmuitoacomemorar.Atrajetóriadesse“fazerhumano”seaprimoraacadadiaeasexperiênciassãoportasejanelasparaqueoutrosmunicípiosseintegremaoexercíciodatransformaçãopelaleitura,pelodireitodeacessoàinformaçãoepeloreconhecimentodequeasbibliotecassãoosespaçosporexcelênciadesseencontroentreahumanidadeeoconhecimento.

NélidaPiñon(2006),ementrevista,assinalaque“oestímuloàleitura,decertomodo,deveestarassociadoaoestímulodavida”.Aoconcordarcomaescritora,compreende-sequeavidaacontecenasaçõescotidianasdafamília,daescola,dascomunidades,dosgrupossociais,entreamigosenasbibliotecas.Porconseguinte,aleituradeveserapresentadademodoprazerosoeencantador,paraquepossaestartambémassociadaaoladoboadesere estar vivendo em comunidade, de fazer parte do movimento da história construídadiariamente.Eéissoquenosmoveenosfazseguiradiantecomessesonho.

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Módulo 2 Bibliotecas autogeridas e participação comunitária

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Lídia Eugenia Cavalcante

Bibliotecas autogeridas e participação comunitária

Teracessoàinformaçãoeaodesenvolvimentodecompetênciasparaousodessainformaçãoconstituemfatoresdeterminantesparaodesenvolvimentolocalecrescimentode comunidades. Portanto, a reconfiguraçãodo pensamento social, na perspectiva dacondiçãohumana,pelaeducação,paraasustentabilidade,sedámedianteosusossociaiseeconômicosdainformação.Nessesentido,oentendimentodainformaçãocomofatordeterminante para o desenvolvimento social deve ter como foco a realidade de umadeterminadacomunidadeeosseusinteressesenecessidades.

Como oacessoàinformação podecontribuirnodiaadiadacomunidade?

• Paraatomadadedecisõesrelativaàsoluçãodeproblemasespecíficosdocotidiano.• Paraauxiliarpequenoscomercianteseartesãosamelhoraremseunegócio.• Paraapoiarnaimplantaçãodepequenasempresascomunitárias.• Paraauxiliarnocombateàsituaçãodepobrezaexistentenacomunidade,ajudandoacriaratividadesprodutivas.• Paraqueasdonasdecasaajudemseusmaridosamelhoraremarendadafamília;• Paraqueospaisauxiliemnaeducaçãodosfilhos.• Paraofortalecimentodesuasassociações,sindicatos,cooperativasetc.• Paraconseguiremfinanciamentosbancários.• Paraencontrarsoluçõesparaosproblemasdesaúde.• Paraajudararesolverproblemasjurídicos.• Paraestimularapráticadodesenvolvimentolocal.• Paraseunircontraqualquertipodedominação,reconhecendoseusdireitosedeveres.

Essas são algumas sugestões, além de muitas outras possibilidades de usos da

informaçãoqueaprópria comunidadeelencaráno seudiaadia. Isto significaqueosmoradoresdolocalondeabibliotecacomunitáriaestáinseridajáterãoconsciênciadaimportânciado conhecimentoparaodesenvolvimento local e aparticipação social.Ainformaçãonecessitaestarcontextualizadacomouniversoglobal,semperderdevistaasquestõeslocais,demodoasetornarlegítimaparacomunicareinteragircomasinstânciasqueestabelecemaspráticasqueasconsolidam.

A geração de informação ocorre pela consciência coletiva do valor gregário e associativo. Essa ação comunitária relativa ao valor da informação se materializa pela criação de bibliotecas comunitárias geridas pelas próprias comunidades.

Em todo o Brasil, ações individuais e coletivas vão se constituindo, visando aoenfrentamentodasdificuldadessurgidasnocotidiano,pelafaltadeacessoàinformaçãoeàleitura.Decertaforma,énocompartilhamentodasdificuldadesenfrentadasquemoradores de comunidades, carentes de políticas informacionais, se unem parapotencializar recursos, talentos, criatividade e força política para o empoderamentocomunitário.

A criação de bibliotecas comunitárias é, portanto, movimento de colaboração,partilhaeconvivênciaentreseresplurais,dericacompetênciaculturalehumanaparaocombateàexclusão informacional,poispaíssempobrezaépaisricoeminformaçãoecomamploacessoaela.

ElisaMachado(2009,p.6)assimserefereàsbibliotecascomunitárias:

Objetivamente, essas bibliotecas devem criar mecanismos para colaborar nodesenvolvimento da sua comunidade, potencializando os próprios talentos dosindivíduosedascomunidades,constituindo-secomoespaçospúblicosvoltadosparaaemancipação, onde a prática cidadã possa aflorar de forma inovadora, criativa epropositiva.Nessalinhadepensamento,pudemosidentificaralgumasparticularidadesque as distinguem da biblioteca pública: a forma de constituição: são bibliotecascriadas efetivamente pela e não para a comunidade, como resultado de uma açãocultural;aperspectivacomumdogrupoemtornodocombateàexclusãoinformacionalcomoformadelutapelaigualdadeejustiçasocial;oprocessodearticulaçãolocaleofortevínculocomacomunidade;areferênciaespacial:estão,emgeral,localizadasemregiões periféricas; e, o fato de não serem instituições governamentais, ou comvinculaçãodiretaaosMunicípios,EstadosouFederação.

Abibliotecacomunitária,dinâmicaesustentável,deveproveracomunidadecom:

• acervosatualizadosconstituídosporlivros,revistas,folhetos,jornais,CDs,DVDs,filmes,músicasetc.Deveseromaisvariadopossívelparaensejarointeressedecrianças,jovenseadultos;• acervocontendoamemóriadacomunidadecomfotoseobjetospessoaisdeseusmoradores,dasatividadesprodutivas,daculturalocaletc.;

O que são bibliotecas comunitárias?

São espaços informacionais, fruto da ação coletiva ou individual, legitimados pelos moradores a partir do diálogo, da partilha, observações, necessidades e negociações entre os envolvidos. A gestão ocorre de modo dinâmico, mediante trabalho voluntário e ação participativa. Seus acervos são constituídos, na maioria das vezes, de doações, assim como o mobiliário, o prédio e os recursos para a realização das atividades. Como são espaços criados pela ação comunitária voltam-se principalmente para o compartilhamento das ações culturais, o empréstimo de livros e a mediação da leitura de modo criativo e autônomo.

• lugaragradáveleamploparaarealizaçãodeencontros,cursos,reuniõeseassembléiasparaosmoradores;• realizaçãodeatividadesculturaiscomocursos,oficinasdeleitura,contaçãodehistória,rodasdepoesia,exibiçãodefilmes,gincanasetc.;• realizaçãodecursosdecapacitaçãoprofissional,palestraseoutraspossibilidadesparaestimularaeconomiasolidáriaeaagriculturafamiliar.Porexemplo:computadorescomacessoàinternetparapesquisa,realizaçãodetrabalhosescolares,buscadeinformaçõesparasolucionarproblemascotidianosetc.

Sãomuitas as ações que contribuempara a formação de um leitor crítico, para

despertaroprazerdelereproverascomunidadesdeacessoàinformaçãonecessáriaparaodesenvolvimentolocal.Paratanto,ajunçãodeesforçosfamiliares,escolares,sociais,comunitáriosepolíticostorna-secondiçãoindispensávelàpromoçãodacidadaniapeloconhecimentocomorigemnabiblioteca.

A pessoa que lê, além do desenvolvimento da capacidade da escrita, tambémassumepapelsocialmaisatuanteetransformadordasuarealidadeedogrupoemqueestáinserida.AlgunsdosprincipaispapéisdaBibliotecaComunitária:

Abibliotecacomunitáriaé,portanto,veículodevalorizaçãodadiversidadecultural,

caminhoparaageraçãodaautonomiasocialefortalecimentodaeducaçãotransformadora.Nessesentido,éimportanteressaltarqueacomunidadedeverefletirsobreopapel

dabibliotecacomunitáriademodoparticipativoedinâmico,permitindoacontribuiçãodetodos.Issoajudaráapromoveraautonomia,bemcomoatrocadesaberes,apartilhadeideiaseoplanejamentodasatividadesqueserãodesenvolvidasparaavalorizaçãodaculturalocal,daautonomiasocialedaeducaçãoedesuapráticacotidiana.

CULTURAL

BIBLIOTECAS

EDUCACIONAL SOCIAL

Quem é o responsável pela mediação da biblioteca na comunidade? Aprópriacomunidadedevedecidirsobreoqueelaesperaequerqueabiblioteca

proporcione para o desenvolvimento local e para seus habitantes. Dessa forma, apromoçãodeencontroscomapresençadosmoradoreséfundamentalparaessatomadadedecisão,medianteatrocadeideiasediscussãoemgrupo.

Paraosencontros,devemserconvidadososrepresentantesdosváriossegmentosquecompõemalocalidade-comerciantes,educadores,gruposartísticos,presidentesdeassociações,donasdecasa,trabalhadoresrurais,prestadoresdeserviço,representantesdos setores público e privado, estudantes e crianças entre outros cidadãos e cidadãscapazesdedecidir,sugerir,intervireagirdemodoresponsávelemproldocoletivo.Otemaaseramplamentedebatidodeveabordarosseguintespontos:

• Qualaideiadebibliotecacomunitária?• Qualovalordainformaçãoparaacomunidade?• Comoabibliotecapoderáajudarnodesenvolvimentolocal?• Quaisosbenefíciosqueabibliotecacomunitáriapodetrazer?• Quaisosinvestimentosqueacomunidadeestádispostaafazer?• Quemseresponsabilizarápelosencaminhamentosaseremtomados?

Após esse importantemomento,muitos serão os caminhos a serem trilhados e,

paraajudar,oscapítulosqueseseguempoderãocontribuirparatornarabibliotecaumarealidade.

Decisões importantes sobre o local da biblioteca, a composição do acervo, aformaçãodeequipesdevoluntárioseaindicaçãodonomedapessoaougrupodepessoasresponsáveispelasaçõesdevemsertomadasemconjuntoe,depreferência,decididasemassembleia.

A formaçãodeparcerias comasuniversidades, especialmente comos cursosdeBiblioteconomiaedePedagogia,mediantesuasaçõesextensionistas,éessencialparaoacompanhamentodaspráticasaseremdesenvolvidas.Projetoscomessas instituiçõespodem contribuir para solucionar problemas referentes à falta de recursos para amanutençãodasatividadese,especialmente,paraaassessoriatécnicaepedagógica,noquetangeàgestãodesseambienteinformacional.

Implantando a biblioteca comunitária

Aorganizaçãodoacervoearealizaçãodeatividadesnasbibliotecas,paraasuaefetivaimplantação,podemocorrerpormeiodemutirões.Nocasodasbibliotecasimplantadaspelo projeto Ler para Crer, docentes e estudantes do curso de Biblioteconomia, daUniversidade Federal do Ceará (UFC), realizam atividades de capacitação do comitêcomunitáriolocal,constituídopelosvoluntáriosqueassumirãoasatividades.

É importante sublinhar a noção de que todo esse processo é um exercício deautonomiaedecidadaniaquesedáprincipalmentepelointeressedacomunidadeemgarantiroefeitotransformadorqueoacessoàinformaçãopodetrazer.

Referências

FADEL, Bárbara (org.). Desenvolvimento regional: debates interdisciplinares. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MACHADO, Elisa Campos. Bibliotecas comunitárias como prática social no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 10., 2009, João Pessoa. Anais... João Pessoa: UFPB, 2009.

MORIN, Edgar (org.). A religação de saberes: o desafio do século XXI. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

VARELA, Aida. Informação e construção da cidadania. Brasília: Thesaurus, 2007.

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Módulo 3 Bibliotecas comunitárias:

Questões jurídicas

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Alain Souto Rémy é advogado, mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com ênfase em argumentação jurídica. Professor da Unilab e consultor jurídico do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) e do Programa Interlegis do Senado Federal, em projeto com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Atua como colaborador do projeto de extensão “Ler para Crer: metodologias para a implantação de bibliotecas comunitárias”.

Bibliotecas comunitarias: Questões jurídicas

“Quandoestoutrabalhandoemumproblema,nuncapensosobrebeleza.Mas,quandoterminei,seasoluçãonãoébela,euseiqueestáerrada.”

RichardBuckminsterFuller

É importante tratar de algumas questões jurídicas relativas às iniciativascomunitáriasde implantaçãoemanutençãodebibliotecasautogeridas.Aprimeiraeaprincipaldelaséconferirpersonalidadejurídicaaessasbibliotecas.

Noções gerais de Direito e motivos para constituição de uma pessoa jurídica OmundodoDireitofuncionamedianterelaçõesmantidaspelosváriosdetentores

dedireitosedeveresentresi.Essestitularesdedireitosedeverespodemserdedoistipos:pessoasnaturaisoufísicas,deumlado,epessoasjurídicas,deoutro.

Pessoafísicaéaquelaquetemumcorpofísico,ouseja,todoserhumano.Portanto,bastanascerpara terpersonalidade jurídicae assimser titulardedireitosedeveres.Pessoajurídica,poroutrolado,éumgrupodepessoasquesereúnecomalgumpropósitoespecífico,permitidopelalegislação,equeporissoconseguereceberumapersonalidadejurídicaautônomaàdosseusmembros, tendotantodireitosprópriosquantodeverespróprios.

Todasaspessoasqueparticipamdogrupoqueestámontandoumabiblioteca játêm,portanto,cadauma,asuapersonalidadejurídica.Onossoobjetivo,porém,éfazercomqueogrupopossacontarcomumapersonalidadejurídicaprópria,quesejadistintae separada das personalidades jurídicas de cada um dos membros do grupo. Isto éimportantepordiversosmotivos.

Oprimeirodelesépor serdesejávelqueosdireitosquepertençamàbibliotecapermaneçamefetivamentecomela.Destamaneira,serápossívelquesuaexistênciasemantenhacomopassardotempo,independentementedapassagemdoscolaboradoresinternoseexternos.

Defato,ogrupoquehojefazabibliotecafuncionarpodenãoseromesmodeamanhã.Porisso,seabibliotecafuncionarnumlocalquesejaalugado,porexemplo,éinteressantequesejaaprópriabibliotecaalocatáriadesseespaço,emvezdeumdosintegrantesdogrupo(chamadoaquidecolaboradorinterno)desempenharessepapel.Destaforma,seessapessoa,inicialmentecomprometida,vieradeixardeparticipar,abiblioteca(como

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entidadeautônomaqueé)teráresguardadoodireitodealipermanecer.Casocontrário,será aquele indivíduo quem terá esse direito (ou seus herdeiros, caso a razão de terdeixadodeparticiparforoseufalecimento,porexemplo)eseráabibliotecaquedeverásuportartodooônusdeprocuraroutrolocalparafuncionar–ouodepermanecernomesmolocal,masagoracomaindamenossegurançaquantoaousodaqueleespaçoaolongodotempo.

Omesmopodeocorrercomcolaboradoresexternosqueapoiemabibliotecanummomentoequepodemdeixarde apoiá-lanum futuro (às vezesmuitopróximo). Istocostumaacontecerespecialmentequandooparceiroforumainstituiçãoadministradaporgestorestemporários.Éocaso,porexemplo,daAdministraçãoPública:governos,sejamelesmunicipais(osprefeitoseseussecretários),estaduais(osgovernadoreseseussecretários)ou federal(is) (opresidente e seusministros), são temporários.Pode sertambém,noentanto,ocasodeentidadescomoassociaçõesdemoradoresesindicatos,cujasdiretoriastambémestãosujeitasaeleiçãoperiódica.

Épreciso lembrarqueessesparceiros (colaboradoresexternos)podem,de fato,prover significativo apoio para a instalação e funcionamento contínuo da bibliotecacomunitária.Portanto,essaparceriapodeedeveserestabelecidaefortalecida,poisdelapodem surgir recursos úteis e necessários. Aomesmo tempo, porém, o grupo que sededicaàbibliotecacomunitáriafazdoaçãodoseutempo,deenergiaederecursos,itensimportantesdemaisparasermosingênuosouimprudentesquantoàsrelaçõescomoscolaboradores. Isto porque, como se sabe, tanto os colaboradores internos como osexternospodemcolaborarnummomentoedeixardefazê-loemoutro.

Tudonavidaétransitório,étemporário,eaquinãoédiferente.Pessoasinteressadassedesinteressam,pessoasvivasmorrem,mandatosdegovernantesterminam,entidadesricasempobrecemeassimemdiante.Sendoassim,éprecisoqueabiblioteca,comooesforçocomunitárioautônomoqueé,sejaprotegidodosriscosligadosàincertezaquesemprecaracterizaosbenefíciosproporcionadospelosparceiros.

Aliás, os próprios colaboradores, caso possuam interesse real de colaborar,desejarãoproporcionaràbibliotecaumbenefíciosólido,confiável,nãoumavantagemincertaeinsegura.Écomonumjogodefutebol:seodonodaboladesejarealmenteajudarao campeonato do bairro, ele emprestará a bola para o campeonato inteiro,independentementedeseu timeganharepermanecernocampeonatoouperdere serdesclassificado.Se,aocontrário,elesóquercolaborarenquantopuderjogar,entãosuaintençãodeajudarnãoétãosinceraoudesinteressadacomoparecia,nãoémesmo?

Oproblemaaquiésódescobriressa“condiçãoimplícita”depoisqueoseutimesaiudo campeonato–pois semabolapode simplesmentenãohavermais campeonato.Omesmoacontecenabiblioteca:aquelesquesedeclararemparceiros,seforemsincerosnessadeclaração,terãotodoointeresseemgarantirasegurançadabiblioteca.

Vamos aproveitar para continuar a explicação, tratando de um assunto muitoimportanteparaabiblioteca:olocalemqueelafuncionará.Afinal,todabibliotecatemumacervo,queprecisanãosóserarmazenadocomousado.Abibliotecanecessita,portanto,deumespaçoparafuncionar.Comonãoexistemespaçosquenãosejam“deninguém”,todososterrenos,prédios,salas,casaseoutrosespaçosqueabibliotecapoderáusarsão“dealguém”.Essealguémpodeterapropriedadedolocaloupodeterapenasaposse,mas

issonãoimportaaqui(deixemosoestudodos“direitosreais”,comoelessãochamados,paraoutraoportunidade).Importaapenaséqueessapessoatenhaodireitodeusá-lo,poissomentequemtemumdireitosobreumacoisapodedaressemesmodireitoparaoutra pessoa. Chamaremos esse proprietário/posseiro/usufrutuário/etc. de “dono”,aindaqueelenãosejadefatoproprietáriodoimóvel.

Assim,odonodeumespaçoquequeiraserparceirodabiblioteca,fornecendo-lheesseespaço,poderiafazê-lodemuitasmaneiras.Numextremo,estáapossibilidadededoaroimóvel(oupartedele)paraabiblioteca(queprecisaterpersonalidadejurídicaparareceberadoação).Ocorreque,nessahipótese,odoadorestariaentregandopartedopatrimôniosemrecebernadaemtrocaesempossibilidadederecuperá-lo.Portanto,éumaformamuitogravosadecolaborarcomainiciativacomunitária.Nooutroextremo,estáapossibilidadedeodonoautorizarverbalmente(“deboca”)ousodoespaço.Se,contudo,naprimeirahipótese,odonoeraprejudicado,nestasegundaéabibliotecaqueficadescoberta. Issoporquedizer“Podeusar”nãodeixadeserumcontrato.Comonadoação,éumcontratogratuito(nãohácontrapartida),mas,diferentementedadoação,odireitosobreoimóvelnãosetransfereemdefinitivoparaabiblioteca.Aocontrário,essameraautorizaçãoverbaléconsideradaprecária,jáquenãoháprazodefinido:nãoháodireitode“usarporcincoanos”,porexemplo.Equandonãoháprazodefinido,aregraéqueaquelequecedeoespaçopossaretomá-loparasiaqualquermomento.(Alémdisso,senãohánenhumcontratoescrito,comopodeabibliotecamostrarparaoutrosqueelatemodireitodeestarali?)

Portanto,amaneiraidealdefazê-loestánopontomédioentreessesextremos:umcontratoescritocontendoumprazodeterminadodentrodoqualrestagarantidoousodoespaço.Aofazerumcontratodessetipo,abibliotecaficaresguardadacontratodotipoderiscos.

“Sobrequaisriscosestamosfalando?”Imaginemosnestemomentoqueodonodolocalsejaumapessoafísicae,alémdisso,queelefaçapartedoprópriogrupoqueestáimplantandoabiblioteca.Nãoéporqueelemantémumaboarelaçãocomorestantedogruponoprimeiromomentoqueissonãopossamudar,comonocasodeumadesavençaentreesseparceiroeoutro(s)participante(s);podetambémsurgiranecessidadeoudesejo repentino de dinheiro pelo proprietário; pode ser ainda que ocorram o seufalecimentoeodesinteressedeseusherdeirosemmanteremacessãodoespaçoparaabibliotecaeassimemdiante.

Em qualquerdesses casos, se a biblioteca for beneficiada não “de boca”,mas porescrito,elanãoserásurpreendidacomanecessidadedeabandonarolocaldeumahoraparaoutra.Elapoderá,sim,terquedeixarolocalaotérminodealgumdosperíodosdecincoanos(oudedoisanos,oudevinteanosetc.),masseráavisadacomalgumaantecedência(quedeveráestarescritanocontrato)paratertempoparaprovidenciarumanovasede;ouseja,odonodolocalnãoprecisaavisarparaqueocontratosejarenovadoporoutroperíododecincoanos;eleprecisaavisarapenasquandonãoquiserqueocontratosejarenovado.E,seessaantecedêncianãoforrespeitada(porexemplo,seaantecedênciafordeseismesesantesdoperíododecincoanosterminareessediativerpassadosemqueabibliotecatenhasidoavisadadequeodonopretenderetomaroespaço),entãoabibliotecateráodireitodepermaneceralipormaiscincoanos.Essaéasuasegurança.

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Comovimos,porém,nãoésóabibliotecaquesaibeneficiada pelaformalizaçãodocontrato.Oparceiropodesinceramentedesejarajudaraentidadeafuncionar,masnãoprecisa renunciar ao seu imóvel para fazê-lo. Autorizando o seu uso por períododeterminado,oparceiroprotegeabibliotecadeseuprópriofuturo,masnãocondenaasimesmoàperdadefinitivadoseupatrimônio.Afinal,nãoéapenaspormávontadequeodonopodequerer retomar seu espaço. Comoqualquer pessoa (física ou jurídica), esseparceiropodeviraprecisarderecursosfinanceiros,ouusaroimóvelparaneleresidirouparaaresidênciadefamiliar.Assim,acadaperíodo,elepoderáavaliarsepodemanteressadestinaçãoporigualperíodo.

Oparceiropode,porém,nãoserumapessoafísica.Nessecaso,oparceiroseráumapessoa jurídicaprivadaou pública, comoa Prefeitura local. Vale lembrarquemesmoaAdministraçãoPúblicapodecederespaçoscomasegurançadeumprazodeterminadoparapermanênciadeentidadessemfinslucrativos.Imagine-sequeumprefeitoousecretáriomunicipalseempenhanoapoioàbiblioteca.Seesseapoioéreal(esedizrespeitoaotemadacessãodeumespaço,poispodeconsistiremapoiodeoutranatureza),terátodointeresseemrealizaracessãodoespaçocomasegurançadeumprazodeterminado,porexemplo,justamenteemrazãodeistopermitiragarantiadoseuusopelabiblioteca,mesmoemfacedeeventuaismudançasnagestãopolítica:osecretáriopodeserexoneradoporconflitoscomoprefeito;oprefeitopodefalecerourenunciaresersubstituídopelovice-prefeito;omandatopodeterminarenãoocorrerumapossívelreeleição;eassimemdiante.

Contratosexistemjustamenteparaquecadapartecontratantetenhaasegurançaeacertezadecomoaoutraparteirásecomportarsobreoassuntodocontrato.Dessaforma,ambasaspartesseprevinemcontrariscosindesejadoscomotodosessesexemplificados.Alémdisso,umcontratopressupõedireitosedeveresparaambasaspartes,portantoaprópriabiblioteca,aofinaldeumdessesperíodos,podemanifestaroseudesinteressenarenovaçãodocontrato,sejaporterencontradoespaçomaisadequadoparafuncionarouqualqueroutromotivo;e,portanto,ainda,abibliotecanãotemapenasodireitodeusaroespaço,mastambémobrigações:odonopodedefinircondiçõesàsquaisabibliotecadevesesubmeter.Aprimeiraéóbvia,masvalelembrar:abiblioteca(pessoajurídica)deveusaroespaçoparacriaremanterumabiblioteca(atividade).Issoporque,seoparceiroquerceder o espaço para incentivar essa atividade, ele tem o direito de ter isso garantidocontratualmente.Dessa forma, se o grupo fizeroutracoisa como espaçoquenão umabiblioteca(usá-loparafazerumbar,ouaténãousá-loparanada),entãooespaçopoderáserretomadopeloparceiro,mesmoantesdeterminadooprazo.

Essa questão do espaço é muito importante,mas é apenas um dos exemplos deproteçãojurídicadequeprecisaumabibliotecacomunitária.Essaproteção,comoumtodo,é feitamediantea constituiçãocuidadosadeum conjuntodedireitosparaa biblioteca.Essesdireitospodemvirdecontratosoupodemdecorrerdiretamentedealgumanorma:daConstituiçãoFederalouEstadual,deleisfederais,estaduaisoumunicipais,edenormasadministrativas, como portarias e outras. Para a biblioteca poder possuir direitos (sertitulardedireitos),deveantes,noentanto,adquirirsuaprópriapersonalidadejurídica–diz-se“própria”porqueainstituiçãopassaaterpersonalidadejurídicadistintadasdeseusmembros.Jáveremoscomoissoéfeito.Alémdaproteçãodosdireitosdabiblioteca,porém,oumsegundograndemotivoéqueabibliotecatambémtemdeveres,eessesdeveresnãodevemsersuportadosindevidamentepelaspessoasengajadas,demodoanãoonerá-las

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maisdoqueonecessário.Se a biblioteca não tiver personalidade jurídica própria, ela não poderá fazer

contratos, tanto para adquirir direitos (como o direito de usar um espaço), como paraadquirirdeveres.Omelhorexemplosãooscontratosdefornecimentodeserviçosbásicos,comoágua,luz,gás:abibliotecaprecisaráqueessesserviçoslhesejamfornecidospelasrespectivasempresas.Assim,seabibliotecanãotiverpersonalidadejurídica,afaturadaenergiaelétricadolocalondeabibliotecafuncionarnãopoderáestaremseunomeeestará,portanto, em nome de alguma outra pessoa, física ou jurídica. O problema está napossibilidadedessapessoanãoreceberacontadeluz,perdê-la,nãoterdinheiroparapagá-la,nãoquererpagá-laouporqualqueroutromotivofalharnocumprimentodasobrigaçõesrelativasaofornecimentodeenergiaelétrica.Istoprovocariaprejuízoparaabiblioteca–quepodeteraenergiacortada,emúltimainstância–mastambémparaessapessoa,quepodeterseunomeinscritoemalgumcadastronegativodecrédito(SPC,SERASA)pornãoterpagoumacontaqueserefereaumconsumoquenãoéseu.

Aliás,emqualquerdessashipóteses, ficaráabaladaaprópriaconfiançadogruponessapessoa(casosejaeleo responsávelpelopagamentoperiódicodessaconta)oudapessoanogrupo(casoogruposejaoresponsávelporpagaracontaemnomedoterceiro),sejaeleumcolaboradorinternoouexterno.Eissodevesersempreevitado,porque,aindaquepequeno,issoseriaumdesgastenasrelaçõesentreaspessoasenvolvidasnoesforçocomunitário. Com o passar do tempo, sucessivos desgastes dessa natureza podemenfraquecer a coesão do grupo, o que não é desejável por colocar em risco a base dainiciativacomunitária:ogrupoengajado.Portanto,devemsertomadastodasasmedidasparaqueessegrupopermaneçaunidoeempenhadonoempreendimentocomum.Asuaharmoniaéamelhorprovidênciaparaqueabibliotecaexerçaamaiorinfluênciapositivapossívelnacomunidadeemqueestáinserida.Separarosdireitosedeveresdabibliotecadosdireitosedeveresdosseusmembrosé,comosevê,umadasmedidasbásicasparafazercomqueissoaconteça.

Emresumo,vimosqueabibliotecadeveteraprópriapersonalidadejurídica,paraquetantoosseusdireitoscomoosseusdeveresnãoseconfundamcomosdeoutraspessoas(físicasoujurídicas).Vejamosagoracomoissopodeserfeito.

Primeiro passo: estatuto social e ata(s) Paraqueabibliotecatenhapersonalidadejurídica,éprecisosaberqualseráasua

forma,poispessoasjurídicaspodemterváriasformas.Ogrupoquecriaumapessoajurídica,sejaelaqualfor,devedecidirqualformaadotar.

Porexemplo,setrêssóciosresolveremabrirumnegócio(umaloja,umrestauranteetc.),aformamaisindicadaprovavelmenteseráade“companhialimitada”,quepermitequeossóciosrecebamo lucrodonegócio,dentreoutrasvantagens.Cadaforma,noentanto,sópodeserconsideradavantajosaquandoéempregadaparaumpropósitoespecífico,poisoqueévantagemparaumaempresapodenãooserparaumaONG.Comoaconstituiçãodeumabibliotecacomunitárianãoéumempreendimentocomercial,emqueoobjetivodosenvolvidoséobterlucro,éindicadaaformadeassociaçãocivildedireitoprivadosemfinslucrativosousimplesmente“associação”.

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Oquevemaser,então,umaassociação?Éumgrupodepessoastrabalhandoporumobjetivocoletivo,semfinalidade lucrativa,de formaorganizadadopontodevistajurídico.Vejamosoqueissosignificaecomoacontece.

Comonasceumaassociação?Elacomeçapelareuniãodaspessoasengajadasnaintençãodefazerabiblioteca.Nessareunião,aspessoasdecidemcriaraassociaçãoetomamalgumasdecisõesfundamentaissobreaassociaçãoaserinstituída.

Essasdecisõesconstituirão,nofimdascontas,oestatutosocial,documentoondeconstaoqueéabibliotecaqueestásendocriada,nãonosentidodeexplicaroqueéumabiblioteca,masdedizerquebibliotecaéessa,comoestasediferenciadetodasasoutras.Alémdisso,prevêcomosedaráaorganizaçãointernadaassociação.

Esseatodefundarumapessoajurídicaéregistradoporescritoeassinado.Esseregistroéaatadessareunião.

Nessareunião,serãotomadasalgumasdecisõesfundamentais.Primeiro,quaissãoosfinsqueessegrupodesejaalcançar?Podemosfalardedoistiposdefins:mediatoseimediatos.Osfinsmediatossãovaloresouprincípiosqueogrupoquerdesenvolver,comoaintegraçãodacomunidadelocal,oapoioàaprendizagemescolare/ouaparticipaçãodemocrática,porexemplo.Esses finsmediatos,noentanto,sãoalcançadosdealgumamaneiraconcreta,prática.Nocaso,serãoalcançadospelacriaçãoemanutençãodeumabibliotecacomunitária.Esteserá,portanto,oprincipalfimimediato;masogrupopodedecidirquehaveráoutrosfinsimediatoseagregá-losaoempreendimentodabiblioteca.

A segunda decisão fundamental é o nome da biblioteca, o nome da associação.Pode-seadotaronomedolocalemqueestásendocriada(ex.:BibliotecaComunitáriadeSãoMiguel), o nome de alguémque o grupo quer homenagear (ex.: Biblioteca PauloFreire)ououtronomequeogrupoescolha.

Alémdisso,convémincluirdesdeoinícioalgunselementosnoestatutosocial.Sãoelementos que serão exigidos se a biblioteca tensiona se qualificar como OSCIP(OrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico).EssaqualificaçãoéobtidajuntoaoMinistériodaJustiça,eatestaqueaassociação(nocaso,abiblioteca)éumaentidadeprivadaqueprestaserviçosdeimportânciaparatodaasociedade.Comisso,elapassaaobtermais legitimidade e respeito, o que proporciona facilidades, inclusive jurídicas,paraestabelecerparceriascomentidadespúblicaseprivadas.

Parafacilitar,fornecemosummodelodeestatutosocial (Anexo1),quepodeserusado como base para elaboração do estatuto de qualquer biblioteca comunitária.Ressaltamosapenasqueasobservaçõesentrecolchetesdevemserretiradas.Elasservemapenasparaindicarcomodeveserpreenchidoodocumento(semoscolchetes).

Comoexpressadohápouco,aassociaçãotemseufuncionamentointernoorganizadopeloestatuto.Essefuncionamentosedápormeiodeórgãos,cadaumcomatribuiçõesespecíficas. Os órgãos são pequenos grupos dentro do grupo total que têm funçõesespecíficas.

OprimeiroórgãoéaAssembleiaGeral,compostoportodososmembrosdaassociação(maisadiantefalaremossobrequemsãoessesmembros)etemaresponsabilidadesobreasmaioresdecisõesnaassociação.Costumasereunirumavezaoano;masnãoépossível

quetodososmembrosparticipemdetodasasdecisões,sobretodososassuntos.Seriaimpraticável.Poressemotivo,existeumaDiretoria,queéumgrupopequeno,compostopelaspessoasqueseencarregarãodaadministraçãocotidiana.ParasetornarumaOSCIP,exige-se que tenha também um Conselho Fiscal, que é outro órgão da associação,destinadoapenasagarantirquetudoestáemordemnoseufuncionamentoenassuascontas.

Voltando à reunião de fundação da biblioteca, nessa mesma reunião, além daconstituiçãopropriamentedita,ébomjáhaveraeleiçãodaspessoasparaocuparemoscargosdessesórgãosadministrativos(DiretoriaeConselhoFiscal).Comisso,namesmaata,haveráafundaçãoeaprimeiraeleiçãodaDiretoriaedoConselhoFiscal.(Senão,haverianecessidadededuasassembleias,comduasatas.)

AofinaldomandatodaDiretoriaedoConselhoFiscal,deveráhaveroutraeleiçãoparaessesórgãos,oqueéfeitonaAssembleiaGeral.Noestatutoemanexo,porexemplo,essemandatoéde1(um)ano,masesseperíodopodeseraumentado.

Depois de estar fundada a Associação e de serem eleitos os seus cargosadministrativos,etudoissoestarescritonaata,elaseráidealmenteassinadaportodosospresentes,aoladodorespectivonomecompleto,númerodeidentidade,númerodeCPF,estadocivileprofissão.Senãotiversidopossível,oscartórioscostumamaceitaraatacomapenasasassinaturasdopresidentedaassembleia,dosecretárioedopresidenteeleito(nadaimpedeopresidentedaAssembleiasereleitoopresidentedaAssociaçãoe,seocorrer,bastaeleassinarsomenteumavezaata).

Aatadareuniãodefundaçãodeveconter,comonoexemplodoAnexo2,ositensaseguir.a) Datadafundação.b) Localdareunião.c) Finalidadedareunião(queéadefundarumaassociaçãocivildedireitoprivadosemfinslucrativos).d) Aprovaçãodonomedabiblioteca,doendereçodasedesocialedoestatutosocial.e) EleiçãoepossedaDiretoriaedoConselhoFiscal,comrelaçãocontendoosnomesequalificaçãodoeleitos,podendotambémserfeitaemrelaçãoseparada(oseleitosdevem estar entre os fundadores, sendo imprescindível sua assinatura na lista depresença).f) Fixarosmandatos,ouseja, quandocomeçameterminamosmandatosdaDiretoriaedoConselhoFiscal.g) AssinaturasdopresidentedaAssembleia,dosecretárioedopresidenteeleito(nadaimpedeopresidentedaAssembleiasereleitoopresidentedaassociaçãoe,seocorrer,bastaeleassinarsomenteumavezaata).

