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ALCANTARA MACHADO

Para- a Históriar---da

Reforma Penal Brasi

Separata de "DIREITO"

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Para a história da reforma penal brasileira ALCANTARA MACHADO.

Prof. de Med. Legal da Fac. de- Direito da Univ. de São Paulo.

1. Testemunho decisivo da excelente cultura jurídica de seus elaboradores, o código criminal .de 16 de dezembro de 1830 representava d( fato "em alguns de seus pontos... a última expressão da penalidade moderna", consoante procla­mou com ufania e justiça FRANCISCO BERNARDINO RIBEIRO (1).

O que mais encarece o valor da obra é o senso prático de que está imbuida, a preocupação qominante e vitoriosa de con­formar a lei "com os principios da Jurisprudência que mais se amoldam às atuais circunstancias físicas, políticas e mo­rais do Império". Tal a norma traçada, em parecer datado de 14 de agosto de 1"827, pela comissão incumbida de estudar os projetos de BERNARDO PEREIRA DE VASCONCELOS e JOSÉ CLE­MENTE PEREIRA (2), norma de que se não afastou o legisla­dor de 1830.

Durante os sessenta anos de sua vigência a nossa pri­meira codificação de leis sofreu, como era natural, várias amputações e acréscimos numerosos. Chegado o último quar­tel do século XIX, tamanho era o número de leis extravagan­tes, que JOAQUIM NABUCO se resolveu a apresentar à Camara de Deputados, em 4 de outubro de 1888, este projeto constante de um Só dispositivo: "Fica autorizado o Ministro da Jus­tiça a mandar fazer uma edição oficial da~ leis penais do Im-

(1) Lição inaugural do curso de direito criminal, em Minerva Bra­sileira, apud. T. ALVES JR., Anot. ao cod. crim., 1.19.

(2) T. ALVES JR., 1-~9.

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perlO, de acôrdo com a lei de 13 de maio de 1888, e interca­lando as disposições esparsas". Julgada objeto de deliberação, foi a proposição mandada, na sessão de 8 de outubro, às co­missões de constituição e legislação e de fazenda, que não lhe deram andamento.

JOÃo VIEIRA DE ARAUJO, catedrático da matéria na Fa­culdade do Recife, aproveitou a idéia lançada pelo represen­tante pernambucano, consolidou as disposições vigentes e em julho de 1889 submeteu o trabalho assim organizado ao Mi­nistro da Justiça, que era então o conselheiro CANDIDO DE OLI­VEIRA. Este,· por aviso de 28 de julho, nomeou uma comissão composta do VISCONDE DE ASSIS MARTINS e srs. ANTÔNIO Ro­DRIGUES TORRES NETO e JOÃo BATISTA PEREIRA, para emitir parecer sobre o anteprojeto. Logo a 10 de outubro seguinte a comissão entregava ao governo o resultado de seus estudos. Depois de mostrar algumas lacunas da obra examinada, o pa­recer concluia pela necessidade urgente, não de nova edição do código, mas da revisão completa da legislação criminal do Império (3).

Pela revisão se decidiu o Ministro, encarregando de for­mular o projeto o dr. JOÃo BATISTA PEREIRA, que fôra um dos membros da referida comissão.

2. Daí a alguns dias a monarquia desabava. A instau­ração do novo regime tornou mais imperiosa do que nunca a reforma da lei penal. CAMPOS SALES, que sucedera a CAN­DIDO DE OLIVEIRA na pasta da Justiça, ratificou a escolha de BATISTA PEREIRA, feita por seu antecessor. .

Dentro em poucos meses estava concluido o trabalho que, adotado com ligeiras modificações, de que não há noticia pre­cisa, pelo Governo Provisório, se converteu no código penal de 11 de outubro de 1890.

Trata-se de emprêsa humana e por isso mesmo bem dis­tante da perfeição. Assinala, porém, avanço consideravel so­bre a codificação de 1830. Recusaram-se a reconhecê-lo os pri­meiros que dela se ocuparam. EDUARDO DURÃO encabeçou o movimento, numa série de artigos, que tiveram entre nós re-

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(3) J. V. ARAUJO, Nova edição oficial do cod. cri,m., 19·10.

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percussão demorada e profunda (4). Sobrava-lhe razão em muitos pontos. Mas, apaixonado e virulento, não fez trabalho construtivo de crítica, apontando imparcialmente acertos e cincadas. Situou-se no papel antipáticQ de censor implacavel, movido pelo pensamento único de farejar e exagerar as im­perfeições. Faltou quem lhe desse réplica imediata. Só muito mais tarde, depois de alastrada e àrraigada a opinião desfa­voravel, foi que BATISTA PEREIRA se decidiu a vir a campo, em àefesa de alguns dos dispositivos condenados (5).

3. Diante disso, diante da convicção injusta que se ge­netalizou, de ser o código de 1890 "o pior de todos os códi­gos conhecidos". não é de admirar que surgisse imediatamente a idéia de reformá-Io.

Veio logo em 1893 o projeto de JOÃo VIEIRA DE ARAUJO, que não conseguiu acolhimento lisongeiro e teve assim pre­judicado o seu andamento. Melhor sorte não lograram outras iniciativas da mesma natureza : _ a da Camara dos Deputados em 1899 e a de .GALDINO DE SIQUEIRA em 1913.

Em 1927 VIRGILIQ DE SÁ PEREIRA recebeu do govêrno a incumbência de fazer novo projeto de reforma. Em um dos últimos dias do ano imediato era divulgado o trabalho.'

Decorreram tres anos, sem que dele se ocupassem os po­deres públicos. Sobreveio a revolução de 1930. Instituiram-se então no período pre-constitucional as sub-comissões legisla­tivas. A de legislação penal, composta de VIRGILIQ DE SÁ PE-

. REIRA, EVARISTO DE MORAIS e BULHÕES PEDREIRA pôs mãos à tarefa de rever o projeto da autoria do primeiro. Daí resultou um substitutivo a que o Governo Provisorio não deu segui­mento.

4. Restaurado o regime constitucional, assumiu a dire­ção da pasta de Justiça o egrégio professor VICENTE RÁo.

Em outubro de 1934 fui surpreendido com este ofício a qu~ só agora se dá publicidade :

(4) Reproduzidos em O Direito. (5) Rev. de jurispr., de RA.JA GABAGLIA.

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"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Ex. que o Governo Fedeml, empenhado em apres­sar a reforma de nosso código e leis penais, resolveu incumbí-lo da elaboração de um projeto, que, como é l:cito espemr da alta e consagrada competência de V. Ex., atualize e complete a nossa legislação so­bre tão impoTtante matéria. Certo de que V. Ex. não nega1'ú ao Paiz e ao Governo mais esse relevante serviço, apToveito a oportunidade para lhe apresen­tar os meus mais cordiais cumprimentos. O Minis­tro da Justiça e Negocios Interiores - (a.) VICEN-TE RÀo". .

Preparava-me para ter um entendimento com o autor de tão honroso convite, quando soube na Camara dos Deputados, onde então tinha assento, que se cogitava de submeter à re­visão parlamentar o trabalho da Sub-·Comissão Legislativa.

Resolvi, à vista disso, adiar por algum tempo a resposta, por não me parecer cm'ial antecipar-me ao voto do Poder Le­gislativo, tomando sobre mim o encargo com que me desva­TJecêra o Governo da União.

O sr. ADOLFO BERGAMINI propôs, com efeito, em 13 de fe­vereiro de 1935, 'que se convertesse em lei o substitutivo. Em brevissimo parecer, de que foi relator o sr. PEDRO ALEIXO, a Comissão de Justiça da :Camara opinou, a 14 de março se­guinte, pela aprovação do projeto em primeira discussão, re­servando-se para oferecer oportunamente emendas modifica­tivas.

Em 1937 o projeto deli entrada no Senado Federal. A este 'incumbia, ex-vi do art. 91 n. VII da Constituição de 16 de Julho, rever os projetos de códigos e consolidações de leis, que tivessem de ser aprovados em globo pela Camara.

A Comissão de Constituição e Justiça, presidida por mim, deu início in continenti ao exame do projeto. Foi a matéria distribuida entre os cinco membros da Comissão, que se com­punha do autor destas linhas e dos senadores ARTHUR COSTA, CLODOMIR :CARDOSO, EDGAR ARRUDA e PACHECO DE OLIVEIRA. Como assistente técnico passou a funcionar CANDIDO MOTA

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FILHO, livre docente de direito penal na Faculdade de Direito de S. Paulo.

Entramos então a trabalhar. A única deliberação tomada coletivamente foi a de dE:!ixar para outra codificação especial as contravenções; e era eu o único dos relatores parciais que ultimára a revisão dos capítulos distribuidos, quando em no­vembro de 1937 se operou a mudança do regime.

5. Ciente do que se fizera na comissão competente do Senado dissolvido, o dr. FRANCISCO CAMPOS, Ministro da Jus­tiça, que, em outras oportunidades, me distinguira com ex­pressivas demonstrações de confiança, chamando-me a cola­borar no plano da reforma do ensino de 1931 e nomeando-me diretor da Faculdade de Direito de S. Paulo, houve por bem encarregar-me da orgarâzacão do novo projeto. De elaborar

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trabalho diferente dos anteriores, e não de rever o da Comis-são Legislativa, como alguem afirmou sem fundamento (6).

