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1 Universidade Jean Piaget - Benguela JORNADAS CIENTÍFICAS 26-29 Setembro 2011 A energia solar como solução para a carência energética Angolana Dr. Jorge E. Matos a) PhD. MSc. Civil Eng. Coordenador do Curso de Engenharia Civil Universidade Jean Piaget Director Geral da DRH, Desenvolvimento Reabilitação e Hidráulica Lda. Benguela - ANGOLA 1. INTRODUÇÃO Este artigo começa por fazer uma apresentação dos diversos tipos de produção de energia eléctrica passando depois a mostrar que as energias alternativas estão no topo das tendências mundiais na produção de energia, devido aos efeitos que os combustíveis fósseis causam ao planeta Terra. O aproveitamento da energia que recebemos do Sol está actualmente no topo das preocupações dos países mais desenvolvidos e é motivo de pesquisa permanente de modo a optimizar e a reduzir os custos da sua produção. Em seguida faz-se uma explicação não-técnica de como se faz o aproveitamento dessa energia e mostram-se alguns exemplos de aplicação em edifícios unifamiliares e de habitação colectiva, assim como apresentam as novas centrais de produção de energia solar. 2. DESCRIÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE ENERGIA USADOS Desde há bastantes anos que o homem descobriu como produzir a energia calorífica de que que necessita para a sua vida diária. As primeiras formas de energia usadas pela humanidade eram obtidas através da queima de matérias encontradas na natureza, como a madeira, o carvão mineral ou o petróleo. Nas últimas décadas do século XX a humanidade apercebeu-se de que estas matérias irão acabar um dia e que era necessário inventar novas formas de produzir energia. Surgiram assim as energias renováveis baseadas em recursos naturais que não acabam. Nos pontos seguintes deste capítulo apresentam-se as principais diferenças entre energias renováveis e não-renováveis. 2.1 Energias Não Renováveis - Fósseis O carvão mineral, o petróleo e o gás natural são as matérias-primas mais usadas nas últimas décadas para produzir energia. Todas elas têm a sua origem na Era Paleozóica e formaram-se do decorrer de centenas de milhões de anos (aproximadamente 300 milhões).

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Universidade Jean Piaget - Benguela 1ª JORNADAS CIENTÍFICAS

26-29 Setembro 2011

A energia solar como solução para a carência energética Angolana

Dr. Jorge E. Matosa)

PhD. MSc. Civil Eng. Coordenador do Curso de Engenharia Civil

Universidade Jean Piaget Director Geral da

DRH, Desenvolvimento Reabilitação e Hidráulica Lda. Benguela - ANGOLA

1. INTRODUÇÃO

Este artigo começa por fazer uma apresentação dos diversos tipos de produção de energia eléctrica passando depois a mostrar que as energias alternativas estão no topo das tendências mundiais na produção de energia, devido aos efeitos que os combustíveis fósseis causam ao planeta Terra. O aproveitamento da energia que recebemos do Sol está actualmente no topo das preocupações dos países mais desenvolvidos e é motivo de pesquisa permanente de modo a optimizar e a reduzir os custos da sua produção. Em seguida faz-se uma explicação não-técnica de como se faz o aproveitamento dessa energia e mostram-se alguns exemplos de aplicação em edifícios unifamiliares e de habitação colectiva, assim como apresentam as novas centrais de produção de energia solar.

2. DESCRIÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS DE ENERGIA USADOS Desde há bastantes anos que o homem descobriu como produzir a energia calorífica de que que necessita para a sua vida diária. As primeiras formas de energia usadas pela humanidade eram obtidas através da queima de matérias encontradas na natureza, como a madeira, o carvão mineral ou o petróleo. Nas últimas décadas do século XX a humanidade apercebeu-se de que estas matérias irão acabar um dia e que era necessário inventar novas formas de produzir energia. Surgiram assim as energias renováveis baseadas em recursos naturais que não acabam. Nos pontos seguintes deste capítulo apresentam-se as principais diferenças entre energias renováveis e não-renováveis.

