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OUTRAS LEITURAS O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, para além de interligar o aperfeiçoamento das competências de comunicação verbal, nas vertentes da oralidade, leitura e escrita, tem igualmente em conta o desenvolvimento da competência não verbal, enquanto comunicação funcional e estética. Da comunicação não verbal fazem parte a linguagem gestual, icónica, plástica e musical. O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, com a secção Outras Leituras, pretende o aperfeiçoamento conjunto da comunicação verbal e não verbal, através da compreensão e interpretação de imagens e filmes, de fotografias e anúncios… Atendendo à polissemia de qualquer descrição, há que atender à relação entre observador e objecto de observação, em oscilação pendular de objectividade e subjectividade. Partindo de imagens e filmes seleccionados, serão considerados contextos, assuntos, técnicas, cores, funções, simbologias e transversalidades. O prazer estético reside no olhar primeiro do criador e no olhar segundo do leitor, transfigurador da realidade inicial. Ambos, porém, condicionados pelas coordenadas históricas e culturais de um tempo e de um lugar. Quanto ao momento de descoberta, esse fica, muitas vezes, resguardado no mais íntimo de cada um. Por isso, agradecemos a todos aqueles que connosco aceitaram compartilhar uma visão interpretativa da criação artística, para sempre registada em papel, tela ou filme.

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OUTRAS LEITURAS

O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, para além de interligar o aperfeiçoamento das

competências de comunicação verbal, nas vertentes da oralidade, leitura e escrita, tem

igualmente em conta o desenvolvimento da competência não verbal, enquanto

comunicação funcional e estética.

Da comunicação não verbal fazem parte a linguagem gestual, icónica, plástica e musical.

O projecto Ler Mais e Escrever Melhor, com a secção Outras Leituras, pretende o

aperfeiçoamento conjunto da comunicação verbal e não verbal, através da compreensão

e interpretação de imagens e filmes, de fotografias e anúncios…

Atendendo à polissemia de qualquer descrição, há que atender à relação entre

observador e objecto de observação, em oscilação pendular de objectividade e

subjectividade. Partindo de imagens e filmes seleccionados, serão considerados

contextos, assuntos, técnicas, cores, funções, simbologias e transversalidades.

O prazer estético reside no olhar primeiro do criador e no olhar segundo do leitor,

transfigurador da realidade inicial. Ambos, porém, condicionados pelas coordenadas

históricas e culturais de um tempo e de um lugar. Quanto ao momento de descoberta,

esse fica, muitas vezes, resguardado no mais íntimo de cada um. Por isso, agradecemos

a todos aqueles que connosco aceitaram compartilhar uma visão interpretativa da criação

artística, para sempre registada em papel, tela ou filme.

Texto 1: Imagem de António Costa Pinheiro Autora: Inês Salvador Rodrigues, nº18,12ºB Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009

O Pintor

António Costa Pinheiro nasceu em Moura, em 1932. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e a Escola Superior de Belas-Artes, em Lisboa.

Na elaboração dos seus quadros, Costa Pinheiro teve o apoio da imaginação poética, assim como de várias referências culturais e estéticas.

Descrição de imagem

Costa Pinheiro, ”80 artistas em Portugal”, ed. Heptágono

A imagem é rectangular, expandindo-se na vertical. Parece ser pintada a óleo. Nela podemos distinguir 3 planos: o céu, o mar e um perfil. É importante referir a

sua profundidade, dada pela sobreposição de diferentes planos, permitindo assim tornar a pintura mais real.

A imagem pode ser dividida em duas: exteriormente é possível observar os traços de perfil de um rosto, enquanto na zona central, e encaixando-se dentro das linhas de perfil, podemos observar uma paisagem exterior, destacando-se o mar, o céu, nuvens, uma gaivota e uma nau.

É notória a existência de luminosidade na zona interior às linhas de perfil, sendo visível um surgimento de tonalidades da cor azul que tende a escurecer à medida que nos aproximamos dos traços do pescoço, sendo a área exterior preenchida a negro.

Analogia com Fernando Pessoa

Esta imagem, a meu ver, é um perfeito retrato interior deste célebre escritor. A parte central do quadro espelha o pensamento, a imaginação de Fernando

Pessoa. A gaivota colocada num plano de tonalidades claras transmite a liberdade do pensamento, da imaginação e a fuga muito ambicionada pelo poeta. A tendência do escurecimento do azul na zona do pescoço pode ser interpretada como a asfixia do sonho, do mundo perfeito idealizado.

