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PARADIGMAS EM DISPUTA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO Rodrigo Simão Camacho Fonte:<https://www.google.com.br/search?q=imagens+de+pensador&tbm=isch&tbo=u&source> Presidente Prudente, Janeiro de 2014

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  • PARADIGMAS EM DISPUTA NA EDUCAO DO CAMPO

    Rodrigo Simo Camacho

    Fonte:

    Presidente Prudente, Janeiro de 2014

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    1

    PARADIGMAS EM DISPUTA NA

    EDUCAO DO CAMPO

    Rodrigo Simo Camacho

    Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Geografia da FCT-UNESP, Campus de Presidente Prudente como um dos requisitos para a obteno do ttulo de Doutor em Geografia.rea de concentrao: Produo do Espao Geogrfico. Linha de pesquisa: Estudos Rurais e Movimentos Sociais. Orientador: Prof. Dr. Bernardo Manano Fernandes Co-orientadora: Profa. Dra. Rosemeire Aparecida de Almeida.

    Presidente Prudente, Janeiro de 2014.

  • FICHA CATALOGRFICA

    Camacho, Rodrigo Simo.

    C17p Paradigmas em disputa na educao do campo / Rodrigo Simo Camacho. - Presidente Prudente : [s.n.], 2014

    806 p. Orientador: Bernardo Manano Fernandes Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

    Cincias e Tecnologia Inclui bibliografia 1. Paradigmas. 2. Movimentos socioterritoriais camponeses. 3. Educao

    do campo. 4. PRONERA. I. Fernandes, Bernardo Manano. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Tecnologia. III. Ttulo.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    2

    DEDICATRIA

    Aos meus pais pela experincia concedida, carinho, dedicao e ateno, durante todos esses anos e, sobretudo, desde a graduao, que propiciou com que eu conseguisse alcanar meus

    objetivos.

    A todos os educandos-camponeses-militantes que nos proporcionaram entender a complexidade da construo de diferentes saberes a fim de que possamos construir juntos uma Educao do Campo enquanto um saber emancipatrio.

    A todos que lutam por uma sociedade mais justa, igualitria e democrtica...

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    3

    AGRADECIMENTOS

    - Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) pelo financiamento da pesquisa. - Aos meus pais Adelina Simo Fracasso e Jos Francisco Camacho por todo apoio que me deram durante minha vida inteira e na realizao deste trabalho. E, sobretudo, por mais uma vez ter que lidar com a minha ausncia (perto e longe). -Ao meu orientador Bernardo Manano Fernandes que possibilitou no s que eu estudasse este tema, como trouxe todo este debate para a Geografia. - minha co-orientadora Rosemeire Aparecida de Almeida por sempre ter apoiado e acreditado no meu trabalho desde o tempo da graduao em Geografia na UFMS. - Aos meus professores da graduao em Geografia do campus de Trs Lagoas/MS e da ps-graduao (mestrado) em Geografia do campus de Aquidauana/MS, por me indicarem os caminhos a serem percorridos. -Aos professores da ps-graduao em Geografia da UNESP campus de Presidente, sobretudo, ao Thomaz Junior, Cliff Welch e Eliseu Sposito com a qual fiz as disciplinas. -Aos Coordenadores do Instituto Souza Cruz e coordenadores e educadores do CEDEJOR que foram bastante prestativos a fim de contriburem com a minha pesquisa; -Aos educandos-camponeses do PEJR pelas entrevistas concedidas; -Aos companheiros educandos-camponeses-militantes do Curso Especial de Graduao em Geografia, na UNESP e na ENFF, pelas entrevistas concedidas, pelas conversas e pela amizade. -Aos monitores, professores, secretaria e coordenao do CEGeo pela colaborao com a pesquisa e pela convivncia. - minha namorada, Jaque Vieira, que chegou h pouco tempo em minha vida, mas j tem uma importncia gigante. Teve que ter uma grande compreenso para o trmino dessa tese desde o incio do nosso relacionamento. E, tambm, agradeo sua famlia pais (Damio e Ivonete) e irms (Gabi, Jssica e Carol) pela recepo em julho em Atibaia.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    4

    - Mayara (Senhora Tom), que me ajudou com as transcries. - Aos amigos que trago da UFMS e que tive o prazer de conviver com eles novamente em Presidente Prudente, especialmente, ao Joo e o Mauro, e sua companheira Marine. -Aos amigos que compartilharam a repblica comigo, o casal Joo (ainda vamos ouvir muito som massa juntos) e Nati (a ganhadora da melhor tese de geografia fsica 2013). -Aos amigos da minha turma de doutorado, em especial: Z e Karina, Arcanjo, Mrcio,Andra e Ronaldo. -Aos amigos da ps-graduao, com a qual passamos bons momentos de socializao juntos, especialmente: Juscelino, Fernando Heck (o cara da geografia do trabalho), Baiano, Ciro, Agnaldo, Nbia, Paoca (do PCA), Tssio, Karime, Liz, Afonso, Wagno, Cssio, Shinoby, Leandro, Sidney, Langa, Gerson (ps da Via Campesina), ao casal Wagnho e Edna (valeu pela companhia no EGAL). -Aos que me ajudaram nos debates durante a elaborao da tese: Francilane, Ciro, Janaina, Cac e Munir. -Aos amigos do NERA: Tom, Rafa, Nai e, especialmente, ao Nino, (foram 04 anos de discusso terica, muita risada e Zuao), Tiago Cubas (parceiro de produo acadmica e Zuao) e Valmir (amigo h 14 anos, foi uma boa influncia para mim fazer Geografia). -Aos meus vizinhos da Melen Isaac: Pira, Diego e Natlia (esquina paranoia delirante). - Aos amigos de Tupi Paulista e regio, sempre presentes nas festas, churrascos e tambm nas discusses tericas na busca de um mundo melhor: Luciano (Dente), Karina, Jaqueline e Piva (compadres), Diego (Mijo), Diego (Rato), Jass, Mauro, Nicolau, Uiara, Zizeli, Faf, do, Marlon, Tiago Bertolin, Lilian, Mano e Danilo-Japons (agregado de Tupi). Especialmente, aos meus dois amigos que viraram meus irmos: lder e Falco; e o meu (con)cunhado Alder Suricate. - Aos meus tios e primos pelo companheirismo, amizade e apoio: Tio Tonho, Tio Diogo, Tio Man, Tio Z, Tia Tereza, Tia Regina e Tio Luis, Marquinhos, Elaine, Simone, Eldinnho, Flavinho, Nando, Valdeis. E, especialmente, ao Augusto Csar (Guto) - meu primo-irmo. - Ao Luciano (Dente) - meu amigo-irmo-primo que me ajudou na confeco dos mapas.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

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    - todos os meus professores da Educao Bsica das escolas estaduais onde estudei: 3 escola de Tupi Paulista; Prof. Bueno de Azevedo Filho e Prof. Jos de Bezerra Sanches de Francisco Morato; CEFAM de Franco da Rocha e CEFAM de Tupi Paulista. Pois, estes me ajudaram a construir a base que me propiciou dar continuidade aos meus estudos. - Aos amigos de infncia e adolescncia, que mesmo estando to distantes e, que provavelmente nunca tero a oportunidade de ler o que escrevi, foram de grande importncia no meu processo de construo enquanto ser social. Especialmente, aos amigos de Franco da Rocha e Francisco Morato, onde compartilhamos juntos as dificuldades e as experincias do modo de vida da periferia. - Aos amigos do CEFAM (Centro Especfico para Formao de Aperfeioamento do Magistrio) de Franco da Rocha e de Tupi Paulista, por tudo que vivemos e vivenciamos em um momento muito especial da minha vida. - Aos amigos da Graduao e mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no qual, compartilhamos nossas experincias e construmos juntos grande parte do nosso conhecimento acadmico. - todos que colaboraram de maneira direta, ou indiretamente, para que o trabalho pudesse ser realizado.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    6

    Epgrafe

    Aos que habitam Cortios e favelas

    e mesmo que acordados pelas sirenes das fbricas

    no deixam de sonhar de ter esperanas

    pois o futuro vos pertence

    Pois o futuro vos pertence! Pois o futuro vos pertence!

    Aos que carregam rosas Sem temer machucar as mos

    pois seu sangue no azul nem verde do Dlar

    mas vermelho da fria amordaada

    de um grito de liberdade preso na garganta Fuzilados da CSN

    assassinados no campo torturados no DEOPS

    espancados na greve A cada passo desta marcha

    Camponeses e operrios tombam homens fuzilados

    Mas por mais rosas que os poderosos matem nunca conseguiro deter

    a Primavera! Pois o futuro vos pertence!

    Pois o futuro vos pertence! 1

    1Aos Fuzilados da C.S.N. Garotos Podres.

    http://letras.mus.br/garotos-podres/

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    7

    Entre tijolos de areia, Uma nova escola se ergue

    Das mos de homens e mulheres, Que se misturam ao cimento.

    E enquanto sobem as paredes,

    Avanamos nossa luta Forjando novos sujeitos

    Nessa construo da vida.

    O que construmos?

    Com suor e com beleza, Construmos a ns mesmos; Construmos nossos sonhos; Construmos nossa histria.

    Num projeto coletivo,

    Construmos um novo homem; Construmos uma nova mulher;

    Construmos um novo campo; Construmos uma nova educao.

    Construmos a Educao do Campo!2

    Se a educao sozinha no pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda. (Paulo Freire).

    2 Paulo Roberto.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    8

    RESUMO

    O objetivo geral dessa tese o de demonstrar as diferenas dos aspectos tericos,

    polticos e ideolgicos existentes entre a Educao do Campo construda a partir da tendncia

    campesinista do Paradigma da Questo Agrria (PQA), tendo como recorte analtico a

    experincia do Curso Especial de Graduao em Geografia (CEGeo) convnio

    INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF, e a proposta de Educao do Campo construda a partir

    do Paradigma do Capitalismo Agrrio (PCA), tendo como recorte analtico a experincia do

    Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) que recebe apoio tcnico, pedaggico e

    financeiro do Instituto Souza Cruz (ISC), e implementada pelo Centro de Desenvolvimento

    do Jovem Rural (CEDEJOR),no Centro-Sul do Paran. Com esta comparao pretendemos

    defender o que consideramos ser o Paradigma Originrio da Educao do Campo e afirmar a

    tese de que o territrio terico da Educao do Campo est amparado na tendncia

    campesinista do Paradigma da Questo Agrria. A metodologia utilizada foi anlise do

    Projeto Poltico-Pedaggico, a observao participante e as entrevistas com coordenadores,

    educandos, monitores e educadores de ambos os cursos. A nossa reflexo vai estar calcada em

    torno de dois paradigmas: o PQA e o PCA. A tendncia campesinista do PQA defende a tese

    da recriao camponesa, entende que o desenvolvimento do capitalismo no campo se faz a

    partir de um movimento desigual e contraditrio. No PCA, a tese principal da metamorfose

    do campesinato em agricultor familiar a partir da integrao do campons ao mercado.

