otimização da alocação de experimentos na carga útil do foguete de

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sid.inpe.br/mtc-m21b/2016/02.02.12.42-TDI OTIMIZAÇÃO DA ALOCAÇÃO DE EXPERIMENTOS NA CARGA ÚTIL DO FOGUETE DE SONDAGEM UTILIZANDO INTELIGÊNCIA COMPUTACIONAL HÍBRIDA Elder Figueiredo Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Computação Aplicada, orientada pelo Dr. Lamartine Nogueira Frutuoso Guimarães, aprovada em 18 de fevereiro de 2016. URL do documento original: <http://urlib.net/8JMKD3MGP3W34P/3L4P8DB> INPE São José dos Campos 2016

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    OTIMIZAO DA ALOCAO DE EXPERIMENTOSNA CARGA TIL DO FOGUETE DE SONDAGEMUTILIZANDO INTELIGNCIA COMPUTACIONAL

    HBRIDA

    Elder Figueiredo

    Dissertao de Mestrado doCurso de Ps-Graduao emComputao Aplicada, orientadapelo Dr. Lamartine NogueiraFrutuoso Guimares, aprovada em18 de fevereiro de 2016.

    URL do documento original:

    INPESo Jos dos Campos

    2016

    http://urlib.net/8JMKD3MGP3W34P/3L4P8DB

  • PUBLICADO POR:

    Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPEGabinete do Diretor (GB)Servio de Informao e Documentao (SID)Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970So Jos dos Campos - SP - BrasilTel.:(012) 3208-6923/6921Fax: (012) 3208-6919E-mail: [email protected]

    COMISSO DO CONSELHO DE EDITORAO E PRESERVAODA PRODUO INTELECTUAL DO INPE (DE/DIR-544):Presidente:Maria do Carmo de Andrade Nono - Conselho de Ps-Graduao (CPG)Membros:Dr. Plnio Carlos Alval - Centro de Cincia do Sistema Terrestre (CST)Dr. Andr de Castro Milone - Coordenao de Cincias Espaciais e Atmosfricas(CEA)Dra. Carina de Barros Melo - Coordenao de Laboratrios Associados (CTE)Dr. Evandro Marconi Rocco - Coordenao de Engenharia e Tecnologia Espacial(ETE)Dr. Hermann Johann Heinrich Kux - Coordenao de Observao da Terra (OBT)Dr. Marley Cavalcante de Lima Moscati - Centro de Previso de Tempo e EstudosClimticos (CPT)Silvia Castro Marcelino - Servio de Informao e Documentao (SID)BIBLIOTECA DIGITAL:Dr. Gerald Jean Francis BanonClayton Martins Pereira - Servio de Informao e Documentao (SID)REVISO E NORMALIZAO DOCUMENTRIA:Simone Anglica Del Ducca Barbedo - Servio de Informao e Documentao(SID)Yolanda Ribeiro da Silva Souza - Servio de Informao e Documentao (SID)EDITORAO ELETRNICA:Marcelo de Castro Pazos - Servio de Informao e Documentao (SID)Andr Luis Dias Fernandes - Servio de Informao e Documentao (SID)

  • sid.inpe.br/mtc-m21b/2016/02.02.12.42-TDI

    OTIMIZAO DA ALOCAO DE EXPERIMENTOSNA CARGA TIL DO FOGUETE DE SONDAGEMUTILIZANDO INTELIGNCIA COMPUTACIONAL

    HBRIDA

    Elder Figueiredo

    Dissertao de Mestrado doCurso de Ps-Graduao emComputao Aplicada, orientadapelo Dr. Lamartine NogueiraFrutuoso Guimares, aprovada em18 de fevereiro de 2016.

    URL do documento original:

    INPESo Jos dos Campos

    2016

    http://urlib.net/8JMKD3MGP3W34P/3L4P8DB

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Figueiredo, Elder.F469o Otimizao da alocao de experimentos na carga til

    do foguete de sondagem utilizando inteligncia computacionalhbrida / Elder Figueiredo. So Jos dos Campos : INPE, 2016.

    xxiv + 100 p. ; (sid.inpe.br/mtc-m21b/2016/02.02.12.42-TDI)

    Dissertao (Mestrado em Computao Aplicada) InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais, So Jos dos Campos, 2016.

    Orientador : Dr. Lamartine Nogueira Frutuoso Guimares.

    1. Foguete de sondagem. 2. Inteligncia computacional.3. Otimizao. 4. Carga til. I.Ttulo.

    CDU 629.765:004

    Esta obra foi licenciada sob uma Licena Creative Commons Atribuio-NoComercial 3.0 NoAdaptada.

    This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0 UnportedLicense.

    ii

    http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/deed.pt_BRhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/deed.pt_BRhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/

  • iv

  • v

    Acredite que voc pode, assim voc j est no meio do caminho.

    Theodore Roosevelt

  • vi

  • vii

    A meus pais, Claudinei (In Memoriam) e Tnia, que sempre me incentivaram e

    me ensinaram como tornar o estudo um prazer, e no uma obrigao.

  • viii

  • ix

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente ao meu orientador Lamartine Nogueira Frutuoso Guimares,

    pela confiana depositada em mim, sua experincia, sua competncia e

    disponibilidade em contribuir ativamente deste trabalho.

    Aos professores do LAC-INPE, pela contribuio de conhecimento e incentivo,

    em especial aos professores Stephan Stephany e Reinaldo Roberto Rosa,

    responsveis pelas orientaes iniciais sobre a metodologia de trabalho da

    ps-graduao deste instituto.

    Agradeo a contribuio dos servidores do Instituto de Aeronutica e Espao,

    localizado no Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial em So

    Jos dos Campos, por contribuir com meu conhecimento em foguetes para o

    desenvolvimento deste trabalho. Ao meu grupo de trabalho, pelo apoio e

    incentivo em aprimorar meus conhecimentos de forma a contribuir para as

    atividades do IAE. Em especial, ao Eng. Eduardo Dore Roda, que foi o primeiro

    contato e que disponibilizou sua equipe para atendimento s dvidas

    relacionadas rea espacial, tambm ao TCel. Alexandre Nogueira Babosa,

    por sua presteza no atendimento e de sua equipe de dinmica de voo, entre os

    quais: Alexandre Garcia, Guilherme da Silveira e Marcos Alcio dos Santos

    Romani, que contriburam com seus conhecimentos e bibliografias importantes

    sobre o comportamento e anlise de estabilidade de foguetes. Tambm, ao

    Claudinei Jos de Castro, da equipe de Integrao e Ensaios, auxiliando no

    entendimento dos dados dos ensaios da carga til.

    A minha noiva, Rosy Gusmo, pelo incentivo e apoio em todos os momentos,

    principalmente nos mais crticos.

  • x

  • xi

    RESUMO

    A alocao de experimentos na carga til de um foguete de sondagem tem influncia direta no seu comportamento durante o voo, podendo afetar sua performance e trajetria. Desta forma, o processo de distribuio de massas na carga til deve ser planejado, com o objetivo de minimizar desbalanceamentos. Nos casos onde o desbalanceamento no pode ser otimizado, so adicionadas cargas para correo. Atualmente, esta distribuio realizada por engenheiros, que com a base de conhecimento prvio, faz o planejamento da alocao em algumas semanas. A verificao do resultado final primeiramente feita em um programa de desenho tridimensional. Aps a fabricao, a carga til montada colocada em um equipamento que medir o desbalanceamento residual. Caso necessrio, so adicionados os lastros, para minimizar o desbalanceamento. Em cada misso de lanamento, diferentes experimentos so embarcados, sendo necessria uma nova anlise e novos posicionamentos para atender aos requisitos. Este trabalho desenvolve uma ferramenta utilizando inteligncia computacional para realizar este processo. Fornecendo os dados de entrada de cada experimento, o sistema realiza a busca por uma soluo vivel de alocao, otimizando os parmetros envolvidos no balanceamento de cargas. Isto reduz o tempo gasto no projeto de leiaute dos experimentos e minimiza a necessidade de utilizao de lastros.

  • xii

  • xiii

    EXPERIMENTS ALLOCATION OPTIMIZATION ON THE PAYLOAD OF

    SOUNDING ROCKETS USING HYBRID COMPUTATIONALINTELLIGENCE

    ABSTRACT

    The allocation of experiments in the payload of a sounding rocket has a direct influence on their behavior during the flight, which may affect its performance and trajectory. Thus, the mass distribution in the payload process must be planned in order to minimize unbalances. In cases where the unbalance cannot be optimized, charges for correction are added. Currently, this distribution is executed by engineers, who with the prior knowledge, do the planning the allocation in a few weeks. The final result is checked in a three-dimensional drawing program. After fabrication, the mounted payload is placed in a equipment that measures the residual unbalance. In this step, the ballasts are added, if necessary, to minimize the unbalance. In each release of mission, different experiments are embedded, requiring a new analysis and new positions to meet the requirements. This paper develops a tool using computational intelligence to realize this process. Providing the experiments data to the system, it performs a search for a viable allocation, optimizing the parameters involved in load balancing. This reduces the time spent on the layout design of the experiments and minimizes the need to use charges.

  • xiv

  • xv

    LISTA DE FIGURAS

    Pg.

    Figura 2.1 - Estrutura do foguete de sondagem VSB-30. ................................... 6 Figura 2.2 - Diagramas de corpo livre de foguetes com diferentes configuraes aerodinmicas. ................................................................................................... 7 Figura 2.3 - Trajetrias das configuraes aerodinmicas. ................................ 8 Figura 2.4 - Modelo de carga til. ....................................................................... 9 Figura 2.5 - Graus de liberdade do foguete no sistema cartesiano. ................. 10 Figura 3.1 - Exemplo de um sistema para clculo do CG. ............................... 12 Figura 3.2 - Slido cilndrico e dimenses para clculo do momento de inrcia. ......................................................................................................................... 13 Figura 3.3 - Elemento com origem deslocada do sistema de coordenadas principal. ........................................................................................................... 14 Figura 3.4 - ngulo de inclinao do eixo do objeto. ........................................ 18 Figura 4.1 - Mapeamento de solues no espao de variveis para o espao de objetivos. .......................................................................................................... 21 Figura 4.2 - Grfico das funes objetivo e possveis solues. ...................... 22 Figura 4.3 - Representao da possvel fronteira de Pareto. ........................... 23 Figura 4.4 - Possvel curva que representa a fronteira de Pareto. ................... 23 Figura 4.5 - Fluxograma dos eventos do algoritmo gentico. ........................... 26 Figura 4.6 - Estrutura sistmica de inferncia nebulosa. .................................. 27 Figura 4.7 - Exemplo de fuzzificao. .............................................................. 29 Figura 4.8 - Varivel de sada da defuzzificao. ............................................. 30 Figura 4.9 - Entrada da fuzzificao e funes de pertencimento ativadas. .... 31 Figura 4.10 - Entrada da fuzzificao e funes de pertencimento ativadas. .. 32 Figura 5.1 - Fluxograma da Inteligncia Computacional Hbrida desenvolvida. 34 Figura 5.2 - Modelo gentico generalizado de um indivduo. ........................... 37 Figura 5.3 - Modelo gentico de um indivduo da populao. .......................... 38 Figura 5.4 - Modelo de dados das caractersticas dos experimentos. .............. 38 Figura 5.5 - Universo de discurso do centro de gravidade. .............................. 41 Figura 5.6 - Diagrama completo da lgica fuzzy. ............................................. 42 Figura 5.7 - Tcnica da roleta com pequena variao de probabilidades. ....... 45 Figura 5.8 - Curvas tericas de distribuio (a), curvas de resultados prticos (b). .................................................................................................................... 46 Figura 5.9 - Anlise de convergncia do AG usando a funo teste de Griewank. ......................................................................................................... 48 Figura 5.10 - Exemplo de cruzamento de um ponto para representao binria. ......................................................................................................................... 48

