para colaborar com o parto de uma humanidade nova

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  • 8/17/2019 Para Colaborar Com o Parto de Uma Humanidade Nova

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    Fonte: http://www.marcelobarros.com/2011/10/palestra-em-passo-fundo.html

    Palestra em Passo FundoEste é o texto que preparei e mando para Passo Fundo onde devo falar na Universidade Federal de lá (RS) nasexta feira, 27 de outuro! Será um en"ontro "om edu"adores#as sore Edu"a$%o para a Pa&

    Para "olaorar "om o parto de uma 'umanidade nova(Para intensificar nossa vocação de educar para a paz)

    “Feliz quem trabalha pela paz, porque será chamado/a filho/a de Deus” (Na cultura hebraica, ser filho/ade Deus significa que é alguém que faz o que Deus faz ! paz é uma a"#o di$ina% &t ', %

     Ao saber que teríamos aqui este encontro sobre educação para a paz, um amigo me questionou: - Ainda,até quando !ssa "ist#ria de educação para a paz $% não est% meio repetitiva e desgastada &enti-me meiodesnorteado porque, ao tratar esse assunto, me sinto como um "omem que todo dia, pe'a man"ã, acorda, d% umbei$o na pessoa amada e '"e diz: eu te amo &abe que é o mesmo rito de sempre, "% muitos anos, mas não sentecomo a'go u'trapassado ou que é mera repetição A energia amorosa torna esse gesto atua' e sempre origina'

     s vezes, tratamos de assuntos que são urgentes e de cu$o teor sentimos fa'ta *utras vezes, devemosac'arar coisas que $% vivemos, mas sentimos a necessidade de confirmar e aprofundar o camin"o percorrido +oda

    pessoa que a$uda a $uventude a aprofundar um camin"o a'ternativo para o futuro $% vive como educadora umamissão de educar para a paz, mas é bom não s# confirmar isso, como aprofundar sempre mais &ei que aqui estoufa'ando para verdadeiros mestres e mestras nessa arte be'a e eigente de educar para a paz, no conteto de umaestrutura esco'ar que não foi pensada para educar para a paz e sim para 'egitimar e forta'ecer o status quo dosistema vigente em nosso país e no mundo

    !stou vindo "% poucos dias de um encontro em uma universidade de .ogot% na /o'0mbia A'i, assisti apasseatas e manifestaç1es de mi'"ares de ado'escentes e $ovens, pedindo uma educação gratuita e de qua'idade,assim como uma 'ei de ensino mais democr%tica 2o /"i'e, "% meses, mi'"ares de $ovens estão gritando nas ruas por uma educação a'ternativa !m 3adri, desde março, as manifestaç1es de los indignadoscomeçam a preocupar osgovernos e a sociedade dominante 4e$o tudo isso como educador doido para que os $ovens se$am ouvidos eatendidos, mas também como buscador do mistério que v5 nessas manifestaç1es uma epressão de espiritua'idade"umana, não re'igiosa, mas profundamente mística, porque dese$osa de um mundo novo e de novas re'aç1es entren#s Agora, diante de voc5s, não penso que é o caso de retomar as bases e diretrizes de uma educação para a paz

    4oc5s fazem isso, a'guns "% anos e anos, e eu aprendo com voc5s * que posso é agradecer de coração o be'o eprofundo testemun"o que voc5s nos dão ao nadar contra a corrente e perseverar e aprofundar esse camin"o deeducação para a paz, se$a em 6uaporé, se$a aqui em Passo 7undo, se$a em outros rinc1es deste 8io 6rande 3in"aproposta, "o$e, é, em primeiro 'ugar, como irmão e compan"eiro no camin"o, confirmar voc5s na urg5ncia dessamissão de educadoresas da paz e também dia'ogar com voc5s sobre a espiritua'idade ecum5nica e "umana quefundamenta e a'icerça esta missão de educadoresas da paz

    9 A urg5ncia e os desafios novos dessa missão;uando o'"amos na América =, o 'ibertador &imon .o'ívar $%fa'ava que a revo'ução é como uma %rvore de tr5s ga'"os ou ramos e o principa' de'es é a educação !videntemente,este conceito de educação é o de um processo de conscientização socia' e "umana que parta da vocação de todoser "umano para a $ustiça e para a paz 2a América

