otan - natootan publicada sob a autoridade do secretário--geral da otan, esta revista tem por...

36
Entrevista do General Sir Rupert Smith páginas 24-25 Mulheres em uniforme páginas 30-33 OTAN O desafio da manutenção da paz DEPOT ANTWERPEN X OTAN Notícias da VERÃO 2001 500$00 O desafio da manutenção da paz

Upload: others

Post on 02-Mar-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Entrevista doGeneral Sir RupertSmithpáginas 24-25

Mulheresem uniformepáginas 30-33

OTANO desafio da

manutenção da paz

DE

PO

T A

NT

WE

RP

EN

X

OTANNotícias daorganização do tratado do atlântico norte

bélgicacanadá

república checadinamarca

françaalemanha

gréciahungriaislândia

itálialuxemburgo

holandanoruegapolóniaportugalespanhaturquia

reino unidoestados unidos

VERÃO 2001 500$00

O desafio damanutenção da paz

Page 2: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

OTANPublicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,os artigos não representam necessaria-mente a opinião oficial ou a política dosgovernos membros ou da OTAN.

DIRECTOR: António Borges de CarvalhoCHEFE DE REDACÇÃO: Christopher BennettADJUNTA DO CHEFE DE REDACÇÃO: Vicki NielsenASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Felicity BreezeMAQUETA: Estúdio Gráfico da OTAN

Editor: Director of Information and PressNATO, 1110 Brussels, Belgium

Impressa em Portugal por Mirandela, S.A.© NATO

[email protected]@hq.nato.int

Os artigos podem ser reproduzidos depois de tersido obtida a autorização da Redacção e desde queseja mencionada a sua origem. A reprodução deartigos assinados deve referir o nome do autor.

A Notícias da OTAN é publicada periodicamenteem português, bem como em alemão (NATOBrief), checo, dinamarquês (NATO Nyt), espanhol(Revista de la OTAN), francês (Revue de l’OTAN),grego (Deltio NATO), holandês (NAVO Kroniek),húngaro (NATO Tükor), inglês (NATO Review),italiano (Rivista della NATO), norueguês (NATONytt), polaco (Przeglad NATO) e turco (NATODergisi). É publicado um número por ano emislandês (NATO Fréttir) e ocasionalmente sãotambém publicados números em russo e ucraniano.

A Notícias da OTAN é também publicada naInternet em www.nato.int/docu/review.htm.

Os pedidos referentes a esta revista devem serdirigidos ao:

NATO Office of Information and Press1110 Brussels, BelgiumFax: (32-2) 707 1252E-MAIL: [email protected]

ou à

Comissão Portuguesa de AtlânticoAvenida Infante Santos, 42, 6.º1300 LisboaTel.: 21 390 59 57

Nesta publicação, todas as referências à Ex--República Jugoslava da Macedónia são assinal-adas com um asterisco (*), a que corresponde aseguinte nota de rodapé:A Turquia reconhece a República da Macedóniacom o nome constitucional.

Notícias da OTAN2 Verão 2001

sumárioOTANNotícias da

NA CAPA

Soldado da paz da OTANcumprimenta um refugiadokosovar albanês de regresso a casa.

© N

ick

Sid

le —

Alli

ed M

ouse

and

Hea

rtst

one

ACTUALIDADES DA OTAN

4Notícias da Aliança.

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

6O passado e o presente damanutenção da pazEspen Barth Eide analisa aevolução da manutenção da pazdesde o fim da Guerra Fria..

9Associar a prontidão para ocombate com o bem-fazerChris Bellamy considera que amanutenção da paz não é de certezauma actividade para fracos.

12Ensinamentos colhidosDavid Lightburn compara asmaneiras como a OTAN e asNações Unidas estão a aplicar osensinamentos colhidos nos Balcãs.

DEBATE

16Podem os militares ser aomesmo tempo soldados da paze combatentes?BILL NASH VS JOHN HILLEN

Devem as tropas de combate serincumbidas de operações demanutenção da paz?Isto enfraquecerá a sua aptidão parao combate?

CRÍTICA LITERÁRIA

21A história actualJamie Shea passa em revista cincolivros que já foram publicados sobrea campanha da OTAN no Kosovo.

ENTREVISTA

24General Sir Rupert Smith:DSACEUR

Page 3: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Verão 2001 Notícias da OTAN 3

edito

rial O último número da Notícias da OTAN com o novo

aspecto voltou a provocar muita correspondência, incluin-do pedidos de uma página de cartas dos leitores. Emresposta, isto será incluído no futuro. Desta vez, o temacentral é a manutenção da paz, uma área em que a Aliançase tem crescentemente envolvido nos últimos anos. EspenBarth Eide, Secretário de Estado do Ministério dosNegócios Estrangeiros norueguês, analisa a evolução damanutenção da paz desde o fim da Guerra Fria.Christopher Bellamy, professor de ciência e doutrina mili-tar na Cranfield University, considera que a manutençãoda paz não é de certeza uma actividade para fracos. EDavid Lightburn do Pearson Peacekeeping Center com-para as maneiras como a OTAN e as Nações Unidas estãoa aplicar os ensinamentos colhidos nos Balcãs. No debate,Bill Nash, director do Centro de Acção Preventiva doCouncil on Foreign Relations, e John Hillen, consultor desegurança da campanha eleitoral do Presidente dos EUAGeorge W. Bush, debatem a questão de saber se os mi-litares podem ou não ser ao mesmo tempo soldados da paze combatentes. Este assunto é novamente analisado naentrevista, em que, entre outros assuntos, o general SirRupert Smith, Adjunto do Comandante Supremo Aliadoda Europa, exprime a sua opinião sobre as tarefas apropria-das para os militares nas operações de manutenção da paz.Na crítica literária, Jamie Shea, director do Gabinete deInformação e Imprensa da OTAN, passa em revista cincolivros que já foram publicados sobre a campanha daAliança no Kosovo. Carlo Scognamiglio-Pasini, um antigoministro da defesa italiano, explica a expansão do papel daItália nas operações de manutenção da paz nos Balcãs. EBronislaw Komorowski, Ministro da Defesa da Polónia,apresenta o programa de reforma militar do seu país. Porfim, 25 anos depois do reconhecimento formal do Comitésobre as Mulheres nas Forças da OTAN, Vicki Nielsen,Adjunta do Chefe de Redacção da Notícias da OTAN,examina a medida em que as mulheres foram integradasnas forças da OTAN. Estatísticas mostrando o número demulheres nas forças da OTAN e nas operações demanutenção da paz encerram o presente número.

Christopher Bennett

Ano XXXIIVerão 2001

Vagas na OTAN

Os nacionais dos países da OTAN podem concorrer a todosos cargos do Secretariado Internacional da OTAN.

Os detalhes das vagas, procedimentos e minutas dos concursosestão disponíveis no sítio Web da OTAN em:

http://www.nato.int/structur/recruit/index.htm

ESPECIAL

26Aumento da contribuição daItáliaCarlo Scognamiglio-Pasini explicacomo a Itália expandiu o seu papelnas operações de manutenção dapaz nos Balcãs.

28A reforma das forças armadasda PolóniaBronislaw Komorowski expõe oprograma de reforma das forçasarmadas da Polónia.

ASSUNTOS MILITARES

30Mulheres em uniformeVicki Nielsen examina a integração dasmulheres nas forças armadas da OTAN

ESTATÍSTICAS

34Mulheres nas forças da OTAN

Operações de manutenção da paz

Page 4: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

A 20 de Junho, os Embaixadores naOTAN concordaram em princípio comum pedido do Presidente BorisTrajkovski da Ex-República Jugoslavada Macedónia* de ajuda da OTANpara desmilitarizar os extremistas deetnia albanesa, na condição de aspartes prosseguirem com êxito odiálogo político e cessarem as hostil-idades. Foram dadas instruções paraser elaborado um Plano Operacionalnesta base.

O Secretário-Geral da OTAN LordRobertson visitou Skopje, na Ex-República Jugoslava da Macedónia*,a 14 de Junho para se reunir com oPresidente Boris Trajkovski e oPrimeiro-ministro Ljubco Georgievskie outras importantes personalidadespolíticas para conversações sobrecomo pôr fim à rebelião dos extremis-tas de etnia albanesa.

Visita do presidente Bush

Os Chefes de Estado e de Governoda Aliança reuniram-se na OTAN a 13de Junho para uma sessão especialdo Conselho do Atlântico Nortedurante a primeira visita oficial doPresidente dos EUA George W. Bushà Europa. Os debates cobriram todasas questões essenciais da agenda daOTAN, incluindo a defesa antimíssil.Sobre a questão do futuro alarga-mento, os Aliados esperam convidarpaíses candidatos a aderir à Aliançana Cimeira de Praga em 2002.

Os Comités Militares da UniãoEuropeia e da OTAN reuniram-se for-malmente pela primeira vez na OTANa 12 de Junho para troca de infor-mações sobre questões práticas rela-cionadas com o desenvolvimento dacooperação UE-OTAN em matéria desegurança.

O Comité sobre as Mulheres nasForças da OTAN comemorou o seu25.º aniversário numa reunião de 10 a15 de Junho, que foi excepcional-mente realizada em Roma, Itália, paraassinalar a primeira incorporação nasForças Armadas Italianas de recrutasfemininas no ano passado.

Os Ministros da Defesa dos paísesmembros da OTAN e dos paísesParceiros juntaram-se em Bruxelaspara a sua reunião semestral a 7 e 8de Junho. Os principais itens dedebate foram o desenvolvimento dasrelações UE-OTAN, a implementaçãoda Iniciativa das Capacidades deDefesa, a defesa antimíssil e a crisena Ex-República Jugoslava daMacedónia*.

O Presidente da Arménia RobertKocharian esteve na OTAN a 6 deJunho para se reunir com LordRobertson. Debateram a continuadaparceria da Arménia com a OTANbem como a tensão no Azerbaijão porcausa do Nagorni-Carabague.

Quase uma centena de generaisesteve no Quartel-General Supremodas Potências Aliadas na Europa(SHAPE) para a conferência anualorganizada pelo Comandante SupremoAliado na Europa (SACEUR) generalJoseph W. Ralston a 5 e 6 de Junho.Dois temas fundamentais foram oConceito Estratégico da OTAN de1999 e as suas consequências paraas forças e as capacidades, e umaavaliação das operações da OTAN nosBalcãs.

14 países membros da OTAN eParceiros participaram no ExercícioBaltops 2001, uma operação de apoioda paz no mar Báltico de 1 a 18 deJunho.

Em 1 e 2 de Junho, Lord Robertsonvisitou Roma, Itália, para assistir àparada militar anual da Itália e para sereunir com o Presidente CarloAzeglio Ciampi, o Ministro da Defesacessante Sérgio Mattarella e oPrimeiro-ministro designado SilvioBerlusconi.

Ministros em BudapesteOs Ministros dos Estrangeiros dospaíses da OTAN e Parceiros estiveramem Budapeste, Hungria, a 29 e 30 deMaio, para a sua reunião regular daPrimavera. Os debates centraram-senas actuais tensões na Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia*, nos acon-tecimentos dos Balcãs, na coope-ração UE-OTAN e nos novos desafios

enfrentados pela Aliança, bem comono reforço das parcerias da OTAN enas relações da Aliança com aRússia e a Ucrânia

Lord Robertson visitou Dubrovnik,Croácia, a 31 de Maio onde fez umaconferência sobre As grandes etapasda integração europeia: promover a paze a prosperidade no Sueste Europeu.

A questão do alargamento da OTANdominou os debates da reunião daPrimavera da Assembleia Parlamentarda OTAN realizada em Vilna, Lituânia,de 27 a 31 de Maio.

Numa declaração feita a 24 de Maio,Lord Robertson condenou vivamenteas recentes acções de grupos extre-mistas na Ex-República Jugoslava daMacedónia*, particularmente a con-tinuação da sua presença em váriasaldeias ocupadas e os seus ataquesàs forças de segurança do governo.

Abertura da zona tampãoO regresso faseado das forças desegurança jugoslavas e sérvias aosector B da Zona de SegurançaTerrestre, a zona tampão entre aSérvia e o Kosovo, começou a 24 deMaio.

O Conselho da Associação do Tratadodo Atlântico (ATA) realizou a suareunião anual na OTAN a 21 de Maio,tendo Lord Roberson feito umaexposição sobre as principaisquestões da agenda da OTAN. OComité da Educação da ATA reuniu-se no dia seguinte para debater aforma como as organizaçõesnacionais podem explicar asquestões de segurança às audiên-cias mais jovens.

O SACLANT reúne-se com o SACEURO Comandante Supremo Aliado doAtlântico, general William F. Kernan,fez a sua primeira visita ao SHAPE a 16e 17 de Maio de 2001 para se reunircom o SACEUR, General Joseph W.Ralston, e os seus colaboradores.

Lord Robertson reuniu-se com opresidente albanês Rexhep Meidani,o Primeiro-ministro Ilir Meta, oMinistro dos Estrangeiros PaskalMilo e o Ministro da Defesa IshmailLleshi em Tirana, Albânia, ondedebateram os acontecimentos naregião e a reforma da defesa.

O Primeiro-ministro croata IvicaRacan reuniu-se com Lord Robertsonna OTAN e pronunciou uma alocuçãoperante os Embaixadores na OTAN a16 de Maio. Debateram a con-tribuição da Croácia para a estabili-dade regional bem como o programade reforma política lançado pelo gover-no há um ano.

Entre 15 e 26 de Maio, sete países daOTAN participaram no exercícioDamsel Fair 2001, que teve lugar nabaía de Kusadasi, na costa daTurquia, visando o treino de todos osaspectos do planeamento, execuçãoe análise das operações de guerra deminas.

Os Chefes de Estado-Maior da OTANefectuaram uma série de reuniões naOTAN entre eles e com os seushomólogos dos países Parceiros a 15e 16 de Maio. Os temas principaisincluíram a manutenção da paz nosBalcãs, a situação na Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia*, o desen-volvimento das relações UE-OTAN, aanálise da estrutura de forças daOTAN e a aquisição dum sistema devigilância ar-solo.

O recentemente eleito Primeiro-mi-nistro moldávio Vasile Tarlev reuniu--se com Lord Robertson na OTAN a15 de Maio. Manifestou a determi-nação do seu país em alargar eaumentar a cooperação com a OTAN,particularmente no domínio damanutenção da paz.

Cinco membros da OTAN e setepaíses Parceiros participaram no

Notícias da OTAN4 Verão 2001

ACTUALIDADES DA OTAN

Page 5: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Cooperative Tide 2001, um exercíciode procedimentos de guerra navalcosteira, em Newport News, Virginia,EUA, de 14 a 23 de Maio.

Entre 14 e 16 de Maio, seis membrosda OTAN e seis países Parceiros par-ticiparam no Cooperative Baltic Eyeno mar Báltico, um exercício visandoo desenvolvimento de procedimentosde comando, controlo e coordenaçãode recursos em matéria de busca esalvamento.

Durante a noite de 11 para 12 deMaio, tropas da KFOR apoderaram-sedum grande esconderijo de armaspesadas destinadas aos gruposarmados de etnia albanesa que ope-ram no vale de Presevo.

Lord Roberson visitou Barcelona,Espanha, a 10 e 11 de Maio, ondeproferiu uma alocução numa confe-rência sobre segurança e defesa,antes de seguir para Madrid para sereunir com o Primeiro-ministro JoséMaria Aznar, o Ministro dosEstrangeiros Josep Piqué e o Ministroda Defesa Federico Trillo-Figueroa.

Na Haia, Holanda, a 9 de Maio, LordRobertson discursou no Centro deEstudos de Segurança Europeia,antes de se reunir com o Ministro daDefesa holandês Frank de Grave.

As primeiras consultas sobre a defe-sa antimíssil tiveram lugar na OTANa 8 de Maio, quando uma delegaçãodos EUA explicou a Lord Robertson eao Conselho do Atlântico Norte aposição da nova administração dosEUA.

UE e OTAN actuam emconjuntoNo seguimento de actos de violênciarepetidos de extremistas de etniaalbanesa contra forças da Ex-República Jugoslava da Macedónia*,Lord Robertson viajou para Skopje a7 de Maio para se encontrar com oPresidente Boris Trajkovski e outraspersonalidades, que recebeu conjun-tamente com o Alto Representante daUE para a Política Externa e deSegurança Javier Solana.

Teve lugar em Bruxelas a 3 e 4 de Maioa reunião semestral da Conferênciados Directores Nacionais deArmamento para debater problemas eprojectos da política da OTAN, incluin-do a implementação da Iniciativa dasCapacidades de Defesa e a Análise dosArmamentos.

O Colóquio Económico da OTAN de2001 teve lugar em Bucareste,Roménia, entre 2 e 4 de Maio e cen-trou-se no inter-relacionamento entrea cooperação económica, a segu-rança e a estabilidade regionais, par-ticularmente no Sueste Europeu, noSul do Cáucaso e na Ásia Central.

A 28 de Abril, Lord Robertson conde-nou um ataque de extremistas albane-ses às forças de segurança na Ex-República Jugoslava da Macedónia*próximo da cidade de Tetovo.

Cerca de 1 500 reservistas de seispaíses da OTAN e Parceiros bemcomo da Argentina treinaram naBósnia e no Kosovo de 27 de Abril a10 de Maio durante dois exercícioscombinados de manutenção da paz,Adventure Express e DynamicExpress 2001. O treino preliminarteve lugar na Albânia, com tropasalbanesas, antes de as forças dereserva se deslocarem para osteatros da SFOR e da KFOR.

Visitantes do Kosovo Após uma visita à OTAN de respon-sáveis do governo sérvio a 25 deAbril, o Representante Especial daONU no Kosovo Hans Haekkerup euma delegação de dirigentes políticosrepresentantes dos grupos étnicos

do Kosovo reuniram-se com LordRobertson e os Embaixadores naOTAN a 26 de Abril.

Israel assinou um acordo de segu-rança com a OTAN a 24 de Abril, oprimeiro dos sete países partici-pantes do Diálogo do Mediterrâneoda OTAN a fazê-lo.

Generais e oficiais superiores coman-dantes de Corpos de Engenharia depaíses da OTAN e Parceiros debateramo futuro da engenharia militar na suaconferência anual, realizada este ano naEscola de Engenharia do ExércitoFrancês em Angers de 24 a 26 de Abril.

Lord Robertson visitou a Holanda a23 de Abril onde, depois de se terreunido com o Ministro dosEstrangeiros Jozias van Aartsen,abriu a Convenção da Semana deNegócios organizada pela Associaçãoda Faculdade de Economia emRoterdão e recebeu o PrémioSemana de Negócios 2001 pela suaacção no domínio da comunicaçãomundial.

A 15 de Abril, soldados da KFOR aju-daram à entrega de cinco refénssérvios, que desde Março estavamna posse de extremistas de etniaalbanesa a operar no Sul da Sérvia .

Suspeito de crimes deguerra detidoA 15 de Abril, tropas da SFORdetiveram Dragan Obrenovic, umdos três sérvios bósnios acusados domassacre de Srebrenica, e transferi-ram-no para o Tribunal Internacionalde Crimes de Guerra da Haia.

No seguimento duma decisão doConselho do Atlântico Norte de 10 deAbril, o Sector D da Zona deSegurança Terrestre que separa aSérvia do Kosovo foi transferido paraas forças jugoslavas a 14 de Abril.

Lord Robertson condenou o ataquedeliberado a um soldado russo daKFOR e a sua morte num tiroteio a 11de Abril no Kosovo.

Dois aviadores britânicos mor-reram a 9 de Abril na queda dumhelicóptero devido ao mau temponuma região montanhosa do Kosovopróximo da fronteira com a Ex-República Jugoslava da Macedónia*.

Pessoal da força aérea de seis paísesda OTAN participou no exercício de

logística Ample Train 2001 na Gréciade 2 a 6 de Abril, exercício sobre aconservação e manutenção de aviõesde caça.

Entrega de comando da

KFOR

O general norueguês ThorsteinSkiaker assumiu o comando daKFOR a 6 de Abril, em substituição dogeneral italiano Carlo Cabigiosu.

A 6 de Abril, o parlamento búlgaroratificou um acordo com a OTANautorizando o trânsito de forças daOTAN gregas e turcas através do ter-ritório búlgaro para reforçar a ope-ração de manutenção da paz dirigidapela OTAN no Kosovo.

O CAN rumo ao SulLord Robertson e os 19 Embaixadoresna OTAN visitaram a Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia* e oKosovo a 3 e 4 de Abril, depois dumaparagem no quartel-general dasForças Aliadas do Sul da Europa emNápoles, Itália, que exerce o coman-do da SFOR e da KFOR.

O SHAPE comemorou o seu 50.ºaniversário a 2 de Abril numa ce-rimónia presidida pelo SACEUR,General Ralston, e por LordRobertson.

Lord Robertson fez uma visita dedois dias a Varsóvia, Polónia, a 29 e30 de Março, onde se reuniu com oPresidente Aleksander Kwasniewski,o Primeiro-ministro Jerzy Buzek, osMinistros dos Estrangeiros e daDefesa e membros das duas câmarasdo parlamento.

Verão 2001 Notícias da OTAN 5

Para mais informações,consultar NATO Update em www.nato.int/docu/update/index.htm.

