os sete saberes necessÁrios a educaÇÃo do “presente” em ... · pessoas?” (fala 1) palavra...

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1 OS SETE SABERES NECESSÁRIOS A EDUCAÇÃO DO “PRESENTE” EM FOCO: VIVÊNCIAS DA ESCUTA PEDAGÓGICA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida (Orientadora) Profa. Ms. Helena de Lima Marinho Rodrigues Araujo RESUMO Esta pesquisa teve como locus a Universidade Estadual do Ceará – UECE, no turno da noite (horário da disciplina de Didática ministrada pela Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida) no dia 01 de julho de 2010, teve a duração de duas horas e meia em que participaram 17 alunos do Curso de Biologia Licenciatura. Adotou-se a metodologia do Círculo de Diálogo, com base na proposta de Paulo Freire, onde se evidenciou, através do Círculo de Cultura, a fala dos participantes do grupo, bem como a escuta ativa. Os resultados apontaram para uma educação do presente que seja solidária e humanista, para a cidadania, que leve à consciência de diretos e deveres, como também, libertadora e construtora dos conhecimentos que não seja reprodutivista, mas interdisciplinar associada à vida das pessoas. Palavras-chave: círculo de cultura, saberes e educação do presente 1. Introdução A pesquisa aqui desenvolvida teve como locus a Universidade Estadual do Ceará – UECE, no turno da noite (horário da disciplina de Didática ministrada pela Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida) no dia 01 de julho de 2010, que teve a duração de duas horas e meia em que participaram 17 alunos do Curso de Biologia Licenciatura. O principal foco foi os setes saberes propostos para educação do futuro/presente enunciados por Morin, quando em 1999, Federico Mayor, presidente da UNESCO, lhe solicitou que expusesse suas idéias sobre educação do amanhã. Assim, esta pesquisa tem por objetivo analisar o sentido dos setes saberes, atribuídos pelos sujeitos participantes da pesquisa, bem como perceber como os sete saberes estão

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OS SETE SABERES NECESSÁRIOS A EDUCAÇÃO DO “PRESENTE” EM FOCO: VIVÊNCIAS DA ESCUTA PEDAGÓGICA NA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida (Orientadora) Profa. Ms. Helena de Lima Marinho Rodrigues Araujo

RESUMO

Esta pesquisa teve como locus a Universidade Estadual do Ceará – UECE, no turno da noite (horário da disciplina de Didática ministrada pela Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida) no dia 01 de julho de 2010, teve a duração de duas horas e meia em que participaram 17 alunos do Curso de Biologia Licenciatura. Adotou-se a metodologia do Círculo de Diálogo, com base na proposta de Paulo Freire, onde se evidenciou, através do Círculo de Cultura, a fala dos participantes do grupo, bem como a escuta ativa. Os resultados apontaram para uma educação do presente que seja solidária e humanista, para a cidadania, que leve à consciência de diretos e deveres, como também, libertadora e construtora dos conhecimentos que não seja reprodutivista, mas interdisciplinar associada à vida das pessoas.

Palavras-chave: círculo de cultura, saberes e educação do presente

1. Introdução

A pesquisa aqui desenvolvida teve como locus a Universidade Estadual do

Ceará – UECE, no turno da noite (horário da disciplina de Didática ministrada pela

Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida) no dia 01 de julho de 2010, que teve a

duração de duas horas e meia em que participaram 17 alunos do Curso de Biologia

Licenciatura.

O principal foco foi os setes saberes propostos para educação do

futuro/presente enunciados por Morin, quando em 1999, Federico Mayor, presidente da

UNESCO, lhe solicitou que expusesse suas idéias sobre educação do amanhã. Assim,

esta pesquisa tem por objetivo analisar o sentido dos setes saberes, atribuídos pelos

sujeitos participantes da pesquisa, bem como perceber como os sete saberes estão

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presentes na linguagem e, até que ponto, aproximam-se ou distanciam-se do ideal de

educação pertinente para o tempo presente.

Para tanto, adotou-se como metodologia o Círculo de Diálogo, com base na

proposta de Paulo Freire, onde se evidencia, através do Círculo de Cultura, a fala dos

participantes do grupo, bem como a escuta ativa.

Antecipadamente foram preparadas as fichas com as palavras geradoras,

baseadas nos sete saberes propostos por Morin (2000), e adotou-se como critério o

dobro da quantidade de participantes (17), dessa forma, utilizou-se 34 fichas.

