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A FROTA-FANTASMA Autor CLARK DARLTON Tradução S. PEREIRA MAGALHÃES (P- 105)

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Aventuras de Perry Rhodan

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A FROTA-FANTASMAAutorCLARK DARLTONTraduoS. PEREIRA MAGALHESDigitalizao e RevisoARLINDO_SAN

Erguem-se das sepulturas, para atacar a Terra...

Pelo fim do sculo vinte e um e comeo do sculo vinte e dois, iniciou-se uma nova poca na histria da Humanidade.

Com o apoio dos terranos, o arcnida Atlan conseguiu firmar sua posio de imperador. A aliana entre rcon e o Imprio Solar produziu bons frutos, especialmente para vrios agentes de Rhodan, pois passaram a ocupar cargos de importncia na administrao de rcon. Atlan no tem outra alternativa seno tolerar esta ingerncia terrana no Grande Imprio Arcnida, porque a maioria de seus compatriotas no lhe so de confiana.

O Imprio Solar se tornou realmente uma potncia comercial de primeira grandeza ao longo da Via Lctea. Iniciado h 22 anos, amplia-se cada vez mais um movimento migratrio dos terranos para colonizao de outros mundos. Em quase todos os planetas habitados por seres inteligentes h embaixadas e representaes comerciais do Imprio Solar.

Apesar de tudo, porm, a situao no est serena, pois todos sabem que h na Via Lctea uma potncia que no morre de amores nem pelos arcnidas nem pelos terranos: so os acnidas, do Sistema Azul.

Perry Rhodan continua preocupado, mesmo depois de, com ingente sacrifcio de todos, ter superado a guerra bacteriolgica dos mencionados acnidas. Todo raciocnio leva concluso de que tal povo os misteriosos antepassados dos arcnidas considera os homens como animais daninhos e assim os trata.

Qual ser agora a prxima iniciativa dos acnidas contra a Terra? Naves-patrulha percorrem o Sistema Azul para estar a par de qualquer agresso, mas no podem localizar A Frota-Fantasma.

= = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = =

Perry Rhodan Administrador do Imprio Solar.

Geral-Khor Um arcnida consciente de seus deveres.Major Bellefjord, cadete Rumpus e sargento Meister Penetram casualmente no Sistema Azul.Gucky Que tem uma rdua tarefa...

Reginald Bell Quer enforcar algum que nem existe!

Tanor e Gagolk Dois arcnidas que agem a mando de um soberano morto h quinze mil anos!1

Em torno do gigantesco sol azul girava um planeta muito semelhante Terra, com a gravidade de 1,1 gravos, uma densa atmosfera de oxignio e um cu de um azul claro fora do comum. Os continentes deixavam ver que ali habitava uma raa inteligente, de alto padro tcnico.

No era apenas o sol e no era somente o cu do quinto planeta que apresentavam aquela colorao de um azul agradvel. Em torno de todo o sistema solar pairava uma camada esfrica de um cintilar azulado, de uma energia quase transparente, que na realidade era um envoltrio de proteo magntica. Foi devido a isto que Rhodan, quando descobriu o sistema, lhe deu o nome de O Sistema Azul do Imprio Acnida.

Ao quinto planeta chamou de Sphinx, e Sphinx tinha duas luas. Uma era pequena, sem maior importncia. Mas a outra era do tamanho de Mercrio e substitua, por meio de suas instalaes do transmissor fictcio, uma frota inteira de milhares de naves. Em ltima anlise, esta lua no passava de uma gigantesca estao do transmissor fictcio. Era por seu intermdio que os acnidas transportavam gneros, qualquer tipo de material, armas e principalmente a si mesmos para qualquer ponto da Via Lctea, supondo-se naturalmente que l houvesse uma estao receptora correspondente.

S para dar um exemplo, se conseguissem montar s escondidas um receptor destes na Terra, estariam automaticamente em condies de invadir nosso planeta com a maior facilidade, sem necessitarem de uma s espaonave.

Tentaram uma vez provocar uma peste na Terra, com o que quase levaram a Humanidade beira do abismo.

Rhodan estava convencido de que no iria ficar somente nesta tentativa, mas sabia tambm que uma simples defensiva no seria o meio eficiente para acabar com estes ataques. Tinha-se que, ao invs disso, tirar os antepassados dos arcnidas de seu bem resguardado Sistema Azul. Mais de trs dzias de cruzadores leves e pesados da Frota Espacial patrulhavam o envoltrio energtico de cintilao azulada, procurando uma brecha para penetrar. Mas no havia uma s brecha.

Os terranos no dispunham, portanto, de meios para ficar a par das tramas urdidas em Sphinx e em sua lua maior, contra os arcnidas e principalmente contra eles prprios. Ao menos, aparentemente, no acontecia nada de importante. Na Terra, como em seu satlite, a Lua, aterrissavam todos os dias centenas e centenas de espaonaves, sem que ningum desse maior importncia a este fato.

Os acnidas dificilmente usavam naves, j que executavam todo transporte, tanto de mercadoria, como de passageiros, por intermdio dos transmissores fictcios. Espaonave s lhes seria til quando quisessem instalar uma estao de recepo fictcia em outro lugar.

Assim mesmo, na lua do quinto planeta estava uma espaonave prestes a decolar. No era muito grande, tinha o formato costumeiro da antiga cosmonutica acnida, isto , de construo esfrica, com os dois plos levemente achatados. Os tcnicos tomavam as ltimas providncias, e com muito mais cautela que os engenheiros terranos. No precisavam agir to detalhadamente, pois tal servio no requeria tanta ateno.

Esta nave, porm, no era um aparelho comum, e sim um artefato especial, secreto, completamente fora de srie.

A tripulao da tal nave estava reunida em Sphinx, recebendo as ltimas instrues. Toda a operao foi novamente discutida, colocando-se nas devidas dimenses a importncia do sucesso total, com especial realce do fator surpresa. Este ataque contra rcon era, portanto, indiretamente contra a Terra.

Esta a mais ousada das experincias dissera o instrutor, estirando os braos para o cu, de tal modo que as palmas das mos recebiam a luz direta do sol azul.

Devia ser uma mistura genial de tcnica e de especulao psicolgica, que a vtima somente perceberia quando fosse tarde demais para uma reao.

Formou-se ento a fila, passando os garbosos tripulantes perante os membros do governo e dos cientistas. Caminharam, depois, em direo ao campo energtico de brilho mais intenso, entrando para um arco flamejante porto para o transmissor fictcio.

Quando a primeira leva dos acnidas chegou ao arco chamejante, desapareceu de um instante para o outro, dando um simples passo para frente. Era como se o nada os tivesse tragado. A segunda leva, a terceira e a quarta se sucederam, at que toda a tripulao havia deixado o planeta de uma forma bastante estranha.

No mesmo segundo, porm, aquela fila enorme se rematerializava na lua do planeta. Saiu a primeira leva de um arco flamejante quase idntico ao do planeta. Percorreram a grande distncia entre o planeta e sua lua apenas com um passo, em um segundo, ou menos at. Todo o pessoal foi se aproximando da nave de plos achatados. Oficiais transmitiam ordens. Entre a escotilha aberta de embarque e o cho se formou um cintilante campo antigravitacional. A tripulao foi levada para bordo.

A vinte ou trinta horas-luz dali as naves terranas patrulhavam. Nem mesmo seus instrumentos mais sensveis podiam captar o que se passava em Sphinx ou em sua lua. No conseguiram nem registrar a decolagem da pequena espaonave acnida, que, com uma acelerao crescente, se aproximava dos limites do Sistema Azul, empregando uma tcnica, at ento segredo deles, de atravessar o envoltrio magntico de proteo num determinado ponto.

Era este o momento por que esperavam os terranos. Se uma nave conseguia atravessar a muralha invisvel de proteo num determinado lugar de dentro para fora, o inverso tambm devia ser possvel!

Nas telas panormicas de trs naves terranas de patrulhamento, que estavam mais frente, apareceu a sombra rpida do artefato acnida. Antes de os terranos iniciarem a perseguio da nave esfrica ou localizarem sua direo, o misterioso aparelho ultrapassou a velocidade da luz e desapareceu no semi-espao, tornando-se invisvel aos olhos dos observadores.

Tentar uma perseguio seria mesmo impossvel, pois uma nave de transio jamais poderia alcanar ou ultrapassar um aparelho com trao linear, no hiperespao. Mandou-se uma mensagem para a Terra, mas no lhe deram a ateno que merecia.

Ningum suspeitava de que o ataque j fora desencadeado. Um ataque como nunca houvera antes!

Um grupo de acnidas partira para abalar os alicerces do grande imprio. Atravs do espao e do tempo, uma garra invisvel do passado chegava at o presente com fora destruidora.

Milnios e milnios se reduziam a nada.

* * *

Consideram-nos como bichos vagabundos afirmava Reginald Bell, brao direito de Rhodan. O desprezo que os velhos arcnidas nos votavam quando os encontramos pela primeira vez na Lua, no era nada em comparao com o destes orgulhosos acnidas.

Concordando, o Marechal Solar Freyt fez apenas um aceno com a cabea, mas no disse nada, deixando o comentrio para Rhodan, que estava sentado cabeceira da mesa. Atrs dele, uma janela bem ampla mostrava uma parte do panorama de Terrnia. A capital da Terra e do Imprio Solar crescia cada vez mais e sua periferia urbana j atingia o antigo deserto de Gobi.

Mas isso disse Rhodan, dando sua opinio. verdade, nos desprezam e querem nos tirar de seu caminho, ou mesmo nos destruir. Isto um sinal evidente de sua presuno e conseqentemente de sua burrice. Todo aquele que menospreza seu adversrio bobo. Alm de tudo, so intolerantes, pois no suportam nossa presena, embora no saibam nada a nosso respeito, como tambm pouco sabemos a respeito deles. E, intolerncia, meus amigos, tambm sinal de burrice...

Estamos preparados, Perry disse Freyt. Nossas frotas podero zarpar a qualquer momento, caso sejamos atacados. E os acnidas conhecem a posio galctica da Terra, pelo menos o que ns temos que supor...

Se eles atacassem continuou Rhodan mas atacassem de fato com naves, aberta e honestamente! Tenho receio, porm, que a prxima operao ser to traioeira e s escondidas como a primeira. Tm medo de declarar guerra, mas no temem assassinar friamente. A Drusus j est pronta para partir?

Naturalmente, prontssima respondeu Reginald Bell, com seu cabelo vermelho, ouriado como porco-espinho.

E o Exrcito de Mutantes?

J est a bordo.

Deringhouse?

Tambm anda a por perto; afinal, o nosso comandante.

timo, ento vamos comear o trabalho logo disse Rhodan. Se os acnidas no tomam a iniciativa, ns a tomaremos.

Hesitou um instante.

Ainda uma pergunta, Freyt: Como est caminhando a montagem dos motores de propulso linear? J existem algumas naves prontas para entrar em ao?

Algumas esto ainda em vos experimentais e nos estaleiros da Lua o trabalho ininterrupto. Se for necessrio, podemos utilizar uma nave com esta propulso muitas vezes superior velocidade da luz.

Obrigado, isto que queria saber. Rhodan olhou para Bell, Freyt e para os demais homens.

Querem fazer mais alguma pergunta?

Levantou-se um general.

Tenciona decolar ainda hoje, sir? Rhodan sorriu.

No, claro que no. Gosto de saber sempre se posso arrancar a qualquer momento. Isto traz sempre alguma vantagem, alm de segurana total. Porm, nossos planos no esto ainda firmes. Mas logo sero informados a respeito. Mais alguma pergunta?

