a humanidade possui ainda a capacidade de colaborar...

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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 367 | JUNHO DE 2020 A HUMANIDADE POSSUI AINDA A CAPACIDADE DE COLABORAR NA CONSTRUÇÃO DA NOSSA CASA COMUM [PAPA FRANCISCO (LAUDATO SI’, n.º 13)]

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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 367 | JUNHO DE 2020

A HUMANIDADE POSSUI AINDA A CAPACIDADE DE COLABORAR NA

CONSTRUÇÃO DA NOSSA CASA COMUM [PAPA FRANCISCO (LAUDATO SI’, n.º 13)]

“ “

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Diretor geralDOM JOSÉ LANZA NETO EditorPE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808

Equipe de produçãoLUIZ FERNANDO GOMESJANE MARTINS

RevisãoJANE MARTINS

Jornalista responsável ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265

Projeto gráfico e editoração BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160

Telefone35 3551.1013

[email protected]

Os Artigos assinados não representam necessariamente a opi-nião do Jornal.

Uma Publicação da Diocese de Guaxupé

www.guaxupe.org.br

expediente

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editorial

Novo Normal. A expressão recente, que tem tomado conta das manchetes e das conversas, causa certo estranhamento, es-pecialmente neste contexto de crise sanitária-econômica, por

parecer um jeito melindroso de tratar a realidade.

Por trás de um conceito de origem desconhecida e amplo de-mais e, por isso vazio, se esconde uma intenção bastante conhecida, ao longo da história: a manutenção dos direitos de uma elite privile-giada em detrimento de uma perigosa exposição à miséria de uma imensa parte da população.

O novo normal, anunciado como tendência de consumo, vida e relacionamentos, surge como única possibilidade para os dias de hoje, uma nova situação imposta por uma pandemia e, consequen-temente, a ampliação de uma permanente crise financeira.

Isso tudo esconde uma articulação engenhosa onde, mais uma vez, a elite financeira estabelece uma exploração maquiada dos mais pobres, obviamente transformada numa propaganda de alternativa milagreira para garantir (ineficazmente) a condição mínima para a existência de (quase) todos.

Com estratégias governamentais de redução salarial, facilitação para a demissão e quebra de protocolos licitatórios, o lavar as mãos se apresenta como medida disfarçada de, mais uma vez, preservar o direito ao lucro e garantir o patrimônio das grandes empresas, nem sempre por meios que respeitam à legalidade.

Um romance italiano, O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa, traz uma frase bastante difundida pelos meios de comunicação, es-pecialmente pelas redes sociais: “Se queremos que tudo continue

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como está, é preciso que tudo mude”.

Obviamente, é um momento desafiante e isso é comum a to-dos os países do mundo, é sempre bom lembrar que não é uma exclusividade brasileira. Essa situação inédita, ao menos para esta geração, colocará todos diante de uma oportunidade histórica de revisão do itinerário traçado até aqui, ao longo de milhares de anos com a sucessão das civilizações.

Prosseguir-se-á com os paradigmas caducos e geradores de exclusão ou será proposta uma alternativa possível, onde haja mais igualdade e todos façam, verdadeiramente, parte da grande família humana?

É difícil acreditar que a humanidade voltará a trilhar os mesmos caminhos políticos, econômicos, culturais e ecológicos, mesmo dian-te da exposição da fragilidade da vida e das engrenagens sociais que sucumbiram diante de um microrganismo. Há um ditado popular que diz: “errar é humano, insistir no erro é burrice”. É bom aprender com a sabedoria peculiar do povo.

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voz do pastor

Falar da Amazônia, a partir da encíclica Laudato Si’ e da perspectiva da ecologia integral, é um tema abrangente e urgente, pois envolve inúmeros aspectos da vida e da so-

ciedade, inclusive a legislação reguladora de reservas indígenas e áreas de preservação em todo o território nacional. Quando fa-lamos da Amazônia, tocamos em várias demandas, não somente a questão das terras, mas em interesses de proporções interna-cionais. A complexidade da Amazônia, portanto, não pode ser pensada somente em nível nacional.