ACTUALIDADES DA OTAN

Page 6: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN6 Verão 2001

Carta sobre a resolução pacífica dos conflitos. Em certa medi-da, foi uma forma criativa de ultrapassar o problema da rivali-dade das superpotências, que deixou muitas vezes o Conselhode Segurança num impasse e evitou que exercesse a suaautoridade nos termos do Capítulo VII sobre acções relativasa ameaças à paz.

Nos primeiros anos, a manutenção da paz foi literalmenteacerca duma paz específica. Era normalmente o resultadoduma mediação internacional num conflito armado, em queas partes beligerantes tinham assinado um acordo de cessar--fogo ou de paz e queriam que ele subsistisse, mas não confia-vam que a outra parte respeitasse o seu compromisso. AsNações Unidas seriam chamadas para patrulhar e vigiar a“zona tampão” entre as duas partes, que eram tranquilizadaspela natureza “neutral” e não ofensiva da presença da organi-zação. Embora nem todas as operações de manutenção da pazdo tempo da Guerra Fria tenham sido igualmente bem sucedi-das, a presença dos soldados da paz da ONU ajudou, em

Espen Barth Eide é Secretário de Estado do Ministério dos NegóciosEstrangeiros da Noruega.

Amanutenção da paz já não é o que era. Os interve-nientes envolvidos, os procedimentos associados emesmo o próprio conceito modificaram-se. Tornou-se

uma actividade mais complexa, abrangente e perigosa. Alémdisso, a dimensão da tarefa, os recursos necessários e as com-petências exigidas são tais que todas as instituições envolvi-das, militares e civis, estão a procurar adaptar os seus procedi-mentos de trabalho para estarem à altura da situação. Amudança foi particularmente notável na Europa.

Embora a manutenção da paz tenha sido tradicionalmenteefectuada sob os auspícios das Nações Unidas, não estáexplicitamente referida na Carta da ONU. O conceito foi defacto concebido nas Nações Unidas durante a Guerra Friaampliando a interpretação dos poderes do Capítulo VI da

O passado e o presente damanutenção da paz

© O

TAN

Uma consolidação da paz abrangente tem que ir além das preocupações militares e humanitárias mais imediatas

Espen Barth Eide analisa a forma como evoluiu a manutenção da paz desde ofim da Guerra Fria e a natureza actual deste desafio.

Page 7: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

alguns casos, a evitar um reinício das hostilidades, que pode-ria, de outra forma, ter-se verificado.

No tempo da Guerra Fria, o conceito da segurança centra-va-se na estabilidade. O melhor que se podia esperar era amanutenção do status quo. Ao mais alto nível, isto significavamanter o equilíbrio entre as superpotências; a um nível maisbaixo, fazer respeitar os acordos de paz existentes. Neste con-texto, a contenção tornou-se uma palavra na moda duranteesta época. Face à alternativa, uma quebra total do equilíbrioda relação de forças e uma confrontação entre as superpotên-cias, dificilmente poderia ter sido doutra maneira.

Actualmente, o conceito da segurança é diferente. Em vezda manutenção do status quo, as palavras-chave são agoratransição, alargamento e integração – tudo conceitos dinâmi-cos em vez de estáticos. A dinâmica da mudança também seaplica à manutenção da paz. A tarefa clássica de servir de tam-pão “neutral” entre as partes de acordo deu lugar a operaçõesvisando conseguir a evolução política, económica e social,muitas vezes em condições difíceis – uma tendência incenti-vada pelo facto de a maior parte das modernas operações demanutenção da paz serem a resposta a conflitos internos dosEstados e não a conflitos entre Estados.

O planeamento operacional e as estratégias de gestão de con-flitos devem ter em conta a nova dinâmica da manutenção dapaz. Em muitos casos, não é possível nem desejável procurarrestabelecer a situação existente antes do conflito. Em vezdisso, as partes precisam de ajuda para construir uma sociedadenova. Muitas vezes, é difícil encontrar parceiros claros, coeren-tes e fiáveis, com verdadeiro controlo sobre as suas própriasforças. Frequentemente, a situação é complicada pela presençade senhores da guerra e de promotores de conflitos, preparadospara explorar mitos e instigar a violência para se apossarem ouconservarem o poder. Os motivos políticos e f inanceirossobrepõem-se, tornando por vezes indefinida a fronteira entre apolítica e o crime organizado. Além disso, as questões funda-mentais em causa em muitos conflitos actuais dizem respeito àprópria natureza do Estado. Como estas questões muitas vezescontinuam sem solução quando termina a luta aberta, a comu-nidade internacional acaba por ser chamada a reformar institui-ções disfuncionais, incluindo a administração pública, o sis-tema jurídico e mesmo os media locais.

A actual gestão de conflitos é complexa. Além do aspectomilitar, muitas outras actividades se tornaram parte integrantede todas as operações de consolidação da paz. Só uma cuida-dosa, bem planeada e coordenada combinação de medidascivis e militares pode criar as condições para uma estabilidadee uma paz autónomas a longo prazo. Esta necessidade dumanova abordagem da manutenção da paz suscitou um debateacerca dos papéis respectivos das Nações Unidas e das orga-nizações regionais na gestão de crises. É assim especialmentena Europa, onde várias organizações regionais e sub-regionaisse ocupam activamente de diversos aspectos da gestão decrises e onde as questões da cooperação e da divisão de tare-fas são particularmente relevantes.

O poder institucional e os recursos financeiros da Europatornaram uma questão lógica iniciar o processo de aliviar as

Nações Unidas de algumas responsabilidades em matéria demanutenção da paz. A Europa não é por inerência mais com-petente a tratar de conflitos, nem ensaiou e testou modelos deoperações de apoio da paz aqui desenvolvidos que sejamfacilmente transferíveis para outras partes do mundo. Mas aexperiência da Europa é importante quanto mais não sejaporque os acontecimentos nos Balcãs e a resposta interna-cional que tiveram foram fundamentais para o desenvolvi-mento da doutrina actual sobre as operações de apoio da pazapós a Guerra Fria. De facto, os Balcãs tornaram-se, emmuitos aspectos, o banco de ensaios da política de segurançada Europa. Quase todas as questões que dominam o actualdebate sobre a segurança europeia – as relações transatlânti-cas, o futuro da OTAN, o papel da União Europeia e dasNações Unidas e as relações com a Rússia – têm uma dimen-são balcânica.

As guerras da desintegração da Jugoslávia e a reacção inter-nacional que tiveram realçaram as deficiências da arquitecturade segurança da Europa no final da Guerra Fria. Na falta deorganizações regionais credíveis capazes ou dispostas a assumira tarefa, as Nações Unidas destacaram a primeira Força deProtecção da ONU para a Croácia em Fevereiro de 1992. Poucodepois, o seu mandato foi alargado à Bósnia-Herzegovina(Bósnia) e, mais tarde, em 1993, à Ex-República Jugoslava daMacedónia*. O que inicialmente tinha sido previsto ter umaduração de seis meses prolongou-se por quatro anos.

As Nações Unidas foram a principal instituição a tentarservir de intermediário para pôr fim às hostilidades, manter apaz nas regiões onde tinha sido acordado um cessar-fogo eatenuar o sofrimento dos não combatentes nas áreas de confli-to entre 1992 e 1995. Com o passar dos anos, a OTAN passoua estar mais envolvida através das suas várias operações deapoio aéreas e navais e desenvolveu-se gradualmente umaparceria estreita entre as duas instituições. Depois de o Acordode Dayton, o acordo de paz que pôs fim à guerra da Bósnia, terentrado em vigor a 20 de Dezembro de 1995, a responsabili-dade militar foi transferida para a Força de Implementaçãodirigida pela OTAN (IFOR). Isto foi o primeiro envolvimentomilitar da Aliança em terra e contribuiu grandemente pararemodelar a sua identidade. Na verdade, em apenas algunsanos, a OTAN transformou-se assumindo um papel quaseinteiramente novo e tornou-se um instrumento crescentementeeficaz para a gestão militar e política de crises.

Este processo de adaptação e aprendizagem é evidente naforma como a manutenção da paz na Bósnia com a IFOR e aForça de Estabilização (SFOR) tem evoluído e contribuiu paraa abordagem adoptada quando a Força do Kosovo (KFOR) foidestacada em Junho de 1999. Podem verificar-se duas tendên-cias notáveis. A primeira é um alargamento do conceito domandato militar. Nos primeiros tempos da IFOR, era dadaênfase a evitar o “alastramento da missão”, ou seja a tendên-cia para a força começar a assumir tarefas consideradas civis.Posteriormente, contudo, tornou-se crescentemente evidenteque os militares não poderiam ter êxito se trabalhassem iso-ladamente.

Se o esforço geral de consolidação da paz não conseguissecriar condições para uma paz estável e duradoura, isto seria

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Verão 2001 Notícias da OTAN 7

Page 8: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

apercebido como um fracasso tanto da OTAN como dosorganismos civis. Isto ajudou a estabelecer laços mais estrei-tos entre a força de manutenção da paz e os seus numerososparceiros civis. Além do mais, quando a KFOR foi destacada,isto já tinha sido compreendido e reflectiu-se no mandatoalargado dado à força desde o início e no bom e flexível rela-cionamento estabelecido entre a KFOR e a Missão deAdministração Transitória da ONU no Kosovo.

A segunda tendência é a europeização progressiva dasoperações de manutenção da paz da OTAN. A FORPRONUtinha uma composição largamente europeia, mas tambémincluía um número considerável de soldados de países doTerceiro Mundo. No seguimento da transferência da ONUpara a OTAN do controlo da missão de manutenção da paz,saíram as tropas da maior parte dos contribuintes do TerceiroMundo. Entretanto, chegaram soldados dos EUA, constituin-do um terço dos 60 000 homens da IFOR, uma proporção quetem diminuído constantemente nos últimos anos. Pelo con-trário, a KFOR foi inequivocamente europeia desde o início.Em total contraste com a campanha aérea do Kosovo, que foidominada pelos Estados Unidos, a relação entre soldados dosEUA e europeus era de 8 000 para 34 000 logo que a operaçãoterrestre de manutenção da paz se desen-volveu plenamente. Além disso, enquanto ocomandante da SFOR tem sido sempreamericano, o comandante da KFOR tem sidosempre europeu.

A questão da segurança e da estabilidadenos Balcãs é uma questão primordial para oseuropeus. É, por isso, natural que oseuropeus assumam uma parcela maior daresponsabilidade neste domínio. Isto satisfaza reivindicação dos EUA duma maior parti-lha dos encargos dentro da Aliança e duma maior responsabi-lização da Europa pela sua própria segurança. Mas, emboratenha sido reduzida a presença dos EUA, a continuação doempenhamento e do envolvimento activo dos Estados Unidosna paz e na estabilidade na região continua a ser essencialtanto para encontrar soluções duradouras nos Balcãs comopara a estabilidade e a segurança a longo prazo da Europa.

Assim como a OTAN avançou muito na sua adaptação aosdesafios da actual manutenção da paz, evolução semelhante sepode verificar noutros sectores. Actualmente, é aceite que, em-bora as medidas militares possam ser necessárias para conflitosviolentos, para que uma missão de manutenção da paz tenhaêxito, essas medidas têm que apoiar, ser complementadas eestreitamente coordenadas com organismos civis. Isto não seriatão óbvio há dez ou mesmo cinco anos atrás, quando era contraa natureza da maneira de pensar tradicional tanto militar comohumanitária. Nessa altura, os tradicionalistas opunham-se a queos soldados executassem tarefas civis e muitas organizações nãogovernamentais não queriam “sujar as mãos” trabalhando comos militares. Contudo, os conflitos dos Balcãs tornaram bemclaro que a pureza na atribuição de tarefas nas operações tradi-cionais de manutenção da paz é coisa do passado.

A União Europeia tem-se esforçado nos últimos anos paracriar uma capacidade militar de gestão de crises e para me-

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Notícias da OTAN8 Verão 2001

lhorar as suas estruturas civis de reacção a crises. Em conse-quência, esta instituição pode estar no futuro numa situaçãode assumir com mais frequência a liderança na gestão decrises. Na verdade, a Noruega e outros países europeus quenão são membros da União Europeia comprometeram-se auma estreita colaboração com a União Europeia na gestão decrises complexas devido à gama de instrumentos políticos deque esta dispõe. Além dos seus meios militares e civis, aUnião Europeia pode, por exemplo, usar como influência apromessa de futuras adesões, acordos de associação e parceriae investimentos económicos.

As Nações Unidas também iniciaram uma revisão das suasoperações de manutenção da paz no seguimento da publi-cação do relatório Brahimi no ano passado. Este relatórioprocura revitalizar a forma como as Nações Unidas seenvolvem e conduzem as operações de manutenção da paz.Além disso, a evolução institucional da União Europeia e daOTAN e a colaboração cada vez mais estreita entre as NaçõesUnidas e as organizações regionais, tanto no terreno como anível político, contribuirão sem dúvida para a reforma damanutenção da paz da ONU provocada pelo relatório Brahimie ajudarão a definir o papel das Nações Unidas no mundo

actual, pelo menos em regiões ricas de insti-tuições como a Europa.

É claro que há limites para as capacidadesde qualquer organização, seja ela a UniãoEuropeia, a OTAN ou as Nações Unidas. Porisso, é quase certo que as instituições terãoque continuar a trabalhar em conjunto e aestabelecer laços mais estreitos umas com asoutras na reacção a crises futuras. Os debatesem curso entre a União Europeia e a OTANreflectem esta questão. Neste aspecto,

podem eventualmente materializar-se soluções no terreno, emreacção à crise na Ex-República Jugoslava da Macedónia* e àcontinuação da tarefa de consolidação da paz na Bósnia e noKosovo.

A experiência nos Balcãs mostrou que actualmente a prin-cipal tarefa para assegurar a paz é ajudar à transformaçãopolítica e social a longo prazo e complexa das sociedadesdestroçadas pela guerra. Uma consolidação da paz abrangenteprecisa de ter em conta não só as preocupações militares ehumanitárias mais imediatas mas também as tarefas a maislongo prazo da consolidação do Estado, da reforma do sectorda segurança, do reforço da sociedade civil e da promoção dareintegração social. Embora a regionalização da manutençãoda paz tenha sido compensadora, não há um modelo universalregulador do relacionamento entre as organizações regionais eas Nações Unidas. Além disso, seria errado supor que osEstados e organizações regionais serão sempre os mais indi-cados para resolver os problemas da sua região. Pelo con-trário, é essencial que a manutenção da paz em todo o mundoaproveite as experiências, competências e recursos acumula-dos, que os ensinamentos colhidos no Kosovo sejam, se pos-sível, aplicados em Timor Leste e vice-versa, e que as organi-zações mundiais e regionais, os organismos humanitários e dedesenvolvimento, e os governos e a sociedade civil dos paísesem causa trabalhem no mesmo sentido. �

Os Balcãs tornaram--se o banco de ensaiosda política desegurança da Europa

Page 9: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Verão 2001 Notícias da OTAN 9

A designação operações de apoio da paz abrange uma vastagama de tarefas. Compreende a manutenção da paz tradi-cional – em que há uma paz acordada a manter, o que osbritânicos costumavam chamar manutenção da paz num senti-do mais lato, em que o ambiente é extremamente instável; aconsolidação da paz – a reconstrução da sociedade depois doconflito e o seu regresso à normalidade; e a imposição da paz– pôr fim a um conflito pelo emprego da força.

As operações de apoio da paz em situações de emergênciacomplexa são combinadas – envolvem todos os ramos; sãomultinacionais – envolvem muitos países; e são outra coisa –um novo adjectivo – integradas – envolvendo muitos organis-mos diferentes. Estes incluem as forças armadas, a polícia, asorganizações não governamentais (ONG), organismos deajuda humanitária, organizações internacionais, agências go-vernamentais de desenvolvimento, indústria privada e outrasempresas, e os media.

Actualmente, todas as operações de apoio da paz têm lugarsob as vistas dos media. Este fenómeno é um tanto como a me-teorologia – o estado do tempo pode geralmente ser previsto,mas não inteiramente. Acresce que, para além de relatarem osproblemas, os media podem desempenhar um papel importantecontribuindo para a sua solução. Os media são um dos principaismecanismos de equilíbrio em todas as sociedade democráticasde economia de mercado, e é exactamente este tipo desociedades que as operações de consolidação da paz procuramcriar por representarem o melhor garante da paz. Ajudar odesenvolvimento de media livres e independentes deve, portan-to, ser um elemento essencial da consolidação da paz.

O general Sir Mike Jackson , o oficial britânico que coman-dou as forças da OTAN no Kosovo em Junho de 1999, com-parou recentemente este tipo de operação multifacetada a umpedaço de corda. A corda é feita de muitos cordões e a suacarga de rotura é muito maior do que a soma da de todos estescordões. O problema é entrelaçar os cordões e garantir quenenhum deles se torne apreciavelmente mais grosso do que osoutros, o que deformaria a corda, criaria tensões no seu inte-rior e danificaria tudo aquilo contra que raspasse.

A necessidade desta abordagem integrada é reconhecidanão apenas no terreno, mas também ao mais alto nível da go-vernação. O governo do RU instituiu recentemente a “iniciati-va cruzada”, em que três departamentos – o ministério dadefesa, o ministério dos estrangeiros e da comunidade e odepartamento para o desenvolvimento internacional – con-tribuem para dois orçamentos, um para a África e o outro para

Christopher Bellamy é professor de ciência e doutrina militarna Cranfield University e autor de vários livros, incluindoKnights in White Armour: The New Art of War and Peace(Pimlico).

Muitos soldados e exércitos profissionais envolveram-se nas operações de apoio da paz efectuadas na últi-ma década com entusiasmo e flexibilidade. Outros

continuam relutantes em envolver-se nelas e ainda mais relu-tantes em colaborar estreitamente com outros organismos e aspopulações locais, convencidos de que “a manutenção da pazé uma actividade para fracos”.

A experiência das recentes operações na Bósnia, Haiti,Kosovo e Serra Leoa mostra que a manutenção da paz não éde certeza uma actividade para fracos. Na verdade, algunsdos soldados mais aguerridos do mundo distinguem-se nasoperações de apoio da paz e em ajudar a enfrentar as habi-tualmente chamadas “emergências complexas”. Tais ope-rações exigem grande flexibilidade e engenho na resposta aacontecimentos inesperados e também uma forte sensibili-dade humana. Uma investigação recente efectuada naCranf ield University mostra que as populações locaisrespeitam mais os soldados da paz que são também inequi-vocamente soldados profissionais, enérgicos na sua condutae bem equipados. Contudo, se as forças são demasiadoautoritárias ou se mantêm demasiado afastadas da populaçãolocal preocupadas com a “protecção da força”, também per-dem a consideração – e a eficácia.

A maior parte das operações de apoio da paz centram-seem emergências complexas – emergências em que a maldadehumana está associada a sofrimento provocado pelo homemou por causas naturais, ou ambos. As forças armadas sãonecessárias para criar um ambiente seguro em que a pazpossa ser restaurada, mas não são certamente os únicos, oumesmo os principais, intervenientes. Uma vez conseguida apaz, grande parte da tarefa imediata tem mais a ver com o tra-balho de polícias do que de soldados. Contudo, por muitasrazões – o custo da remuneração dos polícias e a dificuldadede os enviar para o estrangeiro por longos períodos – são ossoldados que têm que efectuar o trabalho. As tarefas a maislongo prazo, incluindo a reconstrução material, a localizaçãodos prisioneiros e refugiados, o restabelecimento dos cuida-dos de saúde, a organização de eleições e a punição dos cri-minosos de guerra são da responsabilidade de outras organi-zações.

Associar a prontidãopara o combate com o bem-fazer

Chris Bellamy considera que os melhores soldados da paz são também os melhorescombatentes e que a manutenção da paz não é de certeza uma actividade para fracos.

Page 10: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

o resto do mundo, para a prevenção de conflitos, o que subli-nha a natureza integrada desta tarefa.

Entretanto, um dos problemas mais difíceis de resolver noterreno é a diferença cultural entre as ONG e as forças mi-litares. Embora os ex-militares estejam bem representados emmuitas ONG, algumas delas herdaram uma tradição religiosa,algumas vezes pacifista, e desconfiam naturalmente dos mi-litares. Analogamente, algum pessoal militar desconfia dasONG, por vezes parecendo irritado com uma aparente falta decoordenação e pode ser ofensivo – muitas vezes injustamente– acerca da aptidão do pessoal das ONG para viver no terreno.

A utilização de forças da ONU na Croácia e, depois, naBósnia em 1992 constituiu um modelo para as operaçõesintegradas de apoio da paz. A operação no Kosovo desde 1999constitui outro, bastante mais complicado. A razão essencialpara isto é que no Kosovo – ao contrário da Bósnia – não háum governo local. Trata-se, com efeito, dum protectoradointernacional. Além disso, não há ainda um verdadeiro Estadoinstalado para o longo prazo. Com efeito, o papel de “Estado”é desempenhado pela Missão de Administração Transitória daONU no Kosovo (UNMIK). Contudo, desenvolveram-semuitas boas relações práticas entre as organizações civis emilitares que operam no Kosovo e muito pode ser aprendidocom isto para as futuras operações integradas.

Cerca de 200 ONG trabalham actualmente no Kosovo. Acoordenação das suas actividades poderá ser comparada atomar conta dum “rebanho”. Cada uma tem a sua área deinteresse e competência específica. As ONG por vezes melin-dram-se com as tentativas das autoridades militares para con-trolar e coordenar o seu trabalho. Além disso, as ONG vêemna sua independência uma forma de segurança. Se parecemestar associadas de forma demasiado estreita à força militarocupante, arriscam-se a tornarem-se alvos.

