agricultura urbana e peri-urbana em campinas/sp: análise do programa de hortas comunitárias

161
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA EM CAMPINAS/SP: análise do Programa de Hortas Comunitárias como subsídio para políticas públicas JULIANA ARRUDA CAMPINAS FEVEREIRO DE 2006

Upload: juliana-arruda

Post on 22-Jul-2016

224 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Este trabalho tem como objetivo analisar o PHC, de forma a subsidiar uma nova formulação de políticas públicas de AUP no município. Seus objetivos específicos compreendem a análise da gestão do PHC, dos projetos de hortas no município e do perfil dos participantes, bem como tecer proposições a cerca da percepção dos entrevistados.

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA AGRCOLA

    AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA EM

    CAMPINAS/SP: anlise do Programa

    de Hortas Comunitrias como subsdio para polticas

    pblicas

    JULIANA ARRUDA

    CAMPINAS

    FEVEREIRO DE 2006

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA AGRCOLA

    AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA EM

    CAMPINAS/SP: anlise do Programa

    de Hortas Comunitrias como subsdio para polticas

    pblicas

    Dissertao submetida banca examinadora para

    obteno do ttulo de Mestre em Engenharia Agrcola na

    rea de concentrao em Planejamento e

    Desenvolvimento Rural Sustentvel.

    JULIANA ARRUDA

    Orientador: Prof. Dr. NILSON ANTONIO MODESTO ARRAES

    CAMPINAS

    FEVEREIRO DE 2006

  • ii

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA

    BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA - BAE - UNICAMP

    Ar69a

    Arruda, Juliana

    Agricultura urbana e peri-urbana em Campinas/SP: anlise do

    programa de hortas comunitrias como subsdio para polticas pblicas /

    Juliana Arruda. -- Campinas, SP: [s.n.], 2006.

    Orientador: Nilson Antonio Modesto Arraes

    Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas,

    Faculdade de Engenharia Agrcola.

    1. Hortalias. 2. Agricultura urbana. 3. Polticas pblicas. 4.

    Agricultura Aspectos sociais. I. Arraes, Nilson Antonio Modesto. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Agrcola.

    III. Ttulo.

    Ttulo em Ingls: Urban and peri-urban agricuture in Campinas/SP: analysis of the

    community kitchen-gardens program as subsidy for public politics

    Palavras-chave em Ingls: Community kitchen-garden, UPA, Public politics, Agriculture

    social aspects

    rea de concentrao: Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentvel.

    Titulao: Mestre em Engenharia Agrcola.

    Banca examinadora: Ana Rute do Vale, Joo Cleps Junior

    Data da defesa: 13/02/2006

    Permitida cpia total ou parcial desde que citada a fonte.

  • iii

    Dedico

    minha me, Gleide,

    por me possibilitar a ddiva da vida

    e os valores e princpios que me fazem ser humano.

    Ao Welington Mary,

    namorildo, amante, amigo.

    Deus,

    que nos permite a incomparvel

    oportunidade de viver.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Nilson Antonio Modesto Arraes, que com sua pacincia e a grande

    disponibilidade e abertura ao dilogo, me ofereceu a confiana e estmulo necessrio para a

    conduo deste trabalho.

    Aos Professores Mauro Tereso e Altair Toledo Machado pelas valiosas

    contribuies no exame de qualificao. E aos Professores Ana Rute do Vale e Joo Cleps

    Junior por todas as observaes na avaliao da dissertao por ocasio da defesa.

    A toda a equipe do GDR e da CEASA Campinas, especialmente ao Sr. Francisco

    Jos Ricchini Lopes (Sr. Chico), pela acolhida, grande colaborao e a enorme

    disponibilidade em ajudar, sendo meu guia s excurses na desconhecida Campinas.

    A todos que compartilharam comigo informaes e sentimentos nos momentos de

    entrevista, em especial ao Sr. Sebastio Poeta, pela simplicidade e emoo despertada em seu

    depoimento e ao Sr. Sebastio Mineiro, por mostrar que a vida ainda mais bonita do que

    parece, com sua msica, sua esperana e sua cultura.

    minha famlia carioca, minha v Leci, todos os tios e tias e meu querido paizo

    Jos Antnio (Z). famlia que me acolheu em seu seio como nora e filha, na pessoa dos

    meus sogros Silvanira e Nelson. Ao meu tio Albrico a toda a famlia Arruda, meu sangue,

    meu tudo...

    Dona Meria (minha vizinha querida), Celita, Rosilma, ao Sr. Robison,

    Gisleiva, Flavinha, Ana Paula, Lia, Martita, s meninas da secretaria da ps, pela

    convivncia campineira, carinho e amizade.

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por ter me ensinado a viver em

    grupo, a acolher diferenas, me aceitar como sou e partir para vida em busca dos meus

    objetivos sem medo de ser feliz, em especial equipe do Curso de Licenciatura em Cincias

    Agrcolas e todas as meninas do quarto 18-F1.

    Ao apoio financeiro da Fundao Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de

    Nvel Superior (CAPES), pela bolsa concedida, fonte da minha alegria no incio de cada ms

    e ao Fundo de Apoio ao Ensino e Pesquisa (FAEP), sem o qual a pesquisa de campo no

    teria sido possvel.

    O apoio afetivo no se agradece, compartilha-se.

    Muito obrigada!

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ VII

    LISTA DE QUADROS ........................................................................................................... IX

    LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................. X

    RESUMO........... ...................................................................................................................... XI

    ABSTRACT. .............................................................................................................. XII

    APRESENTAO .............................................................................................................. XIII

    1. INTRODUO, JUSITIFICATIVA E OBJETIVO .................................................... 1

    2. CONTEXTO POLTICO DA AUP NO MUNDO E NO BRASIL .............................. 5

    3. AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA ........................................................... 8

    3.1. DEFINIES CONCEITUAIS ............................................................................................ 8

    3.2. MODALIDADES OU TIPOLOGIAS .................................................................................. 13

    3.2.1. Tipos de atividade econmica ........................................................................ 13

    3.2.2. Tipo de rea .................................................................................................... 13

    3.2.3. Localizao ..................................................................................................... 14

    3.2.4. Tipos de sistemas de produo ....................................................................... 14

    3.2.4.1. Olericultura ...................................................................................... 15

    4. POLTICAS PBLICAS ............................................................................................... 20

    4.1. O QUE POLTICA PBLICA? ...................................................................................... 20

    4.2. POLTICAS SETORIAIS EM AUP ................................................................................... 20

    4.3. O POLICY CICLE E A AUP ....................................................................................... 21

    4.4. A CINCIA POLTICA E A ANLISE DE POLTICAS PBLICAS ....................................... 27

    4.4.1. Objetivos da anlise de polticas pblicas ..................................................... 27

    5. CAMPINAS E A POLTICA DE AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA 30

    5.1. CARACTERIZAO GERAL DAS REGIES DAS HORTAS ESTUDADAS ........................... 35

    6. METODOLOGIA ........................................................................................................... 40

    6.1. OBTENO DOS DADOS .............................................................................................. 40

    6.1.1. Fase exploratria ........................................................................................... 40

    6.1.2. Dados primrios ............................................................................................. 42

    6.1.3. Dados secundrios ......................................................................................... 45

    6.2. ANLISE DOS DADOS .................................................................................................. 45

    7. PROGRAMA DE HORTAS COMUNITRIAS DE CAMPINAS ........................... 48

    7.1. INTEGRAO .............................................................................................................. 53

    7.2. ESCOPO....................................................................................................................... 58

  • vi

    7.3. TEMPO ........................................................................................................................ 60

    7.4. RECURSOS FINANCEIROS ............................................................................................ 63

    7.5. QUALIDADE ................................................................................................................ 65

    7.6. RECURSOS HUMANOS ................................................................................................. 66

    7.7. COMUNICAO ........................................................................................................... 68

    7.8. RISCOS........................................................................................................................ 69

    8. PROJETOS (OPERACIONALIZAO E PERFIL DOS BENEFICIRIOS) ...... 70

    8.1. HORTAS ESCOLARES .................................................................................................. 71

    8.2. HORTAS TERAPUTICAS ............................................................................................. 83

    8.3. HORTAS COMUNITRIAS ............................................................................................ 94

    9. PROPOSIES RELACIONADAS PERCEPO DOS ENTREVISTADOS

    SOBRE OS PROJETOS DE HORTAS URBANAS ESTUDADAS ........................ 109

    10. CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 114

    11. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 117

    12. APNDICES ................................................................................................................. 127

    APNDICE A. ROTEIRO DA ENTREVISTA GUIADA COM OS INFORMANTES

    CHAVES ..................................................................................................... 127

    APNDICE B. FORMULRIO PARA ENTREVISTA DIRIGIDA COM A EQUIPE

    DE FORMULAO DO PHC ................................................................. 128

    APNDICE C. FORMULRIO PARA ENTREVISTA DIRIGIDA COM A EQUIPE

    DE GESTO DE PROJETOS DE HORTA ............................................ 130

    APNDICE D. FORMULRIO PARA ENTREVISTA DIRIGIDA AOS

    BENEFICIRIOS DOS PROJETOS ...................................................... 133

    13. ANEXOS.. ..................................................................................................................... 136

    ANEXO A. EXPERINCIAS DE POLTICAS DE AUP NO BRASIL ................... 136

    ANEXO B. LEI N 9.549 DE 10 DE DEZEMBRO DE 1997. CRIA O PROGRAMA

    DE HORTA COMUNITRIA .................................................................. 141

    ANEXO C. LEI N11.396 DE 23 DE OUTUBRO DE 2002. CRIA O PROGRAMA DE VIVEIROS DE MUDAS ..................................................................... 143

    ANEXO D. DECRETO N 14.288 DE 11 DE ABRIL DE 2003. REGULAMENTA

    PROGRAMA DE HORTAS COMUNITRIAS DE CAMPINAS ....... 145

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Localizao das hortas institucionais e comunitrias em Campinas. ....................... 34

    Figura 2. Organograma de Gesto do PHC (1997-2000). ....................................................... 50

    Figura 3. Organograma de Gesto do PHC (2001-2004). ....................................................... 51

    Figura 4. Organograma de Gesto do PHC (2005-2008). ....................................................... 52

    Figura 5. Janela temporal analisada (1997-2006). ................................................................... 60

    Figura 6. pocas em que cada projeto estudado entrou no PHC. ............................................ 71

    Figura 7. Terreno antes (A) e durante (B) a construo da horta (Cristiano Ozrio). ............. 72

    Figura 8. Canteiros prontos (A) e primeiro plantio (B) (Cristiano Ozrio). ............................ 72

