(páginas 153 a 176) ricardo bernd

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS GARANTIAS FUNDAMENTAIS LUIZ FERNANDO BELLINETTI MARGARETH ANNE LEISTER EDINILSON DONISETE MACHADO

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Page 1: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

GARANTIAS FUNDAMENTAIS

LUIZ FERNANDO BELLINETTI

MARGARETH ANNE LEISTER

EDINILSON DONISETE MACHADO

Page 2: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

Copyright © 2015 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem prévia autorização dos editores.

Diretoria – Conpedi Presidente - Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UFRN Vice-presidente Sul - Prof. Dr. José Alcebíades de Oliveira Junior - UFRGS Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim - UCAM Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Gina Vidal Marcílio Pompeu - UNIFOR Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes - IDP Secretário Executivo -Prof. Dr. Orides Mezzaroba - UFSC Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie

Conselho Fiscal Prof. Dr. José Querino Tavares Neto - UFG /PUC PR Prof. Dr. Roberto Correia da Silva Gomes Caldas - PUC SP Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches - UNINOVE Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva - UFS (suplente) Prof. Dr. Paulo Roberto Lyrio Pimenta - UFBA (suplente)

Representante Discente - Mestrando Caio Augusto Souza Lara - UFMG (titular)

Secretarias Diretor de Informática - Prof. Dr. Aires José Rover – UFSC Diretor de Relações com a Graduação - Prof. Dr. Alexandre Walmott Borgs – UFU Diretor de Relações Internacionais - Prof. Dr. Antonio Carlos Diniz Murta - FUMEC Diretora de Apoio Institucional - Profa. Dra. Clerilei Aparecida Bier - UDESC Diretor de Educação Jurídica - Prof. Dr. Eid Badr - UEA / ESBAM / OAB-AM Diretoras de Eventos - Profa. Dra. Valesca Raizer Borges Moschen – UFES e Profa. Dra. Viviane Coêlho de Séllos Knoerr - UNICURITIBA Diretor de Apoio Interinstitucional - Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira – UNINOVE

G763

Garantias fundamentais [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UFS;

Coordenadores: Edinilson Donisete Machado, Luiz Fernando Bellinetti, Margareth Anne

Leister – Florianópolis: CONPEDI, 2015.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-057-2

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: DIREITO, CONSTITUIÇÃO E CIDADANIA: contribuições para os objetivos de

desenvolvimento do Milênio

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Garantias fundamentais.

I. Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE).

CDU: 34

Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br

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XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS

GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Apresentação

APRESENTAÇÃO

O desafio de se efetivarem as garantias fundamentais previstas no ordenamento jurídico de

nosso país exige um amplo engajamento dos diversos setores e instituições jurídicas

contemporâneas.

A academia tem colaborado decisivamente para este processo e o Conpedi tem se firmado, ao

longo de mais de duas décadas, como um espaço fecundo para o debate sobre o tema e sua

consequente implementação como instrumento transformador para que se possa alcançar a

sociedade livre, justa e solidária preconizada em nossa Constituição Federal.

O Grupo de Trabalho Garantias Fundamentais, cujas atividades foram realizadas durante o

XXIV Encontro Nacional do CONPEDI, em Aracajú/SE, no período compreendido entre os

dias 03 e 06 de junho de 2015, confirmou essa trajetória.

As contribuições de pesquisadores de diversos Programas qualificados de pós-graduação em

Direito enriqueceram a apresentação e discussão dos trabalhos do Grupo, possibilitando a

troca de experiências, estudos e investigações visando esse contínuo processo de efetivação

das garantias fundamentais.

Do exame e discussão dos trabalhos selecionados foi possível identificar a riqueza dos textos

com investigações realizadas desde o âmbito da filosofia até as especifidades da dogmática

jurídica.

Foram apresentados e discutidos vinte e um trabalhos, que veicularam percucientes estudos e

análises sobre as garantias fundamentais vinculadas às mais diversas searas do universo

jurídico.

Gostaríamos que as leituras dos trabalhos aqui apresentados pudessem reproduzir, ainda que

em parte, a riqueza e satisfação que foi para nós coordenarmos este Grupo, momento singular

de aprendizado profundo sobre o tema.

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É por isso que temos imensa satisfação de levar à publicação mais uma obra coletiva, que

testemunha o conjunto de esforços do CONPEDI e seus associados, reunindo estudos e

pesquisas sobre a temática das Garantias Fundamentais.

Esperando que a obra seja bem acolhida, os organizadores se subscrevem.

Prof. Dr Edinilson Donisete Machado UNIVEM

Prof. Dr. Luiz Fernando Bellinetti UEL

Profa. Dra. Margareth Anne Leister - UNIFIEO

Page 5: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

ACERCA DA POSSIBILIDADE TÉCNICA-CONSTITUCIONAL DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL.