2.1 Energias Não Renováveis - Fósseis

O carvão mineral, o petróleo e o gás natural são as matérias-primas mais usadas nas últimas décadas para produzir energia. Todas elas têm a sua origem na Era Paleozóica e formaram-se do decorrer de centenas de milhões de anos (aproximadamente 300 milhões).

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Há cerca de 3000 anos já o homem queimava o carvão mineral para se aquecer e cozinhar alimentos [1]. O petróleo é usado há mais de 500 anos. Subia até à superfície da terra através de fendas naturais. Os antigos Sumérios, Assírios e Babilónicos usavam petróleo bruto e asfalto recolhido através de grandes fendas no rio Eufrates. Ao longo dos anos, a procura de petróleo foi aumentando como combustível para lâmpadas. O petróleo começou a substituir o óleo de baleia nas lâmpadas porque este começou a rarear e o seu preço começou a ficar inatingível. Nessa época o petróleo obtinha-se recolhendo-o da superfície de lagos e rios. Nos últimos 100 anos desenvolveram-se produtos derivados do petróleo como o querosene, o gasóleo e a gasolina e que são a sustento do sector dos transportes, baseados no motor de combustão interna, recentemente inventado (cerca de 100 anos). Apesar de os combustíveis fósseis terem levado milhões de anos a serem “fabricados”, nas últimas décadas o homem gastou mais de 90% dessas reservas e quando estas acabarem, não há mais! Portanto, é melhor não gastar combustíveis fósseis. Não são renováveis - não podem ser feitos de novo. 2.2 Energias Renováveis

Nas últimas décadas o homem desenvolveu sistemas modernos de utilizar as forças da natureza para produzir a energia de que necessita. A estas novas formas de energia chamam-se renováveis porque a sua fonte não se esgota, pelo contrário, está em permanente renovação. Hoje em dia consideram-se energias renováveis, as seguintes: Energia Eólica - aproveitamento força do vento (deslocação de ar) Energia Solar - aproveitamento da luz produzida pelo Sol Energia Hídrica - gerada pela força da água em movimento nos rios Energia Geotérmica - gerada no núcleo interior do planeta Energia Biomassa - gerada pela combustão de materiais orgânicos Energia das Marés - gerada pelo movimento das marés dos oceanos Energia das Ondas - gerada pela ondulação da água do mar Curiosamente o homem já utiliza energias renováveis há centenas de anos. De facto a utilização do vento foi durante muitos anos um factor de desenvolvimento e prosperidade. No sector dos transportes, o vento era utilizado para fazer deslocar grandes navios, tornando possível as grandes viagens que aproximaram povos e continentes; e no sector da alimentação, o vento era usado para mover as rodas dos moinhos utilizados para o fabrico da farinha e do pão. A água foi também usada para impulsionar mecanismos vários, incluindo moinhos de farinha. A energia do Sol foi usada desde sempre para secar alimentos, corpos e tecidos. Também a energia da biomassa também já foi inventada há muito, pois desde sempre o homem queimou madeira para se aquecer. Mas como sabemos, estes métodos ancestrais foram substituídos por mecanismos “modernos” movidos por combustíveis fósseis.