Aatade fundaçãoseráaprimeirademuitasaserescritaemumlivro-ata,que

pode ser compradoemqualquerpapelaria.Esse livroépreenchidoem todasas suaspáginas(frenteeversodetodasasfolhas).Cadaataéfeitasemparágrafosououtrotipo

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de interrupçõesno texto,demodoquenãoexistamespaçosembrancoemnenhumalinhadaata.Todasasatasdaassociaçãopodemserregistradasnummesmolivro-ata,tantoasdaDiretoriacomoasdaAssembleiaGeraleasdoConselhoFiscal.

Redigidaaata,cadapessoapresenteindicaráseunomecompleto,suanacionalidade,seuestadocivil,suaprofissão,osnúmerosdasuacéduladeidentidadeedoseuCPF,oseuendereçoderesidência (rua,número,bairro, cidade,CEPeUnidadeFederativa)eassinará.

Essamesmaatadeveráserdigitadaeimpressa(oudatilografada)eserassinada(erubricada,casotenhamaisdeumapágina)pelopresidente,pelosecretárioeporumadvogado. Ainda que ela seja assinada apenas por essas três pessoas, contudo, énecessáriolistarosnomesdetodososqueestavampresentes.

O estatuto, que não precisa constar do livro-ata (pode ser apenas impresso oudatilografado),serárubricadoemtodasassuaspáginaseassinadonasuaúltimapágina,pelopresidentedaAssociaçãoeporumadvogado.

Devem ser levados esses dois documentos – ata e estatuto – em duas vias, aocartórioresponsávelpelalocalidadedabiblioteca,juntamentecomumpedidoderegistro,assinadopelopresidente,conformeoAnexo3.Écobradaumataxapeloregistro,quecustaaproximadamenteR$82,00(oitentaereais)pordocumentoaquinoCeará,oquedáumvalortotalaproximadodeR$164,00(centoesessentaequatroreais)peloregistrodaataedoestatuto.

Com isso, sua associação já deve estar registrada; no entanto, para que issoaconteçadaformamenosproblemáticapossível,aquivaiumforteconselho:antesdefazerareuniãoedefundação-eleição,compareçaaocartórioondeseráregistrada abiblioteca e pergunte expressamente quais são as exigências desse cartório pararegistrarumaassociação.Assimserápossívelfazeraata,oestatutoeeventuaisoutrosdocumentos nosmoldes exigidos pelo cartório local e, portanto, prontos para seremregistrados.Infelizmente,oscartóriosvariamasexigênciasecostumasermaisrápidoepráticoatendê-lasdoqueentraremconflito.Podeser,porexemplo,queocartórioestejaemprocessodedigitalizaçãoequeiratambémumaversãodigital(emCD)daataedoestatuto,ouexijareconhecimentodeumaoumaisassinaturas,ouatédispensealgumadas formalidades acimamencionadas.Outro conselho é que todos os documentosdaassociaçãosejamsempreregistradosnomesmocartório.Háinclusivebancosquenegamaaberturadecontaparaumaassociaçãoquandoosdocumentosestãoregistradosemdistintoscartórios.

Segundo passo: Obtenção do CNPJ

Assimcomoaspessoasfísicasdevemtomarprovidênciasperiódicas,comodeclararanualmente o seu imposto de renda, renovar a habilitação de dirigir etc., também aassociação,comoqualquerpessoajurídica,temobrigaçõesiniciaiseperiódicas.AcadaanodeveráhavereleiçãodaDiretoriaedoConselhoFiscaldaassociação,oquedeveráserregistradoemata,eessaatadeverásernovamenteregistrada,nomesmocartórioemqueforamregistradosaatadefundaçãoeoestatuto,paraqueonovorepresentantelegal

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possaatuar(assinar)regularmenteemnomedaassociação.Existem ainda outros registros que toda pessoa jurídica deve fazer, como no

MinistériodoTrabalho,edeclaraçõesperiódicas,comoaRelaçãoAnualdeInformaçõesSociais (RAIS) e aGuia do FundodeGarantia e Informações à Previdência (GFIP) aoMinistériodoTrabalho;adeclaraçãodeImpostodeRendadePessoaJurídica(IRPJ)eaDeclaraçãodeInformaçõesdaPessoaJurídica(DIPJ)àReceitaFederal.Nãoépossíveltratardetodosaqui;contudo,oregistrojuntoaoCadastroNacionaldePessoasJurídicas,doMinistériodaFazenda,éindispensável,sendovistocomoumaespéciede‘carteiradeidentidade’dapessoajurídica.

Paraobtê-lo,éprecisoiraoórgãomaispróximodaReceitaFederal,comaatadefundaçãoeoestatuto,registradosemcartório,epreencherosformuláriosadequados(documento básico de entrada e ficha cadastral da pessoa jurídica), assinados pelorepresentantelegaldaassociação(opresidente,queéquemassinaemnomedaentidade).

Feitosessesdoisprimeirospassos,pode-sedizerqueaassociação“existe”,dopontodevistajurídico.

Terceiro passo: regularização da sede

Éprecisoregularizarapermanênciadabibliotecanasuasede,jáqueelaterásidocriada(terásetornadoumaentidadecompersonalidade jurídica independentementedaspersonalidadesdosseusfundadores)eestaráfuncionandoemalgumespaço.Issojáfoivisto.

Podeserqueesselugarjáestejasendousadopelabiblioteca,masatéapropriedadeoupossesertransferida,comtodaaburocraciaqueissoenvolve,juridicamente,elenãoé‘dabiblioteca’eaindaédapessoaemcujonomeestáaescritura.

PodetambémserqueolugarsejadepropriedadedoEstadoouque,poroutrarazãoqualquer,quemestejafornecendoaqueleespaçonãotenhaapropriedade.Nessecaso,aassociaçãoreceberáoqueapessoatemparalhedar:apossedoespaço.AquinoCeará,oIDACEcostumacuidardessetipoderegistro(detransferênciadeposse).

Epodeser,comovimosnaprimeiraseção,queoproprietárioouposseirodolocalfaçaumcontratocedendoousodoespaçoporprazodeterminadorenovável.

Emqualquercaso,érecomendávelcontarcomaparticipaçãodeumadvogado,jáque há termos técnicos e detalhes a serem observados. As bibliotecas comunitáriaspodemencontrar auxílio jurídico juntoaosdefensorespúblicos estaduais e juntoaosescritórios-modelodasfaculdadesdeDireito.

Antesdepassaraopróximoassunto,éprecisoesclarecerque,seoimóvelobjetodecontratodessetipofordoPoderPúblico,haveránecessidadedeautorizaçãolegislativa.IstosignificaqueoPoderLegislativo(CâmaraMunicipal,AssembleiaLegislativaEstadualouCongressoNacional)teráquefazerumaleiautorizandooPoderExecutivo(GovernoMunicipal,EstadualouFederal,respectivamente)acederoimóveldeformanãoprecária,ouseja,deformaqueaquelequerecebaousodoimóveltenhaasegurançadecontarcomeleporprazodeterminado.Assim,senãohouveressalei,oGovernopoderetomá-loa

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qualquermomento,oquetirariatodaasegurançadequesefaloumaisacima.Anecessidadedeumaleiparaissopodeparecerabsurda,maséamaneiraquese

encontrou para que os políticos (do Executivo) não beneficiem imoralmente pessoasquaisquer cujas atividades nada têm de interesse público. Infelizmente, não há umainstância de controle dos outros políticos (do Legislativo) que controlam aquelesprimeiros. Aliás, essa pergunta – “quem controla o controlador?” – é uma perguntafrequentenoDireito,masnuncapode ser satisfatoriamente respondida, pois semprehaveráuma‘pontasolta’,oquelevaàconclusãojáestabelecidanasabedoriapopular:nãoadiantaseremboasasinstituições,senãoforembonstambémoshomens.

Quarto passo: Alvará municipal de funcionamento

Alémdeabibliotecaterasegurançadepoderinvestirtempo,trabalho,dedicaçãoerecursosnoseuimóvelepodercontarcomseuusoporlongoprazo,podesernecessárioqueaPrefeituraautorizeousodoimóvel,paraasatividadesdabiblioteca.

O presidente da associação deve comparecer à Prefeitura com a ata e estatutoregistradosecomodocumentoreferenteaoIPTU(ImpostoPredialeTerritorialUrbano)do imóvel, pedindo o alvará (uma autorização) de funcionamento. Pode ser que nomunicípionãoseexijaalvaráparaofuncionamentodeumabiblioteca,ouquenãoseexijaalvarápara a região específicaondeela está instalada,mas éprudente comparecer àAdministração Municipal já com a documentação para se informar sobre esseprocedimentoe,sefornecessário,realizá-loassimquepossível.

Estas noções não esgotamas questões jurídicas que afetama atividadede umabibliotecacomunitária,maspermitemqueogruponelaengajadopossaencontrarnoDireitoumrespaldomínimoparaqueoseuempreendimentosejabem-sucedido.

Referências

BRASIL. Lei Federal n.º 6.015/1973. Dispõe sobre os registros PÚBLICOS, e dá outras providências. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L6015COMPILADA.HTM>. Acesso em: 16 jul. 2011.

BRASIL. Lei Federal n.º 9.790/1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse PÚBLICO, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9790.htm>. Acesso em: 16 jul. 2011.

BRASIL. Lei Federal n.º 10.406/2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.HTM>. Acesso em: 16 jul. 2011.

ANEXO1

MODELODEESTATUTO

CAPÍTULOIDADENOMINAÇÃO,SEDEEFINS

Art.1º.ABiblioteca Comunitária [nome da entidade], doravante denominadaBiblioteca,constituídaem [dia,porextenso]de [mês,porextenso]dedoismile[ano,porextenso]sobaformadeassociação,éumapessoajurídicadedireitoprivado,semfinslucrativos,eduraçãoportempoindeterminado,comsedeàRua , n.º , no Município de ,Ceará.

Art.2º.ABibliotecatemporfinalidades:I –promoveroacessoaoconhecimento,àeducação,àcultura;II –mantersaladeleiturapermanente,serviçosdepesquisaescolareempréstimosdomiciliaresdelivroserevistas;III –incentivarepromoverasmanifestaçõesculturaiseartísticaslocais,bemcomooacessolocalàculturaeàarte;IV –promoverpalestras,oficinais,cursos,exposições,espetáculosedemonstraçõesdemúsica,dança,teatro,etc.;V – promover a inclusão digital, atravésde cursos de informática, acesso à internet e outrasmedidas;VI – congregarmoradores da região no ideal comumdo bem estar social, proporcionando oatingimentodequalidadeelegitimidaderepresentativa,mantendosuaindependênciapolítico-partidária;VII –promoveraética,apaz,acidadania,osdireitoshumanoseademocracia;VIII –proverassistêncianasáreasdeeducaçãosaúde,cultura,meioambiente,esporteelazer;IX –favoreceraefetividadedosdireitosdacriança,doadolescente,doidosoedodeficiente.Parágrafoúnico.ABibliotecanãodistribuientreosseussóciosouassociados,conselheiros,diretores,empregadosoudoadoreseventuaisexcedentesoperacionais,brutosoulíquidos,dividendos,bonificações,participaçãoouparcelasdoseupatrimônio,auferidosmedianteoexercíciodesuasatividades,eosaplicaintegralmentenaconsecuçãodoseuobjetivosocial.

Art.3º.Nodesenvolvimentodesuasatividades,aBibliotecaobservaráosprincípiosdalegalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência e não fará qualquerdiscriminaçãoderaça,cor,gênerooureligião.Parágrafoúnico.ABibliotecasededicaàssuasatividadespormeiodaexecuçãodiretadeprojetos,programasouplanosdeaçõeseparceriascomoutrasentidadesafinsaoseuobjetivosocial.

Art.4º.ABibliotecapoderáterumRegimentoInterno,aprovadopelaAssembleiaGeral,quedisciplinaráseufuncionamento.

Art.5º.Afimdecumprirsuasfinalidades,aBibliotecapoderáseorganizaremtantasunidadesdeprestaçãodeserviços,quantassefizeremnecessárias,asquaisseregerãopelasdisposiçõesestatuárias.Parágrafoúnico.Osserviçosdeeducaçãooudesaúdeaqueaentidadeeventualmentesedediqueserãopromovidosgratuitamenteecomrecursospróprios,observando-seaformacomplementar

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departicipaçãodasorganizaçõesdequetrataaLeinº9.790/99,sendovedadoocondicionamentodaprestaçãodeserviçoaorecebimentodedoação,contrapartidaouequivalente.

CAPÍTULOIIDOSSÓCIOS

Art.6º.ABibliotecaéconstituídapornúmeroilimitadodesócios,distribuídosnasseguintescategorias:I –efetivos;II–leitores.§1º.SãosóciosefetivososfundadoreseosqueadquiriremessacondiçãopordecisãodaDiretoria.§2º.Sãosóciosleitorestodososqueassimrequererem.

Art.7º.Ossóciosefetivosemdiacomsuasobrigaçõestêmdireitoa:I–votareservotadoparaoscargoseletivos;II –tomarpartenasAssembleiasGerais.

Art.8º.Ossóciosleitoresemdiacomsuasobrigaçõestêmdireitoa:I–usaroserviçodeempréstimodaBiblioteca;II–requereràDiretoriaamudançadecategoriaparasócioefetivo.

Art.9º.Ossóciostêmaobrigaçãode:I –cumprirasdisposiçõesestatutáriaseregimentais;II –acatarasdecisõesdaDiretoriaedaAssembleiaGeral;III –cumprircompontualidadetodasasobrigaçõesassumidascomabiblioteca;IV –compareceràsreuniõesordináriaseextraordináriasdosórgãosdequeparticipem.Parágrafoúnico.OsócioquedeixardecumprirsuasobrigaçõespoderáserexcluídopordecisãodaAssembleiaGeral,dadaoportunidadededefesa.

Art.10.Ossóciosnãorespondem,nemmesmosubsidiariamente,pelosencargosdaBiblioteca.

CAPÍTULOIII

DAADMINISTRAÇÃO

Art.11.ABibliotecaseráformadapor:I-AssembleiaGeral;II-Diretoria;III-ConselhoFiscal.

Parágrafoúnico-ABibliotecanãoremunera,sobqualquerforma,oscargosdesuaDiretoriaedo Conselho Fiscal, bem como as atividades de seus sócios, cujas atuações são inteiramentegratuitas.

Art.12.AAssembleiaGeral,órgãosoberanodaBiblioteca,seconstituirádossóciosefetivosemplenogozodeseusdireitosestatutários.

Art.13.CompeteàAssembleiaGeral:I -elegeraDiretoriaeoConselhoFiscal;II -decidirsobrereformasdoEstatuto,naformadoart.33;

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III -decidirsobreaextinçãodaBiblioteca,nostermosdoartigo32;IV -decidirsobreaconveniênciadealienar,transigir,hipotecaroupermutarbenspatrimoniais;V-aprovarRegimentoInterno.

Art.14.AAssembleiaGeralserealizará,ordinariamente,umavezporanopara:I-aprovarapropostadeprogramaçãoanualdaBiblioteca,submetidapelaDiretoria;II-apreciarorelatórioanualdaDiretoria;III-discutirehomologarascontaseobalançoaprovadopeloConselhoFiscal.

Art.15.AAssembleiaGeralserealizará,extraordinariamente,quandoconvocada:I-pelaDiretoria;II -peloConselhoFiscal;III -porrequerimentode10%(dezporcento)dossóciosefetivos.

Art.16.AconvocaçãodaAssembleiaGeralserá feitapormeiodeeditalafixadonasedee/oupublicadona imprensa local, por circularesououtrosmeios convenientes, comantecedênciamínimade5(cinco)dias.

Art.17.ABibliotecaadotarápráticasdegestãoadministrativa,necessáriasesuficiente,acoibiraobtenção,deformaindividualoucoletiva,debenefíciosevantagenspessoais,emdecorrênciadaparticipaçãonosprocessosdecisórios.

Art.18.ADiretoria,órgãoencarregadodaadministraçãodaBiblioteca,seráconstituídaporumPresidente,umVice-Presidente,Secretário-GeraleTesoureiro.§1º.OmandatodaDiretoriaseráde1(um)ano.§2º.Nãopoderãosereleitosparaoscargosdediretoriadaentidadeossóciosqueexerçamcargos,empregosoufunçõespúblicasjuntoaosórgãosdoPoderPúblico.

Art.19.CompeteàDiretoria:I–elaboraresubmeteràAssembleiaGeralapropostadeprogramaçãoanualdaBiblioteca;II–executaraprogramaçãoanualdeatividadesdaBiblioteca;III –elaborareapresentaràAssembleiaGeralorelatórioanual;IV –reunir-secominstituiçõespúblicaseprivadasparamútuacolaboração,ematividadesdeinteressecomum;V –contrataredemitirfuncionários.

Art.20.ADiretoriasereuniránomínimoumavezpormês.

Art.21.CompeteaoPresidente:I -representaraBibliotecajudicialeextrajudicialmente;II -cumprirefazercumpriresteEstatutoeoRegimentoInterno;III-presidiraAssembleiaGeral;IV-convocarepresidirasreuniõesdaDiretoria.

Art.22.CompeteaoVice-Presidente:I -substituiroPresidenteemsuasfaltasouimpedimentos;II -assumiromandato,emcasodevacância,atéoseutérmino;III -prestar,demodogeral,suacolaboraçãoaosdemaismembrosdaDiretoria.

Art.23.CompeteaoSecretário:I-secretariarasreuniõesdaDiretoriaedaAssembleiaGeraleredigirasatas;II-publicartodasasnotíciasdasatividadesdaentidade.

Art.24.CompeteaoTesoureiro:I -arrecadarecontabilizarascontribuiçõesdosassociados,rendas,auxíliosedonativos,mantendoemdiaaescrituraçãodaBiblioteca;II -pagarascontasautorizadaspeloPresidente;III -apresentarrelatóriosdereceitasedespesas,semprequeforemsolicitados;IV -apresentaraoConselhoFiscalaescrituraçãodaBiblioteca,incluindoosrelatóriosdedesempenhofinanceiroecontábilesobreasoperaçõespatrimoniaisrealizadas;V -conservar,sobresuaguardaeresponsabilidade,osdocumentosrelativosàtesouraria;VI-mantertodoonumerárioemestabelecimentobancário.

Art.25.OConselhoFiscalseráconstituídopor3(três)membrose1(um)suplente,eleitospelaAssembleiaGeral.§1ºOmandatodoConselhoFiscalserácoincidentecomomandatodaDiretoria.§2ºEmcasodevacância,omandatoseráassumidopelorespectivosuplente,atéseutérmino.

Art.26.CompeteaoConselhoFiscal:I -examinaroslivrosdeescrituração;II -opinarsobreosbalançoserelatóriosdedesempenhofinanceiroecontábilesobreasoperaçõespatrimoniaisrealizadas,emitindopareceresparaaAssembleiaGeral;III - requisitaraoTesoureiro,aqualquer tempo,documentaçãocomprobatóriadasoperaçõeseconômico-financeirasrealizadaspelaBiblioteca;IV -acompanharotrabalhodeeventuaisauditoresexternosindependentes;V-convocarextraordinariamenteaAssembleiaGeral.Parágrafoúnico.OConselhoFiscalsereuniráordinariamenteacada6(seis)meseseextraordinariamentesemprequenecessário.

CAPÍTULOIV

DOPATRIMÔNIO

Art.28.OpatrimôniodaBibliotecaseráconstituídodebensmóveis,imóveis,veículos,semoventes,açõesetítulosdadívidapública.

Art.29.NocasodedissoluçãodaBiblioteca,orespectivopatrimôniolíquidoserátransferidoaoutrapessoa jurídicaqualificadanos termosdaLei9.790/99,preferencialmenteque tenhaomesmoobjetivosocial.

Art.30.NahipótesedaBibliotecaobtere,posteriormente,perderaqualificaçãoinstituídapelaLei 9.790/99, o acervo patrimonial disponível, adquirido com recursos públicos durante operíodoemqueperdurouaquelaqualificação,serácontabilmenteapuradoetransferidoaoutrapessoa jurídicaqualificadanos termosdamesmaLei, preferencialmenteque tenhaomesmoobjetivosocial.

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CAPÍTULOVDAPRESTAÇÃODECONTAS

Art.31.AprestaçãodecontasdaBibliotecaobservaráasseguintesnormas:I -osprincípiosfundamentaisdecontabilidadeeasnormasbrasileirasdecontabilidade;II -apublicidade,porqualquermeioeficaz,noencerramentodoexercíciofiscal,aorelatóriodeatividadesedasdemonstraçõesfinanceirasdaentidade,incluindoascertidõesnegativasdedébitosjuntoaoINSSeaoFGTS,colocando-osàdisposiçãoparaoexamedequalquercidadão;III-arealizaçãodeauditoria,inclusiveporauditoresexternosindependentesseforocaso,daaplicaçãodoseventuaisrecursosobjetodeTermodeParceria,conformeprevistoemregulamento;IV-aprestaçãodecontasdetodososrecursosebensdeorigempúblicarecebidosseráfeitaconformedeterminaoparágrafoúnicodoart.70daConstituiçãoFederal.

CAPÍTULOVI

DASDISPOSIÇÕESGERAIS

Art.32.ABibliotecaserádissolvida(o)pordecisãodamaioriaabsolutadossócios,emreuniãoextraordinária da Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim, especialmenteconvocadaparaessefim,quandosetornarimpossívelacontinuaçãodesuasatividades.

Art.33.OpresenteEstatutopoderáserreformado,aqualquertempo,pordecisãodamaioriaabsolutadossócios,emreuniãoextraordináriadaAssembleiaGeralespecialmenteconvocadaparaessefim,eentraráemvigornadatadeseuregistroemCartório.

Art.34.OscasosomissosserãoresolvidospelaDiretoriaereferendadospelaAssembleiaGeral.

ANEXO2

MODELODEATADEFUNDAÇÃODEASSOCIAÇÃO

Àsdezoitohorasdodiadezdeoutubrodedoismilequatro,naruaSetedeSetembron.º100,nacidadedeFortaleza,Ceará,estandopresentesJoãoSilvaOliveira,MariaFerreiraAlves,AntônioAlvesSerra,AparecidaFonsecaGuimarães,DéboraAbreuLima,CláudiaOliveiraSouto,AntônioPereiraAlves,LuizRodriguesVieira,PedroAugustoRibeiro,RobertaSádeFreitas,AlexandredosReisMarques,IsabelRibeiroSilvaeCéliadeJesusDiogo,iniciaram-seosatosnecessáriosparaafundaçãodaBibliotecaComunitária [nomedabiblioteca],associaçãocivildedireitoprivadosemfinslucrativos.ForamindicadospelospresentesparaassumirapresidênciaeasecretariadaassembleiadefundaçãodaentidadeJoãoSilvaOliveiraeMariaFerreiraAlves,respectivamente. Aprovados os nomes por unanimidade, deram por aberta a Assembleia,iniciandopelaleituradapautaparaospresentes,constandoadiscussãoeaprovaçãodoestatuto,eaeleiçãoepossedaDiretoriaedoConselhoFiscal.Logo,opresidenteencaminhouoprocessodeleitura,discussãoeaprovaçãodoestatutosocial.Aleiturafoifeitaartigoporartigo,sendocadaumdebatidoeemseguidaaprovado.Aofinal,oestatutofoiaprovadounanimemente.Oestatuto aprovado é o seguinte: [aqui são transcritos, integralmente, os estatutos sociaisaprovados;noentanto,nacópiadaataqueéenviadaaocartório,estaparteéretiradaporqueosestatutos são apresentados em separado]. Com o estatuto aprovado, o presidente abriu osdebatesarespeitodaeleiçãodaDiretoriaedoConselhoFiscaldaAssociação.Porunanimidadeforameleitos:AntônioAlvesSerra,presidente;AparecidaFonsecaGuimarães,vice-presidente;Débora Abreu Lima, secretária; Cláudia Oliveira Souto, tesoureira; Antônio Pereira Alves,membrodoconselhofiscal;LuizRodriguesVieira,membrodoConselhoFiscal;PedroAugustoRibeiro,membrodoConselhoFiscal;RobertaSádeFreitas,suplentedoConselhoFiscal.Apósaeleição,opresidentedaAssembleiaosdeclarouempossados.Nadamaishavendodequetratar,ocoordenadordaAssociaçãodeclarou,às21horas,encerradosostrabalhosdaAssembleia,daqualeu,MariaFerreiraAlves,queasecretariei,lavreiapresenteata,quevaiassinadapormim,pelopresidentedaAssembleia,pelopresidentedaAssociaçãoepelosdemaisassociadospresentes.

SecretáriadaAssembleia:MariaFerreiraAlves[assinatura]

CoordenadoradaAssembleia:JoãoSilvaOliveira[assinatura]

CoordenadordaAssociação:AntônioAlvesSerra[assinatura]

ANEXO3

MODELODEREQUERIMENTOPARACONSTITUIÇÃODEASSOCIAÇÃO

ILMO.SR.OFICIALDOºREGISTROCIVILDEPESSOASJURÍDICADE [cidade]/CE [nomedopresidente], residenteedomiciliado(a)nestacapital à [endereço],representantedaBibliotecaComunitária [nomedabiblioteca],comsede à [endereço],vempelopresenterequereroregistrodosdocumentosanexos(atadefundaçãoeestatutosocial)dareferidaassociaçãocivildedireitoprivadosemfinslucrativosnoRegistroCivildePessoasJurídicasaseucargo.

[cidade],[dia]de [mês]de [ano].

[assinaturadopresidente]

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Módulo 4 Elaboração de projetos de leitura para

bibliotecas comunitárias

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Ana Maria Sá de Carvalho é doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará, mestra em Ciência da Informação - Universidade Federal da Paraíba, especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem - convênio Universidade Federal do Ceará e Universidade Federal do Rio de Janeiro, e graduada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal do Ceará. Professora associada aposentada da UFC, mantendo vínculo com a mesma universidade como orientadora de monografias e coordenadora dos projetos de extensão: Biblioteca Comunitária do Conjunto Ceará, Práticas Leitoras nas Escolas Públicas do Conjunto Ceará e Divulgação da BCC: Abrindo Caminhos para Interagir com a Comunidade. Presidente da Sociedade de Amigos da Biblioteca Comunitária do Conjunto Ceará. Possui textos publicados em periódicos das áreas de Ciência da Informação/ Biblioteconomia, Educação e na Revista Leitura: Teoria e Prática. Atua principalmente em administração e dinamização de bibliotecas escolares, públicas e comunitárias, educação, formação do leitor, teoria e prática da leitura - ensino e pesquisa - e políticas de leitura.

Elaboração de projetos de leitura para bibliotecas comunitárias

Apresentação do tema Nestemódulo,otemaabordadoéaelaboraçãodeprojetosdeleituraparabibliotecas

comunitárias.Antesdessaabordagemfaz-senecessária,entretanto,umarápidareflexãosobreotermo“projeto”eaessênciadeseusignificado,visandoadesvendararelaçãoexistentenaelaboraçãodeprojetosdeleituraeaimplantaçãodemetodologiasvoltadasàcriaçãoedinamizaçãodebibliotecascomunitárias,considerandoquearelevânciadeumabibliotecaestáintrinsecamenteligadaaoprojetosocialdeleituraqueelaoferece.Portanto,quandofalamosemdinamizaçãodebibliotecas,estamosfalandodeacessoàinformaçãoedepromoçãodeleitura,nosseusmaisdiversossuportes,compreendidoscomo “base física (qualquermaterial, comopapel,plástico,madeira, tecido, filme, fitamagnéticaetc.)destinadosareceberainformação”.(HOUAISS;VILLAR;MELOFRANCO,2001,p.2643).

Essas informações evidenciam a diversidade dos suportes informacionais queintegramoacervodeumabiblioteca,ouseja,numabibliotecacomunitáriadeverãoestaracessíveisaoleitorosmaisdiversossuportesdeleitura,comorevistas,livros,CDs,DVDs,mapas,atlasejornais,nãopodendofaltarosváriosprogramasacessáveisviainternet.Computadores,TVs,datas-showetc.sãomodernosequipamentostecnológicosdevalorincontestávelparaadinamizaçãodeumabiblioteca.Nessesentido,projetosdeleituravoltadosparaaqualificaçãodoacervo,assimcomoparasuaatualização,deverãoserumapreocupaçãoconstantedaequiperesponsávelpelabibliotecacomunitária.Umprojetocomo esse, contudo, deve estar sempre em consonância com os seus leitores, nãoesquecendoquediferentescontextosexigemleiturasdistintas.

Aideiadeprojetoremetesempreaofuturo,ouseja,éumdesejoderealização.Nopresente caso, pode ser a necessidade de resolver um ou vários problemas, comodespertaracomunidadeparaovalordaleituranavidacotidiana;contribuirparaelevaro nível de informação dos jovens; divulgar o acervo da biblioteca; envolver pais eprofessoresnaarticulaçãodeaçõesdirecionadasadespertarnascriançaso interessepelaleitura;dinamizarabiblioteca,utilizandooacervo;prepararmediadoresdeleitura,dentreoutros.

Projetoéumabuscadeproximidadecomaqualificaçãoe/oumelhoriadealgojáexistente, por meio de atividades inovadoras capazes de suprir as necessidadesdetectadas.

Assimsendo,projetodeleiturapodeserdefinidocomotentativadecontribuirparaqueamelhoriadoensino,comoumtodo,porviadaleitura,oumesmoavontadedesuprirainexistênciadeumabibliotecaescolar,assimcomocorrigiramáatuaçãoda

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bibliotecanoseucontexto.Demaneirageral,aideiadeprojetoestáendereçada,também,paraanecessidade

deorganização,buscandoalcançaroprevistoouodesejado.Projetoconfigura,também,uma ideia de previsibilidade, que deve ser exposta num registro bibliográfico, bemexplicitada,percorrendoasdiversasetapasessenciais,paraqueessaideiasejaassumidapor todosaquelesenvolvidosnaexecuçãodoprojeto, inclusiveosque irãocontribuirfinanceiramente para a sua realização. Com esse enfoque, a palavra projeto carregaconsigosentidosdiversos.SegundooDicionárioHouaiss,hápoucocitado,podeabranger“ideia,desejo,intençãodefazerourealizar(algo),futuro;descriçãoescritaedetalhadadeumempreendimentoaser realizado;esboçooudesenhode trabalhoaserealizar;plano.”(HOUAISS;VILLAR;MELOFRANCO,2001,p.2308).

Éessa,portanto,aconotaçãodeprojetodeleituraqueseráapresentadanestetexto,naexpectativadefornecercontribuiçõesoportunasefactíveisparapessoasinteressadasem desenvolver projetos nas bibliotecas comunitárias, igualmente que gostariam dealocarverbasconjuntas,emparceriase/ouadesões.

Compreendidaaideiade“projeto”comoumamaneiradeseorganizar,antevendoocaminho a ser percorrido, este poderá constituir um apoio expressivo para osresponsáveis pela organização de uma biblioteca comunitária. Esse apoio serámaiorquandoacomunidadesemostrarinteressadaeparticiparefetivamentedaelaboraçãodoprojeto,comprometendo-secomaboaatuaçãodessanovainstituiçãocultural.

Aparticipaçãodacomunidadenosprojetosdeumabibliotecacomunitáriaimplicaa premência de selecionar um referencial teórico que seja compatível com a atuaçãocomunitária, e com os objetivos propostos para a biblioteca na elaboração de seusprojetosdeatuação.Nessaordem,escolherumreferencialbásicodeatuaçãoserevestedeumaferramentade trabalhovaliosa,enãodecomplicador.Daíse fazernecessáriodesmistificarapalavrateoriacomoumfatorcomplexoparaautilizaçãocotidiana.Nessesentido, pode-se considerar teoria como concepções informacional e de leitura,sistematicamente organizadas, provenientes de práticas bem-sucedidas e que podemembasaroprojetodesdesuaelaboraçãoatéaexecução.Sãopensamentosfundamentados,emborasusceptíveisdereformulaçõeseventuais.

Partindo do princípio de que biblioteca comunitária é aquela criada no seio dacomunidade,ouseja,pelaspessoasquehabitamumdeterminadolocal,aadoçãodeumpensamento sociointeracionista seria bastante coerente com a situação. A interaçãosocial deverá ser uma prática constante exposta nessa instituição, voltada para odesenvolvimento social, cultural e educacional do seu povo. A seleção do diálogo, avalorizaçãododesenvolvimentodaspotencialidadesalheiaseorespeitoaosemelhantesãoenfoquesestratégicosdocumprimentodosobjetivospretendidos.

Acomunidadeintencionadaabuscarmelhorqualidadedevidaetransformaroseucontexto,naqualabibliotecacomunitáriaestáinserida,alia-seaessafundamentaçãoqueembasaráosprojetosde leituranosquatro princípios educacionais propostospelaUNESCO para o século XXI (DELORS, 2000), que complementam o pensamentosociointeracionistapropostoacima.

a) Aprenderaconhecerb) Aprenderafazerc) Aprenderaconviverd) Aprenderaser

Esses pilares estão em consonância comas transformações sociais, econômicas,

políticasecultuais,exigindonovasmaneirasdepensar,naaquisiçãodosaberedosaber-fazer.Essasaprendizagenssão,segundoaUNESCO,essenciaisparaseremvivenciadasnocotidianodaatualidade.

Aprenderaconhecereaprenderaaprendersãosinônimosdeconstruçãodeconhecimentosqueseprocessamnodiálogoenainteraçãosocial,poisninguémensinaninguém,masseaprendenacoletividade,tendocomobaseoconhecimentojáprocessado,criandoetransformando,assim,conceitospreelaborados.

Aprenderafazervaimuitoalémdashabilidadespráticas,poisnoseuâmagoestáasubjetividadedecadaindivíduo,suasqualidadeshumanaseopotencialinerenteacadaser,mas,aomesmotempo,investenasrelaçõesinterpessoais.Importanteérelembraradiversidadeaplicativadessesconteúdosqueestãodiretamenteligadosàcompreensãodemundodosujeitoenvolvido.São,portanto,habilidadesquedevemserdesenvolvidasemproldacomunidade.

AprenderaconviverouaviverjuntoséaaceitaçãodoOutro,comsuasdiferençasesemelhanças,éorespeitodoOutro,conotandoessepilararelevânciadotrabalhoemgrupo,parafacilitararesoluçãodeconflitoseaconcretizaçãodosobjetivoscomuns.Énessemomentoqueocapitalsocialseedifica,fazendo-serelevanteepresenteparaasreivindicaçõescomunitárias.

Aprenderaserremeteaoindivíduopreparando-separasuacaminhadanomundo,parasaberquemé,eoquequerser,possibilitandoassimseudesenvolvimentointegradoeglobal,comoser,comosujeitoinseridonumadeterminadasociedade,posicionando-seassim,comautonomia,comoumserintegradosocialmente,sendoresponsávelporSiepeloOutro.