Horas depois, Bell e outros colaboradores estavam reunidos na residncia de Rhodan. O rato-castor achava-se deitado numa almofada no canto da sala, parecendo cochilar. John Marshall, chefe do Exrcito de Mutantes, sentara ao lado de Rhodan. Ras Tschubai, o teleportador africano, conversava com a japonesa Ishy Matsu. Dos alto-falantes embutidos na parede saa uma msica suave.

A situao parece idntica daquela vez quando nos defrontamos, temerosos, com os arcnidas. S que estes, apesar de cheios de si, me eram muito mais simpticos. A gente sabia, ao menos, com quem estava lidando e onde encontr-los.

exatamente isto confirmou Marshall. Desta vez temos que tatear no escuro como se fssemos cegos. Os acnidas, antepassados dos nossos arcnidas, so mais misteriosos e mais arrogantes do que estes. Infelizmente, porm, no to fracos e decadentes. Ainda vo nos dar muita dor de cabea.

Como se j no tivssemos bastante disse Bell mal-humorado, levantando-se e se dirigindo para o canto onde estava Gucky.

O rato-castor, sonolento, lhe deu uma piscadela, mas continuou espichado no almofado, enquanto seu amigo do peito comeava a lhe cocar o plo das costas.

Devemos simplesmente ignor-los concluiu o gordo.

No se afasta um perigo, ignorando-o sentenciou Rhodan. Pelo contrrio, estamos assim incrementando o desassossego.

O que o senhor pretende ento? perguntou Ras Tschubai francamente.

Rhodan lhe dirigiu um largo sorriso.

Voc vai sempre direto no assunto, hein, Ras? Mas vou lhe dar uma resposta. Amanh ou depois de amanh, faremos algumas transies na direo do Sistema Azul, com uma pequena frota. L j estaro nossa espera umas duzentas unidades. Vamos tentar, numa ao conjunta de maior envergadura, romper a muralha energtica que protege o sistema. Se todas as naves fizerem a transio no mesmo instante, talvez o consigamos.

Bell voltou-se para Rhodan e sua mo direita se esqueceu do que estava fazendo.

Como voc concebeu tal idia?! Todos fazerem a transio ao mesmo tempo! No ser...

Calma, Bell respondeu Rhodan. A fora dos abalos dever quebrar as barreiras magnticas. Se isto no acontecer...

No concluiu o que aconteceria. Bell estava branco como cera, quando disse, excitado:

um risco desgraado, Perry.

No para voc, gorducho, pois, desta vez, no ir. Quero que, durante minha ausncia, permanea aqui, atento aos acontecimentos. Tenho um vago pressentimento de que vai acontecer algo que pode ser muito desagradvel para todos ns.

Um ataque dos acnidas? indagou Ras.

Sim, talvez uma invaso. Silncio sepulcral.

Todos estavam preocupados com seus pensamentos, enquanto Bell chegava concluso de que no havia contra-razes para ele no ficar na Terra. Portanto, calou-se e no disse nada, continuando a cocar o plo de seu amigo nmero um.

No silncio reinante, a interrupo da msica despertou a ateno dos presentes. Seguiu-se um rudo de novo contato. Algum estava interferindo na ligao. Rhodan olhou automaticamente para o videofone, que estava sobre a mesa principal no outro canto da sala. Mas nada se movia em sua tela, nem em nenhuma outra.

Ateno! Para Perry Rhodan, urgente! Ligao de hiper-rdio com rcon. Favor avisar... Hiper-rdio de...

Rhodan pulou de sua poltrona e correu para o videofone. Apertou o boto para a ligao com a Central de Rdio de Terrnia, pedindo linha.

Apareceu na tela a pessoa que estava falando pelo rdio.

Perdo, sir, no sabia que o senhor estava em casa, mas em se tratando de urgncia fiz o apelo pelo rdio.

Est bem disse Rhodan um pouco impaciente. Transfira a ligao do hiper-rdio para c. Vou falar daqui mesmo.

O homem fez um sinal com a cabea e desapareceu do videofone. Poucos instantes aps, surgiu na tela o rosto de Atlan, Gonozal VIII, imperador de rcon. Sinais visveis de terror e de confuso desfiguravam os conhecidos traos fisionmicos do arcnida imortal. Atravs de trinta e quatro mil anos-luz, seus olhos se fixaram nos de Rhodan.

Que aconteceu? perguntou Perry. Pode falar francamente, aqui comigo s esto amigos ntimos.

Que aconteceu? Se eu mesmo soubesse! Aconteceu algo terrvel e inimaginvel. Algum penetrou em rcon, rompeu a muralha de proteo magntica e aterrissou em rcon III, o mundo da guerra, sem que ningum o pudesse deter, sem que os canhes automticos disparassem ou fosse dado o alarma.

Rhodan olhava perplexo para Atlan. O que o imperador estava narrando seria em si uma coisa impossvel. No havia nenhuma espaonave capaz de romper o envoltrio de proteo de rcon. Coisa meramente absurda. Atlan devia estar enganado!

Voc no est acreditando no que lhe estou dizendo? balanou a cabea, admirado. Voc tem que acreditar em mim, Perry; estou perdido, se no pegarmos este ser misterioso. Ele est em rcon III e l localizam-se todos os estaleiros de cosmonaves, os centros de formao tcnica... o crebro robotizado! O crebro robotizado! Rhodan, imagine se ele for danificado ou cair em mos estranhas! Sim, sei o que voc vai dizer: Vamos dar um jeito nisso. Mas como? Pense apenas que o estranho ser rompeu o envoltrio de proteo e os canhes no funcionaram. Haver tambm de fazer a mesma coisa com o crebro positrnico...

Que aconteceu com suas esquadrilhas de patrulhamento? No viram quando o intruso penetrou em seu espao?

Claro que viram, mas a perseguio foi intil. Apenas puderam ver que o estranho aterrissou em rcon III, a desaparecendo. Quando nossas naves se aproximaram dele, foram recebidas com disparos de canho, alis dos nossos prprios canhes!

Houve uma pausa. Rhodan levou uns dez segundos at responder:

Vou partir ainda hoje com a Drusus e mais dez unidades, seguindo diretamente para rcon. Providencie para que possamos passar sem dificuldade pelo envoltrio de proteo.

O semblante de Atlan estava mais aliviado.

No sei como lhe agradecer, Perry. Quem sabe conseguiremos nos livrar deste monstro? Voc o conhece?

Como que era a nave dele?

Uma nave esfrica, com os dois plos levemente achatados. A propulso...

Obrigado, basta. So os acnidas. J tentaram tambm contra a Terra. Agora procuram fazer a mesma coisa com rcon. No h em todo o Universo raa mais perigosa. Espere por mim. Comunique-me qualquer irregularidade que ocorra. O transmissor da Drusus permanecer ligado para recepo. Voc pode falar comigo a qualquer momento.

Mais uma vez, obrigado. Acnidas? Voc vai me contar alguma coisa sobre esta raa?

E o que sei? Atlan, preste muita ateno no que est acontecendo em rcon.

Observe bem o mundo da guerra. Rena toda a sua frota e cerque rcon III hermeticamente. Quando a nave estrangeira tentar sair, procure destru-la, se puder.

Cham-lo-ei, caso ocorra alguma coisa importante prometeu Atlan. Depois, a imagem desapareceu e a ligao foi interrompida.

Rhodan voltou a sua poltrona e se sentou. Olhou para seus amigos, todos calados. Gucky despertara de sua soneca e olhava surpreso. Bell no parecia muito feliz. Sabia que a decolagem da Drusus seria antecipada.

Hoje? perguntou ele.

Agora, imediatamente respondeu Rhodan. Os acnidas esto atacando rcon, sua antiga colnia. Pelo menos h quinze mil anos atrs devia ter sido sua colnia. Se eles souberem da aliana entre ns e Atlan...?

Bell andava nervoso de um lado para o outro.

E o que devo ficar fazendo na Terra? Os acnidas no vo atacar rcon e a Terra ao mesmo tempo. Vou me sentir completamente suprfluo aqui...

Em que lugar que voc no seria suprfluo? disse o ingrato rato-castor.

Gucky parecia haver esquecido que Bell lhe cocara as costas, e concluiu, enftico:

Ou na Terra, ou a bordo da Drusus, voc sempre suprfluo.

Cale a boca, por favor! disse Rhodan, com energia.

Gucky teve que engolir a lngua. Era uma coisa muito rara quando Rhodan tinha que lhe chamar a ateno.

Magoado, Gucky se desmaterializou e desapareceu diante dos olhos de seus amigos estupefatos. Teleportara-se para o interior da Drusus.

Contrabalanou seu aborrecimento com o triunfo de ser o primeiro a transmitir a grande novidade tripulao da grande nave.

Rhodan no se interessou pela sada de Gucky.

Partiremos dentro de meia hora ordenou ele. Voc fica aqui, meu amigo. Quero deixar a Terra sob seu comando firme e competente. E pode acreditar no que lhe estou dizendo: enquanto eu estiver fora, vai acontecer alguma coisa importante.

No sabia ainda o que ia acontecer, mas sentia-se certo de que suas preocupaes tinham razo de ser.

* * *

Depois da segunda transio, a Drusus se rematerializou nas proximidades da base arcnida, a cerca de vinte mil anos-luz da Terra. E antes que o Major Gorm Nordman, navegador-chefe, pudesse iniciar os preparativos para a terceira transio, ouviu-se o sinal de ateno do receptor de hiper-rdio. O Tenente Fred Jenner se ps imediatamente em contato com Rhodan e este, pensando se tratar de um urgente pedido de socorro de Atlan, correu para o posto de rdio. Teve uma grande surpresa... No era o rosto conhecido de Atlan que estava na tela, mas o de uma pessoa desconhecida. Devia ser um arcnida, no havia dvida. Os cabelos brancos, a testa ampla, os olhos vermelhos e a arrogncia mal disfarada eram uma prova mais do que suficiente. Rhodan mandou fazer a ligao do ramal do videofone, para que seu interlocutor o pudesse ver e ouvir.

Belonave Drusus, do Imprio Solar disse de pronto. Comandante Perry Rhodan, Terra. O senhor nos chamou?

Estava mais do que patente que o arcnida no tinha a menor idia com quem ele tinha entrado em contato. Havia decepo no seu rosto, seguida logo depois por uma sensao de alvio. Rhodan no sabia como explicar esta mudana de expresso.

Base, comandante Geral-Khor, planeta Salex IV. Minha ligao com rcon foi interrompida. O senhor poderia transmitir uma importante mensagem para o Imperador Atlan?

Rhodan olhou firme para o arcnida.

Seu hipertransmissor funciona, do contrrio o senhor no poderia entrar em contato comigo. Entre ns, a distncia de trs meses-luz, tempo da Terra.

A energia de que disponho no suficiente para chegar at rcon. Bastou-me para registrar sua transio, localiz-lo e cham-lo. Mas no podemos vencer a distncia at rcon.

Que que aconteceu?

Havia hesitao nos traos do arcnida.

No sei se lhes posso contar. Trata-se de um segredo militar.

Rhodan mostrou-se impaciente:

Como o senhor quer impedir que eu fique a par da situao, se tenho que transmiti-la para rcon?

Mas claro que vou dar a mensagem cifrada.

Isto no lhe vai adiantar nada, pois possuo a chave do cdigo secreto do Imperador Gonozal VIII, podendo pois decifrar e ler sua mensagem.

Pela primeira vez, o semblante frio do arcnida esboou um sorriso e Geral-Khor disse:

Era o que estava pensando, mas queria sua confirmao. Est bem, vou lhe contar tudo. O senhor quer aterrissar?