Por sua vez, as nuvens, em constante movimento poderão simbolizar a efemeridade da vida sentida por Fernando Pessoa. À nau, associada aos descobrimentos, liga-se o saudosismo e o sucesso, a felicidade desejada pelo poeta na vida. Já o mar, um elemento constante na sua poesia, é o símbolo da dinâmica da vida, sendo uma marca da consciência, da razão, da fragmentação do “eu”, no poema Tudo que faço ou medito:

Tudo o que faço ou medito Fica sempre na metade.

Querendo, quero o infinito. Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim fica Ao olhar para o que faço! Minha alma é lúcida e rica

E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos Fragmentos de um mar de além...

Vontades ou pensamentos? Não o sei e sei-o bem.

Fernando Pessoa

Finalmente, o preto na periferia do quadro simboliza o sofrimento, a infelicidade, a

ânsia da morte como analgésico da vida. Nesta imagem é apenas retratada o perfil de um Homem transmitindo, assim, a

ideia de solidão e do conflito interior, o que é uma constante em Fernando Pessoa, assim como a necessidade de evasão que se reflecte na heteronímia.

Concluindo, esta imagem tem uma função estética pois visa proporcionar um prazer estético. Permite uma análise subjectiva. Assim, cada um poderá interpretá-la à sua maneira e fazer diferentes leituras, como, por exemplo, uma aproximação a Fernando Pessoa.

Texto 2: Figura Com Carne de Francis Bacon Autora: César Marques, nº5,12ºG Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009 Síntese da apresentação

No âmbito da componente oral da disciplina de Português, foi proposto aos alunos que associassem um poema de Fernando Pessoa a uma imagem à sua escolha, para posterior exposição à turma.Deste modo, como matéria-prima para a minha apresentação oral, seleccionei o poema “O Menino da Sua Mãe”, que relacionei com o quadro “ Figura Com Carne”, de Francis Bacon.

A composição figurativa de um homem e uma carcaça pendurada compõe este quadro onde predomina uma paleta de cores frias em contraste com os tons quentes empregues na representação da carne pendurada.

A associação quadro/poema nasce do paralelismo que entendo existir entre a temática destes dois elementos: a efemeridade da vida e a fatalidade do destino.

Se por um lado, o poema contém elementos que remetem para esta temática, como se constata nos versos quinto e sexto da quarta estrofe “E boa a cigarreira/ Ele é que já não serve”, também o quadro, através da conjugação da figura com a carcaça, remete para a incapacidade do Homem escapar à morte, salientando a insignificância da vida humana. Assim, a prevalência da inexistência face à existência causa no Ser Humano, capaz de alterar o ambiente em seu redor conforme a sua vontade, um sentimento de frustração que se traduz no medo da morte, ideia acentuada pela obscuridade da técnica a óleo empregue na obra de Bacon.

A insegurança em relação ao fim conduz a humanidade à histeria em torno da morte. Deste modo, vivemos vidas intensamente preenchidas na ânsia de desfrutar o máximo que podemos em cada momento. Contudo, por muito desagrado que possamos sentir para com esta realidade, tudo o que construímos durante a nossa presença no mundo dos vivos eclipsa-se no momento da morte tornando-nos apenas mais umcadáver, algo que não podemos contornar.

Figura com Carne, Francis Bacon 1954, 129.9 x 121.9 cm

O Menino da Sua Mãe

No plaino abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado -Duas, de lado a lado- Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era! (agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lhe a mãe. Está inteira E boa a cigarreira. Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço… deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece: “Que volte cedo, e bem!” (Malhas que o Império tece!) Jaz morto e apodrece O menino da sua mãe

Fernando Pessoa

Texto 3: O Grito de Edvard Munch Autor: Henrique Mendes, nº13, 12ºE Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009 Análise descritiva da imagem

O Grito, obra expressionista do artista norueguês Edvard Munch, é uma pintura a óleo sobre tela, vertical, realizada em 1893, com as dimensões de 91x73.5 cm.