    Figura 5.11 - Valor de 0 e igual (a). Valor de 0 e diferente (b). ...... 50 Figura 5.12 - Curva de crescimento da taxa de mutao a cada gerao. ...... 52 Figura 5.13 - Convergncia da aptido do melhor indivduo. ........................... 53 Figura 5.14 - Minimizao de parmetros atravs da otimizao multiobjetivo. ......................................................................................................................... 54

  • xvi

    Figura 5.15 - Resultados em CAD dos testes 1, 2 e 3 da esquerda para direita. ......................................................................................................................... 55 Figura 5.16 - Convergncia do balanceamento esttico. ................................. 57 Figura 5.17 - Convergncia do balanceamento dinmico. ............................... 57 Figura 5.18 - Convergncia do ngulo de inclinao do eixo do foguete. ........ 58 Figura 5.19 - Superfcie de Pareto irregular no incio da otimizao. ............... 60 Figura 5.20 - Superfcie de Pareto resultante no final da otimizao. .............. 60 Figura 5.21 - Desenho em CAD da localizao final dos experimentos na carga til. .................................................................................................................... 62 Figura A.1 - Diviso do objeto em figuras triangulares. .................................... 73 Figura A.2 - Pontos dos vrtices e o baricentro de um tringulo. ..................... 74 Figura A.3 - Anlise dos sinais das coordenadas baricntricas. ...................... 75

  • xvii

    LISTA DE TABELAS

    Pg.

    Tabela 5.1 - Principais abordagens do AG na literatura. .................................. 35 Tabela 5.2 - Diferenas entre as verses do AEP. ........................................... 37 Tabela 5.3 - Tabela de inferncia fuzzy. .......................................................... 43 Tabela 5.4 - Funes teste para a presso de seleo. ................................... 47 Tabela 5.5 - Lista de operadores de cruzamento. ............................................ 49 Tabela 5.6 - Funes Lista de operadores de mutao. .................................. 50 Tabela 5.7 - Resultados do teste do AG em uma plataforma. .......................... 54 Tabela 5.8 - Parmetros de configurao do AG. ............................................ 56 Tabela 5.9 - Resultados da alocao de 20 experimentos em 5 mdulos. ...... 56 Tabela 5.10 - Dados gerais da carga til. ......................................................... 59 Tabela 5.11 - Experimentos embarcados na carga til. ................................... 61 Tabela 5.12 - Comparao de resultados do processo. ................................... 62

  • xviii

  • xix

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AE Algoritmos Evolutivos

    AEP Programa Allocator Experiments in the Payload

    AG Algoritmos Genticos (Genetic Algorithms)

    CAD Computer Aided Design (programa de desenho auxiliado por

    computador)

    CG Centro de Gravidade

    CP Centro de Presso

    DCTA Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial

    DOF "Degree of fulfillment" - Grau de pertencimento

    DNA cido Desoxirribonucleico

    E Margem Esttica

    IC Inteligncia Computacional

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    MI Momento de Inrcia

    MO Multi-Objetivo

    MOEA Multi-Objective Evolutionary Algorithm

    MOOP Multi-Objective Optimization Problem

    NGMOGA non-generational multi-objective genetic algorithm

    (algoritmo gentico multiobjetivo no-geracional)

    PI Produto de Inrcia

    VSB-30 Veculo de Sondagem Suborbital

  • xx

  • xxi

    LISTA DE SMBOLOS

    Dominncia

    Alfa: parmetro que define a extenso do ponto de cruzamento

    Beta: valor que define o grau de disperso no ponto de

    cruzamento

    ngulo de inclinao do eixo de rolamento do foguete

    Coordenada baricntrica do tringulo

  • xxii

  • xxiii

    SUMRIO

    Pg.

    1 INTRODUO ............................................................................................ 1

    1.1. Consideraes iniciais ................................................................................. 1

    1.2. Motivao .................................................................................................... 1

    1.3. Objetivo ........................................................................................................ 2

    1.4. Organizao do documento ......................................................................... 3

    2 FOGUETE DE SONDAGEM DE INTERESSE: VSB-30.............................. 5

    2.1. Introduo .................................................................................................... 5

    2.2. Carga til ..................................................................................................... 8

    2.3. Movimentos do foguete................................................................................ 9

    3 PARMETROS DE BALANCEAMENTO DA CARGA TIL .................... 11

    3.1. Centro de gravidade .................................................................................. 11

    3.2. Momento de inrcia ................................................................................... 13

    3.3. Produto de inrcia ...................................................................................... 15

    3.4. ngulo de inclinao da carga til ............................................................. 17

    4 OTIMIZAO POR PARADIGMAS DE IC ............................................... 19

    4.1. Inteligncia Computacional ........................................................................ 19

    4.2. Otimizao Multiobjetivo ............................................................................ 19

    4.3. Pareto-timo .............................................................................................. 21

    4.4. Algoritmo gentico ..................................................................................... 24

    4.5. Lgica Fuzzy .............................................................................................. 26

    5 DESENVOLVIMENTO E APLICAO ..................................................... 33

    5.1. Linguagem de programao ...................................................................... 33

    5.2. Inteligncia computacional hbrida ............................................................. 33

    5.3. Algoritmo gentico ..................................................................................... 35

    5.3.1.Entrada de dados do algoritmo ............................................................... 36

    5.3.2.Representao dos cromossomos .......................................................... 37

    5.3.3.Clculo da aptido dos indivduos com Fuzzy ......................................... 38

    5.3.4.Seleo de indivduos para cruzamento.................................................. 44

    5.3.5.Parmetros de cruzamento e mutao.................................................... 48

    5.3.6.Elitismo .................................................................................................... 52

    5.4. Resultados da alocao na plataforma ...................................................... 53

  • xxiv

    5.5. Resultados da alocao na carga til ........................................................ 55

    6 CONCLUSO ............................................................................................ 63

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 65

    APNDICE A - MISSES FUTURAS DO VSB-30 .......................................... 69

    APNDICE B - RESUMO DO ARTIGO SUBMETIDO JATM ...................... 71

    APNDICE C - RESTRIO DE EXPERIMENTOS RETNGULARES ......... 73

    APNDICE D - CDIGO FONTE DO PROGRAMA ........................................ 77

  • 1

    1 INTRODUO

    1.1. Consideraes iniciais

    Explorar economicamente o espao, principalmente da rbita da Terra, tem

    como objetivo propiciar comunicao e monitoramento via satlite. Antes,

    porm, necessrio conhecer o ambiente, procurando desenvolver materiais e

    equipamentos que operem nas condies encontradas na rbita da Terra. Para

    permitir este fim utilizam-se os foguetes de sondagem. No caso do Brasil, um

    dos foguetes utilizados o VSB-30. Este foguete um veculo suborbital,

    composto por dois motores de propulso slida, e um compartimento,

    determinado de carga-til, que leva os sensores e demais experimentos

    embarcados. Desta forma, torna-se importante a distribuio da carga no

    veculo, a fim de garantir o comportamento aerodinmico, estabilidade,

    confiabilidade e segurana do lanamento e do voo.

    1.2. Motivao

    A alocao dos experimentos tem influncia direta na estabilidade de um

    foguete. necessrio minimizar o desbalanceamento em cada plataforma que

    recebe os experimentos, visando garantir parmetros de estabilidade

    adequados da carga til, e propiciando que aps sua integrao com os

    motores responsveis pela propulso, este sistema atenda a determinados

    parmetros especificados em projeto. No processo de alocao dos

    experimentos, os parmetros de interesse so: centro de gravidade, produto de

    inrcia e o ngulo de inclinao do eixo. Na soluo deste problema, existem

    diversas distribuies possveis dos experimentos, porm somente algumas

    atendero os requisitos de qualidade, confiabilidade e segurana do voo. A

    elaborao de modelos matemticos para determinar a melhor condio de

    distribuio um processo que demanda muito tempo de modelamento e

    processamento. Cada voo necessita de um modelo diferente devido s

    mudanas dos experimentos embarcados. Atualmente uma equipe de

    engenheiros responsvel por planejar e avaliar possveis configuraes de

  • 2

    alocao. Utilizando um programa computacional de desenho tridimensional,

    calculam-se os parmetros da carga til. Caso a soluo no atenda aos

    requisitos, uma nova configurao elaborada, simulada e avaliada. Este

    passo se repete at que seja obtida uma configurao de alocao

    minimamente adequada dos experimentos.

    1.3. Objetivo

    O objetivo geral desta dissertao utilizar paradigmas de inteligncia

    computacional para obter, em tempo vivel, parmetros adequados e

    satisfatrios para alocao dos equipamentos. Esta soluo tambm pode

    contribuir para evitar que uma m distribuio possa requerer alteraes de

    caractersticas do veculo, como por exemplo, nas formas das empenas ou

    utilizao de lastros para corrigira estabilidade.

    O paradigma computacional selecionado para otimizar esta alocao o

    algoritmo gentico. Este paradigma se utiliza do processo evolutivo idealizado

    por Charles Darwin, passando-se pelas etapas de gerao de uma populao

    inicial, seleo e reproduo, as quais so repetidas at se chegar a uma

    gerao mais apta a representar a melhor soluo para o problema. A lgica

    fuzzy tambm utilizada para atribuir o grau de aptido de um indivduo nesta

    otimizao. A unio destas tecnologias visa permitir ao algoritmo maior

    eficincia, proporcionando resultados mais adequados. A esta estratgia de

    combinar as tcnicas de inteligncia computacional denomina-se como

    hibridizao.

    O algoritmo gentico desenvolvido neste trabalho busca as melhores

    configuraes de alocao dos experimentos, que propicie um valor de

    balanceamento esttico e dinmico das plataformas da carga til, atendendo os

    requisitos de um voo estvel do veculo.