É com esse referencial teórico que se almeja alcançar os objetivos delineados,acreditando-sequeumacomunidadequesebaseianodiálogo,nacompreensãodoOutro,nainteraçãosocial,nodesenvolvimentodapotencialidadedecadaum,nodesenvolvimentodalinguagemedaaprendizagem,possibilitadessamaneiraasuperaçãodosdesafios.Daípor que, Heloisa Matos (2009, p.46), no livro Capital Social e Comunicação, citandoPonthieux,acentuaque

Ocapitalsocialéparteintegrantedaaçãocoletiva.Segundoaautora,estarsocialmenteinseridonogrupocorresponde,paraoindivíduo,àbuscadeproveitosmateriaisesimbólicos e, entre os membros, corresponde à transformação das relações devizinhança,trabalhoeparentesco,implicandoobrigaçõesduráveisacompanhadasdesentimentodereconhecimento,respeitoeamizade,garantidosinstitucionalmente.

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Acrescentamosaessespensamentosapremênciahodiernadeincluiracompetênciainformacional,queconsisteeminvestirnosleitores,nosentidodequesejamelescapazesde interagir com a informação e habilitados a encontrar a informação desejada, sejabibliográfica ou virtual, utilizando-se de unidades informacionais, no caso, a própriabiblioteca comunitária. No tempo atual um referencial é indispensável em qualquerbiblioteca.

Então, com um referencial que utilizaremos para estabelecer um espaço quecontribuaparaaformaçãodeumacomunidadesolidária,interativa,capazdeconstruircoletivamente um mundo melhor, qualificando seus espaços e investindo na leiturasignificativa,transformandoasinformaçõesacessadasemconhecimento,efacilitandoainteração social, por visar a umamelhorqualidadede vidada comunidadenaqual abibliotecacomunitáriaestáinserida.

Comovimoshapouco,umprojetoantevêofuturo,quandotentaexcluirosproblemasdetectadosnopresente.Nessesentido, listaremosalgumassugestõesquepoderãosertransformadasemfuturosprojetos,desdequecoincidamcomasnecessidadesdecadabiblioteca.

Parafacilitarnossaexplanação,dividiremososprojetosdeleituraemdoistipos.

a) Projetosbásicosparaobomfuncionamentodeumaunidadeinformacional,nocasodeumabibliotecacomunitária,equeexigemuminvestimentofinanceiromaior.Comefeito,sãoprojetosqueprecisamserapoiadosporórgãosfinanciadoresdeaçõessociais.b) Projetosmaisintrinsecamenteligadosaaçõesquevisamaodesenvolvimentodaleituraedaescritaeque,porsuanatureza,podemserrealizadospelosfuncionáriosdabibliotecacomunitária,logicamente,quandosetratadepessoasqualificadasparaexercerema funçãodeauxiliaresdebiblioteca,oumesmodebibliotecários.Dessamaneira, de modo geral, podem ser realizados sem grande necessidade deinvestimentosfinanceiros.Essesprojetoscontamcomosqueestãodisponíveisnabiblioteca,ouaténaprópriacomunidade.

Parasimplificar,adivisãodosprojetosemdoistiposfoiresumidaem

a) projetosqueprecisamdefinanciamentoseb) projetosquepodemserrealizadossemfinanciamentosespecíficos.

Quandonosreportamosa financiamento, torna-se importanteconhecerquaisos

órgãospúblicosquelidamcomessasquestões.BancodoNordeste,BancodoBrasil,CaixaEconômica Federal, Petrobrás Cultural, BNDES, Biblioteca Nacional, Secretarias deCultura do Estado e da Prefeitura, entre outras, são instituições que disponibilizamverbasparaarealizaçãodeprojetossociaisnasáreasdeleitura,literatura,acervoetc.

Visitarsistematicamenteos“sites”dessasinstituiçõesdeveserumasdasprioridadesdosresponsáveispelasbibliotecascomunitárias,visandoafamiliarizar-secomasexigênciaspara aceitação de projetos, datas e lançamentos de editais para projetos sociais queacontecem, naturalmente, por ano. Como, em geral, o prazo para o recebimento deprojetossociais,combasenoseditais,édeummês,aatençãodeveserredobradaparaquehajamaistempodisponívelparasuaelaboração.

Veremos,agora,algumasideiasdeprojetosparaodesenvolvimentodaleituraque,deumamaneiraoudeoutra,necessitamdeumfinanciamentomaior.

O Projeto Automação do Acervo e do Serviço de Empréstimo da BibliotecaComunitáriaincluiaaquisiçãodecomputadores,impressoras,apoiotécnicoafimdeimplantar o software para automatizar o acervo e o serviço de empréstimo. Faz-senecessáriootreinamentocomtodososfuncionáriosdabibliotecacomunitária,paraqueelesaprendamautilizarosnovosserviçosimplantados.Esseéumprojetoqueexigeuminvestimento financeiro elevado, no caso da biblioteca não possuir computador, nemrecursoshumanoshabilitadosaousodosoftwareselecionado.

Projetos visando à obtenção de verbas para aquisição de equipamentos, desdemobiliário–mesa,cadeiras,poltronas,expositores,estante–atémáquinas–computadores,impressorasetc.,materialbibliográficoserãodegrandevaliaparaaformaçãodoacervoeparaimplantaçãoouexpansãodebibliotecascomunitárias.

Umabibliotecabemassessoradaéfundamental.Então,porquenãováriosprojetosvoltadosàrealizaçãodecursosouoficinas,paraqualificaroauxiliardebiblioteca,omediadordeleituraeocontadordehistórias?Umaideiaexcelenteseriaqueessescursosfossem planejados para oferecer 20 vagas em cada um deles, extensivos a todos dacomunidade,inclusiveaosprofessores.

Arealizaçãodeeventos–feirasliteráriasefestivaisdeleitura–queenvolvam acomunidade e seu entorno são atividades que implicam recursos humanos, nãopertencentes à equipe da biblioteca e, muitas vezes, requer em uma mão de obraespecializadaimpondonecessidadedeserecorreràentidadedefomentocultural,emrazãodanecessidadedeverbasmaiselevadas.Mesmoassim,aBibliotecaComunitáriadoConjuntoCearájárealizouumFestivaldeLeituraeaIFeiraLiteráriadaBibliotecadoConjuntoCeará,somentecomrecursosquedispunhanacomunidadeeutilizando-sedesuaconexãodeamizadecomescritores,palestranteseprofessoresdobairro, queseprontificaram a fazer um trabalho voluntário. O retorno foi muito bom, mas é uminvestimentoquerequeresforçoepersistênciadaquelesqueestãoàfrentedoprojeto.Citamos esse feito para mostrar que, muitas vezes, há condições propícias para arealização de projetos, enquanto noutras esse binômio – esforço e persistência - éacrescidodofinanciamentoexterno.

Comoosprojetoscitadosexigemverbasque,namaioriadasvezes,sãoconseguidaspormeiodeórgãosfinanciadoresdeprojetossociais,deixaremosessetipodeprojetoparaseremdesenvolvidos,comdetalhe,nomódulodeProjetosSociaisapresentadopelaProf.ªDr.ªVirginiaBentesPinto,considerandoqueessesprojetosapresentamespecificidadeseatendemasexigênciasdecadainstituiçãodefomentoque,muitasvezes,nãocoincidementresi.

Entendemosqueanoçãogeraldoquesejaumprojetosocialparaserdesenvolvidoporumabiblioteca comunitária foi explanado, e ficouesclarecido.Daíporque,desdeagora,desenvolveremosumtextosobreprojetosdeleituracomunitária.

Projetos de leitura em uma biblioteca comunitária

Abordaremos, agora, os projetos de leitura que podem ser desenvolvidos pelaequipedabibliotecacomunitária,pessoasdacomunidadequedominamotemapropostoequeiramcontribuircomessetipodevoluntariado.Sãoprojetosparaosquais,namaioriadasvezes,abibliotecacomunitáriatemdisponívelosmateriaisnecessários,oucontacomparceiros,comoumaigreja,umaescola,umaassociação,oumesmoumleitor.Podemosdizerquesãoprojetospartedocotidianodequalquerbibliotecacomunitária,públicaoumesmo escolar. Isso não quer dizer que não poderemos conseguir financiamento,convênio,oumesmopatrocínio,paraessetipodeprojetodeleitura.Osapoiosfinanceirosserãosemprebemaceitos,entretanto,nãonospodemosesquecerdasnossasprioridadesque,agora,sãoosprojetosrealizáveissemoaportefinanceiroexterno.

Tentaremos,nestesentido,indicarsugestõesparapossíveisprojetosdeleituraquedeverão constar, de forma permanente, das atividades oferecidas pela bibliotecacomunitárias das quais somos responsáveis. Em seguida, indicaremos os passos quedeverãoserdadosparaodesempenhodoprojetoemfoco.

Nortearemos,agora,osprocedimentosnecessáriosparaelaboraçãodeumprojetodeleitura.Atítulodefacilitação,apresentaremosumprojeto-modelodeleitura,nofinaldotrabalho.

Antes de pensar na elaboração de um projeto, devemos refletir sobre nossosleitores - usuários da biblioteca: quem são, quais são as suas necessidades, de quegostam,quaissãoassuasleituras,seusanseios,qualafaixaetária,aposiçãoqueocupamnacomunidade,ostrabalhosquedesenvolvem,ouseja,devemosconhecernossopúblico.Paraisso,utilizaremosasseguintesperguntas:

• Quaisasdificuldadesrelativasaessepúblico?• Oquegostamdeler?• Oqueprocuramnabiblioteca?• Comosecomportamdiantedabibliotecaoudeumanecessidadeinformacional?• Quaisasdificuldadesqueaequipedabibliotecasentenotocanteaoatendimentodeseususuários?• Oqueaequipepoderáfazerparamelhoraroatendimentoaosleitores?Eparaumamaiordinamizaçãodabiblioteca?

Supomos que uma biblioteca comunitária tenha um público bastante eclético.

Sendoassim,aprimeiraprovidênciadosresponsáveispelasuadinamizaçãoserádividi-laemsegmentosparapensarosprojetosdeleituraparaseusvariadosleitores.Neste

sentido,visandoaummelhoratendimentoaonossousuário,propomossegmentá-losemquatropúblicos-infantil,juvenil,adultoeidoso-considerandoqueasproblemáticassãobemdiversas.Dessemodo,torna-semaisfácilresponderàsperguntasacimaeaomesmotempo pensar em projetos de leitura para atuar com cada segmento. Logicamente, oatendimentodeumacriançadiferebastantedaquelevoltadoaopúblicoadulto,daíporqueessasegmentaçãoserevestirádefacilitadoranasaçõesdedinamização.

Umaatividadeque,deantemão,nãopoderáfaltarparaopúblicoinfantiléacontaçãodehistórias;eentretanto,aequipedabibliotecanecessitarásaberparaqualfaixaetáriaashistóriasestarãovoltadas;aquantidadedecriançasaquesedestinamashistórias;quais os objetivos de uma contação de histórias e qual a metodologia empregada:somenteparaouvirhistórias,oulevarascriançasainteragircomelas?Serácomoumateatralizaçãooualeituraoraldotextoemquesereconheceseufiosonoro?Oquesevaiprecisarparaa contaçãodehistórias:oespaço,os livros, as cadeiras, almofadasetc.?Importante:conhecerascriançasfacilitaránaseleçãodashistóriasenodetalhamentodoprojeto.

Comrelaçãoaosjovens,poderásercriadoummomentoparaelesparticiparemderecitaçãodepoesias românticas,oudeumgrupoquecontehistórias, com temasqueinteressemaosadolescentes.Existemcontosinteressantíssimosdeescritoresbrasileirosquepoderiamsernarradosparajovens,transformandoessemomentoemoportunidadedepropagarnossosescritoresedetrabalharcomaformaçãonãosóintelectual,masasentimental também,da juventude. Lembramos-nosdeumaoficinaque fizemosparajovense,porcausadeles,nosobrigamosaselecionarcontosepoesiasquefalassemdeamor.O resultadonãopoderia ter sidomelhor,pois eles compreenderam como eramegoístasnassuasrelaçõesafetivasemudaramsuasatitudes.Foimuitoemocionanteodepoimentodogruponoúltimodiadonossoencontro,poiselesnarraramsobrequemeramantesdaoficinaacontecer,edepoisdestacaramatransformaçãodesuasatitudes.(CARVALHO;SAMPAIO,2007).

Oprojetodeumclubede leitura com jovens e adolescentes éuma ideiaque semostramuitoreceptivanomeiodeles.Oscritériosparaelaboraçãodesseprojeto,assimcomotodososdemais,sãoosmesmosaquenosremetemosquandoabordamosoprojetodecontaçãodehistóriasparacriançascujasetapasreferenciaremosmaisadiante.Nãonospodemosesquecer,noentantodequeumclubedeleiturapoderásatisfazer,também,aos adultos, assimcomoa contaçãodehistórias, sobretudo se esses adultos estãonaescolafrequentandoaEducaçãoparaJovenseAdultos–EJA.

Um projeto que deverá ser oferecido numa biblioteca comunitária, sempre, é aapresentaçãodabibliotecaàcomunidade,sobretudoaosseususuários.Logicamenteohorárioeadisponibilidadedelesexigemumlevantamentopréviofeitopelapessoaqueestá elaborando o projeto. Uma palestra sobre história de criação da biblioteca, suamissão,suafilosofiadeação,seusobjetivos,suametodologiadetrabalho,osprocessostécnicos utilizados, como a arrumação dos livros nas estantes, o significado dessaorganização, as normas da biblioteca onde se apresentam ao leitor o seu horário defuncionamento,asexigênciasparaosempréstimoslocaisedomiciliaresdelivros,CDs,revistasetc.Porquantosdiasousuáriopodereterolivro,falardamultaporatraso,sehouver,quedocumentossãonecessáriosapresentarparaquesecadastremcomoleitores

etc.Oprojetodeapresentaçãodabibliotecaaproximaosleitoresdabiblioteca,eentresi,essespoderãodespertarcomrelaçãoàresponsabilidadecidadã,comprometendo-secomoêxitodabiblioteca,tornando-a,assim,umabibliotecaverdadeiramentecomunitária.

Outro projeto bem interessante seria trabalhar com seus leitores para odesenvolvimentodehabilidadesinformacionais.Essamodalidadepoderáseroferecidaapós o projeto de apresentação da biblioteca, considerando que saber tramitar nabibliotecaéapossar-sedeferramentasvaliosasparaacessarasinformaçõesdisponíveis.Nesse projeto, estaria incluída uma orientação sobre como fazer uma pesquisabibliográfica,tantoimpressacomovirtual.

Como são inúmeros os projetos de leitura que podem ser desenvolvidos numabiblioteca comunitária, deixamos aos seus dirigentes o desenvolvimento de suascapacidadescriativasparaqueincluamospilareseducacionaispropostospelaUNESCOparaoséculoXXI:aprenderaconhecer,aprenderafazer,aprenderaconvivereaprenderaser.

Passos para elaboração de um projeto de leitura

Apresentaremosaseguirumpercursoseguro,detalhado,passoapasso,visandoafacilitaronossopropósitodequalificarabibliotecacomunitária.Cabelembrar,sempre,a relevância de cada passo deste projeto para o desenvolvimento sociocultural eeducacionaldacomunidade.

TítulodoProjetoOtítulodoprojetocontribuirámuitoparaaimagemqueacomunidadeconceberásobreasaçõesqueestamospropondo.Otítulofuncionarácomomarketingdoprojeto,ouseja,seráoseucartãodeapresentação.

ResponsávelpeloProjetoOresponsávelpeloprojetoéaqueleindivíduoqueassumiusuadireção,ficandocomaresponsabilidadedetorná-loumarealidade.Necessariamente,nãoprecisaserapessoaqueexecutaráoprojeto.Osdadospessoais,comoCPF,númerodaidentidade,endereço,endereçoeletrônicoetelefonessãocolocadosnesseitemcomofontedereferência,parafacilitaracomunicaçãocomosinteressadosnoprojeto.

Onomedoexecutordoprojetodeveráviremseguidaaodoresponsávelporeste,acompanhadodeseusdadospessoais,comoCPF,identidade,endereçoetc.

ApresentaçãodoProjeto

Esseéomomentoemqueseexibe,comclarezaeobjetividade,apropostaintegraldoprojeto,incluindosomenteasinformaçõesbásicasparaacompreensãodoprojeto.

Quaissãoessasinformaçõesbásicasdoprojeto,quedeverãoserapontadassucintamente?Natentativadefacilitaraelaboraçãodoprojeto,apresentaremosalguns

itensquepoderãoserrelevantesparaavançarmaisumpasso.a) Áreadeatuaçãodoprojetob) Possibilidadecomoviadesolicitação,comprovarsuarelevânciac) Possibilidadecomoviaderesolução,ouseja,mostrarasuaviabilidaded) Identificaçãodaspessoasqueserãoatendidase) Identificaçãodaáreageográficadeatuaçãof) Oprincipalobjetivog) Identificaçãodosparticipantesh) Principaisaçõesprevistasi) Resultadospretendidosj) Valorfinanceirodarealizaçãok) Mençãoaapoiadoreseparceiros

Justificativa

A justificativa é o esforço de valorizar a relevância de suprir a problemáticaapresentada,ouseja,éomomentodemostrarapremênciaderealizaroprojetoproposto.É, pois, o convencimento de que esse projeto deve ser realizado. Com isso, chega omomentode convencer as pessoasparaque invistamnoprojeto, ou financeiramenteou/eparticipandodesuasações,revelandooporquêdesuarealizaçãoeenfatizandooproblemaa ser resolvido, ou seja, como transformaruma situação insatisfatórianumresultadodesejável,tendocomoobjetivomaioropúblicoaseratingido.

Ajustificativatemcomobase,portanto,osmotivosquelevaramàelaboraçãodoprojeto,pautadosnosproblemasqueserevertememdesafiosaseremenfrentadoscomvistasasolucionaraproblemáticaemquestão.Emúltimaanálise,aequipeelaboradoradoprojeto,movidaeinduzidapordesafios,éintencionadaatransformá-loemsolução/satisfação.

ObjetivoGeral

Explicitaroqueabibliotecacomunitáriadesejapromovercomoprojetoeexporastransformaçõespretendidaséoquedenominamosdeobjetivogeral.Nessemomento,devemossinalizarasmudançassociaisqueesseprojetoserácapazdeatingiremcurto,médioouemlongoprazo.

Àguisadefacilitaracompreensãoeaelaboraçãodeumobjetivogeral,exemplificamos:

Dinamizar a biblioteca comunitária, visando a despertar o interesse pela leitura e, ao mesmo tempo, ampliar o seu NÚMERO de usuários.

ObjetivosEspecíficosPodemosdizerqueosobjetivosespecíficossãoacomplementaçãodoobjetivogeral,

possibilitando-lhemelhorcompreensão.Elessãopassosestratégicosparaarealizaçãodoobjetivogeral.Podemserchamados,também,demetas,sobretudoquandoquantificamaação.

Na redação dos objetivos, o verbo utilizado deverá aparecer no infinitivo. Eisexemplosdeobjetivosespecíficos,considerandooobjetivogeralexemplificadohápouco.

a) Proporcionarumambienteagradávelnabibliotecab) Incentivarogostopelaleiturac) Proporgruposdeestudodetemascontemporâneosd) Divulgarabibliotecaesuasatividades

Metas(nãosãoobrigatórias,masajudamnaelaboraçãodoprojeto).

As metas são delineadas de acordo com os objetivos específicos. As metas sãosemprequantificadasdaformacomovêm.

a) Serãoorganizadosdoisambientesacolhedoresparaatrairopúblicoleitorb) Oincentivodoleitorserealizarácom40leitoresiniciaisc) Serãooferecidostrêstemasdiferentesparaosestudoscontemporâneosd) Divulgaremosquatroatividadesimportantesdabiblioteca

MetodologiaUtilizada

Metodologiaéumconjuntodemétodos,técnicaseaçõesutilizadospararealizaçãodosobjetivosdeumprojeto.É,portanto,aexplicaçãodetalhada,rigorosaeexatadecomoasaçõesirãoserealizar.

Metodologiaé,emúltimaanálise,comoserealizaráoprojeto,comoimplementaremosessasações.Énecessáriomencionarqualopúblico,olocalderealização,tempoprevisto,qualseráaequipeecomoseráadivisãodotrabalho,quaisserãoasaçõesprevistaseasformasdeavaliaçãodoprojeto,paraconferirseatingiuosobjetivospropostos.

Paracompreensãodoquesejaametodologiaeselecionarasatividadesnecessárias,façamosasperguntas,tomandocomoreferênciaosexemploscitadosanteriormente.

a) Comoproporcionarumambienteagradávelnabiblioteca?b) Oquedeveremosfazerparaqueoambientedabibliotecasejaagradável?c) Comoincentivarogostopelaleitura?d) Quaisasaçõesquedesenvolveremosparaincentivarogostopelaleitura?

e) Oquedeveremosfazerparacriargruposdeestudossobretemascontemporâneos?f) Comofaremosparaqueosgruposfuncionem?g) Quaisasaçõesnecessárias?

Responderaestasperguntasfacilitaráaseleçãodametodologianecessáriapara

realizaçãodoProjeto.

Parceriasealianças

Asparceriasealiançassãosemprebem-vindasenecessárias,sobretudoporqueasbibliotecascomunitáriassobrevivemgraçasàsparceriasinstitucionaisoucomunitárias.ParceriascomaIgrejalocal,comescolas,comabibliotecapública,sehouver,ecomoutrasinstituiçõescontribuirão,emuito,paraumbomdesempenhodabibliotecacomunitária.

Equipetécnica

É sempre relevante especificar as pessoas que participarão da execução doProjeto,apresentandoocurrículodecadaumaeexplicitandoasaçõesprevistasparacadaparticipante.

Comunicação

A comunicação é fundamental para a realização do projeto. É o momento dedivulgá-lo,assimcomoabibliotecaeasdemaisatividadesquesãoneladesenvolvidas.Sãomuitasasmídiasqnacontemporaneidade,masprecisamosselecionaraquelasqueestãoinseridasemnossocontexto.AcreditamosqueaRádioComunitária,quandoexistir,éumexcelenteveiculodecomunicaçãoedivulgaçãodenossosprojetos.Folders,cartazes,banners são, também, modalidades de alcance significativo. Jornais comunitários,entrevistas comopessoaldabiblioteca comunitária etc., também,possuemumpapelimportantenadivulgaçãodoevento,oumesmo,dabiblioteca;entretanto,nãopodemosesquecerdequeacomunicação“bocaaboca”temexpressãocomprovada.

CronogramadeAtividades

NocronogramaregistramoscadaumadasetapasdedesenvolvimentodoProjeto.Eleprecisasercoerentecomametodologiaempregada,incluindotodasasetapaseosmesesemqueserãorealizadas.

Nocronogramadeveestarespecificadacadaatividadecomsuadataderealização.

Avaliação

Aavaliaçãoéumelementodevalorizaçãoedeaprendizagem.Écomelaquesabemossenossasaçõessurtiramefeito,ounão.Ficamoscientesdoqueprecisamosmelhoraroumodificar.Seránecessárioindicaroscritériosqueserãoutilizadosparaavaliaroprojeto.

Aavaliaçãoéumelementofundamental,poiscontribuiráparanosapontaroquefoibom,oquenãofoieoqueprecisamosmelhorarnasnossasaçõescotidianas,oumesmonaelaboraçãodopróximoprojeto.Essaé,portanto,umamodalidadedecontribuiçãoparaodesenvolvimentodabibliotecacomunitária.

Critériosavaliativosaseremconsideradosa) Númerodeparticipantesb) Satisfaçãodosparticipantesc) Adequaçãodohoráriod) Interaçãooficineirooupalestrantecomosparticipantese) Interessedespertadopelotemaf) Métodoutilizado

Entreasferramentasavaliativaspodemoscitar:a) Aaplicaçãodeumpequenoquestionário,noencerramentodasatividades-perguntarsegostou,porquê?Senãogostou,porquê?Pedirsugestõesparaumpróximoeventocorrelato,oumesmo,paraoutrostiposdeevento.b) Conversarcomosparticipantes,pedindo-lhesparaseposicionarcomrelaçãoaoevento,e,também,comrelaçãoaohorário,àduração,aotema,àmetodologiaetc.c) Se os objetivos pretendidos são a médio ou longo prazo; os responsáveis pelabibliotecadevemficaratentosparaconferirseonúmerodeusuáriosaumentounodecorrerdomês,ousehouvenelaalgumatransformação,relativaaocomportamentodosleitores.d) Umacaixadesugestõesemlugarvisíveldoeventopoderáensejarbonsindicadores.

Considerações finais Finalizandoestetexto,deixamosaquialgumasdicasparafacilitaraelaboraçãodos

projetosdeleituranasbibliotecascomunitárias.Quantoàredaçãodoprojeto,ésemprebomredigirnaimpessoalidade,usandoo

sujeitoindeterminado,nãoutilizarverbosabertoscomoconhecer,sabercompreenderetc. Lembrar-se de que o texto de um projeto tem uma função didática, devendo,portanto,serumapropostaclaradoquesepretende,nãoprecisandodesurpresaparaofinaldoprojeto.Daíporqueaimportânciadotemadeveserdestacadadesdeseuinício,lembrando-se,sempre,queoprojetodeveserfundamentadoenãoexaltado.

Paraconcluir,lembramosqueacapacidadeeexperiênciadaequipeparagerenciaroprocesso,oumesmodesenvolvê-lo,sãocritériosimportantesparaavaliaçãodoprojeto,como um todo. É nesse sentido que se aconselha a pedir a colaboração do pessoalqualificadoecomconhecimentonaárea,oumesmoinvestirconstantementenosrecursos

humanosquefazemabibliotecacomunitária.

Referências

CARVALHO, Ana Maria Sá de, SAMPAIO, Débora. Formando jovens e dinamizando bibliotecas. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16.,2007. Campinas. Anais... Campinas, UNICAMP, 2007 (CD).

HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles, FRANCO, Francisco Manuel de Mello. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

MATOS, Luiza. Capital social e comunicação: interfaces e articulações. São Paulo: Summus, 2009.

PONTHIEUX, Sophie. Le capital social. Paris: La Découverte, 2006.

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Módulo 5 Perfil de usuários, fontes de informação e

constituição de acervos

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Juliana Buse de Oliveira Rémy é professora da Universidade Federal do Ceará. Tem mestrado em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba (2010) e graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006). Possui experiência na área de Ciência da Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: preservação, conservação e restauração de documentos, acervos históricos e de obras raras, memória, metodologia da pesquisa, normalização e comunicação científica. Coordena e faz parte de projetos de extensão e pesquisa direcionados à preservação, conservação e restauração de documentos, à inovação social, à normalização e à tecnologia da informação.

j) No protagonismo histórico: todas as pessoas têm um papel como agente de transformação da História. Democratizar e ampliar a participação dos indivíduos na construção da memória social é atuar na percepção que os indivíduos e os grupos têm de si mesmos e de sua situação;

Perfil de usuários, fontes de informação e constituição de acervos

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens,

mas em ter novos olhos.” (Marcel Proust)

Preencheroespaçodabibliotecacomunitárianemsempreéumatarefasimples,maséenriquecedora.Nocapítulosobredinamizaçãodeacervos,quevemlogoapóseste,aqui,vocêsperceberãoquedinamizarumacervoédarvidaàpalavraescrita,falada,cantada.Épermitirqueaimaginaçãofaçausodoacervodabibliotecaparaganharcorpo,formato,eassimpreencheroespaçomuitasvezessilenciosodasprateleirascomlivros.Paraqueissosejapossível,noentanto,éfundamentalqueconheçamosnãoapenasoslivrosetodososoutrossuportesderegistrodainformação,masconsigamosenxergaraessênciadanossabiblioteca,queemmuitoseparecerácomadacomunidadevizinha,masquecarregaráconsigocaracterísticaspróprias,dasuacomunidade,dosseususuários.Essascaracterísticaséquedeterminarãocomoseráoacervodessabiblioteca,abibliotecacomunitáriadasuacomunidade.

Para a realização dessa tarefa, é preciso considerar dois aspectos: o perfil dosusuáriosdabibliotecaeasfontesdeinformaçãodisponíveisnaeparaacomunidade.Feitoisso,eseguindoalgunspassosqueserãodescritosmaisadiante,poderemosconstituircomtranquilidadeoacervodabibliotecacomunitária.

Oqueéumacervo?

Apalavraacervotemorigemnolatimacervus,eserefereacoleçõesouconjuntos,privadosoupúblicos.Osacervospodemserindividuaise/oucoletivosesãocompostosderegistrosemsuportespalpáveisounão,comoéocasodaquelestransmitidosapenaspelaoralidade,constituindo-secomomemóriaindividuale,porvezes,coletiva,sendopassadadegeraçãoageração.

a) Toda história de vida tem valor e deve fazer parte da memória social.

b) Ouvir o outro é essencial para respeitá-lo e compreendê-lo como par.

Fontes de informação: qualquer recurso informacional, independentemente de seu suporte, ou seja, tudo o que gera ou apresenta informação que nos auxilie em nossas pesquisas (livros, revistas, receitas, fotografias, pessoas etc.).

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Acervo,segundoaProfessoraFátimaAraripe(autoradopróximocapítulo),“[...]étudo

oqueguardamosemnóseaonossoredor.Éaquiloquerepartimoserecebemosdealguém.Éavidaemconstantemovimentodeirevir,comoemondasnomar”.Assim,oacervodabibliotecacomunitáriaserárepresentadopeloacervodavidadaspessoasqueresidemnaco-munidade,suashistórias,músicas,artesanato,culinária,vivências,fotografias,trabalhoetc.;etambémpelosregistrosinformacionaiscomunsàsbibliotecascomunitárias,oslivros.

Esses registros informacionais, também conhecidos como fontes de informação,podemserclassificadoscomobibliográficos,artísticos,fotográficos,científicos,históricos,documentais,culturaisetantosoutrosquantoforpossível,edeverãofazerparte,comtodaasuadiversidadedesuportes,doacervodabibliotecadasuacomunidade,considerandocomopontodepartidaoperfildousuárioquefaráusodele.

Qualoperfildosusuáriosdacomunidade?Pararesponderaestapergunta,énecessárioquevocêconheçasuacomunidade,saiba

comoéformada,quaissãoassuaslutas,assuascaracterísticasprincipais,entretantasoutrascoisas.

Asperguntasseguintespodemajudar.• Qualahistóriadaminhacomunidade?• Doqueviveaminhacomunidade?• Quaisasprincipaisfontesderenda?• Quaissãoosinteressesdaminhacomunidade?• Esuasmotivações?• Minhacomunidadeécompostapormuitascrianças?• Temosmuitosidosos,donasdecasa?• Qualograumédiodeescolaridade?Todossabemler?• Temosmuitosestudantesuniversitários?• Edeníveltécnico?• Quaissãoosprincipaisproblemasvividoshoje?

Essasrespostaspossibilitarãotomarconsciênciasobreocontextoondeabiblioteca

comunitáriaestaráinserida,permitindoumaleituraamplaeverdadeiradocotidianodosmoradoresefacilitando,destaforma,acompreensãodoperfildousuárioquefaráusoda

c) No protagonismo histórico, todas as pessoas têm um papel como agente de transformação da História. Democratizar e ampliar a participação dos indivíduos na construção da memória social é atuar na percepção que as pessoas e grupos têm de si mesmos e de sua situação.

d) Integrar indivíduos e distintos grupos sociais por meio da produção e conhecimento de suas experiências é atuar para romper o isolamento de alguns grupos sociais e impulsionar processos de empoderamento fundamentais para mudar relações sociais, políticas e econômicas.

Fonte:http://www.museudapessoa.net/oquee/oque_nossacausa.shtml

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biblioteca.Quandofalamosemcompreenderoperfildousuário,nosreferimosàcomposiçãode

um“espelho”queleveacomunidadeaseolharesereconhecercomofrequentadoresativosdesseespaçoalternativodeculturaqueéabibliotecacomunitária.Paraessereconhecimentoserpossível,noentanto,énecessárioquea constituiçãodoacervodestabibliotecasejapautada,principalmente,nascaracterísticaseinteressesdacomunidadeondeestáinserida.

Asrespostasàsquestõesindicadashápouco,representarãooperfildousuáriodabiblioteca, pois por meio delas, será possível visualizar as principais características enecessidadesdacomunidadee,então,buscar,porviadabiblioteca,apresentarsoluções,conteúdoseopções.

Essasrespostassãofundamentaisesãooprimeiropassoparaaconstituiçãodoacervo.

Comoconstituiroacervodeumabibliotecacomunitária?Nocapítuloanterior(daProfessoraAnaMariaSá),vocêsestudaramaElaboraçãode

ProjetosdeLeituraeperceberamqueoacervoinicialdeumabibliotecacomunitáriavaidepender,muito,dadoaçãoporpartedeinstituições,empresaseprojetos.Essasdoaçõessãomaravilhosas,masimplicamorecebimentodemateriaisquenemsempreseharminizamaoperfildosusuáriosdabiblioteca.

Depossedoperfildosusuários(nossoprimeiropasso),seguiremosentãoparaosegundopasso,queconsistenaseleçãodessematerialbaseadonoperfil.

Aconstituiçãodoacervodeumabibliotecaenvolveumtrabalhoconstantedeescolhaentreoqueficaránoacervoeaquiloqueserádoadoaoutrainstituiçãooudescartado.Essetrabalhoéchamadodeseleçãoefavoreceaatualizaçãodoacervo,bemcomosuaadequaçãoaoperfildosusuários.

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Vale destacar o fato de que a Biblioteconomia dispõe de técnicas diversas de pesquisa para o conhecimento minucioso dos usuários de uma biblioteca, mas essas técnicas (conhecidas como Estudo de Usuários) são mais adequadas a grandes acervos. No futuro, porém, quando a sua biblioteca comunitária já estiver estabelecida, pode ser interessante buscar a colaboração de um profissional bibliotecário para aprofundar essa pesquisa e, então, visualizar novas possibilidades.

A Biblioteconomia é uma das profissões mais antigas do mundo e está vinculada à necessidade humana de recuperar, organizar e disseminar informações. Para se tornar bibliotecário, é necessário cursar graduação em Biblioteconomia, que dura 4 anos. Após formado, o trabalho do bibliotecário pode ser realizado em vários ambientes, locais, situações ou de forma autônoma, onde houver necessidade de informação organizada e tratada e mediada, isto é, bibliotecas, empresas, escolas, fábricas etc.

Emresumo,parafazeraseleção dosmateriaisquepermanecerãonabiblioteca,é

necessário analisar o perfil da comunidade e, então, identificar quais as necessidadesinformacionaisdessesusuários,buscandoatenderomáximopossíveldelas.

Nessaetapaémuitoimportantequesefaçaoregistrodoscritériosquenortearãoessasescolhas.Essescritériosserãofundamentaisparaseleçõesfuturas.

Oscritériosdeverãoserdefinidospelogrupogestordabibliotecaedevemseadequaràrealidadedabiblioteca.Algunscritérios,contudo,sãocomunsamuitasbibliotecasepoderãoajudá-losainiciaralistadevocês.Nãoéinteressantequepermaneçamnoacervoobras:

• queestejammuitodanificadas;• faltandopáginasquecomprometamacompreensãodotexto;• comteorultrapassado,como,porexemplo,gramáticasanterioresao novoacordoortográfico;• commuitasfolhassoltas;• infectadasporfungosebactérias;e• didáticasinferioresaoanocorrente.

Façam uso desses critérios como padrão e acrescentem àqueles que julgarem

pertinentesdeacordocomarealidadedacomunidadeondeabibliotecaestáinserida.

