dissertação..hortas comunitárias

117
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB) Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG) Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI) SILVER JONAS ALVES FARFÁN DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEIRO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS JUAZEIRO – BA 2008

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DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEIRO – BA EPETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS

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Page 1: Dissertação..Hortas Comunitárias

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG)

Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS )

Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada – Mestrado (PPHI)

SILVER JONAS ALVES FARFÁN

DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS

JUAZEIRO – BA

2008

Page 2: Dissertação..Hortas Comunitárias

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)

Pró-reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-graduação (PPG)

Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS )

Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada - Mestrado (PPHI)

SILVER JONAS ALVES FARFÁN

DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito para a obtenção do título de Mestre em Agronomia. Área de Concentração: Horticultura Irrigada

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Aragão, Co-orientadores: Prof. Msc. Gilton Carlos Anísio de Albuquerque e Dra. Mina Karasawa.

JUAZEIRO – BA

2008

Page 3: Dissertação..Hortas Comunitárias

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA DO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS E CIÊNCIAS SOCIAIS -

DTCS – UNEB

Farfán, Silver Jonas Alves Diagnóstico de hortas comunitárias no dipolo juazeiro – BA e Petrolina – PE: perfil e demandas de pesquisas / Silver Jonas Alves Farfán. – Juazeiro: UNEB / Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais, [s.n], 2008.

xii, 105 f. : il.; 29,7 cm.

Orientador: Carlos Alberto Aragão Dissertação (Mestrado em Horticultura Irrigada) – Universidade do

Estado da Bahia, Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. Inclui referências e anexos

1. Agricultura urbana. 2. Horticultura. 3. Horta comunitária –

diagnóstico – Brasil – Nordeste – Semi-Árido. I. Aragão, Carlos Alberto. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais. III. Título.

CDD 635

Page 4: Dissertação..Hortas Comunitárias

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

SILVER JONAS ALVES FARFÁN

DIAGNÓSTICO DE HORTAS COMUNITÁRIAS NO DIPOLO JUAZEI RO – BA E PETROLINA – PE: PERFIL E DEMANDAS DE PESQUISAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Horticultura Irrigada da Universidade do Estado da Bahia (PPHI/UNEB/DTCS), como parte do requisito para a obtenção do título de Mestre em Agronomia. Área de Concentração: Horticultura Irrigada.

Aprovada em: 23 / 05 / 2008

__________________________________________

Prof. Dr. Carlos Alberto Aragão

Universidade do Estado da Bahia (DTCS / UNEB)

__________________________________________

Prof. Dra. Maria Herbênia Lima Cruz Santos

Universidade do Estado da Bahia (DTCS/UNEB)

__________________________________________

Dr. Cícero Antônio de Souza Araújo

Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina (CEFET Petrolina)

Page 5: Dissertação..Hortas Comunitárias

v

Dedico esse trabalho a Deus Jeová, rocha firme

fonte de força e fé, aos meus pais Mário Farfán

Cantoya e Casilda Alves Farfán e à minha esposa

Nadja Maria Guedes Farfán pelo apoio, confiança

e incentivo irrestritos.

Page 6: Dissertação..Hortas Comunitárias

vi

AGRADECIMENTOS

Venho aqui fazer meus sinceros agradecimentos às pessoas e instituições

que contribuíram direta ou indiretamente com meu trabalho nessa nova e

importante etapa da minha vida.

Inicialmente quero reconhecer à minha esposa que foi a primeira

incentivadora sendo então grande apoiadora nos dias de luta e de paz que

sucederam após a decisão de voltar a estudar. Em segundo lugar aos meus pais

que embora vivendo distante a compreensão e o interesse em me ver

progredindo sempre resultaram em grande estímulo pessoal de tocar esse

trabalho.

Também reconheço a compreensão e apoio dos meus dois filhos, Félix

Gabriel Guedes Farfán e Ariel Guedes Farfán que na durante o início de suas

adolescências tiveram que se adequar à essa nova realidade de um pai que

voltou a ser estudante resultando em mudanças nos hábitos da casa, cooperando

com o silêncio e suportando os estresses inerentes à tarefa.

Nas pesquisas de campo tenho que agradecer à equipe de bolsistas de

iniciação científica que em muito ajudaram nas entrevistas e souberam aproveitar

da oportunidade ganhando mais experiência, são eles: Nemora Cavalcante da

Silva, Mayara Milena Menezes da Luz Pires e Patrício Ferreira Batista; aos

colegas do Mestrado: Eliud Monteiro Leite e Mitsuhiro Abe de Araújo, no igual

apoio em campo e laboratório e, Msc. Saulo Araújo, amigo que mesmo à

distancia, via internet, colaborou na reflexão e análises das informações.

Page 7: Dissertação..Hortas Comunitárias

vii

Ao CNPH-EMBRAPA, que auxiliou na identificação de viroses na alface, à

Profa. Dra. Ana Rosa Peixoto e a Dra. Mina Karasawa da UNEB pelo apoio nas

análises e identificação de doenças e a utilização do Laboratório de Fitopatologia.

Ao Dr. José Osmã Teles Moreira pelo apoio na identificação dos insetos e a

utilização do Laboratório de Entomologia.

À UNEB que viabilizou o curso e o desenvolvimento dessa pesquisa e à

CAPES pela concessão da Bolsa Demanda Social, que permitiu minha total

dedicação para a realização da pesquisa.

Aos horticultores urbanos de Juazeiro e Petrolina, também interessados e

beneficiários desse trabalho, que estiveram dispostos à participação na pesquisa

e contribuíram com as informações essenciais para as análises e conclusões e

agora têm sua atividade mais conhecida e valorizada.

Aos professores do curso de mestrado, em especial ao Coordenador Dr.

Manoel Abílio de Queiróz e o Dr. João Domingos Rodrigues, assim como o Diretor

do Departamento José Humberto Félix de Souza, que souberam compreender e

valorizar a linha de pesquisa que escolhi propondo a união da técnica às

demandas social.

Finalmente quero agradecer especialmente ao meu orientador Dr. Carlos

Alberto Aragão, que foi um grande incentivador, porque se envolveu com o

trabalho, apostou na temática e pudemos juntos ganhar com os resultados.

Page 8: Dissertação..Hortas Comunitárias

viii

“Nos chamados países em desenvolvimento,

até a primeira metade do século XX, as zonas

rurais concentravam os maiores níveis de

pobreza. Com o intenso processo migratório

das áreas rurais para as áreas urbanas

ocorrido nesses países naquele século, houve

uma inversão nesse sentido. Com o intenso

processo de urbanização, verificou-se, nas

cidades, uma demanda crescente por melhores

oportunidades e melhoria da qualidade de vida,

bem como a necessidade de alimentar, em

condições adequadas, uma população cada

vez mais desvinculada da produção de

alimentos” Aquino e Assis, 2007.

Page 9: Dissertação..Hortas Comunitárias

Lista de Figuras

Página Figura 1. Aspecto geral das hortas em Juazeiro - BA e Petrolina - PE. a) e

b) Horta no bairro Rio Corrente, Petrolina - PE; c) sementes de coentro (Coriandrum sativum L.); d) sintomas de tombamento de plântulas de coentro; e) alface (Lactuca sativa L.) com sintoma de bronzeamento ou queima nas folhas; f) Entrevista a horticultor durante a pesquisa de campo. 2007............................................... 27

Figura 2. Imagens de satélite do mostrando hortas em Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007. A) Horta comunitária no Bairro João Paulo II em Juazeiro - BA; B) Horta Comunitária no Bairro Castelo Branco, Escola Estadual, Juazeiro - BA; C) Horta comunitária no Bairro João de Deus em Petrolina - PE; D) Horta comunitária no bairro Ouro Preto, Centro Social Urbano, Petrolina - PE; E) Horta comunitária no bairro Areia Branca, Escola Otacílio Nunes, Petrolina - PE; F) Horta comunitária no bairro Dom Avelar, Escola Santa Terezinha, Petrolina – PE .................................................... 41, 66

Figura 3. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sociais dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ......................................................................................... 46

Figura 4. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados econômicos dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ...................................................................... 47

Figura 5. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre o destino e a comercialização dos produtos cultivados pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007................................................................................................. 48

Figura 6. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a capacitação dos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ................................................................... 49

Figura 7. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre assistência técnica, financiamento, adubação e interesse na produção orgânica, pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............................................................. 50

Figura 8. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a mão de obra, procedência das famílias e comercialização dos produtos cultivados pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............................................................. 70

Figura 9. Distribuição de freqüência expresso em percentual da espécies cultivadas pelos horticultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ...................................................................... 73

Figura 10. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre a irrigação, adubação e controle de ervas invasoras nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 .............. 74

Figura 11. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre pragas e doenças nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. e) Insetos dos gêneros Thripes e Frankliniella encontrado em alface (Lactuca sativa L.); f) Alface com sintoma

Page 10: Dissertação..Hortas Comunitárias

x

de bronzeamento ou queima característico da Tospovirose; g) Sintomas de tombamento de plântulas Coentro (Coriandrum sativum L.); h) Sementes de coentro utilizadas pelos horticultores. 2007 ..........................................................................

77

Figura 12. Distribuição de freqüência expresso em percentual dos dados sobre interesse dos horticultores na proposta agroecológica e pesquisas nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2007 ................................................................................................ 81

Figura 13. Etapas da experimentação com as sementes de coentro (Coriandrum sativum L.) utilizado nas hortas urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. a) Sintomas de tombamento de plântulas; b) Sementes utilizadas pelos horticultores; c) Plaqueamento das sementes; d) Identificação de fitopatógenos e contagem dos sintomas; e) Sintomas de Aspergillus sp.; f) Sintomas de Alternaria sp. 2007. ........................................................................ 98

Lista de Tabelas

Tabela 1. Relação das hortas comunitárias urbanas selecionadas para participar da pesquisa durante os meses de maio a outubro de 2007 .............................................................................................. 43, 69

Tabela 2. Incidência de fitopatógenos e germinação em sementes de coentro – Coriandrum sativum L. Juazeiro, 2007 ......................... 97

Lista de Quadros

Quadro 1. Relação de mútuo benefício entre escolas e horticultores familiares em Juazeiro – BA e Petrolina – PE. 2008 .................... 45

Page 11: Dissertação..Hortas Comunitárias

SUMÁRIO

Página RESUMO GERAL .......................................................................................... 13 GENERAL ABSTRACT .................................................................................. 15 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 17 2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 19 2.1 Urbanização e agricultura urbana .................................................................. 19 2.2 Segurança alimentar ...................................................................................... 22 2.3 Modo de produção agroecológico .................................................................. 23 2.4 As hortaliças mais produzidas e seus problemas .......................................... 24 REFERÊNCIAS CITADAS NA INTRODUÇÃO ...........…............................... 28 3 HIPÓTESE ..................................................................................................... 32 4 OBJETIVO ...................................................................................................... 33 CAPÍTULO I ................................................................................................... 34

Hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE: perfil social econômico e demandas de apoio

RESUMO ........................................................................................................ 35 ABSTRACT .................................................................................................... 36

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 37 2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 40 3 RESULTADOS ............................................................................................... 44 4 DISCUSSÃO .................................................................................................. 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 53 AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 55

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 56 CAPÍTULO II .................................................................................................. 59

Limites e potenciais para produção agroecológica nas hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE no Semi-Árido Nordestino

RESUMO ........................................................................................................ 60 ABSTRACT .................................................................................................... 61

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 62 2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 65 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 69 3.1 Pragas e doenças .......................................................................................... 75 3.2 Potencial para produção agroecológica ......................................................... 79 4 CONCLUSÕES .............................................................................................. 82

AGRADECIMENTOS ..................................................................................... 83 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 84

CAPÍTULO III ................................................................................................. 87

Qualidade de sementes de coentro utilizadas por agricultores urbanos de Juazeiro – BA e Petrolina – PE

RESUMO ........................................................................................................ 88 ABSTRACT .................................................................................................... 89

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 90

Page 12: Dissertação..Hortas Comunitárias

xii

2 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 91 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 93 AGRADECIMENTOS .................................................................................... 95

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 96 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 99 ANEXOS ………………………………………….............................................. 105

Page 13: Dissertação..Hortas Comunitárias

RESUMO GERAL

A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para aproximadamente

700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um quarto da

população urbana do mundo, (FAO, 2008). A horticultura urbana em Juazeiro e

Petrolina iniciada nos anos 80 vêm atuando de maneira discreta e fornecendo

alimentos para as comunidades. Essa pesquisa teve o objetivo de conhecer as

hortas comunitárias urbanas, o perfil dos agricultores e agricultoras, a produção, e

as demandas para pesquisas. Foram entrevistados 31 agricultores e agricultoras

urbanas, 10,3% do universo, em 16 hortas nas duas cidades, entre maio e

outubro de 2007. O perfil dos horticultores e suas famílias compõem-se de

migrantes, vindos de outros municípios interioranos do nordeste; como a maioria

das unidades produtivas na zona rural do semi-árido nordestino brasileiro as

hortas urbanas estudadas também são cultivadas pela família, constituindo-se

uma agricultura familiar urbana; a maioria são mulheres, pessoas adultas, idosas

e de pouca escolaridade. A renda de até um salário mínimo para 65% das

agricultoras e a destinação dos produtos para venda e consumo demonstra que o

objetivo da produção é a alimentação da família e a complementação da renda, já

que a renda familiar é um pouco maior que a renda proveniente da horta. A

produção de hortaliças envolve 23 espécies, sendo as principais a alface, coentro

e cebolinho. São cultivadas 42 espécies de plantas medicinais sendo as principais

o capim santo, erva cidreira, mastruz e hortelã, o que evidencia a preocupação da

alimentação junto com a fitoterapia. O principal problema na produção da alface é

o Groudnut ringspot vírus GRSV e na produção do coentro são sementes de

Page 14: Dissertação..Hortas Comunitárias

14

baixa qualidade com incidência com fungos Alternaria spp. e Aspergillus sp.

causando perdas. Os terrenos utilizados são, em geral, pequenos e pertencem a

escolas públicas ou à Diocese de Juazeiro, a água utilizada é proveniente do Rio

São Francisco, na maioria dos casos é tratada e vem do sistema público de

abastecimento e, existem conflitos nas escolas sobre a quantidade utilizada. A

assistência técnica é inexistente. As hortas comunitárias representam oferta de

trabalho, renda e segurança alimentar às famílias e consumidores, existem

demandas para pesquisa a partir dos problemas diagnosticados.

Page 15: Dissertação..Hortas Comunitárias

GENERAL ABSTRACT

Urban and periurban agriculture produces food for approximately 700 million

people who live in the cities, which means one quarter of the urban population of

the world, (FAO, 2008). The urban horticulture in Juazeiro, Bahia and Petrolina,

Pernambuco initiated in the 80´s, is a discrete activity and supplies food to the

communities. This research had the objective to know the communitarian urban

vegetable-gardens, the profile of the farmers, the production, and the demand for

future research. Thirty one farmers were interviewed, which is 10.3% of the total,

carried out in 16 vegetable-gardens in the two cities, between May and October of

2007. The profile of the agriculturists and their families is composed by migrants,

which came from of other cities of the northeastern region. Like the majority of the

productive units in the agricultural zone of the semi arid Brazilian northeast, the

urban vegetable-gardens studied are also cultivated by the family, constituting an

urban family agriculture, where the majority are women and aged people with little

schooling. The income of up to a minimum salary for 65% of the farmers (women)

and the destination of the products for sale and consume show that the objective

of the production is providing food for the family and complementing the income,

once the family income is a little bigger that the income proceeding from the

vegetable-gardens. The vegetable production involves 23 species, mainly lettuce,

coriander and scallion. Forty two species of medicinal plants are also cultivated

and the main species are lemon grass (Cymbopogon citratus (DC) Stapf), lemon

balm (Melissa officinalis L.), epazote (Chenopodium ambrosioides L.) and mint

(Mentha spp.) which evidences the concern with the feeding along with

Page 16: Dissertação..Hortas Comunitárias

16

phitotherapy. The main problem in the growing of lettuce is the Groudnut ringspot

virus GRSV and in the production of coriander is the use of low quality seeds with

the incidence of the fungi Alternaria spp. and Aspergillus sp. which cause losses

and dumping off. The fields used are, in general, small pieces of land belonging to

public schools and the Catholic Church; the water used, from the river São

Francisco, in the majority of the cases, is treated water which comes from the

public supply system and there are conflicts about the amount used. The technical

assistance is completely absent. The community vegetal gardens represent an

offer of work, income and food security to the families and consumers, and so

there is a demand for research from the diagnosed problems.

Page 17: Dissertação..Hortas Comunitárias

1 INTRODUÇÃO

A humanidade vem provocando e experimentando aceleradas e arriscadas

modificações no ambiente terrestre, sobretudo nos últimos duzentos anos,

quando foi dada uma arrancada decisiva na industrialização de produtos, na

produção de máquinas movidas a combustíveis fósseis, assim como o

desenvolvimento da indústria química com a ampliação e diversificação de

produtos de aplicações nas mais diversas áreas. Esses fatores contribuíram com

a absorção de mão de obra cada vez maior nas cidades, provocando uma

constante migração para os centros urbanos.

Por outro lado, as modificações no campo rural podem ser compreendidas

com a difusão da revolução verde, que estimulou nos países mais pobres uma

tecnologia fundamentada na utilização de mecanização e insumos químicos, que

teve resultados ambíguos, por um lado provocou um crescimento considerável na

produção de soja, café, carnes, por outro lado provocando o empobrecimento das

populações rurais, concentração fundiária e migrações para os centros urbanos,

ajudado pelas más condições de educação, saúde, assistência técnica, crédito e

a pesquisa nas áreas rurais. A despeito desse processo que desfavoreceu

sobremaneira a agricultura familiar, esse segmento manteve a produção

majoritária dos principais itens da cesta básica do brasileiro, como o feijão,

mandioca, milho, leite, suínos, aves e ovos.