ABOUT TECHNICAL POSSIBILITY OF CONSTITUTIONAL-REDUCTION OF AGE CRIMINAL

Ricardo Bernd Glasenapp

Resumo

O Brasil adota em sua Constituição Federal o estabelecimento da maioridade penal aos

dezoito anos, mais precisamente em seu artigo 228. Ocorre que tal norma constitucional é

vista por muitos como pertencente ao rol de cláusulas pétreas constitucionais, de forma a não

ser possível sua alteração por meio de emenda constitucional. O presente artigo traz como

objetivo principal demonstrar que, muito embora de fato a maioridade penal seja uma

cláusula pétrea, existe a possibilidade técnica de, por meio de emenda constitucional, realizar

a alteração da maioridade penal, quer para maior quer para menor. Ou seja, não se pretende

aqui defender a redução da maioridade penal, mas sim apenas demonstrar que tecnicamente é

sim possível realizar tal alteração constitucional vez que o fato de ser cláusula pétrea não

impediria tal alteração. O método a ser desenvolvido na pesquisa será o dedutivo com

pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Maioridade penal, Direitos e garantias individuais, Emenda constitucional

Abstract/Resumen/Résumé

Brazil adopts in its Constitution the establishment of legal age to eighteen, more precisely in

Article 228. It turns out that this constitutional provision is seen by many as belonging to the

list of constitutional foundation stones, so as not to be possible for its amendment

constitutional amendment. This article has as main objective to demonstrate that, although in

fact the legal age is an ironclad clause, there is a technical possibility, through a

constitutional amendment, make the change of the legal age for either higher or lower for.

That is, it is not intended here to defend the reduction of criminal responsibility , but only to

demonstrate that technically it is indeed possible make such constitutional amendment as the

fact that entrenchment clause would not prevent such change. The method to be developed in

the research will be the deductive with literature.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Criminal responsibility, Individual rights and guarantees, Constitutional amendment

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Page 6: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

Introdução

Primeiramente, cabe destacar que o presente artigo não tem o intuito de questionar se a

redução da maioridade penal seria eficaz ou não para que os índices brasileiros de violência

atuais caíssem vertiginosamente no País; como também não é o intuito o de demonstrar que a

maioridade penal não é cláusula pétrea, pois é; o objetivo central deste artigo é, sim, tão

somente o de questionar se a maioridade penal, sendo uma cláusula pétrea, pode ou não sofrer

alteração quanto à idade diante da ordem constitucional atual.

Em dias como os atuais, em que a violência assola toda a sociedade brasileira diariamente, a

Proposta de Emenda à Constituição nº 171/1993 é colocada em pauta de discussão não apenas

no Congresso Nacional, mas também junto à sociedade. E como centro desta discussão está a

constitucionalidade ou não de poder realizar a redução da maioridade penal.

Claro é que, em havendo interesse em se reduzir a maioridade penal, isto jamais poderia ser

feito por meio de legislação infraconstitucional, vez que tal assunto está previsto

expressamente no corpo da Constituição Federal, como se verá a seguir. Assim, seria

necessária uma séria análise do Texto Constitucional para descobrir se tal proposta de emenda

seria possível sob os limites materiais constitucionais. Em poucas palavras: a Constituição

Federal permitiria a redução da maioridade penal? É o que vamos analisar neste artigo

científico.

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1. A questão da maioridade penal

A maioridade penal, em verdade, trata-se de um instrumento de política criminal em que o

chamado Estado Polícia define dentro do ordenamento jurídico a partir de que idade as

pessoas passarão a responder por crimes como adulto e, consequentemente, até que idade tais

pessoas responderão como adolescente.

Claro é que tal assunto não é de fácil análise, vez que não estamos tratando de um assunto

unicamente jurídico; há diversos outros aspectos relevantes a serem abordados quando de uma

discussão profunda sobre a definição da maioridade penal; pois aspectos sociais, psicológicos,

médicos, assistenciais, dentre outros, estão diretamente ligados ao estudo do Direito Penal

como um todo; diferente não poderia ser quando abordamos a maioridade penal.

A escolha da maioridade penal ser aos 18 anos decorre, na verdade, de uma opção político-

criminal que levaram em consideração também alguns diplomas internacionais que

sucessivamente reconheceram direitos e garantias as crianças e adolescentes. Outra motivação

importante quanto à escolha da maioridade penal aos 18 anos é o reconhecimento científico

da etapa do desenvolvimento humano denominada adolescência, que vem sendo delimitada

entre os 12 e os 17 anos de idade e que, por suas particularidades, exige uma atenção

diferenciada.

O Brasil, desde aproximadamente a década de 1940, adota a maioridade penal aos dezoito

anos; de lá para cá a legislação nacional se manteve, inclusive com a Constituição Federal de

1988 estabelecendo a maioridade penal nesta mesma idade.

2. A maioridade penal no âmbito dos tratados internacionais de direitos humanos.

Em relação aos tratados internacionais de que o Brasil é signatário, não há qualquer um que

prescreva a maioridade penal aos dezoito anos. Por exemplo, a Convenção Americana de

Direitos Humanos (1969) e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos da ONU

(1966) apenas proíbem a aplicação da pena de morte a menores de dezoito anos (arts. 4º.5 e

6º.5, respectivamente). Esses tratados internacionais, nos seus arts. 5º.5 e 14.4,

respectivamente, ao lado da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança (art. 40), tão

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somente recomendam a definição de uma idade mínima para a imputabilidade penal, sem

determinar que tal idade mínima tenha que ser os 18 anos.

Podemos observar, logo, que somente há recomendação dos tratados internacionais de direitos

humanos para que as legislações internas dos países signatários estabeleçam uma maioridade

penal, seja lá qual esta for.

