p-014 - charada galactica - clark darlton

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CHARADA GALÁCTICA Autor CLARK DARLTON Tradução MARIA MADALENA WÜRTH TEIXEIRA Digitalização DENISE BARTOLO Revisão ARLINDO_SAN (P-014)

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Science Fiction Novel Perry Rhodanciclo-01

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  • CHARADA GALCTICA

    Autor CLARK DARLTON

    TraduoMARIA MADALENA WRTH TEIXEIRA

    DigitalizaoDENISE BARTOLO

    RevisoARLINDO_SAN

    (P-014)

  • As etapas at agora percorridas por Perry Rhodan e

    seus seguidores na busca ao planeta da vida eterna poderiamser encaradas como simples passatempo, diante do que osaguarda ainda.

    Ao menos, os desconhecidos guardies do segredo daimortalidade recorrem a toda a gama de truques psicolgicospara desencorajar os tmidos entre os perseguidores.

    Perry Rhodan, entretanto, convicto do alto destino daHumanidade, no desiste to facilmente. Seguindoobstinadamente em seu rumo, acaba deparando com aCharada Galctica.

    = = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = =

    Perry Rhodan Elemento nmero um de poder, no s na Terra,mas tambm no sistema Vega.

    Reginald Bell Confidente e amigo ntimo de Rhodan.

    Dr. Frank M. Haggard Ministro da sade da Terceira Potncia efundador da Clnica Arcnida.

    Sargento Groll Com seu caa, vasculha o sistema Vega emcompanhia de Lossos.

    Crest e Thora Dois arcnidas genunos.

    Ras Tshubai, Anne Sloane, Betty Toufry, John Marshall Membros do Exrcito de Mutantes da Terceira Potncia.

    Lossos Cientista-chefe dos ferrnios.

  • 1O Sol era um minsculo ponto luminoso no espao csmico, perdendo-secompletamente entre a multido de estrelas. Estava exatamente a vinte e sete anos-luz dedistncia.

    Em seu lugar, outro sol ocupava o firmamento. Uma imensa bola de fogo, dedimenses inacreditveis, cujos raios branco-azulados estorricavam os planetas maisprximos. Mas a estrela Vega tinha planetas de sobra, e podia dar-se ao luxo daqueledesperdcio. A zona habitvel do sistema restringia-se faixa contendo os planetas denmero sete a onze.

    O objeto, um gigantesco globo de metal opaco, distanciou-se do sol, ultrapassou arbita do novo planeta e foi se aproximando do dcimo. Seus movimentos denotavamnitidamente que se tratava de uma mquina voadora tripulada por seres inteligentes. Para oobservador superficial, poderia ser tomado por algum satlite artificial, girandoperpetuamente em torno de Vega; porm as deliberadas mudanas de rumo e a velocidadeinconstante desfaziam logo tal impresso. Aquela esfera vinha a ser a espaonave de umaraa altamente desenvolvida no setor tecnolgico.

    Seu dimetro devia medir bem oitocentos metros. E a central de comando eraocupada por seres humanos. Estes observavam atentamente as numerosas telas de imagensconvexas, engenhosamente distribudas de modo a cobrir cada centmetro do espaocircundante externo. Um desenhador eletrnico zumbia incessantemente, traando numgrande papel branco os resultados grficos dos clculos feitos. Aos poucos se delineavaum esquema que parecia interessar extraordinariamente aos presentes.

    Isto viria confirmar suas suposies, segundo tudo indica disse um doshomens, serenamente. Mantinha-se um tanto afastado e destacava-se dos demais por suaalta estatura. Os cabelos brancos no o faziam parecer mais velho, apenas mais sbioApesar da semelhana fsica com os habitantes terrestres, provinha de um sistema estelarmuito distante, centro do decadente Imprio Galctico dos arcnidas.

    Que concluiu disto, Perry?Perry Rhodan abandonou o escrutnio do mapa que estava sendo traado, e encarou

    Crest, respondendo: Ainda no podemos dar por confirmadas as informaes de Lossos, porm isso

    no demorar. Em breve saberemos ao certo se so exatas ou no. Mas tambm podemosestar seguindo uma pista errada.

    Lossos, o cientista-chefe do oitavo planeta do sistema Vega, expressou seu pesar porno poder contribuir com esclarecimentos mais decisivos. Era o nico vivente a bordo quedenotava primeira vista a origem extraterrena. O fsico baixo e atarracado revelada aexistncia de gravidade mais elevada em seu planeta natal. A testa anormalmente salienteprotegia os olhos, profundamente enterrados nas rbitas, da intensidade de luz solar; abasta cabeleira servia de defesa contra a forte radiao ultravioleta dos raios de Vega.Seres humanos no podiam dispensar a cobertura da cabea no planeta-me de Lossos.

    Apenas constatei uma curiosidade astronmica disse o ferrnio, quase comoquem se desculpa. O senhor me fez perguntas sobre determinado assunto, e procurei metornar til.

  • Por favor, no me entenda mal! interveio Rhodan, conciliador. Como sabe,viemos para este sistema em busca de um planeta que deveria estar aqui; segundo consta,na dcima rbita em torno do sol Vega.

    Rhodan lanou um olhar ao mapa que estava sendo traado; a pena registradoradesenhava agora a rbita do trigsimo nono planeta. Como Vega possua quarenta e doisplanetas, o mapa estaria concludo dentro de mais alguns minutos.

    Segundo nos foi dado observar at agora continuou Rhodan no h vida nodcimo planeta. Mas eu vou mais alm: jamais existiu vida no dcimo planeta destesistema, sob forma alguma. Nossa inteno apenas tentar esclarecer tal contradio.

    Um homem adiantou-se dos fundos da central de comando, empurrando levementepara o lado os doutores Frank M. Haggard e Eric Manoli. Era baixote, de rosto redondocom traos pouco marcados, no qual boiavam dois olhos de um azul muito plido. Oscabelos ruivos eriados lembravam cerdas de escova. Ignorando os protestos dos doismdicos, postou-se diante de Rhodan.

    Prezado comandante! Um humilde e insignificante auxiliar tem permisso deexternar sua opinio? Em caso afirmativo, gostaria de dizer que no percebo contradioalguma. O arquivo central arcnida menciona o dcimo planeta de um sistema que inegavelmente idntico ao de Vega. Diz ainda que neste planeta existiram seres quedescobriram o segredo da conservao celular, e, com isto, o da vida eterna. Uma vez queachamos o referido planeta, constatando que no h vida nele, no seria o caso de se pensarem contradies, e sim num erro do arquivo. Erramos de sistema, s isso. Em algum pontodo espao, daqui a rcon, deve existir outro sistema de caractersticas semelhantes sdeste. Meu ponto de vista este!

    Rhodan sorriu misteriosamente. Trocou um rpido olhar com Crest, aflorou Thoracom os olhos e acenou para Lossos. Depois voltou-se para o mapa que os registradorestraavam. A rbita do quadragsimo segundo planeta acabava de ser desenhada.

    Gostaria de concordar com voc, Bell. Pode crer, meu velho, gostaria mesmo...No entanto, h alguns detalhes que precisam ser levados em considerao. Os arcnidasno se enganaram h dez mil anos. E o arquivo est certo. O planeta da vida eternaencontrava-se de fato no sistema Vega, girando em torno de seu sol entre o nono e odcimo primeiro mundo.

    Quer dizer que... Calma, Bell! advertiu Rhodan, reprimindo o excessivo zelo do amigo. J

    vou chegar l. Viemos parar aqui porque metemos na cabea a idia de encontrar o talmundo da vida eterna. Os ferrnios do oitavo planeta no puderam fornecer indcio algum;ou no quiseram. Mas pelo menos nos revelaram que haviam sido visitados h dez milanos por uma raa de viajantes do espao, que lhes doou transmissores de matria.Disseram igualmente que os seres da raa estranha viviam mais do que o sol. Mas foi s, etodas as nossas suposies se baseiam nisto. No entanto, juntando os dados fornecidos peloarquivo central arcnida, forma-se um quadro bem mais delineado. O sistema Vega aterra natal dos imortais. E agora, considerando dois fatores novos, eu reformulo a frase: eraa terra natal dos imortais.

    De relance Rhodan percebeu o acento afirmativo de Crest. Que pretende dizer com isso? resmungou Bell. Um exame mais minucioso das fichas mostrou que elas falam de um sistema com

    quarenta e trs planetas, meu caro. J deve ter percebido que Vega tem apenas quarenta edois. Portanto, poderamos concluir que estamos no sistema errado. Prosseguindo: omundo indicado deveria ser o dcimo, porm certificamo-nos de que no h nem nunca

  • houve, vida nele. Nem o menor vestgio... Logo, algo est errado. Existe uma contradio.Mas Lossos apontou-me a soluo, mencionando a existncia de uma lacuna entre o nonoe o dcimo planeta. Os dados que me forneceu conferem com o mapa desenhado peloregistrador.

    Rhodan tirou o papel da mquina, cujo zumbido cessou. Os telescpios-radaresrecolheram-se aos seus abrigos; tinham examinado todos os corpos celestes existentes nosistema, calculando sua velocidade de translao, o afastamento do sol, e registradograficamente os resultados. Agora o mapa exato do sistema Vega se encontrava diantedeles.

    Olhem bem para este mapa, meus amigos. Ele nos responde pelo menos a umapergunta: como que dados corretos podem parecer falsos.

    Bell dispensou o exame do mapa. No est querendo dizer que...? Estou, sim! exatamente isso que penso. No sistema Vega falta um planeta!Havia distncia suficiente entre o nono e o dcimo planeta para supor a existncia de

    outro entre ambos. Como se explicaria o fato? indagou Crest. Seus olhos vermelhos de albino cintilavam. Derradeiro descendente de uma raa

    outrora poderosa, cuja degenerao acelerara a derrocada do poderoso Imprio, elecolocava todas as suas esperanas na descoberta da civilizao que conhecia o segredo davida eterna; ou que o conhecia supostamente. A pista os levara at ali. E perdia-se derepente no vazio do espao.

    Uma nica resposta imaginvel disse Rhodan, pensativo. O planeta quecirculava outrora nesta rbita em torno de Vega emigrou do sistema em poca indefinida.O planeta inteiro, com todos os seus moradores!

    V contar essa a outro! reclamou Bell, indignando-se contra uma hiptese quenem sua viva imaginao poderia aceitar em s conscincia. V l se a gente pode tirarum planeta do lugar assim sem mais nem menos!

    Voc ainda no viu nada! profetizou Rhodan, apontando para o mapa Olhe,velho, isto aqui prova que perdemos a pista. Ela se perde no sistema Vega, no lugar vazioentre o nono e o dcimo planeta. A raa imortal deu o fora. Querendo guardar seu segredopara si mesma talvez, segundo tudo indica. Porm na realidade demonstraram disposiopara partilh-lo com uma raa de nvel semelhante. Temos provas disso. Os transmissoresde matria dos ferrnios, que eles jamais construram nem entenderam, representam oincio de nova pista. Os imortais pretendiam despertar com eles o interesse de alguma raadotada de raciocnio. E s seres capazes de pensar na quinta dimenso estariam emcondies de compreender como eles funcionam. Com o que fica estabelecida a primeiracondio: apenas seres com raciocnio pentadimensional merecem conhecer o segredo davida eterna.

    E ns fazemos semelhante coisa? murmurou Bell, chateado. Nossos crebros positrnicos se encarregam disso por ns respondeu Rhodan.

