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Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos RMatos

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Fernando Pessoa Ortónimo e Heterónimos

RMatos

Fernando Pessoa – o poetodrama

(…) A obra de [Fernando Pessoa] é uma literatura

inteira, isto é, um conjunto de autores a que ele chamou os seus “heterónimos”, cada um dos quais tem um estilo e uma atitude que os distingue dos mais. Um deles, de nome Ricardo Reis, é um latinista (1) e semi-helenista (2), com uma tranquilidade horaciana (3) na forma e o correspondente epicurismo (4). Outro, Alberto Caeiro, o poeta para quem “o único sentido íntimo das coisas é não terem sentido íntimo nenhum”, o poeta que nega qualquer forma “de religiosidade, qualquer coisa em si”, de certa maneira o Antipascoaes (5). O seu estilo é um verso livre maravilhoso de fascinação no seu pretenso prosaísmo, que lembra o poeta americano Walt Whitman. Um terceiro é Álvaro de Campos, en que pôs “toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida”, uma personagem complexa, um engenheiro que se interessa pelas máquinas e pela vertiginosa criação técnica do século, mas também se interroga sobre o mais íntimo do seu “eu”. Um quarto é Fernando Pessoa-ele-mesmo, que usa o verso tradicional, rimado, admiravelmente musical, buscando, não as mãos, mas o gesto da tocadora de harpa, perplexo perante uma coerência impessoal que olha pelos seus olhos e se encontra além do som da cantiga que ouviu. Este é também o autor de Mensagem, um conjunto de poemas de inspiração ocultista e épico-messiânica, o único livro publicado pelo autor nas vésperas da sua morte, em 1934. Talvez pudesse falar-se ainda de outras personagens ocasionais ou apenas esboçadas. O mais notável no conjunto destes heterónimos é que, embora a problemática lhes seja, pelo menos parcialmente, comum, cada um possui um estilo que lhe é próprio, correspondente na uma atitude que é mais do que uma simples doutrina. Pessoa insistiu várias vezes na realidade dos seus heterónimos e no carácter dramático da sua obra, o que lançou os seus críticos numa perplexidade compreensível. (…) A temática dos heterónimos só pode classificar-se como metafísica: o que é a realidade daquilo a que chamamos realidade? Há algum significado nas coisas, além dos seu simples ser? Que espécie de coisa se manifesta no que supomos ser a nossa consciência? Mas, sendo, com se diz, “filosóficos” estes e outros temas, a poesia de Pessoa não é uma poesia filosófica no sentido usual desta expressão, ou seja, não é uma meditação sobre temas filosóficos. (…)

1 Fernando Pessoa

Breve nota biográfica

[O leitor] tem nele [em Fernando Pessoa] uma matéria ilimitada para se deleitar, quer o seu gosto se incline para a musicalidade do verso, quer para o imprevisto das metáforas ou para qualquer outra das seduções que oferece a literatura. Também encontrará uma grande diversidade de ideias a seu gosto, e até mesmo de sentimentos com que se identificar, visto que o poeta os usou variadamente no jogo dos seus heterónimos. “Sentir, sinta quem lê”, escreveu Pessoa-ele-próprio, e não há razão para o leitor não tomar à letra o convite, apesar do seu tom sarcástico. É o que, de resto, não só os leitores, mas também os críticos, quase todos têm feito.

António José Saraiva, Iniciação na Literatura Portuguesa, Lisboa

Ed. Público/Gradiva, 1996 (texto com supressões)

2 Fernando Pessoa

Teoria poética

A Teoria poética de Fernando Pessoa

Não há arte sem imaginação (intelectualização), não há arte sem que o real seja imaginado (intelectualizado) de modo

