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1 OS TERMOS INTERNACIONAIS DE COMÉRCIO (INCOTERMS) : UMA ANÁLISE SOBRE SUA IMPORTÂNCIA PARA AS RELAÇÕES JURÍDICAS EXISTENTES NO COMÉRCIO EXTERIOR Larissa Carvalho Soares 1 Paulo Roberto Soares 2 SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1. O COMÉRCIO EXTERIOR E SUA PRESENÇA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE; 2. A HISTÓRIA DO SURGIMENTO DE NORMAS UNIFICADORAS DO DIREITO: UM CAMINHO DA LEX MERCATORIA MEDIEVAL AOS INCOTERMS ATUAIS; 3. A UTILIZAÇÃO DOS INCOTERMS NA PRÁTICA DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS; 3.1 CRONOLOGIA DE CRIAÇÃO DOS INCOTERMS; 3.2 A CLASSIFICAÇÃO DOS INCOTERMS POR NÍVEL CRESCENTE DAS OBRIGAÇÕES DO EXPORTADOR; CONSIDERAÇÕES FINAIS RESUMO O presente estudo visa analisar a relevância dos temos internacionais de comércio para os contratos comerciais firmados entre partes de diferentes países. O comércio exterior é muito usual desde a Antiguidade, mas as relações jurídicas inerentes a tal atividade são 1 Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Vitória – FDV. Graduada em Comércio Exterior pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected] 2 Graduado em Direito pela Faculdade Batista de Vitória – FABAVI. Graduado em Ciências Contábeis pelas Faculdades Integradas Simonsen. Graduado em Pedagogia pelas Faculdades Integradas Simonsen. Pós-graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Especialista em Gestão de Políticas de Segurança Pública pelo Curso Superior da Polícia Federal e Fundação Universidade do Tocantis. E-mail: [email protected]

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1

OS TERMOS INTERNACIONAIS DE COMÉRCIO (INCOTERMS): UMA

ANÁLISE SOBRE SUA IMPORTÂNCIA PARA AS RELAÇÕES

JURÍDICAS EXISTENTES NO COMÉRCIO EXTERIOR

Larissa Carvalho Soares1

Paulo Roberto Soares 2

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO; 1. O COMÉRCIO EXTERIOR E SUA

PRESENÇA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE; 2. A HISTÓRIA DO

SURGIMENTO DE NORMAS UNIFICADORAS DO DIREITO: UM

CAMINHO DA LEX MERCATORIA MEDIEVAL AOS INCOTERMS

ATUAIS; 3. A UTILIZAÇÃO DOS INCOTERMS NA PRÁTICA DOS

CONTRATOS INTERNACIONAIS; 3.1 CRONOLOGIA DE CRIAÇÃO

DOS INCOTERMS; 3.2 A CLASSIFICAÇÃO DOS INCOTERMS POR

NÍVEL CRESCENTE DAS OBRIGAÇÕES DO EXPORTADOR;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

RESUMO

O presente estudo visa analisar a relevância dos temos internacionais

de comércio para os contratos comerciais firmados entre partes de

diferentes países. O comércio exterior é muito usual desde a

Antiguidade, mas as relações jurídicas inerentes a tal atividade são

1 Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Vitória – FDV. Graduada em Comércio Exterior

pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected]

2� Graduado em Direito pela Faculdade Batista de Vitória – FABAVI. Graduado em Ciências Contábeis

pelas Faculdades Integradas Simonsen. Graduado em Pedagogia pelas Faculdades IntegradasSimonsen. Pós-graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Especialista emGestão de Políticas de Segurança Pública pelo Curso Superior da Polícia Federal e FundaçãoUniversidade do Tocantis. E-mail: [email protected]

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complexas já que, há negociadores fora do mesmo âmbito nacional.

Assim, para auxiliar a confecção de contratos desse tipo e dinamizar as

negociações internacionais, foram criadas normas uniformizadoras.

Serão utilizadas, em especial, a Publicação número 715E da Câmara de

Comércio Internacional e fontes doutrinárias para compreender toda a

sistemática em questão, como obras dos autores Antonio Carlos

Rodrigues do Amaral, Douglas Alexander Cordeiro, Clóvis do Couto e

Silva, Maria Helena Diniz, Paulo Sérgio de Moura Franco, Nelson

Ludovico e Irineu Strenger. O método a ser utilizado é o indutivo.