Page 18: Dissertação..Hortas Comunitárias

18

Observando os agricultores que migraram para as cidades, parte desse

contingente iniciou uma agricultura urbana de base familiar, uma iniciativa de

revalorização de seus conhecimentos, habilidades e cultura latente que, frente às

difíceis condições encontradas nas cidades e aproveitando sobras de espaços, a

infra-estrutura e a mão de obra. E esse não é um fenômeno brasileiro. A FAO

vem observando e estudando esse fenômeno nos vários continentes, sob a ótica

da crescente urbanização e a necessidade de alimentar adequadamente essa

população. Na América Latina e Caribe 75% da população já vive nas cidades e a

previsão da FAO é que esse percentual chegue em 83% no ano 2030.

A região onde foi desenvolvida a pesquisa, no submédio do Rio São

Francisco, fica no Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por

clima quente e seco, com chuva irregular e mal distribuída, por baixos índices de

desenvolvimento humano e de investimentos públicos.

A Região teve parte de sua paisagem alterada após a implantação da

Barragem de Sobradinho no Rio São Francisco e de projetos de irrigação na

década de 80, que provocou uma importante migração, nessa perspectiva, na

década de 90, os municípios de Petrolina – PE e Juazeiro – BA receberam 38 mil

novos habitantes (IBGE, 2001), provocando uma intensa urbanização nessas

duas cidades, atraídos pela atividade agrícola irrigada. Uma das possíveis

conseqüências não planejadas desse fenômeno foi a instalação das hortas

comunitárias nas duas cidades, Figura 1, objeto de estudo dessa dissertação.

Page 19: Dissertação..Hortas Comunitárias

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Urbanização e agricultura urbana

A agricultura urbana e periurbana – AUP vem se mostrando nas últimas

décadas como uma atividade em ascensão no mundo contribuindo com a

segurança alimentar de populações pobres, geração de trabalho, renda e

alimentação. Um sétimo (14,28%) da produção mundial de alimentos é cultivado

em terrenos baldios, telhados, coberturas, antigos lixões e em outros espaços

urbanos. Em todo o mundo, há mais de 800 milhões de agricultores urbanos

(PNUD-UNDP, 1996).

Há experiências de agricultura urbana em todo o mundo, apoiadas tanto

pela sociedade civil quanto pelos governos constituídos tal como na Europa,

América e na África (CALDAS & PINHEIRO 2004; DIMA & OGUNMOKUM, 2006).

Na Namíbia, país vizinho da África do Sul, a urbanização está alcançando

taxas explosivas desde a independência em 1990, como conseqüência da intensa

migração da população rural para as áreas urbanas ocorre o aumento pela busca

de trabalho e emprego. Sendo o país mais seco da África, clima semi-árido, a

base agrícola da Namíbia é fraca, e a maior parte das hortaliças vendidas nos

centros urbanos é importada da África do Sul. Apesar disso, atividades intensas

de agricultura urbana estão ocorrendo, tanto em escala comercial quanto em

plantios de “fundo de quintal”, nos espaços abertos disponíveis e ao longo do

curso de rios (DIMA & OGUNMOKUM, 2006).

Page 20: Dissertação..Hortas Comunitárias

20

Um diagnóstico recente da agricultura urbana no bairro chamado Bosa, da

cidade de Bogotá capital da Colômbia evidencia uma atividade desenvolvida por

comunidades pobres onde a maioria das protagonistas são mulheres, existe uma

grande diversidade de cultivos e dificuldades com acesso a espaço e água

(RAMIREZ et al., 2007).

Em Cuba, depois do bloqueio econômico houve dificuldade para aquisição

de defensivos agrícolas e pesticidas, com uma conseqüente redução da produção

de produtos alimentícios. Em decorrência dessas dificuldades, Cuba desenvolveu

o Programa Nacional de Agricultura Urbana, com a finalidade de apoiar a

produção de alimentos nas cidades e também nos povoados menores, por meio

da criação de 28 subprogramas sendo 12 de cultivos, 07 de pecuária e 09 de

apoio com o principal objetivo de auto-sustentar a produção de alimentos do país

em áreas dentro e ao redor das cidades (AQUINO & ASSIS, 2007).

A experiência cubana é avaliada como a mais bem organizada e mais bem

sucedida, com o comprometimento de todos os setores governamentais e da

sociedade, sendo um sistema que modificou a produção de hortaliças que em

1994 gerava de 4.200 toneladas/ano para dois milhões de toneladas/ano em

2001, sendo toda essa produção proveniente de cultivos urbanos e orgânicos

espalhados pelo país (AQUINO & ASSIS, 2007).

O Brasil chegou ao final do século XX como um país urbano: em 2000 a

população urbana ultrapassou 2/3 da população total, e atingiu a marca dos 138

milhões de pessoas. Este é o resultado de um processo iniciado na década de 50

na região Sudeste. A partir de então, este contraste se acentuou e se generalizou

pelas cinco grandes regiões do país. Na década de 90 as cidades de Juazeiro –

BA e Petrolina – PE receberam 38 mil novos habitantes (IBGE, 2000, 2001).

As experiências de agricultura urbana no Brasil apoiadas pela sociedade

civil e governos foram objetos de algumas pesquisas acadêmicas nas cidades de

Teresina, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Campinas (MONTEIRO &

Page 21: Dissertação..Hortas Comunitárias

21

MONTEIRO 2006; BRANDÃO, 2001; BEZERRA et al., 1996; CARVALHO, 2001;

ARRUDA, 2006).

A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte - MG implantou o Projeto Centros

de Vivência Agroecológica (CEVAE) em comunidades de baixa renda –

equipamentos públicos comunitários que tinham como principal diretriz a

construção participativa de um desenvolvimento sustentável no meio urbano.

Neles foram desenvolvidos programas de intervenção socioambiental, como

ações de educação ambiental e sanitária, de segurança alimentar e saúde,

agroecologia e geração de renda (CALDAS & PINHEIRO 2004).

Na capital do Rio de Janeiro, um diagnóstico realizado por Monteiro &

Mendonça (2004) evidencia que a agricultura urbana praticada nos quintais

domésticos é constituída por famílias pobres que consomem poucas hortaliças e

representa a manutenção dos traços culturais da alimentação.

No contexto da região Nordeste do Brasil, a AUP foi registrada na pesquisa

feita por Monteiro & Monteiro (2006), em Teresina – PI, sendo a mais próxima da

realidade de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. Naquele município, por incentivo da

Prefeitura Municipal e de várias outras instituições foi iniciado em meados da

década de 80 o “Programa Hortas”. Segundo as autoras funcionam 50 hortas

comunitárias ocupando 177,2 hectares envolvendo um público de 2.430

horticultores.

A AUP tem seus prós e contras. Se for observada uma comparação com a

agricultura familiar rural, as vantagens são: menor consumo de combustível e

transporte da produção; maior diversidade de cultivos agrícolas; pouca utilização

de insumos externos, ausência de mecanização agrícola; emprega maior número

de trabalhadores por hectare, configurando um menor impacto ambiental

representando um impacto positivo na sociedade e na alimentação. Por outro

lado, as desvantagens estão no valor muito superior da terra urbana e da água

em relação ao de outras áreas rurais, os agricultores urbanos não são

Page 22: Dissertação..Hortas Comunitárias

22

reconhecidos por lei e existe um risco potencial de contaminação dos alimentos

através do solo ou por águas poluídas (AQUINO & ASSIS, 2007; LANG, 2007).

Uma parte das experiências a agricultura urbana citadas no Brasil se refere

a hortas comunitárias. Para efeito desse trabalho conceituamos uma horta

comunitária urbana como um grupo acima de duas pessoas que compartilham de

um espaço de terra e a disposição de água de forma comum, sendo atribuído a

eles a responsabilidade coletiva de vigilância e zelo das fronteiras do terreno,

sendo a terra e a água a eles pertencentes ou não, com o objetivo de produção

de hortaliças para seu consumo, doação e comercialização de excedentes.

2.2 Segurança alimentar

Para analisar as possibilidades de contribuição da AUP na segurança

alimentar será importante conceituar o tema. Baseando-se no documento

brasileiro à Cúpula Mundial de Alimentação, temos o seguinte: segurança

alimentar significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de

qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o

acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares

saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de

desenvolvimento integral da pessoa humana (MALUF, 1999).

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD publicada em

2006 (RIO DE JANEIRO, 2006) pelo IBGE e o Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome, observou-se que no Brasil, assim como em outros

países, a proporção da situação de “segurança alimentar” difere conforme o

rendimento domiciliar mensal per capita. A prevalência da “insegurança alimentar

grave” é substancialmente maior nos domicílios com rendimentos per capita de

até 01 salário mínimo. Os dados da PNAD apontam este comportamento para o

Brasil como um todo e para todas as Unidades da Federação.

O baixo consumo de hortaliças entre as famílias de baixa renda foi

verificado no passado por Josué de Castro (1946), Andrade (1997) e ainda ocorre

Page 23: Dissertação..Hortas Comunitárias

23

atualmente, tanto em países pobres quanto em países desenvolvidos, seja

motivado pela baixa renda ou pelos hábitos alimentares adquiridos, nesses

grupos o consumo de arroz, feijão, carne bovina e derivados do trigo são maiores,

sendo pequena a participação das hortaliças (HOMEM de MELO et al., 1998;

VILELA & HENZ, 2000; ROUX et al., 2000; CASTELO BRANCO et al., 2006). Daí

a necessidade de incentivar produção e o consumo de hortaliças frescas junto às

populações mais pobres, sobretudo para venda a custos acessíveis.

2.3. Modo de produção agroecológico

Devido às incertezas do uso da terra na AUP, possibilidades de roubo dos

produtos, a falta de conhecimentos mais especializados, insumos e ferramentas

apropriadas fazem com que na maioria das vezes as espécies cultivadas sejam

de baixo valor, de crescimento rápido e de fácil técnica de cultivo, portanto nem

sempre são produtos muito rentáveis (FAO, 2008). Por outro lado, essas

limitações fazem com que a AUP seja praticada da forma mais racional e

alternativa.

A proximidade dessas parcelas produtivas das residências urbanas oferece

a chance aos cidadãos urbanos de observarem e acompanharem as etapas da

produção de alimentos, permitindo um contato direto entre agricultor e

consumidor. Mais que isso, um número crescente de consumidores vem

comprando comida baseando-se em sua origem e método de produção,

orientando-se por rótulos ou referências como: “orgânico”, “sem agrotóxicos”,

“processado minimamente”, “sem antibióticos”, e “não contém transgênico”. As

hortas urbanas permitem consumir as hortaliças – visualmente, auditivamente e

pelo olfato, ou seja, sensorialmente – em todo o processo, e não apenas no

resultado (LANG, 2007), essa perspectiva inova a maneira de ver e valorizar a

agricultura urbana e a ela confere maior potencialidade.

Aquino & Assis (2007) publicaram um trabalho que defende a agricultura

orgânica com base na agroecologia como provedora de instrumental tecnológico

adequado à agricultura urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos

Page 24: Dissertação..Hortas Comunitárias

24

pelos autores são: menor dependência possível de insumos externos à unidade

de produção e a conservação dos recursos naturais. A defesa dos autores acima

é alicerçada nas várias características da AUP que a credenciam como uma

agricultura de potencial agroecológico, são elas: produção em base familiar,

parcelas produtivas pequenas, consome o mínimo de combustível e transporte

entre a produção e os consumidores, existência de tecnologia orgânica para

controle de pragas e doenças, grande biodiversidade de cultivos agrícolas, pouca

utilização de insumos químicos e ausência de mecanização (FAO, 2008, AQUINO

& ASSIS, 2007).

Os muitos aspectos que foram bem sucedidos em Cuba podem ser

replicados na realidade Brasileira, segundo Aquino (2002), que também sugeriu

que fossem estabelecidas unidades-modelo para adaptar e testar técnicas,

servindo de referência para posterior disseminação.

Finalmente, os aspectos tecnológicos, sociais e econômicos da AUP

aliados à agroecologia permitem enquadrar a agricultura urbana agroecológica na

definição de tecnologia social, adotado pelo Instituto de Tecnologia Social – ITC,

Brasil (2004) sendo um “Conjunto de técnicas e metodologias transformadoras,

desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por

ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de

vida”.

2.4 As hortaliças mais produzidas e seus problemas

Dentre as principais atividades da agricultura familiar no submédio São

Francisco destaca-se a produção de fruteiras e de hortaliças, sendo as culturas

temporárias a opção mais praticada por agricultores familiares, principalmente,

melancia, cebola e melão, e em menores proporções os cultivos de tomate,

abóbora, pimentão, cebola, pimenta, coentro e alface. As condições climáticas

com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, principalmente no

segundo semestre, somada à irrigação favorece uma diversidade de hortaliças,

muito embora as mesmas condições climáticas também são favoráveis ao

Page 25: Dissertação..Hortas Comunitárias

25

surgimento de problemas fitossanitários, destacando-se, aqueles transmitidos por

insetos-vetores, como as viroses (LIMA, 2001).

As pesquisas publicadas sobre hortas comunitárias no Brasil se referem

constantemente aos cultivos de alface (Lacttuca sativa L.), coentro (Coriandrum

sativum L.), cebolinha verde, couve (ALMEIDA, 2004; MONTEIRO & MONTEIRO,

2006; AQUINO e ASSIS, 2007; RAMIRES et al., 2007).

Alface está dentre as hortaliças mais cultivadas e consumidas no Brasil e

em outros países como na França. No Brasil no grupo das hortaliças herbáceas é

o produto mais consumido durante todo o ano (UENO et al., 1992 citado por

BORGES, 2007). A alface pertence à família Asteraceae, mais conhecida pelo

antigo nome Compositae.

Um dos principais problemas na cultura da alface são as viroses, existindo

relatos no Brasil desde a década de 40. As viroses são doenças transmitidas por

insetos sugadores, no caso da alface são os tripes os agentes vetores, e a

relação do vírus com esse inseto é tida como circulativa e propagativa, ou seja,

uma vez contaminado, o inseto pode continuar transmitindo o vírus por toda sua

vida (ÁVILA et al., 1993; WIJKAMP et al., 1995 citados por BORGES, 2007).

O coentro é cultivado na maioria das cidades dos estados do Norte e

Nordeste do Brasil, é a hortaliça folhosa condimentar de maior consumo, crua ou

cozida (OLIVEIRA et al., 2007), presente na alimentação diária (MARQUES &

LORENCETTI, 1999). No estado da Paraíba, é cultivado em quase todas as

micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma orientação técnica, o que

tem proporcionado baixa produtividade (OLIVEIRA et al., 2004). Foi verificado em

São Luiz – MA por Santos et al., (2003) que as sementes de coentro eram

produzidas localmente na horticultura urbana o que sugere confirmar o grau

rusticidade que essa cultura é praticada.

O coentro é uma espécie da família Apiaceae, cuja origem seja

provavelmente a Europa, região do Mediterrâneo, é também considerada uma

Page 26: Dissertação..Hortas Comunitárias

26

espécie subutilizada ou negligenciada, embora tenha grande popularidade na

mesa dos brasileiros nortistas e nordestinos e, poucas pesquisas têm sido

realizadas para essa cultura (DIEDERICHSEN, 1996).

O objetivo dessa dissertação é investigar a importância social, econômica

hortas urbanas comunitárias e a segurança alimentar de produtores e

consumidores das em Juazeiro – BA e Petrolina – PE, bem como conhecer

aspectos técnicos, ambientais e suas demandas para a pesquisa científica.

Page 27: Dissertação..Hortas Comunitárias

27

Page 28: Dissertação..Hortas Comunitárias

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Page 32: Dissertação..Hortas Comunitárias

3 HIPÓTESE

“A ausência de informações e estudos sobre o sistema produtivo da

agricultura urbana e as famílias envolvidas em Juazeiro – BA e Petrolina – PE,

provavelmente dificulta o reconhecimento desse trabalho e o planejamento de

uma assistência técnica e estruturação, pois, supõe-se que essas hortas

desempenham importante função social, econômica para esses agricultores,

praticam uma agricultura com tendência agroecológica, além de contribuir com a

segurança alimentar das famílias envolvidas e população consumidora atendida“.

Page 33: Dissertação..Hortas Comunitárias

4 OBJETIVO

Objetivo geral:

Investigar a importância social, econômica e a segurança alimentar de

produtores e consumidores das hortas urbanas comunitárias em Juazeiro – BA e

Petrolina – PE no Semi-Árido nordestino, bem como conhecer aspectos técnicos,

ambientais e suas demandas para a pesquisa científica.

Objetivos específicos:

i) Definir o perfil social e econômico dos horticultores, contribuindo para os

estudos já desenvolvidos na região e refletir em torno das demandas de

apoio junto aos órgãos públicos e a sociedade.

ii) Estudar os sistemas produtivos das hortas urbanas e contribuir para a

reflexão acerca dos principais aspectos técnicos limitantes e as

potencialidades, com intuito de gerar subsídios para um planejamento e

implementação de sistemas viáveis de produção, fundamentados na

agroecologia.

iii) Estudar a qualidade de sementes de coentro comerciais certificadas e

sementes produzidas localmente, utilizadas pelos horticultores,

correlacionando os percentuais de germinação com fitopatógenos

presentes.