    No nos indicaram o meio de abrir o cofre nos subterrneos do Palcio Vermelho?O palcio do governo dos ferrnios ficava em Thorta. a capital, assim denominada

    em homenagem ao Thort, o soberano de Ferrol. As arcadas subterrneas abrigavam umaespcie de cofre, trancado por uma fechadura de tempo, no qual estavam guardados osplanos de construo dos transmissores. Com a ajuda de seus mutantes Rhodan conseguiraretir-los de l.

  • O cofre continuou Rhodan nos indicar sem dvida os prximos passos aseguir. Ser uma verdadeira caada pelo espao essa busca ao planeta emigrado, e tambmuma corrida atravs dos milnios. Pois os imortais devem ter tomado a deciso deabandonar o sistema Vega j h milhares de anos. Tenho certeza de que daremos em brevecom novo indcio. Pois os imortais desejam ser encontrados algum dia; s que fazemquesto de que seja o povo certo.

    Seremos o povo certo? indagou Crest, baixinho. Se os encontrarmos, sim! murmurou Rhodan, pensativo.A busca ao planeta da vida eterna entrara numa fase decisiva. A imensa espaonave

    esfrica contornou mais uma vez o dcimo planeta, em busca de sinais de vida presente oupassada. Mas as observaes anteriores foram integralmente confirmadas: tratava-se de ummundo morto, desprovido de vida, e quase estril. Tanto sua aparncia, quanto ascondies fsicas, se assemelhavam a Marte.

    A Stardust-III retornou a Ferrol, aterrizando nas proximidades da capital, noimprovisado espaoporto da base. Mal o gigantesco globo tocou o solo, o campo deproteo energtico entrou em ao; o hemisfrio de fora concentrada cobriu a baseinteira, tornando-a imune a qualquer ataque.

    Reunindo seus colaboradores mais chegados, Rhodan recapitulou brevemente osresultados dos esforos at ento empreendidos.

    Podemos afirmar que a raa imortal habitava o dcimo planeta deste sistema, ano ser que tenham vindo de fora para se estabelecer nele. Tambm podemos estar certosde que o atual dcimo planeta era o dcimo primeiro no tempo dos imortais, enquanto omundo da vida eterna se afastou do sistema. Considerando os inimaginveisconhecimentos tcnicos e cientficos de uma civilizao que descobriu o segredo da perenerenovao celular, no de surpreender que pudessem igualmente deslocar vontade todoum planeta. Desconhecemos os motivos de tal deciso, porm permissvel supor queequiparam seu inundo para viajar no espao, como se fosse uma nave, dando as costas aosistema solar original. Ignoramos o rumo tomado, mas Crest e eu julgamos que o cofre sobo Palcio Vermelho talvez nos fornea uma pista a respeito. Interrogamos exaustivamentenosso crebro positrnico. E ele afirma, inequivocamente, que a raa desconhecida nopretende sumir sem deixar rastros... Retirou-se deste sistema apenas para dar a quem aprocura a oportunidade de demonstrar sua inteligncia e capacidade. No foi difcil chegarao dcimo planeta do sistema Vega. Nossa tarefa real ser seguir, atravs da quintadimenso, a pista que se iniciou l. Estamos apenas no incio de nossa busca vida eterna.

    Ora, a coisa simples! exclamou Bell, triunfante. Ras Tshubai j entrou naarca uma vez; no vejo impedimento para ele repetir a proeza. s entrar, e apanhar osindcios necessrios.

    Crest sorriu indulgentemente. Ao seu lado encontrava-se Thora, a ex-comandante daexpedio arcnida malograda que fora forada a pousar na Lua. Sua opinio sobre oprimitivismo da raa humana no se modificara muito desde ento. Sentia a constantenecessidade de salientar a superioridade dos arcnidas diante dos terrqueos. Mesmosegundo os padres destes, Thora era uma mulher bela, de idade indefinvel. Seu ntimoera um conflito turbilhonante de dio e admirao, repulsa e amor, violenta oposio eincondicional aceitao. Detestava Bell. E s vezes detestava-se a si mesma.

    Voc recebeu, assim como Rhodan, o treinamento hipnopdico arcnida disseela, com acentuado desdm. No compreendo por que faz observaes to impensadas.Mais uma prova da imaturidade da raa humana...

  • No nos reunimos para discutir a maturidade ou imaturidade de nossas respectivasraas interrompeu Rhodan, piscando apaziguadoramente para Bell. Reginald noest a par do resultado de minha conferncia com o crebro positrnico. Leve este fato emconsiderao, Thora. Talvez seja interessante ouvir de Crest uma exposio a respeito.

    O cientista arcnida prontificou-se a falar. Com a ajuda de alguns dos mutantes, principalmente da telecineta Anne Sloane,

    do teleportador Ras Tshubai e do vidente Sengu, Rhodan conseguiu abrir a arca durantealguns segundos. Alguns segundos, nada mais. Com isso foi constatado que todos osobjetos nela guardados pelos desconhecidos no estavam depositados em determinadoespao, porm no tempo. O africano Ras Tshubai foi lanado ao passado, milhares de anospara trs, e ali encontrou a caixa contendo os planos de construo dos transmissores dematria. O processo todo no durou mais de dez segundos. Sabemos agora que a arca formada na realidade por raios csmicos enfeixados, e que no pertence ao plano de tempopresente. Sabemos tambm que todo e qualquer objeto depositado na arca pode ser trazidode volta ao presente, onde, ou melhor, em que poca se encontre. As informaesencontradas na caixa foram suficientes para fornecer ao crebro positrnico os pontos dereferncia necessrios. Com isto, nossa prxima etapa est determinada.

    Bell encontrou os olhares dos mdicos Haggard e Manoli. Deu de ombros. Que culpatinha, se eles no acreditavam na vida eterna? Pessoalmente no se importaria nem umpouco de atingir os mil anos de idade ou mais.

    Continua sendo importante manter a posio galctica da Terra em sigilo disseRhodan, retomando a palavra. Portanto, as comunicaes hiper-radiofnicas entre abase e a Terra sero limitadas. O Universo no vazio e deserto, porm povoado pormuitas raas inteligentes. E elas esto atentas para todo o atrevido que comea a apontarsuas antenas para as estrelas. Nem todas elas so de ndole pacfica, conforme verificamospessoalmente. Mediante os chamados sensores estruturais, algumas delas so at capazesde registrar o hipersalto de nossa Stardust-III atravs de milhares de anos-luz. Mas nadadisso novidade para nenhum de ns. E justamente por esta razo, eu prefiro no retornar Terra por enquanto. Uma breve mensagem radiofnica ser suficiente. Depois disso,traremos o contedo da arca para o presente, a fim de estud-lo com toda a calma.

    H mais objetos na arca, alm daquela caixa? indagou Haggard. provvel confirmou Rhodan. Porm esto em planos de tempo diversos.A nova frmula trar todos eles simultaneamente para o presente. Ser restabelecida

    a situao existente por ocasio da criao da arca. Esconderijo genial, pensando bem! comentou Bell, impressionado. Estou

    verdadeiramente curioso por ver que tesouros encontraremos. Por mim, a festa poderiacomear com a receita da imortalidade.

    Possvel, mas pouco provvel, velho. Creio que os imortais imporo condiesbem mais severas aos possveis herdeiros...

    Como que a gente pode ser herdeiro de gente imortal? perguntou Bell,julgando a pergunta perfeitamente lgica.

    Para no confundir sua mentalidade jurdica, reformulo a questo disseRhodan, bem-humorado. A raa desconhecida faz exigncias severas queles comquem se dispe a repartir seu segredo.

    Porm o caminho at eles longo disse Crest, compenetrado. Muito maislongo do que o caminho para rcon.

    Precisamos conversar sobre isso em particular, Crest observou Rhodan. Aquatro olhos. Ou melhor, a seis, pois Thora vai querer estar presente tambm.

  • Fao questo disso, Rhodan afirmou a comandante arcnida. E trate dearranjar argumentos convincentes.

    * * *

    A vinte e sete anos-luz dali, a Terra transitava inalterada em torno de seu sol. Noentanto, naqueles ltimos anos a estrutura poltica de seus pases sofrera sensveismodificaes, impostas pelas circunstncias. A expedio arcnida malograda colocaraentre as mos de Perry Rhodan, Reginald Bell e Eric Manoli, os primeiros lunautasterrestres, um poder incomensurvel. A nova tecnologia capacitou-os a evitar a ecloso daguerra atmica, e a unificar as naes do globo terrestre. Ainda continuavam existindo trsgrandes blocos de poder, na verdade o Leste, o Oeste e a Federao Asitica porm apotncia criada por Rhodan impunha a paz. A base inicial no deserto de Gobi expandira-segrandemente, fazendo surgir a cidade de Galxia, a mais moderna do mundo, comgigantescos arranha-cus e estradas de inigualvel perfeio.

    Quando ausente, Rhodan era substitudo pelo coronel Freyt. Alm do ntidoparentesco espiritual, os dois homens apresentavam impressionante semelhana fsica.Facilmente poderiam ser tomados por irmos.

    Freyt aparentava ser um homem ainda jovem. Alto e magro, tinha rugas profundasnos cantos da boca, mas nos olhos brilhava constantemente uma centelha de humor. Seuposto regular era o de comandante dos esquadres de caa espacial.

    Tudo corria normalmente. As novas instalaes industriais funcionavam plenamente,atendendo aos pedidos feitos. O mundo comeava a sujeitar-se dependncia econmicade Perry Rhodan.

    O centro vital daquela imensa cidade, de aparncia quase csmica, ficava debaixo deuma cpula energtica constantemente ativada. A segurana era total, pois nem mesmo amais potente bomba nuclear conseguira romper a barreira. Por mais de uma vez elacomprovara sua resistncia.

    No presente, no existiam injunes polticas que justificassem a manutenocontnua na cpula protetora; porm no havia como se opor ordem explcita de Rhodan.Freyt sabia que as medidas preventivas de seu chefe no eram motivadas por homens, massim por possveis agressores extraterrenos. Desconhecidos que poderiam a qualquermovimento descobrir a posio da Terra e vir atac-la.

    O dia findava. Freyt contemplava o firmamento crepuscular. Fazia semanas que notinha notcias de Rhodan. O que estaria acontecendo l no sistema Vega? A invaso dostpsidas, os cruis lagartos gigantes, teria sido repelida? Os ferrnios oprimidos teriamreconquistado sua liberdade? O planeta da vida eterna j teria sido encontrado?

    Perguntas e mais perguntas, e nada de respostas.Freyt suspirou. Rhodan poderia dar-se por satisfeito quando voltasse. O mundo

    inteiro estava ao seu lado, apoiando suas aspiraes de engrandecer o poderio da Terra.Surgiam os primeiros sinais para o estabelecimento de um governo mundial devidamenteplanejado.

    De um edifcio prximo saiu um homem fardado de tenente. Freyt reconheceu-ologo. O russo Peter Kosnow, oficial de ligao com o Bloco Oriental. Seus cabelos louros,cortados escovinha, mostravam reflexos avermelhados luz do sol poente.

    Kosnow mudou de rumo ao avistar o comandante. Saudando cordialmente, disse: Se eu fosse o senhor, no ficaria a admirando o pr do sol, mas iria correndo

    central radiofnica. Isto , para o hiper-transmissor!

  • Freyt estremeceu involuntariamente. Notcias de Rhodan? Homem, est brincando? No do meu feitio tranqilizou-o Kosnow. A mensagem acabou de ser

    transmitida, e j est sendo reprisada. Se correr, ainda pega a terceira emisso direta. Est tudo em ordem? indagou Freyt, ansioso, j acelerando o passo. Lgico! respondeu o russo risonho, tomando direo oposta.Freyt atravessou a estrada asfaltada s carreiras; subiu a escada na entrada saltando

    os degraus de dois em dois. A seguir tomou o elevador para a cpula da estaotransmissora.