Ainda na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, seu art. 1. determina que “nos

termos da presente Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos

termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo”. Observa-se aqui que este

tratado internacional de direitos humanos determina o limite de idade para ser criança,

trazendo inclusive, de forma expressa, a possibilidade de exceção dos casos em que a

maioridade for mais cedo de acordo com as legislações nacionais.

Cumpre destacar que o Estatuto de Roma, que instituiu o Tribunal Penal Internacional,

estabelece em seu artigo 26 a maioridade penal aos dezoito anos, mas só para os crimes de

genocídio, de guerra, de agressão e contra a humanidade que “afetam a comunidade

internacional em seu conjunto”, conforme determinado pelo art. 5º.1 do mesmo instrumento

internacional.

Em análise acerca da maioridade penal em outros ordenamentos jurídicos, podemos observar

que cada país define a maioridade penal conforme critérios próprios, como demonstrado no

Anexo 1.

Portanto, analisando os tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é

signatário, podemos afirmar que não há qualquer determinação para que a maioridade penal

seja aos 18 anos.

Uma vez superada a análise dos diplomas internacionais, agora passaremos a analisar a

legislação brasileira, com destaque para o Texto Constitucional e seus limites materiais.

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3. As cláusulas pétreas do parágrafo 4º do art. 60 da Constituição Federal como limites

materiais.

O art. 60 parágrafo 4º da Constituição Federal de 1988 traz as chamadas cláusulas pétreas, ou

seja, os limites materiais sobre os temas constitucionais que não poderão ser objeto de

propostas de emendas que as tendam a abolir. Tais temas constitucionais são a forma

federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e

os direitos e garantias individuais.

Antes de darmos atenção aos incisos do parágrafo 4º do artigo 60, importante chamar a

atenção para o que está expressamente disposto neste parágrafo quarto. A leitura textual do

disposto na norma constitucional ora em análise nos faz perceber que não há uma proibição

total da Constituição Federal quanto aos temas protegidos em cláusula pétrea; o que há, e isto

parece-nos claro, é uma proteção contra a abolição, mesmo que indireta, da forma federativa

de Estado; do voto direto, secreto, universal e periódico; da separação dos Poderes; e dos

direitos e garantias individuais. Se não, vejamos:

Constituição Federal

Art. 60. ------------

Parágrafo 4º Não será objeto de deliberação proposta de emenda tendente a

abolir:

I – a forma federativa de Estado;

II – o voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos poderes;

IV – os direitos e garantias individuais.

Portanto, podemos afirmar que, ao invés de dizermos que as cláusulas pétreas são intocáveis,

o mais correto seria dizermos que as cláusulas pétreas podem ser objeto de emenda

constitucional desde que tomadas as devidas atenções para que não se tenda a aboli-las,

mesmo que indiretamente. Entendemos ser exatamente este um dos pontos principais, senão o

principal, deste artigo; pois é exatamente aqui que encontramos a possibilidade de alteração

da maioridade penal diante da interpretação textual do disposto constitucional.

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Como vimos, a norma constitucional é bem clara ao determinar a vedação à deliberação de

toda e qualquer proposta de emenda que tenda a abolir, dentre outros temas, os direitos e

garantias individuais. Não há uma vedação expressa às propostas de emenda que versem

sobre direitos e garantias individuais, bem como sobre as demais cláusulas pétreas.

Voltaremos à esta interpretação mais adiante.

Por outro lado, parte da doutrina entende que tal expressão não poderia, em síntese, ser

interpretada de forma tão ampla. É o que expõe, em trecho determinado, José Carlos

Francisco1 ao afirmar que é certo que tal expressão “possibilita projetos de emendas que

visem ampliar as previsões constantes desse preceito constitucional, ou seja, não levem

prejuízo (mas sim reforço) aos institutos tratados nesse mesmo parágrafo 4º”.

No mesmo sentido pensa Jorge Miranda, que afirma que diante da intangibilidade de certos

princípios, preceitos poderão ser eventualmente modificados para clarificação, ou até reforço,

de princípios2. Assim, uma vez respeitos os princípios constitucionais protegidos por

cláusulas pétreas, não haveria óbice em realizar alterações constitucionais neste sentido.

José Carlos Francisco volta a tocar no assunto ao afirmar que outra certeza decorrente da

expressão “tendente a abolir” seria a impossibilidade de emendas eliminando por completo os

temas elevados à garantia de imutabilidade. O autor, portanto, esclarece que dando um amplo

alcance à expressão “tendente a abolir”, estaríamos diante de proibições relativas às

propostas de emendas que tanto diretamente prejudiquem as chamadas matérias pétreas, como

também as que indiretamente modifiquem negativamente tais pontos3.

Raul Machado Horta4 afirma que

a interpretação da proposta de emenda tendente a abolir não se detém na

emenda frontal, grosseira, rombuda, aleijão jurídico escandaloso, para

abranger na sua eficácia proibitória a proposta oblíqua, indireta, sinuosa,

capaz, pelos seus efeitos nocivos, de incorrer no comprometimento da

1 FRANCISCO, José Carlos. Emendas constitucionais e limites flexíveis. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 83. 2 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1991.