    Figura 9. reas (A) e (B) antes da construo da horta na escola (Dora Kanso). ................... 73

    Figura 10. Placa da entrada (A) e rea do Cantinho (B) (Cristiano Ozrio). ......................... 75

    Figura 11. Alunos trabalhando na horta (A) e visita rea (B) (Dora Kanso). ......................... 76

    Figura 12. Crianas nos cuidados dirios com a horta (Cristiano Ozrio). ............................... 77

    Figura 13. Crianas saboreando hortalias (A) e (B) (Cristiano Ozrio). ................................. 80

    Figura 14. Vista geral da horta na escola (A) e (B) (Dora Kanso). ........................................... 81

    Figura 15. Crianas cuidando da horta e segunda colheita (Cristiano Ozrio).......................... 82

    Figura 16. Fachada do centro de sade (A) e rea do entorno (B) (Centro de Sade). ............. 84

    Figura 17. Barraco do projeto (A) e vista interna do barraco (B) (UNICAMP). ................... 84

    Figura 18. Plantio em telhas (A) e no corredor (B) (Centro de Sade). .................................... 85

    Figura 19. Porto de entrada da horta (A) e rea interna (B) (Campus UNICAMP). ................ 86

    Figura 20. Plantio no gramado (A) e no corredor (B) (Centro de Sade).................................. 87

    Figura 21. Canteiros sendo preparados (A) e (B) (Campus UNICAMP). ................................. 92

    Figura 22. Fotos da fase inicial da horta (A) e (B) (Jardim Liliza)............................................ 94

    Figura 23. rea do entorno da ONG Plantando Paz na Terra (A) e (B) (Vila Brandina). ......... 96

    Figura 24. Vista geral da horta no incio da produo (A) e (B) (Jardim Liliza). ..................... 99

    Figura 25. Casinha de sap - Local das reunies das horteiras (A) e artesanato no

    interior feito pelo grupo (B) (Vila Brandina). ........................................................ 101

    Figura 26. Horta em plena produo (A) e (B) (Vila Brandina). ............................................. 104

    Figura 27. Horta desativada (A) e canteiros sem cultivo (B) (Jardim Liliza). ......................... 105

    Figura 28. Plantio de ervas medicinais em terraos (Vila Brandina)....................................... 106

  • viii

    Figura 29. Famlia que ainda permanece cultivando a horta (A) e regadores utilizados

    para irrigar toda a rea (B) (Jardim Liliza). ............................................................ 106

    Figura 30. esquerda arquiteta que colaboradora da horta (A) e agrnomo colaborador

    pulverizando calda sulfoclcica (B) (Vila Brandina). ............................................ 108

  • ix

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Estimativa global do nvel da atividade agrcola urbana. ........................................... 2

    Quadro 2. Comparao entre as caractersticas da agricultura rural e urbana/peri-urbana. ...... 10

    Quadro 3. Sistemas de produo na agricultura urbana e peri-urbana. ..................................... 14

    Quadro 4. Caractersticas de processos de gesto de polticas pblicas. ................................... 24

    Quadro 5. Modelos de anlise poltica. ..................................................................................... 28

    Quadro 6. Indicadores e Nota do ndice de Condio de Vida no Jardim Conceio. ............. 37

    Quadro 7. Indicadores e Nota do ndice de Condio de Vida no Jardim Liliza. ..................... 39

    Quadro 8. Elementos favorveis e desfavorveis programas de AUP. ................................ 113

    Quadro 9. Polticas de AUP no Brasil. .................................................................................... 136

  • x

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AU Agricultura Urbana

    AUP Agricultura Urbana e Peri-urbana

    CATI Coordenadoria de Assistncia Tcnica Integral

    CGPHC Comisso Gestora do Programa de Hortas Comunitrias de Campinas

    COAG Committee on Agriculture

    CPFL Companhia Paulista de Fora e Luz

    DOM Diria Oficial Municipal

    FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

    FEAGRI Faculdade de Engenharia Agrcola

    GAIA Grupo de Aplicao Interdisciplinar Aprendizagem

    GAPI Grupo de Anlise de Polticas de Inovao

    GDR Grupo de Desenvolvimento Rural Sustentvel

    IAC Instituto Agronmico de Campinas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    INSEE Instituto Nacional de Estatstica e Estudos Econmicos

    MDS Ministrio de Desenvolvimento Social e Combate Fome

    NEPO Ncleo de Estudos Populacionais

    ONGs Organizaes No Governamentais

    PHC Programa de Hortas Comunitrias de Campinas

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PROVE Programa de Verticalizao da Pequena Produo Familiar

    RMC Regio Metropolitana de Campinas

    SMAS Secretaria Municipal de Assistncia Social

    TUAN The Urban Agriculture Network

    UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    UNDP United Nations Development Programme

  • xi

    RESUMO

    A Agricultura Urbana e Peri-urbana (AUP) contempornea vm ganhando destaque

    no cenrio mundial e nacional e reafirmando-se como um fator permanente nos processos de

    desenvolvimento sustentvel das pessoas e da sociedade.

    Em Campinas, a cmara e o executivo tm, atravs das legislaes municipais e da

    regulamentao do Programa de Hortas Comunitrias de Campinas (PHC), sinalizada a

    inteno em trazer agenda poltica do municpio o tema de agricultura urbana. Porm na

    atual administrao, Hlio de Oliveira Santos (2005-2008), o PHC ainda no tem destino

    claro.

    Neste contexto, este trabalho tem como objetivo analisar o PHC, de forma a subsidiar

    uma nova formulao de polticas pblicas de AUP no municpio. Seus objetivos especficos

    compreendem a anlise da gesto do PHC, dos projetos de hortas no municpio e do perfil dos

    participantes, bem como tecer proposies a cerca da percepo dos entrevistados.

    Os dados utilizados foram obtidos a partir de visitas sistemticas e entrevistas

    dirigidas ao longo do ano de 2005, realizadas junto a formuladores, gestores e beneficirios de

    hortas urbanas escolares, teraputicas e comunitrias do municpio de Campinas, alm da

    fonte documental.

    A anlise da maneira como se deu a gesto do PHC evidenciou a, quase total,

    desvinculao entre o programa e as polticas setoriais de educao, sade e ao social. A

    anlise do gerenciamento dos projetos evidenciou a importncia das aes individuais na

    implementao e sucesso das atividades, mesmo com recursos escassos. Por fim, na descrio

    da operacionalizao, chama ateno a importncia que os projetos ganham na vida dos

    beneficirios e a boa articulao dos coordenadores com outras instituies, tanto do setor

    privado (Petrobrs), como do setor pblico (CEASA).

    PALAVRAS-CHAVE: Hortas Comunitrias, AUP, Polticas pblicas.

  • xii

    ABSTRACT

    Contemporary Urban and Peri-urban Agriculture (UPA) is gaining prominence in the

    worldwide and national scene as it reaffirms itself as a permanent factor in the processes of

    sustainable development of people and society.

    In Campinas, the Municipal Chamber and Executive have, through municipal

    legislation and the regulation of the Community Kitchen-gardens Program of Campinas

    (CKP), signaled the intention of bringing to the political agenda, the subject of urban

    agriculture. However, in the current administration, Hlio de Oliveira Santos (2005-2008), the

    CKP still does not have a clear destination.

    In such a context, the objective of this work is to analyze the CKP, and to develop a

    new form of public politics of UPA in the city. Its specific objective is to understand and

    analyse the management of the CKP and kitchen-gardens projects in the city and the social

    economic profile of the participants.

    The data used had been gained from systematic visits and interviews during the whole

    of 2005 with the participation of the planners and policy makers, managers and institutional

    and communitarian urban beneficiaries of kitchen-gardens in the city of Campinas, beyond the

    documentary source.

    The analysis of the evidence gave the management of the CKP, an almost total

    picture, disconnected between the program and education, health and social action politics.

    The analysis of the projects managed here showed the importance of individual action in the

    implementation and success of the activities, particularly those with scarce resources. Finally,

    in describing the operation, it calls attention to the importance of projects that benefit the life

    of the beneficiaries and the joint efforts of the coordinators with other institutions the private

    (Petrobrs) and the public sectors (CEASA).

    KEY WORDS: Community Kitchen-gardens, UPA, Public Politics

  • xiii

    APRESENTAO

    Acredito ser de interesse do leitor: saber o que motivou a minha aproximao com o

    tema, pois normalmente as teses iniciam e terminam sem que o leitor saiba o por qu?

    Conheci a agricultura urbana, ainda na graduao da UFRRJ, quando participei de um

    projeto no municpio de Niteri. Por ter me identificado bastante com o tema comecei a

    estud-lo com mais afinco, at que surgiu a oportunidade de ingressar na ps-graduao da

    FEAGRI com um orientador que eu tambm j tinha trabalhado na graduao num projeto de

    extenso.

    Este professor tem um projeto focado no desenvolvimento rural do entorno de

    grandes aglomeraes, numa vertente ligada s polticas pblicas locais, com destaque aos

    instrumentos de poltica e aos planos, programas, ou projetos de desenvolvimento rural.

    No caso, minha temtica pde ser encaixada na organizao de informaes para

    subsdios de polticas, haja vista que em Campinas a administrao atual tem um programa de

    hortas comunitrias, no entanto, ainda no h um levantamento da situao das hortas

    implantadas e do impacto do programa para os envolvidos.

  • 1

    Os sonhos e as cidades so construdos de forma conjunta.

    (Natasha Reyes, Diretora da Direo Metropolitana de Desenvolvimento

    Humano Sustentvel. Municpio do Distrito Metropolitano de Quito -

    Equador).

    1. INTRODUO, JUSITIFICATIVA E OBJETIVO

    No Brasil, nos ltimos 50 anos, o crescimento urbano transformou e inverteu a

    distribuio da populao. Enquanto em 1945 a populao que vivia nas cidades representava

    25% da populao total de 45 milhes, passou no incio de 2000 para 82% do total de 169

    milhes (FRICKE e PARISI, 2004). Segundo os autores HADDAD-KESSOUS e SABROU

    (2005), 30 milhes de agricultores migraram para as cidades.

    Neste processo histrico, a maioria das famlias que migraram das zonas rurais

    perdeu a relao com a natureza e sofreu um processo de eroso de seus saberes e de

    transformao de costumes alimentares. Paralelo a isto, inconvenientemente as cidades e os

    seus sistemas econmicos no conseguem torn-las economicamente ativas, assim, no

    dispondo das condies apropriadas para satisfazer as suas necessidades scio-culturais e de

    qualidade de vida (BELTRAN, 1995).

