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Cyan Magenta Yellow Black | SUPLEMENTO ESPECIAL QUARTA-FEIRA, 8 DE ABRIL DE 2009 | E1 PÁG. 1 CMYK Em resposta à crise de 1908 Harvard institui o MBA que hoje se consolida como um dos mais prestigiados do mundo e projeta milhares de executivos e empresários para o sucesso MARCELLO D‘ANGELO SÃO PAULO “Os europeus acreditam que o pânico mundial registrado no outo- no passado foi causado pelo nosso sistema bancário e não há garantia de que outra convulsão possa ser evitada sem uma reforma desse sis- tema”, declarou ao New York Ti- mes o presidente do First National Bank, James B. Forgan. Publicada em setembro de 1908 entre as aná- lises do que foi chamado de “pânico dos ricos”, essa frase caberia nova- mente como resumo dos fatos que teimam em desafiar a economia mundial nos dias de hoje. Há 101, anos como resposta à crise que ameaçava a então economia emer- gente do Estados Unidos, a institui- ção de ensino superior mais antiga daquele país, a Harvard University, oferecia como resposta a criação do primeiro programa de MBA (Mas- ters in Business Administration) do mundo. Começava a funcionar o Harvard Graduate School Business Administration, como era chamado na época o departamento voltado para estudos de administração de empresas e que tinha o objetivo de formar lideranças capazes de se des- tacar em tempos de dificuldade e de depressão. Apesar do pioneirismo na área, naquele ano a universidade ainda não imaginava que o curso ganharia as proporções alcançadas hoje, sendo considerado o melhor do mundo e formando personalida- des dos negócios como, por exem- plo, Ann Moore, presidente da Ti- me Inc.; e da política, como Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, e o ex-presidente dos Estados Uni- dos George W. Bush. A cada ano, milhares de pessoas de diferentes partes do mundo can- didatam-se a uma vaga na Business School. Muitas na esperança de mudarem suas vidas — e até a de seus países. Mas poucos chegam lá. Quem não tem bolsa precisa pagar — e muito. Um ano de estudos na Harvard Business School pode cus- tar US$ 80 mil, isso sem contar hos- pedagem e alimentação. Ali os alunos são exigidos, o ritmo é puxado e os cronogra- mas são, nas palavras dos pró- prios alunos, “insanos”. Meg Withman, ex CEO da e-Bay, que se formou na Business School em 1979, diz, ao lembrar-se de seus dias de estudante, que “a pressão era assustadora”. Ao fa- lar sobre o que aguarda os re- cém-chegados a HBS, o reitor da instituição faz a seguinte com- paração: “É como beber água de uma mangueira”, diz, referindo- se ao volume de informação e de trabalho que os alunos irão re- ceber. “São mais de 24 horas de trabalho a ser feito em 24 ho- ras”, conclui o reitor, ele próprio um graduado da HBS. Uma das principais caracterís- ticas da Business School é o estu- do de cases, método de ensino instituído em 1924. São situações reais, extraídas da vida real. Mi- chael Dell, o fundador da Dell Computers, nunca terminou a fa- culdade, mas sua performance no mundo dos negócios fez dele o ti- po de herói que os alunos de Har- vard cultuam. Todas as aulas são baseadas em casos reais e, muitas vezes, o presidente da empresa que está sendo estudada senta-se nos bancos escolares para debater as dúvidas e soluções apresenta- das pelos alunos. Há 10 anos na HBS, Joe Las- siter é um dos professores mais populares da instituição. Ele re- sume da seguinte forma sua fi- losofia de trabalho: “Escolho os melhores da classe para condu- zir os outros, levando-os a se tor- nar melhores do que jamais pen- saram que poderiam ser”. Entre as áreas escolhidas, fi- nanças e consultoria são que mais atraem os alunos. Dos for- mandos de 2007, 45% passou a atuar com finanças e 22% com consultoria. O empreendedor brasileiro Ri- cardo Bellino engrossa os núme- ros com o seu primeiro diploma, logo um de Harvard. Aqui no Bra- sil, abandonou dois cursos pela metade. Economia na Candido Mendes do Rio de Janeiro e Direi- to na Faap em São Paulo. Nos bancos escolares da HBS destaca que o melhor foi aprender a an- tecipar quando um negócio não tem chances de decolar, pois não passa mesmo de um sonho. Nos pioneiros e famosos estudos de casos de Harvard, Bellino enten- deu que empreendedorismo é transformar projetos em sonhos, e não o contrário. >> Entrevista Ricardo Bellino refaz planos após curso Página E2 >> Galeria O que brasileiros ilustres aprenderam em Harvard Página E3 >> Estrutura A sala de aula que prioriza o debate Página E4 Para transformar projetos em sonhos MICHAEL WEYMOUTH/HARVARD

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| SUPLEMENTO ESPECIAL QUARTA-FEIRA, 8 DE ABRIL DE 2009 | E1

PÁG. 1 CMYK

Em resposta à crise de 1908 Harvard institui oMBA que hoje se consolida como um dos maisprestigiados do mundo e projeta milhares deexecutivos e empresários para o sucesso