Existem vários grupos de Incoterms, cada um com especificidades para

atender as mais diversas pretensões. Nesse sentido, aqueles envolvidos

nesse ramo devem conhecer termos para adotar no contrato aquele lhe

atenda satisfatoriamente.

PALAVRAS-CHAVE: Comércio exterior; Contratos Internacionais;

Incoterms; Lex Mercatoria.

RESUMEN

El presente estudio pretende analizar la relevancia de los acuerdos

internacionales de comercio para los contratos comerciales firmados

entre partes de diferentes países. El comercio exterior es muy usual

desde la antigüedad, pero las relaciones jurídicas inherentes a tal

actividad son complejas ya que, hay negociadores fuera del mismo

ámbito nacional. Así, para ayudar a la confección de contratos de ese

tipo y dinamizar las negociaciones internacionales, se crearon normas

uniformes. Se utilizarán, en particular, la publicación número 715E de la

Cámara de Comercio Internacional y fuentes doctrinales para

comprender toda la sistemática en cuestión, como obras de los autores

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Antonio Carlos Rodrigues del Amaral, Douglas Alexander Cordeiro,

Clóvis del Couto e Silva, Maria Helena Diniz, Paulo Sérgio de Moura

Franco, Nelson Ludovico y Irineu Strenger. El método a utilizar es el

inductivo. Hay varios grupos de Incoterms, cada uno con especificidades

para atender las más diversas pretensiones. En ese sentido, aquellos

involucrados en esa rama deben conocer términos para adoptar en el

contrato aquel que atienda satisfactoriamente.

PALABRAS CLAVE: Comercio exterior; Contratos Internacionales;

Incoterms; Lex Mercatoria;

INTRODUÇÃO

A atividade comercial acompanha toda a história da humanidade. É claro

que as civilizações mais antigas não realizavam um comércio tão

sofisticado como há hoje em dia, mas já era possível notar indícios de

tal prática. A expansão comercial foi tão expressiva que ainda na fase do

mercantilismo, partes de continentes distintos já firmavam negócios.

Hoje, não é diferente. O mercado de importação e exportação

movimenta enormes divisas e fomenta a economia mundial.

Entretanto, as relações jurídicas que permeiam o comércio exterior não

são simples. Há, na verdade, um esforço considerável para se firmar

contratos internacionais que sejam harmônicos. Isso se dá vez que, as

legislações dos países são próprias e as partes de diferentes nações ao

negociarem precisam adotar cláusulas contratuais que atendam a suas

pretensões e não sejam conflitantes.

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Para, então, auxiliar nesse processo, os Termos Internacionais de

Comércio (Incoterms) foram criados. Eles são normas uniformizadoras

criadas para auxiliar na confecção de contratos de comércio exterior e

evitar, assim, gastos exorbitantes e tempo para confeccionar os acordos.

Sendo assim, o presente estudo tem como objeto central a análise da

importância dos Incoterms no contexto intenso e dinâmico de comércio

exterior em que estamos inseridos para solucionar as crises jurídicas. O

enfoque será principalmente na história de surgimento dos termos, como

são aplicados atualmente, quais as modalidades existentes e suas

peculiaridades.

Cumpre lembrar que, o método utilizado na pesquisa é o indutivo. Para

tanto, será feita uma análise histórica para compreender como o

comércio exterior surge e qual a sua relevância para a humanidade.

Ainda, se explanará como são feitos os contratos internacionais de

comércio, as dificuldades para ter uma relação jurídica harmônica e

expor Incoterms criados para auxiliar esse tipo de acordo. Fundamental

para se estudar os termos internacionais será a Publicação número

715E da Câmara de Comércio Internacional. Isso sem prejuízo da

doutrina necessária à construção de conceitos relevantes para o tema.

Cabe lembrar que esse tema é muito atual. Na verdade, chama a

atenção o número de importações e exportações realizadas a todos os

momentos nos países. Os portos, canais principais de embarque e

desembarque de mercadorias destinadas ao comércio exterior, estão

repletos de cargas e embarcações trafegam ao redor do mundo de

forma contínua.

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Portanto, analisar a complexidade das relações jurídicas presentes nos

contratos internacionais de negócios e saber como os Incoterms

auxiliam na confecção de tais acordos é de suma importância.