Mostram-no os termos da carta que me foi endereçada a 9 de dezembro de 1937 :

" Meu prezado amigo d1·. ALCANTARA MACHADO. Venho pedir-lhe que se enCa1"regue da ELABORA­çÃO DO NOVO CóDIGO PENAL, confirmando as­sim o propósito que pessoarmente. lhe manifestei. Ao confiar-lhe com essa incumbência, tarefa de tão imensas p1'oporções, estou certo de que de suas mãos sairá obra digna do Brasil, e.m correspondência com as sua~· realidades e as teses e os problemas POR­

tulados na atual fase de evolução do. direito crÍ1ni­nal. Agradecendo-lhe antecipadamente a aquiescên­cia a esta convocação, que o Governo lhe dirige por meu intermédio; Subsc1'evo-me, com aprêço e simpa­tia, patr:cio e admirador (a.) FRANCISCO CAMPOS".

o ato gov~rnamental recebeu de um dos maiores crimi­nalistas brasileiros o aplauso mais caloroso e espontâneo, ca-

(6) JosÉ PRUDENTE DE ,SIQUEIRA - A imputabilidade e a responsa­bilidade nos projetos do cod. criminal.

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paz de envaidecer quem não tivesse sido, como eu, tão longa­mente castigado pela vida. E' de ANTÔNIO JOSÉ DA COSTA E

SILVA (7) esta página, que me deixou verdadeiramente con­fuso:

"Inaugurado o regime do governo, sob o qual ora nos achamos, tomaram novo rumo os trabalhos de reforma de nossa antiquada lei penal. Pelo que divulgaram bem informados .órgãos da imprensa diária, foi a delicada e, mais que nunca, árdua ta­refa da elaboração do nosso futuro código criminal confiado à reconhecida cOinpetencia de um dos mes­tres mais afamados da aZ-ma mater de S. Paulo, o dr. ALCANTARA MACHADO. Dessa escolha só se pode falar com incondicionais louvores. Não possue a dis­ciplina do direito criminal, em nosso país, mais bri­lhante cultor do que o eminente catedrático de me­dicina legal de nossa academia de direito. Jurista insigne, é sua ex. tambem primoroso homem de le­tras. Isso garante ao novo código uma qualidade rara em nossas leis - a de ser bem escrito. Um có­digo não preciso ser redigido com elegância; mas se o fôr com isso só terá que lucrar".

6. Pensei a princípio (disse-o na exposição de motivos do ante-projeto da Parte Geral) que, sem embargo dos ter­mos do convite, com que fôra honrado, poderia limitar-me à simples revisão e atualização da obra da Subcomissão Le­gislativa, já iniciada pela Comissão de Justiça do extinto Se­nado. Mas, conforme declarei a seguir,

"verifiquei serem de irrecusavel procedência as crí­ticas que esse trabalho vinha despertando e conti­nua a provocar em o nosso meio jurídico, unanime em proclamar a competencia dos operários, mas acorde em reconhécer as imperfeições da obra. Bem expressivos são os pareceres,em que notáveis pro-

(7) God. Pen., lI, prefacio.

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fessores manifestam o juizo desfavoravel das con­gregações das Faculdades de Direito de S. Paulo e do Recife, quando ouvidas a respeito (8). Não me­nos significativo o pronunciamento contrário do to­das as nossas autoridades, nas obras de direito cri­minal publicadas ultimamente. Assim, por exemplo, COSTA E SILVA, em seu erudítissimo comentário do código penal em vigor, onde a Parte Geral é alvo de repetidas censuras (9); ATALIBA NOGUEIRA, que desnudou, em tese de concurso, as deficiências do trabalho em apreço, no que respeita ao problema fundamental das medidas de segurança (10) ; BASI­LEU GARCIA, que, em monografía recentíssima, apon­tou a maneira defeituosa por que se pretendeu re­solver o problema da repressão do homicídio (11); PERCIVAL DE OLIVEIRA, que, em trabalho agora pu­blicado, indicou a lacuna imperdoavel do projeto re­visto, no que -toca ao delito do abandono da fami­lia (12) ; JORGE SEVERIANO, que, denunciou ... o pe­rigo social que representa a outorga, consagrada no projeto, do "sursis" aos chamados criminosos pas­sionais ( 13); a propria Conferencia de Criminolo­gia aquí realizada o projeto não saiu incólume dos

(8) O da Faculda.de de S. Paulo foi inserto no Diario do Poder Le­gislativo, 1937; o -da do Recife na respectiva Revista.

(9) Assim, p. 5, nota 1; p. 12, nota 2; 21, nota 2; 23, nota 1; 43, nota 1; 47, nota 2; 48, nota 2; 63, nota 1; 77; 79'; 88, nota 1 ... Isso, para nos limitannos às primeiras páginas do primeiro tomo e não alongannos indefinidamente as citações. Pode-se dizel· sem grande exa­gero que nenhum dispositivo escapo.u à censura, no que respeita ao fundo ou à forma. Não se compreende facilmente, diante de tantas incorreções apontadas 'Pelo próprio autor e por outros, aquí e no estrangeiro, como

- tenha ele podido afinnar 'posteriornnente que o projeto foi recebido com elogios "por todos quantos dele se ocuparam" ...

(10) Medidas de segurança (tese de concurso). No mesmo -sentido DEMOSTENES MADUREIRA DE PINHO, Med. de seg., 1938.

(11) Soluções pena-is de repressão ao crime de morte, 1937. (12) Abandono de lamilia, 1938. (13) Em "O projeto de cod. crim. e a readidade brasileira", ar­

tigo publicado no "Correio da Manhã", de 27 de março de 1938, JORGE -,sEVERIANO afirma severamente que aquele trabalho "não conte!lIl verdades jurídicas, nem verdades políticas, nem verdades sociológicas. Mais ainda: é até um corpo estranho dentro da vida brasileira:'.

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debates, sem embargo da defesa inteligente com que procuraram ampará-lo dois de seus preclaros cola­boradores. Dele divergiu a Conferencia em pontos substanciais, como sejam a definição de culpa, () princípio de causalidade, a formula de inimputabi­lidade por alienação mental ou estados análogos (14).

"De fato, o projeto não podia servir de base à. reforma.

"Deixo de parte a redação de um sem número de dispositivos, a qu~ faltam a clareza, a simplici­dade, a transparência consubstanciais à linguagem legislativa. A verba-a ue descuidada o mais profundo comentado r de nossa legislação penal (15). E tem razão. Tome-se ao acaso um dispositivo. Seja o art. 23. Aí começa o projeto por declarar que "todo aquele QUE ,COMETER CRIME será obrigado a reparar o dan.o, SALVO QUANDO A CRIMI­NALIDADE DO ATO FôR EXCLUIDA", isto é, quand 00 ato não constituir crime. .. A seguir vem quando o ato não constituir crime. .. A seguir vem' o § 1.0, que se alonga, em sua parte inicial, da ver-o dade jurídica e em sua última parte desafia a ar­gucIa dos decifradores: "A obrigação do inimpu­tavel (em materia de reparação do dano) é condi-

(14) Contra mais de TRINTA disposições do projeto se pronun­ciou a Conferencia (Rev. de dir. pen., XV, 1938). Entre os que diver­giram da obra em pontos substanciais, estão os srs. NELSON Hu NGRIA~ NARCELlO DE QUEIROZ, ROBERTO LIRA e JosÉ PRUDENTE DE SIQUEIRA. O pri­meiro voltou mais tarde à carga, oferecendo à Comissão de Justiça do­Senado várias ohieções ao trara1ho da SV.bcomissão Legislativa (Diario do Poder Legislativo, 1937, p. 41498).

(15) COSTA E SILVA. I, p. 4, nota 1: "AouÍ diremos ne ~ua rena­ção: é do m,aior descuido". Só por descuido, com efeito, aparecem dis­posições redigidas como o § 2.° do art. 158: "Se, durante o prazo fixado,. por manifestações inequivocas, a periculosidade do beneficiado com sus­pensão novamente se revelar, restabelecerá o juiz o hternamento, que. então poderá ser noutro estabelecimento". Ou como a parte final do 'art. 195: "A multa será a única pena aplicavel, quando responder (?) por culpa". Ou como no art. 207, § único: "Da regra neste artigo esta­belecida, quanto ao caso julgado, excetuam-se ... o caso em que se imo. putarem casos ou omissões contrarios aos deveres oficiais ou forem eles' imputados a... individuos revestidos de funções públicas ou exercendo funcões públicas". Paremos aqui. Apontar i>s deslizes de forma que· desfeiam o projeto seria reproduzi-lo quasi na íntegra."

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cionada pela sua capacidade econômica, PREFE~ RENTEMENTE ATENDIDA A SITUAÇÃO ES­PECI.A..L EM QUE A INIMPUTABILIDADtE O TIyER COLOCADO". Outras vezes o projeto deixa transparecer excessiva preocupação literária (16), que o torna de difícil compreensão para o vulgo. É o caso do art. 101, em que o crimiIloso tem a pena atenuada quando "crise moral profunda ou, SEM CULPA SUA, SITUAÇÃO ANGUSTIOSA O EM­POLGA V A". Esses outros deslizes evidenciam que não sobrou aos eminentes autores o vagar necessá­rio para o desbaste e o polimento, de que seriam capazes (17).

"Não insistirei nas falhas que se notam na dis­tribuição das materias. O código italiano não cons­titue,. neste particular, como tambem no que diz res­peito à redação, modêlo aconselhavel. ~orque regu­lar a ação penal em o capítulo que se refere ao cri­me? Porque consagrar todo um capítulo ao ofen­dido, quando aí se trata apenas I de iniciativa da ação penal, o que torna evidente que na parte re­ferente a esta última ~e incluiria melhor a matéria? E como enquadrar a violação do segredo profissio­nal do médico, do advogado, entre os crimes contra a inviolabilidade e segurança da correspondência? iE a remoção de marcos àivisórios entre os crimes de falsidade em .documentos publicos e privados? ,E o fato de alguem fingir-se funcionario publico sob a rubrica de "trajes indevidos"? (18).