    No entanto, principalmente nos pases em desenvolvimento, as razes do homem com

    a terra no foram totalmente perdidas e vegetais e animais continuaram a ser produzidos ou

    criados nas reas urbanas (UNDP, 1996). O que traz tona a discusso sobre o tema da

    agricultura urbana e peri-urbana (AUP).

    Os autores ADAM (1999) e MOUGEOT (2000) relacionam a AUP com a sua

    localizao, dividindo-as em: intraurbana ou urbana, quando realizada dentro das cidades ou

    peri-urbana, quando realizada no seu entorno, mas, ao utilizar apenas este critrio, ainda resta

    muita polmica, pois a noo do que urbano e rural possui conceitos e critrios diferentes

    entre pases e regies. Ento estes dois autores, ainda usam para a sua diferenciao os tipos

    de atividade econmica, os tipos de reas onde so praticadas, a sua escala e o seu sistema de

    produo, as categorias e subcategorias de produtos (alimentcios e no alimentcios), e a

    destinao dos produtos, inclusive sua comercializao.

    A AUP contempornea vem ganhando destaque no cenrio mundial e nacional,

    reafirmando-se como um fator permanente nos processos de desenvolvimento sustentvel das

    pessoas e da sociedade.

  • 2

    Segundo SMIT (1996), possvel fazer uma estimativa mundial do papel da

    agricultura urbana contempornea. Esses dados podem ser verificados no Quadro 1:

    Quadro 1. Estimativa global do nvel da atividade agrcola urbana.

    Populao mundial engajada na atividade 800 milhes

    Fazendeiros urbanos produzindo e comercializando no mundo 200 milhes

    Empregos* mundiais gerados na produo e processamento 150 milhes

    Dados Significncia global

    Participantes: 15% a 70% de famlias

    (famlias urbanas)

    Cerca de um tero de

    famlias urbanas

    Produo: 10% a 90% do consumo

    (vegetais, ovos, peixe)

    Cerca de um tero do

    consumo

    Terra utilizada: 20% a 60% de rea urbana

    (terra com uso agrcola)

    Acima de um tero das

    regies urbanas

    * Atual emprego ou atividades no equivalentes

    Fonte: Estimativas de TUAN baseado em vrios autores, experincias e observaes e em extrapolaes

    estatsticas de vrios censos oficiais e de profissionais de campo. O intento do presente estudo

    preliminar traar estimativas mais sistemticas que pudessem ser de maior contribuio no corpo de

    conhecimento. Baseada em dados de 1993.

    Os dados referentes ao nmero de participantes, produo e terra utilizada

    possuem uma grande variao por levarem em considerao experincias de regies

    diferentes, assim, em alguns locais a agricultura urbana tem significncia maior do que em

    outros.

    De acordo com MADALENO (2001), a AUP no um fenmeno novo nas cidades, e

    atualmente cada vez mais considerada como parte integral da gesto urbana, sendo uma

    ferramenta para a diminuio da pobreza, por meio da gerao de renda e empregos. E

    tambm uma forma de trabalhar com o manejo ambiental. Neste sentido, a AUP no Brasil

    passa a integrar o rol de opes de polticas sociais que buscam o resgate da cidadania e da

    sustentabilidade urbana.

    Mesmo assim, dados sobre este tipo de agricultura ainda so escassos, o que dificulta

    a formulao e a implementao de polticas especficas para AUP. No entanto, o tema AUP

    comea a ganhar espao, em polticas, em pesquisas cientficas, em programas e projetos

    governamentais, do terceiro setor e da sociedade civil.

    Atualmente existem algumas agncias internacionais que do suporte s atividades de

    AUP, alguns exemplos em nvel global: UNDP/WB (Programas de uso de guas servidas para

  • 3

    criao de peixes e irrigao); UNICEF (Hortas caseiras e comunitrias, estudo poltico) e

    IDRC Canad (Fundo de desenvolvimento e pesquisa para projetos de agricultura urbana). E

    na Amrica Latina: FAO & IDRC (Suporte novas redes regionais) e UNDP & FAO (Suporte

    projetos hidropnicos com uso de casa de vegetao).

    As universidades tambm comeam a desenvolver pesquisas para gerar informaes

    sobre AUP, entre elas a Universidade das Filipinas, localizada em Los Baos (Pesquisas em

    produo em pequena escala), o Centro para o Desenvolvimento da Horticultura, localizado no

    Senegal (Pesquisas e extenso em horticultura urbana) e o Jardim Botnico de Jakarta

    (Pesquisas sobre o uso de compostagem por agricultores urbanos de pequena escala).

    No caso de Campinas, este tema, nos ltimos 10 anos, j entrou e saiu da agenda

    poltica por algumas vezes. Ele comeou a ganhar destaque em 10 de dezembro de 1997, no

    governo Francisco Amaral (1997-2000), com a aprovao da Lei n 9.549, que criou o

    Programa de Hortas Comunitrias (PHC) (Anexo B). Neste perodo, algumas secretarias

    estimularam seus funcionrios a implantar projetos de hortas em suas reas de atuao.

    Contudo, apesar da lei ter sido aprovada, no pde ser aplicada por falta de regulamentao.

    Em 2002, na administrao Toninho/Izalene (2001-2004), o tema retornou a pauta

    poltica atravs do Decreto n 14.288, de 11 de abril de 2003, a regulamentao do PHC foi

    aprovada (Anexo D). Porm, cabe ressaltar que, entre os anos de 1997 e 2003, o

    desenvolvimento de atividades de AUP continuou em algumas secretarias, como o caso das

    secretarias de Ao Social, de Educao e de Sade, mesmo sem o aporte do PHC.

    Em 2004, com a regulamentao do PHC e com a criao da Comisso Gestora do

    Programa de Hortas Comunitrias de Campinas (CGPHC), a administrao municipal iniciou

    efetivamente o PHC implantando projetos de hortas no municpio, com destaque s hortas

    comunitrias e escolares.

    Deste modo observa-se que em Campinas, a cmara e o executivo tm, atravs das

    legislaes municipais e do PHC, sinalizado a inteno em trazer agenda poltica do

    municpio o tema da agricultura urbana. Porm na atual administrao, Hlio de Oliveira

    Santos (2005-2008), o PHC ainda no tem destino claro.

    Diante do exposto, este trabalho tem por objetivo analisar o Programa de Hortas

    Comunitrias de Campinas, de forma a subsidiar uma nova formulao de polticas pblicas de

    AUP no municpio.

  • 4

    Seus objetivos especficos so:

    Caracterizar o Programa de Hortas Comunitrias de Campinas;

    Caracterizar projetos de hortas comunitrias, escolares e teraputicas de Campinas;

    Caracterizar o perfil dos beneficirios dos projetos das hortas urbanas estudadas;

    Tecer proposies a cerca da percepo dos entrevistados.

  • 5

    A Agricultura Urbana recente como programa ou poltica municipal;

    portanto, um campo de inovao promissor. (Declarao de Quito,

    assinada por 40 cidades. Quito Equador, 2000).

    2. CONTEXTO POLTICO DA AUP NO MUNDO E NO BRASIL

    Atravs da pesquisa bibliogrfica foi possvel ter acesso a alguns projetos e

    programas que utilizam a AUP em aes polticas realizadas no mundo e no Brasil. Atravs da

    sistematizao dessas experincias foi possvel divid-las em quatro nveis de atuao, nvel

    mundial, nvel federal, nvel estadual e nvel municipal.

    Aes mundiais

    Segundo SALMITO (2004), existem diversos programas e iniciativas que indicam a

    importncia da AUP nas instncias internacionais. Dentre elas:

    - O Programa Especial de Segurana Alimentar1, que inclui a AUP como alternativa

    para reduzir a m nutrio e a pobreza da populao urbana;

    - A Cpula Mundial da Alimentao, ocorrida em Roma em 1996, quando chefes de

    Estado se comprometeram a acabar com a fome , indicando a AUP como uma das possveis

    aes a se implementar;

    - A 15 sesso do Comit de Agricultura da FAO, em 1999, em que os pases

    membros recomendaram FAO desenvolver um programa multissetorial em apoio AUP;

    - A Declarao de Quito - Equador, assinada por 27 cidades latino-americanas, em

    2000, em que se ressalta a importncia da AUP e a necessidade de implementar polticas nessa

    rea.

    Aes federais

    Muitos pases do mundo incentivam e implementam projetos de AUP, como

    exemplo: Cuba, Costa Rica, Argentina, frica, Canad, Peru, Chile, Colmbia, Equador,

    Mxico, Alemanha, Rssia e Portugal.

    1 um programa que foi lanado pela FAO em 1994, depois da aprovao unnime pelo Conselho Executivo da

    FAO na sua 106 sesso.

  • 6

    No Brasil, o governo federal, no mbito do Programa Fome Zero e da criao do

    Ministrio de Segurana Alimentar, agora em 2005, Ministrio de Desenvolvimento Social e

    Combate Fome (MDS), d um importante passo em direo a utilizao da AUP como tema

    transversal no desenvolvimento de polticas pblicas setoriais.

    De acordo com informaes extradas de PROJETO FOME ZERO (2004c), o MDS

    conta com o apoio do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (CONSEA),

    rgo de assessoramento imediato ao Presidente da Repblica. Esta poltica executada por

    intermdio da Secretaria de Segurana Alimentar e Nutricional (SESAN) e para a execuo

    das aes o MDS oferece transferncia voluntria de recursos no reembolsveis a rgos ou

    entidades da administrao direta ou indireta dos governos estaduais, municipais ou do

    Distrito Federal interessados em implantar projetos de segurana alimentar e nutricional que

    tenham como objetivo apoiar, por exemplo, a implantao e ampliao de hortas, viveiros,

    lavouras e pomares comunitrios e a compra direta local da agricultura familiar para a

    aquisio de produtos perecveis e semi-perecveis.

    Uma referncia direta AUP feita no PROJETO FOME ZERO (2001a), onde a

    conexo entre o abastecimento e a produo agroalimentar local relacionada aos programas

    de abastecimento e programas voltados promoo e apoio s hortas comunitrias,

    produzindo alimentos frescos de qualidade, gerando emprego e renda, alm disso, permitindo

    a garantia de acesso direto aos produtos produzidos pelas populaes.

    Em 2004, o MDS firmou convnios com o Estado do Paran e 18 municpios dos

    estados da Bahia, Esprito Santo, Minas Gerais, Par, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande

    do Sul e So Paulo para apoiar o desenvolvimento de hortas comunitrias. Esto sendo

    repassados R$ 2,6 milhes para a aquisio de equipamentos, adubos e sementes.