3 FRANCISCO, José Carlos. Emendas constitucionais e limites flexíveis. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 83. 4 HORTA, Raul Machado. Natureza, limitações e tendências da Revisão Constitucional. Revista Brasileira de

Estudos Políticos nº 78/70-94. p. 18

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irreformabilidade e na virtual abolição da regra e do princípio protegidos

pela intangibilidade.

Para Manoel Gonçalves Ferreira Filho, enquanto tiverem vigência, os preceitos que

expressam esses limites são absolutos e devem ser obedecidos. Desse modo, as matérias

versadas nas cláusulas pétreas são imodificáveis enquanto forem vigentes os dispositivos que

as contêm. Todavia, adverte quanto à possibilidade de superação dessas disposições

limitativas (seja por modificação, seja até mesmo por revogação) mediante mecanismos de

reforma constitucional5.

A favor do pensamento ora defendido, encontramos as palavras da Cármen Lúcia Antunes

Rocha, que, valorizando a existência de limites materiais ao poder de revisão, acredita na

natureza relativa desses em razão das modificações ocorridas em face do processo de

transformação social6.

Luís Roberto Barroso já escreveu afirmando que a locução tendente a abolir não pode

“prestar-se a ser uma inútil muralha contra o vento da história, petrificando determinado

status quo”7. Para tal autor, a Constituição “não deve ter a pretensão de suprimir a deliberação

majoritária legítima dos órgãos de representação popular, juridicizando além da conta o

espaço próprio da política”8.

O próprio Supremo Tribunal Federal já afirmou, em decisões importantes, que “os limites

materiais ao poder constituinte de reforma não significam a intangibilidade literal da

disciplina dada ao tema pela Constituição originária, mas apenas a proteção do núcleo

essencial dos princípios e institutos protegidos pelas cláusulas pétreas”9.

Assim, podemos afirmar, com amparo na jurisprudência10

do Supremo Tribunal Federal, que

as cláusulas pétreas são limites materiais que a própria Constituição originária criou para que

5 FRANCISCO, José Carlos. Emendas constitucionais e limites flexíveis. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 114. 6 ROCHA, Carmén Lúcia Antunes. Constituição e mudança constitucional: limites ao exercício do poder de

reforma constitucional. Brasília: Revista de Informação Legislativa. a 30, nº 120, out/dez de 1993. 7 BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a

construção de um novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 169. 8 Idem.

9 Ibidem. 10 STF, DJU, 14 nov. 2003, p. 14, MS 23.047/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence: “Reitero de logo que a meu ver

as limitações materiais ao poder constituinte de reforma, que o art. 60 parágrafo 4º, da Lei Fundamental

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determinados temas, essenciais à sociedade, fossem protegidos contra possíveis extinções por

meio de emendas constitucionais extintivas de direitos, por exemplo.

Uma vez dito isto, passemos a observar os incisos do parágrafo 4º do artigo 60 da

Constituição Federal, ou seja, as cláusulas pétreas.

Dentro da cláusula pétrea relativa à forma federativa de Estado, podemos encontrar diversas

normas constitucionais que estão protegidas contra possíveis emendas constitucionais; como

por exemplo a repartição constitucional de competências, a existência do Senado, a

indissolubilidade da Nação; dentre outras.

Quanto ao voto direto, secreto, universal e periódico, tal proteção constitucional visa proteger

o exercício da democracia representativa que, muito embora não se encontrem no rol dos

direitos e garantias previstos no art. 5º da Constituição Federal, são entendidos como

cláusulas pétreas.

Já quando a Constituição Federal traz como cláusula pétrea a separação de poderes, é nítida a

intenção do legislador constitucional originário de proteger a independência funcional dos

poderes, de forma a manterem-se harmônicos entre si; sem que haja um desequilíbrio no

exercício das competências constitucionais definidas.

E, finalmente, quanto aos direitos e garantias individuais, por ser este tema importante deste

artigo, reservamos um capítulo a parte só para abordar com a profundidade necessária o tema.

4. Os direitos e garantias individuais como cláusulas pétreas

Antes de um aprofundamento neste quesito, cumpre destacar que não se pretende aqui afirmar

que a maioridade penal não configura uma garantia individual; pelo contrário, aqui se

enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas apenas

a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege. Convém olvidar que,

no ponto, uma interpretação radical e expansiva das normas de intangibilidade da Constituição, antes de

assegurar a estabilidade institucional, é a que arrisca legítimas rupturas revolucionárias ou dar pretexto fácil à

tentação de golpes de Estado”.

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pretende exatamente demonstrar que a maioridade penal é sim uma garantia individual,

todavia passível de ser objeto de proposta de emenda constitucional.

Importante se faz discorrer sobre os direitos e garantias individuais, protegidos como cláusula

pétrea constitucional, conforme disposto no inciso IV do parágrafo 4º do art. 60; para deixar

claro, também, que a maioridade penal encontra-se protegida como tal.

