papa francisco no brasil

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Papa Francisco no Brasil © Escritório de Informação do Opus Dei no Brasil Papa Francisco no Brasil pronunciamentos Viagem Apostólica ao Rio de Janeiro por ocasião da XXVIII Jornada Mundial Da Juventude Rio de Janeiro 2013 Sumário Segunda-feira, dia 22 de julho Boas-vindas no Jardim do Palácio Guanabara, 7 Quarta-feira, dia 24 de julho Missa na Basílica de Aparecida, 12 Visita ao Hospital São Francisco de Assis, 18 Quinta-feira, dia 25 de julho Encontro com os jovens argentinos, 23 Visita à Comunidade da Varginha, 29 Festa de Acolhida em Copacabana, 35 Sexta-feira, dia 26 de julho Oração do Angelus no Palácio São Joaquim, 40 Via-Sacra na Praia de Copacabana, 43 6 Sábado, dia 27 de julho Missa na Catedral de São Sebastião, 48 Encontro no Teatro Municipal, 54 Vigília de oração em Copacabana, 61 Domingo, dia 28 de julho Missa JMJ em Copacabana, 70 Oração do Angelus em Copacabana, 76 Encontro com o CELAM, 79 Encontro com os Voluntários, 96 Cerimônia de despedida no Aeroporto, 100 7 Cerimônia de boas-vindas no Jardim do Palácio Guanabara Senhora Presidenta, ilustres Autoridades, ir- mãos e amigos! Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontifica- do me consentisse voltar à amada

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Papa Francisco No Brasil, Homilias e Mensagens.

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Papa Francisco no Brasil Escritrio de Informao do Opus Dei no BrasilPapa Francisco no BrasilpronunciamentosViagem Apostlica ao Rio de Janeiro por ocasio da XXVIII Jornada Mundial Da JuventudeRio de Janeiro 2013

SumrioSegunda-feira, dia 22 de julho Boas-vindas no Jardim do Palcio Guanabara, 7Quarta-feira, dia 24 de julho Missa na Baslica de Aparecida, 12 Visita ao Hospital So Francisco de Assis, 18Quinta-feira, dia 25 de julho Encontro com os jovens argentinos, 23 Visita Comunidade da Varginha, 29 Festa de Acolhida em Copacabana, 35Sexta-feira, dia 26 de julho Orao do Angelus no Palcio So Joaquim, 40 Via-Sacra na Praia de Copacabana, 436Sbado, dia 27 de julho Missa na Catedral de So Sebastio, 48 Encontro no Teatro Municipal, 54 Viglia de orao em Copacabana, 61Domingo, dia 28 de julho Missa JMJ em Copacabana, 70 Orao do Angelus em Copacabana, 76 Encontro com o CELAM, 79 Encontro com os Voluntrios, 96 Cerimnia de despedida no Aeroporto, 1007Cerimnia de boas-vindas no Jardim do Palcio GuanabaraSenhora Presidenta, ilustres Autoridades, ir- mos e amigos! Quis Deus na sua amorosa providncia que a primeira viagem internacional do meu Pontifica- do me consentisse voltar amada Amrica Latina, precisamente ao Brasil, nao que se gloria de seus slidos laos com a S Apostlica e dos profundos sentimentos de f e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graas a Deus pela sua benignidade. Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, preciso ingressar pelo portal do seu imenso corao; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peo licena para entrar e transcorrer esta semana com vocs. No tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para ali- mentar a chama de amor fraterno que arde em cada corao; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudao: A paz de Cristo esteja com vocs!8Sado com deferncia a Senhora Presidenta e os ilustres membros do seu Governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que exter- naram a alegria dos brasileiros pela minha presena em sua Ptria. Cumprimento tambm o Senhor Go- vernador deste Estado, que amavelmente nos recebe na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplom- tico acreditado junto ao Governo Brasileiro, as de- mais Autoridades presentes e todos quantos se pro- digalizaram para tornar realidade esta minha visita. Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus ir- mos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso Pas, e s suas amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra coisa no quer seno continuar a misso pastoral prpria do Bispo de Roma de confirmar os seus ir- mos na F em Cristo, de anim-los a testemunhar as razes da Esperana que dEle vem e de incentiv- -los a oferecer a todos as inesgotveis riquezas do seu Amor. O motivo principal da minha presena no Bra- sil, como sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para en- contrar os jovens que vieram de todo o mundo, atra-9dos pelos braos abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abrao para, junto de seu Corao, ouvir de novo o seu potente e claro chama- do: Ide e fazei discpulos entre todas as naes. Estes jovens provm dos diversos continentes, falam lnguas diferentes, so portadores de variegadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspiraes e podem saciar a fome de verdade lmpida e de amor autntico que os irmanem para alm de toda diversidade. Cristo abre espao para eles, pois sabe que ener- gia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do corao dos jovens quando conquista- dos pela experincia da sua amizade. Cristo bota f nos jovens e confia-lhes o futuro de sua prpria cau- sa: Ide, fazei discpulos. Ide para alm das fronteiras do que humanamente possvel e criem um mundo de irmos. Tambm os jovens botam f em Cristo. Eles no tm medo de arriscar a nica vida que pos- suem porque sabem que no sero desiludidos. Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho conscincia de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei s suas famlias, s suas comunidades eclesiais e na- cionais de origem, s sociedades nas quais esto inse-10ridos, aos homens e s mulheres dos quais, em gran- de medida, depende o futuro destas novas geraes. Os pais usam dizer por aqui: os filhos so a me- nina dos nossos olhos. Que bela expresso da sabe- doria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz rega- lando-nos o milagre da viso! O que vai ser de ns, se no tomarmos conta dos nossos olhos? Como ha- veremos de seguir em frente? O meu auspcio que, nesta semana, cada um de ns se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta. E ateno! A juventude a janela pela qual o fu- turo entra no mundo. a janela e, por isso, nos impe grandes desafios. A nossa gerao se demonstrar altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espao. Isso significa: tutelar as con- dies materiais e imateriais para o seu pleno desen- volvimento; oferecer a ele fundamentos slidos, so- bre os quais construir a vida; garantir-lhe segurana e educao para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida merea ser vivida, assegurar-lhe um horizonte trans- cendente que responda sede de felicidade autntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herana de um mundo que corresponda medida 11da vida humana; despertar nele as melhores poten- cialidades para que seja sujeito do prprio amanh e corresponsvel do destino de todos. Com essas ati- tudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela dos jovens. Concluindo, peo a todos a delicadeza da aten- o e, se possvel, a necessria empatia para estabele- cer um dilogo de amigos. Nesta hora, os braos do Papa se alargam para abraar a inteira nao brasilei- ra, na sua complexa riqueza humana, cultural e reli- giosa. Desde a Amaznia at os pampas, dos sertes at o Pantanal, dos vilarejos at as metrpoles, nin- gum se sinta excludo do afeto do Papa. Depois de amanh, se Deus quiser, tenho em mente recordar- -lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteo materna sobre seus lares e famlias. Des- de j a todos abeno. Obrigado pelo acolhimento!12Santa Missa na Baslica do Santurio de Nossa Senhora da Conceio AparecidaEminentssimo Senhor Cardeal, venerados ir- mos no episcopado e no sacerdcio, queridos ir- mos e irms! Quanta alegria me d vir casa da Me de cada brasileiro, o Santurio de Nossa Senhora Apareci- da. No dia seguinte minha eleio como Bispo de Roma fui visitar a Baslica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministrio. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar Maria, nossa Me, o bom xito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus ps a vida do povo latino-americano. Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coi- sa. Neste Santurio, seis anos atrs, quando aqui se realizou a V Conferncia Geral do Episcopado da Amrica Latina e do Caribe, pude dar-me con- ta pessoalmente de um fato belssimo: ver como os Bispos que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e misso eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos 13milhares de peregrinos que vinham diariamente con- fiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferncia foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nas- ceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a f simples dos romeiros, sob a proteo maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre casa da Me e pede: Mostrai-nos Je- sus. de Maria que se aprende o verdadeiro disci- pulado. E, por isso, a Igreja sai em misso sempre na esteira de Maria. Assim, de cara Jornada Mundial da Juventude que me trouxe at o Brasil, tambm eu venho hoje bater porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos ns, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que faro deles construtores de um Pas e de um mundo mais justo, solidrio e fraterno. Para tal, gostaria de chamar ateno para trs simples posturas, trs simples posturas: Conser- var a esperana; deixar-se surpreender por Deus; vi- ver na alegria. 1. Conservar a esperana. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramtica: uma mu- lher figura de Maria e da Igreja sendo perseguida 14por um Drago o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porm, no de morte, mas de vida, porque Deus intervm e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desnimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelizao ou em quem se esfora por viver a f como pai e me de famlia, quero dizer com fora: Tenham sempre no corao esta certeza! Deus ca- minha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperana! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos coraes! O drago, o mal, faz-se presente na nossa histria, mas ele no o mais forte. Deus o mais forte, e Deus a nossa es- perana! verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e tambm os nossos jovens, experimentam o fascnio de tantos dolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperana: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensao de solido e de vazio entra no corao de muitos e conduz busca de compensaes, destes dolos pas- sageiros. Queridos irmos e irms, sejamos luzeiros de esperana! Tenhamos uma viso positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracte-15riza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construo de um mun- do melhor: eles so um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles no precisam s de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aque- les valores imateriais que so o corao espiritual de um povo, a memria de um povo. Neste Santurio, que faz parte da memria do Brasil, podemos quase que apalp-los: espiritualidade, generosidade, solida- riedade, perseverana, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na f crist. 