  • 3

    1.4. Organizao do documento

    A dissertao est organizada em 6 captulos. No primeiro Captulo foi

    apresentada a introduo deste trabalho. O Captulo 2 realiza uma breve

    apresentao dos conceitos e tecnologias de foguetes. No captulo 3

    apresentado os parmetros de balanceamento de massa em foguetes de

    sondagem, que o objetivo deste trabalho. O Captulo 4 faz uma reviso

    bibliogrfica sobre inteligncia computacional, otimizao multiobjetivo,

    fronteira de Pareto, algoritmo gentico e lgica fuzzy. O Captulo 5 traz o

    desenvolvimento do trabalho e os resultados obtidos. Finalmente, so

    apresentadas a concluso e as referncias bibliogrficas, respectivamente.

  • 4

  • 5

    2 FOGUETE DE SONDAGEM DE INTERESSE: VSB-30

    2.1. Introduo

    Os foguetes de sondagem tm como objetivo levar uma carga til at a altitude

    requerida, ou prover certa permanncia nesta altitude, com a preciso

    especificada a partir de um campo de lanamento (PALMRIO, 2008). Na

    ltima dcada, houve um aumento da demanda por foguetes de sondagem

    para a realizao de experimentos em ambiente de microgravidade. Os testes

    de equipamentos para utilizao no espao so realizados atravs de voos

    suborbitais, reduzindo o custo dos testes e dando confiabilidade nos

    resultados.

    O veculo suborbital, conhecido como VSB-30, utilizado como caso de estudo

    para este trabalho, possui dois propulsores slidos, a carga til e interfaces de

    montagem. Os motores so divididos em dois estgios. No momento do

    lanamento dado ignio no primeiro estgio. Ao sair da rampa de

    lanamento, so ativados os propulsores de rolamento responsveis por iniciar

    a rotao do foguete em torno de seu prprio eixo. No momento que encerra a

    queima do combustvel do primeiro estgio, este se separa do restante do

    veculo, retornando para o solo em queda livre. Neste momento ocorre a

    ignio do motor do segundo estgio. No final da queima do combustvel deste

    segundo estgio, um sistema mecnico retira a rotao do foguete. Logo em

    seguida ocorre a separao do segundo estgio, restando apenas a carga til

    no ambiente de microgravidade. A carga til fica neste ambiente por cerca de

    seis minutos, e devido gravidade da Terra, retorna atmosfera entrando em

    queda livre at o solo, onde ser resgatada e realizada a anlise de dados dos

    experimentos. O modelo de foguete abordado neste trabalho est apresentado

    na Figura 2.1.

  • 6

    Figura 2.1 - Estrutura do foguete de sondagem VSB-30.

    Este foguete tem a capacidade de transportar cargas de at 400 kg, na faixa de

    270 km de altitude (INSTITUTO DE AERONUTICA E ESPAO, 2013). Dos

    diversos parmetros existentes, este trabalho trata aqueles relacionados

    montagem da carga til, e suas influncias na dinmica do voo do foguete. O

    VSB-30 foi escolhido como estudo de caso devido a algumas caractersticas

    que viabilizam este trabalho, entre elas: o sucesso obtido nos lanamentos j

    realizados, a existncia de dados da carga til para anlise e comparao de

    resultados e por possuir futuras misses que propiciaro a aplicao do

    algoritmo deste trabalho.

    A estabilidade de um foguete pode ser interpretada como sua capacidade de

    manter uma trajetria durante o voo. O valor do centro de presso (CP)

    definido como o centro de rea da projeo do veculo, sendo um dado

    estabelecido no projeto de um foguete, e neste trabalho tem seu valor

    constante. O valor do centro de gravidade (CG) obtido conhecendo-se a

    massa do foguete de sondagem completo, isto , a massa dos motores e da

    carga til acopladas. As massas dos motores so tratadas como constantes. A

    distribuio de experimentos da carga til, que discusso deste trabalho,

    diferente em cada voo, e so responsveis pela alterao do valor do centro de

    gravidade total do veculo. Para avaliar a estabilidade utiliza-se um parmetro

    denominado margem esttica. A margem esttica calculada levando-se em

    considerao os valores de centro de gravidade e o centro de presso do

    foguete conforme equao:

  • 7

    =()

    , (2.1)

    onde,

    E a margem esttica,

    dmax o maior dimetro entre os motores existentes,

    CP o valor do centro de presso e,

    CG o centro de gravidade final.

    Para um voo seguro e com trajetria que atenda os requisitos da misso o

    comportamento desejvel deve ser estvel. Os comportamentos de voo do

    foguete em relao sua estabilidade esto apresentados nas Figuras 2.2 e

    2.3.

    Figura 2.2 - Diagramas de corpo livre de foguetes com diferentes configuraes aerodinmicas.

    Fonte: Porto (2007).

  • 8

    Figura 2.3 - Trajetrias das configuraes aerodinmicas.

    Fonte: adaptado de Porto (2007).

    Para que o foguete deste trabalho voe com a configurao estvel a margem

    esttica deve situar-se entre 1,3 e 1,5. Este valor definido no momento de

    lanamento, pois sofrer alteraes do centro de gravidade durante o voo, isto

    devido reduo da massa dos motores. Contudo, a margem esttica estar

    sempre em valores adequados para garantir a estabilidade do foguete.

    2.2. Carga til

    A carga til o conjunto de mdulos existentes acima do ltimo motor do

    foguete, neste caso aps o motor do segundo estgio. A Figura 2.4 apresenta a

    carga til com seus mdulos, interfaces e coifa. Dentro de cada mdulo da

    carga til existem as plataformas com os experimentos embarcados. A

    estrutura, a geometria e a distribuio de massas da carga til so

    determinantes do comportamento do foguete, no que diz respeito

  • 9

    aerodinmica, consequente estabilidade esttica e dinmica, ao

    comportamento estrutural e ao desempenho (PALMRIO, 2008).

    Figura 2.4 - Modelo de carga til.

    Os mdulos so compartimentos que guardam os experimentos. Cada mdulo

    possui duas plataformas, classificadas como inferior e superior. Nas

    plataformas que so fixados os experimentos. Os anis de interface so

    responsveis por interligar os mdulos, isto , permitir conexes de energia

    eltrica e de comunicao entre experimentos. A coifa tem a responsabilidade

    de promover o melhor compromisso aerodinmico, propiciar o menor arrasto

    possvel e evitar que fenmenos aerodinmicos possam comprometer a sua

    estrutura.

    2.3. Movimentos do foguete

    Os movimentos de um veculo no espao so definidos por trs eixos

    cartesianos, ver Figura 2.5. Estes movimentos em torno de cada eixo recebem

    um nome, definido como:

    - rolamento ("roll") a rotao em torno do eixo X

    - arfagem ("pitch") a rotao em torno do eixo Y;

    - guinada ("yaw") a rotao em torno do eixo Z.

  • 10

    Figura 2.5 - Graus de liberdade do foguete no sistema cartesiano.

    Fonte: Palmrio (2008).

    O nico movimento permitido e necessrio ao foguete o rolamento. O

    movimento adequado de rolamento do foguete est diretamente condicionado

    sua distribuio de massa. O balanceamento final da carga til formado por

    trs parmetros: centro de gravidade, momento de inrcia e produto de inrcia.

    Os valores resultantes do centro de gravidade e produto de inrcia devem

    coincidir com o eixo de rotao do foguete, neste caso o eixo x. A existncia de

    desbalanceamento residual acima do tolerado geram foras resultantes. Estas

    foras tendem a gerar um novo eixo de rotao desalinhado com o eixo do

    foguete, causando instabilidade de voo, podendo iniciar um movimento de

    precesso e comprometer o sucesso da misso. O momento de inrcia deve

    ser conhecido e minimizado, pois ele que determina a quantidade de fora

    necessria para colocar e retirar o foguete do movimento de rolamento.

  • 11

    3 PARMETROS DE BALANCEAMENTO DA CARGA TIL

    Um sistema, no contexto deste trabalho, composto por vrios elementos.

    Analisar este sistema pode ser complicado e oneroso. Uma das grandes

    contribuies de Euler mecnica foi descobrir que possvel analisar o

    movimento de um sistema, sem a necessidade de analisar o comportamento

    individual de cada elemento. A teoria do movimento de rotao de um sistema

    rgido descrita pelas equaes de Euler. Estas equaes analisam os

    movimentos sempre em relao a um referencial inercial solidrio ao slido,

    esta tcnica simplifica esta anlise. O axioma, conforme Euler descreve em

    seus trabalhos e apresentado por Maia (1979):

    "Eis aqui, ento, uma verdade muito importante: em cada corpo existem trs eixos

    principais, que se cruzam ortogonalmente no centro de inrcia do corpo. Esses

    eixos tm duas propriedades notveis: uma delas que o corpo pode girar

    livremente em torno de cada um deles; a outra que o momento de inrcia do

    corpo, relativo a um desses trs eixos, mximo, e o relativo a um dos outros dois

    eixos mnimo, dentre os momentos de inrcia do corpo, relativos a todos os

    eixos que passem pelo seu centro de inrcia." (EULER, 1758).

    Partindo deste conceito, seguem as frmulas que permitem a anlise esttica e

    dinmica da carga til. A carga til possui vrios elementos, denominados

    experimentos. Desta forma pode ser determinado o balanceamento do sistema.

    Nas equaes apresentadas nos prximos itens deste captulo, por se tratar da

    contribuio de vrios elementos para o sistema, ser realizada a somatria

    das contribuies de cada massa.

    3.1. Centro de gravidade

    O Centro de Gravidade (CG), tambm conhecido como centro de massa de um

    objeto, como apresentado na Figura 3.1, pode ser calculado atravs das

    equaes (GRAY; COSTANZO; PLHESHA, 2010):

  • 12

    xCG = mixi

    ni=1

    mini=1

    , (3.1)

    yCG = miyi

    ni=1

    mini=1

    , (3.2)

    zCG = mizi

    ni=1

    mini=1

    . (3.3)

    onde,

    , e so as distncias das coordenadas do CG do sistema de

    elementos at o sistema de coordenadas de referncia xyz;

    , e so as distncias das coordenadas do centro geomtrico de

    cada elemento at o sistema de coordenadas de referncia xyz;

    a massa decada um dos n elementos que compem o sistema.

    Figura 3.1 - Exemplo de um sistema para clculo do CG.

    A alocao de experimentos em cada plataforma da carga til gera um vetor de

    CG resultante perpendicular ao plano zy. O primeiro objetivo desta otimizao

  • 13

    aproximar a posio deste vetor resultante origem das coordenadas de

    referencia do foguete, isto , coincidente com o eixo x do sistema cartesiano.

    Um segundo clculo necessrio determinar o centro de gravidade no eixo x.

    Ele ser utilizado para calcular o valor da margem esttica (E). No momento de

    lanamento, este valor deve situar-se no intervalo de 1,3 a 1,5. Isto proporciona

    uma situao estvel de voo do foguete.