Cumpre lembrar que estes “direitos e garantias individuais” mencionados acima estão

localizados não apenas ao longo dos incisos do artigo 5º da Constituição Federal, mas sim ao

longo de todo o Texto Constitucional. Esta é a opinião consolidada da jurisprudência,

especialmente do Supremo Tribunal Federal. Na ADIN 939-7/DF, o Ministro Carlos Velloso

manifestou dessa forma seu entendimento de que os direitos e garantias individuais não são

apenas os elencados no artigo 5º da Constituição Federal:

“Ora, a Constituição, no seu art. 60, parágrafo 4º, inciso IV, estabelece que

“não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV –

os direitos e garantias individuais.” Direitos e garantias individuais não são

apenas aqueles que estão inscritos nos incisos do art. 5º. Não. Esses direitos

e essas garantias se espalham pela Constituição. O próprio art. 5º, no seu

parágrafo 2º, estabelece que os direitos e garantias expressos nesta

Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por

ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República do Brasil

seja parte.

É sabido, hoje, que a doutrina dos direitos fundamentais não compreende,

apenas, direitos e garantias individuais, mas, também, direitos e garantias

sociais, direitos atinentes à nacionalidade e direitos políticos. Este quadro

todo compõe a teoria dos direitos fundamentais. Hoje não falamos, apenas,

em direitos individuais, assim direitos de primeira geração. Já falamos em

direitos de primeira, de segunda, de terceira e até de quarta geração. O

mundo evoluiu, e assim, também, o Direito.

Nesta mesma ADIN 939-7/DF, o Ministro Marco Aurélio manifestou-se no mesmo sentido da

seguinte forma:

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“Senhor Presidente, em primeiro lugar, registro minha convicção firme e

categórica de que não temos, como garantias constitucionais, apenas o rol do

artigo 5º da Lei Básica de 1988. Em outros artigos da Carta encontramos,

também, princípios e garantias do cidadão, nesse embate diário que trava

com o Estado, e o objetivo maior da Constituição é justamente proporcionar

uma certa igualação das forças envolvidas – as do Estado e as de cada

cidadão considerado de per si. A demonstração inequívoca da procedência

desse entendimento está no parágrafo 2º do artigo 5º:

Parágrafo 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou

dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja

parte.

Veja V. Exª, que o Diploma Maior admite os direitos implícitos, os direitos

que decorrem de preceitos nela contidos e que, portanto, não estão

expressos.

Além disso, o parágrafo 2º do artigo 5º da Constituição Federal afirma, sem deixar qualquer

possibilidade de dúvida, que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Assim, resta claro que os

direitos e garantias individuais não estão apenas localizados no art. 5º da Constituição

Federal.

Desta forma, concluída a realização da análise do Texto Constitucional, juntamente com a

doutrina e a jurisprudência, volta-se à pergunta formulada anteriormente no presente texto:

trata-se a maioridade penal uma cláusula pétrea?

A única resposta possível é: sim. Como veremos a seguir.

5. A maioridade penal como cláusula pétrea

Inquestionável é o fato de a maioridade penal ser uma cláusula pétrea. Como já observado,

pela relevante jurisprudência da ADIN 939-7/DF, os direitos e garantias individuais não são

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Page 15: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

apenas os elencados no artigo 5º da Constituição Federal, mas sim também abrangendo outros

direitos e garantias previstos ao longo do Texto Constitucional; inclusive a maioridade penal.

Como comentado anteriormente, este é o ponto central deste artigo; pois chegamos ao cerne

da questão: a maioridade penal é sim uma cláusula pétrea, mas que, todavia, pode ser objeto

de alteração constitucional.

A análise do disposto no art. 60 parágrafo 4º da Constituição Federal, nos faz perceber que

não há uma proibição total, absoluta, da Constituição Federal quanto aos temas protegidos em

cláusula pétrea; o que há, e isto nos parece claro, é uma proteção contra qualquer tipo de

abolição de cláusulas pétreas, mesmo que indiretamente. Se não, vejamos.

Podemos, sim, afirmar que o mais correto seria interpretarmos as cláusulas pétreas como

objetos passíveis de emenda constitucional desde que tomadas as devidas atenções para que

não se tenda a aboli-las, mesmo que indiretamente.

Como vimos, a norma constitucional é bem clara ao determinar a vedação à deliberação de

toda e qualquer proposta de emenda que tenda a abolir direitos e garantias individuais. Não há

uma vedação expressa às propostas de emenda que versem sobre direitos e garantias

individuais, bem como sobre as demais cláusulas pétreas.

Reiteramos: o que se apresenta aqui não é a defesa de a maioridade penal não ser cláusula

pétrea, muito pelo contrário. O que se apresenta aqui é um raciocínio jurídico de que o que se

entende por cláusula pétrea deve ser a existência da maioridade penal, e não o fato dela ser

aos dezoito anos.

Todavia, o respeitável IBCCRIM – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, por ocasião da

discussão no Congresso Nacional da PEC nº 171/1993, que trata da redução da maioridade

penal, manifestou-se contrário à tal proposta de redução da maioridade penal por meio de uma

nota técnica, da qual destacamos o seguinte trecho11

:

11 IBCCRIM , Nota Técnica sobre a PEC 171/1993, 2015.

163

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“Esses direitos específicos não podem ser objeto de emenda

constitucional tendente a desguarnecer sua proteção, uma vez que se

trata de direitos fundamentais. Isso quer dizer que os artigos 227, 228

e 229 da Carta Magna são típicos direitos sociais, que, na realidade,

nada mais fazem do que especificar o termo genérico de proteção à

infância (previsto no artigo 6º da CF), razão pela qual não podem ser

abolidos”.