1 O COMÉRCIO EXTERIOR E SUA PRESENÇA NA HISTÓRIA DA

HUMANIDADE

Não é possível afirmar indubitavelmente quando as atividades

comerciais surgiram. Ao analisarmos a história é possível notar que o

homem sempre se relacionou com seus semelhantes. Isso se dá porque

é praticamente impossível uma pessoa isoladamente produzir aquilo que

é necessário para o seu próprio sustento e para atender as suas

necessidades, mesmo que básicas.

Sendo assim, as civilizações, mesmo que bem rudimentares se

organizavam de forma que havia divisão das tarefas entre as pessoas,

as quais trocavam entre si o que fora produzido e, assim, todos teriam

acesso ao que precisavam.

De modo mais didático, tais relações se davam do seguinte modo, por

exemplo, um homem se dedicava a pescaria e outro plantava batatas.

Após o dia de trabalho, eles trocavam os produtos e ambos poderiam

jantar no final do dia um delicioso peixe na brasa com batatas.

Com o passar do tempo, essas trocas se tornaram mais sofisticadas,

com cada vez mais pessoas participando dos escambos e mercadorias

bem mais diversificadas. Nesse contexto, como as relações estavam

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mais complexas robustas, as moedas surgem como forma de dinamizar

as trocas de mercâncias.

O comércio, dessa forma, começa a ganhar a forma semelhante a que

conhecemos atualmente. Surgem os mercadores, classe que se dedica

aos negócios empresariais, especialmente no ramo de compra e venda

de produtos. Há, assim, expansão dos mercados produtores e

consumidores.

A pretensão nesse momento era de ousar, procurar potenciais

consumidores, ainda que estivessem a muitos quilômetros de distância

em locais de difíceis acessos. A visão de um comércio local deixa de ser

o principal foco e o comércio exterior parece ser uma alternativa para

angariar ainda mais divisas.

Nesse sentido, principalmente os mares, durante a fase do

mercantilismo, despontaram como os principais meios por onde se

desenvolveu a atividade comercial entre as mais diferentes localidades.

A respeito do tema Irineu Strenger alude que “O comércio internacional

historicamente está intimamente ligado com o direito marítimo e com as

atividades do mar.”.3

Assim, A exploração das águas aumentou não só intercâmbio entre

povos e culturas e permitiu trocas de informações, produtos e

exploração de novos mercados, como também culminou na descoberta

de novos territórios.

3� STRENGER, Irineu. Direito do comércio internacional e Lex Mercatoria. SãoPaulo: LTr, 1996. p. 55

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Acerca disso, Renato Paulo Roratto assevera que,

As grandes navegações marítimas do século XV contribuírampara o crescimento acelerado do comércio internacional,integrando os continentes. Com elas, delimita-se o marcoreferencial do comércio internacional, período onde houvemaior intensificação do comércio mundial, que culmina nos diasde hoje com o que se chama de globalização.4

Diante de tal contexto, houve o desenvolvimento da humanidade de

forma mais uniforme de modo que, por exemplo, produtos realizados na

China são acessíveis a pessoas de outros países, bem como as

tecnologias americanas ou medicamentos dinamarqueses. Isso é muito

vantajoso porque não há sequer um país com recursos ilimitados. Ha

certamente escassez de algo, como recursos financeiros, tecnológicos,

ambientais e até no que concerne a mão de obra.

Desse modo, nota-se que é bem proveitoso que uma nação concentre

suas atividades produtivas nos âmbitos naquilo em que é mais

capacitada. Deixa, portanto, de executar atividades ou fornecer serviços

em que não há tanta especialidade e importa de outros o que lhe falta

de acordo com a sua necessidade.

O comércio exterior representa exatamente isso. Ele pode ser

caracterizado pelas relações criadas entre os países que trocam bens e

serviços. Em outras palavras, consiste nas trocas entre nações, as quais

são realizadas por meio da exportação, no caso a venda, e importação,

que é a compra de produtos. Tal atividade pode ser encontrado ao longo

de toda a história do homem e tem relevância sócio-político-econômica.

4� RORATTO, Renato Paulo.Comércio exterior I. Palhoça: Unisul Virtual, 2006. p.17.

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Acerca do tema, Nelson Ludovico alude que

(…) Ao ativarem as exportações pela especialização daprodução em bens ajustados à estrutura interna de recursos,os países aumentam a sua produtividade gerando meios quegarantem o aumento da sua capacidade de importação. Asredes internacionais de trocas baseadas nas diferençasestruturais favorecerão a troca de recursos abundantes porrecursos escassos.Por outro lado a crescente liberalização do comércio queresulta não somente dos processos de integração, mastambém de sucessivos acordos multinacionais, impulsiona amobilidade empresarial, pois permite o acesso fácil deempresas de qualquer nacionalidade a qualquer mercado. (…)5

Logo, esse tipo de atividade contribui para a modernização da

economia, gera crescimento econômico e acrescentam divisas.