MARCELLO D‘ANGELOSÃO PAULO

“Os europeus acreditam que opânico mundial registrado no outo-no passado foi causado pelo nossosistema bancário e não há garantiade que outra convulsão possa serevitada sem uma reforma desse sis-tema”, declarou ao New York Ti-mes o presidente do First NationalBank, James B. Forgan. Publicadaem setembro de 1908 entre as aná-lises do que foi chamado de “pânicodos ricos”, essa frase caberia nova-mente como resumo dos fatos queteimam em desafiar a economiamundial nos dias de hoje. Há 101,

anos como resposta à crise queameaçava a então economia emer-gente do Estados Unidos, a institui-ção de ensino superior mais antigadaquele país, a Harvard University,oferecia como resposta a criação doprimeiro programa de MBA (Mas-ters in Business Administration) domundo. Começava a funcionar oHarvard Graduate School BusinessAdministration, como era chamadona época o departamento voltadopara estudos de administração deempresas e que tinha o objetivo deformar lideranças capazes de se des-tacar em tempos de dificuldade e dedepressão. Apesar do pioneirismo

na área, naquele ano a universidadeainda não imaginava que o cursoganharia as proporções alcançadashoje, sendo considerado o melhordo mundo e formando personalida-des dos negócios como, por exem-plo, Ann Moore, presidente da Ti-me Inc.; e da política, como MichaelBloomberg, prefeito de Nova York,e o ex-presidente dos Estados Uni-dos George W. Bush.

A cada ano, milhares de pessoasde diferentes partes do mundo can-didatam-se a uma vaga na BusinessSchool. Muitas na esperança demudarem suas vidas — e até a deseus países. Mas poucos chegam lá.Quem não tem bolsa precisa pagar— e muito. Um ano de estudos naHarvard Business School pode cus-tar US$ 80 mil, isso sem contar hos-pedagem e alimentação.

Ali os alunos são exigidos, o

ritmo é puxado e os cronogra-mas são, nas palavras dos pró-prios alunos, “insanos”. MegWithman, ex CEO da e-Bay, quese formou na Business Schoolem 1979, diz, ao lembrar-se deseus dias de estudante, que “apressão era assustadora”. Ao fa-lar sobre o que aguarda os re-cém-chegados a HBS, o reitor dainstituição faz a seguinte com-paração: “É como beber água deuma mangueira”, diz, referindo-se ao volume de informação e detrabalho que os alunos irão re-ceber. “São mais de 24 horas detrabalho a ser feito em 24 ho-ras”, conclui o reitor, ele próprioum graduado da HBS.

Uma das principais caracterís-ticas da Business School é o estu-do de cases, método de ensinoinstituído em 1924. São situações

reais, extraídas da vida real. Mi-chael Dell, o fundador da DellComputers, nunca terminou a fa-culdade, mas sua performance nomundo dos negócios fez dele o ti-po de herói que os alunos de Har-vard cultuam. Todas as aulas sãobaseadas em casos reais e, muitasvezes, o presidente da empresaque está sendo estudada senta-senos bancos escolares para debateras dúvidas e soluções apresenta-das pelos alunos.

Há 10 anos na HBS, Joe Las-siter é um dos professores maispopulares da instituição. Ele re-sume da seguinte forma sua fi-losofia de trabalho: “Escolho osmelhores da classe para condu-zir os outros, levando-os a se tor-nar melhores do que jamais pen-saram que poderiam ser”.

Entre as áreas escolhidas, fi-

nanças e consultoria são quemais atraem os alunos. Dos for-mandos de 2007, 45% passou aatuar com finanças e 22% comconsultoria.

O empreendedor brasileiro Ri-cardo Bellino engrossa os núme-ros com o seu primeiro diploma,logo um de Harvard. Aqui no Bra-sil, abandonou dois cursos pelametade. Economia na CandidoMendes do Rio de Janeiro e Direi-to na Faap em São Paulo. Nosbancos escolares da HBS destacaque o melhor foi aprender a an-tecipar quando um negócio nãotem chances de decolar, pois nãopassa mesmo de um sonho. Nospioneiros e famosos estudos decasos de Harvard, Bellino enten-deu que empreendedorismo étransformar projetos em sonhos,e não o contrário.

>> Entrevista Ricardo Bellino refazplanos após curso

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>> Galeria O que brasileiros ilustresaprenderam em Harvard

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>> Estrutura A sala de aula queprioriza o debate

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Para transformar projetos em sonhos

MICHAEL WEYMOUTH/HARVARD

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E2 | Quarta-feira, 8 de abril de 2009 | GAZETA MERCANTIL

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A turma de 80 alunos tinha participantes de 30 paísesEMPREENDA HARVARD

ENTREVISTA Ricardo Bellino

O jeito Harvard de começar um negócioO deal maker brasileiro diz que curso da BusinessSchool sobre empreendedorismo já o levou arefazer planos, e conta que o mais importante foiaprender a abandonar ideias que não vão dar certo

LUIZ SILVEIRASÃO PAULO

Para um empresário que seconsidera um “empreendedorserial”, fazer um curso chamadoLaunching New Ventures (Lan-çando novos negócios) na maisconceituada escola de negóciosdo mundo pode soar como umparque de diversões.