A imagem apresenta um cenário exterior. Num plano mais distante, vemos o céu com cores quentes (tons de vermelho-sangue e laranja) e, em oposição, abaixo do horizonte, o frio azul do rio. A paisagem, segundo a minha pesquisa, representa Oslofjord, visto da colina de Ekeberg, em Oslo, na Noruega (cidade onde o pintor viveu e viria a morrer). No plano central e mais próximo da imagem, deparamo-nos com uma figura agoniada, numa crise emocional, sem definição de sexo, ou raça, mais simbólica do que realista, o que sugere que a dor do indivíduo é tal como muitas outras pessoas sentem, é universal.

Como curiosidade, descobri que, para além da obra original, Munch realizou outras mais, sendo que, já por duas vezes, foram roubados quadros de”O Grito”.

O Grito, Edvard Munch, 1893

Sobre a sua obra-prima, o pintor escreveu o seguinte: "Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue

– eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul-escuro do fiorde e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza. "

Relacionamento com a obra poética de Fernando Pessoa

Após pesquisar alguns dos poemas de Fernando Pessoa e seus heterónimos e a pintura Moderna, conclui que tanto o poema “Não, não é cansaço” como o quadro “O Grito” fazem referência ao desânimo, tédio e angústia humana.

Enquanto Edvard Munch transmite através da pintura a representação visual desse estado de espírito, com o clímax da angústia representada no grito da personagem, Álvaro de Campos aborda essa temática através da escrita, centrando-se na descrição do cansaço, possível causador do grito.

Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar, E um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Como tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. Não. Cansaço por quê? É uma sensação abstracta Da vida concreta - Qualquer coisa como um grito Por dar, Qualquer coisa como uma angústia Por sofrer, Ou por sofrer completamente, Ou por sofrer como... Sim, ou por sofrer como... Isso mesmo, como...

Como quê?... Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua, Que formidável realejo Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo. Confesso: é cansaço!...

Álvaro de Campos

Plano de Apresentação 1. Referir que a pintura “O Grito”, de Edvard Munch, é de carácter Expressionista.

Mencionar que o Expressionismo foi um movimento artístico e literário surgido nos no séc. XX, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo.

2. Apresentação da pintura “O Grito” de Edvard Munch. 2.1. Reconhecimento do tipo de imagem – pintada a óleo, vertical sobre tela. 2.2. Identificação do assunto – apresentação de um cenário exterior com dois planos, a

paisagem distante, e o indivíduo mais perto. 2.3. Análise da composição da imagem – identificação do tipo de quadro, escolha e

distribuição das cores e mensagem nele contida. 3.Relacionamento da pintura “O Grito” com o heterónimo Álvaro de Campos. 3.1.Explicação da semelhança entre as duas correntes. 3.3. Esclarecimento de possíveis dúvidas e curiosidades sobre o quadro.

Texto 4: Persistência da Memória de Salvador Dalí Autor: Diogo Jorge Menezes Borges, nº12,12ºB Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009  

 

 

“Persistência da Memoria”(1931)  de Salvador Dalí (1904‐1989), importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. 

Análise Descritiva da imagem

O quadro “Persistência da Memória”, é uma pintura pintada a óleo, horizontal e aplicada sobre tela. A imagem inscreve-se num quadro rectangular, organizando-se segundo linhas de força horizontal, que orientam o olhar, cruzando-se com outra direcção ortogonal representada pela oliveira.

Na tela podemos observar um cenário exterior onde se apresentam quatro planos distintos: os rochedos, o mar e a planície e o céu azul.

No fundo da pintura é possível presenciar a paisagem de Porto Lligat, (memória de infância de Dalí). Os rochedos fazem parte do fundo do enquadramento, o local exacto onde os Pirenéus vêm morrer no mediterrâneo e juntamente com o mar, símbolo da dinâmica da vida, ambos fundem-se com o céu infinito.

Na planície, onde se foca o tema do quadro, encontram-se representados três relógios, que marcam diferentes horas. Cada um representa, nomeadamente, o passado, presente e o futuro. Salvador Dalí via os relógios como instrumentos normalizados e exactos que traduziam de forma objectiva a passagem do tempo. A pintura demonstra a obsessão humana com o tempo e memória, através dos relógios, moles e pendurados.

Querendo dizer que o tempo é maleável, não é rígido e sim mutável. O tempo torna-se relativo e assim, passado e presente fundem-se.