    3.2. Momento de inrcia

    O momento de inrcia o produto da massa do elemento pela distncia

    quadrtica em relao ao eixo considerado. Este valor determina a quantidade

    de fora necessria para colocar em movimento de rotao um determinado

    sistema, ou remover o rolamento. Quanto menor o valor do momento de

    inrcia, menor ser o valor da energia necessria para induzir o rolamento no

    foguete.

    O primeiro passo determinar o momento de inrcia do elemento analisado,

    nesta otimizao os elementos so objetos cilndricos, como apresentado na

    Figura 3.2.

    Figura 3.2 - Slido cilndrico e dimenses para clculo do momento de inrcia.

  • 14

    Os valores dos momentos de inrcia , e do cilindro esto em relao ao

    sistema de coordenadas localizado no centro geomtrico do slido,

    identificados por , e . Ento, seus momentos de inrcia em relao a este

    sistema de coordenadas so calculados pelas equaes:

    = = 1

    12 (3 + ) , (3.4)

    = 2

    2. (3.5)

    A prxima etapa determinar a contribuio destes momentos em relao ao

    sistema de coordenadas principal da carga til, identificado pelos eixos , e ,

    como representado na Figura 3.3. Para isto, utiliza-se o Teorema dos Eixos

    Paralelos, que permite calcular o momento de inrcia de um elemento relativo a

    um eixo de rotao, quando j so conhecidos os momentos de inrcia

    relativos a um eixo paralelo anterior e a distncia entre os eixos avaliados.

    Figura 3.3 - Elemento com origem deslocada do sistema de coordenadas principal.

    Desta forma, conhecendo os valores das distncias , e , apresentadas

    na Figura 3.3, os momentos de inrcia do elemento em relao ao sistema de

    coordenadas da carga til so calculados por:

    = + ( + ) , (3.6)

    = + ( + ) , (3.7)

  • 15

    = + ( + ) , (3.8)

    onde,

    , e so os momentos de inrcia do elemento em relao a seu

    sistema de coordenadas,

    , e so os momentos de inrcia do elemento em relao ao

    sistema de coordenadas da carga til,

    , e so as distncias do sistema de coordenadas de referncia da

    massa em relao ao sistema de coordenadas principal , e .

    a massa do elemento avaliado.

    Aps calcular os valores de , e para cada elemento do sistema, deve-se

    calcular o momento de inrcia total em relao a cada eixo do sistema da carga

    til. Este clculo realizado atravs da somatria dos momentos de cada

    objeto, conforme as equaes:

    = ()=1 , (3.9)

    = ()=1 , (3.10)

    = ()=1 . (3.11)

    onde,

    , e so os momentos de inrcia do sistema de elementos em

    relao aos eixos , e , respectivamente.

    3.3. Produto de inrcia

    O produto de inrcia uma medida de balanceamento dinmico, ou tambm

    descrito como a medida de assimetria da distribuio de massa de um corpo

    em relao aos planos , e (GRAY; COSTANZO; PLHESHA, 2010).

    determinado atravs do clculo do produto da massa de um objeto por suas

    coordenadas em relao aos dois eixos considerados (BOYTON; WIENER,

    1998). este parmetro que pode influenciar o comportamento do foguete

    durante o voo na fase de rolamento. Um desbalanceamento maior que o

  • 16

    tolerado provoca um movimento de precesso do foguete, comprometendo sua

    trajetria e estrutura. Nesta anlise deve-se definir um eixo de referncia,

    conforme Boyton e Wiener (1998) aconselhvel selecionar o eixo de rotao

    do objeto, no caso do foguete o eixo . necessrio garantir este

    balanceamento nos planos e .

    Assim como apresentado no momento de inrcia, o clculo do produto de

    inrcia se divide em trs partes. Primeiramente so calculados os produtos de

    inrcia em relao ao sistema de coordenadas posicionados no centro

    geomtrico do elemento. Contudo, se ao menos dois eixos do elemento so de

    simetria, como apresentado anteriormente na Figura 3.2 do cilindro, os

    produtos de inrcia sero nulos. Ento temos:

    = = = 0. (3.12)

    A prxima etapa calcular os produtos de inrcia de cada elemento em relao

    ao sistema de coordenadas da carga til. Referenciando a Figura 3.3, temos as

    seguintes equaes:

    = + , (3.13)

    = + , (3.14)

    = + . (3.15)

    onde,

    , e so os produtos de inrcia do elemento em relao a

    seu sistema de coordenadas, e nulos neste caso em particular,

    , e so os produtos de inrcia do elemento em relao ao

    sistema de coordenadas da carga til,

    , e so as distncias do sistema de coordenadas de referncia

    da massa em relao ao sistema de coordenadas principal , e .

    a massa do elemento avaliado.

    Finalmente, os valores totais dos produtos de inrcia em cada plano so

    realizados atravs das equaes:

  • 17

    = ()=1 , (3.16)

    = ()=1 , (3.17)

    = ()=1 . (3.18)

    onde,

    , e so os produtos de inrcia do sistema de elementos em

    relao aos planos , e , respectivamente, de acordo com o sistema de

    coordenadas da carga til.

    Os momentos relacionados podem ser agrupados matematicamente, sendo

    denominado como matriz de inrcia ou como tensor de inrcia. O tensor de

    inrcia uma generalizao, e apresenta a rotao em relao eixos

    arbitrrios, sendo representado pela equao:

    = [

    ]. (3.19)

    Nos casos onde uma coordenada perpendicular a um plano de simetria de

    um objeto, o produto de inrcia deste plano ser nulo. E se o sistema de

    coordenadas for definido de tal forma que = = = 0, os eixos deste

    sistema sero chamados de eixos principais de inrcia (LAGES, 2006).

    3.4. ngulo de inclinao da carga til

    A resultante do produto de inrcia de dois planos define um eixo de simetria da

    carga til. Este eixo deve coincidir com o eixo referencial da rotao do

    foguete. Caso o ngulo de inclinao entre estes eixos seja significativo, o seu

    eixo de rotao sofrer uma mudana de orientao, movimento denominado

    como precesso. A precesso indesejada durante o voo, pois pode provocar

    alterao na trajetria, instabilidade ou esforos aerodinmicos que

    comprometem a estrutura do foguete e o sucesso da misso. A Figura 3.4

    apresenta um objeto desbalanceado. O eixo ideal est identificado por e o

  • 18

    ngulo de inclinao do eixo resultante por , provocando o movimento de

    precesso.

    Figura 3.4 - ngulo de inclinao do eixo do objeto.

    Fonte: adaptado de Boyton; Wiener (1998).

    O ngulo de inclinao pode ser calculado por:

    = 0,5 arctan2

    () , (3.20)

    = 2 + 2 , (3.21)

    = + . (3.22)

    onde,

    o produto de inrcia resultante entre os planos xy e xz,

    momento polar de inrcia.

    Desta forma, conclu-se que os parmetros de balanceamento necessrios

    so: o centro de gravidade, o produto de inrcia e a inclinao do eixo da carga

    til. O momento de inrcia deve ser conhecido, pois parte do clculo do valor

    de . O prximo passo definir a estratgia da otimizao multiobjetivo. Para

    este problema, ser utilizado um paradigma hbrido de inteligncia

    computacional.

  • 19

    4 OTIMIZAO POR PARADIGMAS DE IC

    4.1. Inteligncia Computacional

    Um problema classificado intratvel se o tempo necessrio para resolv-lo

    considerado inaceitvel para os requerimentos do usurio da soluo (LINDEN,

    2006). A inteligncia computacional (IC) tem como objetivo permitir a resoluo

    de problemas considerados intratveis. Matematicamente classifica-se como

    problema tratvel se o seu limite superior de complexidade polinomial, e

    intratvel se sua complexidade no-polinomial (NP) (TOSCANI; VELOSO,

    2001). Com isto, a inteligncia computacional uma tcnica que busca a

    aproximao da soluo perfeita em tempo vivel, atendendo os requisitos do

    usurio.

    A inteligncia computacional entendida como uma tcnica que se utiliza de

    um conjunto de paradigmas, que baseadas em simulaes de modelos

    comportamentais, e explorando as tolerncias e incertezas do processo,

    buscam alcanar resultados de problemas com tratabilidade, robustez e baixo

    custo. Utiliza-se o termo heurstica para descrever um mtodo que baseado na

    experincia ou julgamento, parece conduzir a uma boa soluo do problema,

    mas no garante produzir a soluo tima. Uma meta-heurstica uma

    estratgia de busca, no especfica para um determinado problema, que tenta

    explorar eficientemente o espao das solues viveis desse problema

    (BECCENERI; SILVA NETO, 2012).

    4.2. Otimizao Multiobjetivo

    As solues de problemas reais raramente envolvem apenas uma varivel e

    uma meta, normalmente tm-se diversas variveis e podem fazer com que

    existam diversas solues. importante mencionar que os objetivos podem ser

    conflitantes entre si (COELLO COELLO, 1999), e que o problema pode estar

    sujeito a restries. Muitas vezes as metas so conflitantes, onde uma soluo

  • 20

    tima para determinado problema pode implicar em uma soluo ruim para

    outra.

    Os problemas com estas caractersticas so denominados de otimizao

    multiobjetivo (MOOP - "multi-objective optimization problem"), por

    caracterizarem a necessidade de minimizao simultnea de um conjunto de

    objetivos satisfazendo um conjunto de restries. Neste panorama, o conceito

    de otimizao pode ser baseado nas noes introduzidas por Francis Ysidro

    Edgeworth (1881) e depois generalizada por Vilfredo Pareto (1896), chamado

    de Edgeworth-Pareto timo ou, simplesmente, Pareto-timo. O timo de

    Edgeworth-Pareto no nos fornece uma soluo nica, mas sim um conjunto

    de solues no-dominadas. Este postulado tem sido base para o

    desenvolvimento de teoremas importantes na teoria de otimizao

    multiobjetivos (LOBATO, 2008).

    A soluo de um problema multiobjetivo, seja minimizar ou maximizar um

    parmetro, formada por um conjunto de solues que apresentam um

    compromisso entre os objetivos. Um conjunto de solues denominado

    conjunto Pareto-timo se, para cada soluo do conjunto, no existe outra

    soluo factvel capaz de melhorar o valor de um dos critrios do problema,

    sem que simultaneamente cause um agravamento em pelo menos um dos

    demais critrios (AZUMA, 2011).

    A formulao para definio dos requisitos e restries de um problema de

    otimizao multiobjetivo pode ser assim definido (DEB, 2001):

    Minimizar/Maximizar

    Restrita a

    (),

    () 0,

    () = 0,

    = 1, 2, , ;

    = 1, 2, , ;

    = 1, 2, , ;

    = 1, 2, , .