    Os gravadores ligados registravam a transmisso. O operador de planto levantou osolhos ao ver entrar Freyt, acenou brevemente, e voltou a ocupar-se com suas tarefas.Naquele momento iniciava-se a terceira repetio da mensagem provinda dos confins doespao. As hiperondas no requeriam tempo algum para vencer a distncia de vinte e seteanos-luz. Portanto, naquele preciso momento Perry Rhodan encontrava-se diante doenorme complexo transmissor da Stardust-III, enviando sua mensagem.

    Perry Rhodan, falando da Stardust-III. Ateno, coronel Freyt, cidade deGalxia Tpsidas expulsos do sistema Vega. Ferrnios novamente livres. Tratadocomercial com o mundo deles e o nosso em andamento. Preparar instalaes industriaisB7A e 42C para fabricao dos bens de troca. Continuar mantendo secreta posio denosso planeta; requisito essencial, mesmo para os ferrnios. Stardust-III continua emVega por enquanto. Novas mensagens quando necessrio. Emisses hiper-radiofnicasainda suspensas, para no chamar as atenes sobre localizao da Terra. tudo.Tripulao da Stardust-III envia saudaes a todos os companheiros da TerceiraPotncia. Tudo de bom! Rhodan.

    No houve mais nenhuma repetio. O sussurro do transmissor emudeceu. As primeiras transmisses foram iguais a esta? perguntou Freyt ao operador. O mesmo texto, coronel. Receber uma cpia escrita. Obrigado.Freyt deixou a central radiofnica com passo lento.Um acordo comercial com os ferrnios! Um dos objetivos de Rhodan consumado:

    relaes comerciais pacficas com uma raa extraterrena. A primeira base extra-solar daTerra para Freyt, Rhodan era indiscutivelmente o representante legtimo da Terra havia sido instalada. Alm disso, a permanncia da Stardust-III no sistema Vega indicavaque havia tarefas adicionais a cumprir.

    Teriam ligao com o misterioso planeta do qual Bell vivia falando com tantoentusiasmo por ocasio de sua ltima visita?

    Fosse como fosse, os encargos de Freyt estavam delineados.O sol desaparecera. Freyt estremeceu, sentindo frio. O sistema de ventilao soprava

    o ar frio do deserto para dentro da cpula energtica. O antigo isolamento do mundoexterior j no era to completo.

    Um novo captulo de nossa Histria comea murmurou Freyt para si mesmo,enquanto se encaminhava vagarosamente para o bangal no qual morava. S que aHumanidade ainda no sabe disso...

  • 2Lossos, o cientista ferrnio, no ocultara a Rhodan suas dvidas. Solicitara umaaudincia, logo concedida, porque Rhodan apreciava o simptico velho. Porm a entrevistateria que aguardar o trmino da conferncia particular com Thora e Crest, ainda emandamento.

    A ex-comandante arcnida resumiu: Portanto, nossas respectivas posies esto claramente delineadas, Perry Rhodan.

    Voc quer usar a Stardust-III, uma nave de guerra arcnida, para expandir seu reinoterreno. Ns queremos retornar com ela ao nosso planeta natal. E em conjunto desejamosachar o planeta da vida eterna, valendo-nos da Stardust-III e do crebro positrnico.Teremos que tentar a consecuo destes trs objetivos sem prejudicar nenhuma das partes.Logo, ser preciso estabelecer as respectivas prioridades.

    Certo, Thora interrompeu Crest, gravemente. Alegro-me ver que pensaassim. Mas, antes de precipitar qualquer deciso, poderamos pr-nos de acordo numponto: procurar em primeiro lugar o planeta da vida eterna. Uma vez conseguido isto, ascircunstncias resultantes determinaro o empreendimento seguinte.

    Concordo plenamente com sua sugesto disse Rhodan, satisfeito. Uma vezalcanado este objetivo, no haveria inconveniente algum de minha parte em realizar o vopara rcon, denunciando assim sua raa a posio da Terra.

    Revelando-a corrigiu Crest, com um ligeiro sorriso. Eu diria que no casono se aplicaria o termo denunciar.

    Faamos um pacto, ento disse Thora, estendendo ambas as mos paraRhodan. A seqncia ser: a busca ao planeta da vida eterna, rcon, e depois a Terra,com todas as conseqncias resultantes. De acordo?

    Tomando as mos dela entre as suas, Rhodan concordou. Certo, meus amigos. Mas eu gostaria de acrescentar uma pequena condio ao

    nosso pacto, caso nada tenham a opor. Que condio? perguntou Thora, desconfiada. Nada de grave, no se preocupe replicou Rhodan, com um sorriso

    compreensivo. Eu gostaria que os arcnidas s tomassem conhecimento dascoordenadas espaciais da Terra quando eu julgar o momento apropriado. Pois ns terrenosno temos a menor vontade de ver nosso planeta tornar-se colnia de um reino estelar emdecadncia. Afinal, por mais duro que seja confess-lo, vocs no podem deixar dereconhecer que a raa arcnida degenerou. Concordamos em comerciar com ela e apoiar osarcnidas na conservao do Imprio, porm no queremos criar novas fontes de atrito.Que acham?

    De acordo disse Crest.Os dois homens fitaram Thora. Aps curta hesitao, ela respondeu: Pois bem, tambm estou de acordo. Estou certa de que o conselho de nosso

    esclarecido governo compreender suas ponderaes. Estamos entendidos, ento, epodemos partir para a realizao do nosso objetivo comum. Quanto mais depressaencontrarmos o misterioso planeta, tanto mais depressa poderemos rever rcon, nossaptria.

  • Fico-lhes grato por confiarem em mim. Logo aps a palestra com Lossos poremosmos obra.

    Que que o ferrnio quer de voc? indagou Crest, curioso. Ainda no sei Disse que queria conversar comigo. Talvez ainda tenha se lembrado

    de algum detalhe importante. Quem sabe?Deixando os dois arcnidas sozinhos, Rhodan dirigiu-se a outra pea, onde Lossos j

    esperava impaciente. Sem sequer erguer-se ao ver Rhodan entrar, o ferrnio comeouprecipitadamente, sem introduo alguma:

    Eu devia ter pensado nisto antes! Porm s agora me ocorreu esta possibilidade. Que possibilidade? Que nosso sistema continue com todos os quarenta e trs planetas originais.Rhodan no respondeu. Visivelmente perplexo, no entendeu. Fato que o ferrnio

    constatou com muda satisfao, sem, no entanto, deixar transparec-la. Excitado,prosseguiu:

    No manifestou a hiptese de que os misteriosos desconhecidos, inopinadamenteaparecidos em Ferrol h dez mil anos, deixando-nos os hipertransmissores, foram capazesde levar seu planeta para onde bem entendessem? E ns todos supusemos, implicitamente,que eles abandonaram nosso sistema, aceitando sua hiptese como tecnicamente realizvel.Pois bem, nossa suposio pode ser falsa. Acho que eles talvez continuaram neste sistema,mudando apenas de local.

    Rhodan sentara-se enquanto Lossos expunha sua teoria. E que local seria este? indagou, com a testa enrugada.O ferrnio sorriu evasivamente. Pergunta-me demais, pois tambm no sei. um mero palpite... Numa das luas

    gigantes que gravitam em torno dos nossos planetas maiores, talvez. Ou podem terempurrado algum planeta desabitado para fora do sistema, ocupando seu lugar. Destaforma, quem tencionasse procur-los seguiria instintivamente na pista do planetaemigrado. No exatamente isso que voc pretende fazer?

    Seus argumentos no deixam de ter fundamento disse Rhodan, cautelosamente mas no passam de hiptese. Por que motivo seres possuidores de tecnologia toavanada se dariam tanto trabalho s para mistificar algum? Sem dvida possuam armassuficientemente eficientes para manter distncia qualquer oponente. Pessoalmente, achoque eles fazem toda essa brincadeira de esconde-esconde apenas para se divertir; porm abrincadeira no fundo sria. Eles desejam ser encontrados; e por a que precisamoscomear. Deixaram uma pista, e a pista aponta para fora deste sistema.

    Ento permita-me ao menos procurar eu mesmo o tal planeta, no mbito dosistema Vega! Assim que o encontrar, mando-lhe imediatamente aviso.

    Rhodan refletiu. A teoria de Lossos no era totalmente desprezvel nem absurda;apenas pouco provvel. No seria justo impedi-lo de fazer suas prprias exploraes; pelocontrrio, seria at suspeito. Os ferrnios possuam uma frota espacial bem aparelhada, enada os impedia de iniciar espontaneamente tal empreendimento. E se o planeta da vidaeterna efetivamente...

    No tenho nada a opor replicou, portanto, Rhodan. Pode contar com o apoiode um de meus caas espaciais, naturalmente. As cabinas so um tanto apertadas, masconseguiremos acomodar duas pessoas nelas, retirando algum equipamento de menosimportncia. Vou ordenar a Deringhouse que mande aprontar um caa espacial com orespectivo piloto. Mantenha-se em contato radiofnico constante conosco.

  • O idoso ferrnio empertigou o corpo baixo. A estatura reduzida fazia-o parecer maisjovem.

    Agradeo-lhe, Rhodan. O sucesso que eu puder obter ser igualmente seu.Sob o olhar pensativo de Rhodan, Lossos se retirou.

    * * *

    Seguiu-se ainda uma terceira conferncia.Reginald Bell reunira o Exrcito de Mutantes para planejar a ao. A reunio

    realizou-se nas primeiras horas da tarde do longo dia ferrnio. Perry Rhodan no tomariaparte nela, porm dera a Bell as instrues necessrias. Os mutantes foram chegando um aum.

    As emisses radioativas provocadas pelas exploses atmicas das grandes naesterrestres tinham passado despercebidas de incio; porm j nas primeiras geraes vindasao mundo depois delas foram constatados defeitos genticos. Nem todos eram de naturezanegativa. Faculdades inditas, at ento adormecidas em estado latente no homem,ativavam-se de repente. Rhodan percebera prontamente a potencial utilidade daquelesmutantes, e selecionara os melhores entre eles, colocando-os a seu servio. Por mais deuma vez todo o poderio de Rhodan fora protegido e mantido por obra exclusiva de seusmutantes.

    Bell assustou-se, como sempre, quando o teleportador japons Tako Kakuta sematerializou repentinamente ao seu lado. Emergindo do nada, quase lhe pisou nos ps.

    Tomara que algum dia voc calcule mal a distncia e v parar numa fornalha! resmungou ele, furioso. No se conformava com o fato de ser sempre surpreendido com oconhecido processo. Em voz formal, acrescentou: Caso se atreva, mais uma s vez, aassustar seu superior, Tako, vou providenciar sua deteno em solitria por trs dias!

    Ser um prazer respondeu o japons, arreganhando os dentes num imensosorriso, e piscando para seu colega Ras Tshubai, que acabava de entrar de maneira normal. Mas no se esquea de providenciar o competente campo energtico pentadimensionalem torno da cela, com cadeado de tempo, seno escapulo quando bem entender.