a exprimir-se artisticamente, concretizando-se em Arte. O verdadeiro poeta transfigura, imagina, trabalha intelectualmente aquilo que vive, aquilo que sente – gozo ou dor, sensação/sentimento. Fingir: neste caso não significa mentir, enganar, ludibriar, aldrabar. Fingir, segundo a teoria poética de Fernando Pessoa, é modelar, mudar, transformar, transfigurar, intelectualizar, criar. O poeta recria, transfigura, imagina, intelectualiza, modela a dor (o sentimento, a sensação) que efectivamente experimentou. Depois, dá-se o retorno à dor inicial que, imaginada, parece mais autêntica do que a dor real. Há uma sobreposição do objecto artístico à realidade objectiva que lhe serviu de base. A base de toda a arte não é a insinceridade (a mentira, a falsidade), mas sim uma sinceridade traduzida, transfigurada, artisticamente trabalhada (modelada, transfigurada, intelectualizada). A arte é a intelectualização da sensação, (do sentimento) através da expressão. A intelectualização é dada na, pela e mediante, a própria expressão. «Toda a emoção verdadeira é mentira na inteligência, pois não se dá nela.» Para que a emoção seja esteticamente verdadeira, tem de dar-se (ou de repetir-se, transformando-se) na inteligência do poeta.

A emoção do leitor será ainda outra porque as palavras do poema são estímulos que, provocando um estado de alma, não o determinam na totalidade. No acto de ler, convergem o objectivo e o subjectivo. «Herdeiro como António Nobre do gosto garrettiano pelo popular, também o seduz [a Fernando Pessoa] o mundo fantástico da infância (…) Mas [Fernando Pessoa] separa-se de António Nobre, como da tradição lírica portuguesa de “coração ao pé da boca”, pelo seu estrutural anti-sentimentalismo, a ausência do biográfico na sua poesia, a tendência para reduzir as circunstâncias concretas a verdades gerais.

O sentimentalismo confessional estava naturalmente fora do seu caminho, porque Pessoa viveu essencialmente pela inteligência intuitiva ou discursiva, pela sensibilidade que lhe é própria, e pela imaginação. «Eu simplesmente sinto/Com a imaginação/Não uso o coração.»

Professor Doutor Jacinto do Prado Coelho

A composição de um poema lírico deve ser feita não no momento da emoção, mas no momento da recordação dela. Um poema é um produto intelectual e uma emoção, para ser intelectual, tem, evidentemente, (porque não é de si intelectual) que existir intelectualmente. Ora a existência intelectual de uma emoção é a sua existência na inteligência, isto é, na recordação, única parte da inteligência, propriamente tal, que pode conservar uma emoção. Fingir: construir; imaginar; transfigurar, criar, intelectualizar.

«J’ai pétri de la boue, j’en ai fait de l’or.» Baudelaire, poeta francês. («Amassei a lama e transformei-a em ouro.»)

A obra de arte literária é a transfiguração artística operada pela inteligência (=imaginação). O acto de criação poética é

a síntese da sensação com a imaginação (=inteligência). Em “Isto”, Fernando Pessoa apresenta-se como “eu”, poeta intelectual por excelência. O fingimento do poeta é o

trabalho mental que tudo transfigura por meio da imaginação. O fulcro da grande poesia não está nas sensações (no coração, na sensibilidade), mas na inteligência (=imaginação). A arte poética de Fernando Pessoa nasce da abstracção do mundo sensível. Só quando o poeta é „livre do seu enleio‟, (poema “Isto”), ou seja, só quando o poeta se sente livre do mundo sensível é que pode dar-se o milagre da poesia. Poema “Isto” de Fernando Pessoa: «o que está ao pé» - o mundo das sensações, dos sentimentos. «O que não está ao pé»: - «outra coisa ainda/Essa coisa é que é linda»: este é o mundo da inteligência das realidades puras, da essência, da imaginação transfiguradora.

3 Fernando Pessoa

Ortónimo

Fernando Pessoa – Ortónimo

Há uma personalidade poética activa que mantém o nome de Fernando Pessoa e, por isso, se designa ortónimo. Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo tradicional: sensibilidade, suavidade, linguagem simples, ritmo melodioso com marcas do Saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura: experiências modernistas do Simbolismo, do Paulismo e do Interseccionismo, e nos heterónimos.

Tensão/Sinceridade/Fingimento, Consciência/Inconsciência, Sentir/pensar

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que inventa, fala, elabora conceitos e que se identifica com a própria criação poética. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.

Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a elaboração estética, conciliando a oposição razão/sentimento. Recorrendo ao Interseccionismo, tenta encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência, entre as dialécticas sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sentir/pensar.

