as navegaÇÕes atlÂnticas no século xv

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  • 8/6/2019 AS NAVEGAES ATLNTICAS NO Sculo XV

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    Biblioteca Breve

    SRIE PENSAMENTO E CINCIA

    AS NAVEGAES ATLNTICASNO SCULO XV

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    COMISSO CONSULTIVA

    JACINTO DO PRADO COELHOProf. da Universidade de Lisboa

    JOO DE FREITAS BRANCO

    Historiador e crtico musical

    JOS-AUGUSTO FRANAProf. da Universidade Nova de Lisboa

    JOS BLANC DE PORTUGALEscritor e Cientista

    DIRECTOR DA PUBLICAO

    LVARO SALEMA

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    MANUEL FERNANDES COSTA

    As navegaes atlnticasno sculo XV

    PRESIDNCIA DO CONSELHO DE MINISTROSSECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA

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    T t u l oAs Navegaes Atlnticas no Sculo XVBibl io teca Breve / V olume 30Instituto de Cultura Portuguesa

    Secretaria de Estado da CulturaPresidncia do Conselho de Ministros Instituto de Cultura PortuguesaDireitos de traduo, reproduo e adaptao,reservados para todos os pases1. edio 1979Composto e impressonas Oficinas Grficas da Livraria BertrandVenda Nova Amadora Portugal

    Janeiro de 1979

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    AS PRIMEIRAS VIAGENS LUSO-CASTELHANASNO SCULO XV

    1. As primeiras viagens no sculo XVpara as Canrias .....632. O problema da posse das Canrias..................................663. O descobrimento dos arquiplagos dos

    Aores e da Madeira....................................................694. O descobrimento do arquiplago de Cabo Verde .........755. Navegaes atlnticas ........................................................776. Reconhecimentos no Atlntico Ocidental......................83

    7. A viagem do Infante D. Pedro pela Europa...................848. A prioridade do descobrimento da Amrica ..................879. As doaes de D. Afonso V.............................................9210. Concluses ..........................................................................94

    NOTAS...........................................................................................97

    BIBLIOGRAFIA.........................................................................110

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    I / A POLTICA PENINSULARNO SCULO XV

    1. Preparativos da E x panso

    Quatro Estados cristos Portugal, Castela, Arago eNavarra e um muulmano Granada ocupavam apennsula ibrica no incio do sculo XV. Cada um delesprosseguia interesses polticos prprios e estabelecera asua ordem socioeconmica e cultural. Convir analisarsucintamente o papel que desempenharam na Europa ecomo decorreram as mtuas relaes.

    Em 1400, Portugal e Castela assentaram trguas emSegvia, por trs anos, trguas que foram renovadas, em6 de Outubro de 1403, por mais dez anos.

    Desde o tempo de D. Fernando I que se vinhaacentuando entre os Portugueses a convico de que eranecessrio, para a segurana do Estado, libertar as rotasmartimas ameaadas pelas frotas castelhanas e peloscorsrios norte-africanos, pois, por terra, Castela cortava-nos as vias terrestres de acesso ao corao da Europa.

    O tratado castelhano-aragons de Monteagudopartilhara o norte de frica, pelo rio Muluia, entre os doispases e reservara para Castela a conquista do reino

    granadino 1. Para contrariar as tendncias hegemnicas

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    castelhanas e aragonesas, contara-se com a interfernciada autoridade soberana de Roma. Conseguira adiplomacia de D. Joo I de Portugal que, pela bula de1411, Eximie deuocionis 2 fosse permitido s ordensmilitares portuguesas colaborar na guerra justa contra oscristos, muulmanos e outros inimigos. Quase aomesmo tempo celebrara-se a paz com Castela 3, nasseguintes bases:

    1. Paz perptua entre as duas naes,compreendendo, por banda de Castela, a Frana, suaaliada, e Arago, de quem viria a ser soberano o infanteD. Fernando.

    2. Renncia castelhana a reparaes por danossofridos na guerra com Portugal, excepo dosocasionados durante o perodo de trguas.

    Estabeleciam-se, finalmente, as condies deratificao do tratado e as de restituio aos portuguesesdos bens que tinham em Castela, excepo dosmosteiros, igrejas e ordens de Portugal, tomados porfora do Cisma 4.

    Este importante documento foi ratificado em vila,em 30 de Abril de 1423, depois de negociaes que searrastaram durante quatro anos 5.

    Alcanou-se da Santa S a nomeao, para o bispadode Marrocos, do ex-confessor de D. Filipa de Lancastre,o franciscano Fr. Aimaro de Aurelaco 6 e estreitaram-seas relaes com Arago, talvez com vista a uma expansocomercial mediterrnica. Sabe-se que, sob o pretexto depedir a mo da ex-rainha D. Branca, da Siclia, para oinfante D. Pedro, para ali partiu, em 1412, umaembaixada constituda pelo Prior do Hospital e pelo

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    possibilidade de se circum-navegar a frica e atingir oreino de Prestes Joo 10.

    Tanto Valentim Fernandes como Duarte PachecoPereira apontam o valor estratgico e comercial de Ceuta.Sobre a penetrao comercial genovesa naquela cidade,

    Vitorino Magalhes Godinho deixa transparecer, nas suasnotas respeitantes conquista de Ceuta, que a acoportuguesa em Marrocos dever ter sido estimulada pelaRepblica de Gnova 11.

    Na falta de provas de que tivssemos actuado porinfluncia genovesa, e havendo, pelo contrrio, elementosque se podem considerar contrrios, ser prefervelconsiderar a aco portuguesa concorrente de Gnova.

    Interessa referir que o trfego comercial com Marrocosno s se foi mantendo mas tambm foi estimulado pelabula de Eugnio IV, de 25de Maio de 1437 12, desde quese no procedesse venda de ferro, madeiras, cordas,navios ou artigos de armamento.

    3. A co diplomtica apsa conquista de Ceuta

    Os embaixadores portugueses, aps a conquista deCeuta, propuseram uma aliana a Arago e Castela, com

    vista libertao da pennsula, o que colidia com osinteresses daqueles pases como se sabia em Portugal

    , mas os obrigaria a no elevarem demasiado o seuprotesto aps a conquista de Ceuta.

    No Conclio de Constana, que pretendia pr termo aoCisma do Ocidente, tentou-se de novo a aliana dosEstados cristos peninsulares para a conquista de

    Granada, e, em 1416, na segunda reunio conciliar,

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    insistiu-se de novo. Mas deparou-se a Portugal a recusafirme de Castela e de Arago, cujos interesses secomeavam a confundir. Ao Conclio assistiram doisfrades da Ordem de S. Anto da Etipia, Pedro eBartolomeu, e decerto os contactos estabelecidosinteressaram os Portugueses que, no regresso, teriamrelatado aos infantes as notcias da frica Oriental quepuderam colher. Animados ao prosseguimento daempresa, alcanaram de D. Joo I que solicitasse sCortes, reunidas em Santarm, os meios financeiros paraum novo empreendimento: a conquista de Tnger.Entretanto os embaixadores de Portugal conseguiam quefosse erecta a diocese de Ceuta e a concesso de outrabula: Decens esse videtur 13 que dava aos cristos quedesejassem participar na defesa de Ceuta contra osmouros a possibilidade de comprar armas nas partes daCristandade e lev-las livremente por terra e por mar, oque representava um incitamento aos fiis de todo omundo para prosseguirem na reconquista.

    Outra bula, In apostolice dignitatis specula 14,investiu o infante D. Henrique no cargo de

    Administrador-Geral da Ordem da Milcia de NossoSenhor Jesus Cristo. Competia-lhe prover s despesascom a guarda e defesa de Ceuta e aplicar os rendimentosem benefcio da expanso da F.

    Pensara-se, dando cunho religioso conquista deCeuta e atribuindo as responsabilidades da suaadministrao a uma Ordem Militar, reduzir aspreocupaes dos Castelhanos, se no anular a suaoposio, atendendo aos direitos a que se arrogara o reide Castela sobre o reino de Fez, como sucessor doimprio visigtico.

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    Na ratificao, de 30 de Abril de 1423, do tratado depaz luso-castelhano, em que se prolongavam as trguaspor 29 anos, nova vitria alcanava Portugal, poisconseguia-se que Joo II de Castela declarasse abrangidana sua ratificao a cidade de Ceuta, e autorizasse atravessia dos portugueses, pelo seu reino, para aquelacidade 15. Era o reconhecimento da soberania portuguesasobre Ceuta.

    4. Preldio da conquista de Tnger

    Em 1428 celebrou-se o contrato de casamento de D.Duarte com a infanta aragonesa D. Leonor, autnticotratado entre os dois pases, visando os seus inimigosexternos. O rei de Arago, por essa altura, recebeu na suaCorte uma embaixada etope, e resolveu mandar quelepas Pedro de Bnia, a propor o casamento do infante D.Pedro com uma princesa etope, devendo D. Joana casarcom o imperador e celebrando-se uma aliana entre aEtipia e Arago, contra os Turcos.

    Por essa poca se consorciou o nosso infante D. Pe-dro, que andava viajando pela Europa, com uma filha doconde de Urgel e serviram de intermedirios osembaixadores de Portugal, nas trguas castelhano-aragonesas, de 1430.

    Discutia-se a conquista de Tnger, dividindo-se ospareceres. Nem o infante D. Pedro nem o conde deBarcelos desejavam a aventura, mas o infante D.Henrique, animador principal, contava com a rainha para

    vencer as hesitaes de D. Duarte. A bula de Eugnio IV,Rex regum, de 1436 16, mandara prgar a favor daexpedio e considerara sujeitas ao rei as terras

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    conquistadas aos infiis. A Preclaris tua 17 do anoseguinte, autorizara o rei e os seus vassalos a comerciarcom os mouros.

    5. A regncia de D . L eonor ea poltica luso-castelhana

    Reinou pouco tempo D. Duarte. Em 1438,D. Leonorassumiu a regncia do reino, na menoridade do futuro D. Afonso V, por fora do testamento do infeliz rei. Embreve comeou a luta entre os partidrios de D. Leonor eos do infante D. Pedro.

    A rainha viva representava um grupo social e umpartido opostos a D. Pedro, aliado de lvaro de Luna, equeles que encaravam com simpatia a centralizao dopoder real. Ao lado de D. Leonor alinhavam os nobres detendncias feudalsticas.

    Esta penosa luta interna no afectaria a expansomartima porque ambos os grupos, embora com

    tendncias dissemelhantes, concordavam em prosseguiras navegaes.

    6 . A co diplomtica de D . A fonso V

    Com D. Afonso V, e ainda em vida do infante D.Henrique, tomou novo aspecto a actuao diplomticaem Roma e a empresa das navegaes ocenicas.

    Nicolau V, em 8 de Janeiro de 1454, expediu a bulaRomanus Pontifex, de apoio poltica portuguesa de

    vedar o comrcio e a pesca em seus mares sem licena ou

    pagamento de tributos.

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    Logo que foi eleito o Papa Calisto III, sucessor deNicolau V, pela bula de 13 de Maro de 1455, Intercoetera quae nobis, outorgou-se e concedeu-a Ordemde Cristo o espiritual de todas as ilhas, desde os Cabos doBojador e No por toda a Guin at ndia, tanto doadquirido como do que viesse a adquirir; e determinou-seque o seu descobrimento s podia ser feito pelos reis dePortugal. Confirmavam-se assim as bulas de Martinho Ve Nicolau V.