Page 34: Dissertação..Hortas Comunitárias

CAPÍTULO I

Hortas comunitárias urbanas no dipolo Juazeiro – BA Petrolina – PE: perfil

social econômico e demandas de apoio

Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Sociedade

& Ambiente”, para o qual será submetido.

Page 35: Dissertação..Hortas Comunitárias

RESUMO

A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para aproximadamente

700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um quarto da

população urbana do mundo segundo a FAO. Essa pesquisa teve o objetivo de

conhecer as hortas comunitárias urbanas, o perfil social dos agricultores e

agricultoras e as demandas para pesquisas. O levantamento de campo foi

realizado em 16 hortas nas cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, entre maio

e outubro de 2007, entrevistou 31 agricultores e agricultoras urbanas, 10,3% do

universo. A horticultura urbana nas duas cidades da região semi-árida do

Nordeste vem se desenvolvendo desde a década de 80, seguindo características

similares a outras localidades quanto ao modelo de produção e perfil sócio-

econômico. O perfil dos agricultores e suas famílias compõem-se de migrantes,

vindos de outros municípios interioranos do nordeste; como a maioria das

unidades produtivas na zona rural do semi-árido nordestino brasileiro, as hortas

urbanas estudadas também são cultivadas pela família, constituindo-se uma

agricultura familiar urbana; a maioria são mulheres, pessoas adultas, idosas e de

pouca escolaridade. A renda de até um salário mínimo para 65% das agricultoras

e a destinação dos produtos para venda e consumo demonstra que objetivo da

produção é a alimentação da família e a complementação da renda. Os terrenos

utilizados são, em geral, pequenos e pertencem a escolas públicas ou à Igreja

católica; a água utilizada, do Rio São Francisco, na maioria dos casos é tratada,

vem do sistema público de abastecimento e existem conflitos sobre a quantidade

utilizada. A assistência técnica é inexistente e a condição do trabalho é de total

informalidade restringindo relações no comércio e o acesso às políticas públicas

da agricultura familiar. As hortas comunitárias representam oferta de trabalho,

renda e segurança alimentar às famílias e consumidores e, existem demandas

para pesquisa a partir dos problemas diagnosticados.

Palavras chaves: agricultura urbana, diagnóstico, política pública.

Page 36: Dissertação..Hortas Comunitárias

ABSTRACT

COMMUNITY URBAN VEGETABLE GARDENS IN THE POLE JUAZE IRO-BA

PETROLINA-PE: SOCIAL ECONOMICAL PROFILE AND DEMAND OF

SUPPORT.

Urban and periurban agriculture produce food for approximately 700 million people

that live in the cities, which means one quarter of the urban population according

to FAO. This research had the objective to know the urban community vegetable

gardens, the social profile of male and female farmers and the demand for

research. The field survey was carried out in 16 vegetable gardens in the cities of

Juazeiro – BA and Petrolina – PE, between May and October of 2007, 31 urban

farmers were interviewed, 10.3% of total. The urban horticulture in both cities of

the Northeast semi-arid region has been developed since the eighties, following

similar characteristics of other localities regarding the production model and the

social economical profile. The profile of the farmers and their families is composed

by migrants who come from other towns of Northeast. Like the majority of the

productive units in the rural areas of Brazilian Northeast Semi-Arid, the urban

vegetable gardens which were studied are also cultivated by the families,

constituting an urban familiar agriculture; most of them are women, adults, elderly

and people with low education level. The income of up to a minimum salary for

65% of the farmers (women) and the destination of the products for sale and

consume show that the objective of the production is providing food for the family

and complementing the income. The fields used are, in general, small pieces of

land belonging to public schools and the Catholic church; the water used, from the

river São Francisco, in the majority of the cases, is treated water which comes

from the public supply system and there are conflicts about the amount used. The

technical assistance is completely absent and there is a totally informal working

condition which restricts commercial relations and access to public policies of

family agriculture. The community vegetal gardens represent an offer of work,

income and food security to the families and consumers, and so there is a demand

for research from the diagnosed problems.

Key words: urban agriculture, diagnostic, public policy

Page 37: Dissertação..Hortas Comunitárias

1 INTRODUÇÃO

A agricultura urbana e periurbana – AUP produzem alimentos para

aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades – um quarto

da população urbana do mundo -, se desenvolvendo proporcionalmente à

urbanização. Na América latina e Caribe 75% da população já vive nas grandes

cidades e, segundo a FAO (2002) é que esse percentual chegue em 83% no ano

2030. O Brasil chegou ao final do século XX como um país urbano: em 2000 a

população urbana ultrapassou 2/3 da população total, atingindo a marca dos 138

milhões de pessoas. Este é o resultado de um processo iniciado na década de 50

na região Sudeste, que a partir de então se generalizando pelas cinco grandes

regiões do país (IBGE, 2000).

Há experiências de agricultura urbana em todo o mundo, desenvolvidas

com apoio tanto da sociedade civil quanto dos Governos a exemplo de Cuba, São

Petersburgo na Rússia e no Brasil as cidades de Teresina, Belo Horizonte,

Fortaleza, Brasília e Campinas todas sendo objeto alvo de pesquisas científicas

(MONTEIRO & MONTEIRO, 2006; CALDAS & PINHEIRO, 2004; BRANDÃO,

2001; BEZERRA et al. 1996, CARVALHO, 2001, ARRUDA, 2006).

A experiência de Cuba é tida como a mais bem organizada e mais bem

sucedida, com o comprometimento de todos os setores governamentais e a

sociedade, onde o sistema adotado modificou a produção de hortaliças que em

1994 gerava 4.200 toneladas por ano passando para 2 milhões de toneladas ao

ano em 2001, sendo toda essa produção proveniente de cultivos urbanos e

orgânicos espalhados pelo país (AQUINO & ASSIS, 2007). Os autores concluíram

que produção agrícola urbana pode contribuir com a melhoria da qualidade da

dieta das famílias envolvidas, aliado à (re) inserção social de populações

marginalizadas bem como melhorias nas condições ambientais.

Uma pesquisa conduzida por Castelo Branco et al. (2007) no município de

Santo Antônio do Descoberto – GO, revela a implantação de uma horta

comunitária urbana assessorada pela Empresa Brasileira de Pesquisa

Page 38: Dissertação..Hortas Comunitárias

38

Agropecuária – EMBRAPA, aprofundando-se nos mais diversos aspectos: social,

segurança alimentar, manejo do solo, irrigação, pragas e doenças, custos e

benefícios, sistema de produção. Os autores afirmam que a AUP pode contribuir

para garantir a segurança alimentar de populações em vulnerabilidade social de

forma direta e através da geração de renda e enfatiza a preocupação em

aprofundar conhecimentos através de novas pesquisas neste campo.

O baixo consumo de hortaliças entre as famílias de baixa renda, verificado

no passado por Josué de Castro (1946), Andrade, (1997) ainda ocorre

atualmente, tanto em países pobres quanto em países desenvolvidos, seja

motivado pela própria condição de renda ou pelos hábitos alimentares adquiridos

nesses grupos, o consumo de arroz, feijão, carne bovina e derivados do trigo são

maiores, sendo pequena a participação das hortaliças (HOMEM de MELO et al.,

1998; VILELA & HENZ, 2000; ROUX et al., 2000; CASTELO BRANCO et al.,

2006), importantes fontes de sais minerais, vitaminas, antioxidantes dentre outros,

o que limita as condições de uma alimentação adequada e saudável.

Segundo o Grupo de Trabalho de Alimentação adequada e Saudável do

Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA (2007), nas

atuais condições brasileiras, deve ser estimulado o maior consumo de legumes,

verduras e frutas, pois, segundo dados de 2005 da Pesquisa de Orçamento

Familiar – POF, o consumo diário é de 132 gramas de legumes, verduras e frutas,

enquanto a recomendação do Ministério da Saúde é de 400 gramas/dia.

A inadequação dessa alimentação traz resultados negativos visíveis e

mensuráveis nas pessoas tais como: sobrepeso e a obesidade, hoje problemas

de saúde pública, a prevalência significativa das doenças não transmissíveis

(dislipidemias, diabetes, hipertensão, doenças coronarianas etc) inclusive com

destacada manifestação entre crianças, uma predominância na deficiência de

micronutrientes, principalmente de ferro, de vitamina A e de cálcio (CONSEA,

2007).

Page 39: Dissertação..Hortas Comunitárias

39

A AUP desenvolvida em bases agroecológicas é defendida por Aquino &

Assis (2007) como provedora de instrumental tecnológico adequado à agricultura

urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos pelos autores são:

menor dependência possível de insumos externos à unidade de produção e a

conservação dos recursos naturais. O ambiente urbano facilita a infra-estrutura,

disponibilidade de mão de obra familiar, proximidade com o público consumidor,

oferta limitada de espaços e possibilidade de reciclagem de materiais orgânicos

permite a viabilização da agricultura urbana orgânica com produção diversificada

e constante durante todo o ano (ASSIS, 2003).

A partir da realidade observada no Brasil, a proposta da AUP tem seus

prós e contras. Se for comparada com a agricultura familiar desenvolvida

tradicionalmente no contexto rural podemos destacar as seguintes questões. As

vantagens podem ser representadas por: menor consumo de combustível e

custos no transporte na pós-colheita; maior diversidade de cultivos agrícolas;

pouca utilização de insumos químicos e de mecanização agrícola no preparo do

solo; emprega maior número de trabalhadores por área; configurando menor

impacto ambiental e maior impacto social, resultando positivamente em benefícios

para sociedade, também no que diz respeito à alimentação.

Por outro lado, as desvantagens podem ser caracterizadas pelo valor da

terra urbana e pelos custos relativos ao insumo água, muito superiores, além

disso, existem riscos de contaminação dos alimentos através do solo ou por

águas poluídas (AQUINO & ASSIS, 2007; LANG, 2007). Por último, os

agricultores urbanos ainda não são reconhecidos como integrantes da mão de

obra do segmento produtivo caracteristicamente rural.

Seguindo a perspectiva da urbanização, na década de 90, por exemplo, os

municípios de Juazeiro – BA e Petrolina – PE receberam 38 mil novos habitantes

(IBGE, 2001), trazendo consigo inúmeros problemas com a falta de investimentos

no planejamento urbano para atender as necessidades básicas de toda essa nova

população. Por outro lado a oferta de trabalho na fruticultura irrigada também não

consegue absorver toda essa mão de obra, surgindo novas questões como a

Page 40: Dissertação..Hortas Comunitárias

formação de comunidades extremamente pobres, desemprego e baixo

valor da mão de obra devido ao excesso de contingente, dentre outros. Uma das

possíveis conseqüências não planejadas desse fenômeno foi a instalação das

hortas comunitárias nas duas cidades, objeto de estudo dessa dissertação.

Esse trabalho teve como objetivo definir o perfil social e econômico dos

horticultores, bem como o aspecto da segurança alimentar, contribuindo para os

estudos já desenvolvidos na região e refletir em torno das demandas de apoio

junto aos órgãos públicos e a sociedade.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no submédio do Rio São Francisco, no

Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por clima quente e seco,

com chuva irregular e mal distribuída, por baixos índices de desenvolvimento

humano e de investimentos públicos. A Região teve parte de sua paisagem

alterada após a implantação da Barragem de Sobradinho e de projetos de

irrigação na década de 80.

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica com a coleta de dados

secundários no Censo (IBGE, 2000), publicações de revistas, teses e

dissertações, livros em bibliotecas e sites disponíveis na internet.

Em seguida foi realizado um mapeamento lançando mão de levantamento

aerofotogramétrico com a utilização do programa eletrônico Google Earth

disponível na rede internet para localizar as hortas em Juazeiro – BA e Petrolina –

PE. Esse levantamento prévio permitiu fazer a localização da maioria das hortas

comunitárias existentes nas duas cidades através da observação das imagens,

tendo como referência as cores e texturas características nas hortas urbanas em

locais inicialmente conhecidos, o que pode ser observado na Figura 2.

O objetivo foi selecionar todas as hortas comunitárias existentes na área

urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, ou seja, envolver 100% das hortas

Page 41: Dissertação..Hortas Comunitárias

41

comunitárias urbanas na pesquisa, que foi aproximadamente contemplado, pois

foram visitadas todas as hortas visíveis nas imagens obtidas no Google Earth

além das hortas indicadas pelos informantes durante a pesquisa de campo.

Page 42: Dissertação..Hortas Comunitárias

42

Foram descartadas cinco hortas urbanas situadas em escolas e terrenos privados

por não terem o perfil comunitário, pois só havia uma pessoa ou família

trabalhando.

As três etapas de campo ocorreram entre os meses de maio e outubro de

2007. As visitas aos grupos ocorreram em três etapas em momentos distintos

para facilitar o contato e a comunicação, sendo a primeira etapa a visitas às

hortas para apresentação da pesquisa e convite para uma reunião ampliada com

a maioria dos horticultores. A segunda etapa foi uma reunião aberta para nova

apresentação da pesquisa e levantamento das informações gerais da produção,

histórico e organização do trabalho, orientado pelo Questionário 1. A terceira

etapa foi a coleta de informações detalhadas através de entrevistas individuais e

aplicação do questionário 2, com questões de múltiplas respostas Nesse trabalho

estão analisadas as variáveis relativas ao perfil social, econômico e segurança

alimentar. Os questionários 1 e 2 estão no Anexo 1.

Optou-se pela aplicação do questionário aliada à entrevista, considerando

que num questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às

respostas escritas à questões pré-determinadas e numa entrevista – como o

entrevistador e a pessoa entrevistada estão presentes no momento em que as

perguntas são apresentadas e respondidas – existe oportunidade para maior

flexibilidade na obtenção de informações (SELLTIZ & DEUTSCH, 1971 citado por

ARRUDA, 2006),

Hirano et al., (1989 citado por MONTEIRO, 2005) propõe inicialmente não

existir regras fixas para definir o número ou percentual ótimo para amostras em

pesquisas. O autor cita que quanto mais homogêneo o universo menor poderá ser

a amostra representativa, e, ao contrário, quanto mais heterogêneo o universo

maior precisará ser a amostra para conter todos os tipos possíveis de variação e,

portanto, ser representativa. Portanto, utilizaram-se essas referências para definir

o tamanho da amostra como descrito a seguir.

Page 43: Dissertação..Hortas Comunitárias

43

Foram identificadas 03 hortas em Juazeiro – BA e 13 hortas em Petrolina –

PE, como pode ser observado na Tabela 1, onde se realizou uma contagem de

304 horticultores. Foi considerada uma amostragem de 10% do universo total de

agricultores registrados das 16 hortas, entrevistando uma amostra de 31 pessoas,

escolhidas de forma aleatória, em todas as hortas. Foi observada uma

homogeneidade no perfil social, econômico e da produção das hortas por isso não

foi necessário fazer subdivisões nas amostras.

Para cada pessoa entrevistada foi utilizado um Termo de consentimento

livre e esclarecido, Anexo 2, que explicava os objetivos da pesquisa, garantindo

liberdade do entrevistado, sigilo sobre as informações pessoais colhidas e

ausência de riscos. Os documentos foram assinados em duas vias, ficando uma

cópia com a pessoa entrevistada e outra com o pesquisador.

Page 44: Dissertação..Hortas Comunitárias

Após a obtenção dos dados, as informações qualitativas foram analisadas

e transformadas em texto e os dados quantitativos foram tabulados em planilhas

eletrônicas formando um banco de dados e posteriormente analisados com a

utilização de distribuição de freqüência das respostas e transformadas em

percentual, tabelas e quadros que estão apresentados a seguir.

3 RESULTADOS

Como se observa na Tabela 1 foi constatado nas hortas pesquisadas no

município de Juazeiro - BA trabalham 122 horticultores distribuídos em 4,7

hectares e no município de Petrolina – PE trabalham 182 em 6,28 hectares,

totalizando 304 horticultores que utilizam aproximadamente 10,98 hectares. A

maioria das hortas tem mais de 10 anos de implantação, sendo que, 56,2% foram

implantadas nos anos 90 e 31,2% nos anos 80. Apenas duas foram implantadas

nos últimos sete anos.

O surgimento dessas hortas, na maioria dos casos se deu por iniciativas

das escolas públicas localizadas em bairros periféricos daqueles municípios, que

a partir da década de 80 incluíam no currículo escolar a disciplina práticas

agrícolas, iniciando os trabalhos com finalidades pedagógicas, e ao mesmo tempo

atraindo pais dos alunos para trabalharem naqueles espaços, com o objetivo de

promover alternativa de geração de renda e melhorar a alimentação para famílias

de baixa renda, oferecendo o espaço físico com a segurança dos muros da escola

e água a partir dos sistemas que abastecem as escolas. Essas iniciativas, no

município de Petrolina, foram apoiadas por professores e alunos do Centro

Federal de Educação Tecnológica de Petrolina - CEFET Petrolina, e lideranças

políticas, que contribuíram inicialmente com insumos, ferramentas, instalações

hidráulicas, capacitações e assistência técnica.

Diferentemente de Petrolina, em Juazeiro as hortas foram apoiadas

inicialmente por religiosas da Igreja Católica, mas também por escolas do Estado.

No caso do Bairro João Paulo II, em Juazeiro, o terreno foi cedido pela Diocese e,

com apoio de uma empresa de mineração foi assegurado o fornecimento de água

Page 45: Dissertação..Hortas Comunitárias

45

bruta diretamente do Rio São Francisco, a partir de uma adutora que passa nas

proximidades. Denota-se, portanto, que os terrenos onde são implantadas as

hortas não pertencem aos horticultores, caracterizando as relações de uso da

terra como informais em 100% dos casos, uma vez que não existe mecanismo de

arrendamento, Tabela 1.

