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O cOmpOsitOr que cObiçOua atriz, O escritOr que vOmitOuna sarjeta, a musa que saiuda festa para nãO cair emtentaçãO. seleciOnamOs asmelhOres histórias da flip,a mais badalada festa literáriadO país (as que pOdemOscOntar, clarO)

Paraty É u

por ROSANE QUEIROZ i de paraty

SALMAN RUSHDiEparticipou da flip em

duas ocasiões. em umalmoço, o príncipe d. joãoo alertou sobre a pimenta.detalhe: o escritor nasceu

na índia, onde se comepimenta de colher

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uma festa

CHiCO BUARQUEtambém esteve duasvezes na festa. naprimeira participação,empolgado pelo vinho, ocompositor elogiava, entreos amigos e aos berros,uma certa celebridade...f

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RICHARDDAWKINSTeve de ficardescalço emuma festa naCasa Turquesa– e disse “terachado graça”na balada péno chão

NEILGAIMANNo lugar deautógrafos,preferiudesenhar nolivro dos fãs.Foi a sessãomais longada FlipU

ma vez por ano paraty parece não caberem si. Geralmente em julho, a cidade histórica flu-minense é tomada por uma euforia generalizadaque dura aproximadamente cinco dias. o motivotem nome: Flip, Festa Literária Internacional de pa-

raty, que este ano comemora sua primeira década de vida e acon-tece de 4 a 8 de julho. nessa curta temporada, a concentração deintelectuais por metro quadrado é impressionante, assim comoa de músicos e artistas, alguns globais e, claro, muitos curiosos.todos (ou quase todos) interessados nas palestras de escritoresou pensadores famosos, mas também de olho nas baladas queacontecem todas as noites. com custo de r$ 6,8 milhões, a Flip2012 atrairá cerca de 20 mil pessoas (a cidade tem 40 mil habi-tantes), realizará 200 eventos, entre debates, shows, exposições,e promove festas variadas, de parceiros, editoras e habitués. “aFlip, em si, é uma festa – e não uma feira. ela celebra a boa lite-ratura, mas também a vida como ela é”, diz Izabel Costa Cer-melli, a belita, diretora executiva do evento.

percebe-se que o evento se anuncia quando a paisagem cal-ma da cidade, com seus casarões antigos e ruas de pé de mole-que (calçamento de pedras irregulares), começa a mudar com achegada de helicópteros e jatinhos que agitam o normalmentepacato aeroporto. no cais, os barquinhos coloridos passam a di-vidir espaço com veleiros e iates, que vêm direto de angra dosreis e Laranjeiras. “muita gente vem de barco só para ver o bu-chicho. paraty vira um pit stop obrigatório”, diz Tetê Etrusco, do-na da casa turquesa, a pousada eleita por quem pode. Foi ali,no sobrado de janelas azul-turquesa, com apenas nove quartose diárias a partir de r$ 1.100 (em dias fora do evento), que Chi-co Buarque se hospedou na Flip 2009. no mesmo ano, tetê selembra de seu coquetel em que o cientista britânico RichardDawkins ficou descalço – ao entrar na casa turquesa, os hós-pedes são convidados a tirar os sapatos. Dias depois, a jornalis-ta Sônia Racy registrava em sua coluna em O Estado de S. Pau-lo que o escritor havia achado graça naquela festa “pé no chão”.

o esquenta oficial da Flip começa com um almoço na pousadada marquesa. nomes como Karin e Roberto Irineu Marinho,Jovelino Mineiro, Carlos Kalil e integrantes da família Morei-ra Salles, patrocinadores do evento, figuram na lista de convida-dos. todos, diferentemente do que se está acostumado a ver, de ca-misa leve e calça chino (muitas vezes com a barra dobrada). “nosdois primeiros dias as pessoas vão se conhecendo. Quando chegao meio do evento [geralmente no fim de semana] está todo mun-do a fim de uma festa!”, diz belita. opção não falta: nas últimasFlips, a editora cosac naify alugou um barco de dois andares paraum coquetel ancorado. a companhia das Letras fechou uma casanoturna. Já a editora record deu um jantar inspirado no século 18em um sobrado colonial. Uma das mais animadas em 2011 era ado Instituto moreira Salles, com chorinho e champanhe. para esteano, o ImS prepara homenagem aos 100 anos de Luiz Gonzaga.