(.16) DEMOSTENES M.. DE PINHO assinala que o projeto foi preju­dicado muitas vezes por "demasiada preocupação literari'a".

(17) Lê-se no parecer da Fa-culdad~ de S. Paulo : "A. forma ... afasta-se do estilo dos bons códigos... O italianismo do. "aquele que" n<> começo de quase todos os artigos é irritante ... São raras as dispo­sições, cujo alcance pode ser Il'preendido à primeira leitura. E nenhuma pode ser lida 'rapidll'mente" ...

(18) Outras amostras: a falsificação de bilhetes de estradas de ferro "ou doutra via pública de transporte" está no capítulo que trata da "falsidade contra as rendas públicas"; - a tirada de preso figura sob a rubrica de "arrebatamento de coisas (?) apreendidas", entre os crimes contra a administração pública, e não entre os delitos contra a

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"Passarei de ligeiro sobre as objeções de ordem doutrinária, que o projeto suscita. Abre-se no art. 33, em favor do inimputavel, uma exceção desar­razoada ao principio universal da indivisibilidade e solidariedade entre os partícipes, em materia de re­paração do dano causado por ato ilícito. Entrega-se ao júri, no art. 108, a classificação do réu entre os criminosos por índole. Determina-se no art. 160 que não exceda de dois anos a duração das medidas efetivas de segurança aplicaveis aos criminosos de imputabilidade restrita, o que é tudo quanto há de mais contrário aos objetivos de medidas dessa na­tureza. E, para apontar apenas um só dos muitos defeitos da Parte Especial, não se alude, na defini­ção de infantícidio (art. 178) à "causa honoris", que, na melhor doutrina, é uma das condições exis­tenciais daquela figura delituosa (19).

"Não me deterei em anotar as lacunas que ofe­rece o projeto. Suas amostras. primeira: ninguém saberá quais as medidas de segurança a que ficam sujeitos os selvícolas inimputaveis ou de imputabili­dadp restrita. Segunda: repudiando sem nenhuma razh..., o projeto primitivo SÁ PEREIRA, a Subcomis­são Legislativa suprimiu, dentre os fatos puniveis, o abandono de família.

"Dispensar-me-ei de mostrar os vicios de clas­sificação. O crime de omissão de socorro vamos en­contrá-lo inexplicavelmente entre as contravenções.

administração da justiça; - o fato de imprimir velocidade excessiva. a qualquer veículo, especialmente aos automoveis (art. 457, n. I), se acha subordinado à epigl'af~ "direção de aeronaves" (!); o de não exer­cer a devida vigilancia "sobre pessoa que enfel'll1asse de doença perigosa' transmissivel por simples contacto" (?), se encontra debaixo do rótulo "alienados perigosos" (art. 458)... Foi por essas e outras, natural­mente, que o sr. NELSON HUNGRIA afirmou em .público a superioridade· técnica des,se 'projeto sobre o de minha lavra ...

(19) Para não alongar indefinidamente estas notas, lembrarei aquele dispositivo (art. 262), que manda atenuar liv'remente a pena do lenocinio ou proxenetismo, quando "maior a mulher e o inculpado um seu ascendente inválido; e o 'art. 346, onde se detemnina a concessão de' livramento condicional (!) ao peculatario, que, depois da condenação,. ressarcir o dano.,.

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A publicação da sentença figura entre as penas aces­sórias; o que não impede que se publique a sentença à custa do Estado, do denunciante, do querelante, no caso de absolvição... Sob a rubrica de penas acessórias estão a expulsão do estrangeiro e o exí­lio local, que as legislações contemporaneas incluem entre as medidas da segurança. E assim por diante.

"Tudo isso, com maior ou menor trabalho, po­dia ser objeto de correção ou de emenda. Outros defeitos, .porém, apresenta o notavel trabalho, que torham impossivel tomá-lo como fulcro da reforma de nossa legislação penal, porque entendem com a orientação, as idéias dominantes, o espirito do pro­jeto.

"Redigiu-o a Comissão Legislativa (e não podia. deixar de fazê-lo) concordemente com as condições políticas e sociais. Umas e outras se modificaram profundamente de então para hoje. Os movimentos subversivos de 1935 patentearam a gravidade e a extensão dos perigos a que nos expunham a defi­ciência do nosso aparelhamento repressivo. A Cons­tituição de 10 de novembro deu nova estrutura ao Estado e novo sentido à política nacional,. tornando imperiosa a mudança das diretrizes penais. Refor­çar a defesa coletiva, contra a criminalidade comum, e resguardar as instituições contra a criminalidade pol;tica, são imperativos a que não pode fugir o le­gislador em paizes organizados de maneira por que atualmente se encontra o nosso.

"Ora, o projeto da Comissão Legislativa Ilão po­dia antecipar-se ao futuro. Daí a sua incompatibi­lidade com as realidades do presente.'

"A simples colocação dos crimes contra a N a­ção e a organização social e politica, depois dos cri­mes contra a vida, a, saúde e a integridade corpo­rea, o patrimonio, a liberdade pessoal, os bons cos­tumes, etc., denuncia a concepção reinante ao tempo da elaboração do trabalho em apreço. As penas co-

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minadas contra criminosos daquela categoria são simplesrp.ente ridiculas. Punem-se com prisão até tres anos a provocação à desobedi~ncia militar (art. 391) a conspiração (art. 378), e até a espiona­gem militar em tempo de guerra (art. 389) . .. Não é preciso dizer mais.

"Se no tocante à criminalidade política e social o projeto se revela dessa debilidade incrivel, não menor é a sua complacência para com os crimino­sos comus. pululam os exemplos. Veja-se o art. 120, que, no caso de condenação por homicídio pas­sional, permite a suspensão da execução da pena ...

"O art. n. 57, que, proibindo a conversão da pena pecuniária em detentiva, torna completamente ilusória a pena de multa; - o art. 63, que atribue ao conde~ado à detenção a faculdade de fazer vir de fóra a alimentação (!), excluídas as bebidas alcoo­licas". " e a de escolher dentre os (trabalhos) que se ~xecutarem no estabelecimento, o que melhor lhe convenha (!), SE NÃO PREFERIR TRABALHOS INTELECTUAIS, A QUE JA' ESTEJA AFEI­TO" . .. O médico e o advogado dariam consultas, o engenheiro abriria estradas, o professor aceitaria alunos, o poeta comporia poemas e romances o ro­mancista ... " .

Basta o que deixo dito sucintamente, para justificar a. deliberação, que tomei, de não me circunscrever a uma sim­ples revisão do projeto, e sim de fazer obra diferente na subs­tância e na estrutura" (20).

(20) "Tudo induz a -acreditar (escreveu CosTA E SILl'A, II, pref., referindo-se 'à incumbencia que me entregaram) "que s. ex _ não se con­tentará em perfilhar o projeto já existente, mod}ficando-oparcialmente em um ou outro ponto, de mais ou menos relevancia. De suas mãos sairá ,provavelmente um outro, de cunho próprio, no qual se hão de re­fletir forçosamente as ideasanti-individualistas do atual momento po­litico. E' indisputavel que o direito pen8.ll depende intimamente da forma orgânica do Estado . Com razão fala SIEGERT da condicionali<lade poI'í­tica desse direito. O nosso Estado Novo precisa de um código penal à sua imagem e semelhança".

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7. Ao cabo de alguns meses de labor exaustivo, termi­nei a elaboração da Parte Geral do ante-projeto. Publiquei-a, precedida de breve exposição de motivos (21). Nesta declarei ao sr. Ministro da Justiça que, no caso de S. Exa. estar de acôrdo com os principios cardiais de reforma, eu prossegui­ria na articulação da Parte Especial, iniciada ao tempo em que presidí a Comissão de Justiça do Senado. Aprovada em tempo, como foram, as linhas fundamentais do código em ela­boração, dispus-me a ultimar o segundo livro, consagrado aos crimes em espécie.

Dei entrementes divulgação ao anteprojeto. Esperava que as autoridades na matéria se não recusariam a colaborar na execução de obra de tamanha releVlância. Raríssimos, porém, os juristas nacionais, que se não conservaram indiferentes. Em São Paulo a "Folha da Manhã" procurou ouvir os pro­fessores da especialidade. Nenhum deles se dignou pronunciar­se. Só os Drs. CANDIDO MOTA FILHO e SINESIO ROCHA res­ponderam aos quesitos do inquerito. No Rio de Janeiro foi "O Globo" que tomou a iniciativa. Ninguém, a não ser o Dr. NELSON HUNGRIA, atendeu ao apelo daquele orgão da imprensa.

O dr. COSTA E SILVA, cuja autoridade nunca será demaig encarecer, limitou-se a analisar, em dois artigos publicados no o " Jornal do Comercio" os títulos primeiro e segundo, dei­xando para outro ensejo, que nunca se verificou, o estudo dos restantes (22). Cousa" igual sucedeu com o ilustre Sr. CARLOS XAVIER, que interrompeu, logo no começo, a crítica judiciosa dos dispositivos iniciais (23). Além desse, há assinalar ape­nas os comentários que, em torno de alguns preceitos, fize­ram JORGE SEVERIANO (24), BENI CARVALHO (25), JosÉ PRU­DENTE DE SIQUEIRA (26). A todas as censuras opus imediato

(21) Anteprojeto da Parte Geral do Projeto do Código Criminal Brasileiro, 1938. A exposição de motivos foi reproduzida .pela Rev. For., 75-5, e .pela Revista de Dir. Penal.

(22) Reprodução na Rev. For., 80.243. (23) Tribuna Judiciaria,.de 26 novo e 10 dez. 1938 e 28 jan. 1939. (25) "Jornal do Brasil". (26) Rev. For., 80.257. (24) Rev. For., 80-257.

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revide, confessando a procedência de várias dentre elas e de~ fendendo~me das que me pareceram menos justas (27).