Por outro lado, os horticultores vêm sustentando e se auto-sustentando

com o funcionamento dessas hortas, mantendo ao longo desses anos uma

importante relação de mútuos benefícios com as escolas conforme Quadro 1, que

embora informal, demonstra-se estável pela sua durabilidade, existindo algumas

hortas com 24 anos de funcionamento, como pode ser visto na Tabela 1. Na visão

dos horticultores a escola ganha muito com a presença diária das famílias de

agricultores, evitando roubos e a ocupação desses espaços por vândalos e

usuários de drogas, assegurando um uso funcional das adjacências das escolas,

além dos horticultores fornecerem, sem ônus para a escola, parte da produção

para a merenda escolar, a qual fica enriquecida com verduras e temperos. Por

outro lado, embora pontuais, observou-se a existência de conflitos sobre o uso da

água, a Diretoria de duas escolas questionam a quantidade de água utilizada na

horta.

No cômputo do total da mão-de-obra, tem-se que 71% trabalham em

família e que a maioria são mulheres, correspondendo a 61% do total. Em relação

Page 46: Dissertação..Hortas Comunitárias

46

à faixa etária, a maioria são pessoas adultas acima de 31 anos perfazendo 96%,

sendo que 42% desses têm mais de 60 anos, Figuras 3a, b e c.

Sobre a escolaridade, 84% têm nível fundamental ou não tem instrução e,

com relação às origens, a maioria dos agricultores representada por 97% são

migrantes vindos de outros municípios nordestinos, Figuras 3 d), e).

Page 47: Dissertação..Hortas Comunitárias

47

A renda de uma parcela de 42% das famílias fica entre um e dois salários

mínimos em média, sendo que a renda proveniente exclusivamente das hortas é

menor, apenas 29% arrecadam de um a dois salários mínimos. A maioria, 65%

dos horticultores, arrecada menos que um salário mínimo na atividade, o que

evidencia que a horticultura rende pouco, mas funciona como importante fonte de

renda complementar para as famílias, Figuras: 4 b e c.

Embora as receitas individuais permitam inferir positivamente, ela

caracteriza-se por ser bruta, uma vez que não há informações sobre o cômputo

dos custos com insumos, e tampouco dos custos de água e da terra que não

fazem parte da análise, o que sugere serem pequenas as margens de lucro na

atividade.

Page 48: Dissertação..Hortas Comunitárias

48

Em relação às outras fontes de renda, 56% dos entrevistados recebem

algum benefício social ou têm pessoas na família com outras atividades, 38% têm

recursos da aposentadoria em casa e 6% recebem pensão, Figura 4 a.

O destino da produção das hortaliças comestíveis e das plantas medicinais

é o autoconsumo, venda e doações, sendo que apenas 6% horticultores não

utilizam a própria produção para consumo. Do total da produção de hortaliças

45% é comercializada no próprio local, 14% é vendida de porta em porta e, o

restante segue para feiras livres e mercadinhos de bairro para onde vai uma

parcela de 37%, Figuras 5 a e b.

Sobre as oportunidades de capacitação 55% dos agricultores receberam

capacitações técnicas, sendo 63% sobre manejo das hortaliças, oferecidas

através de cursos por parte do CEFET Petrolina, Prefeitura, Igreja ou da

EMBRAPA, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR ou Governo do

Estado, sendo que 14% já tiveram capacitação sobre uso de agrotóxicos, pois

muitos dos agricultores são pessoas que já trabalharam nas áreas irrigadas,

Figura 6.

Page 49: Dissertação..Hortas Comunitárias

49

Em relação à assistência técnica, 94% afirmaram que não recebem

qualquer tipo de assistência técnica, 100% dos entrevistados financiam a

produção com recursos próprios, normalmente para compra de esterco, sementes

e ferramentas. Os depoimentos apontaram para o desinteresse pelo

financiamento a partir do crédito oficial, com receio dos encargos e juros das

operações. A produção ocorre com a utilização de baixos níveis de insumos

externos, usam principalmente esterco de caprino ou bovino 48% e uréia 30%.

Estão dispostos a produzir somente produtos orgânicos 97% dos entrevistados,

Figura 7.

Sobre o aspecto organizacional, em apenas uma das hortas, no Bairro

João Paulo II em Juazeiro - BA, registrou-se a existência de uma associação

legalmente constituída, a qual chama a atenção por conter uma orientação para o

cultivo orgânico com apoio da Diocese de Juazeiro, do Instituto Regional da

Agropecuária Apropriada – IRPAA e da Cooperativa da Agropecuária Familiar

Orgânica do Semi-Árido – COOPERVIDA. Nas demais hortas observaram-se

Page 50: Dissertação..Hortas Comunitárias

50

agrupamentos informais e temporários para organização do uso do espaço

coletivo ou comprar insumos coletivamente. Contudo, 35% dos entrevistados

disseram participar de associações dos bairros, grupos onde residem, grupos de

mulheres e idosos e grupos ligados as igrejas.

Cabe destacar que em uma das hortas, do CEMIC, em Petrolina, fica

evidente um maior grau de organização motivado por um agente externo ao

grupo, uma funcionária pública municipal responsável pelo acompanhamento da

horta através de reuniões periódicas e organizando um rateio mensal dos custos

de parte das despesas coletivas. Em todas as hortas, porém, foi expresso o

desejo de que houvesse no futuro uma organização que representasse o conjunto

dos horticultores para defendê-los e conseguir melhorias em diversos aspectos

para o setor.

Page 51: Dissertação..Hortas Comunitárias

4 DISCUSSÃO

O contexto social e econômico da agricultura urbana em Juazeiro – BA e

Petrolina – PE é semelhante a outras descrições de AUP já estudadas no mundo.

Alguns trabalhos que retratam situações semelhantes merecem ser citadas,

referenciando o perfil aqui encontrado, no Semi-Árido da região Nordeste do

Brasil.

Um diagnóstico recente da agricultura urbana no bairro chamado Bosa, na

cidade de Bogotá capital da Colômbia (RAMIREZ et al., 2007) evidenciou grandes

semelhanças no perfil social descrito anteriormente: comunidade pobre, maioria

das pessoas envolvidas são mulheres, os cultivos principais são olerícolas e

dificuldades com espaço e água. Na capital do Rio de Janeiro, um diagnóstico

realizado por Monteiro & Mendonça (2004) evidenciou que a AUP praticada nos

quintais domésticos é constituída por famílias pobres que consomem poucas

hortaliças e representa a manutenção dos traços culturais da alimentação.

No entanto, a situação mais semelhante no contexto da região Nordeste do

Brasil foi registrada na pesquisa feita por Monteiro (2005) em Teresina – PI.

Naquele município funcionam 50 hortas ocupando 177,2 hectares, com o

incentivo da Prefeitura Municipal e de várias outras instituições dentro do

Programa Hortas iniciado em meados da década de 80. Para exemplificar as

grandes semelhanças com a experiência de Teresina em relação ao perfil e as

dificuldades, destacam-se alguns dados: 62% das pessoas envolvidas na

produção são mulheres, 65,2% dos horticultores têm mais de 46 anos, 87,5% têm

ensino fundamental incompleto e ou menos tempo de estudo. A renda familiar de

55,8% fica entre um e dois salários mínimos, em média, e a renda proveniente da

horta é menor, apenas 19,1% arrecadam entre um e dois salários mínimos,

enquanto 68% trabalham em família. Dessas famílias 69% são provenientes do

interior do Piauí ou outros estados. Os terrenos utilizados também não pertencem

aos horticultores. 68,3% não participaram de capacitações. Baixa participação em

organizações e 75% fazem o financiamento da produção com recursos próprios,

Monteiro (2005).

Page 52: Dissertação..Hortas Comunitárias

52

No contexto da segurança alimentar e nutricional, conforme evidencia a

Figura 4, existe uma importante contribuição dessa atividade na segurança

alimentar das famílias de horticultores, o que ocorre de duas formas: a)

diretamente através do acesso diário e constante de hortaliças frescas, ricas em

vitaminas e sais minerais, o autoconsumo, aliviando relativamente às despesas

com alimentos e, b) indiretamente através geração de receitas das vendas dos

excedentes de produção, as quais permitem a aquisição de outros gêneros

alimentícios no dia-a-dia.

De forma semelhante, a produção dessas hortaliças contribui para a

segurança alimentar dos alunos das escolas e consumidores do bairro, na medida

em que grande parte dessas hortaliças frescas é comercializada de forma direta

para os consumidores que vão comprar na própria horta. Pode-se deduzir que

uma vantagem do fornecimento diário e local – onde ocorrem 45% das vendas

nas hortas comunitárias, em relação aos produtos hortícolas oriundos de outras

localidades, fornecidos nas feiras livres semanais e supermercados – está na

possibilidade de obtenção de renda advinda da redução de custos de transporte,

embalagem e dos lucros de que seriam de outros agentes no processo de

comercialização. O que também sugere vantagens no aspecto ambiental, com o

menor uso de energia fóssil utilizada na fabricação de combustíveis e embalagens

plásticas.

Por outro lado, considerando a reduzida renda da maioria das famílias

revelada na Figura 3 g, e não sendo computadas as despesas com a água e a

terra, serão necessárias investigações mais profundas sobre a viabilidade

econômica da atividade, a fim de conhecer possibilidades de equilíbrio entre

receitas e despesas e projetar soluções técnicas para diminuir custos e a

racionalização no uso da água.

Considerando que 100% dos horticultores não são donos das terras, como

mostra a Tabela 1, mantêm relações de uso da terra informais e sendo estas

áreas são localizadas em zona urbana, impõem-se uma informalidade na

atividade, aspecto que exclui as possibilidades desses agricultores participarem

Page 53: Dissertação..Hortas Comunitárias

das políticas públicas voltadas para o segmento dos agricultores familiares,

como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, a

Assistência Técnica e Extensão Rural e o Programa de Aquisição de Alimentos,

coordenados pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e o da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento. Também em decorrência desses fatores existem

apenas alguns casos de agricultores que são ligados aos Sindicatos dos

Trabalhadores Rurais de Juazeiro – BA e Petrolina - PE.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como a maioria dos agricultores é migrante de outras áreas rurais, Figura

3e, e o trabalho nas hortas é eminentemente familiar, Figura 3c, de forma

semelhante às unidades produtivas na zona rural do semi-árido brasileiro, o

contexto da agricultura urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE sugere um novo

conceito, agricultura familiar urbana, ainda não conhecido, e que pode vir a ser

considerado como um dos critérios para ampliar a delimitação das características

da agricultura familiar no Brasil, desconsiderando apenas o caráter urbano da

terra e assemelhando-se ao do estabelecimento rural através das demais

características.

O fato de que a mulher é maioria entre as trabalhadoras nas hortas,

exercendo um papel produtivo, na alimentação e na geração de renda, somam-se

aos papéis domésticos e reprodutivos no cuidado com a família. Portanto, essas

questões devem ser levadas em consideração no momento de qualquer

intervenção futura para melhoria do trabalho nas hortas, para que não as

sobrecarregue ou para não cometer injustiças favorecendo mais aos homens em

detrimento delas, promovendo, uma divisão de responsabilidades de forma

equilibrada.

Considerando a importância social, econômica, ambiental demonstrada na

experiência de agricultura urbana nos dois municípios estudados, observa-se um

contraste com a informalidade das condições de trabalho desses agricultores.

Faz-se necessário a construção de políticas e programas locais em apoio às

Page 54: Dissertação..Hortas Comunitárias

54

hortas comunitárias, o reconhecimento deles como agricultores familiares

urbanos, determinando a formalização das relações de mútuo benefício entre as

famílias e as escolas no uso dos terrenos e da água, incentivando a produção

agroecológica. Dessa forma, proporcionando a organização desses grupos e sua

aproximação com os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, órgãos de pesquisa e

de extensão rural.

O incentivo e apoio à organização de associações, poderão fortalecer as

relações interpessoais e interorganizacionais, abrindo a perspectiva da defesa

dos interesses desse conjunto de agricultores junto ao poder público, além de

ampliar sua visibilidade e favorecer a sua profissionalização, valorizando seu

trabalho enquanto fornecedores de produtos saudáveis, provenientes de uma

agricultura de baixos impactos ambientais e de importante função social,

estimulando a ampliação do consumo de hortaliças frescas e sadias pela

sociedade local.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD (RIO DE

JANEIRO, 2006) feita pelo IBGE e o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, observou que no Brasil, assim como em outros países, a

proporção da situação de “segurança alimentar” difere conforme o rendimento

domiciliar mensal per capita. A prevalência da “insegurança alimentar grave” é

substancialmente maior nos domicílios com rendimentos per capita de até 1

salário mínimo.

Os dados da PNAD apontam este comportamento para o Brasil como um

todo e para todas as Unidades da Federação. Como as experiências de

agricultura urbana e segurança alimentar ainda são limitadas no Brasil, será

oportuno aprofundar os estudos entre as famílias participantes da AUP em

Juazeiro – BA e Petrolina – PE e fazer um comparativo com os dados do PNAD,

buscando compreender se existe diferenças nas condições de segurança

alimentar entre essas famílias e do público atendido em decorrência do trabalho

das hortas.

Page 55: Dissertação..Hortas Comunitárias

AGRADECIMENTOS

A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e

viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse

trabalho que deram colaboração fundamental.

Page 56: Dissertação..Hortas Comunitárias

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Page 59: Dissertação..Hortas Comunitárias

CAPÍTULO II

Limites e potenciais para produção agroecológica na s hortas comunitárias

urbanas no dipolo Juazeiro – BA e Petrolina – PE no Semi-Árido Nordestino

Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Caatinga”,

para o qual será submetido.

Page 60: Dissertação..Hortas Comunitárias

RESUMO

Um quarto da população urbana do mundo é abastecida pela agricultura urbana e

periurbana, o que representa 700 milhões de pessoas. A produção de hortaliças

nas áreas urbanas no Brasil é uma atividade relevante, porém pouco estudada.

Esse trabalho teve como objetivo estudar os fatores limitantes e potenciais das

hortas comunitárias urbanas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE contribuindo na

reflexão sobre as possibilidades da produção fundamentada na agroecologia. A

pesquisa foi realizada através de reuniões, aplicação de questionários e

entrevistas com 31 agricultores, entre maio e outubro de 2007. Foi identificado

que os agricultores utilizam mão de obra familiar (71%), a maioria é migrante

(97%) e mulheres (61%), atuam em 16 hortas comunitárias das periferias,

cultivam 23 espécies comestíveis e 42 espécies medicinais. Dentre os principais

fatores limitantes, registrou-se a incidência de doenças causadas por fungos e

viroses no coentro (Coriandrum sativum L.) e alface (Lactuca sativa L.)

respectivamente; existem limitações relativas à quantidade de água e aplicação

de tecnologias. Dentre os fatores potenciais para produção agroecológica,

observou-se pouca utilização de insumos químicos; 97% dos agricultores

entrevistados afirmaram estar dispostos a cultivar somente produtos orgânicos e;

existem iniciativas técnicas e organizativas para adoção desse modelo de

produção, o que permite afirmar que existe potencial para o desenvolvimento

dessa atividade em bases agroecológicas.

Palavras chaves: agricultura urbana, diagnóstico, planejamento.

Page 61: Dissertação..Hortas Comunitárias

ABSTRACT

One quarter of the urban population of the world is supplied by urban and

periurban agriculture, representing 700 million people. The vegetable production in

urban areas in Brazil is a relevant activity, however it is little studied. This work

focused on the study of the limiting factors and the potential of urban vegetables

gardens in Juazeiro – BA and Petrolina – PE, helping the discussion about the

possibilities of agroecological production. The research was carried out though

questionnaires, meetings and interview with 31 farmers from May to October 2007.

Were identified than farmers count on family workforce (71%), the majority who

are immigrants (97%) and women (61%). These farmers work in 16 vegetables

gardens in the urban outskirt. Twenty three edible species and 42 medicinal

species were identified. Among the main problems it was verified the incidence of

diseases caused by fungi and viruses in coriander (Coriandrum sativum L.) and

lettuce (Lactuca sativa L.) respectively. There are limitations correlated with the

amount of water used and the technology use. Within the potential factors of

agroecological production it was observed a low use of chemicals, 97% of the

interviewed farmers said the were inclined to grow only organic products and there

are already technical and organization initiatives to adopt this production model,

what allows the statement that there´s a potential to develop these activities based

on the agroecological principles.

Keywords: communitarian horticulture, diagnostic, public policy

Page 62: Dissertação..Hortas Comunitárias

1 INTRODUÇÃO

Proporcionalmente à crescente urbanização no mundo, a agricultura

urbana e periurbana – AUP, também vêm crescendo e produzindo alimentos para

aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades, o que

significa um quarto da população urbana do mundo (FAO, 2002). As incertezas e

limitações quanto ao acesso e uso da terra, assim como aos conhecimentos mais

especializados no âmbito das tecnologias de produção, aliados às restrições

impostas para aquisição de insumos e ferramentas apropriadas, fazem com que

as espécies olerícolas cultivadas na AUP se caracterizem por ser relativamente

de baixo valor comercial, de crescimento rápido e de fácil técnica de cultivo,

portanto, nem sempre são produtos mais rentáveis economicamente se

compararmos a tomate e cenoura, por exemplo. Soma-se a esses problemas o

fato de que alguns países na América dos Sul e África utilizam águas residuais

sem o devido tratamento, pondo em risco a saúde dos consumidores (FAO,

2002).