Émuitoimportantequeessaetapasejafeitadeformabastantecriteriosa,poisa

preocupaçãocomaquiloquesaieentranoacervoéoquegarantiráaqualidadedeste.Porsetratardeumabibliotecacomunitária,sabemosquevocêsnãoterãoacessoa

recursoscommuitafacilidade,comexceçãodaquelesadvindosdeprojetoseeditais(assuntoqueserátratadonocapítulonoveemereceespecialatenção).Poressarazão,émuitoimportantequeopçõescriativassejampensadas,demodoasuprirasnecessidadesdecomposiçãodesseacervo.Esseéonossoterceiropasso.

Campanhasdearrecadaçãosãomuitobem-vindas,bemcomomantercontatodiretocomacomunidadedemodoamotivá-laafazerdoaçõesparaabiblioteca.Outrasugestãoémanterumbomrelacionamentocomasbibliotecascomunitáriasdasuaregião,criandoassimumespaçoparadiscussãoeviabilizando,porexemplo,atrocadosmateriaisexistentesemduplicidade.Essatrocatambémpodeserfeitacomomaterialque,deacordocomoperfildasuacomunidade,nãoiráfazerpartedoacervo,afinal,oquenãoéútilemumacomunidade

Lembre-se:

não adianta nada selecionar livros de Engenharia Mecânica para uma biblioteca que tem como seu maior crianças de 5 a 10 anos. Ou seja, cada biblioteca, por estar inserida em uma comunidade diferente, exigirá para o seu acervo materiais que possam ser utilizados pelo seu

Para saber mais:

SUAIDEN, Emir José. Biblioteca ca e informação à comunidade. São Paulo: Global, 1995. FIGUEIREDO, N. M. Estudo de uso e usuários da informação. Brasília: IBICT, 1994.

podeserimportanteparaoutraevice-versa.Fazendousodessasedeoutrasopçõespensadaspeloprópriogrupogestor,empouco

tempooacervoestaráformadoepoderácomeçaraserviràcomunidade.

Oqueéessencialnoacervodeumabibliotecacomunitária?Quefontesdeinformaçãosemostramfundamentais?

Comoexpressoanteriormente,oacervodeumabibliotecacomunitáriadeveráatenderaoperfildacomunidadenaqualabibliotecaestáinserida.Issonosimpossibilitadeapresentarqualquer“propostabásica”deformação,queatendaplenamenteaqualquercomunidade.AexperiênciadoLerparaCrer,contudo,nosfezperceberque,apesardeascomunidadesapresentaremcaracterísticaspróprias,algumascaracterísticassãocomuns,comoéocasodascriançasemidadeescolar.Talvezessa,somadaaonúmerodeidosos,sejamascaracterísticascomunsàscomunidades.

Diantedisso,consideramosfontesdeinformaçãoessenciaisaestesacervos:

• ummapa-múndi,ummapadoBrasil,ummapadoEstadoeummapadacidadeondeabibliotecaestálocalizada(dêpreferênciaaosgrandes,masosmedianosepequenostambémdevemsermantidosnoacervo);• dicionáriosdeportuguêseinglês(deoutraslínguastambémsãobemvindos);• atlashistóricoegeográfico;• enciclopédias;• jornaisdacidadeedoEstado;• revistas(inclusiveasdeculinária);• livrosdidáticosdoanocorrente(doisexemplarespornívelsãosuficientesenoano

seguintedeverãosersubstituídospelodoanovigente);e• livrosdeliteratura(infantil,infantojuvenil,juvenileadulto).

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Essa obra traz algumas experiências e vivências do Projeto Ler para Crer e merece atenção por apresentar soluções criativas pensadas pela própria comunidade. Essas soluções poderão ser motivadoras de novas ideias e também reproduzidas se adequando à realidade da sua comunidade. Vale destacar também que as bibliotecas iniciadas com o Ler para Crer são verdadeiros projetos-modelo de bibliotecas comunitárias transformadoras de uma realidade social e seria bastante interessante que vocês as buscassem para discussão e compartilhamento de ideias.

A Biblioteconomia dispõe de técnicas para organização de acervos de jornais. Para evitar um grande lo dessas fontes, é importante que se faça uma seleção de quais matérias são relevantes para o acervo, como, por exemplo, as que falam de feriados nacionais e locais, politica, economia, educação (sempre levando em consideração o seu de usuário!). Quando o trabalho inicial de organização do acervo da sua biblioteca já estiver pronto, vale a pena buscar informações sobre Hemeroteca e Clipping. Essas informações o ajudarão a organizar melhor esses

Comaformaçãodesseacervoessencial,básico,entendidocomooquartopasso,o

grupogestorjápoderádarinicioaofuncionamentodabibliotecae,então,começaratrabalharnaconstituiçãodeumacervoqueefetivamenterepresentesuacomunidade.

Comoconstituirumacervoquerepresenteaminhacomunidade?

Carneiro(2002,p.65)mostra-nos,emseucapítuloLeituraeLinguagens,asdiversaspossibilidadesdeleitura:

Lemosumfilme,umafotografianoálbumdefamília,umprogramadeTV.Pode-selerumromanceouumpoematantoquantosepodelerumprédio,ummapa,umtraçodedornorostodealguém,umsorriso,ummododeajeitarocabelo,oucomosepodelerumvestido,océu,umjardim.Ascartomantessabemmuitobemdisso.

Comovemos,aspossibilidadesdeleiturasãoexpressasnocotidianotantoquanto

noslivros.Porissoinsistimosemumacervoqueretrateacomunidadeondeabibliotecaestáinserida.Eesseéonossoquintopasso.

Empossedoperfildeusuáriodasuacomunidade(aqueleconstituídonoprimeiropasso),verifiquequaisascaracterísticaspredominantesnasuacomunidadeefaçaarelaçãodessascaracterísticascomasfontesdeinformaçãoqueaprofundamesseconhecimento.

Suacomunidadetemmuitasdonasdecasa?Solicitemqueelasdoemalgunsdeseuslivrosdeculináriaparaoacervodabiblioteca.Aproveitemaoportunidadeparapromoverumconcursodeculináriaepeçamaalgunsmembrosdogrupogestoroudacomunidadepararegistraremasreceitasemumcaderno.Essecadernovaiparaoacervoeasreceitaspremiadaspodemreceberdestaquenabiblioteca(atéquesejafeitooutroconcursoeasnovassubstituamasantigas).

Suacomunidadeéantiga?Foiumadasprimeirasdacidade?Quetalentrevistarosmoradoresmaisantigoseregistraressashistóriasemumcaderno?Eletambémdeveráirparaoacervoeascriançasemidadeescolarpoderãoutilizá-locomoreferêncianasaulasdeHistória.Vocêstambémpodemconvidaressesmoradorespararodasdeconversanaprópria

Lembre-se:

as revistas sobre novelas, vida de artistas e outros dessa linha poderão ser mantidas no acervo por um período pelo grupo gestor (um mês, por exemplo) e, posteriormente, serem guardadas em outro local, voltando a ser utilizadas para recortes em outras atividades da biblioteca ou nos trabalhos das crianças e adolescentes. Não esqueçam de descartar as que já estiverem muito prejudicadas e nem deixar acumular uma quantidade desnecessária. Biblioteca não é depósito!

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Para saber mais:

CARNEIRO, Flávio Martins. Leitura e linguagens. In: YUNES, Eliana (Org.). Pensar a leitura: complexidade. São Paulo: Loyola, 2002. p. 64 – 71.

biblioteca;ashistóriasnãoprecisamserescritasparateremvalidade,oconhecimentotambématingeseufimporviadaoralidade.

Qualaprincipalfontederendadasuacomunidade?Agricultura,pesca,indústria?Em posse dessas informações, vocês poderão buscar fontes de informação que tratemdessesassuntos,bemcomoconvidarosmoradoresparafalarparaosmaisjovenssobresuasprofissõeseaindaexporosobjetosutilizadosparaotrabalho.Trazeropescadorparaensinarparaascriançascomotecerarededepescatambéméumaexcelenteideia.Issoéconhecimentosendocompartilhadoeéfunçãodabiblioteca,sim.

Suacomunidadeestásofrendocomousodedrogaspelosadolescentes?Umaboadicaédisponibilizarmaterialinformativosobreesseassunto.OProgramadeSaúdedaFamília(PSF)dasuacomunidadepodefornecerdiversosfolhetosexplicativos.Vocêstambémpodemconvidarmembrosde instituiçõesdereabilitaçãodedependentesparaconversarcomacomunidade,assimcomopessoasquepodemdarseusdepoimentos.

Todasascaracterísticasapontadaspeloperfildeusuáriodefinidonoprimeiropassodessecapítulodeverãoserlevadasemconsideração.Aspossibilidadessãoinúmeras.Usemacriatividade,conversemcomacomunidade,discutam,observem,peçamajudaaosprofessoresetambémaosalunos.Acomunidadeéaúnicaqueécapazdeapontaraquiloquefazpartedeseucotidianoedesuahistória;eessesapontamentoséquenortearãoasdecisõessobreasfontesqueirãoconstituiroacervo.

Constituímosonossoacervo,eagora?Agoraprecisamosprovidenciaraorganizaçãodabibliotecacomoumtodoeissodeverá

serdivididoemduasetapas,sendoesteonossosextopasso.• Organizaçãodoespaçofísico• Organizaçãodoacervo.

Antesdefalarmossobreaorganizaçãodoespaçofísico,énecessárioquefalemos

sobreoespaçofísicoemsi.Sabemosqueparaaconstituiçãodeumabibliotecacomunitáriaénecessárioqueacomunidadebusque,mediantedoação,empréstimooulocação,umespaçoparaofuncionamentodesuasatividades(essaquestãojáfoidiscutida)eesseespaçoprecisa,preferencialmente,serumlugarminimamenteadequado,buscando,semprequepossível,nãoestarvinculadoainstituiçõesouorganizaçõesquenãorepresentem100%dacomunidade(igrejas,porexemplo),quesejamdefácilacessoparaacomunidadee,sepossível,distantedelugarescostumeiramentebarulhentos.Umaótimaopçãoéestarpertodepraçasouescolas.

Énecessáriolembrar,também,queumbanheirosefazindispensável,assimcomoumlocalcomáguapotável,porquantoqueremosquenossosusuáriospermaneçamomaiortempopossívelnabiblioteca.

Outraquestãoaseravaliadaéametragemdoespaço,enãofalamosissoapenasparaoconfortovisualeorganizacional,mastambémparadaracessoadeficientesfísicosepessoascomdificuldadesdelocomoção,comoidososquefazemusodeandadoresemuletas.

Oidealseriaquepudéssemosrespeitaraalturamáximadasestantes,comosendoosuficienteparaumacriançaleitora(cercade7ou8anos)ouumcadeiranteacessaroslivroscomobraçoesticado.1metroentreaúltimaprateleiraeotetocostumaserosuficiente.Avalieapenasseoprédiodabibliotecadasuacomunidadenãotemumpé-direitomaisalto

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doqueonormal.Entreasestantesérecomendadaumadistânciade1,30m,oquepermitiráumcorredor

acessívelparacadeirantesetambémpossibilitaráquemaisdeumapessoaconsulteomaterialdaqueleespaçoaomesmotempo.

Alémdisso,devemserlevadasemconsideraçãoasquestõesreferentesaconservaçãoepreservaçãodoacervo,demodoqueoprédionãodeveráterumidadeouinfiltraçõesemsuasparedes,poisissoprejudicariaoacervoepotencializariaaformaçãodefungos.Tambémdeveserobservadaaincidênciadecupins,poissuapresençapoderádestruirtodooacervoempoucassemanaseasestantesqueestiverempróximasàsjanelas(quedeverãotercortinas),precisarãoestar,nomínimo,a1mdedistânciadasmesmas,poisaincidênciadecalorpoderáprovocarmanchasnosdocumentos.

Valelembrarqueolocalescolhidodeverácontartambémcomumconfortoambientalmínimo,possibilitadoporumaboaventilação,controledetemperatura(comentradasdearouventiladores)eumaexcelenteiluminação.

Escolhidoolocalecomtodososcuidadosapontadoshápoucolevadosemconsideração,poderemoscomeçaraorganizaçãodoespaçofísico.Essaatividadeserádivididaemduaspartes:mobiliárioedisposiçãodosespaços.

Mobiliário

Emumabibliotecacomunitária,costumeiramente,contamosapenascomdoações,eissoincluitambémomobiliário.Apropostaseguinterepresentaoqueconsideramosoideal,masissodeveráseradaptadodeacordocomascondiçõesdecadabiblioteca.Valelembrarqueprefeituras,igrejas,empresas,comércio,associaçãodemoradoreseaprópriacomunidadedevemsercontatadasembuscadedoaçõesdemobiliárioe/ourecursos.Entendemoscomoideal,paradarmosinicioasatividadesdabiblioteca:

• estantesparadisposiçãodomaterial(madeiraoumetal,massemprequepossívelevitemasdemadeiraporatraíremcupinseumidade);• mesasparaleitura(asescolasdaregiãopodemajudardoandoasquenãosãomaisutilizadaseacomunidadepodereformá-las);• cadeiras;• mesasdetrabalho,comgavetas(oscomercianteslocaispodemajudar);• guarda-volumes(poderáserfeitocomumadasestantes);e• arquivosdemesaparaguardarasfichasdosusuárioseadoslivros.

Comessemobiliárioàdisposiçãodabibliotecacomunitária,éhoradecuidarmosda

disposiçãodosespaços.

DisposiçãodosespaçosComovimosanteriormente,érecomendadoqueadisposiçãodasprateleirasrespeitasse

algumasdistânciasmínimas,demodoapermitirmaiorconfortoambiental.Énecessário,porém,verificar,ainda,apossibilidadededefiniçãodealgunsespaços,aindaquesemparedesoudivisórias,masdelimitadospelomobiliárioqueoscompõe.

Olocalondeasestantesestarãodispostasemcorredoresseráchamadodecirculaçãoeprimapelaamplitudedeseuscorredores.Próximoaesselocal,teremosestantes(também

podeserumcorredor)quecontarãocomobrasquenãopoderãosairdabiblioteca(comodicionários,enciclopédias,atlasetc.).Esseespaçoéchamadodereferência.Éimportantequeessaseçãoestejabemàvistaesinalizadaaosusuários.

Também é essencial que a biblioteca disponha de um espaço para a leitura dosdocumentos.Nesseespaço,especialmente,énecessáriaumapreocupaçãocomosilêncio,demodoqueumusuárionãoatrapalheooutro.

Umlocalparaotrabalhodabibliotecaéimportante.Umamesaparaarealizaçãodosempréstimos,bemcomoparaoregistroeclassificaçãodoacervo,éindispensável.

Organizadososespaços,seguimosentãoparaaorganizaçãodoacervo,quepermitirámaiorconsciênciadaquiloqueabibliotecadispõe,bemcomoumcontrolemaisefetivodoquesaieentranabibliotecae,também,principalmente,melhororganizaçãodoacervo,demodoafacilitarautilizaçãodomesmopelacomunidade.

Organizaçãodoacervo

Paraaorganizaçãodoacervo,precisamos,inicialmente,providenciaralgunsmateriaisdeexpediente.

• Livrosderegistro• Carimbos• Fichasdecatalogaçãodoslivros• Fichasderegistroparaosusuários• Fichasdeempréstimo• Sinalizaçãodoacervo.

Olivroderegistropoderásercompradopronto(algumaspapelariasovendemcomo

nomedelivrodetombo)oupoderáserfeitopelogrupogestor,comumcadernoecaneta.Asinformaçõesnecessáriassãoonúmerosequencial(paraoregistro),oautordaobra(sempreentrandopelosobrenome),otítulodaobra,aedição,oanoeumespaçoparaobservações.Valelembrarque,noscasosemqueexistiremmaisdeumlivroigual,todosserãoregistradosdeformasequencial,acrescentandoapenasnocampodeobservaçõesainformaçãoexemplar1,exemplar2eassimsucessivamente.Vejaabaixoumexemplo:

Registro Autor Título Edição Ano Observações001 QUEIRÓS,Eçade. Ostesouros 2ª 1893 Exemplar1

Feitooregistrodaobra,utilizaremososcarimbosparaidentificá-la.Oscarimbossão

essenciaisparaoregistrodasobrasedeverãoserutilizadosemtodooacervo,comexceçãodosmateriaisperiodicamenteretiradosdoacervo,comorevistasdefofocas.

Alémdoscarimbosdeidentificaçãodaobra,teremostambémumcarimboqueseráutilizadoparamarcaradatadedevoluçãodoslivros.

Existemmuitoslugaresqueconfeccionamcarimbos.Procureumquefiquepróximoasuacomunidadeepeçaqueelefaçaumcarimbocomonomedabiblioteca(essecarimboseráutilizadopara identificaçãodaquelematerialcomopertencenteàbiblioteca),outro

carimbocomonomedabibliotecaemaisumespaçoparaopreenchimentomanualdonúmeroderegistrodolivro(essedeveráserusadonoversodafolhaderostodolivro)eoutrocomainformaçãodadatadeempréstimoedadatadedevoluçãoparaserempreenchidasmanualmente.Vejaosexemplos:

Apósacarimbagemdositens,preencheremosentãoasfichasdecatalogaçãodoslivros.Essasfichasdeverãoserpreenchidascomasinformaçõesdolivro,seunúmeroderegistroetambémcomasuaclassificação(esseassuntoserátratadomaisàfrente).

Ordinariamente,essasfichastêm7,5cmdealtura,por12,5cmdelargura,maspoderãoseradaptadasdeacordocomasmetragensdoficháriodabiblioteca.Mostramosnasequênciaummodeloquepoderáseradaptadoparaabibliotecadasuacomunidadeereproduzidoporfotocópia(depreferênciaemumpapelmaisgrossodoqueumafolhanormal),podendoassimserpreenchidomanualmente.

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BIBLIOTECA

COMUNITÁRIA

BIBLIOTECA COMUNITÁRIA

MARIA DA SILVA

B931 Buarque, Chico

Chapeuzinho Amarelo/Chico Buarque; ilustrações Ziraldo. _ 27a ed. Rio de

Janeiro: José Olympio, 2011.

30 p., il.

1. Literatura infantojuvenil. I. Ziraldo. II Título.

CDD - 028.5 CDU - 087.5

H821 Hosseini, Khaled

- O caçador de pipas / Khaled Hosseini; tradução Maria Helena Rouanet.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

365p.

Tradução de: The kite runner ISBN 978-85-209-1767-4

1. Amizade - Ficção. 2. Romance afegão. I. Roaunet, Maria Helena. II Título.

CDD 891.596 CDU 821.411.21 (581)-3

ModelodefichacatalográficaÉimportantedestacarofatodequecadaitemterá,nomínimo,trêsfichas:uma

comaentradafeitapeloautor,outrapelotituloeoutrapeloassuntodoitem-lembrandoqueitenscommaisdeumautorterãoumafichaparacadaautoreomesmoacorrecomitenscontendomaisdeumassunto.

Essasfichastêmcomofunçãoprincipalfacilitaralocalizaçãodositensnabiblioteca,umavezqueaclassificaçãona fichaseráamesmaexistenteno livroeo livroestaránaprateleira,quetambémrecebeamesmaclassificação.

Estandoositensacimaemconformidade,partimosentãoparaasfichasderegistroparaosusuários,querepresentamocadastrodecadausuárioquefaráusodoacervo,demodo a garantir a segurança dos itens da biblioteca e que também será útil para asverificaçõesperiódicasdeperfisdeusuários.

Essecadastropoderáserfeitopormeiodefichasderegistro,quedeverãoconteronúmeroderegistrodousuário,nome,oendereço,otelefone,umafoto,bemcomoonomedos responsáveis, caso seja menor. Também é possível acrescentar nessas fichas aescolaridade,osassuntosdeinteresseeumregistroperiódicodoslivrosemprestadosporesseusuário,paraque,nofuturo,essainformaçãopossaserusadanatomadadedecisõesdabiblioteca.Vejaomodelo:

Feitooregistrodosusuários,poderemosentãocomeçararealizarosempréstimos.

Paraisso,seránecessáriaaconfecçãodeoutraficha,chamadafichadeempréstimo,eseráutilizadaparaocontroledoacervo.Cadalivrodeverátersuafichadeempréstimoseelaestarálocalizadaemumbolso,nacontracapadolivro,bemcomooutraficha,quedeveráserutilizadaparao carimbodadatadeempréstimoedevolução.Essa fichadeempréstimodeveráterumespaçoparaopreenchimentodonúmeroderegistrodolivro,onúmerodeclassificação,onomedoautor,otitulodolivroe,logoabaixo,umespaçoparaacolocaçãodasdatasdeempréstimoedevoluçãoeparaaassinaturadousuário.Naoutraficha,teremos

apenasosespaçosparaocarimbocomdatas,demodoalembraraousuáriodadatadeentregadoitem.Exemplosnoanexodesdecapítulo.

Afichadeempréstimodeverásairdobolsolocalizadonacontracapadolivroeserpresacomumclipeafichadousuárioquepegouolivroemprestado.Elasóvoltaráparaobolsoapósadevoluçãodolivro.Fazendoisso,ogrupogestorterátotalcontroledoslivrosqueestãoemprestadosdadataprevistaparadevolução,demodoapermitiratémesmoacriaçãodeumalistadeesperaparaumdeterminadolivro.Ficaadica!

Estando com todas essas fichas impressas e prontas para serem preenchidas,começaremosa cuidar,pois, da sinalizaçãodoacervo.Asinalizaçãodoacervonadamaisédoqueaclassificaçãodoslivros.

Aclassificaçãodoslivrostemcomoobjetivoproporcionaraolivroumendereçodentrodabiblioteca,umavezque, comocrescimentodoacervo, semesseendereço,muito possivelmente os livros se perderiam e não voltariammais a ser encontrados

comfacilidadepelosusuários,nempelogrupogestor.Essaclassificaçãotambémproporcionará uma identidade visual ao acervo, possibilitandomaior autonomia aosusuários,quepoderãoselocomoverdentrodabibliotecaedoacervoondeseencontramoslivrosdeseuinteresseecompreendocomoestefunciona,semaajudadogrupogestor.

Paraisso,énecessário,antesdetudo,definirqualosistemadeclassificaçãoquea biblioteca irá utilizar. A Biblioteconomia faz uso de vários, mas entendemos eaconselhamosparaasbibliotecascomunitáriasautilizaçãodosistemadeclassificaçãoporcores,aliadoaosistemadeclassificaçãoporassuntos(CDD),simplificado,deJohnDewey.

Aclassificaçãoporcoresé,semdúvida,amaisgostosadasclassificações.Realizarseu trabalho émuito simples. Primeiramente, recomendamos que todos os livros doacervosejamseparadosporassunto,pois,comissofeito,aclassificaçãoserámuitomaisrápidadeserrealizada.

Aidentificaçãodoassuntoéessencial,poisatabelaqueapresentamoscomopropostadeclassificaçãofazusodascoresparasinalizaçãoedosassuntosparadirecionamento,umavezqueascoresseriaminsuficientesparatodosospossíveisassuntosdoacervodeumabibliotecacomunitária,demodoquecadacoriráabarcardiversosassuntos.

Dessaformateremosacoreemseguidaoassuntodolivro.Umexemploprático:temos dois livros, umdeBiblioteconomia e outro de Jornalismo. Ambos receberão acorroxa,poisosdoisestãodentrodoqueaclassificaçãodeDeweyapontacomoobrasgerais.Entendemos,contudo,queessamisturadeJornalismocomBiblioteconomiapodeconfundirosusuários,entãoacrescentamosnaclassificaçãodolivroamençãodoassunto.

Sendoassim,teremoscomoidentificaçãodesseslivrosacorroxae,logoabaixo,astrêsprimeirasletrasdoassuntocorrespondenteaolivro.Exemplo:

BIBEssaclassificaçãoserefereaumlivrodeobrasgerais,doassuntoBiblioteconomia.Abaixotrazemosnossapropostadesistemadeclassificaçãoaserutilizado:

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Fonte:http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/folheto_biblioteca.pdf

Definidososassuntoseascores,éhoradecolocaressasinalizaçãonoslivros.Essaatividadeéchamadadedorso.Odorsopoderáserrecortadodeumafolhaco-mum,depapelbranco,edevetercercade3cmdealturae5cmdelargura.Nessepapeldeverãoserfeitasduaslinhas,adecimaparaasinalizaçãoporcores(quepoderáserfeitacomlápisdecorounocomputador)eadebaixoparaasinalizaçãoporassunto.Feitoisso,eledeverásercoladocompapeldotipocontacttransparente.Essafitadepa-pelcontactdeverásercortadacom5cmdealturae9cmdelargura,demodoaabraçarolivroaosercoladojuntocomodorso.Eledeverásercolado1,5cmdebaixoparacimanalombadadolivroetodososlivrosdevemsercoladosigualmente.

Éimportantedestacarofatodequeoslivrosdeverãosempreestarcomseuspares,istoé,assuntosiguaisjuntosecoresiguaispróximas.Nãoseesqueçamdesinalizartambémasestantesecorredores,demodoapermitirumlivretrânsitoporpartedosusuários.Então,relembrando,

• Primeiropasso:definiroperfildousuáriodabiblioteca• Segundopasso:estabeleceroscritériosdeseleçãoquedefinirãooqueentraráounãonoacervo• Terceiropasso:pensaralternativascriativasparaaconstituiçãodoacervo• Quartopasso:formaroacervoinicial(básico)dabiblioteca• Quintopasso:buscarfontesdeinformaçãoqueretratemacomunidade• Sextopasso:organizaçãodabibliotecacomoumtodo.

Eosétimopasso,queé,semdúvida,oprincipal:façamdabibliotecaumaextensão

dacasadosmoradoresdacomunidade.Convidemessaspessoasparaumcafé,paraumaconversa,paradecidirefazerparte.Acomunidadeéarazãodesereexistirdabibliotecacomunitária.Semelaabibliotecanãopassarádeumdepósito.

Émuitoimportantequeogrupogestornãoseesqueçadessafunçãoprincipal,quepodeserrelembradacomumapoesiadaeternaRacheldeQueiroz:

Bomtrabalho!

Visitante mui amigo

Pode entrar a casa é sua Ah! É tão bom nesta vida

Abrir a porta da rua Como quem abre num

Abraço Fazendo assim como o faço Entre a gosto: A Casa é Sua.

Referências

ANDRADE, Diva, VERGUEIRO, Waldomiro de Castro S. Aquisição de materiais de informação. Brasília,DF: B. de Lemos/Livros, 1999.

BRASIL. Ministério da Cultura. Diretrizes gerais: o PNLL. 2.ED. rev. Brasília, 2007.

CAMPELLO, Bernadete et al. A coleção da biblioteca escolar na perspectiva dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Informação & Informação, Londrina, v.6, N.2, P.71-88, jul./dez. 2001.

CAMPELO, Bernadete S. , CENDÓN, Beatriz V., KREMER, J. M. Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.

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CAVALCANTE, Lidia Eugenia. Memória, informação e acervo. In: PINTO, Virgínia Bentes: SILVA NETO, Casimiro (Org.). Ciência da informação: abordagens transdisciplinares: gêneses e aplicações. Fortaleza: Ed. UFC, 2007.

COSTA, Maria de Fátima Oliveira. ANDRADE, Ivone Bastos Bomfim. Necessidade de Informação da comunidade do distrito deTaquara: uma experiência de extensão universitária. Inf. & Soc.: Est. João Pessoa, v.8, n. 1, P.164-175, 1998.

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Programa Nacional de Incentivo à Leitura(PRO- LER). Formação de leitores e construção da cidadania. Rio de Janeiro, 2008.

SMITH, F. Compreendendo a leitura: uma análise psico – inguística da leitura e do aprender a ler. 3ed. Porto Alegre Artes Médicas, 1991.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2ED.. Belo Horizonte, Autêntica, 1999. VERGUEIRO, Waldomiro de C. S. Seleção de materiais informacionais. 3.ed. Brasília: B. de Lemos, 2003.

WEITZEL, Simone da R. Elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções. Rio de Janeiro: Interciência; Niterói: Intertexto, 2006.

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FICHA DO USUÁRIO FICHA DE ENTREGA

89 89

Módulo 6

Leitura e dinamização de acervos Um Banquete de Luzes, Cores, Fantasias, Realidades...

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Fátima Maria Alencar Araripe Fátima Maria Alencar Aaripe é professora da Universidade Federal do Ceará. Tem doutorado em Educação pela UFC e mestrado em História Social pela UFRJ. Especialização em Organização e Administração de Bibliotecas Públicas e Escolares /UFC. Coordena os projetos de extensão Clube da Leitura; Onda Ler: Biblioteca e Leitura Construindo a Cidadania; Ouvindo Histórias e Revista Literação. Coordena o Programa de Extensão Biblioteca, Leitura e Cidadania.

Leitura e dinamização de acervos Um Banquete de Luzes, Cores, Fantasias, Realidades...

Oatodeleromundoimplicaumaleituradentroeforademim.Implicanarelaçãoqueeutenhocomessemundo.

PauloFreire

...sonhos,emoções,paixões,fotografias,palavras,pessoas,imaginação.Sealguémnaruafalassequeessascoisassãoacervosvocêconcordaria?Ofatoéquetudoissoétexto,textoescritonocotidianodavidae,portanto,acervos.Acervosdaslembranças,dasmemórias,docorpo,dacidade,dosamores,acervos...Pensandonessecaminho,aminharespostaseriaafirmativa.Easua?

Aprincípio,penseiematribuircomotítuloparaesteartigosimplesmente“DinamizaçãodeAcervos”,poisédissoqueeletrata;noentanto,percebi–oumelhor,lembrei-me–dequedetudoquepensosobredinamizaracervostemrelaçãocomcoisasasquaisdeparamosnocotidianodavida,comosguardadosdoquevemos,fazemos,ouvimosequevamos,aospoucos, armazenandoe formandonossos acervos.Em assimpensando, resolvi intitular“LeituraeDinamizaçãodeAcervos:umbanquetede luzes,cores,fantasias,realidades...”.Creioqueissotemrelaçãocomsereestarnomundo.

Muitasvezes,passamosanosvendoeouvindocoisascomunsaonossoredor,comoumjarro,umamesa,umporta-retrato,umamúsica,porexemplo,sem,naverdade,enxergarououvirnenhumadelas.Limitamos-nosapenasavê-lascomoobjetosdedecoraçãooudeutilidadeprática.Chega,porém,umdeterminadomomentoemqueessasmesmascoisaspodemnosparecernovidades,istoé,começamosanotarasuaexistênciaparaalémdemeraspeçasdecorativas,quersejanacor,noformato,notamanho,natextura,etudopareceadquirirumnovoouumoutrosentido.Quandoissoacontece,significaqueestabelecemosumeloentrenósea“coisa”(objeto,pessoa)emquestão.Passamos,então,doestadodesimplesconvívio,porocuparummesmoespaçogeográfico,paraolhareverouenxergar,apreciaresentirapresençaouaausência.Podemos,então,observarabelezaouafeiúra,omaterialdeque é feito, a cor ou coresque o revestem,bem comoa sua textura, a históriada suainvençãoeutilidadenavidaprática.Sãomuitasaspercepções,masespecialmenteporqueasescolhemoseadquirimos.Oquenosagradounaqueleobjeto,oupessoa,oumúsica?Nãoimporta.Agoraasuaexistênciafazsentido,entãooquerealmentevaleéofatodenãomaisoolharmosdamesmaforma,pois,comcerteza,essenovoolhardizmuitodasnossasvidas,donossotrabalho,dosnossosamores.Nessemomento,podemosafirmarqueafinalestamosiniciandoumprocessodeleitura.

PauloFreiredizquealeituradomundoealeituradoescritosãoindispensáveisparaoprocessoecompreensãodoqueselê.Concordandocomoautor,concluoqueprecisamosdaleituradomundoparaentenderaleituradapalavraescrita,enecessitamosdapalavraescritaparaentenderaleituradomundo.Éumaviademãodupla,queenriqueceoatodeler.

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Refletir sobre leitura implica sempre saber que algumas questões precisam serpensadas,ouindagadas:oqueéleitura?Paraqueservealeitura?Oquepodemosler?Comopodemosler?Oquealeiturarepresentananossavida?Quaisasnossaspráticasleitoras?Emaisoquevocê,leitor,sentirnecessidadedeindagar.

Asrespostasnãoestãoprontas,atéporquedevemosprocurá-lasemcadaumdenós,namaneiracomoencaramosavida,comoqueremosvivê-laeoquedesejamosparaofuturo.Ahistóriadaleitura,daescrita,dosleitoresedeseusmodosdeproduçãomostraqueesseaspectodaconjunturasocialécondiçãofundamentalparaumdesenvolvimentocombasesmaissólidas,quersejanaáreacultural,política,educacionalousocioeconômicadequalquerpaís.Portanto,falar,pensarerefletirsobreleituraésempreumanecessidade.

Emummundodetantasdescobertasetransformações,precisamosobservarqueouniversodaleituraultrapassaoslimitesdaescritaesematerializaemsuportes,formasecontextos.Podemoslertodasascoisas,oumelhor,todosostextos:imagens,gestos,sonhos,vida,casa,rua,bairro,cidade,símbolos,fotografias,poesias,músicas,lugareselivros,muitoslivros.Asrepresentaçõesquealeituranosoferecepovoamoslugareseonossocotidiano.Precisamosdeequipamentosculturaisquepossamofereceràsociedadeespaçosquefacilitemodesenvolvimentoeoenvolvimentodessasociedadecomaleituraeaescrita.Precisamosdeteatros,museus,parques,cinemasebibliotecas,muitasbibliotecas.

Sabemos que a educação brasileira deixamuito a desejar no que se refere abibliotecaeleitura.AindasãomuitopoucasasbibliotecaspúblicaseescolaresnonossoPaís,principalmentenasperiferiasdascidades,bairrosmaisafastadosemunicípiosinterioranos,semfalarnaqualidadedosacervoseserviçosqueestãosempreemdescompassoemrelaçãoaocrescimentoedesenvolvimentocientíficoetecnológico.

Nesseâmbito,sefaznecessáriorefletirsobreacriaçãodebibliotecascomunitáriascomopossibilidadedepreencheressagrandelacunanascomunidades;comunidadesessasque,valeressaltar,nãocarecemsomentedeinformaçãoeleitura,masdetodaumapreocupaçãodoPoderPúblicocomasquestõesculturaiseeducacionais.

Precisamosde bibliotecas comunitárias que semostrem comoummovimentodecompartilhamentoeconvivênciaentreosmembrosdeumacomunidadedesaberesculturaisplurais,naperspectivadeconstituiçãodeacervosquetenhamlaçosdepertencimentocomcadaumecomoconjuntodacomunidade,mediantealeituradelivros,histórias,imagens,sonsedaescrituradesuashistóriasdevidaedacomunidadelocal.Éabibliotecacomunitáriacomoumapossibilidadedelevarinformaçãoàcomunidade,alémdeestimularaleituraeoaprendizado,ajudandonaformaçãodecidadãoscríticoseconscientesdosseusdireitosedeveres.

Falarde biblioteca comunitária, portanto, é falar de cultura, informação, inclusão,exclusão, igualdade, desigualdade, democracia, cidadania, e das mudanças que podemprovocarnacomunidadeondeseencontra,namedidaemqueacomunidadeéolocaldedesenvolvimentodalíngua,dareligião,daeducação,dasaúde,damemóriaetantasoutrascoisas.