2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem homem e mulher de esperana a grande esperana que a f nos d sabe que, mesmo em meio s dificuldades, Deus atua e nos surpreen- de. A histria deste Santurio serve de exemplo: trs pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas guas do Rio Parnaba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Con- ceio. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutfera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Me? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reser- va o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreen-16der pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe dEle, o vinho da alegria, o vinho da esperana, se esgota. Se nos aproximamos dEle, se permanecemos com Ele, aquilo que parece gua fria, aquilo que dificuldade, aquilo que pe- cado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele. 3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperana, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, h alegria no nosso corao e no podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristo alegre, nunca est triste. Deus nos acompanha. Temos uma Me que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por ns, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram der- rotados. O cristo no pode ser pessimista! No pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nos- so corao se incendiar de tal alegria que conta- giar quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santurio: O discpulo sabe que sem Cristo no h luz, no h esperana, no h amor, no h futuro (Discurso inaugural da Conferncia 17de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861). Queridos amigos, viemos bater porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos apon- ta o seu Filho. Agora Ela nos pede: Fazei o que Ele vos disser (Jo 2,5). Sim, Me, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com espe- rana, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.18Visita ao Hospital So Francisco de Assis na Providncia de DeusSenhor Arcebispo do Rio de Janeiro, amados Ir- mos no Episcopado, distintas Autoridades, queridos membros da Venervel Ordem Terceira de So Fran- cisco da Penitncia, prezados mdicos, enfermeiros e demais profissionais de sade, amados jovens e fami- liares, boa noite! Quis Deus que meus passos, depois do Santu- rio de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santurio do sofrimento humano, que o Hospital So Francisco de Assis. bem conheci- da a converso do Santo Patrono de vocs: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que no so as coisas, o ter, os dolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes no do a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraou um leproso. Aquele irmo sofredor foi mediador de luz () para So Francisco de Assis (Carta Enc. Lu-19men fidei, 57), porque, em cada irmo e irm em difi- culdade, ns abraamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependncia qu- mica, quero abraar a cada um e cada uma de vocs - vocs que so a carne de Cristo e pedir a Deus que encha de sentido e de esperana segura o caminho de vocs e tambm o meu. Abraar, abraar. Precisamos todos de apren- der a abraar quem passa necessidade, como fez So Francisco. H tantas situaes no Brasil e no mundo que reclamam ateno, cuidado, amor, como a luta contra a dependncia qumica. Frequentemente, porm, nas nossas sociedades, o que prevalece o egosmo. So tantos os mercadores de morte que seguem a lgica do poder e do dinheiro a todo o cus- to! A chaga do trfico de drogas, que favorece a vio- lncia e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. No deixando livre o uso das drogas, como se discute em vrias partes da Amrica Latina, que se conseguir reduzir a difuso e a influncia da dependncia qumica. necessrio enfrentar os problemas que esto na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justia, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem est em dificuldade e dando esperana no futuro. Precisamos todos de olhar o 20outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraar quem passa necessidade, para expressar soli- dariedade, afeto e amor. Mas abraar no suficiente. Estendamos a mo a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escurido da dependncia, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Voc pode se levantar, pode subir; exigente, mas possvel se voc o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocs, mas sobre- tudo a tantas outras pessoas que ainda no tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocs: Voc o protagonista da subida; esta a condio imprescindvel! Voc encontrar a mo estendida de quem quer lhe ajudar, mas ningum pode fazer a su- bida no seu lugar. Mas vocs nunca esto sozinhos! A Igreja e muitas pessoas esto solidrias com vo- cs. Olhem para frente com confiana; a travessia longa e cansativa, mas olhem para frente, existe um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferen- te relativamente s propostas ilusrias dos dolos do mundo, mas que d novo impulso e nova fora vida de todos os dias (Carta Enccl. Lumen fidei, 57). A vocs todos quero repetir: No deixem que lhes rou- bem a esperana! No deixem que lhes roubem a es- perana! Mas digo tambm: No roubemos a espe-21rana, pelo contrrio, tornemo-nos todos portadores de esperana! No Evangelho, lemos a parbola do Bom Sa- maritano, que fala de um homem atacado por assal- tantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas no param; indiferentes seguem o seu caminho: no problema delas! Quan- tas vezes ns dizemos: no um meu problema! Quantas vezes olhamos para o outro lado e fingimos que no vemos. Somente um samaritano, um desco- nhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mo e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parbola do Bom Samaritano. Aqui no h indiferena, mas soli- citude. No h desinteresse, mas amor. A Associao So Francisco e a Rede de Tratamento da Dependn- cia Qumica ensinam a se debruar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas est a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do servio mdico e auxiliar aqui empenhado! O servio de vocs pre- cioso! Realizem-no sempre com amor; um servio feito a Cristo presente nos irmos: Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que so meus irmos, foi a mim que o fizestes (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.22E quero repetir a todos vocs que lutam contra a dependncia qumica, a vocs familiares que tm uma tarefa que nem sempre fcil: a Igreja no est longe dos esforos que vocs fazem, Ela lhes acom- panha com carinho. O Senhor est ao lado de vocs e lhes conduz pela mo. Olhem para Ele nos momen- tos mais duros e Ele lhes dar consolao e esperana. E confiem tambm no amor materno de Maria, sua Me. Esta manh, no Santurio da Aparecida, con- fiei cada um de vocs ao seu corao. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre est Ela, nossa Me. Deixo-lhes em suas mos, enquanto, afetuosamente, a todos abeno. Obrigado!23Encontro com os jovens argentinos na Catedral MetropolitanaObrigado! Obrigado pela presena! Obrigado por terem vindo! Obrigado queles que esto c den- tro! E muito obrigado queles que ficaram l fora, aos trinta mil dizem-me que esto l fora. Lhes sado daqui. Esto chuva Obrigado pelo gesto de virem ter comigo, obrigado por terem vindo Jornada da Juventude. Eu tinha sugerido ao Doutor Gasbarri que a pessoa que gere, que organiza a viagem que encontrasse um lugarzinho para um encontro com vocs e, em metade de um dia, arranjou tudo. Quero agradecer publicamente ao Doutor Gasbarri tambm por isso que ele conseguiu fazer hoje. Desejo dizer-lhes qual a conseqncia que eu espero da Jornada da Juventude: espero que faam barulho. Aqui faro barulho, sem dvida. Aqui, no Rio, faro barulho, faro certamente. Mas eu quero que se faam ouvir tambm nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que mundanismo, 24imobilismo, nos defendamos do que comodidade, do que clericalismo, de tudo aquilo que viver fe- chados em ns mesmos. As parquias, as escolas, as instituies so feitas para sair; se no o fizerem, tor- nam-se uma ONG e a Igreja no pode ser uma ONG. Que me perdoem os Bispos e os sacerdotes, se alguns depois lhes criarem confuso. Mas este o meu con- selho. Obrigado pelo que vocs puderem fazer. Olhem! Eu penso que, neste momento, a civili- zao mundial ultrapassou os limites, ultrapassou os limites porque criou um tal culto do deus dinheiro, que estamos na presena de uma filosofia e uma pr- tica de excluso dos dois plos da vida que consti- tuem as promessas dos povos. A excluso dos idosos, obviamente: algum poderia ser levado a pensar que nisso exista, oculta, uma espcie de eutansia, isto , no se cuida dos idosos; mas h tambm uma euta- nsia cultural, porque no se lhes deixa falar, no se lhes deixa agir. E a excluso dos jovens: a percenta- gem que temos de jovens sem trabalho, sem empre- go, muito alta e temos uma gerao que no tem experincia da dignidade ganha com o trabalho. As- sim, esta civilizao nos levou a excluir os dois vrti- ces que so o nosso futuro. Por isso os jovens devem irromper, devem fazer-se valer; os jovens devem sair para lutar pelos valores, lutar por estes valores; e os 25idosos devem tomar a palavra, os idosos devem to- mar a palavra e ensinar-nos! Que eles nos transmi- tam a sabedoria dos povos! Pensando ao povo argentino, de corao sincero peo aos idosos: no esmoream na misso de ser a reserva cultura do nosso povo; reserva que transmite a justia, que transmite a histria, que transmite os valores, que transmite a memria do povo. E vocs, por favor, no se ponham contra os idosos: deixem- -nos falar, ouam-nos e sigam em frente. Mas sai- bam, saibam que neste momento vocs, jovens, e os idosos esto condenados ao mesmo destino: a exclu- so. No se deixem descartar. Claro, para isso acho que vocs devem trabalhar. A f em Jesus Cristo no uma brincadeira; uma coisa muito sria. um escndalo que Deus tenha vindo fazer-se um de ns. um escndalo que Ele tenha morrido numa cruz. um escndalo: o escndalo da Cruz. A Cruz con- tinua a escandalizar; mas o nico caminho seguro: o da Cruz, o de Jesus, o da Encarnao de Jesus. Por favor, no espremam a f em Jesus Cristo. H a es- premedura de laranja, h a espremedura de ma, h a espremedura de banana, mas, por favor, no bebam espremedura de f. A f integral, no se espreme. a f em Jesus. a f no Filho de Deus feito ho- mem, que me amou e morreu por mim. Resumindo: 26primeiro, faam-se ouvir, cuidem dos extremos da populao que so os idosos e os jovens. No se dei- xem excluir e no deixem que se excluam os idosos. Segundo, no espremam a f em Jesus Cristo. Com as Bem-aventuranas que devemos fazer, Padre? Olhe! Voc leia as