homilias do papa francisco 2013

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Conteúdo Nenhuma entrada de sumário foi encontrada. SANTA MISSA COM OS CARDEAIS HOMILIA DO PAPA FRANCISCO Capela Sistina Quinta-feira, 14 de Março de 2013 Vídeo Galeria fotográfica Vejo que estas três Leituras têm algo em comum: é o movimento. Na primeira Leitura, o movimento no caminho; na segunda Leitura, o movimento na edificação da Igreja; na terceira, no Evangelho, o movimento na confissão. Caminhar, edificar, confessar. Caminhar. «Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos à luz do Senhor» (Is 2, 5). Trata-se da primeira coisa que Deus disse a Abraão: caminha na minha presença e sê irrepreensível. Caminhar: a nossa vida é um caminho e, quando nos detemos, está errado. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, procurando viver com aquela irrepreensibilidade que Deus pedia a Abraão, na sua promessa. Edificar. Edificar a Igreja. Fala-se de pedras: as pedras têm consistência; mas pedras vivas, pedras ungidas pelo Espírito Santo. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que é o próprio Senhor. Aqui temos outro movimento da nossa vida: edificar. Terceiro, confessar. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência. Quando não se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: «Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo». Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio. Caminhar, edificar-construir, confessar. Mas a realidade não é tão fácil, porque às vezes, quando se caminha, constrói ou confessa, sentem-se abalos, há movimentos que não são os movimentos próprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trás. Este Evangelho continua com uma situação especial. O próprio Pedro que confessou Jesus Cristo com estas palavras: Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo, diz-lhe: Eu sigo-Te, mas de Cruz não se fala. Isso não vem a propósito. Sigo-Te com outras possibilidades, sem a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor. Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante. Faço votos de que, pela intercessão de Maria, nossa Mãe, o Espírito Santo conceda a todos nós esta graça: caminhar, edificar, confessar Jesus Cristo Crucificado. Assim seja. SANTA MISSA NA IGREJA DE SANTA ANA NO VATICANO HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO V Domingo de Quaresma, 17 de Março de 2013

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ContedoNenhuma entrada de sumrio foi encontrada.SANTA MISSA COM OS CARDEAISHOMILIA DO PAPA FRANCISCOCapela SistinaQuinta-feira, 14 de Maro de 2013VdeoGaleria fotogrficaVejo que estas trs Leituras tm algo em comum: o movimento. Na primeira Leitura, o movimento no caminho; na segunda Leitura, o movimento na edificao da Igreja; na terceira, no Evangelho, o movimento na confisso. Caminhar, edificar, confessar.Caminhar. Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos luz do Senhor (Is2, 5). Trata-se da primeira coisa que Deus disse a Abrao: caminha na minha presena e s irrepreensvel. Caminhar: a nossa vida um caminho e, quando nos detemos, est errado. Caminhar sempre, na presena do Senhor, luz do Senhor, procurando viver com aquela irrepreensibilidade que Deus pedia a Abrao, na sua promessa.Edificar. Edificar a Igreja. Fala-se de pedras: as pedras tm consistncia; mas pedras vivas, pedras ungidas pelo Esprito Santo. Edificar a Igreja, a Esposa de Cristo, sobre aquela pedra angular que o prprio Senhor. Aqui temos outro movimento da nossa vida: edificar.Terceiro, confessar. Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se no confessarmos Jesus Cristo, est errado. Tornar-nos-emos uma ONG scio-caritativa, mas no a Igreja, Esposa do Senhor. Quando no se caminha, ficamos parados. Quando no se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que s crianas na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, no tem consistncia. Quando no se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Lon Bloy: Quem no reza ao Senhor, reza ao diabo. Quando no confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demnio.Caminhar, edificar-construir, confessar. Mas a realidade no to fcil, porque s vezes, quando se caminha, constri ou confessa, sentem-se abalos, h movimentos que no so os movimentos prprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trs.Este Evangelho continua com uma situao especial. O prprio Pedro que confessou Jesus Cristo com estas palavras: Tu s Cristo, o Filho de Deus vivo, diz-lhe: Eu sigo-Te, mas de Cruz no se fala. Isso no vem a propsito. Sigo-Te com outras possibilidades, sem a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, no somos discpulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas no discpulos do Senhor.Eu queria que, depois destes dias de graa, todos ns tivssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presena do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que derramado na Cruz; e de confessar como nossa nica glria Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante.Fao votos de que, pela intercesso de Maria, nossa Me, o Esprito Santo conceda a todos ns esta graa: caminhar, edificar, confessar Jesus Cristo Crucificado. Assim seja.SANTA MISSA NA IGREJA DE SANTA ANA NO VATICANOHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOV Domingo de Quaresma, 17 de Maro de 2013VdeoGaleria fotogrficaGaleria fotogrfica 2Considero isto muito belo! Primeiro, Jesus sozinho no monte a rezar: rezava sozinho (cf.Jo8, 1). Depois, foi de novo para o templo, e todo o povo ia ter com Ele (cf. v. 2): Jesus no meio do povo. E, no fim, deixaram-No sozinho com a mulher (cf. v. 9). Esta solido de Jesus uma solido fecunda: tanto a da orao com o Pai, como a solido to bela precisamente a mensagem da Igreja, hoje da sua misericrdia com esta mulher.Mas, entre o povo, tambm havia diferenas: aparece o povo inteiro que ia ter com Ele e Ele sentou-se e ps-Se a ensin-lo: o povo que queria ouvir as palavras de Jesus, o povo de corao aberto, necessitado da Palavra de Deus. E temos outros, que no ouviam nada, no podiam ouvir: eram aqueles que acompanhavam aquela mulher: Ouve, Mestre! Esta mulher uma daquelas que... Com este tipo de mulher, devemos fazer o que nos prescreveu Moiss (cf. vv. 4-5).Penso que ns tambm somos este povo que, por um lado, quer ouvir Jesus, mas, por outro, s vezes agrada-nos malhar nos outros, condenar os outros. Ora a mensagem de Jesus sempre a mesma: a misericrdia. A meu ver humildemente o afirmo , a mensagem mais forte do Senhor: a misericrdia. Ele prprio o disse: Eu no vim para os justos; os justos justificam-se sozinhos alto l, bendito Senhor! Se Tu podes faz-lo, eu no posso! Sim, mas eles acreditam que o podem fazer. Eu vim para os pecadores (cf.Mc2, 17).Pensai nas crticas que Lhe fizeram, depois de chamar Mateus: Ele convive com os pecadores! (cf.Mc2, 16). Sim, Ele veio para ns, se nos reconhecermos pecadores; mas, se formos como aquele fariseu frente do altar eu Vos dou graas, Senhor, por no ser como o resto dos homens, nem como aquele que est ali porta, como aquele publicano (cf.Lc18, 11-12) no conhecemos o corao do Senhor e nunca teremos a alegria de sentir esta misericrdia! No fcil entregar-se misericrdia de Deus, porque se trata de um abismo incompreensvel. Mas devemos faz-lo! Oh padre, se conhecesses a minha vida, no me falarias assim! Porqu? Que fizeste? Oh, fi-las grandes e graves! Melhor! Vai ter com Jesus; Ele gosta que Lhe contes essas coisas!. Ele esquece; Ele tem uma capacidade especial de esquecer. Esquece, beija-te, abraa-te e apenas te diz: Tambm Eu no te condeno! Vai, e doravante no tornes a pecar (Jo8, 11). Este o nico conselho que te d. Passado um ms, estamos nas mesmas condies... Voltemos ao Senhor! O Senhor nunca Se cansa de perdoar, nunca! Somos ns que nos cansamos de Lhe pedir perdo. Peamos a graa de no nos cansarmos de pedir perdo, porque Ele jamais Se cansa de perdoar. Peamos esta graa!SANTA MISSAIMPOSIO DO PLIO E ENTREGA DO ANEL DO PESCADORPARA O INCIO DO MINISTRIO PETRINODO BISPO DE ROMAHOMILIA DO PAPA FRANCISCOPraa de So PedroTera-feira, 19 de Maro de 2013Solenidade de So JosVdeoGaleria fotogrficaGaleria fotogrfica 2Queridos irmos e irms!Agradeo ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de incio do ministrio petrino na solenidade de So Jos, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: uma coincidncia densa de significado e tambm o onomstico do meuvenerado Predecessor: acompanhamo-lo com a orao, cheia de estima e gratido.Sado, com afecto, os Irmos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diconos, os religiosos e as religiosas e todos os fiis leigos. Agradeo, pela sua presena, aos Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudao aos Chefes de Estado e de Governo, s Delegaes oficiais de tantos pases do mundo e ao Corpo Diplomtico.Ouvimos ler, no Evangelho, que Jos fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa (Mt1, 24). Nestas palavras, encerra-se j a misso que Deus confia a Jos: sercustos, guardio. Guardio de quem? De Maria e de Jesus, mas uma guarda que depois se alarga Igreja, como sublinhou o BeatoJoo Paulo II: So Jos, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso educao de Jesus Cristo, assim tambm guarda e protege o seu Corpo mstico, a Igreja, da qual a Virgem Santssima figura e modelo (Exort. ap.Redemptoris Custos, 1).Como realiza Jos esta guarda? Com discrio, com humildade, no silncio, mas com uma presena constante e uma fidelidade total, mesmo quando no consegue entender. Desde o casamento com Maria at ao episdio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalm, acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difceis da vida, na ida a Belm para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento dramtico da fuga para o Egipto e na busca preocupada do filho no templo; e depois na vida quotidiana da casa de Nazar, na carpintaria onde ensinou o ofcio a Jesus.Como vive Jos a sua vocao de guardio de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante ateno a Deus, aberto aos seus sinais, disponvel mais ao projecto dEle que ao seu. E isto mesmo o que Deus pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus no deseja uma casa construda pelo homem, mas quer a fidelidade sua Palavra, ao seu desgnio; e o prprio Deus que constri a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu Esprito. E Jos guardio, porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensvel com as pessoas que lhe esto confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, est atento quilo que o rodeia, e toma as decises mais sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde vocao de Deus: com disponibilidade e prontido; mas vemos tambm qual o centro da vocao crist: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criao!Entretanto a vocao de guardio no diz respeito apenas a ns, cristos, mas tem uma dimenso antecedente, que simplesmente humana e diz respeito a todos: a de guardar a criao inteira, a beleza da criao, como se diz no livro de Gnesis e nos mostrou So Francisco de Assis: ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianas, dos idosos, daqueles que so mais frgeis e que muitas vezes esto na periferia do nosso corao. cuidar uns dos outros na famlia: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os prprios filhos tornam-se guardies dos pais. viver com