Ademais, é um fenômeno que nos últimos séculos ganhou, por conta da

globalização, ainda mais notoriedade.

Acerca disso, Irineu Strenger assevera que, “Os contratos internacionais

são o motor, no sentido estrito, do comércio internacional, e, no sentido

amplo, das relações internacionais, em todos os seus matizes.”6 Isso

significa que, os contratos internacionais têm importância não apenas

porque se tratam dos instrumentos que possibilitam se firmarem

negócios exteriores, estabelecendo, por exemplo, as cláusulas de

responsabilidade e direitos. Porém mais do que isso, eles significam um

verdadeiro impulso para que haja correspondência entre os diferentes

países.

5� LUDOVICO, Nelson.Significado e importância do comércio internacional nodesenvolvimento das nações. São Paulo: Incorporativa 2010. Disponível em:http://www.incorporativa.com.br/mostrane ws.php?id=3876 Acesso em 24 de agostode 2018.6� STRENGER, Irineu. Contratos Internacionais do Comércio. São Paulo, RT,1986. p. 80.

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Insta ressaltar que, os negócios internacionais ainda que bem

proveitosos não são simples. Na verdade, na conjuntura de mundo

plural em que estamos inseridos, com Estados soberanos repletos de

especifidades, legislações própria e ante a existência de blocos

econômicos com acordos jurídicos firmados entre as nações-membros,

as relações comerciais entre diferentes Estados precisa ser

desenvolvida com extrema cautela de forma que se compatibilizem os

interesses e peculiaridades normativas das partes envolvidas no

negócio internacional, de modo que haja harmonia nos trâmites e não

desacordos ou antinomia entre as normas adotadas.

Na verdade, os contratos de comércio exterior devem ser observados

não apenas considerando a ótica econômica. Em tais relações não há

simplesmente a troca de mercadorias pelo seu valor em si, mas sim,

existe uma relação muito mais profunda do que a mera associação dos

fatores de consumo e de lucro.

Isso significa que, os contratos que envolvem partes de diferentes

localidades precisam ser firmados mediante a observação de aspectos

diferenciados, distintamente do que ocorre nos contratos nacionais

submetidos a uma única legislação.

Na verdade, ocorre que nos contratos internos em caso de conflitos

advindos do trato, não há dúvidas sobre qual será o foro competente

para dirimi-los. Contudo, nas negociações internacionais, a situação é

diferente. As partes por conta da autonomia da vontade, elegem qual o

foro que será competente para julgar tais lides. Nesse sentido, pode ser

escolhido o país de uma das partes ou até mesmo um terceiro foro.

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Sendo assim, para dar conta de tantas relações jurídicas são essenciais

micro-sistemas jurídicos que se dediquem a regulamentação desse

âmbito. Há vasta porção de serviços e indústrias que compõe as

relações de comércio exterior e participam da logística de comércio

internacional. Logo, para que haja efetivo desenvolvimento e

aprimoramento das relações internacionais o Direito e a Economia

precisam manter constante diálogo e harmonia.

2 A HISTÓRIA DO SURGIMENTO DE NORMAS UNIFICADORAS DO

DIREITO: UM CAMINHO DA LEX MERCATORIA MEDIEVAL AOS

INCOTERMS ATUAIS

Sabe-se que partes que negociam internacionalmente estão alocadas

em Estados diversos, os quais possuem normas jurídicas próprias.

Assim, surge o seguinte questionamento: Qual ordenamento jurídico

deve ser utilizado como fundamento para um contrato firmado em tais

condições?

Primeiramente, para analisar tal problemática é necessário conhecer o

princípio da autonomia da vontade, o qual é conceituado por Maria

Helena Diniz como “o poder de estipular livremente, como melhor lhes

convier, mediante acordo de vontade, a disciplina de seus interesses,

suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica.”7

7� DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria das obrigaçõescontratuais e extracontratuais. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 40.