    Bell preferiu no responder; sabia que no adiantaria nada. Prevenindo novosaborrecimentos, dirigiu-se a Anne Sloane e a Betty Toufry, a jovem mutante. Tanto elacomo Anne eram excepcionais telecinetas. Usando unicamente sua fora mental, elaspodiam movimentar matria a qualquer distncia. Betty era, alm disso, telepata;geralmente trabalhava em conjunto com John Marshall, o outro telepata do Exrcito deMutantes. Quinze deles encontravam-se reunidos ali.

    Tirando um pedao de papel do bolso, Bell tentou decifrar a prpria letra por doisminutos. Depois tornou a enfi-lo no bolso, fazendo votos de no ter esquecido itemalgum.

    Meus amigos! exclamou ele, saltando com surpreendente agilidade para cimade uma mesa, de onde poderia supervisionar comodamente os presentes. Perry Rhodanprecisa da colaborao de vocs. Serei breve, pois dispomos de pouco tempo. Vocs todosconhecem, pelo menos de fama, a arca pentadimensional do Palcio Vermelho. RasTshubai conseguiu penetrar nela, sendo arrastado a uma involuntria viagem pelo tempo,que o fez regredir at as origens do Universo. Ns vamos entrar novamente nesta arca, masdesta vez sem o risco de sermos lanados ao passado ou, talvez, ao futuro. O crebropositrnico avaliou e explanou os dados recebidos. Com a frmula resultante, um geradorarcnida produzir um feixe de raios neutralizadores da atuao dos raios csmicos que

  • formam a arca. Com isso, todos os objetos nela guardados, num plano temporal variado,retornaro ao presente. S teremos o trabalho de recolh-los.

    Nenhum de vocs ter tarefa especfica por enquanto. Porm necessrio que semantenham de prontido nas proximidades da arca durante a experincia, para intervirassim que a ocasio o exigir.

    tudo que tenho a dizer. Aguardem a chamada em seus alojamentos. Seguiremosdaqui para Thorta com o transmissor grande, diretamente para onde se encontra a arca.Agradeo a presena de todos.

    Saltando lentamente da mesa, Bell deixou o recinto.

    * * *

    O sargento Groll no demonstrou o menor entusiasmo pela misso recebida. Aoreceber o chamado do comandante Deringhouse, pensara logo numa sortida ou vo dereconhecimento com alguns colegas. Grandemente decepcionado, soube que seriaobrigado a vasculhar os planetas e luas do sistema Vega em companhia de um velhoteferrnio.

    Groll no teve outro recurso seno submeter-se ao inevitvel. Auxiliado pelo pessoaltcnico da Stardust-III e por alguns pilotos, desmontou as armas de bordo de seu caa, afim de acomodar o cientista na apertada cabina. At o rdio foi retirado. Em troca Grollrecebeu um pequeno e prtico micro transmissor, suficientemente potente para acomunicao de emergncia dentro do mbito do sistema Vega. A cama de repouso sumiu,dando lugar a mais um assento.

    Lossos embarcou com um mao de manuscritos debaixo do brao, e indicou aopiloto que estava pronto para a partida. Graas a um rpido treinamento hipnopdico,falava razoavelmente o idioma de Groll, mesmo sem saber em que parte do Universo sefalava tal lngua. Mas pelo menos podia comunicar-se com seu piloto.

    Os planetas internos nem entram em considerao, por causa do clima poucosaudvel, mas claro que ningum pode saber o que seria considerado saudvel ou insalubrepara os imortais emendou rapidamente, Diz a tradio que eles provm de ummundo de clima frio. O dcimo segundo planeta possui trs grandes luas. Vamos comearpor elas, em primeiro lugar.

    Pois ento vamos l! concordou o sargento Groll, resignado.Como uma gota prateada, o esguio aparelho mergulhou no mar de estrelas diante

    deles.

    * * *

    Thora desistira no ltimo momento de sua inteno inicial de entrar na arca com osdemais. Portanto, o grupo que na manh seguinte embarcou no hipertransmissor da basecompunha-se apenas de Rhodan, Bell, Crest e os mutantes.

    O aparelho parecia uma enorme gaiola gradeada. A aprecivel quantidade de energiarequerida para o transporte, em estado de desmaterializao, atravs do hiperespao, erafornecida por geradores. O manejo era simples, mas o modo de funcionamento ningumcompreendia.

    A porta foi fechada. Rhodan ajustou as coordenadas e ativou a mquina. Nosucedeu absolutamente nada, o que conferia com o esperado. Em distncias curtas, no sefazia sentir o costumeiro efeito doloroso da desmaterializao.

  • Ao abrir a porta, encontravam-se em Thorta, a capital de Ferrol. A guarda pessoal doThort j os aguardava. Entre manifestaes da maior deferncia, o grupo foi conduzido sarcadas subterrneas, onde foram deixados prpria sorte. Ferrnio algum se sentiadisposto a enfrentar desnecessariamente os espectros que assombravam o local.

    Ras Tshubai realizou alguns saltos teleportados a fim de sondar o terreno. JohnMarshall captava-lhe os pensamentos, transmitindo o contedo aos demais. Desta maneira,Rhodan sempre estava informado sobre o que tinha sua frente.

    O gerador, instalado na vspera, encontrava-se na entrada do recinto abobadado emcujo centro ficava a arca. E ela se encontrava realmente ali, apesar de invisvel a olhoshumanos e impenetrvel a qualquer objeto material. O invlucro protetor, erigido hmilhares de anos por seres desconhecidos, e repleto de inconcebveis segredos, formavauma espcie de campnula de energia pura no meio da pea. Ondas de rdio, emitidas docosmo por fontes desconhecidas, enfeixadas de alguma forma por algum equipamentoinvisvel, formavam a invisvel arca. A telecineta Anne Sloane conseguira desviar estasondas por instantes durante a primeira experincia; a arca se abrira, permitindo a entradade Ras Tshubai. No entanto, aqueles poucos segundos no haviam sido suficientes paratomar conhecimento de todo o contedo da arca. Fora, pois, com a maior satisfao queRhodan recebera do crebro positrnico a frmula neutralizadora dos raios provindos docosmo. Um efeito de polarizao, conforme observara muito acertadamente Crest. E podia-se faz-lo durar vontade, por quanto tempo se quisesse. Alm disso, o crebropositrnico informara que o processo levantava simultaneamente a barreira de tempo. Oque era, evidentemente, o ponto mais importante no caso. Pois que lhes adiantaria penetrarna arca se os objetos nela guardados se encontrassem a milhares ou milhes de anos nopassado ou no futuro?

    Rhodan distribuiu os mutantes, posicionando-os de modo que qualquer deles pudessechegar arca com poucos passos, em caso de necessidade. Depois inclinou-se para ogerador. A regulagem estava correta. Voltando-se para Crest, avisou:

    Bell e eu vamos entrar. Do Exrcito de Mutantes levaremos inicialmente apenasAnne Sloane e John Marshall. Os demais ficam de prontido. Ainda no sabemos queespcie de capacidade ser exigida, mas caso...

    Todos compreenderam o que Rhodan pensava, de modo que ele poderia terdispensado o resto da frase.

    ...surgir alguma dificuldade, o mutante com o dom apropriado precisa intervir semdemora, a fim de elimin-la.

    Aps uma derradeira hesitao, Rhodan tornou a se inclinar para o gerador. Calcouum boto, e com um leve clique o aparelho comeou a funcionar. A bateria atmicaembutida forneceria a energia necessria para a gerao do feixe de raios polarizantes.

    Em tensa expectativa o grupo aguardou.Estariam corretos os clculos do crebro positrnico? Os dados fornecidos seriam

    adequados? Um erro mnimo, e...A sala subterrnea com suas paredes de pedra natural parecia vazia. A viso era livre

    de lado a lado, at a parede oposta. Mas Rhodan sabia que se tratava de urna iluso tica.Os raios luminosos, habilmente desviados, eram distribudos de tal maneira que oobservador se julgava num recinto vazio. Porm na realidade o centro da pea era ocupadopela invisvel cpula de raios enfeixados. E ela oferecia resistncia idntica tanto a matriaslida, quanto a luz e ondas.

    Rhodan repassava em pensamento aqueles detalhes tcnicos, quando seus olhosperceberam os primeiros sinais de alterao no ambiente. No meio do salo o ar

  • apresentava estranha cintilao. A parede oposta comeou a esfumar-se, as pedraspareciam oscilar, mudando de formato e posio. Depois dissolveu-se, desaparecendototalmente. O desvio dos raios luminosos deixava de existir.

    Novos fatos surpreenderam o grupo.Atnito, Bell viu surgir sua frente objetos misteriosos, materializando-se do nada.

    Quanto mais ntidos e concretos esses objetos se tornavam, tanto mais diminua acintilao do ar. A barreira de raios csmicos se desfazia lenta e constantemente. Por fimcessou de todo.

    Simultaneamente, os objetos por ela protegidos do mundo exterior retornavam aopresente. Vindos do passado e do futuro, despojavam-se de todas as caractersticasprprias da quarta e da quinta dimenso tempo e dilao de tempo podendo agoraser vistos e tocados. Situando-se de repente no presente, passavam a ser concretos emateriais. Transformavam-se em realidade.

    Puxa, que truque fantstico! observou Bell. E no entanto real... replicou Rhodan, num sussurro. O melhor meio de

    guardar um objeto de maneira completamente segura envi-lo para o futuro longnquo,onde ningum pode se apoderar dele. Ele fica l, esperando, at que seja alcanado. Mas sefosse enviado para o passado...

    ...estaria perdido para sempre completou Crest. A menos que se possa traz-lo de volta, ou viajar fisicamente para trs no tempo.

    Quer dizer que viagens no tempo so viveis? Sempre me pareceram mera ficoou imaginao.

    Constituem o fundamento da quinta dimenso replicou Crest. Assim comoo espao o fundamento da terceira. Mas no me pergunte demais por enquanto, Perry.Espere at chegar a hora de tratarmos deste assunto, antes que se sinta tentado a fazerpouco caso dele. Se as viagens espaciais fossem fceis, ns, os arcnidas, j teramosreagido h sculos ameaa de desmoronamento de nossa cultura.

    Rhodan satisfez-se com a explicao. Parecia lgica. Bell gemeu, desconsolado,enquanto Anne e John se mantinham imparcialmente calados.

    No meio do salo antes vazio surgira um novo recinto, nitidamente delineado porcaixotes e bas, cuidadosamente dispostos em pilhas e filas. Era fcil visualizar junto aeles os seres desconhecidos, acumulando ali, h milhares de anos, seus mais preciosostesouros, para guard-los no futuro. Mas tratar-se-ia realmente de tesouros? Afinal, aquilolembrava muito mais um depsito. E no meio de tudo havia algo bastante familiar: umhipertransmissor de matria!

    Era do tipo mdio, pois acomodava mais de uma pessoa. Sua altura permitia deduzirque a raa desconhecida possua estatura mais ou menos semelhante humana. Osmecanismos de controle no diferiam dos j conhecidos.

    Um hipertransmissor... ali?!A mesma pergunta se formou na mente de todos os presentes: onde estaria o anti-

    transmissor, ou hiper-receptor, correspondente? Onde iriam parar, caso entrassem naqueleaparelho e o ativassem? Ou melhor, quando se processaria a rematerializao?

    * * *

    A lua interna do dcimo segundo planeta ainda recebia calor suficiente daconstelao-me para torn-la um mundo tolervel, livre da total esterilidade. Tambm sua

  • gravidade era bastante forte para sustentar considervel camada atmosfrica. O satlite12A, conforme Lossos o batizara, poderia, em dadas circunstncias, ser portador de vida.

    Groll sacudiu a cabea quando Lossos lhe pediu para sobrevoar lentamente, a baixaaltitude, a lua 12A.