É um território muito disputado por vários segmentos, es-pecialmente pelo agronegócio e pela mineração. A Amazônia não é vista pela sua exuberância como floresta, pulmão da hu-manidade, mas pelas riquezas ali encontradas que colocam em risco pelo modo de exploração. Tudo isso desperta o apetite de muita gente em busca de enriquecimento e acúmulo de grandes divisas, possíveis somente pela degradação da reserva natural.

A Laudato Si’ lançou muitas luzes ao apresentar a visão do Papa Francisco sobre a Casa Comum. É preciso cuidar muito desta casa, porque dela dependemos, é nosso habitat natural. A voz do Papa soou bem forte nos ouvidos de toda humanidade contra uma ganância desenfreada, que beira a loucura, pelo lu-cro.

O Sínodo da Amazônia nos ajudou muito ao nos despertar para uma consciência ecológica integral convincente. É inadmis-sível fechar os olhos à depredação de um patrimônio da huma-nidade pelos interesses de grandes empresas. Sabemos a difi-culdade em conciliar desenvolvimento econômico e a questão da sustentabilidade. É essencial, portanto, abordarmos o tema e nos comprometermos verdadeiramente, valorizando a consci-

Dom José Lanza Neto,Bispo da Diocese de Guaxupé

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ência ambiental e o respeito à natureza.

Temos assistido às investidas irresponsáveis e ilegais na invasão de terras protegidas em toda a Amazônia. Cabe não só às autoridades, mas a todos nós, cristãos comprometidos, a res-ponsabilidade de nos colocarmos na defesa e na proteção de tudo o que diz respeito a Amazônia, seja a diversidade natural ou as populações que lá vivem.

Constantemente, precisamos nos lembrar de nossa urgen-te responsabilidade, não dá mais para esperar, pois o avanço destruidor é perceptível por todos nós. É preciso mobilizar toda a sociedade e as comunidades, conscientizá-las e reunir pesso-as de boa vontade para esta luta. O tempo urge.

Celebrar os cinco anos da Laudato Si’ nos impele às reto-madas importantes assumidas que nos ajudam a fazer com que todo o projeto de sustentação da rede de proteção da Amazônia continue de pé.

No ano passado, tive a graça de presidir o último dia da no-vena em louvor a Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), com o tema “Maria, Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia”. A reflexão se encerrava com a oração: “Mãe celestial, estrela da Amazônia, afugentai todo tipo de ganância e destruição, aben-çoai este povo querido que quer cantar sempre o Magnificat, oração do simples e do humilde”.

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!

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opinião

A Palavra de Deus presente nas Escrituras é um dos gran-des patrimônios da fé eclesial. Por isso, a Igreja direcio-na, orienta e motiva a leitura, o estudo e a interpretação

que se faz da Bíblia. É um livro inspirado por Deus, aspecto que não foi esquecido por aqueles que respeitam sua autoridade e recorrem a ele com a esperança de encontrar respostas e ensi-namentos para a vida cotidiana e seus mais variados desafios. 

Entretanto, atualmente, assim como em todos os tempos, existem certas dificuldades na assimilação dos conteúdos pre-sentes nas Escrituras. Isso é motivo de múltiplos esforços para diminuir as distâncias que, porventura, se colocam entre a Pala-vra de Deus escrita e seus destinatários.

O CAMINHO DE EMAÚS: ARQUÉTIPO DA EXPERIÊNCIA COM A PALAVRA DE DEUS

Por Filipe Cancian Zanetti, estagiário pastoral

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A própria Bíblia nos ajuda a iluminar esse processo de lei-tura e interpretação. O caminho apresentado pelo Evangelho de Lucas na perícope do Caminho de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) segue, a seu modo, o itinerário imprescindível para uma inspiradora e frutuosa experiência com a Escritura também nos tempos atuais.