sinceridade as amizades, que so um mtuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo est confiado guarda do homem, e uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardies dos dons de Deus!E quando o homem falha nesta responsabilidade, quando no cuidamos da criao e dos irmos, ento encontra lugar a destruio e o corao fica ressequido. Infelizmente, em cada poca da histria, existem Herodes que tramam desgnios de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em mbito econmico, poltico ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos guardies da criao, do desgnio de Deus inscrito na natureza, guardies do outro, do ambiente; no deixemos que sinais de destruio e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para guardar, devemos tambm cuidar de ns mesmos. Lembremo-nos de que o dio, a inveja, o orgulho sujam a vida; ento guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso corao, porque dele que saem as boas intenes e as ms: aquelas que edificam e as que destroem. No devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura.A propsito, deixai-me acrescentar mais uma observao: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, So Jos aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu ntimo, sobressai uma grande ternura, que no a virtude dos fracos, antes pelo contrrio denota fortaleza de nimo e capacidade de solicitude, de compaixo, de verdadeira abertura ao outro, de amor. No devemos ter medo da bondade, da ternura!Hoje, juntamente com a festa de So Jos, celebramos o incio do ministrio do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui tambm um poder. certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? trplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o trplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. No esqueamos jamais que o verdadeiro poder o servio, e que o prprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele servio que tem o seu vrtice luminoso na Cruz; deve olhar para o servio humilde, concreto, rico de f, de So Jos e, como ele, abrir os braos para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afecto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juzo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, estrangeiro, est nu, doente, na priso (cf.Mt25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger.Na segunda Leitura, So Paulo fala de Abrao, que acreditou com uma esperana, para alm do que se podia esperar (Rm4, 18). Com uma esperana, para alm do que se podia esperar! Tambm hoje, perante tantos pedaos de cu cinzento, h necessidade de ver a luz da esperana e de darmos ns mesmos esperana. Guardar a criao, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, abrir o horizonte da esperana, abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, levar o calor da esperana! E, para o crente, para ns cristos, como Abrao, como So Jos, a esperana que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, est fundada sobre a rocha que Deus.Guardar Jesus com Maria, guardar a criao inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a ns mesmos: eis um servio que o Bispo de Roma est chamado a cumprir, mas para o qual todos ns estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperana: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!Peo a intercesso da Virgem Maria, de So Jos, de So Pedro e So Paulo, de So Francisco, para que o Esprito Santo acompanhe o meu ministrio, e, a todos vs, digo: rezai por mim! Amen.CELEBRAO DO DOMINGO DE RAMOSE DA PAIXO DO SENHORHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPraa de So PedroXXVIII Jornada Mundial da JuventudeDomingo, 24 de maro de 2013VdeoGaleria fotogrfica1. Jesus entra em Jerusalm. A multido dos discpulos acompanha-O em festa, os mantos so estendidos diante dEle, fala-se dos prodgios que realizou, ergue-se um grito de louvor: Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no cu e glria nas alturas! (Lc19, 38).Multido, festa, louvor, bno, paz: respira-se um clima de alegria. Jesus despertou tantas esperanas no corao, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que no contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misrias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus e inclinou-Se para curar o corpo e a alma.Assim Jesus. Assim o seu corao, que nos v a todos, que v as nossas enfermidades, os nossos pecados. Grande o amor de Jesus! E entra em Jerusalm assim com este amor que nos v a todos. um espectculo lindo: cheio de luza luz do amor de Jesus, do amor do seu corao, de alegria, de festa.No incio da Missa, tambm ns o reproduzimos. Agitmos os nossos ramos de palmeira. Tambm ns acolhemos Jesus; tambm ns manifestamos a alegria de O acompanhar, de O sentir perto de ns, presente em ns e no nosso meio, como um amigo, como um irmo, mas tambm como rei, isto , como farol luminoso da nossa vida. Jesus Deus, mas desceu a caminhar connosco como nosso amigo, como nosso irmo; e aqui nos ilumina ao longo do caminho. E assim hoje O acolhemos. E aqui temos a primeira palavra que vos queria dizer:alegria! Nunca sejais homens e mulheres tristes: um cristo no o pode ser jamais! Nunca vos deixeis invadir pelo desnimo! A nossa alegria no nasce do facto de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus,que est no meio de ns; nasce do facto de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos difceis, mesmo quando o caminho da vida confrontado com problemas e obstculos que parecem insuperveis e h tantos! E nestes momentos vem o inimigo, vem o diabo, muitas vezes disfarado de anjo, e insidiosamente nos diz a sua palavra. No o escuteis! Sigamos Jesus! Ns acompanhamos, seguimos Jesus, mas sobretudo sabemos que Ele nos acompanha e nos carrega aos seus ombros: aqui est a nossa alegria, a esperana que devemos levar a este nosso mundo. E, por favor, no deixeis que vos roubem a esperana! No deixeis roubar a esperana aquela que nos d Jesus!2.Segunda palavra. Para que entra Jesus em Jerusalm? Ou talvez melhor: Como entra Jesus em Jerusalm? A multido aclama-O como Rei. E Ele no Se ope, no a manda calar (cf.Lc19, 39-40). Mas, que tipo de Rei seria Jesus? Vejamo-Lo Monta um jumentinho, no tem uma corte como squito, nem est rodeado de um exrcito como smbolo de fora. Quem O acolhe so pessoas humildes, simples,que possuem um sentido para ver em Jesus algo mais; tm o sentido da f que diz: Este o Salvador. Jesus no entra na Cidade Santa, para receber as honras reservadas aos reis terrenos, a quem tem poder, a quem domina; entra para ser flagelado, insultado e ultrajado, como preanuncia Isaas na Primeira Leitura (cf.Is50, 6); entra para receber uma coroa de espinhos, uma cana, um manto de prpura (a sua realeza ser objecto de ludbrio); entra para subir ao Calvrio carregado com um madeiro. E aqui temos a segunda palavra:Cruz. Jesus entra em Jerusalm para morrer na Cruz. E precisamente aqui que refulge o seu ser Rei segundo Deus: o seu trono real o madeiro da Cruz! Vem-me mente aquilo queBento XVIdizia aos Cardeais: Vs sois prncipes, mas de um Rei crucificado. Tal o trono de Jesus. Jesus toma-o sobre Si Porqu a Cruz? Porque Jesus toma sobre Si o mal, a sujeira, o pecado do mundo, incluindo o nosso pecado, o pecado de todos ns, e lava-o; lava-o com o seu sangue, com a misericrdia, com o amor de Deus. Olhemos ao nosso redor Tantas feridas infligidas pelo mal humanidade: guerras, violncias, conflitos econmicos que atingem quem mais fraco, sede de dinheiro, que depois ningum pode levar consigo, ter de o deixar. A minha av dizia-nos (ramos ns meninos): a mortalha no tem bolsos. Amor ao dinheiro, poder, corrupo, divises, crimes contra a vida humana e contra a criao! E tambm como bem o sabe e conhece cada um de ns-os nossos pecados pessoais: as faltas de amor e respeito para com Deus, com o prximo e com a criao inteira. E na cruz, Jesus sente todo o peso do mal e, com a fora do amor de Deus, vence-o, derrota-o na sua ressurreio. Este o bem que Jesus realiza por todos ns sobre o trono da Cruz. Abraada com amor, a cruz de Cristo nunca leva tristeza, mas alegria, alegria de sermos salvos e de realizarmos um bocadinho daquilo que Ele fez no dia da sua morte.3. Hoje, nesta Praa, h tantos jovens. Desde h 28 anos que o Domingo de Ramos aJornada da Juventude! E aqui aparece a terceira palavra:jovens! Queridos jovens, vi-vos quando entrveis em procisso; imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus, agitando os ramos de oliveira; imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vs tendes um parte importante na festa da f! Vs trazeis-nos a alegria da f e dizeis-nos que devemos viver a f com um corao jovem, sempre: um corao jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Corao jovem! Com Cristo, o corao nunca envelhece. Entretanto todos sabemos e bem o sabeis vs que o Rei que seguimos e nos acompanha, muito especial: um Rei que ama at cruz e nos ensina a servir, a amar. E vs no tendes vergonha da sua Cruz; antes, abraai-la, porque compreendestes que no dom de si,no dom de si, no sair de si mesmo, que se alcana a verdadeira alegria e que com o amor de Deus Ele venceu o mal. Vs levais a Cruz peregrina por todos os continentes, pelas estradas do mundo. Levai-la, correspondendo ao convite de Jesus: Ide e fazei discpulos entre as naes (cf.Mt28, 19), que o tema da Jornada da Juventude deste ano. Levai-la para dizer a todos que, na cruz, Jesus abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e trouxe a reconciliao e a paz. Queridos amigos, na esteira do BeatoJoo Paulo IIe deBento XVI, tambm eu, desde hoje, me ponho a caminho convosco. J estamos perto da prxima etapa desta grande peregrinao da Cruz. Olho com alegria para o prximo ms de Julho, no Rio de Janeiro. Vinde! Encontramo-nos naquela grande cidade do Brasil! Preparai-vos bem, sobretudo espiritualmente, nas vossas comunidades, para que o referido Encontro seja um sinal de f para o mundo inteiro. Os jovens devem dizer ao mundo: bom seguir Jesus; bom andar com Jesus; boa a mensagem de Jesus; bom sair de ns mesmos para levar Jesus s periferias do mundo e da existncia. Trs palavras: alegria, cruz, jovens.Peamos a intercesso da Virgem Maria. Que Ela nos ensine a alegria do encontro com Cristo, o amor com que O devemos contemplar ao p da cruz, o entusiasmo do corao jovem com que O devemos seguir nesta Semana Santa e por toda a nossa vida. Assim seja.SANTA MISSA CRISMALHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOBaslica VaticanaQuinta-feira Santa, 28 de Maro de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irmsCom alegria, celebro pela primeira vez a Missa Crismal como Bispo de Roma. Sado com afecto a todos vs, especialmente aos amados sacerdotes que hoje recordam, como eu, o dia da Ordenao.As Leituras e o Salmo falam-nos dos Ungidos: o Servo de Jav referido por Isaas, o rei David e Jesus nosso Senhor. Nos trs, aparece um dado comum: a uno recebida destina-se ao povo fiel de Deus, de quem so servidores; a sua uno para os pobres, os presos, os oprimidos Encontramos uma imagem muito bela de que o santo crisma para no Salmo 133: como leo perfumado derramado sobre a cabea, a escorrer pela barba, a barba de Aaro, a escorrer at orla das suas vestes (v. 2). Este leo derramado, que escorre pela barba de Aaro at orla das suas vestes, imagem da uno sacerdotal, que, por intermdio do Ungido, chega at aos confins do universo representado nas vestes.As