Afinal, em novembro de 1938, entreguei ao Governo da República o projeto em sua integra. Para facilitar o confronto, fiz seguir cada artigo dos preceitos correspondentes, assim na Consolidação das Leis Penais, como da obra da Subcomissão Legislativa, ou da menção de se tratar de disposição nova, sem equivalente em qualquer desses textos (28).

A 26 de dezembro de 1938 o Dr. FRANCISCO CAMPOS acusa~ va nos termos seguintes o recebimento do trabalho :

"Acha-se em minhas mãos o projeto do Código Criminal Brasileiro, que· o prezado amigo redigiu no desempenho da incumbência que, por meu intermé­dio, lhe foi feita pelo Govêrno. A circunstâ.ncia de me haver sido entregue o seu trabalho poucos dias antes do acidente que sofri e cujas consequencias me prenderam ao leito durante dois meses, impedi­ram-me de, no tempo próprio, agradecer-lhe a re­messa do mesmo e assim testemunhar a satisfação com que o recebi. O Projeto confirma as esperan­ças que todos depositavam no autor, que pode or­gulhar-se de haver enriquecido as nossas letras ju­rídicas com um monumento de vastas proporções, em correspondência com os problemas apresentados pela atual fase e evolução do direito penal e com a.s condições sociais ora vigentes no paiz. O pensamento dos interesses da Nação, no que concerne à defesa da coletividade contra o crime, está na sua obra. A técnica jur;dica, com que a compôs, é segura, e todo o texto apresenta, na redação o vigor e a niti­dez das leis, que não se destinam Só ao presente, mas ao futuro. É com prazer que me entrego neste momento à revisão do projeto, esperando levá-lo,

(27) As respostas se acham resumidas no opúsculo de minha au­toria, "O Projeto do código criminal perante a crítica", 1939, republi­cado na Rev. For., 80.290.

(28) ALCANTARA MACHADO, PTojeto do Código Criminal Brasileiro, 1938. Pl.lblicou-o tambem a Rev. da Fac. de Dir. de S. Paulo, 1938.

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uma ve~ concluida aquela, ao exame do Sr. Presi­dente da Republica. Com os meus sentimentos de apreço e simpatia, sou, o seu amigo, admirador e criado (a.) FRANCISCO CAMPOS."

Continuaram, todavia, silenciosos e displicentes os mes­tres nacionais. Nenhum trabalho de conjunto. Críticas e apre­dações sobre um ou outro dispositivo. Mais estensas as de

DEMOSTENES MADUREIRA DE PINHO (29), ANIBAL BRUNO (30), NELSON PINTO (31), Igualmente imparciais e cortezes as de NARCELIO QUEIROZ (32), CORREIA DE ARAUJO (33), TOMAZ LEONARDO (34), VALDEMAR PEDROSA (35), DALMO BELFORT DE MATTOS (36), OLIVEIRA FRANCO SOBRINHO (37), ABE~ ATTAR NETO (38), BASILEU GARCIA (39), JosÉ AUGUSTO DE LIMA ( 40), e, entre os médicos-legistas, AFRANIO PEIXO­TO (41) e FLAMINIO FAVERO (42). Uma, virulenta e apaixo­nada, do sr. NELSON HUNGRIA, que tentou desencadear vio-

(29) Medidas de Segurança, passirn, A reforma penal do Brasil, em Estudos Brasileiros, 1.60.

(30) Medidas de segurança, 1940. (31) E1n torno do pro do cód. crim. bras., conferencia feita em

1939 no Instituto da Ordem dos Advogados da Baía. (32) Est. bras., 1.7fJ. (33) A pena de morte no ante-pro do cód. crim. bras., em Rev.

For., 81-341. ( 34 ) A pro p?-iedade industrial no pr. do cód. crim. bras., no J or­

nal do Comercio, de 14 de maio de 1939. (35) A imputabilidade em face do pro do cód. crim., em "O Jor­

nal", de Manaus, de 1 Jan. 1939. (36) O espi?-itismo e o pro do cód. crim. bras., em O Legionário,

de 13 ag. 1939. (37) As vantagens do futuro cód. crim. bras., em Gazeta Jurídica,

de 2 jan. 1939. (38) A nova lei penal brasileira, em Jornal do Comércio, de 5

novo 1939. (39) A pena no projeto Alcantara MMhadO, confez:encia a 23 de

set. 1940, na Semana Paulista de Estudos Policiais (40) O defloramento no proj. do cód. crim. brasileiro, em Jus­

titia, 1.21. (41) Est. bras., 1.72. (42) As lesões pessoais no proj. Alcantara Machado, conferencia no

Instituto dos Advogados de S. Paulo. O segredo médico na lei penal vi­gente e no P?·oj .. Alcantara Machado, em Jus titia, 1.27.

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lenta campanha contra o projeto (43), como já fizera com relação ao da Subcomissão Legislativa, mas sem encontrar quem lhe seguisse as pegadas.

Quanto às autoridades estrangeiras, além de JULES SI­MON (44), e NERIO ROJAS (45), que já haviam acolhido fa­voravelmente o ante-projeto da Parte Geral, ocuparam-se lar­gamente do trabalho os professores ENRIQUE ALTAVILA, de Ná­poles, CARLO UMBERTO DEL POZZO (47), de Turim, IRURETA GoYENA (48), de Montevideo. A superveniência da guerra eu­ropéia não me permitiu tomar conhecimento de outros juizos, que porventura hajam aparecido.

8. Passado algum tempo, uma agencia telegráfica· prin­cipiou a espalhar aos quatro 'Ventos que se haviam consti­tuido em comissão revisora os srs. COSTA E SILVA, N. HUN­GRIA, ROBERTO LIRA, NARCELIO DE QUEIROZ e VIEIRA BRAGA.

De quando em quando se noticiava que a comissão resol­vera INCLUIR dispositivos, QUE JÁ CONSTAVAM DO PROJETO, como os relativos às medidas de segurança e ao crime de abandono de família, e EXCLUIR matérias, que O PROJ1ETO NÃO CONTEMPLAVA, como as contravenções. Aludia-se (que remédio!) ao projeto. Calava-se, porém, sis­tematicamente, nos comunicados oficiosos, o nome de quem o fizera. Com o correr dos dias, as informações fornecidas à imprensa não mais se referiam ao trabalho de minha lavra. O "grilo" se desmascarava: a comissão revisora se transfor­mara manhosa mente em comissão organizadora do novo có­digo. Nada se percebia além disso. Efetuavam-se as reuniões a portas e janelas cerradas, como se o trabalho tendesse, não à repressão, mas à prática de crimes.

(43) 'Conferencia publicada no "Jornal do Comércio" e na "Rev. de Dir. Pen."; debates da Sociedade de Estudos Brasileiros (Est. bras., 1.74). Não lhe dei resposta, !por ser evidente nas objurgatorias o pro­"",ósito de transportar para o terreno das agressões pessoais o debate­oientífico.

(44)" Rev. For., 80.268. (45) Arquivos de medicina legal, Buenos Aires, 1938. (46) Rev. For., 80.260. (47) Rev. For., 80.270. (48) Rev. For., 81.565.

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Afinal, em julho de 1940, o eminente sr. Ministro da Jus­tiça resolveu esclarecer tão singular situação. Fê-lo em notavel entrevista concedida a " O Jornal" e reproduzida à pág. 152 do livro, que deu à publicidade sob o título "O Estado Nacional". Eis o que, sempre generoso para comigo, houve por bem de­clarar :

"Quanto ao código penal, consubstancia o que de mais certo e pacífico assentou o moderno direito criminal sem se afastar da tradição do direito e da cultura do Brasil, nem desprezar a consideração de nossas peculiaridades. O anteprojeto redigido, a meu convite, pelo sr. ALCANTARA MACHADO, profes­sor da gloriosa Faculdade de Direito de S. Paulo e um dos mais elevados expoentes do pensamento bra­sileiro, É UMA OBRA NOTAVEL PELO SABER E BELO RESPEITO À REALIDADE, TANTO QUANTO PELO PRIMOR DA FORMA. O traba­lho completo foi-me entregue em setembro do ano pasado, e É O MELHOR PROJETO DE CóDIGO CRIMINAL. QUE ATÉ HOJE SE FEZ NO BRA­SIL".

Acrescentou s. ex. que pensava em retirar do código cer­! tas figuras, mais cabiveis entre as contravenções, e outras já . definidas em leis especiais. E concluiu por dizer que teve, por isso mesmo, de rever o anteprojeto com o auxilio dos juris­tas a que acima se fez referência, estando então o labor na

\ fase final. Daí por diante cessaram como que por encanto os comu-

. nicados aos jornais; até que nos· últimos dias de outubro ou nos primeiros de novembro a imprensa divulgou achar-se concluida a revisão, com á apresentação de "outro" projeto. Seria ma~s propriamente um substitutivo. Mas, em obediên­cia ao plano preconcebido, era preciso dar a impressão de que de meu projeto nada se aproveitá:ra. Nem mesmo os disposi­tivos que punem a violação de direitos autorais ...

9.' Até agora (et pour cause ... ) esse projeto não veio à luz. Dele, em fins. de. novembro de 1939, recebi uma cópia

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datilografada. Na carta, datada de 23, que a acompanhava dizia o sr. Ministro da Justiça:'

"Ilustre amigo Prof. ALCANTARA MACHADO, te­nho o prazer de passar a suas mãos o trabalho con­cluido pela Comissão revisora do anteprojeto do Código Penal. À Comissão pareceu conveniente in­troduzir alterações e de algum modo colaborar mais profundamente na obra, notável por todos os títu­los, realizada pelo meu eminente amigo. IEssa cola­boração é uma prova do interesse despertado no seio dela pelo seu trabalho, que tanto lhes mereceu. Ve­nho pois, submeter à sua apreciação as conclusões a que chegou a Comissão e ainda uma vez assegurar ao ilustre amigo os sentimentos de grande apreço e admiração com que me subscrevo seu mt.O am.O e adm.o (a.) FRANCISCO CAMPOS."