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    !m um teto do início dos anos ED sobre !ducação, o fi'#sofo a'emão +"eodor Adorno diz: FAtua'mente,a questão mais urgente da educação se tornou o que eu c"amo Gdesbarbarizar G A nossa civi'ização a'cançou ume'evado desenvo'vimento tecno'#gico, mas muitas pessoas se encontram como que tomadas por uma agressividadeprim%ria, um #dio primitivo ou, na termino'ogia cu'ta, um impu'so de destruição, que contribui para aumentar aindamais o perigo de que toda esta civi'ização ven"a a ep'odir, a'i%s uma tend5ncia imanente que a caracteriza *prob'ema que se imp1e é saber se é possíve', por meio da educação, superar a barb%rie /onsidero isso tão urgenteque reordenaria todos os outros ob$etivos educacionais para esta prioridade de 'ibertar as pessoas desta

    barb%rieH[1] ;uando vemos o que "o$e est% ocorrendo em v%rios países da Ifrica, mas também nas fronteiras dos!stados Jnidos com o 3éico e em países da !uropa como a >t%'ia, em re'ação aos migrantes e refugiados

    c'andestinos, percebemos que essa barb%rie que Adorno denuncia s# piorou e se tornou mais end5mica no mundoatua' Portanto, nossa educação para desbarbarizar o mundo e a vida é ainda mais urgente e essencia' Para isso,creio que é importante assumirmos a pr#pria missão de educar como um camin"o de espiritua'idade ecum5nica e"umana que tento aqui agora ep'icar e propor a voc5s

    C

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    3uitos $% disseram que estamos não apenas em uma época de mudanças, mas uma mudança de época!m todo o mundo, se fa'a em crise econ0mica, desemprego estrutura', aumento da pobreza, vio'5ncia urbana,migraç1es desordenadas e um aba'o fundamenta' nos va'ores éticos e sociais A crise eco'#gica ameaça o futuro dop'aneta A urbanização do mundo e a nova sociedade baseada no con"ecimento e na inform%tica mudaramradica'mente a cu'tura, a economia e a forma do ser "umano re'acionar-se consigo mesmo, com o outro e com anatureza 2#s vivemos este momento de transição de um tipo de civi'ização a outra

    M difíci' definir os contornos precisos da crise e como esta se epressa A'ém do desastre que ocapita'ismo neo-'ibera' tem provocado, percebemos que "% uma mudança de cu'tura na forma se re'acionar com

    presente, o passado e o futuro 2a obra“)e *hristianisme a+t+il son temps”, ean-3arie P'ou distingue tr5s etapasda "umanidade: a da tradição, a da modernidade e a da re'atividade Até o sécu'o =4>>>, a cu'tura era medida pe'oseu passado * presente era refém do tradiciona'ismo /om o >'uminismo e o 3arismo, o presente aspirava orientar-se K 'uz de construç1es ideo'#gicas do futuro /om o fim das ideo'ogias, o presente vaci'a 7a'ta um "orizonte

    definidoH[4] Parece que as pessoas vivem o momento presente, sem pro$eto definido e sem perspectivas maioresdo que o aqui e agora !mbora muita gente tente se defender no presente agarrando-se ao passado, o mundoparece um imenso avião cruzando o oceano da vida, sem radar nem acesso aos instrumentos de navegação 2ãotemos mais b@sso'as, a não ser o aqui e agora Liante disso, qua' a reação dos educadores e educadoras % quemprocure sa'vação na 'ei e nas estruturas Parece que os movimentos que mais crescem no mundo atua' são osmovimentos fundamenta'istas, tanto no p'ano re'igioso, como no p'ano socia' e no níve' po'ítico A pr#pria sociedadetem esta tend5ncia em tempos de crise !m v%rios países, $ovens são mais conservadores do que seus pais

    3artin e 3artU e 8 &cott App'ebU escreveram em seis vo'umes um pormenorizado estudo sobre os7undamenta'ismos atuais 3ostram que e'es querem criar uma contra-cu'tura, ressacra'izar o mundo cada vez mais

    céticoH[5] ;uem descobriu com &ão Pau'o que a sa'vação não poder% vir da 'ei, sabe que a rigidez, o

    conservadorismo não vai mudar nada, a não ser as apar5ncias e ainda com o risco de tornar a sociedade menosadaptada ao mundo atua' M preciso assumir os riscos, superar o medo e a tend5ncia de ficar na defensiva *forta'ecimento de uma educação para a paz e a $ustiça pode a$udar a "umanidade a redescobrir uma nova forma deorganizar o mundo a partir da transre'igiosidade e do p'ura'ismo cu'tura' 2ão se trata do c"amado Fmu'ticu'tura'ismoH,ao qua' o soci#'ogo po'on5s Vigmunt .auman refere-se como Fuma cacofonia de vozes, confusão e mesmo ideo'ogia

    do fim da ideo'ogiaH[6] 2ão se trata de misturar e confundir e'ementos cu'turais que, no fina', a cu'tura dominantesempre acaba se impondo A proposta é outra, mas a'ternativa e profunda M mesmo um camin"o de di%'ogo a partir da diversidade, vivida a partir das cu'turas popu'ares e do respeito da a'teridade