    A queda de Constantinopla e o rpido avano Turcona Europa inquietaram o papa Calisto III, que mandouprgar a Cruzada.

    D. Afonso V preparou foras de auxlio. Como aCruzada no chegasse a realizar-se as foras portuguesasforam dirigidas para o norte de frica. Sucessivamentecaram em poder dos portugueses Alccer-Ceguer,

    Tnger e Arzila.Pela leitura dos cronistas Zurara e Joo de Barros

    depreende-se que estes planos de conquista tambmtomavam em conta aspectos polticos e econmicos.

    7. O reinado de H enrique IV de C astela

    Com a morte de D. Joo II de Castela subira ao tronoo dbil Henrique IV, que reinaria at 1474. O seucasamento, em 1455, com D. Leonor, filha de D. Duarte,fora estril durante sete anos. Murmurava-se sobre aimpotncia do monarca castelhano e, assim, ao anncioda gravidez da rainha os inimigos dos soberanos falaramde adultrio, com o favorito real D. Beltran de la Cueva.D. Joana viria a nascer em 1462. Era turbadssima a vidacastelhana. Henrique IV foi um monarca caluniado

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    pelos adversrios que propagaram a notcia da suaincapacidade 18.

    Joo de Navarra, que pela morte de Afonso V deArago subiu ao trono, fomentou a liga de Tudela contraHenrique IV. Dela faziam parte o arcebispo de Toledo, omarqus de Santillana, os condes de Alba e de Parede e oMestre de Calatrava. De Henrique IV era aliado oPrncipe de Viana, a quem o rei prometera a mo da irmD. Isabel. Quando morreu o prncipe de Viana o prprioHenrique IV foi reconhecido por herdeiro de Navarra,mas por sentena lavrada na entrevista de Bidassoa, deLus XI com Henrique IV, ao rei castelhano apenas foireconhecida a posse do territrio de Estela. Na mesmapoca, D. Pedro, neto do conde de Urgel, convidado atomar os ttulos de conde de Barcelona e de rei de Aragoe da Siclia e a pr-se frente dos rebelados contra JooII de Arago. Mas morreu, diz-se que envenenado, depoisde ter reinado apenas trs anos.

    A bondade e volubilidade de Henrique IV facilitaram adesobedincia dos nobres castelhanos, que haviamconseguido chamar a si o prncipe D. Afonso, herdeirodo trono. A sua morte arrastou para a primeira linha dasambies polticas, como instrumento dos nobres, duasmulheres:

    D. Joana, a chamada Beltraneja 19, e D. Isabel, filha deJoo II e de Isabel de Portugal.

    As princesas eram de sangue portugus e, em breve,ambas seriam joguete, no somente da poltica castelhana,mas tambm da que se desenhava na Europa.Efectivamente, a Frana, pela voz de Lus XI, noobstante tradicionalmente ligada a Castela, interessava-sepela Itlia e pela Catalunha, e a Arago eram necessriosaliados contra os Franceses. Naturalmente pensava-se

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    consegui-los na Inglaterra e na Borgonha. A Castelaimportava-lhe sobremaneira, atendendo a que era agrande fornecedora de cereais e l de que os seusprevistos aliados necessitavam para fazer face sua vidaeconmica. Ao rei aragons interessava o casamento doinfante Fernando com Isabel, de Castela.

    Para tal, era necessrio, em primeiro lugar, contar como apaziguamento das rivalidades internas castelhanas,papel atribuido ao condestvel de Navarra, com o apoiopapal. Em Guisando, o bispo de Leo, legado a latere dePio XII, actuou decisivamente. Henrique IV reconheceuIsabel como legtima sucessora, segundo comunicou aoreino, em 24 de Setembro de 1468. O soberano deCastela prometia o casamento da irm segundo oconselho de D. Joo Pacheco, D. Afonso da Fonseca eD. lvaro de Stiga.

    A Henrique IV interessava tambm a aliana dosportugueses 20 para que o ajudassem a fazer face aosinimigos do trono.

    Na entrevista de Gibraltar ofereceu-se ao soberanoportugus a mo de D. Isabel. D. Joo Pacheco, ligadopor laos de sangue a Portugal, via com bons olhos estematrimnio, mas desejava tambm que se executasse opactuado em Villarejo sobre os casamentos de D. Joanacom o infante D. Joo.

    D. Isabel, porm, compreendeu que a poltica de D. Joo Pacheco lhe era adversa. Restava-lhe o apoioaragons.

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    8. O conflito l uso-castelhano

    Sabe-se, pelo cronista Palencia, que uma embaixadadirigida pelo bispo de Lisboa, D. Jorge da Costa, che-gou em 1468 a Ocaa a solicitar a mo de D. Isabelpara D. Afonso V e tambm da sua enrgica recusa 21.Henrique IV chegou a solicitar do papa dispensa papalpara este casamento consanguneo, concedida em 23de Junho de 1469, e decerto o casamento ter-se-iarealizado, no obstante a recusa da princesa, se fosseefectivamente esse o firme desejo portugus.Entretanto, outros problemas se levantavam na Corteportuguesa22, que no se mostrava muito entusiasmadaem entrar no jogo poltico de Arago e Castela.

    Da parte de Lus XI, a aliana de Arago, Borgonhae Inglaterra levou-o a procurar a ajuda dos castelhanos,propondo o casamento de Isabel com o seu irmoCarlos, duque de Guiena. Henrique IV, porque jnotara o desinteresse portugus, favorecia este enlacematrimonial, que tinha o inconveniente de oincompatibilizar com Arago.

    H que notar que o papa Paulo II tambm semostrou desfavorvel ao casamento de Fernando comIsabel, chegando a negar a dispensa de parentesco 23.

    Mesmo assim, em 1469, celebrou-se, secretamente, ocasamento de Fernando com Isabel, em Valhadolid, oque levou Henrique IV a reconhecer Joana como suaherdeira 24. O desherdamento de Isabel teve lugar em26 de Outubro de 1470 com motivo no poucoacatamento e menos obedincia que mostrou em casar-se por sua prpria autoridade sem o seu acordo elicena 25, quebrando o pactuado em Guisando. Ao

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    mesmo tempo, com a rainha, jurou que Joana era filhalegtima e natural e, portanto, sua herdeira.

    9. O s pretendentes F ernand o de A ragoe Isabel de Castela

    O ano de 1470 desfavorvel s pretenses dos

    futuros Reis Catlicos. Perderam Valhadolid, viramsequestradas as rendas de Medina del Campo, Portugalhostilizava-os, restaurava-se em Inglaterra a RosaBranca 26 e Paulo II dispensava os nobres do jura-mento de obedincia que haviam prestado a Isabelcomo herdeira de Castela.

    Roma tinha novo papa desde 1471, Sisto IV, deorigem genovesa, que era mais favorvel a Arago doque Frana. Na Corte pontifcia era o aragonsRodrigo Borja, arcebispo de Valncia, a personagemmais influente. Ao vir Pennsula, Rodrigo Borja,celebrou conversaes com Carrillo e o almirante

    Henriquez, representantes de Fernando e Isabel, ePacheco e o futuro cardeal Mendoza, em nome deHenrique IV. As negociaes do ano de 1473funcionavam de forma favorvel aos Aragoneses,como se deduz do Breve, de 19 de Julho de 1474 27, emque Sisto IV prometeu a Isabel que nenhuma decisoseria adoptada em Roma que prejudicasse as suasaspiraes.

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    10. A int ensa activid ade dos embaix adoresde Portugal e de Castela

    Em 1474, aos defensores dos direitos de D. Joana, sse lhes ofereciam duas alianas possveis: Portugal eFrana. No vero desse ano, o Mestre de Santiagoentabulou negociaes com D. Afonso V. Com a Frana,o embaixador de D. Isabel, Juan Ramirez de Lucena

    conseguiu ir ganhando tempo, para evitar o rompimentodas hostilidades entre os dois pases. No fim do ano 11 de Dezembro morreu em Madrid Henrique IV.Dois dias depois Isabel proclamou-se rainha, reconhecidapela maioria das cidades castelhanas e dos bispos dasdioceses. Faziam excepo, principalmente, os Pachecos eos Stiga. O marqus de Cadiz preferiu guardarprudente neutralidade. Assim, Fernando e Isabel contamcom a maioria do reino, podendo, portanto, facilmentedesfazer quaisquer tentativas de revolta que semanifestassem e sentir-se em situao de contrariar ainvaso do seu territrio por tropas portuguesas ou

    francesas.D. Joana s seria proclamada rainha, pelos seuspartidrios, em Placncia, em 25 de Maio de 1475, sob aproteco do exrcito portugus 28.

    Contribuiu para o sucesso isabelino o apoio das casasmais poderosas de Castela, partidrias da oligarquia. Nopodemos esquecer que em Portugal, nas mesmas fileiras,militavam os nobres mais poderosos, o que explica aatitude de D. Joo II. Parte do clero castelhanoconcordou em apoiar D. Isabel. Este arranjo entre D.Isabel, o clero e os nobres viria a ser reconhecido pelaconcrdia de Segvia, seguida da reunio de um

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    Conselho para debater os casos de poltica externa maisimportantes: portugus, francs e navarro.

    D. Isabel, filha de me portuguesa e neta de um irmodo duque de Bragana, desejava a paz e contava com osadversrios tradicionais do regente D. Pedro e doprncipe D. Joo, futuro rei de Portugal. Negociou comD. Afonso V, mas no Conselho celebrado em Estremoz,para se decidir da atitude a tomar perante a situao emCastela, apenas se manifestaram contra a invaso RuiGomez de Alvarenga, D. Jorge da Costa, arcebispo deLisboa, e o duque de Guimares.

    Os embaixadores castelhanos Vasco de Vivero e Andrs de Villaln estiveram num segundo Conselhocelebrado em Arronches, mas a guerra j fora decididacom a revolta de Carrillo, que se instalara triunfante em

    Alcal de Henares 29. Era o resultado da tarefa incumbidaa Lopo de Albuquerque, enviado de D. Afonso V, aaliciar partidrios em Castela. Para Frana mandou D.

    Afonso V uma embaixada, pedindo o seureconhecimento como soberano legtimo de Castela. LusXI enviou a Portugal o embaixador Olivier de Roux, em

    Abril do mesmo ano, assentando-se no auxlio militar daFrana a Portugal e a necessidade de se conseguirdispensa papal para o casamento de D. Afonso V com D.

    Joana 30.O rei de Portugal despachou para Valhadolid, em

    Abril, Rui de Sousa, a comunicar a deciso de casar comD. Joana e, em seu nome, reclamar a coroa de Castela.Por seu turno D. Isabel enviou a Portugal Fr. Pedro deMarchena, Fr. Afonso de S. Cipriano e Diego de Garciade Hinestrosa, com a misso de aliciarem os nobresportugueses hostis guerra com Castela, e que seserviriam da infanta D. Beatriz, sua tia, como

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    intermediria 31. D. Isabel determinou a proibio deenviar dinheiro e armas a Portugal e decretou amobilizao de cavaleiros, pees e marinheiros, quedeviam estar prontos a entrar em aco, em Abril.Conciliando os acontecimentos relatados pelos cronistasportugueses e castelhanos coevos, podemos inferir queD. Afonso V fora movido, finalmente, aco pelainterveno em Portugal de D. Isabel junto da tia e pelospreparativos de guerra castelhanos.