O próprio Dalí fica auto-retratado nesta pintura, como figura mole também adormecida sobre uma rocha, sem boca, mas com língua que lhe sai do nariz, como uma premonição do seu tempo futuro. O contraste entre opostos (figuras moles/duras) é acentuado pela relação entre o rigor e o detalhe da representação ao nível das formas, e as dimensões que não são reais permitem a deformação (relógios e o rosto de Dalí).

A escolha e a distribuição de cores frias (verde, azul) e cores quentes (vermelho, cor-de-laranja e amarelo) dão uma ideia do início da noite. Ao mesmo tempo, evocam uma visão de algo imaginário.

Concluindo, trata-se de uma imagem com uma função estética que visa proporcionar um prazer estético. Relacionamento da pintura com a obra de Fernando Pessoa ortónimo

Após um estudo aprofundado de Fernando Pessoa ortónimo e após a análise da imagem “Persistência da Memória” de Salvador Dalí posso concluir que ambos artistas fazem referência, nas suas diferentes correntes (poesia e pintura), à infância e ao tempo. Salvador Dalí na “Persistência da Memória”, refere-se ao tempo como algo que o Homem pode moldar consoante as suas exigências, não algo inflexível dai a sua obsessão. Por outro lado, Fernando Pessoa ortónimo vê o tempo como um factor de desagregação na medida em que tudo é breve e efémero. Simultaneamente, Dalí faz uma alusão à sua infância, colocando como fundo da pintura Porto Lligat, sua terra natal. Fernando Pessoa, similarmente na sua poesia faz a alusão à infância (única fase feliz da sua vida). Ele usa-a, para superar a angústia existencial provocada com o passar do tempo. Plano de Apresentação 1. Referir que a pintura “Persistência da Memória”, de Salvador Dalí, é de carácter Surrealista. Mencionar que o Surrealismo foi um movimento artístico e literário surgido nos anos 20, inserido no contexto das vanguardas que viriam a definir o modernismo. 2. Apresentação da pintura “Persistência da Memória” de Salvador Dalí. 2.1. Reconhecimento do tipo de imagem – pintada a óleo, horizontal sobre tela. 2.2. Identificação do assunto – apresentação de um cenário exterior com quatro planos distintos, objectos e formas geométricas com o devido esclarecimento. 2.3. Análise da composição da imagem – identificação do tipo de quadro, linhas de força utilizadas, escolha e distribuição das cores e a função da imagem. 3. Relacionamento da pintura “Persistência da Memória” com a obra de Fernando Pessoa ortónimo 3.1. Interacção com a turma: “Após a analise da pintura, qual/quais a (s) semelhança (s) entre Salvador Dalí e Fernando Pessoa ortónimo. 3.2. Explicação pessoal da semelhança entre as duas correntes. 3.3. Esclarecimento de possíveis duvidas por parte da turma.

Texto 5: Fotografia da Net «A nostalgia de um bem perdido» Autora: Marisa Gouveia, nº18,12ºG Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009

São escassas as informações que posso fornecer àcerca desta imagem, apenas posso afirmar que se trata de uma fotografia editada, com origem na internet, escolhida cuidadosamente para ilustrar a temática “A nostalgia de um bem perdido”, servindo-se do poema, apenas como referência “Não sei, ama, onde era” e a dicotomia “Sonho/Realidade” presente no poema “Não sei se é sonho, se realidade”, uma vez que estabeleci relações entre elas.

A vivacidade do verde que preenche o fundo, desperta a nossa atenção e remete-nos para a vida. Após a nossa atenção ter sido captada, o nosso olhar é orientado pela linha suave e quase invisível que dá lugar à bolha de sabão. Observamos minuciosamente a imagem e apercebemo-nos que a bolha de sabão se encontra cuidadosamente pousada em cima daquela flor, como se nascesse dela. Estes dois elementos, quase que se fundem num só, encontram-se em plena comunhão com a natureza. Estamos perante uma simbiose tão perfeita que a imagem assume não só a função referencial e descritiva como também estética. Analisamos a sua estrutura e apercebemo-nos que transporta algo dentro de si, ou pelo menos, algo reflectido. Quantos de nós quando éramos crianças tínhamos a sensação que víamos algo a acontecer dentro das bolhas de sabão?