Portanto, a primeira prioridade é eliminar os obstáculos auma comunicação mais estreita. Em muitos casos, a utilizaçãoduma língua e duma terminologia diferentes ainda torna maisdifícil o entendimento e isto junta-se a diferentes interpre-tações dos mesmos termos de referência. Em 1944, a Noruegaacolheu uma conferência envolvendo cerca de 45 países e 25ONG que elaborou directivas para a utilização dos meios mi-litares e da protecção civil na ajuda em catástrofes, aschamadas “Directivas de Oslo”. Embora visando o contextoligeiramente mais simples da ajuda em catástrofes naturais, asdirectivas também foram aplicadas pela Nações Unidas ememergências complexas, designadamente em Timor Leste eno Kosovo. As “Directivas de Oslo” estão agora a ser ana-lisadas pelo Centro Euro-Atlântico de Coordenação daReacção a Catástrofes da OTAN para ver se é possível criarum documento semelhante para a utilização de meios mi-litares e civis em emergências humanitárias complexas. AOTAN também está a desenvolver uma doutrina para a coope-ração entre civis e militares (CIMIC) que possa servir esteobjectivo embora algumas ONG possam suspeitar do quepossa ser considerado uma “doutrina OTAN”.

Transformar as Forças Operacionais Combinadas Multi-nacionais militares em Forças Operacionais Combinadas

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Notícias da OTAN10 Verão 2001

Multinacionais Integradas, com a inclusão das ONG, não éprovável que seja uma solução aceitável, porque apenas iriaaumentar os receios das ONG de predomínio militar. Emtodas as operações de manutenção da paz ou de consolidaçãoda paz a autoridade suprema é provável que seja uma espéciede “Alto Representante” mandatado pelas Nações Unidas, e éa este nível que deve ser entrelaçado o trabalho dos interve-nientes internacionais, militares, civis, ONG e empresariais, edas autoridades locais.

A diversidade dos numerosos intervenientes pode ser umaforça em vez duma fraqueza. Embora as pessoas olhem natu-ralmente para as formas institucionais e doutrinais de coor-denar organizações e evitar duplicações, são muitas vezes asrelações pessoais entre os indivíduos no terreno que real-mente contam. Julga-se que há um conjunto de cerca de 1 000pessoas deslocando-se entre um e outro teatro de resposta aemergências. Se estas pessoas pudessem ser identificadas etreinadas em conjunto, isto poderia facilitar a coordenação.

A comunicação entre os militares, as organizações interna-cionais, as ONG, as autoridades locais e os media é obvia-mente crucial para a condução eficaz duma operação de apoioda paz integrada. Na era da câmara de vídeo portátil e daInternet, há uma grande necessidade de informação contínuapara fazer face à propaganda dos governos hostis e dos gruposde interesse locais. A comunidade de ajuda internacional noKosovo já está a coordenar a informação. O Centro deInformação da Coordenação Humanitária (HCIC) foi criadono Kosovo para fornecer informações a todas as organizaçõese agências. Fornece uma base de dados sobre “quem está afazer o quê, aonde e quando”, que é crucial para a conduçãode operações eficazes – e seguras. As forças militares poderãovir a f icar mais envolvidas em iniciativas como o HCIC,talvez através do seu ramo CIMIC.

Identificar quem está mais indicado para o trabalho tam-bém é importante. As forças militares são muitas vezes aprimeira agência a ser destacada e podem fazer por si própriasmuitas coisas. A construção por forças britânicas de camposde refugiados na Ex-República Jugoslava da Macedónia* éum caso típico. Algumas agências no Kosovo têm meiosclaramente def inidos de comunicação com a KFOR.Contudo, imediatamente após a ocupação do Kosovo, aOTAN era considerada como uma parte do conflito e isto exi-gia uma clara separação entre os militares e as tarefas huma-nitárias.

A experiência das operações da última década mostra queas forças destinadas apenas à manutenção da paz e tarefassemelhantes – uma gendarmaria – não são bem aceites pelaspessoas com que têm que interagir. As mais eficazes sãotreinadas e equipadas como soldados profissionais, mas con-tudo interagem com a população local. As forças dos EUA,com a sua forte ênfase na protecção da força e a sua aparênciaintimidante, por vezes parece afastaram-se demasiado nooutro sentido e o seu distanciamento dos habitantes podereduzir a sua eficácia no papel de manutenção da paz.

Um exemplo de como as tropas profissionais mais aguerridastambém se distinguem na manutenção da paz é dado pelos

Page 11: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Royal Marines britânicos que participaram na construção demuitos parques de diversão para crianças devendo contribuirpara o regresso a uma vida normal das crianças. Um dos parquescorria o perigo de ser alvo de actos de vandalismo por jovensmais velhos. Era impossível montar guarda permanente no par-que. Mas os fuzileiros tiveram a ideia de instalar um "telefonevermelho", para os habitantes poderem chamá-los, anonima-mente, em caso de perturbação iminente. Os estratagemas fun-cionam na manutenção da paz, como acontece na guerra.

Por vezes, a cooperação entre organismos não funcionacomo deveria, combons resultados. AONG britânica WarChild é especialista,entre outras coisas,na construção deparques de diversãopara crianças. Umdos primeiros foiconstruído na esco-la de surdos dePrizren, no Kosovo,pouco depois dachegada das forçasAliadas em 1999.Recentemente, asforças alemãs daKFOR decidiramfazer um donativo àescola de surdos eperguntaram à esco-la o que necessita-va. Parece ter havi-do uma falha decomunicação e osalemães vieramconstruir um par-que de diversão dooutro lado da esco-la. Um ou dois tele-fonemas ou o con-hecimento do queas diferentes ONGfaziam poderia terevitado esta dupli-cação. Assim, aescola tem agoradois parques dediversão. Isto é muito apreciado pelas crianças mas talvezmenos pelos professores, que têm que vigiar dois parques dediversão, um de cada lado da escola.

As operações de apoio da paz e humanitárias serãoprovavelmente uma das principais tarefas das forças armadasda OTAN na próxima geração. Na verdade, a experiênciaadquirida de consolidação da paz pós conflitos mostra queserá necessária pelo menos uma geração para criar um Estadoautónomo no Kosovo e noutros locais. Para garantir o êxitodas operações de apoio da paz existentes, será necessáriorecrutar e treinar forças armadas com a ética e a preparação

física de soldados combatentes. Não se pode contar com maisninguém se a manutenção da paz subitamente degenera numaguerra civil, e os estudos mostram que mais ninguém con-segue a necessária aceitação da população local imediata-mente após um conflito sangrento. Mas tais soldados, bemdisciplinados – e isto é essencial – podem ser os melhores sol-dados da paz e executar essa tarefa entusiasticamente. Umagendarmaria parcialmente treinada, ou um exército treinadoapenas para missões de manutenção da paz, provavelmentenão será eficaz. A ética do guerreiro deve manter-se, mas deveestar imbuída de flexibilidade e humanidade e duma dis-

posição para seligar aos habitantes,mesmo de – comof izeram muitosgrandes soldados –viver com eles. Épossível associar aprontidão para ocombate com obem-fazer, e é esteo desaf io quemuitas forças arma-das terão queenfrentar no pri-meiro quartel doséculo XXI.

Mas os soldadostêm que chegar aum compromissocom os organismosde ajuda humani-tária e as outrasONG, as organiza-ções internacionaise os outros serviçosgovernamentais eas autoridadeslocais. O âmbito daformação dos of i-ciais e sargentostem que ser alarga-do para que se pos-sam adaptar e fazerface às particulari-dades das outrasorganizações. Istoestá a ser feito em

cursos para o pessoal, que são crescentemente “combinados”,dedicando regularmente tempo às operações integradas e aotrabalho das ONG. Contudo, as outras organizações têm difi-culdade em adaptar-se. Poucas organizações governamentais,sem mesmo falar nas ONG, podem dispensar pessoal paracursos demorados de treino e formação, como podem os mi-litares. Justificadamente, a prioridade para as ONG, que uti-lizam dinheiro dos doadores, é chegar ao terreno e salvar oureconstruir vidas tão rápida e eficazmente quanto possível.Portanto, cabe aos militares ser especialmente sensíveis àspreocupações das ONG e estabelecer um relacionamento cor-recto com elas. �

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Verão 2001 Notícias da OTAN 11

© H

eath

er K

err/

War

Chi

ld U

K

Trabalho em parque de diversão para crianças: alguns dos soldados mais duros e mais enérgi-cos, como os Royal Marines britânicos, distinguem-se nas operações de paz

Page 12: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN12 Verão 2001

o futuro da manutenção da paz pela ONU. Para a OTAN, osBalcãs provocaram muitas “estreias”: o primeiro destacamentopara “fora da área”, as primeiras acções ofensivas, a primeiracooperação significativa com outras organizações interna-cionais e a primeira operação de manutenção da paz da Aliança.

No Verão de 1992, o Secretário-Geral da ONU publicouuma Agenda para a Paz, um documento que classificava asvárias fases da manutenção da paz e reconhecia que dumamaneira geral a manutenção da paz tradicional se estava atornar bastante mais complexa, envolvendo muito mais inter-venientes que no passado. Mais tarde, em 1995, no seguimen-to das experiências nos Balcãs, Camboja, Ruanda e Somália,as Nações Unidas admitiram que a situação se tinha tornadoainda mais difícil e complexa e publicaram uma versão actua-lizada da Agenda para a Paz, aumentando e ajustando onúmero de categorias e aceitando as limitações da organiza-ção, especialmente no caso da imposição da paz.

A OTAN ajudou a preservar a paz na Europa durante aGuerra Fria e, a partir do final de 1991, procurou conseguir asegurança através do diálogo, da cooperação e da parceriacom os antigos adversários. O Conceito Estratégico de 1991

David Lihgtburn é um analista do Pearson PeacekeepingCenter da Nova Escócia, Canadá. Enquanto esteve na OTAN,entre a Primavera de 1992 e o Outono de 2000, ajudou adesenvolver o envolvimento da Aliança na manutenção da paz.

N o princípio dos anos 90 assistiu-se a uma mudançaespectacular na maneira como a comunidade interna-cional se apercebeu que deveria enfrentar os desafios

da segurança. A necessidade da manutenção da paz aumentouquando acabou a Guerra Fria e um certo número de tensõeslatentes e internas, de natureza étnica, territorial e religiosa,degenerou em conflitos. Para as numerosas organizaçõesregionais e internacionais envolvidas nos Balcãs nos anos 90,a experiência tem sido semelhante a um grande laboratórioexperimental. As duas organizações mais afectadas pelo seuenvolvimento nos Balcãs foram a OTAN e as Nações Unidas.

Para as Nações Unidas, a combinação das difíceis experiên-cias nos Balcãs e dos desafios e realidades das missões noRuanda, na Somália e, mais recentemente, em Timor Lestelevou à criação em 2000 dum painel dirigido pelo embaixadorLakhdar Brahimi e ao pedido de elaboração dum relatório sobre

Ensinamentos colhidosDavid Lightburn analisa a experiência de manutenção da paz da OTANe compara as maneiras como a Aliança e as Nações Unidas estão a aplicar

os ensinamentos colhidos nos Balcãs

© R

eute

rs

Formação na primeira linha: a OTAN e as Nações Unidas colheram ensinamentos muito semelhantes nas suas experiências de manutenção da paz nos Balcãs

Page 13: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

tornou claro que os novos desafios da segurança seriam denatureza multifacetada, multidireccionais e difíceis de prevere avaliar. Enquanto esta nova estratégia estava a ser imple-mentada, uma das medidas acordadas pelos ministros dosestrangeiros da Aliança na Primavera de 1992 foi “apoiar ,caso a caso e em conformidade com os nossos próprios pro-cedimentos, as actividades de manutenção da paz da respon-sabilidade da CSCE”. Pouco depois, em Dezembro de 1992,no seguimento da intervenção da Aliança em apoio dos objec-tivos da ONU no Adriático, os ministros dos estrangeiros daOTAN acordaram formalmente em alargar o apoio da Aliançaàs operações de manutenção da paz das Nações Unidas. Entre1992 e 1995, a OTAN envolveu-se progressivamente no apoioaéreo e naval às operações da ONU nos Balcãs.

O relatório Brahimi, apresentado em Agosto de 2000,reconhece uma importante mudança na abordagem dasNações Unidas, de observador neutral dos cenários imediata-mente após os conflitos para um envolvimento em conflitosque ainda não terminaram. O relatório também salienta que asNações Unidas não alteraram a sua cultura institucional ou asua aptidão para enfrentar novos desafios. Exige mudanças,designadamente mandatos para a manutenção da paz realistase claros, regras de empenhamento firmes para as forças mi-litares, unidade de esforços, uma cadeia de comando bemdefinida e unificada e uma mudança no policiamento de sim-ples controlo para um envolvimento mais activo na reestrutu-ração de todo o sistema de segurança pública. Também con-tém numerosas recomendações relativas à aptidão das NaçõesUnidas para conceber, planear, montar e apoiar logisticamenteoperações de paz complexas.

Na OTAN, foram realizados, com início logo em 1996, umcerto número de exercícios apoiados nos ensinamentos colhi-dos. A supervisão da implementação do Acordo de Dayton naBósnia-Herzegovina (Bósnia) trouxe um certo número de ensi-namentos políticos e militares fundamentais que foram, noessencial, aplicados subsequentemente no Kosovo quase quatroanos depois. Há muito em comum entre os ensinamentos fun-damentais colhidos pela OTAN e as recomendações essenciaisdo relatório Brahimi, que merece mais atenção.

Ligação estreita entre mandato, missão e capacidades:Ao planear a supervisão da implementação do Acordo deDayton, a OTAN benef iciou da experiência das NaçõesUnidas na Bósnia no início dos anos 90, em particular no refe-rente aos problemas resultantes das frequentes mudanças demandato, a falta de orientação clara para os comandantes dasforças da ONU e a falta geral de apoio dos Estados membrosaos mandatos por eles próprios acordados na sede da ONU emNova Iorque. Assim, a OTAN insistiu na necessidade dumaligação estreita entre o mandato estabelecido no anexo 1A, oanexo militar, do Acordo de Dayton, a missão atribuída peloConselho do Atlântico Norte às autoridades militares daAliança, em particular ao comandante da Força deImplementação (IFOR), e as capacidades da Aliança e aatribuição de forças específicas e outros recursos à IFOR. Poriniciativa dos Aliados mais activos, o anexo 1A foi expressa-mente redigido para assegurar que a OTAN tivesse capacidadepara realizar o que se exigia a uma força militar de implemen-tação. Isto incluía o que é agora chamado uma cláusula de

“bala de prata”, designadamente que o comandante da IFORtinha a necessária autoridade suprema sobre as forças mi-litares das partes em conflito. A missão foi redigida pelasautoridades políticas da Aliança, com base no conselhoseguro e atempado das autoridades militares da OTAN. Oresultado foi uma ênfase clara no anexo 1A, para evitar pro-blemas encontrados por anteriores forças da ONU, de que aforça não poderia ser puxada em muitas direcções pelas orga-nizações civis procurando apoio no terreno: não “alastramen-to da missão”. Por f im, o Quartel-General Supremo dasPotências Aliadas na Europa (SHAPE) organizou uma sériede conferências sobre planeamento de forças para assegurarque existiam as capacidades necessárias.

Brahimi também tornou claro que não deveriam ser repeti-dos os erros cometidos pelas Nações Unidas nos anos 90 emrelação às mudanças de mandatos, às missões e à afectação depoucos recursos às operações. Em particular, o relatório exige“mandatos claros, credíveis e exequíveis” e recomenda que,antes de o Conselho de Segurança acordar em implementarum acordo de cessar-fogo ou de paz, é necessário satisfazercertas condições prévias como a compatibilidade com as nor-mas internacionais em matéria dos direitos do homem e a exe-quibilidade das tarefas e calendários fixados. O relatório tam-bém propõe que o Conselho de Segurança deixe qualquerresolução sob a forma de projecto até que os Estados mem-bros tenham tomado a decisão firme de atribuir tropas e ou-tros elementos indispensáveis de apoio da missão, incluindorecursos para a consolidação da paz. Assim é feita a ligaçãoentre o mandato e os recursos. O relatório continua propondoo pleno empenhamento do secretariado da ONU para assegu-rar que os seus peritos digam ao Conselho de Segurança o queeste deve saber, não o que quer ouvir, e envolvendo os con-tribuintes de tropas no diálogo, com vista a definir correcta-mente a missão do comandante da força.

A necessidade duma unidade de esforços: Outro ensina-mento fundamental colhido pela OTAN foi o facto de que achave para qualquer estratégia de saída, uma preocupação dealguns nos primeiros tempos do processo de paz bósnio, era oêxito de outros componentes do Acordo de Dayton. Após aimplementação com êxito dos aspectos militares do acordo depaz, era evidente que a manutenção dum ambiente seguro paraa implementação civil implicava uma cooperação estreita comuma vasta gama de outros participantes no processo de paz,incluindo o Gabinete do Alto Representante, a OSCE e asNações Unidas. Assim, as preocupações quanto ao “alastra-mento da missão” foram gradualmente substituídas peloreconhecimento de que o apoio à implementação civil eraessencial. A compreensão da necessidade desta cooperaçãoexige um entendimento significativamente maior entre asvárias organizações militares, civis, humanitárias e de desen-volvimento, entendimento das culturas, políticas, procedimen-tos, processos de tomada de decisões, bases de recursos,capacidades, meios de acção e limitações uns dos outros.

O relatório Brahimi também reconhece a necessidade deparcerias baseadas num melhor entendimento dos vários inter-venientes. Embora se centre no sistema interno da ONU e nanecessidade de “missões integradas” com “quartéis-generaisintegrados”, refere a necessidade da cooperação, e portanto

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Verão 2001 Notícias da OTAN 13

Page 14: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

dum entendimento fundamental, entre os responsáveis pelaanálise política, as operações militares, a polícia civil, a ajudaàs eleições, os direitos do homem, o desenvolvimento, a ajudahumanitária, os refugiados e as pessoas deslocadas, a infor-mação do público, a logística, as finanças e o recrutamento.

Harmonização dos objectivos, conceitos e planos: EmOutubro de 1995, a OTAN tentou compreender os objectivos,conceitos gerais e planos preliminares das outras potenciaisorganizações contribuintes em relação ao então emergenteAcordo de Dayton, através de visitas a nível de peritos.Praticamente nenhuma organização estava preparada para umdestacamento atempado para a Bósnia e, na maior parte doscasos, o esforço exigido ultrapassava muito qualquer experiên-cia anterior. Além disso, algumas organizações, como aspróprias Nações Unidas, não eram partes das negociações deDayton e, portanto, não tinham aviso prévio. Em consequên-cia, não houve intercâmbio de conceitos ou planos preli-minares nem verdadeira avaliação dos objectivos para alémdos vagos últimos anexos do Acordo de Dayton.

Brahimi adopta o conceito dum quartel-general integradoda missão e propõe que sejam destacados para este quartel--general membros de todos os sectores do sistema da ONU.Em seguimento disto, o Departamento das Operações deManutenção da Paz (DPKO) das Nações Unidas está actual-mente a elaborar um programa de treino em três fases paraestes quartéis-generais, incluindo preparativos específicospara as missões.

A necessidade duma capacidade forte: Muito do que aforça dirigida pela OTAN está agora a fazer na Bósnia poderiaser considerado como manutenção da paz clássica, mas comuma força forte capaz de enfrentar emergências. A IFOR e a suasucessora a SFOR deram ajuda humanitária e tiveram, ocasio-nalmente, que empregar a força. A SFOR apoiou a implemen-tação duma vasta gama de aspectos civis do acordo de paz e estáagora a estudar maneiras de assegurar uma estabilidade durávela longo prazo. No Kosovo, a Aliança foi envolvida, primeiro, naprevenção de conflitos em cooperação com a OSCE e, depois,na ajuda humanitária e, além disso, na imposição dum acordo depaz, na imposição da paz e no apoio à implementação civil. Oprincipal ensinamento para os planificadores da Aliança é anecessidade duma força poderosa e flexível, com regras deempenhamento claras, capaz de enfrentar uma grande variedadede contingências e emergências. O conceito das ForçasOperacionais Combinadas Multinacionais (CJTF) da OTANtambém foi desenvolvido para aumentar a aptidão da OTANpara responder a emergências futuras.

O relatório Brahimi também tira conclusões sobre a necessi-dade dum dispositivo de forças forte e duma estratégia sólidade consolidação da paz. O relatório sugere que as NaçõesUnidas devem estar dispostas agora a tomar partido. Quandouma das partes dum acordo de paz está de forma clara e incon-troversa a violar os seus termos, continuar a dar igual tratamen-to a todas as partes arrisca-se a comprometer a credibilidadeduma missão e pode equivaler a cumplicidade com o prevari-cador. Portanto, as missões devem ter autoridade para empregara força para enfrentar a violência e aptidão e determinação paracombater as partes ofensoras. Isto envolve forças maiores, me-

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Notícias da OTAN14 Verão 2001

lhor equipadas e mais dispendiosas, capazes de constituir umaameaça dissuasora, em contraste com a presença simbólica enão ameaçadora característica da manutenção da paz tradi-cional. Os recentes relatórios da ONU sobre o Ruanda eSrebrenica complementam e apoiam esta conclusão. Emrelação às forças militares, a Brigada de Alta Prontidão emAlerta da ONU, em alguns aspectos o equivalente das NaçõesUnidas em termos de prontidão às CJTF da OTAN, já foi postaà prova no conflito entre a Etiópia e a Eritreia.