    E 4iver o pro$eto educativo como forma de espiritua'idade A fi'#sofa e espiritua' &imone Wei' afirmava: F/on"eço quando a'guém é de Leus não pe'a forma como

    fa'a de Leus, mas pe'o modo como se re'aciona com a vida e com o mundoH[7] Poderíamos, "o$e, dizer isso nãoapenas sobre Leus, mas sobre a espiritua'idade como abertura ao outro e disponibi'idade de sempre aprender dodiferente Assim compreendida, a so'idariedade não é apenas fazer pro$etos sociais, participar de a$uda a quemprecisa M um principio de vida, um modo de viver e no qua' nos comprometemos amorosamente com o outro

    Para isso, não "% receitas Aqui tento e'encar a'guns e'ementos de método e forma de viver umaespiritua'idade ecum5nica e so'id%ria

    E 9 &er fie' K rea'idade e a uma mística da vida2ão eiste pro$eto educativo sem se traba'"ar oa educadora A proposta dessa visão de educação como

    espiritua'idade ecum5nica é nos co'ocar em camin"o e em processo * método educativo de partir da rea'idade pedede n#s, antes de tudo, assumir nossa rea'idade pessoa', com suas fragi'idades e suas ambigNidades de cada dia2inguém pode eigir doa educadora que se$a perfeitoa, mas é fundamenta' mostrar que est% a camin"o &anto Agostin"o dizia que o mais descon"ecido que podemos ep'orar é o que "% de mais interior a n#s mesmos 2o p'ano

    das convicç1es, a fé não ec'ui as d@vidas o$e, vivemos em um mundo confuso, no qua' temos de abrir mão, nãode nossas convicç1es, mas de nossas certezas 2ão mascarar isso e, ao mesmo tempo, tomar a opção de traba'"ar as contradiç1es, grandes ou pequenas que vivemos, é a base indispens%ve' de sinceridade e de rea'idade paraavançar neste camin"o

     A rea'idade é, e'a mesma, dia'oga' Wa'ter Sasper afirma: FA pr#pria natureza da eist5ncia "umana p1eem re'evo o fato de que não vivemos, nem eistimos uns sem os outros F2#s não s# nos encontramos, mas somosencontro * outro não é o 'imite do meu eu * outro é parte e enriquecimento da min"a eist5ncia Por isso, o di%'ogo

    pertence K rea'idade da eist5ncia "umana A identidade é esencia'mente dia'#gicaH[8] 3ic"e' de /erteau dizia queo di%'ogo é inerente ao pr#prio pensamento "umano FPenser, cX est passer K 'XautreH (/erteau) * que seria umaeducação que não nos a$uda a descobrir e a viver isso

    Por ser uma noção tão po'iss5mica, é importante precisar me'"or o que caracteriza propriamente o

    di%'ogo F* prefio dia contém a idéia de separação e diferença no sentido de 'ibertaçãoH [9] !ntão, di%'ogo é o

    encontro entre pessoas ou grupos diferentes, com o prop#sito de co'aborar um com o outro Para que "a$a di%'ogo énecess%rio, ao menos, cinco pontos: 9Y que "a$a um encontro "umano e não s# comparação de idéias C que "a$aum intercOmbio de pa'avras M preciso o mínimo de 'inguagem comum Q Leve "aver reciprocidade &emreciprocidade, pode "aver abertura ecum5nica, mas não di%'ogo Para que "a$a di%'ogo, nen"um parceiro ou grupopode se co'ocar como superior ou com mais direito do que o outro R 2a base do di%'ogo "% o direito K diferença ou

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    a'teridade E * di%'ogo sup1e que as partes envo'vidas façam previamente um compromisso ético de abertura edisponibi'idade a mudar

     A educação tem de nos a$udar a desenvo'ver a capacidade de escutar o outro e de dia'ogar 2ão adiantaquerer viver isso no p'ano profissiona' ou re'igioso se no níve' inter-pessoa' não "ouver um camin"o transparente deconversão .oaventura de &ouza &antos sustenta: FA abertura ao outro é o sentido profundo da democratização do

    processo educativoH () F* grau de dissid5ncia mede o grau de inovaçãoH[10] EC 8esgatar o direito da emoção e da afetividade

    /om sua grande eperi5ncia como educador, o professor &í'vio .edin, em sua tese de doutorado na

    %rea da !ducação, afirma: F+omei como ponto de partida o que afirma 3aturana sobre a centra'idade das emoç1esna constituição do "umano Para e'e,“todas as a"-es humanas, independentemente do espa"o operacional em que

    se d#o, se fundam no emocional porque ocorrem no espa"o de a"-es especificado por uma emo"#o” (3aturana,