De fato, o deal maker RicardoBellino, sócio da Gold&Bell, atéachou graça na teorização doempreendedorismo que viu nocurso, concluído há cerca dedois meses. Mas ficou encanta-do com a troca de experiências eo estudo de casos reais. “A capa-cidade de desprendimento deum projeto que dá indícios deque não vai decolar muitas ve-zes é mais importante do que acapacidade de empreender umanova idéia”, diz ele, sobre umadas principais lições que apren-deu em Harvard. Ensinamentoque já está aplicando no dia-a-dia à frente da Gold&Bell, em-presa cujo nome é formado peloinício dos sobrenomes dos só-cios Ricardo Bellino e SamuelGoldstein. Por coincidência, osímbolo do centenário da HBS,celebrado no ano passado, é umsino dourado.

Gazeta Mercantil — O conteúdodo curso vale o investimento deUS$ 8.500 para uma semana?

Mais do que os conteúdos emsi, o que mais me interessou foia forma como eles apresentam ediscutem os estudos de casos.Esse, inclusive, é o grande dife-rencial criado pela Harvard Bu-siness School, desde a sua fun-dação, há mais de 100 anos. Acada dia são avaliados pelo me-nos quatro estudos de casos, que

devem ser previamente discuti-dos em grupos de trabalho de-signados no começo do progra-ma. Esses grupos funcionam co-mo um conselho de administra-ção, que avalia as decisões e re-sultados da empresa, e princi-palmente de seus sócios e execu-tivos. Em sala de aula, essas dis-cussões ganham maior dimen-são com a participação de todosos alunos, sempre sob a tutoriade um professor, que discute emmais profundidade todos os as-pectos abordados no estudo decaso. Outra importante contri-buição são as ferramentas ofere-cidas para a criação e avaliaçãode modelos de negócios.

nossos planos e a forma comofazemos negócios.

GZM — Os professorespareceram teóricos demais?

Para um sujeito como eu, quetrilhou o caminho de autodida-ta e se formou na “escola da vi-da”, ouvir catedráticos teorizan-do sobre fórmulas de como fazernegócios chega a ser engraçado.Mas tenho que reconhecer que,ao vivenciar a experiência teóri-ca, tive vários insights positivos,que me levaram a repensar a for-ma como vinha encarando osmeus negócios, e principalmen-te o meu relacionamento cominvestidores e colaboradores.

GZM — O que você achoude mais valioso no curso,que não se encontra no Brasil,na forma como fazemosnegócios aqui?

O que mais me impressionouem Harvard, além do fato de teracesso ao mais alto nível de en-sino e informação empresarialdo mundo, é que, mais do queuma escola de negócios, a HBS éuma instituição que forma líde-res empresariais e políticos. Di-ferentemente da relação que osalunos têm com as suas escolase universidades no Brasil, os for-mados em Harvard passam a fa-zer parte de uma rede que atuaativamente no apoio e desen-volvimento de seus colegas, co-nhecidos como Alumnis, bemcomo contribuem com doaçõesimportantes para a manutençãoda instituição.

GZM — Saindo do curso, dávontade de começar umnegócio do zero paraexperimentar as lições deempreendedorismo?

Essa é uma pergunta perigosapara um empreendedor serial co-mo eu! Não precisei sair do cursopara ter vontade de começar umnegócio do zero.

Bellino (à direita), com o sócio na Gold&Bell Samuel Goldstein

RESENHA

RICARDO BELLINOMIAMI (EUA)

Em 2004, o chefe da sucursaldo jornal londrino Daily Telegra-ph em Paris, Phillip DelvesBroughton, decidiu que era horade dar outro rumo à sua vida.Uma entrevista que fizera comum magnata latinoamericano odeixou com vontade de experi-mentar o que ele supunha seruma existência privilegiada nas al-tas esferas do mundo dos negó-cios. Para trocar o modesto am-biente de um escritório de sucur-sal pela glamurosa sala de umfinancista de Wall Street, ele deci-diu que o melhor — e mais rápido— caminho era o curso de MBAda Harvard Business School (HBS).Ao 31 anos, tendo em seu currí-culo uma década de experiênciacomo jornalista, Broughton candi-datou-se a uma vaga num dosMBAs mais disputados do mundo.E, para sua grande surpresa, a HBSo aceitou como aluno. O relatodos dois anos que ele passou emHarvard está no livro “Ahead ofthe Curve: Two Years at HarvardBusiness School” (À frente da cur-va: dois anos na Harvard BusinessSchool, em tradução livre).

Broughton explica que, naHBS, os alunos de MBA são ava-liados numa curva que vai do me-lhor ao pior. Sua sobrevivênciaacadêmica, diz ele, depende da po-sição que você ocupa nessa curva.Longe de ficar deslumbrado coma aura de poder que emana da ins-tituição, com a sensação que mui-tos de seus alunos têm de estaremno topo do mundo – ou pelo me-nos a caminho de lá – Broughtonargumenta que a obsessão emocupar uma posição de destaquena tal curva é uma receita para ainfelicidade. Isso, contudo, nãoimpede os alunos de continuaremtentando. “Meu livro”, diz o autor,“descreve meus próprios esforços,nem sempre bem-sucedidos, deignorar essas curvas enganadoras

e seguir meu próprio caminho”.Broughton descreve a HBS co-

mo uma instituição extraordinária,ambiciosa e com um ego mons-truoso. O que ela tem de melhor,diz o autor, é a educação fascinanteque oferece, um ímã para pessoas eideias interessantes. Já o que elatem de pior é, na visão de Brough-ton, o comprometimento comuma agenda corporativa que con-duz os jovens a um trabalho “tedio-so, ainda que bem remunerado”.