Note-se que, na expressão do sr. Ministro, a Comissão ~ limitava a "introduzir alterações e de algum modo COLA­BORAR mais profundamente NA OBRA POR MIM REALI­ZADA. Nada mais. Alterou e colaborou no projeto de minha autoria. Veremos oportunamente como, por um passe de má­gica, se transformaram em autores exclusivos os simples co­laboradores.

10. O que me foi presente, com o rótulo de "Código Penal do Brasil", era na realidade um decalque do "Código Criminal Brasileiro", projetado por mim. Este reaparecia na­quele, por mais que tentassem desfigurá-lo, mediante graves mutilações, enxertos insignificantes e emendas anódinas ou contraproducentes de redação. O que é pior: reproduzia muitos erros, que me haviam escapado e que eu já havia ano­tado para corrigí-Ios oportunamente. E o que é bem signifi­cativo: trasladava diversos dentre os dispositivos criticados acerbamente por alguns dos revisores ...

Pensei· a principio dar por encerrada a minha missão e deixar sem comentários a obra 'da comissão revisora, aguar­dando que ela fosse convertida em lei, para então publicar lado

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:a lado os dois textos. Mas, quando de sua passagem por São Paulo, em janeiro de 1940, o s~. Presidente de República me perguntou pelo andamento do trabalho e incitou-me a prosse­guir na tarefa.

Diante disso, e unicamente por isso, me consagrei então à trabalheira insana de analisar o substitutivo, comparando-o -com o projeto, e mostrando a sem-razão de muitas alterações ,de substância e de forma e o acerto de algumas. Circunscl'e· vi-me à Parte Geral. Não seria possivel, sem o desperdicio de varios meses, estender o cotejo à Parte Especial, muito mais volumosa.

Em fevereiro seguinte entreguei ao Governo essa análise, .acompanhada da exposição que passo a' transcrever:

Exmo, Snr. Prof. Dr. Francisco Campos

Maior não poderia "ser a decepção que me causou o conhecimento da ()bra da comissão a que V. Ex. confiou o encargo de rever o projeto do .código criminal brasileiro. Digo-o com a franqueza, que devo a V. Ex., e o desassombro, que me dá a certeza de estar colaborando .para evitar a consumação de clamoroso atentado contra a noosa cultura jurídica.

I

COMO SE F1EZ A REVISÃO

O projeto foi elaborado, publicado, distribuido em dez meses; e desde 'então vem sendo debatido e criticado, no país e no estrangeiro, por todos quantos se julgam em condições de fazê-lo. Em contraste com tudo isso, a revisão, que consUiIlliu mais de ano, fez-se a portas fechadas, em se­gredo aJbsoluto, sem que sequer fosse ouvido o autor do trabalho re­·visto ... Dela o que eu conhecia, como toda a ,gente, e através de noti­cias tendenciosas e sumárias, era muitissimo pouco: ~ ~ 8upressão (?) de materias, que não constavam do projeto, como

as contravenções ... , - a incl'l,tSão (?) de outras, que no projeto já se encontrravam, como

:as medidas de segurança e as disposições repressivas do abandono de f~ia ...

- e mais um ou dois pormenores de somenos ilTIliportância.

Dada a larqueza de tempo, que se gastou na tarefa, e atenta a com­.petência dos revisores, seria de esperar que saisse obra escorreita, na. ,substância e na fórma.

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Não foi desgraçadamente o que sucedeu. Dentre os defeitos do pro­jeto, muitos escaparam à argúcia dos revisores e se incorporaram ao, substitutivo; e inúmeras dentre as vantagens daquele, desapareceram, sob a avalanche de emendas supressivas, aditivas ou modificativas, abso­lutamente indefensáveis.

E' que, segundo, se vê desde logo, pelo simples cotejo d03 textos, a revisão obedeceu, toda inteira, à preocupaçij.o de mutilar, desfi~ul'ar, de­tUl'par o 'projeto, de maneira a tornar imperceptivel a sua influência na futura codificação, e a justificar a informação insistentemente divulgada de que a comissão revisora se transfonnara "ex proprio Marte" am co­missão organizadora da refonna penal.

A linguagem do projeto e a do substitutivo

1) De acôrdo com as tradições legislatiyas do Brasil, o projeto em­prega, de preferêr.cia, no tempo futuro, os verbo" de que se utiliza na formulação dos preceitos. Ass;m fazia o cod. criminal de 1830, desde os primeiros artigos: "não haverá crime ou delito ... julgar-se-á crime ou delito ... não haverá, criminoso"... Assim prOCede em regra o cód. de 1890: "ninguem podel'á ser punido ... o fato anterior será regido ... 1'13-

putar-se-á consumado ... haverá tentativa ... sê-lo-ão os fatos"... As­sim faz, invariavelmente, o código de processo civil, de 1939, padrão ex­celente de téenica legislativa: "1·eger-se-á ... poderá limitar-se ... veri­fwar-se-á . . , não poderá pronunciar-se ... serão publicos ... poderão rea-1izar-se. " poderão prosseguir... que houverem de praticar-se... serão expedidas. .. fôr ordenada... conterá... será transmitida... telefona­rá. .. submeterá ... " Tudo isso (poder-se-ia alongar indefinidamente a lista) nos dez primeiros artigos.

Pois bem: repulsando a nonna, que, entre nós, sempre vigorou e continua a vigorar, e que indiscutivelmente é a que melhor convem à expressão do :pensamento do legislador, o substitutivo não emprega senão, o indicativo presente. Para demonstrar quanto 'se enfraquecem, dessa maneira, a energia, o vigor, o cara ter imperativo da lei, basta que se ponham face a face dispositivos correspondentes do substitutivo e do projeto. Sejam estes, que tomamos ao acaso: enquanto um dispõe ,que "incorrerá nas penas cominadas ,para o crime... quem o houver direta­mente resolvido e executado", o outro declara molemente que "responde pelo crime... quem o executa" ...

Outro defeito de ordem geral é o abuso da fôrma composta do par­ticipio passado. Desta disse RUI com razão, em seu parecer imperecível a res:peito do projeto do código civil, que é menos incisiva, menos brever

menos própria, menos elegante. Note-se ainda que na Part'e Especial aparece à margem de cada

artigo a epigrafe correlativa. Imita~se, neste ponto, o código suiço, que" tanto quanto o italiano, serviu de manancial ao substitutivo. Trata-se,. antes de tudo, de método, que não tem precedentes na 'legislação brasi-

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leira, e que nenhuma vantagem oferece em compensação às dificuldades que suscita. Mas ,o que de nenhum modo se compreende é que o perfi­Jhem no livro II e repudiem no livro I.

Note-se por último o abuso de remissões ou referências a; outros dis­lPositivos, o que dificulta a compreensão imediata do texto.

2) E' sobretudo nas emendas de simples redação que transparece a tenção preconcebida de modificar em tudo, a torto e a direito, de alto a baixo e de cabo a rabo, o trabalho de que fui incumbido generobamente 1'or V. Ex., e que, esforçada e desinteressadamente, levei a termo.

Nada mais eloquente do que estas e quejandas "correções":

Projeto

- crimes (art. 3) - efeitos (art. 3) - por convenção ou tratado (arti-

go 4) ........................ . - não se procederá, senão verificado

o concurso das seguintes condi­ções (art. 4, § 2.0 ) ••••••••••••

~ entre aqueles que, de acôrdo com a lei br~";ileira, autorizam a ex-trooi!;ão (art. 4) ............. .

- Das penas privativas da liberda­de (epigrafe da secção I, capo J, titulo IV) ................... ,

- mediante acôroo (art. 36) .... . .-: Computam-se os prazos em maté­

ria ,penal, incluindo o dia do co­meço (art. 6) ..........•.....

- A tentativa, a que não estiver co-minada pena especial, será puni­da com a do crime consumado (art. 12) .•...•.......•....••

- determinar a quantidade (art. 43) •.....•..•.....•...........•

- Poder-se-á conceder livramento condicional (art. 71) ......... .

- a medida que entenda' mais acer-' tada (art. 84) .............. ..

- secção na qual fiquem assegura­dos o tratamento e a custódia do internado (art. 89) .......... .

Substitutivo

ar;ões ou omissões criminosas. l'esultados. por tratado ou conv,enção.

o processo fica subordinado ao concurso das seguintes condições.

pelo qual a lei brasileira admite a extradição.

Da reclusão e detenção (unicas penas privativas da liberdade).

desde que preceda acôroo . Co~uta-se nos prazos estabeleci­

dos neste código o dia do co­meço.

,Salvo disposição .especial em. con­trário,a :pena de tentativa é a. do crime consumado.

fixar a quantidade.

o JUIZ pode conceder li vramento condicional.

a medida que rôr' aconselhavel.

secção, na qual, com' o tratamen­to do internado, se lhe as'segure a custódia.

Como explicar emendas dessa pequenez, senão pela volúpia de re-, tocar a produção alheia, até nos lanços em que está certissima?

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Note-se que a corrigenda piora muita vez o texto, porque diz 3 mes­míssima cousa em maior número de palavras: "desde que preceda" em lugar de "mediante", e "ações ou omissões criminosas". em lugar de' "crimes" .

A.ssinale-se ainda que, depois de repelir a redação do projeto, 0-

substitutivo se ar,repende de tê-lo feito: é o que se dá com a expressão "aut01"idade ma1·ital" (art. 57), que os revisores substituem por "chefia, da sociedade conjugal", mas reproduzem, em dispositivo posterior, tal­qualmente consta do projeto ...