No, meu tempo escasso. O imperador est esperando urgentemente pela minha chegada.

uma coisa importante, terrano, muito importante.

Rhodan olhou para o General Deringhouse, que entrara no posto de rdio. Ouvira o dilogo e tinha no rosto uma expresso confusa.

Est bem disse Rhodan, finalmente. Vamos ento aterrissar, depois de uma curta transio de trs meses-luz. Espere por ns. D-nos as coordenadas com exatido, para pouparmos tempo.

Vinte minutos mais tarde, disparavam com acelerao decrescente para o quarto planeta do sol Salex. Era um mundo pequeno e deserto, de atmosfera respirvel e de pouca vegetao. As instalaes da base eram subterrneas e Rhodan calculava que aqueles seus hangares davam para abrigar uma grande frota de encouraados. Passaram por dezenas de naves-patrulha que circunvoavam o planeta numa rbita determinada e que no responderam ao rdio de simples cumprimento. Deringhouse disse que se tratava de unidades robotizadas.

A nica construo, que se via na superfcie da base, era uma enorme casamata em forma de cpula, ao lado do espaoporto. A antena esfrica refletia o sol poente. Enquanto a Drusus, com as turbinas zunindo e com os campos antigravitacionais ligados, descia lentamente, pousando suave na pista de mais de um metro de camada de cimento armado, um nico homem saa da fortaleza abobadada, parando beira do espaoporto.

A imagem ampliada do videofone permitia reconhecer os traos de Geral-Khor.

Rhodan franziu a testa.

Esquisito, tudo isto disse ele. Parece que o homem vive sozinho nesta base.

Deringhouse no respondeu. Estava ocupado demais com a aterrissagem. Seguindo exatamente o regulamento, desligou os diversos grupos de propulso, examinou todos os instrumentos de controle. Deixou funcionando apenas os campos antigravitacionais, pois no sabia se a camada de cimento armado da pista tinha a espessura necessria para suportar o peso da Drusus, uma esfera de ao de um quilmetro e meio de dimetro. Somente momentos depois, respondeu pergunta de Perry.

Sozinho? Um homem sozinho no pode comandar uma base desta.

Por que no? indagou Rhodan, no compartilhando da opinio do general. Arcnidas competentes que se conservam ativos so raros e Atlan tem que distribu-los com cuidado. Esta base uma das muitas completamente automatizadas. Todas elas so dirigidas pelo crebro positrnico de rcon. O mesmo acontece com a frota. Somente que, em certas coisas, o ser humano insubstituvel, razo por que Atlan colocou em toda parte um arcnida de confiana como comandante. Portanto, no me causa nenhuma estranheza o fato de o bom Geral-Khor estar sozinho aqui.

A experimentao do ar foi satisfatria e a temperatura era suportvel mesmo sem ser acionado o dispositivo de calefao do uniforme espacial. Rhodan enfiou na cintura uma pistola de raios energticos. Deu instrues ao telepata e teleportador Gucky para que prestasse ateno em Geral-Khor, para estar mo, caso fosse necessrio. Depois, acompanhado tambm de John Marshall, igualmente telepata, deixou a Drusus pela escotilha de sada inferior. Levava naturalmente o pequeno transmissor de pulso, de modo que Deringhouse estava em ligao com eles.

John Marshall abriu os braos, respirou profundamente e sorriu feliz:

Como pode um planeta como este ter um ar to gostoso?

Existem tambm mares e grandes cintures de vegetao. Naturalmente sobrepujam a parte desrtica e de montanhas ridas detalhou Rhodan.

Caminhavam no solo firme e plano de cimento, deixando a grande nave para trs. Aquele vulto solitrio junto casamata, vinha lentamente ao encontro dos terranos.

Que est pensando ele? perguntou Rhodan.

Est intimamente contente e feliz de termos chegado. Pensa, tambm, numa catstrofe, mas muito obscura e indistintamente, como se ele mesmo no soubesse bem o que vai acontecer. De qualquer maneira, est bastante preocupado, chegando a ter medo.

Muito esquisito disse Rhodan, olhando para trs e vendo o cu claro e sem nuvens da tarde.

O catlogo sideral lhe informara que este sol tinha um ocaso muito longo, pois um dia de Salex IV durava cinqenta horas, apesar de o planeta ser menor que Marte.

Quando se encontraram a quinhentos metros da nica construo, Geral-Khor estacou. Usava o uniforme de uma alta patente arcnida e portava tambm uma arma na cintura. No momento em que Rhodan olhou para ele, o arcnida automaticamente curvou a cabea. Depois esticou a mo para o terrano.

Sinto-me feliz, pois o senhor atendeu minha solicitao, embora tivesse que fazer este pequeno desvio de sua rota. Mas acho que de suma importncia que Gonozal VIII saiba do que se passa aqui.

Rhodan no quis j de incio saber dos detalhes e dos possveis pensamentos de seu interlocutor, dispensando, pois, naquele momento, os servios do telepata Marshall.

Ia deixar que o arcnida relatasse, como quisesse, os fatos ocorridos. Segurou a mo de Geral-Khor, apresentou Marshall e disse:

Venha para a nossa nave, ou...?

Posso lhe pedir para ser meu hspede? Creia: eu quase nunca tenho hspedes aqui. As visitas so quase sempre de robs, comandantes de frota. Mas, agora...

Interrompeu o que estava dizendo e se encaminhou para o edifcio. Marshall fez uma cara de interrogao e fitou Rhodan. Parecia ter detectado algo errado.

Falavam sobre coisas sem importncia e Rhodan teve ocasio de apreciar a pacincia do arcnida. Qualquer outra pessoa teria logo contado com a novidade sensacional, se que era mesmo uma novidade e sensacional.

Por aqui, por favor disse Geral-Khor, conduzindo seus visitantes para uma sala confortvel e bem mobiliada.

A janela grande e muito baixa permitia a viso total do espaoporto. A Drusus refulgia numa colorao rosa do sol poente. A viso daquele gigante produzia uma sensao de tranqilidade e, ao mesmo tempo, assustava.

Sentaram-se.

Ento, meu amigo, desembuche o que tem a dizer falou Rhodan que, notando a expresso de espanto do arcnida, acrescentou: Desculpe, uma expresso usada muito entre ns, com o simples sentido de: pode iniciar seu relatrio.

O sorriso de Geral-Khor foi apenas protocolar.

O senhor vai voar daqui diretamente para rcon?

Gonozal VIII me pediu que assim o fizesse.

timo! Ento comunique-lhe que a base Salex IV est paralisada. A frota robotizada est desligada e no obedece mais aos impulsos de comando. Com os aparelhos de escuta constatei que no estamos mais recebendo impulsos de rcon e assim, sem estes impulsos do grande crebro positrnico, a frota que de controle robotizado est praticamente morta. As naves, que estavam paradas nos hangares, continuam l, sem se poderem mover. As escotilhas permanecem fechadas e ningum as consegue abrir. As unidades, que estavam patrulhando, permanecem dando voltas no planeta, como se esperassem por alguma coisa. E o que ser que elas esto esperando, Perry?

Rhodan tinha uma idia muito vaga e no a queria expor, exatamente por ser mera hiptese. Uma frota robotizada podia ficar desligada e isso nada tinha de alarmante e tambm no significava que estava acontecendo a mesma coisa em outras partes do Imprio Arcnida. Podia ser at um mero acaso. Por exemplo, uma falha no rel nos comandos receptores...

E o que aconteceu com os robs de servio? perguntou Perry.

Os robs de servio? So comandados diretamente pela central e esta, por sua vez, est em ligao direta com o crebro de rcon. Esto todos parados. No h nada que os faa se mover, nem para dar um passo. Em toda esta base, eu sou o nico que no ficou parado como um idiota. Mas tambm, no sou rob, no ?

Rhodan estava percebendo toda a situao e ficou apavorado. Notou que havia um nexo entre o que Atlan lhe contara e os acontecimentos em Salex IV. Estava mais do que na hora de comunicar isto ao imperador.

Proponho que o senhor mesmo exponha isto diretamente ao Imperador Gonozal. L de nossa nave. Ficar ento sabendo que medidas deve tomar. Com isto, o senhor e o imprio pouparo muito tempo, decisivo em tais circunstncias. Suponho que o imperador vai lhe dar algumas instrues.

Boa idia disse o arcnida, agradecendo. J havia pensado nisto, no queria, porm, incomod-lo... Sim, sei que Terra e rcon so aliados, mas apesar disso...

Rhodan sorria.

Mais tarde, vou dar uma olhada nas naves do hangar. Suponho que as entradas no estejam tambm bloqueadas.

Felizmente, no! So de controle manual, do contrrio...

Ouviu-se de repente um leve zumbido na sala. Rhodan, levantando a mo, disse:

Deringhouse? Pode falar calmamente.

Hiper-rdio, senhor. Atlan quer falar com o senhor. urgente, acho eu.

Diga-lhe que espere um pouco, estarei l em poucos minutos.

Olhou para Geral-Khor:

Mais cedo do que imaginvamos, o senhor vai poder falar com o imperador. Vamos embora. Acho que no devemos mais perder tempo.

Se o chamado de Atlan foi uma surpresa para o comandante da base, pelo menos no o deu a entender. Levantou-se na mesma hora e caminhou para a porta. Rhodan e Marshall o seguiram. Como no houvesse uma nica viatura disposio, o remdio era ir a p, o mais depressa que podiam.

Chegaram pelo elevador antigravitacional ao posto de rdio, em menos de trs minutos. Fred Jenner estava mantendo a ligao com rcon.

Estou sabendo que voc se encontra em Salex IV, Perry. Por que motivo?

Rhodan lhe explicou em poucas palavras e pde presenciar a grande surpresa e perplexidade de Atlan.

Voc est certo, brbaro. A pane geral. De incio pensei que fosse mero acidente, restrito a um raio de alguns anos-luz. Mas a explicao mais simples: as instalaes do hiper-rdio no funcionam e, assim, as notcias alarmantes no chegaram at mim.

Que aconteceu? perguntou Rhodan com insistncia.

Atlan comeou a falar:

Toda ligao com o crebro de rcon III foi interrompida. No h mais nenhuma comunicao. Concomitantemente, todas as naves robotizadas esto paralisadas. A mesma coisa acontece com todos os robs de combate e de servio e com todas as instalaes dos estaleiros de cosmonutica.

A administrao de rcon est beira de um colapso geral, pois a maior parte dos servios so executados por robs, que o grande crebro eletrnico controla. O perfeccionismo da total automatizao positiva-se agora como prejudicial, j que o principal falhou. Todo o reforo para as unidades da frota comandadas por arcnidas fracassou. a mesma coisa como se nunca tivesse existido o crebro positrnico. Alis, destruiu-se toda comunicao por rdio com tudo que est localizado em rcon III, seja rob ou no.

O planeta da defesa blica se encontra coberto por um estranho campo magntico de um tipo desconhecido e de propores gigantescas! Nada consegue penetr-lo, nem ondas de rdio, nem matria. Desta feita, o crebro robotizado est isolado. So catastrficas as conseqncias desse isolamento...

Geral-Khor empalideceu, olhando perplexo para seu imperador e deixando-se cair numa cadeira, como se as pernas no o agentassem mais. No disse uma palavra.

O prprio Rhodan ficou muito srio, quando disse:

Os acnidas atacaram e so uma potncia que dispe de meios desconhecidos. Com uma nica nave, conseguiram destruir o Imprio de rcon. Esto instalados no corao do imprio, seguros e inatingveis. Que devemos fazer?