Na Namíbia, a urbanização vem alcançando taxas explosivas desde a

independência em 1990, como conseqüência da intensa migração da população

rural para as áreas urbanas na busca por melhores condições. Sendo o país mais

seco da África, clima semi-árido, a base agrícola da Namíbia é fraca, e a maior

parte das hortaliças vendidas nos centros urbanos é importada da África do Sul.

Apesar disso, atividades intensas de agricultura urbana estão ocorrendo, tanto em

escala comercial quanto em plantios de fundo de quintal, nos espaços abertos

disponíveis e ao longo do curso de rios (DIMA & OGUNMOKUM, 2006).

As experiências de agricultura urbana ao redor do mundo, frequentemente

relacionam essa produção às hortaliças e fruteiras, e também à criação de

pequenos animais, sendo a mão-de-obra envolvida normalmente composta por

ex-agricultores caracteristicamente pobres em recursos financeiros. Em alguns

casos essas experiências foram promovidas através de ações de Governo, como

ocorreu em Cuba, após a queda do sistema socialista e os bloqueios comerciais,

que os obrigou a desenvolver a pesquisar para a produção com tecnologias

Page 63: Dissertação..Hortas Comunitárias

63

agroecológicas, caracterizada por uma horticultura totalmente orgânica, haja vista

a impossibilidade de importar insumos para o sistema convencional, que era

utilizado anteriormente aos bloqueios comerciais. Hoje todo o abastecimento de

hortaliças em Cuba é feito sem a dependência externa de produtos nem de

insumos (AQUINO, 2002).

Os muitos aspectos que foram bem sucedidos em Cuba podem ser

reproduzidos para a realidade Brasileira, segundo Aquino (2002), que também

sugeriu que fossem estabelecidas unidades-modelo para adaptar e testar

técnicas, servindo de referência para posterior disseminação. Em Cuba, as

principais medidas técnicas são determinadas com alto nível organizativo

orientado pelo Grupo Nacional de Agricultura Urbana – GNAU que consegue

comandar de forma abrangente e com capilaridade até os grupos pequenos de

agricultores. Uma das medidas geradas, em relação à sanidade das plantas, leva

em consideração principalmente o bom estado nutricional da planta e em segundo

lugar as medidas preventivas tais como pontos de desinfecção de mãos e pés nas

entradas de cada parcela de produção.

No Brasil, nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília, Campinas,

Santo Antônio do Descoberto – GO e Teresina registraram-se iniciativas

governamentais que evidencia a horticultura urbana, com propósitos mais ligados

à promoção do trabalho e renda, além de produzir parte dos alimentos para

famílias das periferias daquelas cidades (BRANDÃO 2001; CARVALHO, 2001;

CALDAS & PINHEIRO, 2004; MONTEIRO & MONTEIRO, 2006, ARRUDA, 2006,

CASTELO BRANCO et al., 2007), porém, sem um enfoque para o modo de

produção agroecológico.

Uma publicação recente sobre hortas comunitárias conduzida por Castelo

Branco et al. (2007) no pequeno município de Santo Antônio do Descoberto em

Goiás, aponta que as principais dificuldades para obter a reprodução do êxito

econômico da atividade estão relacionadas à falta de assistência técnica, capital e

organização comunitária. Embora se considere que a AUP possa contribuir para

garantir a segurança alimentar de populações em vulnerabilidade social, de forma

Page 64: Dissertação..Hortas Comunitárias

64

direta através da geração de renda, essa solução não pode ser universalizada,

devido às suas principais limitações: espaço físico e água, porém, pode constituir-

se numa estratégia viável para minimizar os problemas ligados à insegurança

alimentar em populações em estado de pobreza.

Na experiência de Teresina, resultante de uma ação da Prefeitura

municipal e que envolve mais de 2.400 famílias, alguns aspectos sobre o sucesso

da experiência são questionados por Monteiro & Monteiro (2006), dentre eles, a

utilização de adubos químicos e agrotóxicos sem a devida capacitação sobre

seus riscos e sobre o uso dos equipamentos. Embora no referido trabalho

também tenha sido constatado grande interesse dos agricultores pela produção

orgânica, o incentivo a essa forma de produção ainda não ocorria, sendo por isso,

uma recomendação da autora à Prefeitura, que incentivasse a agricultura

orgânica para conferir desenvolvimento sustentável àquelas hortas.

Aquino & Assis (2007), publicaram um trabalho que defende a agricultura

orgânica com base na agroecologia como provedora de instrumental tecnológico

adequado à agricultura urbana. Os princípios básicos da agroecologia defendidos

pelos autores são: menor dependência possível de insumos externos à unidade

de produção e a conservação dos recursos naturais.

O ambiente urbano facilitado pela infra-estrutura, disponibilidade de mão de

obra familiar, proximidade com o público consumidor, oferta limitada de pequenos

espaços e possibilidade de reciclagem de materiais orgânicos permitem a

viabilização da agricultura urbana orgânica com produção diversificada

constantemente durante todo o ano (ASSIS, 2003).

A Região onde foi desenvolvida a pesquisa teve parte de sua paisagem

rural alterada após a implantação da Barragem de Sobradinho no Rio São

Francisco e de projetos de irrigação na década de 80, que provocou uma

importante migração, nessa perspectiva, na década de 90, os municípios de

Petrolina – PE e Juazeiro – BA receberam 38 mil novos habitantes (IBGE, 2001),

provocando uma intensa urbanização nessas duas cidades, atraídos pela

Page 65: Dissertação..Hortas Comunitárias

atividade agrícola irrigada. Uma das possíveis conseqüências não

planejadas desse fenômeno foi a instalação das hortas comunitárias nas duas

cidades, objeto de estudo dessa dissertação.

Esse trabalho teve como objetivo estudar os sistemas produtivos das

hortas urbanas dos municípios de Petrolina – PE e Juazeiro – BA, no Semi-Árido

nordestino, e contribuir para a reflexão acerca dos principais fatores limitantes e

as potencialidades, com intuito de gerar subsídios para um planejamento e

implementação de sistemas viáveis de produção, fundamentados na

agroecologia.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no submédio do Rio São Francisco, no

Nordeste semi-árido brasileiro, uma região caracterizada por clima quente e seco,

com distribuição das chuvas de forma irregular e mal distribuída, por baixos

índices de desenvolvimento humano e de investimentos públicos, com exceções

da implantação da Barragem de Sobradinho e de projetos de irrigação a partir da

década de 80.

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica com a coleta de dados

secundários conforme no Censo (IBGE, 2000), publicações de revistas, teses e

dissertações, livros em bibliotecas e sites disponíveis na internet.

Em seguida foi realizado um mapeamento lançando mão de levantamento

aerofotogramétrico com a utilização do programa eletrônico Google Earth

disponível na rede mundial - Web para localizar as hortas em Juazeiro – BA e

Petrolina – PE. Esse levantamento prévio permitiu fazer a localização da maioria

das hortas comunitárias existentes nas duas cidades através da observação das

imagens, tendo como referência as cores e texturas características nas hortas

urbanas em locais inicialmente conhecidos, o que pode ser observado na Figura

2.

Page 66: Dissertação..Hortas Comunitárias

66

O objetivo foi selecionar todas as hortas comunitárias existentes na área

urbana de Juazeiro – BA e Petrolina – PE, ou seja, envolver 100% das hortas

comunitárias urbanas na pesquisa, que foi aproximadamente contemplado, pois

Page 67: Dissertação..Hortas Comunitárias

67

foram visitadas todas as hortas visíveis nas imagens obtidas no Google Earth

além das hortas indicadas pelos informantes durante a pesquisa de campo.

Foram descartadas cinco hortas urbanas situadas em escolas e terrenos privados

por não terem o perfil comunitário, pois só havia uma pessoa ou família

trabalhando.

As três etapas de campo ocorreram entre os meses de maio e outubro de

2007. As visitas aos grupos ocorreram em três etapas em momentos distintos

para facilitar o contato e a comunicação, sendo a primeira etapa a visitas às

hortas para apresentação da pesquisa e convite para uma reunião ampliada com

a maioria dos horticultores. A segunda etapa foi uma reunião aberta para nova

apresentação da pesquisa e levantamento das informações gerais da produção,

histórico e organização do trabalho, orientado pelo Questionário 1. A terceira

etapa foi a coleta de informações detalhadas através de entrevistas individuais e

aplicação do questionário 2, com questões de múltiplas respostas. Nesse trabalho

estão analisadas as variáveis relativas à produção e o sistema produtivo. Os

questionários 1 e 2 estão no Anexo 1.

Optou-se pela aplicação do questionário aliada à entrevista, considerando

que num questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às

respostas escritas à questões pré-determinadas e numa entrevista – como o

entrevistador e a pessoa entrevistada estão presentes no momento em que as

perguntas são apresentadas e respondidas – existe oportunidade para maior

flexibilidade na obtenção de informações (SELLTIZ & DEUTSCH, 1971 citado por

ARRUDA, 2006),

Hirano et al., (1989 citado por MONTEIRO, 2005) propõe inicialmente não

existir regras fixas para definir o número ou percentual ótimo para amostras em

pesquisas. O autor cita que quanto mais homogêneo o universo menor poderá ser

a amostra representativa, e, ao contrário, quanto mais heterogêneo o universo

maior precisará ser a amostra para conter todos os tipos possíveis de variação e,

portanto, ser representativa. Portanto, utilizaram-se essas referências para definir

o tamanho da amostra como descrito a seguir.

Page 68: Dissertação..Hortas Comunitárias

68

Foram identificadas 03 hortas em Juazeiro – BA e 13 hortas em Petrolina –

PE, como pode ser observado na Tabela 1, onde se realizou uma contagem de

304 horticultores. Foi considerada uma amostragem de 10% do universo total de

agricultores registrados das 16 hortas, entrevistando uma amostra de 31 pessoas,

escolhidas de forma aleatória, em todas as hortas. Foi observada uma

homogeneidade no perfil social, econômico e da produção das hortas por isso não

foi necessário fazer subdivisões nas amostras.

Para cada pessoa entrevistada foi utilizado um Termo de consentimento

livre e esclarecido, Anexo 2, que explicava os objetivos da pesquisa, garantindo

liberdade do entrevistado, sigilo sobre as informações pessoais colhidas e

ausência de riscos. Os documentos foram assinados em duas vias, ficando uma

cópia com a pessoa entrevistada e outra com o pesquisador.

Após a obtenção dos dados, as informações qualitativas foram analisadas

e transformadas em texto e os dados quantitativos foram tabulados em planilhas

eletrônicas formando um banco de dados e posteriormente analisados com a

utilização de distribuição de freqüência das respostas e transformadas em

percentual, compondo tabelas e quadros que estão apresentados a seguir.

Para identificação de dois principais problemas fitopatológicos encontrados,

queima nas folhas da alface e tombamento das plântulas de coentro, testes foram

conduzidos no laboratório de Fitopatologia da UNEB para identificação das

causas. No caso da alface e do coentro foram conduzidas diversas tentativas de

identificação de fungo ou bactérias seguindo metodologias forma de identificação

descritas por Barnet (1972) e Pavan (1997), posteriormente, no caso da alface,

foram enviadas amostras para o Centro Nacional de Pesquisa em Hortaliças –

CNPH da EMBRAPA para identificação de virus através de teste de Elisa, e no

caso do coentro foi conduzido teste de sanidade e fisiologia de lotes de sementes

seguindo metodologia descrita em Brasil (1992), para conhecer a qualidade das

sementes utilizadas pelos horticultores.

Page 69: Dissertação..Hortas Comunitárias

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das hortas pesquisadas, três delas ficam localizadas em Juazeiro-BA onde

trabalham 122 horticultores em 4,7 hectares e 13 hortas ficam em Petrolina-PE,

onde trabalham 182 horticultores em 6,28 hectares, totalizando 304 horticultores

em 10,98 hectares, de onde se deduz uma média de 27,6 horticultores por

hectare ocupado. A maioria das hortas visitadas ocupa área aberta no terreno

adjacente de escolas públicas, localizadas em bairros periféricos das sedes

municipais e, em um caso, uma horta localiza-se em uma área da Diocese de

Juazeiro. Tal característica define a atividade como eminentemente urbana. São

Page 70: Dissertação..Hortas Comunitárias

70

áreas relativamente pequenas, em média 0,46 hectare, com exceção da horta

localizada no terreno da Diocese que mede 3,6 hectares, Tabela 1.

Em Teresina, comparativamente, as experiências já estudadas dão conta

que 01 hectare comporta em média apenas 13,7 horticultores e o tamanho das

hortas são em média 3,54 hectares (MONTEIRO & MONTEIRO, 2006).

Em nenhum caso as relações entre os horticultores e as escolas quanto ao

uso da terra são formais, o que, além de serem áreas urbanas, limitam a

participação desses agricultores nas políticas públicas voltadas para a agricultura

familiar: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF,

a assistência Técnica e Extensão Rural - ATER e o Programa de Aquisição de

Alimentos - PAA.

Page 71: Dissertação..Hortas Comunitárias

71

O sistema de produção nas hortas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE conta

com mão-de-obra majoritariamente familiar representada por 71% dos casos, e os

horticultores em geral são provenientes de outros municípios do Nordeste,

herdando o mesmo modo de produção da maioria das unidades produtivas na

zona rural do semi-árido brasileiro, Figura 8a e b.

Foi observado que as técnicas de cultivo são primárias em relação à:

espaçamento, quantidade e qualidade de sementes no semeio, adubação e

irrigação, que variam consideravelmente de uma horta para outra e dentro delas,

sendo geralmente muito adensados. Por exemplo, a qualidade das sementes de

coentro utilizada é de sementes não certificadas, o que compromete quanto à

capacidade de germinação e qualidade genética, ocasionando que os

horticultores a utilizem em quantidade maior durante o semeio. De forma

semelhante, a adubação é feita conforme o critério de cada horticultor, pois não

existe um acompanhamento técnico nem análises de solo. Não foi observada a

prática de rotação de culturas ou descanso dos canteiros, configurando uma

produção bastante intensiva, provavelmente devido à escassez de espaço.

Com respeito à comercialização da produção, os entrevistados afirmaram

que 45% da produção são comercializadas no próprio local da horta, 27% nas

feiras livres semanais e mercados públicos, 10% vendem de porta em porta e

mercadinhos de bairro, Figura 8c. Sobre as dificuldades na comercialização 30%

declararam que não têm problemas para comercializar a produção, mas os

demais horticultores apontaram a falta de comprador, concorrência, falta de

estrutura e de organização, assim como preços baixos e falta de pagamento dos

compradores nas vendas à prazo, (Figura 8 d). Em geral, à essas dificuldades

prevalecem estratégias individuais, e nos casos daqueles horticultores que têm

clientes maiores, estes compram a produção dos vizinhos para garantir o volume

negociado com seus clientes.

Foi detectada a existência de uma grande diversidade de espécies em

cultivo: 23 de hortaliças comestíveis, sendo as principais: alface (Lactuca sativa

Page 72: Dissertação..Hortas Comunitárias

72

L.), coentro (Coriandrum sativum L.), cebolinha verde (Allium fistulosum L.) e

couve folha (Brassica oleracea L. var. acephala D.C.)e 42 espécies de hortaliças

medicinais, sendo as principais: capim santo (Cymbopogon citratus (DC) Stapf),

erva cidreira (Melissa officinalis L.), mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e

hortelã (Mentha spp.). Também foram identificadas mudas de plantas medicinais,

não havendo registro da existência de plantas ornamentais sendo cultivadas,

Figura 9.

Na maioria das vezes a água utilizada na produção das hortaliças, 87% dos

horticultores obtém água do sistema de abastecimento público, submetida a

tratamento, captada do Rio São Francisco, (Figura 10 a), água potável, com

qualidade para consumo humano, apresentando índices médios aceitáveis de

turbidez e cloro, segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento –

COMPESA em Petrolina. Os pagamentos pelo fornecimento dessa água são

realizados pelas escolas, cujos custos são consideráveis, chegando a R$

6.000,00/mês em alguns casos.

Apenas a água utilizada na horta na área da Diocese de Juazeiro a água

chega diretamente do Rio São Francisco sem tratamento. É doada por uma

empresa de mineração que tem uma adutora que passa próximo ao local. O

sistema de rega em 94% dos casos é feito manualmente com uso de regadores,

(Figura 10 b). Geralmente o turno de rega é realizado duas vezes ao dia e com o

auxilio de reservatórios abertos espalhados pela horta. Esses reservatórios são

lavados em média uma vez a cada mês.

Sobre a adubação dos canteiros, 48% dos horticultores utilizam esterco

caprino, ovino e em menor quantidade o esterco bovino. Em Juazeiro – BA

observou-se alguns horticultores utilizando resíduos de café, adquirido a partir de

uma indústria próxima da horta. 30% dos produtores utilizam adubação

nitrogenada à base de uréia e 10% utilizam formulações comercias de NPK,

Figura 10 c.

Page 73: Dissertação..Hortas Comunitárias

73

Page 74: Dissertação..Hortas Comunitárias

74

Observou-se que o esterco é adquirido em sacos de nylon ou carroças.

Registra-se que 60% informaram que praticam compostagem, (Figura 10 d)

porém, a forma de fazer a compostagem relatada é bastante simplificada,

colocam apenas água e o curtimento ocorre de uma a três semanas, menos

tempo que o recomendado por Oliveira (2004), que indica 90 a 120 dias.