    Outro importante passo foi dado com a publicao em janeiro de 2006 das portarias

    n 003/2006 e n 004/2006, que permitem a transferncia de recursos federais atravs do

    INCRA projetos de AUP em So Paulo.

    Aes estaduais

    Os governos do Piau, do Par e do Acre tambm possuem programas para

    agricultura urbana em seus municpios. Outras iniciativas polticas devem estar acontecendo

  • 7

    pelo Brasil, mas como o tema ainda no possui muita divulgao, difcil encontrar o registro

    das mesmas.

    Aes municipais

    A agricultura urbana tem sido notada presente em vrios municpios

    brasileiros. Muitas vezes em iniciativas individuais e isoladas, no descritas

    na literatura, ficando assim sem o devido registro. Verifica-se que nos

    ltimos anos o assunto tem circulado nas rodas polticas e cientficas e

    comeam a surgir projetos e relatos sobre sua prtica nos municpios

    brasileiros. (NOLASCO, 2004, p. 79).

    Em alguns municpios brasileiros, leis e programas sobre agricultura urbana e peri-

    urbana j foram aprovados ou esto circulando pelas cmaras municipais. Como por exemplo:

    Carating-MG, Lima Duarte-MG, Sete Lagoas-MG, e Governador Valadares-MG, So Paulo-

    SP, Campinas-SP e Fortaleza-CE,

    Em outros municpios o assunto j ganha destaque em seminrios (envolvendo vrios

    pesquisadores, tcnicos de instituies de pesquisa e financiamento), lideranas comunitrias e

    projetos. Como por exemplo: Braslia - DF, Belo Horizonte - MG, Uberlndia - MG, Viosa -

    MG, Curitiba - PR, Londrina - PR, Porto Alegre - RS, Cura - BA, Juiz de Fora - SP,

    Piracicaba - SP, Presidente Prudente - SP, Santo Andr - SP, Rio Branco - AM, Rio de Janeiro

    - RJ e Mau - RJ.

    A tabela 4 (Anexo A) apresenta essas experincias prticas e atuais da integrao da

    agricultura urbana e peri-urbana no desenvolvimento da cidade e no uso de terra urbano no

    Brasil. uma sistematizao e resumo do que est disponvel na literatura recente.

  • 8

    No tem importncia que aqui algum dia vai se edificar, mas enquanto no

    se edifica, planta, mata a fome. (Jacques Diouf, Diretor Geral da FAO, em

    visita Campinas).

    3. AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA

    3.1. Definies Conceituais

    Um campo ainda bastante difuso se refere definio dos conceitos de agricultura

    urbana, agricultura peri-urbana e agricultura rural, e em que medidas estas podem ser

    consideradas categorias identificveis em um lugar no qual a agricultura urbana se integra ao

    sistema econmico e ecolgico urbano e ao mesmo tempo se inter-relaciona com as

    agriculturas peri-urbana e rural (ADAM, 1999; MOUGEOT, 2000).

    Uma explicao para a dificuldade em ser concebida uma significao, pois,

    sobretudo nos grandes centros, o ambiente rural percebido como um todo

    homogneo e subdesenvolvido, refletindo informaes distorcidas que no

    correspondem aos fatos. Adite-se a isso as definies apresentadas em

    dicionrios, em que se concebe o rural usualmente a partir deste ngulo,

    tendo sinnimos depreciativos, como atrasado, rstico, rude ou agrrio.

    (ALBUQUERQUE e PIMENTEL, 2004, p.177).

    Atualmente vrios pesquisadores do ramo das cincias sociais, dentre eles,

    GRAZIANO DA SILVA (2002), SANTOS (1978), VEIGA (2002) e WANDERLEY (2000),

    discorrem seus estudos sobre a questo urbano-rural, cada um dentro de abordagens tericas

    diversificadas. Concordando que estes dois espaos no so mais dicotmicos por completo e

    sim interatuantes se inter-reagindo mutuamente e que devem ser avaliados de novas formas e

    aspectos fica claro o motivo pelo qual a definio dos conceitos de agricultura urbana,

    agricultura peri-urbana e agricultura rural, se encontram em construo.

    Uma forma de esclarecer a conceituao da AUP e da agricultura rural pode ser

    relacionada s polticas implicitamente a elas relacionadas, quais sejam, polticas sociais e

    polticas econmicas, respectivamente.

  • 9

    A claridade conceitual especialmente importante j que o estudo da AUP est

    marcado pela diversidade de atores e a pluralidade de realidades envolvidas (MARTIN et al.,

    2004).

    Por este motivo que muitos autores nacionais e internacionais tm trabalhado com a

    definio da funcionalidade do espao peri-urbano, dentre eles esto IAQUINTA e

    DRESCHER (2003) que criaram tipologias e caractersticas dos contextos peri-urbanos,

    entendendo que atravs destas tipologias podem ser traadas estratgias de atuao voltadas

    para cada tipo. Estes autores relacionam as tipologias no tempo e espao e as relaes

    sociais e institucionais.

    A definio da COAG/FAO2 (1999) muito difundida e discorre sobre o conceito de

    agricultura urbana e da sua diferenciao com a agricultura peri-urbana. No entanto, no

    auxilia no esgotamento da questo, pois bastante inconsistente. Haja vista que define a

    agricultura urbana referindo-se a pequenas superfcies situadas dentro de uma cidade e

    destinadas produo de cultivos e criao de pequenos animais para consumo prprio ou

    para a venda em mercados. E a agricultura peri-urbana definida como unidades agrcolas

    perifricas s cidades, que exploram intensivamente as atividades agrcolas, sendo granjas

    comerciais ou semi-comerciais que cultivam hortalias e produtos semi-processados, criam

    frangos e outros animais, e produzem leite e ovos. Ou seja, a diferena de conceito baseia-se

    apenas no espao onde ocorre (dentro ou perifrico cidade).

    Dependendo do pas, perifrico pode estar relacionado reas, ainda dentro do

    permetro urbano, e prximas a este. Em outros pases, perifrico pode ser simplesmente uma

    rea que no fica prxima ao centro da cidade. E h ainda o sentido de perifrico associado

    reas fora do permetro urbano, porm, prximas a este.

    As definies mais usuais da agricultura urbana se baseiam nos seguintes

    determinantes:

    Localizao intra-urbana ou peri-urbana

    Sem dvida o elemento mais citado, porm tambm a maior fonte de conflito

    conceitual o local onde a AUP praticada. Poucos estudos realizam uma verdadeira

    2 Comit para Agricultura da Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura.

  • 10

    diferenciao entre os locais intra-urbanos e os peri-urbanos, ou, se o fazem, usam critrios

    muito variados.

    Alguns autores tm buscado traar o limite externo da rea peri-urbana, identificando,

    por exemplo, as zonas urbanas, suburbanas e peri-urbanas com relao sua porcentagem de

    edificaes e infra-estrutura viria e aos espaos abertos por quilmetros quadrados

    (LOSADA et al., 1998).

    MOUSTIER (1998) usa a distncia mxima entre o centro urbano e as reas que

    podem abastecer, com bens perecveis, a cidade, de modo cotidiano. J LOURENO-

    LINDELL (1995) usa a rea at a qual as pessoas que vivem dentro dos limites

    administrativos da cidade podem deslocar-se para se dedicarem a atividades agrcolas.

    H ainda autores que indiferentes s questes contemporneas sobre as discusses a

    cerca da temtica rural-urbano, continuam utilizando conceitos descontextualizados. Um

    exemplo o do Quadro 2 onde so descritas algumas caractersticas principais de comparao

    entre a agricultura rural, agricultura urbana e peri-urbana.

    Quadro 2. Comparao entre as caractersticas da agricultura rural e urbana/peri-urbana.

    CARACTERSTICAS AGRICULTURA RURAL AGRICULTURA

    URBANA/PERI-URBANA

    Tipo de explorao agrcola Convencional,

    normalmente extensiva

    Diferente da convencional, mvel

    e transitria; parcialmente sobre a

    terra ou sem a posse da terra,

    normalmente intensiva

    A agricultura como forma de

    vida

    Agricultura o principal

    modo de vida, participam

    de tempo integral

    A agricultura freqentemente

    uma atividade secundria,

    envolvidos parcialmente

    Identidade do agricultor Usualmente j nascem

    agricultores

    Principiantes, agricultores de tempo parcial, em parte migrantes

    de zonas rurais, gente dedicada

    por passa-tempo

    Perfil da comunidade

    A maioria dos membros da

    comunidade participa na

    agricultura

    A porcentagem de membros da

    comunidade que participa na

    agricultura muito varivel

    Ponto de vista dos

    participantes a respeito da

    importncia da agricultura

    Geralmente a apiam Pontos de vistas diversos

    Contexto poltico, social,

    econmico e cultural Mais homogneo Mais heterogneo

  • 11

    CARACTERSTICAS AGRICULTURA RURAL AGRICULTURA

    URBANA/PERI-URBANA

    Uso da terra Geralmente estvel para

    agricultura

    Competem no uso da terra

    (agrcola e no-agrcola)

    Calendrio de cultivos Segundo a estao Cultivos todo o ano

    Segurana da disponibilidade

    de terra para cultivar Relativamente alta Relativamente baixa

    Terrenos onde se produz Prprios, de extenso

    mdia a grandes

    Baldios, cedidos ou domiclio

    prprio

    Custo de mo de obra Relativamente baixo Relativamente alto

    Acesso a mercados/insumos Geralmente longe dos

    mercados

    Perto dos mercados, favorvel

    para cultivos/produtos perecveis

    Destino dos produtos Para exportao Autoconsumo ou regional

    Disponibilidade de servios

    de investigao e extenso Bastante provveis Pouco provveis

    Apoio poltico

    Alta prioridade na agenda

    poltica

    Misto, com freqncia polticas

    vagas ou inexistentes

    Interveno municipal Baixa ou nula Alta

    Fonte: Baseada em CAMPILAN et al. (2002) e TERRILE et al. (2000).

    Como pde se observar, algumas das caractersticas descritas, diferem das

    concepes tericas correntes, por este motivo a discusso de algumas torna-se necessria,

    principalmente as que se referem agricultura como forma de vida, identidade do agricultor,

    uso da terra e calendrio de cultivos, que sero discutidas a seguir.

    Agricultura como forma de vida

    Neste trabalho a agricultura no ser vista como nica forma de vida para o homem

    do campo, haja vista a variedade de estudos atuais sobre a pluriatividade e as relaes que se

    processam no ambiente agrrio (CARNEIRO, 1999; GRAZIANO DA SILVA, 2002; VEIGA,

    2002; WANDERLEY, 2000). Assim como, as indstrias, o comrcio e o setor de servios no

    sero vistos como a nica forma de vida para o homem da cidade. Ou seja, neste entendimento

    tanto o produtor rural quanto o produtor urbano e peri-urbano, podem ou no se dedicar

    inteiramente s atividades agrcolas.