O Interseccionismo, que surge como uma evolução do Paulismo, apresenta-nos o entrecruzamento de planos: intersecção de sensações ou percepções, de realidades físicas e psíquicas, de realidades interiores e exteriores, de sonhos e das paisagens reais, do espiritual e do material, de tempos e de espaços, da horizontalidade com a verticalidade. Daí a intelectualização do sentimento para exprimir a arte, que fundamenta a teoria do fingimento (está bem presente neste movimento de oposições e que leva Pessoa a afirmar que “fingir é conhecer-se”).

Artisticamente considera que a mentira “é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento (que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir), assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.” (in

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, de Bernardo Soares).

No Interseccionismo encontramos o processo de realizar o Sensacionismo, na medida em que a intersecção de sensações está em causa e por elas se faz a intersecção da sensação e do pensamento. E, neste jogo, dialéctico, o sujeito poético revela-se duplo, fragmentado, na busca de sensações que lhe permitam a felicidade pura ansiada, mas inacessível, levando-o à frustração que a consciência de si implica. O Tempo e a Desagregação: o regresso à infância

Do mundo perdido e fantástico da infância, Pessoa sente a nostalgia. Ele que foi “criança contente de nada” e que em adolescente aspirou a tudo, experimenta agora a desagregação do tempo e de tudo. Um profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba “sem alegria nem aspiração”. Tenta manter vivo o “enigma” e a “visão” do que foi, restando-lhe o cansaço, o tédio, a inquietação, a solidão e a ansiedade (Ex.: “Quando as crianças

brincam”).

4 Fernando Pessoa

Ortónimo

Fernando Pessoa – Ortónimo

As Temáticas: - a intersecção entre o sonho de um tempo em que o poeta diz ter sido feliz e a realidade (ex.: “Chuva Oblíqua”); - a angústia existencial e a nostalgia de um tempo perdido (do Eu, de um bem perdido, das imagens da infância…); A distância entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração (“Tudo o que faço ou medito”); - a máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar (ex.: “Autopsicografia”); - a intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte; - o ocultismo como fonte de explicação da realidade e o hermetismo (ex. : “Eros” e “Psique”); - tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.

Linguagem e estilo: - linguagem simples, espontânea mas sóbria, simbólica e esotérica; - recorrência frequente a adjectivos, comparações, metáforas e imagens para traduzir constatações ou reflexões; - preferência pela métrica curta, tradicional – redondilha; - aliterações, onomatopeias (imitação de sons),

utilização de rima

5 Alberto Caeiro

Heterónimo

Alberto Caeiro – O Mestre Ingénuo (1889 – 1915)

Fernando Pessoa explicou a “vida”de cada um de seus heterónimos. Assim apresenta a vida do mestre de todos, Alberto Caeiro:

"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."

Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição na sua poesia, como podemos observar nos 49 poemas da série O Guardador de Rebanhos. Segundo Pessoa, foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exactamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade.

“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem por que ama, nem o que é amar...”

Nasceu em em 1889, em Lisboa, e morreu em

1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase nenhuma: apenas a instrução primária. era de estatura média, frágil, mas não o aparentava. Era louro, de olhos azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e deixou-se ficar em casa a viver dos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Escrevia mal o Português. É o pretenso mestre de A. de Campos e de R. Reis. É anti-metafísico; é menos culto e complicado do que R. Reis, mas mais alegre e franco. É sensacionista. Alguns temas de eleição:

Negação da metafísica e valorização da aquisição do conhecimento através das sensações não intelectualizadas.; é contra a interpretação do real pela inteligência; para ele o real é a exterioridade e não devemos acrescentar-lhe as impressões subjectivas. Os poemas O Mistério das coisas, onde está ele? e Sou um guardador de rebanhos mostram-nos estas ideias.

Negação de si mesmo, projectado em Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois; Atracção pela infância, como sinónimo de pureza, inocência e simplicidade, porque a criança não pensa, conhece pelos sentidos como ele, pela manipulação dos objectos pelas mãos, como no poema Criança desconhecida e suja brincando à minha porta.

Poeta da Natureza, na sua perpétua renovação e sucessão, da Aurea Mediocritas, da simplicidade da vida rural; A vivência da passagem do tempo não existe, são só vivências atemporais: o tempo é ausência de tempo. Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.

Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afecta Pessoa.

Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo.

Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza. É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objectos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poética, mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objectividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.

Objectivismo - apagamento do sujeito; - atitude antilírica; - atenção à “eterna novidade do mundo”; - integração e comunhão com a Natureza; - poeta deambulatório.

Sensacionismo - poeta das sensações tal como elas são; - poeta do olhar; - predomínio das sensações visuais (“Vi como um danado”) e das auditivas; - o “Argonauta das sensações verdadeiras”.

Anti-metafísico (“Há bastante metafísica em não pensar em nada.”) - recusa do pensamento (“Pensar é estar doente dos olhos”); - recusa do mistério; - recusa do misticismo.

Panteísmo Naturalista - tudo é Deus, as coisas são divinas (“Deus é as árvores e as flores/ E os montes e o luar e o sol...”); - paganismo; - desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual (“Não quero incluir o tempo no meu esquema”); - contradição entre “teoria” e “prática”.

6 Alberto Caeiro

Heterónimo

Alberto Caeiro – O Mestre Ingénuo (1889 – 1915)

A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro *nasceu em Lisboa (1889); *morreu tuberculoso em 1915; *viveu quase toda a sua vida no campo; *só teve instrução primária; *não teve educação, nem profissão; *escreve por inspiração; Filosofia de Caeiro: *é anti-religião; *é anti-metafísica; *é anti-filosofia; Fisicamente: *estatura média; *frágil; *louro, quase sem cor; *olhos azuis; *cara rapada;

Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem

princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo; por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.

“Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada ao longo dos séculos.”

“Poeta bucólico de espécie complicada.” “Pastor metáfora.” Para Caeiro fazer poesia é uma atitude

involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo.

Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado. - Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências; - Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) - Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza) - Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito).

- Verso livre - Métrica irregular - Despreocupação a nível fónico - Pobreza lexical (linguagem simples, familiar) - Adjectivação objectiva

- Pontuação lógica - Predomínio do presente do indicativo - Frases simples - Predomínio da coordenação - Comparações simples - Raras metáforas

6 Alberto Caeiro

Heterónimo

Alberto Caeiro – O Mestre Ingénuo (1889 – 1915)

CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS - Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Proximidade da linguagem do falar quotidiano, fluente, simples e natural; - Pouca subordinação e pronominalização; - Ausência de preocupações estilísticas; - Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo; - Vocabulário simples e familiar, em frases predominantemente coordenadas, repetições de expressões longas, uso de paralelismo de construção, de simetrias, de comparações simples. - Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: (dando uma impressão de pobreza lexical) pouca adjectivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (acções ocasionais) ou no gerúndio. (sugerindo simultaneidade e arrastamento); - Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples.

Alberto Caeiro - Vê a realidade de forma objectiva e natural - Aceita a realidade tal como é, de forma tranquila; vê um mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim; existir é um facto maravilhoso. - Recusa o pensamento metafísico (“pensar é estar doente dos olhos”), o misticismo e o sentimentalismo social e individual. - Poeta da Natureza - Personifica o sonho da reconciliação do Universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza - Simples “guardador de rebanhos” - Inexistência de tempo (unificação do tempo) - Poeta sensacionista (sensações): especial importância do acto de ver - Inocência e constante novidade das coisas - Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos - Relação com Pessoa Ortónimo – elimina a dor de pensar - Relação com Pessoa Ortónimo, Campos e Reis – regresso às origens, ao paganismo primitivo, à sinceridade plena Características: Importância dos sentidos, nomeadamente a visão; O incomodo de pensar associado à tristeza; Ele não quer pensar, mas não o consegue evitar; Escreve intuitivamente; Para ele a natureza é para usufruir, não é para pensar; Desejo de despersonificação (de fusão com a natureza); Ligação das orações por coordenações e subordinações; Poeta bucólico, do real e do objectivo; Valorização das sensações; Amor pela vida e pela natureza; Preocupação apenas com o presente; Critica ao subjectivismo sentimentalista; Na Linguagem: Predomínio do Presente do Indicativo; Figuras de estilo muito simples; Vocabulário simples e reduzido; (pobreza lexical); Uso da coordenação para a ligação das orações; Frases incorrectas; Aproximação à linguagem falada, objectiva, familiar, simples; Repetições frequentes; Uso do paralelismo; Pouca adjectivação; Uso dos substantivos concretos; Ausência da rima; Irregularidade métrica; Discurso em verso livre; Estilo coloquial e espontâneo;