Page 75: Dissertação..Hortas Comunitárias

75

Por outro lado, também foi observado que esse o esterco é aplicado em

pequenas quantidades, menores que 10 kg por m2 por ciclo, aspecto que coincide

com a recomendação de Oliveira (2004). Porque em solos continuamente

cultivados as aplicações freqüentes de pequenas quantidades são mais eficientes

que grandes quantidades aplicadas a longos intervalos.

Observou-se a utilização de carvão com o objetivo de retirar o excesso de

salinidade dos solos, porém, sabe-se que esse elemento tem outras

características benéficas que vêm sendo pesquisadas, esse produto além de

melhorar algumas propriedades físicas do solo (estrutura, aeração, retenção de

água), apresenta quantidades (teores) significativas de macro e micronutrientes

(UCHOA et al., 2006). Porém, a análise do solo não é praticada nas hortas,

segundo os entrevistados, por falta de recursos (Figura 10 e). A realização dessas

análises permitiria recomendar uma adubação mais adequada.

O principal método de controle de ervas é o manual, 89% dos entrevistados

que disseram que utilizam normalmente uma enxada estreita que facilita as

capinas entre as plantas (Figura 10 f). Em nenhum caso foi observada a utilização

de herbicidas. As principais ervas espontâneas (ou daninhas) são: bredo

(Amaranthus viridis L.), tiririca (Cyperus rotundus L), quebra-pedra (Phyllantus

niruri L) e várias espécies de gramíneas.

3.1 Pragas e doenças

No controle de pragas, 55% dos entrevistados afirmaram que utilizam

apenas controle manual, 17% utilizam produtos naturais e apenas 2% utilizam

controle com agrotóxicos. Sobre a ocorrência de sintomas de doenças, foi citada

como a mais freqüente a queima nas folhas da alface, seguida do tombamento

das plântulas do coentro e em menor incidência uma queima nas folhas da

cebolinha verde e uma clorose nas folhas do coentro, Figura 8.

Com base no diagnóstico dos dois principais problemas detectados no

diagnóstico que causam os maiores danos econômicos para os horticultores,

Page 76: Dissertação..Hortas Comunitárias

76

queima nas folhas da alface e tombamento de plântulas de coentro, foram

realizadas pesquisas na literatura e conduzidos os testes no laboratório de

fitopatologia da UNEB.

No caso da queima e bronzeamento das folhas da alface (Figura 11 f)

foram descartadas as hipóteses de fungos ou bactérias. O teste de ELISA feito

com apoio da EMBRAPA Hortaliças em Brasília identificou o Groudnut ringspot

vírus - GRSV (Tospovirus). Ávila et al. (1996) identificaram no submédio São

Francisco plantas de alface, tomateiro e pimentão infectadas com GRSV. Nos

anos de 1992 e 93 foi realizado um levantamento em seis Estados brasileiros por

Lima et al. (2000), que identificou em tomateiro dentre outras espécies de

tospovirus o GRSV em Pernambuco.

Depois desse diagnóstico continuou-se a investigação com a alface e foi

identificado um gênero de Thrips que, em conjunto com o gênero Frankliniella,

segundo a literatura, provavelmente são agentes transmissores da tospovirose,

Figura 11 e. A relação entre tripes e o GRSV é classificada como

circulativa/propagativa, pois durante a primeira picada ou prova do inseto na

planta infectada ele pode adquirir o vírus e transmitir durante toda sua vida para

as outras plantas (ÁVILA, 1993; WIJKAMP, 1995 citados por BORGES, 2006).

Além disso, de forma semelhante ao tospovirus, os tripes possuem uma ampla

gama de hospedeiros em plantas cultivadas e silvestres (LEWIS, 1973 citado por

BORGES, 2006).

A preferência para alimentação e oviposição de Frankliniella occidentalis

em alface, no estágio vegetativo, foi maior em relação a outros quatro

hospedeiros testados, além de proporcionar um melhor desenvolvimento das

fases imaturas, sugerindo que plantas novas de alface são muito suscetíveis à

infestação por F. occidentalis (BAUTISTA & MAU, 1994 citado por LOPES et al.,

2000).

Page 77: Dissertação..Hortas Comunitárias

77

Page 78: Dissertação..Hortas Comunitárias

78

Não se conhece até o momento alguma substância que seja capaz de

controlar ou impedir a infecção causada pelos vírus transmitidos para as plantas

pelos seus vetores (SATAPATHY & ANJANEYULU, 1992 citado por BORGES,

2006). Em decorrência desse fato as medidas para controle das viroses são

preventivas e direcionadas para o controle dos seus vetores, ou através de

melhoramento genético com a utilização de espécies resistentes ou tolerantes.

Sendo assim, sugere-se utilizar várias estratégias e métodos para seu controle,

auxiliando-se do manejo integrado, com o objetivo de manter o nível da incidência

da doença abaixo do limite de dano econômico e sem prejuízo ao

agroecossistema (GUIMARÃES, 1999; BORGES, 2007).

Sobre o tombamento de plântulas de coentro (Figura 11 g) foi identificado

que as sementes utilizadas pelos horticultores são produzidas na própria região e

não são certificadas, provavelmente esses produtores utilizam pouca tecnologia

recomendada nas pesquisas e instruções oficiais (NASCIMENTO et al., 2006).

Foram adquiridas cinco amostras de sementes nos mesmos locais onde uma

parte dos horticultores também as adquire, nas feiras livres das cidades e,

conduzidos testes de sanidade e germinação para comparar com uma amostra de

sementes certificadas e com tratamento antifúngico que também são

comercializadas por lojas especializadas, porém pelo dobro do valor.

Foram identificados os patógenos Alternaria spp. e Aspergillus sp. em

100% das amostras de sementes de coentro, além percentual de germinação

abaixo do recomendado, inclusive nas sementes certificadas. Por conta das

características da horticultura urbana ser de base familiar, o manuseio e o

armazenamento serem caseiros e as precárias condições econômicas desses

horticultores, compreende-se a opção daqueles horticultores no uso dessas

sementes produzidas na região, com qualidade relativamente inferior, sem

tratamento químico e pela metade do preço. Constata-se com essas informações

que existe um mercado local de sementes que contribui com a horticultura

urbana, porém com sementes sem qualidade.

Page 79: Dissertação..Hortas Comunitárias

79

3.2 Potencial para produção agroecológica

No ambiente das hortas estudadas foi comum ouvir durante as entrevistas

a opinião de que não se aplicam agrotóxicos, uma vez que não é permitido por

eles. A horta do Bairro João Paulo II em Juazeiro – BA foi a única a constituir uma

associação dos horticultores, a qual conta com um regulamento para o cultivo

orgânico, cujo conteúdo prevê até a expulsão do associado que utilizar adubo

químico ou agrotóxico. Essa associação é relativamente assistida pela Diocese de

Juazeiro-BA, além do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada –

IRPAA, e pela Cooperativa da Agropecuária Familiar Orgânica do Semi-Árido –

COOPERVIDA e recentemente pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB,

através de projetos de extensão.

Embora exista a decisão pela produção orgânica nessa Associação, não se

pode dizer que a produção seja mais tecnificada que as outras hortas, pois, todas

têm o mesmo grau de simplicidade, o que é justificado pelos entrevistados por

não disporem de capital, assistência e conhecimentos técnicos para investir mais

na produção orgânica.

No caso da horta do CEMIC em Petrolina-PE, horta que fica num local de

grande visibilidade na cidade e recebe constantes visitas de professores e

estudantes para trabalhos escolares, também não é permitido o uso de nenhum

agrotóxico, mas é tolerado o uso da uréia na adubação. O autocontrole entre os

horticultores parece ser eficiente, pois segundo eles dificulta até a pulverização de

algum produto com conteúdos naturais, o que poderia gerar denúncias entre eles,

seja por medo de perderem clientela ou mesmo para obter vantagem na

concorrência.

Destaca-se ainda a horta localizada na Escola Otacílio Nunes em Petrolina

– PE, que fica numa região entre vários bairros populosos de Petrolina e ao lado

de uma grande feira pública, onde foi observado o melhor grau de tecnificação e

organização entre alguns dos horticultores. Nesta horta eles preparam canteiros

com altura padronizada, bem nivelados, além do esterco utilizam o carvão e

Page 80: Dissertação..Hortas Comunitárias

80

aproveitam os restos de cultura, além de utilizarem a mão de obra de quase toda

a família. Na parte da colheita utilizam embalagem em sacolas plásticas

padronizadas no próprio local e detêm grande clientela.

Quando questionados se já ouviram falar em agroecologia ou agricultura

orgânica 94%, (Figura 12 a), responderam que sim, e em seguida foi perguntado

se estariam dispostos a produzir somente produtos orgânicos nesse momento e

97% dos entrevistados responderam afirmativamente, Figura 12 b. Os

horticultores disseram que conhecem as vantagens da produção orgânica para

eles e para os consumidores. Porém os limites para converter suas produções

para o sistema orgânico é que não dispõem de nenhum capital extra, nem de

informações, capacitação e acompanhamento técnico, portanto torna-se arriscado

fazer a conversão por conta e risco próprios. Ainda ponderaram que se os custos

fossem iguais aos que eles já investem atualmente seria mais acessível, mas eles

não podem pagar pela capacitação e acompanhamento técnico.

Outro fator limitante para a conversão de sistema de produção é que

muitos deles já são pessoas idosas, e alguns justificaram que estão cansados da

vida, e uma mudança a essa altura causaria mudanças que eles não estariam

dispostos a enfrentar. Outros disseram ter medo de ficarem dependentes das

novas técnicas e não terem como arcar com possíveis novos custos inerentes à

proposta.

Mesmo assim, 81% dos entrevistados se mostraram dispostos a participar

de capacitações em agroecologia, desde que os horários não interferissem na

rotina diária de trabalho, (Figura 12 c). Quando perguntados sobre o interesse em

participar de pesquisas junto com a UNEB para o melhoramento da produção

87% disseram estar dispostos (Figuras 12 d), e ainda confirmaram os principais

problemas para pesquisar, as doenças e pragas, exemplificando com a queima

das folhas da alface (41%) e a morte do coentro (20%), Figuras 12 e.

Page 81: Dissertação..Hortas Comunitárias

81

Em Juazeiro e Petrolina, duas cidades pólo de dois Territórios Rurais

definidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA estão instalados

diversos órgãos públicos de pesquisa, extensão e educação agropecuária tais

como: EMBRAPA, UNEB, Universidade Federal do Vale do São Francisco –

Page 82: Dissertação..Hortas Comunitárias

UNIVASF, Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária – IPA,

Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. – EBDA, CEFET, Companhia

de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF

além das Prefeituras de Juazeiro e Petrolina, conjunto de instituições que reúne

capacidade técnica e política para compreender as possibilidades da agricultura

familiar urbana com base agroecológica.

Essa pesquisa oferece dados para pautar um planejamento de ações

públicas que contemplem as demandas desses grupos, questões que estão

intimamente relacionadas com o planejamento urbano e o abastecimento

alimentar com hortaliças frescas e saudáveis frente ao grande crescimento dessa

população.

4 CONCLUSÕES

Os principais fatores limitantes encontrados no sistema produtivo das hortas

comunitárias são:

1. As relações informais sobre o uso da terra e sua característica urbana

limitam o acesso às políticas públicas de produção existentes voltadas para

o apoio da agricultura familiar com respeito ao crédito, a assistência técnica

e comercialização de alimentos;

2. As despesas com a água não são arcadas pelos agricultores e os baixos

rendimentos atuais da atividade sugerem não haver sustentabilidade

econômica;

3. As tecnologias de cultivo e manejo das hortaliças caracterizam-se como

pouco tecnificada e inadequadas em relação ao espaçamento, qualidade e

quantidade de sementes utilizadas no plantio, compostagem, adubação e

manejo de fitopatógenos;

Page 83: Dissertação..Hortas Comunitárias

4. Os principais problemas fitopatológicos estão relacionados à tospovirose na

alface ocasionada pelo Groudnut ring spot vírus – GRSV e ao tombamento

de plântulas de coentro causado por fungos trazidos pelas sementes não

certificadas, principalmente Alternaria spp. e Aspergillus sp.

Os potenciais encontrados nessas hortas que permitem vislumbrar um

planejamento para fomentar a produção agroecológica são:

1. O trabalho comunitárias nas hortas de Juazeiro – BA e Petrolina – PE têm

base familiar e se ajusta à produção agroecológica, dadas às evidências

relativas ao trabalho familiar, grande diversidade de cultivos, baixa

utilização de insumos externos e de energia;

2. Existe um interesse coletivo dos horticultores sobre o modo de produção

sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos;

3. Existem iniciativas de grupos de horticultores que definiram o modelo de

produção agroecológico como prioridade;

4. Existem sementes de coentro produzidas na região com relativa qualidade

e que são comercializadas sem o uso de fungicidas e não oferece riscos no

seu manuseio e favorece a produção agroecológica;

5. Em Juazeiro – BA e Petrolina – PE existem diversos órgãos públicos com

capacidade técnica e política e, interessados na agricultura, que podem

incluir nas suas pautas a assistência à agricultura familiar urbana com base

na agroecologia.

AGRADECIMENTOS

A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e

viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse

trabalho que deram colaboração fundamental.

Page 84: Dissertação..Hortas Comunitárias

REFERÊNCIAS

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Page 87: Dissertação..Hortas Comunitárias

CAPÍTULO III

Qualidade de sementes de coentro utilizadas por hor ticultores urbanos de

Juazeiro – BA e Petrolina – PE

Artigo formatado com base nas normas para publicação do periódico “Horticultura

Brasileira”, para o qual será submetido.

Page 88: Dissertação..Hortas Comunitárias

RESUMO

Com o objetivo de conhecer a qualidade das sementes utilizadas pelos

horticultores urbanos em Juazeiro-BA e Petrolina-PE foram estudadas quatro

amostras de sementes originadas de feiras públicas, uma proveniente de um

produtor e uma composta por semente certificada comercial, que serviu como

testemunha. Foi conduzido um teste de sanidade pelo método de incubação em

papel de filtro. Utilizando 400 sementes por amostra, 50 sementes por gerbox, as

quais foram incubadas à temperatura ambiente e fotoperíodo de 12 horas durante

7 dias. O delineamento estatístico foi inteiramente ao acaso com oito repetições

por amostra. Na maioria das amostras examinadas verificou-se germinação

abaixo de 70%, constatou-se 40,4% e 32% de incidência de Alternaria spp. e

Aspergillus sp., respectivamente. Encontrou-se uma correlação inversa e

significativa entre Aspergillus sp. e a germinação no valor de – 0,59. A opção

arriscada dos horticultores deve-se aos preços mais baixos das sementes não

certificadas, menores riscos de contaminação com os fungicidas. O fato evidencia

a necessidade de maior apoio técnico aos horticultores, e os produtores de

sementes.

Palavras chave: Agricultura Urbana, Coriandrum sativum L., teste de sanidade

Page 89: Dissertação..Hortas Comunitárias

ABSTRACT

With the objective to know the seed quality used by urban farmers in Juazeiro –

BA e Petrolina – PE, four samples of seeds were studied from open markets. One

sample came from a seed producer and the control was a commercial brand. A

seed health test through the incubation with filter paper method was carried out,

with 400 seeds per sample and 50 seeds per gerbox. They were incubated at

room temperature with a photoperiod of 12 hours for 7 days. The statistical design

was entirely randomized with eight replication per sample. For the majority of the

samples the germination was under 70%. It was observed 40,4% and 32%

incidence of Alternaria spp. and Aspergillus sp. respectively. An inverse correlation

between Aspergillus sp. and germination was found with the value of - 0.59. The

risky choice of farmers come from the lower prices of non-certified seeds and the

lower risk of contamination from seed pesticides. The results express the

necessity of a bigger technical support for farmers and seed producers.

Keywords: urban agriculture, Coriandrum sativum, health test ,

Page 90: Dissertação..Hortas Comunitárias

1 INTRODUÇÃO

A agricultura urbana e periurbana produzem alimentos para

aproximadamente 700 milhões de pessoas que moram nas cidades, significa um

quarto da população urbana do mundo (FAO, 2002). A produção urbana mundial

em grande parte é constituída de hortaliças e frutas. Um levantamento prévio feito

pelo autor em Juazeiro – BA e Petrolina – PE mostrou que na maioria das hortas

urbanas, o coentro (Coriandrum sativum L.) está entre as três principais plantas

cultivadas, ao lado da alface (Lactuca sativa L.) e cebolinho (Allium fistulosum L.),

gerando trabalho e renda para mais de 300 agricultores familiares urbanos

espalhados em 16 hortas nas duas cidades.

O coentro é cultivado na maioria dos estados do Norte e Nordeste do

Brasil, é a hortaliça folhosa condimentar de maior consumo, crua ou cozida,

especialmente no Nordeste (OLIVEIRA et al., 2007), presente na alimentação

diária (MARQUES & LORENCETTI, 1999). No estado da Paraíba, é cultivado em

quase todas as micro-regiões por pequenos agricultores, sem nenhuma

orientação técnica, o que tem proporcionado baixa produtividade (OLIVEIRA et

al., 2004).

É uma espécie da família das Apiaceae, cuja origem seja provavelmente a

Europa, região do Mediterrâneo, é também considerada uma espécie subutilizada

ou negligenciada, embora tenha grande popularidade na mesa dos brasileiros

nortistas e nordestinos, no entanto poucas, pesquisas têm sido realizadas com

essa cultura (DIEDERICHSEN, 1996). As sementes de coentro formam um

diaquênio, um fruto/semente formado de dois aquênios, que normalmente são

comercializados juntos.