vestes sagradas do Sumo Sacerdote so ricas de simbolismos; um deles o dos nomes dos filhos de Israel gravados nas pedras de nix que adornavam as ombreiras do efod, do qual provm a nossa casula actual: seis sobre a pedra do ombro direito e seis na do ombro esquerdo (cf. Ex 28, 6-14). Tambm no peitoral estavam gravados os nomes das doze tribos de Israel (cf. Ex 28, 21). Isto significa que o sacerdote celebra levando sobre os ombros o povo que lhe est confiado e tendo os seus nomes gravados no corao. Quando envergamos a nossa casula humilde pode fazer-nos bem sentir sobre os ombros e no corao o peso e o rosto do nosso povo fiel, dos nossos santos e dos nossos mrtires, que so tantos neste tempo.Depois da beleza de tudo o que litrgico que no se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos, mas presena da glria do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado , fixemos agora o olhar na aco. O leo precioso, que unge a cabea de Aaro, no se limita a perfum-lo a ele, mas espalha-se e atinge as periferias. O Senhor dir claramente que a sua uno para os pobres, os presos, os doentes e quantos esto tristes e abandonados. A uno, amados irmos, no para nos perfumar a ns mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o leo tornar-se-ia ranoso... e o corao amargo.O bom sacerdote reconhece-se pelo modo como ungido o seu povo; temos aqui uma prova clara. Nota-se quando o nosso povo ungido com leo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem recebeu uma boa notcia. O nosso povo gosta do Evangelho quando pregado com uno, quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o leo de Aaro at s bordas da realidade, quando ilumina as situaes extremas, as periferias onde o povo fiel est mais exposto invaso daqueles que querem saquear a sua f. As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezmos a partir das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angstias e esperanas. E, quando sentem que, atravs de ns, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: Reze por mim, padre, porque tenho este problema, abenoe-me, padre, reze para mim Estas confidncias so o sinal de que a uno chegou orla do manto, porque transformada em splica splica do Povo de Deus. Quando estamos nesta relao com Deus e com o seu Povo e a graa passa atravs de ns, ento somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens. O que pretendo sublinhar que devemos reavivar sempre a graa, para intuirmos, em cada pedido por vezes inoportuno, puramente material ou mesmo banal (mas s aparentemente!) , o desejo que tem o nosso povo de ser ungido com o leo perfumado, porque sabe que ns o possumos. Intuir e sentir, como o Senhor sentiu a angstia permeada de esperana da hemorrossa quando ela Lhe tocou a fmbria do manto. Este instante de Jesus, no meio das pessoas que O rodeavam por todos os lados, encarna toda a beleza de Aaro revestido sacerdotalmente e com o leo que escorre pelas suas vestes. uma beleza escondida, que brilha apenas para aqueles olhos cheios de f da mulher atormentada com as perdas de sangue. Os prprios discpulos futuros sacerdotes no conseguem ver, no compreendem: na periferia existencial, vem apenas a superficialidade duma multido que aperta Jesus de todos os lados quase O sufocando (cf. Lc 8, 42). Ao contrrio, o Senhor sente a fora da uno divina que chega s bordas do seu manto. preciso chegar a experimentar assim a nossa uno, com o seu poder e a sua eficcia redentora: nas periferias onde no falta sofrimento, h sangue derramado, h cegueira que quer ver, h prisioneiros de tantos patres maus. No , concretamente, nas auto-experincias ou nas reiteradas introspeces que encontramos o Senhor: os cursos de auto-ajuda na vida podem ser teis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de mtodo em mtodo leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graa, que se activa e cresce na medida em que, com f, samos para nos dar a ns mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca uno que temos queles que no tm nada de nada.O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco no digo nada, porque, graas a Deus, o povo nos rouba a uno , perde o melhor do nosso povo, aquilo que capaz de activar a parte mais profunda do seu corao presbiteral. Quem no sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermedirio, um gestor. A diferena bem conhecida de todos: o intermedirio e o gestor j receberam a sua recompensa. que, no colocando em jogo a pele e o prprio corao, no recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do corao; e daqui deriva precisamente a insatisfao de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espcie de coleccionadores de antiguidades ou ento de novidades, em vez de serem pastores com o cheiro das ovelhas isto vo-lo peo: sede pastores com o cheiro das ovelhas, que se sinta este , serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens. verdade que a chamada crise de identidade sacerdotal nos ameaa a todos e vem juntar-se a uma crise de civilizao; mas, se soubermos quebrar a sua onda, poderemos fazer-nos ao largo no nome do Senhor e lanar as redes. um bem que a prpria realidade nos faa ir para onde, aquilo que somos por graa, aparea claramente como pura graa, ou seja, para este mar que o mundo actual onde vale s a uno no a funo e se revelam fecundas unicamente as redes lanadas no nome dAquele em quem pusemos a nossa confiana: Jesus.Amados fiis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afecto e a orao, para que sejam sempre Pastores segundo o corao de Deus.Amados sacerdotes, Deus Pai renove em ns o Esprito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso corao de tal modo que a uno chegue a todos, mesmo nas periferias onde o nosso povo fiel mais a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discpulos do Senhor, sinta que estamos revestidos com os seus nomes e no procuramos outra identidade; e que ele possa receber, atravs das nossas palavras e obras, este leo da alegria que nos veio trazer Jesus, o Ungido. Amen.SANTA MISSA NA CEIA DO SENHORHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOCrcere paraMenores "Casal del Marmo" em RomaQuinta-feira Santa, 28 de maro de 2013VdeoGaleria fotogrficaIsto comovente: Jesus lava os ps dos seus discpulos. Pedro no compreendia nada, rejeitava. Mas Jesus lhe explicou. Jesus Deus agiu deste modo! O prprio Jesus explica aos discpulos: Compreendeis o que acabo de fazer? Vs me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os ps, tambm vs deveis lavar os ps uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que faais a mesma coisa que eu fiz (Jo 13, 12-15). o exemplo do Senhor: Ele o mais importante e lava os ps, porque entre ns aquele que est mais elevado deve estar ao servio dos outros. E isto um smbolo, um sinal, no verdade? Lavar os ps significa: eu estou ao teu servio. E tambm ns, entre ns, no que isto signifique de devamos lavar os ps todos os dias uns dos outros, mas qual o seu significado? Significa que devemos nos ajudar, uns aos outros. s vezes, fico com raiva de algum, de um, de uma... mas deixa para l, deixa para l, e se essa pessoa te pede um favor, f-lo. Ajudar-nos uns aos outros: isto que Jesus nos ensina e isto que eu fao, e o fao de corao, porque o meu dever. Como sacerdote e como Bispo, devo estar ao vosso servio. Mas um dever que me vem do corao: amo-o. Amo-o e amo faz-lo porque o Senhor assim me ensinou. Mas vs tambm, ajudai-nos: ajudai-nos sempre. Um ao outro. E assim, ajudando-nos, faremos o bem para ns mesmo. Agora realizaremos esta cerimnia de lavar-nos os ps e pensamos, cada um de ns pensa: Eu realmente estou disposta, estou disposto a servir, a ajudar o outro? Pensemos apenas nisto. E pensemos que este sinal uma carcia de Jesus, que Jesus o faz, pois Jesus veio justamente por isso: para servir, para nos ajudar.VIGLIA PASCAL NA NOITE SANTAHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOBaslica VaticanaSbado Santo, 30 de maro de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irms!1. No Evangelho desta noite luminosa da Viglia Pascal, encontramos em primeiro lugar as mulheres que vo ao sepulcro de Jesus levando perfumes para ungir o corpo dEle (cf.Lc24, 1-3). Vo cumprir um gesto de piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito a um ente querido falecido, como fazemos ns tambm. Elas tinham seguido Jesus, ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No at ao fim no Calvrio e ao momento da descida do seu corpo da cruz. Podemos imaginar os sentimentos delas enquanto caminham para o tmulo: tanta tristeza, tanta pena porque Jesus as deixara; morreu, a sua histria terminou. Agora se tornava vida que levavam antes. Contudo, nas mulheres, continuava o amor, e foi o amor por Jesus que as impelira a irem ao sepulcro. Mas, chegadas l, verificam algo totalmente inesperado, algo de novo que lhes transtorna o corao e os seus programas e subverter a sua vida: vem a pedra removida do sepulcro, aproximam-se e no encontram o corpo do Senhor. O caso deixa-as perplexas, hesitantes, cheias de interrogaes: Que aconteceu?, Que sentido tem tudo isto? (cf.Lc24, 4). Porventura no se d o mesmo tambm conosco, quando acontece qualquer coisa de verdadeiramente novo na cadncia diria das coisas? Paramos, no entendemos, no sabemos como enfrent-la. Frequentemente mete-nos medo anovidade, incluindo a novidade que Deus nos traz, a novidade que Deus nos pede. Fazemos como os apstolos, no Evangelho: muitas vezes preferimos manter as nossas seguranas, parar junto de um tmulo com o pensamento num defunto que, no fim de contas, vive s na memria da histria, como as grandes figuras do passado. Tememos as surpresas de Deus. Queridos irmos e irms, na nossa vida, temos medo das surpresas de Deus! Ele no cessa de nos surpreender! O Senhor assim.Irmos e irms, no nos fechemos novidade que Deus quer trazer nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que no conseguimos? No nos fechemos em ns mesmos, no percamos a confiana, no nos demos jamais por vencidos: no h situaes que Deus no possa mudar; no h pecado que no possa perdoar, se nos abrirmos a Ele.2. Mas voltemos ao Evangelho, s mulheres, para vermos mais um ponto. Elas encontram o tmulo vazio, o corpo de Jesus no est l Algo de novo acontecera, mas ainda nada de claro resulta de tudo aquilo: levanta questes, deixa perplexos, sem oferecer uma resposta. E eis que aparecem dois homens em trajes resplandecentes, dizendo: Porque buscais o Vivente entre os mortos? No est aqui; ressuscitou! (Lc24, 5-6). E aquilo que comeara como um simples gesto, certamente cumprido por amor ir ao sepulcro , transforma-se em acontecimento, e num acontecimento tal que muda verdadeiramente a vida. Nada mais permanece como antes, e no s na vida daquelas mulheres mas tambm na nossa vida e na nossa histria da humanidade. Jesus no um morto, ressuscitou, oVivente! No regressou simplesmente vida, mas a prpria vida, porque o Filho de Deus, que oVivente(cf.Nm14, 21-28;Dt5, 26, Js 3, 10). Jesus j no est no passado, mas vive no presente e lana-Se para o futuro; Jesus o hoje eterno de Deus. Assim se apresenta a novidade de Deus diante dos olhos das mulheres, dos discpulos, de todos ns: a vitria sobre o pecado, sobre o mal, sobre a morte, sobre tudo o que oprime a vida e lhe d um rosto menos humano. E isto uma mensagem dirigida a mim, a ti, amada irm, a ti amado irmo. Quantas vezes precisamos que o Amor nos diga: Porque buscais o Vivente entre os mortos? Os problemas, as preocupaes de todos os dias tendem a fechar-nos em ns mesmos, na tristeza, na amargura e a est a morte. No procuremos a o Vivente! Aceita ento que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como amigo, com confiana: Ele a vida! Se at agora estiveste longe dEle, basta que faas um pequeno passo e Ele te acolher de braos abertos. Se s indiferente, aceita arriscar: no ficars desiludido. Se te parece difcil segui-Lo, no tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro de que Ele est perto de ti, est contigo e dar-te- a paz que procuras e a fora para viver como Ele quer.3. H ainda um ltimo elemento, simples, que quero sublinhar no Evangelho desta luminosa Viglia Pascal. As mulheres se encontram com a novidade de Deus: Jesus ressuscitou, o Vivente! Mas, vista do tmulo vazio e dos dois homens em trajes resplandecentes, a primeira reao que tm de medo: amedrontadas observa Lucas , voltaram o rosto para o cho, no tinham a coragem sequer de olhar. Mas, quando ouvem o anncio da Ressurreio, acolhem-no com f. E os dois homens em trajes resplandecentes introduzem um verbo fundamental: lembrai. Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galilia (...) Recordaram-se ento das suas palavras (Lc24, 6.8). Este o convite afazer memriado encontro com Jesus, das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida; e precisamente este recordar amorosamente a experincia com o Mestre que faz as mulheres superarem todo o medo e levarem o anncio da Ressurreio aos Apstolos e a todos os restantes (cf.Lc24, 9). Fazer memria daquilo que Deus fez e continua a fazer por mim, por ns, fazer memria do caminho percorrido; e isto abre de par em par o corao esperana para o futuro. Aprendamos a fazer memria daquilo que Deus fez na nossa vida.Nesta Noite de luz, invocando a intercesso da Virgem Maria, que guardava todos os acontecimentos no seu corao (cf.Lc2, 19.51), peamos ao Senhor que nos torne participantes da sua Ressurreio: que nos abra sua novidade que transforma, s surpresas de Deus, que so to belas; que nos torne homens e mulheres capazes de fazer memria daquilo que Ele opera na nossa histria pessoal e na do mundo; que nos torne capazes de O percebermos como o Vivente, vivo e operante no meio de ns; que nos ensine, queridos irmos e irms, cada dia a no procurarmos entre os mortos Aquele que est vivo. Assim seja.CAPELA PAPAL PARA A TOMADA DE POSSEDA CTEDRA DO BISPO DE ROMAHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOBaslica de So Joo de LatroII Domingo de Pscoa ou da Divina Misericrdia, 7 de abril de 2013VdeoGaleria fotogrficaCom alegria, celebro pela primeira vez a Eucaristia nesta Baslica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma. Sado a todos vs com grande afecto: o carssimo Cardeal Vigrio, os Bispos Auxiliares, o Presbitrio diocesano, os Diconos, as Religiosas e os Religiosos e todos os fiis leigos. Sado tambm ao Senhor Presidente da Cmara Municipal e sua esposa e s restantes Autoridades. Caminhamos juntos na luz do Senhor Ressuscitado.1.Hoje celebramos o Segundo Domingo de Pscoa, designado tambm Domingo da Divina Misericrdia. Amisericrdiade Deus: como bela esta realidade da f para a nossa vida! Como grande e profundo o amor de Deus por ns! um amor que no falha, que sempre agarra a nossa mo, nos sustenta, levanta e guia.2.No Evangelho de hoje, o apstolo Tom experimenta precisamente a misericrdia de Deus, que tem um rosto concreto: o de Jesus, de Jesus Ressuscitado. Tom no se fia nos demais Apstolos, quando lhe dizem: Vimos o Senhor; para ele, no suficiente a promessa de Jesus que preanunciara: ao terceiro dia ressuscitarei. Tom quer ver, quer meter a sua mo no sinal dos cravos e no peito. E qual a reaco de Jesus? Apacincia: Jesus no abandona Tom relutante na sua incredulidade; d-lhe uma semana de tempo, no fecha a porta, espera. E Tom acaba por reconhecer a sua prpria pobreza, a sua pouca f. Meu Senhor e meu Deus: com esta invocao simples mas cheia de f, responde pacincia de Jesus. Deixa-se envolver pela misericrdia divina, v-a sua frente, nas feridas das mos e dos ps, no peito aberto, e readquire a confiana: um homem novo, j no incrdulo mas crente.Recordemos tambm o caso de Pedro: por trs vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com pacincia e sem palavras, lhe diz: Pedro, no tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim. E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmos e irms, no percamos jamais a confiana na paciente misericrdia de Deus!Pensemos nos dois discpulos de Emas: o rosto triste, passos vazios, sem esperana. Mas Jesus no os abandona: percorre juntamente com eles a estrada. E no s; com pacincia, explica as Escrituras que a Si se referiam e pra em casa deles partilhando a refeio. Este o estilo de Deus: no impaciente como ns, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus paciente connosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, d confiana, no abandona, no corta as pontes, sabe perdoar. Recordemo-lo na nossa vida de cristos: Deus sempre espera por ns, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca est longe e, se voltarmos para Ele, est pronto a abraar-nos.Sempre me causa grande impresso a leitura da parbola do Pai misericordioso; impressiona-me pela grande esperana que sempre me d. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do Pai, era amado; e todavia pretende a sua parte de herana; abandona a casa, gasta tudo, chega ao nvel mais baixo, mais distante do Pai; e, quando tocou o fundo, sente saudades do calor da casa paterna e regressa. E o Pai? Teria ele esquecido o filho? No, nunca! Est l, avista-o ao longe, tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: sempre esteve no seu corao como filho, apesar de o ter deixado e malbaratado todo o patrimnio, isto , a sua liberdade; com pacincia e amor, com esperana e misericrdia, o Pai no tinha cessado um instante sequer de pensar nele, e logo que o v, ainda longe, corre ao seu encontro e abraa-o com ternura a ternura de Deus , sem uma palavra de censura: voltou! Isto a alegria do pai; naquele abrao ao filho, est toda esta alegria: voltou! Deus sempre espera por ns, no se cansa. Jesus mostra-nos esta pacincia misericordiosa de Deus, para sempre reencontrarmos confiana, esperana! Um grande telogo alemo Romano Guardini dizia que Deus responde nossa fraqueza com a sua pacincia e isto o motivo da nossa confiana, da nossa esperana (cf.Glabenserkenntnis, Wurzburg 1949, p. 28). uma espcie de dilogo entre a nossa fraqueza e a pacincia de Deus um dilogo, que, se entrarmos nele, nos d esperana.3.Gostava de sublinhar outro elemento: a pacincia de Deus deve encontrar em nsa coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida. Jesus convida Tom a meter a mo nas suas chagas das mos e dos ps e na ferida do peito. Tambm ns podemos entrar nas chagas de Jesus, podemos toc-Lo realmente; isto acontece todas as vezes que recebemos, com f, os Sacramentos. So Bernardo diz numa bela Homilia: Por estas feridas [de Jesus], posso saborear o mel dos rochedos e o azeite da rocha durssima (cf.Dt32, 13), isto , posso saborear e ver como o Senhor bom (Sobre o Cntico dos Cnticos61, 4). precisamente nas chagas de Jesus que vivemos seguros, nelas se manifesta o amor imenso do seu corao. Tom compreendera-o. So Bernardo interroga-se: Mas, com que poderei contar? Com os meus mritos? Todo o meu mrito est na misericrdia do Senhor. Nunca serei pobre de mritos, enquanto Ele for rico de misericrdia: se so abundantes as misericrdias do Senhor, tambm so muitos os meus mritos (ibid., 5). Importante a coragem de me entregar misericrdia de Jesus, confiar na sua pacincia, refugiar-me sempre nas feridas do seu amor. So Bernardo chega a afirmar: E se tenho conscincia de muitos pecados? Onde abundou o pecado, superabundou a graa (Rm5, 20) (ibid., 5). Talvez algum de ns possa pensar: o meu pecado to grande, o meu afastamento de Deus como o do filho mais novo da parbola, a minha incredulidade como a de Tom; no tenho coragem para voltar, para pensar que Deus me possa acolher e esteja espera precisamente de mim. Mas precisamente por ti que Deus espera! S te pede a coragem de ires ter com Ele. Quantas vezes, no meu ministrio pastoral, ouvi repetir: Padre, tenho muitos pecados; e o convite que sempre fazia era este: No temas, vai ter com Ele, que est a tua espera; Ele resolver tudo. Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta dEle uma carcia de amor. Para Deus, no somos nmeros; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante; apesar de pecadores, somos aquilo que Lhe est mais a peito.Depois do pecado, Ado sente vergonha, sente-se nu, sente remorso por aquilo que fez; e todavia Deus no o abandona: se naquele momento comea o exlio longe de Deus, com o pecado, tambm j existe a promessa do regresso, a possibilidade de regressar a Ele. Imediatamente Deus pergunta: Ado, onde ests? Deus procura-o. Jesus ficou nu por ns, tomou sobre Si a vergonha de Ado, da nudez do seu pecado, para lavar o nosso pecado: pelas suas chagas, fomos curados. Recordai-vos do que diz So Paulo: De que poderei eu gloriar-me seno da minha fraqueza, da minha pobreza? precisamente sentindo o meu pecado, olhando o meu pecado que posso ver e encontrar a misericrdia de Deus, o seu amor, e ir at Ele para receber o seu perdo.Na minha vida pessoal, vi muitas vezes o rosto misericordioso de Deus, a sua pacincia; vi tambm em muitas pessoas a coragem de entrar nas chagas de Jesus, dizendo-Lhe: Senhor, aqui estou, aceita a minha pobreza, esconde nas tuas chagas o meu pecado, lava-o com o teu sangue. E sempre vi que Deus o fez: Deus acolheu, consolou, lavou e amou.Amados irmos e irms, deixemo-nos envolver pela misericrdia de Deus; confiemos na sua pacincia, que sempre nos d tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua misericrdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura maravilhosa, sentiremos o seu abrao, e ficaremos ns tambm mais capazes de misericrdia, pacincia, perdo e amor.CELEBRAO EUCARSTICAHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOBaslica de So Paulo ExtramurosIII Domingo de Pscoa, 14 de Abril de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irms! uma alegria para mim celebrar a Eucaristia convosco nesta Baslica. Sado o Arcipreste, Cardeal James Harvey, e agradeo-lhe as palavras que me dirigiu; juntamente com ele, sado e agradeo s vrias Instituies, que fazem parte desta Baslica, e a todos vs. Encontramo-nos sobre o tmulo de So Paulo, um Apstolo humilde e grande do Senhor, que O anunciou com a palavra, testemunhou com o martrio e adorou com todo o corao. precisamente sobre estes trs verbos que queria reflectir luz da Palavra de Deus que escutmos: anunciar, testemunhar, adorar.1. Na primeira Leitura, impressiona a fora de Pedro e dos outros Apstolos. ordem de no falar nem ensinar no nome de Jesus, de no anunciar mais a sua Mensagem, respondem com clareza: Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. E nem o facto de serem flagelados, ultrajados, encarcerados os deteve. Pedro e os Apstolos anunciam, com coragem e desassombro, aquilo que receberam: o Evangelho de Jesus. E ns? Somos ns capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para ns, em famlia, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diria? A f nasce da escuta, e fortalece-se no anncio.2. Mas, faamos mais um passo: o anncio de Pedro e dos Apstolos no feito apenas com palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a sua vida, que se modifica, recebe uma nova direco, e precisamente com a sua vida que do testemunho da f e anunciam Cristo. No Evangelho, Jesus pede por trs vezes a Pedro que apascente o seu rebanho, e o faa com todo o seu amor, profetizando-lhe: Quando fores velho, estenders as mos e outro te h-de atar o cinto e levar para onde no queres (Jo21, 18). Trata-se de uma palavra dirigida primariamente a ns, Pastores: no se pode apascentar o rebanho de Deus, se no se aceita ser conduzido pela vontade de Deus mesmo para onde no queremos, se no estamos prontos a testemunhar Cristo com o dom de ns mesmos, sem reservas nem clculos, por vezes custa da nossa prpria vida. Mas isto vale para todos: tem-se de anunciar e testemunhar o Evangelho. Cada um deveria interrogar-se: Como testemunho Cristo com a minha f? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apstolos para pensar, decidir e viver como cristo, obedecendo a Deus? certo que o testemunho da f se reveste de muitas formas, como sucede num grande afresco que apresenta uma grande variedade de cores e tonalidades; todas, porm, so importantes, mesmo aquelas que no sobressaem. No grande desgnio de Deus, cada detalhe importante, incluindo o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, mesmo o testemunho oculto de quem vive a sua f, com simplicidade, nas suas relaes dirias de famlia, de trabalho, de amizade. Existem os santos de todos os dias, os santos escondidos, uma espcie de classe mdia da santidade como dizia um escritor francs , aquela classe mdia da santidade da qual todos podemos fazer parte. Mas h tambm, em diversas partes do mundo, quem sofra como Pedro e os Apstolos por causa do Evangelho; h quem d a prpria vida para permanecer fiel a Cristo, com um testemunho que lhe custa o preo do sangue. Recordemo-lo bem todos ns: no se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o testemunho concreto da vida. Quem nos ouve e v, deve poder ler nas nossas aces aquilo que ouve da nossa boca, e dar glria a Deus! Isto traz-me mente um conselho que So Francisco de Assis dava aos seus irmos: Pregai o Evangelho; caso seja necessrio, mesmo com as palavras. Pregar com a vida: o testemunho. A incoerncia dos fiis e dos Pastores entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja.3. Mas tudo isto s possvel, se reconhecermos Jesus Cristo; pois foi Ele que nos chamou, nos convidou a seguir o seu caminho, nos escolheu. S possvel anunciar e dar testemunho, se estivermos unidos a Ele, precisamente como, no texto do Evangelho de hoje, esto ao redor de Jesus ressuscitado Pedro, Joo e os outros discpulos; vivem uma intimidade diria com Ele, pelo que sabem bem quem , conhecem-No. O Evangelista sublinha que nenhum dos discpulos se atrevia a perguntar-Lhe: Quem s tu?, porque bem sabiam que era o Senhor (Jo21, 12). Est aqui um dado importante para ns: temos de viver num relacionamento intenso com Jesus, numa intimidade tal, feita de dilogo e de vida, que O reconheamos como o Senhor. Ador-Lo! A passagem que ouvimos do Apocalipse, fala-nos da adorao: as mirades de anjos, todas as criaturas, os seres vivos, os ancios prostram-se em adorao diante do trono de Deus e do Cordeiro imolado, que Cristo e para quem dirigido o louvor, a honra e a glria (cf.Ap5, 11-14). Gostaria que todos se interrogassem: Tu, eu, adoramos o Senhor? Vamos ter com Deus s para pedir, para agradecer, ou vamos at Ele tambm para O adorar? Mas ento que significa adorar a Deus? Significa aprender a estar com Ele, demorar-se em dilogo com Ele, sentindo a sua presena como a mais verdadeira, a melhor, a mais importante de todas. Cada um de ns possui na prpria vida, de forma mais ou menos consciente, uma ordem bem definida das coisas que so consideradas mais ou menos importantes. Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Ele deve ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer e no apenas por palavras que Ele o nico que guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que vivemos na sua presena convencidos de que o nico Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa histria.Daqui deriva uma consequncia para a nossa vida: despojar-nos dos numerosos dolos, pequenos ou grandes, que temos e nos quais nos refugiamos, nos quais buscamos e muitas vezes depomos a nossa segurana. So dolos que frequentemente conservamos bem escondidos; podem ser a ambio, o carreirismo, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendncia a prevalecer sobre os outros, a pretenso de ser os nicos senhores da nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros. H uma pergunta que eu queria que ressoasse, esta tarde, no corao de cada um de ns e que lhe respondssemos com sinceridade: J pensei qual possa ser o dolo escondido na minha vida que me impede de adorar o Senhor? Adorar despojarmo-nos dos nossos dolos, mesmo os mais escondidos, e escolher o Senhor como centro, como via mestra da nossa vida.Amados irmos e irms, todos os dias o Senhor nos chama a segui-Lo corajosa e fielmente; fez-nos o grande dom de nos escolher como seus discpulos; convida-nos a anunci-Lo jubilosamente como o Ressuscitado, mas pede-nos para o fazermos, no dia a dia, com a palavra e o testemunho da nossa vida. O Senhor o nico, o nico Deus da nossa vida e convida-nos a despojar-nos dos numerosos dolos e a adorar s a Ele. Anunciar, testemunhar, adorar. Que a bem-aventurada Virgem Maria e o apstolo Paulo nos ajudem neste caminho e intercedam por ns. Assim seja.ORDENAES PRESBITERIAISHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOBaslica VaticanaIV Domingo de Pscoa, 21 de Abril de 2013VdeoGaleria fotogrfica[O Pontfice pronunciou a homilia ritual prevista na edio italiana doPontificale Romanopara a ordenao dos presbteros, a qual o Papa integrou com alguns acrscimos pessoais]Irmos e irms carssimos,Estes nossos irmos e filhos foram chamados Ordem dos presbteros. Ponderemos com ateno o ministrio a que so elevados na Igreja. Como bem sabeis, o Senhor Jesus o nico Sumo Sacerdote do Novo Testamento, mas, nEle, todo o povo santo de Deus foi constitudo tambm povo sacerdotal. Entretanto o Senhor Jesus, de entre todos os seus discpulos, quer escolher alguns em particular para que, exercendo publicamente na Igreja, em seu nome, o mnus sacerdotal a favor de todos os homens, continuem a sua misso pessoal de Mestre, Sacerdote e Pastor.Para isto, de facto, fora Jesus enviado pelo Pai, tendo Ele por sua vez enviado igualmente ao mundo primeiro os Apstolos e depois os Bispos e seus sucessores, aos quais por fim foram dados como colaboradores os presbteros, que, unidos a eles no ministrio sacerdotal, so chamados a servir o Povo de Deus.Depois de madura reflexo e orao, estamos para elevar Ordem dos presbteros estes nossos irmos, para que, ao servio de Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor, cooperem na edificao do Corpo de Cristo, que a Igreja, como Povo de Deus e Templo sagrado do Esprito Santo.Na verdade, vo ser configurados com Cristo Sumo e Eterno Sacerdote, isto , consagrados como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento e, por este ttulo que os associa ao seu Bispo no sacerdcio, sero anunciadores do Evangelho, pastores do Povo de Deus e presidiro aos actos de culto, especialmente celebrao do Sacrifcio do Senhor.E vs, irmos e filhos dilectssimos, prestes a ser promovidos Ordem dos presbteros, considerai que, ao exercerdes o ministrio de ensinar a Doutrina sagrada, participais da misso do nico Mestre, Cristo. Distribu a todos a Palavra de Deus que vs mesmos recebestes com alegria. Lembrai-vos das vossas mes, das vossas avs, dos vossos catequistas que vos deram a Palavra de Deus, a f.... o dom da f! Transmitiram-vos este dom da f. Lede e meditai assiduamente a Palavra do Senhor, para poderdes crer o que ledes, ensinar o que credes e viver o que ensinais. Lembrai-vos tambm de que a Palavra de Deus no de vossa propriedade: Palavra de Deus. E a Igreja a guardi da Palavra de Deus.Sirva, portanto, de alimento para o povo de Deus o vosso ensino, seja motivo de alegria e apoio para os fiis de Cristo o bom odor da vossa vida, a fim de edificardes, pela palavra e pelo exemplo, a casa de Deus, que a Igreja. Vs ides continuar a obra santificadora de Cristo; pelo vosso ministrio, realiza-se plenamente o sacrifcio espiritual dos fiis, unido ao sacrifcio de Cristo, que, atravs de vossas mos, em nome de toda a Igreja, oferecido de forma incruenta sobre o altar na celebrao dos Santos Mistrios.Tomai, pois, conscincia do que fazeis, imitai o que celebrais, para que, participando no mistrio da morte e da ressurreio do Senhor, vos esforceis por fazer morrer em vs todo o mal e por caminhar com Ele na vida nova.Pelo Baptismo, fareis entrar novos fiis no Povo de Deus. Atravs do sacramento da Penitncia, perdoareis os pecados em nome de Cristo e da Igreja. E hoje, em nome de Cristo e da Igreja, eu vos peo: por favor, no vos canseis de ser misericordiosos. Com os santos leos, dareis alvio aos enfermos e tambm aos idosos: no vos envergonheis de tratar com ternura os idosos. Ao celebrar os ritos sagrados e elevar ao Cu, nas diversas horas do dia, a orao de louvor e de splica, tornar-vos-eis voz do Povo de Deus e da humanidade inteira.Conscientes de ter sido assumidos de entre os homens e postos ao seu servio nas coisas de Deus, cumpri, com alegria e caridade sincera, a obra sacerdotal de Cristo, procurando unicamente agradar a Deus e no a vs mesmos. Sede pastores, e no funcionrios; sede mediadores, e no intermedirios.Finalmente, ao participar na misso de Cristo, Cabea e Pastor, em comunho filial com o vosso bispo, procurai congregar os fiis numa s famlia, para os conduzir a Deus Pai, por Cristo, no Esprito Santo. Trazei sempre diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor, que veio, no para ser servido, mas para servir, para buscar e salvar o que estava perdido.SANTA MISSA NO SEU DIA ONOMSTICO (SO JORGE)HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOCapela PaulinaTera-feira, 23 de Abril de 2013VdeoGaleria fotogrficaAgradeo ao Senhor Cardeal Decano as palavras que me dirigiu: Muito e muito obrigado, Eminncia!Agradeo tambm a vs que vos dispusestes a vir aqui hoje. Obrigado! Pois eu me sinto bem acolhido por vs. Obrigado! Encontro-me bem entre vs; agrada-me estar convosco.A primeira leitura de hoje leva-me a pensar que, justamente no momento em que se desencadeia a perseguio, desencadeia-se a missionariedade da Igreja. Os cristos, que chegaram Fencia, a Chipre e a Antioquia, proclamavam a Palavra (cf.At11,19). Traziam este ardor apostlico no corao; e assim que a f se difunde! Algumas pessoas de Chipre e de Cirene, que se tinham tornado crists, chegadas a Antioquia, comearam a falar tambm aos gregos (cf.At11, 20). Trata-se de mais um passo; e assim avana a Igreja. Dado que isso era ento inconcebvel, porque se pregava s aos judeus, de quem foi esta iniciativa de falar aos gregos? Foi do Esprito Santo, Aquele que impelia avante, sempre mais.Mas, quando isto chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalm, houve algum que ficou um pouco nervoso e enviaram umaVisita apostlica, enviaram Barnab (cf.At11, 22). Talvez possamos com um pouco de humorismo dizer que est aqui o incio teolgico da Congregao para a Doutrina da F: nestaVisita apostlicade Barnab. Ele observou, e viu que tudo caminhava bem (cf.At11, 23). E a Igreja assim v crescer a sua maternidade: Me de mais filhos, de muitos filhos; torna-se Me, sempre mais Me. E Me que nos d a f, Me que nos d a identidade. A identidade crist no dada por um bilhete de identidade; a identidade crist pertena Igreja: todos estes pertenciam Igreja, Igreja Me, porque no possvel encontrar Jesus fora da Igreja. O grande Paulo VI dizia: uma dicotomia absurda querer viver com Jesus sem a Igreja, seguir Jesus fora da Igreja, amar Jesus sem a Igreja (cf. Exort. ap.Evangelii nuntiandi, 16). E a mesma Igreja Me, que nos d Jesus, d-nos a identidade, que no somente um selo: uma pertena. Identidade significa pertena: a pertena Igreja. Coisa estupenda!A terceira ideia que me salta mente (a primeira era o desencadeamento da missionariedade; a segunda, a Igreja Me) a alegria que sentiu Barnab quando viu aquela multido, pois, como diz o texto, uma grande multido aderiu ao Senhor (At11, 24). Quando Barnab chegou e viu a graa que Deus havia concedido, ficou muito contente (At11, 23). a alegria prpria do evangelizador; , como dizia Paulo VI, a doce e consoladora alegria de evangelizar (cf. Exort. ap.Evangelii nuntiandi, 80). E esta alegria aparece na sequncia de uma perseguio, de uma grande tristeza, e termina com a alegria. E assim a Igreja avana, como diz um Santo, entre as perseguies do mundo e as consolaes do Senhor (cf. S. Agostinho,De Civitate Dei, 18, 51, 2:PL41, 614). Assim a vida da Igreja. Mas, se queremos caminhar pela estrada da mundaneidade, descendo a pactos com o mundo como queriam fazer com os Macabeus, que a isso se sentiam ento tentados nunca gozaremos da consolao do Senhor. E se procuramos s consolao, esta ser uma consolao superficial, uma consolao humana; no aquela do Senhor. A Igreja caminha sempre entre a Cruz e a Ressurreio, entre as perseguies e as consolaes do Senhor. E este o caminho: quem vai por esta estrada no se engana.Pensemos hoje na missionariedade da Igreja: naqueles discpulos que, esquecidos de si mesmos, partiram, e tambm naqueles que tiveram a coragem de anunciar Jesus aos gregos, algo quase escandaloso naquele tempo (cf.At11, 19-20). Pensemos na Me Igreja que cresce, cresce com novos filhos, aos quais Ela d a identidade da f, porque no se pode crer em Jesus sem a Igreja. Ouvimos Jesus mesmo diz-lo no Evangelho: Vs no acreditais, porque no fazeis parte das minhas ovelhas (cf.Jo10, 26). Se no somos ovelhas de Jesus, a f no desponta; uma f de gua de cheiro, uma f sem substncia. E pensemos na consolao que teve Barnab, que justamente a doce e consoladora alegria de evangelizar. E peamos ao Senhor este desassombro, este ardor apostlico, que nos impulsiona a seguir em frente todos como irmos. A caminhar avante, levando o nome de Jesus no seio da Santa Me Igreja, como dizia Santo Incio, hierrquica e catlica. Assim seja.SANTA MISSA E CRISMAHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPraa de So PedroV Domingo de Pscoa, 28 de Abril de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irms!Queridos crismandos! Bem-vindos!Gostaria de vos propor trs pensamentos, simples e breves, para a vossa reflexo.1.Na Segunda Leitura, ouvimos a estupenda viso de So Joo: um novo cu e uma nova terra e, em seguida, a Cidade Santa que desce de junto de Deus. Tudo novo, transformado em bondade, em beleza, em verdade; no h mais lamento, nem luto... Tal a aco do Esprito Santo: Ele traz-nos a novidade de Deus; vem a ns e faz novas todas as coisas, transforma-nos. O Esprito transforma-nos! E a viso de So Joo lembra-nos que todos ns estamos a caminho para a Jerusalm celeste, a novidade definitiva para ns e para toda a realidade, o dia feliz em que poderemos ver o rosto do Senhor aquele rosto maravilhoso, to belo do Senhor Jesus , poderemos estar para sempre com Ele, no seu amor.Olhai! A novidade de Deus no como as inovaes do mundo, que so todas provisrias, passam e procuram-se outras sem cessar. A novidade que Deus d nossa vida definitiva; e no apenas no futuro quando estivermos com Ele, mas j hoje: Deus est a fazer novas todas as coisas, o Esprito Santo transforma-nos verdadeiramente e, atravs de ns, quer transformar tambm o mundo onde vivemos. Abramos a porta ao Esprito, faamo-nos guiar por Ele, deixemos que a aco contnua de Deus nos torne homens e mulheres novos, animados pelo amor de Deus, que o Esprito Santo nos d. Como seria belo se cada um de vs pudesse, ao fim do dia, dizer: Hoje na escola, em casa, no trabalho, guiado por Deus, realizei um gesto de amor por um colega meu, pelos meus pais, por um idoso. Como seria belo!2. O segundo pensamento: na Primeira Leitura, Paulo e Barnab afirmam que temos de sofrer muitas tribulaes para entrarmos no Reino de Deus (Act14, 22). O caminho da Igreja e tambm o nosso caminho pessoal de cristos no so sempre fceis, encontramos dificuldades, tribulaes. Seguir o Senhor, deixar que o seu Esprito transforme as nossas zonas sombrias, os nossos comportamentos em desacordo com Deus e lave os nossos pecados, um caminho que encontra muitos obstculos fora de ns, no mundo, e dentro de ns, no corao. Mas, as dificuldades, as tribulaes fazem parte da estrada para chegar glria de Deus, como sucedeu com Jesus que foi glorificado na Cruz; aquelas sempre as encontraremos na vida. No desanimeis! Para vencer estas tribulaes, temos a fora do Esprito Santo.3. E passo ao ltimo ponto. um convite que dirijo a todos, mas especialmente a vs, crismandos e crismandas: permanecei firmes no caminho da f, com segura esperana no Senhor. Aqui est o segredo do nosso caminho. Ele d-nos a coragem de ir contra a corrente. Sim, jovens; ouvistes bem: ir contra a corrente. Isto fortalece o corao, j que ir contra a corrente requer coragem e Ele d-nos esta coragem. No h dificuldades, tribulaes, incompreenses que possam meter-nos medo, se permanecermos unidos a Deus como os ramos esto unidos videira, se no perdermos a amizade com Ele, se lhe dermos cada vez mais espao na nossa vida. Isto verdade mesmo, e sobretudo, quando nos sentimos pobres, fracos, pecadores, porque Deus proporciona fora nossa fraqueza, riqueza nossa pobreza, converso e perdo ao nosso pecado. O Senhor to misericordioso! Se vamos ter com Ele, sempre nos perdoa. Tenhamos confiana na aco de Deus! Com Ele, podemos fazer coisas grandes; Ele nos far sentir a alegria de sermos seus discpulos, suas testemunhas. Apostai sobre os grandes ideais, sobre as coisas grandes. Ns, cristos, no fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, ide sempre mais alm, rumo s coisas grandes. Jovens, jogai a vida por grandes ideais!Novidade de Deus, tribulao na vida, firmes no Senhor. Queridos amigos, abramos de par em par a porta da nossa vida novidade de Deus que nos d o Esprito Santo, para que nos transforme, nos torne fortes nas tribulaes, reforce a nossa unio com o Senhor, o nosso permanecer firmes n'Ele: aqui est a verdadeira alegria. Assim seja.SANTA MISSA POR OCASIO DO DIA DAS CONFRARIASE DA PIEDADE POPULARHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPraa de So PedroVI Domingo de Pscoa, 5 de Maio de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irms, fostes corajosos em vir com esta chuva O Senhor vos abenoe infinitamente!No caminho doAno da F, sinto-me feliz em celebrar esta Eucaristia especialmente dedicada s Irmandades: uma realidade com grande tradio na Igreja, que foi objecto de renovao e redescoberta nos ltimos tempos. Com afecto vos sado a todos, e de modo especial s Irmandades vindas das mais diversas partes do mundo. Obrigado pela vossa presena e pelo vosso testemunho!1. No Evangelho, ouvimos uma passagem tirada dos discursos de despedida de Jesus, referidos pelo evangelista Joo no contexto da ltima Ceia. Jesus confia aos apstolos seus ltimos pensamentos, como se fosse um testamento espiritual, antes de os deixar. O texto de hoje pe em evidncia que toda a f crist est centrada no relacionamento com o Pai, o Filho e o Esprito Santo. Quem ama o Senhor Jesus, no seu ntimo acolhe a Ele e ao Pai e, graas ao Esprito Santo, acolhe no seu prprio corao e na vida pessoal o Evangelho. Indica-se aqui o centro do qual tudo deve partir e ao qual tudo deve conduzir: amar a Deus, ser discpulos de Cristo, vivendo o Evangelho. Ao dirigir-se a vs, Bento XVI usou esta palavra: evangelicidade. Queridas Irmandades, a piedade popular, de que sois uma importante manifestao, um tesouro que a Igreja tem e que os bispos latino-americanos, significativamente, definiram como uma espiritualidade, uma mstica, que um espao de encontro com Jesus Cristo. Bebei sempre em Cristo, fonte inesgotvel; reforai a vossa f, tendo a peito a formao espiritual, a orao pessoal e comunitria, a liturgia. Ao longo dos sculos, as Irmandades tm sido uma forja de santidade para muitas pessoas, que viveram com simplicidade uma relao intensa com o Senhor. Caminhai decididamente para a santidade; no vos contenteis com uma vida crist medocre, mas a vossa pertena sirva de estmulo, a comear por vs mesmos, para amar mais a Jesus Cristo.2. Tambm a passagem que ouvimos dosActos dos Apstolosnos fala do que essencial. Na Igreja nascente, houve imediatamente necessidade de discernir o que era essencial, e o que no o era, para uma pessoa ser crist, para seguir Cristo. Os apstolos e os demais ancios fizeram uma reunio importante em Jerusalm, o primeiro conclio, sobre este tema, devido aos problemas que surgiram depois que o Evangelho havia sido pregado aos pagos, aos no judeus. Tratou-se de uma ocasio providencial para compreender melhor o que essencial: acreditar em Jesus Cristo morto e ressuscitado pelos nossos pecados e amarmo-nos como Ele nos amou. Notai, porm, como as dificuldades foram superadas, no fora, mas dentro da Igreja. E aqui est um segundo elemento que gostaria de vos assinalar, como fez Bento XVI: a eclesialidade. A piedade popular uma estrada que leva ao essencial, se for vivida na Igreja em profunda comunho com os vossos Pastores. Amados irmos e irms, a Igreja ama-vos! Sede uma presena activa na comunidade: clulas vivas, pedras vivas. Os bispos latino-americanos escreveram que a piedade popular, de que sois expresso, uma maneira legtima de viver a f, um modo de se sentir parte da Igreja (Documento de Aparecida, 264). Isto importante! Uma maneira legtima de viver a f, um modo de se sentir parte da Igreja. Amai a Igreja! Deixai-vos guiar por ela! Nas parquias, nas dioceses, sede um verdadeiro pulmo de f e de vida crist, uma aragem fresca! Nesta Praa [de So Pedro], vejo uma grande variedade, antes, de guarda-chuvas e, agora, de cores e de sinais. Assim a Igreja: uma grande riqueza e variedade de expresses em que tudo reconduzido unidade; a variedade reconduzida unidade e a unidade o encontro com Cristo.3.Gostaria de acrescentar uma terceira palavra, que vos deve caracterizar: missionariedade. Vs tendes a misso especfica e importante de manter viva a relao entre a f e as culturas dos povos a que pertenceis, e fazei-lo atravs da piedade popular. Quando, por exemplo, levais em procisso o Crucifixo com tanta venerao e amor ao Senhor, no cumpris um mero acto exterior; mas indicais a centralidade do mistrio pascal do Senhor, da sua Paixo, Morte e Ressurreio, que nos redimiu, e indicais, primeiramente a vs prprios e depois comunidade, que preciso seguir Cristo ao longo do caminho concreto da vida para que nos transforme. De