Integrar adequadamente os contribuintes de tropas: AOTAN tem-se esforçado, desde o destacamento da IFOR paraa Bósnia, para encontrar formas de incluir progressivamente osParceiros contribuintes de tropas nos processos de planeamen-to e de tomada de decisões. Nos primeiros tempos, por razõesde segurança teve que ser encontrado um equilíbrio entre, porum lado, as consultas com os Parceiros e, por outro lado, umreconhecimento adequado do empenhamento dos con-tribuintes de tropas não membros da OTAN. A OTAN tambémcriou uma maneira de avaliar as ofertas de forças não daOTAN, para garantir um nível de preparação adequado paraenfrentar os desafios dos Balcãs.

O relatório Brahimi dá ênfase à necessidade duma maiorparticipação dos contribuintes de tropas no planeamento e natomada de decisões. Também trata da questão da qualidade dasforças sugerindo, como prática normal, a criação e destaca-mento de equipas de avaliação da ONU para o treino e equipa-mento dos contingentes nacionais.

Garantir a segurança pública nas operações de manutençãoda paz: A segurança pública continua a ser um desafio essen-cial para a comunidade internacional na Bósnia e no Kosovo.Contudo, as situações são nitidamente diferentes pois a ordempública é da responsabilidade da polícia local na Bósnia e dasNações Unidas no Kosovo. Na Bósnia, a Aliança verificou que,devido a insuficiências da polícia local, a força dirigida pelaOTAN necessitava duma capacidade de reacção às alteraçõesda ordem pública, pois os soldados não estão devidamentepreparados para exercer funções de policiamento. Em con-formidade, a OTAN criou uma unidade multinacional especialde carabinieri, gendarmes e outros polícias especiais, operandosob comando militar. No Kosovo, reconhecendo a necessidadepremente de os militares assumirem a responsabilidade daordem pública até à chegada da polícia da ONU, a maior partedos contingentes foram destacados com meios adicionais, mi-litares ou policiais, e/ou unidades preparadas para o efeito.

O relatório Brahimi também conclui que esta questão é cru-cial, citando a necessidade de equipas nacionais de políciascivis disponíveis para serem destacadas em missões da ONU.Recomenda a criação de dispositivos regionais de treino eencoraja a criação dum grupo de alerta de cerca de 100 polí-cias para reforçar os serviços de planeamento da ONU quandosurgir uma crise.

Novos procedimentos e estruturas de gestão de crises:No início do processo de planeamento da IFOR, a OTANapercebeu-se de que os seus procedimentos de gestão de crisesnão poderiam ser aplicados na totalidade às necessidades damanutenção da paz da Bósnia. Embora aspectos fundamentais

Page 15: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

como o aconselhamento das autoridades militares e a tomadade decisões políticas se mantivessem válidos, o apoio quoti-diano ao Secretário-Geral e ao Conselho do Atlântico Norte foiconfiado a um pequeno grupo multifuncional de peritos, aEquipa Especial para a Bósnia, a que posteriormente foi dadoo nome de Equipa Especial para os Balcãs. Este grupo incluíaperitos políticos, militares, humanitários, jurídicos, dos mediae outros, conforme necessário. Um comité político-militarespecial da OTAN foi também criado para fornecer infor-mações e opiniões dos países sobre as questões em causa.

Uma das principais conclusões do relatório Brahimi é que énecessária uma reorganização significativa do sistema da ONU,especialmente na sua sede em Nova Iorque. São tratadas questõesde estrutura, de procedimentos e de recursos, como é o caso daautoridade e da responsabilidade financeiras. Além das propostassobre os mandatos e o Conselho de Segurança, o relatório propõeque a consolidação da paz seja tratada pelo Departamento deAssuntos Políticos; que seja criada um serviço de análise dainformação e das estratégias; que sejam criados uma direcção damissão e um estado-maior integrado logo no início do processode planeamento; que seja dada uma certa autoridade em matériade financiamento aos que planeiam e implementam uma missão;que o conceito dos mecanismos militares de reserva seja extensi-vo à polícia civil, aos juízes, aos juristas, aos peritos de direitosdo homem e a outros especialistas; que seja aumentado o níveldos efectivos, especialmente no DPKO.

A importância do treino, formação e preparação: Tanto aOTAN como as Nações Unidas reconhecem plenamente anecessidade de dispor de organizações e pessoal civis e mi-litares bem treinados, bem informados e adequadamenteequipados nos difíceis ambientes de segurança e humanitáriosdos Balcãs e em missões de complexidade semelhante. Asforças militares dirigidas pela OTAN demoraram muito tempoa preparar-se para serem destacadas para os dois teatros deguerra dos Balcãs e, como se referiu atrás, a avaliar as con-tribuições adicionais dadas pelos países não membros daOTAN. A ênfase dada à manutenção da paz no programa daParceria para a Paz da Aliança depressa pagou dividendos poismuitos Parceiros se prontificaram a contribuir com forças. Osconceitos, doutrina e procedimentos da Aliança têm agorainteiramente em conta a experiência adquirida nos Balcãs, par-ticularmente no referente à cooperação e à coordenação comas organizações civis no quadro do processo de paz.

Brahimi apela aos esforços nacionais para uma melhorpreparação dos grupos, pessoal ou especialistas e aos esforçoscolectivos sob a orientação da ONU. O relatório centra-se

especificamente na preparação dum quartel-general de missãointegrado, da polícia civil e de outros especialistas civis erecomenda fortemente a criação dum mecanismo de avaliação.

Pelo seu lado, a OTAN já está a aplicar estes ensinamentose a inclui-los na sua política e na sua doutrina de váriasmaneiras: através dos muitos anos de treino e operação emconjunto das suas forças militares; pela ênfase dada àmanutenção da paz na Parceria para a Paz; nos programasespeciais de cooperação com a Rússia e a Ucrânia e no proces-so do Diálogo do Mediterrâneo; e no desenvolvimento dasrelações da OTAN com as diversas forças armadas na regiãodos Balcãs. A Aliança está a realizar uma cooperação interna-cional fundamental através do reforço da comunicação com aUnião Europeia, a OSCE e o ACNUR. Também tem um oficialde ligação em permanência na sede da ONU em Nova Iorque eocasionalmente tem destacado of iciais de ligação paraGenebra. A OTAN também mantém relações estreitas com oschefes das missões das organizações internacionais na Bósniae no Kosovo e a doutrina militar da OTAN reconhece agoraplenamente as dimensões civis das complexas operações demanutenção da paz.

O relatório Brahimi já serviu para chamar a atenção oficiale pública para as deficiências da manutenção da paz dos anos90 duma maneira construtiva e eficaz. Trata duma série dequestões práticas como a tomada de decisões, o destacamentorápido, o planeamento e o apoio. São tratadas outras questõesreferentes à implementação civil, que procuram minimizar anatureza ad hoc actual de algumas missões de manutenção dapaz. Cabe agora aos Estados membros trabalhar em conjuntocom os responsáveis relevantes da ONU para continuar areforçar as capacidades de manutenção da paz da ONU.

Se uma última conclusão pode ser extrapolada das expe-riências tanto da OTAN como da ONU, é que o conceito dumamanutenção da paz sólida precisa de ser alargado ao sectorcivil. A experiência da Bósnia e do Kosovo mostra claramenteque a comunidade internacional precisa de estabelecer semdemora a autoridade e a credibilidade. Isto não pode ser feitoapenas pelas forças militares. As principais organizações inter-nacionais precisam de se deslocar bastante mais depressa parao local e com maior eficiência e eficácia, exercendo toda aautoridade conferida pelos seus respectivos mandatos. Logoque este grupo de organizações seja capaz de demonstrar àsautoridades locais e ao público um sentido mais claro doobjectivo e uma maior unidade de esforços , pode ser maisfácil conseguir a cooperação e o apoio e, em última análise, oêxito da missão. �

O DESAFIO DA MANUTENÇÃO DA PAZ

Verão 2001 Notícias da OTAN 15

O PROGRAMA CIENTÍFICO DA OTAN“Juntar os cientistas para o progresso e para a paz”

O Programa Científico da OTAN apoia projectos de colaboração entre cientistas de paísesAliados e Parceiros. O programa – que não está ligado à defesa – visa estimular

a cooperação entre cientistas de meios diferentes, para criar ligações duradouras entreos investigadores e facilitar a evolução das comunidades científicas dos países Parceiros

Detalhes completos no Web site da OTAN: http://www.nato.int/science

Page 16: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

debate

Podem os militares ser ao mesmotempo soldados da paz e combatentes?

Sim:Bill Nash é um major-general

reformado dos EUA e director doCentro de Acção Preventiva doCouncil on Foreign Relations,

que foi anteriormente admi-nistrador regional da ONU noNorte do Kosovo e comandanteda primeira divisão dos EUA a

ser destacada para os Balcãs.

Não:John Hillen é um alto fun-cionário da Island ECN Inc eantigo oficial do Exército dosEUA que publicou muitasobras sobre segurança interna-cional e foi consultor da cam-panha de Bush durante a últi-ma campanha eleitoral presi-dencial dos EUA.

Caro John,

Já há algum tempo que precisávamosde ter este debate acerca da guerra e damanutenção da paz e estou satisfeito porfinalmente termos arranjado tempo paraele. Quando a minha divisão se prepara-va para seguir para a Bósnia-Herze-govina (Bósnia) no Outono de 1995 tivepela primeira vez que me preocupar coma manutenção da paz, a prontidão para ocombate e as questões associadas. Oêxito que tivemos na Bósnia e no nossoregresso à Alemanha um ano depois con-venceu-me de que a nossa abordagem damanutenção da paz era largamenteresponsável não só pelo êxito da missãomas também pelo nosso rápido regressoaos anteriores padrões de prontidão paracombate. Tenho três observações impor-tantes a fazer.

Como comandante da 1.ª DivisãoBlindada, estava decidido a garantir queas minhas forças não fariam concessõescomo tinha acontecido com a força daONU que nos precedera. Portanto,assumimos uma atitude combatentequando abordámos a missão na Bósnia.A norma era, como declarei na primeirafrase do meu projecto de comando, apre-sentarmo-nos como soldados "aguerri-dos, disciplinados, competentes e profis-sionais". Nos primeiros 60 dias damissão, devo ter usado esta expressão em

média 50 vezes por dia. E penso queresultou. Esta é a primeira condição paramanter uma capacidade de combatedurante uma missão de manutenção dapaz.

Com este estado de espírito adequado,concentrámo-nos então em "fazer acoisas como deve ser" e em integrar otreino nas nossas operações quotidianas.Com isto, quero dizer que introduzimose aplicámos nas operações quotidianasas práticas e procedimentos correntes decondução de tropas no terreno. Os traba-lhos de manutenção, as verificações e osensaios antes do combate diários eramnorma corrente. Os comandantes denível mais baixo tornaram-se compe-tentes a dar as ordens operacionais e aassegurar a aptidão da sua unidade paraexecutar a missão do dia. A coordenaçãohorizontal e vertical do pessoal era asse-gurada diariamente tendo em atenção osmenores detalhes.

Em relação ao treino, organizámosbrífingues e programas de treino do tipoaquartelamento nos primeiros 90 diasapós a chegada ao teatro. Na Bósnia,construímos carreiras de tiro e meios detreino e fizemos tiro com todas as nossasarmas numa base de rotina e as nossasguarnições dos tanques e das viaturasBradley utilizaram carreiras de tiro hún-garas em sistema de rotação de uma

companhia por semana. Criámos mesmocursos de aperfeiçoamento em sistemasde pontaria por laser dos tanques e via-turas Bradley em conjugação com osnossos pontos de observação, que usáva-mos para controlar os movimento mi-litares das forças locais. Queríamos queeles nos vissem a treinar para o combate.

O terceiro elemento foi um plano detreino para o regresso e para o pósregresso à Alemanha. A forma comoregressámos e o que fizemos nos mesesque se seguiram ao nosso regresso teveum impacte significativo na rapidez comque ficámos prontos para partir de novo– para qualquer missão. O nosso planode regresso incluía passarmos quatro aseis dias na nossa base de trânsito naHungria. Aqui, fizemos de tudo, desde adistribuição de uniformes novos e adevolução de equipamento em excesso,passando por exames médicos e den-tários, até exercícios de tiro dos nossostanques e pelotões de infantaria. Otempo passado na Hungria poupou aosnossos soldados semanas de trabalho noregresso à nossa base de origem.

O plano de treino depois do nossoregresso começou com um bem mereci-do período de licença para os soldados.Este investimento de aproximadamente45 dias por batalhão contribuiu directa-mente para uma atitude extremamente

Notícias da OTAN16 Verão 2001

Page 17: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

positiva dos soldados e das suas famíliasem relação ao trabalho que íamos terpela frente. Esta questão da qualidade devida não pode ser esquecida quando pen-samos na maneira de enfrentar as neces-sidades militares de hoje e de amanhã.

O nosso plano de treino centrava-senas competências que não tínhamosexercido na Bósnia, tais como o planea-mento e execução do ataque em profun-didade e do contra-reconhecimento. Nototal, constatámos que as melhorias obti-das nas difíceis competências de coman-do em combate enquanto na Bósnia com-pensavam largamente quaisquer perdasem tarefas específ icas de combateenquanto ocupados na manutenção dapaz. De facto, um alto comando comen-tou, depois do nosso exercício doPrograma de Treino de Comando emCombate em Fort Leavenworth, que tevelugar 90 dias depois do regresso dadivisão, que em muitos aspectos a 1.ªDivisão Blindada estava melhor treinadadepois da estada na Bósnia do que algu-mas divisões regressadas da operaçãoDesert Storm. Independentemente disto,não tenho nenhuma dúvida de que depoisda Bósnia éramos uma divisão de com-bate muito mais capaz do que quandopara lá tínhamos ido.

Ao pensar nos ensinamentos geraiscolhidos com esta experiência, devosalientar dois factos importantes.Primeiro, a divisão deslocou-se para aBósnia praticamente no seu conjunto.Pudemos portanto manter a sua integri-dade mais do que qualquer outra unidadedesde o período de 1995 e 1996. As van-tagens da coesão da unidade para a pron-tidão a longo prazo são muito significati-vas, talvez cruciais. O segundo facto, étriste dizê-lo, é que no final do Verão de1997 a divisão tinha sofrido uma substi-tuição de 70 a 80% dos generais, coro-néis e tenentes-coronéis, incluindo todos

os comandantes de brigadas. Isto não émaneira de manter a prontidão.

Bem, John, estou interessado em conhe-cer as suas opiniões e guardei algumasmunições para o esperado contra-ataque.

Seu,Bill

Caro Bill,

Primeiro que tudo, queria dizer-lheque tenho imenso prazer em ir debaterestas importantes questões com uma pes-soa por quem tenho tanto respeito – comocombatente, como diplomata e como sen-sato analista de política externa.

Não sou contra as operações demanutenção ou de apoio da paz. De facto,no meu livro sobre a história damanutenção da paz pela ONU, analiseiquase 50 missões diferentes e acabei porapreciar os enormes desaf ios destesesforços bem como a sua contribuiçãopara a paz e a segurança internacionais.E, como você, enquanto usava uniformecombati em guerras e servi em missõesde manutenção da paz por isso vi os doislados da moeda.

Acresce, e isso pode surpreenderalguns, que penso que as forças dos EUAdeveriam participar na manutenção dapaz multinacional. Mas, para mim e parao trabalho que fiz na campanha presiden-cial de Bush, a questão gira em torno dadimensão do empenhamento dos EUAnas operações de manutenção da paz edos custos de oportunidade inerentes aestes empenhamentos.

Aquilo a que me oponho é ao empe-nhamento a longo prazo e prolongado detropas de combate dos EUA em ope-rações multinacionais de manutenção dapaz . Penso que os Estados Unidos deve-riam envolver-se a longo prazo comtropas de apoio ou reservistas e pensoque as forças de combate de primeiralinha dos EUA podem desempenhar umpapel essencial apenas por curtos perío-dos de tempo. Na minha perspectiva, afamosa frase do conselheiro do ConselhoNacional de Segurança Condolezza Riceacerca da falta de lógica de os pára-

quedistas da 82.ª Aerotransportada (umadas minhas antigas unidades) levarem ascrianças à escola está enraizada em trêsgrandes argumentos que espero analisarem maior detalhe durante este debate.

Primeiro, há o argumento geopolíticoacerca do papel que os militares dosEstados Unidos deverão desempenhar –face aos seus aliados e parceiros – nosassuntos de segurança internacionais. Omeu argumento de que "as superpotên-cias não são lavadores de janelas" reco-nhece que, como quase todas as missõesde segurança internacionais em que osEstados Unidos se envolvem são coope-rativas e "baseadas em equipas", um papelimportante para o dirigente da equipa éfazer corresponder os papeis e respon-sabilidades aos interesses e capacidades.Dada a enorme disparidade entre ascapacidades militares dos EstadosUnidos e dos seus Aliados europeus emparticular, creio que a OTAN desempe-nha melhor os seus numerosos papeis emmatéria de segurança (não apenas amanutenção da paz na Europa) aprovei-tando as competências essenciais dosseus membros. Para os Estados Unidos –e apenas para os Estados Unidos – trata--se da guerra de grande escala. Para todosos outros Aliados, são missões de muitomenor dimensão e sobretudo operaçõesde apoio da paz.

Segundo, há o impacte prático dosesforços prolongados de manutenção dapaz dos EUA sobre o resto da estratégiamilitar dos EUA. Ao contrário da maiorparte dos Aliados da OTAN, os EstadosUnidos têm empenhamentos exigentesem matéria de segurança em todo omundo. Enquanto o Reino Unido empenhaforças de combate em missões aliadascomo a dissuasão permanente sobre o

Verão 2001 Notícias da OTAN 17

JOHN HILLEN

Aquilo a que me oponhoé ao envolvimento a

longo prazo eprolongado de tropas decombate dos EUA em

operações multinacionaisde manutenção da paz

BILL NASHversusJOHN HILLEN

Assumimos uma atitudecombatente quando

abordámos a missão naBósnia

BILL NASH

Page 18: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Iraque, na maior parte dos casos, osEstados Unidos são os únicos a assegurarque nenhuma potência hostil possa domi-nar o Leste da Ásia ou a região do Golfo.Além disso, missões como estas exigemtropas de combate altamente treinadas etodos os elementos do poder aéreo, navale terrestre americano – plenamenteempenhados e treinados a tempo inteiropara fazer face às tensões e desafios daguerra (que normalmente surge semqualquer aviso prévio!).

Também diria que se trata de missõesem que os Estados Unidos – e a Aliança –não se podem dar ao luxo de fracassar.Como mostra o meu livro sobre amanutenção da paz pela ONU, umagrande potência pode permitir-se fazerasneiras, actuar de qualquer maneira oumesmo fracassar numa missão demanutenção da paz sem causar umimpacte duradouro no sistema de segu-rança internacional. Contudo, se osEstados Unidos e os seus Aliadosperderem ou mesmo empatarem numconflito significativo (como a Guerra doGolfo), toda a estrutura da cena interna-

cional pode ser alterada e mudar parapior. Mesmo nesta época do politica-mente correcto, temos que admitir quealgumas missões são mais importantesdo que outras.

Os seus comentários iniciais tratamsobretudo do terceiro factor, se os solda-dos dos EUA podem ser treinados paraexecutarem tão bem missões demanutenção da paz como de combate equase alternadamente. O meu amigoProfessor Charles Moskos é conhecidopela frase "A manutenção da paz não étarefa de soldado, mas só um soldado apode executar". Isto parece resumir muitobem o enigma. Não há dúvida de que sol-dados bem treinados e disciplinadospodem, com o tipo correcto de treino deadaptação, dar soldados da paz muitobons. Mas tenho as minhas dúvidas (ealgumas razões) acerca da aptidão dossoldados profundamente envolvidos namanutenção da paz para depois fazeremuma reviravolta com pouco ou nenhumaviso prévio e estarem no máximo da suacomplexa e sofisticada preparação para ocombate tridimensional.

Entrarei em mais detalhes na continua-ção deste debate, mas gostaria de salien-tar desde já que os seus absolutamenteheróicos e admiráveis esforços de treinona Bósnia foram dirigidos no sentidodeste mesmo fenómeno – que está a exi-gir muito das forças dos EUA. A necessi-dade de termos os nossos soldados da pazprontos para dum momento para o outrose transformarem imediatamente emcombatentes. Têm sido feitos estudossobre isto por vários serviços governa-mentais e institutos de investigação etodos apontam para o facto de que – sim-plesmente porque nenhuma instituiçãopode ser igualmente eficaz em duas tare-fas diferentes – há uma certa degradaçãodas capacidades de combate entre os sol-dados afectados durante muito tempo àmanutenção da paz.

Para nós, o problema que se põe ésaber qual é o risco de degradação quevale a pena ser aceite pelos EstadosUnidos?