Dito de outra forma, tal como fizeram aqueles primeiros dis-cípulos (que, na caminhada de suas vidas, encontraram-se com o Senhor, ouviram sua Palavra, aprofundaram-se em sua inter-pretação, partilharam a mesa e, reconhecendo-o, com o cora-ção ardente, retornaram à comunidade), é também salutar que os discípulos de todos os tempos e lugares, respeitem, de certo modo, os mesmos passos que proporcionaram aos discípulos de Emaús uma experiência tão frutuosa com a Palavra. 

A esperança dos discípulos de Emaús provinha das Escritu-ras. Ora, as profecias a respeito do Messias estavam guardadas nesse depósito no qual eles colocavam sua fé. Porém, é sim-ples constatar um possível distanciamento entre a interpretação que eles fizeram das Escrituras e as verdades salvíficas que são apresentadas nelas a partir de uma visão mais integral.  

A atitude que eles tomam na perícope reflete, de algum modo, alguns desdobramentos que dificultam a experiência com a Palavra de Deus. Este contato não se dá pura e simplesmente com o texto, mas engloba uma série de atitudes que favorecem, ou não, a fecundidade do encontro. 

Primeiramente, os discípulos estavam se afastando da co-munidade de fé (cf. Lc 24,13), lugar próprio em que as Escrituras atingem sua maior profundidade na vida de todos e cada um

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dos fiéis. Essa atitude, de certo modo, cismática, levou-os a não correlacionar todos os fatos. Tudo aquilo que o próprio Jesus havia anunciado aos seus não foi levado em consideração (cf. Lc 24, 19b). O conjunto de profecias sobre o Messias libertador de Israel foi, praticamente, reduzido a um bloco menor que dava mais relevo à inversão das realidades sócio-políticas (cf. Lc 24, 21a) que à conversão interior e adesão ao projeto salvífico. Por-tanto, o testemunho das mulheres a respeito do sepulcro vazio não lhes fazia sentido algum (cf. Lc 24, 22-24).

Atualizando esses comportamentos, chega-se à dedução de que o leitor hodierno tenha que lidar com possíveis distancia-mentos e desafios como o individualismo e o fundamentalismo. Posturas que, de certa forma, foram tomadas pelos discípulos de Emaús e, ainda hoje, podem estar presentes na vida dos fiéis dificultando a intimidade com a Palavra de Deus.

Com esta reflexão, não se pretende depreciar a figura dos Discípulos de Emaús. Pelo contrário, tem-se a intenção de de-monstrar uma mensagem de alerta e esperança. Afinal, depois dos distanciamentos e posicionamentos escusos, sabe-se bem que no Caminho de Emaús essa realidade foi transformada, dan-do aos discípulos novos rumos ao seu itinerário de fé e vida. 

O relato da experiência com o Ressuscitado feita pelos dis-cípulos de Emaús, também, apresenta uma experiência positi-va e fecunda com a Palavra de Deus. Ora, depois de caminhar um pouco mais com o Senhor, ouvindo sua explicação a respei-to das Escrituras, eles disseram: “Fica conosco, Senhor!” (cf. Lc 24,29b), e assim o cenário se converteu em uma sequência de fatos que os levou a sentar-se à mesa da comunhão, a reconhe-cer Jesus, a perceber que seus corações ardiam enquanto lhes

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explicava a Escritura, a voltar à comunidade e a dar testemunho de tudo o que lhes acontecera. Passos imprescindíveis àqueles que desejam, também, familiarizar-se com a Palavra de Deus.

Talvez, o maior desafio relacionado à interpretação das Es-crituras é a busca por uma espécie de fórmula comum que se en-quadre em qualquer fragmento escolhido na Bíblia. Entretanto, como bem se sabe, a Bíblia é um livro escrito por muitas mãos, em contextos muito diversos, com estilos e gêneros bem dife-rentes e, embora tenham uma finalidade comum, que rege todo o cânon, possui também pretextos diferentes. De modo que o empreendimento por encontrar uma fórmula universal e prees-tabelecida torna-se bem complexo.