    Nossa tese central a de que o Paradigma da Educao do Campo um territrio imaterial

    construdo poltica-ideologicamente a partir da tendncia campesinista do PQA. A Educao

    do Campo construda como uma forma de resistncia cultural e poltica do campesinato

    frente territorializao capitalista no campo. Os camponeses-militantes licenciados e

    bacharis pelo Curso Especial de Graduao em Geografia (CEGeo) vo utilizar os

    conhecimentos geogrficos aprendidos, na escola do seu assentamento e na militncia dos

    movimentos socioterritoriais. Por outro lado, a experincia de Educao do Campo construda

    a partir do PCA, o PEJR, visa formar empreendedores rurais na lgica da profissionalizao

    dos camponeses para competir e se integrar ao mercado.

    Palavras-chave: Paradigmas; Movimentos Socioterritoriais Camponeses; Educao do

    Campo; PRONERA.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    9

    RESUMEN

    El objetivo general de esta tesis es demostrar las diferencias de los aspectos tericos,

    polticos y ideolgicos existentes entre la Educacin del Campo construida desde la tendencia

    campesinista del Paradigma de la Cuestin Agraria (PQA), teniendo como recorte analtico la

    experiencia el Curso Especial de Graduacin enGeografa (CEGeo) convenio

    INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF, y la propuesta de la Educacin del Campo construida

    desde el Paradigma del Capitalismo Agrario (PCA), teniendo como recorte analtico la

    experiencia del Programa Empreendedorismo del Joven Rural (PEJR) que recibe apoyo

    tcnico, pedaggico y financiero del Instituto Souza Cruz (ISC), y es implementada por el

    Centro de Desarrollo del Joven Rural (CEDEJOR), en el Centro-Sur de Paran. Con esta

    comparacin intentamos defender lo que consideramos ser el Paradigma Originario de la

    Educacin del Campo y afirmar la tesis de que el territorio terico de la Educacin del Campo

    est amparado en la tendencia campesinista del PQA. La metodologa utilizada fue la anlisis

    del Proyecto Poltico-Pedaggico, la observacin participante y las entrevistas con

    coordinadores, educandos, monitores y educadores de ambos cursos. Nuestra reflexin va a

    estar acerca de dos paradigmas: el PQA y el PCA. La tendencia campesinistadel PQA

    defiende la tesis de la recreacin campesina, entiende que el desarrollo del capitalismo en el

    campo se hace a partir de un movimiento desigual y contradictorio. En el PCA la tesis

    principal es sobre la metamorfosis del campesinado en el agricultor familiar a partir de la

    integracin del campesino al mercado. Nuestra tesis central es la que el Paradigma de la

    Educacin del Campo es un territorio i-material construido poltica-ideolgicamente a partir

    de la tendencia campesinista del PQA. La Educacin del Campo es construida como una

    forma de resistencia cultural y poltica del campesino frente a la territorializacin capitalista

    en el campo. Los campesinos-militantes licenciados y bachilleres del Curso Especial de

    Graduacin en Geografa van a utilizar los conocimientos geogrficos aprendidos en el

    CEGeo, en la escuela del sitio donde viven y en la militancia de los movimientos socio-

    territoriales. Por el contrario, la experiencia de la Educacin del Campo construida a partir del

    PCA, el PEJR, normaliza formar emprendedores rurales, en la lgica de la profesionalizacin

    de los campesinos, para competir y si integrar al mercado.

    Palabras-llave: Paradigmas; Movimientos socioterritoriales Campesinos; Educacin del

    Campo; PRONERA.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    10

    QUADROS

    Quadro 1 - Temas e autores do Paradigma da Questo Agrria. .......................................... 125

    Quadro 2 - Temas e autores da vertente campesinista do Paradigma da Questo Agrria. ... 126

    Quadro 3 - Componentes Curriculares e Carga Horria .................................................441

    Quadro 4- Aes executadas pelo Cedejor e seus apoiadores................................................569

    Quadro 5 - Estruturao Curricular do PEJR..........................................................................584

    Quadro 6 -Sntese das disputas paradigmticas PQA e PCA...............................................662

    Quadro 7 - Sntese das diferenas entre as duas experincias de Educao do Campo.........665

    FOTOS

    Foto 1 - Escola Nacional Florestan Fernandes .................................................................... 541

    Foto 2 - Refeitrio da ENFF Josu de Castro ................................................................... 542

    Foto 3 - Auditrio da ENFF Patativa do Assar ............................................................... 542

    Foto 4 - Criao de porcos da ENFF .................................................................................. 543

    Foto 5 - O dia de trabalho no pomar da ENFF .................................................................... 550

    Foto 6 - Dia de trabalho (atividade da horta). ..................................................................... 551

    Foto 7 - Dia de trabalho (atividade da construo) .............................................................. 551

    Foto 8 - Hasteando as bandeiras MST e Via campesina ................................................... 559

    Foto 9 - Mstica na ENFF (Amrica Latina) ....................................................................... 560

    Foto 10 - Mstica na ENFF (Turma Milton Santos) ............................................................ 560

    Foto 11 - Mstica na ENFF (Bandeiras dos Movimentos Sociais e Ferramentas). ............... 561

    Foto 12 - Mstica na ENFF (alimentao agroecolgica X agrotxicos do agronegcio). .... 563

    Foto 13 - Mstica na ENFF (explorao do trabalho no agronegcio). ................................ 564

    Foto 14 - Mstica na ENFF (colonizao na Amrica Latina) ............................................. 565

    Foto 15 - Mstica na ENFF (a importncia da preservao do solo). ................................... 566

    Foto 16 - Mstica de encerramento do CEGeo na ENFF ..................................................... 566

    Foto 17 - Mstica na ENFF (turma de estudos de Marx). .................................................... 567

    Foto 18 - Cerimnia de encerramento................................................................................. 568

    Foto 19 - Cerimnia de encerramento................................................................................. 569

    Foto 20 - Placa de homenagem a ENFF afixada pela turma de Geografia da Via Campesina

    .......................................................................................................................................... 570

    Foto 21 - Mstica na FCT/Unesp no incio do 7 Tempo Escola .......................................... 588

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    11

    Foto 22 - Trabalho de Campo dos educandos do CEGeo no Morro do Diabo .................. 611

    Foto 23 - Trabalho de Campo dos educandos do CEGeo na U.H.Porto Primavera .............. 611

    Foto 24- Desfile temtico dos ncleos do Cedejor. ............................................................. 649

    Foto 25 - Centro de Formao do Territrio Centro Sul do Paran ..................................... 654

    Foto 26 - Exposio do Projeto de Empreendedorismo Artesanato em EVA ................... 733

    Foto 27 - O Ensino do Empreendedorismo ......................................................................... 737

    Foto 28 - O Empreendedorismo: temtica principal do PEJR ............................................. 738

    MAPAS

    Mapa 1 - Localizao dos municpios de Presidente Prudente e de Guararema - SP............ 475

    Mapa 2 Territrios de Atuao do Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural no Brasil............................................................................................................................. ..........618

    Mapa 3 - Localizao do Territrio Centro Sul/PR ............................................................. 652

    Mapa 4 - Localizao da Sede do Cedejor Centro Sul/PR ................................................... 653

    TABELAS

    Tabela 1 - Condies fsicas da FCT/Unesp Campus Presidente Prudente .......................... 459

    Tabela 2- Temticas relacionadas s atividades agrcolas e no agrcolas .......................... 728

    Tabela 3 - Cronograma das apresentaes do dia 14/12/2011 ............................................ 731

    Tabela 4 - Cronograma das apresentaes do dia 15/12/2011 ........................................... .732

    FIGURAS

    Figura1 - O Desenvolvimento Cientfico de acordo com Kuhn ........................................... 104

    Figura 2 - Slogan de evento promovido pelo Instituto Souza Cruz ...................................... 640

    Figura 3 - Desenho da Atuao Institucional do Cedejor .................................................... 647

    Figura 4 - Pilastras do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural. ............................... 656

    Figura 5 - Ciclos de Formao do PEJR. ............................................................................ 666

    Figura 6 - Estrutura de Funcionamento do PEJR. ............................................................... 666

    Figura 7 - Processo formativo dos jovens rurais. ................................................................ 669

    GRFICOS

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    12

    Grfico 1 - Trabalhadores Rurais X reas de Lavoura no Brasil (1920-2006) .................... 244

    Grfico 2 - Atividades agrcolas ......................................................................................... 729

    Grfico 3 - Atividades no agrcolas .................................................................................. 730

    SUMRIO RESUMO ................................................................................................................................. 8

    FOTOS ................................................................................................................................... 10

    MAPAS ............................................................................................................................. ..... 11

    TABELAS ............................................................................................................................. . 11

    FIGURAS ........................................................................................................................... 11

    GRFICOS ...................................................................................................................... 112

    INTRODUO .................................................................................................................. 19

    METODOLOGIA ................................................................................................................. 28

    CAPTULO I - OS TERRITRIOS IMATERIAIS EM DISPUTA: A TEORIA, A POLTICA E A IDEOLOGIA NA PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO ............................................................................................................................................ 46

    1.1 A PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO EM QUESTO .................. 48

    1.2 AS IDEOLOGIAS EM DISPUTA: ELEMENTO INERENTE A PRODUO CIENTFICA EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES ...................................................... 61

    1.3 - OS TERRITRIOS MATERIAIS/IMATERIAIS E A QUESTO AGRRIA ........... 96

    1.4 OS PARADIGMAS: A PRODUO DO CONHECIMENTO CIENTFICO EM DISPUTA .......................................................................................................................... 100

    1.5 O PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA E O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO EM DISPUTA ................................................................................................. 111

    CAPTULO II - O PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA: AS DIFERENTES TENDNCIAS DO MARXISMO ..................................................................................... 119