Em seus dois anos em Har-vard, o autor nunca foi aprovadoem uma entrevista para emprego.E talvez nunca tenha chegado adominar os rudimentos básicosdo mundo dos negócios – o fatode considerar tediosa a vida dosexecutivos provavelmente contri-buiu para isso. Contudo, apesardas críticas que tece à competiçãoacirrada e à pressão para se situarà frente da curva, Broughton dizque valeu a pena obter o seu di-ploma de MBA. “Foi fantástico.Foi um grande curso de imersãonum mundo do qual eu nada sa-bia”, atesta ele. E mesmo afirman-do que o MBA não é garantia desucesso, Broughton parece acredi-tar que suas vantagens são inegá-veis. “Foi uma chance de repensartoda minha vida profissional. Foimais desafiador e difícil do que eupensei que seria, mas também foiigualmente gratificante.”

Modelo da HBS nãoé unanimidade

HISTÓRIA

REDAÇÃOSÃO PAULO

Harvard ostenta uma lista cu-riosa: a dos ex-alunos que aban-donaram a faculdade, saíramsem se diplomar e, mesmo as-sim, tornaram-se empreendedo-res de sucesso. Em inglês, elessão chamados de “drop-outs” —algo que em português colo-quial poderia ser traduzido co-mo “aqueles que caíram fora”.

O que leva alguém a decidir,de livre e espontânea vontade,abrir mão de um dos diplomasmais prestigiados do mundo? Emmuitos casos, essa atitude podeser creditada ao descompasso en-tre o ensino acadêmico e a vidareal. A sala de aula — mesmoquando está situada numa dasmelhores universidade do plane-ta — não é páreo para a menteveloz e o espírito empreendedorde pessoas que parecem ter umtalento nato para os negócios.

O resultado é que algumas des-sas pessoas acabam abandonando afaculdade para se dedicar a seus em-preendimentos. Elas fazem umaaposta arriscada. Acreditam que te-rão sucesso, mesmo sem diploma.E, muitas vezes, estão certas.

Foi o que aconteceu comaquele que é o mais célebredrop-out de Harvard, Bill Gates,recentemente reinstalado noposto de homem mais rico domundo. Gates, que fundou a Mi-crosoft antes de completar 20anos, admite que não era umbom aluno, pois faltava às aulascom frequência — dizem que oscomputadores de Harvard lheinteressavam mais do que o en-sino que recebia lá. Até queabandonou a faculdade de vezpara cuidar de seus negócios. E avetusta instituição foi obrigada acurvar-se ao sucesso de seu alu-no mais famoso. Não faz muito

tempo, Harvard decidiu diplo-mar Gates — apesar dele nuncater concluído a faculdade.

Outro drop-out de Harvardque tornou-se uma estrela nomundo virtual é Mark Zucker-berg. Durante o tempo em quefrequentou a faculdade, suamais brilhante conquista nãoocorreu na sala de aula, mas nodormitório. Foi lá que ele criou e

Grandes empresáriosdeixaram a faculdadepara tocar seusnegócios, e acertaram

O movimento dos sem diploma

lançou o Facebook, negócio queo transformou no empreendedorcom menos de 25 anos mais ricodos EUA. O Facebook é o site denetworking social que mais cres-ce no mundo. E Zuckerberg jánão tem mais tempo — nemmotivos — para continuar fre-quentando as aulas.

Mas Harvard não é a única fa-culdade que tem de lidar com

seus famosos drop-outs. SteveJobs abandonou o Reed Collegepara fundar a Apple. ShawnFanning largou a NortheasternUniversity para se dedicar aoNapster. E Larry Page e SergeyBrin deixaram de lado o progra-ma de Ph.D de Stanford paracriar o Google. Para todas essaspessoas, o diploma da vida era oque contava mais.

Bill Gates, o mais famoso “drop-out” de Harvard: aprender na prática às vezes vale mais a pena

Mais do queos conteúdos, oque interessoufoi a forma dediscutir estudosde caso

”A principal

lição que aprendie já aplico naprática é colocarfoco na geraçãode caixa

REPRODUÇÃO

JOCK FISTICK/BLOOMBERG NEWS

dança foi promover uma avalia-ção profunda nos planos de ne-gócios que estávamos desenvol-vendo na Gold&Bell, e decidir-

mos quais deveríamos conti-nuar perseguindo e quais deve-ríamos encerrar imediatamente.A capacidade de desprendimen-

to de um projeto que dá indí-cios de que não vai decolar,muitas vezes é mais importantedo que a capacidade de empre-ender uma nova ideia. Temosque estar sempre alertas e aten-tos aos sinais que os nossos ra-dares nos enviam, acerca dosnossos planos de negócios, eprontos para apertar o botão de“eject” antes que seja tarde de-mais para arremeter.

GZM — Como você pretendeaplicar no seu negócio osconceitos aprendidos?

A principal lição que apren-di em Harvard, e que já apli-quei em meus negócios, foi a deque o empreendedor tem quecolocar foco na geração de cai-xa. Parece óbvio, mas não é! Es-sa é uma disciplina que deveser exercitada diariamente navida de todo o empreendedorde sucesso.