Esquecidas ou não, as bolhas de sabão são uma constante na nossa vida, são uma marca da nossa infância. O estado de simbiose existente entre uma bolha de sabão a nascer da simplicidade de uma flor, assemelha-se à alegria, que na infância tem origem na simplicidade das coisas da vida: “E o jardim tinha flores /De que não me sei lembrar /Flores de tantas cores…/Penso e fico a chorar…”;"Toda aquela alegria/ Mais alegria nascer”. O sujeito de evocação demonstra desejo de recuperar a felicidade perdida, esta que é simbolizada por vocábulos de conotação positiva, marcada por uma relação de proximidade e uma certa afeição à natureza: “Sei que era Primavera/ E o jardim do rei…”; “Que azul tão azul tinha/ Ali o azul do céu!”;” Flores de tantas cores…”. A bolha de sabão reflecte precisamente todos estes elementos presentes no poema: o azul do céu, as árvores e até as flores de tantas cores. A magia das bolhas de sabão é tal, que têm a característica de possuir reflexos das cores do arco-íris, que remetem para uma mistura de vida e sonho. A infância é a inconsciência, o sonho e a felicidade longínquos.

O nosso pensamento funciona um pouco como a lançada de uma bolha de sabão. Se relembramos os tempos de menina(o), admitimos que quando dávamos forma a uma bolha de sabão, a nossa preocupação centrava-se somente em soprar de tal modo, que a bolha atingisse um tamanho gigantesco, tentando evitar que rebentasse. Mesmo que a bolha se desvanecesse sem que déssemos por ela, éramos felizes. Éramos felizes porque

éramos inconscientes. Hoje, se assemelharmos as bolhas de sabão ao nosso pensamento ou à imaginação, a nossa preocupação centra-se no mesmo ponto que na infância: dar forma a bolhas de sabão igualmente grandes. A estrutura das bolhas não se limita à mistura de água e sabão. Misturamos as nossas vivências, os nossos sonhos, como se soprássemos um pouco da nossa interioridade e a lançássemos ao ar. E aí, tal como na vida, temos duas hipóteses: ambicionamos tanto e carregamos a nossa bolha de sabão com tantos sonhos, que ela se torna de tal modo pesada e acaba por rebentar antes de nos deixar à deriva dos nossos pensamentos. Ou então, sonhamos, lançamos a nossa bolha de sabão e ficamos a observá-la a elevar-se o máximo que consegue, suportando o peso dos nossos sonhos. Apesar da dúvida e da incerteza do rumo que estes irão tomar, levamos na nossa consciência os sonhos que depositamos dentro daquela esfera e, mais cedo ou mais tarde irão ruir. A bolha de sabão estoura, quebram-se sonhos e acordamos para a realidade. Tomamos consciência sobretudo da efemeridade da vida.

A bolha assume uma forma esférica que representa a nossa imaginação, o nosso próprio mundo, que apesar de limitado e fechado e de criar uma certa barreira entre o sonho e a realidade, é frágil e encontra-se a um toque de se desfazer. Contudo, os sonhos, assim como as bolhas de sabão, não determinam o lugar onde vamos chegar, mas possuem a força suficiente para nos tirar do lugar onde estamos.

Não sei, ama, onde era, Nunca o saberei…

Sei que era Primavera E o jardim do rei…

(Filha, quem o soubera!...).

Que azul tão azul tinha Ali o azul do céu!

Se eu não era a rainha, Porque era tudo meu?

(Filha, quem o adivinha?).

E o jardim tinha flores De que não me sei lembrar

Flores de tantas cores… Penso e fico a chorar…

(Filha, os sonhos são dores…)

Qualquer dia viria Qualquer coisa a fazer Toda aquela alegria Mais alegria nascer

(Filha, o resto é morrer…).

Conta-me contos, ama… Todos os contos são

Esse dia, o jardim e a dama

Que eu fui nessa solidão… Não sei se é sonho, se realidade. Se uma mistura de sonho e vida;

Aquela terra de suavidade Que na ilha extrema do sul se olvida.

É a que ansiamos. Ali, ali A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes,

Áleas longínquas sem poder ser, Sombra ou sossego dêem aos crentes

De que essa terra se pode ter. Felizes nós? Ah, talvez, talvez,

Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua Só de pensá-la cansou pensar, Sob os palmares à luz da lua, Sente-se o frio de haver luar.

Ah, nesta terra também, também O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,

Nem com palmares de sonho ou não, Que cura a alma seu mal profundo, Que o bem nos entra no coração. É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri.