    H ainda uma tentativa de evitar a guerra, feita em Toro, numa srie de negociaes iniciadas em 21 deJulho. Mas era tarde.

    11. A luta em terra e no mar

    D. Afonso V mandou convocar os prelados, alcaides ecavaleiros para a guerra e props, por intermdio de

    lvaro de Atade, ao rei de Frana, a guerra contra o reide Arago e o prncipe Fernando. Lus XI preparou ainvaso da Biscaia.

    O governo de Portugal foi entregue ao prncipe D.Joo, em 8 de Abril de 1475. D. Afonso V, antes de partirpara Castela, deixou ao filho uma declarao segundo aqual todas as doaes que fizesse, durante a sua estadiaem Castela, desde que ultrapassassem dez mil reais derendimentos, fossem consideradas sem valor, e comooutorgadas sem vontade e constrangimento, desde queno fossem aprovadas pelo prncipe. Na cidade dePlacncia celebraram-se os esponsais do rei de Portugalcom D. Joana, passando desde ento D. Afonso V aintitular-se Rei de Castela e de Leo. Para Roma, foisolicitada a dispensa do parentesco. Em nome de D.

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    Joana foi publicado um manifesto demonstrativo dodireito ao trono de Castela e Leo.

    Entretanto, o exrcito portugus internou-se emCastela e assentou arraiais em Arvalo, antes de entrar em

    Toro. O cardeal Pedro Mendonza tentou restabelecer apaz, em nome dos Reis Catlicos, o que era do agradodos portugueses, desejosos de voltarem ao seu pas 32.Propuseram que fosse reconhecido a D. Joana o senhoriodas terras j ocupadas em Castela e Galiza, com o ttulodo reino. D. Afonso V receberia uma indemnizao deguerra. Os Reis Catlicos concordavam na indemnizaomas no na cedncia de territrios.

    Foras castelhanas invadiram Portugal, sob o comandodo duque de Medina Sidnia. Coube ao prncipe D. Jooa defesa do pas. Os castelhanos apoderam-se de Ouguelae do castelo de Noudar. Ouguela , porm, reconquistadae os castelhanos retiram 33.

    De a em diante, e reatando a tradio aragonesa deinteresse pelos assuntos ultramarinos, verificar-se- queCastela entra definitivamente em competio com osPortugueses.

    Os ataques at ento espordicos realizados contra osnavios portugueses na costa da Guin tomaram novoaspecto quando os soberanos castelhanos passam aapoiar os aventureiros. Em 1475, o almirante AfonsoHenriquez recebeu dos reis a merc de dois teros doquinto das presas, o que determinou um recrudescimentoda actividade dos corsrios castelhanos e de represliasportuguesas nos portos da costa andaluza.

    A guerra no mar comeou com um conjunto deataques e contra-ataques recprocos, salientando-se aaco de lvaro Mendes, que interferiu na navegaocastelhana que do Mediterrneo demandava a Flandres.

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    No tardou que este aspecto da luta levasse os ReisCatlicos a intitular-se tambm reis de Portugal e areivindicar, contra as doaes papais, direitos desoberania sobre a Guin e o Atlntico 34.

    Em 19 de Agosto de 1475, os soberanos de Castelaproibiram a navegao para a Guin, sem licena, eencarregaram Antnio Rodriguez de Lillo e GonzaloCoronado de receber o quinto, pertencente Coroa, dequalquer resgate; em Novembro concediam a GonzaloChacn o direito de confiscar as mercadorias que fossemenviadas sem licena para a Guin e em Dezembroordenavam o embarque de um escrivo em cada caravelaque navegasse para as mesmas paragens 35.

    A navegao nas costas da Guin no era fcil. Exigiao conhecimento do regime de ventos e correntes e aaproximao das ilhas portuguesas dos Aores e daMadeira, na viagem de retorno, contratempos que, emparte, explicam os primeiros insucessos dos Castelhanos.

    Em 1475 deixam Palos de Moguer trs navioscastelhanos, armados pelo alcaide Gonzalo de Stiga,que capturaram, para vender em Palos, mais de 100escravos negros. To importante presa animou a novoscometimentos, embora os Reis Catlicos a houvessemreprovado. Instigados pelo duque de Medina Sidnia epelo marqus de Cadiz, os Castelhanos aumentaram o

    valor do saque, aventurando-se lvaro da Nova, a atacar,em Faro, lvaro Mendes e a faz-lo prometer que seapresentaria, dentro de um ms, s autoridades do seupas.

    Conhecida em Sevilha a expedio de vinte navios queFerno Gomes, em 1476, preparara para comerciar naGuin, os Reis Catlicos aprestaram uma frota de 30unidades. D. Isabel concedeu licena a Antnio Martin

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    negociar com os Portugueses, deixando-lhes a Guin ereservando para si as Canrias.

    Em Portugal, o limitado desejo de reunir na cabea deD. Afonso V as coroas de Portugal, Castela e Leo iaesmorecendo. A animadora situao no Atlntico radicaraa convico, nos espritos dos dirigentes, de que maisconvinha intensificar a expanso ultramarina, desistindo-se da aventura ibrica. Vai-se, pouco a pouco, definindo aestratgia dos dois pases, na qual os Castelhanos, paraobterem as desejadas condies de paz, pretendiam ferirPortugal no ponto mais sensvel: a rota da Guin. AosPortugueses convinha expulsar os Castelhanos dessa rota,desanim-los, e alcanar total independncia de aco.

    Os Reis Catlicos, a partir das Canrias, viravam-separa a costa fronteira e para Marrocos. Em 1476, D.Fernando projectou uma aliana com o rei Mohamed, deMarrocos, com vista conquista de Ceuta, o que se noconseguiu. Na costa fronteira s Canrias fundavam osCastelhanos a fortaleza de Santa Cruz de la Mar Pequea,donde comerciavam com a Mauritnia. Senhores dasCanrias menores adquiriam ainda para si o direito deconquista das Canrias maiores: Tenerife, Gr-Canria eLas Palmas. Celebraram tambm um acordo com o bispode Rubico e os capites Joo Bermudez e Joo Rejontendente consolidao do domnio castelhano naquelearquiplago 39.

    Fernando e Isabel iam concedendo licenas, aandaluzes e a importantes magnates castelhanos, paracomerciar na Guin, mediante reserva para a Coroa doquinto dos resgates efectuados. A falta de cumprimentodesta clusula determinaria a perda das mercadorias. De1477 em diante, regularmente, os Reis Catlicos

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    preparavam uma frota para enviar Guin a efectuarresgates 40.

    Na que foi preparada nesse ano, coube o comando aoflorentino Francisco Bonaguisa e ao barcelonsBerenguer Granel, que, associados aos reis, organizaramuma expedio do comando de lvaro da Nova 41. Esteficava proibido de interferir nas ilhas de Cabo Verde.No h a certeza de que se tenha realizado a expedio,mas, se se realizou, o silncio dos cronistas castelhanosocultou o seu fracasso.

    Um ano depois, preparou-se uma frota de 35 navios,comandada por Joo Boscn. Nela navegava Diogo de

    Torre, alguazil, e Berenguer Granel, contador. Esta frotafoi inteiramente capturada, no regresso da Guin pelafrota portuguesa. Os sucessivos fracassos destasexpedies obrigaram os Reis Catlicos a mudar detctica, favorecendo viagens isoladas e de particulares quese lhes afiguravam mais lucrativas, pois sem encargosdelas recebiam o quinto do resgate 42.

    Perez Embid, se no considera muito rigoroso esterelato, sublinha o seu interesse e supe que estes factosdeterminaram as expedies ento organizadas. Aateno dos Reis Catlicos foi despertada e passaramreivindicar de facto e, na medida do possvel, tambmde jure, a conquista da Guin 43.

    12. N egociaes de paz

    Desgostoso com o insucesso da interveno junto deLus XI, D. Afonso V pensou recolher-se vidamonstica. Expediu, por intermdio de Anto Faria, umacarta para D. Joo, declarando abdicar. Houve uma

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    tentativa de Lus XI para aprisionar o rei de Portugal, sobpretexto de ter fugido contra o seu servio e vontade. Ainterveno decidida de alguns fidalgos evitou ao rei estahumilhao. Em fins de Outubro de 1477, desistindo dosseus propsitos, D. Afonso regressou a Portugal eretomou o governo que o filho, com agrado, lhedevolveu. Prosseguia a luta fronteiria com Castela emque nem os portugueses nem os adversrios alcanavam

    vitrias decisivas. Pensou D. Afonso V casar pblica eperfeitamente com D. Joana, mas parece que aopropsito de reavivar a luta com Castela, que iaamortecendo, resistiu desta vez, energicamente, oPrncipe Perfeito. 44

    O ano de 1479 o do incio das negociaes de pazentre os dois pases, cansados da guerra e desfalcadoseconomicamente. Nos preliminares intervm a rainha deCastela e a infanta D. Beatriz, viva do duque de Viseu,com prazer 45 para D. Afonso V e para o Prncipe D.

    Joo. Tia e sobrinha avistaram-se em Alcntara edecidiram proceder troca de embaixadores: Por partedos castelhanos, o Dr. Rodrigo Maldonado, por parte dePortugal, o baro do Alvito.

    Nas negociaes de Alcntara apresentaram-se a D.Isabel e a D. Beatriz quatro problemas:

    1. O destino a dar a D. Joana;2. As relaes futuras de amizade entre os dois

    pases;3. O perdo aos Castelhanos que se haviam

    solidarizado com os Portugueses;4. As navegaes africanas.

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    cumpliran a dias de mayo, dentro de los quales ellame enbie respuesta determinada de todo lo platycado,aeptando como esta assentado ou dexandolo deltodo; por que, sy en este tienpo non biene, dende enadelante yo sere libre de todo lo apuntado y platycadoen este negoio, como sy ninguna cosa en ello ovierahablado. Y estos dias tomo por prostrero termino, parasaber su determynaion y voluntad, sy quiere la paz ola guerra; poniendoles delante las muertes y robos yquemas y males y daos, que de la guerra se syguirian;y, sy fueren mayores que los de fasta aqui, seran a sucargo, pues que por el queda de se fazer la paz. 47

    Desta concluso resultou a redaco de um projecto deacordo cujos pontos principais foram:

    1. Os Reis Catlicos deixariam de se intitular reisde Portugal e reconheciam sem reservas essettulo a D. Afonso V e aos seus sucessores;

    2. D. Afonso V deixaria de se intitular rei deCastela e de Leo. Reconhecer-se-ia o ttuloaos Reis Catlicos e aos sucessores;

    3. O prncipe D. Joo, herdeiro dos ReisCatlicos, casaria com D. Joana, sobrinha deD. Afonso V, com palavras de futuro, dadoque D. Joo, na altura, tinha apenas um ano deidade;

    4. Ficariam em teraria o prncipe D. Joo e D.Joana, cabendo a responsabilidade infanta D.Beatriz. Se D. Joana no viesse a casar com oherdeiro de Castela, professaria, como monja,num mosteiro de Portugal, e ficaria livre D.