Onde, .por6m, se torna, escandaloso o propósito de modificar, seja, como fôr e custe o que custar, sistemáticamente, o trabalho revisto é em,

pontos como estes:

de grande circulação (art. 56) .• pessoa sujeita á sua autoridade (art. 19) ...................••

- infração dos deveres (art. 45) .• sal'/o expressa disposição em con­h'ário (art. 18, § 1.) ....•..... influxo (art. 46) ............. . não prevalecerá todavia (art. 77, § 1.0) ........................ .

em nenhuma hipotese (art. 52) UrfLa vez que (art. 65) ........ .

de ampla circulação (!) alguC'rn sujeito à sua autorida-·

. de (!!)

violação dos deveres (!!!) salvo disposição, expressa em con-'

trário (!!!!) influência.(!!!! !) não prevalece, entretanto (!!!!!!)

em caso algum (! I ! ! ! ! ! ) desde que (!!!!!!!!)

Forro-me, diante disso, à canseira de pôr mais na carta.

3) A contrastar com fúria tamanha em farejar e corrigir falhas, imaginárip.s, o substitutivo está redigido de maneira a constituir mos­truário opulento de todos os vicios de linguagem e de todas as desele­gâncias do e.~tilo.

Tão evidentes e nUlmerosos Eão os desacertos e as t.aras da obra da Comissão, que n?o escapallll ao simples aprendiz, que sou, da arte de' escrever com limpeza. Imagine-se a fartura da colheita que os cento e poucos artigos da Parte Geral, únicos que examinei, forneceria a um· mestre da envergadura e da paciência de RUI.

Abundam as infrações gramaticais:

- "depois de embriagar-se" (44); o que é erronia flagrante, porque' os adverbios de t"mpo obrigam à próclise ou anteposição do pronome' regime;

- até o tri,plo (43), "'até o maximo" (58), "até o termo" (63 e 64);< quando o certo seria, uma vez que se trata da preposição, e não do ad-· verbio, "até ao triplo", "até ao maximo", "até ao termo";

- "atingir ao que baste" (35 § 3.0 ); onde se dá o verbo como in­transitivo, cousa que, em mais de um tópico (55, 85), o próprio substi-­tutivo condena;

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- "frusta" (36), em vez de "fJustra"; - condenado "à pena diminuida" (92, I e Il) ou "ã pena privativa

da liberdade" (92, IV, e 93, II), "obediência à ordem de superior hierár­quico" (15), em que se não justifica o emprego da crase;

- "age" (17), neolo6'ismo que RUI entende, com razão, inteiramente dispensavel;

- "incida na sanção" (64 § un. IH), o que, no dizer de RUI (n. 155), "constitue novidade no vocabulário das nossas leis, dos nossos mestres, dos nossos jurisconsultos, sendo o "incol'rer'" a palavra consa­grada pela tradição na legislação e na jurisprudência 'Pátrias;

- "atendendo-se o disposto" (52); o que não se compreende, sabido que aquele verbo exige a preposição a.

Galicismos não faltam: - "conduta" (91, § 1.0), no sentido de comportamento ou procedi-

mento; - "insoh·abilidade" (37), por insolvência, que é o termo vernáculo. 'Entre os .pleonas1!lOS Jiguram: - "insolvabilidade ~bsoluta" (37); - "multa exigivel, se não estive'r prescrita" (37). Sobejam as palavras supérfluas: - "as medidas ... acaso impostas na sentença" (63): - "execução m.aterial" ( 45) ; - "o condenado ,por crLme de que re.~ulte manifesta a sua incompa-

tibilidade" (64, § un., IV); - "o juiz para formar 8ua convicção" (74, § un.); - "se o agente, em virtude de perturbação na sua sau.de" (20,

§ unico); - "salário ganho pelo condenado por seu trabalho" (35).

Além dessa expressão ambigua ("pelo condenado por seu trabalho"), muitas outras, padecentes da mesma enfermidade, se encontram no subs­titutivo. Nenhuma, porém, se emparelha com esta, mereced~ra de figu­rar como protótipo de anfibologia nas gramaticas:

~ "em tal caso subsiste a imputação dos fatos anteriores a quem os tenha praticado (8, § un.).

Sem peso nem Cvnta são as cousas destoantes da elegancia no dizer:

- "melhorando o m.esmo" (37), isto é, o condenado: "nos prazos acim.a fixados", isto é, errn outro artigo (110);

- "o di'sposto acima" (47, § un.); - "venha o agente ... personalidade do agente ... meio em que o

a[Jente" (74, § un.);

- "no exercicio de função pública, em prejuizo da Flazenda PúbUca" (64, § uno ii);

- "no estabelecimento... do estabelecimento" (29, § ún.); - "a ação pública é promovida pelo Ministerio Público" (102);

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- '''nos crimes de ação pública ... se aquela não o é ... pelo Minis­

terio Público" (102, § 3.0 );

_ "o condenado ... fica ... separado dos condenados" (29).

,Sobressae, entre as impropriedade., de expressão:

- "a ag1·avante da reincidência consiste na prática de novo crime" (46) ...

Incontaveis as cacofonias, os hiatos, as aliterações desagradaveis ao

ouvido menos sensivel:

- "condenação, cessam sua" (2); - "exect:;ão, salvo" (113); - "revoga-se a sus-pensão, si no curso" (57); ~ "suspem:a, se sobrevem" (40);

"terço, si se" (110); "se se trata" (28, § 3.°); "se sua subscquente" (31, § un.); "razocwelmente exigivel do agente" (17); "genérica, quando" (46); "específica, quando" (id.); "uma medida ... acima mesmo" (78); "fica o condenado" (22);

- "pública, quaisquer que" (102); - "pelo r;ua1 a.lei" (4, § 2.°);

"cumpre a pena privativa" ... - "atividade, desde" (65, § un.).

Onde, todavia, excele o substitutivo, deixando a perder de vista os €xemplos clássicos, é nas tautofonias. Cabe-lhe de direito, sem tirar nem pôr, aquilo que RUI afinnou do projeto de código civil: "Dir-se-ia um prosador obsesso do espirito da rima. Pululam-lhe sob a pena as as­sonâncias, as consonânciás, os homofonismos escusados e impertinentes". Conservemos as ,palavras do parecer famoso, ilustrando-as, poréttn, com as amostras fornecidas pelo substitutivo: "Óra são as de..'linências em ente, consoando repetida>,", como no art. 17 ("de perigo atual e iminente que não provocou voluntariamente, se... não se podia razoavelmente exigi.r do agente"). "Agora o lento e iterativo badalar de um ento, ento", (!omo no art. 29 ("o trabalho do detento pode ser diverso dos que se exe­cutam no estabelecimento, atentas as aptidões... desde que esta não recáia em trabalho que perturbe a ordem interna do estabelecimento"). "/Mas sobretudo os finais em ão. Com êles ora troveja o texto como um bronteu, ora dobra como um carrilhão". Aos montes são as provas do­cUlITIentais. Os arts. 57, 113, 91, 'por exemplo. Reza o primeiro ",pode ser igualm~mte revogada a suspensão, se o sentenciado pratica alguma contravenção". Reboa 'assim o penúltimo: "A prescrição começa a correr da data da condenação ou da relJogação da suspensão ... ou da data em que ... se haja interrompido a execução, salvo quando o tempo da inter-

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rupção" . .. Em cinco linhas "seis unissonantes estampidos. E o último em uma só": "Para a cessação sIa internação deve a decisão" ... . Faz-lhe honrosa companhia o art. 99: "a 'interdição <Ia associação acarreta:.a suspensão . .. "

Grande é tasmbem a dileção ,pelas rimas em ado: após haver a sen­tença tmnsitado em julgado... a requerimento do condenado" (34); "ressalvado o direito <lo lestUio" (70); "pode ser imputado a quem o te­nha causado" (8); "é condenado por sentença passada em julgado em razão de ... crime anteriormente praticado" (57); "o condenado ... fica sempre separado dos outros condenados" (29); "passada emjulgadó ..• acima fixados" (110).

Outras aparecem mais raramente: "mensais, iguais" (34 }';"os' fa­vores ... que o condenado .leva merccer: bem como ... os castigos ... em que possa incolTcr (30).

Prosa rimada? Ou versos, com fraturas comihutivas nos P'ês, que se introduz:ram subl'epticiamente no código em forÍnação?'

III

o substitutivo e o novo regime

O substitutivo denuncia, em mais de um passo,'desconformidade fla­grante com o espírito do atual regime político.

1) Testemunho significativo desse <livórcio ê 'a' ordem seguíd~ na articulação da Parte Especial.

Obedi:mte às tradições do nosso direito codificado, o projetO clas­sifica -os delitos, de. acôrdo com a hierarquia dos bens sacrificados ou postos em perigo. Ocupa-se primeiro dos crimes contra a nação; e de­pois, sucessivamente, dos que se referem á coletividade social, á família. ao individuo. Foi es!:'e o criterio dominante no cód'igo de ,1830. Esse é o criterio aceito pelo de 1890. Outro não pode ser oda reforma enl andamento, quando o principio fundamental do regiine vigente é a su­bordinação dos interesses individuais aos interesses' .coletivoa. ' ,

Pois bem: o substitutivo faz precisamente o contrário, só para.. imi .... tar o código suiço, que é o último d9s figurinos p~nais. Não se diga que o exige a necessidade lógica de partir do simples pítr'á ocpmplexo. 'Por-, que, antes de tudo, há crimes contra a pessoa, como: o estelionato, de complexidade muito niaior dó qUe outros contra li' fiação como 'o vili­pendio da bandeira; c, além disso, o pensa-inéntopolítico' tem da 'pré­dominar necessariamimtesôbte 'quai~guer convenienéíi{; metodológicas;"

2) O projeto reproduz, eo:substitutivo suprime, à' disp'osição' Vi':' gente da Consolidação das Leis Penais, que manda instaurar ação pú­blica nos crimes de·:injúria .ou'ccalúnia contra o' Ghefe; do Estado, uma vez que o requislte ou determine.' o' Ministro da J:ustiça.