3. TENDÊNCIAS MUNDIAIS NA PRODUÇÃO ENERGÉTICA 3.1 Duração prevista das energias fósseis

Se a humanidade continuar a usar provisões existentes de energia não renovável ao ritmo que as usa hoje, as melhores estimativas dizem que as reservas de carvão mundiais poderiam durar mais 200 anos; as reservas de gás natural mundiais durariam

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aproximadamente 60 anos e as reservas de petróleo mundiais durariam apenas 40 anos. No entanto estes prazos poderão ser inferiores às estimativas, dado que cada vez é necessário mais energia a nível global e esse aumento é exponencial, com o aumento da industrialização dos países e o crescimento da população mundial. 3.2 Alterações climáticas Cada vez mais os políticos aceitam que o clima mundial está a modificar-se. No século passado (XX) as temperaturas globais aumentaram cerca de 0.7°C de dez em dez anos. Os cientistas acreditam que este aquecimento é devido, pelo menos em parte, ao aumento do uso de combustíveis fósseis. A utilização de combustíveis fósseis lança dióxido de carbono na atmosfera, o que contribui para a deterioração de camada de ozono que envolve a Terra.

Fig. 1 – Principais alterações climáticas em África, devido ao aumento do CO2 na atmosfera [2]

Esta questão das alterações climáticas levou 119 países a assinar o Protocolo de Quioto (no Japão), que estabelece objectivos legalmente obrigatórios da redução de emissões de gases de estufa. Este Protocolo entrou em vigor no dia 16 de Fevereiro de 2005. Ao abrigo do tratado, as 30 nações mais industrializadas que o assinaram têm de, até 2012, reduzir as suas emissões de seis dos piores gases de estufa até aproximadamente 95 por cento dos seus níveis de 1990.

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3.3 Implementação das energias renováveis

Para cumprir com o Protocolo de Quioto (rectificado pelo governo de Angola em 8 de Maio de 2007), os países começaram a implementar várias medidas e entre elas inclui-se alterar a forma de produção de energia. Em todo o mundo tem vindo a aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis e a diminuir a produção dependente dos fósseis. Na figura 2 pode ver-se o peso das energias renováveis em 2005.

Fig. 2 – Produção mundial de electricidade – Comparação entre energias fósseis e energias limpas. [3]

Como se pode ver, em algumas zonas do mundo, a produção de energia já é mais dependente das energias renováveis do que do carvão e do petróleo, embora esses casos estejam bastante dependentes do energia hídrica. A Agência Internacional de Energia (AIE) [4] foi criada por 28 países industrializados em 1974, na sequência da crise do petróleo. É uma organização que estuda e planeia o desenvolvimento e consumos de energia em todo o mundo. Os seus objectivos primários são os seguintes :

Promover o fornecimento de energia aos países membros através de respostas colectivas à ruptura do fornecimento de petróleo

Promover a investigação de modo a criar e fornecer energia limpa, barata e funcional. (energias alternativas)

No sentido de cumprir estes objectivos, a AIE planeou o desenvolvimento da criação de energias renováveis até 2050, com base nos índices disponíveis em 2005. A esse documento chamou Mapa Azul (Blue Map). Nele estão previstas medidas que os vários países devem adoptar de modo a reduzir a necessidade de petróleo e aumentar a produção de energias renováveis.

Fig. 3 – Produção actual de energias renováveis e metas do Mapa Azul para 2020 (AIE) [5]

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Na figura 3 retirada de um relatório de 2010 da AIE [5], pode ver-se o uso global das energias renováveis até 2008 e a previsão do Mapa Azul para 2020. Verifica-se que, para que se atinjam os objectivos fixados para 2020, terá de haver um aumento substancial de produção de energia eólica, solar, geotérmica e marítima.

Fig. 4 – Investimento em energias alternativas por continentes [6]

Em seguida apresentam-se os desenvolvimentos na produção de energia em vários continentes e países.

3.3.1 As energias renováveis na Europa

A europa foi das primeiras regiões a avançar com a produção de energias originadas em fontes renováveis, incluindo a hidráulica. Como se pode ver pelos gráficos das figuras 5, a partir de 2005 tem havido um aumento das energias produzidas a partir da energia eólica, solar e geotérmica. A percentagem da energia hidráulica tem diminuído por troca com a energia nuclear (a amarelo na fig.5) e o gás natural (a verde), que têm aumentado. Nota-se claramente uma redução progressiva do uso de petróleo (a azul claro).