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Ainda, segundo Clóvis do Couto e Silva, a autonomia da vontade

significa a

possibilidade, embora não ilimitada, que possuem osparticulares para resolver seus conflitos de interesses, criar,associações, efetuar o escambo dos bens e dinamizar, enfim, avida em sociedade. Para a realização desses objetivos, aspessoas vinculam-se, e vinculam-se juridicamente, através desua vontade.8

Ou seja, no plano internacional como as partes possuem liberdade para

agir e para firmar os negócios sob os moldes que desejam, são elas

também responsáveis pela eleição do foro que terá competência para o

julgamento de eventuais embates, os quais podem surgir entre as partes

por conta de alguma negociação que fizeram.

Nesse sentido, podem as contratantes escolher como juízo habilitado

um dos países dos negociantes ou até mesmo um país terceiro. Ou

seja, em um negócio onde as partes são uma do Brasil e outra da

Inglaterra, podem elas eleger como foro competente Brasil, Inglaterra

ou, por exemplo, a Dinamarca.

Na tentativa, então, de solucionar a problemática de qual legislação usar

para fundamentar os negócios internacionais, foram designadas regras

de padronização, as quais quando são inseridas no contrato auxiliam

para que as partes do negócio entendam de forma mais inteligível quais

são as especificidades do negócio em questão.

8� COUTO E SILVA, Clóvis do. A obrigação como processo. São Paulo: Bushatsky, 1976. p. 17.

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De acordo com Cláudio Luiz Gonçalves de Souza,

[...] as relações comerciais internacionais contemporâneasexigem a formatação de um contrato entre o exportador e oimportador, seja para qualquer negócio; tornando-senecessária a fixação de fórmulas contratuais que visam,principalmente, fixar direitos e obrigações entre as partescontratantes.9

Nesse sentido, são usados atualmente os International Commercial

Terms - Termos Internacionais de Comércio, conhecidos como

Incoterms. São normas internacionais que tem como objetivo uniformizar

os fatores necessários para se desenvolver uma negociação e, assim,

criar harmonia nos contratos de comércio exterior.10

Os Incoterms, mais claramente, são siglas de três letras que

representam diferentes formas de definir quais os direitos e as

obrigações assumidas pelas partes que negociam uma compra e venda.

Tais termos são criados a partir das práticas usadas nos negócios

internacionais, dos costumes.

Ainda, são reguladas por meio desse sistema as relações jurídicas

desenvolvidas desde a origem do bens até o seu destino final. Contudo,

os efeitos dos Termos se restringem ao importador e ao exportador. Ou

seja, demais partes que eventualmente estejam de alguma forma

9� SOUZA, Cláudio Luiz Gonçalves de.A relevância dos INCOTERMS nas relaçõesnacionais e internacionais do comércio. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano17,n. 3111,7 jan.2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/20799>. Acessoem: 24 de agosto de 2018.10� FRANCO, Paulo Sérgio de Moura.Incoterms - Internacional CommercialTerms. Revista Jus Navigandi. ISSN 1518-4862, Teresina, ano 8, n. 61, 1 jan. 2003.Disponível em:<https://jus.com.br/artigos/3564>. Acesso em: 23 ago. 2018.

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presentes no processo como, despachantes e seguradoras, não estão

sujeitas a eles.

Ainda, vale ressaltar que, reger um contrato de comércio exterior sem

qualquer parâmetro significa onerar muito atividade e despender tempo

para que as partes discutam como desejam desenvolver o acordo. Logo,

ao utilizar os termos internacionais fica mais simplificada, econômica e

ágil a formulação das cláusulas acordos.

Acerca do tema, vale ressaltar que, os Incoterms não são utilizados de

forma compulsória. Na verdade, eles representam uma possibilidade,

uma espécie de proposta de acordo que pode ser utilizado para reger as

cláusulas contratuais do que é firmado entre o importador e o

exportador.

Vale lembrar apenas que, à luz do princípio do Pacta Sunt Servanda,

caso sejam incluídos nos contratos de compra e venda, os Incoterms

passam a ter força legal. Os contratos têm força obrigatória e são leis

entre as partes. Nesse sentido, de acordo com Maria Helena Diniz, o

princípio do Pacto Sunt Servanda se justifica porque “o contrato, uma

vez concluído livremente, incorpora-se ao ordenamento jurídico,

constituindo um a verdadeira norma de direito”..11

Ainda, para Cláudia Lima Marques, a vontade da parte tem força

plenamente vinculante e “uma vez manifestada esta vontade, as partes

11� DINIZ, Maria Helena.Tratado Teórico e Prático dos Contratos. Saraiva, SP,1993, vol 1. p.63.