    2.1 - UNIDADE NA DIVERSIDADE: O DEBATE DO FIM OU DA PERMANNCIA DO CAMPESINATO NO MARXISMO AGRRIO ................................................................ 121

    2.2 A TENDNCIA PROLETARISTA DO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA EM QUESTO: A TESE DO FIM DO CAMPESINATO ....................................................... 129

    2.3 - A TENDNCIA CAMPESINISTA DO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA . 151

    2.3.1 - As contraposies ao Marxismo Ortodoxo: o Narodnismo Marxista, o Marxismo Heterodoxo e a Economia Camponesa de Chayanov ................................................................151

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    13

    2.3.2 - A Lgica Desigual-Contraditria-Combinada do Capitalismo no Campo Brasileiro: a Tese

    da Recriao Camponesa .........................................................................................................162

    2.3.3 - A Recriaodo Campesinato por meio da Luta pela/na Terra/Territrio: a conflitualidade

    de Classes e a Resistncia Camponesa .....................................................................................177

    2.4 O CONCEITO DE CAMPESINATO NA TENDNCIA CAMPESINISTA DO PQA: MODO DE VIDA E CLASSE SOCIAL ............................................................................ 184

    2.4.1 - Economia e Cultura: a importncia do Modo de Vida Campons construdo na Trade Terra-Famlia-Trabalho ...........................................................................................................187

    2.4.2 - O Campesinato como classe em si epara si .............................................................196

    2.5 - A INTERPRETAO GEOGRFICA DO CAMPO A PARTIR DO PQA: O MOVIMENTO DE TDR E AS DISPUTAS TERRITORIAIS NO CAMPO ..................... 207

    2.5.1 - O Territrio como Categoria de Anlise Geogrfica ......................................................207

    2.5.2 - Os Processos de TDR do Capital e do Campesinato e de Monopolizao do Territrio pelo

    Capital: o Conflito e a Disputa Territorial ................................................................................213

    2.5.3 - Movimentos Socioterritoriais: um Conceito Geogrfico para explicar a Territorializao

    dos Movimentos Sociais ..........................................................................................................222

    2.5.4 - O Agronegcio: Territorializao do Capital no Campo ................................................236

    CAPTULO III - O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO EM QUESTO .......................................................................................................................................... 253

    3.1 DISCUTINDO A OBRA SEMINAL DO PCA: A RUPTURA COM O PARADIGMA MARXISTA E O NASCIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA............................................. 255

    3.2 O PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO NA ACADEMIA, NOS MOVIMENTOS CAMPONESES E NAS POLTICAS PBLICAS ....................................262

    3.3 - A QUESTO DA PERMANNCIA E DO FIM DO CAMPESINATO NO PCA: A INCOMPATIBILIDADE DO CAMPESINATO COM O CAPITALISMO .........................278

    3.4 - A DIFERENCIAO ENTRE O CAMPESINATO E O AGRICULTOR FAMILIAR/MODERNO/PROFISSIONAL/INTEGRADO: A METAMORFOSE ............295

    3.5 AGRICULTOR MODERNO OU SUJEITOS DIFERENCIADOS EM UMA MESMA CLASSE SOCIAL? .....................................................................................................306

    CAPTULO IV - A EDUCAO DO CAMPO NO PARADIGMA DA QUESTO AGRRIA ........................................................................................................................ 315

    4.1 - POR UMA EDUCAO DO CAMPO: COMBATENDO A EXCLUSO SOCIAL E EDUCACIONAL DO CAMPO ......................................................................................... 319

    4.2 - A EDUCAO DO CAMPO E O MODO DE VIDA CAMPONS: TERRA/TERRITRIO-FAMLIA-TRABALHO ............................................................. 329

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    14

    4.3 - A EDUCAO DO CAMPO NA TENDNCIA CAMPESINISTA DO PQA: O CONFLITO/DISPUTA DE TERRITRIOS MATERIAIS/IMATERIAIS COM O AGRONEGCIO .............................................................................................................. 341

    4.4 - A EDUCAO TERRITORIAL CAMPONESA: UNIDADE NA DIVERSIDADE ................................................................................................................................................ 355

    4.5 - A EDUCAO DO CAMPO E OS SEUS PRESSUPOSTOS TERICO-METODOLGICOS E POLTICO-IDEOLGICOS ...................................................... 369

    4.6 - POR UMA EDUCAO DO CAMPO PARA ALM DO CAPITAL: EM BUSCA DA EMANCIPAO HUMANA ............................................................................................ 397

    4.7 - A CONQUISTA JURDICA DA EDUCAO DO CAMPO: AS LUTAS CRIAM AS LEIS .................................................................................................................................. 410

    CAPTULO V - O CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM GEOGRAFIA - CONVNIO INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF: UMA EXPERINCIA DE EDUCAO DO CAMPO NO PQA ................................................................................ 424

    5.1 - O PRONERA COMO CONSTRUO PRTICA E TERICA DA EDUCAO DO CAMPO: UMA POLTICA PBLICA DO PQA .............................................................. 428

    5.2 - O PRONERA: UMA POLTICA PBLICA DE GESTO TRIPARTITE ESTADO/UNIVERSIDADE/MOVIMENTOS SOCIAIS.................................................. 441

    5.3 - O PROJETO POLTICO-PEDAGGICO DO CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA E BACHARELADO ................... 455

    5.4 - A PEDAGOGIA DA ALTERNNCIA NO CEGEO: RELAO ENSINO-PESQUISA E TEORIA-PRTICA........................................................................................................... 472

    5.5 A UNESP E O CUSO ESPECIAL DE GEOGRAFIA: COORDENAO, MONITORIA E ORIENTAO......................................................................................... . 482

    5.6 QUEM SO OS EDUCANDOS-CAMPONESES-MILITANTES DO CEGEO: TRAJETRIAS HISTRICAS-GEOGRFICAS ............................................................ 492

    5.7 - A RELAO DOS MOVIMENTOS SOCIOTERRITORIAIS CAMPONESES COM A UNIVERSIDADENO CEGEO ......................................................................................... 518

    5.7.1 - A Escola Nacional Florestan Fernandes ........................................................................541

    5.8 - A FORMAO DE EDUCADORES-CAMPONESES-MILITANTES PELO PRONERA: O CASO DO CEGEO ................................................................................... 570

    5.9 - A FORMAO DE CAMPONESES-MILITANTES BACHARIS E LICENCIADOS EM GEOGRAFIA ............................................................................................................. 587

    5.10 - A PESQUISA-MILITANTE: O PROJETO DE MONOGRAFIA DOS EDUCANDOS-CAMPONESES-MILITANTES DO CEGEO ........................................................................... 612

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    15

    CAPTULO VI - A EDUCAO DO CAMPO NO PARADIGMA DO CAPITALISMO AGRRIO: O PEJR CEDEJOR/INSTITUTO SOUZA CRUZ ................................. 631

    6.1 - CONCHECENDO OS SUEJEITOS RESPONSVEIS PELO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .............................................................. 633

    6.2 - INSTITUTO SOUZA CRUZ: APOIO TCNICO, PEDAGGICO E FINANCEIRO DO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .......................... 637

    6.3 - O CENTRO DE DESENVOLVIMENTO DO JOVEM RURAL - CEDEJOR: A EXECUO DO PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL .... 643

    6.4 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: CONCEPES ORIENTADORAS DO PROGRAMA ..................................................... 655

    6.5 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: A RESIGNIFICAO DA EDUCAO DO CAMPO ........................................................ 674

    6.6 O PROCESSO DE FORMAO E AS ATRIBUIES DOS EDUCADORES DO CEDEJOR ............................................................................................................................ 688

    6.7 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: INCORPORANDO A IDENTIDADE DE JOVENS RURAIS E JOVENS DA AGRICULTURA FAMILIAR ........................................................................................... 692

    6.8 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: AGRICULTURA FAMILIAR E AGRONEGCIO .......................................................... 698

    6.9 O PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO DO JOVEM RURAL: DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL ........................................................... 708

    6.10 O PROGRAMA DE EMPREENDERORISMO DO JOVEM RURAL: A EDUCAO PARA O EMPREENDEDORISMO ........................................................... 719

    6.11 ALGUMAS CONSIDERAES CRTICAS ACERCA DA IDEOLOGIA DIFUNDIDA NA EDUCAO DO CAMPO DO PCA .................................................... 741

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 772

    ANEXOS .......................................................................................................................... 801

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    16

    LISTA DE SIGLAS

    AAENFF Associao de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes ADEL - Agncia de Desenvolvimento Econmico Local

    ARCAFAR SUL - Associao Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil

    CEBs Comunidades Eclesiais de Base

    CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural CEFAM Centro Especfico para a Formao e Aperfeioamento do Magistrio

    CEGeo Curso Especial de Graduao em Geografia CNA Confederao Nacional da Agricultura

    CNBB Confederao Nacional de Bispos Brasileiros

    CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

    CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

    CPP Comisso Poltico-Pedaggica CPT Comisso Pastoral da Terra

    CUT Central nica dos Trabalhadores

    DCN Diretrizes Curriculares Nacionais EDUCAFRO - Educao e Cidadania de Afro-descedentes e Carentes

    EFA Escola Famlia Agrcola EMATER/PR Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado do Paran

    ENFF- Escola Nacional Florestan Fernandes

    FCT - Faculdade de Cincias e Tecnologia

    FETAEP Federao dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Paran

    FONEC - Frum Nacional de Educao do Campo

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INCRA - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    ISC Instituto Souza Cruz LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional

    MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens

    MCP - Movimento Consulta Popular

    MDA - Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    17

    MEC Ministrio da Educao

    MEPES - Movimento de Educao Promocional do Estado do Esprito Santo

    MMC -Movimento de Mulheres Camponesas

    MOC Movimento de Organizao Comunitria MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores

    MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

    MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de So Paulo

    PCA Paradigma do Capitalismo Agrrio PJER Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural

    PJR - Pastoral da Juventude Rural

    PPP Projeto Poltico-Pedaggico PQA Paradigma da Questo Agrria PRONAF Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar

    PRONAT -Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentvel de Territrios Rurais

    PRONERA - Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria

    RACEFFAES- Regional das Associaes dos Centros Familiares de Formao

    emAlternncia do Esprito Santo

    SECADI Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso SENARServio Nacional de Aprendizagem Rural SERTA - Servio de Tecnologia Alternativa

    TC Tempo Comunidade TDR Territorializao/Desterritorializao/Reterritorializao

    TE Tempo Escola UNEFAB -Unio Nacional das Escolas Famlias Agrcolas do Brasil

    UNESP - Universidade Estadual Paulista - Jlio Mesquita Filho

    USP Universidade de So Paulo

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    18

    A histria

    como um conjunto

    de possibilidades,

    um dado a priori.