Era isto que ia lhe perguntar respondeu Atlan, perturbado. No sei realmente o que possa fazer.

Rhodan no respondeu. O silncio era angustiante.

No temos nada mais a fazer aqui em Salex IV. Geral-Khor, voc no acha bom ir conosco ou quer ficar aqui?

Atlan foi quem decidiu:

Ele deve regressar a rcon, pois, caso o crebro eletrnico volte a funcionar, a base pode recomear seu trabalho sem ele. Geral-Khor retornar a Salex mais tarde.

Obrigado, majestade disse Geral-Khor aliviado.

A idia de permanecer entre as naves paralisadas de repente, naquela solido, no lhe era nada agradvel.

Pode nos esperar para daqui algumas horas, Atlan disse Rhodan. Espero apenas que o envoltrio de proteo no nos detenha. Ou melhor: espero que os acnidas no consigam controlar o crebro positrnico. Acho que o mximo que conseguiro deslig-lo e, com isto, no me podero atrapalhar. Portanto, Atlan, a situao no ainda desesperadora. Temos alguma esperana.

Mas muito pequena respondeu Atlan.

No, amigo. Esperana esperana. E no se esquea de que j passamos por coisas muito piores e sempre conseguimos vencer.

Mas nunca por uma situao to drstica como esta replicou pessimista.

Rhodan sabia que, no fundo, o arcnida tinha razo.

Assim que a tela apagou, o grande aliado de Atlan perguntou:

Uma visita ao hangar das naves robotizadas se torna assim completamente desnecessria, Geral-Khor. Podemos decolar imediatamente? Ou o senhor ainda tem que apanhar alguma coisa na base, coisas particulares, penso eu?

Quando a existncia do imprio est em jogo, no h interesses particulares respondeu Geral-Khor com muita dignidade.

No precisava dizer mais nada. Rhodan acenou, concordando, e continuou:

O Imprio de rcon nunca estar perdido enquanto Atlan-Gonozal tiver oficiais do seu gabarito disse, estendendo a mo ao arcnida. John Marshall vai lev-lo sua cabina.

Encaminhou-se para a central de comando, onde Deringhouse j havia posto no computador os dados para a transio.

Dez minutos aps, a maior nave da Terra, com o rugido cavernoso de suas turbinas, se desprendia do solo, mergulhando no cu, j escuro, de Salex IV e passando ao lado de naves-patrulha arcnidas, que circunvoavam sem sentido o planeta militar. Meia hora depois entrava em transio.

* * *

Mais ou menos na mesma hora, em Terrnia, o pequeno computador do Instituto de Reciclagem para Cosmonutica perfurava outra ficha com minsculos quadrculos. A ficha azulada foi puxada pelo aparelho seletor para uma pequena esteira rolante e levada para um arquivo.

Um minuto mais tarde, um certo Major Rammbggl, Ludwig Rammbggl, diretor do Instituto, estava com a ficha na mo.

Oba! fez ele, depois de passar rapidamente a vista na ficha. Puxa! Um major da Frota Espacial, Heinrich Bellefjord, se apresentou para a reciclagem e foi aprovado. Pelo menos mais um oficial que j serve na Frota!

E olhando para seu secretrio:

Pierre, traga imediatamente os papis deste oficial. Depressa! Precisamos de tripulaes experientes para as novas naves experimentais de propulso linear. Este Bellefjord, nome cmico, no ? Deve ser destacado imediatamente para a Lua.

Pierre fez a continncia e desapareceu.

Meia hora depois, o Major Rammbggl foi informado de que Bellefjord estava em operao com o cruzador leve Kenia. Mas isto no o impediu de entrar em contato imediatamente com o Supremo Comando e tomar as respectivas providncias. Duas horas depois, chegava uma ordem por hiper-rdio linha de frente do Sistema Azul.

* * *

Juntamente com outras unidades da Frota, ali estava tambm o cruzador Kenia patrulhando as fronteiras do Sistema Azul.

As primeiras tentativas para romper o envoltrio de proteo com truques tcnicos j haviam sido realizadas. Trs cruzadores pesados fizeram no mesmo instante uma pequena transio, na esperana de romper a cpula energtica acnida. Pura iluso, a tentativa fracassou, sem contudo prejudicar ningum. As trs naves foram apenas rechaadas por uma fora invisvel, mas de grande potncia. Os campos antigravitacionais absorveram o grande choque.

O comandante, Major Heinrich Bellefjord, no podia supor que, neste momento, estava terminando sua misso por ali e que tinha sido escolhido pelo destino, ou se preferirmos, por um computador, para desempenhar um papel muito importante nos acontecimentos que estavam por vir.

At era bom que no soubesse disso, pois talvez seu nimo empreendedor teria arrefecido.

De repente, percebeu quando uma pequena nave acnida surgiu nas profundezas do espao e desapareceu.

Com dois pulos rpidos, j estava na cabina de rdio.

Ligao para o Major Kalgula, depressa!

Antes que o radiotelegrafista pudesse responder, j tinha voltado ao posto de comando. O piloto, um africano, virou-se para ele.

Sargento, v at o local de onde saiu aquela nave, l no envoltrio de proteo. O que eles podem, ns tambm podemos. Voc viu bem de onde ela saiu?

O africano fez que sim. Como piloto do cruzador leve, estava sentado bem ao lado das telas e dos instrumentos de orientao. Quando surgiu a espaonave estrangeira, ele apertou o boto da gravao fotogrfica e goniomtrica. Desta feita se pde reconstituir com exatido a rota da nave desaparecida.

Nossa direo est agora certa disse o piloto, depois de uma pequena correo. Estamos voando exatamente para o ponto assinalado na tela.

timo. Sargento Omola, a distncia?

Dois minutos-luz.

E a velocidade?

Zero vrgula noventa e oito por cento da luz.

Conserve-a. Estarei de volta num instante.

Bellefjord dirigiu-se cabina de rdio, o mais depressa que pde.

Como vai o negcio, cadete? J conseguiu a ligao?

Gerald Rumpus deu um salto, oferecendo o lugar ao superior.

O Major Kalgula est esperando, senhor.

Bellefjord passou entre a cadeira pregada no cho e os muitos instrumentos sua frente. Com algum esforo, conseguiu sentar. A menos de um metro, emergia da tela o semblante do outro oficial.

Que que h de novo, Bellefjord?

Venho pedir autorizao para penetrar no Sistema Azul...

Autorizao? pelo tom de Kalgula, devia estar muito admirado. Ns estamos tentando isto h muitos dias, e no conseguimos. E o senhor vem me pedir autorizao para penetrar? Como posso compreender isto, major?

Tenho uma idia, senhor!

Prazer em ouvir isto. E qual ela? Bellefjord quase engasgou de to nervoso que estava. No podia perder tempo.

Estou, com a nossa Kenia, prximo do lugar onde a nave acnida atravessou o envoltrio energtico de proteo. Suponho, senhor, que conseguiremos entrar pelo mesmo lugar do qual ela saiu.

O major parecia muito apreensivo.

O risco muito grande, Major Bellefjord. Caso a fenda se feche, os senhores no podero mais voltar e ns tambm no os podemos ajudar. S podero contar com os prprios recursos. No sei se lhe posso dar autorizao, sem antes consultar a Terra.

No temos mais do que um minuto, senhor! Nossa Kenia se atira com quase a velocidade da luz na direo da fenda de passagem. mesmo um buraco, senhor, onde at a cintilao azulada j esmaeceu.

O Major Kalgula, comandante geral dos cruzadores nos limites do Sistema Azul, hesitou por mais um segundo. Depois concordou:

Est bem, major, dou-lhe a autorizao, mas o senhor est ciente do risco que corre. Procure manter contato conosco pelo rdio.

Est certo, senhor, e... muito obrigado.

Levantou-se e foi correndo para a central de comando, enquanto o telegrafista Rumpus assumia de novo seu lugar.

A imagem da tela desapareceu, mas a ligao continuou.

A nave Kenia penetrara no misterioso envoltrio de proteo, que separava o mundo fantstico dos acnidas do resto do Universo. A ligao do rdio cessou completamente. A Kenia e todos os terranos, que nela se achavam, estavam isolados do resto do mundo.

Bellefjord tocou o alarma.

O primeiro-oficial veio correndo para a cabina de comando. Era o antigo tenente, agora promovido a capito, Benno Raldini, um sujeito muito vivo, de cabelos escuros.

Alarma, senhor?

Bellefjord apontou para a tela panormica que ainda estava funcionando, espelhando fielmente tudo que havia em torno da Kenia. Com poucas palavras, explicou a Raldini o que acontecera. E concluiu:

No tive tempo de disparar o alarma antes. Kalgula deu autorizao para a operao. No posso explicar como me veio de repente a idia de que a nave dos acnidas, que estava rompendo a muralha de proteo, devia deixar um buraco na barreira energtica. O fato que minha idia foi feliz. Estamos no Sistema Azul.

O comandante dirigiu-se ao intercomunicador e deu algumas instrues tripulao. Em caso de emergncia, teria que cuidar da defesa. Deu ordem para que as baterias de raios trmicos e energticos ficassem de prontido e a cpula de proteo continuasse ligada. Os pequenos aparelhos salva-vidas tambm deviam estar de alerta, para decolarem instantaneamente em caso de uma catstrofe.

Naturalmente, todos tinham que estar com o uniforme espacial.

Proponho tambm, senhor disse Raldini depois de desligar o intercomunicador que tambm ns vistamos o uniforme espacial. Mais tarde, talvez, no teremos mais tempo.

Bellefjord concordou.

O piloto, sargento Wari Omola, reduziu a velocidade da Kenia e se dirigiu no sentido do sexto planeta, que estava entre eles e o sol azul. Sphinx, o quinto planeta e centro principal dos acnidas, estava direita do disco solar. Bellefjord no se julgava com direito de entrar em ligao com os acnidas. O fato de ter penetrado no Sistema Azul, foi quase que mero acaso. Queria aproveitar a ocasio para estudar melhor a constituio daquele misterioso envoltrio de proteo, que isolava o sistema do resto da Via Lctea. Mas no tinha nenhuma vontade de se deixar prender pelos antepassados dos arcnidas.

Depois de ligar o piloto automtico, Omola foi examinar todo o registro de sua rota. Por meio do rob navegador, conseguiu determinar a posio exata da fenda. Uma estrela, na proa da nave, visvel numa tela especial, servia de ponto de referncia. Esta estrela estava prxima da muralha de proteo.

Dentro do sistema, as distncias so pequenas demais para produzir um desvio no alinhamento, senhor concluiu convincente o piloto. Assim que o senhor precisar, acharemos de novo o local.

Depois, olhando para as telas sua frente:

Acha vlido aterrissar? Bellefjord no respondeu logo. Sabia o que havia acontecido, quando o planeta, alis, quando o Sistema Azul fora descoberto. O relatrio de Rhodan foi distribudo para todos os comandantes da Frota. Os acnidas trataram Rhodan e sua gente com o maior pouco-caso. Naturalmente, isto no queria dizer que o procedimento deles hoje seria o mesmo. Os acnidas chegaram depois concluso de que os terranos no eram os arcnidas, seus descendentes mais prximos, contra os quais os habitantes do Sistema Azul tambm cultivavam uma tremenda antipatia, que se aproximava do desprezo. Quem sabe tratariam os terranos de maneira mais amiga?

Primeiro d umas voltas em torno do planeta! ordenou ele.