No Brasil algumas pesquisas vêm se reportando aos problemas de

qualidade da semente de coentro correlacionando com fungos que se disseminam

através destas, provocando baixo vigor e dificultando o estabelecimento das

plantas em campo. Dentre os patógenos destacam-se Alternaria dauci (Kuhn)

Page 91: Dissertação..Hortas Comunitárias

Groves & Skolko e Alternaria alternata (Fr.:Fr.) Keissl (PEREIRA et al.,

2005; REIS et al., 2006;).

As sementes de coentro utilizadas nos plantios de Juazeiro – BA e

Petrolina – PE não têm certificação nem tratamento antifúngico, provêm de

fornecedores da própria região e são vendidas nas feiras de bairro. O fato das

sementes de coentro serem produzidas localmente para a horticultura urbana

também foi verificada em São Luiz – MA por Santos et al., (2003).

Os horticultores justificam o uso dessas sementes devido ao alto custo das

sementes comerciais certificadas, visto que as não certificadas custam quase

50% menos, e tentam reverter as perdas da qualidade com o aumento da

quantidade de sementes no plantio. Essas sementes também não têm tratamento

químico, argumento também utilizado pelos agricultores urbanos devido ao

sistema produtivo ser dependente da mão de obra familiar, sendo o

armazenamento e a semeadura caseiro e manual respectivamente, conferindo

certa segurança contra intoxicações.

O objetivo deste trabalho foi estudar da qualidade de seis lotes de

sementes de coentro provenientes de feiras livres, de produtor e de sementes

comerciais certificadas, bem como identificar os fitopatógenos presentes nas

mesmas, correlacionando com os percentuais de germinação entre sementes

comerciais tratadas e as sementes produzidas localmente.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia do

Departamento de Ciência e Tecnologia Social (DTCS) da Universidade do Estado

da Bahia (UNEB) Campus III, Juazeiro – BA, entre os meses de julho e setembro

de 2007, (Figura 13).

Previamente foram pesquisados os principais locais de compra de

sementes por parte dos agricultores, sendo identificadas oito feiras públicas, além

Page 92: Dissertação..Hortas Comunitárias

92

de estabelecimentos comerciais que vendem sementes certificadas e um produtor

de sementes, totalizando 18 amostras. Dentre os lotes de sementes das feiras,

para ter uma amostra menor, foram sorteadas quatro e consideradas a amostra

do produtor e da casa comercial, perfazendo seis amostras ao todo. De cada

amostra, foi considerada uma quantia de 250g.

Em todos os lotes testados as sementes estavam inteiras, com o diaquênio

unido, para manter condições iguais, vez que, Pereira et al. (2005) testaram a

germinação com as “sementes partidas” e verificaram aumento na velocidade de

germinação sem, contudo alterar a germinação total, por esta razão, neste

trabalho, as sementes não foram divididas.

O teste de sanidade dos lotes de sementes seguiu a metodologia descrita

em Brasil (1992) e Pavan (1997). Separaram-se oito amostras contendo 400

sementes inteiras para cada lote, representados por oito repetições com 50

sementes cada. As sementes foram plaqueadas em caixas gerbox, com auxílio de

pinça flambada, sobre papel de filtro previamente esterilizado em autoclave a

120ºC por 20 min. e, em seguida, umedecido com água destilada e esterilizada

para favorecer o desenvolvimento dos fungos e a germinação das sementes. As

caixas foram colocadas sobre bancada e submetidas à temperatura ambiente,

entre 25oC e 30oC, sob alternância luminosa composta por fotoperíodo com 12h

de luz e 12h de escuro, favorecido por lâmpada incandescente de 100 watts,

durante sete dias.

Para identificação dos patógenos, seis dias após o plaqueamento,

prepararam-se lâminas com corante azul de Amann e utilizou-se literatura

especializada para identificação (BARNNET & HUNTER, 1972) e em seguida foi

procedida a contagem das sementes com os dois principais

sintomas/fitopatógenos encontrados com auxílio de uma lupa (Figura 13 d). O

percentual de germinação foi determinado em primeira contagem aos sete dias

após o plaqueamento.

Page 93: Dissertação..Hortas Comunitárias

O delineamento foi inteiramente casualizado. As análises estatísticas foram

realizadas com auxílio do Programa SISVAR, com o teste de médias utilizando

Tukey a 5% de probabilidade e do SAS, para calcular a correlação entre a

germinação e a incidência dos fungos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas seis amostras de sementes avaliadas, foram identificadas Alternaria

spp. e Aspergillus sp. (Tabela 2). Ocorreram ainda Fusarium sp. e crescimento

bacteriano em quantidades insignificantes, portanto foram desprezadas. A

incidência de fungos em 100% das amostras revela um quadro relativamente

preocupante. As amostras da feira livre de Juazeiro – BA e do produtor

apresentaram as maiores taxas de germinação, uma das menores taxas de

infecção dos dois fungos.

Nas amostras de sementes sem certificação, constatou-se alta incidência

de fitopatógenos, que atingiu até 40,45% de infecção de Alternaria spp. e 32,00%

de Aspergillus sp.. O lote de sementes comerciais tratadas com captan

apresentou os dois fungos, porém com incidência de 9,25% e 0,25%

respectivamente (Tabela 2), embora a germinação tenha sido de apenas 51,12%.

Esses resultados concordam com o relato de Pereira et al., (2005) e Reis et al.,

(2006), que mostraram que mesmo as sementes comerciais com tratamento

fungicida não estão livres de patógenos, especialmente aquelas tratadas com

captam, pois, a localização da A. dauci (Kuhn) Groves & Skolko, é mais provável

no embrião e/ou endosperma das mesmas, como foi observado por Muniz & Porto

(1998 citado por REIS et al., 2006).

Por outro lado, diferentemente dos resultados de Reis et al. (2006), foram

encontrados níveis significantes de Aspergillus sp, indicando que nas condições

de Juazeiro – BA e Petrolina – PE esse fitopatógeno merece novos estudos.

A A. alternata, é encontrada constantemente associada às sementes de

cenoura, embora seja considerado contaminante saprófita (CUNHA et al., 1987 e

Page 94: Dissertação..Hortas Comunitárias

94

STRANDBERG, 1984 citados por REIS et al., 2006), quando associado com A.

dauci, pode causar danos à qualidade fisiológica das sementes e tombamento de

plântulas (MUNIZ & PORTO, 1998 citado por REIS et al., 2006). A relação entre

esses fungos e suas conseqüências no tombamento de plântulas de cenoura

poderá ser semelhante com os sintomas encontrados com o tombamento e falhas

nas fileiras de coentro nas condições de Juazeiro – BA e Petrolina – PE. Porém,

testes com plântulas provenientes de sementes infectadas devem ser

posteriormente realizados, como também a identificação da espécie de Alternaria.

Por outro lado, os resultados desse experimento permitem afirmar que

existem dois lotes de sementes não certificadas, lotes 4 e 5, com qualidades

fisiológica e fitopatológica superiores às certificadas, o que pode ser explicado

porque a qualidade da semente é determinada na área de produção das mesmas,

sendo nessa etapa onde os cuidados devem ser redobrados, porque se ocorrer

incidência de doenças no campo elas poderão ser transmitidas por sementes, e

será difícil corrigir, mesmo com tratamentos fitossanitários, com demonstraram

Pereira et al., (2005) e Reis et al., (2006).

Houve correlação no valor de – 0,59, significativa a 1% e inversamente

proporcional entre a incidência de Aspergillus sp. e a germinação. O que pode ser

constatado observando os dois lotes que tiveram maior percentual de germinação

e menor incidência de patógenos, confirmando novamente as informações de

Reis et al., (2006) e Pereira et al., (2005) sobre o prejuízo devido a esses fungos

no estabelecimento dessa cultura. No entanto apesar de ser significativa a

correlação, ela só explica apenas parte das causas das perdas na germinação,

sendo provável que outras características influenciem no decréscimo da

germinação, provavelmente resultante do processo de produção das sementes.

Os resultados de germinação mais promissores, 69,5% e 65,5%, obtidos

nos lotes provenientes da feira de Juazeiro e do produtor respectivamente,

considerando as condições de temperatura do experimento, acima de 25oC, estão

próximos do valor obtido por Pereira et al. (2006) que encontraram 64% de

germinação nessa temperatura. Segundo esses autores, a faixa de temperatura

Page 95: Dissertação..Hortas Comunitárias

utilizada no presente experimento induz a uma termo-inibição, um processo

reversível, uma vez que a semente germina quando a temperatura decresce para

um nível adequado, ou à termo-dormência (ou dormência secundária), onde as

sementes não germinam mesmo após a diminuição da temperatura.

Existem pesquisas recentes que indicam métodos de colheita e

armazenamento de sementes de coentro (NASCIMENTO, 2006), portanto os

resultados encontrados nesse trabalho sugerem que as prováveis causas dos

resultados encontrados em sementes não certificadas devem-se ao processo de

produção das sementes, o que não foi possível verificar nesse trabalho, e poderá

ser feito posteriormente.

Devido o alto custo das sementes comerciais certificadas para esse

segmento produtivo, visto que as não certificadas custam quase 50% menos, com

base nos resultados encontrados nesse experimento, podem ser compreendidos

os motivos da opção desses horticultores urbanos, assumindo grandes riscos de

contaminarem seus solos já escassos e perdendo produtividade. Esse fato

evidencia a necessidade de maior apoio a esses horticultores, como também aos

produtores de sementes, dada a importância cultural, social e econômica

traduzido no consumo diário do coentro pela população.

AGRADECIMENTOS

A CAPES e à UNEB que apoiaram o desenvolvimento dessa pesquisa e

viabilizaram sua execução e, aos horticultores urbanos, beneficiários desse

trabalho que deram colaboração fundamental.

Page 96: Dissertação..Hortas Comunitárias

REFERÊNCIAS

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Page 98: Dissertação..Hortas Comunitárias

98

Page 99: Dissertação..Hortas Comunitárias

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em seguida estão colocadas as considerações finais organizadas em

relação a cada um dos três objetivos específicos definidos nessa dissertação. Em

relação ao primeiro objetivo conclui-se:

i) O perfil dos horticultores comunitários existentes no dipolo Juazeiro – BA e

Petrolina – PE, é composto na sua maioria por mulheres, pessoas adultas e

idosas, com pouca escolaridade e uma renda média abaixo de um salário

mínimo e que produzem alimentos para o autoconsumo, fornecimento às

escolas e para comercialização dos excedentes. São pessoas que migraram

de áreas rurais de outros municípios do semi-árido do Nordeste do Brasil,

por isso trazem consigo o modo de trabalho familiar, o que sugere um novo

conceito, agricultura familiar urbana, que pode vir a ser reconhecido pelo

Estado, desconsiderando apenas o caráter urbano da terra, assemelhando-

se ao do estabelecimento rural através das demais características.

ii) O fato de que as mulheres compõem a maioria das trabalhadoras nas

hortas, exercendo um papel produtivo, na alimentação e na geração de

renda, soma-se aos papéis domésticos e reprodutivos no cuidado com a

família, portanto, essas questões devem ser levadas em consideração no

momento de qualquer intervenção futura para melhoria do trabalho nas

hortas, para que não as sobrecarregue ou para não cometer injustiças

Page 100: Dissertação..Hortas Comunitárias

100

favorecendo mais aos homens em detrimento delas, promovendo, uma

divisão de responsabilidades de forma equilibrada.

iii) Considerando a importância social, econômica que contrasta com a

informalidade das condições de trabalho desses agricultores, faz-se

necessário a construção de políticas e programas locais em apoio às hortas

comunitárias que inclua a formalização das relações de mútuo benefício

entre as famílias e as escolas no uso dos terrenos e da água e o incentivo à

produção agroecológica, favorecendo a aproximação desses grupos ao

Sindicato dos Trabalhadores Rurais, órgãos de pesquisa e de extensão rural.

iv) Será necessário incentivar e apoiar a organização de associações a fim

de fortalecer as relações dentro e entre os grupos, para defender seus

interesses junto ao poder público, além de ampliar sua visibilidade enquanto

fornecedores de produtos saudáveis, provenientes de uma agricultura de

baixos impactos ambientais e de importante função social, estimulando a

ampliação do consumo de hortaliças frescas e sadias pela sociedade local.

v) Será importante aprofundar os estudos entre as famílias participantes da

AUP e fazer um comparativo com os dados do PNAD, buscando

compreender se existe diferenças nas condições de segurança alimentar

entre essas famílias devido ao seu trabalho nas hortas.

Sobre o segundo objetivo dessa dissertação, seguem abaixo as conclusões:

i) Os principais fatores limitantes do sistema produtivo das hortas

comunitárias são:

a) As relações informais sobre o uso da terra e sua característica urbana

limitam o acesso às políticas públicas de produção existentes voltadas

para o apoio à agricultura familiar com respeito ao crédito, a assistência

técnica e comercialização de alimentos;

Page 101: Dissertação..Hortas Comunitárias

101

b) As despesas com a água não são arcadas pelos agricultores e os

baixos rendimentos atuais da atividade sugerem não haver

sustentabilidade econômica;

c) As tecnologias de cultivo e manejo das hortaliças caracterizam-se

como pouco tecnificada e inadequadas em relação ao espaçamento,

qualidade e quantidade de sementes utilizadas no plantio, compostagem,

adubação e manejo de fitopatógenos;

d) Os principais problemas fitopatológicos estão relacionados à

tospovirose na alface ocasionada pelo Groudnut ring spot vírus – GRSV e

ao tombamento de plântulas de coentro causado por fungos trazidos

pelas sementes não certificadas, principalmente Alternaria spp. e

Aspergillus sp.

ii) Os fatores potenciais encontrados nas hortas que permitem vislumbrar um

planejamento para fomentar a produção agroecológica são:

a) O trabalho nas hortas tem base familiar e se ajusta à produção

agroecológica, dadas às evidências relativas ao trabalho familiar, grande

diversidade de cultivos, baixa utilização de insumos externos e de energia;

b) Existe um interesse coletivo dos horticultores sobre o modo de produção

sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos;

c) Existem iniciativas de grupos de horticultores que definiram o modelo de

produção agroecológico como prioridade;

d) Existe um mercado local de sementes de coentro que contribui com a

horticultura urbana, que pode ser incentivado para qualificar a produção

observando normas e técnicas oficiais e da agricultura orgânica,

favorecendo a transparência em relação à procedência e a qualidade das

sementes oferecidas no mercado local;

Page 102: Dissertação..Hortas Comunitárias

102

e) Em Juazeiro – BA e Petrolina – PE existem diversos órgãos públicos

com capacidade técnica e política e, interessados na agricultura, que

podem incluir nas suas pautas a assistência à agricultura familiar urbana

com base na agroecologia.

Sobre o terceiro objetivo da dissertação seguem abaixo as conclusões:

i) 100% das sementes analisadas apresentaram ocorrência dos fungos

Aspergillus. spp e Aspergillus sp., que podem estar relacionados com

os sintomas encontrados em campo: tombamento e falhas nas fileiras.

Porém, testes com plântulas provenientes de sementes infectadas

devem ser posteriormente realizados.

ii) Duas amostras de sementes de coentro não certificadas e sem

tratamento químico apresentaram qualidade fisiológica e fitopatológica

superior às sementes certificadas, o que provavelmente atribui-se ao

sistema de produção das mesmas.

iii) Devido o alto custo das sementes comerciais certificadas para esse

segmento produtivo, visto que as não certificadas custam quase 50%

menos, com base nos resultados encontrados nesse experimento,

podem ser compreendidos os motivos da opção desses horticultores

urbanos por essas sementes, assumindo grandes riscos de

contaminarem seus solos já escassos e perdendo produtividade.

iv) É evidente a necessidade de maior apoio a esses horticultores,

como também aos produtores de sementes, dada a importância

cultural, social e econômica traduzido no consumo diário do coentro

pela população.

A hipótese considerada para essa pesquisa se confirma a partir de que:

i) Foi revelado um contingente expressivo de horticultores que

trabalham nas duas cidades, gerando trabalho, renda e alimentos para

Page 103: Dissertação..Hortas Comunitárias

103

seu sustento, para fornecimento às escolas e para a comercialização

dos excedentes nos dos bairros, contribuindo com a segurança

alimentar das cidades, além de ser uma experiência com importância

ambiental, na medida em que utiliza poucos insumos químicos na

produção, combustíveis e embalagens na comercialização.

ii) As informações reveladas com a pesquisa surpreendem justamente

por não haver visibilidade, nem o conhecimento da existência de tantos

grupos funcionando, alguns durante várias décadas e sem uma

intervenção pública planejada.

iii) Além disso, as várias questões enumeradas nessa pesquisa a título

de demandas de apoio social, técnico, científico e político oferecem o

grau e a medida para o apoio da comunidade acadêmica da UNEB e

aos demais órgãos envolvidos com a agricultura nos dois municípios.

Finalmente, pode se recomendar que, faz-se urgente reconhecer as

iniciativas que ocorrem na agricultura urbana em cada uma das cidades. O

exemplo da experiência de Cuba mostra que se esse modelo de agricultura tem

grande potencial se for suficientemente organizado com esforços da sociedade e

governo, podendo movimentar uma economia de Estado e conferir soberania

alimentar a uma nação inteira.