    Joo para casar com quem quisesse;

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    5. D. Joana deixaria de se intitular rainha, infantaou princesa. Os direitos que havia obtido emCastela passariam para os Reis Catlicos;

    6. Realizado, porm, o seu casamento com D. Joo, passaria D. Joana a intitular-se princesade Castela;

    7. Se D. Joo no casasse com D. Joana, estaficava livre de compromissos e os ReisCatlicos devolver-lhe-iam os direitos querecebera;

    8. D. Fernando e D. Isabel perdoariam a D.Beatriz Pacheco, condessa de Medelln, e a D.

    Afonso de Monrroy, e aos seus familiares, osservios prestados a Portugal, e levantariam ocerco que mantinham vila de Medelln efortaleza de Mrida. Perdoariam os reis dePortugal e de Castela aos seus sbditos quetivessem servido a parte contrria;

    9. Portugal devolveria a Castela as cidades, vilas,lugares e fortalezas que tivesse em Castela, eaquele pas procederia de igual modo ederrubar-se-iam as fortalezas que, por virtudeda guerra, se houvessem erguido nas fronteirasdos dois Estados;

    10. Os Reis Catlicos deixariam livremente ao rei eprncipe de Portugal, a seus sucessores enaturais e s outras pessoas que eles quisessem,o trato da Guin e da Mina de Ouro e daconquista de todas as outras ilhas, aparecidas e noaparecidas, na Guin e na Mina de Ouro, excepto, asilhas de Canria, ganhas e por ganhar, que so e ficam para os ditos reinos de Castela. Os Reis Catlicosno tomariam nem impediriam que o rei e

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    prncipe de Portugal e os seus sucessoresconquistassem o reino de Fez, tal como ohaviam feito os antecessores dos ReisCatlicos;

    11. Ambas as partes soltariam os prisioneiros deguerra e davam-se especiais garantias a D.Beatriz, responsvel pelas terarias, e a D.Filipa e ao duque de Viseu, que substituiriam,se ela viesse a falecer;

    12. Estabeleciam-se as condies de casamentodos infantes.

    Os Reis Catlicos responderam carta de D. Beatriz,de que Rui Gomes fora portador, e seria dasconversaes de D.Beatriz e destes dois documentos quesurgiria o projecto que acima resumimos.

    A resposta castelhana continha os seguintes pontosessenciais:

    1. Quanto a lo primero que les hablamos, de laforma quel Ynfante para tomar su voluntad yconsentymiento para la conclusion dello,disceron que les paresio esta forma denegociaion aver seydo mas para conplir queno para concluyr pues era ierto que, segun lasesperanas que su sobrina tenia y la poca ganaque tiene la paz, no solamento non consentiriaen ello, mas lo contradiria e estorvariaporquantas partes pudiese, pues esta baso sumano, que para cosa de tanto serviio de Diosy provechosa, escusado era demandar consejode letrados;

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    2. Y en quanto a lo que diximos que luego seasentase la paz con los apuntamientoshablados, e oviese termino de seys meses paraque en fim de ellos doa Juana se pusiese en lateraria, como esba hablado, salvo si se saliesefuera de Portogal, nos respondieron que lespleguiera de luego asentar la paz con loscapitulos hablados en Alcantara, dandos e talseguridad que en fin de los seys meses en talcaso se fiziese la teraria de la dicha doa

    Juana, porque por aquella via se quitava toda lamateria de discordia entre todos los reynos, eseria la paz perpetua en ellas, que es la causaprinipal que a sus Altezas ha movido y muevea la querer; lo qual todo cesa sy a ella quedalibertad para yr a otro reyno, por que es iertoque no yra sy non donde promuvera guerrapara Castella. E asy este assunto, con estadeclain de trmino e con esta condiion,seria mas tregua por seys mese que asyento depaz. Por ende que, pues por esta via no se da lapaz, no es cosa justa de se otorgar. 48

    E prossegue com a justificao da escusa de se dar a D.Joana o ttulo de princesa de qualquer dos reinos, de queeram soberanos os Reis Catlicos, e da questo dasterarias. Prope que se tratem estes problemas em doiscaptulos especiais. O primeiro, referente paz entre osdois reinos e situao de D. Joana, o segundo, aresoluo do litgio sobre a Costa da Mina. Antes de laguerra estavamos en posesion della e la paz se avia deasentar restituyendo a cada una de las partes lo que teriaantes de la guerra. A lo qual por su parte nos fue

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    respondido que por aquella misma razon se devia de azerasy lo de doa Juana, tornandola a Castilla en poder deaquel que la teria quando por nuestra parte fue tomada,syn titulo alguno; por manera que de la una parte e de laotra se tornasen las cosas en el estado en que estavanantes que la guerra se ronpiese. 49

    Esta carta d a medida do estado das negociaes emMaio de 1479. Em 2 de Junho, D. Isabel, em seu nome eno de D. Fernando, outorgava poderes e nomeavaembaixador o Dr. Rodrigo Maldonado para reformar aspazes antigas e jurar de novo pazes perptuas com orei de Portugal, para tratar sobre as diferenas com o reide Portugal, seu filho D. Joo e D. Joana, e paracombinar o casamento da infanta Isabel com D. Afonso.Por Portugal negociava o baro do Alvito 50.

    Entretanto, prosseguia a luta no mar, por vontadede Castela, pois em Julho desse ano concedia-se licenaa Afonso de Salvatierra para armar navios contraPortugal 51.

    Em Agosto, D. Isabel, pelo seu embaixador emPortugal, recebia resposta primeira carta que lhe enviaracom instrues. Nela se tratava da situao de D. Joana,das terarias, etc., importando referir que sobre oproblema da Guin nada se diz e apenas se consagra umalinha, nada elucidativa, a Marrocos.

    Desse mesmo ms h mais doze documentos, sendoum a respeito da Guin. L-se: Al rey e a la reyna plazuadeixar lo de la Mina del oro y la Guinea y islas de quepertenesce la conquista a Portogal; va de fuera la deCanarya

    Al rey e a la reyna plazua lexar lo de la Mina deOro 52.

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    Pode inferir-se da documentao aludida que enquantoo interesse de Castela se concentra em torno da situaode D. Joana, prontificando-se a ceder alegados direitosem frica, com excepo do arquiplago das Canrias,por parte de Portugal as atenes concentram-se naconsolidao dos seus direitos em frica, sacrificando-separa tanto D. Joana.

    13. A Paz das A lcovas

    No ms seguinte, em 4 de Setembro, eram assentadas,em Alcovas, pazes perptuas entre Castela e Portugal,pelos dois embaixadores referidos acima. Nos novostratados se inseriram as pazes antigas de Almeirim, umadas bases de que se haviam servido os Reis Catlicos parase intitularem reis de Portugal e dos Algarves.

    No entanto, Portugal prometia respeitar os direitos deCastela nas ilhas Canrias, enumerando-as: Lanarote ePalma, Forteventura, La Gomera, Ferro, Graciosa, a Gr-Canria, Tenerife e todas as outras ilhas de Canriaganhas e por ganhar. Na mesma data assinavam-se: otratado das terarias; as capitulaes para o casamento dainfanta D. Isabel com o infante D. Afonso; ascapitulaes sobre as seguranas a dar para conservar apaz; a capitulao sobre o modo de entrar em teraria ainfanta D. Isabel; as capitulaes referentes condessa deMedellin, a Afonso de Monrroy e a Afonso dePortocarrero, e os capitulaes respeitantes restituiodas fortalezas de Azagala, Tuy e Ferrera e o perdo a

    Antn Nez, de Ciudad Rodrigo, e Joo de Porras 53.No que respeita ao Atlntico, o tratado concedia a

    Portugal a posse e quase posse em que esto todos os

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    tratos, terras, resgates da Guin, com os suas minasde ouro e quaisquer outras ilhas, costas, terras,descobertas e por descobrir, achadas e por achar, as ilhasda Madeira, Porto Santo e Deserta, e todas as ilhas dos

    Aores e as ilhas das Flores e assim as de Cabo Verde, etodas as ilhas que j tnhamos descoberto e quaisqueroutras que se achassem e conquistassem das ilhasCanrias para baixo contra a Guin.

    Castela comprometera-se a proibir que os seussbditos ou estrangeiros, sob sua licena, fossem s ilhase terras da Guin, descobertas e por descobrir, semlicena dos reis de Portugal.

    O prprio tratado estabelecia as penas a que sesujeitariam os que no respeitassem o acordado entre osdois reinos.

    O pacto foi ratificado, a pedido de D. Afonso V, em 6de Maro de 1480, e submetido imediatamente sanode Sisto IV, por vontade do prncipe perfeito. A bula de21 de Junho de 1481, Aeterni regis 54 ainda viria a serconhecida por D. Afonso V, pois faleceu em 28 de

    Agosto seguinte.Convm esclarecer a posio do papado relativamente

    a Portugal e a Castela, por essa poca. Henrique IVconseguira obter os favores do papado e de a que este semostrasse desfavorvel aos Reis Catlicos. D. Isabel e D.Fernando, logo que se sentiram seguros no trono,tentaram manter os privilgios de Henrique IV,principalmente no que respeitava designao dosprelados, pretendendo inclusivamente estend-los aoReino de Arago, pois na execuo do plano decentralizao de poder poltico necessitavam de um cleroobediente. As relaes de Arago com o papado eramfrias, desde o Cisma, apoiado por aquele reino, e pela

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    c ) Que ficou, na letra do tratado, bem expressa, aideia de uma demarcao das esferas de influncialuso-castelhanas no Atlntico, por um paralelo quepassava pelo cabo Bojador;

    d ) Que a guerra no mar assumia muito maiorimportncia para Portugal do que a das fronteirasterrestres, saindo o pas vitorioso desta duracontenda naval.

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    II / CONDIESE MEIOS DE NAVEGAO

    NO ATLNTICO

    1. Os processos da navegao no inciodos D escobriment os

    Quando se iniciou a empresa dos Descobrimentos, osprocessos de navegao empregados no Atlntico eramidnticos queles de que se serviam os pilotos doMediterrneo a chamada navegao estimada.

    No dizer de Joo de Barros, os mareantes, quandoquiseram comear a engolfar-se no pego do mar,

    verificaram as dificuldades que se lhes deparavam quandose serviam de to rudimentares meios de navegao 58.

    Foi o emprego do clculo da latitude e o rumo dadopela agulha que permitiram o alargamento doscometimentos.

    Desde meados do sculo XV que em Portugal sepraticava a navegao astronmica, como se depreendeda leitura de A s relaes do descobrimento da Guin e das Ilhasdos A ores, M adeira e Cabo V erde,de Diogo Gomes.

    O R egimento do A strolbio, descoberto na biblioteca deMunique, esclareceu o problema da origem e progressos

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    da cincia nutica portuguesa desde a segunda metade dosculo XV59.

    certo que o Infante D. Henrique soube rodear-se demestres estrangeiros que contriburam para o progressodos conhecimentos cosmogrficos, cartogrficas enuticos, designadamente os judeus, vindos da Catalunhae de Maiorca, de que expoente mximo Jcome deMaiorca. Mas o facto no desmerece nem diminui acincia nutica portuguesa na medida em que se tomouento conscincia de que as navegaes no eram simplesaventuras mas empresas com carcter cientfico.

    Os marinheiros utilizavam-se de vrias espcies deinstrumentos nutico-astronmicos: astrolbios,quadrantes nuticos, balestilhas e tavoletas.