    Acha mesmo que uma raa imortal escolheria lugar to inspito para passar oresto eterno de sua existncia?

    Espremido em seu apertado assento, Lossos perscrutava, atravs da escotilha, omundo escassamente iluminado. sua esquerda, o vulto imenso do dcimo segundoplaneta ocupava o campo de viso, em seu giro pelo espao.

    O que penso secundrio, sargento. Nossa obrigao no deixar nadadespercebido. Nada mesmo, entendeu? Essa raa esquisita, que parecia ter como nicapreocupao a de propor enigmas aos outros, pode ter conceitos radicalmente diversos dosnossos. Sabe l, podem ter se recolhido ao interior de seu planeta. Neste caso, e acho queconcordar com o meu ponto de vista, a localizao do mundo em que vivem seriacompletamente indiferente. Poderiam vagar solitrios pelo Universo, sem sol, sem planetasvizinhos, sem luz nem calor. Por que no aqui?

    Sem encontrar argumentos em contrrio, Groll preferiu calar-se.Vista do alto, a lua 12A parecia morta e sem vida. No deserto rochoso apenas

    esporadicamente se avistava alguma vegetao nico sinal de vida orgnica. De raro emraro, magros fios de guas serpenteavam pelas pedras, embebendo-se logo no choressequido. No havia mares nem oceanos, e a lua toda formava um s continente. Talvezexistissem depsitos de gua subterrneos, formados pela acumulao das infiltraesesparsas. Fato, no entanto, que no exerceria a menor influncia sobre o clima dasuperfcie.

    Depois de contornar a lua duas vezes, Lossos disse:. Vamos pousar.Groll reprimiu uma imprecao. Porm lembrou-se a tempo das ordens do major

    Deringhouse: todos os desejos do cientista ferrnio deviam ser atendidos sem objees.E justamente ele tinha que receber um encargo daqueles!O aparelho foi perdendo altura, circulando a poucas centenas de metros por cima da

    paisagem morta. Onde? Aguarde mais um pouco respondeu Lossos. Atento e tenso, o sbio parecia

    procurar ansiosamente alguma coisa. Prossiga a esta altura, voando um pouco maisdevagar, caso isso no lhe cause problemas.

    Groll reduziu a velocidade, e o caa deslizou mansamente por sobre os rochedos,cuja aparncia era mais desoladora do que qualquer outra cena presenciada pelo piloto emtoda a sua vida.

    Lossos, no entanto, parecia ser de opinio contrria. Seus olhos no se desgrudavamda escotilha ovalada, perscrutando atentamente o exterior. Duas horas depois o cientistareclinou-se por fim em seu assento.

    Acho que podemos dispensar o pouso. pouco provvel que encontremos algumacoisa aqui. Siga para a lua 12B. Talvez tenhamos melhor sorte l.

    O sargento Groll suspirou aliviado. Consultando seu mapa, alou-se de novo,vertiginosamente, para o espao infinito. A lua 12A desapareceu rapidamente abaixo deles.

    * * *

  • Creio que agora podemos ir disse Rhodan, pondo a mo sobre o brao deCrest. O gerador garante o afastamento da barreira. Enquanto a energia continuar afluir, nada pode acontecer. E como voc me afirmou que isto continuar acontecendo pelosprximos milnios, temos tempo de sobra. Vamos, pessoal!

    Rhodan tomou a dianteira. Crest seguiu-o, aps imperceptvel hesitao. Belldemorou mais a decidir-se, porm acabou avanando igualmente, acompanhado de pertopelos dois mutantes. Os demais componentes do Exrcito de Mutantes presenciavam acena imveis e silenciosos.

    Rhodan alcanou o ponto em que anteriormente a barreira invisvel impedia apassagem. Agora o obstculo j no existia, e Rhodan penetrou na arca. Contornando umenorme ba, viu-se diante do hiper-transmissor. Meramente por seu volume, este sedestacava dos demais objetos ali acumulados. Instintivamente, a mo de Rhodan procurouno bolso o pedao de papel que trouxera consigo. Ele continha uma frase misteriosa,traduzida e escrita pelo crebro positrnico. As instrues diziam que uma frase idnticaapareceria em algum lugar dentro da arca. Seria a nova pista.

    Crest parou ao lado de Rhodan. Nos olhos avermelhados brilhava algo semelhante incerteza. As mos de dedos delgados tremiam levemente.

    No pretende...?Rhodan fitou Crest com um olhar quase dominador. Voc desistiria agora, Crest? Assim to perto do objetivo? No vai querer que eu

    acredite nisso, no ? Pelos menos ns, terrenos, no entregamos os pontos com tamanhafacilidade, quando o prmio alto. E este alto: a vida eterna...

    Ela no adianta nada quando se est morto, Perry... No deve ser esta a inteno dos desconhecidos, Crest. Deixaram uma pista que

    leva inegavelmente at eles. No se arriscam nem um pouco. Pois apenas seres de naturezasemelhante deles sero capazes de encontr-los. Brbaros incultos jamais atingiriam oplaneta da vida eterna. Portanto pode estar certo, Crest, de que os desconhecidos notramam nenhum ardil mortal para nos apanhar. Haver obstculos, sim, mas isso parte damisso. Porm no marchamos ao encontro da morte.

    O inusitadamente calado Bell decidiu-se a falar: Sabe l quando foi que esses seres deixaram o hipertransmissor aqui, Rhodan!

    Voc disse que foi h dez mil anos, quando abandonaram o sistema Vega. Quanta coisano prevista por eles pode ter acontecido desde ento? bem capaz do hipertransmissornos jogar em plena Vega!

    Rhodan sacudiu a cabea. Fora de cogitao! Voc subestima a inteligncia destes seres. Deviam saber,

    forosamente, que se passariam sculos, ou at milnios, antes que algum desse com oincio da pista. Calcularam as contingncias astronmicas. Nem se preocupe, eles nodeixaram nada ao acaso.

    Avanando alguns passos, Rhodan abriu a porta gradeada do hipertransmissor. Ospoucos controles correspondiam exatamente aos que observara em Ferrol, sem a menordiferena. O hipertransmissor era idntico aos usados pelos ferrnios, com a diferena deque estivera at aquele momento em plano de tempo diverso, no passado ou no futuro.

    Fiquem aqui! ordenou Rhodan, com voz rouca. Eu vou sozinho. Se elefuncionar, deixando-me em local seguro, volto imediatamente para buscar vocs.

    E em caso contrrio? exclamou Bell, aflito. Rhodan deu de ombros, semresponder. Com um rpido olhar para Crest, entrou na espaosa cabina, onde caberiamfolgadamente quatro a cinco pessoas.

  • Quando eu tiver desaparecido recomendou Rhodan aguardem um pouco.No tomem iniciativa alguma, a fim de no pr em risco minha volta. Entendido?

    Crest discordou. No seria prefervel que um de ns...? No, Crest! Creio na boa vontade dos imortais. Eles querem que algum decifre

    este enigma. Eu no poderia desapont-los, no acha?Crest silenciou. Sorrindo para ele e Bell, Rhodan acenou tranqilizadoramente para

    Anne Sloane e para John Marshall, e baixou a alavanca.Deu-se algo surpreendente. Rhodan no se tornou invisvel nem desapareceu.

    Continuou de p dentro da cabina, assim como entrara.O hipertransmissor de matria no funcionava.

    * * *

    A segunda lua do dcimo segundo planeta bem poderia ser tomada por irm daprimeira. Em nada se diferenciava da que haviam visitado anteriormente. Atmosferasofrvel, gua escassa, pouca vegetao, paisagem constituda de rochas e montanhas.

    Lossos insistiu na aterrizagem, e Groll acedeu, contrariado. O aparelho pousou numplat rochoso. Os instrumentos de mediao automtica indicaram que a atmosfera erararefeita demais para desembarcar sem traje espacial. Resmungando baixinho, o ferrnioenfiou um macaco levssimo, porm Groll sabia que ele correspondia plenamente sexigncias da situao. O capacete plstico completou o equipamento.

    Espere por mim a bordo! disse Lossos, desaparecendo na escotilha do piso quehavia sido adaptada para servir de comporta auxiliar. Groll fechou-a hermeticamente einiciou o processo de desembarque. O ar foi sugado, produzindo o vcuo no pequenocompartimento. Depois a portinhola externa se abriu, e o ferrnio foi lanado para foracomo um volume de carga, rolando pela superfcie ptrea da lua 12B.

    O rude tratamento no conseguiu abafar seu ardor de cientista. A gravidade maisreduzida que a de Ferrol lhe fornecia energias adicionais.

    Pondo-se de p num salto, Lossos afastou-se com passos rpidos do caa, sem lanarum s olhar para o piloto que o vigiava preocupado por trs do vidro da escotilha.

    Sujeitinho chato! resmungou Groll, aborrecido.O pesquisador ferrnio sumiu entre as rochas. Avanava sem rumo definido,

    confiando no acaso. Sem dvida seu bom senso lhe dizia que eram praticamente nulas aschances de topar com algum indcio do planeta desaparecido naquele local ermo.

    Groll aborrecia-se na pequena cabina. Claro que poderia descer igualmente, masperguntava-se o que faria l fora. Portanto continuou sentado em seu lugar, esperando.

    Lossos regressou duas horas depois, sem demonstrar sua decepo. Trabalhosamenteintroduziu-se no caa atravs da comporta. Retirando o capacete, disse, ofegante:

    Nada! De jeito nenhum isto aqui o planeta desaparecido. Experimentemos oprximo!

    Ora, no deve ser diferente deste replicou Groll, mal-humorado. Quantasluas tem mesmo o dcimo terceiro planeta?

    S duas respondeu Lossos. Na testa abaulada viam-se duas profundas rugas,dando nitidamente a impresso de que ele refletia com grande esforo. E uma delas bastante interessante do ponto de vista astronmico.

    Ah, ? comentou Groll, laconicamente, levantando vo. S quando estavam longe da lua 12B acrescentou:

  • O que que ela tem de interessante? Sua distncia do planeta-me to grande que precisa de meio ano para contorn-

    lo uma vez. A lua 13B quase um planeta autnomo; s que gira em torno de outroplaneta. E os dois juntos giram em torno do sol. Por que no seria ela o quadragsimoterceiro planeta que estamos procurando?

    , por que no?... respondeu Groll. Com uma risada, acrescentou: E por quedeveria s-lo, afinal?

    * * *

    Rhodan fez nova tentativa, porm o resultado foi igualmente negativo. Nada mudou.O hipertransmissor no dava o menor sinal de vida.

    Ligeiramente desapontado, Rhodan deixou a cabina, olhando perplexo para Crest. No entendo isso! confessou. Conseguimos superar com a maior facilidade

    os primeiros obstculos, e acabamos diante de um hipertransmissor enguiado.Que significar isso? Deve ter algum significado! respondeu Crest, convicto. Pense nos

    numerosos outros hipertransmissores. Nenhum deles apresentou defeito em todos estesmilnios, e nem um s foi posto fora de uso por imprestvel. As fontes de energia soinesgotveis, pois o gerador est embutido neles, conforme sabemos. Logo, se este aquino funciona, por algum motivo deliberado. Que acha, Bell?

    Bell tinha claramente o ar de quem no nutria opinio alguma; mas era evidente queno queria se desmoralizar. Portanto, disse, em tom arrastado:

    Concordo com voc, Crest... No faltava imaginao a esses seres do passado...Agora querem que banquemos os mecnicos de hipertransmissores, para demonstrar quesabemos raciocinar na quinta dimenso...