Por isso, os fatos narrados pelo evangelista Lucas abrem perspectivas para uma postura que aproxima o leitor da Palavra de Deus, tornando-o cada vez mais familiarizado com o texto e aberto aos seus apelos e orientações. O autor sagrado intencio-nou, sem sombra de dúvidas, animar os passos de uma comuni-dade que caminhava, cada vez mais, à luz da fé. Uma comunida-de que precisava reconhecer nos elementos de que dispunha, Palavra e Pão, a presença permanente do Senhor em suas vidas. 

Ora, trata-se de um itinerário completo. E tudo o que ali se relata confirma a proposta de que a leitura, a intepretação, o testemunho e a vivência da Palavra se realizam nas comunida-des. Nelas, animados pelo Ressuscitado, que dá novo sentido a todas as coisas, e inspirados por seu divino Espírito, os discípu-los reconhecerão, na Palavra proclamada e no partir do Pão, a presença de Jesus. 

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Há que se arder o coração. É uma experiência decisiva. Dela se faz raiar o brio daqueles que temem o Senhor. Dela sur-ge aquela fidelidade contínua que se dedica desde a íntima lei-tura e oração da Palavra diariamente, até o mais corajoso gesto de testemunhar a todos que ainda têm dúvida: sim, realmente o Senhor ressuscitou! Ele vive! E sua entrega deu vida, também, a todos os homens! E a Palavra confirma que o desígnio de Deus sempre foi oferecer a salvação aos homens!

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em pautaAÇÃO URGENTE E UNIFICADA A FIM DE EVITAR UMA GRANDE TRAGÉDIA HUMANITÁRIA E AMBIENTAL NA AMAZÔNIA

Colapso estrutural na Amazônia

Uma força enorme de proporções nunca vistas está de-vastando a Amazônia, em duas dimensões que se combi-nam de forma brutal: a pandemia do Covid-19, atingindo

corpos vulnerabilizados, e o aumento descontrolado da violên-cia sobre os territórios. A dor e o grito dos povos e da terra se fundem em um mesmo clamor.

“Os povos pediram que a Igreja fosse uma aliada, uma Igre-ja que estivesse com eles, uma Igreja que apoiasse o que eles

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decidem, o que eles pretendem e de que forma eles pretendem construir o seu futuro nesse momento tão difícil da pandemia”, afirmou o Cardeal Dom Cláudio Hummes.

Nos diversos países da Pan-Amazônia, a Igreja está eco-ando apelos e pedidos de socorro, num contexto que ameaça a sobrevivência desse bioma e de seus povos.

Na Bolívia[1], os povos indígenas denunciam o governo por falta de coordenação e de consulta na prevenção e combate à pandemia; destacam, inclusive, que todas as informações não são divulgadas nos idiomas originários reconhecidos pela Cons-tituição.

Na Colômbia[2], os bispos reconhecem os esforços do go-verno, mas ressaltam que “os indígenas, camponeses e afro-descendentes são os grupos mais em risco, porque já se en-contravam em situação de pobreza estrutural, em condições de insegurança alimentar e desnutrição, sem acesso à saúde e à água potável”.

A insegurança alimentar dos povos indígenas é uma preo-cupação também na Venezuela[3], onde esses povos sentem-se ameaçados pelo possível contágio por meio das atividades de mineração ilegal em seus territórios e a passagem por suas ter-ras dos migrantes venezuelanos que voltam ao país. Os indíge-nas estão tomando medidas de isolamento e controle territorial, bem como de intensificação dos cultivos nos territórios locais, para garantir sua soberania alimentar.

No Brasil, 32 procuradores do Ministério Público Federal[4]

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declararam que “o cenário de risco de genocídio dos povos indí-genas reclama ações emergenciais dos órgãos e entes públicos”. A Mobilização Nacional Indígena afirma que há “uma evidente intencionalidade do governo de impedir que o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena funcione”[5].