    Os astrolbios foram introduzidos na Pennsula pelosrabes, encontrando-se descritos nos L ibros del Saber deA stronomia, de Afonso X de Castela. Na carta de 1529, deDiogo Ribeiro, existente na Biblioteca Vaticana, estdesenhado um astrolbio nutico. Tambm os L ibros delSaber registam diversos tipos de quadrantes rabes que,depois de simplificados, originaram o quadrante nutico.

    Deve-se a Pedro Nunes essa guia dosmatemticos portugueses a ideia fundamental, genialem teoria, de um processo para a apreciao das maispequenas divises de um quadrante, que passando porClavius e depois por Vernier, originou o actualinstrumento auxiliar que ns, com algumas razes,denominamos npnio, e outros vernier 60.

    Se a balestilha s parece ter sido empregada pelospilotos portugueses do sculo XVI, as tavoletas foramempregadas no sculo XV.

    O comandante Fontoura da Costa concluiu: 61

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    1. Que os pilotos e os marinheiros e,possivelmente, tambm o prprio CristvoColombo, em navios portugueses antes de1485, observaram a altura do Sol com oquadrante e outros instrumentos (que spoderiam ser astrolbios);

    2. Que Mestre Jos Vizinho, e outros, desde1485,determinava latitudes da Guin por meioda altura do Sol;

    3. Que Bartolomeu Dias empregou o astrolbiona sua viagem ao Cabo da Boa Esperana(1487-88).

    Desde o sculo XV que a constelao da Ursa Menorpermitia determinar as horas da noite e a latitude dosobservadores no hemisfrio norte.

    O Regimento de Munique, estudado por JoaquimBensade, e o L ivro de Marinharia, de Joo de Lisboa,permitem afirmar que qualquer piloto portugusdispunha de meios tcnicos para determinarrigorosamente os lugares visitados 62.

    Os livros peninsulares, e at de alm Pirinus, sobre a A rte de N avegare os Reportrios dos tempos, de vriosautores do sculo XVI, e mesmo do sculo XVII,conservam o L uso Regimento do N orte, sucessivamenteadaptado aos novos conhecimentos astronmicos 63.

    O clculo da altura do plo ao meio-dia exigia oconhecimento da declinao do Sol e a elaboraoconsequente de tbuas de declinao, decertosemelhantes s que se contm noRegimento de Munique.

    Um dos mais clebres monumentos astronmicos dosculo XV, deve-se ao judeu Abraham bar Zacuti,impresso em latim, em Leiria, em 1496. As suas tbuas

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    astronmicas influram decisivamente na nuticaportuguesa.

    Quando passaram o Equador aos navegadoresportugueses depararam-se-lhes dificuldades para aavaliao das latitudes, pois faltava-lhes a Estrela Polarpara guia. O guia austral que passaram a adoptar foi oCruzeiro do Sul. Cadamosto registou-o em 1455,quandose encontrava na Guin, na foz do rio Gmbia, e carta deMestre Jos, escrita de Vera Cruz, a D. Manuel I, em 1 deMaio de 1500, d-nos um esquema que o mais antigoconhecido 64. Em pouco tempo surgiram os primeirosregimentos da altura do plo e da hora da noite peloCruzeiro do Sul, da autoria de portugueses, alm deRegimentos da altura do plo por outras estrelas, nosculo XVI.

    Data do incio do sculo XVI a avaliao da longitudepela variao da agulha, de que se ocupou, em 1514, Joode Lisboa.

    Os marinheiros do sculo XV, ao comearem os seusdescobrimentos, encontraram em uso a bssola, japerfeioada da que parece ter sido modificada por FlvioGiia, cerca de 1302. Esta modificao consistiu naligao dos ferros da agulha a uma rosa dos ventos, de formaque o conjunto, como hoje, ficava isolado dosmovimentos do navio.

    Esses ferros no eram mans permanentes, mas cevados,de tempos a tempos, com a respectiva pedra que ospilotos sempre possuam, por isso que a magnetizaosendo muito fraca tinha nas longas viagens de reforar asua fora magntica, tocando-as novamente com a pedrade cevar. As pedras usadas pelos portugueses eram deseco rectangular e quase todas provenientes de umlugar perto de Alvito 65.

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    No L ivro de Marinharia, de Joo de Lisboa, faz-se adescrio da construo de uma agulha de marear.

    Parece poder aceitar-se que a descoberta da variao daagulha no podia deixar de ter sido feita por navegadoresportugueses quinhentistas, segundo concluso de vriosespecialistas portugueses e estrangeiros, muito embora osespanhis guardem essa honra para Colombo.

    2. Cartas de marear e roteiros

    Quanto ao uso das cartas de marear, vejamos tambmo que sobre o assunto nos diz Fontoura da Costa 66.

    Os portulanos e os mapa-mundos davam sobretudoindicaes de interesse geogrfico, que os povosmediterrneos estenderam, nos primeiros, ao usomartimo, juntando-lhe as informaes sobre distncias eoutras que os interessavam; e rumando-os, segundo os

    vrios ventos, partindo geralmente de um ponto central ede outros regularmente distribudos sobre todo oportulano. A romagem formava uma verdadeira teia,cujas linhas ainda vemos coloridas em alguns documentoscartogrficos.

    Os portulanos mediterrnicos-italianos, catales emaiorquinos no tinham graduaes de latitudes nemde longitudes, vendo-se em quase todos pequenas escalas,possivelmente arbitrrias, divididas em milhas italianas:eles eram, assim, simples Cartas loxodrmicas.Efectivamente, na navegao costeira, e mesmo na delongo curso, com o auxlio da toleta de marteloio, nohavia necessidade de cartas graduadas.

    No h dvida, pelo testemunho de Zurara, que desdeas primeiras navegaes os pilotos portugueses utilizaram

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    concorrentes interessados nos nossos progressos, quediminui a soma de notcias.

    Nas Cortes de 1481, uma das queixas apresentadaspelos procuradores do povo foi que os estrangeiros emPortugal nunca tinham feito outra coisa alm de roubarmoedas de ouro e prata e descobrir os nossos segredos da Minae Ilhas 72.

    Garcia de Rezende d-nos conta de que tal poltica noera s relativa aos descobrimentos mas tambm seprocurava ter notcias do que no estrangeiro se sabia ou iasabendo do mundo inexplorado 73: Nos reinosestrangeiros de Castela, Arago, Frana, Roma e muitasoutras partes, muitas e grandes pessoas recebiam dele emcada ano muitas e grandes mercs secretamente; dosquais recebia muitos e grandes avisos necessrios a seuservio e Estado. De tudo o que os Reis Catlicostratavam no seu Conselho tinha D. Joo II relatos e podiaactuar antes que fossem postas em prtica as suas ordens.

    A uns, que no eram do seu agrado na Corte espanhola,dava ostensivamente mercs, para que os Reis Catlicosdesconfiassem deles; aos que o serviam, essas mercseram dadas no maior segredo.

    As melhores obras de cincia nutica, tais como o R egimento do A strolbioe o Tratado da E sfera, sociosamente mantidas em segredo, assim como as tcnicasque se iam aperfeioando para o clculo da posio dosnavios no Atlntico e as melhorias introduzidas naconstruo das caravelas, que era absolutamente vedado

    vender ao estrangeiro.

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    4. A s condies de navegao no A tln tico

    Ao contemplarmos uma carta que abranja todo oAtlntico, incluindo as costas das Amricas, da Europa eda frica, notamos que os continentes apresentam vriaszonas que facilitam o contacto:

    a) Entre as costas da Noruega e o Lavrador,

    aproximao facilitada por uma srie dearquiplagos intermdios que fornecem osnecessrios pontos de apoio navegao;

    b ) Entre as costas da Frana e a Amrica, interpem-se a Inglaterra e a Irlanda, relativamente prximada Terra Nova;

    c ) As costas galega e portuguesa e atlntica da Andaluzia abrem-se sobre as trs Amricas,auxiliando ainda a sua aproximao o regime de

    ventos e correntes martimas;d ) A costa do nordeste brasileiro e da Guin, com

    Cabo Verde e a ilha de Fernando Noronha,

    formam um estreito fcil de transpor.

    Do paralelo 35 Lat. N. at 60 Lat. N., os ventosdominantes sopram do Sudoeste metade do ano e naoutra metade os do Noroeste. Entre 30 e 35 o ventosopra quase igualmente de todas as direces. De a atao Equador dominam os ventos de Leste, e, sobretudo,os do Nordeste at ao Equador, e at 30 abaixo os doSudoeste. Entre os 30 e os 35 voltam os ventos asoprar de todas as direces.

    Quanto s correntes: a das Canrias divide-se em doisramos, um que das ilhas de Cabo Verde segue o caminho

    dos ventos alisados, dirige-se para Sudoeste e depois para

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    Oeste, sem ultrapassar os 10 de Lat. N., vindo depois aenvolver as Antilhas e voltar ao Norte. Passa junto dasBahamas e funde-se com a corrente do Golfo. Segue os

    ventos dominantes, corre para Leste, dirige-se para os Aores e de a para a costa portuguesa. Esta correnteenvolve uma zona de calmas e chuvas raras, ondeabundam os sargaos e por tal denominada Mar dosSargaos.

    Ao Norte, as correntes da Gronelndia e do Lavradorfornecem movimento giratrio que facilita a navegao,ainda que menos perfeitamente do que as acimaapontadas.

    A corrente equatorial do sul, entre 2Lat. N. e 10 Lat.S., segue de Leste para Oeste at junto costa brasileira,dividindo-se a em dois ramos: um, a corrente dasGuianas que at altura da ilha Trindade segue a costa N.brasileira, das Guianas e da Venezuela; o outro, a correntebrasileira que segue at 48Lat. S., dirigindo-se de a paraLeste a formar a corrente de juno meridional que voltaa subir as costas de frica com o nome de corrente deBenguela.

    Ao longo da costa da Guin h uma forte correnteOeste-Leste.

    Assim, os navegadores que seguiram a corrente dasCanrias e atingiram a regio dos alisados do NE e dacorrente equatorial do Norte foram impelidos para as

    Antilhas; os que cortaram a contracorrente da Guin eatingiram a corrente equatorial do Sul, ou foramarrastados para as costas do Brasil ou seguiram a correntedas Guianas e igualmente foram dar s Antilhas.

    luz destes dados que se tm de estudar as primeirasnavegaes para a Amrica. Os navios que pretendiamatingir o Oriente, contornando a frica pelo Cabo da Boa

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    Esperana, em lugar de seguirem ao largo da costaafricana, procuravam a do Brasil e cortavam o Equadorou a 28 ou 29 de long. O. no inverno do hemisfrioNorte ou a 22 ou 26 de long. O. no vero dohemisfrio Norte. Se as caravelas seguissem a correnteequatorial do Sul seriam arrastadas para a costa norte doBrasil e de a para as Antilhas. As caravelas que seguirama rota mais prtica ladearam a zona dos alseos do S.E. eao alcanarem os ventos do Oeste do hemisfrio Sul,

    viravam para Leste.O conhecimento destas condies da navegao exigiu

    muitas viagens de estudo, onde se obtiveram dadoscartogrficos do regime das correntes e dos ventos edados tcnicos correspondentes de arquitectura naval que permitiram a construo de cascos, mastreao e

    velames adequados s condies do meio fsico e,finalmente, conhecimentos indispensveis a umanavegao astronmica segura. Navios adequados, pilotosconhecedores dos ventos e correntes, e das tcnicas denavegao ao sul do trpico de Cncer, foram osinstrumentos empregados pelos portugueses, desde queD. Joo II tomou conta da expanso ultramarina. tempo de se ter em mente que a empresa dosdescobrimentos no resultou do esprito aventureiro deuma dzia de pilotos audazes. Por mais audaciosos que ospilotos fossem, se no tivessem atrs de si tcnicoscompetentes que os instrussem, no teriam conseguidoresultados apreciveis. A Histria registou apenas osresultados espectaculares, mas no as investigaes doscosmgrafos, astrlogos e pilotos, os cuidados postos naconstruo dos navios dos descobrimentos, e os fracassosou esforos inglrios de muitos annimos, tal como hoje

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    regista os feitos dos cosmonautas ignorando os meiostcnicos que os permitiram.