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ficariam ligadas por um vínculo, donde nasceriam obrigações e direitos

para cada um dos participantes, força obrigatória esta, reconhecida pelo

direito e tutelada judicialmente.”12

Isso significa, então, que uma vez adotado os termos comerciais eles

passam a reger as relações das partes contratantes. Sua

implementação possui, então, relevância jurídica, social e econômica.

Tais termos são imparciais e começaram a ser estabelecidos desde

1936 pela Câmara de Comércio Internacional. Contudo, não é resultado

de discussões tão modernas. Tal prática de adotar normas

uniformizadoras entre contratantes residentes em lugares distintos

existe desde séculos atrás.

Durante a época medieval, os mercadores costumavam formular as

normas necessárias para reger os seus negócios mercantis. Então,

começou a formar-se a Lex Mercatoria, a qual estava fixada sob os

pilares da transnacionalidade e da necessidade de os próprios

mercadores gerenciarem as normas. Acerca disso, Douglas Alexander

Cordeiro elucida que

( . . . ) Lex mercatoria medieval era destinada a uma classeespecial de pessoas e em locais específicos, ou seja, aoscomerciantes em feiras, portos e mercados. Era distinta daslegislações locais (de feudos, reinos e mesmo dos sistemaseclesiásticos), sendo, portanto, transnacional. Possuía comofonte principal os usos e costumes do comércio internacional eera aplicada principalmente pelos próprios comerciantes.13

12� MARQUES, Cláudia Lima.Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 2ªed, RT, São Paulo, 1995. p. 93.

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Logo, nota-se que nessa época as regras se fundaram não no direito

estatal, mas sim nos estatutos das corporações e nas práticas

mercantis.

Na fase de fortalecimento dos Estados Modernos as normas formuladas

anteriormente foram introduzidas nos ordenamentos jurídicos das

nações. Contudo, ainda assim, retornaram enquanto normas válidas e

aplicáveis para além das fronteiras nacionais, característica semelhante

da Lex Mercatoria criada no medievo.

Por exemplo, na Inglaterra durante o século XV dominava o ideal de que

os mercadores não estavam submetidos, necessariamente, às leis de

seu país, mas sim, deveriam ser julgados de acordo com a lei natural,

ou seja, teriam de utilizar a Lex Mercatoria.14

Irineu Strenger, define Lex Mercatoria como “um conjunto de

procedimentos que possibilita adequadas soluções para as expectativas

do comércio internacional, sem conexões necessárias com os sistemas

nacionais e de forma juridicamente eficaz.”. 15

Ainda para Antonio Carlos Rodrigues do Amaral,

13� CORDEIRO, Douglas Alexander. Revista Brasileira de Direito Internacional.Curitiba, v.7, n.7, jan./jun.2008, p. 98. 14� LE PERA, Sergio.Common law y lex mercatoria. Buenos Aires: Astrea, 1988.p.14.15� STRENGER, Irineu.Direito do comércio internacional e lex mercatoria. São Paulo: Ltr, 1996. p. 78.

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16

A lex mercatoria não compete com a lei do Estado, nemconstitui direito supranacional que derroga o direito nacional,mas é um direito adotado, sobretudo, na arbitragem comercialinternacional ou outra forma de resolução de controvérsias, adlatere do sistema estatal.16

Assim, percebe-se que no contexto do comércio exterior, a Lex

Mercatoria representa uma prática muito interessante para fomentar as

relações comerciais e as tornarem mais simples, sem muitos entraves e

até mesmo sem tanta interferência estatal nos negócios privados. Ou

se j a , a Lex Mercatoria está intimamente ligada aos fatores de

dinamismo e a flexibilidade que os negócios comerciais internacionais

necessitam.

Por conta de todo o exposto, é possível inferir que os Incoterms se

inserem como parte da Nova Lex Mercatoria, ou seja, da organização de

normas que tem a finalidade de unificar o direito para que, em um

contexto tão globalizado, haja regulamentação dos negócios comerciais

a serem firmados.

3 A UTILIZAÇÃO DOS INCOTERMS NA PRÁTICA DOS CONTRATOS

INTERNACIONAIS

Uma vez que são incluídos os Incoterms nos contratos de compra e

venda, apenas observando a expressão do termo que fora escolhido, as

partes negociantes conseguem antever quais são seus direitos e

16� AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do. Direito do Comércio Internacional. 3ªed. OAB/SP

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17

obrigações no negócio. Desta forma, há melhor e mais precisas

informações sobre a divisão de gastos, responsabilidades acerca de

promoção de documentações e quanto as condições de entrega dos

produtos.