    (4.1)

    A soluo um vetor transposto de variveis de decises =

    (1, 2, , ). A ltima linha de restries define os limites de variveis,

  • 21

    restringindo cada varivel de deciso a assumir valores entre um intervalo

    inferior e superior

    . Este intervalo forma o espao de variveis de deciso,

    ou simplesmente espao de deciso. Associados ao problema, a desigualdade

    e a igualdade representam o nmero de restries. Os termos () e

    () so chamados de funes de restrio. A soluo que no satisfaz

    todas as restries ( + ) e, em todo o intervalo de denominada soluo

    no factvel. Considerando a formulao apresentada em (4.1), existem

    funes objetivo que formam o vetor transposto () =

    (1(), 2(), , ()). Cada funo objetivo deve ser minimizada ou

    maximizada. Para cada soluo no espao de deciso, existe um ponto no

    espao dos objetivos, denominado pelo vetor() = = (1, 2, , ).

    O mapeamento entre o vetor de solues de dimenses e do vetor de

    objetivos de dimenses ilustrado na Figura 4.1, como proposto por Deb

    (2001) e Azuma (2011).

    Figura 4.1 - Mapeamento de solues no espao de variveis para o espao de

    objetivos.

    4.3. Pareto-timo

    A representao de dominncia de Pareto utilizada para comparar duas

    solues factveis de um problema multiobjetivo. Considerando duas solues

    a e b, afirma-se que a domina b (a b) se as seguintes condies so

    satisfeitas:

  • 22

    a) A soluo a igual ou melhor que a soluo b em todas as funes

    objetivo;

    b) A soluo a superior a b em pelo menos uma funo objetivo.

    Quando no possvel definir as relaes de dominncia entre as solues,

    estas so chamadas de conjunto de solues no-dominadas, ou chamada de

    Pareto-timo. A fronteira de Pareto o conjunto das solues que minimizam

    ou maximizam as funes-objetivo.

    Como exemplo, analisaremos a Figura 4.2, em que est representado o espao

    de objetivos com duas funes, a primeira, chamada de f1, representada no

    eixo das abscissas, a segunda, chamada de f2, no eixo das coordenadas, e

    cinco pontos possveis de solues.

    Figura 4.2 - Grfico das funes objetivo e possveis solues.

    Considere que a funo 1 (1) necessita ser maximizada e a funo 2 (2)

    minimizada. O prximo passo comparar ponto a ponto, de acordo com os

    critrios de dominncia apresentados anteriormente. Vejamos alguns

    exemplos:

    a) Pontos 2 e 3: O ponto 2 pior que 3 para 1, e 2 pior que 3 para 2,

    portanto, 3 domina 2 (3 2), ento 3 representa uma possvel soluo que

    pertence fronteira de Pareto, e 2 no uma soluo vivel;

  • 23

    b) Pontos 3 e 5: O ponto 3 pior que 5 para 1, e 3 melhor que 5 para

    2, portanto, no h como definir a dominncia entre estes dois pontos, ento

    ambos pertencem ao conjunto que forma a fronteira de Pareto;

    Ao final da anlise entre todos os pontos, conclu-se que os pontos 3, 4 e 5

    dominam os pontos 1 e 2, descartando estes pontos como solues viveis. E

    como no possvel estabelecer a dominncia entre os pontos 3, 4 e 5, estes

    pertencem ao conjunto da fronteira de Pareto, sendo representados por uma

    curva unindo estes pontos de solues viveis, como mostra a Figura 4.3.

    Figura 4.3 - Representao da possvel fronteira de Pareto.

    Caso existam mais pontos para anlise, como os pontos 6, 7, 8, e 9, o

    comportamento desta curva pode alterar-se, como apresentado na Figura 4.4.

    Figura 4.4 Possvel curva que representa a fronteira de Pareto.

  • 24

    Se informaes adicionais sobre a importncia relativa entre os objetivos so

    desconhecidas, todas as solues Pareto-timas so igualmente importantes.

    Assim, conforme Deb, Mohan e Mishira (2003), trs importantes metas em

    otimizao multiobjetivo se fazem necessrias:

    1. Encontrar um conjunto de solues que esteja o mais prximo

    possvel da fronteira de Pareto;

    2. Encontrar um conjunto de solues com a maior diversidade possvel;

    3. Realizar as duas metas anteriores com a maior eficincia possvel.

    4.4. Algoritmo gentico

    Os Algoritmos Evolutivos (AEs) so tcnicas de otimizao que imitam os

    princpios da evoluo natural para busca e otimizao de problemas. Os AEs

    propiciam uma alternativa aos mtodos matemticos clssicos, como os

    mtodos diretos ou mtodo dos gradientes, e tm sido largamente explorados

    em problemas de otimizao, buscando minimizar ou maximizar um vetor de

    funes-objetivo. Algumas dificuldades encontradas nos mtodos clssicos

    so:

    - a convergncia para uma soluo tima depende da escolha da

    soluo inicial;

    - a maioria dos algoritmos tendem a ficar presos em solues de timos

    locais;

    - um determinado algoritmo pode ser eficiente para resolver um

    problema, mas ineficiente na soluo de outros problemas;

    - os algoritmos no so eficientes em resolver problemas que possuam

    um espao de busca discreto.

    Uma das caractersticas mais importantes dos AEs que possibilitam encontrar

    solues timas ou adequadas para um problema complexo sem usar

    informao adicional, como clculo de derivadas de funes (GOLDBERG,

    1989). Outro grande diferencial dos AEs tem sido na soluo de problemas

    multiobjetivo. A utilizao dos Algoritmos Evolutivos para soluo de problemas

  • 25

    multiobjetivos definido como MOEA (do ingls "MultiObjective Evolutionary

    Algorithm").

    Com base na observao na evoluo natural das espcies, os Algoritmos

    Genticos (AG) tm sua filosofia embasada na teoria de Darwin. Portanto,

    uma meta-heurstica inspirada no comportamento da natureza. um mtodo

    de busca que a partir de uma populao inicial sobrepondo todo o espao de

    busca, passa pelos processos de combinao, provendo uma nova gerao de

    indivduos mais aptos a representarem a soluo do problema. Este processo

    repetido por um nmero de geraes determinadas, ou at que uma gerao

    possa representar a soluo com uma incerteza pr-definida.

    De acordo com Reeves (2003), o Algoritmo Gentico uma meta-heurstica.

    Os Algoritmos Genticos pertencem a uma classe de algoritmos de busca

    probabilstica inteligente (PARDALOS; RESENDE, 2003), que se baseiam no

    processo evolucionrio de organismos biolgicos na natureza, tratando de uma

    populao de solues e da combinao delas, de modo a gerar novas

    solues.

    O AG se inicia na concepo de uma populao inicial, que so valores que

    podem representar uma soluo para o problema. Estes indivduos so

    avaliados atravs de uma funo de adaptabilidade. Esta funo permite

    verificar se a soluo correspondente se aproxima da soluo ideal. As funes

    de adaptabilidade geralmente so elaboradas a partir da definio matemtica

    do problema em questo. Os indivduos com maior adaptabilidade tm maiores

    probabilidades de serem selecionados para reproduo. Aps a seleo, a

    prxima etapa o cruzamento. Isto permite que as caractersticas de vrios

    indivduos possam ser mescladas gerando um novo indivduo mais adaptado.

    Antes da finalizao deste novo indivduo, existe a mutao, que pode ocorrer

    com uma probabilidade baixa, mas importante para evitar uma perda

    prematura de bom material gentico. A mutao tambm permite que mesmo

    no processo de intensificao, seja possvel realizar pequenas buscas em

  • 26

    outras regies do espao, impedindo que logo a populao se concentre numa

    regio de timo local.

    A nova populao gerada passa por uma reavaliao da sua adaptabilidade.

    As etapas anteriores podem se repetir diversas vezes dependendo do critrio

    de parada definido. Pode-se utilizar como critrio as seguintes premissas: um

    nmero fixo de geraes, ou sucessivas geraes at que os indivduos

    representem um valor de adaptabilidade com uma incerteza baixa o suficiente

    para representar uma tima soluo do problema. A Figura 4.5 apresenta o

    sequenciamento dos eventos do algoritmo gentico.

    Figura 4.5 - Fluxograma dos eventos do algoritmo gentico.

    4.5. Lgica Fuzzy

    Alguns conceitos no mundo no podem ser bem representados por limites bem

    definidos, ou valores exatos. Diante deste fato, Zadeh (1965) desenvolveu a

    teoria dos conjuntos nebulosos (Fuzzy Sets) para tratar informaes vagas.

    Esta teoria trata a impreciso ou incerteza que ocorre de maneira natural na

  • 27

    representao de fenmenos da natureza. Portanto, a lgica nebulosa

    aproxima a deciso computacional da deciso humana. Isto realizado de

    forma que a deciso de uma mquina no dependa de informaes binrias.

    A lgica nebulosa consiste em aproximar a deciso computacional da deciso

    humana, tornando as mquinas mais capacitadas para o trabalho. Isso

    realizado de forma que a deciso de uma mquina no dependa apenas de

    informaes binrias do tipo "sim" ou "no", ou de valores "concretos", mas de

    maneira que tambm possa decidir com base em valores "abstratos" do tipo

    "um pouco mais", "talvez sim" e em outras tantas variveis que representem os

    tratamentos de informaes fornecidas pelo homem (PILLAT, 2012). A

    implementao de um sistema fuzzy composto pelos seguintes blocos

    funcionais (SIMES; SHAW, 1999):

    - interface de fuzzificao;

    - base de regras;

    - lgica de tomada de decises;

    - interface de defuzzificao.

    A Figura 4.6, proposta por Pillat (2012), apresenta esta estrutura da lgica

    fuzzy.

    Figura 4.6 - Estrutura sistmica de inferncia nebulosa.

    Fonte: Pillat (2012).

  • 28

    Esta estrutura aplicada para inferir a aptido dos indivduos, analisando o seu

    grau de comprometimento com cada funo objetivo que se deseja otimizar.

    Posteriormente, os indivduos so colocados em ordem decrescente de

    aptido, que parte do processo do algoritmo gentico.

    A primeira etapa, denominada fuzzificao, consiste em receber os dados de

    entrada, ajust-los para que sejam cobertos pelo universo de discurso

    previamente definido. Esta interface utiliza funes de pertinncia contidas

    numa base de conhecimento, associando-as a rtulos lingusticos. As variveis

    lingusticas so expresses que caracterizam qualitativamente as grandezas

    fsicas. Estes valores numricos so substitudos por termos como: pequeno,

    mdio e grande; baixo, mdio e alto; etc. Desta forma, o eixo das abscissas

    contm os valores da grandeza avaliada, o eixo das coordenadas o grau de

    pertinncia desta grandeza ao rtulo lingustico. O grau de pertinncia um

    intervalo de 0 a 1, no qual se pode inferir que um valor pertence de 0% a 100%

    quela varivel lingustica.

    Como exemplo, ser analisada a tomada de deciso da lgica fuzzy em

    classificar o grau de risco em aplicar na bolsa de valores. A varivel de entrada

    o ndice da bolsa em pontos, a inferncia fuzzy dever qualificar o risco

    atribuindo as seguintes variveis lingusticas: baixo, mdio ou alto risco.