Fig. 5 e 6 – Produção de electricidade por tipo de combustível na Europa e em Portugal.[4]

3.3.2 As energias renováveis nas Américas

A produção de energia nas Américas varia muito de país para país. Na América do Norte a principal fonte de energia é o carvão, como se pode ver na figura 7, seguida do gás natural e da energia nuclear. A energia produzida nos rios também representa cerca de 20% do total e a produção de energia a partir de petróleo tem vindo a reduzir representando em 2008 cerca de metade do que representava em 1972. Nota-se que a partir de 1990 esta região começou a produzir energias renováveis sendo que, desde 2005, a percentagem de energia solar tem aumentado bastante.

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Na América Latina (fig. 8) a grande percentagem da energia produzida tem origem no movimento da água dos rios, seguida do petróleo e do gás. Nesta região a percentagem de energia com base no petróleo continua a aumentar (cor azul claro). Existem algumas centrais nucleares mas as novas energias limpas estão já a produzir tanta ou mais energia que a nuclear.

Fig. 7 e 8 – Produção de electricidade por tipo de combustível nas Américas [4]

3.3.3 As energias renováveis na Ásia

Na Ásia existe também muita diversidade de desenvolvimento em termos de países o que origina grandes diferenças no modo como se produz a energia. No geral os países Asiáticos ainda dependem muito dos combustíveis fósseis, neste caso o carvão (a roxo) e o petróleo (azul claro), mas no país mais desenvolvido desta região (o Japão) nota-se um decréscimo claro do uso do petróleo e um crescente uso das energias renováveis.

Fig. 9 e 10 – Produção de electricidade por tipo de combustível na Ásia e India [4]

Fig. 11 e 12 – Produção de electricidade por tipo de combustível no Japão e na China [4]

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3.3.4 As energias renováveis em África

Como se pode ver no gráfico da figura 12 a grande percentagem de produção de energia em África deriva de matérias prima não renováveis como o carvão, o petróleo e o gás natural. O país mais evoluído deste continente (África do Sul) quase não usa petróleo para produzir electricidade. Usa quase exclusivamente carvão e energia nuclear.

Fig. 13 e 14 – Produção de electricidade por tipo de combustível em África e em Marrocos [4]

Em Angola, como se pode ver no gráfico da figura 16, a energia eléctrica tem origem apenas no petróleo e nos recursos hídricos. Á medida que se vão recuperando as barragens produtoras de energia hidráulica vai aumentando a influência deste tipo de energia e reduzindo o “peso” do petróleo. Analisando a figura 16, conclui-se que a energia produzida pelo petróleo em Angola representava apenas 5% do total, no ano de 2008.

Fig. 15 e 16 – Produção de electricidade por tipo de combustível na África Sul e em Angola [3]

No entanto em Angola, segundo dados da IEA [6], apenas 26,2 % da população tem acesso a energia eléctrica, subindo esta percentagem para 38% em zonas urbanas e baixando para 10% em zonas rurais. A mesma organização estima que em Angola existam 12 milhões de pessoas sem acesso a energia eléctrica. No ano de 2008 Angola apenas produziu 4.000 GWh de energia eléctrica, o que representa cerca de 1,6% da energia eléctrica produzida na África do Sul (250.000 GWh). Como apenas 5% da energia total é produzida por petróleo, Angola está num óptimo ponto de partida para ser um dos países com maior percentagem de energia renovável. Como as previsões do crescimento da economia angolana são bastantes positivas, é de prever um aumento substancial do consumo de energia. Este aumento de produção de energia pode ser feito com energias alternativas como a energia hídrica (até certo ponto) mas também com energia solar, eólica, marítima, etc.