Se nas condições de Cuba com suas reduzidas dimensões geográficas e

submetido às condições de um bloqueio econômico a agricultura familiar urbana e

orgânica foi a estratégia para a soberania alimentar, o Brasil com sua dimensão

continental, aqui no submédio do Rio São Francisco com a experiência agrícola

do dipolo irrigado de Juazeiro e Petrolina e a presença do povo forte sertanejo,

são condições muito favoráveis que permitem vislumbrar sucesso igual ou até

maior.

Devem ser tomadas medidas políticas com alicerce técnico com o objetivo

de oferecer o necessário apoio para o desenvolvimento da agricultura familiar

Page 104: Dissertação..Hortas Comunitárias

104

urbana com base agroecológica nas duas cidades, dando conta de minimizar

tanta miséria que se avoluma nas periferias, oportunizando uma chance de fazer

mudanças sociais e econômicas significativas para esse público através da

produção de hortaliças saudáveis, melhorando as condições de vida de sua

população através da renda e da sua alimentação.

Conclui-se que a agricultura urbana que se desenvolve em Juazeiro – BA e

Petrolina – PE tem importância social e econômica relevante para mais de 300

famílias, sobretudo no envolvimento das mulheres, contribuindo com a segurança

alimentar e hábitos culturais das horticultoras (es) e dos seus clientes. Praticam

uma agricultura com potencial agroecológico que demanda apoio planejado nos

aspectos social, técnico, científico e político, principalmente no seu

reconhecimento e formalização das relações de uso da terra e da água.

Page 105: Dissertação..Hortas Comunitárias

ANEXOS

Page 106: Dissertação..Hortas Comunitárias

106

ANEXO I

1º questionário (maio2007)

Questões gerais a serem levantas na reunião com os grupos e em entrevistas

Instruções: inicialmente explicar quem é a UNEB e o pesquisador, quais objetivos

da visita e da pesquisa, que possibilidades de resultados eles poderão ter com a

participação na pesquisa: valorização do trabalho e dos seus produtos.

1. Nome do entrevistado (a) e das lideranças ou responsável pela horta?

____________________________________________________________

2. Localização, tamanho da área da horta? Se tem duas áreas separadas,

entender o porquê? (detalhar o endereço e o nome real da horta)

____________________________________________________________

3. Número de pessoas envolvidas? (número de famílias ou representante)

Quem trabalha? Adultos, crianças, idosos...

____________________________________________________________

4. A quem pertence a área? Estado, município, escola, igreja...

____________________________________________________________

5. Número de canteiros cultivados, como se organizam, por família ou por

pessoa?

A finalidade da produção? Alimentação de quem produz também?

____________________________________________________________

6. Como as famílias foram ou são escolhidas? Existe renovação de participantes?

desistem da atividade ou repassam seus lotes? Como acontece?

____________________________________________________________

7. Qual a origem horta comunitária? Porque essas áreas foram escolhidas?

____________________________________________________________

Page 107: Dissertação..Hortas Comunitárias

107

8. Qual a origem das famílias que trabalham?

9. Quais são os cultivos? Hortaliças, plantas medicinais, flores ...

____________________________________________________________

10. Como é a adubação? Esterco caprino, bovino, aves, químicos... Como é a

compra desses insumos?

____________________________________________________________

11. Como é o abastecimento da água? Quem paga, quanto paga por mês, é água

bruta ou tratada?

____________________________________________________________

12. Como é feita a comercialização? Por canteiro, por molho, no local ou à

domicílio..

____________________________________________________________

13. Como é a renda? Por canteiro, por família...

____________________________________________________________

14. Quais as maiores dificuldades? Quais são os problemas?

____________________________________________________________

15. Existe algum apoio financeiro?

____________________________________________________________

16. Existe abertura das pessoas para apoio técnico do manejo das hortas?

____________________________________________________________

17. Existiram pesquisas ou trabalhos semelhantes de assistência técnica ou

promoção das famílias e dos produtos antes?

____________________________________________________________

Page 108: Dissertação..Hortas Comunitárias

108

18. Algum órgão público ou privado dá assistência técnica?

____________________________________________________________

19. Algum órgão público ou privado já apoiou infra-estrutura de produção ou

comercialização?

____________________________________________________________

20. Quais pessoas se interessariam em participar da pesquisa, que envolverá

entrevistas e algumas reuniões? Anotar nomes.

____________________________________________________________

21. Permitem a pesquisa acontecer? Análises de solo e água?

____________________________________________________________

22. Tem perguntas ou propostas para a pesquisa acontecer da melhor forma?

____________________________________________________________

2º questionário (maio2007)

Questões específicas a serem levantas em entrevistas individuais. Utilizar o

Termo de consentimento livre e esclarecido, deixar uma cópia assinada e trazer a

outra assinada.

I – Identificação da entrevista

QUESTIONÁRIO: LOCAL DA HORTA

ENTREVISTADOR: DATA:

II – PERFIL DO ENTREVISTADO 3. Escolaridade. Até quando estudou?

1. Sexo : ( ) masculino ( ) feminino a) ( ) sem instrução

b) ( ) assina o nome

2. Faixa etária (em anos): c) ( ) sabe ler e escrever

a) ( ) de 18 a 25 e) de 51 a 55 d) ( )ensino fundamental incompleto

b) de 26 a 30 f) de 56 a 60 e) ( ) ensino fundamental completo

c) de 31 a 45 g) mais de 61 f) ( ) ensino médio incompleto

d) de 46 a 50 g) ( ) ensino médio completo

4. Renda familiar (em salários

mínimos):

5. Renda obtida na horta (em salários

mínimos):

Page 109: Dissertação..Hortas Comunitárias

109

( ) menos de 1 ( ) de 3 a 5 ( ) menos de 1 ( ) de 3 a 5

( ) de 1 a 2 ( ) mais de 5 ( ) de 1 a 2 ( ) mais de 5

6. Qual sua outra fonte de renda?

Havendo diferença entre a renda familiar e a da

horta.

a) ( ) aposentadoria

b) ( ) pensão

c) ( ) Outra. Especificar:

7. Procedência:

a) ( ) Petrolina

b) ( ) interior de Pernambuco

c) ( ) interior da Bahia

d) ( ) interior do Piauí

e) ( ) outros estados

8. Qual(is) atividades eram desenvolvida antes da hort a?

9. Porque motivo (principal) resolveu trabalhar nas ho rtas?

a) ( ) desemprego

b) ( ) necessidade de ocupação

c) ( ) já trabalhava com agricultura

d) ( ) vontade de trabalhar por conta própria

e) outro

10. Mão de obra envolvida nas hortas, quem trabalha?

a) ( ) Sozinho

b) ( ) Em família

c) ( ) Emprega pessoa quando necessário

III – QUANTO À CAPACITAÇÃO, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A POIO TÉCNICO E

FINANCIAMENTO

11. Já participou de algum curso

ou treinamento em horticultura?

( ) sim b) ( ) não

11.2. Especificar entidade que ministrou

curso ou treinamento.

a) ( ) Prefeitura

b) ( ) Igreja

Page 110: Dissertação..Hortas Comunitárias

110

11.1. Se sim... especificar qual:

a) ( ) manejo

b) ( ) associativismo/cooperativismo

c) ( ) quanto ao uso de agrotóxico

d) ( ) culinária e segurança

alimentar

e) ( ) outros

........................................

c) ( ) Embrapa

d) ( ) Sebrae

e) ( ) outra..................................................

12. Participa de alguma

agremiação onde são discutidas

questões da horta?

a) ( ) sim

b) ( ) não

12.1. Se sim... qual?

a) ( ) associação de moradores do bairro

b) ( ) associação da horta?

c) ( ) associação de idosos

d) ( )Outras ....................

13. Recebe acompanhamento

técnico?

a) ( ) sim b) ( ) não

14. Como é financiada a

produção?

a) ( ) Recursos próprios

b) ( ) Prefeitura

c) ( ) Banco do Nordeste (Pronaf,

Crediamigo)

d) ( ) outro..

..

13.1. Se sim... qual sua avaliação com

relação ao apoio técnico?

a) ( ) excelente

b) ( ) boa

c) ( ) regular

d) ( ) ruim

e) ( ) péssima

f) ( ) não quis opinar

IV – QUANTO À CONSUMO E COMERCIALIZAÇÃO

15. Principais variedades

cultivadas:

g) ( ) cebolinha verde l) ( ) berinjela

a) ( ) coentro d) ( ) couveflor h) ( ) pimenta de cheiro m)

b) ( ) alface e) ( ) tomate i) ( ) pimenta malagueta n)

c) ( ) rúcula f) ( ) rabanete j) ( ) agrião o)

Page 111: Dissertação..Hortas Comunitárias

111

16. O que você faz com as

hortaliças que produz?

a) ( ) Só consome

b) ( ) consome uma parte,

vende outra

c) ( ) vende tudo

d) ( ) doa

e) ( ) consome, vende e doa

17. Qual a forma de comercialização? (se

mais de uma, enumerar da maior para menor)

a) ( ) venda direta na horta

b) ( ) de porta em porta

c) ( ) feiras livres/mercado público

d) ( ) mercearia/comércio

e) ( ) supermercados

f) ( ) em casa

g) ( ) outro

18. Para onde vende a produção?

a) ( ) Juazeiro / Petrolina

b) ( ) Interior de Juazeiro / Petrolina

c) ( ) outros estados

19. Em sua opinião, quais as maiores dificuldades encon tradas na

comercialização das suas hortaliças?

20. Quais idéias já foram conversadas para melhorar a c omercialização?

21. Quais hortaliças são mais consumidas por você?

22. Quais hortaliças são mais procuradas pelo consumido r?

23. Conhece o valor nutricional das hortaliças (coentro , cebolinho, alface)

a) ( ) sim b) ( ) não

23.1 Se sim, de quais hortaliças?

24. Cultiva plantas medicinais?

( ) sim b) ( ) não

24.1. Se sim... quais?

a) ( ) erva-doce e) ( )hortelã i) ( )boldo n) ( )romã

Page 112: Dissertação..Hortas Comunitárias

112

b) ( ) malva f) ( )macela j) ( )erva cidreira o) ( )

c) ( ) agrião g) ( )capim santo l) ( )arruda p) ( )

d) ( )mastruz h) ( )manjericão m) ( )babosa

25. Cultiva plantas ornamentais?

a) ( ) sim b) ( ) não

24. 2. Se sim... O

que você faz com

as plantas

medicinais que

produz?

a) ( ) Só

consome

b) ( ) consome

uma parte,

vende outra

c) ( ) vende

tudo

d) ( ) doa

e) ( ) consome,

vende e doa

25.1. Se sim... quais?

.......................................................................................................

....................................................................................................

V – CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO E AMBIENTAIS

26. De onde vem a água para a

produção?

a) ( ) rede

pública

d) ( )

barreiro

b) ( ) Rio

São

Francisco

e) (

)açude

c) ( ) poço

tubular

f) ( )

cacimba

27. Qual é o método de irrigação

a) (

)regador

manual

d) (

)aspersão

convencional

b) (

)mangueira

e) ( )micro-

aspersão

c) ( )por

sulcos

f) ( )

....................

30. Qual a freqüência de limpeza

dos reservatórios de água?

33. O que mais utiliza pra adubar? (pode ser

considerada mais de uma alternativa)

Page 113: Dissertação..Hortas Comunitárias

113

a) ( ) Diariamente

b) ( ) A cada semana

c) ( ) De quinze em quinze dias

d) ( ) De mês em mês

e) ( ) Raramente

a) ( ) Esterco caprino

b) ( ) Esterco bovino

c) ( ) Terra vegetal

d) ( ) NPK

e) ( ) Uréia

f) ( ) Outro,

especificar...........................................

33.1 Se sim, faz compostagem

antes de utilizar o esterco?

a) ( ) sim b) ( ) não

34. Já foi feita alguma análise de solo ou de

água na horta?

a) ( ) sim b) ( ) não

35. Como faz o controle de ervas

daninhas? (pode ser considerada

mais de uma alternativa)

a) ( ) Manual

b) ( ) Cobertura morta

c) ( ) Controle químico

d) ( )

Outros.Especificar...............

36. Quais as principais ervas daninhas que

aparecem?

........................................................................

VI – QUANTO AO USO DE AGROTÓXICO

37. Como faz o controle de pragas?

(pode ser considerada mais de uma

alternativa)

a) ( ) Manual

b) ( ) Produtos naturais

c) ( ) Uso de plantas

(atrativas/repelentes)

d) ( ) Uso de iscas

e) ( ) Uso de produtos químicos

f) ( ) Uso de barreiras mecânicas

g) ( ) Não faz nada

h) Outro

Especificar...........................................

38. Quais as principais pragas (e espécie

atacada) que aparecem?

Page 114: Dissertação..Hortas Comunitárias

114

39. Como faz o controle de doenças?

(pode ser considerada mais de uma

alternativa)

a) Removendo as plantas atacadas

b) Uso de produtos naturas

c) Uso de produtos químicos

d) Não faz nada

e) Outro.

Qual?......................................

40. Quais as principais doenças (e

espécie atacada) que aparecem?

(aplicar somente quando houver utilização

do mesmo)

41. Já houve cursos/palestras sobre

como manusear equipamentos e os

danos que os agrotóxicos podem

causar à saúde e ao meio ambiente?

a) ( ) sim b) ( ) não

42. Tem noção das conseqüências do

uso do agrotóxico para o meio ambiente,

bem como a sua saúde e a do

consumidor?

a) ( ) sim b) ( ) não

43. É feito uso de agrotóxicos perto

dos reservatórios de água?

a) ( ) sim b) ( ) não

44. Toma precaução para evitar a

contaminação de águas próximas ou

subterrâneas por agrotóxicos ou agentes

químicos?

a) ( ) sim b) ( ) não

45. Usa equipamento de proteção

para aplicar agrotóxicos?

a) ( ) sim.

Especificar...........................................

b) ( ) não

46. O que é feito com as embalagens dos

agrotóxicos?

a) ( ) Jogadas fora no lixo comum

b) ( ) Recicladas

c) ( ) Enterra

d) ( ) Queima

e) ( ) Guarda

f) ( ) Outra...........................

47. Os aplicadores são limpos e guardados após o uso?

a) Somente limpos

b) Somente guardados

c) Nenhum dos dois

d) Os dois

Page 115: Dissertação..Hortas Comunitárias

115

e) São jogados no lixo

f) Outro....................................................

VII – AGROECOLOGIA COMO OPÇÃO

48. Já ouviu falar em agroecologia ou

agricultura orgânica?

a) ( ) sim b) ( ) não

49. Estaria disposto a produzir somente

produtos orgânicos para contribuir com a

melhoria do meio ambiente e da sua

própria alimentação?

a) ( ) sim b) ( ) não

50. Quanto estaria disposto a investir

(buscar financiamento, se possível) na

mudança de sistema de produção? (em

salários mínimos)

a) ( ) Menos de 1

b) ( ) De 1 a 2

c) ( ) De 3 a 5

d) ( ) Mais de 5

e) ( ) Não estaria disposto / apto a

investir ou buscar investimento

f) ( ) Não estaria disposto a mudar o

sistema de produção

g) ( ) Não quis opinar

50.1. Explicitar o porquê da resposta se

estiver disposto a investir

50.2. Explicitar o porquê de não estar

disposto a investir

51. Estaria disposto a participar de

capacitação em agroecologia/agricultura

orgânica?

a) ( ) sim b) ( ) não

52. Estaria disposto a participar de

pesquisas de melhoramento dos cultivos

junto com a UNEB?

53. Se sim, para quais problemas que você

já percebeu/observou?

54. Se sim, já desenvolveu desenvolve

alguma solução por experiência própria?

Page 116: Dissertação..Hortas Comunitárias

116

ANEXO II

Universidade do Estado da Bahia

Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais – DTC S, Juazeiro – Bahia

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Horticultura comunitária

irrigada no submédio do São Francisco: perfil, segurança alimentar e demandas

de apoio”. Você foi selecionado porque participa de uma das hortas comunitárias

irrigadas urbanas, de forma aleatória, sua participação não é obrigatória. A

qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento.

Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com

a instituição.

Os objetivos deste estudo são: “investigar a importância social, econômica sobre

a segurança alimentar de produtores e consumidores das hortas urbanas

comunitárias irrigadas em Juazeiro e Petrolina, bem como conhecer aspectos

técnicos, ambientais e suas demandas para a pesquisa acadêmica, assessoria

técnica e sua estrutura com o enfoque agroecológico”, a partir da hipótese que as

hortas comunitárias têm importância social, econômica e para a segurança

alimentar, entretanto tem pouca visibilidade, reconhecimento e demandam apoio

da pesquisa, assessoria técnica e estrutura.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder perguntas sobre o seu

trabalho e seu perfil social.

Os riscos relacionados com sua participação não existem, a não ser pelo fato de

dedicar 15 a 20 minutos do seu tempo.

Os benefícios relacionados com a sua participação são as possibilidades de que o

seu trabalho venha a ser valorizado e seja demandado maior apoio do governo

em termos de pesquisa, assessoria técnica e estrutura.

Page 117: Dissertação..Hortas Comunitárias

117

As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e

asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de

forma a possibilitar sua identificação, pois os métodos de análise serão

estatísticos e percentuais. Os questionários estarão protegidos durante o período

de 1 (um) ano para servir a essa pesquisa e depois serão destruídos através do

fogo, protegendo e assegurando a sua privacidade.

Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço do

pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua

participação, agora ou a qualquer momento.

______________________________________

Silver Jonas Alves Farfán

Rua Petúnia, 446, Residencial Park Massangano, Petrolina - PE cep, 56.300-000,

Fone 87 3867 7258

Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na

pesquisa e concordo em participar.

_________________________________________

Sujeito da pesquisa