igual modo, quando manifestais uma profunda devoo pela Virgem Maria, apontais a mais alta realizao de existncia crist: Aquela que, pela sua f e obedincia vontade de Deus e tambm pela sua meditao da Palavra e das aces de Jesus, a discpula perfeita do Senhor (cf.Lumen gentium, 53). Esta f, que nasce da escuta da Palavra de Deus, manifestai-la em formas que envolvem os sentidos, os sentimentos, os smbolos das diferentes culturas... E, deste modo, ajudais a transmiti-la ao povo, e especialmente s pessoas simples, queles que Jesus chama no Evangelho os pequeninos. Na realidade, o caminhar juntos para os santurios e o participar em outras manifestaes da piedade popular, levando tambm os filhos ou convidando a outras pessoas, em si mesmo um gesto evangelizador (Documento de Aparecida, 264). Quando ides aos santurios, quando levais a famlia, os vossos filhos, estais precisamente a fazer uma aco de evangelizao. preciso continuar a faz-lo! Sede tambm vs verdadeiros evangelizadores! As vossas iniciativas sejam pontes, estradas que levem a Cristo a fim de caminhardes com Ele. E, neste esprito, permanecei sempre atentos caridade. Cada cristo e cada comunidade missionria na medida em que transmite e vive o Evangelho e testemunha o amor de Deus por todos, especialmente por quem se encontra em dificuldade. Sede missionrios do amor e da ternura de Deus! Sede missionrios da misericrdia de Deus, que sempre nos perdoa, sempre espera por ns e nos ama tanto!Evangelicidade, eclesialidade, missionariedade. Trs palavras! No as esqueais! Evangelicidade, eclesialidade, missionariedade. Peamos ao Senhor que oriente sempre a nossa mente e o nosso corao para Ele, como pedras vivas da Igreja, para que cada uma das nossas actividades e toda a nossa vida crist sejam um luminoso testemunho da sua misericrdia e do seu amor. E assim caminharemos para a meta da nossa peregrinao terrena, para aquele santurio belssimo, para a Jerusalm do Cu. L j no h templo algum: o prprio Deus e o Cordeiro so o seu templo; e a luz do sol e da lua cedem o lugar glria do Altssimo. Assim seja.SANTA MISSA E CANONIZAESHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPraa de So PedroVII Domingo de Pscoa, 12 de Maio de 2013VdeoGaleria fotogrficaPrezados irmos e irmsNeste stimo Domingo do Tempo de Pscoa reunimo-nos com alegria para celebrar uma festa da santidade. Demos graas a Deus que fez resplandecer a sua glria, a glria do Amor, sobre os Mrtires de Otranto, sobre Madre Laura Montoya e sobre Madre Mara Guadalupe Garca Zavala. Sado todos vs que viestes para esta festa da Itlia, da Colmbia, do Mxico e de muitos outros pases e agradeo-vos! Queremos olhar para os novos Santos luz da Palavra de Deus h pouco proclamada. Uma Palavra que nos convidou fidelidade a Cristo, inclusive at ao martrio; que chamou a nossa ateno para a urgncia e a beleza de anunciar Cristo e o seu Evangelho a todos; e que nos falou do testemunho da caridade, sem a qual at o martrio e a misso perdem o seu saber cristo.Quando nos falam do dicono Estvo, o protomrtir, osActos dos Apstolosinsistem em dizer que ele era um homem cheio de Esprito Santo (6, 5; 7, 55). Que significa isto? Significa que estava cheio do Amor de Deus, que toda a sua pessoa, a sua vida, estava animada pelo Esprito de Cristo ressuscitado, a ponto de seguir Jesus com uma fidelidade total, at ao dom de si prprio.Hoje a Igreja prope nossa venerao uma pliade de mrtires, que em 1480 foram chamados juntos ao testemunho supremo do Evangelho. Cerca de oitocentas pessoas, que sobreviveram ao cerco e invaso de Otranto, foram decapitadas nos arredores daquela cidade. Rejeitaram negar a prpria f e morreram confessando Cristo ressuscitado. Onde encontraram a fora para permanecer fiis? Precisamente na f, que nos leva a ver alm dos limites do nosso olhar humano, alm dos confins da vida terrena, que nos faz contemplar os cus abertos como diz santo Estvo e o Cristo vivo direita do Pai. Queridos amigos, conservemos a f que recebemos e que constitui o nosso tesouro verdadeiro; renovemos a nossa fidelidade ao Senhor, at no meio dos obstculos e das incompreenses; Deus nunca nos far faltar fora e serenidade. Enquanto veneramos os Mrtires de Otranto, peamos a Deus que ajude os numerosos cristos que, precisamente nesta poca e em muitas regies do mundo, ainda hoje sofrem violncias, e lhes d a coragem da fidelidade e de responder ao mal com o bem.A segunda ideia podemos tir-la das palavras de Jesus, que ouvimos no Evangelho: No rogo somente por eles, mas tambm por aqueles que pela sua palavra ho-de crer em mim. Para que todos sejam um s, assim como Tu, Pai, ests em mim e Eu em ti, para que tambm eles estejam em Ns e o mundo creia que tu me enviaste (Jo17, 20). Santa Laura Montoya foi um instrumento de evangelizao, primeiro como mestra e depois como me espiritual dos indgenas, nos quais infundiu a esperana, acolhendo-os com este amor aprendido de Deus, e levando-os at Ele com uma pedagogia eficaz que respeitava a sua cultura e no se opunha a ela. Na sua obra de evangelizao, Madre Laura fez-se verdadeiramente toda por todos, segundo a expresso de so Paulo (cf.1 Cor9, 22). Tambm hoje as suas filhas espirituais levam o Evangelho aos lugares mais recnditos e necessitados, como uma espcie de vanguarda da Igreja.Esta primeira santa nascida na linda terra colombiana ensina-nos a ser generosos com Deus, a no viver a f solitariamente como se fosse possvel viver a f de modo isolado mas a comunic-la, a irradiar a alegria do Evangelho com a palavra e o testemunho de vida, onde quer que nos encontremos. Seja qual for o lugar onde vivemos, devemos irradiar esta vida do Evangelho. Ensina-nos a ver o rosto de Jesus reflectido no outro, a vencer a indiferena e o individualismo, que corri as comunidades crists e o nosso prprio corao, e ensina-nos tambm a acolher todos sem preconceitos, sem discriminao nem reticncias, com um amor autntico, oferecendo-lhes o melhor de ns mesmos e, sobretudo, compartilhando com eles o que possumos de mais precioso, que no so as nossas obras nem as nossas organizaes, no! O que temos de mais valioso Cristo e o seu Evangelho.Por fim, uma terceira reflexo. No Evangelho de hoje, Jesus reza ao Pai com as seguintes palavras: Dei-lhes a conhecer o Teu nome e d-lo-ei a conhecer para que o amor com que me amaste esteja neles e Eu esteja neles tambm (Jo17, 26). A fidelidade dos mrtires at morte e a proclamao do Evangelho a todos enrazam-se, encontram a sua raiz, no amor de Deus que foi derramado nos noss0s coraes pelo Esprito Santo (cf.Rm5, 5) e no testemunho que devemos dar deste amor na nossa prpria vida. Santa Guadalupe Garca Zavala sabia-o bem. Renunciando a uma vida cmoda quantos danos causa a vida cmoda, o bem-estar! O aburguesamento do corao paralisa-nos e renunciando a uma vida cmoda para seguir o chamamento de Jesus, ensinava a amar a pobreza, para poder amar em maior medida os pobres e os enfermos. Madre Lupita ajoelhava-se no cho do hospital diante dos doentes, dos abandonados, para os servir com ternura e compaixo. E isto chama-se tocar a carne de Cristo. Os pobres, os abandonados, os enfermos e os marginalizados so a carne de Cristo. E Madre Lupita tocava a carne de Cristo, ensinando-nos este modo de agir: no nos devemos envergonhar, no devemos ter medo, no devemos sentir repugnncia de tocar a carne de Cristo. Madre Lupita tinha entendido o que significa este tocar a carne de Cristo. Tambm hoje as suas filhas espirituais procuram reflectir o amor de Deus nas obras de caridade, sem evitar sacrifcios e enfrentando-os com mansido e constncia apostlica (hypomon?), suportando com coragem qualquer obstculo.Esta nova santa mexicana convida-nos a amar como Jesus nos amou, e isto exige que no nos fechemos em ns mesmos, nos nossos problemas, nas nossas ideias, nos nossos interesses, neste pequeno mundo que nos causa tantos danos, mas que saiamos para ir ao encontro de quantos precisam de ateno, de compreenso e de ajuda, para lhes levar a proximidade calorosa do amor de Deus atravs de gestos concretos de delicadeza, de carinho sincero e de amor.Fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho, para o anunciar com a palavra e com a vida, dando testemunho do amor de Deus atravs do nosso amor, com a nossa caridade para com todos: so exemplos e ensinamentos luminosos, que nos oferecem os santos hoje proclamados, mas que suscitam tambm perguntas na nossa vida crist: como sou fiel a Cristo? Levemos em ns mesmos esta interrogao, para pensar nela durante o dia: como sou fiel a Cristo? Sou capaz de fazer ver a minha f com respeito, mas tambm com coragem? Estou atento ao prximo, dou-me conta de quem tem necessidades, vejo em todas as pessoas, irmos e irms que devo amar? Peamos, por intercesso da Bem-Aventurada Virgem Maria e dos novos santos, que o Senhor faa transbordar a nossa vida com o jbilo do seu amor. Assim seja!SOLENIDADE DE PENTECOSTESSANTA MISSA COM OS MOVIMENTOS ECLESIAISHOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPraa de So PedroDomingo, 19 de Maio de 2013VdeoGaleria fotogrficaAmados irmos e irmsNeste dia, contemplamos e revivemos na liturgia a efuso do Esprito Santo realizada por Cristo ressuscitado sobre a sua Igreja; um evento de graa que encheu o Cenculo de Jerusalm para se estender ao mundo inteiro.Ento que aconteceu naquele dia to distante de ns e, ao mesmo tempo, to perto que alcana o ntimo do nosso corao? So Lucas d-nos a resposta na passagem dosActos dos Apstolosque ouvimos (2, 1-11). O evangelista leva-nos a Jerusalm, ao andar superior da casa onde se reuniram os Apstolos. A primeira coisa que chama a nossa ateno o rombo improviso que vem do cu, comparvel ao de forte rajada de vento, e enche a casa; depois, as lnguas maneira de fogo que se iam dividindo e pousavam sobre cada um dos Apstolos. Rombo e lnguas de fogo so sinais claros e concretos, que tocam os Apstolos no s externamente mas tambm no seu ntimo: na mente e no corao. Em consequncia, todos ficaram cheios do Esprito Santo, que esparge seu dinamismo irresistvel com efeitos surpreendentes: comearam a falar outras lnguas, conforme o Esprito lhes inspirava que se exprimissem. Abre-se ento diante de ns um cenrio totalmente inesperado: acorre uma grande multido e fica muito admirada, porque cada qual ouve os Apstolos a falarem na prpria lngua. uma coisa nova, experimentada por todos e que nunca tinha sucedido antes: Ouvimo-los falar nas nossas lnguas. E de que falam? Das grandes obras de Deus. luz deste texto dosActos, quereria reflectir sobre trs palavras relacionadas com a aco do Esprito: novidade, harmonia e misso.1. Anovidadecausa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos ns a construir, programar, projectar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranas, os nossos gostos. E isto verifica-se tambm quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas at um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiana, deixando que o Esprito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decises; temos medo que Deus nos faa seguir novas estradas, faa sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egosta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda a histria da salvao, quando Deus Se revela traz novidade Deus traz sempre novidade - , transforma e pede para confiar totalmente nEle: No construiu uma arca, no meio da zombaria dos demais, e salva-se; Abrao deixa a sua