    Milton Santos

    No h transio que no implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanh se cria num ontem, atravs de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que somos, para saber o que seremos. (FREIRE, 1981a, p.33).

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    19

    INTRODUO

    O objetivo geral dessa tese o de demonstrar as diferenas dos aspectos

    tericos/filosficos, polticos e ideolgicos existentes entre a Educao do Campo, construda

    a partir da tendncia campesinista do Paradigma da Questo Agrria pelos movimentos

    socioterritorias camponeses, tendo como recorte analtico a experincia do Curso Especial de

    Graduao em Geografia (licenciatura e bacharelado) convnio

    INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF CEGeo, e a proposta de Educao do Campo construda

    em parceria com o agronegcio a partir do Paradigma do Capitalismo Agrrio. Esta ltima

    tendo como recorte analtico a experincia do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural

    que recebe apoio tcnico, pedaggico e financeiro do Instituto Souza Cruz - ISC, e

    implementada pelo CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural,no Centro-Sul

    do Paran, com sede no municpio de Guamiranga.

    necessrio ressaltarmos que a comparao que estabelecemos do Programa de

    Empreendedorismo do Jovem Rural com o Curso Especial de Graduao em Geografia, se faz

    do ponto vista paradigmtico (PQA X PCA), da perspectiva terica-poltica-ideolgica-

    utpica que permeia a constituio e funcionamento desses dois modelos distintos de

    Educao do Campo. A principal divergncia que buscamos compreender como o CEGeo

    d nfase s questes estruturais e o PEJR d nfase s questes conjunturais. No temos a

    inteno de estabelecer comparao em termos da estrutura curricular destes, tendo em vista

    que enquanto o CEGeo uma poltica pblica de nvel superior de graduao em Geografia,

    por outro lado, o PEJR uma experincia do terceiro setor de nvel de ps-mdio para a

    formao de empreendedores. Com esta comparao pretendemos defender o que

    consideramos ser o Paradigma Originrio da Educao do Campo materializado na

    experincia do CEGeo.

    Os objetivos especficos almejados nessa tese foram: estudar a disputa paradigmtica

    existente no interior da produo do conhecimento cientfico; Refletir acerca dos aspectos

    terico-poltico-ideolgicos distintos presentes no Paradigma da Questo Agrria e no

    Paradigma do Capitalismo Agrrio; Interpretar as diferenas entre as tendncias proletarista

    (fim do campesinato) e campesinista (recriao camponesa) no interior do Paradigma da

    Questo Agrria, e os seus desdobramentos para a construo de uma Geografia agrria da

    tendncia campesinista; Analisar as distintas influncias que as correntes do Paradigma da

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    20

    Questo Agrria e do Paradigma do Capitalismo Agrrio tm nos processos de construo de

    experincias de Educao do Campo; Delimitar um territrio terico, no que concerne a

    Educao do Campo, a partir do Paradigma da Questo Agrria; Afirmar a importncia da

    Educao do Campo para a reproduo do modo de vida e da identidade territorial e de classe

    camponesa; Analisar a Proposta Poltica e Pedaggica do Curso Especial de Graduao em

    Geografia (licenciatura e bacharelado) convnio INCRA/PRONERA/UNESP/ENFF

    CEGeo; Possibilitar um avano na discusso da temtica da Educao do Campo, sobretudo,

    na cincia geogrfica; Fazer uma anlise crtica aos pressupostos tericos-polticos-

    ideolgicos do Paradigma do Capitalismo Agrrio, com nfase na obra: Paradigmas do

    Capitalismo Agrrio em Questo de Ricardo Abramovay;Refletir sobre os aspectos positivos

    e negativos da experincia de Educao do Campo construda a partir da Paradigma do

    Capitalismo Agrrio proposta pelo Instituto Souza Cruz, o Programa Empreendedorismo do

    Jovem Rural, implementada pelo CEDEJOR Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural;

    Conhecer quem so e, tambm, o que pensam os sujeitos envolvidos no processo de

    construo das duas experincias de Educao do Campo distintas investigadas.

    Podemos dividir nossos procedimentos metodolgicos em 04 etapas principais. A

    primeira foi a leitura e o fichamento de livros, revistas, jornais, artigos publicados em anais

    etc., a partir dos eixos temticos principais que perpassam a tese. Na segunda etapa fizemos

    04 trabalhos de campo relacionados ao Curso Especial de Graduao em Geografia - CEGeo

    (Presidente Prudente e Guararema), quatro trabalhos de campo no Centro de

    Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR) no Centro-Sul do Paran e um trabalho de

    campo no Instituto Souza Cruz no Rio de Janeiro. Por meio da observao participante, nestes

    trabalhos de campo, fotografamos e entrevistamos - utilizando a metodologia das fontes orais

    com questionrio semi-estruturado - os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento dos

    Cursos: educadores-professores, educandos (estudantes-camponeses), coordenadores dos

    Cursos, monitores etc.

    A terceira etapa foi o trabalho com as fontes orais que teve um carter de pesquisa

    qualitativa no objetivando quantificar as respostas, mas, sim, ouvir as argumentaes dos

    sujeitos da pesquisa. Entrevistamos da experincia do CEGeo, 41 estudantes do total de 46

    formandos, 06 monitores dos 08 que participaram do curso e 02 professores da coordenao.

    E da experincia do PEJR-CEDEJOR/Instituto Souza Cruz, entrevistamos 03 integrantes do

    Instituto, 01 representante do CEDEJOR e 02 educadores. Dos estudantes, entrevistamos os

    12 jovens que frequentavam o Programa em 2011. Entrevistamos tambm, 12 Agentes de

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    21

    Desenvolvimento Rural, 01 representante da FETAEP e um agricultor que participa do

    conselho deliberativo do CEDEJOR.

    A quarta etapa se refere ao debate dos resultados preliminares e a publicao destes

    resultados. Deste modo, realizamos a apresentao e discusso dos resultados parciais da

    pesquisa em 23 eventos cientficos nacionais e internacionais relacionados s temticas de

    Geografia, Geografia Agrria, Ensino de Geografia, Educao e Educao do Campo atravs

    de debates em eventos nos Espaos de Dilogos, nas Comunicaes Livres e Comunicaes

    Coordenadas. E divulgamos os resultados parciais da pesquisa por meio de publicaes em

    anais de eventos (23 publicaes), revistas (15 publicaes) e captulos de livros (02

    publicaes). Alm da participao em colquios organizados pelo Ncleo de Estudos e

    Pesquisas da Reforma Agrria-NERA, como ouvinte e como expositor, e como palestrante em

    dois eventos.

    A tese composta de 06 captulos. O primeiro captulo objetivoudemonstrar a

    disputa paradigmtica existente no interior da produo do conhecimento cientfico. A

    produo do conhecimento cientfico se faz a partir de diferentes paradigmas. Os paradigmas

    expressam a viso de mundo - terica-poltica-ideolgica-utpica - dos pesquisadores que o

    criaram ou que o seguem. Estas divergncias existentes nos paradigmas levam a diferentes

    interpretaes da realidade. A existncia de diferentes paradigmas gera disputas e

    conflitualidades. As diferenas de tericas-polticas-ideolgicas-metodolgicas etc., existente

    nos paradigmas levam a diferentes interpretaes da realidade. Essas diferentes interpretaes

    geram disputas que podem ser visualizadas nos debates em eventos cientficos, nas

    publicaes de textos cientficos, na direo das polticas pblicas, nos objetivos dos

    movimentos sociais, na configurao de partidos polticos etc. Dentre as disputas

    paradigmticas vamos tratar especificamente daquelas que dizem respeito s explicaes

    acerca da questo agrria. Neste sentido, a nossa reflexo vai estar calcada em torno dos dois

    paradigmas estudados: Paradigma da Questo Agrria e o Paradigma do Capitalismo

    Agrrio (FERNANDES, 2009).

    No segundo captulo discutimos as diferenas entre as tendncias proletarista e

    campesinistado Paradigma da Questo Agrria e os seus desdobramentos no interior da

    geografia agrria a fim de estabelecer a vertente campesinista do Paradigma da Questo

    Agrria como sendo a tendncia defendida nesta tese. Partimos da perspectiva de que o

    Paradigma da Questo Agrria formado por autores que defendem que a Questo Agrria

    um problema estrutural, logo, somente poder ser resolvido com a luta contra o capitalismo

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    22

    (FERNANDES, 2009). Pelo fato de os pressupostos tericos-metodolgicos que compe este

    paradigma ser o materialismo histrico e dialtico, podemos afirmar que perpassam a todos os

    autores e vertentes desse paradigma os seguintes elementos de anlise: a disputa, o conflito, a

    contradio, as perspectivas de superao do capitalismo e a luta de classes. Todavia,

    podemos subdividir esse paradigma em duas tendncias principais: a tendncia proletarista

    aquela que tem como principal referencial terico o marxismo ortodoxo agrrio e a tendncia

    campesinista aquela que tem como principais referenciais tericos o marxismo heterodoxo e

    o narodnismo marxista.

    A duas obras clssicas fundamentais para entendermos o debate a respeito do

    marxismo ortodoxo agrrio foram escritas pelos autores Karl Kautsky e Vladimir I. Lnin.

    Destas obras seminais, resulta a vertente proletarista do Paradigma da Questo Agrria que

    afirma que o desenvolvimento do capitalismo no campo levar ao inevitvel desaparecimento

    do campesinato via territorializao do capital. Neste caso, o campons tratado como um

    resduo social ainda no eliminado. Esta anlise tem como base a crena na determinao

    estrutural como uma caracterstica mxima do capitalismo. Neste caso, o capitalismo tem o

    poder de eliminar todas as formas de produo que no forem totalmente capitalistas, que no

    se baseie na lgica: proletariado versus burguesia. Por conseguinte, o trabalho assalariado a

    todos um fim inevitvel, somente essas duas classes antagnicas existiro quando o modo

    de produo capitalista estiver consolidado plenamente (OLIVEIRA, 2004).