Parte da doutrina adota a mesma linha, como René Ariel Dotti que afirma que a previsão do

art. 228 é uma nítida cláusula pétrea e que, por isto, não poderia sofrer alterações12

:

“A inimputabilidade assim declarada constitui uma das garantias

fundamentais da pessoa humana, embora topograficamente não esteja

incluída no respectivo Título (II) da Constituição que regula a matéria.

Trata-se de um dos direitos individuais inerentes à relação do artigo 5º,

caracterizando, assim, uma cláusula pétrea. Consequentemente, a garantia

não poder ser objeto de emenda constitucional visando à sua abolição para

reduzir a capacidade penal em limite inferior de idade — dezesseis anos, por

exemplo, como se tem cogitado. A isso se opõe a regra do § 4º, IV, do art. 60

da CF”.

E no mesmo sentido, Wilson Donizete Liberati13

:

“já não são poucos aqueles que entendem que o enunciado do art. 228

constitui cláusula pétrea. Com acerto, o magistrado paulista, Luís Fernando

Camargo de Barros Vital, comentando ‘A irresponsabilidade penal do

adolescente’, na Revista Brasileira de Ciências Criminais — IBCCRIM (ano

5, n.º 18, abr./jun., 1997, p.91), lembra que ‘neste terreno movediço em que

falta a razão, só mesmo a natureza pétrea da cláusula constitucional (art.

228) que estabelece a idade penal, resiste ao assédio do conservadorismo

penal. A inimputabilidade etária, muito embora tratada noutro capítulo que

não aquele das garantias individuais, é sem dúvida um princípio que integra

12 DOTTI, René Ariel, Curso de Direito Penal: parte geral, Rio de Janeiro, Forense, 2001, p. 413 13 LIBERATI, Wilson Donizete. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, 5ª ed., São Paulo,

Malheiros, 2000, p. 73.

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o arcabouço de proteção da pessoa humana do poder estatal projetado

naquele, e assim deve ser considerado cláusula pétrea”.

Outro questionamento muito apresentado aos contrários à possibilidade de redução da

maioridade penal é se esta decorre do princípio da dignidade da pessoa humana. No nosso

entendimento, não decorre. A previsão de uma idade mínima para a imputabilidade penal é,

esta sim, uma garantia individual, e relacionada ao princípio supra citado; mas o seu quantum

não, por ser um instrumento de política criminal.

Entendemos que a sociedade atual não pode estar amarrada às decisões políticas adotadas pela

sociedade passada; a sociedade evolui e o Direito precisa acompanhar tal evolução,

atualizando seu ordenamento jurídico para atender às novas demandas.

Diante do todo exposto acima, podemos afirmar que o que a Constituição Federal protege

como cláusula pétrea é exatamente a existência de uma maioridade penal, independentemente

da idade com que esta seja estabelecida. Assim, a Constituição Federal prevê como garantia

individual não a maioridade penal aos dezoito anos, mas sim ela em si.

Muito embora parte respeitável da doutrina entenda que não seja possível a redução da

maioridade penal, como exposto anteriormente, ouso discordar de respeitáveis doutrinadores

para afirmar que, a meu ver, a redução da maioridade penal pode sim ser considerada

constitucional, vez que é a existência da maioridade penal que deve ser interpretada como

sendo uma garantia constitucional protegida como cláusula pétrea, não o fato dela ser aos

dezoito anos.

Conclusão

Muito embora parte respeitável da doutrina entenda que não seja possível a redução da

maioridade penal, como exposto anteriormente, sob a justificativa de que o fato de a

maioridade penal ser cláusula pétrea não poderia sofrer qualquer alteração quanto ao

estabelecimento de sua idade, ouso discordar de respeitáveis doutrinadores para afirmar que, a

nosso ver, a redução da maioridade penal pode sim ser considerada constitucional, vez que é a

165

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existência da maioridade penal que deve ser interpretada como sendo uma garantia

constitucional protegida como cláusula pétrea, não o fato dela ser aos dezoito anos.

Como explanado logo no início do presente artigo, este não foi redigido para defender a

redução da maioridade penal, vez que tal discussão não deve se restringir ao aspecto jurídico.

O objetivo deste artigo foi o de fazer apenas uma pequena contribuição à esta importante

discussão que vem tornando-se mais atual diante da PEC 171/1993 junto ao Congresso

Nacional.

A opinião aqui defendida é a de que, tecnicamente, seria sim possível reduzir-se a maioridade

penal de 18 para 16, assim como seria possível aumenta-la de 18 para 20; vez que a idade em

que foi estabelecida a maioridade penal pelo poder constituinte originário não é cláusula

pétrea, sendo sim passível de ser objeto de proposta de emenda constitucional.

Reduzir a maioridade penal, ou aumenta-la se fosse o caso, em momento algum atentaria

contra a existência da maioridade penal, ou a aboliria. Tão somente haveria uma readequação

da norma constitucional às necessidade sociais atuais pelo poder constituinte reformador.

Portanto, concluímos que maioridade penal é sim uma cláusula pétrea protegida pela

Constituição Federal como um dos direitos e garantias individuais existentes ao longo do

texto constitucional; todavia o fato de maioridade penal ser uma cláusula pétrea não a impede

de sofrer alterações dentro dos limites constitucionais estabelecidos.