Pelo substItutivo,ca instauração ';do processofica,:df:pend.ente de re­presentação tio' ofendid<> ;o'que obtigará o Presidente a comparecer em juizo como suplicante'.:.. Sem comentários.

-3

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3) Pelo projeto, como pela Consolidação em vigor, ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, todos os crimes con­tra a Nação. O substitutivo limita o alcance do 'preceito aos crimes contra a vida e a liberdh.de do Presidente da República. De sorte que não mais serão julgados por tribunais brasileiros, de acôrdo com a lei brasileira, muitas infrações gravissimas, que em principio não são prati­cáveis ou geralmente não se praticam, senão fóra do território nacional:

- a remoção de marcos ou sinais indicativos de fronteira; - o abandono, ao ini:m.igo, de territorio estrangeiro ocupado por

forças da República; - a provocação de nação estrangeira a hostilidades ou guerra con­

tra o B~asil; - a prática, sem autorização do go·verno, de átos contra nação es­

trangeira, que exponham o Brasil a perigo de guerra; - a violação desautorizada de territorio estrangeiro ;para praticar

atos de jurisdição em nome do Brasil; - a infração de trégua ou armistício acordado com potência ou for­

ças inimigas; - o engajamento de brasileiro em força militar do .país que esteja

em guerra com a nossa pátria; - a traição, em várias de suas modalidades.

Parece-me que o:nais não rpreciso dizer.

IV

Mutilações a granel

. Não se contenta o substitutivo com estropiar a linguagem do pro­jeto, que, no tocante à correção, clareza e simplicidade, recebeu elogios unânimes dos entendidos. .

Atacou-lhe a estrutura, mutilando-a ás cegas, no que tinha de melhor.

1) Dentre as mutilações de maior vulto se destaca a de todo o título consagrado ao regime da menoridade.

Esse, entretanto, é UIID dos tópicos, em que o projeto despertou maio­res a<plausos da crítica insuspeita. Aqui está o que escreve a respeito em "La Scuola Positiva", CARLOS H. DEL Pozzo, assistente de direito e 'Processo penal na Universidade d.e Turim:

",Digna de nota ... é a tentativa brasileira de sistema­ti2l8.r de modo orgânico em um título do OOdigo, todo o re­~ime da menoridade: TENTATIVA MERECEDORA DE ELOGIO INCONDICIONAL, PORQUE O PROJETO TEM NA DEVIDA CONSIDERAÇÃO A GRAJNDE RELEV AN-

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CIA DO PROBLENIA DA MENORIDADE NO PONTO DE VISTA PENAL E OS INCONVENIENTES GRAVíS­SIMOS DE SER ESSA MATERIA REGULADA EM DIS­POSIÇÕES FRAGMENTARIAS, INTEGRADAS E MUI­TAS VEZE'S SUBSTITUIDAS POR TEXTOS AUTOiNO­MOS DE LEI,COMO SUCEDIA ENTRE NóS ... Esse o regime, a 'um tempo NITIDO E PERSPIOUO, da menori­dade no projeto brasileiro... O projeto oferece vantagens inúmeras, como seja A REGULAMENTAÇÃO ORGANICA DO REGIME DA MENORIDADE".

Qual o motivo da supressão? O único possivel será o veto do snr. COSTA E SILVA, manifestado na época já ultrapassada, em que os códigos só estabeleciam 'penas e não tinham acolhido as medidas de segurança. Diante, porém, do sistema do 'projeto, perfilhado pelo substitutivo, não tem mais razão de ser a oposição.

Tanto assim que, dentre os últimos códigos (o suiço é de 21 de de­zembro de 1937) e dentre os projetos recentes (são de 1937 o argentino e de 1938 o chileno), nenhum existe, que deixe de regular mais ou menos minudentemente a materia. A vingar o substitutivo, o código brasileiro seria inqualificavel exceção.

2) Suprimiram-se tambem os dispositivos referentes á classifica­ção dos criminosos, classificação indispensavel ao' tratamento penal.

"E' postulado moderno che IL CRITERIO FON.DAMENT ALE per Ia scelta deIla pena o, .piú largamente, deI mezzo difensivo idoneo (san­zione criminale) sia quello di ri partire i delinquenti in classi, alla stre­glola deIla 10ro 'particolare personalitá" (FLORIAN, lI, n. 789). Isso mes­mo proclamaram os juristas nacionais, na Conferência Brasileira de Cri­minologia, de 1936, pela voz autorizada de SANTIAGO DANTAS, CARLOS XAVIER, ROLANDO MONTEIRO, BULHÕES PEDREIRA, J. LuclO BITTENCOURT, uordes em aplaudir neste ponto a orientação do projeto da Sub-Comissão Legislativa; e deu-lhes razão o plenario, rejeitando 'por imensa maioria a emenda supressiva, que um dos conferencistas formulara.

Em vez de corrigir os defeitos possiveis da classificação, o substi­tutivo acha mais comodo cortá-la. Para êle os criminosos imputaveis se dividem ap'enas em primários e reincidentes. Não ha profissionais, nem habituais, nem 'por indole ou tendência. Continuaremos asim na mesma situação em que nos encontrou o código de 1890; e a condificação bra­sileira nascerá atrazada de meio século ...

3) Dentre as medidas de segurança desapareceram:

- a expulsão do estrangeiro por decisão judkial; - a caução de bom comportamento.

São institutos existentes desde muito no direito pátrio; aceitos pelai! maiores autoridades naçionais na materia (ATALlBA NOGUEIRA e DEMOS­TENES MADUREIRA DE PINHO) ; adotados pelos códigos e projetos mais mo-

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demos, em sua infinita maioria (projéto.3 francês, de 1932, chileno, de 1938; código mexicano, de 1929, venezuelano, de 1934, espanhol de 1928, uruguaio, de 1934, cubano, de 1936, romeno, de 1936, suiço, de 1937, ita­liano, de 1930).

VI

Deshumanidades

o substifutivo é profunda e visceralmente deshumano. Todas as medidas que o projeto consigna, inspiradas, não só no

sentimento de humanidade, como tambem no propósito de facilitar a emenda e a regeneração do delinquente, o substitutivo repulsa.

Elimina, com efeito: - a faculdade concedida ao juiz de não reconhecer, em certos casos,

a reincidência genérica; - a conversão da pena privativa da liberdade" em segregação a ser

cumprida em estabelecimento especial de tratamento e custódia ou de educação e trabalho, quando se trate de portador de anomalia psíquica, Burdo-mudo educado ou selvícola incompletamente a.daptado; os quais, drJ acôrdo com o substitutivo, serão recolhidos à penitenciária, como os dc­linquentes comuns;

- a proibição da reclusão celular absoluta, por mais de 30 dias, como medida disciplinar;

- o adiamento da execução da pena p/'ivativa da liberdade, enquanto pe1'dw'ar a gravidez da condenada;

- a possibiliJdade de ser jeito o pagamento da multa, m.ediante aJ prestação de serviços em obras ou estabelecimentos públicos;

- a exigencia de ser ao ar livre o trabalho dos sentenciados no segundo estagio da pena; . - a deten~ão, a domicilio, do valetudinário e da mulher honesta, em

se tratando de pena por tempo não excedente a um mês; - o poder, outorgado ao juiz, de determinar, em casos especialís­

simos, que a sentença condenatória não cO!lste da folha corrida do agente;

- a rehabilitação por dec1'eto judicial. Severidade? Não: deshumanidade, e, o que é pior, desconhecimento

do espírito que norteia a política criminal contemporânea.

VII

A sistemática

o projeto segue na Parte Geral a ordem naturalmente indicada:

- a lei, primeiramente; depois - o crime, - o agente,

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- as sanções (penas e medidas de segurança aplicáveis aos maio­res e regime da minoridade);

- e, ,por último, a ação criminal.

Um critico estrangeiro achou claríssima, e, em certos pontos, pre­ferivel á do código italiano, a sistemática do ,projeto.

Resolveu depredá-la o substitutivo. 1) Para isso bipartiu o titulo "do agente", passando um dos frag-'

mentos a chamar-se "da autoria" e o outro "da responsabilidade". Daí tres erros inegaveis. Primeiro: é do agente, e s6 dele que se trata, nos dois títulos rece!ln­

creados. Porque não reunir sob a epigrafe "do agente" toda a matéria que lhe diz respeito?

Segundo: cada um dos novos titulas, ou seja cada uma das subdi­visões principais do código, conteria apenas TRES magros 'artigos; o que por si só demonstra a sem-razão do expediente.

Terceiro: sob a rubrica "da responsabilidade" o substitutivo não se ocupa senão "da imputabilidade", que não é aquela, mas apenas o seu pressuposto. Leia-se, a propósito, FLORIAN, p" 28(j.

2) Tam'bem se bi.partiu o titulo "da ação penal", em um com a mesma epigrafe e outro com a "de extinção da punibilidade".

Ora, a chamada "extinção da punibilidade" se reduz tão sómente, segundo FLORIAN, às causas que extinguem "la perseguibilitá deI reato, corrispondentem~nte il diritto di punire, e in definitiva, VAZIONE PE­NALE"" Se o caso é de extinção da ação criminal, não ha considerá-lo fóra do titulo em que a ação criminal vem regulada.

3) A mania da bipartição extende-se à matéria das penas. São estas classificadas, à maneira dos códigos italiano e suiço, em principais e acessorias.