o maior trunfo do evento é o fato de só se andar a pé na ci-dade. “autores e público ficam próximos”, diz a francesa Sandri-ne Ghys, relações-públicas da Flip. outro detalhe curioso é o dalíngua: apesar de o português dominar, é o francês que reina emmuitas rodas da cidade. tudo isso, somado a boas doses de cacha-ça, é um coquetel de virar a cabeça, especialmente dos gringos. f

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DAVIDBYRNEO músicoentrou de

penetra nafesta de

uma editora.Ninguémreclamou

PAULAUSTER

Não seentendeu coma Maria Izabel,

a famosa pingade Paraty, evomitou nas

ruas de pedra

A líNguA DomINANtE NAs RoDAs é o fRANcês.A BEBIDA Do EVENto é A cAchAçA

“o escritor chega duro, distante. no almoço, prova uma cachaci-nha. Dois dias depois, veste uma camisa florida e fala com todomundo”, conta Sandrine. Foi assim com o escritor Neil Gaiman,em 2008. ele não queria dar autógrafos e acabou fazendo a sessãomais longa da Flip, desenhando em cada livro. entre os mais em-polgados, a relações-públicas cita o historiador britânico SimonSchama, que se entusiasmou numa festa, mesmo com sua palestrano primeiro horário da manhã seguinte. “ele dançou a madruga-da toda, mas não desapontou. De manhã, jogou água fria no ros-to e falou brilhantemente sobre obama, Irã, oriente médio”, lem-bra. “Há histórias de todo tipo: de amor, humor, terror e drama,como nos bons livros.” GQ selecionou as melhores (das que po-demos contar, claro).

O DIA EM qUEPAUL AUSTER CAIU“cheguei cansado, ansioso, mas aí conheci a Maria Izabel e fi-cou tudo ótimo!”, disse o novelista nova-iorquino Richard Priceapós sua passagem pela Flip. maria Izabel, diga-se de passagem,é o nome da dona da cachaça mais conhecida (e pedida) da re-gião. estrela da edição de 2004, Paul Auster, autor de A Trilogiade Nova York, também caiu – literalmente – de amores pela talmaria Izabel. “vi o paul soltando os bofes em frente à sua pousa-da. bebeu uma cachaça braba, o cara”, conta o escritor pernam-bucano Marcelino Freire, frequentador do evento. para ele, aFlip humanizou a figura do escritor. “Um gringo chato que vocêassiste à tarde em uma mesa mais tarde pode estar vomitandonas pedras de paraty. o paul precisou de ajuda para caminhar,trépido e ébrio, até seu quarto”, lembra.

DAvID ByRNEENTRA NA fESTA DE PENETRApresente em cinco edições da Flip, a jornalista e agente literá-ria valéria martins acompanhou a evolução da vida noturna doevento. “no começo não tinha muita festa. as pessoas ficavam

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ANTÓNIOLOBO

E RAQUELCRISTINA

Ele largou amulher, uma

ex-ministra dePortugal, para

ficar com elaDOM JOÃZINHOTodo ano ele recebe120 convidados emtradicional almoço

A tendaarmada emParaty: paraeste ano sãoesperadas20 milpessoas queparticiparãode 200 eventos

onde ficar

Casa Turquesaa pousada mais exclusiva, com nove suítes evista privilegiada. Diárias a partir de r$ 1.100(com café da manhã).www.casaturquesa.com.br