Caso seja da vontade popular a redução da maioridade penal, esta poderá ser reduzida por

meio de emenda constitucional seguindo os procedimentos constitucionais de aprovação.

166

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Referências bibliográficas

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fundamentais e a construção de um novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2010.

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FRANCISCO, José Carlos. Emendas constitucionais e limites flexíveis. Rio de Janeiro:

Forense, 2003.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 29. ed. rev.e atual.

São Paulo: Saraiva, 2002.

HORTA, Raul Machado. Natureza, limitações e tendências da Revisão Constitucional.

Revista Brasileira de Estudos Políticos nº 78/70-94.

IBCCRIM , Nota Técnica sobre a PEC 171/1993, 2015.

LIBERATI, Wilson Donizete. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente, 5ª ed.,

São Paulo, Malheiros, 2000.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1991.

OEA, Organização dos Estados Americanos, Convenção Americana de Direitos Humanos,

1969.

ONU, Organização das Nações Unidas. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,

1966.

________________________________. Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança,

1990.

167

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Paulo, Saraiva, 2006.

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do poder de reforma constitucional. Brasília: Revista de Informação Legislativa. a 30, nº 120,

out/dez de 1993.

168

Page 21: (Páginas 153 a 176) Ricardo Bernd

ANEXO 1

O CAOPCAE - Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do

Adolescente do Ministério Público do Paraná fez um levantamento mais preciso sobre a

maioridade penal ao redor do mundo. O fruto deste levantamento é esta tabela

Países

Responsabilidade

Penal Juvenil

Responsabilidade

Penal de Adultos

Observações

Alemanha 14 18/21 De 18 a 21 anos o sistema alemão

admite o que se convencionou chamar

de sistema de jovens adultos, no qual

mesmo após os 18 anos, a depender do

estudo do discernimento podem ser

aplicadas as regras do Sistema de justiça

juvenil. Após os 21 anos a competência

é exclusiva da jurisdição penal

tradicional.

Argentina 16 18 O Sistema

Argentino é Tutelar.

A Lei n° 23.849 e o Art. 75 da

Constitución de la Nación Argentina

determinam que, a partir dos 16 anos,

adolescentes podem ser privados

de sua

liberdade se cometem delitos e podem

ser internados

em alcaidías ou

penitenciárias.***

169

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Argélia 13 18 Dos 13 aos 16 anos, o adolescente está

sujeito a uma sanção educativa e

como exceção a uma pena

atenuada a depender de uma análise

psicossocial. Dos

16 aos 18, há uma responsabilidade

especial atenuada.

Áustria 14 19 O Sistema Austríaco prevê até os 19

anos a aplicação da Lei de Justiça

Juvenil (JGG). Dos 19 aos 21 anos as

penas são atenuadas.

Bélgica 16/18 16/18 O Sistema Belga é tutelar e portanto

não admite responsabilidade abaixo

dos 18 anos. Porém, a partir dos 16

anos admite-se a revisão da presunção

de irresponsabilidade para alguns

tipos de delitos, por exemplo os

delitos de trânsito, quando o

adolescente poderá ser submetido a um

regime de penas.

Bolívia 12 16/18/21 O artigo 2° da lei 2026 de 1999 prevê

que a responsabilidade de adolescentes

incidirá entre os 12 e os 18 anos.

Entretanto outro artigo (222) estabelece

que a responsabilidade se aplicará a

pessoas entre os

12 e 16 anos. Sendo que na faixa

etária de 16 a 21 anos serão também

aplicadas as normas da legislação.

170

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Brasil 12 18 O Art. 104 do Estatuto da Criança e do

Adolescente determina que são

penalmente inimputáveis os menores

de 18 anos, sujeitos às medidas

socioeducativas previstas na Lei.***

Bulgária 14 18 –

Canadá 12 14/18 A legislação canadense (Youth

Criminal Justice Act/2002) admite que

a partir dos 14 anos, nos casos de

delitos de extrema gravidade, o

adolescente seja julgado pela Justiça

comum e venha a receber sanções

previstas no Código Criminal, porém

estabelece que nenhuma sanção

aplicada a um adolescente poderá ser

mais severa do que aquela aplicada a

um adulto pela prática do mesmo

crime.

Países

Responsabilida

de

Penal Juvenil

Responsabilidad

e

Penal de Adultos

Observações

Colômbia 1

4

18 A nova lei colombiana 1098 de 2006, regula

um sistema de responsabilidade penal de

adolescentes a partir dos 14 anos, no entanto

a privação de liberdade somente é admitida

aos maiores de 16 anos, exceto nos casos

de homicídio doloso, sequestro e extorsão.

171

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Chile 14/1

6

18 A Lei de Responsabilidade Penal de

Adolescentes chilena define um sistema de

responsabilidade dos 14 aos 18 anos, sendo

que em geral os adolescentes somente são

responsáveis a partir dos 16 anos. No caso

de um adolescente de 14 anos autor de

infração penal a responsabilidade será dos

Tribunais de Família.

China 14/1

6

18 A Lei chinesa admite a responsabilidade de

adolescentes de 14 anos nos casos de crimes

violentos como homicídios, lesões graves

intencionais, estupro, roubo, tráfico de

drogas, incêndio, explosão, envenenamento,

etc. Nos crimes cometidos sem violências, a

responsabilidade somente se dará aos 16

anos.