Entretanto, insta salientar que ainda que os Incoterms regulem diversos

aspectos dos negócios comerciais, não normatizam eles o modo como o

pagamento deve ser realizado ou o preço das mercadorias. Ainda, não é

capaz de reger as consequências em caso de descumprimento de

cláusulas contratuais ou as regras acerca de como ocorrerá a

transferência de propriedade da mercadoria.

3.1 CRONOLOGIA DE CRIAÇÃO DOS INCOTERMS

Ao longo dos anos foram feitas pela International Chamber of

Commerce (ICC), - Câmara de Comércio Internacional (CCI) diversas

versões dos Incoterms. A primeira delas foi feita em 1936, fruto de

interpretações e assentamentos de muitas modalidades de contratos

que eram na época utilizadas nos contratos de comerciais

internacionais. Ou seja, a CCI, com sede em Paris, analisou costumes e

práticas negociais para estabelecer a primeira relação dos de Termos

Internacionais de Comércio.17

17� INCOTERMS 2000:Regras oficiais da ICC para a interpretação de termoscomerciais = ICC oficial rules for the interpretation of trade terms, coordenaçãoJoão dos Santos Bizelli; tradução Elizângela Batista Nogueira, Samir Keedi – SãoPaulo Aduaneiras, 2000.

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18

Os Incoterms, a princípio, foram aplicados em setores limitados. Isso

significa que, eles apenas eram utilizados nos contratos firmados no que

concerne a transportes entre diferentes países, nas modalidades

terrestres e marítimos. Contudo, a partir do ano de 1976 os Termos

passaram a ser implementados também nos contratos de translados

aéreos.

Contudo, posteriormente, surgiu a necessidade de se compatibilizar os

termos internacionais de comércio com o surgimento das sistemáticas

intermodais de transportes que se valem do método de unitização do

carregamento. Por conta disso, em 1980, foram formulados mais dois

Incoterms para atender a tal demanda.

Em 1o de janeiro de 2000 entraram em vigor novos e mais simples

Incoterms. Essa versão é mais clara do que as anteriores e foi criada no

contexto de crescentes formulações de zonas de livre comércio, com o

aumento, também, do uso de transmissões eletrônicas nas relações

comerciais, bem como mediante as mutações que ocorriam no setor de

transporte de produtos.18

18� DOMINGUES. Nadeja V.S. e GODINHO. Vagner.Os Incoterms 2010 e auniversalização do uso de condições gerais de venda padronizadas emcontratos de compra e venda internacional de mercadorias. Disponível em:http://www.utp.br/tuiuticienciaecultura/ciclo_4/tcc_44_FACSA/pdf's_44 /art5_os_incoterms.pdf. Acesso em: 24 de agosto de 2018.

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19

A mais nova versão dos Incoterms foi estruturada no ano de 2010 e

passou a vigorar em 01 de janeiro de 2011 por meio da Publicação

número 715E da Câmara de Comércio Internacional.19

A versão mais recente acrescentou dois novos termos aos que existiam

no arquivo anterior, bem como deixou de inserir quatro que estavam

presentes, quais sejam: DAF (Delivered At Frontier) - Entregue na

Fronteira, DES (Delivered Ex–Ship) - Entregue no Navio, DEQ

(Delivered Ex–Quay) – Entregue no Cais, DDU (Delivered Duty Unpaid)

– Entregue Direitos Não pagos. Assim, no total existem, nessa versão

mais atual, onzes Termos.

3.2 A CLASSIFICAÇÃO DOS INCOTERMS POR NÍVEL CRESCENTE

DAS OBRIGAÇÕES DO EXPORTADOR

Os Incoterms podem ser agrupados em categorias de acordo o grau de

obrigações do importador na negociação. Ou seja, essa separação é

realizada de forma crescente desde modalidades onde há menos

deveres do vendedor até aquelas que contam com robustas

responsabilidades de tal parte contratual.

Os Incoterms presentes na versão de 2010 se segmentam em quatro

grandes categorias distintas. A primeira delas é a “E”, de “Ex”, que é a

partida mínima de obrigação para o exportador.