GZM — Por conta do curso, vocêfez mudanças em um ou maisplanos de negócios que estavadesenvolvendo?

Com certeza. A principal mu-

GZM — Como foi a troca deexperiências com os colegas?

Na minha opinião pessoal, atroca de experiências com os co-legas que conhecemos durante oprograma foi mais importantedo que o conteúdo em si. A tur-ma era composta de mais de 80participantes, vindos de mais de30 países. Apenas essa multitu-de de culturas já faz com que aexperiência seja única. Não per-di a oportunidade de trocar asminhas experiências com osmeus colegas, distribuindo umacópia da edição americana domeu livro: “You Have 3 Minu-tes! Learn the Secrets of the Pit-ch from Trump’s Original Ap-prentice”, publicado nos Esta-dos Unidos pela McGraw-Hill.

GZM — O que essa partilhaagregou ou mudou na sua formade fazer negócios?

Aprender a ouvir a opiniãode outras pessoas, principal-mente daquelas que não tem ne-nhuma relação direta com osseus negócios, e muitas vezescom a sua cultura, nos permitecriar uma nova visão sobre os

MICHAEL WEYMOUTH/HARVARD

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GAZETA MERCANTIL | Quarta-feira, 8 de abril de 2009 | E3

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O seleto grupo de alunos formam uma comunidade mesmo após os cursosEMPREENDA HARVARD

NETWORKING

“No Brasil dizemos que 70%dos empregos são preenchidospor networking. Nos EstadosUnidos, falam em 90%. Assimsendo, me pergunto: será que oque sobra são as posições maisinteressantes?”, brinca PriscilaZogbi, executiva que frequentoua Harvard Business School entre2002 e 2004, quando fez MBA, ediz ter conseguido todos os em-pregos pelos quais passou depoisdisso via algum contato feito porconta do curso.

“Quando eu estava na GeneralMills, em Minneapolis, depois doMBA, fui passar um fim de sema-na em Nova York e durante umjantar uma colega de Harvard pe-diu meu currículo. Na mesma se-mana a área de recursos huma-nos da empresa em que ela traba-lhava me ligou e fui trabalhar naBath & Body Works para geren-ciar a marca líder deles, então ba-tizada de Signature Collection”,diz Priscila, relembrando apenasum dos momentos de sua carrei-ra em que a rede de contatos feitoem Harvard foi crucial na hora deconseguir um bom emprego.

Muito além do conteúdo, dasdiscussões e dos estudos de casoque marcam as aulas da HarvardBusiness School, seus alunos par-tilham uma identidade que levampara a vida. “Um dos grandes va-lores de Harvard é fazer parte deum grupo que vai ter sucesso nacarreira e que costuma ser recep-tivo com os colegas”, constata An-dré Delben, sócio da Advisor As-set Management, MBA na HBS.

Os contatos feitos por Prisciladurante o mestrado renderammuitas outras propostas. Duranteo curso, quando estava buscandoestágio de verão, a executiva con-tatou uma ex-aluna de Harvardna Avon para conversar sobre aindústria da beleza, na qual esta-va interessada. O currículo da es-tudante ficou com a executiva e,após terem se passado anos, a em-presa continuava ligando para sa-ber onde e como ela estava, umaprática comum nos Estados Uni-dos. “Depois de muitas conversasacabei vindo para a empresa pormeio desta porta aberta anos an-tes”, conta Priscila, referindo-se aoemprego em que está atualmente,

no cargo de diretora de marke-ting da área de fragrâncias.

O peruano Martín Aspíllagachegou ao cargo de administra-dor de fundos de private equityda Enfoca Investments, a maiorempresa da área na região andina,também por conta dos contatosfeitos durante o MBA na HarvardBusiness School, na qual ingres-sou em 2001. Na época trabalha-va no Brasil, na empresa de con-sultoria estratégica Bain&Co.,mas tinha interesse em voltar pa-ra sua terra natal. “Quando passeipelo processo de entrevistas daEnfoca Investments, foi muitoimportante ter estudado em Har-vard, já que um dos sócios da em-presa também havia estudado láe me conhecia”, conta Aspílaga.

“Enquanto estive no Brasil, foiimportante o Harvard BusinessSchool Club e as reuniões realiza-das para manter contato com aspessoas que conhecia, e tambémfazer novos contatos profissionaiscom pessoas formadas na mesmaescola”, diz o peruano, referindo-se ao clube brasileiro de profissio-nais que estudaram em Harvard,que promove reuniões regulares.

Além disso, Aspílaga consideraextremamente importante ter os te-lefones e datas de aniversário dosamigos feitos em Harvard em dia e,pra isso, usa ferramentas da inter-net, como o Plaxo. “Se são pessoasque não vejo com muita frequência,sempre é bom manter nota do em-prego atual, e dos nomes da famí-lia”, diz. Priscila também destaca asredes virtuais de relacionamentocomo Plaxo, Linked in e Facebookcomo ferramentas para acelerar co-nexões entre os ex-estudantes. “Elasavisam quando alguém foi promo-vido ou quando é aniversário e, des-sa forma, facilitam a oportunidadede trocar uma mensagenzinha ce-lebrando a vida dos outros”, diz.

Além de ajudar a conseguir boascolocações no mercado, a rede decontatos feita em Harvard auxiliana tomada de decisões cotidianasno trabalho, segundo Priscila, quediz ter verdadeiros consultores emquase todas as capitais do mundo.