terra, tendo na mo apenas uma promessa; Moiss enfrenta o poder do Fara e guia o povo para a liberdade; os Apstolos, antes temerosos e trancados no Cenculo, saem corajosamente para anunciar o Evangelho. No se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tdio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz nossa vida verdadeiramente o que nos realiza, o que nos d a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Perguntemo-nos hoje a ns mesmos: Permanecemos abertos s surpresas de Deus? Ou fechamo-nos, com medo, novidade do Esprito Santo? Mostramo-nos corajosos para seguir as novas estradas que a novidade de Deus nos oferece, ou pomo-nos defesa fechando-nos em estruturas caducas que perderam a capacidade de acolhimento? Far-nos- bem pormo-nos estas perguntas durante todo o dia.2. Segundo pensamento: primeira vista o Esprito Santo parece criar desordem na Igreja, porque traz a diversidade dos carismas, dos dons. Mas no; sob a sua aco, tudo isso uma grande riqueza, porque o Esprito Santo o Esprito de unidade, que no significa uniformidade, mas a reconduo do todo harmonia. Quem faz a harmonia na Igreja o Esprito Santo. Um dos Padres da Igreja usa uma expresso de que gosto muito: o Esprito Santo ipse harmonia est Ele prprio a harmonia. S Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Tambm aqui, quando somos ns a querer fazer a diversidade fechando-nos nos nossos particularismos, nos nossos exclusivismos, trazemos a diviso; e quando somos ns a querer fazer a unidade segundo os nossos desgnios humanos, acabamos por trazer a uniformidade, a homogeneizao. Se, pelo contrrio, nos deixamos guiar pelo Esprito, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca do origem ao conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunho da Igreja. O caminhar juntos na Igreja, guiados pelos Pastores que para isso tm um carisma e ministrio especial sinal da aco do Esprito Santo; uma caracterstica fundamental para cada cristo, cada comunidade, cada movimento a eclesialidade. a Igreja que me traz Cristo e me leva a Cristo; os caminhos paralelos so muito perigosos! Quando algum se aventura ultrapassando (proagon) a doutrina e a Comunidade eclesial diz o apstolo Joo na sua Segunda Carta - e deixa de permanecer nelas, no est unido ao Deus de Jesus Cristo (cf.2 Jov. 9). Por isso perguntemo-nos: Estou aberto harmonia do Esprito Santo, superando todo o exclusivismo? Deixo-me guiar por Ele, vivendo na Igreja e com a Igreja?3. O ltimo ponto. Diziam os telogos antigos: a alma uma espcie de barca vela; o Esprito Santo o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento so os dons do Esprito. Sem o seu incentivo, sem a sua graa, no vamos para a frente. O Esprito Santo faz-nos entrar no mistrio do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da f, do encontro com Cristo. O Esprito Santo a alma damisso. O sucedido em Jerusalm, h quase dois mil anos, no um facto distante de ns, mas um facto que nos alcana e se torna experincia viva em cada um de ns. O Pentecostes do Cenculo de Jerusalm o incio, um incio que se prolonga. O Esprito Santo o dom por excelncia de Cristo ressuscitado aos seus Apstolos, mas Ele quer que chegue a todos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus diz: Eu apelarei ao Pai e Ele vos dar outro Parclito para que esteja sempre convosco (Jo14, 16). o Esprito Parclito, o Consolador, que d a coragem de levar o Evangelho pelas estradas do mundo! O Esprito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existncia a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo. Perguntemo-nos, se tendemos a fechar-nos em ns mesmos, no nosso grupo, ou se deixamos que o Esprito Santo nos abra misso. Recordemos hoje estas trs palavras: novidade, harmonia, misso.A liturgia de hoje uma grande splica, que a Igreja com Jesus eleva ao Pai, para que renove a efuso do Esprito Santo. Cada um de ns, cada grupo, cada movimento, na harmonia da Igreja, se dirija ao Pai pedindo este dom. Tambm hoje, como no dia do seu nascimento, a Igreja invoca juntamente com Maria: Veni Sancte Spiritus Vinde, Esprito Santo, enchei os coraes dos vossos fiis e acendei neles o fogo do vosso amor! Amen.PROFISSO DE FCOM OS BISPOS DA CONFERNCIA EPISCOPAL ITALIANABaslica VaticanaQuinta-feira, 23 de Maio de 2013VdeoGaleria fotogrficaAps a saudao inicial do cardeal Angelo Bagnasco, presidente da Conferncia, o Pontfice dirigiu aos presentes as seguintes palavras.Agradeo a Vossa Eminncia esta saudao, e parabns inclusive pelo trabalho desta Assembleia! Muito obrigado a todos vs. Estou convicto de que o trabalho foi rduo, porque tendes muitas tarefas. Em primeiro lugar: a Igreja na Itlia todos o dilogo com as instituies culturais, sociais e polticas, que vos compete, e no fcil. Tambm a labuta de fortalecer as Conferncias regionais, a fim de que constituam a voz de todas as regies, to diversas entre si; e isto bonito. E depois o trabalho; sei que h uma Comisso para reduzir um pouco o nmero to elevado de dioceses. No fcil, mas para isto existe uma Comisso. Ide em frente com irmandade; a Conferncia episcopal d continuidade a este dilogo, como eu disse, com as instituies culturais, sociais e polticas. algo que voz compete. Em frente!

HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCOPrezados Irmos no EpiscopadoAs Leituras bblicas que ouvimos fazem-nos meditar. Levam-me a uma profunda reflexo. Preparei como que uma meditao para ns, Bispos, em primeiro lugar para mim, Bispo como vs, e compartilho-a convosco. significativo e estou particularmente feliz por isto que o nosso primeiro encontro se realize precisamente aqui, no lugar que conserva no s o tmulo de Pedro, mas tambm a memria viva do seu testemunho de f, do seu servio verdade, do seu doar-se at ao martrio pelo Evangelho e pela Igreja.Esta tarde, este altar da Confisso torna-se assim o nosso lago de Tiberades, em cujas margens voltamos a ouvir o dilogo maravilhoso entre Jesus e Pedro, com a pergunta dirigida ao Apstolo, mas que deve ressoar tambm no nosso corao de Bispos.Amas-me?; s meu amigo? (cf.Jo21, 15 ss.).A pergunta dirigida a um homem que, no obstante solenes declaraes, se deixou levar pelo medo e tinha renegado.Amas-me?; s meu amigo?.Esta pergunta dirigida a mim e a cada um de ns, a todos ns: se evitarmos responder de maneira demasiado apressada e superficial, ela impele-nos a olhar para dentro, a entrar em ns mesmos.Amas-me?; s meu amigo?.Aquele que perscruta os coraes (cf.Rm8, 27) faz-se mendigo de amor e interroga-nos sobre a nica questo verdadeiramente essencial, premissa e condio para apascentar as suas ovelhas, os seus cordeiros, a sua Igreja. Cada ministrio est assente nesta intimidade com o Senhor; viver dele a medida do nosso servio eclesial, que se exprime na disponibilidade obedincia, humilhao, como ouvimos naCarta aos Filipenses, e doao total (cf. 2, 6-11).De resto, a consequncia do amar o Senhor entregar tudo tudo, at a prpria vida por Ele: isto que deve distinguir o nosso ministrio pastoral; a prova definitiva que nos diz com que profundidade ns abraamos o dom recebido, respondendo chamada de Jesus, e quanto estamos ligados s pessoas e s comunidades que nos foram confiadas. No somos expresso de uma estrutura, nem de uma necessidade organizativa: tambm com o servio da nossa autoridade somos chamados a ser sinal da presena e da aco do Senhor ressuscitado, portanto a edificar a comunidade na caridade fraterna.No uma certeza: com efeito, at o maior amor, quando no alimentado continuamente, debilita-se e apaga-se. No sem motivo que o apstolo Paulo admoesta: Cuidai de vs mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Esprito Santo vos constituiu bispos, para apascentar a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o seu prprio sangue (Act20, 28).A falta de vigilncia como sabemos torna o Pastor inspido; f-lo distrado, esquecido e at intolerante; sedu-lo com a perspectiva da carreira, a seduo do dinheiro e os compromissos com o esprito do mundo; torna-o negligente, transformando-o num funcionrio, num clrigo de Estado, preocupado mais consigo mesmo, com a organizao e com as estruturas, do que com o verdadeiro bem do Povo de Deus. Ento, como o apstolo Pedro, corremos o risco de renegar o Senhor, embora formalmente nos apresentemos e falemos em seu nome; ofusca-se a santidade da Me Igreja hierrquica, tornando-a menos fecunda.Irmos, quem somos ns diante de Deus? Quais so as nossas provas? Temos muitas; cada um de ns tem as suas. O que nos diz Deus atravs delas? No que nos apoiamos para as superar?Como para Pedro, a pergunta insistente e urgente de Jesus pode deixar-nos desolados e ainda mais conscientes da debilidade da nossa liberdade, ameaada como por mil condicionamentos internos e externos, que muitas vezes suscitam confuso, frustrao e at incredulidade.Sem dvida, no so estes os sentimentos e as atitudes que o Senhor tenciona suscitar; ao contrrio, quem se aproveita deles o Inimigo, o Diabo, para isolar na amargura, na lamria e no desnimo.Jesus, Bom Pastor, no humilha nem abandona ao remorso: nele fala a ternura do Pai, que consola e relana; faz passar da desagregao da vergonha porque verdadeiramente a vergonha nos desagrega para o tecido da confiana; restitui a coragem, atribui novas responsabilidades e entrega misso.Pedro, purificado no fogo do perdo, pode dizer humildemente: Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que te amo (Jo21, 17). Estou persuadido de que todos ns podemos diz-lo de corao. E Pedro, purificado, na sua primeira Carta exorta-nos a apascentar o rebanho de Deus [...]. Tende cuidado dele, no constrangidos, mas espontaneamente [...], no por amor a interesses vergonhosos, mas com dedicao, no como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos so confiadas, mas como modelos do vosso rebanho (1 Pd5, 2-3).Sim, ser Pastor significa acreditar cada dia na graa e na fora que nos vem do Senhor, no obstante a nossa debilidade, e assumir at ao fundo a responsabilidade de caminhardianteda grei, livres de pesos que impedem a sadia disponibilidade apostlica, e sem hesitaes na orientao, para tornar reconhecvel a nossa voz, quer por quantos abraaram a f, quer por aqueles que ainda no so deste aprisco (Jo10, 16): somos chamados a fazer nosso o sonho de Deus, cuja casa no conhece excluso de pessoas ou de povos, como anunciava profeticamente Isaas na primeira Leitura (cf.Is2, 2-5).Por isso, ser Pastor quer dizer tambm dispor-se a caminharno meioeatrsdo rebanho: ser capaz de ouvir a narrao silenciosa de quantos sofrem e de acompanhar o passo de quem tem medo de vacilar; atento a levantar-se de novo, a acalentar e a infundir esperana. Da partilha com os humildes, a nossa f sai sempre fortalecida: portanto, deixemos de lado qualquer forma de soberba, para nos debruarmos sobre quantos o Senhor confiou nossa solicitude. Entre estes, reservemos um lugar particular, muito especial, aos nossos sacerdotes: sobretudo para eles, o nosso corao, as nossas mos e a nossa porta permaneam abertas em todas as circunstncias. Eles so os primeiros fiis que ns Bispos temos: os nossos sacerdotes. Amemo-los! Amemo-los de corao! Eles so os nossos filhos e os nossos irmos!Caros irmos, a profisso de f que agora renovamos em conjunto no um gesto formal, mas consiste em renovar a nossa resposta ao Segue-me!, com que se conclui o Evangelho de Joo (cf. 21, 19): leva a desenvolver a prpria vida segundo o