Estas não passam, todavia, de efeitos penais da condenação. Di­zem-no os mestres e reconhece-o o próprio código Rocco.

VIII

Os c?'imes cont?"u a personalidade do Estado

O projeto não trata dos crime:.> contra a ordem social e política, re­gulados pela lei de segurança.

N.ão o faz, porque são crimes de natureza especial, sujeitos a pro­cesso especial, perante justiça especial.

Ocupa-se, porém, detidamente dos crimes contra a ,personalidade do Estado, isto é, contra a Nação Brasileira, os Esta,dos estrangeiros, os direitos politicos do cidadão. Todo esse título, que contém materia dife­rente da que faz objeto da lei de segurança, todo êle foi cancelado pelo substitutivo; e, como este declara que, ressalvada a legislação especial, ficam revogadas as dis.posições em contrário, e como legislação especial

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não é- a vigente Consolidação das Leis Penais, segue-se que, vitorioso o Iilubstitutivo, NÃO MAIS SERÃO PUNIVEIS:

-a provocação de nação estrangeira a mover hostilidades ou decla-rar guerra ao BTasil;

- o fato do brasi'leiro tomar armas, debaixo da bandeira inimiga; - o incitamento à deserção; - o asilo a desertores; ---. o alistam'ento de gente para serviço militar de país estrangeiro; - a violação de tratados; - o vilipendio à bandeira nacional; - o sacrifício, l:'m tratado ou convenção, da honra ou dignidade ou

interesses da República; - o exercício não autorizado de átos de jurisdição em terrji-ório es­

trangeiro.

Nada mais. Nada m~mos.

Eis aí, 5n1'. Ministro, o que é o livro I do substitutivo. Não me consentiu 'a estreiteza do tempo entrar no exame da parte destinada . ao,; crimes em esp2Cle. Será, porém, surpreendente que a linguagem e a doutrina sobre-excedam ás da Parte Geral.

Para facilitar o cotejo entre o texto do projeto e o da obra da co­missão tive o trabalho fatigante, mas instrutivo, de pô-los face a face, com as emendas que sugiro e uma sumária apreciação das que a comis­são entendeu ,formular.

Ouso esperar que V. Ex. não se recuse a lêr com atenção tudo quanto escrevi, movido, não pela vaidade de autor, mas tão sómente pelo desejo de prestar um último ::;erviço á Pátria.

'Muito respeitosamente, de V. Ex. menor colega e maior 'admirador

(a.) ALcANTARA MACHAOO.

Rio. 31-1-1940_

11. Ao cabo de alguns dias o sr. Ministro da Justiça, que recebera o trabalho em Petropolis, onde veraneava, re­gressou ao Rio e chamou-me ao Ministério. Mostrou-se viva·· mente impressionado com a crítica; manifestou-se desde logo de acordo comigo em vários pontos, como a ordenação das matérias da Parte Especial; e terminou por solicitar que re­digisse de novo o projeto, corrigindo-o nos tópicos que eu jul-

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gasse passiveis de melhoria e aproveitando no que entendesse conveniente as emendas da comissão.

Fiado na palavra terminante do sr. FRANCISCO CAMPOS, ocupei-me, durante a minha estadia na capital da República, em refundir a Parte Especial, que deixei pronta em mãos de s. ex.; e, voltando a S. Paulo, conclui a revisão, publicando fi "Nova Redação do Projeto do Código tCriminal Brasileiro", precedida das seguintes palavras:

lExmo. Sr. Dr. FRANCISCO CAMPOS

"A esclarecida apreciação de V. Ex. venho sub­meter, em nova redação, o projeto do código cri­minal, cuja elaboração houve por bem confiar-me em fins de 1937.

"Indigno seria do encargo, que tomei sobre os ombros, se não reconhecesse, como lisamente reco­nheci para logo, as lacunas e imperfeições do traba­lho, e não procurasse remediá-las, reexaminando toda a matéria e levando na devida consideração OS

reparos formulados por ENRICO ALTA VILA, C. H. DEL

POZZO, COSTA E SILVA, DEMOSTENES MADURElRA DE PINHO, CARLOS XAVIER e outras autoridades nacio­nais e estrangeiras.

"Ponderei tambem cuidadosamente as emendas aventadas pela comissão revisora. Em sua grande maioria se contentavam em modificar a linguagem do projeto. Vi-me forçado a repudiar' as dessa na­tureza, por anódinas, quando não contraproducen­tes, conforme evidenciei em exposição anterior. Im­procedentes me pareceram tambem, pelos motivos de que V. Ex. tem conhecimento, as que importa­vam a sub-divisão de alguns titulos, a supressão de outros, a ordenação diferente da Parte Especial.

"Várias, porém, da mesma origem, foram aten­didas e aproveitadas, porque, de fato, melhoravam

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o projeto. Em consequência redigi de novo, sinteti­camente, os preceitos relativos à legítima defesa e às modalidades da autoria;

,,_ suprimi tudo quanto se refere à pena de morte, contra a qual me pron!.lnciára de modo ter­minante na exposição de motivos, com a declaração dé que formulara os dispositivos correspondentes, para o caso do Governo entender necessário utili­sar-se da faculdade conferida pelo art. 122 n. IH da lei constitucional em vigor :

,"o - defini como crime a simulação de casa­mento, a falsificação de valores filatélicos, algumas infrações das leis do trabalho;

"- classifiquei como furto qualificado a sub­tração de bens moveis com violência às cousas;

"exclui varias figuras que cabem mais propria­mente entre as contravenções;

"- eliminei as normas concernentes aos crimes contra a economia popular, que por força de decreto:' lei posterior à elaboração do projeto, passaram a constituir assunto de legislação especial.

"Quanto a este ultimo ponto, devo confessar que vacilei grandemente em aceder à amenda su­pressiva. Só me decidi a fa.zê-Io, quando me cer­tifiquei de que, sem violência a convicções invencí­veis, não poderia incorporar ao projeto as disposi­ções do precipitado decreto-lei, nos termos em que se acham formuladas, e de que seria. incurial mo­dificá-las, em contraste com o pensamento governa­mental recentemente expresso.

"Dando por terminada a temerosa empresa, cuja responsabilidade assumi, sem atenção á minha pouquidade, valho-me do ensejo, para testemunhar ainda uma vez ao Governo da República o reconhe­cimento de que lhe sou devedor por tamanha de­monstração de confiança e reiterar a V. Ex. os pro­testos do mai~' alto apreço e admiração.

S. Paulo, 12 abril 1940

ALCANTARA MACHADO".

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12.De nada mais tive noticia oficial. Constou-me ape­nas, como a toda a gente, por sumaríssimos comunicados à imprensa diária, e sei agora, pela exposição de motivos do código, que se reencetou a revisão, sob as vistas do sr. Mi­nistro.

Do que assim continuaram a fazer, em absoluto sigilo, nada transpirou. Ao contrario do que sempre se deu aquí e em toda a parte, e do que fez o próprio governo atual com os proje­tos do código de processo civil e da lei de sociedades anônimas, tudo se processou à revclia do mundo jurídico, assim nacio­nal como estrangeiro... sem que se desse ao autor do pro­jeto revisto ciência das objeções e oportunidade para defen­der-se. .. sem possibilidade de crítica ou debate... sem au­diência de uma só das congregações das Faculdades de Di­reito, de um só dos institutos de advogados, de um só dos tribunais superiores do país... Tudo, naturalmente, por es­tar a comissão convencida de ser a única senhora e possui­dora da verdade jurídica ...

Afinal, ao cabo de alguns meses, e depois de ouvido um ilustre perito em materia de linguagem, foi o código solene­mente decretado a 7 de dezembro de 1940. Não o publicou o "Diário Oficial", senão a 31 de dezembro, e, retificado, a 3 de janeiro de 1941; o que não impediu (eloquentíssimo sinal dos tempos) que houvesse quem aplaudisse desde logo, com (:ntusiasmo estridente, a obra, cujo teor desconhecia, por con­tinuar inédita ...

Seja como fôr, o código aí está. É, na substância e na forma, o projeto de minha autoria, amputado de varios dis­positivos, transtornado -parcialmente na ordenação de certos ao:suntos, modificado puerilmente na redação de muito::! pre­ceitos; . mas, apesar dessas e outras manobras artificiosas, ir­l'ecusavel e positivamente reconhecivel. Tanto quanto é reco­nhecivel no código civil o trabalho insigne de CLOVIS BEVI­

LAQUA.

Não o afirmo por vaidade. Leis dessa natureza não são, nem podem ser propriedade dos que lhes traçaram o plano,

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insuflaram o espirito, articularam os preceitos. Nada signi­fica o nome dos arquitetos e dos operários, que lhes prestaram a colaboração, e dos que lhes apuzeram a chancela oficial. O código é do Brasil. Representa a sua cultura. Constitue obra imp~ssoal, cujos autores deveriam responder, a quem lhes per­guntasse pelo nome, como Ulisses ao ciclope cego da epopéia homérica: "Eu me chamo Ninguem". Talo pensamento que me orientou; e outro não deveria ser o de todos quantos con­tribuirr.m para a codificação.

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

S. D. I. • B I B LI O T E C A Esta abra deve ser devolvida na última data carimbada.

STF/SDI - 03

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1 MACHADO,ALCANTARA

PARA A HISTÓRlA DA REFORMA PENAL BRASILEIRA

SYS 43976

Devolver em '-_. NOME DO LEITOR

MACHADO,ALCANTARA

PARA A HISTÓRlA DA REFORMA PENAL BRASILEIRA

SYS 43976

Autor ............................................................................................................................. .

Título ............................................................................................................................ .

35154/80

f _~

LC F 341.5 M149 HRP

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