Os aparelhos de radiogoniometria no assinalaram a presena de nenhuma outra nave no Sistema Azul. Quem sabe se aquela pequena nave, que rompera a muralha de proteo, era a nica restante em todo aquele esquisito sistema, onde vivia uma raa que a todo custo queria se isolar do resto do Universo? Neste caso, esta raa no contaria com outras para se defender. Era uma coisa em que Bellefjord no pensara ainda.

Desa mais! ordenou de novo.

A Kenia penetrou nas camadas superiores da atmosfera, diminuindo ainda mais a velocidade. Por um momento, Bellefjord comeou a imaginar o que ocorreria, se no encontrassem a fenda para sarem daquele sistema. Ou, pior ainda, se entrementes aquela abertura se fechasse. Poderia acontecer muita coisa. Principalmente, uma impiedosa perseguio por parte dos acnidas, caso ainda tivessem outras naves. Ou aprisionamento, caso aterrissassem em Sphinx. Em ambas as situaes, nenhuma possibilidade de voltar Terra.

O sexto planeta dava a impresso de ser desabitado, no se levando em conta algumas estaes de transmissores fictcios e algumas bases. A maior parte da superfcie era desrtica. Apenas, em torno do nico mar, havia uma paisagem que lembrava um pouco as estepes da Terra. Vegetao densa, no havia em nenhum lugar. Somente campos e rvores desgalhadas.

Depois que a Kenia sobrevoou duas vezes o planeta, o comandante Bellefjord deu ordem para aterrissar.

O Capito Raldini olhou assustado para a tela panormica.

Com o perdo da pergunta, senhor, mas qual seu plano? Se os acnidas nos...

Temos que arriscar, capito. Est vendo ali o arco chamejante? Sim, bem perto da pequena construo. Quero saber para onde a gente vai, entrando por aquele arco.

uma estao de transmissor fictcio?

Ao menos, parece. Com mais dois tripulantes vou fazer uma tentativa de entrar em contato com os acnidas. O senhor assumir o comando da Kenia. Se eu no voltar at um determinado tempo, o senhor deve partir. Estamos entendidos?

claro, mas...

Nada de mas! Decolar e procurar alcanar o Major Kalgula.

A Kenia aterrissou no longe da praia. Os arcos chamejantes do transmissor pareciam sair do cho em dois lugares distintos. Bem ao centro das duas colunas de fogo, os jatos se uniam em arco, a mais ou menos dez metros de altura. Originava-se, ento, uma espcie de prtico luminoso. O que havia atrs dele, no se podia ver. Mas, de qualquer maneira, no era a superfcie montona do planeta.

Bellefjord ligou o intercomunicador. Exps tripulao sua inteno de inspecionar a superfcie do planeta e pediu ao laboratrio que lhe fornecesse os dados necessrios. Alm disso, solicitou dois voluntrios. Fez questo de frisar o risco inerente ao empreendimento.

Dos acnidas, que externamente no se diferenciavam muito dos homens, a no ser pela formao ssea, muito semelhante dos arcnidas, no se via nem sinal. Aquela nica construo baixa e abandonada parecia perdida no meio da estepe de capim ralo. Os microfones externos da Kenia no captavam o menor rudo. Parecia que nem mesmo animais existiam por ali. Bem alto no cu, estava o sol azul, e a colorao da atmosfera deixava prever uma excelente camada de ar.

Entraram, ento, os resultados das pesquisas do laboratrio. O ar era respirvel, no havia bactrias nem qualquer radiatividade. Portanto, nenhum perigo para o ser humano.

Os dois homens se apresentaram. Entre os muitos que se ofereceram, o Capito Raldini selecionou dois. Bellefjord os conhecia, como alis conhecia a cada um dos tripulantes da Kenia.

Sargento Meister e cadete Rumpus se apresentam para o empreendimento.

Rumpus? Voc? Bellefjord gaguejou. Voc tem que ficar nos seus instrumentos.

Todas as comunicaes esto interrompidas e, alm disto, j providenciei substituto. Gostaria imensamente de ir com o senhor, se o permitir.

Bellefjord sorriu.

Muito bem, cadete. Acho que voc pretende, nesta misso, a promoo para tenente, no ? Talvez esta incurso no planeta lhe d a oportunidade. O primeiro-oficial lhe forneceu as armas?

Esto na escotilha de sada, senhor.

Bellefjord acenou para Raldini, que estava entrando. Deu-lhe, ainda, algumas instrues e deixou a central de comando com seus dois voluntrios, encaminhando-se para a escotilha de sada. Para falar sinceramente, Bellefjord no estava se sentindo muito bem, pois, embora tivesse obtido autorizao do Major Kalgula, no podia ter certeza se nesta autorizao achava-se includa uma aterrissagem espontnea no sexto planeta, e se isto iria de encontro a alguma determinao de Rhodan.

A escotilha se abriu lentamente, depois de terem vestido os trajes de proteo. No se tratava dos pesados uniformes espaciais, mas dos trajes mais leves de operao de emergncia, que incluam o dispositivo de calefao, o filtro de respirao e o neutralizador de irradiaes. Neste planeta parecido com Marte, era o suficiente. O gravmetro acusava 0,9. A voz de Bellefjord parecia meio abafada, quando disse:

Vamos at o arco chamejante. Enquanto estivermos l, vocs examinam toda a instalao. Fiquem sempre com a arma pronta para atirar, mas s podem abrir fogo quando eu mandar. No podemos de maneira alguma cometer arbitrariedades ou violncias. S nos cabe o direito de defesa. Est bem claro?

O sargento Meister balanou a cabea, meio confuso. Dava a impresso de estar arrependido de se ter apresentado to precipitadamente. Podia ser tambm conseqncia da tenso nervosa.

Em compensao, Rumpus tinha um ar de completa tranqilidade. Parecia no ter medo de nada. Bellefjord estava surpreso com a transformao sbita que se processava no competente telegrafista, mas at ento um jovem de aparncia tmida. Talvez estivesse se controlando... Podia ser esta a explicao da repentina frieza do jovem cadete.

E quanto a ele mesmo?

Bellefjord confessou intimamente no ter nenhum sentimento especial. No sentia medo, mas no deixava de ter uma sensao desagradvel. Quem sabe se o que o impulsionava para este empreendimento era apenas curiosidade?

Estacaram a poucos metros do arco de fogo, ou melhor, do arco de luz. O sargento Meister foi na frente e contornou duas vezes a construo, antes de entrar numa porta que estava apenas encostada.

Dava a impresso de ser uma armadilha bem camuflada. Desapareceu, aparecendo dez segundos depois.

Nada, meu senhor! Parece uma sala de espera, com bancos, uma mesa e uma espcie de bilheteria. Ser possvel que o transporte pelo transmissor fictcio s se realize em horas determinadas, e os passageiros tenham que esperar aqui?

Bellefjord ficou devendo a resposta. Olhava com alguma cautela para o fosso debaixo do arco de luz. Era de fato um buraco. Ao invs de uma continuao da estepe, Bellefjord viu um redemoinho de uma colorao azul-escura, uma matria no identificada. Talvez nem fosse mesmo matria, mas um tipo de energia, onde se caa quando se desejava ser transportado.

Para onde serei transportado, caso entre no transmissor?, indagou-se o major.

Tentou dominar suas dvidas, e s agora respondeu ao sargento:

Pode ser muito bem que se trate de uma sala de espera. Mas no h dvida de que o transmissor est funcionando. No precisamos, pois, esperar.

A nave Kenia encontrava-se a cem metros. Bellefjord olhou para ela e ergueu o brao esquerdo. Era o sinal combinado com o Capito Raldini. O primeiro-oficial iria agora consultar o relgio e contar exatamente cinco horas. Esgotado este tempo, conforme as instrues que recebera, tentaria sair do Sistema Azul.

Quer dizer que isto um transmissor de matria e de passageiros, senhor? perguntou Rumpus, de sbito. Nunca vi um assim. As gaiolas de ferro tranado, que andei estudando no laboratrio de pesquisas de Terrnia, no tm nada em comum com esta instalao.

Este tipo aqui se baseia em outros princpios disse-lhe Bellefjord, embora ele mesmo no compreendesse bem. Quando se penetra no foco do arco de luz, a pessoa ou o objeto se desintegram nos seus componentes atmicos, atravs de todo o percurso determinado e fora das leis do tempo e do espao. So transportados pelo hiperespao, ou quinta dimenso, para finalmente serem recompostos num receptor. o tipo ideal de transporte. Um dia, tambm no nosso sistema solar, todas as naves sero substitudas por aparelhos iguais a este.

Rumpus nada comentou. Sua mo segurava a coronha da arma que ainda estava travada na cintura. O sargento Meister contemplava absorto o redemoinho energtico no arco de luz. Estaria pensando como um homem poderia ficar inclume num inferno daquele.

Bellefjord olhou mais uma vez para o relgio.

No temos mais tempo a perder. Dem-me suas mos, meus senhores. Vamos entrar juntos no transmissor. Assim que perceberem alguma coisa diferente em volta, fujam e estejam prontos para fazer fogo, para se defenderem. Ento? Prontos?

Meister e Rumpus concordaram com um aceno de cabea.

Bellefjord encheu os pulmes de ar, que lhe pareceu quente e asfixiante demais. E comeou a caminhar, andando os trs numa linha reta, na direo do arco luminoso e... desapareceram.

No sentiram absolutamente nada durante a desmaterializao. No perceberam, no viram nem ouviram nada.

Deram um passo, mais outro. Mas aps o segundo j no se encontravam ali, prximos da nave Kenia, e sim em outro mundo.

* * *

Capito Raldini no despregava os olhos do arco luminoso. Mergulhado em seus pensamentos, perguntava a si mesmo como pudera acontecer aquilo to rapidamente.

Este velho major tem realmente nervos de ao! Dirigiu-se, como que passeando, para o transmissor, sem se preocupar com o lugar para onde ia..., refletia Raldini.

O major, de fato, agiu como devia.

Quando que uma nave terrana teria outra oportunidade de penetrar no Sistema Azul? Talvez fossem eles os ltimos.

Tambm no houve tempo para se tomar maiores medidas de precauo ou para fazer pesquisas sempre teis.

Quem poderia saber por quanto tempo permaneceria aberta a brecha no terrvel envoltrio de proteo? Se fechasse, adeus esperana de voltar!

Com a idia fixa de poder ou no voltar para seu prprio Universo, Raldini olhava nervoso para o relgio.

Puxa vida! Mal faz cinco minutos que os trs desapareceram... Ser que o tempo tambm parou? balbuciou apreensivo.

No podia, porm, imaginar que, para os trs, este tempo corria depressa demais.

* * *

Um frio intenso foi a primeira coisa que Bellefjord sentiu. Instintivamente levou a mo ao boto do aparelho de calefao. Notou ento que j era noite, no havia mais sol, milhares de estrelas cintilavam no cu. O ar, terrivelmente frio, era respirvel. Provavelmente estavam no lado escuro do sexto planeta. Mas, no mesmo momento, achou que tal hiptese era falha. A gravidade era bem mais forte, pelo menos 1,4 gravos. O contedo de oxignio daquele ar gelado era muito menor do que h poucos segundos atrs...

Deviam, pois, estar em outro planeta!

Aos poucos, foram se habituando quase total escurido. A mo de Rumpus continuava firme na coronha de sua arma. A mo direita do sargento Meister soltou-se da de Bellefjord, certamente a fim de preparar-se para qualquer eventualidade.

Onde estamos? perguntou Rumpus. Isto no parece ser Sphinx.