    O primeiro passo definir as funes de pertencimento da varivel de entrada.

    Aqui foram definidas trs funes triangulares, representando a quantidade de

    pontos da bolsa, como poucos pontos, mdios pontos e altos pontos. A funo

    de pertencimento pode ser determinada com base na estatstica dos dados, ou

    atravs de redes neurais (TSOUKALAS; UHRIG, 1997).

    Depois, definem-se as regras de inferncia, que relacionam a entrada e sada

    de dados do problema. Estas regras representam a base de conhecimento da

    lgica fuzzy e fornecem as definies numricas necessrias s funes de

    pertinncia utilizadas no conjunto de regras. A lgica de tomada de decises,

    incorporada na estrutura de inferncia da base de regras, usa implicaes

  • 29

    fuzzy para simular uma tomada de deciso humana. Estas regras so definidas

    por lgicas "se ento ". Por exemplo, no problema

    proposto anteriormente das alturas, podem-se escrever as seguintes regras:

    Regra 1: se (ndice=Alto) ento (Risco = Baixo);

    Regra 2: se (ndice = Mdio) ento (Risco = Mdio);

    Regra 3: se (ndice = Pequeno) ento (Risco = Alto).

    Supondo o ndice da bolsa em 22 pontos, deseja-se saber o grau de risco de

    aplicar na bolsa neste momento, como apresentado na Figura 4.7.

    Figura 4.7 - Exemplo de fuzzificao.

    Nesta situao, o valor de entrada representado no eixo horizontal, uma reta

    vertical indica que foi ativada a regra 2 (ndice = mdio), em seguida calcula-se

    sua projeo no eixo das coordenadas. Este valor encontrado denominado

    Grau de Pertencimento (DOF - "degree of fulfillment"), dado pela equao:

    2 = 225

    255= 0,85. (4.2)

    Aps analisar o grau de pertencimento da regra ativada, um clculo

    matemtico define o grau de pertencimento da varivel de sada para cada

    valor lingustico. O resultado da projeo na entrada (2 = 0,85)

    transmitido para o grfico de sada, dando incio a etapa da defuzzificao. O

  • 30

    objetivo obter um nico valor numrico discreto, que possa representar os

    valores fuzzy inferidos da varivel lingustica de sada (SIMES; SHAW, 1999).

    As variveis de sada esto apresentadas na Figura 4.8.

    Figura 4.8 - Varivel de sada da defuzzificao.

    Os principais mtodos de defuzzificao so os clculos atravs do: centro da

    rea, centro da soma e mdia do mximo. O mtodo do centro da rea

    consiste no clculo do centro de gravidade da rea que representa a varivel

    lingustica de sada. O mtodo do centro da soma, o valor de sada

    determinado atravs do clculo pela mdia ponderada dos mximos valores de

    sada, sendo que os pesos so os resultados das inferncias determinadas nas

    variveis de entrada. Finalmente, o mtodo de mdia dos mximos calculado

    a mdia da contribuio do valor mximo de cada pertencimento da sada.

    Para o exemplo tratado, atravs da regra 2, conhecemos que o risco Mdio,

    porm deve-se determinar o pertencimento varivel lingustica "Mdio Risco".

    Foi escolhido o mtodo do Centro da Soma, e calculado pela equao:

    = ( . )

    () =

    (0,85 . 50)

    (0,85) = 50 %

    (4.3)

  • 31

    Desta forma, conclui-se que no caso do ndice da bolsa igual a 22 pontos, o

    grau de risco de investir na bolsa de 50%.

    Uma segunda situao, o ndice de 40 pontos, como apresentado na Figura

    4.9.

    Figura 4.9 - Entrada da fuzzificao e funes de pertencimento ativadas.

    Agora so ativadas as regras 2 (Pontos Mdios) e 1 (Pontos Altos), ento,

    calcula-se o grau de pertencimento para as duas regras da seguinte forma:

    1 = 40 30

    5030= 0,50 , (4.4)

    2 = 4540

    4525= 0,25. (4.5)

    A Figura 4.10 mostra a implicao das duas regras ativadas na varivel de

    sada da lgica fuzzy, isto , risco baixo e mdio.

  • 32

    Figura 4.10 - Entrada da fuzzificao e funes de pertencimento ativadas.

    Agora, calcula-se o grau de risco, com a contribuio das duas regras, temos:

    = (0,25 . 50) + (0,50 . 0)

    (0,25 + 0,50) = 16,7 %

    (4.6)

    Portanto, para o ndice de 40 pontos, o risco Baixo com grau de 16,7%.

    A pesquisa bibliogrfica deste Captulo teve como propsito dar o

    embasamento necessrio para o desenvolvimento de um programa. O objetivo

    deste programa alocar os experimentos na carga til do foguete otimizando

    os parmetros de balanceamento esttico e dinmico, utilizando os conceitos

    de inteligncia computacional abordados.

  • 33

    5 DESENVOLVIMENTO E APLICAO

    5.1. Linguagem de programao

    O cdigo do programa desenvolvido foi todo elaborado em linguagem C. Esta

    linguagem proporciona um processamento do cdigo mais rpido. Outra

    motivao de sua escolha que no existe a necessidade de uma interface

    com usurio de alto nvel. Para o programa os dados de entrada dos

    experimentos podem ser atribudos atravs de um arquivo, ou direto dentro do

    cdigo. Aps o processamento, fornecido um arquivo com os resultados das

    coordenadas cartesianas de cada objeto, que pode ser aberto em um programa

    de planilha eletrnica, editor de texto ou ferramenta CAD, como exemplos:

    AutoCAD, SolidWorks, CREO, etc. Neste programa, foi implementado a

    sada no padro do AutoCAD, por esta ser a ferramenta mais utilizada em

    avaliaes e gerao de desenhos para a fabricao das plataformas.

    5.2. Inteligncia computacional hbrida

    Na otimizao da alocao dos experimentos na carga til, foram combinados

    dois paradigmas de inteligncia computacional. O Algoritmo Gentico realiza o

    processo de busca por solues timas e a lgica fuzzy determina a aptido de

    cada indivduo da populao. Esta agregao de funcionalidades busca elevar

    o potencial de otimizao quando comparado a utilizao de somente um

    paradigma. A Figura 5.1 apresenta o fluxograma do algoritmo desenvolvido,

    com as responsabilidades atribudas ao algoritmo gentico e lgica fuzzy.

  • 34

    Figura 5.1 - Fluxograma da Inteligncia Computacional Hbrida desenvolvida.

    A seguir ser apresentado, com detalhes, cada etapa da aplicao

    desenvolvida utilizando o conceito de hibridizao de paradigmas de

    inteligncia computacional.

  • 35

    5.3. Algoritmo gentico

    O Algoritmo Gentico (AG) uma meta-heurstica que apresenta bom

    desempenho na soluo de problemas com complexidade no-polinomial, de

    engenharia e multiobjetivo. O AG pode pesquisar diferentes regies do espao

    de busca, encontrando solues para problemas difceis, no-convexo,

    descontnuo e espao de soluo multimodal (KONAK ET AL, 2006). Outra

    vantagem, o AG no exige do usurio priorizar escala ou pesar objetivos, este

    capaz de otimizar um problema multiobjetivo, sendo capaz de aproximar-se

    da verdadeira frente de Pareto (JONES; MIRRAZAVI; TAMIZ, 2001). Em Gen e

    Cheng (2000) so apresentadas as diversas reas e trabalhos em que o AG

    apresentou sucesso na otimizao, entre estas reas cita-se: biologia,

    otimizao combinatria, cincia da computao, engenharia do controle,

    engenharia de desenvolvimento, otimizao. Tambm apresenta diversos

    trabalhos na hibridizao dos AGs com outras meta-heursticas como: AG com

    fuzzy e AG com redes neurais, para aplicaes de processamento de imagens

    e reconhecimento de padres.

    Existem diversos trabalhos de pesquisa publicados que apresentam bons

    resultados de otimizao multiobjetivo utilizando AG. Ao longo deste

    desenvolvimento e melhoramento do AG, surgiram diversas abordagens

    quanto sua atribuio de aptido, elitismo e diversificao. A Tabela 5.1

    apresenta um resumo das abordagens de AG e suas principais caractersticas.

    Tabela 5.1 - Principais abordagens do AG na literatura.

    Algoritmo Vantagens Desvantagens

    VEGA Primeira implementao direta

    e simples de MOGA

    Tende a convergir para o

    extremo de cada objetivo

    MOGA Extenso do AG mono-objetivo

    para multiobjetivo.

    Convergncia lenta.

    Problemas associados aos

  • 36

    Fonte: adaptada de Jones; Mirrazavi; Tamiz (2001).

    Nesta dissertao foi implementada uma verso modificada do MOGA,

    conhecida como "Non-Generational Multi-Objective Genetic Algorithm"

    (NGMOGA). Este modelo apresenta vantagem em relao ao algoritmo

    gentico tradicional, pois preserva as solues boas que esto prximas

    fronteira de Pareto. Esta preservao explica o termo no-geracional, j que a

    nova populao formada por indivduos da nova e da antiga gerao

    (BARBOSA, 2013). Embora outras tcnicas tenham obtido sucesso em

    otimizao, a tcnica NGMOGA atende os requisitos de aproximar as solues

    da fronteira de Pareto com baixo custo computacional e simplicidade de

    modelamento do algoritmo, conforme mostra Fonseca e Fleming (1993) no

    trabalho sobre MOGA.

    5.3.1. Entrada de dados do algoritmo

    A primeira etapa do desenvolvimento consiste em definir quais os dados de

    interesse de entrada para o programa. O programa de alocao de

    experimentos na carga til ser denominado como AEP (do ingls "Allocator

    Experiments in the Payload"). O desenvolvimento dividiu-se em duas etapas. A

    primeira foi elaborar uma verso inicial do programa, com o propsito de validar

    a lgica implementada com um nmero reduzido de parmetros. A verso final

    utiliza todos os parmetros necessrios para otimizar o problema de alocao

    Utiliza ordenao por Pareto. tamanhos de parmetros.

    NSGA-II Parmetro nico, bem testado

    e eficiente.

    Distancia de aglomerao

    funciona somente no espao de

    objetivos.

    SPEA-2 Preserva os pontos extremos. Clculo da aptido e da

    densidade so

    computacionalmente custosos.

  • 37

    de experimentos na carga til. A Tabela 5.2 apresenta as diferenas entre a

    verso inicial e final.

    Tabela 5.2 - Diferenas entre as verses do AEP.

    5.3.2. Representao dos cromossomos

    A modelagem dos dados segue o conceito da gentica populacional, onde

    cada indivduo possui caractersticas que os diferem dos outros. Estas

    caractersticas esto definidas em seu cromossomo, que consiste numa cadeia

    de DNA (cido Desoxirribonucleico) que contm suas informaes genticas.