19� BRASIL. Ministério do Desenvolvimento.Termos Internacionais De Comércio.em:< http://www.mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/id/273>Acesso em: 24 de agosto de 2018.

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20

Isso significa que a parte compradora no negócio é a responsável pelos

riscos provenientes do processo de retirada das mercadorias do

estabelecimento comercial do vendedor, bem como pelas despesas

referentes a todos os custos envolvidos no processo. Ou seja, nesse

caso, a mercadoria é disponibilizada no estabelecimento do vendedor, é

entregue ali.20

A segunda grande categoria existente dos Incoterms é a “F”, de “Free”.

Em tal modalidade o principal translado não é pago pelo exportador, ou

seja, o comprador dos produtos é o responsável por designar um

transportador internacional, ao qual serão as mercadorias entregues.

Sendo assim, os deveres da parte vendedora se encerra a partir do

momento em que transfere a tal transportador os itens.21

A terceira grande categoria, por sua vez, é a “C”, de “Cost” ou de

“Carriage”, qual seja, em que o transporte principal é pego pelo

exportador. Nessa modalidade, então, o vendedor até é o responsável

por contratar o translado.

Contudo, não é ele quem assume os riscos em caso de extravio, ou de

avaria das mercadorias, bem como de eventuais custos extras que

podem ser necessários após os procedimentos de embarque e

despacho. Isto posto, o vendedor negocia e custeis para que o fretador

para quele transporte os itens até o local indicado. 22

20� ROBLES, Léo Tadeu. Logistica internacional. Rio de Janeiro: SESES, 2015. p. 55.21� Ibid, p. 57.22�Ibid, p. 58.

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21

A última grande família é a “D”, de “Delivery”, que significa que é na

chegada, ou seja, é a maior obrigação existente para aquele que está

enquanto exportador. Nesse caso, diferentemente das demais

categorias supramencionadas, o vendedor é que assume as despesas

existirem e os riscos que forem assumidos para se alocarem os

produtos até o seu destino. 23

Logo, o importador tem o dever de entregar os itens negociados no

estabelecimento apontado previamente pela outra parte e, arca ele

(importador) com todos gastos para isso seja efetivado e se

responsabiliza pelos riscos de modo integral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todo o exposto, é possível concluir que estamos inseridos em um

contexto globalizado, no qual as relações mercantes ocorrem de forma

constante entre partes oriundas de diferentes nações. Tal situação cria

uma complexa crise acerca relações jurídicas envolvidas no comércio

exterior e nas logísticas internacionais.

Nesse sentido, surgem os Termos Internacionais de Comércio como

normas de caráter geral, não subordinadas a legislações internas dos

países. Eles têm a finalidade de uniformizar regras sobre as quais se

baseiam os negócios comerciais firmados internacionalmente.

23� ROBLES, Léo Tadeu. Logistica internacional. Rio de Janeiro: SESES, 2015. p. 58.

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Dessa forma, há maior simplicidade na elaboração das cláusulas

contratuais, o que facilita a interpretação das partes negociantes sobre

seus direitos e deveres, bem como torna mais fácil o solucionamento de

conflitos advindos do negócio.

A última versão dos termos passou a vigorar a partir de 2011 e trouxe

onze modalidades distintas de Incoterms. Cada um deles indica o ponto

onde serão transferidas as responsabilidades pelas mercadorias do

vendedor ao comprador, qual das partes deve firmar o contrato de

transporte, quem deve arcar com custos de logística e de administração

em cada fase do processo, qual deles é o responsável por providenciar

documentações, embalagens e etiquetas.

Contudo, é necessário que aqueles que desejam explorar o mercado

internacional e realizar comércio exterior, tanto na posição de exportador

quanto na de importador conheçam os Incoterms e as peculiaridades de

cada um deles para que utilize aquele mais adequado a sua realidade.

Para se escolher um Incoterm é preciso ter atenção a diversos fatores,

tais como: o tipo da mercadoria que será enviada; o meio de transporte

que será utilizado para o transporte; e o tipo da organização das

empresas que estão negociando;

Isso significa que não é interessante, que movidos pelos benefícios da

inclusão dos Incoterms nos contratos, os comerciantes internacionais

utilizem de forma precipitada e desinformada as siglas sem todos os

conhecimentos sobre seus significados. É importante que os

negociantes tenham certeza de suas pretensões, ciência de quais são

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suas responsabilidades em cada um dos tipos de Incoterms e se tem

capacidade de arcar com elas.

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REFERÊNCIAS

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