    O descobrimento espectacular da Amrica porCristvo Colombo um exemplo desta assero.

    Navegando em navios portugueses, aprendendo compilotos portugueses as tcnicas de navegao, servindo-sedos seus sacrifcios e experincias de anos e anos depesquisas no mar e do conhecimento de abordagens silhas e terras do outro lado do Atlntico, umas acidentais,outras resultantes da investigao metdica das condiesda navegao, esse aventureiro genovs, a quem se nonega persistncia e audcia, deu a Castela a possibilidadede inaugurar nas Antilhas e na Amrica Central umapoltica de colonizao que, como todas as inovaes,enfermou de vcios, mas teve inegveis efeitos naevoluo da Humanidade, tal como a portuguesa.

    Poder-se- pr a pergunta: possvel documentar oque se afirma?

    a ) Ainda em vida do Infante os navios portuguesesnavegavam para a Guin e arquiplagos atlnticose norte da Europa. Contrataram-se especialistasestrangeiros, cartgrafos e pilotos, aperfeioaram-se as naves e os instrumentos de navegao. Tudoisto certo e est amplamente demonstrado.

    Acorreram a Portugal gentes de muitas e desvairadaspartes com o seu cabedal de conhecimentos e noestrangeiro tnhamos seguros informadores. D.Henrique trocava correspondncia com um agenteseu em Galway, na Irlanda;

    b ) D. Fernando, desde 1460, interessou-se pelasexploraes ocenicas a partir de Cabo Verde, e,

    no descurando as informaes dos cartgrafos,

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    mandou fazer reconhecimentos no Atlnticocentral. Dada a proximidade de Cabo Verde da ilhade Fernando de Noronha e do nordeste brasileiroe a influncia das correntes e dos ventos, quaseinadmissvel a ignorncia da existncia de terrasalm-Atlntico. As pequenas Antilhas ficam a 10dias de navegao de Cabo Verde e, com certotempo, a menos dias ainda, facto que preciso terem conta quando se estuda o problema dodescobrimento da Amrica;

    c ) A partir da altura em que o prncipe D. Joorecebeu a herana de D. Fernando, aumentaram osconhecimentos portugueses nas costas daGroenlndia e da Islndia, acumularam-se osindcios das exploraes de reconhecimentoanteriores de outros povos e os trabalhos queconfirmaram o que antes dissemos.

    Jaime Corteso afirma: O Atlntico forma um todoe os homens antes de governar a Natureza, tm quesujeitar-se, para a conhecer, s suas leis. Certos traos dageografia fsica do Planeta imprimiram direco histria;e no de supor que neste captulo dos descobrimentossucedesse por outra forma. Convencemo-nos, aocontrrio, que a Histria dos descobrimentos realizadosno Atlntico durante o sculo XV e comeos do XVI nascostas dos dois mundos, formam igualmente um todo; eafigura-se-nos vo e errneo separ-los uns dos outros os do Oriente dos do Ocidente, qualific-los parte,como se noutro meio, dentro doutras leis fsicas eguiados por outro esprito se houvessem desenrolado.

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    5. Os principais monumentos cartogrficosdo sculo X V

    Interessa, em primeiro lugar, a carta de Andrea Biancodatada de 1448, existente na Biblioteca Ambrosiana deMilo, onde se l:

    Andrea Bianco, venician comito de galia me fexe a

    Londra M. CCCC. XXXXVIII.Figura-se nela o Atlntico, na parte ento conhecida,

    prolongando-se at ao Cabo Roxo, onde haviam poucotempo antes chegado os navegadores portugueses. A, acosta inflectia para nascente, desprovida de nomenclaturageogrfica, o que demonstra que o autor tinha notcia daexistncia do golfo da Guin, mas no haviam sidoexploradas as suas margens, ou, se o foram, dessas

    viagens o autor no tivera notcia. Optamos pelo primeirosignificado. Alm dos arquiplagos atlnticos e de falsasilhas alm dos Aores, a sudoeste de Cabo Verde figurou

    Bianco uma grande Terra com a seguinte legenda: Ixolaotinticha xe longa a ponite 1 500 mia.Ilustres historiogrficos identificam essa ilha com o

    Brasil dando-o como j ento descoberto, embora outros,como Duarte Leite, proponham soluo diversa para oproblema. Andrea Bianco, antes de compor a carta,estivera em Lisboa a documentar-se sobre a tal ilhafantstica que fora concebida por portugueses.Coincidindo a ilha esboada com a forma angular doBrasil, ser lcito admitir que homens profundamenteinteressados na explorao do Atlntico, como D.Fernando e D. Joo, no a mandassem buscar e, em face

    das consideraes que precedem, esses navegadores no

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    tivessem sido arrastados a terra firme ou ilha de S.Mateus (Fernando de Noronha) ou Trindade ou costabrasileira, ou a alguma das Antilhas?

    Diz Jaime Corteso: o silncio das crnicas oficiaissobre essas viagens (s ilhas do Atlntico), como se nopassassem de acontecimentos vulgares, obedece regra; eo pouco que sabemos sobre esse perodo obscuro dosDescobrimentos revelado por fontes estrangeiras,algumas das quais propositadamente adulteradas pararealar glrias alheias 74.

    Colombo relata, no seu Dirio da viagem de 1492 75,que os portugueses descobriram ilhas muitas vezesrecorrendo a indcios, tais como, o voo das aves, nuvens,etc. Ora, prximas que fossem as terras ou ilhas, o voodas aves, que guiou Colombo, no teria despertado acuriosidade dos pilotos para percorrerem mais algumasmilhas, tendo ainda facilitada a sua misso pelo regimegeral das correntes martimas e dos ventos?

    Conjugados os dados cartogrficos com os informesdo cronista Galvo, de uma viagem em que casualmentese teria realizado o descobrimento da ilha das SeteCidades, em 1447, sente-se esfumar a ideia dos que tmpor fantasiosas as abordagens a terras alm-Atlnticoantes de 1492.

    O Dr. Armando Corteso demonstrou que a palavra Antlia foi sempre portuguesa e que o grupo de ilhasrepresentadas no mapa que estudou, j referido,corresponde s actuais Antilhas. os nomesportugueses aplicados s ilhas mostram terem-lhe sidodados por portugueses, naturalmente quando asdescobriram, o que no de admirar pois eles j eramento os mais activos navegadores.

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    Jaime Corteso, a propsito da carta nutica de 1424,escreveu: A Antilia, quase sempre identificada como ailha das Sete Cidades perpetuar-se- na cartografia at aosfins do sculo XV Em resumo: a carta de 1424 conduzirremediavelmente a uma srie de antecipaes: antesdaquela data existia em Portugal a preocupao Atlntica;os cartgrafos, ou melhor, os cosmgrafos portuguesesestavam de olhos no Ocidente 76

    Temos que admitir que em 1424 estava bem motivadaa curiosidade portuguesa para as terras de alm-Atlntico.

    Justifica-se a frase de Diogo Gomes, a propsito dodescobrimento henriquino dos Aores: o Infante, ansiosopor saber o que havia no Atlntico ocidental, para alimandava os seus navios.

    Na 6. carta do Atlas de Andrea Bianco, relativa a1436, inseria-se a Antilia e a ilha de man satanaxio, coma legenda questo xe mar de baga, expresso bemportuguesa relativa ao Mar dos Sargaos 77.

    A carta catal, existente na Biblioteca Nacional deFlorena, feita em Maiorca, em 1439, apresenta ao sul dasCanrias, sob o nome de ymador, uma grande ilha comquatro ilhus 78.

    No mapa-mundi de Fra Mauro, elaborado em 1457 e1459, em Veneza, por mandado de D. Afonso V, e que

    veio para Portugal, apresenta-se uma legenda no sudoesteda representao do continente africano. Diz que osportugueses chegaram a mais de 2 000 milhas alm doestreito de Gibraltar. Sabe-se, por este exemplar, que FraMauro teve em seu poder novas cartas portuguesas,concluindo Jaime e Armando Corteso dos seus estudos,que: Reconhecemos, em abono dos crticos maisexigentes, que a aceitao da legenda, no seuextraordinrio teor, oferece dificuldades, que temerrio

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    incorpor-la, sem discusso histria. Mas mais grave senos afigura elimin-la sem apelo, quanto mais no sejacomo conjectura digna de porfiado estudo. 79

    Porqu estas palavras? Porque a legenda revela estacoisa espantosa: que antes de 1457 os portugueses teriamdobrado o Cabo da Boa Esperana. Ora o queestranharam os irmos Corteso, torna-se dia a dia maisclaro, depois da certeza a que se chegou de que serealizaram viagens de portugueses no ndico, antes das deBartolomeu Dias e Vasco da Gama.

    Cerca de 1475, Cristfalo Soligo figurou tambm a ilhadas Sete Cidades no local onde nas cartas anterioressituavam os cartgrafos a Antilia.

    O mapa-mundi de Henricus Martellus, de 1489,elaborado em Florena, de colaborao com FrancescoRoselli, baseado num prottipo portugus, apresentou osresultados das navegaes de Diogo Co e BartolomeuDias, e despertou o interesse de Colombo. No entanto, omapa contm um erro inadmissvel, pois o continenteafricano encontra-se prolongado mais 6 para o Sul edeslocado uns 20 para leste. Comenta Jaime Corteso 80:D. Joo II comeou e este facto permite a reviso dasbases em que assentou o plano de Colombo por fazerincorrer o grande genovs em dois erros fundamentais: ode que o valor do grau terrestre era muito reduzido e, porconseguinte, o Extremo-Oriente asitico muito prximodo Ocidente europeu; e o de que o cabo da BoaEsperana estava situado no a 34 21 lat. Sul, como narealidade, mas a 45 o que dilatava enormemente ocaminho martimo para a ndia pelo Cabo da BoaEsperana.

    Hrcules, duque de Ferrara, interessou-seprofundamente pelos descobrimentos portugueses e

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    viram seno serras muyto espessas pollo qual seguem aopinyon dos cosmofircos se cree ser a ponta dasia. Estidentificada com a Groenlndia, reconhecida, como sedisse, pelos vikings e pelos portugueses muito antes.

    H ainda no mapa, no Atlntico norte, uma segundalegenda, junto ao meridiano de partio resultante dotratado de Tordesilhas: Esta terra descoberta permandado do my alto excellentissimo Principe domManuel Rey de portugall a qual descobrio gaspar de corteReal cavalleiro na cassa do dito Rey, o quall qudo adescobrio mandou h navio com certos omens emolheres que achou na dita terra e elle ficou com outronauyo e nunca mais veo e crese que he perdido e aqui hmuitos mastos 83.