Bem-aventuranas, que lhe faro bem. Se, depois, voc quer saber concretamente o que deve fazer, leia o captulo 25 de Mateus, que o regulamento segundo o qual vamos ser julgados. Com essas duas coisas, vocs tm o Plano de Ao: as Bem-aventuranas e Mateus 25. Voc no precisam ler mais. Isso lhes peo de todo o corao. Est bem? Obrigado por essa unidade. Tenho pena que vocs estejam a enjaulados; eu lhes digo uma coisa: s ve- zes tambm eu sinto isso; e no uma boa coisa estar enjaulado. Isso lhes confesso de corao, mas pacin- cia! Eu entendo vocs. Tambm eu gostaria de estar mais perto de vocs, mas entendo que, por razes de segurana, no se pode. Obrigado por terem vindo! Obrigado por rezarem por mim! Isto lhes peo de corao. Preciso. Eu preciso de suas oraes, tenho tanta necessidade. Obrigado por isso! Bem! Eu quero lhes dar a Bno e, depois, benzeremos a imagem da Virgem que vai percorrer toda a Repblica e a cruz de So Francisco; viajaro em misso. Mas no esqueam! Faam-se ouvir; cuidem dos dois extre-27mos da vida: os dois extremos da histria dos povos que so os idosos e os jovens; e no espremam a f. E agora faamos uma orao para benzer a imagem da Virgem e, em seguida, dar-lhes a Bno. Pomo-nos de p para a Bno, mas antes quero agradecer as palavras que disse-me Dom Arancedo, porque, como verdadeiro mal-educado, no lhe agra- deci. Portanto, obrigado pelas suas palavras! ORAO Em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. Ave Maria... Senhor, Tu deixaste no meio de ns tua Me para que nos acompanhasse. Que Ela cuide de ns e nos proteja o nosso ca- minho, o nosso corao, a nossa f. Que nos faa discpulos como Ela o foi, e mis- sionrios como Ela o foi tambm. Que nos ensine a sair pelas estradas.Que nos ensine a sair de ns mesmos.28Benzemos esta imagem, Senhor, que vai percor- rer o pas. Que Ela, com a sua mansido, a sua paz, nos in- dique o caminho. Senhor, Tu s um escndalo! Tu s um escnda- lo: o escndalo da Cruz. Uma Cruz que humildade, mansido; uma Cruz que nos fala da proximidade de Deus. Benzemos tambm esta imagem da Cruz que percorrer o pas. Muito obrigado! Vemo-nos nestes dias. Que Deus lhes abenoe. Rezem por mim. No se esqueam!29Visita Comunidade da Varginha em ManguinhosQueridos irmos e irms, bom dia! Que bom poder estar com vocs aqui! Que bom! Desde o incio, quando planejava a minha visi- ta ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste Pas. Queria bater em cada porta, dizer bom dia, pedir um copo de gua fresca, beber um cafezinho - no um copo de cachaa! - falar como a amigos de casa, ouvir o corao de cada um, dos pais, dos filhos, dos avs... Mas o Brasil to gran- de! No possvel bater em todas as portas! Ento escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocs; esta comunidade, que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como bom ser bem acolhido, com amor, ge- nerosidade, alegria! Basta ver como vocs decoraram as ruas da Comunidade; isso tambm um sinal do carinho que nasce do corao de vocs, do corao dos brasileiros, que est em festa! Muito obrigado a cada um de vocs pela linda acolhida! Agradeo ao casal Rangler e Joanapelas suas belas palavras. 1. Desde o primeiro instante em que toquei as 30terras brasileiras e tambm aqui junto de vocs, me sinto acolhido. E importante saber acolher; algo mais bonito que qualquer enfeite ou decorao. Isso assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - no ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando algum que precisa comer bate na sua porta, vocs sempre do um jeito de comparti- lhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode colocar mais gua no feijo! Se pode colocar mais gua no feijo? Sempre? ... E vocs fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza no est nas coisas, mas no corao! E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lio de solidariedade, que uma palavra esta palavra soli- dariedade uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque incmoda. Quase parece um palavro solidariedade! Queria lanar um apelo a todos os que possuem mais recursos, s autoridades pblicas e a todas as pessoas de boa vontade com- prometidas com a justia social: No se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidrio! Ningum pode permanecer insensvel s desigualda- des que ainda existem no mundo! Cada um, na me-31dida das prprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuio para acabar com tantas injustias sociais! No , no a cultura do egos- mo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constri e conduz a um mundo mais habitvel; no ela, mas sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade ver no outro no um concorrente ou um nmero, mas um irmo. E todos ns somos irmos! Quero encorajar os esforos que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, atravs do combate fome e misria. Nenhum esfor- o de pacificao ser duradouro, no haver har- monia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa margem, que abandona na periferia par- te de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. No deixemos, no deixemos entrar no nosso corao a cultura do descartvel! No dei- xemos entrar no nosso corao a cultura do descar- tvel, porque ns somos irmos. Ningum descar- tvel! Lembremo-nos sempre: somente quando se capaz de compartilhar que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pense- mos na multiplicao dos pes de Jesus! A medida da 32grandeza de uma sociedade dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem no tem outra coisa seno a sua pobreza! 2. Queria dizer-lhes tambm que a Igreja, ad- vogada da justia e defensora dos pobres diante das intolerveis desigualdades sociais e econmicas, que clamam ao cu (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaborao em todas as inicia- tivas que signifiquem um autntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos ami- gos, certamente necessrio dar o po a quem tem fome; um ato de justia. Mas existe tambm uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que s Deus pode saciar. Fome de dignidade. No existe ver- dadeira promoo do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nao, os seus bens imateriais: a vida, que dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a fa- mlia, fundamento da convivncia e remdio contra a desagregao social; a educao integral, que no se reduz a uma simples transmisso de informaes com o fim de gerar lucro; a sade, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimenso espiritual, que essencial para o equilbrio humano e uma convivncia saudvel; a segurana, na convico 33de que a violncia s pode ser vencida a partir da mudana do corao humano. 3. Queria dizer uma ltima coisa, uma ltima coisa. Aqui, como em todo o Brasil, h muitos jovens. Hein, jovens! Vocs, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente s injustias, mas muitas vezes se desiludem com notcias que falam de cor- rupo, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu prprio benefcio. Tambm para vocs e para todas as pessoas repito: nunca desa- nimem, no percam a confiana, no deixem que se apague a esperana. A realidade pode mudar, o ho- mem pode mudar. Procurem ser vocs os primeiros a praticar o bem, a no se acostumarem ao mal, mas a venc-lo com o bem. A Igreja est ao lado de vocs, trazendo-lhes o bem precioso da f, de Jesus Cris- to, que veio para que todos tenham vida, e vida em abundncia (Jo 10,10). Hoje a todos vocs, especialmente aos mora- dores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocs no esto sozinhos, a Igreja est com vocs, o Papa est com vocs. Levo a cada um no meu cora- o e fao minhas as intenes que vocs carregam no seu ntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de conso-34lao nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio intercesso de Nossa Senhora Apareci- da, Me de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bno. Obrigado!35Festa de Acolhida dos jovens na Praia de CopacabanaJovens amigos, bom estarmos aqui!: exclamou Pedro, de- pois de ter visto o Senhor Jesus transfigurado, reves- tido de glria. Queremos tambm ns repetir estas palavras? Penso que sim, porque para todos ns, hoje, bom estar aqui juntos unidos em torno de Je- sus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a ns, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos tam- bm as palavras de Deus Pai: Este o meu Filho, o Eleito. Escutai-O! (Lc 9, 35). Ento, se por um lado Jesus quem nos acolhe, por outro tambm ns de- vemos acolh-lo, ficar escuta da sua palavra, pois justamente acolhendo a Jesus Cristo, Palavra encar- nada, que o Esprito Santo nos transforma, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em ns as asas da esperana para caminharmos com alegria (cf. Carta enc. Lumen fidei, 7). Mas o que podemos fazer? Bote f. A cruz da Jornada Mundial da Juventude peregrinou atravs do Brasil inteiro com este apelo. Bote f: o que signi-36fica? Quando se prepara um bom prato e v que fal- ta o sal, voc ento bota o sal; falta o azeite, ento bota o azeite... Botar, ou seja, colocar, derramar. assim tambm na nossa vida, queridos jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e pleni- tude, como vocs mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocs: bote f e a vida ter um sabor novo, ter uma bssola que indica a direo; bote esperana e todos os seus dias sero iluminados e o seu horizonte j no ser escuro, mas luminoso; bote amor e a sua existncia ser como uma casa construda sobre a rocha, o seu caminho ser alegre, porque encontrar muitos amigos que caminham com voc. Bote f, bote esperana, bote amor! Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evange- lho, escutamos a resposta: Cristo. Este o meu Fi- lho, o Eleito. Escutai-O! Jesus Aquele que nos traz a Deus e que nos leva a Deus; com Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e ns podemos olhar a realidade com novos olhos, a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos (Lumen fidei, 18). Por isso, hoje, lhes digo com fora: Bote Cristo na sua vida, e voc encontrar um amigo em quem sempre confiar; bote Cristo, e voc ver crescer as asas da esperana para percorrer com alegria o caminho do 37futuro; bote Cristo e a sua vida ficar cheia do seu amor, ser uma vida fecunda. Hoje, queria que nos perguntssemos com sin- ceridade: em quem depositamos a nossa confiana? Em ns mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo- -nos tentados a colocar a ns mesmos no centro, a crer que somos somente ns que construmos a nos- sa vida, ou que ela se encha de felicidade com o pos- suir, com o dinheiro, com o poder. Mas no assim! verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um momento de embriaguez, a iluso de ser feliz, mas, no fim de contas, so eles que nos possuem e nos le- vam a querer ter sempre mais, a nunca estar saciados. Bote Cristo na sua vida, deposite nEle a sua con- fiana e voc nunca se decepcionar! Vejam, queri- dos amigos, a f realiza na nossa vida uma revoluo que podamos chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a f nos imerge no seu amor que nos d segurana, fora, esperana. Apa- rentemente no muda nada, mas, no mais ntimo de ns mesmos, tudo muda. No nosso corao, habita a paz, a mansido, a ternura, a coragem, a serenidade e a alegria, que so os frutos do Esprito Santo (cf. Gl 5, 22) e a nossa existncia se transforma, o nosso modo de pensar e agir se renova, torna-se o modo de pensar e de agir de Jesus, de Deus. No Ano da F, esta 38Jornada Mundial da Juventude justamente um dom que nos oferecido para ficarmos ainda mais perto de Jesus, para ser seus discpulos e seus missionrios, para deixar que Ele renove a nossa vida. Querido jovem: bote Cristo na sua vida. Nes- tes dias, Ele lhe espera na Palavra; escute-O com aten- o e o seu corao ser inflamado pela sua presena; Bote Cristo: Ele lhe acolhe no Sacramento do per- do, para curar, com a sua misericrdia, as feridas do pecado. No tenham medo de pedir perdo a Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que nos ama. Deus pura misericrdia! Bote Cristo: Ele lhe espera no encontro com a sua Carne na Eucaris- tia, Sacramento da sua presena, do seu sacrifcio de amor, e na humanidade de tantos jovens que vo lhe enriquecer com a sua amizade, lhe encorajar com o seu testemunho de f, lhe ensinar a linguagem da ca- ridade, da bondade, do servio. Voc tambm, queri- do jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a este nosso mundo um pouco de luz. bom estarmos aqui, botando Cristo na nos- sa vida, botando a f, a esperana, o amor que Ele nos d. Queridos amigos, nesta celebrao acolhemos a 39imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com Maria, queremos ser discpulos e missionrios. Como Ela, queremos dizer sim a Deus. Peamos ao seu cora- o de me que interceda por ns, para que os nos- sos coraes estejam disponveis para amar a Jesus e faz-lo amar. Queridos jovens, Jesus est esperando por ns e conta conosco! Amm.40Orao do Angelus Domini do balco central do Palcio Arquiepiscopal So JoaquimCarssimos irmos e amigos, bom dia! Dou graas divina Providncia por ter guiado meus passos at aqui, na cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro. Agradeo de corao sincero a Dom Orani e tambm a vocs pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu carinho pelo Sucessor de Pedro. Desejaria que a minha passagem por esta ci- dade do Rio renovasse em todos o amor a Cristo e Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a Igreja e o compromisso de viver e testemunhar a f. Uma belssima expresso da f do povo a Hora da Ave Maria. uma orao simples que se reza nos trs momentos caractersticos da jornada que marcam o ritmo da nossa atividade quotidiana: de manh, ao meio-dia e ao anoitecer. , porm, uma orao importante; convido a todos a rez-la com a Ave Maria. Lembra-nos de um acontecimento lumi- noso que transformou a histria: a Encarnao, o Fi- lho de Deus se fez homem em Jesus de Nazar.41Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avs de Jesus: So Joaquim e SantAna. Na casa de- les, veio ao mundo Maria, trazendo consigo aquele mistrio extraordinrio da Imaculada Conceio; na casa deles, cresceu, acompanhada pelo seu amor e pela sua f; na casa deles, aprendeu a escutar o Se- nhor e seguir a sua vontade. So Joaquim e SantAna fazem parte de uma longa corrente que transmitiu a f e o amor a Deus, no calor da famlia, at Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a ns. Vemos aqui o valor pre- cioso da famlia como lugar privilegiado para trans- mitir a f! Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa de So Joaquim e SantAna, no Brasil como em outros pases, se cele- bra a festa dos avs. Como os avs so importantes na vida da famlia, para comunicar o patrimnio de humanidade e de f que essencial para qualquer so- ciedade! E como importante o encontro e o dilogo entre as geraes, principalmente dentro da famlia. O Documento de Aparecida nos recorda: Crianas e ancios constroem o futuro dos povos; as crianas porque levaro por adiante a histria, os ancios por- que transmitem a experincia e a sabedoria de suas vidas (Documento de Aparecida, 447). Esta rela- o, este dilogo entre as geraes um tesouro que 42deve ser conservado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem saudar os avs. Eles sadam os seus avs com muito carinho. Aos avs. Saudamos os avs. Eles, os jovens, sadam os seus avs com muito carinho e lhes agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem continuamente. E agora, nesta praa, nas ruas adjacentes, nas casas que acompanham conosco este momento de orao, sintamo-nos como uma nica grande famlia e nos dirijamos a Maria para que guarde as nossas famlias, faa delas lares de f e de amor, onde se sinta a presena do seu Filho Jesus.43Via-Sacra com os jovens na Praia de CopacabanaQueridos jovens, Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da Redeno, o bem-aven- turado Joo Paulo II quis confi-la a vocs, jovens, dizendo-lhes: Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que s em Cristo morto e ressuscitado h salvao e redeno. A partir de ento a cruz percorreu todos os con- tinentes e atravessou os mais variados mundos da existncia humana, ficando quase que impregnada com as situaes de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ningum pode tocar a cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da cruz de Jesus para sua prpria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem trs perguntas nos seus coraes: O que vocs tero dei- xado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois 44anos em que ela atravessou seu imenso Pas? E o que ter deixado a cruz de Jesus em cada um de vocs? E, finalmente, o que esta cruz ensina para a nossa vida? Uma antiga tradio da Igreja de Roma conta que o apstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguio do imperador Nero, viu que Jesus cami- nhava na direo oposta e, admirado, lhe perguntou: Para onde vais, Senhor?. E a resposta de Jesus foi: Vou a Roma para ser crucificado outra vez. Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem at o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara at o ponto de mor- rer na cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silncio das vtimas da violncia, que j no podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une s famlias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de parasos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela 45Jesus se une a quem perseguido pela religio, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiana nas instituies polticas, por verem egosmo e corrup- o, ou que perderam a f na Igreja, e at mesmo em Deus, pela incoerncia de cristos e de ministros do Evangelho. Na cruz de Cristo est o sofrimento, o pecado do homem, o nosso tambm, e Ele acolhe tudo com seus braos abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Voc no est sozinho a lev-la! Eu a levo com voc. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperana, dar-lhe vida. E assim podemos responder segunda pergun- ta: o que foi que a cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de ns? Deixa um bem que ningum mais pode nos dar: a certeza do amor inabalvel de Deus por ns. Um amor to grande que entra no nosso pecado e o per- doa, entra no nosso sofrimento e nos d a fora para poder lev-lo, entra tambm na morte para derrot- -la e nos salvar. Na cruz de Cristo, est todo o amor de Deus, a sua imensa misericrdia. E este um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Que- ridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos 46totalmente a Ele! S em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvao e redeno. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte no tm a ltima palavra, por- que Ele nos d a esperana e a vida: transformou a cruz, de instrumento de dio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitria e de vida. O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de Terra de Santa Cruz. A cruz de Cristo foi plan- tada no s na praia, h mais de cinco sculos, mas tambm na histria, no corao e na vida do povo brasileiro e no s: o Cristo sofredor, sentimo-lo pr- ximo, como um de ns que compartilha o nosso ca- minho at o final. No h cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor no venha compartilhar conosco. Mas a Cruz de Cristo tambm nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericrdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessi- dade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de ns mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mo. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho at a Cruz: Pi- latos, o Cirineu, Maria, as mulheres... Tambm ns diante dos demais podemos ser 47como Pilatos que no teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mos. Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cirineu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que no tiveram medo de acompanhar Jesus at o fi- nal, com amor, com ternura. E voc como ? Como Pilatos, como o Cirineu, como Maria? Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz de Cristo; encontraremos um corao aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mes- mo amor para a nossa vida, para amar cada irmo e irm com este mesmo amor. Assim seja!48Santa Missa com os Bispos da XXVIII JMJ e com os Sacerdotes, os Religiosos e os Seminaristas na Catedral de So SebastioAmados Irmos em Cristo, Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacer- dotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as naes vos glorifiquem, Se- nhor (Sl 66). Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que no somen- te algumas naes mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma paresia --coragem, ousadia-- de Paulo e Barnab, anunciemos o Evangelho aos nossos jo- vens para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais frater- no. Neste sentido, queria refletir com vocs sobre trs aspectos da nossa vocao: chamados por Deus; cha- mados para anunciar o Evangelho; chamados a pro- mover a cultura do encontro.491. Chamados por Deus. importante reavivar em ns esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia a dia: No fostes vs que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos Jesus (Jo 15,16).Significa retor- nar fonte da nossa chamada. No incio de nosso caminho vocacional, h uma eleio divina. Fomos chamados por Deus, e chama- dos para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo to profundo que nos permite di- zer com So Paulo: Eu vivo, mas no eu, Cristo que vive em mim (Gal 2, 20). Este viver em Cristo con- figura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em Cristo justamente o que ga- rante a nossa eficcia apostlica, a fecundidade do nosso servio: Eu vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permanea (Jo 15,16). No a criatividade pastoral, no so as reu- nies ou planejamentos que garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistncia: Perma- necei em mim, e eu permanecerei em vs (Jo 15, 4). E ns sabemos bem o que isso significa: Con- templ-lo, ador-lo e abra-lo, particularmente atravs da nossa fidelidade vida de orao, do nos- so encontro dirio com Ele presente na Eucaristia e 50nas pessoas mais necessitadas. O permanecer com Cristo no se isolar, mas um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me cabea umas pa- lavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcut: Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocao, que nos d a oportunidade de servir Cristo nos po- bres. nas favelas, nos cantegriles nas Villas miseria, que ns devemos ir procurar e servir a Cristo. Deve- mos ir at eles como o sacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria (Mother Instructions, I, p.80). Jesus, Bom Pastor, o nosso verdadeiro tesouro; procure- mos fixar sempre mais nEle o nosso corao (cf. Lc 12, 34). 