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3.4 Aumento da importância da energia solar

Como acima se escreveu, para alcançar as metas estabelecidas no Protocolo de Quioto, os países signatários começaram a olhar para as energias renováveis como a única solução de baixarem as emissões de gases nocivos para a atmosfera. Mesmo os países do norte da Europa, muitos deles com poucas horas de Sol por ano, elegeram a energia solar como uma das mais vantajosas em termos económico-funcionais. Os países do Sul da Europa, como Espanha, Itália e Portugal, começaram mais tarde a utilizar o Sol como meio produtor de energia. Nos últimos 5 anos a indústria de energia solar está a desenvolver-se de uma forma exponencial. No gráfico da figura 17 pode ver-se a evolução da produção de energia solar em alguns países industrializados.

Fig 17 - Desenvolvimento da produção de energia solar fotovoltaica

em alguns países industrializados[7]

4. COMO SE PRODUZ ENERGIA SOLAR

A energia que nos chega do sol pode ser aproveitada na produção de água quente através da instalação de painéis solares térmicos (para utilização sanitária, aquecimento ambiente ou aquecimento de piscinas), ou na produção de energia eléctrica pela instalação de painéis fotovoltaicos.

4.1 Energia Solar Térmica

A energia solar chama-se térmica quando é usada para aquecer a água usada nos edifícios.

4.1.1 Componentes do sistema solar térmico

Basicamente existem dois métodos de constituir sistemas solares térmicos (para aquecimento de água). Um deles é o sistema de tubos de vácuo e o outro são colectores planos. No primeiro a água é aquecida quando passa por uma tubo de cobre onde vão ter vários tubos de cobre mais finos que passam no interior de tubos de vidro de cor negra e onde está instalado o vácuo. Esses tubos finos contêm um líquido especial que ferve a baixa temperatura (cerca de 30º) e liberta vapor que sobe até ao condensador. A água fria passa por um conjunto de condensadores e recebe o calor destes. Depois de condensar, o líquido volta a descer até ao fundo do tubo de vácuo, e o processo repete-se constantemente.

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Fig 17,18 e 19 – Componentes do sistema de tubos de vácuo.

Os colectores planos são constituídos por caixas metálicas (alumínio) com uma tampa de vidro transparente e onde existe material de isolamento de cor negra para absorção do calor do sol. Neste caso a água passa por diversos tubos de fluxo muito finos aquecendo devido às altas temperaturas que se geram no interior da caixa.

Fig 20 e 21 – Foto e esquema de funcionamento de um colector plano.

Este sistema foi o primeiro a ser utilizado e ainda se usa bastante mas tem rendimentos muito inferiores ao sistema de tubos de vácuo. Nos colectores planos, o espaço de ar entre o vidro e o material absorvente faz com que haja perdas de calor. É um sistema mais pesado que o de tubos de vácuo. A principal vantagem é ser mais barato.

4.2 Energia Solar Foto-Voltaica (FV)

A tecnologia fotovoltaica é uma tecnologia que converte a radiação solar directamente em electricidade. O método mais conhecido para produzir energia solar é através das células solares. As células fotovoltaicas necessitam de ser protegidas do meio ambiente e estão normalmente inseridas entre folhas de vidro. Quando é necessária uma maior quantidade de energia do que uma célula consegue produzir, as células são electricamente ligadas entre si para formar um módulo fotovoltaico (painel solar). Um metro quadrado de módulos pode produzir (na europa) em média 100 W/h de energia. Os módulos são ligados entre si para gerar electricidade necessária.

4.2.1 Como funciona ? Os fotões são captados pelas células fotovoltaicas (fig.22), maioritariamente constituídas por silício, e convertidos em corrente eléctrica. As células fotovoltaicas estão unidas em painéis de modo a facilitar a sua colocação (fig.23). Quando um número suficiente de fotões colide com uma placa semicondutora, como o silício, podem ser absorvidos pelos seus electrões à superfície. A absorção de energia adicional permite que os electrões (com carga negativa) se libertem dos átomos. Os electrões tornam-se móveis, e o espaço que ficou é preenchido por um outro electrão de uma camada inferior do semicondutor. Consequentemente, um dos lados da “bolacha2 de silício possui

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uma maior concentração de electrões do que o outro, o que origina uma voltagem entre os dois lados. Ligar os dois lados com um fio eléctrico permite que os electrões afluam ao outro lado da bolacha gerando corrente eléctrica.