Ricardo Reis – O Mestre da Razão

A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro

- nasceu no Porto (1887);

- foi educado num colégio de jesuítas ;

- ”É latinista por educação alheia e semi-helenista por

educação própria”;

- médico;

- viveu no Brasil, expatriou-se voluntariamente por ser

monárquico;

- Interesse pela cultura Clássica, Romana (latina) e Grega

(helénica);

Fisicamente:

- ”Um pouco mais baixo, mas forte, mais seco” do que

Caeiro;

- ” de um vago moreno”; cara rapada;

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o

poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com

calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as

coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro

rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são

poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro

aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora

das nossas emoções e sentimentos, mas defende,

sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada

pela indiferença à perturbação.

A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo

triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”,

como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos

dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da

felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se

consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de

acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia

estóica:

- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai

a vida em cada dia, como caminho da felicidade;

- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);

- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);

- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).

Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo

espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo

neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas

que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-

latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a

transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e

tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene

diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera

que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma

equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.

A precisão verbal e o recurso à mitologia,

associados aos princípios da moral e da estética epicuristas

e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas

do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da

serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a

elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina,

frequentemente com a inversão da ordem lógica

(hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e

disciplinadas.

A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.

- A concepção dos deuses como um ideal humano;

- As referências aos deuses da Antiguidade (neo-

paganismo) greco-latina são uma forma de referir a

primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos

exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou

da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de

todos os heterónimos;

- A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos

homens.

7 Ricardo Reis

Heterónimo

Epicurismo

- busca da felicidade relativa;

- moderação nos prazeres;

- fuga à dor;

- ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação);

- prazer do momento;

- Carpe Diem (caminho da felicidade, alcançada pela

indiferença à perturbação);

- não cede aos impulsos dos instintos;

- calma, ou pelo menos, a sua ilusão;

- ideal ético de apatia que permite a ausência da paixão e a

liberdade.

Estoicismo: considera ser possível encontrar a felicidade

desde que se viva em conformidade com as leis do destino

que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e

às paixões, que são perturbações da razão;

- aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica,

nada deixa e nunca regressa.”)

- indiferença face às paixões e à dor

- abdicação de lutar

- autodisciplina

Horacianismo

- carpe diem: vive o momento

- aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do

campo (proximidade de Caeiro)

· Paganismo

- crença nos deuses

- crença na civilização da Grécia

- sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia

- culto do Belo, como forma de superar a efemeridade dos

bens e a miséria da vida

- intelectualização das emoções

- medo da morte

- quase ausência de erotismo, em contraste com o seu

mestre Horácio

Neoclassicismo

- poesia construída com base em ideias elevada

- Odes (forma métrica por excelência)

7 Ricardo Reis

Heterónimo

CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

- Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita

corresponde uma expressão perfeita;

- Estrofes regulares de verso decassílabo alternadas ou não

com hexassílabo;

- Verso branco

- Recurso frequente à assonância, à rima interior e à

aliteração;

- Predomínio da subordinação;

- Uso frequente do hipérbato;

- Uso frequente do gerúndio e do imperativo;

- Uso de latinismos (astro, ínfero, insciente...);

- Metáforas, eufemismos, comparações, imagens.

Estilo construído com muito rigor e muito denso

- Classicismo erudito:

- precisão verbal;

- recurso à mitologia (crença e culto aos deuses);

- princípios de moral e da estética epicurista e estóica;

- tranquila resignação ao destino;

- Poeta Intelectual, sabe contemplar: ver intelectualmente a

realidade;

- Aceita a relatividade e a fugacidade das coisas;

- Verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada

e serena;

- Características modernas no poeta: angústia e tristeza.