2. Chamados para anunciar o Evangelho. Que- ridos bispos e sacerdotes, muitos de vocs, seno to- dos, vieram acompanhar seus jovens Jornada Mun- dial. Eles tambm ouviram as palavras do mandato de Jesus: Ide e fazei discpulos entre todas as naes (cf. Mt 28,19). nosso compromisso ajud-los a fa- zer arder, no seu corao, o desejo de serem discpu- los missionrios de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemo- rizados, imaginando que ser missionrio significa deixar necessariamente o Pas, a famlia e os amigos. Recordo o meu sonho da juventude: partir 51missionrio para o longnquo Japo. Mas Deus me mostrou que o meu territrio de misso estava mui- to mais perto: na minha ptria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discpulo missionrio uma consequncia de ser batizado, parte essencial do ser cristo, e que o primeiro lugar onde evangelizar a prpria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a famlia e os amigos. No poupemos foras na forma- o da juventude! So Paulo usa uma bela expresso, que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristos: Meus filhos, por vs sinto de novo as dores do parto at Cristo ser formado em vs (Gal 4, 19). Tambm ns faamos que isso se torne realida- de no nosso ministrio! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da f, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvao. Eduquemo-los para a misso, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discpulos: no os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! No podemos ficar encerrados na parquia, nas nos- sas comunidades, quando h tanta gente esperando o Evangelho! No se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar.52Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que esto mais afastados, daque- les que habitualmente no frequentam a parquia. Tambm eles so convidados para a Mesa do Senhor. 3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espao a cultura da excluso, a cultura do descartvel. No h lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; no h tempo para se deter com o pobre cado mar- gem da estrada. s vezes parece que, para alguns, as relaes humanas sejam regidas por dois dogmas modernos: eficincia e pragmatismo. Queridos Bis- pos, sacerdotes, religiosos e tambm vocs, semina- ristas, que se preparam para o ministrio, tenham a coragem de ir contra a corrente. No renunciemos a este dom de Deus: a nica famlia dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade e a fraternidade so os elementos que tornam a nossa civilizao verdadeiramente humana.Temos de ser servidores da comunho e da cul- tura do encontro. Permitam-me dizer: deveramos ser quase obsessivos neste aspecto! No queremos ser presunosos, impondo as nossas verdades. O que nos guia a certeza humilde e feliz de quem foi 53encontrado, alcanado e transformado pela Verdade que Cristo, e no pode deixar de anunci-la (cf. Lc 24, 13-35). Queridos irmos e irms, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e pro- mover corajosamente a cultura do encontro. A Vir- gem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na misso apostlica que a Igreja, tem de regenerar os homens (Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. Lumen gentium, 65). Seja Ela a Estrela que guia com segurana nossos passos ao encontro do Senhor.54Encontro com os Representantes da Sociedade brasileira no Teatro MunicipalExcelncias, senhoras e senhores! Agradeo a Deus pela possibilidade de me encontrar com to respeitvel representao dos responsveis polticos e diplomticos, culturais e religiosos, acadmicos e empresariais deste Brasil imenso. Sado cordialmente a todos e lhes expresso o meu reconhecimento. Queria lhes falar usando a bela lngua portu- guesa de vocs mas, para poder me expressar melhor manifestando o que trago no corao, prefiro falar em castelhano. Peo-vos a cortesia de me perdoar! Agradeo as amveis palavras de boas vindas e de apresentao de Dom Orani e do jovem Walmyr Jnior. Nas senhoras e nos senhores, vejo a memria e a esperana: a memria do caminho e da consci- ncia da sua Ptria e a esperana que esta, sempre aberta luz que irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se no pleno respeito 55dos princpios ticos fundados na dignidade trans- cendente da pessoa. Todos aqueles que possuem um papel de res- ponsabilidade, em uma Nao, so chamados a en- frentar o futuro com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade, como dizia o pensador brasileiro Al- ceu Amoroso Lima [Nosso tempo, in: A vida sobre- natural e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106]. Queria considerar trs aspectos deste olhar calmo, sereno e sbio: primeiro, a originalidade de uma tradio cultural; segundo, a responsabilidade solidria para construir o futuro; e terceiro, o dilogo construtivo para encarar o presente. importante, antes de tudo, valorizar a origina- lidade dinmica que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinria capacidade para integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade, os princpios fundamentais da sua vida, os critrios de juzo sobre as prioridades, sobre as normas de ao, assentam numa viso integral da pessoa humana. Esta viso do homem e da vida, tal como a fez prpria o povo brasileiro, muito recebeu da seiva do Evangelho atravs da Igreja Catlica: primeiramente a f em Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternida-56de com o prximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente valorizada! Ela pode fecundar um pro- cesso cultural fiel identidade brasileira e construtor de um futuro melhor para todos. Assim se expressou o amado Papa Bento XVI, no discurso de abertura da V Conferncia Geral do Episcopado Latino-Ameri- cano, em Aparecida. Fazer que a humanizao integral e a cultura do encontro e do relacionamento cresam o modo cristo de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a f e a razo, a dimenso religiosa com os diversos aspectos da cultura huma- na: arte, cincia, trabalho, literatura... O cristianismo une transcendncia e encarnao; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desiluso e o desen- canto que invadem os coraes e saltam para a rua. O segundo elemento que queria tocar a res- ponsabilidade social. Esta exige um certo tipo de pa- radigma cultural e, consequentemente, de poltica. Somos responsveis pela formao de novas gera- es, capacitadas na economia e na poltica, e firmes nos valores ticos. O futuro exige de ns uma viso humanista da economia e uma poltica que realize cada vez mais e melhor a participao das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que 57ningum fique privado do necessrio, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solida- riedade: esta a via a seguir. J no tempo do profeta Ams era muito forte a advertncia de Deus: Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandlias; esmagam a cabea dos fracos no p da terra e tornam a vida dos oprimidos impossvel (Am 2, 6-7). Os gritos por justia continuam ainda hoje. Quem detm uma funo de guia deve ter ob- jetivos muito concretos, e buscar os meios especfi- cos para consegui-los. Pode haver, porm, o perigo da desiluso, da amargura, da indiferena, quando as aspiraes no se cumprem. A virtude dinmica da esperana incentiva a ir sempre mais longe, a empre- gar todas as energias e capacidades a favor das pes- soas para quem se trabalha, aceitando os resultados e criando condies para descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperana. A liderana sabe escolher a mais justa entre as opes, aps t-las considerado, partindo da prpri responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e venc-los com a ousadia de aes 58corajosas e livres. No exerccio da nossa responsabi- lidade, sempre limitada, importante abarcar o todo da realidade, observando, medindo, avaliando, para tomar decises na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro, refletindo sobre as consequn- cias de tais decises. Quem atua responsavelmente, submete a prpria ao aos direitos dos outros e ao juzo de Deus. Este sentido tico aparece, nos nos- sos dias, como um desafio histrico sem precedentes. Alm da racionalidade cientfica e tcnica, na atual situao, impe-se o vnculo moral com uma respon- sabilidade social e profundamente solidria. Para completar o olhar que me propus, alm do humanismo integral, que respeite a cultura ori- ginal, e da responsabilidade solidria, termino indi- cando o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o dilogo construtivo. Entre a indiferena egosta e o protesto violento, h uma opo sempre possvel: o dilogo. O dilogo entre as geraes, o dilogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos verdade. Um pas cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diver- sas riquezas culturais: cultura popular, cultura uni- versitria, cultura juvenil, cultura artstica e tecnol- gica, cultura econmica e cultura familiar e cultura da mdia. impossvel imaginar um futuro para a so-59ciedade, sem uma vigorosa contribuio das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lgica da representao dos interes- ses constitudos. Ser fundamental a contribuio das grandes tradies religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animao da democracia. Favorvel pacfica convi- vncia entre religies diversas a laicidade do Esta- do que, sem assumir como prpria qualquer posio confessional, respeita e valoriza a presena do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expres- ses concretas. Quando os lderes dos diferentes setores me pe- dem um conselho, a minha resposta sempre a mes- ma: dilogo, dilogo, dilogo. A nica maneira para uma pessoa, uma famlia, uma sociedade crescer, a nica maneira para fazer avanar a vida dos povos a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual to- dos tm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponvel, sem preconceitos. S assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religies, a estima de umas pelas outras livre de suposies gratuitas e no respeito pelos di- reitos de cada uma. Hoje, ou se aposta na cultura do 60encontro, do dilogo, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna o caminho