“Não perco dois minutos pes-quisando sobre determinado as-sunto, ligo imediatamente paraalguém que conheço que tenhaexperiência na área”, conta. “Sequeremos fazer um lançamento‘viral’ de uma fragrância pelomeio eletrônico, por exemplo, te-nho uma grande amiga que liderao Google na Austrália, outro no

As teias sociais que seformam entre osharvardianos pesam nahora da recolocação

Mais que conteúdo:redes de contatos

Facebook e outro no LinkedIn.Depois de três ligações já tenhoideias vindas de quem faz bem fei-to”, resume.

Mesmo durante o MBA quecursou entre 2001 e 2003, Delbenjá sentia a importância da troca deexperiências entre os alunos. “Umterço dos alunos era de estrangei-ros, e as diferenças culturas vi-nham à tona, colaborando parauma visão globalizada. E a diversi-dade não está só na nacionalidade:na minha turma havia um padre euma médica, que traziam pontosde vista diferentes”, constata.

A partilha de conhecimentoscontinuou após o curso, agora en-tre ex-harvardianos brasileiros.Delben é membro da diretoria doHarvard Business School Club ofBrazil, que tem hoje cerca de 600membros: 120 formados no MBAe outros 480 em cursos executi-vos de longa duração. Cursos rá-pidos não credenciam o ex-alunoa fazer parte do seleto grupo.

“O objetivo do clube é promo-ver o networking. Fazemos umalmoço mensal com alguma figu-ra do mundo dos negócios, porexemplo, que agrega conheci-mento para todos”.

C.P. e L.S.

André Delben, do HBS Club of Brazil: diferentes oportunidades de troca de experiências, anos depois de concluir os estudos

GALERIA

Uma boa parte do PIBdo País já passou porHarvard — e assimajudou a aumentá-lo

Quando a elite brasileira vai à escola

CAROLINA PEREIRA E LUIZ SILVEIRASÃO PAULO

Entrar na Harvard BusinessSchool é para poucos. Além dosaltos custos — um curso de umasemana, com todas as despesas,pode passar dos US$ 10 mil — épreciso ser (realmente) fluenteem inglês e preencher pré-requi-sitos específicos de idade e até deexperiência profissional.

Por isso, é seleto o grupo deexecutivos e empresários brasi-leiros que tiveram o privilégiode se sentar nos bancos da maisprestigiada escola de negóciosdo mundo. Os ex-alunos de Har-vard formam uma elite, que noBrasil inclui nomes como PedroMoreira Salles, do Unibanco;André Jakurski, ex-Pactual; Ma-noel Amorim, presidente doPonto Frio, Amílcare Dallevo, daRedeTV! e os sócios da InBevMarcel Telles e Carlos AlbertoSicupira. Jorge Paulo Lemann, oterceiro do grupo, também é for-mado em Harvard, mas não naBusiness School.

De uma forma ou de outra,esses nomes trouxeram para odia-a-dia empresarial brasileiroos ensinamentos da escola ame-ricana. Manoel Amorim, atualpresidente do gigante do varejo

Ponto Frio e executivo com lon-ga experiência em empresas co-mo America On Line e Vivo, porexemplo, acredita que não teriatido a mesma carreira de suces-so se não tivesse frequentado assalas de aula de Harvard.

Isso porque, segundo ele, oMBA da instituição se baseia naparticipação dos alunos em clas-se e nos estudos de caso, por isso“ensina a fazer as perguntas cer-tas sobre os temas mais relevan-tes. Saber perguntar sobre o queé relevante é mais importantedo que saber sempre as respos-tas”, avalia. O executivo, queafirma aplicar diariamente osensinamentos que teve no cur-

so, diz que “ser o meu melhor éa forma de retribuir o que recebida escola”, por isso busca a ex-celência permanentemente.

Amorim relembra a rigidezdo sistema de avaliação do cursopara explicar que nem sempre osalunos que eram reprovados ti-nham baixo nível de excelência.“Em todas as classes, 10% dosalunos são reprovados — os 10%com as piores notas, mesmo queaquelas notas tenham sido mui-to boas”. Ou seja, o aluno podenão ser aprovado mesmo tendotido 95% de aproveitamento nostestes. “Para que isso aconteçabasta que 90% dos alunos te-nham tirado mais do que os seus

95%. Vencem os melhores emuma escala relativa”.

Tanta rigidez rendeu a Amo-rim, engenheiro químico forma-do pelo Instituto Militar de En-genharia do Rio de Janeiro, umemprego em uma empresa líderescolhida por ele, nos EstadosUnidos, fato que alavancou suacarreira. “Teria sido impossívelsem a qualificação que obtive naHarvard Business School”, diz.

O MBA de Harvard é concor-rido, e sair dele também é difícil,como ressalta Amorim. Para An-dré Delben, sócio da Advisor As-set Management que conclui ocurso em 2003, “conseguir en-trar já diz que a pessoa tem po-

tencial. Ao sair, ela vai no míni-mo ter mais confiança em suaspróprias decisões”.