Fig 22 – Três tipos de células fotovoltaicas e um painel.

Os materiais mais utilizados na confecção de células fotovoltaicas (ver fig.22) são o silício monocristalino (mono-Si), silício policristalino (poly-Si) e silício amorfo (a-Si). A melhor eficiência na transformação de energia solar em eléctrica é obtida com as células de silício monocristalino (da ordem de 18%), infelizmente as mais caras. As células de silício policristalino apresentam rendimento da ordem de 16% e são mais baratas que as anteriores devido à menor energia necessária para a sua fabricação e melhor aproveitamento de material. As células de silício amorfo são as mais baratas mas seu rendimento ainda é baixo (da ordem de 8%). As células fotovoltaicas são ligadas em conjuntos série-paralelo compondo módulos fotovoltaicos de diversas potências e tensões.

Fig 23 – Esquema geral de funcionamento de um sistema fotovoltaico.

4.2.2. Componentes do sistema fotovoltaico doméstico

Um sistema fotovoltaico doméstico é constituído por: painéis solares fotovoltaicos, controlador de carga, baterias, e inversor. Painel Fotovoltaico: como se disse acima, 1 m2 de painel solar produz cerca de 100 a 120 Wh em média, o que significa que para uma casa sem aparelhos de ar condicionado que gaste 3,5 kW seria necessários cerca de 30 m2 de painéis solares. Numa moradia com aparelhos de ar-condicionado estes podem atingir um consumo de 7 ou 8 kW pelo que seriam necessários mais 70 m2 de painéis.

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Fig 24 e 25 – Exemplos de painel solar e sua aplicação.

Controlador de carga: A energia gerada pelos painéis fotovoltaicos vai para o controlador de carga, cuja função é "gerir" o fluxo de energia (armazena energia excedente ou solicita energia armazenada nas baterias, caso a energia gerada pelos painéis num determinado instante não seja suficiente para atender ao consumo). Mesmo que geração de energia seja suficiente para atender ao consumo, a intervalos regulares o controlador de carga solicita energia das baterias para que sua vida útil não seja comprometida por longos períodos de inactividade. O controlador evita também que a tensão nas baterias fique abaixo de um determinado nível mínimo de segurança, para preservar a vida útil das mesmas, quando por alguma razão (excesso de consumo ou falta de sol) a carga das baterias não é reposta pela energia gerada pelos painéis fotovoltaicos.

Fig 25 e 26 – Exemplos de controladores de carga

Baterias: As baterias servem para armazenar a energia que é necessária para alimentar a habitação durante a noite ou em dias chuvosos, quando a energia dos painéis fotovoltaicos não está disponível pela falta de energia solar. O numero de baterias a instalar depende de quanto se quer gastar e do período programado sem energia solar (p.ex. dois dias). Mas é normal fazer-se um conjunto de 6 a 8 baterias de 12 Volts ligadas em paralelo. As baterias podem ser consideradas uma das principais desvantagens de um sistema fotovoltaico pois necessitam de substituição, em média, a cada 4 anos. Inversor: O inversor solar é um componente essencial a todos os sistemas fotovoltaicos, convertendo a corrente contínua produzida pelas células fotovoltaicas em corrente alterna. Quanto maior for a eficiência do processo de conversão, maior é a potência disponibilizada à rede pública, aumentando o rendimento do investimento. Por esta razão, a escolha correcta do inversor tem um papel crucial no projecto e no dimensionamento de qualquer instalação fotovoltaica. Os inversores são capazes de fornecer tensão de saída estável em termos de amplitude e frequência, com níveis adequados ao uso dos electrodomésticos correntes.