    O grande investigador Harrisse identificou a terra aque se referia esta legenda com a Terra Nova, deduzindotal identificao das cartas de Pasqualigo e Cantino e decertas passagens dos cronistas Damio de Gis e AntnioGalvo.

    O erro da localizao deve-se, como decompreender, no s s dificuldades de ordem tcnicapara a avaliao das longitudes, mas tambm necessidade poltica de as arrastar para aqum domeridiano divisrio criado pelo tratado de Tordesilhas.

    Vejamos como Duarte Leite descreveu o que Cantinodesenhou e que nos interessa considerar: 84

    Em Cantino desenha-se nitidamente um continentena faixa intertropical, que em a sua parte meridional a

    Vera Cruz de Pedro lvares Cabral; mas a terra recm-ganha a D. Manuel avana inesperadamente para sueste,a por alturas de 23 S., em vez de tomar o verdadeirorumo do oeste. Este alargamento excessivo para o

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    nascente no resultou certamente de cartas de marear; uma errnea indicao de carcter conjectural. De 39 emdiante cerra o contorno, e no sabemos se o cartgrafo, mngua de informaes, o estenderia em sua imaginaoat paragens antrcticas, se antes disso o limitaria por umoceano ligado ao seu Oceano oritalis que banha asndias

    Em 1501 era voz corrente nas tripulaes recm-chegadas da Amrica do Norte que o Novo-Mundoformava um extenso continente seguido desde ohemisfrio boreal at ao austral; no mapa de Cantino, de1502, vemos entre a sia e quaisquer terras ao leste oOceano Occideroritales desde 67 N. at 88 S. poisevidente que os portugueses sabiam que a ndia, a Chinae a Cipango de Marco Polo no s estavamextremamente afastadas da Europa, mas tambm no seligavam s terras recm-descobertas, interpostas comobarreiras entre a sia e a Europa ou frica.

    Importa citar que, voltando a Portugal, no ano de1500, a caravela de Gaspar de Lemos, segundo a ordemdada por Pedro lvares Cabral, percorreu ento a costabrasileira at ao Cabo de S. Roque. Este navegador, nodizer de Gaspar Correia, descreveu a costaminuciosamente, escrevendo tudo e os aondas e sinaescom que tornou a El-Rey e houve muito prazer. Sabe-setambm por Gaspar Correia que nesse mesmo anodeterminou D. Manuel uma nova viagem dereconhecimento ao litoral brasileiro, mas no hconfirmao de se ter realizado, antes de 1501, qualquer

    visita ao litoral brasileiro 85.Figura tambm na carta de Cantino a ilha de Ferno de

    Noronha.

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    A nova referncia a este monumento serve-nos parasobre ele formularmos ainda algumas consideraes mais.No foi s o recurso viagem de Pedro lvares Cabral ea explorao de Gaspar de Lemos que determinaram afigurao relativamente precisa do contorno docontinente sul-americano. A pouca abundncia denomenclatura no servir neste caso de prova, poistambm escassa no caso particular das Antilhas,exploradas desde 1492.

    6. Os navios dos Descobrimentos

    A preparao de bons pilotos e a concepo de novostipos de navios so preocupaes constantes dosresponsveis pelos Descobrimentos no sculo XV.

    Escreveu Cadamosto: essendo le caravelle deportugalo i mezior naulij che vadano sul mare de veleessendo quel le bem in ponto in ogni cossa oportuna 86.

    Lopes de Mendona diz que a caravela um naviolatino de dois ou trs mastros com velas triangulares,envergadas em antenas dispostas no plano longitudinaldo navio 87.

    Supe-se que a caravela teria sido inspirada noscarabos ou caravos muito usados pelos mouros no N. de

    frica, que por seu turno teriam recebido inspirao dospangaios rabes, que sulcavam o ndico, tal como sugereo Almirante Gago Coutinho. Navio ligeiro, de pequenatonelagem, mais estreito e mais comprido do que outrosnavios de vela, toma a vela dos latinos e dos redondos ocasco 88. Opunham maior resistncia deriva e davammaior facilidade a virar de bordo. O aparelho latino dascaravelas correspondia a uma necessidade de navegao

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    no Atlntico, onde se deparavam aos navegadores os ventos alisados de Nordeste (ponteiros) para os quevoltavam de frica.

    D. Joo II foi ao ponto de promulgar medidas queproibiam aos portugueses a venda de caravelas aestrangeiros, sob pena de morte.

    Foi em tempo de Bartolomeu Dias, na demanda doCabo e do ndico, mares sujeitos a fortes tempestades,que o casco e o aparelho da caravela mais alteraessofreram. Passaram a ter mais um ou dois mastros,providos, tanto o grande como o da proa, de velasredondas, e o casco aproximou-se do da nau.

    No tempo de Vasco da Gama a ndia foi atingida poruma caravela e trs naus, pois se reconheceu que as

    viagens no mar largo dispensavam navios muito chegadosao vento como os modernos barcos latinos.Descobriram-se, no sculo XV, o regime de ventos geraise a possibilidade dos navios, contornando-os, seguiremrotas indirectas, para evitarem a faina de bordejar contrao vento.

    Jaime Corteso, corrobora a j hoje repetida afirmaode que os descobrimentos exigiram uma larga preparaocientfica e tcnica, um conhecimento profundo dosmares e suas condies de navegabilidade. Vamostranscrever uma importante passagem do seu trabalho:

    A nau era um navio de maior porte comacastelamentos proa e popa, de pano redondo,podendo armar trs mastros (do traquete, grande e damezena), arvorando, nos dois primeiros, pano redondo e,no da mezena, um bastardo. No gurups armava uma ouduas velas redondas. Navios bojudos, cuja boca andavapor 1/3 do comprimento da quilha, serviam o trfego, e,nas cobertas, em nmero varivel, recebiam artilharia. De

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    100 tonis, e menos, as primeiras, o tamanho foiaumentando com o decurso dos tempos. 89

    Estes os tipos de navios que interessa especialmentereferir.

    Conclui-se, do que precede, que as condies tcnicasinfluram profundamente nos reconhecimentos levados acabo por portugueses e castelhanos, dando maiores

    vantagens queles que possuam melhores meios etripulaes mais adestradas nas lides do mar.

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    III /AS PRIMEIRAS VIAGENSLUSO-CASTELHANAS

    NO SCULO XVI.

    1. A s primeiras viagens n o sculo X V para as Canrias

    As primeiras notcias de viagens atlnticas no sculoXV so as da expedio franco-normanda s Canrias,conduzida por Joo de Bethencourt e Gadifer de la Salle,sada da Rochela, a 1 de Maio de 1402, para a conquistada ilha de Lanarote. Aps o feito, recorrem osnavegadores ao papa de Avinho, Bento XIII, a solicitar

    apoio religioso, econmico e militar. Este expediu a bulaApostolatus officium 90 destinada aos prelados e aosfiis de Arago, Navarra, Esccia e Npoles, e aos duquesda Bretanha e Sabia e condes de Armagnac e Foix. Opapa concedeu graas espirituais aos defensores da ilha econquistadores das restantes e aos que se devotassem converso dos naturais. No ano seguinte, pela bulaRomanus Pontifex, foi erigido o bispado de Rubico,na fortaleza recm-construda em Lanarote, e designadobispo o franciscano Fr. Afonso de S. Lcar deBarrameda. Joo Bethencourt enfeudou-se a HenriqueIII, de Castela, interessado desde logo na posse das

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    Canrias. H expedies de Bethencourt s ilhas deForteventura e do Ferro e notcias de desembarque, em1405, na costa africana ao sul do Cabo Bojador. Iniciou-se, seguidamente, o trfego comercial entre Marrocos e asCanrias, de certo vulto, o que contribuiu para ocrescente interesse dos monarcas castelhanos peloarquiplago.

    Em 1418, o senhorio das ilhas passou para o conde deNiebla, e, dois anos depois, o rei de Castela doou-as a

    Afonso de Las Casas. Foi, porm, Guillen, seu filho quedelas se apoderou entre 1423 e 1424.

    O infante D. Henrique inauguraria a questo canria,no sculo XV, com a tentativa de ocupao da Gr-Canria, uma das ilhas no ocupadas, para o que preparouuma forte expedio comandada por D. Fernando deCastro. Esta questo viria, mais tarde, a desdobrar-seem duas: a das ilhas e a da costa marroquina fronteira aoarquiplago. Ter-se-ia preparado tambm uma expedios Canrias, em 1416, capitaneada por Gonalo Velho 91.Estas tentativas portuguesas deram origem a fortesprotestos do monarca castelhano. data da morte de D.

    Joo I o senhorio das Canrias achava-se to alienado dacoroa de Castela, com prerrogativas tocaracteristicamente feudais (concesso hereditria,faculdade de cunhar moedas, de exercer alta e baixajustia, obrigao de ajuda militar), que podia dizer-senenhum prncipe cristo tinha mo nelas. A estausurpao de domnio ops a Coroa de Portugal,nitidamente, uma restrio de poderes no tocante s suasilhas da Madeira, quando os direitos, rendas e jurisdiodestas passaram do rei de Portugal para o infante D.Henrique, em 26 de Setembro de 1433. Pela merc rgia,so doadas com jurdion civil e crime salvo em Sentena

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    de morte ou talhamento de mbro mandamos que aalada fique a ns e venha a casa do civil de lixboa,segundo escreve Joo Franco Machado, que sobre esteproblema das Canrias se debruou.

    Bento XIII, pela bula Pie fidelium nota, de 1 de Abrilde 1416 92 concedeu aos franciscanos Pedro de Pernia e

    Joo de Baea licena para fundarem uma casa na ilha deForteventura, na diocese rubicense.

    Martinho V, a rogo de D. Joo I, em 4 de Abril de1418, expediu uma bula de cruzada, a Rex regum, quereconhecia a Portugal a posse de Ceuta e das demaiscidades que o rei viesse a tomar aos sarracenos, econcedia indulgncias plenrias e garantias de cruzado da

    Terra Santa, ordenando, finalmente, s autoridadeseclesisticas das terras crists que pregassem a Cruzada, seo rei de Portugal o solicitasse.

    Tem grande importncia o documento 93 pois foiexpedido de Constana, por altura da celebrao doConclio, no constando que tivesse havido oposio dasembaixadas europeias presentes, excepo do protestocastelhano, de 1424, apresentado ao embaixador dePortugal pelo de Castela, Afonso de Cartagena, bispo deBurgos, o que levou a demoradas negociaes. D.Henrique pediu a Castela o direito conquista das ilhasno ocupadas mas o rei castelhano recusou, o que levou oinfante a requer-lo ao papa. Este, pela bula Dudumcum ad nos, de 31 de Julho de 1436, concedeu asCanrias a Portugal, o que determinou um protestocastelhano em Roma, nos termos que se seguem,extrados da prpria bula: Cum autem postmodumcarissimus in Christo filius noster Joahannes Castelle etLegionis Rex illustria, intellectis prefatarum litterarumconcessione et terroribus, multum apud nos per suas

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    orotores et litteras conquestus fuerit, assertus sibimagnum fieri preindicium ex litteris prefatis, et ex eissequi uris sui diminutionem, cum assetat terne Africe etinsularum prefatarum conquestam ad se spectare. 94

    2. O problema da posse das Canrias

    No conclio de Basileia voltou a debater-se o problemada posse das Canrias. Os argumentos invocados porambas as partes so conhecidas pelas allegationes factasper reverendum patrem dominum Alfonsum de Cartaiena,Episcopum burgensem in Consilio Basiliensi, superconquista Insularum Canarie contra Portugalense 95.