    CDD9:9TD) Ao contr%rio do que se tem dito, não é a razão, mas as emoç1es que impu'sionam e guiam o nosso viver

     A pr#pria razão é por e'as emba'ada: “as emo"-es guiam o fluir do comportamento humano e lhe d#o o seu caráter 

    de a"#o” (3aturana, CDDD:CZ) * propriamente "umano se constitui no entre'açamento do emociona' com o

    raciona'H[11] >sso nos confirma na opção de resgatar e priorizar esse di%'ogo entre emoç1es e razão, entre os dois

    "emisférios cerebrais do ser "umano e rea'izar um processo educativo mais amp'o e vivencia' que, para ser centradono di%'ogo e na rea'idade do educando, tem de conter essas diversas dimens1es "umanas 2os países andinos, apartir das novas constituiç1es nacionais da .o'ívia e do !quador, as comunidades popu'ares estão investigando o

    que significa concretamente o suma. amana dos AUmara ou o 0uma. 1asa2 dos Setc"uas ou se$a Fo bem viverHque não significa apenas viver me'"or ou o que na gíria se c"ama por aí Fuma boa vidaH M muito mais: a questão daqua'idade de vida ou o que diz o evange'"o quando fa'a em Fvida em p'enitudeH Aqui entre n#s, os 6uarani fa'amem le.il .u3le4al, Fvida verdadeiramente boaH &em d@vida, uma educação para a paz tem de partir desse ob$etivo e'utar por isso para os educandos e educadores >sso é um pro$eto que diz respeito ao interior de cada pessoa, Krea'ização da vida afetiva e das re'aç1es "umanas mais pr#imas, mas a'cança também e é importantíssimo Kdimensão do po'ítico 2ão seria possíve' rea'izar essa qua'idade de vida apenas no níve' interior e intra-pessoa' semenfrentarmos cora$osamente a cu'tura individua'ista e o credo neo'ibera' contemporOneo' M preciso termos c'areza deque, no sistema s#cio-econ0mico vigente, não é possíve' rea'izar p'enamente isso que estamos fa'ando ! aeducação para a paz não pode esperar até que se mude o sistema, mas e'a ser% um processo iniciado que ter%dificu'dades imensas de avançar Assim mesmo, temos de nos recusar a cair na fata'idade Levemos mesmo resistir na contramão deste mode'o socia' Para se rea'izar isso, diz 7rei .etto: Feigem-se 9Y - uma visão crítica doneo'ibera'ismo () CY - *rganizar a esperança 2ão basta esperar uma nova sociedade se não se traba'"a para que

    e'a se construa !ncontrar a'ternativas é um esforço co'etivo () QY - 8esgatar a utopia () RY - !'aborar pro$etosa'ternativos que partam de novos va'ores e aprofunde a místicaH[12]

    /oncretamente, isso significa sempre se co'ocar do 'ado dos mais empobrecidos 4iver em nossasre'aç1es pessoais e no nosso modo de ser este processo é fundamenta' como camin"o ecum5nico e deso'idariedade universa' M ainda um modo concreto, po'ítico, de vivenciar esta primazia das emoç1es na dimensãosocia' e po'ítica

    7ina'mente, gostaria de a'udir K dimensão eco'#gica desse amor que n#s pomos em pr%tica no processo

    de educação para a paz &e é verdade que Fo Livino se reve'a no "umano e nunca ser através do "umanoH [13] *!spírito se reve'a também em todo o universo e é na comun"ão com a natureza que n#s o encontramos e nosdeiamos penetrar por e'e 2a festa de Pentecostes, as comunidades cristãs cantam um sa'mo baseado no 'ivrobíb'ico da &abedoria que diz: F* !spírito do amor, o universo todo enc"eu, tudo abarca em seu saber, tudo en'aça emseu amorH (/f &b 9, T)

    [1] - !ste teto me foi passado pe'o professor !LJA8L* &J6>VAS> em um teto disponíve' na internet quando seacessa o nome de +"eodor Adorno[2] - 78>+*7 /AP8A, s onex*es +"ultas, in"ia para uma vida sustentável, &ao Pau'o, !d /u'tri, CDDC,p CQ[3] - *&/A8 8*3!8*, l-mour .ain"eur, citado por P>!88! 4>

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    de eus, + Fundamentalismo no 8uda9smo, no ristianismo e no :slamismo, &ão Pau'o, /ompan"ia das63J2+ .AJ3A2, omunidade a ;us"a por se* .!L>2, a ma .!++*, +r2 6!