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Fig 27 e 28 – Exemplos de baterias e inversor solar.

4.2 Quem pode usar a energia solar? A energia solar é gratuita e pode ser usada por toda a gente. Nos países mais evoluídos onde normalmente não há falhas de energia, as pessoas singulares começaram a usar esta tecnologia como maneira de poupar pois para uma casa unifamiliar o investimento é amortizado em 8 anos. Os sistemas fotovoltaicos podem ser aplicados em vivendas individuais e em edifícios de apartamentos.

Fig 29 e 30 – Exemplos aplicação de painéis solares em vivendas unifamiliares em França e na Korea.

Fig 31 e 32 – Exemplos aplicação de painéis solares em edifícios de apartamentos.

Os governos e empresas privadas empenhados no cumprimento do Protocolo de Quioto rapidamente começaram a criar “centrais” de produção de energia solar. Estas zonas de produção, ocupam grandes áreas de terreno. Nas fotos das figuras 33 e 34 pode ver-se a instalação de painéis solares de Les Mees em França, que produz 18,2 MW.

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Fig 33 e 34 – Fotos da central fotovoltaica de Les Mees em França.(18,2 MWh)

No sul de Portugal (Alentejo) perto de uma pequena aldeia chamada Amareleja, está instalada a que era, à data do projecto, a maior central de energia fotovoltaica no mundo, que produz 62 MW, o suficiente para fornecer energia a 30.000 lares. Esta instalação, que ocupa 250 ha de terra improductiva, foi uma iniciativa da Autarquia local e está já ligada à rede de energia do país. Portugal é dos países da Europa com mais potencialidade para esta tecnologia pela sua posição geográfica (maior numero de horas de sol). O seu custo em 2006 foi de 261 milhoes de Euros.

Fig 31 e 32 – Fotos da central de Amareleja em Portugal.(62 MWh) Entretanto os Americanos, apesar de não terem assinado o Protocolo de Quioto, perceberam que não podiam ficar de fora do “comboio” desta inovação, e começaram já a projectar centrais fotovoltaicas sendo que a maior de que há notícia será na Califórnia e ocupará uma área de 1.620 ha, com uma produção prevista de 550 MW que será suficiente para fornecer energia a 160.000 casas. Está prevista estar pronta em 2014.

5. APLICAÇÃO DA ENERGIA SOLAR EM ANGOLA

5.1 Programa do governo para a energia

Em 2005, a pedido do Governo, a Agência Internacional de Energia (AIE) realizou um exame ao sector energético e às políticas energéticas em Angola. O processo incluiu a realização de uma visita de duas semanas a Angola de uma equipa de examinadores da AIE a fim de se encontrarem com representantes de entidades públicas e outros agentes ligados ao sector energético, e ainda com o propósito de recolher documentação. A equipa realizou reuniões na capital, Luanda, e nos seus arredores, bem como no Lubango.

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Como resultado a AIE publicou em 2006 o relatório “ANGOLA – Desenvolvimento de uma estratégia para a energia” onde se aponta o caminho a seguir pelo actual e futuros Governos do país. Nesse relatório pode ler-se como recomendação:

“Considerar energia solar para serviços de energia rural autónoma e para os mercados urbanos: o governo devia continuar procurando opções autónomas, como aparelho fotovoltaico autónomo, para atender as necessidades da população rural,

inclusive para os hospitais, as escolas e as telecomunicações, levando especialmente em consideração as condições locais e devia desenvolver uma estratégia mais clara.”