    Um indivduo possui um nmero de cromossomos, e cada cromossomo possui

    uma sequencia de genes, como apresentado na Figura 5.2.

    Figura 5.2 - Modelo gentico generalizado de um indivduo.

    Parmetro AEP inicial AEP final

    Objetos 06 20

    Parmetros dos

    experimentos

    Raio, altura e massa Raio, altura e massa

    Quantidade de

    plataformas

    01

    (inferior)

    10

    (05 inferiores e 05

    superiores)

    Restries de

    objetivos

    Raio mximo plataforma

    Sobreposio de objetos

    Raio mximo plataforma

    Sobreposio de objetos

    Objetivos Minimizar CG, PI e de

    um mdulo

    Minimizar CG, PI e da

    carga til

  • 38

    Utilizando o mesmo conceito apresentado, o espao de solues possveis

    para otimizao forma a populao de indivduos. Cada possvel soluo do

    problema um indivduo desta populao. Cada indivduo possui uma cadeia

    de DNA, na qual DNA possui vrios cromossomos e que representam os

    experimentos. O cromossomo possui genes, que representam parmetros para

    alocao do experimento. A Figura 5.3 apresenta esta hierarquia.

    Indivduo 1

    Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3

    X Y Z X Y Z X Y Z

    Figura 5.3 - Modelo gentico de um indivduo da populao.

    Onde x, y e z so os valores das coordenadas cartesianas de posicionamento

    dos experimentos na carga til. A forma de representao utilizada a

    baseada em nmeros Reais. Estes so os dados manipulados pelo algoritmo

    gentico, isto , variam com as iteraes do AG.

    As informaes de raio, altura, e massa formam os trs atributos de cada

    objeto. Estes dados so fixos ao longo do algoritmo, pois so as informaes

    dos experimentos a serem alocados na carga til. Para armazenar estes

    dados, utiliza-se um vetor, de tamanho igual quantidade de experimentos

    pela quantidade de caractersticas, representado pela Figura 5.4.

    Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3

    Raio Altura Massa Raio Altura Massa Raio Altura Massa

    Figura 5.4 - Modelo de dados das caractersticas dos experimentos.

    5.3.3. Clculo da aptido dos indivduos com Fuzzy

    O objetivo garantir o balanceamento esttico e dinmico da carga til, para

    isto devem-se minimizar cinco parmetros: os centros de gravidade em e ,

    os produtos de inrcia nos planos e , e o ngulo do eixo de inclinao

    do foguete. Contudo podemos reduzir estes cinco objetivos, para trs,

    agrupando os parmetros de centro de gravidade e em um nico,

    denominado centro de gravidade resultante. No produto de inrcia, agrupa-se

  • 39

    os resultados dos planos e em um nico parmetro denominado produto

    de inrcia resultante.

    O clculo da aptido dos indivduos, ou tambm chamada de funo de

    avaliao, realizada atravs da aplicao das equaes de balanceamento

    citadas na formulao proposta por Deb (2001). Aplicando a reduo de

    objetivos proposta anteriormente, tem-se a otimizao descrita pelas equaes:

    Minimizar (, ) = ( miyi

    ni=1

    mini=1

    )

    2

    + ( mizi

    ni=1

    mini=1

    )

    2

    ,

    = 1, 2, , ;

    (5.1)

    () = + , (5.2)

    = 0,5 arctan2

    ( ) , (5.3)

    Restrito a = + 2 +

    22 , = 1, 2, , ; (5.4)

    + < ( )2

    + ( )2 .

    = 1, 2, , ;

    para

    e > 0

    (5.5)

    onde,

    fCGr(y, z) funo objetivo do centro de gravidade resultante,

    mi massa do experimento,

    funo objetivo do produto de inrcia resultante,

    funo objetivo da inclinao do eixo do foguete,

    rimx o raio mximo de alocao do experimento,

    e raios de posicionamento dos experimentos avaliados,

    raio da plataforma,

    , , e so as distncias das coordenadas do centro do

    experimento,

    so as alturas dos objetos nos mdulos,

  • 40

    Os valores das coordenadas esto em relao ao plano definido pelo

    eixo central x (eixo de rolamento) do veculo, ver Figura 2.5 apresentada

    anteriormente.

    Na literatura, em otimizao multiobjetivo, a aptido calculada como a mdia

    aritmtica, ou a mdia ponderada de cada objetivo. Contudo, selecionar os

    pesos adequados costuma ser uma tarefa complicada, devido dificuldade em

    estabelecer o grau de importncia de cada requisito. A lgica fuzzy tem como

    principal objetivo tratar estas decises em que no h um valor ideal para um

    parmetro. Sua lgica permite a simulao do entendimento e avaliao de

    resultados feita por um especialista, e tomar a deciso mais adequada

    situao, neste caso, atribuir uma aptido ao indivduo.

    A primeira etapa consiste em normalizar os resultados das funes objetivo,

    atribuindo valores entre 0 e 1. Isto feito para cada funo objetivo, calculando

    a diviso entre o valor da funo objetivo do indivduo pelo valor mximo deste

    objetivo existente na populao, conforme a equao:

    = ()

    (()), (5.6)

    onde,

    o valor normalizado da funo do indivduo,

    () o valor do parmetro do indivduo,

    (()) o maior valor do parmetro analisado em toda

    populao.

    Depois, deve-se elaborar o universo de discurso, que nesta otimizao ser

    dividido em trs entradas. Em cada entrada definem-se as funes de

    pertencimento, nomeando-as convenientemente conforme a anlise do valor da

    varivel. A Figura 5.5 mostra o universo de discurso do valor do centro de

    gravidade resultante, suas trs funes de pertinncia com seus rtulos

    lingusticos, como timo, regular e pssimo.

  • 41

    Figura 5.5 - Universo de discurso do centro de gravidade.

    Esta normalizao tambm feita para as funes objetivo do produto de

    inrcia, ngulo de inclinao do foguete e na sada para o valor da aptido.

    Todas estas variveis normalizadas entram nas regras de inferncia fuzzy, que

    toma a deciso e atribui um valor de aptido ao indivduo, como apresentado

    no diagrama da Figura 5.6.

  • 42

    Figura 5.6 - Diagrama completo da lgica fuzzy.

    A prxima etapa consiste em definir as regras para interpretao das variveis

    de entrada, realizando a defuzzificao e retornando o valor da aptido do

    indivduo. As regras de inferncia fuzzy consistem em definir uma sequencia de

    implicaes se ento , como as aplicadas em lgica

    de programao. No caso desta otimizao multiobjetivo, o lado esquerdo da

    operao contm trs condies, totalizando vinte e sete regras. O operador

    utilizado para implicao o de interseco de conjuntos, tambm conhecido

    como operador Mandani-Min (TSOUKALAS; UHRIG, 1997). A Tabela 5.3

    apresentam as regras de inferncia definidas para esta otimizao. Todos os

    indivduos da populao do algoritmo gentico sero avaliados e recebero um

    valor de aptido a partir destas regras.

  • 43

    Tabela 5.3 - Tabela de inferncia fuzzy.

    se

    CGr = O

    e

    Ixr = O

    e

    = O

    ento

    A = O

    CGr = O Ixr = O = R A = R

    CGr = O Ixr = O = P A = P

    CGr = O Ixr = R = O A = O

    CGr = O Ixr = R = R A = R

    CGr = O Ixr = R = P A = P

    CGr = O Ixr = P = O A = P

    CGr = O Ixr = P = R A = P

    CGr = O Ixr = P = P A = P

    CGr = R Ixr = O = O A = O

    CGr = R Ixr = O = R A = R

    CGr = R Ixr = O = P A = P

    CGr = R Ixr = R = O A = O

    CGr = R Ixr = R = R A = R

    CGr = R Ixr = R = P A = P

    CGr = R Ixr = P = O A = P

    CGr = R Ixr = P = R A = P

    CGr = R Ixr = P = P A = P

    CGr = P Ixr = O = O A = R

    CGr = P Ixr = O = R A = P

    CGr = P Ixr = O = P A = P

    CGr = P Ixr = R = O A = R

    CGr = P Ixr = R = R A = P

    CGr = P Ixr = R = P A = P

    CGr = P Ixr = P = O A = P

    CGr = P Ixr = P = R A = P

    CGr = P Ixr = P = P A = P

    onde,

    O: a funo de pertinncia tima;

    R: a funo de pertinncia regular;

    P: a funo de pertinncia ruim ou pssima;

    CGr: a varivel de entrada de centro de gravidade resultante;

    Ixr: a varivel de entrada do produto de inrcia resultante;

    : a varivel de entrada do ngulo de inclinao do eixo do foguete;

    A: a varivel de sada de aptido;

  • 44

    A defuzzificao, isto , a converso do valor lingustico na sada atribuindo um

    valor numrico de aptido, realizada a partir do clculo conhecido como

    centro das somas. Este mtodo leva em conta a sobreposio de vrias regras,

    levando em considerao no valor de sada a contribuio de cada regra,

    conforme a equao:

    =

    =1 . ()

    =1

    ()=1

    =1

    (5.7)

    onde,

    ponto de mximo da altura das funes de pertinncia,

    a funo de pertinncia considerada,

    o valor de pertinncia na sada, ou valor da aptido.

    Em seguida, os indivduos so colocados em ordem decrescente de aptido. O

    ordenamento necessrio antes do processo de seleo de indivduos a

    realizarem o cruzamento, propiciando que a tcnica de presso de seleo

    gaussiana funcione corretamente.

    5.3.4. Seleo de indivduos para cruzamento

    Sendo o AG uma meta-heurstica bioinspirada, a estratgia de seleo deve

    priorizar que os indivduos mais aptos tenham maior probabilidade de transferir

    sua carga gentica, como sugerida pela teoria da evoluo de Darwin.

    Geralmente, so utilizadas as tcnicas da roleta e do torneio. Estas tcnicas

    visam aumentar a presso de seleo, isto , aumentar a probabilidade dos

    melhores indivduos contriburem com sua carga gentica para a prxima

    gerao. Caso contrrio, realizando uma seleo aleatria uniforme, provoca

    demora de convergncia da populao para a otimizao, e perda dos

    indivduos com boa aptido. A tcnica do sorteio utiliza a probabilidade de

    seleo proporcional aptido dos indivduos; a tcnica do torneio consiste em

    selecionar dois indivduos, e o que possui melhor aptido selecionado,

    passando para o processo de cruzamento (LACERDA; CAVALHO, 1999).

    Estes processos apresentam algumas desvantagens, por exemplo, no mtodo

  • 45

    da roleta, se os indivduos da populao possurem uma diferena absoluta de

    aptido muito pequena entre eles, o que normalmente ocorre depois de

    algumas geraes, todos os indivduos tero a mesma probabilidade de serem

    sorteados para cruzamento, como o exemplo mostrado na Figura 5.7.