  • 12

    Identidade do agricultor

    A modernizao agrcola foi bastante perversa e seu lado mais conhecido foi a

    migrao do homem do campo para a cidade, ou o empobrecimento gradativo do pequeno

    produtor o que o obriga a abandonar e vender sua propriedade. Em conseguinte, atualmente,

    tem havido forte interesse econmico em torno de atividades agrcolas especializadas

    (produtos orgnicos, produtos hidropnicos, atividades de eco e agro-turismo, ou ainda de

    turismo cultural) que, cada vez mais, esto sendo encaradas como um negcio lucrativo.

    Assim, empresrios, profissionais liberais e outros investidores com capital para investir

    adquirem estas propriedades rurais e levam adiante atividades direcionadas a nichos

    especficos de consumo, sem necessariamente ter um histrico familiar ligado agricultura.

    Uso da terra

    Em relao ao uso da terra tambm h divergncia, pois ultimamente na zona rural

    tambm h competio pelo uso do solo. A terra tanto pode ser usada para produo como

    para a especulao imobiliria e comum a instalao de stios de lazer e/ou de condomnios

    rurais. Nas cidades sem dvida a competio aumenta, at porque normalmente o produtor

    urbano no possuidor da rea que cultiva o que o deixa margem do interesse do

    proprietrio da terra e da cesso por parte do poder pblico.

    Calendrio de cultivos

    Atualmente com o uso de diferentes graus tecnolgicos o calendrio de cultivo no

    mais decidido somente pela estao do ano, o produtor j pode programar seu plantio de

    acordo com o mercado, o seu interesse, a sua necessidade e at mesmo direcionando o tipo de

    produo de acordo com o custo-benefcio. O que tambm ocorre com o produtor urbano, que

    planta o ano todo porque deste plantio ele retira o seu alimento e por vezes at um excedente,

    para troca ou venda e cultiva em pequenas reas o que facilita a mudana de uma cultura para

    outra.

    Apesar da existncia de muitas diferenas e limitaes implcitas a cada tipo de

    agricultura alguns pontos so necessariamente importantes para ambas, como o incentivo de

    pesquisas para o seu melhor desenvolvimento, o investimento governamental em qualificao

  • 13

    dos produtores e aos profissionais da rea, os cuidados sanitrios na produo3 e o

    processamento.

    3.2. Modalidades ou Tipologias

    A AUP pode ser realizada de muitas maneiras, os tipos de atividades diversificadas

    (criao e cultivo ou processamento mnimo), produtos (de origem animal ou vegetal),

    localizaes e tcnicas diversificadas.

    3.2.1. Tipos de atividade econmica

    Normalmente as definies se referem fase produtiva da agricultura, porm

    ultimamente tambm se incluem o processamento e a comercializao, assim como as

    interaes entre todas essas fases.

    Segundo MOUGEOT (2000), na agricultura urbana, a produo e a venda (inclusive

    o processamento) tendem a estar mais inter-relacionados no tempo e no espao, graas

    maior proximidade geogrfica e ao fluxo de recursos mais rpido. As economias propiciadas

    pela concentrao geogrfica prevalecem sobre as propiciadas pela escala de produo, que

    no costuma ser grande.

    3.2.2. Tipo de rea

    H o critrio da rea com relao residncia do produtor (se dentro ou fora do lote

    onde ele reside); ou com relao ao desenvolvimento da rea (se ela est construda ou baldia);

    ou com relao de domnio modalidade do uso ou da posse (cesso, usufruto, arrendamento,

    compartilhado, autorizado mediante acordo pessoal ou no autorizado, ou transao

    comercial); ou com relao categoria oficial do uso do solo da zona onde se pratica a

    agricultura urbana (residencial, industrial, institucional) (MOUGEOT, 2000).

    3 Em relao a estes cuidados j existem bibliografias disponveis e dentre elas os artigos de DUQUE (2003);

    EDWARDS (2001); FUREDY (2001); GAYNOR (2002); LOCK e ZEEUW (2002); PEDERSON e

    ROBERTSON (2002), apontando riscos que a AUP pode oferecer sade e ao meio ambiente se realizada de

    maneira inadequada.

  • 14

    3.2.3. Localizao

    H tambm o critrio com relao ao nmero de habitantes da rea, a densidade

    mnima, os limites oficiais da cidade, utilizados por GUMBO e NDIRIPO (1996).

    Segundo MAXWELL e ARMAR-KLEMESU (1998), um outro critrio que pode ser

    utilizado, est relacionado aos limites municipais da cidade.

    MBIBA (1994) utiliza o uso agrcola da terra zonificada para outra atividade; e a

    agricultura dentro da competncia legal e regulamentar das autoridades urbanas usada por

    ALDINGTON (1997).

    3.2.4. Tipos de sistemas de produo

    Em boletim divulgado pela SD/FAO (1998) pode ser encontrada a descrio de uma

    tipologia baseada em categorias de produtos criados ou cultivados, que exemplifica de forma

    resumida as modalidades de agricultura urbana e peri-urbana.

    Quadro 3. Sistemas de produo na agricultura urbana e peri-urbana.

    SISTEMAS PRODUTOS LOCALIZAO TCNICAS

    Aqicultura Peixes, frutos-do-mar,

    e algas marinhas

    Lagos, riachos,

    esturios, lagunas e

    zonas pantanosas

    Criao em gaiolas ou em

    viveiros

    Horticultura Agrcolas, frutos,

    flores e medicinais4

    Jardins, parques,

    espaos urbanos5,

    rurais e peri-urbanos

    Cultivo protegido, hortas6,

    hidroponia7 e canais de

    cultivo

    Agrofloresta

    Combustveis, frutas e

    sementes, compostos e

    materiais para

    construo

    Ruas, jardins, reas de

    encostas, cintures

    verdes, parques e zonas

    agrcolas

    Arborizao de ruas8,

    implantao de pomares

    Criaes Leite, ovos, carne,

    estrume, peles e plos

    reas de encostas e

    espaos peri-urbanos Criao em confinamento

    Diversificadas

    Plantas ornamentais,

    flores e plantas

    exticas

    Serras e parques

    Cultivo protegido, plantas

    envasadas e canteiros

    suspensos

    Fonte: Traduzida de SD/FAO (1998).

    4 DIAS (2000). 5 BARRS (2002) e KORTRIGHT (2002). 6 BRICEO (2002). 7 ARRUDA a MARY (2003) e MARULANDA e IZQUIERDO (1998). 8 SANCHOTENE (2000).

  • 15

    3.2.4.1. Olericultura

    Segundo LOPES (2004b), a olericultura9 um ramo do sistema de produo

    denominado horticultura. Dentro deste sistema de produo inserem-se tambm outras

    atividades, como, a fruticultura, a floricultura, a jardinocultura, as ervas medicinais, as ervas

    condimentares, a cogumelocultura e a viveiricultura.

    Uma das tcnicas de AUP mais difundidas no Brasil so as hortas, que fazem parte

    das atividades de olericultura.

    As hortas podem ser realizadas de muitas maneiras e com objetivos diversos.

    Tambm so bastante diversas as motivaes das aes que as desencadeiam. Desta forma

    podem ser classificadas:

    Quanto ao tipo de explorao, segundo LOPES (2004a):

    - Diversificada: localizada na periferia das cidades, plantio de grande nmero de

    espcies em pequenas reas, venda no prprio local para pequenos varejistas, para

    consumidores e para consumo da famlia. Normalmente este tipo est relacionado ao cultivo

    em reas peri-urbanas.

    - Especializada: localizada longe dos centros urbanos, plantio de no mximo trs

    espcies em extensas reas, venda para atacadistas das CEASAS, plataformas de

    hipermercados ou fornecimento direto a supermercados. Normalmente este tipo est

    relacionado ao cultivo em reas rurais.

    - Agroindustrial: localizada longe dos centros urbanos ou prxima, desde que, atenda

    as necessidades da agroindstria, plantio de hortalias de interesse da agroindstria, fornecer

    matria prima para industrializao, a industrializao pode ser feita pelo prprio produtor,

    tendo por finalidade a agregao de valores, venda do produto final feita tanto para o

    mercado interno, quanto para o externo. Normalmente este tipo est relacionado ao cultivo em

    reas rurais.

    9 Olericultura o mesmo que falar sobre hortalias, este o nome tcnico-cientfico utilizado

    pelos agrnomos e demais tcnicos das cincias agrrias para definir a cultura de olerceas

    ou hortalias. As hortalias, so comumente chamadas de verduras e legumes, esta denominao est erroneamente relacionada s suas partes comestveis (LOPES, 2004a).

  • 16

    - Social: semelhante diversificada, cultivada e conduzida pela comunidade,

    hortalias produzidas com requinte artesanal, preferncia pelo sistema orgnico de produo,

    garantem a qualidade agregando valores, promove a gerao de trabalho e renda em pequeno

    espao de tempo, enriquece a alimentao da comunidade. Normalmente este tipo est

    relacionado ao cultivo em reas urbanas.

    - Educacional: educativa e fascinante, excelente para o ensino de cincias, prende a

    ateno e o interesse dos alunos principalmente na prtica, refora a alimentao escolar.

    Normalmente este tipo est relacionado ao cultivo em reas urbanas.

    - Teraputica: excelente para ser utilizada como terapia ocupacional de pessoas

    idosas, deficientes fsicos e/ou mentais, pessoas em tratamento qumico ou com pr-disposio

    ao acometimento de depresso. Normalmente este tipo est relacionado ao cultivo em reas

    urbanas.

    Quanto iniciativa:

    - Cultural: tcnica j conhecida e vivenciada, praticada espontaneamente.

    - Induzida: tcnica ensinada, praticada a partir do estmulo de agentes externos (poder

    pblico, associaes, ONGs e escolas).

    Quanto ao local onde so praticadas:

    - Residenciais;

    - Institucionais: escolares, teraputicas e/ou assistenciais.

    - Comunitrias: em reas pblicas ou privadas emprestadas ou cedidas para este fim e

    comerciais.

    Quanto ao tipo de gesto:

    - Individuais/ Privadas: domsticas e comerciais.

    - Coletivas: escolares, teraputicas, comunitrias.

    A seguir sero relacionados os conceitos, segundo LOPES (2004b) e os objetivos

    especficos, segundo ROESE (2004) das hortas institucionais e comunitrias.