Seu,John

Caro John,

Tratarei dos seus três pontos pelaordem inversa. Concordo que pode haver"uma certa degradação das capacidades decombate entre os soldados afectadosdurante muito tempo à manutenção dapaz". Mas a mesma unidade não se man-tém numa missão durante muito tempo.As comissões são normalmente de seis adoze meses e isto não é uma duração par-ticularmente longa. Mesmo com uns três aseis meses mais de treino preparatório, osefeitos não são excessivamente enfraque-cedores. O ponto essencial é que o que seganha num ambiente operacional mais doque compensa os níveis das competênciasespecíficas que possam degradar-se eestes níveis são geralmente mais fácil erapidamente recuperados. Os militares doEUA têm bastantes mais problemas deprontidão por outras razões que a do rela-tivamente pequeno impacte resultante dasmissões de manutenção da paz.

Mas as questões de longo prazo rela-cionadas com as intervenções que levan-ta precisam de ser abordadas. Aqui, esta-mos a falar não tanto acerca damanutenção da paz como acerca da con-solidação da paz. Creio que esta activi-dade ultrapassa as competências e opapel próprio das forças militares e entrano domínio da implementação civil nasoperações de paz. A falta de capacidadescivis desvia os militares da sua missão eenvolve-os em actividades para além doque é apropriado. Até que a componentecivil destas operações de paz receba amesma prioridade relativa que a compo-nente militar na atribuição de pessoal ede recursos, nunca atingiremos os nossosobjectivos de política externa. Na minhaopinião, gastamos muito tempo de maisa falar acerca das questões militares edemasiado pouco a analisar os proble-mas políticos, económicos, sociais e desegurança em sentido lato que têm queser resolvidos para concluir a tarefa ini-ciada com a nossa intervenção.

Quanto ao seu primeiro ponto, fareialgumas observações. O comentário acercade "janelas" é bem achado mas não ajudanada. Os líderes devem sempre partilhar asprivações e os riscos, políticos e físicos,com os seus seguidores. Fazer correspon-

Notícias da OTAN18 Verão 2001

BILL NASHversusJOHN HILLEN

O que se ganha numambiente operacionalmais do que compensa

os níveis dascompetências específicasque possam degradar-se

e estes níveis sãogeralmente mais

facilmente recuperados

BILL NASH

Page 19: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

der as competências às missões é lógico,mas o consenso deve ser construído e nãoexigido. Nunca devemos esquecer a dife-rença entre liderança e autocracia.

Seu,Bill

Caro Bill,

Parece que divergimos não em questõesde princípio mas em questões subjectivasde dimensão. Por exemplo, concordamosque a manutenção da paz a longo prazopor unidades de combate degrada neces-sariamente as capacidades de combatemas discordamos sobre onde e quandoesta degradação se torna enfraquecedora.Analogamente, concordamos que osAliados da OTAN têm interesses e capaci-dades diferentes mas discordamos quantoà medida em que os Estados Unidos de-verão reforçar as capacidades dos seusAliados em missões de segurança colecti-va de menor dimensão. Vou explicar aminha posição nestes dois casos.

Nunca sabemos quando a degradaçãodas capacidades de combate é enfraque-cedora a não ser quando já é tardedemais. Em Maio de 1950, quando apenínsula da Coreia estava em paz, ofacto de o treino de combate das forçasde ocupação americanas na Coreia e noJapão não ser excelente não pareceu serenfraquecedor. Contudo, um mês depois,a 25 de Junho, a invasão pela Coreia doNorte e o subsequente envio de forças deocupação americanas rapidamentemudou as atitudes.

Muitos casos que poderão exigir umaforça americana pronta para combatepoderão surgir de surpresa. Pode nãohaver tempo para recuperar das missõesde manutenção da paz e treinar para ocombate. Sejamos francos. NenhumAliado tem as responsabilidades mun-diais dos Estados Unidos, que poderãoser chamados a responder imediatamentea graves contingências em matéria desegurança. Seria insensato pôr em riscoas vidas de soldados americanos devidoa uma prontidão para combate reduzida esacrificar as capacidades únicas e decisi-vas das forças americanas simplesmentepara reforçar as capacidades dos nossos

Aliados em missões de manutenção dapaz que são, em última análise, menosimportantes para a segurança mundial.

Isto leva-nos ao segundo ponto dedesacordo, o papel que os EstadosUnidos deverão desempenhar como líderda OTAN nestas missões de menordimensão. Mesmo num ambientediplomático que insiste na aparência deigualitarismo, os Estados Unidos nãodeverão pretender que a liderança sejasimplesmente fazer o que todos os outrosfazem. É verdade que os líderes devempartilhar os riscos e os encargos mas,como os nossos próprios Aliadoseuropeus lamentam, eles são cada vezmais incapazes de partilhar os riscos e osencargos em missões que afectam pro-fundamente a segurança mundial.

Tornámo-nos agora todos muito pre-ocupados com os Balcãs mas alguém naOTAN tem que se manter atento ao restodo mundo. Esse alguém é obviamente osEstados Unidos. Porquê utilizar umaunidade de combate, que pode ter queresponder daqui a dias a uma situaçãocomo a invasão do Kuwait em 1990(como fez a 82.ª Aerotransportada), emtarefas que qualquer outro Aliado poderiaexecutar com reservistas paramilitares?Isto poderia ser bom para a Aliança masseria mau para a segurança mundial. AAliança não é um fim em si mesma, éapenas o meio para aumentar a segurançana Europa e noutros locais. Deveremosportanto pensar duas vezes antes de dar àsolidariedade a curto prazo prioridadesobre a segurança a longo prazo.

Sou inteiramente a favor da partici-pação de forças americanas em missõesde manutenção da paz dirigidas pelaOTAN mas sou contra o destacamento alongo prazo e prolongado de unidades decombate dos EUA em tais missões. Ahistória mostra que poderemos vir aarrepender-nos disso.

Seu, John

Caro John,

Poderia parecer que convergimos,senão mesmo concordamos, sobre a

questão em causa: os militares podem sersoldados da paz e combatentes. Vocêapenas não quer que os soldados ameri-canos o façam durante muito tempo.

Um historiador como você não podeusar Maio de 1950 como prova de queem 2001 a manutenção da paz é prejudi-cial para a prontidão para combate ame-ricana. As duas divisões reforçadas doExército dos EUA que foram destacadasrapidamente para a Coreia em Junho de1950 tinham por trás quase cinco anosduma missão de ocupação no Japão emque o seu pessoal, equipamento e treinoeram centrados em tudo menos no com-bate. Era uma época diferente, ummundo diferente e, certamente, umExército dos EUA diferente.

Aceito um debate racional sobre amedida em que as forças dos EUA de-verão participar em missões demanutenção da paz a longo prazo e,como lhe disse na minha última carta,penso que as verdadeiras preocupações alongo prazo são mais de natureza civilque militar. A utilização de unidades dereserva quando estas missões são prolon-gadas faz muito sentido. Mas osimpactes sobre a prontidão são real-mente marginais e não devemos escon-

Verão 2001 Notícias da OTAN 19

JOHN HILLEN

Tornámo-nos agoratodos muito

preocupados com osBalcãs mas alguém na

OTAN tem que semanter atento ao resto

do mundo

BILL NASHversusJOHN HILLEN

Page 20: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

dermo-nos por trás de razões frívolasquando há tantas causas reais para asdeficiências da prontidão que precisamde ser tratadas para podermos assumir asnossas responsabilidades mundiais.Temos menos de 10 000 soldadosenvolvidos nos Balcãs, muitos dos quaissão reservistas. Se formos chamados acombater noutro local, o pequenonúmero que está desviado para uma boacausa não porá em risco a vitória ou asobrevivência dos Estados Unidos.

Por fim, considero que precisamos deassegurar uma coligação de base alarga-da de amigos e aliados quando nospreparamos para enfrentar os desafiosda segurança do século XXI. Asacusações de arrogância ou excepciona-lidade americana, fundadas ou não, nãonos ajudarão nos nossos esforços e, omais provável, é que prejudiquem asegurança que procuramos. Andarmossozinhos não será uma estratégia delongo prazo bem sucedida.

Seu,Bill

Caro Bill,

Os seus comentários são bem feitos ebem recebidos. Concordamos que os sol-dados dos EUA podem ao mesmo tempofazer a manutenção da paz e combater,especialmente em missões da OTAN ounoutras missões de segurança colectiva.Além disso, a sua observação sobre asforças de reserva parece-me de grandeinteresse. A utilização de forças de reser-va dos EUA nestas missões – um modeloque muitos dos nossos Aliados já adop-tam – é uma evolução positiva mas quenão deixará de ter consequências para osEstados Unidos, onde a estrutura e oestatuto das forças de reserva terão queser reformulados pois ambos foram con-cebidos para a Guerra Fria.

Contudo, creio f irmemente que amanutenção da paz deveria ser umacapacidade secundária das tropas decombate dos EUA. O exemplo da Coreiaem 1950 não pretendia ser uma analogiahistórica exacta, foi usado simplesmentepara salientar um esquema frequente nahistória: 1) Acontecem coisas más aospaíses bons; 2) é normalmente uma sur-presa; e 3) a situação é difícil de serinvertida se um país ou grupo de paísesnão estiver preparado para combater aagressão desde o primeiro dia. A 1.ª e a2.ª Guerras Mundiais, a Coreia, o Golfo,… basta escolher, enquadram-se nesteesquema.

São estas as missões em que osEstados Unidos simplesmente nãopodem fracassar. O fracasso nestes tiposde situação tem consequências maisgraves e de maior alcance que nos confli-tos reciprocamente destrutivos, prolon-gados e dificilmente solucionáveis, ca-racterísticos das actuais missões demanutenção da paz. É preciso um poucode realismo geopolítico. Estas con-tingências, para as quais só os EstadosUnidos estão preparados, não são neces-sariamente situações que ameacem anossa sobrevivência. Pretender o con-trário é uma caricatura. São, muito sim-plesmente, ameaças à segurança queexigem o destacamento e possívelemprego de forças de combate apre-ciáveis com pouco ou nenhum avisoprévio.

Actualmente, poucos se lembram doHaiti ou da Somália, embora estivésse-mos preocupados com a sua importânciano princípio dos anos 90. Contudo,estaríamos constantemente a lembrar-mo-nos de Saddam Hussein actualmentese ele tivesse ocupado e dominado oKuwait e a Arábia Saudita. Dizer que amanutenção da paz é mais importante doque aqueles tipos de ameaças à segu-rança é terapêutico mas profundamenteirrealista.

Apenas um Aliado da OTAN dispõeda tecnologia "furtiva", muniçõesguiadas com precisão, grandes aviões detransporte, transporte aéreo estratégico,satélites, conjuntos logísticos desta-cáveis em grande escala, etc.. Contudo,

ao mesmo tempo, há muitos países comsoldados da paz experientes, políciaparamilitar, peritos de reconstrução civile outras coisas mais. Porquê embotar aúnica verdadeira espada usando-a a pardas outras ferramentas?

Mais uma vez, apenas me estou areferir ao destacamento a longo prazo detropas de combate dos EUA em ope-rações Aliadas de manutenção da paz.Todos sabemos que os Estados Unidosprecisam de se envolver profundamenteem quase todos os outros aspectos (infor-mações, apoio, logística, transportes,etc.) de qualquer missão da OTAN ousimplesmente ela não poderá efectuar-se.O predomínio dos EUA na campanhaaérea do Kosovo de 1999 constitui umbom exemplo. É por omissão, não porescolha, que os Estados Unidos seencontrarão sozinhos noutras missões desegurança de maior envergadura. Os ou-tros Aliados reconheceram eles própriosque não conseguiram adaptar as suasforças para missões de combate fora daEuropa.

Alguém na Aliança precisa de estarapto a responder às contingências comforças de combate bem treinadas. Seráum caso de fraca liderança se os mi-litares dos EUA forem destacados comose fossem simplesmente uma grandeforça policial no interesse da soli-dariedade da Aliança. Como nos lembrao mestre da liderança Peter Drucker, oslíderes lideram devido aos seus conheci-mentos e competências únicos, nãoprocurando simplesmente reforçar ascompetências dos seus seguidores.

Seu,John

* Para uma perspectiva europeia damanutenção da paz, ver também asopiniões do general Sir Rupert Smithnas páginas 24 e 25.

Notícias da OTAN20 Verão 2001

BILL NASH

Os líderes devem semprepartilhar as privações e osriscos, políticos e físicos,com os seus seguidores

BILL NASHversusJOHN HILLEN

JOHN HILLEN

Há missões em que osEstados Unidos

simplesmente nãopodem fracassar

Page 21: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Verão 2001 Notícias da OTAN 21

Infelizmente, em vez de parar, a violência aumentou, poisMilosevic respondeu deslocando 1,3 milhões de kosovaresalbaneses, dos quais mais de 800 000 foram forçados a passara fronteira. Somente dois meses depois, quando os dirigentesAliados demonstraram a sua plena determinação em levar amelhor, intensificando a campanha aérea e lançando a opçãodo emprego de forças terrestres, é que Milosevic finalmentese deu por vencido.

A segunda razão para a continuação do interesse pelacampanha da OTAN no Kosovo reside nanatureza voluntarista dos conflitos modernos.Os interesses nacionais vitais ou a segurançafísica dos 19 Estados membros da OTAN nãoestavam directa nem imediatamente ameaçadospela violência étnica no Kosovo, mesmo que opossível alastrar dos combates ameaçassedesestabilizar os países Parceiros da OTAN daregião. Para todos os 19 governos da OTAN adecisão de lançar a operação Allied Force eracomplicada, exigindo opções difíceis. O preçoda intervenção seria, em última análise, menorque o da abstenção? A violência contra os civisno Kosovo teria dimensão suficiente para justi-ficar uma campanha aérea em grande escala?Como poderia a necessidade de garantir oapoio político nos países da OTAN ser conci-

liada com a necessidade de máxima dissuasão e, posterior-mente, duma campanha aérea rápida e decisiva? Comopoderia ser mantido a longo prazo o apoio público, numaAliança com 19 governos e opiniões públicas diferentes, seo emprego imediato da força não conseguisse dominarMilosevic? Como poderia ser encontrada uma base jurídicaconvincente para o emprego da força sem uma Resolução doConselho de Segurança da ONU? E como poderia a OTANassegurar uma melhoria da situação pós conflito e conseguiruma solução política para o Kosovo, que justif icasse adecisão do emprego da força e a inevitável destruição edesintegração?

A resposta final à última destas questões ainda não estádada. Face ao ódio que subsiste no Kosovo, poderemos ter queesperar alguns anos antes que a KFOR possa deixar a provín-cia, com a convicção segura de ter sido criada uma sociedademulti-étnica, democrática e próspera. Mas os livros aprecia-dos nesta crítica têm o mérito de ter tratado com autoridade amaior parte das outras difíceis controvérsias tão persistente-mente ligadas à Allied Force na altura.

Kosovo: War and Revenge (Yale University Press, 2000) deTim Judah é uma excelente análise das origens do conflito.

Jamie Shea é o director do Gabinete de Informação eImprensa da OTAN.

Embora as imagens da televisão das missões de bom-bardeamento da OTAN e dos milhares de refugiados aatravessarem as fronteiras já tenham mais de dois anos,

o conflito do Kosovo continua a suscitar interesse, controvér-sia e, de vez em quando, paixão. É raro passar-se um mês semque apareça outro livro histórico ou de memórias. Alguns,como o relato recentemente publicado de Wesley Clark, têmsido objecto de enorme publicidade nas principais revistas deactualidades. Pelas minhas contas, mais de 200 livros sobre oKosovo já foram publicados somente em língua inglesa. Parameu grande espanto, mesmo os aspectos maisarcanos do conflito do Kosovo estão a ser estu-dados pelos candidatos a doutoramento. Nomês passado, recebi a visita dum licenciado queestava a escrever uma tese sobre a análise lin-guística semiológica dos brífingues à imprensada OTAN. Consta que vários intervenientesimportantes desta saga, agora já afastados dosseus cargos, estão a elaborar os seus própriosrelatos dos acontecimentos. Assim, a com-petição pelo veredicto histórico final pareceque vai continuar.

Porquê um conflito tão curto e limitadoprovocou um debate tão acalorado? Porquê tan-tos dos principais intervenientes sentiram anecessidade duma justificação pública post fac-tum? Acho que há duas razões. Em primeiro lugar, é a despro-porção que muitos acham haver entre os meios e os f ins.Embora poucos contestassem a necessidade duma pressãointernacional para resolver a difícil situação dos kosovaresalbaneses, muitos discordaram do emprego da força em talescala, particularmente quando implicou ataques aéreos con-tra toda a Jugoslávia. Continuou a haver em muitos meios aconvicção de que podia ter sido sustada a violência dandomais tempo à diplomacia – uma opinião que esquece arejeição categórica de Milosevic dos acordos de paz elabora-dos em Rambouillet. Outros acharam que a ameaça deemprego da força militar deveria ter sido feita mais cedo emais energicamente para evitar que acabasse por ter que serempregada – um argumento que pressupõe o bom senso deMilosevic em calcular riscos e avaliar as consequências.Todas as pessoas civilizadas gostariam que os meios fossemdirectamente proporcionais aos fins. A própria OTAN tentoufazê-lo no início da campanha aérea, excluindo publicamenteo recurso a forças terrestres e limitando-se a 50 aviões deataque e a alvos no interior ou próximo do Kosovo.

A história actualJamie Shea reflecte sobre a continuação do interesse pela campanha da OTAN no

Kosovo e passa em revista cinco livros que já foram publicados sobre o assunto

Page 22: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Recuando bastante na história, Judah regista o padrão repeti-tivo de violência entre as etnias albanesa e sérvia, com qual-quer das partes a dominar em várias fases duma história longae bastante deprimente. Judah, autor dum anterior livro muitoconsiderado sobre os sérvios, é um verdadeiro especialistasobre os Balcãs e imbatível sobre os factores locais. Emboraescrupulosamente imparcial para as duas partes, regista emdetalhe as cisões e a radicalização entre os dirigentes koso-vares albaneses e o surgimento nos anos 90 do Exército deLibertação do Kosovo (UCK). Tem uma noção clara dos prin-cipais factores que fizeram perder o equilíbrio no sentido daviolência, em particular o desapontamento dos kosovaresalbaneses por a sua causa não ter sido compreendida naConferência de Paz de Dayton de 1995 e o quase colapso doEstado albanês em 1997, que permitiu ao UCK obter milharesde armas a preços de saldo.

Embora Judah mostre que oskosovares albaneses não eram anjos,acusa claramente Milosevic eBelgrado por não terem em contaconstantemente as queixas dos koso-vares albaneses e exacerbarem a situação através dum emprego da forçacrescentemente premeditado e indis-criminado contra a população civil. Étragicamente típico de Milosevic nãoter uma estratégia clara em relação aoproblema do Kosovo e as suas acçõesintermitentes mas brutais apenas teremtido como resultado a intervenção e apresença armada prolongada da OTANna Jugoslávia que ele queria evitar.

Na perspectiva da OTAN, uma das obser-vações mais úteis de Judah é que a campanha delimpeza étnica de Milosevic teve início muitoantes de começarem os ataques aéreos. Salientaque em Janeiro de 1999, dois meses antes daAllied Force, as forças especiais sérvias já tinhamexpulso das suas casas 300 000 kosovares albaneses.Também demonstra que a limpeza étnica da população civillocal estava com tendência crescente e teria aumentado quera OTAN tivesse ou não actuado. Ao fazê-lo, desmente oscomentadores que alegam que a OTAN provocou a crisehumanitária no Kosovo ao actuar e que o remédio foi pior quea doença.

O profundo conhecimento de Judah da psicologia dos diri-gentes das etnias albanesa e sérvia revela-se claramente masnão entra em detalhe nas posições dos 19 governos Aliados edas suas organizações militares. No seu livro, a campanhaaérea da OTAN é tratada de forma sucinta próximo do fim.Os que queiram estudar melhor este aspecto deverão preferira consulta de Winning Ugly: NATO’s War to Save Kosovo(Brookings Institution Press, 2000) por Ivo Daalder eMichael O’Hanlon, ambos proeminentes especialistas daBrookings Institution com prévia experiência administrativa.Para quem conhece a OTAN, o seu relato é encorajador esóbrio ao mesmo tempo: encorajador porque os autoresfazem várias análises fascinantes e intelectualmente rigo-

CRÍTICA LITERÁRIA

Notícias da OTAN22 Verão 2001

rosas das alternativas possíveis à abordagem da OTAN. Aofazê-lo, mostram que alternativas na altura muito aliciantes,como a partilha do Kosovo, medidas mais severas para oUCK ou concessões a Milosevic para obter o seu acordo paraconceder plena autonomia ao Kosovo, não teriam resultadonas circunstâncias existentes na Primavera de 1999. A únicaforma de evitar não só uma catástrofe humanitária mas adesestabilização de todo o Sul dos Balcãs (o que teria, even-tualmente, causado danos duradouros à credibilidade daOTAN) era, na opinião de Daalder e O’Hanlon, a Aliançaactuar militarmente. Para parafrasear o que dizia Churchill apropósito da democracia, a Allied Force era a pior solução,com excepção de todas as outras. Mas tendo justificado aAllied Force através do desmascaramento das falácias dasalternativas, os autores de Winning Ugly são igualmente

implacáveis na sua avaliação da condução do conflito pelaOTAN: daí o título agridoce do seu livro. Napoleão disseuma vez: “Meu Deus, se eu tiver que combater que sejacontra uma coligação”. No mesmo espírito, as ciladas daspolíticas e divergências internas da Aliança são bem ana-lisadas, mesmo reconhecendo os autores que, como éimprovável que no futuro os países efectuem inter-

venções humanitárias sozinhos, será obrigatórioaceitar políticas de coligação. As alianças podemcomplicar as tomadas de decisão militares, mastambém tornam claro para um opressor que estácontra a comunidade internacional. Em últimaanálise, isto foi um factor determinante no iso-lamento e fracasso de Milosevic.