O Ministério da Energia e Águas no seu programa de investimentos até 2016, tem como principal meta a atingir, até ao final de 2016, a instalação de uma capacidade de produção de ou 95.000 GWh, ou seja, mais 8 vezes que a actual cifra, assente sobretudo em recursos renováveis (onde se inclui naturalmente os hídricos). Tem ainda como objectivo que em 2016 as fontes de energia renováveis (eólica +solar) contribua com 1,5 % do total da energia produzida no país, ou seja, produzindo 1.425 GWh. Como exemplo dessa vontade, a Direcção Nacional de Energias Renováveis, e no âmbito do seu programa de electrificação das zonas rurais isoladas, lançou este ano um concurso para a instalação de sistemas solares fotovoltaicos em infra-estruturas sociais, edifícios da administração e iluminação pública em várias localidades do interior do país [site do ministério]. No entanto esta acção não parece ser medida suficiente para atingir os objectivos traçados para 2016. Para atingir um volume de produção energética de 1.425 GWh será necessário criar centrais de produção que ocupem uma área total de 5.000 ha (corresponde a uma área de 10x5 km)

5.2 Capacidades solares do território Segundo dados da empresa especializada Energie Atlas [ ] o território Angolano tem uma radiação solar que varia entre 1350 e mais de 2100 kWh/m2. Esta irradiação é bastante superior á que se verifica na europa, incluindo os países mais a sul. Analisando o mapa da figura 32, pode ver-se que em Angola, Namíbia, Botswana e África do Sul, existem muitas zonas onde a irradiação solar é superior a 2100 kWh/m2, sendo portanto países apresentam condições óptimas para poder utilizar este recurso como forma de produzir energia.

Fig 33 – Gráfico da irradiação solar nos países de África subsariana [8]

A província do Namibe aparece naturalmente como um óptimo local para a localização deste tipo de centrais pela existência do seu deserto, mas em todas as províncias o potencial solar pode ser explorado.

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5.3 Proposta para a província de Benguela Segundo a Angola Press (Angop) no final de 2010 a Empresa Nacional de Energia (ENE) anunciava a produção de 75 MW (650 GWh) de energia eléctrica para satisfazer a procura em Benguela, Lobito, Catumbela e Baía Farta. De acordo com o já referido relatório de 2006 da AIE para Angola, no sistema central de fornecimento de ENE, 32% da energia fornecida nesta zona tem origem em geradores movidos a diesel. Aceitando os 75 MW como a capacidade instalada actualmente para a produção de energia eléctrica na zona litoral da província, então 24 MW (210 GWh) serão produzidos a partir de geradores diesel. De modo a substituir a energia gerada em geradores, a província poderia construir uma central de energia solar que ocuparia uma área de 97 ha (aproximadamente 1 km2 de área). Para gerar energia suficiente para a zona litoral (75 MW) seria necessário uma área três vezes maior - 302 ha ( 3,2 km2 de área). Os custos para tal instalação, e fazendo uma estimativa baseada na central de Amareleja em Portugal, rondariam os 101 milhões de dólares no primeiro caso (97 ha) e os 315 milhões no segundo caso (302 ha).

6 CONCLUSÕES As energias renováveis, tais como a energia solar, são o futuro da produção de energia que os seres humanos necessitam para a sua vivência diária. A posição geográfica de Angola permite dispor de uma boa radiação solar que não está a ser aproveitada pelo país. Num país como Angola, em que o fornecimento de energia eléctrica é muitas vezes interrompido e os cidadãos recorrem a geradores diesel para terem energia eléctrica, a energia solar é uma opção a ter em conta.

7 REFERÊNCIAS [1] http://www.energiasealternativas.com/carvao.html [2] United Nations Environmental Agency [3] “Le Monde Diplomatique” (2008)

[4] www.iea.org

[5] “Clean Energy Progress Report”- IEA, 2010

[6] IEA - World Energy Outlook 2009

[7] IEA – Clean Energy Progress Report

[8] http://www.guardian.co.uk/technology/2008/sep/25/greentech.alternativeenergy

[9] www.helpsavetheplanet.org

[10] www.portalangop.co.ao