  • 17

    Hortas escolares

    a horta cultivada pelos alunos, seus pais e professores. Pode ser utilizada para o

    reforo da alimentao escolar e para auxiliar nos fundamentos prticos de biologia, ecologia,

    tcnicas agrcolas e educao alimentar, entre outras coisas. Os objetivos que normalmente

    esto relacionados a este tipo de horta so:

    Produo de alimentos incremento da quantidade e da qualidade de alimentos

    disponveis para a merenda escolar;

    Reciclagem de lixo - utilizao de resduos e rejeitos domsticos, diminuindo seu

    acmulo, tanto na forma de composto orgnico para adubao, como na reutilizao de

    embalagens para formao de mudas, ou de pneus, caixas, etc.;

    Educao ambiental - os alunos envolvidos com a produo e com o consumo das

    plantas passam a deter maior conhecimento sobre o meio ambiente, aumentando a conscincia

    da conservao ambiental;

    Recreao e lazer - a horta pode ser usada como atividade recreativa e ldica, sendo

    recomendada para desenvolver o esprito de equipes;

    Desenvolvimento humano - aliada educao ambiental e recreao, ocorre

    melhoria da qualidade de vida;

    Educao alimentar com o estmulo ao consumo das hortalias produzidas pelo

    prprio aluno na horta, h a garantia de uma alimentao sadia, rica em vitaminas e sais

    minerais, e de nutrientes indispensveis a sade, alm de combater o desperdcio dos

    alimentos.

    Hortas teraputicas ou ocupacionais

    a horta cultivada por idosos, doentes mentais, portadores de necessidades especiais,

    pacientes em tratamento qumico e/ou psiquitrico, e menores infratores. Pode ser utilizada

    como coadjuvante em tratamentos de reabilitao fsica, social e mental. Os objetivos que

    normalmente esto relacionados a este tipo de horta so:

    Atividade ocupacional - proporciona ocupao de pessoas, evitando o cio,

    prevenindo o desenvolvimento de estresse, contribuindo para a educao social, diminuindo a

    marginalizao dessas pessoas na sociedade;

  • 18

    Tratamento fitoterpico - preveno e combate a doenas atravs da utilizao e

    aproveitamento de princpios ativos de plantas medicinais;

    Valor esttico - a utilizao racional do espao confere um excelente valor esttico,

    trazendo bem estar e conforto ambiental, inclusive valorizando os lugares onde esto inseridas.

    Hortas comunitrias

    a horta cultivada em conjunto por grupos de famlias ou pessoas de uma

    comunidade, atravs de cooperativas de produo, que ficaro responsveis pelo

    gerenciamento da produo.

    A gesto das hortas comunitrias incorpora a participao ativa da comunidade,

    responsvel pela administrao e manejo das mesmas, e, eventualmente, com o

    acompanhamento tcnico e fiscalizao do poder pblico.

    Em geral, so instaladas em reas urbanas ociosas (pblicas e particulares), usadas

    para o cultivo de hortalias, plantas medicinais, produo de mudas, leguminosas, frutas e

    outros alimentos e sua produo abastece famlias que moram perto destes terrenos. Os

    objetivos que normalmente esto relacionados a este tipo de horta so:

    Utilizao racional de espaos - melhor aproveitamento de espaos ociosos, evitando

    o acmulo de lixo e entulhos ou o crescimento desordenado de plantas daninhas, onde

    poderiam abrigar-se insetos peonhentos e pequenos animais prejudiciais sade humana;

    Desenvolvimento local - valoriza a produo local de alimentos e outras plantas teis,

    como medicinais e ornamentais, fortalecendo a cultura popular e criando oportunidades para o

    associativismo e alm da formao de lideranas e trocas de experincias;

    Segurana alimentar - favorece o controle total de todas as fases de produo,

    eliminando o risco de se consumir ou manter contato com plantas que possuam resduos de

    defensivos agrcolas;

    Formao de microclimas e manuteno da biodiversidade - atravs da construo de

    um quintal agroecolgico, que favorea a manuteno da biodiversidade, proporcionando

    sombreamento, odores agradveis e contribuindo para a manuteno da umidade, etc.,

    tornando o ambiente mais agradvel e proporcionando, inclusive, qualidade de vida aos

    animais domsticos;

  • 19

    Escoamento de guas das chuvas e diminuio da temperatura - favorece a infiltrao

    de gua no solo, diminuindo o escorrimento de gua nas vias pblicas, e contribuindo para

    diminuio da temperatura, devido ampliao da rea vegetada e respectiva diminuio de

    reas construdas;

    Diminuio da pobreza - atravs da produo de alimentos para consumo prprio ou

    comunitrio (em associaes, escolas, etc.), e eventual receita da venda dos excedentes;

    Renda - possibilidade de produo em escala comercial, especializada ou

    diversificada, tornando-se uma opo para a gerao de renda.

  • 20

    Anlise de poltica descobrir o que os governos fazem, porque fazem e que

    diferena isto faz (Thomas Dy).

    4. POLTICAS PBLICAS

    4.1. O que Poltica Pblica?

    Entende-se por Polticas Pblicas o conjunto de aes coletivas voltadas para a

    garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso pblico que visa dar conta de uma

    determinada populao, em diversas reas. Expressa a transformao daquilo que do mbito

    privado em aes coletivas no espao pblico (GUARESCHI et al., 2004).

    Segundo DAGNINO (2004) uma forma de resumir as caractersticas do conceito de

    poltica dada por trs elementos:

    uma teia de decises e aes que alocam (implementam) valores;

    uma instncia que, uma vez articulada, vai conformando o contexto no qual uma sucesso

    de decises futuras sero tomadas;

    algo que envolve uma teia de decises ou desenvolvimento de aes no tempo, mais do que

    uma deciso nica localizada no tempo.

    4.2. Polticas Setoriais em AUP

    De maneira geral a poltica pblica dividida em alguns setores seguindo critrios

    que direcionam aes especficas em determinadas reas, assim em cada campo so eleitos

    processos de tomada de deciso para a execuo de estratgias, programas e projetos

    especficos de atuao. possvel relacionar os campos da seguinte maneira:

    Poltica ambiental;

    Poltica social (sade, educao, previdncia, habitao, saneamento etc);

    Poltica econmica (fiscal, monetria, cambial etc.);

    Poltica agrcola (exportao, crdito, ...);

    Uma proposta para diferenciar a AUP da Agricultura Rural atravs do tipo de

    poltica envolvido em seu desenvolvimento. Normalmente a AUP est relacionada polticas

  • 21

    sociais e em alguns casos polticas ambientais. J a Agricultura Rural relaciona-se

    fortemente polticas econmicas e agrcolas. Este um marco bastante importante, pois

    atravs dele os processos de tomada de deciso so diferenciados nos dois casos.

    Ao adotar um enfoque social a poltica centrada basicamente na qualidade de vida

    do cidado, centrada num conjunto de diretrizes, orientaes, critrios e delineamentos que

    conduzam preservao e elevao do bem estar social, procurando que os benefcios do

    desenvolvimento alcancem todas as faixas da sociedade levando a uma maior equidade

    (GESTIOPOLIS, 2005).

    J foi dito anteriormente que as polticas de AUP devem ter claros seus objetivos

    especficos, sendo assim, as aes devem especificar em que tipo de polticas setoriais iro

    estar integradas, neste sentido BAKKER et al. (2000), relacionam algumas reas: poltica de

    uso do solo urbano; segurana alimentar urbana; poltica de sade; poltica ambiental e

    poltica de desenvolvimento social.

    4.3. O Policy Cicle e a AUP

    O Policy Cicle um modelo que busca descrever a poltica por processos que em

    cada momento vo se modificando e se inter-relacionando de forma dinmica com os outros,

    conformando um ciclo. A maneira de compreender estaticamente estes processos, reduzindo-

    os a um encadeamento de fases, onde cada fase em determinado processo adiquire maior

    destaque.

    De acordo com FREY (2000), pode-se dividir este ciclo em quatro fases: 1)

    percepo, definio e introduo do problema na agenda poltica; 2) elaborao de programas

    e deciso; 3) implementao de polticas e 4) avaliao (e ajuste) de polticas.

    1) Percepo, definio e introduo do problema na agenda poltica agenda

    setting;

    Segundo FREY (2000) um fato pode ser percebido como um problema poltico por

    grupos sociais isolados, como tambm por polticos, grupos de polticos ou pela administrao

    pblica. No entanto, somente com a introduo deste problema na agenda setting, que

  • 22

    decidido se um tema efetivamente vai ser inserido na pauta poltica atual ou se o tema deve ser

    excludo ou adiado para uma data posterior e isso no obstante a sua relevncia de ao.

    Como foi dito anteriormente para que a temtica da AUP seja includa na agenda

    poltica necessrio que primeiro esta atividade seja percebida como uma forma de minimizar

    problemas sociais.

    Ainda h um processo anterior a formulao, implementao e avaliao, que a

    regularizao destas atividades, atravs de leis e regulamentos aprovados pelo legislativo.

    Alguns elementos so essenciais para a constituio de um programa de AUP, como

    exemplo: polticas de incentivo AUP, acesso ao uso da terra urbana, manejo dos recursos

    hdricos, tecnologia apropriada, organizao e capacitao dos beneficirios.

    No entanto, o que fica mais evidente em relao AUP a importncia de processos

    de gesto participativa a fim de facilitar e fortalecer o dilogo entre a administrao municipal

    e os setores da sociedade civil para a definio e implementao de projetos, programas e

    polticas municipais deste tipo de agricultura (DUBBELING e SANTANDREU, 2003).

    2) Elaborao (formulao, planejamento) de programas e deciso;

    Segundo FREY (2000) na fase de elaborao preciso escolher a forma mais

    apropriada entre as vrias alternativas de ao. Normalmente precedem ao ato de deciso

    propriamente dito processos de conflito e de acordo envolvendo pelo menos os atores mais

    influentes na poltica e na administrao.

    Segundo COSTA e MARINHO (2003), quando um problema se torna foco de ao

    governamental, existem diferentes formas de pensar as solues. Desta forma a implantao

    da poltica depende do modelo que foi adotado na sua formulao e h dois modelos bsicos

    utilizados: o modelo incremental e o modelo racional.

  • 23

    O modelo incremental descrito pelos autores como um:

    [...] processo decisrio que se caracteriza pela negociao, com ou sem a

    utilizao de qualquer metodologia de apoio especfica. Usualmente, ele se

    baseia no dilogo entre partidrios de interesses e propostas para ao

    distintas, todos eles dispondo de informao e poder diferenciados. O

    resultado um ajuste entre os participantes em que a situao-objetivo que se

    pretende viabilizar se aproxima de um "consenso". [...] A adoo deste

    modelo freqentemente conduz a situaes de no-tomada de deciso, que

    favorecem os atores sociais com maior poder, e no se concretizam em uma

    proposta explcita. (COSTA e MARINHO, 2003, p.45).