Linguagem e estilo:

- privilegia a ode, o epigrama e a elegia;

- usa a inversão da ordem lógica, favorecendo o ritmo das

suas ideias disciplinadas;

- estilo densamente trabalhado, de sintaxe alatinada,

hipérbatos, apóstrofes, metáforas, comparações, gerúndio

e imperativo;

- verso irregular e decassilábico.

“Reis procura simplesmente aderir ao momento presente,

gozá-lo, sem nada mais pedir.”

*”epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer

moderado a da ataraxia;

*busca do prazer relativo;

*estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das

coisas;

*moralista – pretende levar os outros a adoptar a sua

filosofia de vida;

*intelectualiza as emoções;

*temática da miséria da condição humana do FATUM

(destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da

efemeridade da vida, do tempo;

*espírito grave , ansioso de perfeição;

*aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;

7 Ricardo Reis

Heterónimo

Na Linguagem:

*linguagem erudita alatinada, quer no vocabulário

(latinismos), quer na construção de frase (hipérbato);

*preferência pela Ode de estilo Horácio;

*irregularidade métrica;

*gosto pelo gerúndio;

*uso frequente do imperativo;

*estilo laboriosamente trabalhado; elegante; pesado;

*importância dada ao ritmo;

8 Álvaro de Campos

Heterónimo

Álvaro de Campos

A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro *nasceu em Tavira a 15 de Outubro de 1890 (às 13:30); *”Teve uma educação vulgar de liceu”; *foi para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval (Glasgow); *numas férias fez uma viagem ao Oriente de onde resultou o “Opiário”; *um tio beirão que era padre ensinou-lhe Latim; *inactivo em Lisboa;

Fisicamente: *usa monóculo; *é alto (1.75 m); *magro, cabelo liso apartado ao lado; *cara rapada, tipo judeu português;

Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.

Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.

Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.

Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.

Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

TRAÇOS DA SUA POÉTICA - poeta modernista - poeta sensacionista (odes) - cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”) - cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”) - cultor das sensações sem limite - poeta do verso torrencial e livre - poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral - poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”) - observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto - poeta da angústia existencial e da auto-ironia

8 Álvaro de Campos

Heterónimo

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente) - exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações - traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia - marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens) - abulia, tédio de viver - procura de sensações novas - busca de evasão

“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.” “E eu vou buscar o ópio que consola.”

2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – FUTURISTA/SENSACIONISTA

Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. - celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna - apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina; - exalta o progresso técnico, a velocidade e a força; - procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante; - canta a civilização industrial; - recusa as verdades definitivas; - estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita; - intelectualização das sensações; - a sensação é tudo; - procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”; - cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino; - tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir; - exprime a energia ou a força que se manifesta na vida; - versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oxímoros); Futurismo - elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal); - ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional; - atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida. Sensacionismo - vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro); - sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal); - cantor lúcido do mundo moderno.

3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO Perante a incapacidade das realizações, traz de

volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância. - caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração; - face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido; - frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior; - dissolução do “eu”; - a dor de pensar; - conflito entre a realidade e o poeta; - cansaço, tédio, abulia; - angústia existencial; - solidão; - nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário).

Linhas Temáticas Expressividade da linguagem

" O canto do Ópio; " O desejo dum Além; " O canto da civilização

moderna; " O desejo de sentir em

excesso; " A espiritualização da

matéria e a materialização do espírito;

" O delírio sensorial; " O sadomasoquismo; " O pessimismo; " A inadaptação à

realidade; A angústia, o tédio, o cansaço;

" A nostalgia da infância;

" A dor de pensar.

Nível fónico a) Poemas muito extensos e poemas curtos; b) Versos brancos e versos rimados; c) Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas; d) Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas

Nível morfossintáctico a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos; b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.

Nível semântico a) Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas,

polissíndetos.

8 Álvaro de Campos

Heterónimo

TRAÇOS ESTILÍSTICOS - verso livre, em geral, muito longo; - assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas); - grafismos expressivos: - mistura de níveis de língua; - enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva; - desvios sintácticos; - estrangeirismos, neologismos; - subordinação de fonemas; - construções nominais, infinitivas e gerundivas; - metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles; - estética não aristotélica na fase futurista.