AsbibliotecasexistemdesdeaAntiguidade,masasdeperfilcomunitáriosósurgiramàépocadosmovimentossociaisdasdécadasde1960/70quandoasociedadesolicitavaaoPoderPúblicotransporte,educação,saúdeedemaisnecessidadesaobem-estarsocial.Depois

vieramassolicitaçõesdosequipamentossociaiseculturais:creches,parquesinfantis,áreasverdes,quadrasesportivas,museus,teatros,bibliotecasetc.Ebibliotecaremetea livros,informação,internet,conhecimento,memória,história,dentreoutrascoisas,que,alémdesetornarinstrumentosdeinclusãosocial,assuntosdosmaisdiscutidosenecessáriosnasociedadeatual,possibilitammaiorparticipaçãode todosna construçãodomundoquequeremosparaonossopovo.

Osprimeirosacervosdasbibliotecasconstituíam-sedeblocosdepedrasgravadoscomlendas,cânticosreligiosos,históriadeheróiseosconhecimentosdossábiosdaépoca;depois,veioobarro,noqualasgravaçõeseramfeitasaindacomeleúmido;emseguida,amadeiracomceraegravaçõesfeitascomfogo;depoisopergaminho,feitodecourodeanimais;opróximofoiopapiro,oriundodeumaplantadasmargensdoNilo,noEgito,aprimeiraformadepapelqueseusou,emboraoschinesessejamosinventoresdopapel.NoséculoXV,tivemosostiposmóveiscomGutenberge,comisso,maisfacilidadeparaapublicaçãodelivrosimpressose,consequentemente,maiordivulgaçãodasCiênciasedasArtes.Todoesseacervonãotinhaoutrolugarsenãonabibliotecaparaserguardadoepreservado.Dessaforma,asbibliotecaspassaramaserolugarporexcelênciaparaaguardadosacervosqueiamseconstituindo.

Hoje,osacervossediversificaramenãosecompõemmaissódelivros,tampoucodemateriaisfisicamentevisíveis.Temosacervosdetodosostipos:desdelivros,essesquevemosnaslivrariasepodemospegareviraraspáginas,aoslivroseletrônicos.Dessemodo,temosbibliotecasemprédioseemambientesvirtuaisnainternet.Qualquerquesejaomodelodebibliotecanóssemprepodemosacessarosseusacervosparaler.

Todasessasreflexõesremetemàsminhasmemórias,queaquiqueromereferirnaperspectivadefalardeacervos.Nascisobofarfalhardatesouraeemmeioaoslivros.Issoporqueminhamãeera“modista”emeupai jornalistaeescritor.Falarde leiturame fazlembrardaminhacasa,aquelaemquevivicomosmeuspais,irmãoseirmãs.Minhamãeàsvoltascomumatesoura,fitamétrica,revistasdemoda,seda,linho,popeline,dentreoutros,eobarulhinho,queaindahojelembro,datesouracortandootecido,entrecortadapelaidaevindadasclientes.Meupai,notrabalhointelectual,comsuasreportagenseaescrituradosseuslivros.Osdoisformavamumparinteressante,cadaumnutrindorespeitoeadmiraçãopelotrabalhodooutro.Oslivros,bem,essesseofereciamatodoinstanteeemtodolugar:naestante,nosofá,noquarto...

Nobaúdememóriasdomeumundotomaramparteefetivaedeterminanteessesdoisfatos.Àépoca,nãomevicomtendênciaparatrabalharcommoda,emboraacompanhassedepertoeparticipassedafeituradasroupas,poisme“metia”desdeaescolhadosmodelos,ajudandocomascosturasdemão,comascomprasdeaviamentose,algumasvezes,emornamentosespeciais;masnadaquemeindicasseumavocaçãofutura.

Oslivros?Bem,essesficarammaisdistantes.Nãoquedesgostassedeles.Olhava-osnaestante,admiravaascoresdassuascapas,eatémesentavasobreeles,quenamaioriadasvezestambémseencontravamnosofá,deixandoacasacomaresdedesarrumação;maseraassimmesmo-tecidoseretalhosparaumlado,elivrosepapéisparaoutro.Eraumbanquetedeformas,cores,luzes,lugares,sonhos,realidadeefantasia,comodizotítulodestetexto.

Hoje,seioquantotudoissodeuoscontornosdaminhavida.Primeiramente,quandomeaventureiafazerumaroupa,umvestido.Issoporque,deacordocomoditado,“emcasa

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deferreirooespetoédepau”,minhamãenãotinhamuitotempoparafazerasnossasroupas,queficavamsempreparaummomentodemaisfolga.Resumindoessapartedahistória,querodizerqueessahistóriademodasemprepermeouaminhavida,estandoemalgunsmomentosnocentrodasminhasatençõesemedeuaoportunidadedeparticipardessemundomágicoeenvolvente.Foiumagrandeexperiênciaouumagrandeoportunidadeparaoencontrocomaleituradomundodamoda.Aomesmotempoemqueagianessemundo,tambémcontinuavaemmeioaoslivroseaosaber.Vivipormuitotempoessadualidadeepensoqueaindaguardoumpoucodissoemmim;noentanto,osrumosmudarameaintelectualidadefaloumaisalto.Foiassimqueomeuenvolvimentomaisíntimocomaleiturasesolidificoueagoraestouafalardeleituraedinamizaçãodeacervos.Falodosmeusacervosparaqueselembremdosseus.Estoumostrandoalgumacoisademimpermeadaumpoucopormuitascoisasepormuitaspessoasqueencontreinomeucaminhar.Ummixdasminhasvivências.

Percorrialgunscaminhos,eaolongodessescaminhosfuiconstruindoomeumundoeguardandoacervos,umtecidoquevemseavolumandocomeatravésdecadapessoaedecada fato,edo conjuntodeles todos.Viajeipormuitos lugaresnaminharealidade,mastambémviajeipelaimaginaçãoepelafantasia,emetorneipersonagemdemuitosfilmeselivros,canteicomoGalCostaeElisRegina,escrevicomoDrummondeManuelBandeira,quisserbailarina,umabailarinadessasquetransgrideospassosclássicosdobalé.Aprenditantascoisas!

Aprendiquelernãoserestringeàpalavraescrita,masatodosostextosquesemeoferecemesemostramaoolhar,aosentir,aocheirar,aoouvir.Aprendicomessestextos,nosriscosqueelesmeofereceramemeoferecem.E,naminharelaçãocomessestextos,naleitura dessas linguagens, fui desvendando omundo e amim num diálogo singular derespeitoeafetos.Quandomelembrodessemundovividoeguardado(osmeusacervos),reconheçoquedaínasceualeitoraemquemetornei.

Partindo dessas reflexões, proponho, então, que os acervos sejam pensados naperspectivadeumaleituraqueestánaescritaealémdaescrita:noslivros,nosfilmes,noscheiros,nosgestos,noolhar,nacidade,nacasa,narua,nafotografia,naslembranças,namemória.Assim,precisamosveraleituracomoumlugarondecadapessoaseinscrevedemodo singular e único, dependendo da sua história de vida, experiências, lembranças,esquecimentos,medos,projetosetc.Esseéouniversodaleitura,ouniversodavida;deumavidaquecaminhanoritmodotempo,quenãoéuniforme,mastemexistênciaindividualecoletiva,emconstanteinteração,pormeiodasvozesdocotidianodecadaumdenósequeaparecemnascidadesconstruídasdepapele letras,ecores,esons–noslivros, jornais,anúncios,bulas,revistas,cartas,cartazes,receitas,internetehistóriasdevida.

Partindodapremissadequeparaaprenderénecessárioquealeituraestejapermeandoessecaminho,qualquerquesejaanaturezadaaprendizagem,elaessencialmenteestaráacompanhadaporumprocessodeleitura,quesemostracomdistintasformasepordiferentessentidos.Independentementedosentido(visão,audição,tatoetc.)envolvidonesseprocesso,asrelaçõeseinteraçõesdoserhumanocomanaturezaeaculturaimplicamaprendizagemeencontramnaleituraasuaessência.

Portanto,criarespaçosparapráticasleitorasinteressacomoatividadesquepossibilitamasignificaçãodosdiversostextoseasocializaçãodoserhumano, jáquea promoçãoe

motivaçãodaleituranãoserestringemaoatodeleremsi,massimàleituracomoformadeconhecimentoeparticipaçãopolítico-social.Éprecisosituar-senomundoe interagircomessemundodeváriosmodoseemdiferentesregistros,poisoatodelerseconstróinavalorizaçãoe qualificaçãodas relaçõeshumanas,napossibilidadede construçãodeumsujeitocidadão;napossibilidadede,doencontrodasdiferenças,lermoscomooutro.

Queroterminaressapartereflexivacomaminhaconcepçãodeleituraquediz:lerécomoentrarnumtextofeitoareiamovediça,povoado,portodososlados,depalavras,vogaiseconsoantes,luzesecores,fadaseduendes,realidadeeimaginação;tudoarrumadoqualumbanquete,paraquecadapessoaprove,sinta,cheire,ouça,toque,sonhe.Foiassimqueentreinesseterreno“perigoso”emebanqueteeioquantopude.Fiqueipresanassuasarmadilhas,masnãomefartei,atéporqueobanquetenãoacabou.Pensoquejamaisacabaeque,depoisqueosaboreamos,elevaiestarsemprelá,ànossaespera.

Sugestões para dinamização de acervos

Parapensaremacervos,tomecomopontodepartidatrêsaspectos:aconsciênciadoeucomoleitor(a);apercepçãodooutro,tambémleitor;eoconjuntodoeuedotu,onós,acomunidadeleitora;istoé,pensarosacervosalémdoqueestáfisicamenteordenadoembibliotecas,centrosdeinformação,salasdeleitura,livrariasetc.;observarashistóriasdavidacotidianadossujeitosenvolvidosnoprocessodeleitura,dereleituras,oescreverereescreverhistórias.

Atividadespropostas

1) Comeceporvocêeconstruaoseuconceitode:LERÉeACERVO

2) Ondepodemosencontraracervos?

3) Crieumamala/baú/caixadememórias/recordações

4) Leituracomoexpressãodoser: façaumautorretrato:cadapessoavaicriar,pela

poesia,oautorretrato,numaviagememseuacervopessoal

5) Leituranapercepçãodooutro

6) Leituraeacervosculturais:formarumpequenoacervodahistóriadasuacidadeefaledasuaparticipaçãonessahistória(danças,lendas,festasreligiosas,folclore,poetaspopulares,comidas,causosetc.)

7) Leia,leiamuito,eescreva

8) Pense,invente...

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Elaboreumconceitoparaoquevocêentendesobreoatodeler

LERÉ...

Combasenaleituradestetexto,crieumconceitoparaacervo

APALAVREÉ...ACERVO

“ACERVOÉTUDOQUEGUARDAMOSEMNÓSEAONOSSOREDOR.ÉAQUILOQUEREPARTIMOSERECEBEMOSDEALGUÉM.ÉAVIDAEMCONSTANTEMOVIMENTODEIREVIR,COMOEMONDASNOMAR.”FÁTIMAARARIPE

“OACERVOÉAPRÓPRIAVIDA.”NANCYNÓBREGA

“NOSSOACERVOÉCONSTITUÍDODERESSONÂNCIAS.”CELSOSISTO

“ACERVOS:SOMOSNÓSMESMOS.”LÍDIACAVALCANTE

“ACERVOÉAQUILOTUDOQUEFUIGUARDANDODENTRODEMIM.TODOSOSDIASEUDOUPARAALGUÉMUMPEDAÇODELE,ENUNCAACABA,PELOCONTRÁRIO,ACADA DIA ELE ÉMAIOR, PORQUE TEM SEMPRE ALGUÉM QUEME DÁOUTROPEDAÇOTAMBÉM.”LÚCIAFIDALGO

Agoraéasuavez:

.”

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Ondepodemosencontraracervos?Completeosespaçosembranco.

BIBLIOTECA MALA

CASA

EU

NOOUTRO

SONHOS

SOMBRAS

SUADADECAIXA

COLEÇÕES

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Prepareumamala,oubaú,oucaixa,comsuasmemórias.Oquevocêaindapodecolocarnessamala?Preenchaosespaçosembrancooucrieoutrapágina.

RETRATOS HISTÓRIAS

POESIAS EMOÇÃO

FANTASIACARTAS

PESSOAS

PALAVRAS

SONHOS

SORRISO

EMOÇÃO

PAIXÕES

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Inspirado(a)naspoesiascrieoautorretrato

OAUTO-RETRATOMárioQuintana

Noretratoquemefaço

–traçoatraço–Àsvezesmepintonuvem,Àsvezesmepintoárvore...

Àsvezesmepintocoisas

Dequenemhámaislembrança...OucoisasquenãoexistemMasqueumdiaexistirão...

E,destalida,emquebusco

–poucoapouco–Minhaeternasemelhança,

Nofinal,querestará?Umdesenhodecriança...Corrigidoporumlouco

AUTORETRATOFALADOManoeldeBarros

VenhodeumCuiabádegarimposederuelasentortadas.MeupaiteveumavendanoBecodaMarinha,ondenasci.MecrieinoPantanaldeCorumbáentrebichosdochão,

aves,pessoashumildes,árvoreserios.Aprecioviveremlugaresdecadentesporgostodeestar

entrepedraselagartos.Jápubliquei10livrosdepoesia:aopublicá-losmesinto

meiodesonradoefujoparaoPantanalondesouabençoadoagarças.

Meprocureiavidainteiraenãomeachei—peloquefuisalvo.

Nãoestounasarjetaporqueherdeiumafazendadegado.Osboismerecriam.

Agoraeusoutãoocaso!Estounacategoriadesofrerdomoralporquesófaço

coisasinúteis.Nomeumorrertemumadordeárvore.

Leituranapercepçãodooutro:baseadonotexto, façaumadinâmica,emdupla,paraqueaspessoas,semseconhecerem,façamobservaçõessobreoquepensamqueaoutraéoufazsópelovisual.

GENTE

LuísFernandoVeríssimo

Existe gente-casa e gente apartamento. Não tem nada a ver com o tamanho: hápessoaspequenasquevocêsabe,sódeolhar,quedentrotêmdoispisoseescadaria,epessoasgrandes com um interior apertado, sala e quitinete. Tambémnão tem nada a ver comcaráter.Gente-casanãoénecessariamentemelhordoquegente-apartamento.Acasaquealgunstêmpordentropodeestarabandonada,apessoapodeserapenasumafachadaparaumaarmadilhaouumbordel. Jáumapessoa-apartamentopodeteruminteriorsimplesmasbemajeitadoeagradável.Émuitomelhorconvivercomumdois-quartos,sala,cozinhaedependênciasdoquecomumlabirinto.

Algumaspessoasnãosãoapenascasas.Sãomansões.Comsótãoeporãoetudoqueelescomportam,inclusivebaúsantigos,fantasmasealgunsratos.Éfascinantequandoalguémquevocênãoimaginavasermaisdoqueumapartamentocomumasuíte,derepenteserevelaumsobradocompátiointerno,adegaesolário.Ésemprearriscadoprejulgar:vocêpodecomeçarumrelacionamentocomalguémpensandoqueéumquarto-e-salaconjugadoesedescobrirperdidoemcorredoresescuros,equandoabreumaportadánoquartodeumatialouca.

Pensandobem,todomundotemumacasapordentro,ou,nomínimo,bemlánofundo,umporão.Ninguémé simples.Tudo,afinal, é sóapontadeum iceberg (salvopontadeiceberg,quepodeseroutracoisa)emuitasvezesquemaparentaserapenasumacoberturafuncionalcomquarto,sala,lavaboecozinha,sóestáescondendosuasmasmorras.

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CASAARRUMADA

CarlosDrummonddeAndrade

Casaarrumadaéassim:Umlugarorganizado,limpo,comespaçolivrepracirculaçãoeumaboaentradadeluz.Mascasa,pramim,temquesercasaenãoumcentrocirúrgico,umcenáriodenovela.Temgentequegastamuitotempolimpando,esterilizando,ajeitandoosmóveis,afofandoasalmofadas...Não,euprefirovivernumacasaondeeubatooolhoepercebologo:Aquitemvida...Casacomvida,pramim,éaquelaemqueoslivrossaemdasprateleiraseosenfeitesbrincamdetrocardelugar.Casacomvidatemfogãogastopelouso,peloabusodasrefeiçõesfartas,quechamamtodomundopramesadacozinha.Sofásemmancha?Tapetesemfiopuxado?Mesasemmarcadecopo?Tánacaraqueécasasemfesta.Eseopisonãotemarranhão,éporquealininguémdança.Casacomvida,pramim,tembanheirocomvaporperfumadonomeiodatarde.Temgavetadeentulho,daquelasqueagenteguardabarbante,passaporteeveladeaniversário,tudojunto...Casacomvidaéaquelaemqueagenteentraesesentebem-vinda.Aqueestásempreprontaprosamigos,filhos...Netos,prosvizinhos...Enosquartos,sepossível,temlençóisreviradosporgentequebrincaounamoraaqualquerhoradodia.Casacomvidaéaquelaqueagentearrumapraficarcomacaradagente.Arrumeasuacasatodososdias...Masarrumedeumjeitoquelhesobretempopravivernela...Ereconhecernelaoseulugar.

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Leituraeacervosculturais:formeumpequenoacervodahistóriadasuacidadeefaledasuaparticipaçãonessahistória(danças,lendas,festasreligiosas,folclore,poetaspopulares,comidas,causosetc.).Podeserumamúsica,umapoesiaouumacrônica.

EstradadeCanindé

LuízGonzagaeHumbertoTeixeira

Ai,ai,quebomQuebom,quebomqueé

UmaestradaeumacaboclaCumagenteandandoapé

Ai,ai,quebomQuebom,quebomqueé

UmaestradaealuabrancaNosertãodeCanindé

ArtomovelánemsabeseéhomeouseémuiéQueméricoandaemburricoQuemépobreandaapéMasopobrevênasestradaOorvaiobeijandoasflô

VêdepertoogalocampinaQuequandocantamudadecorVaimoiandoospésnoriachoQueáguafresca,nossoSenhorVaioiandocoisaagranéCoisasqui,pramodevê

Ocristãotemqueandáapé

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Leia,leiamuitoeescreva

• Copieletrasdemúsicas,ecante,muito• Escrevabilhetesoucartas• Anotepensamentos• Façadiários• Copieefaçapoemas• Escrevaashistóriasquesuaavóouseuavôconta• Façaumcadernodepiadas• Prepareálbunscomfotoseanotaçõessobreafamíliae/ouamigos(umcadernoserveparaisso)• Alistadepossibilidadestemotamanhodasuaimaginação

Pense,invente:

??

?

?

Referências

ARARIPE, Fátima Maria Alencar Araripe. A Biblioteca comunitária nas ondas da leitura. In: SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO E LEITURA: Novas linguagens, novas leituras, 6. 2010. Natal.

, Fátima Maria Alencar; Teixeira, Jamille. A Leitura como possibilidade de inclusão social. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE COMPREENSÃO LEITORA, 3. 2010. Brasília.

CERTEAU, Michael de. A Invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.

EL FAR, Alessandra. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ED.2006.

FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes MÉDICAS,1994.

GOHN, Maria da Glória. Empoderamento e participação da comunidade em políticas so- ciais. SAÚDE e sociedade. São Paulo, v.13, N.2, P.31-42, maio/ago. 2004.

MACHADO, Elisa Campos. Biblioteca comunitária como prática social no Brasil. In: ENCON- TRO NACIONAL de PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMACÃO, 10., 2009, João Pessoa. Anais... João Pessoa, UFPB, 2009.

NÓBREGA, Nancy Gonçalves da. De livros e bibliotecas com memória do mundo: dinamização de acervos. In: YUNES, Eliana. Pensar a leitura: complexidade. Rio de Janeiro: PUC, 2001.

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Módulo 7 Comunicação e cultura: as faces e

os sotaques da biblioteca comunitária

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Luís Tadeu Feitosa Luiz Tadeu Feitosa é doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará e mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É professor da Universidade Federal do Ceará e atualmente chefe do Departamento de Ciências da Informação da UFC. Tem experiência na área de Ciência da Informação e Comunicação Social, atuando principalmente nos seguintes temas: mediação da informação e da comunicação; cultura das mídias; comunicação e semiótica; comunicação e tecnologias. Coordena o projeto de extensão Biblioteca Comunitária do Benfica e Gentilândia na UFC.

Comunicação e cultura: as faces e os sota- ques da biblioteca comunitária

A cultura Vocêpensaque culturaé uma coisadifícilde compreender?Nadadisso.Falarde

culturaéfalardenósmesmos,daspessoasquedividemconoscoamesmacomunidadeefalamcomonósamesmafala,têmomesmosotaque,comportam-sedemodoquaseigualaonossoedividemconoscoosmesmosvalores,asmesmastradições,asmesmashistórias.Olhasó,sevocêachaqueCULTURAsótemavercompessoascultas,estáenganado.Culturaéalgomuitomaisamplo.Étudooquerecebemosdesdequenascemos.Muitasvezesatémesmoantesdenascer.Minhafalaéminhacultura.Afaladooutroéaculturadele.E,asduas,mesmosendodiferentes,sãoculturaesãoimportantesparatodos.Terculturaétervalores,éseguirummodelodevida,éacreditarnaquiloquenossatradiçãoenossahistórianosensinaram.Culturaéomeucomportamento,acomidaquecomo,otipoderoupaquevisto; o meu jeito de falar e de andar. O mais certo não é falar em cultura, mas emCULTURAS.Cadapovoecadagrupotêmasuacultura.Semeupovosealimentadecarnede porco e outro povo só se alimenta de cobras é porque esses são os nossos tiposdiferenciadosdecultura.Portanto,aCULTURAéoqueinventamosparaanossavidaeessa“invenção”todaquecadapovooucadagrupofazparasiéoqueeuchamodeIMAGINÁRIOCULTURAL.

A Construção dos Imaginários

Todasasculturasinventamseusmodosdeserelacionarcomascoisasdomundo.Quandoumaculturainventaumjeitodeser,umtipoderoupa,decomida;umtipodefé,decrençaedetantasoutrascoisas,tudoissodiferentedasdemaisculturas,éporqueeleestáinventandoumSENTIDO,umSIGNIFICADO,umaSIGNIFICAÇÃOparaasuavida,paraoseumododesecomunicareparadizerOQUEÉASUACULTURA.Poisbem,éaissoqueeucha-modeIMAGINÁRIO.Cadaculturaconstróioseu;masnãoéumimagináriosimples.Cadaimagináriodecadacultura,decadapovoésemprebemcomplexoerico.TodossabemqueexisteumDEUS,queexistemmodosdeeumecomunicarcomDEUSequeeudevorespeitoeobediênciaaDEUS.Cadapovoecadagrupo,noentanto,têmumIMAGINÁRIOdiferentedeDEUSeformasdiversificadasdeobedeceredesecomunicarcomEle.Éporissoqueexistemmuitasreligiõesecrençasdiversas.TODASELASSÃONECESSÁRIASeimportantesetodaselastêmIMAGINÁRIOSdiferentessobretudooqueserelacionaaDEUS.ATENÇÃO!Nãopenseque imaginárioéumafantasia,umamentiraouumaalucinação.Nãoénadadisso.IMAGINÁRIOÉAREALIDADECULTURALDECADAPOVOoucadaGRUPO.Ouseja,IMAGINÁRIOétudooqueestárelacionadoadarsentidoàscoisas.Assim,secadapovo,secadacomunidadetemoseumodoparticulardeveromundoededarsentidoaessemun-do,entãosignificadizerquecadaumtemoseuIMAGINÁRIOdascoisas.Essesimaginários

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sãoreaisporquerepresentamanossacultura.DizerquecadaculturatemoseumododeimaginaroseumundoéamesmacoisadedizerquecadaculturatemasuaIDENTIDADE.

As Identidades

Jáfoiditoquenãoexisteacultura,masasculturas.OmesmoseaplicaàIDENTIDA-DE.Umgrupotemsuaidentidadediferentedadeoutrogrupo,mas,naverdade,omododeserdecadagrupo,decadapovo,decadacomunidadeétãodiversoetãoricoqueémelhordizerquecadapovotemmuitas identidades.Porexemplo:seoCearátemsuaIDENTIDADEeelaédiferentedaidentidadedoRioGrandedoSul,não significadizerquetodogaúchoéigualaooutroouquetodocearensetemamesmaidentidadedeoutrogru-posdecearenses.Vejamqueosotaque,omododesevestireoquesecomeemFortaleza,sãodiferentesemCanindé,emJuazeirodoNorteeemlugarejosdistantesdosertão.Poisbem,todossomosdeIDENTIDADECEARENSE,mastodostemosmuitasdiferenças.Umfortalezensecome,semproblemas,umcaranguejo,queosertanejoserecusaacomer.Domesmojeitoumsertanejopodegostardecomerpebaetatueumfortalezensenãocon-seguir.Issoéculturaleessadiferençaculturalédadapeloshábitos,quesãodiferentes.Esseshábitossãomarcadosporidentidadesdiversificadas.Cadaculturatemsuasiden-tidades.Assim,entenderaculturaéentenderasnossas identidadeseosmodoscomotudoissoépassadoparanósdegeraçãoparageração.EssastransferênciasdegostosedecoisasdaminhaculturachegamamimpelaTRADIÇÃO.

As Tradições

JádeuparaperceberquefalardeCULTURAéfalardeMOVIMENTO.Todaculturaédinâmica. Isso quer dizer que tudo o que recebemos da nossa história, dos nossosantepassados, dos nossos pais, dos nossos valores, tudo isso chega a nós como umaherança,comoumpatrimôniocultural.Umariquezaquerecebemosequedizparanósdequeculturasomos,quaissãonossasidentidadesecomodevemosnoscomportarnomundo.OconjuntodessascoisasrecebidaséqueeuchamodeTRADIÇÃO.Assim,tra-diçãotambémnãopodeserentendidacomocoisaúnica,mascomomuitascoisas.Sãomuitas heranças,muitas coisas recebidas daminha cultura. Logo, as TRADIÇÕES sãocomo textosquemostramparanósoque somos culturalmente.Asnossas formasdebrincar,dejogar,derezar;asnossascantigasderoda;nossasmúsicas,festaserituais;nossasdanças,nossasfalas,nossascomidastípicas,nossosfazeresesaberes;tudoissonosédadopelaTRADIÇÃO.Atradiçãoécomoumveículoimaginárioquetransportaparanós todas as marcas do nosso passado. É quase como dizer que as TRADIÇÕEStransportamnossasIDENTIDADES.Eessasmarcasdopassadorecebemdetudooquefazemosnopresentecoisasnovasqueaprendemostodososdias.Falarassiméomes-moquedizerqueasTRADIÇÕESSÃOETERNAMENTERENOVADAS.Nossasmarcasdopassadosãoatualizadasnopresenteedirãoparanóscomopodemsernofuturo.As-sim,astradiçõessãodinâmicasporquenuncamorrem,masmudam,seatualizam.Eelasseatualizam pelas nossas memórias: as de ontem e as de hoje para a construção doamanhã.

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As Memórias Todopovotemmemórias.Sãoaslembrançasindividuaisecoletivas.Ahistóriado

lugaredacomunidadeéumtipodememóriacoletiva,poisfoieévividaportodosdacomunidade.Cadapessoa,noentanto,temamemóriaindividualdolugaredaspessoasdacomunidade.Sãomemóriastambémashistóriasdevida,osrelatosdaspessoas,asmarcashistóricasdo lugar,as casas antigas, as cantigasde rodaedeninar,os causoscontados.Umferroabrasa,umfogãoalenha,umsantuário,umbaúantigo,umálbumdefotosetodososmateriaisquepossamlembraralgo,tudoissoéMEMÓRIA.Conservaressascoisasépreservaramemória.Estimularqueessascoisastragamànossahistóriaasmarcasdopassadoserveparaentendermosopresente.Amemóriadaspessoaséomaior PATRIMÔNIO CULTURAL de um POVO, principalmente a dos idosos. Estimularessasmemóriasédarvidanovaaosidososeànossacultura,contadaporeles.Assim,seMEMÓRIA É CULTURA, recuperar o relato de vida das pessoas idosas é preservar amemóriaculturaldeumpovooudeumacomunidade.

Assimcomoasculturas,osimaginários,asidentidadeseastradições,asMEMÓRIAStambémsãopluraiseservemcomocenáriodomeuvivercultural.Orelatodaminhavida,asmarcasdomeulugar,asnarrativasquefalamsobreaminhacomunidadesãodadaspelaMEMÓRIA.CadaetapadomeuviverecadafasedahistóriadaminhacomunidadeseráentendidacomoosQUADROSSOCIAISDAMEMÓRIA.Sãoquadrosdeumvivercoletivo,deumviveremcomunidade,deaçõescoletivasvividasepartilhadaspelosgrupossociais.AMEMÓRIADEUMACOMUNIDADEétecidacomoumarededefiar;comoumartesanatodecordasentrelaçadas;oslabirintosdeumbordado;asredesdepescarouosfiosdeumarendaentrelaçadaporbilros.Osbilrossomosnós,pessoasdacomunidade.Osfiossãonossosrelatos,nossosdiálogos,nossavidaemcomunidade.Aredededormirtecida,olabirintobordado,aredequepescaearendaqueenfeitasãonossasmemórias.Assim,AsMEMÓRIASsãoodecursodeconstruçãodeumviverquenasceindividualmenteeseexpandecoletivamente.EntendersobreaMEMÓRIAesuasformasdeagirculturalmenteécompreenderquemsomos;éconhecerdequemateriaisdasmemóriassãofeitasnossascomunidades.O importanteparasaberéquenãoexistimossemmemória.Damesmaformasãonossascomunidades.Afimdeentendercomoseentrelaçamasculturas,seusimaginários, identidades, tradiçõesememórias, faz-senecessárioentenderopapeldanossahistórianissotudo.

A História

Falardehistóriaéfalardosfiosnarrativosquefalamdenós,quecontamoquesomosquedemonstramanossaculturaeostemposvividosporela.Ahistóriaécomoumrioperene,porondenavegamnossasvidas,memórias,identidades.Épelocursodahistóriaqueastradiçõestransitamatéchegaranós.Oconjuntodevidasvividassóoucoletiva-menteéoquefazanossahistóriaeadenossacomunidade.Ahistóriademarcaonossotempo,etambémonossoespaço.Assimcomoacultura,elaédinâmicaeseatualizasemnuncaparar.Ahistóriavenceatéamorteeparaissoelaprecisadamemóriaedatradição,queaeternizam.Umavezvivida,ahistóriaprecisasercontadaportodoosempre. Revereestimular(estimulá-la)égarantirnossaeternidade.Umahistórianãopodeservivida

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individualmente,mascomonossogruposocial,comaspessoasquedividemconoscoasmesmasculturas,asmemórias,astradições.Falardehistóriaéfalardanossaconstruçãocultural,dostemposeespaçosemquevivemoseagimos.Falardehistóriaéfalardecons-truçãodenossoscotidianos.

Os Cotidianos

Émuitocomumouvirmosfalardascoisasquefazemosequedeixamosdefazernonossodiaadia.Ahistóriadoserhumanoétambémorelatodosseusafazeresedosmo-doscomoconstruímosnossavidacoletivamente.Comofoidito,éaculturaquedefineoquesomos,oquecomemos,oquefazemosetodososnossosvalores,gostosecompor-tamentos.OconjuntodetodasessascoisaseuchamodeCOTIDIANO.Eleéoespaçodanossavida,dasnossaslutasepelejasdiáriasehistóricas.Ocotidianoéoespaçoondeplanejamos,elaboramos,produzimoseadministramosonossoviver.Cotidianoéonos-sodiaadiacheiodecomplexidades,lutas,medos,conquistas.Ocotidianoéoespaçoetambémotempovividosegundoumaformadeviverpensadacoletivamente,refletidaculturalmente.Cadacultura,todogrupocultural,povo,cadacomunidadeinventamoseucotidiano. Assim, uma comunidade que vive da pesca e das culturas praieiras é umacomunidadedecotidianosprópriosdesseviver:opreparodasjangadas,ohábitodesealimentardepeixe,ascasasapropriadasàgeografiadapraia,ashistóriasdepesca-dores,oconjuntodecantigascomtemáticasdomarsãoaspectosdesseCOTIDIANO.Omesmoacontece com todas as outras comunidades de COTIDIANOS DIFERENTES. Se cadaculturatemoseujeito,cadacotidianotemoseusotaque,suadicção.

Os Sotaques e Dicções

Sotaquesedicçõesnãosãoprópriosapenasda fala,masdemuitasdasnossasmarcasculturais.Aliás,sotaqueéumamarca.Dicçãoéumamarcadosotaque.Quan-dosedizqueissoouaquilo“éacara”deumpovo,éamesmacoisaquesereferiraossotaquesedicçõesdaquelepovo.Comodissemossobreoscotidianos,cadaumdelestemumsotaquedofalar,mastambémdeumjeitodefazer,jeitodesecomportar.Cadacomunidadesediferenciapelosseussotaquesculturais.Afaladeumpovoéoseusotaque,masasuaroupaeassuasdanças tambémosão.O jeitodedançaranossadançaoudecantaranossamúsicaeuchamodedicçãocultural.Assim,dicçãoéomodode fazer específico de uma cultura. Toda comunidade tem seus sotaques e dicçõespróprios. E por que é importante saber dessas coisas? Ora, porque nos ajuda acompreenderosoutroseascomunidadesalheiasconformeelassãoenãoconformequeremosqueelassejam.Conhecerossotaquesedicçõesdeumacomunidadeoudeumpovoevitaqueconstruamosumavisãoerradasobreeles.Quandoachamosruimalguémnos imitar demodo equivocado éporque sabemos que ali está sendo cons-truídaumaimagemouumavisãodiferentedoquerealmentesomos.Portanto,nãohásotaques e dicções errados ou certos, e sim diferenciados. E o são porque somosdiferentescomoculturaecomopovo.Conhecereentenderessasdiversidadesedife-rençaségarantirumconvíviopacíficoepleno.

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Valores culturais Terculturanaextensãodetudooquefoiditoatéestemomentoéterumpatrimônio,

umariquezaquejamaisseacaba,porquesempreserenovaeseatualizacomotempo.Edeondevemariquezadacultura?Elavemdosnossosvaloresculturais.Nãosetrataderiquezaeconômica,masderiquezacultural.Nossosvaloresculturaissãoconquistadosdesdeamaneiramaissimplesatéamaissofisticada:vêmdanossalínguafaladaatéacomplexidadedosnossosimaginários.Sãovaloresculturais:onossoidioma,osotaque,ovestuário, todososcomportamentos,nossasartes, linguagens,culinária,expressões,gestosemaisumainfinidadedecoisasqueestãopresentesnanossacultura.Dizerquetemosvaloresculturaissignificaqueculturasdiferentesdanossatambémtêmseusvalo-res.Nãoimportaseaminhaculturanãoéigualàculturadooutro.Oqueinteressaéquetodasasculturastêmseusvaloreseelessãoimportantesparaqueascomunidadessedesenvolvamculturalmente.

A Comunicação

Acomunicaçãoéoquenosuneaooutro.Nãoháumviversemcomunicação.Acomunicaçãonosune,agreganossosviveres,compartilhanossossonhosedesejos;elatambém pode separar, segregar, afastar. Vamos tratá-la aqui, no entanto, como esse“cimento social” que nos liga ao outro, social e comunitariamente.Não fosse a nossacapacidadedenoscomunicar,nãoteríamosacultura.Claro,porqueéacomunicaçãoquetransmite a cultura.As tradições, asmemórias e a nossa história cultural não teriamchegadoaténóssenãotivessemsidocomunicadaspelosnossosantepassadosoupornósmesmos.O atode anunciar,dizer,dialogar; como tambémos atosde gesticular,de seexpressaredesinalizarsãoatoscomunicativos.Acomunicaçãoéomeiodetransporteda cultura e também a sua principalmanifestação. O que difere são as formas de secomunicar.