No Peru, há preocupação pela situação de vários povos amazônicos – entre eles, muitos indígenas – que migraram para as cidades em busca de trabalho e se encontram totalmente desprotegidos. Os bispos da Amazônia peruana[6] exortam as autoridades a apoiar seu retorno às comunidades e a garantir que isso se cumpra conforme os protocolos estabelecidos pelo Ministério de Saúde.

A Aliança de Parlamentares Indígenas de América Latina pede que a Organização Mundial da Saúde recomende aos paí-ses da região a priorização de medidas específicas para garantir a proteção da vida dos povos indígenas diante da grave pande-mia global.

A Coordenadoria das Nações Indígenas da Bacia Amazônia (COICA) solicita contribuições para um Fundo de Emergência da Amazônia, para proteger os 3 milhões de habitantes da floresta tropical que são vulneráveis ao novo coronavírus.

A Igreja Católica, por sua parte, vem fazendo muitos esfor-ços, particularmente por meio das Cáritas de cada região, para contribuir com recursos materiais e econômicos, bem como com a solidariedade e o apoio espiritual.

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O vírus da violência e do saque da Amazônia

No ataque devastador à Amazônia outro vírus continua ame-açando os povos e a floresta. A Frente Parlamentar mista para os Direitos dos Povos Indígenas no Brasil denuncia que “mesmo quando a pandemia freia a economia, o garimpo e o desmata-mento ilegal em terras indígenas do continente permanecem a todo vapor”[7].

No Equador[8], a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) condena o rompimento do Sistema de Oleoduto Transequato-riano e do Oleoduto de Crudos Pesados, ocorrido no dia 7 de abril de 2020, que provocou um grave derrame de petróleo e afetou aproximadamente 97.000 pessoas que vivem à beira dos rios Coca e Napo.

Os 67 bispos da Amazônia brasileira associam a atual crise socioambiental desse bioma ao notório afrouxamento das fisca-lizações e ao contínuo discurso político do governo federal con-tra a proteção ambiental e as áreas indígenas protegidas pela Constituição Federal. Já se vislumbra “uma imensa tragédia hu-manitária causada por um colapso estrutural”[9].

Os bispos denunciam, em particular, os projetos de lei para mineração em terras indígenas e medidas parlamentares que tentam definir uma nova regularização fundiária no Brasil, elimi-nando a reforma agrária, a regularização de territórios dos po-vos originários e tradicionais, favorecendo a grilagem de terras, o desmatamento e os empreendimentos predatórios, regulari-zando as ocupações ilegais feitas pelo agronegócio mineração em terras indígenas.

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A mineração preocupa também o Policy Forum Guyana, que denuncia que as atividades extrativas destroem a floresta e a circulação de mineiros e caminhoneiros são um perigoso veículo de contágio para as comunidades do interior do país. A extração de ouro foi declarada atividade essencial pelo governo e, prova-velmente, vai aumentar ainda, por causa da recessão provocada pela Covid-19 e o aumento do preço mundial deste metal.

Ao comentar o aumento preocupante da violência no cam-po, a Comissão Pastoral da Terra do Brasil (CPT Nacional)[10] afirma que, em 2019, a grande maioria dos assassinatos por conflitos rurais no país (84%) aconteceram na Amazônia.

Por estas denúncias, em vários contextos da Pan-Amazônia a Igreja vem sendo caluniada e atacada, como aconteceu re-centemente com as vergonhosas e infundadas acusações, que repudiamos, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI – órgão do governo federal brasileiro) contra o Conselho Indigenista Mis-sionário (Cimi)[11].

Ação global em defesa da Amazônia

O cuidado das pessoas e o cuidado dos ecossistemas são inseparáveis.

A sabedoria dos povos nativos da Amazônia “ins-pira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abu-so. Abusar da natureza significa abusar dos ante-

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passados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Cria-dor, hipotecando o futuro”.