Onde Daalder e O’Hanson insistem no seuraciocínio é em apontar a diferença entre ascapacidades militares dos EUA e da Europa naAllied Force, que provocou um encargodesproporcionado dos Estados Unidos e frus-trou os Aliados europeus, que se sentiramexcluídos do centro de tomada de decisões.Para que a guerra em coligação funcione ade-quadamente em tais operações futuras, as

contribuições militares no quadro da OTAN terão queser mais equilibradas. Daalder e O’Hanlon também censurama OTAN por ter iniciado a campanha aérea com demorademasiada e ter excluído inicialmente a opção terrestre, assimprivando a estratégia da Aliança do elemento de surpresa, queteria mantido Milosevic na dúvida. Têm uma certa razão masa gestão dum conflito é a arte de conciliar o politicamentepossível com o militarmente desejável. A escolha da OTANnão era entre a campanha perfeita e a variante imperfeita. Faceà necessidade de obter consenso entre os 19 governos daOTAN, era uma escolha entre uma campanha imperfeita ounenhuma campanha. Talvez seja melhor triunfar sem glóriaque perder em beleza. Contudo, as críticas de Daalder eO’Hanson não podem ser ignoradas, particularmente porqueeles estão convencidos de que: “Esta guerra não será a últimavez que os governos da OTAN empregarão a força para salvarvidas”.

Os que pensam que por trás de cada acontecimentoimportante há sempre uma turbulenta história internaf icarão bem servidos com Waging Modern War (PublicAffairs, 2001), as memórias do comandante da Allied Force,

Page 23: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

o antigo SACEUR general Wesley Clark. Todos os estu-dantes de conflitos sabem muito bem que o stresse do com-bate e a necessidade de constantes decisões dão muitas vezesorigem a lutas burocráticas e a choques de personalidades.Confrontar os superiores pode por vezes ser tão difícil comoconfrontar os adversários. O general Clark explica com sin-ceridade os seus desapontamentos com os colegas doPentágono. Mesmo o pessoal da OTAN que esteve na sededa OTAN durante a Allied Force descobrirá ao ler este livroque sabia apenas metade do que se passava nos bastidores. Anatureza íntima do livro do general Clark, com a sua narrati-va exaustiva semelhante à de um diário, torna-o interessantepara os especialistas e os jornalistas mas talvez menos parao público em geral, que não está familiarizado com os inter-venientes envolvidos. Intrigas burocráticas e conflitos políti-cos obscurecem frequentemente as considerações do autorde natureza mais geral sobre a natureza dos conflitosmodernos, os princípios duma boa gestão de crises ouas perspectivas de consolidação da paz nos Balcãs. Oslivros sobre acontecimentos célebres escritos pelosparticipantes colocam inevitavelmente os autores emprimeiro plano. No caso do general Clark, isto épouco surpreendente e oferece muitas observaçõesinternas valiosas. Mas também signifi-ca que os que não estavam no círculopessoal quotidiano de Clark só oca-sionalmente são mencionados e deforma passageira, mesmo que tam-bém tenham desempenhado papeisimportantes. O que aprendemos acer-ca do próprio autor é tão importantecomo o que aprendemos acerca doacontecimento. O general Clarkdescreve bem os constrangimentosque os políticos, os media, as ONG,os colegas e os superiores impõema um comandante que está a procu-rar ganhar uma guerra moderna,mas de certa maneira a maior partedestes constrangimentos existe hámuito. Dominam as obras sobre o Vietname,por exemplo, tanto como as obras sobre o Kosovo ou aBósnia.

O que teríamos realmente gostado de encontrar no livro deClark era uma análise mais conceptual de como difere dasprecedentes a nova forma de guerra de alta tecnologia emediatizada. Embora compreendendo a situação difícil deClark – tentando convencer os seus superiores e os seus cole-gas do Pentágono de que, quaisquer que sejam os ensinamen-tos da Guerra do Golfo, o recurso à força esmagadora não éuma doutrina que possa ser aplicada a todos os tipos de con-flito – perguntamos a nós próprios no f inal de WagingModern War o que há de novo ou significativo na palavra“modern”.

Uma tentativa estimulante de resposta a esta pergunta estáem Virtual War de Michael Ignatieff (Chalto and Winus,2000). Reunindo entrevistas e ensaios da época, incluindoum sobre Clark (“o comandante virtual”), o livro de Ignatieffestá cheio de observações sobre a difícil procura moderna da

guerra perfeita, sem baixas e de impecável justificação morale jurídica. A sua análise mais interessante é sobre o empregoda imagem selectiva da realidade tanto para promover oapoio interno como para desacreditar a causa do adversárioaos olhos da sua própria opinião pública, Mas mesmo a me-lhor manipulação dos media, os políticos mais persuasivos ea tecnologia mais avançada não podem dissimularindefinidamente a brutalidade e o sofrimento humano dosconflitos armados, nem muito menos podem evitar as baixasreais. Em última análise, a guerra virtual do espectroradioeléctrico fica confrontada com a guerra real. Ignatieff,um veterano dos Balcãs e da maior parte dos outros conflitosétnicos da última década, é uma verdadeira autoridade sobrea guerra moderna. Só espero que desenvolva estas interes-santes observações no futuro numa obra mais completa emais abrangente.

No conflito do Kosovo assistiu-se auma controvérsia sobre o trabalho dosmedia da OTAN e dos bríf inguesdiários à imprensa da sede da OTAN edas capitais da Aliança. A apresentaçãoao público do conflito tem sido tãointensamente debatida pelos jornalistascomo a condução das próprias operaçõesmilitares. A OTAN mentiu deliberada-mente? Houve mais pessoas encar-regadas de apresentar os factos de formaoptimista do que verdadeiros porta-vozes? Qual é a responsabilidade dosgovernos e dos jornalistas na explicaçãoao público dos conflitos modernos? Umexcelente relato do trabalho dos media da

OTAN é feito pelo seu porta-voz militar da altura, ogeneral Walter Jertz, em Krieg der Worte, Macht derBilder (Bernard e Graefe, 2001). Jertz é honesto aodescrever tanto os fracassos como os êxitos daOTAN perante a multidão de representantes daimprensa internacional que invadiu a sede da OTANdurante a campanha aérea. Torna claro que, no“nevoeiro da guerra” de que fala Clausewitz, obter

informação exacta do teatro de guerra em tempo real nuncafoi fácil, mas demonstra de forma convincente que a OTANnão enganou deliberadamente e foi muitas vezes vítima dasua própria procura de transparência. Jertz realça muitasquestões úteis que é preciso melhorar no futuro. Só dese-jamos que o seu livro seja publicado noutras línguas paraque tenha maior divulgação.

A OTAN foi muito criticada por causa do Kosovo tanto naaltura como depois. Tem havido muitos revisionistas queaproveitam todas as más notícias para provar que a OTAN nãotinha o direito de intervir militarmente. Mas estes livros, quevale bem a pena ler, mostram que a OTAN não tem nada arecear ou a arrepender-se depois dum exame aprofundado dosfactos. Todos os autores criticam o que esteve mal ou poderiater sido feito de melhor forma. Mas se a Allied Force não éapresentada nestes relatos como uma operação mais perfeitado que foi realmente, também a necessidade moral e estraté-gica da intervenção da OTAN no Kosovo não se mostra menosnecessária e legítima. �

CRÍTICA LITERÁRIA

Verão 2001 Notícias da OTAN 23

Page 24: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN24 Verão 2001

com as capacidades necessáriaspara tomar medidas mais enérgicas.

NO: Deverão os soldados ser desta-cados com o tipo de mandato que asforças da ONU tinham durante aguerra da Bósnia ou deverá ser esta-belecido um mandato mais forteantes de serem destacadas as tropas?RS: Pode-se destacar forças comesse tipo de mandato desde queisso corresponda ao que se pre-tende que elas façam. O que não sedeve fazer é decidir posteriormenteque se quer que elas façam algodiferente sem as equipar e sem lhesdar regras de empenhamento ade-quadas para executar esta missão.Isto foi manifestamente o queaconteceu na Bósnia com as “áreasde segurança”, onde a ideia era dis-suadir novas incursões nestes

enclaves mas as forças para o conseguir eram inadequadas.

NO: Que estratégia dará resultado em situações complexascomo a da Bósnia?RS: Se se quer usar a força para ajudar a chegar a uma reso-lução do conflito, é preciso fazê-lo com o apoio dum processopolítico. A perspectiva do uso da força e o processo políticotêm que andar a par e não serem tratados como processosindependentes. Os acontecimentos de 1995 na Bósnia são umbom exemplo de vários intervenientes a actuar no mesmo sen-tido e ao mesmo tempo. Richard Holbrooke estava a procuraruma solução diplomática, o que levou eventualmente aoAcordo de Dayton, e estava a ser usada a força em comple-mento das negociações, embora isto tivesse acontecido maispara aproveitar a oportunidade do que por planeamento.

NO: Esteve envolvido nos Balcãs tanto em funçõesconfiadas pela OTAN como pela ONU. Como é que

Notícias da OTAN: Podem ossoldados ser simultaneamenteguerreiros e soldados da paz?General Sir Rupert Smith: Umsoldado é um guerreiro. Nãopresta como soldado se não forum guerreiro. O fim com que éutilizado um soldado cobre umagama de actividades, incluindoa manutenção da paz.

NO: Quais são as actividades apro-priadas para os soldados da paz?RS: Isso depende da natureza dapaz que está a procurar manter, dequem está a perturbar a paz e donível da força de que necessita paraconseguir criar as condições que omandaram criar. Se está a enfrentarum inimigo fortemente armadocom um exército plenamente orga-nizado, então tem que dispor dumacapacidade semelhante. Se está a enfrentar um adversárioocasional, então é claramente inadequado empregar maisforça do que a necessária para atingir os seus objectivos.

NO: Que espécie de força acha que teria sido apropriadoempregar durante a guerra da Bósnia e acha que teria sidocapaz de empregar essa força?RS: As forças destacadas pelas Nações Unidas não estive-ram lá para manter a paz, impor a paz ou serem soldados dapaz. Estiveram lá para proteger os comboios de ajudahumanitária destinada a não combatentes. Na maior partedos casos, esta ajuda foi prestada com êxito. Quando o seumandato foi alargado para proteger o que veio a ser conhe-cido por “áreas de segurança”, o êxito foi menor, emborativessem conseguido fazer chegar ajuda a estes enclaves.Contudo, quando se tratou de dissuadir novos ataques às“áreas de segurança”, sem outro recurso potencial à força anão ser recorrer à OTAN para ataques aéreos, fracassaram efoi preciso um certo tempo para reunir forças suficientes

General Sir Rupert Smith:DSACEUR

Desde Novembro de 1998, o general Sir Rupert Smith é Adjunto doComandante Supremo Aliado da Europa. Um dos oficiais mais distintos dasua geração, tornou-se DSACEUR depois de ter comandado as forças do

Exército Britânico na Irlanda do Norte entre 1996 e 1998 e aFORPRONU na Bósnia-Herzegovina em 1995. Deixa o SHAPE em

meados de Setembro e passará à reforma no princípio de 2002.

© O

TAN

Page 25: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

isto influenciou a sua opinião acerca dos papéisrespectivos destas duas organizações?RS: Não acho útil fazer comparações porque se trata deduas organizações diferentes. A OTAN tem um númerolimitado de membros. É regional. Está organizada eequipada com um só objectivo, combater. Os países quesão membros da OTAN estão no seu conjunto confiantesna orientação política do Conselho do Atlântico Norte paraas suas forças. Por outro lado, nas Nações Unidas estãotodos os países, ou quase todos. A sua responsabilidade émundial e não uma responsabilidade regional. É a autori-dade legal para muito do que fazemos e ocupa-se dumavasta gama de tarefas difíceis além da de combater.

NO: Que ingredientes considera cruciais para o êxito dasoperações dirigidas pela OTAN nos Balcãs e para as opera-ções de manutenção da paz em geral?RS: A OTAN só pode ter êxito nas operações demanutenção da paz numa medida muitíssimo limitadaporque o que pode fazer é apenas proporcionar ascondições em que possa haver êxito. São as outras organi-zações, as que constroem nações, reformam instituições,salvam e reabilitam populações, etc.,que podem ter êxito.

NO: Que pontos de referência devem existir para que sejapossível reduzir a dimensão das missões de manutenção dapaz?RS: Tem que ser feita uma apreciação das possibilidadesdum reiniciar dos combates bem como do estado de outrasinstituições, tal como uma força policial bem desenvolvidae um sistema judiciário, que devem todos elas ter a con-fiança da população local. Após a guerra civil, o fracassodo governo interno e a quebra da confiança entre os gruposétnicos, os pontos de referência a ter em conta são a situa-ção e as actividades dos organismos que estão na origemdos combates. Foram neutralizados pela nossa presença?Acabou-se com eles ou foram reformados? Foram recons-truídos para os tornar valiosos ou foram substituídos e foicriado algo em seu lugar? À medida que diminuem osriscos dum reinício dos combates, pode ser reduzida a pre-sença dissuasora no terreno. Contudo, isto não é umprocesso rápido.

NO: Como se podem preparar melhor os soldados paramissões como a SFOR e a KFOR? E onde acaba o trabalhodum soldado e começa o dum polícia?RS: Começo pela segunda pergunta porque isso ajuda aresponder à primeira. A tarefa primária dum soldado éeliminar o seu adversário. É por isso que ele está ali e paralá foi enviado. O objectivo primário dum polícia é prenderquem procede mal e fazer com que a acusação seja bemsucedida. São duas funções muito diferentes. É claro que osoldado pode ajudar o polícia, dando-lhe informações,mesmo protegendo o polícia para que ele possa exercer assuas funções. Mas, em última análise, ele não é um polícia.Da mesma forma, o polícia não impõe a sua vontade ou alei pela força. Impõe a lei pela dissuasão duma acusaçãobem sucedida. E aqui está a diferença entre os dois. Nestas

circunstâncias, convém não esquecer esta diferença porquemostra para que tem que ser preparado o soldado. Tem, emprimeiro lugar e acima de tudo, de saber usar as suasarmas. Mas a seguir tem que ser capaz de apoiar aquelepolícia nas condições existentes naquela comunidade.Assim, tem que compreender aquela comunidade. Tem queser capaz de operar a um nível baixo, tomando decisõesque são provavelmente mais importantes e complexas doque as que teria que tomar num conflito convencional. Porfim, tem que saber recolher as informações que apoiam opolícia no seu trabalho. Doutra forma, não é possível criara força de polícia necessária para substituir os soldados.

NO: Os militares acabaram por ser envolvidos em muitosaspectos da reconstrução nos Balcãs. Que ensinamentoscolhe da sua experiência das missões na Bósnia e noKosovo? Como pode ser feita uma melhor coordenação dasrelações entre civis e militares?RS: Utilizamos soldados, especialmente de engenharia,para executar tarefas de reconstrução. Algumas destastarefas podem muito bem ser feitas pelos militares. Porexemplo, com a possível excepção de uma ou duas organi-zações não governamentais, somos provavelmente os maiscompetentes em áreas como a desminagem. Dito isto, usaro pessoal da engenharia militar para construir escolas éválido provavelmente nas primeiras fases duma operação.Mas, depois das coisas progredirem, tal reconstrução estáa tirar a possibilidade de criação de trabalho para a popu-lação local e não é forma de criar uma sociedade nova.Pode ser preciso recorrer a alguns engenheiros mais expe-rientes para supervisionar inicialmente os trabalhos deconstrução local, mas mesmo neste caso não devem per-manecer muito tempo porque a sua presença compromete-ria a evolução da sociedade. A coordenação destes traba-lhos com as organizações civis encarregadas dareconstrução exige uma certa forma de administração civilcentral, seja o governo local seja uma administraçãoimposta como foi o caso com as Nações Unidas noKosovo, e então deverá ficar claro quem é que apoia quemem cada caso particular.

NO: Como é que encara as operações duma futura forçaeuropeia de reacção rápida? Em que circunstâncias poderiaactuar independentemente da OTAN?RS: Vejo uma força europeia de reacção rápida a operarduma forma muito semelhante a uma força da OTAN. Ospaíses fornecedores de forças são na maioria dos casos osmesmos e não prevejo grandes dificuldades. No caso dumacrise na região europeia, teria que haver um debate entre aOTAN e a União Europeia. As vantagens de quem exe-cutaria que acção teriam que ser debatidas antes de decidirqual a instituição que a dirigiria. As razões precisas quantoa quem dirigirá variarão de acordo com a crise.

NO: Embora ainda esteja longe da idade normal da refor-ma, vai deixar as forças armadas no princípio do próximoano. Que desafios prevê ao passar à reforma?RS: Os desafios virão ao meu encontro. Sempre vieram. �

ENTREVISTA

Verão 2001 Notícias da OTAN 25

Page 26: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN26 Verão 2001

utilizados nas chamadas Unidades Multinacionais Especiais(MSU) para ajudar a manter a ordem pública. Os carabinieritêm aptidões que são perfeitamente adequadas para amanutenção da paz. Em consequência, têm sido destacados naBósnia e no Kosovo para patrulhar áreas sensíveis, ajudar noregresso às suas casas dos refugiados e das pessoas deslo-cadas e intervir no caso de alteração da ordem pública.

Os carabinieri foram também essenciais para o êxito daOperação Alba em 1997, quando a Itália reuniu uma força deintervenção com 7 000 homens de oito países para restabele-cer a lei e a ordem na Albânia no seguimento do colapso dumasérie de investimentos em pirâmide. Esta “coligação de boasvontades” foi autorizada pelo Conselho de Segurança daONU e coordenada por um comité ad hoc de orientaçãopolítica. Tendo durado de Abril a Agosto, foi também aprimeira missão de gestão de crises conduzida na Europa poruma força militar multinacional composta exclusivamente deeuropeus.

O ponto de viragem da atitude italiana ocorreu no segui-mento da decisão da OTAN de estacionar uma força de eva-cuação na Ex-República Jugoslava da Macedónia*. Estaforça, dirigida pela França, foi destacada para apoiar e, senecessário, ajudar na retirada da missão de verificação noKosovo da Organização para a Segurança e Cooperação naEuropa. Em Novembro de 1998, o novo governo de MassimoD’Alema decidiu que a Itália desempenhasse um papel maisimportante destacando 2 850 soldados, o equivalente a umabrigada, equipados com os muito desejados helicópteros anti--tanques A-129.

Esta mudança de atitude deve-se ao facto de MassimoD’Alema e eu, então ministro da defesa, estarmos preocupa-dos com o impacte dos acontecimentos no Kosovo sobre aestabilidade da Albânia. Este país já tinha mergulhado naanarquia por três vezes na década anterior, daí resultandodirectamente aumentos no contrabando e na criminalidade nazona do Adriático e obrigando Roma a reagir em condiçõesquase impossíveis. Queríamos evitar uma repetição estabi-lizando a Albânia e eu pensei que a melhor maneira de o con-seguir seria ajudar os albaneses a sentirem-se em segurançano seu país. Além disso, achei que isto podia ser conseguidose a OTAN incluísse a Albânia na sua política de segurançaestratégica. Na altura, contudo, os outros membros da OTANopuseram-se a esta proposta.

Na altura, estávamos preocupados com a maneira como orelacionamento ítalo-albanês estava a começar a parecer-secom um protectorado, mas as nossas tentativas para interna-cionalizar a questão tinham falhado. Contudo, compreendique algo estava errado da nossa parte, se os outros membros

O senador Carlo Scognamiglio-Pasini é director do InstitutoAspen da Itália e um antigo ministro da defesa italiano.

Nos cinco meses e meio decorridos desde o primeirodestacamento de tropas da OTAN para os Balcãs, onúmero de italianos no terreno, tanto em valor absolu-

to como proporcionalmente, tem aumentado constantemente.De facto, a Itália contribui, actualmente, com tantas tropaspara as operações de manutenção da paz dirigidas pela OTANna Bósnia-Herzegovina (Bósnia) e no Kosovo como a Françae o Reino Unido. Isto resulta duma política deliberada deassumir um papel mais importante numa região em que Romaconsidera que os seus interesses nacionais estão em causa.

Partilhando o mar Adriático com a Eslovénia, a Croácia, oMontenegro e a Albânia, a Itália é um pólo de atracção óbviopara os refugiados, muitos dos quais cresceram a ver a tele-visão italiana, a sonhar com a Itália e a falar italiano. Esteslaços são profundos e duradouros e ajudam a explicar por quemuitos cidadãos italianos comuns se têm oferecido, nos últi-mos anos, para dar assistência, ajudando a prestar assistênciahumanitária durante a guerra e, depois, ajudando a reconstruirsociedades destroçadas.