Cadapovotemoseu jeitodesecomunicar,aindaqueosmeiosdecomunicação–rádio,televisão,cinema,livro,internetetc.–sejamdisponibilizadosparaquasetodosetransmitam damesma forma para todas as culturas. Portanto, não importa se essesmeiosdecomunicaçãofalamdemodoigualparanós.Importaéquecompreendemosasmensagensdessesmeiosdemododiferentedosoutros.Cadaculturainterpretadiferen-tementeoquerecebemosdessesmeios.Oqueinteressaanósnestefascículoéacomuni-caçãocomoveículodanossacultura.Interessatambém–ejávimosissonositensante-rioresdestefascículo–asváriasmaneirascomocadacomunidadecomunicaasiprópriaeaomundoseusmodosculturaisdeser.Entenderissoéimportanteparacompreenderovalordacomunidadeeosmodoscomoestapodecomunicarparaomundoseujeitoculturaldeser.

A Comunidade

Entendidosadinâmicadaculturaeomodocomoestaécomunicadaaomundo,éhorade vermos como a cultura e a comunicação acontecem na comunidade onde vivemos.Comunidadeéolugarondeconviemoscoletivamente,ondepartilhamosdosmesmoside-ais,trocamosexperiências,construímososmesmoscotidianos.Entenderacomunidadeé

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conhecersuacultura,seusmodosdevida,aspessoasquenelavivem,seusvaloreseidenti-dades.Viveremcomunidadeéterumavidaculturalesocialemcomum.Sermoscomunitá-riosétambémnosestimularmosunsaosoutrosdentrodacomunidade;édaraooutrovezevoz;érealçaroqueacomunidadetemdebomedemelhoretambémtrabalharcoletiva-menteparaqueacomunidaderealizeseussonhosedesejos.Portanto,acomunidadedeveser constantementeconstruída, reinventada, ressignificada.Comopodemos,no entanto,fazerpararecriar,reinventaredarmaisdinamismoànossacomunidade?Antesdetudo,éprecisoconhecê-laemsuasparticularidades.

Os patrimônios

OmaiorpatrimônioculturaldeumaCOMUNIDADEéoseupovo,sãotodasaspessoasque ali nasceram, que ali vivem, ali atuam. A história, a memória e a cultura de umacomunidade só podem ser comunicadas pelas suas pessoas. Uma comunidade tem ospatrimônios individuais e coletivos, patrimônios materiais e imateriais e todos elesprecisamserestimulados.

IndividuaisAssimcomoamemória–quetemporçãoindividualecoletiva–tambémopatrimônio

cultural tem faceta individual e coletiva. Numa comunidade, cada pessoa pode serconsideradaumpatrimônioindividualdela.Vejamosalgunsdessespatrimônios.

MoradoresTodacomunidadetemacaradeseusmoradoreseestessãoastestemunhasvivasda

culturadeseulugar.Nesselugarpartilhandoumavidacomumnãoháumapessoamaisoumenosimportante.Todostêmsuaimportância.Aimportânciadequemmora,vive,convive,partilha,conhece,interagecomosseus,fazdeleumsujeitoquecompreendeumaspectodoconjuntodeaspectosquetemumacomunidade.Portanto,émediantecadamoradorquenesseespaçovivequesepodeafirmaralgosobreele.Sefugirdisso,secorreoriscodecriarerroseestereótipos.Nãoéoestrangeironemovisitantequeiráconhecê-la.Quemconheceolugaréquemnelehabitaeneleinterage.Cadamoradorajudaaconstruirodiaadiadoseuespaçogregário.Portanto,sevocêquiserconheceraspectosdessavidapartilhadadecotidianos,pergunteaosseusmoradores.Cadaumteráumdetalheadizer.

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Para entender melhor

Patrimônio pessoal é a minha memória, minhas lembranças e meus bens materiais, que podem ser significativos para a minha cultura. Patrimônio coletivo é tanto o conjunto de nossas memórias vividas juntas como nossas identidades culturais. Patrimônio material é uma fachada de uma casa, um ferro a brasa, um fogão a lenha e todos os materiais e objetos que lembrem minha cultura. Patrimônio imaterial é uma reza, um ritual, um aboio, uma cantiga, nossos sabores, nossas danças, nossos mitos.

AnônimosAnônimos são aqueles moradores que você nem conhece, mas que, sendo da

comunidade,sabealgosobreela.Éapessoaquepassapelarua,umvendedorambulante,umcarteiro,umpedinte,ummoradorderua,umboêmio,umsujeitocomumouqualqueroutra pessoa importante, mas que vive anonimamente na naquele espaço. E qual aimportânciadelasnumacomunidade?Ora,cadaumadelaséumatestemunhadessevivergregário.Cadauma delas ajudaa dar um sentidoe uma caraparao lugar e para suasidentidades.Essesanônimosnão podemcontinuaranônimos.É precisoque eles sejamconvidadosacontarasuaversãodahistóriaquealivivemjuntos;adarasuacontribuiçãoparaaconstruçãoemanutençãodessaemcomum.Semeles,peçasimportantesdacultura,identidade,históriaememóriadolugarpodemseperder.

CelebridadesTodacomunidadetemsuascelebridades.Ocomercianteantigo,obodegueiropopular,

amelhorbenzedeira,ocabeleireiro,aparteira,osprofissionaisdetodotipoetambém osartistas: cantadores, cordelistas, cantores, artesãos, artistas de um modo geral. Quasesempreessascelebridadessãopessoasquesabemmuitosobreaculturalocal.Éprecisodar espaçoa elas, incentivarseusofíciose artes, estimulara difusãode seus sabereseexperiências.Amarcaculturaldetodacomunidadepassatambémporessascelebridades.Éprecisoaproximá-lasdetodososmoradoresquecomelasdividemomesmoespaçoparaque,juntos,recuperemedifundamavidavividacoletivamente.

IdososJáfaleiaquidopapeldamemóriaparaacultura.Umadasmemóriasimportanteséa

dosidosos.Elestêmmuitoacontar,poistestemunharamtemposemquenãovivemosequeprecisamserconhecidosparaqueentendamosmelhoronossopresenteeoquesepodeesperardonossofuturo.Emnossascasas,nossosavósebisavóssãoosresponsáveispelahistóriadenossasfamílias.Noqueconcerneàvidacomunitária,elessãoossujeitos-memóriadolugar.Seusrelatosfuncionammetaforicamentecomoumaespéciedeálbumdefotografiasdonossolugar.Deseusrelatossurgempérolasdanossahistóriaemcomunidade.Desuaslembrançasbrotaminformaçõesvaliosassobrenósmesmos,acercadonossolugar,suamemóriaesuacultura.Deixarumidosomorrersemdaraeleaoportunidadedenosalimentarcomnossaculturaédesejarqueestacaianoesquecimento.Éprecisoestimularosidososdenossacomunidadeacontinuaremativoscomoacultura.

ColetivosSãopatrimôniosculturaisdacomunidadeojeitodefalar, ossotaques,aculinária,as

crenças e religiosidades; as festas e rituais; os artesanatos e as artes populares; asidentidadeseosimaginários.Pode-sedizerquetodosesseselementosformamaculturalocaldacomunidade.Estasediferenciadadeoutrascomunidades.ÉessamarcaculturallocalquedeterminaasMARCASDACOMUNIDADE.Falodemarcasculturaiseelasprecisamserexercitadas,conhecidaspelosmembrosdacomunidadeeaelasdeveser

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dadodestaque.Sãomarcasdacomunidadeosseusmitoscontadospelosmaisvelhos;asfestaspopularesquecomemoramasdatascomemorativasdolugar;asreligiosidadeseseusrituais sagrados: novenas, procissões, cultos, as penitências, os ritos do catolicismo, daumbanda,doprotestantismoetc.;osmarcosdolugar:estátuas,santuários,grutasetc.;ascasasdacomunidadeesuasfachadas,asengenhariasearquiteturas;ostelhadoshistóricos,osmóveisetc.;osespaçosexternosdacomunidade,oschamadosespaçosdeconvivência,deencontro,de interação:ruas,vilas,praças,terreiros,osaçudesebarragens;osbares,merceariasebodegas;etudoomaisqueguardeaMEMÓRIADOLUGAR.

DaComunidadeJá foiditoqueomaiorpatrimôniodacomunidadeéoseupovo.Sóqueestepovo

precisa de um cenário para atuar. Assim, ela se configura como o palco de todas asrepresentaçõesdessecotidianovividoepartilhado.Nele,oscoetâneosinteragemsimbólicaecomunitariamente,criandoerecriandoformasdesociabilidade.

OlugarEleéoterritóriodacomunidade.Temlimitesefronteiras,as“extremas”.Dentrodesse

território,aculturaéigual,masumlugarqueextremacomoutrotantoemprestaaooutroumpoucodasuacultura,comorecebedooutroumpoucodaculturadaquele.Oquenosinteressasaberaquiéque aCOMUNIDADEéo lugarondeaCULTURALOCAL interage,convive,partilhacoisasiguais.Olugarondeacomunidadeestátemasuacara.Eissotemavercomaculturadolugar.

OtempoÉerradodizerqueotempoéigualparatodoomundo.Nãoé.Cadacomunidadetem

oseutempo.Otempodeacordarededormir,otempodotrabalhoedadiversão,otempodoplantioedacolheita,ahoradealmoçaredejantaretc.Enquantonumacidadegrandeaspessoasalmoçambemdepoisdomeiodia,nosertão,oalmoçoéservidoantesdasonzehorasdamanhã.Nacidadegrandesedormemuitotarde.Noslugaresruraissedormebemmaiscedo.Poisbem,essespatrimôniosdacomunidade-olugareotempo-sãoculturaisporquetêmacaradacomunidade.

AGeografiaAgeografiadolugartambéméseupatrimônioecarregaconsigoasuacultura.Quando

falamosdemontanhasemares,imediatamentenoslembramosdacidadedoRiodeJaneiro.Quandonosvêmàmenteterrasecaemandacarus,noslembramosdosertãonordestino.AindaquenemoRiode Janeiroenemo sertãonordestinotenhamapenas isso.Oqueimportaaquiésaberquetambémaecologiadolugarpodeinterferirnosnossoshábitoseesseshábitossãoculturais.Claroqueissonãodefineaminhacultura,masaculturadecadalugar dá sentido cultural à sua geografia. Isso é importante, porque cadamarca e cadaaspectogeográficoinventamoseucotidianoetodoesteéconstituídopelacultura.

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ABibliotecaComunitáriaCostuma-se dizer que a biblioteca é o lugar do conhecimento, da informação, da

memóriaedaculturadeumpovo.Eelaémesmo.Lembram-sequandofoifaladoaquidecultura, de imaginários, de identidade do povo?De quando se falou dasmarcas e dospatrimônios culturais de um povo ou de uma comunidade? Pois bem, toda a criaçãohumananãopodeserpreservadaapenasnasuacabeça,nasuamemóriapessoal.ÉprecisoumlugarpararesguardaressariquezaqueéaCULTURAHUMANA.Umlugarondeessaculturapossaserlida,possaserconsultada,recriada,atualizada,eondeaculturapossasemAMPLIADA. A biblioteca é esse lugar. Um locus de leitura e também de criação, deinventividade;umlugardeencontro,deconvivênciaedeproduçãodosaber,damemória,datradiçãoedacultura.Seabibliotecaétudoissoepossibilitatantacoisa,imagineoquenãopodeserfeitoporumabibliotecacomunitária!Estaéaporta-vozdopovoquealivive.Elaéacaraeavozdos indivíduosquealivivem.Eelanãodeveterapenasoqueumabibliotecatem,mastudooquepossaserconstruídoearmazenadopelacomunidadeeporpartedecadaumdeseusmembros.

Deagoraemdianteestefascículodirácomoissopodeserfeito.Ouseja,vamosmostrarcomoumacomunidadepodeconstruiregerir umabibliotecacomunitárianoâmbitodaCULTURAecomoestepodetrabalharasuaCOMUNICAÇÃOcomoseupovo.Dizercomofazer para construir, por onde começar e que instrumentos utilizar para FAZER eADMINSTRARessesfazeresdabibliotecacomunitáriaéchamadodeMETODOLOGIAS.Comvocês,asMETODOLOGIASDECONSTRUÇÃOEGESTÃOCULTURALDEUMABIBLIOTECACOMUNITÁRIA.

FazerCulturaParafazercultura,abibliotecacomunitáriaprecisarealizarumestudosobresuahistória

e suamemóriae tambéma respeitodaspessoasquevivemnoespaçoondeelaatuará.Assim,eladeveanalisarquaissãoseustiposculturais,doqueelesgostameoqueéprópriodolugar.Parafazerisso,éprecisoouviraspessoas,chamá-lasparaqueelasmostremoquesão,oquegostameoquepodemfazerparaconstruirabibliotecacomunitária.Assim,estaprecisaterosdepoimentosdasrezadeiras,dosmoradoresantigos,dosidososepossibilitarqueessaspessoasvenhamfazerculturadentrodoespaçodabiblioteca.Eoqueé fazercultura?Écontarhistórias,éescrevercoisasoupoesias,écantareaboiar,érezarebenzer,édançarefazerdrama.Bordar,fazerrenda,cozinharecriarreceitas,pescar,tudoissoéFAZERCULTURA.

Umabibliotecadeaçãocomunitáriaprecisaregistrartodasasformasdefazercultura.Para isso, basta chamar seusmoradorespara escreveremou gravaremou pintaremoufazeremseus artesanatos sobre suas FORMASDE FAZERCULTURA.Uma rezadeiranãopodemorrer sem registrar suas rezas e seusmodos de “curar”. Do mesmo jeito, umacozinheiraprecisaescreversuashistóriasememóriasculinárias.Ovaqueiroeojangadeiroprecisamcontarsobresuasartese funções,explicarcomofuncionamos imagináriosdapesca,dacaça,dapegadeboinamata.Cadahistóriacontadapodesergravada,escrita,fotografada,filmada,desenhadaevirarMATERIALDABIBLIOTECACOMUNITÁRIA.AesteconjuntodemateriaisdeumabibliotecanóschamamosdeACERVO.

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ManteraCulturadaComunidadeemDiálogoSendoabibliotecacomunitáriaolocalondeaculturadacomunidadeserápreservada

eestimulada,alémdoambienteondeasleiturassobreelaserãofeitas,nãopodemospensaresseespaçosenãocomoespaçodemocráticodeconvivência.Paraisso,elaprecisateracaradoespaçoondeestáinseridaeserumlugarprazeroso,ondeosseusmembrossesintamàvontade,num lugaraconchegantee convidativo.Sendoum espaçode convivência,paraondeaspessoasvãoparaumencontro,umaboaconversaeparalereseinformarsobreasuahistóriaeasuacultura,abibliotecacomunitáriaprecisateremsuaagendaaçõesqueproporcionemesseencontroentreosmoradores,suahistóriaememória.

Proporcionarqueaculturadacomunidadeestejasempreemdiálogo,requerquea

bibliotecacomunitáriaplanejeepromova:

ENCONTROS-comsegmentoscomunitários,incluindomoradoresantigos,artesãos,

artistas anônimos e conhecidos; crianças e jovens; encontros que proporcionem bate-paposetrocasdeinformaçõessobresuasvidasemcomum.

Comofazer:prepararanualmenteaAGENDACULTURALDABIBLIOTECA.Paraisso,tomeasdatascomemorativascomoexemploepromovaasaçõescombasenela.Vejaquedatassãoimportantesparaolugar,paraseusmoradores,sobrealgoqueinteressedepertoaeles.Escolhaasdatas,ostemasqueserãoabordados,contateaspessoasdedentroedeforada comunidadee promovaeventos.Prepareas áreas– dentro e foradabibliotecacomunitária – onde as atividades irão acontecer. Providencie os materiais – papéis,cartolinas, canetas, lápis e pincel etc. – e os equipamentos, como aparelhos de som,microfones,TV,computador,câmerafotográficaefilmadora,projetormultimídiaetc.Busquetambémpatrocinadoresparaajudarnasdespesasdetodososeventoseprovidenciemeiosparadivulgaçãodestesparatodos:cartas,e-mails,redessociaisdaInternet,jornalzinhodabibliotecacomunitária,cartazeseocompetentebocaaboca.

• EXPOSIÇÕES -de fotografias da comunidade ou de algo que interesse a ela; de

artesanatosfeitosporela;deálbunsdefamíliadeseusmembros;deobjetosantigosda

Para entender melhor

Acervo biblio é todo aquele impresso, como livros, revistas, cordel, folhetos, enciclopédias etc. Um CD, uma gravação de depoimentos, de cânticos religiosos ou de qualquer outra coisa é um acervo sonoro. Um conjunto de de DVDs, de compõe o meu acervo visual. Objetos da cultura como álbuns de retratos, pilão, ferro a brasa, um chocalho, uma mesa formam meu acervo memorial. Meus arquivos de computador, meus e-mails, minhas fotos digitais e tudo o mais que eu guardo eletronicamente formam meu acervo digital.

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memóriadolugar;dedocumentosantigossobreelaoudeassuntosdesejadosporseusmoradores.

Comofazer:façaumapesquisasobreosassuntosetemasquerendamumaexposição.Escolhamembrosdacomunidadeparaaproduçãodoeventoeprepareessaspessoasparaisso. Escreva um roteiro das partes do tema e da exposição e providencie um espaçoadequado, com boa iluminação e ventilação na biblioteca para a exposição acontecer.Providencieossuportesondeaspeçasdaexposiçãoserãoexpostas.Divulgueoeventoeoregistrecomfilmagens,fotos,gravaçõesetc.Apóscadaevento,chameacomunidadeparaavaliareregistreasavaliações(emataserelatórios;emfotografias,filmagens).

• SEMINÁRIOS-sobreassuntosrelacionadosàhistória,àcultura,memóriaetradição

dolugar;arespeitodosimagináriosreligiosos,daféedascrençaslocais;acercadefolclore,culturapopularemanifestaçõesdopovo;concernenteacomunicação,culturaeleitura;etc.

Comofazer:discutacomacomunidadesobreosassuntos etemasquedesejamvernumseminário.Peçaàspessoassugestõessobrequemdirigirácadaseminário.Asugestãoédequepessoasespecialistasnosassuntossejamescolhidas,mastambémasdaprópriacomunidade. Busque pessoas e entidades importantes da cidade ou do Estado paraajudaremna promoção de um grande seminário. Prepare adequadamente o lugar e osequipamentosparaoseminário.Divulgue.Avalieeregistreaavaliaçãodoevento.

• CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: sessões de leituras sobre temas escolhidos pela

comunidade;leituraedramatização;declamaçõesdepoesiasclássicasedecordeletc.Comofazer:prepareaspessoasougruposlocaisemoficinasdeleituraedecontação

dehistóriaeasconvideparaassessõesdessaatividade.Convidetambémpessoasidosasquegostamdenarrarfatossobresuasvidaseavidadolugar.Contatecompessoasanônimasdopovoparaquecontemsuasversõesdoespaçoondevivem.Dêvezaosfeirantes,carteiros,agricultoresantigos.Agendecadasessãoepromova,divulgueeavalieosresultadosfinais.

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Módulo 8 Biblioteca Comunitária e educação ambiental:

construindo comunidades sustentáveis

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é graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e especialista em Gestão Ambiental Urbana. Servidora pública da Prefeitura Municipal de Fortaleza, atuando principalmente na área da Educação, com ênfase em Educação Ambiental

Biblioteca Comunitária e educação ambiental: construindo comunidades sustentáveis

Oficina de Educação Ambiental

Aoserconvidadaparaparticipardesteimportanteprojetodecriaçãodebibliotecascomunitárias, desenvolvendo ações sensibilizadoras de educação ambiental, umatempestade de pensamentos me veio à mente, haja vista tratar-se de um temaabrangente,multidisciplinarepolêmico,aomesmotempoemquedespertanoindivíduonecessidades de adotar hábitos muitas vezes adormecidos em seu inconsciente. E,notadamente, é perceptível a mudança nos hábitos de uma pessoa educadaambientalmente,poiscadaserpossuiumaleiturademundo.Comoensina Boff(1995,p.36),“Acompreensãopopularémenoslógicaquepsicológica.Emborasemideiasclaras,opovosabeoquesignificamasideiasdeliberdade,dignidadeejustiçaeassimpordiante”.Percebemos,contudo,quefaltaumolharcríticoparaobservaromundoàvolta.Comessapreocupação,oquefazemosnasoficinasédespertarnosparticipantesideias que permitam que todos desfrutem de ummundo melhor, e que as geraçõesfuturas também desfrutem da melhor forma possível esse mundo. O educador deveproporcionaratividadessobreessaspossibilidadescomoaprendizde formasimples,alegreesedutora.AindasegundooteólogoClodóvisBoff,“Aregradeouronalinguagemcomamassaéfalardemodosimples.”(1995,p.36).

ALeiFederalNº9.795,de27/04/1999, instituiaPolíticaNacionaldeEducaçãoAmbiental,enoart.1ºdefineeducaçãoambientalcomo“[...]osprocessospormeiodosquaisoindivíduoeacoletividadeconstroemvaloressociais,conhecimentos,habilidades,atitudesecompetênciasvoltadasparaaconservaçãodomeioambiente,bemcomodousocomumdopovo,essencialàsadiaqualidadedevidaesuasustentabilidade”.

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente deeducaçãonacional,devendoestarpresente,de formaarticulada, em todososníveisemodalidadesdoprocessoeducativo,emcaráterformalenãoformal.

Éperceptível, então, o fatodequea educaçãoambiental transcendeas salasdeaulasedeveservivenciadanoambienteescolar,perpassando todasasdisciplinas,osmeiosdecomunicaçãodemassa,comorádio, televisãoe jornaispormeiodosgruposformadoresdeopiniões, igrejas(qualquerreligião), indústrias,comércios,associaçõescomunitárias,bibliotecasetc.,visandoaserumfatorpermanentedetransformaçãodocidadão,reformulandopermanentementeformasderelaçãoentreaspessoasafimdeconstruirumambientesustentável.

As ações transformadoras advindas da educação ambiental trazem ao cidadãograndes benefícios na esfera individual e coletiva, commudanças de atitude perantetodasasformasdevida.Dessamaneira,asociedadepodeexperimentarmelhoros

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resultadosdesuasações.Éocasodocuidadocomaágua,umbemtãonecessárioeaomesmo tempo tão escasso. Se toda a comunidade se organizasse na observância docuidadocomosrecursoshídricosdesuaslocalidades,assimcomonoarmazenamentocorreto das águas pluviais, mesmo com toda a estiagem característica do sertãonordestino,seriapossívelcompequenas técnicasaproveitaresse líquido tãopreciosoparaoconsumohumanoeanimal.

Ocuidadocomoambiente,noentanto,vaialémdaságuas,asqueimadas,açõescomunsnonossosertão,ousodeagrotóxicos,odesmatamento,aineficáciadaspolíticaspúblicas de saúde, como educação e saneamento básico, colaboram para que acomunidadepermaneçaemsituaçãodevulnerabilidade.Énotórioofatodequemudarhábitosecomportamentoséumatarefadasmaisdifíceis.Pode-seexemplificarcomumafrase típicado cearensea respeitododescarte inadequadodos resíduos:“Rebolanomato”.Qualquercearensesabedoquesetrata,ouseja,descartarolixoquesetemàmãoemqualquerlugar.Comoatualmentenascidadesjánãoexistetantomatoassimecomoamaioriados resíduoséprovenientedematerialdedifícil decomposição, feitoprincipalmente complástico, estes permanecemno ambiente demoradamente, daí asenchentes,mortesdeanimaisquesealimentamcomessesresíduoseproliferaçãodedoenças,alémdetransformaroespaçoemambientefeio,dopontodevistaestético.

ParanortearaoficinautilizamosotextoACartadaTerra,apresentadoemvídeo.Éum documento elaborado por mais de cem mil pessoas e por aproximadamente 46países, mediante ampla discussão e muitas propostas. Contém uma declaração deprincípioséticosfundamentaisparaaconstrução,noséculoXXI,deumasociedadeglobaljusta,sustentávelepacífica,baseando-seemquatroprincípios:1.Respeitarecuidardacomunidadedevida;2.Integridadeecológica;3.Justiçasocialeeconômicae4. Democracia,pazenãoviolência.

Essetratado,que levoumaisdeumadécadaparaserescrito,nos fazperceberaimportânciadeserespeitareaprendercomasdiversasculturasglobais,comoveremosaseguir.

A Carta da Terra

PreâmbuloVivemos um momento crítico na história da Terra, numa época em que a

humanidade deve escolher o futuro. Àmedida que omundo se torna cada vezmaisinterdependenteefrágil,ofuturoenfrenta,aomesmotempo,grandesperigosegrandespromessas.Paraseguir,devemosreconhecerque,nomeiodaumamagníficadiversidadedeculturaseformasdevida,somosumafamíliahumanaeumacomunidadeterrestrecomumdestinocomum.Devemossomarforçasparagerarumasociedadesustentávelglobalbaseadano respeitopelanatureza,nosdireitoshumanosuniversais,na justiçaeconômicaenumaculturadapaz.Parachegaraestepropósito,éimperativoquenós,ospovos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com agrandecomunidadedavidaecomasfuturas gerações.

Terra,NossoLarAhumanidadeépartedeumvastouniversoemevolução.ATerra,nossolar,está

vivacomumacomunidadedevidaúnica.Asforçasdanaturezafazemdaexistênciaumaaventura exigente e incerta,mas aTerraprovidenciou as condições essenciais para aevoluçãodavida.Acapacidadederecuperaçãodacomunidadedavidaeobem-estardahumanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos os seussistemasecológicos,umaricavariedadedeplantaseanimais,solosférteis,águaspurasearlimpo.Omeioambienteglobalcomseusrecursosfinitoséumapreocupaçãocomum,istoé,detodasaspessoas.Aproteçãodavitalidade,diversidadeebelezadaTerraéumdeversagrado.

DesafiosParaoFuturoAescolhaénossa:formarumaaliançaglobalparacuidardaTerraeunsdosoutros,

ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessáriasmudançasfundamentaisdosnossosvalores,instituiçõesemodosdevida.Devemosentenderque,quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano seráprimariamentevoltadoasermais,nãoatermais.Temosoconhecimentoeatecnologianecessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. Osurgimentodeumasociedadecivilglobalestácriandooportunidadesparaconstruirummundodemocráticoehumano.

Nossosdesafiosambientais,econômicos,políticos,sociaiseespirituaisestãointerligados,ejuntospodemosforjarsoluções.

A Carta da Terra Valores e Princípios para um Futuro Sustentável

Preâmbulo-VersãoIntegralOsprincípiosapresentadosnaCartadaTerraestãointimamenteligadoscomas

propostas das bibliotecas comunitárias, pois os valores assinalados, como oaprofundamentoeoestudodasustentabilidadeecológica,atrocaabertadoconhecimentoadquirido,respeitaraterraeavidaemtodaasuadiversidade,tratartodososseresvivoscomrespeitoeconsideraçãoentreosdemais,devemnortearasdiscussõesnosespaçoslegitimados com este fim, considerando que as bibliotecas serão implantadas emlocalidadesbemdistintas,ericasculturalmente.

Ascomunidadespossuemmuitoqueapresentarsobreoquotidianodeseuslugares,motivopeloqualemcadamunicípioadequamosoplanejamentoemfunçãodeanáliseprévia realizada com uma dinâmica que incentiva os participantes a comentarem asbelezaseasdificuldadesdoseulugar.Asatividadesdesenvolvidasdurantearealizaçãodasoficinas foramcuidadosamenteplanejadas,masadaptamoscadaoficinaàriquezaculturaltrazidapelosgrupos,normalmentediferentesemescolaridade,sexoeidade.

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OquesãoasOficinasdeEducaçãoAmbiental?Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o

indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,atitudes e competências voltadas para a conservação domeio ambiente, bem de usocomumdopovo,essencialàsadiaqualidadedevidaesuasustentabilidade(Lei9.795de27/04/1999Art.1º www.mma.gov.br).

AsOficinasdeEducaçãoAmbientaltêmoobjetivodedisseminarosconceitosdasustentabilidade,provocandonosparticipantesumareflexãosobreaimportânciadamudança de hábitos, relacionando pequenos gestos do dia a dia à preservaçãoambiental.(Apost.CursodecapacitaçãoparamultiplicadoresemEA–Ceará-20053ªediçãop.29)

AEducaçãoAmbientalsurgiucomonovaformadeperceberopapeldoserhumanonomundo.(Apost.CursodecapacitaçãoparamultiplicadoresemEA–Ceará-20053ªediçãop.29).

Em Educação Ambiental, procura-se apresentar o ambiente como um todo,mostrandoqueháumambientemodificadopelohomemeoutronaturalqueganhamosdepresenteaonascer,masqueprecisaserpreservado,semqueahumanidadeprecisese sacrificar-se tampouco sacrificar o ambiente. Para isso, basta haver um ponto deequilíbrio, caso contrário, a própria humanidade será vítima dela mesma, além deprejudicarasoutrasformasdevidanaTerra.

Éimportanteoindivíduoacolherasimesmo,ooutroeaquelesquenãoconhece,preparando o caminho para as futuras gerações. Além disso, o homem deve tersensibilidadeparanãopretenderseromembromaisimportantedoambiente,esimumcomponentecomoosdemaisnateiadavida,poistudoestáinterligado.

Duranteasoficinas,procuramosdespertarnosparticipantesaideiadequefalardemeioambientenãosereferesomenteaplantas,hortaseanimais,esimatudooquecercao ambiente. Então, passamos a trabalhar em situações pontuais, como que há depositivo no município, mas precisamente na localidade de cada indivíduo, o que seobservadenegativoeasnecessidadesurgentesdecadagrupo,mas,sobretudo,oquecadaumpodefazerjuntamentecomacomunidadeparapromovermudançasindividuaisquebeneficiemacoletividadedaliemdiante.

Ogrupodeveperceber,entreoutrascoisas,queatéocomérciodomunicípiopodecrescer se a população suprir suas necessidades no entorno, pois os impostos alidepositados serão revertidos internamente, ao passo que, ao se deslocar para outrassedes, inclusive a Capital, não haverá retorno financeiro aos cofres municipais e osbenefíciosserãovoltadosàaplicabilidadeempolíticaspúblicasdeoutrosmunicípios.

Durante as oficinas, várias questões devem ser apresentadas e discutidas nosgrupos,mas, para cada uma a perguntamaior:oquedevemos fazer para ter umaqualidadedevidasatisfatóriaparatodos?

Noiníciodaoficina,realizamosumadinâmicanaqual,aosomdeumbomforró,osparticipantes iniciavam dançando individualmente ao som da música. Ao sinal dofacilitador, eles escolhiam um par e continuavam dançando. Em seguida, os pares sejuntavamaoutroparecontinuavamdançando...eporaíseguiamsejuntandoaoutropareoutroparatéformarumgrandecírculo.Duranteadançacommaisdeumapessoa,

percebeu-seadificuldadequeseencontraembuscarumasintoniacomamassa,poishádiferençasculturais,degênero,deideaisemuitasoutras,masobservou-sequeépossívelconstruirumpontodeequilíbrio,combasenatolerância,norespeitoenadisponibilidadeembuscarumpontodeequilíbrioquepermitaacolherasdiferenças,équando todosensaiamdançaremumsóritmo.

AadoçãodepráticaseducativasvoltadasàEducaçãoAmbiental,dependedeaçõesindividuais,porviademudançasdeatitudes,todasvoltadasparaobemdacoletividade.NãosendooPoderPúblicooúnicoresponsávelpelaimplantaçãodessasações,estedeveser cobrado pela implementação de políticas públicas eficientes que atendam àsnecessidadesbásicasdapopulação.Portanto,umasociedadeorganizadaéumimportanteinstrumentodecobrançaeacompanhamentodessasações.

Emoutradinâmica,osparticipantesouviramecantaramcomLuisGonzagaamúsica“Boiadeiro”,elogoemseguidaabriu-seummomentodereflexãoacercadasbelezasdecadalugar,muitasvezesdespercebidoporaquelaspessoasqueresidemnodistritodesdequenasceram.Comsuportenareflexão,iniciou-seaconfecçãodeumgrandepainelondecadaumapresentavaoseulugarsoboutroolhare,quandoopainelfoiapresentadonagrande reunião plenária do último dia de atividades quando estavam reunidos osparticipantesdetodasasoutrasoficinas,adiscussãoadquiriuumtomcoletivoehouveparticipaçãoemmassa-todosqueriamenriquecerostrabalhos.

Imagens:RobertoRodrigues

Afiguraacimademonstraasetapasqueumacomunidadedevepercorrerdeformaarticuladaemproldapreservaçãoambiental,cujosbenefíciosserãoparatodos,inclusiveparaaquelesquenãosemobilizaram.

Acomunidadedevesereunirparadiscutir,capacitar-seedecidirporadotarmu-

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dançasdehábitos.Emseguida,emparceriacomoPoderPúblico,adotaposturastrans-formadasetransformadoras,poissetornamatoresdoprocesso.

Foto:EduardoTigre(2011)

Na foto feita de uma placa instalada noMaciço do Baturité, afixada pelo órgãoambientalestadualháoalertaaosvisitantessobreolongoperíododedecomposiçãodealgunsobjetos,dessaformasugerequeosresíduossejamdescartadosadequadamente,deformaamanteroespaçolimpoelongedeoferecerperigoàsdiversasformasdevidaaliexistentes.Éumasugestãoparaquenasbibliotecascomunitáriasexistamcartazeseinformativosconfeccionadoscommateriaisprópriosecriativosquepossamserutilizadosemoutrosespaçosdaslocalidades.

Dinâmicas para oficinas de Educação ambiental - reflexões mediante o uso de textos selecionados

BoiadeiroAutoria-ArmandoCavalcanti,KleciusCaldas

Intérprete-LuizGonzaga

VaiboiadeiroqueanoitejávemGuardaoteugadoevaiprajuntodoteubemDemanhazinhaquandoeusigopelaestradaMinhaboiadaprainvernadaeuvoulevarSãodezcabeçaémuitopoucoéquasenadamasnãotemoutrasmaisbonitasnolugarVaiboiadeiroqueodiajávemLevooteugadoevaipensandonoteubemDetardezinhaquandoeuvenhopelaestrada

AfiaradatatodinhaameesperarSãodezfiinhoémuitopoucoéquasenadamasnãotemoutrosmaisbonitosnolugarVaiboiadeiroqueatardejávemLevaoteugadoevaipensandonoteubemEquandoeuchegonacanceladamoradaMinhaRosinhavemcorrendomeabraçarÉpequeninaémiudinhaéquasenadamasnãotemoutramaisbonitanolugarVaiboiadeiroqueanoitejávemGuardaoteugadoevaiprajuntodoteubem.

AoutilizarmosamúsicaBoiadeiro,refletimossobreaimportânciadavalorizaçãodomundo de uma forma globalizada,mas, reconhecendo e acolhendo o nosso lugar,poderemoscontribuirparaofortalecimentodeummundomelhor.Machado(1982)eTatiana Seniciato eOsmarCavassan (2003) afirmamque só cuidamos, respeitamos epreservamosaquiloqueconhecemos,equea ignorância trazumavisãodistorcidadarealidade.