fecundo e seguro. Excelncias, senhoras e senhores! Agradeo- -lhes pela ateno. Acolham estas palavras como ex- presso da minha solicitude de Pastor da Igreja e do amor que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre os homens e a colaborao para construir uma sociedade mais justa no constituem uma utopia, mas so o resultado de um esforo harmnico de to- dos em favor do bem comum. Encorajo os senhores no seu empenho em favor do bem comum, que exige da parte de todos sabedoria, prudncia e generosi- dade. Confio-lhes ao Pai do Cu, pedindo-lhe, por intercesso de Nossa Senhora Aparecida, que cumule de seus dons a cada um dos presentes, suas respecti- vas famlias e comunidades humanas de trabalho e, de corao, a todos concedo a minha Bno.61Viglia de orao com os jovens em CopacabanaQueridos jovens, Acabamos recordar a histria de So Francis- co de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: Francisco, vai e repara a minha casa. E o jovem Francisco responde, com prontido e generosidade, a esta chamada do Senhor: Repara a minha casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele perce- be que no se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifcio feito de pedras, mas de dar a sua contri- buio para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao servio da Igreja, amando e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a face de Cristo. Tambm hoje o Senhor continua precisando dos jovens para a sua Igreja. Queridos jovens, o se- nhor precisa de vocs. Tambm hoje ele chama a cada um de vocs para segui-lo na sua Igreja para serem missionrios. Queridos jovens, o Senhor hoje nos chama. No a todos e sim a cada um de vocs, individualmente. Escutem essa palavra nos seus co- raes. Ele vos fala.62Acredito que podemos aprender algo com o que aconteceu nos ltimos dias. Tivemos que cancelar por mau tempo o evento no Campus Fidei Guara- tiba. No estaria o Senhor querendo nos dizer que o verdadeiro campo da f, no um ponto geogrfico, mas sim ns mesmos? Sim. verdade, cada um de ns e de vocs. Eu e vocs todos aqui somos disc- pulos missionrios. O que quer dizer isso? Que ns somos o campo da f de Deus. Por isso mesmo, a partir da imagem do campo da f, pensei em trs imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discpulo missionrio: a primeira imagem o campo como lu- gar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras. Primeiro. O campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parbola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo. Algumas semen- tes caem beira do caminho, em meio s pedras, no meio de espinhos e no conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e do muito fruto (cf. Mt 13,1-9). O prprio Jesus explicou o sentido da pa- rbola: a semente a palavra de Deus que semeada nos nossos coraes (cf. Mt 13,18-23).63Hoje, de modo especial, Jesus est semeando. Ao aceitar a palavra de Deus, nos tornamos o cam- po da f. Por favor, deixe que a palavra do Senhor entre nas suas vidas. Deixe que entre em seus cora- es, germine, cresa. Deus faz tudo, mas vocs tm que permitir que Ele trabalhe nesse crescimento. Je- sus nos diz que as sementes que caram beira do caminho, em meio s pedras e entre espinhos no deram fruto. Acredito que, com muita sinceridade, podemos nos perguntar: Qual terreno somos ou queremos ser? Talvez sejamos como o caminho: ou- vimos o Senhor porm nos deixamos tumultuar por tantos apelos superficiais? E eu lhes pergunto, agora me respondam silenciosamente: serei eu um jovem atordoado ou como o terreno pedregoso? Acolhe- mos Jesus com entusiasmo mas somos inconstantes e diante das dificuldades no ter a coragem de ir con- tra a corrente. Respondam silenciosamente. Terei eu valor ou serei eu um covarde? Ou ser que somos como um terreno espinhoso? As palavras negativas sufocam a palavra de Deus? Tenho o costume de jo- gar dos dois lados, ficar de bem com Deus e com o Diabo? Ser que quero receber as sementes de Jesus e de vez em quando regar os espinhos e o que cresce de mau nos meus coraes? Hoje, entretanto, tenho a certeza que a semen-64te pode cair numa terra boa, como ouvimos nesses testemunhos. Como a semente caiu em boa terra. A pessoa diz que uma calamidade: no sou boa terra, estou cheia de espinhos, Santo Padre. Sim, isso pode acontecer. Mas deixe um pedacinho de terra boa, e permitam que ali caia a semente da palavra e vero que ela vai germinar, sim. Eu sei que vocs querem ser terra boa. O cristo quer ser isso, um cristo de verdade, no cristos de fachada, mas sim autnticos. Sei que querem ser cristos autnticos. No cristos de nariz empinado, pessoas que s parecem cristos, mas no fazem nada. Tenho a certeza que vocs no querem viver na iluso de uma liberdade que se deixe arrastar pelas modas e as convenincias do momento. Sei que vocs apostam em algo grande, em esco- lhas definitivas que deem pleno sentido para a vida. assim ou estou errado? Se assim, faamos o seguin- te. Todos em silncio, olhando para dentro, para seus coraes, e cada um fale com Jesus que quer receber a semente. Olhe Jesus. Jesus, tenho pedras, tenho es- pinhos, mas tenho esse cantinho de boa terra. Semeie aqui. E em silncio, permitem que Jesus plantem sua semente em boa terra. Lembrem-se desse momento. Cada um sabe o nome da semente que foi plantada agora. Deixem que frutifique. Deus vai cuidar dela.65Segundo. O campo como lugar de treinamento. Alm de ser um lugar de semeadura, o campo um lugar de treinamento. Jesus nos pede que ns o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus disc- pulos, que joguemos no seu time. Acho que a maio- ria de vocs ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros pases, o futebol uma paixo nacional. Sim ou no? Pois bem, o que faz um jogador quando convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Tambm assim na nossa vida de discpulos do Senhor. So Paulo diz aos cristos: Todo atleta se privam de tudo. Eles assim procedem, para conse- guirem uma coroa corruptvel. Quanto a ns, busca- mos uma coroa incorruptvel! (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo! Algo maior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecun- da e feliz. E nos oferece tambm um futuro com Ele que no ter fim: a vida eterna. o que Jesus oferece. Mas ele pede que paguemos a ingresso. Jesus pede que treinemos para estar em forma, para enfrentar, sem medo, todas as situaes da vida, dando teste- munhos de f. Como? Atravs do dilogo com Ele: a orao, que um dilogo dirio com Deus que sem- pre nos escuta.66Agora vou perguntar. Eu rezo? Eu falo com Je- sus ou tenho medo do silncio? Deixe que o Esprito Santo fale aos seus coraes. Ser que fao isso? Per- gunte a Jesus: O que quer que eu faa? O que quer da minha vida? Isso treinar. Conversem com Jesus. E se cometerem um erro, um deslize, no temam. Je- sus, olha o que eu fiz, o que fao agora? Mas sempre fale com Jesus, nos bons e maus momentos, no tema. Essa a orao. Assim vai se treinando o dilogo com Jesus. E tambm atravs dos sacramentos, que fazem crescer em ns o amor de Jesus, atravs do amor fra- terno, do saber ouvir, perdoar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ningum. Esses so os treinamentos para se seguir Jesus: a orao, os sacramentos e o servio ao prximo. Vamos repetir: orao, sacramentos e ajuda aos demais. Terceiro. O campo como canteiro de obras. Como vemos aqui, como tudo isso foi constru- do. Os jovens caminharam e construram juntos a Igreja. Quando o nosso corao uma terra boa que acolhe a palavra de Deus, quando se sua a camisa procurando viver como cristos, ns experimenta- mos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fa- zemos parte de uma famlia de irmos que percor-67rem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protago- nistas da histria, em conjunto. Fizeram assim como So Francisco: construir e reparar a Igreja. Eu pergunto, ento: Querem construir a Igreja? Esto animados? E amanh, ser que vo se esquecer que hoje disseram sim?. Ah, assim estou gostando. Todos somos parte da Igreja. Mais do que isso, nos transformamos em construtores da Igreja e prota- gonistas da Histria. Jovens, por favor, sejam prota- gonistas, no fiquem na fila da Histria, no fiquem para trs. Vo lutando, construindo um mundo de paz, solidariedade, amor. Joguem sempre na linha de frente, no ataque! So Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifcio espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja, construda com pedras, com tijolos. Na Igreja de Jesus, ns somos as pedras vivas, e Je- sus nos pede que construamos a sua Igreja; cada um de ns somos uma pedrinha da construo. Se faltar essa pedrinha, quando chover, vai se formar uma go- teira e a casa vai alagar. Cada um desse pedacinho deve cuidar da segurana e da unidade da Igreja. E vai construir uma capelinha, onde cabe somente um 68grupinho de pessoas? No, Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja to grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a voc, a cada um: Ide e fazei discpulos entre todas as naes! Nesta noite, respondamos-lhe: sim, tam- bm eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Repitam isso. Agora com vocs. Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo. Quero que pensem nisso, vocs disseram isso juntos, afinal. No cora- o jovem de vocs, existe o desejo de construir um mundo melhor. Acompanhei atentamente as notcias e vejo muitos jovens que, em tantas partes do mun- do, saram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilizao mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas querem ser protagonistas da mudana. Por favor, no deixam que outros sejam protagonistas, sejam vocs. Vocs tm o futuro nas mos. Por vocs, que o futuro chegar. Peo que vocs tambm sejam protagonistas, superando a apatia e oferecendo uma resposta crist s inquietaes sociais polticas que se colocam em diversas questes do mundo. Peo que sejam construtores do mundo. Envolvam-se num mundo melhor. Por favor, jovens, no sejam covar- des, metam-se, saiam para a vida. Jesus no ficou 69preso dentro de um casulo. Saiam do casulo. Saiam s ruas como fez Jesus. Mas, fica a pergunta: por onde comear? A quem vamos pedir que se comece isso ou aquilo? Um dia perguntaram a Madre Teresa de Calcut o que deveria mudar na Igreja, por onde comearia a mu- dar, ela respondeu: voc e eu! Ela tinha muita garra e sabia por onde comear. Hoje, peo ento a Madre Teresa e repito as palavras dela: comeamos por mim e por voc. Por favor, cada um, faa essa mesma per- gunta: se tenho que comear por mim mesmo, por onde devo comear? Abram seus coraes para que Jesus possa falar por onde devem comear. Queridos amigos, no se esqueam: vocs so o campo da f! Vocs so os atletas de Cristo! Vocs so os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senho- ra. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos d o exemplo com o seu sim a Deus: Eis aqui a serva do Senhor, faa-se em mim segundo a tua Palavra (Lc1,38). Tambm ns o dizemos a Deus, juntos com Maria: faa-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!70Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude em CopacabanaVenerados e amados Irmos no episcopado e no sacerdcio, queridos jovens! Ide e fazei discpulos entre todas as naes. Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocs, dizendo: Foi bom participar nesta Jorna- da Mundial da Juventude, vivenciar a f junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas ago- ra voc deve ir e transmitir esta experincia aos de- mais. Jesus lhe chama a ser um discpulo em misso! Hoje, luz da Palavra de Deus que acabamos de ou- vir, o que nos diz o Senhor? Trs palavras: Ide, sem medo, para servir. 1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocs pu- deram fazer a bela experincia de encontrar Jesus e de encontr-lo juntos, sentindo a alegria da f. Mas a experincia deste encontro no pode ficar trancafia- da na vida de vocs ou no pequeno grupo da par- quia, do movimento, da comunidade de vocs. Seria como cortar o oxignio a uma chama que arde. A f 71 uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais partilhada, transmitida, para que todos possam co- nhecer, amar e professar que Jesus Cristo o Senhor da vida e da histria (cf. Rm 10,9). Mas, ateno! Jesus no disse: se vocs quise- rem, se tiverem tempo, mas: Ide e fazei discpulos entre todas as naes. Partilhar a experincia da f, testemunhar a f, anunciar o Evangelho o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, tambm a voc. uma ordem sim; mas no nasce da vontade de dom- nio ou de poder, nasce da fora do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de ns e nos deu no somente um pouco de Si, mas se deu por in- teiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericrdia de Deus. Jesus no nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como ir- mos; e no somente nos envia, mas nos acompanha, est sempre junto de ns nesta misso de amor. Para onde Jesus nos manda? No h fronteiras, no h limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho para todos, e no apenas para alguns. No apenas para aqueles que parecem a ns mais prximos, mais abertos, mais acolhedores. para to- das as pessoas. No tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, at as periferias existenciais, 72incluindo quem parece mais distante, mais indiferen- te. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericrdia e do seu amor. De forma especial, queria que este mandato de Cristo -Ide - ressoasse em vocs, jovens da Igreja na Amrica Latina, comprometidos com a Misso Con- tinental promovida pelos Bispos. O Brasil, a Amrica Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: Ai de mim se eu no pregar o evangelho! (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anncio do Evan- gelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anncio confiado tambm a vocs, para que ressoe com uma fora renovada. A Igreja precisa de vocs, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apstolo do Brasil, o Bem-aventurado Jos de Anchieta, par- tiu em misso quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual o melhor instrumento para evangeli- zar os jovens? Outro jovem! Este o caminho a ser percorrido! 2. Sem medo. Algum poderia pensar: Eu no tenho nenhuma preparao especial, como que posso ir e anunciar o Evangelho? Querido amigo, esse seu temor no muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocs, quando foi 73chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de es- cutar as suas palavras: Ah! Senhor Deus, eu no sei falar, sou muito novo. Deus responde a vocs com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: No tenhas medo... pois estou contigo para defender-te (Jr 1,8). Deus est conosco! No tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discpulos em misso, Jesus prometeu: Eu estou com vocs todos os dias (Mt 28,20). E isto verdade tambm para ns! Jesus no nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocs! Alm disso, Jesus no disse: Vai, mas Ide: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e tambm a comunho dos Santos nesta misso. Quando enfrentamos juntos os desafios, ento somos fortes, descobrimos recursos que no saba- mos que tnhamos. Jesus no chamou os Apstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formas- sem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra tambm a vocs, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocs vieram acompanhando os seus jovens, e uma coisa bela 74partilhar esta experincia de f! Mas esta uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se com- prometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sin- tam sozinhos! 3. A ltima palavra: para servir. No incio do salmo proclamado, escutamos estas palavras: Can- tai ao Senhor Deus um canto novo (Sl 95, 1). Qual este canto novo? No so palavras, nem uma melo- dia, mas o canto da nossa vida, deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas aes. E a vida de Jesus uma vida para os demais. uma vida de servio. So Paulo, na leitura que ouvimos h pouco, dizia: Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior nmero possvel (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se escravo de todos. Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egosmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os ps dos nossos irmos, tal como fez Jesus. Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas trs palavras, vocs experimentaro que quem evangeliza evangelizado, quem transmite a alegria da f, recebe alegria. Queridos jovens, regressando s suas casas, 75no tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe d o poder de extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar (Jr 1,10). E assim tambm para vocs. Levar o Evangelho levar a fora de Deus, para ex- tirpar e destruir o mal e a violncia; para devastar e derrubar as barreiras do egosmo, da intolerncia e do dio; para construir um mundo novo. Jesus Cris- to conta com vocs! A Igreja conta com vocs! O Papa conta com vocs! Que Maria, Me de Jesus e nossa Me, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: Ide e fazei discpulos entre todas as na- es. Amm.76Orao do Angelus Domini em CopacabanaAmados irmos e irms! No trmino desta Celebrao Eucarstica, com a qual elevamos a Deus o nosso canto de louvor e gra- tido por todas as graas recebidas durante esta Jor- nada Mundial da Juventude, quero ainda agradecer a Dom Orani Tempesta e ao Cardeal Ryko as pala- vras que me dirigiram. 3 Agradeo tambm a vocs, queridos jovens, por todas as alegrias que me deram nestes dias. Obrigado! Levo a vocs no meu corao! Dirijamos agora o nosso olhar Me do Cu, a Virgem Maria. Nestes dias, Jesus lhes repetiu com insistncia o convite para serem seus discpulos- -missionrios; vocs escutaram a voz do Bom Pastor que lhes chamou pelo nome e vocs reconheceram a voz que lhes chamava (cf. Jo 10,4). No verdade que, nesta voz que ressoou nos seus coraes, vocs sentiram a ternura do amor de Deus? No verdade que vocs experimentaram a beleza de seguir a Cris- to, juntos, na Igreja? No verdade que vocs com-77preenderam melhor que o Evangelho a resposta ao desejo de uma vida ainda mais plena? (cf. Jo 10,10). A Virgem Imaculada intercede por ns no Cu como uma boa me que guarda dos seus filhos. Ma- ria nos ensina, com a sua existncia, o que significa ser discpulo missionrio. Cada vez que rezamos o ngelus, recordamos o acontecimento que mudou para sempre a histria dos homens. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que se tornaria a Me de Jesus, Ela - mesmo sem compreender todo o signifi- cado daquele chamado - confiou em Deus e respon- deu: Eis aqui a serva do Senhor, faa-se em mim se- gundo a tua palavra (Lc 1,38). Mas, o que fez Maria logo em seguida? Aps ter recebido a graa de ser a Me do Verbo encarnado, no guardou para si esse dom; partiu, saiu da sua casa e foi, apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda (cf. Lc 1, 38-39); cumpriu um gesto de amor, de caridade, de servio concreto, levando Jesus que trazia no ven- tre. E se apressou a fazer este gesto! Eis aqui, queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de Deus, como primeiro gesto de resposta, pe-se a caminho para servir e levar Jesus. Peamos a Nossa Senhora que tambm nos ajude a transmitir a alegria de Cris-78to aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a todas as pessoas. Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! Sair e ir com coragem e generosidade, para que cada ho- mem e cada mulher possa encontrar o Senhor. Queridos jovens, temos encontro marcado na prxima Jornada Mundial da Juventude, no ano de 2016 em Cracvia, na Polnia. Pela intercesso ma- terna de Maria, peamos a luz do Esprito Santo so- bre o caminho que nos levar a esta nova etapa da jubilosa celebrao da f e do amor de Cristo. Rezemos agora juntos o ngelus.79Encontro com a Comisso de Coordenao do CELAM no Centro de Estudos do Sumar1 Introduo Agradeo ao Senhor por esta oportunidade de poder falar com vocs, Irmos Bispos responsveis do CELAM no quadrinio 2011-2015. H 57 anos que o CELAM serve as 22 Conferncias Episcopais da Amrica Latina e do Caribe, colaborando soli- dria e subsidiariamente para promover, incentivar e dinamizar a colegialidade episcopal e a comunho entre as Igrejas da regio e seus pastores. Como vocs, tambm eu sou testemunha do forte impulso do Esprito na V Conferncia Geral do Episcopado da Amrica Latina e do Caribe, em Apa- recida no ms de maio de 2007, que continua ani- mando os trabalhos do CELAM para a anelada re- novao das Igrejas particulares. Em boa parte delas, essa renovao j est em andamento. Gostaria de centrar esta conversao no patrimnio herdado da- quele encontro fraterno e que todos batizamos como Misso Continental.802 - Caractersticas peculiares de Aparecida Existem quatro caractersticas tpicas da referi- da V Conferncia. Constituem como que quatro co- lunas do desenvolvimento de Aparecida que lhe do a sua originalidade. - Incio sem documento Medeln, Puebla e Santo Domingo comearam os seus trabalhos com um caminho preparatrio que culminou em uma espcie de Instrumentum labo- ris, com base no qual se desenrolou a discusso, a reflexo e a aprovao do documento final. Em vez disso, Aparecida promoveu a participao das Igre- jas particulares como caminho de preparao que culminou em um documento de sntese. Este docu- mento, embora tenha sido ponto de referncia du- rante a V Conferncia Geral, no foi assumido como documento de partida. O trabalho inicial foi pr em comum as preocupaes dos pastores perante a mu- dana de poca e a necessidade de recuperar a vida de discpulo e missionrio com que Cristo fundou a Igreja. - Ambiente de orao com o Povo de Deus importante lembrar o ambiente de orao gerado pela partilha diria da Eucaristia e de outros 81momentos litrgicos, tendo sido sempre acompa- nhados pelo Povo de Deus. Alm disso, realizando- -se os trabalhos na cripta do Santurio, a msica de fundo que os acompanhava era constituda pelos cnticos e as oraes dos fiis. - Documento que se prolonga em compromisso, com a Misso Continental Neste contexto de orao e vivncia de f, sur- giu o desejo de um novo Pentecostes para a Igreja e o compromisso da Misso Continental. Aparecida no termina com um documento, mas prolonga-se na Misso Continental. - A presena de Nossa Senhora, Me da Amrica a primeira Conferncia do Episcopado da Amrica Latina e do Caribe que se realiza em um Santurio mariano. 