Os indígenas, “quando permanecem nos seus ter-ritórios, são quem melhor os cuida”. Querida Ama-zônia, n. 42

Encontramo-nos num momento decisivo para a Amazônia e para o mundo, tempo de gestação de novas relações inspi-radas na ecologia integral, ou de definitivo enterro dos sonhos do Sínodo, se o medo, os interesses econômicos, a pressão dos detentores dos grandes capitais deixarem que se imponha cada vez mais forte o modelo desta “economia que mata” (EG 53).

O papa Francisco faz um chamado urgente à solidariedade planetária: “Este não é o tempo da indiferença (…), do egoísmo (…), da divisão (…), do esquecimento. Que a crise que estamos afrontando não nos faça deixar de lado tantas outras situações de emergência que trazem consigo o sofrimento de muitas pes-soas”[12].

José Gregorio Díaz Mirabal, membro do povo Wakuenai Kurripako, originário da Amazônia venezuelana e coordenador--geral da COICA, resume: “É um apelo dos povos indígenas da Amazônia, porque estão nos ignorando”.

A REPAM chama a uma ação unitária os povos indígenas amazônicos, a sociedade civil da Pan-Amazônia e do mundo, a Igreja Católica e todas as denominações religiosas preocupadas para com o cuidado da Criação, os governos, as instituições in-ternacionais de direitos humanos, a comunidade científica, os

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artistas e todas as pessoas de boa vontade, para juntarem es-forços em defesa da “Amazônia querida, com todo o seu esplen-dor, o seu drama e o seu mistério” (QA 1).

Cardeal Claudio Hummes, OFM – Presidente Cardeal Pedro Barreto Jimeno, SJ – Vice-presidente

Mauricio López O. – Secretário ExecutivoComitê Diretivo - Rede Eclesial Panamazônica – REPAM

[1] Pronunciamiento de los pueblos indígenas de las tierras bajas de Bolivia frente a la emergencia sanitaria por el Covid-19, 28.04.2020[2] Comunicado de los obispos de la Amazonía y Orinoquia colombiana – A las autoridades y a toda la ciudadanía de Colombia[3] Informações de Minerva Vitti – Centro Gumilla e Repam Venezuela[4] Covid-19: MPF recomenda ações emergenciais de proteção à saúde dos povos indígenas, disponível em: http://www.mpf.mp.br/df/sala-de-imprensa/noticias-df/covid-19-2013-mpf-recomenda-acoes-emergenciais-de-protecao-a-saude-dos--povos-indigenas[5] https://cimi.org.br/2020/04/nota-mobilizacao-nacional-indigena-exige-medi-das-urgentes-em-defesa-da-saude-e-da-vida-dos-povos-originarios-do-brasil/[6] Comunicado de los obispos de los vicariatos apostólicos de los obispos de la Amazonía peruana – A las autoridades y a toda la ciudadanía del Peru, 22 de abril de 2020[7] Carta aberta da Frente Parlamentar Mista em defesa dos direitos dos povos indígenas ao Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, 05 de maio de 2020.[8] https://redamazonica.org/2020/04/repam-ecuador-derramamiento-de-petro-leo-en-la-amazonia/[9] Nota dos bispos da Amazônia brasileira sobre a situação dos povos e da flo-resta em tempos de pandemia da covid-19[10] https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/5167-conflitos-no--campo-brasil-2019[11] http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/6079-osfatos[12] Mensagem Urbi et Orbi, 12 de abril de 2020

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campanhaPOM E REPAM PROMOVEM CAMPANHA A AMAZÔNIA PRECISA DE VOCÊ

Texto/imagem: REPAM

Lançada no dia 18 de maio, a campanha A Amazônia precisa de você. O projeto é coordenado pela Rede Eclesial Pan--Amazônica (REPAM-Brasil) e Pontifícias Obras Missionárias

(POM) com o objetivo de socorrer as necessidades dos povos amazônicos. Esta iniciativa é fruto da Campanha Solidária Emer-gencial da Igreja no Brasil É tempo de cuidar que despertou inú-meras ações neste tempo de pandemia.