Além disso, Amorim destaca aimportância do MBA também pa-ra delinear os rumos de sua car-reira. “Havia me formado quatroanos antes, trabalhava na Petro-bras e sabia que não era o quequeria fazer para o resto da mi-nha vida. A ideia de ir para Har-vard surgiu ao ler um artigo sobrea escola e descobrir que muitosalunos faziam o curso do MBApara redirecionar a carreira e en-contravam fácil colocação após aconclusão. Pareceu cair comouma luva para o momento queeu vivia”, recorda.

Não é exatamente uma situa-ção semelhante à de Delben,que fez o MBA com bolsa daempresa em que trabalhava, aMcKinsey. Mas, da mesma for-ma, o curso da HBS mudou odestino de sua carreira. “EmHarvard, o incentivo a criaruma empresa é muito grande.O MBA tem um forte compo-nente empreendedor”, diz Del-ben, que um ano depois de vol-tar ao Brasil decidiu abandonarsua progressão na McKinsey ese aventurar com um conheci-do como sócio na Advisor, ondeestá desde 2004.

Inovação Amílcare Dallevo, presidente

da RedeTV!, receberá o diplomana próxima semana pela partici-pação no curso Owner/ PresidentManagement da Harvard Busi-ness School e acha que o conteú-do do programa teve tudo a vercom a empresa em que atua e re-sume em poucas palavras o queas necessidades do seu ramo exi-gem e que a HBS oferece: “Estra-tégia, negociação, finanças, políti-ca internacional e, principalmen-te, inovação. São apreendidastécnicas de negociação que, naminha opinião, na maioria dasvezes, ajudam”, diz o executivo,que afirma sempre aplicar os co-nhecimentos adquiridos em ta-refas do dia-a-dia como a análisedo budget (orçamento) mensal,por exemplo.

Alguns alunos ilustres que passaram pelos bancos da Harvard Business School

Manoel Amorim

Ponto Frio

Cursou o MBA da

instituição

Pedro Moreira Salles

ItaúUnibanco

Também cursou o

Owner/President

Manager

Peter Graber

Graber

Fez um MBA nos anos

70 e foi um ativo

organizador da

comunidade de

harvardianos

no Brasil

Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira

InBev

São formados em Administração por Harvard

Amilcare Dallevo

RedeTV!

Fez um curso rápido de

Finanças Estratégicas

e acaba de concluir o

programa OPM - Owner/

President Manager,

para donos de empresas

que gerem os negócios

GRANDES HARVARDIANOS BRASILEIROS

DANIEL TEIXEIRA/GAZETA MERCANTIL

Page 4: Para transformar projetos em sonhos · Mendes do Rio de Janeiro e Direi-to na Faap em São Paulo. Nos bancos escolares da HBS destaca que o melhor foi aprender a an-tecipar quando

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GAZETA MERCANTIL | Quarta-feira, 8 de abril de 2009 | E4

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EMPREENDA HARVARD Auditório facilita discussão de estudos de caso entre os alunos

INFRAESTRUTURA

Ibmec SP adaptaquatro salas de aulaaos moldes de Harvardpor R$ 500 mil cada

O formato que propicia o amplo debate

CAROLINA PEREIRASÃO PAULO

O modelo de ensino praticadona Harvard Business School(HBS) tem adeptos em institui-ções brasileiras não só na parteteórica, tão reconhecida e presti-giada mundialmente. A parte fí-sica das salas de aula, que tam-bém faz parte do conceito aplica-do na famosa escola de negócios,da mesma forma já é importadapara instituições brasileiras, co-mo o Ibmec São Paulo.

As tradicionais salas em forma-to de auditório inspiradas na HBSexistem desde 2006 na universida-de brasileira, época em que o Ib-mec SP mudou para o campus de10,5 mil metros quadrados locali-zado na Vila Olímpia.

“O edifício foi totalmente cus-tomizado para as nossas necessi-dades, e uma das adaptações foi ainclusão de quatro salas grandesao estilo de Harvard”, conta Ser-gio Lazzarini, diretor da gradua-ção do Ibmec São Paulo.

O modelo de sala de aula se feznecessário por conta do convênioque a universidade possui com aHarvard Business School Pu-blishing, por meio do qual dispo-nibiliza a seus alunos — em espe-cial da pós-graduação — estudosde caso produzidos pela HBS comoparte da metodologia de ensino.Para otimizar o aprendizado via ca-sos reais é essencial, segundo Laz-zarini, que o ambiente da aula pro-picie a discussão e o debate. “O mé-todo de Harvard é centrado noaluno para estimular o debate, porisso as salas são em ‘U‘ e não têmcantos onde alguém possa não vi-sualizar a lousa”, diz.

E por falar em lousa, o velhoquadro negro também ganhouares modernos nas quatro salasde aula baseadas na metodologiaHarvardiana: são automáticas e se

movem. Para isso, basta que oprofessor pressione um botão. Acerâmica é importada e permiteum risco forte, que pode ser en-xergado por todos, sem que o do-cente precise se cansar.

Há também, em uma das salas,um sistema eletrônico de votaçãopara que os alunos possam darsuas opiniões sobre os mais diver-sos assuntos discutidos e o profes-sor possa computar os resultadosinstantaneamente em seu com-putador. A iluminação, bem co-mo o sistema acústico, são com-putadorizados e se adaptam con-forme o local em que o professorestá na sala. No entanto, tantatecnologia tem preço: adaptaruma sala convencional do IbmecSP para uma sala no estilo de Har-vard não sai por menos de meiomilhão de reais, montante que sóé viabilizado por meio de patro-cínio de alguns empreendedores.