Poemas de Fernando Pessoa

Texto 6: Maternidade, Almada Negreiros Autora: Maria Inês Reis, nº19,12ºB Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009  

 

Almada Negreiros, Maternidade, 1935

Sobre o autor

José Sobral de Almada Negreiros nasceu em São Tomé e Príncipe, a 7 de Abril de 1893.

Após a morte da mãe em 1896, vem viver com o pai para Lisboa. Durante a sua vida foi pintor, escritor, poeta, dramaturgo, romancista português e ensaísta. Esteve ligado ao movimento modernista em Portugal do qual faziam ainda parte Manuel de Sá Carneiro e Fernando Pessoa, entre outros. Participou ainda na revista Orpheu.

Morreu em Lisboa a 15 de Junho de 1970.

Análise Descritiva da Imagem

O quadro “Maternidade” de Almada Negreiros é de grandes dimensões (100x100cm), é pintado a óleo e aplicado sobre tela.

Almada Negreiros realizou este trabalho em homenagem ao nascimento do filho José. Na tela é possível observar uma mulher jovem sentada no chão segurando nos braços uma criança. O manto e o véu que a mulher possui, simbolizam a protecção que a mãe oferece ao filho. No rosto da mulher está evidenciado um olhar meigo, olhar esse que transmite a paz interior sentida pela figura feminina, e um sorriso que transmite a felicidade por ela sentida. Os pés e mãos da mulher estão representados na tela de uma forma exageradamente grande. Deste modo, eles simbolizam a segurança e protecção que uma mãe dá ao seu filho. Na imagem observamos ainda, que o bebé tem os seus braços esticados o que representa a necessidade que ele tem de se sentir seguro, a necessidade de estar perto da mãe. O uso de vestuário simples é associado à simplicidade de sentimentos. As cores usadas na tela são suaves e claras o que permite evidenciar as figuras presentes no quadro. São usadas principalmente cores primárias, cores frias como o azul e o verde e cores quentes como o amarelo. A luz amarelada transmite o calor e amor materno sentidos pela mulher. A luz existente à volta da figura materna evidencia essa mesma figura.

Para concluir, o autor desta obra consegue de uma forma simples representar uma mãe e um filho que se reconfortam mutuamente. Trata-se de uma imagem com função referencial e descritiva, pois a imagem mostra uma realidade da qual é testemunha.

Relacionamento da pintura com a obra de Fernando Pessoa ortónimo.

Na minha opinião esta tela podia ser associada ao poema “Não sei, ama onde era” (em anexo 1) da temática A nostalgia de um bem perdido de Fernando Pessoa ortónimo. Pois tanto no poema como na imagem a figura feminina (“ama” no poema e mãe na imagem) representa protecção e segurança. Há uma relação de afectividade entre as duas personagens (eu/tu no poema e mãe/filho na tela).

Plano de apresentação

1-Falar de Almada Negreiros. 2-Fazer a apresentação da imagem à turma: -Falar do tipo de imagem (tela pintada a óleo de grandes dimensões) -Falar do assunto (relação entre mãe e filho, necessidade de segurança e protecção por parte do filho. Essa segurança e protecção e dada pela mãe e observada através da imagem pelos pés e mãos demasiados grandes da figura feminina.) -Falar sobre cores (principalmente primarias, frias e quentes, luz amarela que represente o calor e amor maternal) -Falar da função da imagem (referencial e descritiva, pois visa mostrar uma realidade da qual é testemunha). 3-Interacção com a turma: “ Após a análise da tela a qual poema e respectiva temática de Fernando Pessoa associas esta imagem e porquê?” 3.1- Explicação pessoal 3.2-Esclarecimento de dúvidas

Não sei, ama, onde era, Nunca o saberei... Sei que era primavera E o jardim do rei... (Filha, quem o soubera!...). Que azul tão azul tinha Ali o azul do céu! Se eu não era a rainha, Porque era tudo meu? (Filha, quem o adivinha?). E o jardim tinha flores De que não me sei lembrar Flores de tantas cores...

Penso e fico a chorar... (Filha, os sonhos são dores...) Qualquer dia viria Qualquer coisa a fazer Toda aquela alegria Mais alegria nascer (Filha, o resto é morrer...). Conta-me contos, ama... Todos os contos são Esse dia, o jardim e a dama Que eu fui nessa solidão...