Os soldados da paz italianos foram destacados pelaprimeira vez para os Balcãs com a entrada na Bósnia da Forçade Implementação (IFOR) dirigida pela OTAN em Dezembrode 1995. Não estiveram envolvidos na FORPRONU durante aguerra da Bósnia porque, quando a missão foi criada em 1992,as Nações Unidas estavam relutantes em empregar soldadosda paz de países vizinhos com um historial de envolvimentomilitar na ex-Jugoslávia. Por isso, entre 1992 e 1995, a Itáliacentrou a sua acção em trabalho de assistência. Quando, em1994, a União Europeia assumiu a administração da divididae devastada pela guerra cidade de Mostar no Sul da Bósnia, aItália destacou 40 carabinieri para uma força internacional depolícia criada sob os auspícios da União da Europa Ocidental.E, quando os aviões da OTAN foram atacar alvos sérvios bós-nios, primeiro em ataques limitados visando levantar o cercoa Sarajevo em 1994 e depois numa vaga de ataques sucessivosem Agosto e Setembro de 1995, descolaram de bases aéreasitalianas.

Inicialmente, foram destacados cerca de 3 200 militaresitalianos para o sector francês da IFOR. Na altura, a IFORtinha 60 000 soldados. Actualmente, cerca de 1 800 militaresitalianos permanecem numa muito reduzida Força deEstabilização (SFOR) com 20 000 soldados e outros 6 000estão actualmente destacados na Força do Kosovo (KFOR).Estes números incluem alguns carabinieri italianos, políciascom um estatuto militar, que têm, desde Agosto de 1998, sido

Aumento da contribuição da ItáliaCarlo Scognamiglio-Pasini explica como e porquê a Itália expandiu o seu papel

nas operações de manutenção da paz dirigidas pela OTAN nos Balcãs.

Page 27: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

da Aliança não nos estavama dar ouvidos. A primeiramedida para chamar aatenção dos nossos Aliadospara as nossas preocupa-ções exigiu igualarmos acontribuição de tropas daFrança e do Reino Unidopara as operações dirigidaspela OTAN nos Balcãs. Asdecisões que se seguiramresultaram deste ponto deviragem.

Quando, em 24 de Marçode 1999, a OTAN lançouataques aéreos contra asforças jugoslavas, a Itáliacontribuiu com 50 aviõesde combate para o total de900 da campanha. Quandoterminou a campanha aéreade 78 dias, Milosevic con-cordou em retirar o Exér-cito Jugoslavo do Kosovo e,no dia seguinte, forças ita-lianas entraram na provín-cia a partir da Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia*para se encarregarem dumsector no Noroeste doKosovo, à volta da cidadede Pec.

Os meus registos dacampanha do Kosovo in-cluem dois aspectos quesão pouco conhecidos: aquestão da chamada “opçãoterrestre” e o contextoalbanês. No princípio do conflito, a estratégia de Milosevicparecia ser procurar resistir aos ataques aéreos até que a coli-gação contra ele se desintegrasse, enquanto desestabilizava ospaíses vizinhos que eram a Albânia e a Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia*, cujo território tinha sido um localde estacionamento necessário para as forças terrestres daOTAN. Um mês depois de iniciada a operação Allied Force,levantou-se a questão da eficácia duma campanha baseadainteiramente no emprego do poder aéreo e a OTAN estava sobpressão para encontrar outra opção para vencer o conflito.Embora nunca tivessem sido elaborados planos para umainvasão terrestre do Kosovo, este assunto foi discutido numareunião informal dos ministros da defesa dos cinco maiorespaíses da OTAN a 27 de Maio. Além disso, apesar de ser con-siderada o elemento mais fraco da coligação, a Itália compro-meteu-se nesta reunião a fornecer incondicionalmente até10 000 homens, um acontecimento descrito no recente livrodo antigo SACEUR general Wesley Clark.

O resultado desta reunião foi uma decisão para voltar areunir a 15 de Junho com o fim de juntar as forças necessárias

para lançar uma ofensivaterrestre o mais tardar a 15de Setembro. Contudo, estasegunda reunião nunca tevelugar porque Milosevicdecidiu render-se e retirar oExército Jugoslavo do Ko-sovo a 9 de Junho. Contudo,estou convencido de que eleestava ciente de que a suaúltima hipótese de ver acoligação desintegrar-setinha desaparecido e, con-sequentemente, não faziasentido continuar a resis-tir.

Na Albânia, receáva-mos que Milosevicpudesse tentar desestabi-lizar o país provocandoum êxodo maciço de refu-giados. Duas abordagenseram necessárias paracontrariar esta táctica:fornecer aos albanesesabrigo e alimentação sufi-cientes para manter osrefugiados próximo dafronteira com vista a umpossível regresso a casa; emantê-los conf iantes emque a OTAN cuidariadeles e, acima de tudo,que a Aliança triunfaria.Em Janeiro de 1999, oExército Italiano identif i-cou locais possíveis paracampos de refugiados ecomeçou a armazenar

víveres e a preparar abrigos. Quando, pouco depois do iní-cio da campanha aérea, a Albânia foi inundada por pertodum milhão de refugiados, foi possível construir rapida-mente campos na região de Kukes e noutros locais, assimmantendo a esperança entre a população e minorando acatástrofe humanitária. Além disso, o destacamento para aAlbânia de mais de 7 000 soldados da OTAN, incluindo umgrande contingente italiano, na operação Allied Harbour a15 de Abril reforçou a mensagem de que os refugiadosiriam regressar a casa.

Como, na altura, a Itália só possuía uma força de reacçãorápida de 20 000 homens, arriscámos seriamente um alarga-mento excessivo das nossas forças armadas durante a cam-panha do Kosovo. No seguimento destas operações, o nossogoverno propôs uma lei, que foi subsequentemente aprovadapelo parlamento, acabando com a conscrição e passando oexército a ser inteiramente profissional. Isto deverá aumentarsubstancialmente a dimensão das forças de reacção rápida daItália para satisfazer as necessidades de qualquer futura ope-ração de manutenção da paz da OTAN. �

ESPECIAL

Verão 2001 Notícias da OTAN 27

© R

eute

rs

A Itália aumentou a sua contribuição para as operações de manutenção da pazdirigidas pela OTAN nos Balcãs para igualar a da França e a do Reino Unido

Page 28: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN28 Verão 2001

As primeiras reduções de efectivos não foram seguidas dereduções semelhantes no material e meios militares. As forçasarmadas têm, por exemplo, utilizado equipamento de altamanutenção e munições de pouco valor militar e de treino,como os tanques T-55 e as granadas de 100 mm. Além disso,o equipamento e arsenais de munições obsoletos exigem umasupervisão activa, que é extremamente dispendiosa. A aliena-ção dos meios excedentes, incluindo campos de treino obsole-tos, muitos dos quais têm algum valor comercial, deveria pro-duzir economias de 200 a 250 milhões de zloty (cerca de 50 a60 milhões de USD). Outras economias deverão resultar dasplaneadas reduções de pessoal militar, dinheiro que no futuroserá mantido no orçamento da defesa, e duma alteração dosprocedimentos de aquisições e da contratação de serviços aosector privado.

Estas medidas de redução de custos deverão permitirao Ministério da Defesa aumentar a parte do seu orça-mento atribuída a despesas de investimento dos actuais12% para 23% em cinco anos. Na prática, deverão aumen-tar o orçamento do Ministério da Defesa e assegurar ofinanciamento necessário para a reestruturação e moder-nização a longo prazo. Contudo, para conseguir isto, oorçamento do Ministério da Defesa precisará de ser man-tido em 1,95% do PIB durante o período de implemen-tação das reformas.

Todos os projectos relacionados com as obrigações daPolónia em relação à OTAN, bem como com as actuaisnecessidades do sistema de defesa da Polónia fazem partedo programa de reforma. No processo de reestruturaçãodas forças armadas da Polónia, um terço das forças – forçasde reacção rápida e de cobertura estratégica – deverãotornar-se totalmente interoperacionais com as outras forçasda OTAN, adaptando-se aos padrões da OTAN relativos aarmamentos, equipamento, mobilidade e aptidão paraoperar em missões complexas fora do território polaco. Oprograma prevê a modernização dos sistemas de infor-mações, de comando e de defesa aérea, bem como acabarcom nova deterioração dos armamentos e das infra-estru-turas militares nos restantes dois terços das ForçasArmadas Polacas.

Outros planos incluem a criação de divisões funcionaisclaras entre forças operacionais e de apoio; a mudança daestrutura dos postos dos soldados profissionais para a adaptaraos padrões da OTAN; e a adaptação dos sistemas logísticosaos dos países da OTAN, melhorando a sua aptidão paracooperar com as estruturas relevantes da OTAN e aumentan-do a sua mobilidade para lhes permitir participar em opera-ções fora da Polónia.Bronislaw Komorowski é o Ministro da Defesa da Polónia.

As Forças Armadas Polacas atravessaram um períodoagitado na década que se seguiu a 1989. Como em ou-tros países da era pós comunista, os sucessivos gover-

nos descobriram à sua custa que a transformação da instituiçãoda defesa, componente essencial da transformação social,política e económica do país, era mais difícil, mais penosa emais lenta do que se esperava. Estas dif iculdades foramaumentadas na última parte da década pelas novas reformasnecessárias devido à entrada da Polónia na OTAN. Em conse-quência, as Forças Armadas Polacas ainda têm actualmentepela frente um longo e difícil caminho de reformas.

Durante os próximos cinco anos, estas reformas modifi-carão fundamentalmente não apenas a estrutura das ForçasArmadas, os seus sistemas de comando, controlo, comuni-cações e informações e os seus procedimentos operacionaismas também o sistema de formação e a estrutura do pessoalmilitar. Estas mudanças não só serão extremamente com-plexas para as forças armadas, como irão quase inevitavel-mente criar tensões sociais e ter como consequência um rela-cionamento diferente entre os militares e a sociedade civil.

Actualmente, os 350 00 homens das forças armadas dosanos 80 estão reduzidos a cerca de 200 000. Contudo, estaalteração numérica não conseguiu criar melhorias qualitativassemelhantes. Embora as reformas visassem criar forçasarmadas mais pequenas mas mais eficazes, o aumento deeficácia foi pequeno devido à inaptidão para atribuir a econo-mia conseguida com a redução de efectivos à sua moderniza-ção técnica. Esta poupança regressou ao orçamento do Estadopara satisfazer as necessidades mais imediatas do país.

A participação da Polónia como membro da OTAN noplaneamento da defesa desde 1999 tem sido um grande incen-tivo para a reforma e o último programa de reforma visa satis-fazer os objectivos da Aliança. Quando a Polónia aderiu àOTAN, os membros da Aliança aprovaram um novo ConceitoEstratégico e lançaram a Iniciativa das Capacidades deDefesa. Os objectivos de forças resultantes, que estão ligadosprincipalmente à modernização técnica das forças armadas, àorganização de forças de reacção rápida e à melhoria dasoperações, exigem uma despesa substancial e o desenvolvi-mento dum melhor quadro de planeamento financeiro a longoprazo, bem como uma mudança total da filosofia da reformadas forças armadas. O Programa de Reestruturação eModernização Técnica das Forças Armadas da República daPolónia para 2001-2006 (o programa de reforma) baseia-senestes princípios.

A reforma das forças armadas da PolóniaBronislaw Komorowski expõe as razões que sustentam o programa de

reestruturação e modernização das forças armadas do seu país.

Page 29: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Na realização doprojecto do Sistemade Comando deOperações de Guer-ra e na sua compati-bilização com ossistemas de coman-do da OTAN, aredução do pessoalde acordo com umcalendário apertadoserá provavelmentea tarefa mais difícil.No f inal de 2001,mais 26 000, ou seja13% do total, de-verão ter saído,f icando 180 000,incluindo 36 000of iciais e 52 200outros militaresprof issionais. Onúmero de cons-critos será reduzidopara 91 800. Em2003, o númerototal será nova-mente reduzido, para 150 000, dos quais 75 000 serão profis-sionais.

As reduções de pessoal estão directamente ligadas aorecrutamento para as escolas militares, bem como ao sistemade licenciamento. Embora os formados pelas escolas mi-litares polacas se vangloriem dum alto nível de formação e decompetências militares, o processo escolar é excessivamentelongo e dispendioso em relação às reais necessidades dasforças armadas. O custo anual da formação dum cadeteatinge aproximadamente 38 000 zloty, contra 6 500 zlotypara um estudante universitário. Em consequência, emprimeiro lugar, o número de vagas para as academias mi-litares será reduzido. Após esta redução, as forças armadascomeçarão a recrutar licenciados pelas universidades para ospostos de oficial em sistema de contrato e introduzirão umsistema de formação contínua. Os custos sociais destasreduções serão provavelmente extremamente elevados e istopode causar perturbação entre aqueles oficiais – coronéis,tenentes-coronéis e majores – que suportarão o impacte dasreduções, muitos dos quais serão licenciados dentro de trêsanos.

A modernização técnica das forças armadas será provavel-mente menos penosa, mas igualmente dispendiosa. O pontocentral do programa de modernização será o fornecimento deequipamento moderno às Unidades de Alta ProntidãoOperacional (um terço do total das forças armadas). Isto seráfeito adquirindo equipamento novo ou modernizando o anti-go, bem como atribuindo às Unidades de Alta ProntidãoOperacional armamento actualmente utilizado por outrostipos de forças. O processo da modernização técnica baseia-seem programas de longo prazo com financiamento legalmentegarantido.

Serão reservadosrecursos significa-tivos para as se-guintes áreas: mo-dernização dosistema de defesaaérea, incluindo osistema de comandoe o processo deaquisição de aviõespolivalentes; actua-lização dos tanquesT-72 para satisfaze-rem os padrões daOTAN e aquisiçãode tanques novos;entrada ao serviçode tipos diferentesde viaturas blin-dadas de rodas detransporte de pes-soal e de novos mís-seis guiados anti-tanques; instalaçãoem navios de mo-dernos sistemas demísseis; moderniza-

ção dos helicópteros de combate; aquisição de aviões de trans-porte médios; e entrada ao serviço de novos navios de super-fície dos tipos 621 (corvetas) e FFG-7 (fragatas) e desubmarinos.

Em 2006, as Forças Armadas Polacas deverão ter asseguintes unidades, equipadas e treinadas segundo os padrõesda OTAN: 11 unidades de combate do tipo brigada-regimen-to, 15 unidades de combate do tipo batalhão, 2 unidades dotipo companhia, 5 esquadrilhas aéreas tácticas, 22 divisões demísseis de defesa antiaérea, 7 bases aéreas, 3 unidades rádio--electrónicas, 35 navios e 2 esquadrilhas de aviação naval.Nessa altura, as unidades polacas do Corpo MultinacionalDinamarquês-Alemão-Polaco Nordeste baseado em Szczecin,Polónia, terão atingido os padrões OTAN exigidos.

O processo da modernização técnica, que incluirá aaquisição de armamentos e de equipamento militar, deverácriar oportunidades para a indústria militar e empresas rela-cionadas da Polónia. O programa foi estabelecido com basenuma vasta gama de consultas com os políticos de todas astendências e com peritos militares. A implementação serádifícil e exigirá um apoio alargado. Curiosamente, contudo, asreformas planeadas foram bem recebidas por todos os princi-pais partidos políticos, tanto os do governo como os daoposição. Este apoio levou à aprovação no Parlamento, poruma larga maioria, a 25 de Maio de 2001, duma lei sobre oprograma de reforma. �

ESPECIAL

Verão 2001 Notícias da OTAN 29

© R

eute

rs

Muitas mãos: uma grande maioria do parlamento polaco votou a favor da adesão à OTAN e doprograma de reforma da defesa

Para mais detalhes do Programa de Reestruturação eModernização Técnica das Forças Armadas da Repúblicada Polónia para 2001-2006 ver www.wp.mil.pl.

Page 30: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN30 Verão 2001

Como a integração das mulheres tem lugar a níveis dife-rentes e de formas diferentes, é difícil traçar um quadro pre-ciso entre os países da OTAN. Um breve exame do caso dealguns Aliados com uma história mais longa de mulheres mi-litares, muitas vezes datando da 2.ª se não da 1.ª GuerraMundial, ilustra este aspecto.

A Noruega e a Dinamarca são, em alguns aspectos, os paísesmais avançados, quanto à integração das mulheres. A Noruegafoi o primeiro país da OTAN a autorizar as mulheres aprestarem serviço em submarinos e as mulheres têm sido auto-rizadas a servir em todas as outras funções de combate desde1985. A Dinamarca abriu todas as funções e unidades dasforças armadas às mulheres em 1988, após experiências efec-tuadas em sectores de combate em 1985 e 1987. As militaresdinamarquesas e norueguesas prestam ou prestaram serviço emquase todas as funções operacionais das forças armadas, excep-to comandos-pára-quedistas e fuzileiros, porque até hoje ne-nhuma mulher satisfez os requisitos de admissão. Também ne-nhuma mulher dinamarquesa ainda prestou serviço como pilotode avião de caça. Nos dois países, as mulheres treinam, traba-lham e são destacadas em pé de igualdade com os homens.Também se podem alistar como voluntárias no serviço efectivonormal, uma possibilidade que lhes permite uma visão internadas forças armadas e poderá encorajá-las a seguir uma carreiramilitar. Tem mesmo havido recentemente debate na Noruega

Vicki Nielsen é Adjunta do Chefe de Redacção da Notícias da OTAN.

As mulheres das forças da OTAN têm muito quecomemorar este ano. É o 40.º aniversário da primeiraConferência da OTAN das Mulheres Of iciais

Superiores e o 25.º aniversário do reconhecimento formal doComité sobre as Mulheres nas Forças da OTAN pelo ComitéMilitar, a mais alta autoridade militar da OTAN.

Durante as últimas quatro décadas, o estatuto, situação enúmero de mulheres nas forças armadas da OTAN mudaramde forma quase irreconhecível. De acordo com as estatísticasdo Gabinete sobre as Mulheres nas Forças da OTAN, onúmero de mulheres em uniformes da OTAN , todas volun-tárias, passou de 30 000 em 1961 para 288 000 actualmente.Mas cada uma das forças armadas tem a sua própria história,tradições e cultura e o grau de integração das mulheres variadumas para as outras. Embora as mulheres sirvam nas forçasarmadas há muitos anos, o debate sobre a feminização dasforças armadas continua, mesmo nos países que avançarammais que os outros na via da integração: acerca de como eonde as mulheres deverão prestar serviço e receber a for-mação, acerca da medida em que deverão ser integradas emesmo acerca de saber se o processo já avançou demais.

Mulheres em uniformeVicki Nielsen examina em que medida as mulheres foram integradas nas forças da OTAN

© U

S D

oD

Indicando a direcção: durante as últimas quatro décadas, o estatuto, situação e número de mulheres nas forças armadas da OTAN mudaram de forma quase irreconhecível

Page 31: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

acerca da introdução do serviço militar obrigatório para as mu-lheres como forma de fomentar a representação feminina e pro-mover a igualdade dos sexos.

Contudo, com uma percentagem de 5% do total naDinamarca e de apenas 3% na Noruega, a representação dasmulheres é baixa comparada com a de outros Aliados. ANoruega visa aumentar a proporção de mulheres para 7% em2005 mas, apesar da posse da primeira mulher ministra dadefesa da Noruega em Março de 1999, poucas militaresnorueguesas atingiram postos elevados. A primeira mulherpromovida ao posto de coronel só o foi em Novembro de1999. Uma das razões é que muitas mulheres oficiais mudamdo serviço operacional para o serviço administrativo depoisda licença de maternidade, o que reduz as suas possibilidadesde serem seleccionadas para frequentar academias militares.Poucas mulheres atingiram também os postos superiores dasForças Armadas Dinamarquesas, onde o recrutamento e a fi-xação de militares do sexo feminino são também problemáti-cos. Em 1999 e 2000, as academias militares registaram amais baixa admissão de mulheres dos últimos anos.

A maior representação de mulheres nas forças armadas emserviço activo é encontrada nos Estados Unidos (14%) e noCanadá (11,4%). O salto no número de militares do sexo femi-nino nos EUA deu-se com a criação da All-Volunteer Force em1973. Na altura, o desencanto com as forças armadas no segui-mento da Guerra do Vietname fez com que, havendo menoshomens a querer prestar serviço, os recrutas femininos fossem

bem-vindos. Actualmente, 8,6% das forças dos EUA destacadasem todo o mundo são mulheres. Mais de 11 200 participaramnas operações de manutenção da paz da OTAN e 37 000 servi-ram no Golfo durante a Operação Tempestade do Deserto em1991. As militares dos EUA estão também a atingir os postosmais elevados. Até agora, quatro mulheres atingiram o postocorrespondente a três estrelas de tenente-general/vice-almirante.

Contudo, nem todos os cargos estão abertos para as mu-lheres nas forças dos EUA. Em teoria, só os cargos envolven-do combate terrestre directo continuam inacessíveis. Mas, naprática, a política corrente de nomeações faz com que váriosoutros cargos sejam efectivamente só para homens e, assim,só 80% estão acessíveis para as mulheres. As militares cana-dianas, por outro lado, têm podido prestar serviço em quasetodas as funções e ambientes desde 1989. A única excepçãoera a bordo de submarinos e mesmo esta restrição foi levanta-da em Março deste ano. Espera-se que, no Outono, iniciem otreino em submarinos as primeiras mulheres. Contudo, amaior parte das mulheres das Forças Armadas Canadianascontinuam concentradas em áreas mais tradicionais e temhavido pouco êxito na sua integração em cargos nas armascombatentes – infantaria, artilharia, engenharia e blindados –onde a representação se mantém baixa, 1,9%.