Os dados são alarmantes e as situações muito graves de escassez de alimentos, falta de material de higiene e de prote-ção, sem contar os inúmeros casos não notificados de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Na campanha, qualquer pessoa ou organização poderá par-ticipar com doações, que serão realizadas por meio de depósito ou transferência bancária em uma conta específica para esta

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finalidade. As doações serão encaminhadas pela REPAM-Brasil e POM para as Igrejas locais por meio de solicitações feitas pe-las próprias dioceses ou prelazias. Os pedidos serão analisados por uma equipe das organizações promotoras que farão uma avaliação dos pedidos e recursos arrecadados, de forma a aten-der o maior número de pessoas e comunidades em situação de vulnerabilidade.

Instituições que organizam a campanha

POM e REPAM-Brasil são organismos da Igreja que atuam em diferentes territórios do Brasil e do mundo. As duas orga-nizações acompanham diariamente a situação das populações afetadas pela pandemia da COVID-19, por meio de diálogos com os bispos, religiosas, religiosos, clero e outras lideranças locais, especialmente no território amazônico.

De acordo com as instituições promotoras da campanha, a ação é um gesto concreto de solidariedade de todo o Brasil para com uma das regiões mais afetadas pela pandemia. A REPAM-Bra-sil e as POM irão acompanhar os planos de ajuda de cada Igreja particular, auxiliando na elaboração de estratégias de atendimen-to que minimizem o sofrimento das populações locais.

Para o cardeal Cláudio Hummes, presidente da REPAM-Bra-sil, as ajudas são urgentes, já que o poder público e mesmo as ações de solidariedade locais não estão dando conta de aten-der às necessidades. “As comunidades do interior da Amazônia, à beira dos rios e na floresta, nas periferias pobres e desam-paradas das cidades, todas estão enfrentando o furor do novo coronavírus. Falta quase tudo para poder enfrentá-lo”, afirma o cardeal que faz um apelo: “Eu peço encarecidamente que você contribua com a campanha lançada pelas POM e pela REPAM.

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Deus vai recompensar você como só ele sabe fazer. A Amazônia precisa de você”.

Padre Maurício Jardim, diretor das POM no Brasil, lembra que as POM são uma rede internacional que apoia o Papa em sua solicitude com todas as Igrejas particulares. “Neste tempo de crise, de pandemia, de muitas necessidades, as POM criaram um fundo de solidariedade para socorrer as Igrejas mais neces-sitadas nos territórios de missão em todo o mundo. Também houve o incentivo para que nacionalmente fosse criada uma campanha como forma de ajudar em seu país aqueles que mais estão necessitados”, lembrou o diretor.

A campanha A Amazônia precisa de você tem o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da Cáritas Brasileira.

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ecologiaLAUDATO SI’: A IGREJA DIRECIONA SEU OLHAR PARA O CUIDADO PELA CASA COMUM

LAUDATO SI

Encíclica do papa Francisco completa 5 anos desde a pu-blicação e se mantém relevante para o pensamento sobre uma ecologia integral. Para comemorar, esta edição traz

10 conceitos fundamentais do documento papal, que desperta os fiéis católicos a refletir sobre a questão ambiental e a influên-cia econômico-política para todo o planeta.