Comessepoema,osparticipantestêmoportunidadederefletirsobreoseulugar,compreendemoobjetivodadinâmicaeseenvolvemcomtantoentusiasmoquegeralmentehámuitaemoçãono finaldos trabalhos. Inicialmente, sedança livrementeaosomdamúsica,emseguida,quandotodosestãorelaxadosecomaletrainternalizada,abre-seuma roda de conversas sobre os diversos lugares onde habitam os participantes daoficina,comolharesnuncaantesvistosporeles.Emseguida,elaboramsuasdescobertaspor meio de colagens, desenhos, músicas, poesias e/ou outras formas de expressãopodemserutilizadas.

Textos preferidos

OVestidoAzul(Autordesconhecido)

Numbairropobredeumacidadedistante,moravaumagarotinhamuitobonita.Elafrequentavaaescolalocal.Suamãenãotinhamuitocuidado,eacriançaquasesempreseapresentavasuja.Suasroupaserammuitovelhasemaltratadas.Oprofessorficoupenalizadocomasituaçãodamenina.“Comoéqueumamenina

tãoBonita,podevirparaaescolatãomalarrumada?”Separoualgumdinheirodoseusalárioe,emboracomdificuldade.Resolveucomprar-lheumvestidonovo.Elaficoulindanovestidoazul.Quandoamãeviua filhanaquele lindo traje, sentiuqueera lamentávelquesua

filha,vestindoaquelaroupanova,fossetãosujaparaaescola.Porisso,passoualhedarbanhotodososdias,pentearseuscabelosecortarsuasunhas.Quandoacabouasemana,opaifalou:-Mulher,vocênãonãoachaumavergonhaquenossafilha,sendotãobonitaebem

arrumada,moreemumlugarcomoeste,caindoaospedaços?Quetalvocêajeitara

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casa?Nashorasvagas,euvoudarumapinturanasparedes,consertaracercaeplantarumjardim.Logo,acasadestacava-senapequenavilapelabelezadasfloresqueenchiamo

jardim,eocuidadoemtodososdetalhes.Osvizinhosficaramenvergonhadospormoraremembarracosfeioseresolveram

tambémarrumarassuascasas,plantarflores,usarpinturaecriatividade.Empoucotempoobairrotodoestavatransformado.Umhomem,queacompanhavaosesforçoseaslutasdaquelagente,pensouqueeles

bemmereciamumauxíliodasautoridades.Foi aoprefeito expor suas ideias e saiude lá comautorizaçãopara formaruma

comissãoparaestudarosmelhoramentosqueseriamnecessáriosaobairro.Aruadebarroelamafoisubstituídaporasfaltoecalçadasdepedra.Osesgotosa

céuabertoforamcanalizadoseobairroganhouaresdecidadania.Etudocomeçoucomumlindovestidoazul.Nãoeraintençãodaqueleprofessorconsertartodaarua,nemcriarumorganismo

quesocorresseobairro.Elefezoquepodia,fezasuaparte.Fezoprimeiromovimentoqueacaboufazendocomqueoutraspessoasmotivassem-sepormelhorias.Seráquecadaumdenósestáfazendoasuapartenolugarquevive?Ouporacaso

somos daqueles que somente apontam os buracos da rua, as crianças à solta semescolaeaviolênciadotrânsito?Lembremosqueédifícilmudaroestadototaldascoisas.Queédifícillimpartodaa

rua,maséfácilvarreranossacalçada.Écomplicadomudaromundo,masépossíveléplantarumarosaazul.

Oobjetivodessadinâmica:Atravésdaleitura,despertarnogrupoquepequenas

açõesindividuaispodemgerargrandestransformações.Ovestido,quepodeteracorqueoleitordesejar,permiteque,apósreflexõesediscussões,oindivíduoseorganizecomaçõespositivasseenvolvendoematividadesprazerosascomfoconasmudançaspessoaisecomunitárias.

ParáboladaCarpintaria(Autordesconhecido)

Contamque,nacarpintaria,houve,umavez,umaestranhaassembleia.Foiumareuniãodeferramentasparaacertarsuasdiferenças.Ummarteloexerceu

apresidência,masosparticipanteslhenotificaramqueteriaquerenunciar.Acausa?faziademasiadobarulho;alémdomais,passavatodootempogolpeando.Omarteloaceitousuaculpa,maspediuquetambémfosseexpulsooparafuso,dizendoqueeledavamuitasvoltasparaconseguiralgo.Diantedoataque,oparafusoconcordou,masporsuavez,pediuaexpulsãodalixa.Diziaqueelaeramuitoásperanotratamentocomosdemais,entrandosempreematritos.Alixaacatou,comacondiçãodequeseexpulsasseometroquesempremediaosoutrossegundoasuamedida,comosefosseoúnicoperfeito.Nessemomentoentrouocarpinteiro,juntouomaterialeiniciouoseu trabalho.Utilizouomartelo,a lixa,ometroeoparafuso.Finalmente,arústica

madeiraseconverteunumfinomóvel.Quandoacarpintaria ficounovamentesó,aassembleia reativou a discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:“Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos,mas o carpinteiro trabalha comnossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossospontosfracos,econcentremo-nosemnossospontosfortes.”Aassembleiaentendeuqueomarteloeraforte,oparafusouniaedavaforça,alixaeraespecialparalimareafinarasperezas,eometroeraprecisoeexato.Sentiram-se,então,comoumaequipe,capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram, por conseguinte, a alegria pelaoportunidadedetrabalharemjuntos.Ocorreomesmocomossereshumanos;bastaobservarecomprovar.Quandoumapessoabuscadefeitosemoutra,asituaçãotorna-setensaenegativa;aocontrário,quandosebuscacomsinceridadeospontosfortesdos outros, florescem asmelhores conquistas humanas. É fácil encontrar defeitos,qualquerumpodefazê-lo.Masencontrarqualidades...Istoéparaossábios!

OtextodaCarpintariaémuitosugestivoemoficinasdeEducaçãoAmbientale,associadoàCartadaTerra, constrói-seumexcelentedebate,vistoque,no1ºprincípiolemos:“Reconhecerquetodososseressãointerligadosecadaformadevidatemvalor,independentementedousohumano”.

Lixo

(LuisFernandoVeríssimo)

Encontram-senaáreadeserviço.Cadaumcomseupacotedelixo.Éaprimeiravezquesefalam.- Bomdia...- Bomdia.- Asenhoraédo610.- Eosenhordo612- É.- Euaindanãolheconheciapessoalmente...- Poisé...- Desculpeaminhaindiscrição,mastenhovistooseulixo...- Omeuquê?- Oseulixo.-Ah...- Repareiquenuncaémuito.Suafamíliadeveserpequena...- Naverdadesousóeu.- Mmmm.Noteitambémqueosenhorusamuitocomidaemlata.- Équeeutenhoquefazerminhaprópriacomida.Ecomonãoseicozinhar...- Entendo.- Asenhoratambém...- Mechamedevocê.- Vocêtambémperdoeaminhaindiscrição,mastenhovistoalgunsrestosdecomidaemseulixo.Champignons,coisasassim...

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- Équeeugostomuitodecozinhar.Fazerpratosdiferentes.Mas,comomorosozinha,àsvezessobra...- Asenhora...Vocênãotemfamília?- Tenho,masnãoaqui.- NoEspíritoSanto.- Comoéquevocêsabe?- Vejounsenvelopesnoseulixo.DoEspíritoSanto.- É.Mamãeescrevetodasassemanas.- Elaéprofessora?- Issoéincrível!Comofoiquevocêadivinhou?- Pelaletranoenvelope.Acheiqueeraletradeprofessora.- Osenhornãorecebemuitascartas.Ajulgarpeloseulixo.- Poisé...- Nooutrodiatinhaumenvelopedetelegramaamassado.- É.- Másnotícias?- Meupai.Morreu.- Sintomuito.- Elejáestavabemvelhinho.LánoSul.Hátemposnãonosvíamos.- Foiporissoquevocêrecomeçouafumar?- Comoéquevocêsabe?- Deumdiaparaooutrocomeçaramaaparecercarteirasdecigarroamassadasnoseulixo.- Éverdade.Masconseguipararoutravez.- Eu,graçasaDeus,nuncafumei.- Eusei.Mastenhovistounsvidrinhosdecomprimidonoseulixo...- Tranqüilizantes.Foiumafase.Jápassou.- Vocêbrigoucomonamorado,certo?- Issovocêtambémdescobriunolixo?- Primeiroobuquêdeflores,comocartãozinho,jogadofora.Depois,muitolençodepapel.- É,choreibastante,masjápassou.- Mashojeaindatemunslencinhos...- Équeeuestoucomumpoucodecoriza.- Ah.- Vejomuitarevistadepalavrascruzadasnoseulixo.- É.Sim.Bem.Euficomuitoemcasa.Nãosaiomuito.Sabecomoé.- Namorada?- Não.- Masháunsdiastinhaumafotografiademulhernoseulixo.Atébonitinha.- Euestavalimpandoumasgavetas.Coisaantiga.- Vocênãorasgouafotografia.Issosignificaque,nofundo,vocêquerqueelavolte.- Vocêjáestáanalisandoomeulixo!- Nãopossonegarqueoseulixomeinteressou.- Engraçado.Quandoexamineioseulixo,decidiquegostariadeconhecê-la.Achoquefoiapoesia.

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- Não!Vocêviumeuspoemas?- Viegosteimuito.- Massãomuitoruins!- Sevocêachasseelesruinsmesmo,teriarasgado.Elessóestavamdobrados.- Seeusoubessequevocêialer...- Sónãofiqueicomelesporque,afinal,estariaroubando.Sebemque,nãosei:olixodapessoaaindaépropriedadedela?- Achoquenão.Lixoédomíniopúblico.- Vocêtemrazão.Atravésdolixo,oparticularsetornapúblico.Oquesobradanossavidaprivadaseintegracomasobradosoutros.Olixoécomunitário.Éanossapartemaissocial.Seráisso?- Bom,aívocêjáestáindofundodemaisnolixo.Achoque...- Ontem,noseulixo...- Oquê?- Meenganei,oueramcascasdecamarão?- Acertou.Compreiunscamarõesgraúdosedescasquei.- Euadorocamarão.- Descasquei,masaindanãocomi.Quemsabeagentepode...- Jantarjuntos?- É.- Nãoquerodartrabalho.- Trabalhonenhum.- Vaisujarasuacozinha?- Nada.Numinstanteselimpatudoepõeosrestosfora.- Noseulixoounomeu?

Objetivo da dinâmica: apresentar uma peça de teatro com enfoque na

representatividade do lixo urbano, colaborando para que os participantes possamrefletireavaliarsuacondutaaodescartarosresíduosqueéumdosmaioresproblemasambientais.

Considerações Finais

ParaqueaEducaçãoAmbientalatinjaseusobjetivos,deveconstituir-sedeumprocessocontínuoepermanente,abrangendotodosossegmentosdasociedade,tantooescolarcomoocomunitário.(CAMPOSeCAVASSAN,2003).DaíarelevânciadasbibliotecascomunitáriasmaterializadaspelodesejodascomunidadescomapoionasoficinasdoProjetoLerparaCrer,pois,nummundoglobalizado,ondeasinformaçõeschegamemtemporealecomoaumentodo poder econômico, há uma certa euforia, o consumismo exagerado influenciando nocomportamentodaspessoas.Comoconsequência,vive-seaeradodescartável,descartam-sefacilmenteprodutoseletrônicos,comoaparelhoscelulares,computadores,TVsetc.

DuranteasoficinasdoLerparaCrer,muitoseincentivouavalorizaçãodahistórialocaleadescobertadosvaloresnascidosnomunicípio.AEducaçãoAmbientalreforçaaimportânciadefavoreceroaprendizadoapartirdeexperiênciasvividas,despertandonaspessoasumavisãocríticadarealidadevivenciadaerepensandohábitos,valoreseatitudes.

Apósarealizaçãodasatividades,percebeu-seumdesejoenormedesearticularem

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parainiciaremimediatamentemobilizações,visandoamelhoraraqualidadedevidadacomunidade,massabemosqueasaçõesdeEducaçãoAmbientalprecisamacontecerdeformacontinuadaepermanente.

DuranteasOficinasemEducaçãoAmbiental,discutiu-semuitoaproblemáticacausadapelolixoesugerimosaimplantaçãodacoletaseletivacominclusãodecatadoresnosdistritos,poisestaéapolíticadoGovernoFederal.

Propomos aos membros das bibliotecas comunitárias incentivarem os cidadãos aexerceremopapeldeagentesambientaismultiplicadores,realizandoatividadesalternativasqueobservassemprincipalmenteousodemateriaisrecicláveis,cartazeseoutrasatividadeslúdicas,inclusivecomsolicitaçãodecursosoferecidospeloPoderPúblicolocalounoórgãoambiental estadual, com foco nos resíduos produzidos na comunidade, descartadosinadequadamente em terrenosbaldios, recursoshídricos e ao longodo acostamentodasestradas.

Abibliotecacomunitáriapodeenriquecerseuoacervoambientalmedianteadoaçãode livros, cartazes, jogos e reuniões em grupos. As crianças conseguem assimilarmuitorapidamenteotema,esãoótimostransformadores,poislevamoconhecimentoparaafamíliaecobramdospaismudançasdeatitudes.Paraogrupodeterceiraidade,háoportunidadedelazer,deencontros,poiselespodemrealizarmuitasatividadese,aomesmotempo,pormeiodaoralidade, contar aos jovens comoerao local ondemoramhámuito tempo, quais astransformaçõesocorridas,oquefoinegativooupositivo.

Todasasatividadesdevemseravaliadasperiodicamentee registradasemproduçãotextual,fotosouvídeosparaseremrepassadosàsgeraçõesfuturas.

Referências

BOFF, Clodovis. Como trabalhar com a massa. Petrópolis: Vozes, 1995.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: www.mma.gov.br.

CEARÁ. Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Curso de Capacitação para Multiplicadores em Educação Ambiental. Fortaleza, 2005. (apostila)

CENTRO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DE PETRÓPOLIS. A Carta da Terra: Valores e Princí- pios para um Futuro Sustentável. Petrópolis: Gráfica e Editora Stamppa LTDA, 2004.

GUTIÉRREZ, F.; PRADO, Crua. Ecopedagogia e cidadania planetária. Guia da Escola Cidadã. São Paulo Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002. vol. 3.

RUSCHEINSKY, Aloísio et. al.. Educação ambiental: Abordagens MÚltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

TALAMONI, Jandira L. B.; SAMPAIO, Aloísio Costa. Educação ambiental: da prática pedagógica à cida- dania. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.

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Módulo 9 Ideias de como elaborar projetos sociais

para bibliotecas comunitárias

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tem pós-doutorado em Filosofia pela Université du Quebec à Montreal. É doutora em Sciences de lInformation et de la Communication, Université Stendhal-Grenoble- 3-França e mestra em Ciências da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. É professora da Universidade Federal do Ceará atuando nas seguintes áreas: Tratamento Cognitivo da Informação, Representação do Conhecimento, Tecnologia da Informação, Informação para a Saúde, Gerenciamento Eletrônico de Documentos, Ontologias, Bibliometria, Linguagem Natural e Controlada, Epistemologia da Ciência, Metodologia da Pesquisa, Leitura e Biblioterapia, Gestão da Informação e do Conhecimento. Juntamente com a Profa. Ana Maria Sá foi idealizadora e colocou em prática o PROLER-CE, tendo sido sua primeira coordenadora. Também criou e coordenou o projeto Biblioterapia no Estado do Ceará. Tem livros e artigos publicados no campo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia.

Ideias de como elaborar projetos sociais para bibliotecas comunitárias

Introdução Aideiacentraldestecapítuloétrazerdicasdecomoelaborarprojetossociaispara

obterfinanciamentosquevenhamcontribuirparaaresoluçãodealgumproblemaqueafetaumacomunidade,trazendocomoexemploumprojetosocialrelativoàconstruçãodebibliotecascomunitárias.

Assim, o leitor encontrará neste texto algumas palavras referentes aoentendimentosobreoquesignificaprojeto,bemcomoopassoapassodecomoredigirumprojetosocial,desdeasuaconcepçãoatéacolocaçãoempráticaeasavaliações.

Nossaintençãoétornarapráticadeelaboraçãodeprojetossociaissimpleseacessívelàquelesquebuscaminformaçõessobreessefazer.Tambémtrazemosalgumasinformaçõessobrecomocaptarrecursosparaaconcretizaçãodeprojetossociaisquepossam fortalecer a ideiade comunidades solidárias, e a biblioteca comunitáriapodecontribuirpara isso.

As dicas aqui apresentadas são dirigidas às organizações não governamentais,associações, cooperativas e outros agentes, que pretendem elaborar projetos e nãosabemcomocolocá-losemprática.Portanto,éumguiaqueservedereferênciaparaoleitorquegostariadefazerumprojetosocialvoltadoaumacomunidadee,nocaso,paraumabibliotecacomunitária.

Estedocumentofoipensadoemformadequestõeserespostas,afimdequeoconsulentepossatermelhorcompreensãodecomoelaborarumprojetosocial.Otexto está estruturado em vários pequenos tópicos, sendo este que está lendo asconsideraçõespreliminares.Emseguida,encontraalgumaspalavrassobreoqueéumprojeto, para que serve, quais são os objetivos, como se faz um projeto social e umexemplodeprojetosocialdeconstruçãodebibliotecascomunitárias.

Lembramos:umprojetoquenãofoibemelaboradopodedeixardeserpostoempráticaporquenãohácompreensãodoquefoiprojetadoe,consequentemente,não teráumfinanciamentoaprovadoquandodabuscadecaptaçãoderecursosparaessefim.

O que é o projeto?

EncontramosnoDicionárioEtimológicodaLínguaPortuguesaapalavraprojetocomo originária do Latim projicere, que significa lançar para a frente. Portanto, asemânticadessapalavrafazcomqueseantecipealgumacoisaquetencionamosrealizar.Porissoéque,quandofalamosemprojeto,relacionamoscomaquiloquegostaríamosdefazereaindanãofizemos.

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Comosepodever,oprojetoéumaconstruçãoholísticaousistemática,mesmoqueelesejaindividual,pois,nãopodemospensaremprojetossemnosdarcontadasligaçõesentreaspartesqueocompõemecomoutrascoisas.Porexemplo,cadaele-mentodeumprojetodecriaçãodebibliotecascomunitáriastemrelaçãoentresiecomosdesejosdacomunidadeondeelevaiserpostoemprática;daisedeixarclaraqualéacontribuiçãodoprojetoparaaquelesaquemeleestádirecionado.

Para que serve um projeto?

Oprojetoservedereferênciacomumparaoqueseprojetourealizar.Seuobjetivoéservirdeguiaparaaquiloquefoiplanejado.Assim,tantofazseeleforindividualoudeumaequipe,precisaestardeacordocomoquefoipensadoeescrito.Assim,oproje-tonãodevedeixardúvidassobreoquefoiplanejado,comoseráexecutadoeosresul-tadosesperados.Todoprojetoéútilparaquesepossaavaliarasaçõesfeitasduranteotempode sua execução e quando ele termina. Ele permite, também, que se avalie se ametodologia, os recursos e a equipe estão de acordo comos objetivos propostos e oalcance.

Nãoseesqueçadequeoprojetoéumaintençãoparafazeralgumacoisaouumatarefa, sendosistematicamenteorganizado.Quem fazumprojetoprecisaestaratentoparaofatoseeletemascondiçõestécnicasdeexequibilidade,viabilidadeeconômica,setrazalgumacontribuiçãoou impacto social e, no casodeprojetos sociais, se ele é

Para entender melhor

Então, projetar é traçar um plano daquilo que alguém se propõe fazer. Logo, projetar implica que se vai agir! Agir, porém, de modo pensado e não improvisado. Um projeto pode ser pessoal, para outra pessoa, para uma comunidade e para um país. Assim, fazer um projeto é decidir sobre o que queremos fazer, por que vamos fazer, os benefícios que ele poderá trazer, como vamos fazer e quanto custará (em termos de recursos financeiros, materiais e pessoais). Justamente por isso é que, para elaborar um projeto, é preciso planejar o que se quer fazer e expressar esse desejo para nós mesmos, para um grupo, uma comunidade, um país etc. É preciso estar consciente de que, quando se planeja e se faz um projeto, somente a vontade de fazê-lo e o registro dele é que estão garantidos. Das outras coisas se vai “correr atrás”.

Para saber mais, ver: FREIRE, F.M.P.; PRADO, M.E.B.B. Projeto Pedagógico: Pano de fundo para escolha de um software educacional. In: VALENTE, J.A. (org.). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED, 1999.

O projeto é um documento que tem um conjunto de informações sistemáticas e ordenadas em uma sequência de passos a serem seguidos, permitindo-nos estimar custos e benefícios a um investimento financeiro ou social.

Para saber mais, leia o texto do Prof. Nilson Holanda, referenciado no final deste capítulo.

aceitopelacomunidadeoupelasociedade.

Sendoassim,paraqueumprojetotenhaboaqualidade,éprecisoqueelepossasereficiente, sejapertinente, coerente, viável, traga contribuiçõesparaa sociedadee sejafeitoemumtempodeterminado.Noquadro1,estãoexpressasessasqualidadesexigidaseomodocomoverificá-las.

Qualidades Como verificar essa qualidade

Pertinência

O tema do projeto está adaptado à realidade do local onde ele será implantado e atende as prioridades da comunidade ou da sociedade?

Coerência interna e externa

Coerência interna: as ações a serem implementadas estão de acordo com as melhorias desejadas?

Coerência externa: as soluções propostas estão adaptadas às características sociais, econômicas, ambientais da comunidade onde o projeto vai ser implantado?

Eficiência

Os custos do projeto estão de acordo com os objetivos de modo de modo a não causar prejuízos ao desenrolar do projeto?

Viabilidade

Os recursos financeiros, materiais e humanos são necessários para a realização das atividades no tempo previsto?

Impacto

Quais são os efeitos concretos do projeto sobre as condições de vida dos beneficiários?

Duração do projeto

Os resultados estão previstos para durar quanto tempo? O projeto pode ser refinanciado?

Quadro 1- As qualidades de um projeto e como verificar. Fonte: adaptado do “Guia Prático de Montagem de Projetos”, do Fundo Social de

Desenvolvimento e de Cooperação Francesa.

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Veja o que Marcio Schiavo, do Comunicarte, diz sobre como deve ser um bom projeto: deve ser capaz de “comunicar todas as informações necessárias num documento escrito, e é por isso que existem elementos básicos que compõem sua apresentação. Se seu projeto se transformar numa proposta de financiamento e se ela for aprovada por algum financiador, isso significa que ele compreendeu o programa de trabalho que seu grupo pretende realizar, percebeu sua importância e as possibilidades de êxito.” (Referência no final do capítulo).

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O que são projetos sociais?

Sãoaquelesquetêmcomofinalidaderesolverproblemassociaisdascomunidades,ouaindarelacionadosàsmudançasqueafetamasociedade,inclusiveaquelasdocotidia-no,porexemplo,relacionadosaeducação,cultura, leitura, lazer,trabalho,capacitação,culturaetc.Éclaroquenãopodemosnegarosbenefíciosqueosprojetossociaistrazemparaascomunidades,porém,essasaçõestambémtrazemvantagens,emuitas,paraasorganizaçõesquefinanciamtaisiniciativas,disseminandoumaimagempositivadaorga-nização.Afinal,elaestáimbuídadeboavontadeparacontribuirparaaresoluçãodepro-blemasdeumgrupooudeumacomunidade.Alémdomais,essasorganizaçõespodemestarcontribuindoparaaresponsabilidadesocial.

Essesprojetosapareceramem1795nosuldaInglaterra,comoumaleideproteçãoaotrabalhadoragrícoladaquelePaís.Eraumprogramasocialcuja finalidadevisavaapossibilitarumavidadignaaessestrabalhadoresquehaviamtidopoucacolheitadetrigoequenãoerasuficienteparaapopulaçãoqueestavacrescendo.Alémdomais,asguerrasnãopermitiamqueotrigo fosse importado,provocandoescassezdealimentosparaapopulação.

Outrosfatoresquetambémcontribuíramparaosurgimentodosprojetossociaisforam as lutas de classes, que começaram a ganhar destaque na década de 1940,principalmente por conta dos inúmeros prejuízos e abusos que a sociedade vinhaenfrentando, inclusiveemconsequênciadasguerras.Então,aOrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU)realizouumaAssembleiaGeralnodia10dedezembrode1948,eproclamouaDeclaraçãoUniversaldosDireitosHumanos.AprópriaONUcriou,nessaAssembleia,algumasorganizaçõesnãogovernamentaisparafrearoabusodosgovernos:OrganizaçãodasNaçõesUnidasparaaEducação,aCiênciaeaCultura(UNESCO),FundodasNaçõesUnidasparaaInfância(UNICEF)eaOrganizaçãodasNaçõesUnidasparaaAgriculturaeaAlimentação(FAO).Depoisdisso,opovo,cadavezmaistomouconsciênciadosabusostãopresentesnasociedadeetambémpassouaterparticipaçãomaisativa,organizandoentidades,afimdepoderfreartaisabusos.

NoBrasil,nãofoidiferente,asorganizaçõesnãogovernamentais(ONG)surgiramcomo resultado da conscientização da população, que passou a ver nosmovimentossociaisorganizadosumaforçaafimdepararosabusoscometidoscontraapopulação.Essemovimentoocorreuentreosanos1970e1980,doséculopassadoeexigiuquesuasreivindicaçõesfossemconsideradasnaAssembléiaNacionalConstituintede1988,oquefoiaceito,inclusiveoArtigo5doTítuloII–DosDireitoseGarantiasFundamentaisenoCapítulo I –DosDireitos eDeveres Individuais, da Constituição Federaldo Brasil, de1988, traz no “XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a decaráterparamilitar;XVIII-acriaçãodeassociaçõese,naformadalei,adecooperativasindependemdeautorização,sendovedadaainterferênciaestatalemseufuncionamento”.Assim,aresponsabilidadepelaéticaepelobem-estardasociedadeédetodos.

Como elaborar um projeto social

Comojávimos,oprojetoéumdocumentoquecontémtodasasetapasparaqueumaideiasejapostaemprática,porém,antesdequalquercoisa,éprecisoobservarseeletemasseguintescaracterísticas:pertinência,coerênciainternaeexterna,eficiência,viabilidade,impactoeduração.Umaboamaneiraparacompreenderissoéfazerquestionamentos.

Exemplo:esseprojetoésobreoquê?Porqueéimportante?Qualéseuobjetivo?Quemsãoaspessoasqueestarãoenvolvidas?Aquemesseprojetosedestina?Onde,quandoecom que recursos ele será feito? Faz-se necessário não esquecer, também, que essasquestõesdevemestarrelacionadascomasociedadeouacomunidadeondeoprojetoseráefetivado. Por isso é sempre bom fazer um diagnóstico antes de elaborá-lo e essediagnósticopodeservirtambémparaajustificativadaaçãoquesequerdesenvolver.

Agora,vamosver todasasetapasqueumprojetosocialdeveconter, lembrandosemprequeasorganizaçõesfinanciadorasdeaçõestêmsuaspolíticasequeelasdevemserobservadasnomomentodopreenchimentodosformulários.

Demodogeralsãoessasasetapasdeumprojetosocial

a) Esteprojetoésobreoquê?FazerumaApresentaçãogeral,descrevendocla-

ramente o que se quer fazer (pode ser, entre outras coisas, um serviço, uma ação,atividadeouprodutocultural).Seforumaaçãocoletiva,devemosapresentaraideiaaumgrupoparaqueelaamadureça,etambémparaquesejamcoletadas informaçõesnecessárias para que o projeto seja realizado. Destaque os aspectos principais, umpequenohistóricodainstituiçãoondevaiserexecutado,osbenefíciosqueoprojetotrará,inclusive,seforpossível,apresentardadosquantitativos.Porexemplo,quan-tascrianças, jovens ou adultos serão beneficiados e outras informações que possamcontribuir paraa sua aprovação.Caso aação já tenha sido contemplada comalgumrecurso, é sempre bom mencionar, pois mostrará que já existe experiência. É im-portante tambémsaberondebuscarrecursosparaofinanciamentodoprojeto,poiscadaorganizaçãofinanciadoratemaprópriapolíticaquedeveserseguidanahoradesolicitarrecursos.

b) Qualéainstituiçãoqueabrigaráoprojeto?Essaetapadeveráconterosda-doscadastraisreferentesàidentificaçãodainstituição,oresponsávellegal,CNPJ,en-dereço completo, responsável pelo projeto, telefones, fax, e-mail, dados bancários eoutrasinformaçõesquesejamsolicitadaspelos financiadores.

c) Quemseráoresponsávelpeloprojeto?Fornecerosdados cadastraisdore-presentante legal, tantopelaparteoperacional comopelapartesocialoueducativa,inclusivecomtodososdadosdeidentificaçãodessesresponsáveis-nome,endereçocompleto,telefones,e-mails,faxe outros.

d) Essa iniciativa é importante,por quê? Justifique a importância do projeto,fazendoumcenáriodotemaobjetodaação,emtermoshistóricoseimplicaçõesdasuaefetivação. Para isso, é preciso proceder a um diagnóstico da situação, a fim deidentificarosproblemasaseremsolucionadoseanecessidadedoprojetopararesol-vê-los.Porissoéqueprecisamos justificarasuaviabilidadeemtermoseconômicos,sociais,educacionais,culturaisououtros.Ouseja,nessequesito,precisamosoferecerinformações suficientes, a fimdequeoprojetopossa ser financiado. Tambémé im-portanteinformaronúmerodepessoasoufamíliasqueserãobeneficiadas(diretaouindiretamente)eosbenefíciosquetraráparaacomunidade.Procuresabersejáexis-tealgumainiciativadamesmanaturezanaregiãoounacomunidadequeprivilegieasaçõespropostas,paraquesuaideiapossasersomadaàsoutras.Enfim,ajustificativadevedizerclaramenteporqueoprojetodeveseraprovadoeexecutado.

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e) O que quero com este projeto? Para responder a essa questão e melhorentendimentodasaçõespropostas,ésemprebomtraçarobjetivosgeraleespecífi-cosque se espera alcançar. Por isso, eles devem estar ligados ao tema do projeto e àjustificativa.Oobjetivogeralcobreaideiamaisampladoquesepretendealcançarevaialémdoperíododerealização.Jáosobjetivosespecíficossãooriundosdoob-jetivogeral e demonstram especificamente as ações que serão feitas para se chegar aosrelutadosesperados.Geralmenteosobjetivossãoexpressoscomverbosnoinfi-nitivoe que expressem, efetivamente para que esse projeto está sendo elaborado. Porexemplo, capacitar, treinar, proporcionar, implantar, criar, formar etc. Junto com osobjetivos,tambémpodemosexprimirasmetas,afimdequantificaroqueseráfeito,osresultados esperados, as atividades a serem realizadas e o período de realização.Tambémpodemossituarasmetascomomaisumafasedoprojeto.

f) Comovaiserexecutadooprojeto?Nessaetapa,devemosdescreverameto-

dologiaaserutilizada;querdizer,quecaminhosvamosseguirpracumprirosobjeti-vosprevistos.Porexemplo,comoserãoorganizadasessasetapasequemparticiparápara que elas sejam feitas. É bom tambémmostrar as experiências da equipe, porexemplo,sejáparticipoudeoutrosprojetosecomofoiessaparticipação.

g) Quandoserárealizadooprojeto?Essaetapadeveexpressarocronogramade

todasasatividadesprevistasparaseremrealizadasemtermosdetempoequem asexecutará. Observar como realizar as atividades uma em relação às outras. Porexemplo,seelaspodemsersimultâneas,ouseumadevecomeçardepoisdaoutra.Éprecisoestaratentoparaversenãoháatividadesquedependemdeoutraparapoderiniciarouaindaquedependadecondiçõesespecificasparainiciar.Porexemplo,seforumaaçãoquecomplementeasatividadesescolares,nãodeveráserrealizadanasférias.

Atividade Período e tempo de Execução

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Sensibilizar a comunidade x Capacitar a equipe x Adquirir acervos x x x x x x x x x Tratar o acervo para colocar a biblioteca em funcionamento

x x x x x x x x x

Realizar oficinas x x x x Confeccionar os brinquedos x x Confeccionar embalagens x x Fazer exposições x Avaliar os resultados x Fazer relatórios/prestação de contas x

Quadro1-Exemplodecronograma

i)Quantocustaráoprojeto?Definiroorçamentofinanceironecessárioparaasuaexecução.Domesmomodoqueocronograma,oorçamentodeveserapresentadoemumatabelaouquadro,indicando-seositensemqueosrecursosserãoutilizados,eoscustosindividuaisetotaisdecadaitem,resultadonosvalorestotaisparaqueasaçõespropostas sejam executadas. É bom não esquecer que muitos projetos preve- emrecursosparapessoal,serviços;infraestruturaeprodutosorigináriosdoprojeto,comopublicação de material gráfico, DVDs, CDs, guias, material de consumo; custosadministrativos;comunicaçãoedivulgação;impostose taxas.

j) Arealizaçãodoprojetoapresentaalgumproblema?Aavaliaçãodeveráser

feita ao longo de sua realização e no final de sua implementação, no decurso dodesenvolvimento,esseacompanhamentovisaaavaliar,demodogeral,comoasaçõesestão sendo realizadas e, caso haja falhas, percebê-las e solucioná-las. Naavaliaçãofinal,deve-serelacionarseosobjetivosemetaspropostas foramatingidos,seocro-nogramaseguiuoquefoiproposto,seosrecursosalocadosforamutilizadosnaquiloquefoiprevisto,seaequipe“deucontadorecado”.Enfim,opropósitodaavaliaçãoéoferecer subsídios às organizações que financiaram o projeto e à comunidade paraquemoprojetofoi proposto.

k) Quaisforamosresultadosdoprojeto:orelatórioéaúltimacoisaaserfeita.

Querdizer,nelevocêdeveprestarconta,aosfinanciadoreseàcomunidade,doquefoipensadoeexecutadonodecorrerdainiciativa.

Agoraquevocêjásabecomoelaborarumprojetosocial,énecessáriotercons-ciênciadequecadaorganismoquefinancia iniciativasdessanaturezatemaprópriapolítica,equeeladeveserseguidaquandodaelaboraçãodeumaproposta.Porisso,épreciso estar atento para não fazer um projeto que não atenda aos objetivos dasorganizaçõesfinanciadoras.

Visandoacontribuircomalgumasideiasparaaelaboraçãodeumprojetodebi-bliotecascomunitárias,trazemosumaminuta,quepoderáseraproveitadaporaque-lesquesonhamemimplantaressetipodebibliotecasemalgumacomunidade.

Projeto de criação de uma biblioteca comunitária

AUNESCOensinaque,paraoscidadãosseremlivresehaverdesenvolvimentonasociedade,éprecisoquetodosestejambeminformados.E,paraisso,asbibliotecassãoasinstituiçõesquedesempenhampapelfundamentalnesseprocesso.

Diferentementedasbibliotecaspúblicasestaduaisoumunicipais,criadaspelosgovernos estaduais e municipais, as bibliotecas comunitárias são instituídas pelascomunidadesetêmcomoobjetivosprincipaisatuarcompropósitosdecontribuirparadiminuirasdiferençassocioculturaiseeducativasdeumacomunidade.Elassurgiramcomo resposta aos problemas informacionais que as comunidades enfren- tam etambémcomomaisumainiciativadeinclusão.

Pelo fato de serem elas criadas pelas comunidades, as dificuldades para a suaimplementaçãoemanutençãosemostramenormes.Porisso,muitasdelassãocriadaspormeiodeprojetossociaisfinanciadosporempresasouorganismosnacionaise

143

144

internacionais.Paraquesejapossívelobterrecursos,visandoàcriaçãodebibliotecascomunitáriasououtrosprojetossociais,osprojetosdevemserbemestruturadoseseguiraspolíticasdasorganizaçõesfinanciadoras.