As quatro salas existentes fo-ram bancadas por alguns dosgrandes nomes do meio empre-sarial brasileiro como WaltherMoreira Salles (Unibanco), JoséErmírio de Moraes Filho (Voto-rantim), Olavo Setubal (Itaú) eJorge Paulo Lemann (Inbev).Mesmo assim, novos patrocina-dores são esperados. “Não quere-mos propaganda de empresas,isso desvirtua o ambiente da sa-la de aula. Só aceitamos o patro-cínio de empreendedores e espe-ramos conseguir o suficiente pa-ra termos pelo menos mais duasnovas salas nesse modelo até ofim de 2010”, planeja Lazzarini.

Pedagogicamente, as vanta-gens de tamanho investimento serefletem no aproveitamento dosalunos e em um melhor métodode avaliação, segundo o diretor.“Como existem placas de identi-ficação em todas as mesas, os pro-fessores chamam os alunos pelonome e, uma vez que o formatoda aula estimula o debate, é pos-sível atribuir nota de participaçãoa cada um. Além disso, uma aulaparticipativa é muito mais inte-ressante”, resume.

O modelo de sala em auditório com formato em “U”, consagrado pela Harvard Business School, é reproduzido em todo o mundo

Uma das quatro salas do Ibmec São Paulo, inspirada em Harvard: placa de identificação dos alunos para facilitar avaliação

ÍNDICE

Harvard emitiu alertas sobre a criseWall Street absorveumuitos alunos do MBAda escola, indicando oinchaço do mercado

Soifer, que hoje dirige sua SoiferConsulting, explica a teoria portrás do índice da seguinte forma:quando os graduados de Harvardse empilham em empregos emWall Street, o mercado está prova-velmente superaquecido e pode es-tar a caminho de uma queda.

Ele assume se tratar de umindicador de longo prazo “umtanto esotérico, mas não por is-

so menos pre-ciso, em ge-r a l ” , q u eaponta a dire-ção dos pre-ços dos ativosnos EstadosUnidos.

Se mais de30% dos alu-

nos do MBA de Harvard acabamno que Soifer define como “em-pregos sensíveis ao mercado” —uma subcategoria de serviços fi-nanceiros que inclui bancos deinvestimento, private equity ehedge funds — trata-se de um si-nal para vender os papéis a longoprazo. Se esse número está abaixode 10%, é um sinal de longo pra-zo para a compra.

No ano passado, 41% dos alu-nos foram para empregos sensí-veis. É ainda mais que os 40%

do ano anterior, que já tinha si-do o recorde até então. O índiceMBA Harvard tem dado sinaispara a venda de ativos desde2005, disse Soifer.

Cerca de 4% da última turma deHarvard empregou-se em fundos dehedge, e aproximadamente 9% foitrabalhar em bancos de investimen-to, mostram os números. Outros17% foram para a indústria de pri-vate equity ou aquisições alavanca-das e 4% conseguiu posições no se-tor de venture capital. Se todas essaspessoas ainda mantêm — e man-terão — seus empregos é umaquestão em aberto, obviamente.

ANDREW ROSS SORKINTHE NEW YORK TIMESNOVA YORK

Mesmo com os mercados emconvulsão e os bancos de inves-timento em dificuldades, a últi-ma safra de formandos do MBAde Harvard seguiu em direção àindústria de serviços financeirosem um número maior do que aturma anterior.

Essa é a imagem que emergedos dados de contratação da Har-vard Business School para a clas-se de 2008. Os números indicamque 45% da turma arranjou em-prego na indústria de serviços fi-nanceiros — que na verdade re-presenta um pequeno aumentosobre o ano anterior, em que o ín-dice foi de 44%.

A informação pode ser muitointeressante para quem acreditano “Indicador MBA Harvard”,uma espécie de termômetro domercado compilado anualmentepor Ray Soifer, um ex-analista domercado financeiro e ex-aluno daHarvard Business School.

O índice é baseado em deci-sões feitas muitos meses antes dofim do ano estudantil.

E isso é algo que Soifer reco-nhece rapidamente. “A maior par-te dessas decisões de carreiras foitomada antes do recente declíniodo mercado — algumas tão cedoquanto em 2007”, escreveu ele.“Os dados da próxima turma se-rão interessantes!”.

Voltando no tempo, em 1937,apenas três formandos da Har-vard Business School, ou cerca de1% da turma, se arriscaram na in-dústria financeira logo depois dedeixar a instituição.

Saiba como são os quatro espaços do Ibmec SP inspirados no conceito utilizado em Harvard

A SALA DE AULA DE R$ 500MIL

Fonte: Ibmec São Paulo

Principais características:

- Tamanho: 240 m2

- Formato: auditório em U (com degraus e sem canto)

- Lousas: de giz, feitas com cerâmica importada, automáticas

- Capacidade: 120 alunos

- Placas de identificação dos estudantes nas mesas

- Isolamento acústico

Alunos da Business School: desde 2005, contratações demais

DA TURMADE 2008,

45%foi trabalharem serviçosfinanceiros

D I V U LG A Ç Ã O

MICHAEL WEYMOUTH/HARVARD

MICHAEL WEYMOUTH/HARVARD