Deve ser outro planeta mais afastado do sol azul ou alguma lua disse Bellefjord, apontando para frente, onde comeavam a surgir traos diferentes contra a claridade que estava aumentando. Se no estou enganado, ali est de novo uma sala de espera. Vamos dar uma chegada at l.

Saiu na frente, seguido pelos companheiros. A respirao no estava fcil. No iam poder agentar muito tempo por ali. Algumas horas, talvez.

Desta vez, a porta estava fechada, mas no lhes foi difcil abri-la. Acendeu-se uma lmpada atrs deles.

Talvez, noite, a lmpada acenda automaticamente com a abertura da porta disse Bellefjord, na sua mania de querer achar sempre uma explicao lgica para tudo. Gostaria de saber por que motivo os transmissores esto sempre ligados, se no h ningum para us-los. Verdadeiro desperdcio de energia e desgaste intil das instalaes!

J haviam fechado a porta e, atravs de um corredor estreito, onde se sentia menos frio, chegaram a outra sala de espera. A segunda porta se abriu automaticamente.

Trs acnidas, agasalhados por grossas peles, olhavam surpresos para eles!

Bellefjord perdeu a fala e respirava com dificuldade. Mas os trs acnidas pareciam muito pacficos. Deviam ser trabalhadores ou engenheiros terminando seu turno de servio, esperando sua conduo. Havia realmente admirao nos seus olhos, mas tinham um domnio formidvel sobre si mesmos, de maneira que os terranos nada notavam.

Boa noite! balbuciou o cadete Rumpus, quase sem querer, utilizando-se instintivamente da linguagem comum da Galxia, que todos os povos dominavam relativamente bem. Desculpem-me...

Os trs rostos viraram, quase ao mesmo tempo, para o outro lado. No havia neles nenhuma expresso de desprezo, de ira ou de dio. O que os movia era de fato uma grande indiferena. Faziam lembrar certo tipo de pessoas que, quando algum lhes pede um favor, se descartam simplesmente com gestos negativos.

Bellefjord olhou em torno e descobriu um banco livre e algumas cadeiras. Naquele local, a temperatura era suportvel. Estava com muito frio e no queria sair dali, antes de descobrir alguma coisa. No pretendia aparecer perante o Major Kalgula sem nenhuma informao til.

Vamos sentar um pouco disse para seus acompanhantes. O calor s nos pode fazer bem. E, alm de tudo, a conduo parece que no para j.

O sargento Meister sorriu, mas continuava com a mo na coronha da arma. Enquanto que o cadete Rumpus parecia ter chegado concluso de que estavam lidando com criaturas inofensivas. Sentou-se, remexendo seus bolsos procura de um cigarro.

O senhor est aguardando alguma coisa? perguntou ele ao Major Bellefjord, depois de dez minutos.

Tivera, entrementes, tempo para observar todo o ambiente. Notara que os trs acnidas quase sempre olhavam para um painel de ligao, colocado no alto da parede, logo abaixo do forro. Eram apenas dois botes, um dos quais, de colorao amarelada, estava comprimido. O outro, preto, estava para fora. Quem quisesse alcanar os dois botes tinha que arranjar um tamborete ou uma cadeira para subir.

S mais tarde que os terranos concluram que isto era a maneira mais simples de proteger o painel do transmissor fictcio das brincadeiras das crianas, sem impedir o uso normal pelos adultos.

Aqueles dois botes ligavam o transmissor para despachar ou para receber. Normalmente este trabalho era feito por uma central, localizada na lua do quinto planeta. Mas em todas as salas de espera havia destes painis manuais, para uso individual.

Um dos acnidas levantou-se e subiu numa cadeira, apertando o boto preto, sendo que simultaneamente o amarelo saltou. Continuou de p na cadeira, enquanto os outros dois deixaram a sala de espera e foram embora.

Dois minutos depois, o acnida, ainda de p na cadeira, apertou o boto amarelo, fazendo com que o preto voltasse antiga posio. Colocou a cadeira no seu lugar e sentou-se, sem qualquer expresso no rosto.

O sargento Meister balanou a cabea.

Que significar mais esta bobagem? perguntou em ingls.

Bellefjord tambm no sabia, mas pressentia algo desagradvel. Comeou a quebrar a cabea sobre que funo poderiam ter aqueles dois botes, to bem protegidos l no alto da parede. No tinha sentido ficar ali perdendo tempo. Levantou-se resoluto e se encaminhou para o nico acnida que ali ficara. Disse alto e claro:

Se os senhores preferem nos tratar como selvagens ou como animais daninhos, no temos nada que ver com isto. Mas no estranhem se comearmos a reagir com a mesma moeda. Ento, vai ou no vai falar conosco?

Os traos fisionmicos do acnida refletiam tanto orgulho que Bellefjord estava quase perdendo as estribeiras. A muito custo se controlou. Mas quando o acnida, com um ar de desprezo, deu um sorriso irnico, sem nem sequer olhar para ele, como se no existisse, o major o pegou pelos ombros, sacudiu energicamente. Depois, limpou as mos no uniforme e disse: Imundo!

Havia algo semelhante a clera no rosto do acnida, mas podia ser tambm um engano, pois antes de Bellefjord virar-se de costas para ele, notou no rosto do acnida traos de contentamento.

Contentamento...? Contentamento com o qu? Onde estavam os dois colegas daquele tipo pretensioso e cabeudo? Ser...?

De repente Bellefjord compreendeu tudo. O transmissor! Tinham-no ligado para transmisso e foram buscar reforo. Simultaneamente com esta idia, lhe passou pela cabea que, se eles tinham alterado o sentido do transmissor, apertando o boto, ele tambm podia fazer o mesmo. E por que no?

Sargento, ateno! Cadete, os rapazes foram buscar reforo. Certamente querem nos surpreender e prender.

Em poucas palavras lhes explicou o funcionamento dos dois botes e ordenou:

Rumpus! Suba na cadeira e aperte o boto preto. O preto quer dizer transmitir, pois foi com o preto que os dois desapareceram. Ns chegamos com o amarelo, que naturalmente deve indicar chegada. Desta maneira, os dois botes nunca podem estar ligados ao mesmo tempo. Se apertarmos o preto, transmitir, ningum nos vai surpreender...

Rumpus executou a ordem. Subiu e comprimiu o boto preto.

O acnida se levantou para impedi-lo, mas o sargento Meister o obrigou a sentar-se. Bellefjord disse em arcnida:

Que aconteceu com a nave que h uma hora deixou seu sistema, acnida? Por favor, fale, no nos obrigue a usar de outros meios desagradveis. Voc deve saber, pois so raros os aparelhos que saem daqui. Cada decolagem deve ser, portanto, um grande acontecimento.

O acnida no deu a menor ateno. Os lbios se comprimiam com energia e os olhos continuavam impassveis. Houve um estalo no alto da parede. O boto preto pulara para fora!

O transmissor agora estava sendo manobrado pela central.

Rumpus no compreendeu de pronto o que representava aquilo.

No fui eu, no, senhor disse se desculpando.

Ligue de novo! gritou Bellefjord, que sabia o que estava acontecendo. Depressa!

Rumpus levantou o brao e apertou de novo o boto preto.

Tudo isto no levou mais do que uns dez segundos. Ouviram-se passos no corredor.

Tarde demais! exclamou Bellefjord, sacando da arma. Escondam-se nos cantos e estejam preparados para fazer fogo, esperando, porm, por minha ordem.

Rumpus pulou da cadeira como um raio e se postou ao lado do sargento Meister com a arma na mo e de cara fechada. O acnida estava de mos para o alto.

A porta da sala se abriu com um forte estalo e, sem o menor sinal de medo, cinco acnidas entraram. Um deles, Bellefjord j conhecia. Os outros quatro estavam uniformizados e bem armados.

Quando um dos uniformizados abriu a boca e comeou a falar, com um leve sotaque, a linguagem intergalctica, Bellefjord sentiu uma espcie de alvio e de estupefao. Os senhores invadiram este sistema, tornando-se assim passveis de castigo. Tenho ordens de prend-los. Entreguem-nos suas armas.

Seis contra trs, pensou Bellefjord rapidamente. Mas s quatro deles esto armados. J melhora a situao. Mas, quem sabe, d para se evitar uma luta armada?

Ns no invadimos nenhum sistema, se o senhor me permite disse, abaixando o brao com a arma. Sua espaonave foi que rompeu o envoltrio de proteo, abrindo assim uma entrada. Apenas continuamos voando, tudo. Tambm no temos inteno de ficar aqui. A priso seria, pois, um ato de injustia.

Isto no sou eu quem vai resolver. Estrangeiros, entreguem suas armas.

Nunca! Deixe-nos sair daqui!

O acnida estava indeciso. Depois achou uma soluo.

Bem, vou comunicar o ocorrido. Os senhores afirmam e confirmam no haverem rompido a cpula de proteo energtica?

Sim!

Parece que esta declarao os tranqilizou. Bellefjord procurava entender o pensamento dos acnidas, enquanto um deles fora enviado no sabia para onde.

Provavelmente, calculava o major, a nica preocupao deles nos manter isolados. Devem estar pensando que descobrimos um meio de romper seu envoltrio de proteo. Se eu conseguir lhes provar que isto no aconteceu, certamente vo nos deixar livres. Para eles, realmente, ns pouco significamos. No perdem nada com a nossa sada.

Depois de dez minutos, voltou o mensageiro. Segredou alguma coisa no ouvido do chefe dos policiais, que se virou para Bellefjord:

Damos-lhes uma hora do seu tempo para deixarem nosso sistema. Os senhores entraram aqui, realmente, por um mero acaso, como atestam nossos cientistas. Podem ir agora.

O velho major tinha ainda muitas perguntas para fazer, mas seu instinto lhe dizia que qualquer outra atividade, mesmo perguntas, seria arriscada.

Fez um sinal aos seus companheiros para que guardassem as armas. No lhes seriam mais necessrias. Os acnidas eram orgulhosos demais para querer tirar proveito de um truque menos honesto. Sem nenhuma complicao, saram da sala de espera e chegaram at o arco luminoso, desapareceram no transmissor fictcio e, no mesmo instante, ficaram a cem metros da Kenia.

Cinco minutos depois, o cruzador leve decolou, rumo estrela que ficava bem prxima da brecha do envoltrio. Podia-se ver ainda aquele local de cintilao instvel, embora sua colorao no fosse agora to diferente do resto do firmamento. A Kenia atravessou a passagem com velocidade bem reduzida. Notava-se que a fenda se estreitava cada vez mais.

Quando, mais tarde, Bellefjord fazia seu relato ao Major Kaligula, soube que tinha sido transferido para a Lua. claro que no sabia o motivo de sua remoo. De qualquer maneira, recebeu a ordem de partir imediatamente e de se apresentar ao comandante da Frota Lunar. O sargento Omola fez os clculos necessrios prxima transio.

Foi com o corao pesado que Bellefjord olhou o manto azulado que envolvia o sistema, pensando que sua aventura fora apenas o incio de uma ao muito importante. Fora a introduo para se desvendar um importante segredo, cujo vu comeara a se levantar com a sada da nave acnida.

2A Drusus descera em rcon I, sem nenhum incidente. As naves robotizadas de patrulhamento no fizeram qualquer intimao, a fim de par-la ou de faz-la identificar-se. Isto queria dizer simplesmente que qualquer outra nave tambm podia voar para rcon e a aterrissar, sem ser molestada.

Os dois homens estavam sentados frente a frente no Palcio de Cristal. A sede do governo era bem vigiada por oficiais arcnidas de confiana. Aqui no corriam perigo.

A situao dizia Atlan simplesmente desesperadora.