As forças armadas da França, Holanda e Reino Unido tam-bém têm uma longa história de recrutamento de militares dosexo feminino e as mulheres representam mais de 8% do pes-soal. Duma maneira geral, poucas mulheres atingiram postos

ASSUNTOS MILITARES

Verão 2001 Notícias da OTAN 31

O debate continuaNem todos se regozijam com o afluxo crescente das mu-

lheres nas forças armadas. Alguns tradicionalistas continuama considerar que as mulheres não têm lugar na tropa. Numadiscussão no jornal Millenium o ano passado, um calorosodefensor desta opinião, Martin Van Creveld da UniversidadeHebraica de Jerusalém, argumentava que a feminização é emparte um sintoma e em parte uma causa da decadência dasforças armadas evoluídas. Nas suas respostas, tantoChristopher Coker da London School of Economics comoJean Bethke Elshtain da Universidade de Chicago contes-tavam a opinião de que as forças armadas estão em decadên-cia. Argumentavam, ao contrário, que está em curso umprocesso de mudança que reflecte a evolução do contextosocial, tecnológico e da segurança internacional, que exigeque as forças armadas sejam mais receptivas a certaspressões da opinião pública relativas aos valores civis e queimpõe novas exigências às forças armadas em termos decompetências, particularmente para as actividades demanutenção da paz.

Caroline Kennedy-Pipe da Universidade de Sheffield fazeco destas opiniões num artigo que apareceu no Journal ofStrategic Studies em Dezembro passado. Evocando adefinição do combatente do futuro dada por ChristopherBellamy em Knights in White Armour, argumentava que asinovações tecnológicas mudaram a natureza da guerra con-temporânea, tornando o antiquado combate de perto menos

provável e deixando o papel do combatente moderno maisneutral do que nunca em relação aos sexos. Em consequên-cia, restam poucas boas razões militares para recusar cargosnas forças armadas às mulheres física e intelectualmentecompetentes. Além disso, propôs que o debate ultrapasse aquestão de saber se as mulheres deverão ser plenamenteintegradas e trate de saber "como e onde elas podem servirmelhor nas novas guerras que exigem novos combatentes".

Da maquilhagem para a camuflagem: os debates acerca da femi-nização das forças armadas andam à volta da adequação, aptidão epertinência das mulheres para a guerra

© D

anis

h A

rmed

For

ces

Page 32: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

elevados. As mulheres continuaram segregadas em corposfemininos tanto na Holanda como no Reino Unido até aoprincípio dos anos 80 e 90, respectivamente. A França con-cedeu estatuto igual às militares femininas no princípio dosanos 70 mas só nos anos 80 foram tomadas medidas impor-tantes para melhorar a integração das mulheres e as quotasforam mantidas até 1998. O recrutamento de militares femini-nos deverá aumentar com o fim do serviço militar obrigatórioem 2002. O novo objectivo das Forças Armadas Holandesasde 12% de pessoal feminino em 2010 pode ser difícil dealcançar dadas as dificuldades encontradas para atingir osníveis actuais e os problemas com a fixação.

Em teoria, todos os cargos estão abertos às mulheres tanto nasforças armadas holandesas como francesas. Na prática, contudo,o acesso a algumas especialidades continua restricto, normal-mente com base nos requisitos físicos e na eficácia em combate,ou por razões práticas, como no caso dos submarinos. A maiorparte das mulheres destacadas continua a prestar serviço emunidades logísticas ou de apoio ao combate, embora as operaçõesefectuadas nos últimos anos tenham demonstrado a aptidão dasmulheres para operar eficazmente em zonas de guerra.

Continua a haver algumas restrições no Reino Unido, masmuitas mudanças tiveram lugar no princípio dos anos 90,quando as mulheres foram autorizadas a prestar serviço emnavios de superfície e em todas as funções a bordo de aviões.Actualmente, mais de 95% dos cargos estão acessíveis naforça aérea, assim como cerca de 70% tanto no exército comona marinha. As militares femininas do Reino Unido prestamserviço ao lado dos seus camaradas homens em quase todas asespecialidades, excepto nas unidades cuja missão principal é"entrar em contacto com o inimigo e matá-lo", caso em que seconsidera que a sua presença comprometeria a eficácia emcombate. Tais restrições são compatíveis com uma decisão doTribunal Europeu que autoriza que as mulheres sejam excluí-das de certos cargos com base na ef icácia em combate,deixando ao cuidado das autoridades nacionais decidir quais.As militares femininas do Reino Unido também estão impedi-das de prestar serviço em submarinos ou como mergulhadoresde limpeza de minas da Marinha por razões médicas.

As militares femininas belgas entraram em cena mais tarde,tendo as forças armadas sido abertas às mulheres apenas em1975. Mas, actualmente, constituem mais de 7% do total e o seunúmero continua a aumentar, inclusive nos postos mais elevados.Estão plenamente integradas, com todas as funções acessíveis,embora a maioria ocupe cargos administrativos ou logísticos. NoLuxemburgo, que não tem força aérea nem marinha, as mulheresnão foram autorizadas a prestar serviço no exército até 1987 e,actualmente, constituem apenas 0,6% do pessoal.

A maior parte dos países mediterrânicos começaram a abriras suas forças armadas às mulheres nos anos 80 e 90, emboraem alguns já houvesse mulheres nos serviços de saúde. AGrécia admitiu sargentos do sexo feminino em funções deapoio em 1979. As academias militares continuaraminacessíveis até 1990 e o acesso à formação militar continuarestringido. As mulheres ainda são excluídas das missões decombate mas as primeiras gregas prestaram serviço no marem 2000 e o primeiro cadete piloto feminino deverá entrar

ASSUNTOS MILITARES

Notícias da OTAN32 Verão 2001

para a Academia da Força Aérea em 2001. A representação éde cerca de 4%. A Espanha começou a recrutar mulheres em1988 e Portugal em 1992 e os militares do sexo femininoconstituem agora cerca de 6% do total em qualquer dos doispaíses. A maior parte das funções, incluindo as de combate,são agora acessíveis às mulheres nas Forças ArmadasEspanholas, embora continue a haver restrições em algumasespecialidades e mais de metade das mulheres ocupe cargosadministrativos. As militares portuguesas podem, em teoria,ocupar todos os cargos embora, na prática, os fuzileiros e asespecialidades de combate continuem inacessíveis.

Na Turquia, as mulheres foram aceites nas academias mi-litares no final dos anos 50, mas uma mudança drástica dapolítica em 1960 fez com que não fossem admitidas outra vezna formação militar até 1982 e nenhum cadete feminino foiadmitido nas escolas militares senão dez anos mais tarde. Asmilitares do sexo feminino turcas, que constituem apenas0,1% do total, apenas podem prestar serviço como oficiais eestão impedidas de servir nos blindados e na infantaria bemcomo nos submarinos.

Nos novos países membros da OTAN, os preparativos paraa acessão à UE ajudaram a estimular a introdução de oportu-nidades iguais nas forças armadas nos anos 90, em que tam-bém se assistiu ao acesso das mulheres à formação militar nostrês países. Actualmente, os militares do sexo feminino repre-sentam 3,7% do total na República Checa e mais de 9% naHungria, mas tendem a continuar nos papéis tradicionais epoucos têm ascendido aos postos mais elevados. Nas ForçasArmadas Polacas, a representação é de apenas 0,1% e éprovável que continue assim devido à actual restruturação.Praticamente todas as mulheres ocupam cargos médicos.

Na Alemanha, a Bundeswher restringiu a utilização de mu-lheres às bandas militares e aos serviços médicos até muitorecentemente. Em consequência, a representação femininacontinua baixa, 2,8%. Mas graças à luta solitária duma mulherque queria prestar serviço na equipa de apoio de manutençãoe a uma decisão do Tribunal de Justiça Europeu de Janeiro de2000, todos os cargos estão agora acessíveis às mulheres. Umano depois, foram recrutadas as primeiras mulheres para ospostos mais baixos e como sargentos, seguindo-se em Julhode 2001 as primeiras mulheres oficiais. Até agora, a inte-gração das mulheres tem prosseguido tranquilamente e já hámulheres de todos os grupos de carreiras a prestar serviço nasoperações dirigidas pela OTAN nos Balcãs.

A Itália foi o último membro da OTAN a excluir as mu-lheres das forças armadas. Mas, em Setembro de 1999, o par-lamento italiano aprovou uma lei autorizando as mulheres aprestar serviço nas forças armadas após anos duma campanhada Associazone Nazionale Aspiranti Donne Soldato (associa-ção das candidatas a mulheres soldados), que teve grandeapoio popular e do almirante Guido Venturoni, presidente doComité Militar da OTAN. Para comemorar esta decisãohistórica e a primeira admissão de recrutas femininas em2000, a reunião anual do Comité sobre as Mulheres nas Forçasda OTAN em Junho de 2001 teve lugar, a pedido da Itália,excepcionalmente em Roma e não numa cidade da Holanda, opaís que na altura presidia. A Itália está a adoptar uma abor-

Page 33: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Promover as mulheresnas forças da OTANHá quarenta anos, em Junho de 1961, delegados da

Dinamarca, Holanda, Noruega, Reino Unido e EstadosUnidos reuniram-se em Copenhaga, Dinamarca, para aprimeira Conferência da OTAN das Mulheres OficiaisSuperiores, que foi organizada pela Associação doAtlântico Dinamarquesa. Manifestaram o desejo de sereunirem regularmente e a esperança de que as apro-priadas autoridades da OTAN e nacionais ponderariam oemprego mais alargado de mulheres nas forças armadas.

Mas foi só em 1976, quinze anos depois, que umComité sobre as Mulheres nas Forças da OTAN foi for-malmente reconhecido pelo Comité Militar da OTAN. Onúmero de países da OTAN enviando delegados ouobservadores às reuniões do Comité aumentou gradual-mente ao longo dos anos. Há actualmente 18 delegadosde todos os países da OTAN com excepção da Islândia,que não tem forças armadas. O Canadá assume apresidência durante os próximos dois anos.

Foi dado um estatuto permanente a um Gabinete sobreas Mulheres nas Forças da OTAN no Estado-MaiorMilitar Internacional na sede da OTAN no final de 2000.Apoia os trabalhos do Comité e dos seus três sub-comitésnas áreas do treino e desenvolvimento, do recrutamento eemprego, e da qualidade de vida. O Gabinete tambémprocura actuar como repositório de informação e investi-gação sobre estas questões e promover entre os países daOTAN e Parceiros o conhecimento do emprego efectivodas mulheres nas forças armadas.

ASSUNTOS MILITARES

Verão 2001 Notícias da OTAN 33

dagem gradual, centrando-se inicialmente na integração demulheres no apoio geral em vez de em cargos operacionais ehá restrições na admissão às academias militares. Espera-seque isto facilite a integração e dê ao pessoal militar masculinotempo para se adaptar.

As forças armadas alemãs e italianas têm os exemplos doscamaradas Aliados da OTAN para seguir ao iniciarem o cami-nho da integração mais alargada das mulheres e podem benefi-ciar dos ensinamentos colhidos e da melhor prática desenvolvi-da noutros locais. Obviamente, a interacção entre as forçasarmadas dos diversos membros da Aliança durante os exercí-cios e operações militares ou as actividades de manutenção dapaz desempenha um papel importante na promoção da troca deideias e de práticas sobre a questão dos sexos.

Mas os países da OTAN onde as mulheres já há muitos anosprestam serviço nas forças armadas também podem aprender unscom os outros, quando têm dificuldade em recrutar e fixar pes-soal competente num mercado de trabalho competitivo. NaNoruega, por exemplo, no quadro da estratégia do ministério dadefesa para a igualdade dos sexos, foram lançados recentementevastos programas de mentalização para encorajar as mulheres apermanecer e a concorrer a cargos mais elevados nas forçasarmadas. A mentalização também é usada em dimensões dife-rentes em alguns outros países, incluindo o Reino Unido e osEstados Unidos. O Canadá e a Dinamarca lançaram-se numaabordagem de diversificação da gestão. A Dinamarca esperafomentar o recrutamento feminino com a adopção de padrõesfísicos básicos diferenciados conforme os sexos, mantendo osrequisitos para funções fisicamente exigentes iguais para os doissexos. Mas há uma tendência crescente no sentido de adaptar ospadrões físicos aos requisitos da função em vez de aplicarpadrões diferentes para cada sexo.

A melhoria da qualidade de vida de todo o pessoal militar e dassuas famílias é uma prioridade essencial nos Estados Unidos e emvários outros países. A Bélgica e a Holanda, por exemplo, estão aensaiar a possibilidade de trabalho a tempo parcial para facilitar avida das mães com filhos pequenos. Um plano de acção emmatéria de política familiar para as Forças Armadas Norueguesas,a ser publicado este Verão, centra-se no apoio às famílias com ele-mentos destacados em operações internacionais. E, naDinamarca, é dada a máxima atenção possível à situação de tra-balho e ciclo de serviço de todo o pessoal para minimizar as ten-sões sobre a vida familiar, incluindo a possibilidade duma desvalo-rização temporária sem comprometer as perspectivas de carreira.

As mulheres percorreram um logo caminho nas forçasarmadas da OTAN durante os últimos 40 anos. Contudo, a fracarepresentação feminina, especialmente nos postos mais elevados,tem um efeito devastador no desgaste e continua a ser umaquestão essencial. A este respeito, a sede da OTAN não deu oexemplo, pois apenas três oficiais do sexo feminino prestamserviço actualmente no Estado-Maior Militar Internacional. Mas,como as mulheres continuam a subir nos postos e a salientar-senas forças armadas, a situação poderá ser muito diferente numfuturo não muito distante.. �

Treino de recrutas: um desafio essencial no competitivo mercado detrabalho actual é o recrutamento e fixação de pessoal competente

© U

S D

oD

Mais informação sobre as mulheres nas forças da OTANpode ser encontrada em www.nato.int/docu/facts/cwinf.htm

Page 34: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Notícias da OTAN34 Verão 2001

ESTATÍSTICAS

Bélgica 7.6% 3,202

Canadá 11.4% 6,558

República Checa 3.7% 1,991

Dinamarca 5.0% 863

França 8.5% 27,516

Alemanha 2.8% 5,263

Grécia 3.8% 6,155

Hungria 9.6% 3,017

Itália 0.1% 438

Luxemburgo 0.6% 47

Holanda 8.0% 4,170

Noruega 3.2% 1,152

Polónia 0.1% 277

Portugal 6.6% 2,875

Espanha 5.8% 6,462

Túrquia 0.1% 917

Reino Unido 8.1% 16,623

Estados Unidos 14.0% 198,452

As estatísticas sobre mulheres nas forças da OTANforam coligidas com base nos valores constantes para cadapaís da OTAN (com excepção da Islândia, que não temforças armadas) na Annual Review of Women in Nato’sArmed Forces. Os efectivos totais incluem conscritos. Osvalores de 2001 são provisórios.

Efectivos de pessoal feminino

0% 5% 10% Números

origem: Delegados Nacionais CWINF

Operações em curso de manutenção da paz da ONU escolhidas

Início da Pessoal Custo até Estimadooperação 1999/00 2000/01

milhões USD milhões USD

UNTSO United Nations Truce Supervision (Middle East) 1948 154 606 23UNFICYP United Nations Peacekeeping Force in Cyprus 1964 1,219 1,019 43UNDOF United Nations Disengagement Observer Force (Israel) 1974 1,120 786 37UNIFIL United Nations Interim Force in Lebanon 1978 4,922 3,118 147MINURSO United Nations Mission for the Referendum in Western Sahara 1991 231 389 49UNIKOM United Nations Iraq-Kuwait Observer Mission 1991 1,115 521 53UNOMIG United Nations Observer Mission in Georgia 1993 102 115 30UNAMSIL United Nations Mission in Sierra Leone 1999 12,439 267 504UNTAET United Nations Transitional Administration in East Timor 1999 8,087 350 584MONUC United Nations Organisation Mission in DROC 1999 258 59 141

Operações em curso de manutenção da paz não da ONU escolhidas

Início da Pessoal Custo até Estimadooperação 1999/00 2000/01

milhões USD milhões USD

MFO Multinational Force and Observers (Egypt) 1982 1,844 1,385 51SFOR NATO-led Stabilisation Force (Bosnia) 1996 22,800 13,000 2,700Belisi Peace Monitoring Group in Bougainville 1998 262 55 14KFOR NATO-led Kosovo Force 1999 50,000 7,000 6,000

Operações passadas de manutenção da paz da ONU escolhidas

Data da Pessoal Custooperação milhões USD

UNEF I First United Nations Emergency Force 1956-67 6,073 214UNOGIL United Nations Observer Group in Lebanon 1958 591 4ONUC United Nations Operation in the Congo 1960-64 19,828 400UNYOM United Nations Yemen Observer Mission 1963 239 2UNEF II Second United Nations Emergency Force 1973-79 6,973 446UNIIMOG United Nations Iran-Iraq Military Observer Group 1988-91 400 178UNTAG United Nations Transition Assistance Group 1989-90 5,993 369ONUCA United Nations Observer Group in Central America 1989-92 1,098 89UNAVEM I, II, III United Nations Angola Verification Mission I, II, III 1989-97 7,546 944ONUSAL United Nations Observer Mission in El Salvador 1991-95 683 107UNTAC United Nations Transitional Authority in Cambodia 1992-93 19,159 1,600ONUMOZ United Nations Operations in Mozambique 1992-94 8,125 471UNOSOM I,II United Nations Operations in Somalia I, II 1992-95 28,000 2,300UNPROFOR United Nations Protection Force 1992-95 30,869 4,600UNAMIR United Nations Assistance Mission for Rwanda 1993-96 5,500 437UNMIH United Nations Mission in Haiti 1993-96 1,549 516UNPREDEP United Nations Preventive Deployment Force 1995-99 1,110 176UNTAES United Nations Transitional Administration for Eastern Slavonia 1996-98 5,344 558MINUGUA United Nations Verification Mission in Guatemala 1997 188 15UNOMA United Nations Observer Mission in Angola 1997-99 1,156 181MINURCA United Nations Mission in the Central African Republic 1998-00 1,252 86

Operações passadas de manutenção da paz não da ONU

Data da Pessoal Custooperação milhões USD

ECOMOG ECOWAS Military Observer Group (Liberia) 1990-98 12,400 525UNTAF Unified Task Force in Somalia 1992-93 40,000 2,500IFOR NATO-led Implementation Force (Bosnia) 1995-96 60,000 5,000Alba Multinational Protection Force (Albania) 1997 6,294 175MISAB Mission Interafricaine de Surveillance des Accords de Bangui 1997 1,578 102AFOR NATO Albania Force 1999 5,500 650INTERFET International Force in East Timor 1999 11,310 421

As estatísticas acima são do 2000 Chart of Armed Conflic, publicado em TheMilitary Balance 2000-2001 pelo International Institute for Strategic Studies deLondres. Os dados são considerados correctos em relação a 30 de Junho de 2000.

Mulheres nas forças da OTAN eoperações de manutenção da paz

Page 35: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

KOSOVO - ONE YEAR ON - Achievement and ChallengeRelatório do Secretário-Geral da OTAN Lord Robertson

NATO and Russia: Partners in PeacekeepingFolheto informativo descrevendo a cooperação prática no

terreno entre os soldados da paz russos e da OTANnos Balcãs

Extending Security : The Role of NATO and its Partner CountriesFolheto ilustrado que descreve como OTAN funciona ecobre o desenvolvimento da política nas principais áreasde actividade da Aliança

NATO 2000CD-Rom que traça a evolução da Aliança e descrevea adaptação que sofreu para enfrentar os desafios dasegurança do século XXI

NATO Topics Apresentação visual da Aliança indicando as grandes etapas daevolução da OTAN e as principais questões da sua actual agenda(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/topics/2000/home)

The Reader’s Guide to the Washington Summit Compilação de todos os textos e declarações oficiais

publicadas na Cimeira da OTAN de washington em Abril de1999, incluindo informação de apoio sobre os programas e

actividades da Aliança

NATO at 50 Folheto de introdução à história da Aliança, com visão geral

dos principais temas da actual agenda da OTAN

NATO UpdateFolha de informação semanal que cobre resumidamente

as actividades e acontecimentos da OTAN,dando uma visão geral das iniciativas da Aliança.

(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/update/index)

TODAS AS PUBLICAÇÕES EXISTEM EM INGLÊS E FRANCÊS E MUITAS DELAS NOUTRAS LÍNGUAS

Todas as informações e pedidos devem serdirigidos a:Office of Information and Press - Distribution UnitBld Leopold III - 1110 BRUSSELSTel: 00-32-2 707 5009Fax : 00-32-2 707 12 52E-mail : [email protected]

Versões electrónicas destas publicações existem no web site da OTAN em www.nato.int

O web site também publica declarações oficias, comunica-dos à imprensa e discursos e outras informações sobre asestruturas, política e actividades da Aliança, oferecendotambém vários serviços on-line.

Page 36: OTAN - NATOOTAN Publicada sob a autoridade do Secretário--Geral da OTAN, esta revista tem por fina-lidade contribuir para um debate cons-trutivo das questões atlânticas. Portanto,

Entrevista doGeneral Sir RupertSmithpáginas 24-25

Mulheresem uniformepáginas 30-33

OTANO desafio da

manutenção da paz

DE

PO

T A

NT

WE

RP

EN

X

OTANNotícias daorganização do tratado do atlântico norte

bélgicacanadá

república checadinamarca

françaalemanha

gréciahungriaislândia

itálialuxemburgo

holandanoruegapolóniaportugalespanhaturquia

reino unidoestados unidos

VERÃO 2001 500$00

O desafio damanutenção da paz