PousaDa Do sanDiuma das mais tradicionais: hospedagem nomelhor estilo colonial. Diárias a partir de r$ 443(apartamento luxo) e r$ 880 (suíte master).www.pousadadosandi.com.br

PousaDa PorTo imPerialCombina tradição e conforto emum casarão do século 19. o pacote daFlip custa r$ 7.442 para 2 pessoas.www.pousadaportoimperial.com.br

onde comer

Banana Da Terraa chef ana Bueno faz comida brasileiracom acento caiçara.GQ sugere: siri catado ao perfume de coco,com tartare de banana, farofa de palmitopupunha e molho lambão, de entrada,e camarões flambados na cachaça e arroznegro com juliana de abobrinhas,como prato principal.www.restaurantebananadaterra.com.br

PorToCom menu contemporâneo, o restaurantetem ótima carta de vinhos.GQ sugere: carré de vitelo aromatizadocom vinho branco e sálvia, acompanhado derisoto de alho-poró; ou o famoso filé-mignonà Dom João, com molho vinho do porto epimentas, servido com purê de frutas secas.Tel.: (24) 3371-1058 / 3371-6145

BarTholomeuespecializada em carnes, a casa servebufê de saladas e pratos quentes na Flip.GQ sugere: lombo de robalo grelhadocom musseline de banana-da-terra e leitede coco, tomates assados e curry.www.bartholomeuparaty.com.br

le GiTe D’inDaiaTiBahá 15 quilômetros (sentido rio), fica orestaurante no meio da mata, com raiae sauna com vista para a cachoeira.GQ sugere: ceviche de robalo com frutasdo quintal e camarões red hot, camarões rosacozidos em azeite perfumado e risotode pitangas.www.legitedindaiatiba.com.br

laPinhaeste quiosque, na praia do Pontal, é lugarpara provar o típico camarão casadinho:dois camarões gigantes, recheados e servidosjuntos. o navegador Amyr Klink é umdos fãs do lugar. Praia do Pontal, últimoquiosque do lado esquerdo.

RoTEiRo5 EsTRElAsuma seleção GQ dos melhoresbares, restaurantes epousadas para quem querassistir às palestras eaproveitar a Badalação da Flip

andando de bar em bar. Rolavam boatos: ‘Em tal lugar tem umafesta’. Ia todo mundo até lá e não tinha nada. Quando muito, ro-lavam umas festas improvisadas”, conta. Na última edição, a fes-ta da editora Globo, na Casa de Cultura, teve show de ArnaldoAntunes e atraiu até o músico escocês David Byrne. Detalhe: ofundador da banda Talking Heads não havia sido convidado. “Aeditora dele era outra”, conta Belita, que ajudou Byrne a entrar pe-la porta dos fundos “de penetra”. Obviamente ninguém reclamoudo bicão. Naquela noite, Byrne conheceu um empresário brasilei-ro que ofereceu a ele carona para São Paulo no seu helicóptero.

A TENTAçÃO DA MUSA CUBANAA mistura de tribos na festa inclui, obviamente, mulheres boni-tas. Além das belas frequentadoras, como Camila Pitanga, MaluMader e Maria Fernanda Cândido, aparecem por lá escritorasgraciosas, caso da cubana Wendy Guerra, autora de Nunca FuiPrimeira-Dama (Editora Benvirá). Musa da edição 2010, a more-na ganhou uma noitada regada a mojito e cuba-libre. “Me sentiem Cuba”, diz Wendy, que dançou salsa noite afora. Ela é uma ex--apresentadora de programas infantis, uma espécie de Xuxa cuba-na. Também já posou para ensaios sensuais. Na época da Flip es-tava casada. Wendy conta: “O Brasil me encanta. Os homens sãomuito gentis e sensuais, tanto que naquela noite fui embora ce-do e sozinha para não cair em tentação”.