    Na tendncia campesinista participam pesquisadores que defendem a tese da

    recriao camponesa3. Fazemos a anlise das problemticas do espao rural a partir do

    Paradigma da Questo Agrria no interior da vertente que entende que o desenvolvimento do

    capitalismo no campo se faz a partir de um movimento desigual e contraditrio.Isto significa

    que existe um processo de produo de capital por meio de relaes no-capitalistas.

    Entendemos que o campesinato uma classe social e um modo de vida heterogneo e

    complexo inerente contradio do modo de produo capitalista e no um resduo social em

    vias de extino. Ele se recria, assim, na contradio estrutural e por meio dacompra e da

    luta pela terrana sua resistncia ao capital (OLIVEIRA, 1999; 2004; FERNANDES, 2001;

    2009; ALMEIDA; PAULINO, 2010). Numa perspectiva campesinista do Paradigma da

    Questo Agrria na geogrfica agrria, podemos explicar a subordinao do campesinato ao

    capital por meio do conceito de a monopolizao do territrio pelo capital

    monopolista.Nesse processo, o campons no expropriado, mas sua renda fica subordinada 3 o caso da tese aqui defendida.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    23

    ao capital, e uma dessas formas, sendo obrigado a repassar o produto do seu trabalho para o

    capitalista. Essa parte da renda camponesa que apropriada pelo capitalista utilizada por

    este para reproduo/acumulao de capital. Por outro lado, quando ocorre a territorializao

    do capital no campo, quando o campons expropriado e se proletariza (OLIVEIRA, 1999;

    2004).

    O terceiro captulo traz uma anlise crtica dos pressupostos tericos-polticos-

    ideolgicos do Paradigma do Capitalismo Agrrio, com nfase na obra: Paradigmas do

    Capitalismo Agrrio em Questo de Ricardo Abramovay, tendo como contraponto o

    Paradigma da Questo Agrria. Com relao ao Paradigma do Capitalismo Agrrio, temos a

    tese principal da metamorfose do campesinato em agricultor familiar a partir da integrao

    do campons ao mercado. Integrao esta, que pode ser conseguida por meio de polticas

    pblicas de cunho neoliberal. Nesta anlise, agronegcio e campesinato interagem e se

    completam sem conflitos, cumprindo funes diferentes e necessrias ao desenvolvimento do

    capitalismo. Por isso, neste paradigma no existe a contestao ao capital. A ideologia do

    Paradigma do Capitalismo do Agrrio torna a ao dos movimentos socioterritoriais

    camponeses limitados a obedincia ao capital.

    O principal representante deste paradigma no Brasil Ricardo Abramovay que

    defende estas ideias em sua tese de doutorado intitulada: Paradigmas do Capitalismo Agrrio

    em Questo, publicada em 1992. Ele prope uma ruptura com o paradigma marxista de

    interpretao da Questo Agrria e defende a emergncia de um novo paradigma para se

    compreender o desenvolvimento do capitalismo na agricultura. A proposta de construo de

    um novo paradigma ocorre desde o ttulo do seu livro. Cria-se, neste paradigma uma

    dicotomia entre o arcaico, ineficiente, miservel e condenado a desaparecer, o campons e,

    por outro lado, o moderno, eficiente, prspero e compatvel com o mercado, o agricultor

    familiar/profissional. Ocorre, tambm,que a chegada desse novo personagem, chamado de

    agricultor profissional, decreta o fim do campesinato enquanto classe social e modo de vida.

    No quarto captulo discutimos o que o Paradigma Originrio da Educao do

    Campo (FERNANDES, 2012), o histrico, e os pressupostos terico-metodolgicos. O

    objetivo deste captulo construir teoricamente a afirmao de nossa tese central, que o

    Paradigma da Educao do Campo um territrio imaterial construdo poltica-

    ideologicamente a partir da tendncia campesinista do Paradigma da Questo Agrria em

    dilogo com as tendncias no-hegemnicas da pedagogia: Pedagogia Socialista, Pedagogia

    Libertadora-Freireana e a Pedagogia do Movimento.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    24

    Neste caso, estabelecemos que a Educao do Campo contm, necessariamente, um

    debate de concepo de campo (territrios em disputa) e campons (classe social e modo de

    vida), e um debate sobre a concepo do que Educao (emancipao humana)4.Neste

    contexto, defendemos neste captulo que a Educao do Campo uma prtica pedaggica

    resultante da luta camponesa, mas tambm, um instrumento desta luta contra

    terrritorializao do agronegcio no campo e pela reterritorializao/recamponizao.

    Posicionando-se terica-poltica-ideologicamente contra a territorializao do capital no

    campo.

    Neste sentido, nossa intencionalidade estabelecerdiferena terica (na prtica, no

    captulo V) entre o Paradigma Originrio da Educao do Campo em relao as outras

    concepes de Educao do Campo que surgem numa perspectiva neoliberal. Buscamos

    afirmar que inerente luta por distribuio de terra e renda dos movimentos socioterritoriais

    est luta dos povos do campo por uma educao que seja condizente a sua realidade. O

    modo de vida e a identidade territorial camponesa so partes integrantes do projeto educativo

    dos camponeses. A Educao do Campo o resultado da luta do campesinato, bem como,

    dialeticamente, um dos instrumentos de sua luta. A Educao do Campo no Paradigma da

    Questo Agrria construda como uma forma de resistncia invaso do territrio capitalista

    no campo. Pois, o capitalismo territorializado no campo significa o fim do campesinato

    enquanto classe e modo de vida. Para isso, a Educao do Campo forma um conjunto de

    procedimentos socioeducativos que objetivam a resistncia material e cultural camponesa

    frente s tentativas de sua destruio por parte do capital na forma do agronegcio

    (CALDART, 2005).

    Existe uma relao intrnseca entre a tendncia campesinista do Paradigma da

    Questo Agrria e o Paradigma Originrio da Educao do Campo. S possvelpensarmos a

    construo de uma Educao do Campo emancipatria a partir da tendncia campesinista do

    Paradigma da Questo Agrria. Porque ao entendermos a recriao do campesinato a partir

    do processo desigual e contraditrio do desenvolvimento do capital no campo e a partir da sua

    resistncia na luta pela/na terra/territrio, permite pensarmos a possibilidade de permanncia

    do campesinato sob o modo de produo capitalista. Pelo contrrio, se pensarmos o

    campesinato como sendo uma classe em vias de extino, no ser possvel acreditar na

    necessidade de construo de uma educao adequada s especificidades do campesinato.

    Tambm, no possvel de pensarmos uma Educao do Campo emancipatria se partimos 4 Alm do debate das polticas pblicas, que faremos de maneira mais aprofundada no captulo V.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    25

    do princpio existente no Paradigma do Capitalismo Agrrio de que o campesinato deve se

    integrar ao mercado capitalista, se profissionalizar, modernizar-se e deixar de ser um modo de

    vida para continuar existindo. Esta no a proposta da Educao do Campo que defendemos.

    No quinto captulo escrevemos que no territrio das polticas pblicas de Educao

    do Campo, na lgica do Paradigma da Questo Agrria, temos o Programa Nacional de

    Educao na Reforma Agrria- PRONERA. O PRONERA a construo terica-prtica da

    Educao do Campo. Ele est vinculado ao Movimento da Articulao Nacional Por uma

    Educao do Campo. Os dois movimentos fazem parte do mesmo tempo histrico. O

    Programa funciona como uma espcie de indutor da prpria reflexo e de muitas aes da

    Educao do Campo. O objetivo central a construo de uma educao adequada lgica do

    trabalho e da cultura nos territrios dos povos do campo em busca de uma outra forma de

    desenvolvimento (MOLINA, 2004).

    Com base nos pressupostos terico-metodolgicos da Educao do Campo

    apresentada no captulo IV, buscamos pensar a lgica que permeia a construo do Curso

    Especial de Graduao em Geografia (licenciatura e bacharelado). Este curso foi organizado

    a partir de uma parceria construda entre a Via Campesina Brasil; a Escola Nacional

    Florestan Fernandes ENFF; a Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade

    Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho UNESP - Campus de Presidente Prudente; o

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA e Instituto Nacional de Colonizao e

    Reforma Agrria INCRA por meio do Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria

    PRONERA.

    A turma nomeada pelos educandos-camponeses de Milton Santos, contava

    inicialmente, em 2006, com 60 estudantes, no qual destes se formaram 46 em 2011. Todos

    representando movimentos sociais ligados a Via Campesina - Brasil:MST (Movimento dos

    Trabalhadores Rurais Sem Terra), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), MAB

    (Movimento dos Atingidos por Barragens), MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) e

    PJR (Pastoral da Juventude Rural), RACEFFAES5 (Rede de Amigos e Colaboradores das

    Escolas Famlia Agrcola do Esprito Santo), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

    de So Paulo),EDUCAFRO (Educao e Cidadania de Afro-descedentes e Carentes)e o MCP

    (Movimento Consulta Popular).

    Ametodologia do curso baseia-se na Pedagogia da Alternncia, ou seja, alternava o

    Tempo Escola (TE) com o Tempo Comunidade (TC). Sendo que os Tempos Escolas ocorriam 5Regional das Associaes de Centros de Formao por Alternncia - Norte do Esprito Santo.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    26

    em janeiro e fevereiro na Universidade Estadual Paulista em Presidente Prudente/SP e em

    julho e agosto na Escola Nacional Florestan Fernandes ENFF em Guararema/SP. Os

    camponeses-militantes licenciados e bacharis vo utilizar os conhecimentos geogrficos

    aprendidos nos CEGeo na escola do seu assentamento, na militncia dos movimentos

    socioterritoriais que fazem parte, nos cursos de formao de militantes, na construo de

    projetos de polticas pblicas etc. difundindo, assim, nas suas bases conceitos e concepes da

    Geografia libertadora. Neste captulo foi dado nfase aos trabalhos de campo feitos na

    UNESP (Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho, Faculdade de Cincias e

    Tecnologia, Campus de Presidente Prudente) e na Escola Nacional Florestan Fernandes

    ENFF. Nelas entrevistamos, em sua maioria, os estudantes-militantes dos movimentos

    socioterritoriais camponeses integrantes dos movimentos sociais ligados a Via Campesina

    Brasil.Estes nos relataram suas trajetrias de militncia e de vivncia do modo de vida

    campons antes de sua chegada ao curso e nos disseram como entendem que o Curso

    Especialde Graduao em Geografiacontribuiu para a militncia e interveno na comunidade

    em que se inserem.