Agoraquevocêjásabeoqueéumabibliotecacomunitáriamostramosase-guira minuta de um projeto de captação de recursos para a elaboração desse tipo debiblioteca. Esclarecemos que essa minuta se refere à implantação de uma bibliotecafictícia,portanto,setrataapenasdeexemplodemodelodeprojeto.

1 Apresentação do projeto

Este documento apresenta o Projeto de criação da Biblioteca Comunitária“ViscondedeSabugosa”nacomunidadede“Pasárgada”,municípiodeManuelBandeira,queselocalizaa150quilômetrosdaCapitaldoSol.

Acomunidadede“Pasárgada”foiformadacchegadadefamíliasdeagricultores,oriundasdeváriosmunicípiosatingidospelasconstantessecasquecastigaramaregião nos últimos dez anos, prejudicando as lavouras e deixando essas famíliasvulneráveisemtodosossentidos,sendoascriançaseosadolescentesaquelesquemaissofremcomessa situação.

A finalidade deste projeto é contribuir para a redução do analfabetismo, acapacitaçãotecnológicaeofortalecimentodacidadaniadecriançaseadolescentesqueestejam enfrentando situação de risco social nessa comunidade. Para tanto, serãoefetivadas intervenções socioculturais, tecnológicas e educativas com base nasseguintes estratégias: socialização de leituras, capacitação em competênciastecnológicas, contação de histórias, montagem de peças teatrais, preservação damemóriaedopatrimôniolocal,artesplásticas,dança,orientaçãoàstarefasdaescola,músicaetc.

AsaçõesserãoefetivadasemparceriacomasinstituiçõesligadasàsSecretariasdeEducaçãodeCulturaedeAçãoSocialdoMunicípio,sendorealizadasemhoráriosalternadosaodaescola.AmetodologiaadotadaestaráemconsonânciacomalegislaçãovigentedoEstatutodaCriançaedoAdolescenteeprimarápelorespeitoaessepúblicoque enfrenta condição de desenvolvimento não compatível com a Declaração dosDireitosdoHomem,comosparâmetrosdaUNESCOecomaConstituiçãoFederal,noqueconcerneateremseusdireitos atendidos.

Esseprojetoédesumaimportânciaparaacomunidade,poisatenderáemmédia250criançaseadolescentescarentes,deambosossexos,nafaixaetáriade03a16anose também terá sua ação extensiva às famílias dessas crianças e as comunidades doentornode“Pasárgada”.

Paraqueesseprojetosejaefetivado,pleiteamosqueelevenhaaserfinanciadoesalientamos que os recursos financeiros deverão cobrir os custos alocados em R$250.000,00 (duzentos e cinquentamil reais), pelo períodode12meses deação, dejaneiroadezembrode2012.

Para saber mais, veja o texto Bibliotecas comunitárias em pauta, de autoria da Maria Christina Barbosa de Almeida e Elisa Machado na lista de referências.

Aproveitandooeditallançadopela“AlicenoPaísdasMaravilhas”équeelaboramosesseprojetoparaconcorrernessamodalidade.

2. Identificação da instituição

ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA DOS CIDADÃOS DE “PASÁRGADA” Presidente: Visconde de Sabugosa Lobato CNPJ: 0000000/0001-00 Endereço completo: Comunidade de “Pasárgada”-Km-64- Br-212C CEP: 00010-101 Telefones: (85) 12112112 Fax: (85) 12112113 E-mail: [email protected] Dados bancários: Banco da Branca de Neve Agência- 01200-00 Conta- 1010-10

21DadosdequalificaçãodainstituiçãoAAssociaçãoComunitáriadosCidadãosde“Pasárgada”éumainstituiçãocivilsem

finslucrativos,criadaem20dejulhode1990,comoconsequênciadachegadadefamíliasdeagricultores,quevieramdeváriosmunicípiosatingidospelasconstantessecasquecastigarama regiãonosúltimosdez anos, prejudicando as lavouras edeixando essasfamíliasvulneráveis,sendoascriançaseosadolescentesaquelesquemaissofremcomessa situação. A associação fica localizada nomunicípio de Manuel Bandeira, que selocalizaa150quilômetrosdaCapitaldoSol.

Deacordocomosdadosestatísticos doúltimocenso demográfico doInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE),ano 2000,apopulação totaldacomunidadede“Pasárgada”erade5000habitantes,sendoque, desse total,

300seencontramnafaixaetáriadezeroà18anos,oquecorrespondea60%dapopulaçãoconsideradanãoeconomicamenteativa.Éuma comunidade rurale cujas condições geográficas, climáticas, educativas e econômicas não oferecemgrandespossibilidadesdetrabalho.Aescolaruralofertaeducação formal apenas

até o ensino fundamental, sendo que escola de ensino médio se encontra a 150quilômetrosda cidade.Assim,os jovenspermanecemno campo,porém, semumaqualificaçãoadequadanemparaocultivodaterranemparaoutrotipodetrabalho.

Amissãodessaentidadeéreunirosmoradoresdacomunidade,visandoaoseufortalecimentoparaque,unidos,possamlutarporaçõesconcretasjuntodoGovernoe ao Estado para garantir seus direitos a educação, saúde emoradia, de modo aassegurarasatisfaçãodesuasnecessidadesbásicase,consequentemente,umavidadigna.Portanto,hámaisde20anosdesenvolvendoaçõesparasolucionarproblemasemergentesdacomunidadede“Pasárgada”,como,porexemplo,faltadeumaescolavoltadaaoensinomédio,ausênciadeequipamentosculturais–bibliotecas,centroscomunitários,entreoutros.Paraaconcretizaçãodessasações, jáforamexecutadosprojetosoriundosdeparceriascomalgumasinstituições,destacando-se:“Fazendopãodemacaxeira”,“Cuscuznoar”,“Plantar,colherecomer”e“Sejainformado”.Todosessesprojetosprocuramdaratençãoàscriançaseaosjovensdacomunidade,tendosidobeneficiadoscercade100pessoas.

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3 Identificação dos responsáveis pelo projeto 3.1 ResponsávelpelaparteoperacionalGato Risonho de Botas: bibliotecário, especialista em Psicopedagogia. Tem

experiênciaemprojetossociaisqueenvolvemaleituraeacontaçãodehistórias,tendotrabalhado também como educador em competência informacional, principalmentevoltadasparaousodastecnologiasaserviçodacidadania.

Endereço completo: Comunidade de “Pasárgada”-Km-64- Br-212C RG: 010101- SISCE Data de emissão: 30/02/1935 CPF:00110101010 Telefones: (85) 12112112 Fax: (85) 12112113 E-mail: [email protected]

3.2 ResponsávelpelapartetecnológicaesocioeducacionalLagartaPintadadeAzul:bibliotecáriadaFundação“DonaBaratinha”,especialista

em educação de crianças e adolescentes. Tem experiência em projetos sociais queenvolvema socializaçãoeoaprendizadocriançase jovens, tendo trabalhado tambémcomoeducadoraemcompetência informacionalnoaprendizadoeusodastecnologiasdigitaisaserviçodacidadania.

Endereço completo: Comunidade de “Pasárgada”-Km-64- Br-212C RG: 101010-01- SISCE Data de emissão: 32/02/1945 Telefones: (85) 12112112 Fax: (85) 12112113 E-mail: [email protected]

4 Justificativa

É evidente que as desigualdades sociais afetam grande parte da população domundoesãoconsequênciadamádistribuiçãoderenda.Nocontextobrasileiro,essefatoé bem notório e contribui decisivamente para a falta de acesso a educação, saúde,alimentação,habitação,culturae,consequentemente,paraodesenvolvimentocomoumtodo. As estatísticas mostram que 34% da população brasileira vive em estado depobrezae15%emextremapobreza. Issosignificaqueascriançasnascidasabaixodalinhadepobrezaprovavelmentevãocontinuarmuitopobres,poisnãoterãocomosairdessacondição,consequênciadiretadasdesigualdadessociais.

Na Comunidade de “Pasárgada”, também não é diferente. Sua população émuitíssimoafetadapeladesigualdadesocialdoPaís,sendo,portanto,excluídadoacessocontinuoesuficienteaosbenseducacionais,culturais,profissionaisedousodetecnologiasdigitaisdeinformaçãoedecomunicação.Aausênciadessesbensafetadiretamenteessapopulação,quecontinuacadavezmaisexcluídaumavezquesetratadeumacomunidaderuralecujascondiçõesgeográficas,climáticas,educativaseeconômicasnãooferecemgrandespossibilidades,muitomenosdetrabalho.Aescolaruralofereceeducaçãoformalapenasatéoensinofundamental,sendoqueaescoladeensinomédioseencontraa150quilômetrosdacidade.Assim,osjovensousaemparaviverumavidamarginalnaCapital

oupermanecemnocampo,porém,semumaqualificaçãoadequadanemparaocultivodaterranemparaoutrotipodetrabalho.Então,oquerestaaessescidadãos?

EmboraqueAssociaçãoComunitáriadosCidadãosde“Pasárgada”venhahámaisde20anosdesenvolvendoaçõesjuntoaoshabitantesdaregião,comrelaçãoaosaspectossocioculturais e educativos, muito ainda resta a ser feito, principalmente no que dizrespeitoaalfabetização,leituraedomíniodastecnologiasdigitais,emconsequênciadafaltadepessoalqualificado,equipamentossociaisetecnológicos.EsteéomotivopeloqualestamosinteressadosemconstruiraBibliotecaComunitária“ViscondedeSabugosa”nessacomunidade:acreditamosquesuasaçõescontribuirãoparareduziroanalfabetismolocal,paramelhoraraeducaçãoeaqualificaçãoprofissionale,consequentemente,paraoacessoamelhorescondiçõesdevida,trabalhoemanutençãodapopulaçãonasáreasrurais.Oprojetoatingirácercade150pessoas,deambosossexosenafaixaetáriadetrêse18anos,emboraseuraiodeaçãopossachegartambémaosadultos,bemcomoàscomunidadesadjacentes.

Temos ciência de que somente pela sensibilização, conscientização e união épossívelcontinuarlutandoparaodesenvolvimentosociocultural,educativoetecnológicodacomunidade.Afinal,somoscidadãospasagardensese,portanto,casoesseprojetosejaaprovado,osresultadosseconverterãoembenefíciosreaisparaessacomunidade,poisascriançaseosadolescentesviverãomomentosdecapacitação,socializaçãoeeducação.Pormeiodeinvestimentosemprogramasdessanatureza,ascriançasejovensde“Pasárgada”poderão desenvolver suas habilidades e competências, pois vivenciarão atividadeseducativas,socioculturaisetecnológicase,porconseguinte,essasaçõesfortalecerãoacidadania.Almejamosalcançar,dessemodo,osseguintesresultados:integraçãode100%das crianças e adolescentes da comunidade nas ações desenvolvidas pela bibliotecacomunitária;colaboraçãodepelomenos40%dasfamíliasnasações,tantoparticipandonasaçõesefetivas-comomerenda,limpezaetc.-comoatuandonamediaçãoparaqueseusfilhosseenvolvam;colaboraçãocomaescolaafimdeque100%dascriançasatinjamodesempenhoesperado;garantiadeque100%dascriançaseadolescentesparticipemaomenosdequatroatividadespropostas:leitura,contaçãodehistória,rodadeleitura,auxilionasatividadesescolares,atividadesartísticas,capacitaçãotecnológica.

5 Objetivos

5.1 ObjetivoGeralContribuirparaodesenvolvimentoeducativo,socialetecnológicodecriançase

adolescentes da comunidade de “Pasárgada”, oferecendo-lhes oportunidades decapacitaçãopormeiodeaçõesdedemocratizaçãodaleituraedousodatecnologiadigitalcomoferramentasdegarantiadaconquistadacidadania.

5.2 Objetivosespecíficosa) Despertarnacriançaenojovempasagardenseogostopelaleitura,pormeioda

contaçãodehistórias.b) Contribuirparaademocratizaçãodaleitura,possibilitandooacessoaolivro.c) Estimularaleituraprazerosapormeiodeaçõesderodasdeleitura.d) Orientarascriançaseosjovensnastarefaseoutrasatividadesdaescola.e) Contribuir para o desenvolvimento sociocultural, educativo e tecnológico da

147

148

comunidade.f) Adquirirumacoleçãodeacervoscompatíveiscomasnecessidadesdacomunidade.g) Proceder ao tratamento, à organização e à disseminação do acervo, a fim de

facilitaroacessoàcomunidade.h) Adquirircomputadoreseoutras ferramentasdigitais,a fimdeensejara

capacitaçãotecnológicaàcomunidade.i) Oferecer capacitação das tecnologias digitais, para crianças e adolescentes na

perspectivadeinclusãodigitaledequeelespossamsermultiplicadoresdessacapacitaçãojuntoàcomunidade.

j) Construirapáginawebdabiblioteca,paradivulgarosserviçosoferecidosporessainstituição.

6 Metodologia

Comosetratadeumprojetovoltadoparaaçõeseducativas,socioculturaisedecapacitaçãoemtecnologiasdigitais,ametodologiaadotadaestaráemconsonânciacomosobjetivospropostos,privilegiandoaçõesquevenhamacontribuir,efetivamente,paraa cidadania das crianças e adolescentes da comunidade de “Pasárgada”. Assim,apresentamosasatividadessocioculturaiseeducativasnosquadrosaseguir.

AÇÕES DE SENSIBILI- ZAÇÃO DO GOSTO PELA LEITURA

TRABALHO DIÁRIO

ATIVIDADES DIAS DA SEMANA

HORÁRIO FAIXA ETÁRIA

CARGA HORÁRIA SEMANAL

CARGA HORÁRIA MENSAL

Contação de história (Manhã

1º horário)

3ª, 5ª e sábado

9h30min

às 11H30MIN

3 – 9

6h/a

30h/a

Contação de história (Tarde

2º horário)

3ª, 5ª e sábado

14H às 16H

10 – 14

6h/a

30h/a

Contação de história (Noite

1º horário)

3ª, 5ª e sábado

18H30MIN

às 20h30min

15 – 18

6h/a

30h/a

Contação de história

(Horário especial)

Domingo

A combinar

com a equipe do

projeto

dos 3 anos de

idade em

diante

A combinar

com a equipe do

projeto

A combinar

com a equipe do

projeto

AÇÕES DE APOIO ÀS ATIVIDA DES ESCO LARES

TRABALHO DIÁRIO

ATIVIDADES DIAS DA SEMANA

HORÁRIO FAIXA ETÁRIA

CARGA HORÁRIA SEMANAL

CARGA HORÁRIA MENSAL

Socio- pedagógico

(Manhã 1º horário)

2ª a 6ª

7h30min

às 9h30min

6 – 9

10H/A

40h/a

Socio- pedagógico

(Tarde 2º horário)

2ª a 6ª

14H às 16H

10 – 14

10H/A

40h/a

Socio- pedagógico

(Noite 1º horário)

2ª a 6ª

18H30MIN

às 20h30min

15 – 18

10H/A

40h/a

AÇÕES DE ESTIMULO À LEITURA

TRABALHO DIÁRIO ATIVIDADES DIA DA

SEMANA HORÁRIO FAIXA

ETÁRIA CARGA HORÁRIA SEMANAL

CARGA HORÁRIA MENSAL

Rodas de leituras (Manhã

1º horário)

Sábado

9h30min às

11H30MIN

6 – 10

2H/A

10H/A

Rodas de leituras (Tarde

2º horário)

Sábado

14H às

16H

11 – 14

2H/A

10H/A

Rodas de leituras (Noite

1º horário)

Sábado

18H30MIN

às 20h30min

15 – 18 e demais

interessados

2H/A

10H/A

PREPARAÇÂO DO ACERVO

TRABALHO DIÁRIO ATIVIDADES

DIAS DA SEMANA

HORÁRIO

CARGA HORÁRIA SEMANAL

CARGA HORÁRIA MENSAL

Tratamento, organização e disseminação

do acervo

2ª a 6ª

7h30min às 12H30MIN e de 14H às 18H

40h/a

180H/A

149

150

CAPACI TAÇÃO

EM TECNO LOGIA

DIGITAL

TRABALHO DIÁRIO ATIVIDADES DIAS DA

SEMANA HORÁRIO FAIXA

ETÁRIA CARGA

HORÁRIA SEMANAL

CARGA HORÁRIA MENSAL

Introdução à informática

Manhã 1º horário

2ª a 6ª

7h30min

às 9h30min

9 – 12

10H/A

40h/a

Introdução à informática

Tarde 2º horário

2ª a 6ª

14H às 16H

13 – 17

10H/A

40h/a

Introdução à informática

Noite 1º horário

3ª a sábado

18H30MIN

às 20h30min

Acima de

17 anos

10H/A

40h/a

ACESSO À INTERNET Acesso à rede

(internet) 2ª a 6ª 7h30min às

9h30min 9 – 12 10H/A 40h/a

Acesso à rede (internet)

2ª a 6ª 14H às 16H 13 – 17 10H/A 40h/a

Acesso à rede (internet)

3ª a sábado 18H30MIN às

20h30min

Acima de 17 anos

10H/A 40h/a

CRIAÇÃO DE PÁGINAS NA WEB Criação de páginas na

web

2ª a 6ª 7h30min às

9h30min

9 – 12 10H/A 40h/a

Criação de páginas na

web

2ª a 6ª 14H às 16H 13 – 17 10H/A 40h/a

Criação de páginas na

web

3ª a sábado 18H30MIN às

20h30min

Acima de 17 anos

10H/A 40h/a

7 Cronograma

ATIVIDADE RESPONSÁVEL PERIODO DE EXECUÇÃO

Coordenação do projeto

Bibliotecário 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Contação de história

Bibliotecário x x x x x x x x x x x x

Auxilio nas tarefas escolares

Professor x x x x x x x x x x x x

Capacitação tecnológica

Instrutor de tecnologia da

informação

x x x x x x x x x x x x

Oficinas de contação de

história e outras atividades

sócioculturais

Instrutor(a) /

oficineiro(a) de arte / esporte (h/a)

x x x x x x x x x x x x

Avaliação Equipe x x x Relatório final x x

8 Recursos

EQUIPAMENTO E MATERIAL PERMANENTE

QUANT. CUSTO UNITÁRIO

CUSTO TOTAL

Livros (cobrindo vários assuntos relacionados ao ensino fundamental e médio e outros de interesse da comunidade, obras de referência, livros em formato eletrônico, periódicos).

1000 45,00 55.000,00

Jogos educativos (xadrez, damas, dominós e outros)

50 20,00 1.000,00

Placa-mãe LGA775 INTEL DG41WV (DDR3)

20 193,00 38.600,00

Processador INTEL 775 core 2DUO E7500 20 334,76 6.695,20 Disco rígido interno 500GB SpinPOINTT166 (hd502AI)

20 131,59 2.681,80

Memória DDR3 2GB 20 56,85 1.137,00 Gravador DVD interno preto com cabo de força (GH20NS10)

20 56,85 1.137,00

151

152

Placa-mãe LGA775 INTEL DG41WV (DDR3)

20 193,00 3.860,00

Caixa de som 180W 20 15,00 300,00 Gabinete com fonte real 200w 20 103,00 2.060,00 Teclado PS2 20 16,00 320,00 Mouse PS2 óptico 20 8,00 160,00 Monitor LED 18,5 20 400,00 8.000,00 Quadro branco 2 150,00 300,00 Mesa de computador 20 130,00 2.600,00 Estabilizador 20 130,00 2.600,00 TV 20 polegadas 1 990,00 990,00 Mesa para televisão 1 130,00 130,00 Cadeira de palhinha 10 110,00 1.100,00 Carteiras 150 50,00 7.500,00 Armário de madeira e fórmica com 02 portas

10 298,00 2.980,00

Mesa grande de madeira e fórmica 2 304,00 608,00 Estante de ferro 4 110,00 440,00 Birô de madeira 4 179,00 716,00 Ventilador de teto 4 169,00 676,00 Mesa para som 1 139,00 139,00 Impressora 2 199,00 398,00 Scanner 1 229,00 229,00 Data show 1 1.699,00 1.699,00 Microfone 2 135,00 270,00 Microfone sem fio 2 400,00 800,00 Aparelho de som 2 499,00 998,00 Caixa de som 2 500,00 1.000,00 Microsystem 1 200,00 200,00 Aparelho telefônico 4 70,00 280,00

TOTAL 112.814,00 MATERIAL DE CONSUMO

ITENS

CUSTO INDIVIDUAL/ MENSAL

CUSTO TOTAL

Limpeza e higiene pessoal 150,00 1.800,00 Material de expediente 190,00 2.280,00 Material didático/ LÚDICO 375,00 4.500,00

TOTAL 8.580,00

OUTRAS DESPESAS

ITENS CUSTO INDIVIDUAL/

MENSAL CUSTO TOTAL

Alimentação 4.500,00 54.000,00 Conta de energia elétrica 150,00 1.800,00 Conta de telefone 190,00 2.280,00 Acesso à Internet 50,00 600,00 Consertos e manutenção 280,00 3.000,00 Gás 45,00 (24 botijões) 1.080,00

TOTAL 62.760,00 RECURSOS HUMANOS

PESSOAL QUANT. CUSTO INDIV.

CUSTO TOTAL

TOTAL/ ANO

Bibliotecário coordenador(a) geral 01 2.500,00 2.500,00 30.000,00 Bibliotecário contador de história 02 1.500,00 3.000,00 36.000,00 Professor 02 1.500,00 3.000,00 36.000,00 Instrutor de tecnologia da informação 02 1.500,00 3.000,00 36.000,00 Instrutor(a) / oficineiro(a) de arte / esporte (h/a)

02 1.500,00 3.000,00 36.000,00

Agente administrativo 02 545,00 1.090,00 13.080,00 Responsável pela merenda 02 545,00 1.090,00 13.080,00 Serviços gerais 02 545,00 1.090,00 13.080,00

TOTAL 213.240,00

9 Custos do projeto

ORÇAMENTO FÍSICO-FINANCEIRO DOS RECURSOS SOLICITADOS

Parcelas de janeiro a dezembro de 2013 1. DESPESAS DE PESSOAL

PESSOAL TURNO QUANT. CUSTO INDIV.

CUSTO TOTAL

TOTAL/ ANO

Bibliotecário coordenador(a) geral

Diurno/ Noturno

01 2.500,00 2.500,00 30.000,00

Bibliotecário contador de história

Diurno/ Noturno

02 1.500,00 3.000,00 36.000,00

Professor Diurno/ Noturno

02 1.500,00 3.000,00 36.000,00

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Instrutor de tecnologia da informação

Diurno/ Noturno

02 1.500,00 3.000,00 36.000,00

Instrutor(a) / oficineiro(a) de arte / esporte (h/a)

Diurno/ Noturno

02 1.500,00 3.000,00 36.000,00

Agente administrativo Diurno/ Noturno

02 545,00 1.090,00 13.080,00

Responsável pela merenda

Diurno/ Noturno

02 545,00 1.090,00 13.080,00

Serviços gerais Diurno/ Noturno

02 545,00 1.090,00 13.080,00

1.1 SUBTOTAL 15 10.135,00 17.770,00 213.240,00 1.1.1 Adicional noturno 1.1.2 Total 2.ENCARGOS SOCIAIS MENSAL ANUAL

A – INSS (20% + 1% + 5,8% = 26,80%) S/ Vr Folha 4.762,36 57.148,32 B – FGTS (8,5% s/ Vr Folha) 1.510,45 18.125,40 C – PIS (1% s/ Vr Folha) 177,70 2.132,40 D – PIS (1% s/ 1ª Parcela 13º Salário) 00 88,85 E – PIS (1% S/ 2ª Parcela 13º Salário) 00 72,19 F – PIS (1% S/ 1/3 Férias) 00 59,23 G – 13º Salário – 1ª Parcela s/ folha Geral 00 8.885,00 H – 13º Salário – 2ª Parcela s/ folha s/ base 2.500,00 00 925,62 I – 13º Salário – 2ª Parcela s/ folha s/ base 1.500,00 00 4.920,00 J – 13º Salário – 2ª Parcela s/ folha s/ base 545,00 00 1.373,40 L – IRF s/ folha 794,82 9.537,84 M – INSS – S/ 1ª Parcela 13º Salário (26,5%) 00 2.354,53 N – INSS – S/ 2ª Parcela 13º Salário (26,5%) 00 1.913,04 O – Férias S/ Folha Geral 00 17.770,00 P – Férias 1/3 S/ Folha Geral 00 5.923,33 Q – INSS – S/Férias 12/12 + 1/3 (26,5%) 00 6.278,73 R – FGTS S/ 1/3 de Férias (8,5% N) 00 503,48 S – FGTS S/ 1ª 13o Salário (8,5% D) 00 755,23 T – FGTS S/ 2ª Parcela 13º Salário (8,5%E, F e G) 00 613,62 U – VT (Vale H, cada trecho 3,40) 2.448,00 29.376,00 2.1 SUBTOTAL 9.693,33 168.756,21 TOTAL (1.1 + 1.2) 27.463,33 381.996,21 3. VERBAS RESCISÓRIAS (Rescisão por dispensa sem justa causa)

FGTS rescisória (50%) 8.530,00 Aviso prévio trabalhado (30 dias) 17.770.00 3.1 SUBTOTAL 26.300,00 TOTAL (1 + 2 + 3) 408.296,21

4. EQUIPAMENTO E MATERIAL PERMANENTE ITENS QUANT CUSTO

UNITÁRIO CUSTO TOTAL

Livros (cobrindo vários assuntos relacionados ao ensino fundamental e médio e outros de interesse da comunidade, obras de referência, livros em formato eletrônico, periódicos).

1000 45,00 55.000,00

Jogos educativos (xadrez, damas, dominós e outros)

50 20,00 1.000,00

Placa-mãe LGA775 INTEL DG41WV (DDR3) 20 193,00 38.600,00 Processador INTEL 775 core 2DUO E7500 20 334,76 6.695,20 Disco rígido interno 500GB SpinPOINTT166 (hd502AI)

20 131,59 2.681,80

Memória DDR3 2GB 20 56,85 1.137,00 Gravador DVD interno preto com cabo de força (GH20NS10)

20 56,85 1.137,00

Placa Mãe LGA775 INTEL DG41WV (DDR3) 20 193,00 3.860,00 Caixa de som 180W 20 15,00 300,00 Gabinete com fonte real 200w 20 103,00 2.060,00 Teclado PS2 20 16,00 320,00 Mouse PS2 óptico 20 8,00 160,00 Monitor LED 18,5 20 400,00 8.000,00 Quadro branco 2 150,00 300,00 Mesa de computador 20 130,00 2.600,00 Estabilizador 20 130,00 2.600,00 TV 20 polegadas 1 990,00 990,00 Mesa para televisão 1 130,00 130,00 Cadeira de palhinha 10 110,00 1.100,00 Carteiras 150 50,00 7.500,00 Armário de madeira e fórmica com 02 portas 10 298,00 2.980,00 Mesa grande de madeira e fórmica 2 304,00 608,00 Estante de ferro 4 110,00 440,00 Birô de madeira 4 179,00 716,00

155

156

Ventilador de teto 4 169,00 676,00 Mesa para som 1 139,00 139,00 Impressora 2 199,00 398,00 Scanner 1 229,00 229,00 Data-show 1 1.699,00 1.699,00 Microfone 2 135,00 270,00 Microfone sem fio 2 400,00 800,00 Aparelho de som 2 499,00 998,00 Caixa de som 2 500,00 1.000,00 Microsystem 1 200,00 200,00 Aparelho telefônico 4 70,00 280,00 4.1 SUBTOTAL 112.814,00 TOTAL (1 + 2 + 3 + 4) 521.110,21 5. DESPESAS COM MANUTENÇÃO

ITENS

CUSTO INDIVIDUAL/ MENSAL

CUSTO TOTAL

Alimentação 4.500,00 54.000,00 Limpeza e higiene pessoal 150,00 1.800,00 Material de expediente 190,00 2.280,00 Material didático/ LÚDICO 375,00 4.500,00 Energia elétrica 150,00 1.800,00

Telefone 190,00 2.280,00 Reparos e consertos 280,00 3.000,00 Gás 150,00 1.800,00 5.1 SUBTOTAL 7.335,00 69.678,00 TOTAL (1 + 2 + 3 + 4 + 5) 590.788,21

10 Avaliação Aavaliaçãoseráfeitaaolongododesenvolvimentodasaçõespropostasenofinal

doprojeto.Aavaliaçãoperiódicaseráfeitaconjuntamentepelaequiperesponsávelpelarealizaçãodasatividadesplanejadas,emreuniõescomacomunidade.Essaavaliaçãoénecessáriaparaquesejamfeitososajustesnecessáriosaobomdesenvolvimentodo

projeto.Todasasreuniõesdeavaliaçãoconstarãoemata.Aavaliaçãofinalconstarádaanálisereferenteaodesenrolardoprojetoeosresultadossobreoalcancedosobjetivos.Comrelaçãoaodesembolsodosrecursosfinanceiros,serãoutilizadasfichascontábeis,

demodoacontribuirparaaprestaçãodecontasrelativasaosgastosreferentesdosrecursos.Tambémserãoutilizadasfichasdeinscriçõesdosparticipantes,de

acompanhamentodasatividadesprevistaseexecutadas.

11 Relatório Norelatório final,devemserapresentadasasatividadesque foramprevistase

realizadasaolongodoprojeto,bemcomoosimprevistosqueacontecerameosresultadosalcançados. Devem ser ressaltadas todas as alterações previstas no cronograma,justificando os atrasos no desenvolvimento do projeto, inclusive as mudanças nocronogramadeexecuçãoeassolicitaçõesdeprorrogaçãodavigênciadoprojetoparadata posterior ao que foi definido no projeto inicial, mencionando o documento queconcordoucomasalteraçõesnocronograma.Sehouversidofeitoalgumremanejamentode recursos financeiros,devemserapresentadosos comprovantesde solicitaçãoe asconcordânciasporpartedosfinanciadores.

Émaisesclarecedorsevocêfizerumquadro,como,porexemplo,oqueapresentamosaseguir.

RESULTADOS PREVISTOS RESULTADOS ALCANÇADOS

Integração de 100% das crianças e adolescentes nas ações desenvolvidas pelo projeto.

O projeto conseguiu esse feito, todas as crianças e adolescentes “pasagardenses” foram integrados às ações do projeto.

Colaboração com a escola, a fim de que 100% das crianças atinjam o desempenho esperado.

As ações referentes aos resultados previstos tiveram êxito somente em 80%.

Garantia de que 100% das crianças e adolescentes participem ao menos de quatro atividades do projeto: leitura, contação de história, roda de leitura, auxilio nas atividades escolares, atividades artísticas, capacitação tecnológica.

100% das crianças participaram das atividades de contação de história, roda de leitura e atividades artísticas e foram auxiliadas nas atividades escolares. Somente 60% delas participaram das capacitações tecnológicas. Isso se deu porque a preocupação maior do projeto foi com os adolescentes em virtude da possibilidade de alocar os adolescentes no mercado de trabalho. Nas atividades socioculturais e educativas (leitura, contação de história, roda de leitura etc.), somente 50% dos adolescentes se integraram a essas atividades.

Colaboração de pelo menos 40 % das famílias ao projeto, tanto participando nas ações efetivas (merenda, limpeza etc.) como

atuando na mediação para que seus filhos se envolvam no projeto.

Houve a colaboração de 80% das famílias e isso foi muito bom para o desenvolvimento do projeto. Ressaltamos que 20% delas participaram com ações voluntárias, o que demonstra o interesse em melhoria de vida para a comunidade.

Retorneaosobjetivosgeraiseespecíficos,apontandooquefoialcançadoejustifiqueaquelesnãoconcretizados.

Avalieedescrevaosucessodoprojetocomrelaçãoaoseudesenvolvimento,

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execuçãoetérmino.Digatambémsehouveaparticipaçãodeoutrosparceirosquecontribuíramparaosucessodoprojeto.Teçaoutroscomentáriosfinais,quejulgarnecessários.

Para Consultar • FundaçãoBancodoBrasildeTecnologiaSocial. (http://www.fbb.org.br/upload/biblioteca/documentos/1301345876953.pdf)• BancodePráticasdeRSE(http://www.varejosustentavel.com.br/noticia.php?id=149)• MinistériodaCultura(http://www.cultura.gov.br/site/categoria/apoio-a-projetos/)• Assoc.Bras.deCaptadoresdeRecursos–ABCR(http://abcr-nucleobrasilia.blogspot.com/)• InstitutoEthosdeResponsabilidadeSocial(http://www.google.com.br/search?q=%E2%80%A2%09Instituto+Ethos+de+Responsabilidade+Social&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a)• RededeTecnologiaSocial(http://www.rts.org.br/)

Referências

ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Bibliotecas PÚBLIcas e bibliotecas alternativas. Londrina : Editora UEL, 1997.

BARBOSA, M.C.de A; Machado, E. Bibliotecas comunitárias em pauta. ITAÚ Cultural. Disponível em <www.itaucultural.org.br/biblioteca> acesso em: 18 de maio de 2012.

CUNHA, Antonio G. da. Dicionário etimológico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

FREIRE, F.M.P. & PRADO, M.E.B.B. Projeto Pedagógico: Pano de fundo para escolha de um software educacional. In: VALENTE, J.A. (org.) O computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas, SP: UNICAMP-NIED, 1999.

PRADO, M.E.B.B. Articulando saberes e transformando a prática. Boletim do Salto para o Futuro. Série Tecnologia e Currículo, TV ESCOLA. Brasília: Secretaria de Educação a Distância – SEED. Ministério da Educação, 2001. <http:www.tvebrasil.com.br>

HARASAWA, Ely (coord). Biblioteca Viva: fazendo a história com livros e leituras. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_ OBRA=17757 > Acesso em: 15 de agosto 2011.

HOLANDA, Nilson. Planejamento e projetos: uma introdução às técnicas de planejamento e elaboração de projetos. Rio de Janeiro: APEC/MEC, 1975.

SCHIAVO, Marcio Ruiz. Dez Anos de Merchandising Social. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 29. Brasília, 2006. Anais... Disponível em < http://www.intercom.org.br/papers/ NACIONAIS/2006/RESUMOS/R1820-1.PDF>. Acesso em: 20 de ago. 2010

SOUZA, Herbert de. As ONGs na década de 90. In: Encontro Internacional de ONGs e o Sistema de Agências das Nações Unidas, 1.,1991. Anais... Rio de Janeiro, IBASE-PNUD, 1991.

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A biblioteca comunitária é um espaço de mediação. Nela, as experiências pessoais e sociais se entrelaçam com fios multicores das vivências e das memórias cotidianas, em tons distintos. Ritos se processam, leituras se cruzam e travessias acontecem. Portanto, é lugar de transformação, onde leitores se fazem presentes de diversas maneiras pela disseminação do conhecimento que produzem ou são coautores. Falamos, dessa forma, das intertextualidades do viver, das vozes que se projetam e se somam à cultura, ao afeto, ao ritmo e ao imaginário de cada um.

Portanto, um bom começo para uma biblioteca comunitária é o entrelaçar de saberes e vozes, unidos em uma questão crucial: qual a biblioteca que queremos? Assim, nos tornaremos construtores desse espaço rico de representações, do qual podemos concluir: eu tenho uma biblioteca que me interessa.

Lidia Eugenia Cavalcante

ISBN 978-65-00-08286-9