    Bell falara por falar, s para dizer alguma coisa. No entanto Rhodan pareciaimpressionado com suas palavras. Relanceando os olhos primeiro por Bell, depois porCrest, voltou novamente a ateno para o hipertransmissor. Abrindo a porta, tornou aentrar na cabina. Crest ficou esperando do lado de fora, assim como Anne Sloane e JohnMarshall. Bell, no entanto, que no percebera o inesperado efeito de suas palavras,recobrou o nimo.

    Rhodan procurava. Procurava algo bem definido: o indcio sem o qual todo aquelejogo de adivinhao perderia o sentido.

    Os desconhecidos possuam um inaprecivel segredo: a imortalidade. E estavamdispostos a reparti-lo com uma raa merecedora, de nvel semelhante ao seu. Mas de quemodo poderiam avaliar esta equivalncia? A resposta era bvia: submetendo-os a umaprova. Portanto, haviam deixado uma pista sutilmente concebida antes de desaparecer.Caso algum conseguisse seguir essa pista, e interpretar acertadamente os numerososindcios reveladores, encontrar-se-ia forosamente com eles algum dia. O encontro doscharadistas e dos solucionadores premiados.

    Uma verdadeira competio csmica de charadas.Um campeonato galtico de charadas!Rhodan sabia que o transmissor representava simultaneamente dois problemas. Em

    primeiro lugar, era preciso fazer o aparelho funcionar novamente; depois, arriscar a viagempara local ignorado, onde...

    Rhodan no ousou levar o pensamento mais adiante. O que os esperava l constituanovo problema, para ser resolvido posteriormente.

  • Bell emitiu repentinamente uma exclamao de surpresa. Crest correu logo parajunto dele, assim como os dois mutantes. Dentro de mais alguns instantes Rhodan juntava-se igualmente ao grupo em torno de Bell. Em seu bolso, o bilhete nervosamentecomprimido entre os dedos parecia queimar como fogo.

    Que foi? perguntou ele, j adivinhando a resposta. Uma inscrio! gritou Bell, excitado. Descobri uma inscrio. Na parte de

    trs do hipertransmissor. E sem o menor trabalho...Rhodan tirou o papel do bolso e leu rapidamente o que estava escrito nele; parecia

    comparar aquelas duas linhas com as que apareciam na face lisa do hipertransmissor. Aseguir tornou a guardar o papel no bolso.

    Bell acompanhara os gestos de Rhodan com evidente desapontamento. Isso por acaso algum dicionrio? indagou zombeteiramente. Com sua permisso, sim! respondeu Rhodan, concentrando-se no estudo da

    inscrio. Sinais grficos iguais aos que vimos nos planos de construo dostransmissores. Trata-se, portanto, da mesma lngua, o idioma dos imortais. Mais ainda: estafrase a a mesma do incio da pista que estamos seguindo. O que prova que o transmissorrepresenta a continuao da pista.

    Frase? Onde que tem uma frase por aqui? O idioma escrito mediante smbolos figurativos, sinais geomtricos e letras

    desconhecidas. Alm disso, est criptografado. S o crebro positrnico ser capaz de nosdar o texto em linguagem corrente.

    Que diz a frase? indagou Bell. Encontraro a luz, caso tua mente corresponder ordem mais elevada. Eu

    esperava mesmo achar esta frase em algum ponto dentro da arca. Agora podemos estarcertos de que nos encontramos na pista correta, e de que acharemos a luz.

    Est bem! resmungou Bell, olhando de esguelha para os estranhos sinais. Caso nossa mente corresponda ordem mais elevada... Ser que corresponde?

    A do crebro positrnico corresponde, pelo menos disse Rhodan,pensativamente.

    Assim como a lua 13A, a 12C no apresentou novidade alguma.J mais interessado na aventura, Groll fez a pequena aeronave distanciar-se do

    dcimo terceiro planeta, rumando para a segunda lua dele, a mais afastada. Seu dimetroera mais ou menos igual ao de Marte; porm a gravidade equivalia a 1 g, segundo aafirmava Lossos. Fato incomum, levando a concluir que no interior daquela lua existiamelementos extraordinariamente pesados. A atmosfera era respirvel, e suficientementedensa. O clima, de acordo com os apontamentos de Lossos, era inclemente, frio e spero;porm tolervel.

    Um mundo parte, pensou Groll consigo mesmo, admirando-se pelos ferrniosainda no terem pensado em transform-lo em mais uma colnia. Interrogando Lossosacerca disso, recebeu como resposta:

    A lua 13B possui clima suportvel para vocs, sim. Mas nossa populao reduzida demais para pensar em novas colnias. Principalmente em colnias na lua 13B;para o nosso gosto, ela fria demais.

    Como v, no incomum deixarmos de lado planetas ou luas colonizveis.Futuramente talvez pensemos nisso, quando nosso prprio mundo se tornar pequenodemais...

    O dcimo terceiro planeta foi ficando longe; em troca, sua lua externa crescia a olhosvistos. O crculo luminoso da atmosfera, refletindo a luz da distante Vega, destacava-se

  • nitidamente na escurido csmica. No sistema solar ela seria considerada um planeta,pensou Groll, com uma pontinha de inveja. Um mundo melhor que Marte aquele, casoLossos no tivesse exagerado. E seu ncleo pesado indicava a possibilidade de umaminerao de profundidade bastante proveitosa.

    Nuvem alguma empanava a visibilidade da superfcie. Tambm ali, constatou Groll,no havia mares nem oceanos. Pouca gua, portanto, pensou desapontado. Apenas algunsriozinhos cortavam as extensas plancies. Desembocavam em depresses mais profundas,acabando por infiltrar-se no solo. Em conseqncia disso existiam amplas reas verdes,verdadeiro convite povoao.

    Os ferrnios nunca exploraram esta lua mandando alguma expedio para c? perguntou admirado. Afinal, num mundo assim deve existir vida.

    A natureza perdulria replicou Lossos. O Universo deve contar cominmeros mundos espera de ocupao por seres civilizados. Produzem vegetao, masnenhuma vida inteligente. bvio que possumos registros sobre a lua 13B, mas nenhumdeles menciona a existncia de vida nela; nem presente, nem passada. Talvez asobservaes feitas tenham sido apenas superficiais; que eu saiba, jamais aterrizaram nela.

    Que descanso! criticou Groll, espantado. Mas talvez se possa atribuir taldesinteresse extrema amplido do sistema de vocs, com excesso de mundosaproveitveis. Vocs vivem na abastana. No meu sistema solar s h dois planetas, almdo meu, com possibilidade de serem habitados.

    Seu sistema fica muito longe de Vega? indagou Lossos, distraidamente.Mas Groll no esquecera as ordens de Rhodan, e respondeu: Longe ou perto, que diferena faz?O ferrnio fingiu no perceber a evasiva do piloto. Algum dia ficaria sabendo de

    onde tinham vindo aqueles desconhecidos. De repente, Lossos apontou para baixo: Est vendo aquela cordilheira? Procure sobrevo-la no sentido do comprimento,

    bem baixinho. Se os imortais deixaram de fato algum marco, devem t-lo colocado emponto bem visvel, onde possa ser avistado de longe. O cume de uma montanha seria ideal.

    O argumento era razovel. Groll fez o caa descer sobre a plancie verdejante, nadireo das montanhas prximas. No viu rvore alguma, mas apenas capim alto, com umou outro plat rochoso no meio. Um curso dgua raso serpenteava em mil ramificaesatravs de um emaranhado de ilhas e ilhotas. Paisagem verdadeiramente primitiva,faltando apenas os animais pr-histricos. Deserta e espera da vida ela se estendia sob omorno sol distante.

    Aos poucos, o capim foi se tornando mais curto e ralo. Touceiras esparsas brotavamagora no cho rido, que se tornava cada vez mais seco e duro. Por fim s restou rochanua, que se elevava gradualmente.

    Groll fez o aparelho subir, pois a encosta se tornava mais ngreme. O declive eraacentuado, porm sem acidentes dignos de nota.

    Lossos, com o rosto grudado escotilha, observava atentamente cada particularidadedo terreno desconhecido, buscando vestgios que nem ele prprio podia imaginar comoseriam, ou se existiam realmente. Talvez estivesse perseguindo miragens, devia pensarconsigo mesmo.

    A encosta acabou de repente. Diante do olhar surpreso de Groll estendia-se agora, atos confins do horizonte, uma superfcie plana. Quase um mundo diverso, totalmentediferente da paisagem amena da plancie. Devia ficar a uns dois mil metros de altitude,sem gua nem vegetao de espcie alguma. Um local estril e inspito. Se existira de fatouma civilizao na lua 13B, certamente no se desenvolvera naquele ponto.

  • Lossos parecia no dar a menor importncia mudana de cenrio. Suba um pouco, para termos uma viso de conjunto pediu ao piloto. Preste

    ateno a sinais caractersticos. Pensa mesmo que essa gente deixou marcos beira da estrada? perguntou,

    sacudindo a cabea. Seria absurdo... O que absurdo para ns, pode ser perfeitamente normal para outros, sobretudo

    tratando-se de estranhos argumentou Lossos, serenamente. E vice-versa...Precisamos levar em conta este fato, pois os seres que vivem mais do que o sol tambm oconsideraram. Que diz seu indicador de gravidade?

    Estranhando a brusca mudana de assunto, o sargento Groll consultou seu painel deinstrumentos.

    Deve haver mesmo elementos pesados a embaixo, elementos naturais,obviamente. Ou julga ter descoberto as instalaes subterrneas da raa desconhecida?

    Quem sabe? replicou Lossos, com um sorriso misterioso. At que seria umaagradvel surpresa darmos com a entrada da casa deles, no ?

    Que incorrigvel otimista!, pensou Groll, amaldioando aquele encargo maluco. E,no entanto, a explorao do pequeno mundo poderia ter sido bem agradvel... Sedependesse dele, teria pousado na plancie de relva, para procurar animaizinhos. Na guado rio poderia encontrar bactrias, com a ajuda do microscpio, e...

    Est vendo aquele grupo de rochas isoladas ali adiante?! exclamou o cientistaferrnio, arrancando o piloto de seu devaneio. Aterrize perto dele.

    Sem responder, Groll desviou obedientemente o rumo do aparelho. Contornou umavez, a pouca altura, as rochas irregularmente dispostas, fazendo depois a nave pousar juntodo pedregulho maior. Era uma rea selvagem e acidentada, sem o menor sinal de vida ouvegetao.

    A atmosfera est em ordem. Desa comigo, caso lhe interesse.Groll recusou o convite. Mas depois que o sbio desembarcou pela sada normal,

    desaparecendo entre os rochedos, mudou de opinio. J que estava ali, poderia aproveitar aoportunidade para explorar as redondezas por sua prpria conta. Apanhou num escaninho apequena pistola de raios; aps um rpido exame, enfiou-a no cinto. Trancou a porta docaa, usando uma nova combinao, que s ele conhecia. Ningum poderia entrar noaparelho sem bloquear automaticamente os propulsores.

    O ar era fresco e agradvel. Groll teve a impresso de que o teor de oxignio era umtanto reduzido, pois via-se forado a respirar depressa. Como se estivesse a quatro milmetros de altitude na Terra, pensou. Bem, aquilo no constitua obstculo digno de nota.

    Lentamente, tomou direo idntica do ferrnio, que desaparecera de vista. A reaera grande demais para ser abrangida com o olhar; absurdo imaginar que logo aliencontrariam vestgios de uma civilizao h muito desaparecida. O cho era liso e plano,com pedregulhos esparsos espalhados c e l. As formaes rochosas se destacavam comocolunas contra o cu azul-esverdeado.