Rhodan protestou, fazendo o possvel para no admitir o ponto de vista de seu amigo. Na realidade, era muito difcil no dar razo a Atlan. O grande erro dos arcnidas foi ter confiado todo o peso do governo daquele imenso imprio ao infalvel crebro positrnico.

Ser que este crebro onisciente e onipresente fora mesmo bloqueado pelos acnidas? Por que motivo no reagiu contra esta violao?

No vai ficar assim no, Atlan. Vamos atacar e vamos comear por rcon III. J obtivemos uma vitria semelhante...

...mas sob condies muito diferentes acudiu Atlan imediatamente. Temos que enfrentar agora um adversrio, sejamos sinceros, que nos infinitamente superior. Se os acnidas so realmente os antepassados dos arcnidas e, perante eles, ns no passamos de colonizadores degenerados...

A est o ponto onde ns nos enroscamos interveio Rhodan. Eles menosprezam vocs do mesmo modo como menosprezam tambm a ns. certo que eles dominam uma tecnologia muito mais evoluda que a nossa e no podemos mesmo saber o que aprontaram com o crebro robotizado. Mas ns possumos uma coisa que eles no possuem nem conhecem.

Atlan esticou o pescoo para frente.

E o que ?

Nossos mutantes! disse Rhodan, sorrindo um pouco. Se ns no o conseguirmos com a Drusus, consegui-lo-emos com os mutantes.

, mas eles no so super-homens acrescentou Atlan.

verdade, mas dispem de dons que so completamente desconhecidos pelos acnidas.

Quando que voc pretende atacar?

Amanh.

Houve um longo silncio. Depois Rhodan retomou:

Mas voc no vai se preocupar com isto, pois eu creio que ter muita coisa que fazer: a manuteno da ordem. Faa com que, onde esto estacionadas as naves robotizadas, os arcnidas assumam o comando. Principalmente nos pontos-chave, as naves tripuladas devem substituir as robotizadas. S assim podemos evitar maiores danos. Enquanto o hiper-rdio estiver funcionando, no haver razo para maior cuidado.

disse Atlan, com ironia no h mesmo motivo para cuidados, muito obrigado.

Bem, meu amigo disse Rhodan se levantando arranje-me para amanh alguns encouraados. Quero atacar com um bom nmero de naves. O envoltrio de proteo ter de estourar.

Desejo-lhe muita sorte e... tenha cuidado, Perry!

O tom de voz de Atlan exprimia simpatia e um cuidado sincero. Rhodan lhe era grato por isto, embora no o desse a perceber. Houve um aperto de mo e os olhos se cruzaram com firmeza.

Cada um sabia o que tinha a fazer, mas tudo que fizessem s teria um objetivo comum: rechaar o inimigo e afastar o terrvel perigo de uma iminente escravizao dos povos de rcon e da Terra.

* * *

Depois de trs ataques fracassados contra o misterioso envoltrio energtico de rcon III, Rhodan desistiu. Mandou de volta as naves arcnidas e ordenou a Deringhouse que circunvoasse com a Drusus, a uma boa distncia, o planeta bloqueado. Depois reuniu os mutantes para um conselho de guerra na sala de seu setor.

Foram convidados para tomar parte nesta reunio, alm dos mutantes, o chefe dos matemticos da Drusus, Dr. Louis Renner, e o oficial-chefe de segurana, Capito Marquardt. Mais tarde, chamaram tambm o Capito Markowsky, responsvel pela central de armamentos.

No fundo, estranhamente calado e encolhido num almofado, achava-se o rato-castor Gucky. Sabia o que estava para vir e no tinha muita vontade de fazer parte dessa aventura melindrosa. Os acnidas eram para ele seres horrveis. Talvez chegasse a tem-los.

Com um respeitoso aceno de cabea, Rhodan cumprimentou os homens ali reunidos.

Como vocs sabem, at agora nada conseguimos. Mas temos de romper a barreira. No nos utilizamos ainda de todas as nossas armas. A violncia foi nula; ento empregaremos outros meios. Capito Markowsky, chamei-o para lhe perguntar o seguinte: como est o transmissor fictcio?

Markowsky era de constituio franzina. O misterioso transmissor estava sob sua tutela.

Pronto para ser usado. Mas o senhor no vai querer...?

Parou no meio da frase, apavorado. A idia lhe parecia horrvel.

Mais ou menos isto disse Rhodan adivinhando seu pensamento. Mas s em caso de necessidade, em ltima hiptese.

Olhou em volta e seus olhos se detiveram em Ras Tschubai.

Voc acha temerrio teleportar-se para rcon III, Ras?

O africano suportou o olhar penetrante de Rhodan. Deu de ombros, e logo depois respondeu:

difcil dar uma resposta exata. Teria que experimentar...

Era o jeito tpico de Ras Tschubai. Naturalmente, sabia, ou ao menos imaginava, quo perigoso devia ser um pulo de encontro a uma muralha energtica daquele tipo. Juntava-se a isto o fato de que o prprio Rhodan no acreditava muito no sucesso da operao, pois, do contrrio, no indagaria sobre a utilizao do transmissor fictcio. Este transmissor tinha a peculiaridade de desmaterializar objetos trazidos ao seu campo de ao e rematerializ-los num outro ponto, determinado com exatido. Por exemplo: podia-se transportar para dentro de uma espaonave uma bomba atmica, sem se expor ao menor perigo. claro que tambm as pessoas poderiam ser transportadas dessa forma.

No posso, nem devo expor voc a um risco to grande disse Rhodan, em voz pausada. Sei que o far, mas a responsabilidade fica comigo...

Acho que devemos experimentar, do contrrio jamais poderemos ter certeza se conseguiremos ou no penetrar nesta muralha misteriosa. Agora, que vamos fazer se no o conseguirmos? argumentou Markowsky.

Isto vamos ver ainda respondeu Rhodan, olhando para Gucky. Quem sabe, um teleportador, com o auxlio do transmissor fictcio, ter mais possibilidade? No sei, porm, ainda de que maneira o vamos apanhar de volta.

Gucky no fugiu dos olhos de Rhodan, que o examinavam a fundo. Se Ras Tschubai se arriscava, ele no queria ficar atrs.

O campo energtico tambm no deixa passar os impulsos telepticos constatou Gucky. D a impresso de no haver nenhum ser pensante em rcon III, embora no seja este o caso. Mas, mesmo que os impulsos mentais no consigam romper a muralha, um teleportador o poder fazer, com ou sem o transmissor.

Obrigado, Gucky disse Rhodan. Mas antes de mandar voc, Ras Tschubai e Tako Kakuta devem experimentar. Os dois juntos.

* * *

E a tentativa fracassou!

Os dois teleportadores se concentraram para o salto, desmaterializaram-se e... um segundo depois, estavam de volta. Durante o salto, chocaram-se contra uma barreira invisvel e no identificvel e foram rechaados. Materializaram-se no mesmo local de onde partiram.

Alis observou Ras Tschubai, muito transtornado no sentimos nenhuma dor. Apenas no conseguimos atravessar, e nada mais. No um envoltrio de proteo no sentido comum. Deve ser outra coisa, bem diferente...

Kakuta confirmou as palavras do africano. Embora no sentisse dor, no tinha coragem de fazer outra tentativa.

Gucky, que ouvira tudo com interesse, disse em voz baixa:

Estou com receio de que agora seja minha vez. O mais importante que o transmissor fictcio seja acionado exatamente no momento em que eu pular. Somente assim podemos obter o efeito desejado.

Depois, olhando para Rhodan:

No me sinto muito bem nesta experincia.

Rhodan se inclinou para ele.

Compreendo-o, meu amigo. Acredite-me que usaria de outro meio, se existisse. Mas infelizmente no nos resta outra soluo. Embora o transmissor funcione, voc tem que ir, pois o nico que tem os poderes da telecinese, da telepatia e da teleportao. Se existe algum, que pode voltar inclume, este algum voc. No vamos ter contato um com o outro e s poder contar consigo mesmo. Muita cautela, cuide-se. No se esquea de que nosso destino depende do sucesso de sua misso.

Rhodan coou suavemente o pelo de Gucky e sua voz mudou de tonalidade, quando lhe sussurrou:

Nossos pensamentos o acompanham e depositamos em voc votos de total confiana. E se lhe acontecer alguma coisa...

Todos sabiam que as palavras de Rhodan no iam adiantar muito, se realmente lhe acontecesse algo e o rato-castor no voltasse. Ento nada mais haveria, e no somente rcon, mas tambm a Terra, estariam perdidos, e com isto, o futuro da Humanidade.

O Capito Markowsky j aguardava as ltimas instrues no transmissor fictcio. A Drusus continuava circunvoando rcon III, tendo se aproximado, porm, um pouco mais do planeta. A misteriosa barragem energtica impedia a viso para sua superfcie. Parecia que rcon III estava envolto por um vidro quase opaco.

Ouviu-se a voz do General Deringhouse no alto-falante:

Estaremos atingindo o ponto determinado daqui a vinte segundos.

Rhodan acenou para Gucky:

isto, meu jovem, muita felicidade, amigo.

Vou precisar mesmo foram as ltimas palavras de Gucky, caminhando com suas pernas curtas para o foco ativo do transmissor.

Portava o uniforme especial e trazia uma pequena arma no cinturo. Fora disso, contava mesmo com seus dons parapsicolgicos.

A mo de Markowsky j se encontrava firme sobre a alavanca de acionamento. Distncia e capacidade energtica estavam corretas. Bastava apenas que abaixasse a alavanca, para que Gucky fosse lanado superfcie de rcon III.

Ainda cinco segundos disse Rhodan levantando a mo. Quatro... trs... dois... um... j!

Trs coisas aconteceram no mesmo momento: o brao de Rhodan abaixou, a mo de Markowsky desceu a alavanca e Gucky se teleportou.

Passaram-se dez segundos e Gucky no voltou. Devia ter conseguido.

3Durante um salto de teleportao, o corpo do respectivo mutante se desmaterializava. Seus tomos se dissolviam para atingir o objetivo distante, atravs do hiperespao. Chegando ao destino, reuniam-se e tomavam a forma inicial.

Quando se saltava, tudo em volta desaparecia e, quase no mesmo instante, vamos dizer, num dcimo de segundo, alcanava-se o ponto determinado. O que ficara entre o ponto de partida e o de chegada no tinha espao nem tinha tempo. Era o nada.

Desta vez, porm, no campo energtico do transmissor fictcio, fora tudo diferente. verdade que ele se desmaterializou como sempre, conservando, porm, a sensibilidade pelo decurso de um pequeno segundo, quando ento se chocou contra a barreira energtica. Flutuou num nada escuro, sentindo um estranho formigamento em todo o corpo. Mas, antes que pudesse pensar a respeito, o campo energtico do transmissor o levou para frente e.... ele se desmaterializou novamente.

Suas pernas dobraram e tocou o cho. Nunca sentiu uma fraqueza to grande e um desejo louco de morrer ou pelo menos de dormir.

Aos poucos a memria foi voltando e seu instinto de conservao fez com que abrisse os olhos.

Lutando contra o cansao, arrastou-se uns metros at a sombra de um rochedo e a se estirou. O sol ia alto no firmamento, iluminando uma paisagem que Gucky jamais imaginara no planeta militar de rcon. Devia ter descido em algum lugar, o qual ele desconhecia.

rcon III era o arsenal militar e o centro de formao espaonutica do Imprio Arcnida. Aqui estavam os enormes estaleiros, onde eram fabricados em srie os supercouraados, e os extensos quartis, com seus estabelecimentos de ensino. Havia ainda a Academia Militar, para a formao de futuros oficiais, e o Instituto de Medicina Espacial.