Fernando Pessoa, Poesias, 10ªed., Ed. África,

Lisboa, 1978, pp.79/80

Texto 7: O Sono, Salvador Dalí Autora: Maria João Melo, nº22,12ºE Professora: Luzia Reis, Português Data de edição: Janeiro 2009  

 

Salvador Dalí, O Sono, 1937

Análise descritiva da pintura

O Sono, obra do pintor Salvador Dalí, é uma pintura sobre tela, com 51×78 cm. A imagem apresenta um cenário - um céu azul bastante limpo, sendo este bastante

comum nos sonhos. Dali recriou o tipo de cabeça grande e mole, sem corpo como é característico da sua pintura. No entanto, este rosto não demonstra ser um auto-retrato, mas uma representação personificada do sono. Segundo a perspectiva surrealista, é durante o sono e o sonho que o ser humano tem o domínio do inconsciente. O inconsciente, tal como na poesia de Fernando Pessoa ortónimo, está directamente relacionada com a felicidade humana. Assim, o homem adormecido está amparado por inúmeras muletas. Estas representam a fragilidade da inconsciência /irrealidade /sonho /felicidade do homem. Mal o homem acorda, o sonho perde-se, as muletas caiem e depara-se com a realidade que o leva à infelicidade. Apenas durante o sonho e o inconsciente é que o homem tem acesso à felicidade. Se olharmos com maior precisão, notamos que até o cão necessita de muletas para se apoiar durante o seu sono e sonho.

Toda a envolvência da pintura, com uma combinação adequada de cores frias, transmite uma visão para além da realidade, como se de uma alucinação se tratasse. Concluo assim, que se trata de uma imagem com uma função estética (proporciona um prazer estético).

Relacionamento com a obra poética de Fernando Pessoa

Após a análise de alguns poemas de Fernando Pessoa, concluo que o sujeito poético faz a distinção entre o sonho e a realidade, estando o sonho relacionado com o inconsciente e este por sua vez com a felicidade. Assim, conhecendo algumas pinturas de Salvador Dalí estabeleci uma ligação directa entre a obra “O Sono” e o poema “Sonho. Não sei quem sou neste momento” de Fernando Pessoa ortónimo. Em adição, escolhi um pequeno excerto d’ “O Livro do Desassossego” como forma de demonstrar o quão profundamente o sonho “alucina” o homem.

Sonho. Não sei quem sou neste momento. Durmo sentindo-me. Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento, Minha alma não tem alma.

Se existo, é um erro eu o saber. Se acordo Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo. Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões, Fantasmas me limitam e me contêm. Dorme insciente de alheios corações, Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, in ”Obra Poética”

“…Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.

Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentimentos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde...”

Bernardo Soares, in 'O Livro do Desassossego

Plano de apresentação

1. Apresentação da pintura “O Sono” de Salvador Dalí: 1.1. Identificação do tipo de imagem – óleo sobre tela; 1.2. Identificação do assunto – ser humano durante o sono e sonho, cenário azul e

límpido representante do sonho; 1.3. Análise da composição – impressão pessoal do que representa este sonho,

explicação pessoal da existência de muletas a amparar o homem durante o sono. 2. Apresentação do poema “Sonho. Não sei quem sou neste momento” de Fernando

Pessoa ortónimo: 2.1. Explicação da relação encontrada entre e pintura e o poema em questão –

dicotomia entre sonho e realidade semelhante tanto na pintura como no poema. 3. Reflexão final com a turma – novas perspectivas de análise, diferentes da minha

opinião; reflexão em aberto: leitura de um excerto d’ “O Livro do Desassossego”.

Texto 8: Filme Favores em Cadeia, Pay it Forward Actores: Kevin Spacey, Helen Hunt, Haley Joel Osment Autora: Ana Amaro, nº1, 9º A Professora: Conceição Teixeira, Língua Portuguesa Data de edição: Janeiro 2009

Este filme fala-nos sobre um rapazinho chamado Trevor, que andava no 7º ano e tinha 11 anos. Um dia, um professor propos-lhe um trabalho que tinha como objectivo tornar o mundo num sítio melhor. Trevor pensou criar uma corrente de ‘Favores em Cadeia’ que consistia em ajudar três pessoas, cada uma delas ajudar mais três, e assim sucessivamente. O filme desenrola-se à volta deste encadeamento e a partir de um jornalista de Los Angeles que já tinha conhecimento de tudo e se interessava em saber quem tinha criado tal cadeia.