    Groll comeou a imaginar como se teriam formado aqueles pilares de rocha. guano existia ali, e os temporais deviam ser raros e fracos. Bem, talvez aquele mundo tivesseaspecto diferente outrora...

    Reinava um silncio quase irreal. Os passos de Groll despertavam ecos nas rochas.Ouvia rudo de outros passos, mas no conseguia determinar em que direo... os doferrnio. Groll parou, e agora s escutava os passos de Lossos, fantasmagricos eimpressionantes. O som vinha da direita e da esquerda, da frente e de trs. Parecia que umbatalho inteiro marchava por entre as colunas rochosas. O eco reverberava um sem

  • nmero de vezes, at encontrar finalmente a procurada sada para o alto. Porm o bemtreinado ouvido do piloto sabia distinguir o eco do som original; no que fosse fcil, masera possvel. Instintivamente o sargento levou a mo cintura; o contato com o metal friodevolveu-lhe a serenidade.

    que, alm dos passos do cientista ferrnio, havia outros passos... lentos, cautelosose sorrateiros.

    Groll e Lossos no estavam sozinhos naquele mundo.

  • 3As experincias haviam sido encerradas por aquele dia. Crest conseguira determinar,inapelavelmente, que os circuitos do hipertransmissor tinham sido interrompidos demaneira deliberada em diversos pontos. Havia igualmente contatos falsos e ligaeserradas, prontas para provocar curtos-circuitos.

    nossa primeira tarefa disse Crest. E temos que resolv-la, como condiobsica para podermos continuar na busca. Ainda temos os planos do hipertransmissor.Com a ajuda do crebro positrnico vai ser fcil obter um esquema simplificado doscircuitos. Talvez um de nossos robs-operrios, devidamente programado, possa reparar osdefeitos deliberadamente provocados.

    Rhodan no teve alternativa seno concordar com Crest. Um dos mutantes ficouvigiando a arca, pois no convinha deix-la mergulhar mais uma vez nos recessos dotempo. O gerador neutralizante permaneceu ligado.

    Rhodan demorou-se noite a dentro na central do grande crebro positrnico arcnida,irmo menor do gigantesco complexo eletrnico em Vnus, ali deixado na poca daAtlntida pela raa dominante no Universo. Infatigavelmente ele enfiava perguntas nosclassificadores, comparando as respostas. Frmula aps frmula escorregava das fendasejetoras. Os tradutores simultneos davam suas instrues atravs dos alto-falantes.Rhodan dialogava com o crebro positrnico como se este fosse um ser vivo. Apresentavasuas perguntas, e recebia as informaes desejadas. E, do ponto de vista positrnico, ocrebro era de fato um ser vivo; afinal, era mais inteligente do que qualquer ser orgnicoexistente no Universo.

    Rhodan s se deu por satisfeito ao ter nas mos o esquema simplificado dos circuitosdo transmissor, e ao ver confirmadas quase todas as suas suposies em relao competio charadstica dos imortais. Agora sabia com certeza que se encontrava na pistado maior segredo do Universo, e que no descansaria enquanto no o revelasse.

    Na manh seguinte, Crest condicionou um dos robs-operrios, cuja especialidadeera a positrnica. Seu raciocnio sinttico foi reajustado para bases pentadimensionais. Porconexo direta com o grande crebro positrnico recebeu a instruo necessria. Dezminutos aps, o rob, construdo segundo moldes arcnidas, transformara-se no maisperito construtor de hipertransmissores de matria do momento. Para ele seria brincadeiraconsertar qualquer aparelho, mesmo os avariados de propsito.

    Rhodan aguardou a tarde antes de voltar para Thorta. Esperara receber algumanotcia do sargento Groll, porm o caa espacial no se manifestara. Mas a falta de notciasno constitua motivo para preocupao; no ardor da pesquisa, Lossos nem se lembraria deenviar comunicaes base. O silncio podia ser interpretado como sinal certo de que osdois homens ainda no haviam deparado com vestgio algum da desaparecida raa imortal.

    A guarda pessoal de Thort no disfarou seu assombro ao ver Rhodan, Crest e Belldesembarcar do hipertransmissor no Palcio Vermelho em companhia do rob. Jamaishaviam visto semelhante reproduo metlica da figura humana.

    No subterrneo tudo continuava no mesmo. Supervisionado por seus donos, o robps-se ao trabalho imediatamente. Em poucos instantes exps as entranhas funcionantes dohipertransmissor. Em circunstncias normais, Rhodan desanimaria diante da barafunda demini-instrumentos eletrnicos e condutos de plstico; no entanto, sabendo-se amparado

  • pelos incomensurveis conhecimentos do crebro positrnico, incorporados no rob,manteve-se sereno e confiante.

    Ser que ele vai conseguir? sussurrou Bell, em voz apenas audvel, como sereceasse ser ouvido pelos prprios proponentes do grande enigma. E se ele der com osburros ngua?

    No acha prefervel calar a boca? observou Rhodan, secamente.Ofendido, Bell afastou-se, enquanto Crest presenciava tudo com seu imutvel sorriso

    compreensivo. Inalterado e tranqilo, o rob desfazia os contatos errados, refazendo-os naordem correta.

    Os minutos foram passando, estendendo-se por uma hora que parecia eterna.Por fim, com um gesto que bem poderia ser interpretado como de satisfao, o rob

    recolocou a tampa magntica sobre o mecanismo interno do hipertransmissor e endireitou-se. Com voz inexpressiva, anunciou:

    O hipertransmissor est pronto para funcionar.Rhodan deu um suspiro de contentamento. Com um olhar de relance a Bell, bateu

    amistosamente no frio ombro metlico do rob, que saa da cabina. Voltando-se paraCrest, pronunciou uma nica palavra:

    Quando?Com um gesto da mo, o arcnida indicou sua indeciso. justamente o que eu me perguntava o tempo todo, Perry. Talvez s amanh... O

    grupo disposto a enfrentar tal risco deve ser muito bem organizado. Podemos ir parar numhipertransmissor cuja parte receptiva esteja em ordem, mas cujo transmissor tenha sidoavariado de forma idntica deste aqui. Parece-me imprescindvel levar o rob. E nopoderemos dispensar um mdico; sendo especialista, o Dr. Haggard seria o mais indicado.

    Necessitaremos de Anne Sloane e John Marshall entre os mutantes acrescentouRhodan, pensativo.

    Exato, isso cobrir todas as eventualidades. O salto para o desconhecido noslevar prxima tarefa, e espero que sejamos capazes de realiz-la.

    Com os olhos presos ao cho, Crest apresentava aspecto profundamente meditativo. H momentos em que nutro srias dvidas, Perry. No seria temerrio querer

    descobrir os segredos de uma grande raa? No estamos fazendo nada proibido observou Rhodan. Eles nos deixaram

    uma pista, para que os segussemos. Teoria sua, Perry. No podemos saber se corresponde realidade. Pessoalmente,

    acho que colocamos nossas vidas em jogo tentando seguir essa pista. Pois minha opinio diametralmente oposta, assim como a do crebro

    positrnico. Ou acha mais conveniente procurar o desaparecido planeta da vida eternaatravs do Universo, sem o menor ponto de referncia? Ele pode estar em todo lugar, e emlugar nenhum.

    s vezes chego a pensar que seria melhor cancelar definitivamente o plano deprocur-lo murmurou Crest.

    Observao que fez Bell recuperar o nimo. De jeito nenhum ia continuar escutandopassivamente aquilo tudo. Alm disso, sabia que desta vez contava com o apoio deRhodan.

    Crest, no entendo voc! exclamou, em tom de reprovao. Quem jogariafora a oportunidade de vir a se tornar imortal? Os desconhecidos recompensam com aimortalidade a soluo do enigma. Basta decifr-lo, e seremos imortais.

  • Suposies e mais suposies, meu caro replicou Crest, mansamente. Concordo que mesmo nossa expedio iniciada em rcon se baseava em suposies ecrnicas antigas. Elas afirmavam a existncia desse planeta, mas isso foi h dez mil anos.

    timo! interveio Rhodan. justamente isto que comprova a veracidade dateoria. Tivemos a prova concreta de que h dez mil anos existiu neste sistema uma raadesconhecida, que, segundo eles prprios afirmavam, vivia mais do que o sol. Ora,segundo os padres humanos, isso corresponde imortalidade. Esta raa a mesma quehabitava seu planeta da vida eterna. Est a o incio da pista. E o verdadeiro objetivo de suaexpedio, Crest, era segui-la.

    O arcnida concordou com certa reticncia. Claro, claro, tem toda a razo, Rhodan. Desculpe minha hesitao e meus contra-

    argumentos. Voc vai depressa demais, e s vezes custoso acompanhar seu ritmo. Apesarde raciocinarmos depressa, ns, arcnidas, agimos bem mais devagar...

    To devagar que seu Imprio foi para o belelu observou Bell, com brutalfranqueza.

    O sorriso de Crest se apagou, porm em seus olhos ainda se lia algo comocondescendncia e compreenso, ao responder:

    Amanh, ento? Bem, estou de acordo. Teremos ainda uma boa noite de repousopara nos fortalecer. bom ver que nossas opinies so iguais. Vamos embora?

    * * *

    O sargento Groll imobilizou-se de encontro rocha. Sensao estranha aquela deestar num planeta desconhecido e encontrar de repente algum. Se soubesse pelo menosquem era... Os pensamentos de Groll disparavam, arquitetando as mais loucas hipteses.Um ser vivo na lua 13B? Ser que Lossos tinha razo? Os misteriosos estranhos quehaviam doado outrora os hipertransmissores aos ferrnios, retirando-se depois paraparagens desconhecidas, viveriam de fato naquela lua? Poderiam realmente ter levado seuplaneta para ali, disfarando-o de lua? E... seriam mal-intencionados?

    A mo de Groll procurou novamente a cintura. O slido cabo da pistola de raiosconstitua um contato tranqilizante; no entanto, restava saber se ela seria til contra seresque raciocinavam na quinta dimenso e construam hipertransmissores de matria; contraentes que haviam imposto sua vontade at a um planeta.

    Mesmo confuso e repleto de dvidas, o sargento Groll no perdeu o nimo.Ocorreu-lhe que talvez viesse a tornar-se a personalidade mais destacada em toda

    aquela expedio de Rhodan. Se tivesse mesmo o privilgio de ser o primeiro a dar com araa procurada...

    Lossos devia ter parado, pois Groll no ouvia mais seus passos. Por instantes escutouainda o leve eco dos sorrateiros passos do perseguidor, depois fez-se silncio total. Apenasuma suave brisa soprava entre os rochedos, semi-aprisionada pelos pilares de pedra. Comum calafrio, Groll segurou com mais fora a arma que tinha no cinto. O polegar tocava odisparador, pronto para atirar. No ousava dar um s passo, temendo chamar a ateno doestranho sobre si. Por enquanto ainda contava com a vantagem da surpresa; era melhor queo desconhecido continuasse pensando que seu nico adversrio era o ferrnio.

    Mas no poderia ficar indefinidamente parado ali, sem tomar iniciativa alguma. Eraresponsvel pela segurana do cientista. E Lossos estava desarmado. Enchendo-se decoragem, Groll avanou um passo. No sabia bem que direo tomar, porm supunha quetanto Lossos como o desconhecido se encontravam por trs da coluna seguinte. O cientista

  • devia estar absorto em seu trabalho, buscando vestgios de uma hipottica civilizaoperdida, sem dar a menor ateno ao que o cercava. E enquanto isso, um inimigo muitovivo se esgueirava para perto dele.