3 - Dimenses da Misso Continental A Misso Continental est projetada em duas dimenses: programtica e paradigmtica. A misso programtica, como o prprio nome indica, consiste na realizao de atos de ndole missionria. A misso paradigmtica, por sua vez, implica colocar em chave missionria a atividade habitual das Igrejas particu- lares. Em consequncia disso, evidentemente, verifi-82ca-se toda uma dinmica de reforma das estruturas eclesiais. A mudana de estruturas (de caducas a novas) no fruto de um estudo de organizao do organograma funcional eclesistico, de que resulta- ria uma reorganizao esttica, mas consequncia da dinmica da misso. O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os coraes dos cristos justamente a missionariedade. Daqui a importncia da misso paradigmtica. A Misso Continental, tanto programtica como paradigmtica, exige gerar a conscincia de uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e homens de boa vontade. O discpulo de Cristo no uma pessoa isolada em uma espiritu- alidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros. Portanto, a Misso Continen- tal implica pertena eclesial. Uma posio como esta, que comea pelo disci- pulado missionrio e implica entender a identidade do cristo como pertena eclesial, pede que explicite- mos quais so os desafios vigentes da missionarieda- de discipular. Me limito a assinalar dois: a renovao interna da Igreja e o dilogo com o mundo atual.Renovao interna da Igreja83Aparecida props como necessria a Converso Pastoral. Esta converso implica acreditar na Boa Nova, acreditar em Jesus Cristo portador do Reino de Deus, em sua irrupo no mundo, em sua presena vitoriosa sobre o mal; acreditar na assistncia e guia do Esprito Santo; acreditar na Igreja, Corpo de Cris- to e prolongamento do dinamismo da Encarnao. Neste sentido, necessrio que nos interrogue- mos, como pastores, sobre o andamento das Igrejas a que presidimos. Estas perguntas servem de guia para examinar o estado das dioceses quanto adoo do esprito de Aparecida, e so perguntas que conveniente pr- -nos, muitas vezes, como exame de conscincia. 1) Procuramos que o nosso trabalho e o de nos- sos presbteros seja mais pastoral que administrati- vo? Quem o principal beneficirio do trabalho ecle- sial, a Igreja como organizao ou o Povo de Deus na sua totalidade? 2) Superamos a tentao de tratar de forma re- ativa os problemas complexos que surgem? Criamos um hbito proativo? Promovemos espaos e ocasies para manifestar a misericrdia de Deus? Estamos conscientes da responsabilidade de repensar as atitu-84des pastorais e o funcionamento das estruturas ecle- siais, buscando o bem dos fiis e da sociedade? 3) Na prtica, fazemos os fiis leigos participan- tes da misso? Oferecemos a palavra de Deus e os sacramentos com conscincia e convico claras de que o Esprito se manifesta neles? 4) Temos como critrio habitual o discernimen- to pastoral, servindo-nos dos Conselhos Diocesa- nos? Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de Assuntos Econmicos so espaos reais para a participao laical na consulta, organizao e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso. 5) Ns, Pastores Bispos e Presbteros, temos conscincia e convico da misso dos fiis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acor- do com o seu processo de discpulos, a misso que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e acompanhamos, superando qualquer tentao de manipulao ou in- devida submisso? Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da Igreja e da sua Misso no mundo? 6) Os agentes de pastoral e os fiis em geral sen-85tem-se parte da Igreja, identificam-se com ela e apro- ximam-na dos batizados indiferentes e afastados? Como se pode ver, aqui esto em jogo atitudes. A Converso Pastoral diz respeito, principalmente, s atitudes e a uma reforma de vida. Uma mudana de atitudes necessariamente dinmica: entra em processo e s possvel moder-lo acompanhando- -o e discernindo-o. importante ter sempre presente que a bssola, para no se perder nesse caminho, a identidade catlica concebida como pertena eclesial. Dilogo com o mundo atual Faz-nos bem lembrar estas palavras do Conclio Vaticano II: As alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e atribulados, so tambm alegrias e espe- ranas, tristezas e angstias dos discpulos de Cristo (cf. GS, 1). Aqui reside o fundamento do dilogo com o mundo atual. A resposta s questes existenciais do homem de hoje, especialmente das novas geraes, atenden- do sua linguagem, entranha uma mudana fecunda que devemos realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistrio e da Doutrina Social da Igreja. Os cen- rios e arepagos so os mais variados. Por exemplo, em uma mesma cidade, existem vrios imaginrios 86coletivos que configuram diferentes cidades. Se continuarmos apenas com os parmetros da cultura de sempre, fundamentalmente uma cultura de base rural, o resultado acabar anulando a fora do Esp- rito Santo. Deus est em toda a parte: h que saber descobr-lo para poder anunci-lo no idioma dessa cultura; e cada realidade, cada idioma tem um ritmo diferente. 4 - Algumas tentaes contra o discipulado missionrio A opo pela missionariedade do discpulo so- frer tentaes. importante saber por onde entra o esprito mau, para nos ajudar no discernimento. No se trata de sair caa de demnios, mas simplesmen- te de lucidez e prudncia evanglicas. Limito-me a mencionar algumas atitudes que configuram uma Igreja tentada. Trata-se de conhecer determinadas propostas atuais que podem mimetizar-se em a din- mica do discipulado missionrio e deter, at faz-lo fracassar, o processo de Converso Pastoral. 1) A ideologizao da mensagem evanglica. uma tentao que se verificou na Igreja desde o in- cio: procurar uma hermenutica de interpretao evanglica fora da prpria mensagem do Evangelho e fora da Igreja.87Um exemplo: a dado momento, Aparecida so- freu essa tentao sob a forma de assepsia. Foi usado, e est bem, o mtodo de ver, julgar, agir. A tentao se encontraria em optar por um ver totalmente as- sptico, um ver neutro, o que no vivel. O ver est sempre condicionado pelo olhar. No h uma hermenutica assptica. Ento a pergunta era: Com que olhar vamos ver a realidade? Aparecida respon- deu: Com o olhar de discpulo. Assim se entendem os nmeros 20 a 32. Existem outras maneiras de ide- ologizao da mensagem e, atualmente, aparecem na Amrica Latina e no Caribe propostas desta ndole. Menciono apenas algumas: a) O reducionismo socializante. a ideologiza- o mais fcil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretenso interpretativa com base em uma hermenutica de acordo com as cincias sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado at a categorizao marxista. b) A ideologizao psicolgica. Trata-se de uma hermenutica elitista que, em ltima anlise, reduz o encontro com Jesus Cristo e seu sucessivo desen- volvimento a uma dinmica de autoconhecimento. Costuma verificar-se principalmente em cursos 88de espiritualidade, retiros espirituais, etc. Acaba por resultar numa posio imanente autorreferencial. No tem sabor de transcendncia, nem portanto de missionariedade. c) A proposta gnstica. Muito ligada tentao anterior. Costuma ocorrer em grupos de elites com uma proposta de espiritualidade superior, bastante desencarnada, que acaba por desembocar em posi- es pastorais de quaestiones disputatae. Foi o pri- meiro desvio da comunidade primitiva e reaparece, ao longo da histria da Igreja, em edies corrigidas e renovadas. Vulgarmente so denominados catli- cos iluminados (por serem atualmente herdeiros do Iluminismo). d) A proposta pelagiana. Aparece fundamen- talmente sob a forma de restauracionismo. Perante os males da Igreja, busca-se uma soluo apenas na disciplina, na restaurao de condutas e formas su- peradas que, mesmo culturalmente, no possuem ca- pacidade significativa. Na Amrica Latina, costuma verificar-se em pequenos grupos, em algumas novas Congregaes Religiosas, em tendncias para a se- gurana doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmen- te esttica, embora possa prometer uma dinmica 89para dentro: regride. Procura recuperar o passado perdido. 2) O funcionalismo. A sua ao na Igreja pa- ralisante. Mais do que com a rota, se entusiasma com o roteiro. A concepo funcionalista no tolera o mistrio, aposta na eficcia. Reduz a realidade da Igreja estrutura de uma ONG. O que vale o resul- tado palpvel e as estatsticas. A partir disso, chega-se a todas as modalidades empresariais de Igreja. Cons- titui uma espcie de teologia da prosperidade no organograma da pastoral. 3) O clericalismo tambm uma tentao mui- to atual na Amrica Latina. Curiosamente, na maio- ria dos casos, trata-se de uma cumplicidade viciosa: o sacerdote clericaliza e o leigo lhe pede por favor que o clericalize, porque, no fundo, lhe resulta mais cmodo. O fenmeno do clericalismo explica, em grande parte, a falta de maturidade adulta e de li- berdade crist em boa parte do laicato da Amrica Latina: ou no cresce (a maioria), ou se abriga sob coberturas de ideologizaes como as indicadas, ou ainda em pertenas parciais e limitadas. Em nossas terras, existe uma forma de liberda- de laical atravs de experincias de povo: o catlico como povo. Aqui v-se uma maior autonomia, ge-90ralmente sadia, que se expressa fundamentalmente na piedade popular. O captulo de Aparecida sobre a piedade popular descreve, em profundidade, essa di- menso. A proposta dos grupos bblicos, das comu- nidades eclesiais de base e dos Conselhos pastorais est na linha de superao do clericalismo e de um crescimento da responsabilidade laical. Poderamos continuar descrevendo outras ten- taes contra o discipulado missionrio, mas acho que estas so as mais importantes e com maior fora neste momento da Amrica Latina e do Caribe. 5 - Algumas orientaes eclesiolgicas a) O discipulado-missionrio que Aparecida props s Igrejas da Amrica Latina e do Caribe o caminho que Deus quer para hoje. Toda a proje- o utpica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) no do esprito bom. Deus real e se manifesta no hoje. A sua presena, no passado, se nos oferece como memria da saga de salvao re- alizada quer em seu povo quer em cada um de ns; no futuro, se nos oferece como promessa e esperan- a. No passado, Deus esteve l e deixou sua marca: a memria nos ajuda encontr-lo; no futuro, apenas promessa... e no est nos mil e um futurveis. O hoje o que mais se parece com a eternidade; mais 91ainda: o hoje uma centelha de eternidade. No hoje, se joga a vida eterna. O discipulado missionrio vocao: chamad