    Indivduos Aptido Porcentagem

    A 19,8 20,3%

    B 19,6 20,1%

    C 19,5 20,0%

    D 19,3 19,8%

    E 19,1 19,6%

    Figura 5.7 - Tcnica da roleta com pequena variao de probabilidades.

    Fonte: adaptado de Linden (2006).

    A tcnica implementada foi baseada em um novo conceito de presso de

    seleo. Esta nova tcnica tambm consiste em um sorteio, contudo o nmero

    aleatrio gerado tem um comportamento Gaussiano, isto , tem uma

    distribuio normal. O programa, inicialmente, realiza o sorteio de dois nmeros

    com distribuio uniforme, depois estes so transformados em uma distribuio

    Gaussiana, como proposto por Box e Muller (1958), atravs da equao:

    1 = (2 log 1)1

    2 cos(22). (5.8)

    onde,

    1 o nmero gerado aleatoriamente com distribuio normal,

    1 e 2 so nmeros aleatrios gerados com distribuio uniforme.

    As curvas apresentadas na Figura 5.8.a mostram as curvas tericas do

    comportamento das distribuies, sendo a uniforme na cor azul e a normal em

    verde. Na Figura 5.8.b, esto as curvas dos resultados prticos, obtidos atravs

    do algoritmo implementado para sortear nmeros aleatrios.

    A19.80.20

    B19.60.20

    C19.50.20

    D19.30.20

    E19.10.20

    AptidoA

    B

    C

    D

    E

  • 46

    (a)

    (b)

    Figura 5.8 - Curvas tericas de distribuio (a), curvas de resultados prticos (b).

    Esta presso de seleo favorece que os indivduos mais aptos transfiram sua

    carga gentica, contudo, permite que os menos aptos tambm o faam com

    uma menor frequncia. Na otimizao desejada, os indivduos com melhor

    aptido esto no centro da distribuio, obtendo uma maior chance de serem

    sorteados.

    Esta tcnica permite que um indivduo menos apto, continue com a

    possibilidade de contribuir com sua caracterstica aps o cruzamento,

    explorando outros espaos de busca, evitando a convergncia prematura da

    populao para uma regio de timo local.

    Para validar esta tcnica, foram utilizadas funes teste, apresentadas na

    Tabela 5.4. Esta estratgia sempre abordada para validao de novas

    metodologias, como realizadas em: Andre et al (2000), Deb et al (2002) e

    Galski (2006). Funes matemticas, que tm vrias regies de timos locais,

    mas somente um valor de timo global, so utilizadas em diversos trabalhos

    para validao de meta-heurstica, ou para apresentao de novas abordagens

    das tcnicas de busca.

  • 47

    Tabela 5.4 - Funes teste para a presso de seleo.

    Para todas as funes, o algoritmo apresenta eficincia na otimizao,

    encontrando a regio do timo global. A Figura 5.9 apresenta uma anlise da

    convergncia para a funo de Griewank. Esta funo considerada crtica,

    pois, utilizando dez dimenses no espao de busca, tem as regies de timos

    locais com aptido bem prxima da aptido do timo global, tornando difcil a

    convergncia correta desta otimizao.

    O grfico mostra que para dimenses mais baixas, o algoritmo consegue

    realizar a otimizao em poucas geraes. Conforme a dimenso do problema

    elevada, a convergncia mais lenta, comportamento normal para qualquer

    implementao de paradigmas de inteligncia computacional. Em todas as

    situaes pode-se perceber a convergncia das solues para a minimizao

    da funo, validando a funcionalidade da tcnica de presso de seleo

    gaussiana.

    Funo Domnio Valor do

    timo global

    Eason

    () = cos(1) cos(2) ((1 ) (2 ))

    100 100

    2 dimenses

    = (, )

    () = 1

    Griewank

    () = 1 +

    2

    4000

    =1

    cos (

    )

    =1

    -600 600

    = 1,2,4,6,8,10

    = (0, ,0)

    () = 0

    Rosembrock

    () = 100(2 12) + (1 1)

    -2.048 2.048

    2 dimenses

    = (1,1)

    () = 0

  • 48

    Figura 5.9 - Anlise de convergncia do AG usando a funo teste de Griewank.

    5.3.5. Parmetros de cruzamento e mutao

    O operador de cruzamento permite a explorao de regies desconhecidas no

    espao de busca. As tcnicas mais aplicadas na representao binria so a

    utilizao de cruzamento de um ponto e a de dois pontos. Existe a

    possibilidade de utilizar valores maiores que dois pontos, porm, no so

    frequentemente utilizados em trabalhos de AG. Na tcnica de um ponto,

    sorteado um ponto de corte do cromossomo, isto , neste ponto ser realizada

    a troca de informaes de cada indivduo, conforme a Figura 5.10. Os filhos

    so a mistura de uma parte dos cromossomos dos pais.

    Pai 1 0 1 1 0 1 0 1 1

    Pai 2 1 0 1 1 0 1 1 0

    Cruzamento

    Filho 1 0 1 1 1 0 1 1 0

    Filho 2 1 0 1 0 1 0 1 1

    Figura 5.10 - Exemplo de cruzamento de um ponto para representao binria.

    Os operadores convencionais no so eficientes na representao real. Nesta

    tcnica, os cromossomos esto representados por:

  • 49

    1 = (11, 12, , 1)2 = (21, 22, , 2)

    1 = (11, 12, , 1)2 = (21, 22, , 2)

    onde,

    11, 12, 21, 22,11, 12, 21 22 so nmeros Reais que representam as

    grandezas numricas dos indivduos.

    Desta forma, outros mtodos de cruzamento foram desenvolvidos. A Tabela

    5.5 apresenta diversas implementaes de operadores de cruzamento.

    Tabela 5.5 - Lista de operadores de cruzamento.

    - o cruzamento da mdia (DAVIS, 1991) = (1 + 2)

    2

    - mdia geomtrica = 12

    - linear 1 = 0,51 + 0,52

    2 = 1,51 0,52

    - aritmtico (MICHALEWICZ, 1994) 1 = 1 + (1 )2

    2 = (1 )1 + 2

    - BLX- - blend crossover

    (ESHELMAN e SCHAFFER, 1993)

    1 = 1 + (2 1)

    onde, ( , 1 + ),

    e = 0,5

    Neste algoritmo foi utilizado o cruzamento BLX-, ou conhecido como

    cruzamento de mistura. A vantagem deste mtodo a busca em vrias

    direes do espao de busca, pois quando =0, os filhos podem situar-se

    sobre um intervalo entre os pontos dos pais. Aumentado o valor de , pode-

    se estender este intervalo de forma linear, como mostra a Figura 5.11a. Quanto

    ao valor de , se for igual para todos os pares de genes, mantm o

    comportamento da Figura 5.11a, porm, se utilizar um valor de para cada

    gene, o possvel filho pode situar-se em algum ponto de uma regio limitada

  • 50

    por um retngulo entre os pontos dos pais, ver Figura 5.11b (LACERDA;

    CARVALHO, 1999).

    (a)

    (b)

    Figura 5.11 - Valor de 0 e igual (a). Valor de 0 e diferente (b).

    Fonte: Gray; Costanzo; Plesha (2010).

    O operador de mutao tambm possui diversas implementaes, dentre as

    quais as apresentadas na Tabela 5.6.

    Tabela 5.6 - Funes Lista de operadores de mutao.

    - Uniforme: trocar um gene por um nmero

    aleatrio; = {

    ( , )

    - Gaussiana: substitui um gene por um

    nmero aleatrio de uma distribuio normal; = {

    ( , )

    - Limite (MICHALEWICZ, 1994): substitui o

    gene por um dos valores limites do intervalo

    permitido;

    = {

    Foi utilizado o operador de mutao no-uniforme, proposto por Michalewicz

    (1994), por apresentar na literatura bons resultados na busca por solues em

    outras regies do espao, promovendo a diversificao necessria para o AG.

    O operador implementado de acordo com as funes:

  • 51

    = {

    + ( ) (), 1 < 0,5

    ( ) (), 1 > 0,5

    ,

    ,

    onde,

    (5.9)

    () = (2 (1

    ))

    , (5.10)

    1 2 (0,1) gerado aleatoriamente,

    a gerao corrente,

    o nmero mximo de geraes,

    um parmetro do sistema de determina a forma da funo.

    O cruzamento entre os indivduos so monitorados e armazenados em cada

    gerao. O objetivo evitar que nas geraes seguintes exista uma grande

    quantidade de indivduos com caractersticas semelhantes, isto , minimizar a

    perda de diversidade da populao. Para isto, uma rotina de verificao

    permite que um determinado par de indivduos realize apenas um nico

    cruzamento, contudo um mesmo indivduo pode participar de outros

    cruzamentos.

    A mutao tem o papel de permitir ao AG a busca em outras regies do

    espao, evitando a convergncia prematura da populao. Isto definido por

    uma taxa de mutao um valor que define se este processo ocorre ou no

    aps o cruzamento. Na literatura sempre associado a uma probabilidade

    baixa de ocorrncia, utilizando-se valores entre 0,5% e 1,0%.

    No entanto, aps algumas geraes, existe a tendncia natural de a populao

    adquirir as caractersticas do melhor indivduo da populao, criando um

    subconjunto, conhecido como super indivduos. Porm, se a taxa de mutao

    for alta, existe o risco de perda prematura de bons indivduos.

    O processo de mutao foi melhorado com a finalidade de: evitar a

    convergncia prematura dos indivduos, e permitir que o algoritmo realize uma

    busca em outras regies do espao. Para isto, foi incorporado ao operador de

  • 52

    mutao, a mesma equao (), de forma a promover um crescimento da

    taxa de mutao a cada gerao, elevando-se de 0,5% no incio at 5% no final

    das iteraes, como apresentado na Figura 5.12, a curva representa o

    comportamento da taxa de mutao ao longo das geraes.

    Figura 5.12 - Curva de crescimento da taxa de mutao a cada gerao.

    5.3.6. Elitismo

    Elitismo uma pequena modificao no algoritmo, no alterando

    significativamente o tempo de execuo, mas garante que o desempenho do

    AG seja sempre crescente. Consiste em manter uma quantidade de indivduos

    da gerao anterior que possuem boa aptido, isto , eles no morrem, eles

    avanam gerao seguinte, continuando a contribuir com suas

    caractersticas. A taxa de elitismo de at 10%, podendo ser menor que este,

    caso os valores de aptido os indivduos da gerao atual forem melhores.

    Obrigatoriamente, os indivduos desta elite substituem os piores da gerao

    atual. O resultado, apresentado na Figura 5.13, mostra a curva da

    convergncia da populao mais acentuada utilizando a tcnica de elitismo,

  • 53

    acelerando a otimizao, e uma menor oscilao comparada ao AG tradicional,

    promovendo pouca perda de bons indivduos durante as geraes.

    Figura 5.13 - Convergncia da aptido do melhor indivduo.

    5.4. Resultados da alocao na plataforma

    A validao do programa foi realizada