O objectivo deste filme foi mostrar que, a partir de pequenas ideias, o mundo pode tornar-se num sítio melhor e que as pessoas não precisam de ser conhecidas ou grandes crânios para inventar acontecimentos com grandes significados e com capacidade para mudar toda uma história.

Na minha opinião, este filme é fantástico. Tem uma história maravilhosa que é capaz de modificar os nossos pensamentos e ideias da vida. Abrange temas como a violência entre os jovens, o relacionamento na família, e de como o amor é capaz de superar barreiras jamais ‘batidas’. O balanço deste filme é positivo, apesar de eu pensar que o final é trágico demais para um filme tão magnífico.

Texto 9: Filme Eduardo Mãos de Tesoura, Edward Scissorhands (1990) Actores: Johnny Depp, Winona Rider, Diane Wiest Autores: João Santos, nº7, 7º B Professora: Teresa Sousa, Inglês e Estudo Acompanhado Data de edição: Janeiro 2009

O filme que a minha turma observou durante duas aulas, chamado “Eduardo mãos de Tesoura”, conta-nos a história de um inventor que vivia num castelo no topo de uma colina e cuja maior criação era o Eduardo. O inventor tinha uma personalidade muito forte, mas como todo o ser humano, não era perfeito. Quando o inventor morreu deixou o Eduardo incompleto e dotado de afiadas tesouras em vez de mãos. O Eduardo vivia sozinho na escuridão do castelo, até que um dia uma vendedora de uma cidade chamada “ Avon” o adoptou, passando Eduardo a viver com a sua família. Eduardo começou a fantástica aventura num paraíso chamado subúrbias. Passou a fazer cortes em arbustos, e um dia fez um corte artístico em gelo representando a filha da vendedora que o adoptou que se chamava Kim. Contudo houve um azar e ele sem querer cortou a palma da mão da Kim. O namorado dela viu o que se passou e mandou Eduardo abandonar aquela casa. Muito aborrecido e triste, Eduardo regressou ao castelo. Mas como a Kim ficou apaixonada pelo Eduardo, foi atrás dele, para lhe dizer que o amava mas o namorado dela segui-os com uma arma com a intenção de matar o Eduardo. Quem acabou por morrer, sem querer, foi o namorado dela. E só depois é que ela pôde dizer o quanto amava Eduardo. Resumindo, foi um belo filme, que nos transmitiu uma boa lição de moral:”Não devemos julgar os outros pela aparência.” Uma pessoa por muito que diferente que seja deve ser respeitada e amada e não a devemos afastar das pessoas normais sem deficiências.

Texto 10 : Filme Eduardo Mãos de Tesoura, Edward Scissorhands (1990) Actores: Johnny Depp, Winona Rider, Diane Wiest Autores: Rafael Maia Ferreira, nº14, 7º B Professora: Teresa Sousa, Inglês e Estudo Acompanhado Data de edição: Janeiro 2009

Eu acho que o filme foi muito interessante, porque consegue ensinar que as pessoas, por mais que sejam deficientes psicologicamente ou fisicamente, podem sempre ter uma vida normal como a de qualquer ser humano; podem comer, respirar, brincar, fazer desporto (com ajuda das novas tecnologias), trabalhar e estudar, em alguns casos.

O "Eduardo mãos de tesoura" tinha tesouras em vez de mãos, o que toda a gente achava "estranho", uma deficiência.

Ele e a senhora que o ajudou a tornaram isso numa qualidade; fizeram cortes de cabelo, imagens com as plantas, fez cortes artísticos aos cães, mas nem toda a gente ficou contente.

Uns tinham preconceitos, outros pensavam que ele era um assassino. Eduardo tentou fugir a esses pensamentos, pois salvou uma criança de um atropelamento, mas com aquelas tesouras acabou por cortar o rapaz. Foi então que as pessoas o designaram oficialmente como assassino, menos a pessoa que o amava, que acabou por o ajudar a fugir de um homem que lhe queria bater.

O que sucedeu foi que o homem que tentou bater a Eduardo morreu e a mulher que ele amava disse que ele tinha desaparecido, não sendo essa a verdade. Eu não acho que seja uma boa forma de resolver esse assunto.