Costa Rica 1

2

18 –

Croácia 14/1

6

18 No regime croata, o adolescente entre 14 e

dezesseis anos é considerado Junior minor,

não podendo ser submetido a medidas

institucionais/correcionais. Estas somente são

impostas na faixa de 16 a 18 anos, quando os

adolescentes já são considerados Senior Minor.

Dinamarca 1

5

15/18 –

El Salvador 1

2

18 –

Escócia 8/1

6

16/21 Também se adota, como na Alemanha, o

sistema de jovens adultos. Até os 21 anos de

idade podem ser aplicadas as regras da

justiça juvenil.

Eslováquia 1

5

18

Eslovênia 1

4

18

172

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Espanha 1

2

18/21 A Espanha também adota um Sistema de

Jovens Adultos com a aplicação da Lei

Orgânica 5/2000 para a faixa dos 18 aos 21

anos.

Estados

Unidos

10

*

12/16 Na maioria dos Estados do país,

adolescentes com mais de 12 anos podem ser

submetidos aos mesmos procedimentos dos

adultos, inclusive com a imposição de pena

de morte ou prisão perpétua. O país não

ratificou a Convenção Internacional sobre os

Direitos da Criança.2

Estônia 1

3

17 Sistema de Jovens Adultos até os 20 anos de

idade.

Equador 1

2

18 –

2 Em 2005, a Suprema Corte dos EUA proibiu a aplicação da pena de morte a menores.

Países

Responsabilida

de

Penal Juvenil

Responsabilida

de

Penal de

Adultos

Observações

Finlândia 15 18 –

França 13 18 Os adolescentes entre 13 e 18 anos gozam de

uma presunção relativa de

irresponsabilidade penal. Quando

demonstrado o discernimento e fixada a pena,

nesta faixa de idade (Jeune) haverá uma

diminuição obrigatória. Na faixa de idade

seguinte (16 a 18) a diminuição fica a critério

do juiz.

Grécia 13 18/2

1

Sistema de jovens adultos dos 18 aos 21

anos, nos mesmos moldes alemães.

Guatemala 13 18 –

Holanda 12 18 –

173

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Honduras 13 18 –

Hungria 14 18 –

Inglaterra

e Países

de Gales

10/15

*

18/2

1

Embora a idade de início da responsabilidade

penal na Inglaterra esteja fixada aos 10 anos,

a privação de liberdade somente é admitida

após os 15 anos de idade. Isto porque

entre 10 e 14 anos existe a categoria

Child, e de 14 a 18 Young Person, para a

qual há a presunção de plena

capacidade e a imposição de penas em

quantidade diferenciada das penas aplicadas

aos adultos. De 18 a 21 anos, há também

atenuação das penas aplicadas.

Irlanda 12 18 A idade de inicio da responsabilidade está

fixada aos

12 anos porém a privação de liberdade

somente é aplicada a partir dos 15 anos.

Itália 14 18/2

1

Sistema de Jovens Adultos até 21 anos.

Japão 14 21 A Lei Juvenil Japonesa embora possua uma

definição delinqüência juvenil mais ampla

que a maioria dos países, fixa a maioridade

penal aos 21 anos.

Lituânia 14 18 –

México 11*

*

18 A idade de inicio da responsabilidade

juvenil mexicana é em sua maioria aos 11

anos, porém os estados do país possuem

legislações próprias, e o sistema ainda é

tutelar.

Nicarágua 13 18 –

Noruega 15 18 –

Países

Baixos

12 18/2

1

Sistema de Jovens Adultos até 21 anos.

Panamá 14 18 –

174

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Paraguai 14 18 A Lei 2.169 define como “adolescente” o

indivíduo entre 14 e 17 anos.

Países

Responsabilida

de

Penal Juvenil

Responsabilida

de

Penal de

Adultos

Observações

os adolescentes são penalmente

responsáveis, de acordo com as normas de

seu Livro V.***

Peru 12 18 –

Polônia 13 17/1

8

Sistema de Jovens Adultos até 18 anos.

Portugal 12 16/2

1

Sistema de Jovens Adultos até 21 anos.

República

Dominican

a

13 18 –

República

Checa

15 18 –

Romênia 16/1

8

16/18/21 Sistema de Jovens Adultos.

Rússia 14*/1

6

14/1

6

A responsabilidade fixada aos 14 anos

somente incide na pratica de delitos graves,

para os demais delitos, a idade de inicio é aos

16 anos.

Suécia 15 15/1

8

Sistema de Jovens Adultos até 18 anos.

Suíça 7/1

5

15/1

8

Sistema de Jovens Adultos até 18 anos.

Turquia 11 15 Sistema de Jovens Adultos até os 20 anos de

idade. Uruguai 13 18 –

175

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Venezuela 12/1

4

18 A Lei 5266/98 incide sobre adolescentes de

12 a 18 anos, porém estabelece

diferenciações quanto às sanções aplicáveis

para as faixas de 12 a 14 e de 14 a

18 anos. Para a primeira, as medidas

privativas de liberdade não poderão exceder

2 anos, e para a segunda não será superior

a 5 anos.

* Somente para delitos graves.

** Legislações diferenciadas em cada estado.

*** Complemento adicional.

176