    Portugal argumentou deste modo:

    1. As ilhas no ocupadas eram res nullius;2. Desde 1341 que se tinham sucedido

    expedies portuguesas s Canrias;3. A maior vizinhana das ilhas das costas

    portuguesas;4. O propsito portugus de evangelizao dos

    naturais.

    Castela, por seu turno, alegou:

    1. A ocupao efectiva das ilhas prximas e opropsito de a estender s restantes;

    2. A proximidade das Canrias da MauritniaTingitnia, que pertencera aos reis godos, dosquais os de Castela eram herdeiros universais;

    3. A missionao portuguesa no implicavanecessariamente direitos de soberania;

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    4. As anteriores expedies no conferiamdireitos aos portugueses.

    Parece que durante o Conclio se chegou a umaDeclarao sobre precedncia de Joo II contra o rei dePortugal sobre as ilhas Canrias e que o documento seencontra arquivado no Arquivo de Simancas.

    Algum tempo depois, D. Duarte doou o espiritual dasilhas atlnticas Ordem de Cristo e pediu ao papa que lheconfirmasse a doao e lhe fizesse merc das Canriasainda no ocupadas 96.

    Em 1445, o sevilhano Hernn Peraza sucedeu nosenhorio de Forteventura a Guilln las Casas. Numaarmada mandada ao arquiplago em 1451 seguiram JooIiguez de Atabe e o bispo Joo de Cid. Houve tambmpor essa poca um srio conflito entre portugueses ecastelhanos, como se prova pela seguinte carta, de 25 deMaio de 1452, de Toledo, para o rei de Portugal: Vosenviamos rogar vos pluguiese mandar e defender a

    vuestros vasallos e subditos e naturales que no armasennavios ninguno contra los de las dichas nuestras islas loqual no embargante el ao que pass de 1450 ochocaravelas y una fusta con gentes de armas de vuestrosreinos combatieron e robaron los bienes e ganados ebestias de los vecinos de la dicha nuestra isla y ansimismode algunos mercadores nuestros vasallos, naturales denuestros reinos, que alla habian ido por causa enegociacin de sus mercaderas 97.

    Conseguiu o infante D. Henrique que Micer Maciotelhe cedesse o senhorio sobre a ilha de Lanarote, donderesultaram incidentes quando seguiram duas caravelascom lvaro Dornellas e Anto Gonalves. Ao fim dedois anos, os naturais, com o auxlio de castelhanos,

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    querer saber o poder do seu inimigo trabalhou-se o ditosenhor de o mandar saber para determinadamenteconhecer at onde chegava o poder daqueles infiis. Esta a 3. razo e a 4. porque j havia 21 anos que guerreavaos mouros e nunca se achara rei cristo nem senhor foradesta terra que por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo oquisesse dita guerra ajudar, queria aliados naquelaspartes, prncipes cristos, em que a caridade e o amor deCristo fosse to esforado que o ajudassem contraaqueles inimigos da f.

    Finalmente, a 5. razo, foi o grande desejo que haviade acrescentar em a Santa F de Nosso Senhor JesusCristo e trazer a ela todas as almas que se quisessemsalvar conhecendo que todo o mistrio da encarnao,morte e paixo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, foiobrado a estes fins, para a salvao das almas perdidas, asquais o dito senhor queria por seus trabalhos e despesastrazer ao verdadeiro caminho, conhecendo que se nopodia ao Senhor fazer maior oferta 101.

    Nesta transcrio livre, patente a ideia geral dosDescobrimentos. Vinte e um anos aps a tomada deCeuta, isto , em 1436, os portugueses haviam progredidonos mares at s Canrias e, portanto, encontrado no seucaminho a Madeira e os Aores. A escola de Sagresproduzira investigao cientfica de alta qualidade semque, pelas razes apontadas pelo cronista Zurara, como afalta de proveito econmico e almas para converter oualiados a encontrar, se levasse tais descobrimentos afigurar nas crnicas do tempo. Melhor ou piorlocalizadas, as ilhas figuravam apenas nos monumentoscartogrficos, para servio dos mareantes 102.

    Tem-se defendido a tese de que, a partir de 1416, quando chegmos ao Cabo Bojador, ao sul das Canrias,

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    depois de se ter reconhecido que ao longo da costa de frica dominavam os ventos e correntes para o Sul,tornando a volta Pennsula com os navios de vela,demorada e aborrecida os mareantes se afastavam dacosta, iam no bordo do Noroeste, at que, esgotados os

    ventos do Norte e cados na regio dos ventos variveisenchiam a latitude at atingirem, no mar largo, a altura deLisboa. Tomavam barlavento e faziam caminho directo.E na viagem larga se encontra justificao para aconjectura de que na volta da costa de frica os naviosdo Infante tivessem topado com algumas das ilhas dos

    Aores 103. As aludidas navegaes foram realizadas com

    caravelas, por se tratar do tipo de navio que tornoupossvel o incremento das navegaes atlnticas.

    No errar quem apontar uma primeira navegao dosportugueses para a Madeira em data muito chegada a1415. Pouco depois a ilha comeou a ser povoada,segundo uma carta de doao do Infante, datada de 1460.

    Joo Gonalves Zarco e Tristo Teixeira partiram numnavio cedido pelo Infante, para guerrear os mouros nacosta de frica, mas impelidos por ventos contrrios, na

    viagem abordaram Porto Santo, que lhes pareceu degrande proveito de se povoar. Regressaram a Portugal,e, numa posterior viagem, fornecidos do necessrio parase manterem, acompanhados por um fidalgo, BartolomeuPerestrelo, seguiram novamente para o Porto Santo. Da,passaram os dois primeiros, ilha da Madeira, enquanto oterceiro regressava a Portugal, a fim de obter meiossuficientes para a colonizao. Tinham achado as ilhasboas para nelas se fazerem grandes sementeiras 104.

    Conhecedor das possibilidades da Madeira, preparou oInfante uma nova expedio, com mais gentes e

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    corregimento de igreja, com os seus clerigos. Foicertamente esta expedio em 1425-26. Como Azuraradiz que a viagem de Zarco e Tristo Teixeira teria sido noregresso do infante do descerco, em 1418, podemossituar a primeira viagem em 1419 e a segunda, comBartolomeu Perestrelo, em 1420 105.

    Zurara data o incio do povoamento da Madeira doano de 1425. Mas no Atlas Mediceu, de origem genovesa,de 1370, so representadas as ilhas do Arquiplago daMadeira com nomes de origem portuguesa.

    El-Rei cada vero mandava navios, e ferro, e ao esementes e gados que tudo frutificava muito; de cadaalqueire que semeavam pelo menos colhiam sessenta, e asreses ainda mamavam, e j pasciam, e tudo se dava assim,havia grande quantidade de madeira formosa, e a levavampara partes e comeavam com ela a fazer navios de gveae castelo de vento, porque dantes no os havia no Reinonem tinham para onde navegar, no havia mais quecaravelas no Algarve e barinis em Lisboa e no Porto 106.

    Zurara refere-se aos Aores nos termos que se seguem:

    E na era de mil iiiijc v(1445) anos, mandou o Infantea um cavaleiro, que se chama Gonalo Velho,Comendador que era na Ordem de Cristo que fossepovoar outras duas ilhas que esto afastadas daquelas(Madeira e Porto Santo) CLXX lguas ao noroeste 107.

    Diogo Gomes escreve:

    Em certo tempo, o Infante D. Henrique, desejandodescobrir lugares desconhecidos no Oceano Ocidental,com o intuito de averiguar se existiam ilhas ou terrafirme, alm das descritas por Ptolomeu, mandou

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    caravelas a procurar essas terras. Seguiram viagem e viramterra a Ocidente trezentas lguas alm do cabo Finisterrae vendo que eram ilhas entraram na primeira

    No Atlas Mediceu, de 1351, na carta de Soleri, de 1436ou 1448, e na de Soligo, de 1455, aparecem figuradasalgumas das ilhas dos Aores, embora mal localizadas amaioria.

    Numa legenda, atribuda a Gabriel de Valseca, na cartaque desenhou, em 1439, figura a seguinte inscrio:

    Aquestas illes foram trobades p. Diego de Silves pelotdel rey de Portogall an lay MCCCCXXVII 108.

    Em resumo, o pouco que com suficiente seguranapode afirmar-se a respeito das primeiras navegaesportuguesas quinhentistas nas guas aorianas consiste noseguinte: em 1427, um navio pilotado por Diogo deSilves encontrou o arquiplago aoriano, de que em 1439eram j conhecidas as sete ilhas que compem os gruposoriental e central; 109.

    Como se sabe que a carta catal foi elaborada 64 anosantes da de Valseca, que a copiou, temos que as ilhasforam descobertas antes de 1375, o que contribuiu paraconfirmar o Atlas Mediceu de 1351.

    Portanto, no restam hoje dvidas acerca dodescobrimento no sculo XIV dos Aores e positivauma navegao de Diogo de Silves em 1427 e o incio dopovoamento em 1445, por Gonalo Velho.

    Embora os nomes originariamente dados a estas ilhastenham quase todos desaparecido e aqui (cartas domaiorquino Guillermo Soler, datadas de 1380 e 1385)das (ilhas) se encontram representadas numa correnteza

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    N.-S., mais para leste do que a sua situao verdadeira,estou convencido apesar de algumas opiniesindecisas ou categoricamente contrrias de quecorrespondem aos Aores. E se esta correnteza de ilhas

    com os nomes que se mantiveram consistentementeem todas as cartas, desde o sculo XIV ao sculo XV emais ou menos nas suas posies relativas, tais como aIlha dos Coelhos (Flores), Ilha da Ventura (Faial), Ilhados Pombos (Pico), Ilha Brasil (Terceira), Ilha das Cabras(S. Miguel), Ilha do Lobo (Santa Maria), e Corvo e S.

    Jorge, nomes estes que sobreviveram no pretendiarepresentar os Aores, ento seria apropriado que, antesde negar categoricamente aquela identificao, se dissesseo que queria representar a correnteza de nove ilhas.

    A volta pelo mar alto, no regresso das Canrias, quelogo aps o seu descobrimento os navios de velapraticavam, trazia-os, por fora dos ventos e correntesnesta parte do Atlntico, no s Madeira como tambmaos Aores, sendo pelas latitudes deste arquiplago que seencontravam condies mais favorveis para navegar adireito at s costas portuguesas , com efeito,absolutamente inconcebvel que navegadores trecentistas,capazes de uma to longa viagem como a das Canrias,no regresso, no tivessem descoberto, alm da Madeira,os Aores 110

    No testamento do Infante D. Henrique, outros dostestemunhos de que nos podemos socorrer, datado de 28de Outubro de 1460, l-se:

    Estas so as igrejas e capelas que eu estabeleci eordenei para sempre em reverncia e louvor de Nosso

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    Senhor Jesus Cristo e da Virgem Santa Maria sua Me,minha senhora

    item ordenei e estabeleci a igreja de so Lus, e a igrejade S. Diniz na Ilha de S. Diniz; e a igreja de So Jorge, nailha de So Jorge; e a igreja de So Thomaz, na ilha de S.

    Thomaz; e a igreja de Sa