    No sexto captulo buscamos refletir sobre os limites da experincia de Educao do

    Campo construda a partir do Paradigma do Capitalismo Agrrio proposta pelo Instituto

    Souza Cruz, o Programa Empreendedorismo do Jovem Rural, implementada pelo CEDEJOR

    Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural, no Centro-Sul do Paran, com sede no

    municpio de Guamiranga. A experincia de Educao do Campo construda na perspectiva

    do Paradigma do Capitalismo Agrrio tem o objetivo de integrar segura e plenamente os

    jovens do campo no processo produtivo. Este Programa visa formar empreendedores rurais e

    Agentes de Desenvolvimento Rural (ADR), na lgica da profissionalizao dos agricultores,

    apostando na sua metamorfose em agricultor familiar para competir e se integrar ao mercado:

    o denominado agronegocinho. O discurso principal o de que o fortalecimento da

    capacidade empreendedorada juventude da agricultura familiar algo capaz de influenciar

    positivamente em todas as dimenses do territrio: econmica, poltica, ambiental, social e

    cultural, promovendo o desenvolvimento territorial sustentvel.

    Este Programa se estrutura por meio de trs temticas centrais: Juventude Rural,

    Agricultura Familiar e Desenvolvimento Territorial. Estes trs temas so interligados a

    temtica central: o Empreendedorismo. Com base nestas temticas centrais procuramos

    discuti-los a partir dos principais autores do Paradigma do Capitalismo Agrrio com a

    intencionalidade de demonstrar que o todo o PEJR se estrutura com base neste paradigma.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    27

    Paralelamente a apresentao dos temas e seus principais tericos, realizamos uma anlise

    crtica de cada um destes temas a partir da perspectiva campesinista do Paradigma da Questo

    Agrria. A metodologia que utilizamos para alcanar nossos objetivos neste captulo foi a

    leitura dos tericos do Paradigma do Capitalismo Agrrio e de seus principais temas

    discutidos: agricultura familiar, multifuncionalidade, pluriatividade, desenvolvimento

    territorial, empreendedorismo etc. Fizemos a anlise da Unidade Poltico-Pedaggica do

    PEJR, dos documentos do ISC e do CEDEJOR. Entrevistamos os coordenadores do ISC,

    coordenadores e educadores do CEDEJOR, os educandos-camponeses do PEJR e os Agentes

    de Desenvolvimento Rural ADR. Organizamos os dados dos projetos de empreendedorismo

    apresentados pelos educandos.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    28

    METODOLOGIA

    Podemos dividir nossos procedimentos metodolgicos em 04 etapas principais. A

    primeira foi a leitura e o fichamento de livros, revistas, jornais, artigos publicados em anais

    etc., a partir dos eixos temticos principais que perpassam a nossa tese. A segunda etapa

    foram os 04 trabalhos de campo relacionados ao Curso Especial de Graduao em Geografia,

    os 04 trabalhos de campo no Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR) Centro

    Sul do Paran no Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) e 01 trabalho de

    campo no Instituto Souza Cruz (ISC) no Rio de Janeiro.

    Por meio da observao participante, nestes trabalhos de campo, fotografamos e

    entrevistamos - utilizando a metodologia das fontes orais com questionrio semi-estruturado -

    os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento dos cursos: educadores-professores,

    educandos (estudantes-camponeses), coordenadores dos cursos, monitores etc.

    A terceira etapa foi o trabalho com as fontes orais que teve um carter de pesquisa

    qualitativa no objetivando quantificar as respostas, mas sim, ouvir as argumentaes dos

    sujeitos da pesquisa. Com relao ao trabalho com as fontes orais, Rosemeire Aparecida de

    Almeida afirma que esta metodologia um instrumento de reflexo que trouxe grandes

    contribuies para cincia geogrfica, pois ela rompe com os tradicionais/positivistas

    questionrios estruturados. Estes questionrios j traziam uma interpretao prvia da

    realidade no dando a oportunidade de entender a dinmica da realidade com toda a sua

    complexidade. Para entender a realidade em sua complexidade necessrio considerar as

    subjetividades existentes nas narrativas dos sujeitos da pesquisa e estar aberto ao imprevisvel,

    ao desconhecido ainda. Em suas palavras:

    A deciso por trabalhar com fontes orais na produo do conhecimento geogrfico se colocou como caminho diante da riqueza das narrativas que, em muito, superam os questionrios rigidamente estruturados, os quais, comumente, partem de uma interpretao prvia da realidade e, na maioria das vezes, deixam de contemplar a imprevisibilidade do concreto, do real, e das significaes que os eventos tm, de acordo com o narrador. [...]. (2006b, p.158).

    As fontes orais tambm tm uma importncia poltica-ideolgica muito grande para a

    cincia que tem o objetivo de ser um instrumento de mudana social, pois ela permite que

    ouamos o que os sujeitos das classes subalternas tm a dizer, ou seja, ela permite que a

    realidade social seja contada pelos de baixo. Este fato se torna mais evidente quando

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    29

    verificamos que na sociedade capitalista a leitura e a escrita so instrumentos de status/poder,

    por isso ao longo da histria foi tratada como um privilgio das classes dominantes, logo, a

    fala era a nica alternativa das classes subalternas. Enquanto isso, as classes dominantes

    contavam a histria na sua verso e disseminavam a sua ideologia (CAMACHO, 2008). Os

    sujeitos subalternos ficaram durante muito tempo sem o direito de se apropriar dos cdigos da

    cultura letrada, ou seja, ficaram submetidos a [...] privao absoluta ou quase absoluta de

    smbolos e objetos da cultura letrada [...]. (BRANDO, 1999, p. 35).

    Por isso, necessrio ressaltarmos que apesar das narrativas serem dos sujeitos

    entrevistados, a pesquisa com fontes orais no neutra. o pesquisador que direciona as

    perguntas para atingir seus objetivos. Ele tambm escolhe os depoimentos, as passagens que

    considera mais relevante e as interpreta a partir dos pressupostos terico-metodolgicos na

    qual se assenta o seu trabalho. Dito de outra maneira:

    [...] o depoimento oral no algo neutro, desprovido de interesses do entrevistador e do entrevistado, sendo que a participao ativa do pesquisador se d tanto no momento da entrevista, estimulando o fluxo rememorativo e, posteriormente selecionando os fragmentos a serem discutidos luz da teoria. (ALMEIDA, 2006b, p.161).

    Na transcrio das fontes orais decidimos por no utilizar os nomes dos sujeitos

    entrevistados a fim de no ocorrer a identificao dos mesmos.

    A quarta etapa se refere ao debate dos resultados preliminares e a publicao destes

    resultados. Deste modo, realizamos a apresentao e discusso dos resultados parciais da

    pesquisa em 23 eventos cientficos nacionais e internacionais relacionados s temticas de

    Geografia, Geografia Agrria, Ensino de Geografia, Educao e Educao do Campo atravs

    de debates em eventos nos Espaos de Dilogos, nas Comunicaes Livres e Comunicaes

    Coordenadas. E divulgamos os resultados parciais da pesquisa por meio de publicaes em

    anais de eventos (23 publicaes), revistas (15 publicaes) e captulos de livros (02

    publicaes). Alm da participao em colquios organizados pelo Ncleo de Estudos e

    Pesquisas da Reforma Agrria-NERA, como ouvinte e como expositor, e como palestrante em

    dois eventos.

    Descreveremos todas estas etapas de uma maneira mais abrangente nos itens a

    seguir:

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    30

    A - DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA BIBLIOGRFICA: LEITURAS E

    FICHAMENTOS

    Fizemos a leitura e o fichamentode livros, revistas, jornais, artigos publicados em

    anais etc., a partir de seis eixos temticos principais sob o qual a pesquisa se estrutura. O

    primeiro eixo temtico so os Paradigmas em Disputa, o segundo eixo temtico o

    Paradigma da Questo Agrria, o terceiro eixo temtico sobre o Paradigma do

    Capitalismo Agrrio, o quarto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma da

    Questo Agrria, o quinto eixo temtico a Formao de Camponeses-Militantes Bacharis

    e Licenciados em Geografia, o sexto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma

    do Capitalismo Agrrio.

    O primeiro eixo so os Paradigmas em Disputa. As temticas que perpassam este

    eixo so a teoria, a poltica, a ideologia, o mtodo etc. As principais leituras e fichamentos

    que fizemos para trabalhar com essas temticas foram: Rosemeire Aparecida deAlmeida e

    Eliane Tomiasi Paulino (2000); Janaina Francisca de SouzaCampos e Bernardo

    MananoFernandes (2011); MarilenaChau (1980; 2000; 2007);Munir JorgeFelcio (2010);

    Bernardo MananoFernandes (2009; 2010);Leandro Konder (1998; 2002; 2012); Tomas

    SamuelKuhn (1994); KarlMarx e FriedrichEngels (1984); Boaventura de SouzaSantos (1988);

    John R.Searle (1995); Eliseu SavrioSposito (2001; 2004).

    O segundo eixo temtico o Paradigma da Questo Agrria.As temticas

    principais discutidas neste eixo temtico foram: a questo agrria, o campesinato, aos

    movimentos socioterritoriais camponeses, o agronegcio, as disputas territoriais, o

    desenvolvimento desigual e contraditrio do capitalismo no campo, a luta pela/na terra, a luta

    de classes, o materialismo histrico e dialtico, as relaes no capitalistas, a territorializao

    do capital e do campesinato, a subordinao do campesinato ao capital, o modo de vida

    campons etc. Os principais autores que trabalhamos para discutir estas temticas foram:

    Teodor Shanin (2005; 2008); Jos de Souza Martins (1981; 1991); Ariovaldo Umbelino de

    Oliveira (1986; 1997; 1999; 2001; 2003; 2004; 2008); Bernardo Manano Fernandes (2000;

    2001; 2005; 2008; 2009; 2010); Rosemeire Aparecida de Almeida (2003; 2004; 2006); Eliane

    Tomiasi Paulino (2006); Rosemeire Aparecida de Almeida e Eliane Tomiasi Paulino (2000;

    2010); Rodrigo Simo Camacho (2008); KarlKautsky (1980); Marta Ins MedeiroMarques

    (2002; 2004; 2008a; 2008b); Carlos Walter Porto-Gonalves (2001; 2002; 2004); Antonio

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    31

    Thomaz Junior (2003; 2004; 2009); Carlos Rodrigues Brando (1999); Joo Pedro Stedile

    (1998; 2002; 2006; 2008); Eduardo Sevilla Guzmn e Manuel Gonzlez deMolina (2005).