    Apertando os dedos em torno do cabo da arma Groll deu mais um passo, procurandono fazer o menor rudo. Era fcil contornar as pedras espalhadas; e como o cho eraplano, no corria o risco de tropear.

    Sentiu o sangue gelar-lhe nas veias ao ouvir l adiante uma exclamao entusistica.De Lossos, evidentemente. A voz no revelava susto nem alarma, mas antes triunfo. Quesignificaria aquilo?

    Novamente se fizeram ouvir as passadas firmes e enrgicas do ferrnio. Uma ououtra pedra, involuntariamente chutada, rolava lentamente pelo cho; o eco reverberavacontra as rochas. Ouviu-se igualmente a respirao arquejante de quem exercia violentoesforo. Lossos falava sozinho, porm Groll no entendia uma s palavra do que dizia.Mas adivinhou que o ferrnio descobrira algo excitante, que o absorvia completamente.

    O piloto contornou a coluna que os separava, colando-se o mais possvel contra arocha lisa. A estreita garganta alargava-se dali por diante, dando para um pequeno platrodeado por paredes a pique. O longnquo sol Vega descera acentuadamente no horizonte;agora iluminava s os picos mais altos das colunas de pedra. Escurecia visivelmente.

    Mas ainda restava claridade suficiente para ver Lossos removendo afobadamente,com as mos nuas, grandes blocos de pedra. Pelo jeito, tentava chegar a uma formaosemi-enterrada pelo pedregulho solto. Segundo Groll podia ver de onde estava, tratava-sede uma espcie de pirmide, soterrada quase at o cume.

    Lossos desimpedira uma das faces. A parede lisa e regular apresentava em seu meioalgo que parecia uma inscrio. Era aquilo que interessava tanto o cientista.

    Acerca de dez metros dela, na rocha vizinha, via-se um buraco semicircular. A negraabertura vinha a ser uma espcie de tnel, conduzindo s profundezas do solo. Aosderradeiros lampejos do sol, Groll percebeu que o tnel penetrava diagonalmente no cho,quase desde os primeiros dois metros de extenso.

    Lossos ainda no devia ter visto o tnel, seno no concentraria toda a sua ateno napirmide. Groll pensou em gritar para alertar o ferrnio; mas como faz-lo, sem se trair? Aarma em sua mo era, sem dvida, uma defesa contra o perigo iminente, mas onde seocultaria o misterioso caminhante desconhecido? Agachado em algum canto, talvez,observando-o? Ser que j descobrira? Em caso contrrio, por que se mantinha to quietode repente?

    Cautelosamente encostado rocha, Groll avanou mais alguns passos. At a rochavizinha havia um espao aberto de cerca de vinte metros. Lossos e a pirmide ficavam amais ou menos trinta metros de distncia, e a entrada do tnel era um pouco alm.

    Encontrando um nicho na coluna, Groll parou. Aquela posio lhe ofereciaaprecivel vantagem, protegendo-o por todos os lados. Por que no ficar vigiando oferrnio dali, sem se expor inutilmente? O adversrio desconhecido dado o caso detratar-se de fato de um adversrio evidentemente s se preocupava com Lossos. Maiscedo, ou mais tarde, acabaria aparecendo; e Groll poderia entrar em ao, conforme o queas circunstncias exigissem.

    A escurido aumentava rapidamente. Os ltimos raios do sol desapareceram, dandolugar s primeiras estrelas. Entregue s suas pesquisas, Lossos nem parecia dar pelamodificao do ambiente. Mas, afastada a ltima pedra, quando se inclinou para decifrar amisteriosa inscrio, pareceu se dar conta, finalmente, de que estava escuro demais paraconseguir l-la. No se lembrara de trazer uma lanterna. Resmungando a meia voz, ergueu-

  • se e ficou parado, com ar desorientado. Seu vulto se destacava nitidamente contra a rocha;pairando pouco acima do horizonte, o dcimo terceiro planeta fornecia luz suficiente parapermitir a formao de sombras.

    E foi tambm uma sombra que arrancou Groll de sua passividade.O piloto escutara um rudo, bem perto dele. O desconhecido devia estar escondido na

    mesma rocha onde Groll se encostava, a menos de trs metros dele, observando Lossos.Fez-se ouvir novamente o rumor de passos cautelosos... e depois apareceu contra a rochafracamente iluminada um vulto escuro. De tamanho sobrenatural, com contornosvagamente humanos. A cara pontuda e a pele escamosa despertaram em Groll inquietanteslembranas de eras pr-histricas, e, ao mesmo tempo, dos mais recentes acontecimentosno sistema Vega. Porm no tinha muita certeza. Apesar de bem escolado nos princpiosde Rhodan jamais julgar estranhos por sua aparncia fsica sentiu-se imobilizadopelo terror. Incapaz de executar o menor movimento, encolheu-se ainda mais no nichoprotetor, agarrado arma. Em vo seus olhos tentavam distinguir algo na penumbrareinante.

    Lossos erguera-se, aparentemente resignado a encetar o caminho de volta ao caaespacial. Pelo visto, nem percebera a estranha e assustadora sombra, a menos de dezmetros dali.

    Groll forou-se a reagir contra a inrcia que o dominava. Se hesitasse por maisalguns instantes, os vultos indistintos do ferrnio e do estranho se confundiriam de talmaneira que seria impossvel diferenci-los. E no haveria a menor possibilidade deintervir no que poderia vir a acontecer.

    Erguendo a arma, Groll apontou-a para a sombra do desconhecido. Sem tirar osolhos dela, gritou:

    Lossos, cuidado! Corra para a direita! H um ser desconhecido espreitando voc!Depressa!

    No pretendia atirar num ente desconhecido enquanto este no se revelassepositivamente inimigo. E de maneira nenhuma tencionava provocar uma guerra com oshabitantes daquele planeta no conseguia tomar o 13B por simples lua. Afinal, elestinham direitos de sobra para examinar de perto qualquer intruso em seu mundo.

    No entanto, o que se seguiu eximiu-o de tomar decises.A gigantesca sombra lanada sobre o plat no se movia, permanecendo totalmente

    imvel. Groll esperava ver, a qualquer momento, o brilho de alguma arma; e estavafirmemente decidido a retribuir o fogo, caso o estranho atirasse. Mas no aconteceu nadadisso.

    Enquanto o ferrnio, depois de momentnea hesitao, seguia o conselho de Groll,afastando-se com alguns saltos da presumida linha de fogo, o desconhecido aproveitou aoportunidade para escapar.

    Atento aos movimentos de Lossos, Groll distraiu-se por instantes da vigilncia sobreo estranho. Aqueles poucos segundos de desateno foram suficientes. Esparramandopedras por todos os lados, o ente desconhecido se precipitou com a rapidez de uma lebreem fuga para a boca do tnel. Antes que Groll pudesse sequer abrir a boca para gritar, elesumira terra a dentro. O rumor de seus passos apressados foi diminuindo gradativamentedentro do tnel, cada vez mais fraco e distante. Dentro de instantes, o silncio serestabeleceu.

    Groll deixou decorrer ainda um minuto antes de gritar para Lossos: Pode vir! Ele j foi embora! Temos que voltar para o avio. Sabe l que perigos

    ainda rondam por aqui.

  • O ferrnio veio vindo diagonalmente pelo plat; aparentemente muito poucoimpressionado com o perigo que correra. Sem tomar o cuidado de abaixar a voz, gritoupara o piloto.

    Encontrei! Encontrei os seres que vivem mais do que o sol!Irritado, Groll recolocou a arma no cinto, dizendo: Descoberta de pouca utilidade para um cadver!O ferrnio pareceu despertar de repente. Que quer dizer? Ah, o desconhecido? Ora, que bobagem... Algum passeante

    solitrio, na certa. Deve ter se assustado e fugido...Groll tomou a dianteira, murmurando consigo mesmo: , parece que, simbolicamente, o sol no vive muito tempo aqui.

  • 4Mais uma noite se passou.Rhodan estava firmemente decidido a solucionar naquele dia a segunda etapa da

    charada galctica, custasse o que custasse. Reunindo o grupo escolhido para a empreitadaprogramada, dirigiu-se com ele para o Palcio Vermelho de Thorta, usando a cmoda viade transporte do hipertransmissor.

    O rob esperava, em sua imobilidade mecnica. Nada de novo, senhor! informou ele, em resposta pergunta de Rhodan.Acercando-se pela direita, Bell bateu amistosamente no frio ombro da rplica

    mecnia de um arcnida. Acha mesmo que no h perigo em entrar nessa geringona e deixar-se levar sei

    l para onde? O hipertransmissor de matria est pronto para funcionar replicou o rob, sem

    dar resposta direta zombeteira pergunta de Bell. Bem, como voc vai conosco, fico mais sossegado comentou Bell, rindo.

    Duvido que arriscasse a lataria toa; deve estar bem certo do que faz, no ?Desta vez o rob no deu resposta.Rhodan deteve-se pensativamente diante do hipertransmissor por alguns instantes,

    antes de decidir-se a entrar. Crest, o Dr. Haggard, os dois mutantes, Anne Sloane e JohnMarshall seguiram-no em silncio. Bell esperou que o rob tomasse lugar na cabina; sento embarcou, em ltimo lugar.

    A cabina mal dava para acomodar todos. Os participantes humanos da aventurasentiram-se invadidos por um indefinvel sentimento de temor, contra o qual noconseguiam reagir. Parecia-lhes que estavam desafiando o passado.

    A mo de Rhodan repousava sobre a alavanca de partida, igual que acionava osdemais hipertransmissores. Porm desta vez o alvo era diferente: fixado de antemo edesconhecido. Dali por diante estavam entregues ao destino. O ponto de partida era bvio,porm ignoravam onde ficava o receptor correspondente quele hipertransmissor.

    Nossa inquietao compreensvel disse Rhodan porm no tem razo deser. Segundo as dedues lgicas do crebro positrnico, nenhum perigo direto nosameaa. Vamos apenas seguir uma pista traada h milhares de anos, e cuja extenso eponto final desconhecemos. Tambm no sabemos quantas etapas intermedirias serpreciso vencer. Os enigmas nossa frente foram propostos por seres inteligentes, e temosque decifr-los, se quisermos encontrar com eles. A luz de que falam a conservaocelular, a vida eterna.

    Pois eu me decidi: quero encontr-los! disse Crest. Porm havia uma levereticncia em sua voz. Devo isso minha raa. Confesso, no entanto, que no me sintoto confiante quanto voc, Rhodan.

    Duvida da criao de sua prpria raa, o crebro positrnico? No fui eu quetracei nosso rumo, e sim ele, mediante dedues racionais. Jamais se engana.

    Sim, concordo. Mas ele poderia incorrer em erro relativo, caso receba dadosincorretos para a anlise. Que sabemos ns da maneira de pensar dos seres que inventarama grande charada?

    Muita coisa, Crest. Que possuam desenvolvido senso de humor, por exemplo. Esob certo aspecto eram, ou so, at amistosos; pois em caso contrrio no demonstrariam a

  • menor inteno de repartir seu segredo com outros. A charada representa uma medidaacauteladora, a garantia de que nossa inteligncia se equipara deles. J frisei istorepetidamente, Crest, e voc devia convencer-se finalmente do que digo. E eu acredito quepodemos medir-nos com eles.

    Tomara que sim! murmurou Bell, desconsolado. o que espero, pelomenos... Confesso que tambm