    J o modelo racional:

    [...] requer uma minuciosa definio dos interesses, valores e objetivos de

    cada um dos atores envolvidos e detalhamento dos cursos de ao definidos.

    O plano funciona, ento, como uma instncia que, se levada a efeito de forma

    completa, obriga explicitao de conflitos encobertos e latentes. [...] Neste

    caso, existe um elemento concreto o plano, projeto, programa ou proposta

    que explicita o que foi decidido. (COSTA e MARINHO, 2003, p.45).

    Tambm existe uma terceira modalidade, que compe as duas primeiras, denominada

    Mixed-Scanning. Que Etzioni (citado por DAGNINO, 2004) sugere, que distingue as

    situaes que envolvem grandes decises (estruturantes, que estabelecem os rumos bsicos das

    polticas pblicas) que devem ser analisadas de uma maneira mais cuidadosa, prxima

    proposta pelo modelo racional, e as decises prximas ao modelo incremental, decorrentes

    destas.

    E neste momento fica ainda mais evidente a importncia de que estes planejadores

    tenham em mos o maior e melhor nmero de informaes possveis para que possam ser

    formuladas polticas adequadas e direcionadas localmente. Este planejamento local no s

  • 24

    identifica a soluo de problemas e necessidades locais, como tambm, fortalece as

    capacidades das comunidades envolvidas. A definio adequada e a adaptao de estratgias

    de ao e planejamento formal frequentemente, a etapa mais difcil do processo.

    O Quadro 4 procura resumir as diferenas entre duas concepes distintas de

    formulao de polticas pblicas.

    Quadro 4. Caractersticas de processos de gesto de polticas pblicas.

    CARACTERSTICA DE CIMA PARA BAIXO DE BAIXO PARA CIMA

    Princpio Centralizao/rigidez Descentralizao/flexibilidade

    Planejamento nfase nos controles nfase na negociao

    Metas Pr-estabelecidas Reformuladas passo-a-passo

    Processo Burocrtico, sem estmulo participao

    Construdo socialmente atravs do estmulo participao

    Instrumento Pacotes prontos Mobilizao de experincias e do conhecimento local

    Mtodo de deciso Autoritrio, atores

    principais so externos

    Orquestrao de interesses com participao relevante dos

    atores internos

    Relao com o Estado

    Mantm o clientelismo e a cultura paternalista

    Aumenta o compromisso das comunidades locais para a

    realizao e acompanhamento

    das aes propostas.

    Implementao Aes essencialmente setoriais (agrcola)

    Favorece aes inter-setorias

    Relao com o

    poder local

    Contraditrio e

    excludente Colaborao obrigada, parceria

    Meio ambiente Restries de carter punitivo

    Ao educacional, viabilidade local

    Fonte: CAMPANHOLA e GRAZIANO DA SILVA (2000).

    Observa-se na formulao de projetos e polticas de AUP de maneira geral uma

    tendncia utilizao da gesto de baixo para cima, no entanto, utilizando como exemplo o

    PHC isso no se confirma, pois primeiro foi criada a lei e a regulamentao pelos gestores

    pblicos, depois foi elaborado o projeto que seria o modelo para todas as hortas e por ltimo

    foi estabelecido contato com os grupos interessados em adotar o pacote elaborado.

  • 25

    3) Implementao de polticas;

    No que tange anlise dos processos de implementao, podemos discernir

    as abordagens, cujo objetivo principal a anlise da qualidade material e

    tcnica de projetos ou programas, daquelas cuja anlise direcionada para as

    estruturas poltico-administrativas e a atuao dos atores envolvidos. No

    primeiro caso, tem-se em vista, antes de mais nada, o contedo dos

    programas e planos [...] No segundo caso, o que est em primeiro plano o

    processo de implementao, isto , a descrio do como e da explicao do

    porqu. (FREY, 2000, p.228).

    De acordo com COSTA e MARINHO (2003), a implementao de polticas que

    sigam o modelo incremental no promove nenhuma confuso, na medida em que no existe

    um elemento concreto como um plano que explicite o acordo alcanado e fixe uma situao

    objetiva a perseguir. Ainda segundo estes dois autores no modelo racional possvel fazer um

    acompanhamento mais abrangente das aes, com uma avaliao permanente do cumprimento

    das metas, prazos, eficincia e eficcia.

    Ainda um outro aspecto relevante para a implementao de projetos, diz respeito a

    participao dos beneficirios na sua gesto, em relao a isso, GANDIN (2004) relaciona trs

    nveis de participao. Quais sejam:

    Nvel de colaborao onde um agente externo, chama as pessoas para trazerem suas

    contribuies para o alcance de um objetivo previamente estipulado, o que faz com que as

    pessoas trabalhem e se esforcem, sem discutir quais benefcios adviro deste trabalho.

    Nvel de deciso vai alm da colaborao e tem aparncia democrtica mais

    acentuada, mas em geral so decididos aspectos menores, desconectados da proposta mais

    ampla, e a deciso se realiza como escolhas entre alternativas j traadas, sem afetar o que

    realmente importa.

    Nvel de construo em conjunto Embora na prtica seja pouco comum, a

    construo em conjunto acontece quando o poder de deciso est com as pessoas,

    independentemente das diferenas menores e fundamentado na igualdade real entre elas.

    Em relao a implementao de polticas importante saber como se dar a gesto

    deste processo.

  • 26

    Atravs da literatura relacionada s experincias de AUP no mundo e no Brasil, nota-

    se uma forte tendncia de construo de projetos de AUP baseados na valorizao do dilogo

    entre atores e instituies locais. . No entanto, as dificuldades para a organizao de pessoas

    com interesses afins e para a prtica participativa ainda se constituem em uma grande barreira

    ao exerccio da democracia em nosso pas. As estratgias para que haja envolvimento dos

    atores sociais na elaborao e implementao do planejamento local tm que estar

    sintonizadas com as condies especficas da regio considerada, Volker (citado por

    CAMPANHOLA e GRAZIANO DA SILVA, 2000).

    BAKKER et al. (2000) citam elementos que podem promover a AUP e que devem ser

    redefinidos de acordo com a realidade local. Como exemplo o acesso aos recursos de terra e

    gua atravs de eliminao de restries legais. Outro exemplo o acesso dos agricultores

    urbanos a estudos sobre agricultura, assistncia tcnica e aos servios de crdito. Mais um

    exemplo a adequao das atividades de AUP ao zoneamento urbano.

    4) Avaliao (e ajuste) de polticas;

    A avaliao ou controle de impacto pode, no caso de os objetivos do

    programa terem sido alcanados, levar ou suspenso ou ao fim do ciclo

    poltico, ou, caso contrrio, iniciao de um novo ciclo, ou seja, a uma nova

    fase de percepo e definio e elaborao de um novo programa poltico

    ou modificao do programa anterior. (FREY, 2000, p.229).

    Segundo os autores COSTA e MARINHO (2003), no modelo incremental a avaliao

    fica restrita verificao de eventuais impactos da poltica. No caso do modelo racional

    possvel fazer um acompanhamento mais abrangente das aes, com uma avaliao

    permanente do cumprimento das metas, prazos, eficincia10 e eficcia11.

    A maioria dos estudos sobre polticas de AUP descritiva e se baseia em entrevistas.

    Isto especialmente comum nos estudos sobre monitoramento e avaliao (M&A) que

    10 Termo originado nas Cincias Econmicas que significa a menor relao custo/benefcio

    possvel para o alcance dos objetivos estabelecidos no programa. 11 Medida do grau em que o programa atinge os seus objetivos e metas.

  • 27

    utilizam um enfoque mais convencional. Desta forma, os estudos de caso disponveis

    demonstram que parece haver uma necessidade de novos mtodos de M&A ou de

    procedimentos no contexto da AUP. Por outro lado, existe a evidncia de que a situao

    urbana necessita enfoques mais flexveis, dinmicos e participativos, especialmente quando a

    interveno de investigao e desenvolvimento interessa ou afeta diferentes grupos de atores

    (CAMPILAN et al, 2002).

    4.4. A Cincia Poltica e a Anlise de Polticas Pblicas

    Segundo FREY (2000), na cincia poltica, distinguem-se trs abordagens de acordo

    com os problemas de investigao levantados, sendo elas: 1 - o questionamento clssico da

    cincia poltica que se refere ao sistema poltico como tal e pergunta pela ordem poltica certa

    ou verdadeira; 2 - o questionamento poltico, propriamente dito, que se refere anlise das

    foras polticas cruciais no processo decisrio; e 3 - as investigaes voltadas aos resultados

    que um dado sistema poltico vem produzindo.

    Esta ltima abordagem tem sido chamada de anlise de polticas e ganhou maior

    expresso nos anos 70, principalmente nos Estados Unidos onde produzida a maior parte da

    literatura disponvel, resultante de um contexto de transio poltica, reduo de gastos e

    aumento do controle social sobre os gastos pblicos e a forma de utilizao de recursos. Assim

    possvel encontrar estudos com diversos referenciais do instrumental clssico da pesquisa

    social, da administrao, da sociologia das organizaes, da cincia poltica e da economia

    (ALMEIDA, 2003).

    4.4.1. Objetivos da anlise de polticas pblicas

    COSTA e MARINHO (2003) destacam que a anlise de polticas pblicas pode ter

    dois objetivos: desenvolver conhecimentos sobre a elaborao de polticas em si, estudos

    polticos, conhecimento de poltica, revelando, portanto uma orientao predominantemente

    descritiva; e apoiar os formuladores de poltica, agregando conhecimento ao processo de

    planejamento, envolvendo-se diretamente na tomada de decises, revelando, assim, um carter

    mais prescritivo ou propositivo. DAGNINO (2004) expande esta diviso em mais sete

    modelos expressos no Quadro 5, de acordo com suas caractersticas gerais.

  • 28

    Quadro 5. Modelos de anlise poltica.