    O terceiro eixo temtico sobre o Paradigma do Capitalismo Agrrio. As

    temticas principais discutidas neste eixo temtico foram: a agricultura familiar, a

    metamorfose do campesinato e a integrao do agricultor ao mercado. E os apontamentos

    futuros para este eixo temtico ser trabalhar com as temticas: a juventude e a agricultura

    familiar, a multifuncionalidade, a pluriatividade, o novo rural, o desenvolvimento

    territorial/rural, os meios inovadores, a sucesso familiar, o empreendedorismo social etc. As

    principais referncias que estamos utilizando para discutir estas temticas so: Ricardo

    Abramovay (1992; 1997; 1999; 2000; 2001; 2002; 2007); Srgio Shneider (1999; 2003; 2009;

    2010); Jos Eli da Veiga (1991; 2002; 2003); Jos Graziano da Silva (1999), Maria Jos

    Carneiro (2003; 2007), Arilson Favareto (2003; 2010); Flvio Sacco dos Anjos (2009);

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio/Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural

    Sustentvel (2012).

    O quarto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma da Questo Agrria.

    As temticas principais discutidas neste eixo temtico foram: a resistncia poltica e cultural

    camponesa, os movimentos socioterritoriais e a Educao do Campo, a educao

    emancipatria, os pressupostos terico-metodolgicos da Educao do Campo, a pedagogia

    freireana, a educao para alm do capital, o PRONERA, as polticas pblicas de educao

    superior no/do campo, a universidade e os movimentos sociais, a formao de educadores do

    campo etc. As referncias utilizadas para discutir estas temticas tiveram nfase nos livros da

    Coleo: Por uma Educao do Campo e Educao do Campo e Pesquisa e nos

    documentos do governo Federal: Manual de Operaes do PRONERA (2011)(produzido pelo

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA; Instituto Nacional de Colonizao e

    Reforma Agrria INCRA; Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria

    PRONERA) e as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do

    Campo(2001) (produzido pelo Ministrio da Educao. Conselho Nacional de Educao). E

    os principais autores que estamos trabalhando para discutir estas temticas so: Bernardo

    Manano Fernandes, Miguel Arroyo (1999; 2004a; 2004b; 2007), Roseli Salete Caldart

    (1999; 2004a; 2004b; 2005; 2010; 2012); Mnica Molina (2004; 2006; 2010; 2012); Paulo

    Freire (1981; 1983a; 1983b, 1999; 2000); Istvn Mzros (2005; 2007); Claudemiro Godoy

    Nascimento (2003; 2011); Marcia Regina Andrade e Maria Clara Di Pierr (2004); Maria

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    32

    Isabel Antunes-Rocha (2009; 2010); Maria do Socorro Xavier Batista (2007);Antonio Jlio de

    Menezes Neto (2009).

    O quinto eixo temtico a Formao de Camponeses-Militantes Bacharis e

    Licenciados em Geografia. As temticas principais discutidas neste eixo foram: a relao da

    Educao do Campo com o Curso Especial de Graduao em Geografia; a geografia e o modo

    de vida campons, a formao de camponeses-professores de geografia; a geografia como

    instrumento de luta dos movimentos socioterritoriais camponeses etc. O principal referencial

    para fazermos esta discusso foi Projeto Poltico Pedaggico do Curso Especial de Graduao

    em Geografia da UNESP/INCRA/PRONERA. E os principais autores que utilizamos para

    discutir estas temticas foram: Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1994a; 1994b); Helena

    Copetti Callai (2001; 2003); Nestor Andr Kaercher (2003); Ruy Moreira (1985; 2006); Ndia

    Nacib Pontuschka (1999); Massimo Quaini (1979); Milton Santos (1980; 1988; 1999; 2001;

    2002; 2004); Eliseu Savrio Sposito (2001; 2004); Rafael Straforini (2002; 2004).

    O sexto eixo temtico a Educao do Campo no Paradigma do Capitalismo

    Agrrio. As temticas principais que foram ou sero (apontamentos futuros) discutidas neste

    eixo so: o empreendedorismo, a educao empreendedora, pedagogia empresarial, a

    formao de capital social, a formao tcnica humana gerencial, os jovens rurais, o

    protagonismo juvenil, a juventude empreendedora, a agricultura pluriativa, educao e ONGs,

    a educao e o empresariado etc. Para discutir estas temticas, a nfase foi dada nas revistas,

    cartilhas, relatrios, sites etc. produzidos pelo Instituto Souza Cruz, com destaque para a

    Revista Marco Social: desenvolvimento humano sustentvel (2004; 2005; 2006; 2007; 2010;

    2011), a Revista Sustentabilidade do Campo (2011a;2011b; 2011c), o Boletim Jovens em

    Campo (2010a; 2010b; 2010c; 2010d) e as informaes contidas no site do Instituto Souza

    Cruz: http://www.institutosouzacruz.org.br. Os principais autores que estamos trabalhando

    para discutir estas temticas so: Fernando Dolabela (1999; 2004; 2011; 2012); Jos Carlos

    Assis Dornelas (2005); Idalberto Chiavenato (2008); Antonio Carlos Gomes da Costa (2001;

    2006; 2008).

    B - TRABALHOS DE CAMPO NO CURSO ESPECIAL DE GRADUAO EM

    GEOGRAFIA: OBSERVAO-PARTICIPANTE E ENTREVISTAS

    Fizemos 04 trabalhos de campo no Curso Especial de Graduao em Geografia. O

    primeiro trabalho de campo nosso, que foi feito entre os dias 10 de janeiro e o dia 20 de

    http://www.institutosouzacruz.org.br/

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    33

    fevereiro de 2010, refere-se ao 7 Tempo Escola na Faculdade de Cincias e

    Tecnologia/Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente/SP. O segundo foi

    feito no ms de julho de 2010, 8 Tempo Escola, na Escola Nacional Florestan Fernandes, no

    municpio de Guararema/SP. O terceiro, foi entre os dias 10 de janeiro a 07 de fevereiro de

    2011, 9 Tempo Escola, na Faculdade de Cincias e Tecnologia/Universidade Estadual

    Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente/SP. E o quarto trabalho de campo foi

    no ltimo Tempo Escola (10 Tempo Escola), na Escola Nacional Florestan Fernandes em

    Julho de 2011.

    Por meio da observao participante, nestes trabalhos de campo, fotografamos e

    entrevistamos, utilizando a metodologia das fontes orais com questionrio semi-estruturado,

    os sujeitos envolvidos no processo de funcionamento do curso: educadores-professores,

    educandos (Estudantes-Camponeses), coordenadores do curso, monitores etc.

    B.1 - TRABALHO DE CAMPO EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2010 NA

    FCT/UNESP- 7 TEMPO ESCOLA

    Durante o 7 Tempo Escola (10/01/10 a 20/02/10)integramos a Comisso Poltico-

    Pedaggica (CPP) do Curso Especial de Graduao em Geografiacomo membro da

    Coordenao pedaggica e da Secretaria do curso. Ocupei este cargo, inicialmente com Tiago

    Mdici Vinha (na poca Mestrando em Geografia) e, posteriormente, com o Herivelton

    Fernades Rocha (na poca graduado em Geografia e membro do grupo NERA).

    Configurando uma metodologia da observao-participante, participei das reunies

    da CPP que eram realizadas com a secretaria e coordenao do curso. As pessoas que

    participavam dessas reunies eram os coordenadores gerais (Prof. Dr. Bernardo M. Fernandes

    e Prof. Dr. Antonio Thomaz Jnior), os professores da coordenao pedaggica (Prof. Dr.

    Clifford Welch e Prof. Dr. Maria P. de Ftima Rotta Furlanetti), a coordenadora pedaggica

    do setor de educao do MST (pedagoga Marisa de Ftima Luz) e os representantes discentes

    (Ivanei Costa e Delwek Mateus). Nestas reunies eram discutidas as questes administrativas

    e pedaggicas do curso: cronogramas, corpo docente, corpo discente, tarefas do Tempo

    Comunidade, Tempo Escola, formas de avaliao dos estudantes, funo dos monitores e dos

    coordenadores etc.

    Tivemos a oportunidade tambm de permanecer durante todo o perodo do 7 Tempo

    Escola no alojamento, Cria Diocesana de Presidente Prudente, com os educandos do curso.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    34

    Onde pudemos compartilhar os momentos de descanso e lazer juntamente com os estudantes

    do curso. Dividi o quarto com mais trs integrantes do curso. Neste espao pudemos

    conversar vrios assuntos no que concerne a reforma agrria, a luta dos movimentos sociais, a

    Educao do Campo etc. Aos domingos sempre havia uma confraternizao que durava quase

    o dia inteiro, neste espao de socializao, os educandos recebiam convidados da

    universidade e dos movimentos sociais. Havia sempre uma turma com instrumentos musicais

    cantando e tocando.

    Neste perodo, no fizemos nenhuma entrevista, mas o contato direto com a parte

    pedaggica e administrativa do curso, mais a convivncia no alojamento dos estudantes, fez

    com que j fossemos conhecendo os sujeitos que faziam parte do processo de construo do

    curso educandos,professores, coordenadores, monitores -, bem como este contato

    possibilitou que fossemos conhecendo a estrutura organizacional administrativa e pedaggica

    do CEGeo.

    Neste perodo, tambm, participamos juntamente com os estudantes de um trabalho

    de campo da aula de Recursos Naturais, onde visitamos a Reserva: Parque Estadual Morro

    do Diabo, na Regio do Pontal do Paranapanema/SP, e tambm a Usina Hidreltrica Porto

    Primavera da CESP.

    B.2 - TRABALHO DE CAMPO EM JULHO DE 2010 NA ESCOLA NACIONAL

    FLORESTAN FERNANDES - 8 TEMPO ESCOLA

    No trabalho de campo na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema/SP,

    (julho de 2010)eu era um dos colaboradores do curso. Neste perodo, participamos de todas as

    atividades desenvolvidas na escola: msticas, limpeza, dia de trabalho, atividades dirias:

    lavar a loua do almoo/janta, servir o caf etc.

    Entrevistamos em julho de 2010, na ENFF, 22 estudantes do Curso Especial de

    Graduao em Geografia. O questionrio semi-estruturado significou apenas um roteiro, pois

    os alunos estavam vontade para falar o que achavam mais relevantes. No tivemos a

    inteno de quantificar as respostas, mas sim de dar um carter qualitativo para a pesquisa.