Alterações climáticas

“Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompa-

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nhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos me-teorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma cau-sa cientificamente determinada a cada fenómeno particular. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas huma-nas que o produzem ou acentuam”. (LS 23)

Água

“A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. (…) Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em al-guns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do merca-do. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exer-cício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água po-tável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável”. (LS 28)

Animais

“Embora o ser humano possa intervir no mundo vegetal e animal e fazer uso dele quando é necessário para a sua vida, o Catecismo ensina que as experimentações sobre os animais só são legítimas ‘desde que não ultrapassem os limites do razoável

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e contribuam para curar ou poupar vidas humanas’. Recorda, com firmeza, que o poder humano tem limites e que ‘é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas’. Todo o uso e experimen-tação ‘exige um respeito religioso pela integridade da criação’”. (LS 130)

Vida humana

“É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indife-rente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta”. (LS 91) (…) “Uma vez que tudo está relacionado, também não é compa-tível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não pa-rece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades”. (LS 120)

Relativismo

“A cultura do relativismo é a mesma patologia que impe-le uma pessoa a aproveitar-se de outra e a tratá-la como mero objeto (…) É a mesma lógica que leva à exploração sexual das crianças, ou ao abandono dos idosos que não servem os inte-resses próprios. É também a lógica interna daqueles que dizem: “Deixemos que as forças invisíveis do mercado regulem a eco-nomia, porque os seus efeitos sobre a sociedade e a natureza são danos inevitáveis”. Se não há verdades objetivas nem prin-cípios estáveis, fora da satisfação das aspirações próprias e das

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necessidades imediatas, que limites pode haver para o tráfico de seres humanos, a criminalidade organizada, o narcotráfico, o comércio de diamantes ensanguentados e de peles de animais em vias de extinção? (…) É a mesma lógica do “usa e joga fora” que produz tantos resíduos, só pelo desejo desordenado de con-sumir mais do que realmente se tem necessidade”. (LS 123)

Dívida ecológica

“A desigualdade não afeta apenas os indivíduos mas países inteiros, e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmen-te entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcio-nado dos recursos naturais efetuado historicamente por alguns países. As exportações de algumas matérias-primas para satis-fazer os mercados no Norte industrializado produziram danos locais (…) O aquecimento causado pelo enorme consumo de al-guns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra, especialmente na África, onde o aumento da temperatura, juntamente com a seca, tem efeitos desastrosos no rendimento das cultivações. A isto acrescentam-se os danos causados pela exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de desenvolvimento e pela atividade poluente de em-presas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o capital”. (LS 51)

Conversão ecológica

“A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto temos de reconhecer também que alguns

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cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do rea-lismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mu-dar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas re-lações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da ex-periência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa”. (LS 217)

Grito da Terra e grito dos pobres

“Muitas vezes falta uma consciência clara dos problemas que afetam particularmente os excluídos. Estes são a maioria do planeta, milhares de milhões de pessoas (…) hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a jus-tiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o grito da terra como o grito dos pobres”. (LS 49)

Demografia

“Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os pa-íses em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de ‘saúde reprodutiva’ (…) Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exa-cerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o modelo distributi-

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vo atual, no qual uma minoria se julga com o direito de consu-mir numa proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal consumo. Além disso, sabemos que se desperdiça aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e «a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre”. (LS 50)

Economia

“A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos impe-riosamente que a política e a economia, em diálogo, se colo-quem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana. A salvação dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preço à população, sem a firme decisão de rever e reformar o sistema inteiro, reafirma um domínio absoluto da finança que não tem futuro e só poderá gerar novas crises depois duma lon-ga, custosa e aparente cura. (…) Convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Será realista esperar que quem está obce-cado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais que deixará às próximas gerações?” (LS 189-190)Quer saber como ajudar? Acesse: http://www.cnbb.org.br/tempodecuidar

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comunicaçõesaniversários junho

Natalício14 Padre Sidney da Silva Carvalho 15 Padre Adivaldo Antônio Ferreira 19 Padre Wellington Cristian Tavares 22 Padre Donizete Miranda Mendes 29 Padre Pedro Alcides Sousa

Ordenação 19 Padre Clayton Bueno Mendonça 19 Padre Juliano Borges Lima 25 Padre Eder Carlos de Oliveira 26 Padre Bruce Éder Nascimento 29 Padre José Eduardo Aparecido Silva

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