    TIPOS CARACTERSTICAS

    Estudo de contedo das polticas Os analistas procuram descrever e explicar a gnese e o

    desenvolvimento de polticas, isto , determinar como

    elas surgiram, como foram implementadas e quais os

    seus resultados;

    Estudo da elaborao das

    polticas

    Os analistas dirigem para estgios por que passam

    questes e avaliam a influncia de diferentes fatores,

    sobretudo na formulao das polticas;

    Estudo do resultado das polticas Procura explicar como os gastos e servios variam em

    diferentes reas razo porque tomam as polticas como

    variveis dependentes e tentam compreend-las em

    termos de fatores sociais, econmicos, tecnolgicos e

    outros;

    Avaliao de polticas Procura identificar o impacto que as polticas tm sobre o

    contexto scio-econmico, o ambiente poltico, a

    populao;

    Informao para elaborao de

    polticas

    O governo e os analistas acadmicos organizam os dados,

    para auxiliar a elaborao de polticas e a tomada de

    decises;

    Defesa do processo de elaborao

    de polticas

    Os analistas procuram melhorar os processos de

    elaborao de polticas a mquina de governo, mediante

    realocao de funes, tarefas e enfoques para avaliao

    de opes;

    Defesa de polticas Atividade exercida de grupos de presso defendendo

    idias ou opes especficas no processo de elaborao

    de polticas.

    Fonte: Extrado de GAPI UNICAMP (2004).

    As preocupaes que orientam este trabalho esto voltadas basicamente

    organizao de informaes para elaborao de polticas, neste caso, atravs da anlise do

    Programa de Hortas Comunitrias de Campinas, uma vez que ser possvel organizar dados e

    informaes para propor a elaborao de novas polticas de AUP direcionadas para a realidade

    da cidade.

    Nas anlises sobre as polticas pblicas (sejam elas sociais, econmicas, fiscais etc),

    necessrio considerar que as mesmas so determinadas por uma forma de organizao da

    administrao pblica que condiciona e regula os processos de formulao, implementao e

    avaliao (GAETANI, 1997).

  • 29

    Segundo Aguilar e Ander-Egg (citados por LEITE, 2005), um dos principais

    objetivos da anlise de polticas determinar as razes dos xitos e fracassos. Para os autores,

    uma pesquisa avaliativa no pode limitar-se a estabelecer quais foram os xitos ou fracassos

    de um programa, deve tratar de averiguar porque certas conquistas foram atingidas e porque

    ocorreram determinados fracassos. Os autores destacam quatro aspectos:

    Disposies legais: trata-se de leis, decretos, regulamentos, estatutos, etc. que

    podem colocar obstculos burocrticos ou facilitar e promover a realizao do programa.

    Vontade poltica: para que um programa tenha validade e operacionalidade, deve

    contar cm o apoio poltico da instituio que o promove.

    Disponibilidade financeira: trata-se de analisar os meios financeiros que esto

    efetivamente disponveis ao programa quando for necessrio.

    Condies sociais e econmicas: condies estruturais ou conjunturais que

    influenciam na execuo do programa.

  • 30

    No h fatos eternos, como no h verdades absolutas (Nietszche).

    5. CAMPINAS E A POLTICA DE AGRICULTURA URBANA E PERI-URBANA

    Segundo TUBINO (2004), as polticas de AUP so, em geral, de abrangncia

    nacional ou estadual, mas no existe nenhum impedimento para que seja formulada a nvel

    municipal. Assim, caberia s instncias nacional ou estadual a formulao de diretrizes, o

    fomento da proposta e a disponibilizao de recursos humanos e financeiros, ficando a

    implementao sob responsabilidade do municpio. No caso de Campinas, ocorreu de maneira

    diferente, as polticas de AUP foram formuladas e implementadas a nvel municipal.

    O Programa de Hortas Comunitrias (PHC) (Anexo B) foi aprovado em 10 de

    dezembro de 1997 da Lei n 9.549, (CAMPINAS, 2003a) e naquele momento tinha como

    objetivos principais: aproveitar mo-de-obra desempregada; proporcionar terapia ocupacional

    para portadores de deficincia e homens e mulheres da terceira idade; aproveitar reas

    devolutas; e manter terrenos limpos e utilizados. A implantao das hortas comunitrias

    poderia se dar: em reas pblicas municipais; em reas declaradas de utilidade pblica e ainda

    no utilizadas; em terrenos ou glebas particulares; ou em faixas de servido de passagem area

    da CPFL. Apesar de ter sido criada e aprovada a lei no entrou em vigor por falta de

    regulamentao e de equipe que fizesse o gerenciamento das atividades.

    Numa mesma linha temtica tambm foi criado o Programa de Viveiros de Mudas em

    Escolas do municpio atravs da Lei n 11.396 de 23 de outubro de 2002 (CAMPINAS, 2004),

    Anexo C, que tinha como objetivos principais: promover a educao e a preservao

    ambiental, o fornecimento de mudas s escolas municipais e s comunidades locais, a

    ampliao da arborizao em reas pblicas e privadas nos bairros e o desenvolvimento de

    habilidades a aptides dos estudantes. Porm, esta lei no entrou em vigor devido aos vetos

    sofridos que afetaram diretamente na possibilidade de sua execuo.

    O envolvimento de Campinas no Projeto Fome Zero estimulou o executivo a

    promover o Programa de Hortas Comunitrias (PHC) isso ocorreu quando em 11 de abril de

    2003 foi publicado o Decreto n 14.288 (CAMPINAS, 2003b), Anexo D, regulamentador da

    lei de criao do PHC.

    Em funo da publicao do decreto foi criada a Comisso Gestora do Programa de

    Hortas Comunitrias de Campinas (CGPHC), para a definio das polticas pblicas de gesto,

  • 31

    assessoramento, orientao e aprovao da necessria distribuio de gua, sementes e outros

    implementos agrcolas com recursos oriundos de convnios firmados pela municipalidade,

    pr-ordenados implantao de polticas de abastecimento e segurana alimentar.

    Para tanto foram considerados trs aspectos:

    1) A necessidade de aproveitar a mo-de-obra desempregada da cidade, com especial

    ateno para idosos e deficientes; para que se mantenham limpas e utilizadas reas ociosas ou

    no-aproveitadas, como logradouros e praas no afetadas ao uso comum do povo e demais

    bens dominicais;

    2) A criao do GDR - Grupo de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Segurana

    Alimentar, vinculado ao gabinete do prefeito e sediado na CEASA/Campinas, com a

    finalidade de desenvolver programas municipais ligados ao planejamento da agricultura

    sustentvel e segurana alimentar, de modo a integrar as atividades agro-alimentares na vida

    da Cidade;

    3) A criao da Secretaria de Desenvolvimento Econmico e Trabalho - SMDET,

    legalmente constituda para a implementao de programas de gerao de emprego e renda, e

    gerenciadora do PHC.

    No governo atual o PHC passou a ser gerenciado pela Secretaria Municipal da

    Cidadania, Trabalho, Assistncia e Incluso Social, no entanto esta deciso no est expressa

    em termos legais.

    As hortas atendidas pelo Programa a partir dos primeiros projetos implantados em

    julho de 2004 at novembro de 2005 esto relacionadas abaixo (LOPES, 2005):

    Horta Escola, instalada no Complexo da E.T.E. V Pureza localizada no Jardim So

    Marcos. Terreno de propriedade da SANASA. Trata-se de horta com a finalidade de realizar

    aulas prticas aos alunos do Curso de Olericultura. A referida horta encontra-se em atividade

    sendo mantida pela SANASA atravs do trabalho dos estagirios da APAE.

  • 32

    Horta Institucional Teraputica - Projeto Reinsero Social Um Resgate

    Dignidade e Cidadania Instalada na Unicamp Convnio UNICAMP/ABTCP e Petrobrs.

    Terreno de propriedade da UNICAMP. Os trabalhos so realizados pelos pacientes portadores

    de HIV.

    Horta Institucional Ocupacional - FEBEM Internato Jequitib Rua Jos Perina n

    30 Vila Formosa Horta em formao. Terreno de propriedade do Estado de So Paulo. Os

    trabalhos so realizados pelos alunos do Internato.

    Horta Institucional Ocupacional - APAE Rua Amilar Alves n 537 no Instituto

    dos Cegos. Terreno de propriedade do Instituto dos Cegos. Esta horta encontra-se em fase

    normal de plantio, produo e colheita. Podendo ser considerada uma horta modelo. Os

    trabalhos so realizados pelos alunos da APAE.

    Horta Comunitria - Parquia Jesus Cristo Libertador, situado na Praa 03 Jardim

    Liliza, na regio do Campo Grande. Terreno de propriedade da Prefeitura Municipal de

    Campinas.

    Horta Institucional - Creche Estrelinha do Oriente, situada Av. Pastor Joo Prata

    Vieira, n 31 Jardim Santo Antnio Regio dos DICs uma parceria com a APAS

    Associao Paulista dos Supermercados. Terreno de propriedade da Creche (ONG). a

    horta mais recente encontra-se em fase de desenvolvimento. Podendo ser considerada uma

    horta modelo. Cabe ressaltar que a aquisio de todos os insumos e materiais foram

    fornecidos pela APAS e as mudas e a assistncia tcnica esto sendo fornecidas pelo

    GDR/CEASA.

    Horta Institucional Escolar EMEI Hilton Federici, Rua Frederico Marcondes

    Machado, n 35, na Vila 31 de maro Horta Educativa. Terreno de propriedade da Prefeitura

    Municipal de Campinas.

    Horta Institucional Teraputica Centro de Sade Prefeito Antnio da Costa Santos

    Rua Silvino de Godoy, n 40 Jardim Conceio. Terapia com Alcolatras. Terreno de

    propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas.

    Horta Institucional Escolar - CEMEI Cristiano Osrio de Oliveira Rua Marechal

    Hermes da Fonseca n 146 Jardim Independncia Baro Geraldo Horta Educativa.

    Terreno de propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas.

  • 33

    Horta Institucional Escolar - EE Castinauta C.B. Mendes Albuquerque, Rua O.

    Oliveira, s/n Jardim Campineiro Horta Educativa. Terreno de propriedade do Estado de

    So Paulo.

    Horta Institucional Escolar - CEMEI Cristiano Osrio de Oliveira. Rua Mal. Hermes

    da Fonseca, n 146. Bairro Baro Geraldo. Regio Norte do municpio Horta Educativa.

    Terreno de propriedade da Prefeitura Municipal de Campinas.

    Horta Institucional Escolar - EE Dora Maria Maciel C. Kanso Prof. Avenida 1, s/n.

    Bairro Village Campinas. Regio Norte do municpio Horta Educativa. Terreno de

    propriedade do Estado de So Paulo.

    Nesta dissertao sero estudadas algumas hortas institucionais (escolares e

    teraputicas) e comunitrias do municpio de Campinas.

    Os critrios para a escolha destas hortas foram:

    Facilidade de acesso atravs de nibus urbano;

    Hortas em fase de produo no ano de 2005;

    Abertura facilitada pelos coordenadores e beneficirios dos projetos;

    No caso da Vila Brandina, um contraponto, pois no faz parte do PHC;

    Deciso de mostr