    Buscamos com as entrevistas entender quem so os sujeitos (educandos-camponeses-

    militantes) que esto participando dessa experincia de Educao do Campo no ensino

    superior. As questes propostas (no Anexo I) foram no sentido de entender a importncia do

    curso para eles e para a luta dos movimentos socioterritoriais camponeses. Refletindo acerca

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    35

    da indagao de qual maneira o cursosuperior pode auxili-los em sua luta e entendendo a

    especificidade da geografia neste processo. Todos os educandos entrevistados se propuseram

    a colaborar com a pesquisa entendendo a relevncia que tem a mesma para o debate da

    Educao do Campo.

    Nesta etapa tambm entrevistamos um dos principais coordenadores da Escola

    Nacional Florestan Fernandes, o coordenador geral, GG, que falou sobre todo o processo de

    construo e manuteno da Escola. Tambm, entrevistamos o militante do MST, Er, ele era

    um membro da brigada permanente Apolnio de Carvalho (brigada responsvel pela

    organizao da Escola naquele perodo), coordenador da parte de produo da Escola. Ele nos

    contou os detalhes da forma como os militantes se organizam para manter o funcionamento da

    Escola6.

    Participamos das reunies dos monitores junto com os professores coordenadores do

    curso. Nestas reunies foram discutidas as dificuldades de cada estudante monitorado e as

    formas de interveno por parte dos monitores. Em nossa observao participante, ouvimos e

    emitimos nossa opinio dando sugestes e contribuies. As reunies com os monitores eram

    coordenadas, em sua maioria, pela Prof. Dr. Maria P. de Ftima Rotta Furlanetti.

    B.3 - TRABALHO DE CAMPO EM JANEIRO E FEVEREIRO DE 2011 NA

    FCT/UNESP- 9 TEMPO ESCOLA

    No ms de janeiro e fevereiro de 2011 - 9 tempo escola que ocorreu na Faculdade

    de Cincias e Tecnologia/UNESP campus de presidente prudente, tivemos a oportunidade de

    conviver com os estudantes do CEGeo nos perodos de aula e nos intervalos, almoo etc.

    Tambm, convivemos com os educandos no alojamento, na Cria Diocesana, todos os dias

    aps as aulas e nas atividades de lazer nos finais de semana. Neste perodo de quase um ms:

    de 10/01/ 2011 at 07/02/2011,conseguimos conversar/entrevistar 15 estudantes do Curso

    Especial de Graduao em Geografia do PRONERA. Totalizando, assim, juntamente com o

    8 Tempo Escola na Escola Nacional Florestan Fernandes, 37 estudantes entrevistados do

    total de 46 regularmente matriculados no curso. Todos educandos do curso entrevistados

    mostraram boa vontade e satisfao em estarem participando como sujeitos dessa pesquisa de

    doutorado. As entrevistas gravadas variavam entre 30 minutos e 01 hora em mdia. As

    6Esto no Anexo I s questes que foram feitas para aos responsveis pela organizao da ENFF.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    36

    mesmas foram feitas, principalmente, no alojamento aps o jantar, mas tambm, aps o

    almoo na FCT/UNESP Presidente Prudente.

    Outra oportunidade importante que tivemos para consolidar a nossa observao

    participante foi o fato de termos participado das bancas de restituio das monografias dos

    estudantes do curso. Esta uma espcie de banca de qualificao dos trabalhos. Participamos

    de 05 bancas ligadas a pesquisa da Educao do Campo. Nestas bancas pudemos dialogar de

    maneira a auxili-los em como sistematizar suas experincias construdas junto com o

    Movimento de maneira acadmica/cientfica, auxili-los nas normas da ABNT, indicar

    bibliografias e sugerir novos rumos para a pesquisa.

    Este momento nos possibilitou que pudssemos conhecer seus trabalhos, suas

    experincias, e suas angstias, participando tambm desse processo de construo do curso.

    E, dialeticamente, na medida em que eu refletia a partir de suas experincias e percepes

    para engendrar uma elaborao terica acerca da Educao do Campo e dos movimentos

    sociais, eu tambm, pude oferecer aos mesmos as minhas experincias de construo de um

    texto acadmico. Experincias estas advindas de meus conhecimentos tcnico-cientficos

    adquiridos devido aos vrios anos em que estive inserido no interior da universidade. Este

    processo demonstra na prtica a importncia do dilogo entre saberesprticos e tcnico-

    cientficos, tanto para a academia, quanto para os movimentos sociais.

    Nesta etapa, tambm, comeamos as entrevistas com os monitores (esto no Anexo I

    as questes que foram feitas aos monitores). As questes feitas aos entrevistados, por meio

    de um questionrio semi-estruturado, significou apenas um roteiro, pois os monitores estavam

    vontade para falar o que achavam de mais relevante, inclusive interferindo nos rumos que as

    questes deveriam tomar, oferecendo algumas sugestes do que consideravam como relevante

    para sabermos a respeito de suas experincias. Foram dois os monitores entrevistados: Gb,

    graduado em geografia e membro do CEGeT (Centro de Estudos de Geografia do Trabalho),

    e El, graduada em pedagogia e membro do GEPEP (Grupo de Estudos em Educao Popular).

    Os monitores falaram um pouco sobre o seu processo para chegar at a monitoria,

    descreveram suas funes, as dificuldades encontradas com a responsabilidade assumida e o

    sentimento de estar participando dessa experincia inovadora.

    As entrevistascom os monitores nos trazem a percepo dos sujeitos que no so dos

    movimentos sociais, mas que participam ativamente do processo de construo do CEGeo.

    Tentamos entender qual a sua funo, as dificuldades, os aprendizados para a sua carreira

    como professor ou gegrafo e as diferenas percebidas pelos mesmos no que diz respeito ao

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    37

    curso regular e o Curso Especial de Graduao em Geografia, tendo em vista que os mesmos

    so alunos do curso regular de geografia e de pedagogia.

    Apesar de termos contato direto e conversarmos com os professores da coordenao

    geral e pedaggica, professores orientadores e supervisores, nesta etapa no tinha sido

    possvel ainda fazermos uma entrevista com os mesmos.

    B.4 - TRABALHO DE CAMPO EM JULHO DE 2011 NA ESCOLA NACIONAL

    FLORESTAN FERNANDES 10 TEMPO ESCOLA

    O 10 Tempo Escola que ocorreu no perodo de 08 at 30 de julho de 2011 na Escola

    Nacional Florestan Fernandes foi ltima etapa em que participei. Nesta etapa, entrevistamos

    mais 04 educandos do CEGeo, finalizando nossas entrevistas com 41 estudantes do total de

    46 formandos. Devido ao intenso envolvimento da turma com as monografias, esta etapa foi a

    mais difcil de conseguir que os educandos arrumassem um tempo para conversar.

    Fizemos uma entrevista muito importante com a coordenadora pedaggica do curso

    que integrante do setor de educao nacional do MST. Neste caso, a entrevista trouxe a

    perspectiva do MST com relao ao curso, todavia, de algum que no estudante, mas sim,

    participa da organizao do curso juntamente com os professores coordenadores da UNESP.

    Expondo, assim, na prtica como funciona esta gesto tripartite do PRONERA entre Estado-

    Universidade-Movimentos.

    Tambm, entrevistamos 04 monitores do CEGeo. Totalizando 06 entrevistados dos

    08 monitores do curso. Estes monitores esto vinculados a trs grupos de pesquisa: o NERA -

    Ncleo de Estudos Pesquisas e Projetos da Reforma Agrria (coordenado pelo Bernardo M.

    Fernandes), o CEGeT - Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (Coordenado pelo

    Antonio Thomaz Junior) e o GEPEP - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao Popular

    (coordenadores: Maria Peregrina de Ftima Rotta Furlanetti e Lus Antonio Barone).

    Gravamos, tambm, as falas do vice-coordenador Prof. Dr. Bernardo Manano

    Fernandes e do representante discente, e membro da coordenao nacional do MST, DM,

    durante o discurso da cerimnia de encerramento do curso que ocorreu no dia 28 de julho de

    2011. Alm, dos discursos finais, a cerimnia de encerramento contou com a entregade um

    certificado que tem um carter simblico (sem valor institucional) para atestar a passagem da

    Turma Milton Santos pela Escola e,tambm, foi entregue uma placa de agradecimento em

    nome da turma Milton Santos e da Via Campesina.

  • Paradigmas em Disputa na Educao do Campo

    38

    Minha participao nesta etapa,que tinha como ponto central a entrega das

    monografias no final do ms de julho, foi no sentido de auxiliar alguns educandos que

    estavam com mais dificuldades para concluir a sua monografia e, sobretudo, que pesquisam a

    temtica de Educao do Campo. Com relao educanda Ronimrcia, eu fiquei sendo o co-

    orientador de sua monografia que tinha como ttulo: Articulao e conflitualidade das

    polticas de Educao do Campo, entre o Estado e o Movimento Sem Terra na escola do

    assentamento Valdicio Barbosa dos Santos no municpio de Conceio da Barra ES.

    Com exceo da co-orientao, o nosso apoio no era no sentido de orientar, mas

    sim, na perspectiva de monitorar, ou seja, visualizar erros mais bsicos e propiciar que o texto

    chegasse ao orientador com um grau transparncia que o permita se preocupar em corrigir e

    apontar as reflexes terico-metodolgicas mais profundas. A principal interveno, neste

    caso, est no fato de podermos formatar o texto e tentar explicar o que significa escrever uma

    monografia. Como usar a teoria, como relacion-la com a prtica. Como dialogar com os

    autores, e estes com seu trabalho de campo.

    Esta etapa foi marcada tambm pela vinda de vrios professores que estiveram

    trabalhando com os educandos as Novas Abordagens da Geografia. Neste caso, havia duas

    preocupaes: uma era o fato de termos um prazo reduzido para a entrega da monografia e o

    outro era o fato de termos uma intensificao da diversidade de temticas ao longo da semana

    que seriam as disciplinas finais do curso.

    B.5 - ENTREVISTAS COM COORDENADORES DO CURSO ESPECIAL DE

    GRADUAO EM GEOGRAFIA

    Tendo em vista o tempo escasso existente na Escola Nacional Florestan Fernandes

    para os coordenadores do curso, tivemos que optar por realizar