Gucky se materializara num planalto. Embora estivesse sombra do rochedo, podia ver l embaixo a plancie que se estendia at o horizonte. Via-se uma enorme extenso de campo, em forma retangular, para as espaonaves, cercada de grandes construes, porm, de pouca altura. Existiam, tambm, campos cercados de arame para protegerem os depsitos de material blico e os galpes baixos. Sentinelas armados iam e vinham em sua ronda. No dava para Gucky distingui-los. Homens ou mquinas?

No espaoporto, destacavam-se as grandes naves, geralmente com a tradicional forma cilndrica, preferida pelos arcnidas. Todo o centro do espaoporto vibrava, com um movimento desusado. Pequenos flutuadores, operando base de colcho de ar, riscavam as pistas de um canto para o outro, levando armas e outros materiais para as naves. Por toda parte havia uma pilha de coisas ao lado de cada nave. Todas essas coisas eram transportadas pelos elevadores antigravitacionais para o bojo insacivel das belonaves, prestes a partir. Estava mais do que evidente que a frota se preparava para uma importante ao.

Gucky se sentia ainda muito fraco. Por ora no tentaria uma teleportao. No tinha fome, mas estava com muita sede.

Quem sabe haveria gua aqui por cima?

Depois de observar que no havia ningum nas proximidades, foi saindo do seu esconderijo sombra. Por uns instantes ficou pensativo, estranhando muito que ainda houvesse terra inculta em rcon III. Recordava-se de que cada metro quadrado era bem aproveitado, no restando quase nada da natureza primitiva...

A menos de duzentos metros de onde estava, descobriu um pequeno regato de gua fresca, serpenteando ao longo de uma floresta. Mergulhou feliz a cabea na gua e bebeu at quase estourar. Lavou-se e comeou a se sentir melhor. Agora nada mais o impediria de executar sua misso. S mais um pequeno repouso e estaria apto para saltar. Mas talvez fosse melhor ouvir um pouco o pensamento do pessoal l embaixo. Caso ouvisse o que estavam comentando, poderia deduzir alguma coisa sobre os acnidas.

Voltou para o rochedo que lhe oferecia uma posio melhor. Depois se concentrou para captar os pensamentos l de baixo. No conseguiu nada. Eram to fracos que no chegavam a fazer sentido. J estava ali tentando h uns dez minutos e no valia a pena insistir mais. Talvez fosse bom dormir algumas horas. O esforo para penetrar na terrvel muralha de proteo o desgastara tanto, que a parte teleptica do seu crebro no estava funcionando bem. Provavelmente no conseguiria se teleportar e, muito menos ainda, teria fora para uma operao de telecinese.

Achou um bom local no rochedo e se enroscou.

* * *

S pde saber quanto tempo dormira, consultando o relgio: cinco horas.

Desceu mais uma vez at o regato e bebeu vontade, voltando depois para a beira do planalto. A situao no espaoporto permanecia a mesma. As naves continuavam a receber carregamento e verdadeiros exrcitos penetravam no seu bojo. Tudo indicava uma operao de grande envergadura.

Esquisito! Ser que os arcnidas no davam a menor importncia aterrissagem da nave acnida em seu solo? Ser que nem perceberam mais haver ligao com rcon I?

Ou...?

Este ou veio desencadear uma reao diferente em Gucky.

Quem estava dando as ordens agora eram os acnidas!, pensou. E quem sabe estavam ordenando aos prprios arcnidas que atacassem rcon I e rcon II?

E prosseguiu mentalmente:

Para que ento seriam necessrios os grandes suprimentos? Alguma coisa no estava dando certo!

Desistiu de ficar ali esperando fragmentos de pensamentos quase imperceptveis. Concentrou-se para atingir um edifcio mais alto ao lado do espaoporto. Edifcio este com um telhado plano, tendo, porm, muitas salincias em forma de pequenas torres. Excelente esconderijo.

O salto foi bem-sucedido.

Uns passos mais e o rato-castor estava bem protegido contra olhares curiosos.

Mas quem que iria olhar para o teto de um edifcio de administrao? Alguns helicpteros estavam na outra extremidade. Eram bem diferentes dos deslizadores de colcho de ar que Gucky estava acostumado a ver nos espaoportos arcnidas. Ou ser que os acnidas...? Mas isto era ridculo! Por que razo trariam eles seus prprios helicpteros?

Gucky se julgava bem protegido no telhado do edifcio. Mesmo com um bom binculo seria difcil localiz-lo. Sob seus ps, no interior daquele casaro, deviam estar algumas centenas de pessoas. No era fcil coordenar a corrente de pensamentos que dali emanava. A confuso fazia lembrar um enorme salo onde todos falam ao mesmo tempo, sendo impossvel separar as vozes.

Depois de muito esforo, conseguiu selecionar alguns impulsos que pareciam ter algum nexo. Provavelmente eram trs ou quatro pessoas conversando, pois o assunto tinha coerncia. Deviam estar alguns andares abaixo, um pouco sua esquerda. Em caso de necessidade, podia fazer o posicionamento exato do local e se teleportar para l. Mas, para qu?

Continuou onde estava e tentou ouvir.

... a frota partir para duas voltas em torno de rcon, alteza, no podemos perder tempo. Proponho, pois, que as naves partam hoje mesmo.

O imperador sou eu e eu que vou determinar a hora da partida, Gagolk. Como que voc se atreve a querer me dar ordens? Voc o comandante da frota porque eu o nomeei. Partiremos, pois, somente dentro de dois dias, est bem claro?Uma outra voz disse:

O imperador tem sempre razo, Gagolk, embora sentimentalmente eu esteja com voc. O tempo a coisa mais importante para ns. Nossa maior fora est no fator surpresa. Por outro lado, como podem os novos-ricos deste mundo to distante chegar idia de que ns sabemos de sua existncia? Acho, pois, que podemos confiar em Metzat III.

Por mim! era a voz do tal Gagolk. Voc j fez suas experincias com raas menos desenvolvidas. Tomara que o comandante das colnias tenha dito a verdade. Seu relatrio me parece meio confuso.

E por que razes haveria ele de dar dados falsos? perguntou Metzat III, que se intitulava imperador.

Imperador? Imperador de onde? Gucky ficou quebrando a cabea com estas interrogaes e no conseguia compreender. Havia s um imperador em rcon, e este era Atlan, Gonozal VIII. Mas isto, ele ia ainda pr em pratos limpos. Mais tarde.

...nunca as razes, alteza. Os dados esto certos, eu me responsabilizo por isto. Vamos supor que os colonizadores se modificaram e hoje apresentam meramente semelhanas fsicas conosco, mas no podemos nos esquecer de que eles foram vtimas, durante centenas e centenas de geraes, de influncias do meio ambiente. Sabemos que, depois de cinco ou seis geraes, podem surgir raas bem diferentes da primeira.

No estou duvidando da origem destes colonizadores respondeu Metzat secamente e com muita incerteza. Apenas me pergunto o que eles pretendem fazer, se falaram a verdade. No demora e vamos saber de tudo isto, se esto mentindo ou no. Mas, de qualquer maneira, a frota s partir depois de amanh. A nova raa, que acabamos de descobrir, ser dominada ou aniquilada. Esta a minha ordem, Gagolk.

Saberei cumpri-la, majestade.

Gucky se desprendeu daquele emaranhado de vozes e mergulhou nos seus prprios pensamentos.

O que acabara de ouvir tinha aparentemente algum nexo, mas no deixava de ser uma grande besteira. No havia nenhum imperador com o nome de Metzat III! Colonizadores tambm no haviam chegado nos ltimos tempos, nem se podia falar numa nova raa que a gente devia dominar ou aniquilar. Alm disso, rcon III estava isolado por um forte campo de proteo, pelo acnidas. Portanto, eram eles, os acnidas, que estavam encenando toda esta comdia.

Mas por qu? indagou a si mesmo. Alm de tudo, Gucky podia constatar com cem por cento de certeza que aqueles homens eram arcnidas e no acnidas.

O que que estava se passando aqui?

Onde que ele, Gucky, se encontrava mesmo?

Isto aqui no era o espaoporto que ele conhecia de sua ltima viagem a rcon III. Era maior e mais moderno. At as espaonaves eram diferentes.

A foi que Gucky voltou sua ateno para as naves. Possuam o mesmo tamanho e a mesma conformao esfrica. Mas s agora reparava que o rebordo central dos conjuntos de propulso era bem menor do que nos outros aparelhos, como, por exemplo, na Drusus. Tambm no havia os vos livres para as peas de artilharia retrateis, e os apoios telescpicos eram de outro tipo de construo, parecendo mais pesados e mais fortes.

Gucky reconheceu que, primeira vista, estas naves podiam ser confundidas facilmente com os pesados cruzadores dos arcnidas.

Mas com isto, o mistrio ainda no estava desvendado.

Antes de prosseguir em suas investigaes, queria dar uma olhada em rcon III. Podia muito bem ser que ele havia saltado exatamente sobre um instituto militar, onde se estudavam manobras simuladas, com naves mais antigas, de construo desconhecida para ele.

Concentrou-se para um salto de milhares de quilmetros e se rematerializou num terreno cercado com arame, entre pilhas de caixas e depsitos de acessrios mecnicos. Sentinelas armados faziam a ronda. Gucky se escondeu depressa num canto apropriado. Dali comeou suas investigaes.

Primeiramente se preocupou com os pensamentos dos guardas. No percebeu nada de extraordinrio, a no ser que todos eles estavam com a idia fixa de uma campanha iminente. O Imprio Arcnida tinha que ser ampliado. Surgira um novo adversrio que era necessrio eliminar. Uma nova raa que ainda estava desenvolvendo a Cosmonutica. Dentro de dois dias a frota zarparia para subjugar o planeta-ptrio daquele povo.

Gucky balanou a cabea horrorizado. No entendia quase nada. Que estaria acontecendo? Ser que todos estavam loucos? Se houvesse uma campanha contra alguma coisa, Atlan seria o primeiro a saber e Rhodan tambm. Uma nova raa? Quem seriam eles?

Deu mais um salto de teleportao, atingindo o lado noturno de rcon III. Desta vez, rematerializou-se entre duas naves esfricas, que iluminadas por possantes holofotes estavam recebendo carga. Gucky estranhou que a maioria dos trabalhos era feita por arcnidas e no por robs.

Por arcnidas? Desde quando os arcnidas trabalhavam, pois quem fazia tudo para eles eram povos subjugados? Desde quando comearam eles a poupar seus robs? Ou ser que tambm aqui o crebro positrnico...?

Onde que se localizava mesmo o crebro eletrnico?

O inteligente animal procurou se orientar. Encontrava-se agora na parte escura, em um espaoporto jamais visto, embora acreditasse conhecer bem rcon III. Foi mais do que por acaso que levantou os olhos para o cu estrelado, neste momento. No conhecia bem as constelaes, mas alguns agrupamentos de estrelas ele guardara de cor. Vistas de rcon I, pareciam iguais. O mais familiar para Gucky era o crculo polar. Como acontecia com a estrela Polar da Terra, estava quase no znite de rcon I. Vista de rcon III, ela devia encontrar-se bem prxima do horizonte sul. Sua forma era inconfundvel. Mesmo agora.

Mas quando a localizou no armamento, Gucky se assustou. No sabia a razo do susto, mas a estrela lhe pareceu diferente. O crculo das cinco principais estrelas parecia mais estreito e, ao menos aparentemente, mais brilhante. Infelizmente no podia fazer comparaes com outros pontos luminosos ou co