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O fAMOSO ALMOçONA CASA DO pRíNCIpEEntra ano, sai ano, o príncipe D. João Orleans e Bragançarecebe 120 convidados para um almoço e, mais tarde, um saraucom fogueira, aberto ao público, que começa à meia-noite e nãotem hora para acabar. Dom Joãozinho, como é conhecido o tri-neto de D. Pedro II, recebe seus convidados de jeans e cami-sa azul (seu uniforme quase diário) e sem muitas formalidades.“Detesto caras e bocas”, diz ele, esticado no sofá com as mãosapoiadas na nuca e os pés em cima da mesa de centro. Apaixo-nado por fotografia (tem 10 livros publicados), o príncipe con-ta que passa os fins de semana no Rio, mas toca os negócios dafamília, de segunda a sexta, em Paraty. “Papai sempre foi envol-vido com a comunidade”, diz ele, justificando seu engajamentonas festas da cidade. “Chacal, Mano Melo, Tavinho Paes…”,ele vai citando os poetas que declamaram em seu sarau. O tradi-cional almoço tem hora marcada, das 13h às 15h, porque depoistem palestra. É o tempo de bebericar um prosecco e provar pra-tos como moqueca e tutu de feijão. “É uma comida simples, bra-sileira, com toque caiçara”, define, lembrando de uma gafe quecometeu, ao alertar o escritor Salman Rushdie, nascido na Ín-dia, de que a pimenta era “muito forte”. “Só depois me lembreique no país dele se come pimenta de colherada”, conta.

O JANTAR EM QUE CHICO SE SOLTOUO restaurante Porto recebeu em suas dez mesas os autores de to-das as edições da Flip. Ali, por exemplo, Chico Buarque almo-çou mais de uma vez em 2004, quando autografou Budapeste.“Ele passava no restaurante para filar um cafezinho, as cozinhei-ras adoravam!”, lembra Cibele Aragão, proprietária. Numa noi-te em que jantou com um grupo grande, conta a lenda que Chi-co teria se empolgado com o vinho e tecido elogios calorosos àatriz Deborah Secco, que não estava presente. O episódio é nar-rado pelo jornalista gaúcho Milton Ribeiro, que estava na mesa

ao lado: “Chico começou a falar da Deborah Secco. Em meio agritos de seus amigos, disse que ela era ‘linda, maravilhosa, gos-tosa e tesuda’.” Enquanto isso, sua filha, Silvia Buarque, tenta-va conter as palavras do pai: “Papai, você está saindo da idadedo lobo para a idade do bobo”. A dona do restaurante se lembrado episódio, mas se recusa a dar mais detalhes. Na Flip de 2009,com o livro Leite Derramado (Companhia das Letras), Chico vol-tou ao Porto. Dessa vez, bem mais comedido.

A pAIxÃO SúBITA DE LOBO ANTUNES“A amizade é como o amor. A gente encontra um homem e ficaamigo de infância. Descobre um passado comum e há um prin-cípio de vasos comunicantes que começa ali.” Foi assim que oescritor português António Lobo Antunes iniciou sua conver-sa com o jornalista Humberto Werneck, na 7ª edição da Flip.Na plateia, encantada com sua prosa, estava a jornalista RaquelCristina dos Santos. A moça nutria pelo escritor um amor pla-tônico havia quatro anos – e despertou nele uma paixão imedia-ta. “Todo mundo comentou aquela história fulminante”, lembra aRP da Flip. Aos 66 anos, Lobo Antunes entrou de cabeça no ro-mance com a brasileira. Chegou a se separar de sua mulher, anti-ga ministra da Cultura de Portugal, mas o relacionamento acabouem dois meses. “Os amores da Flip são como os de Carnaval, ter-minam quando a festa acaba”, diz Valéria Martins.

WENDYGUERRAA cubana foia musa daedição de2010. “o Brasilme encanta.os homenssão gentis esensuais”

há histórias de todo tipo: de amor, terror,humor e drama, como nos bons livros

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