Os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos a partir das

orientações para os círculos de conversa: 1) divisão do grupo em dois grupos

concêntricos, o “de dentro”, a princípio para explicitação e o “de fora” para escuta ativa

e 2) o grupo “de dentro” foi convidado, inicialmente, a fazer a leitura das fichas

expostas para em seguida, um a um escolher sua(s) ficha(s), cujas palavras lhes

tocassem pelo conteúdo intelectual, emocional, cultural, político ou outros.

É oportuno esclarecer que para facilitar a expressão vocal dos participantes,

foi explicado que os mesmos podiam falar livremente, sem preocupação de errar ou

acertar já que, naquele momento, se valorizava a livre expressão, a fala relacionada às

vivências cotidianas, aos conhecimentos práticos e à intuição. Durante toda a vivência

dos círculos de diálogo, procurou-se evidenciar os princípios de respeito e o

acolhimento à palavra proferida pelos participantes. Foi orientado, também que, depois

da fala, cada participante deveria associar a palavra geradora escolhida e fazer a

conexão com as outras que já haviam sido escolhidas e colocadas no círculo.

Os participantes não manifestaram resistência e falaram como lhes

convinham. Sempre demonstrando seriedade e envolvimento com a pesquisa proposta.

O passo seguinte, num ambiente de calma e leveza, os grupos foram convidados a

mudar de posição e mais uma vez se falou do papel de cada grupo, sendo que , desta

feita, trocariam a função. Qual seja: o então “grupo de fora” iria exercitar a escuta ativa

e o “grupo de dentro” iria explicitar o resultado do que lhe tocasse em relação às

palavras geradoras expostas nas fichas.

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Esclareceu-se aos participantes que eles poderiam escolher palavras já

evidenciadas pelos colegas, que não havia necessidade de preocupação em relação a

escolher as palavras geradoras repetidas. Tendo realizado os movimentos da vivência

em relação a fala e à escuta, os dois grupos “o de dentro” e o “de fora” foram chamados

a fazer uma síntese sobre o que haviam conversado, ouvido, falado, a partir das fichas

situadas no centro do círculo. Para tanto, o grupo escolheu representantes para dar

forma à figura que fosse capaz de representar a síntese do grupos.

Depois da expressão oral e escuta ativa dos grupos, foi solicitado que

apontassem idéias sobre os saberes pertinentes para o presente, qual o ideal de

educação. Para o registro das falas foi utilizado, no momento da vivência, um gravador,

além de anotações. No preenchimento da escuta, os registros das falas foram tomados

na íntegra, tal qual explicitado por cada participante. O passo seguinte foi a análise das

falas, tomando-se como principal referência o livro: Os sete saberes necessários à

educação do futuro (MORIN, 2000).

2) Detalhamento da escuta pedagógica

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Neste tópico são apresentadas as transcrições das falas dos participantes,

tendo como referência as palavras geradoras escolhidas pelos mesmos, a imagem síntese

e a proposta de educação considerada pertinente pelo grupo ao final da vivência do

círculo de diálogo. Essa seqüência se deu seguindo o processo vivenciado e também

tendo em vista facilitar as análises e as devidas referências, quando necessário.

2.1) Grupo de Dentro

Palavra geradora: Consciência Terrena

“Eu procuro vivenciar na graduação de biologia essas duas palavras. Eu lembrei o seguinte: nós, como, pertencente à espécie humana, não somos os únicos seres vivos desse planeta. Existem outros seres vivos, que da mesma forma que nós merecem respeito e, acima de tudo, merecem viver no nosso planeta do mesmo jeito que nós também vivemos. Precisamos preservar o ser humano, os seres vivos, o ambiente e nós mesmos. Foi o que me chamou atenção. Solidariedade é uma coisa tão bonita de dizer que você é. Mas na hora de ser mesmo de depositar 5 reais na conta de quem esta precisando de ajuda. Você é solidário com os seus pais ou é só para mostrar pena às pessoas?” (fala 1)

Palavra geradora: Qualidade de vida das pessoas

“O ser humano é a única espécie que produz erros, que acaba dizimando a qualidade de vida pelos próprios erros. O ser humano está fazendo com que a terra fique inabitável, acabando com a vida não só dele mas de muitos outros.” (fala 2)

“Vamos pegar aqui a qualidade de vida sobre outro ponto de vista, não biológico. Vamos tentar vê de um lado assim mais social né? Essa qualidade de vida é interpretada de varias maneiras. Cada um com suas palavras. Eu acho que essa qualidade de vida, o que poderia entrar dentro dessa palavra? O que significa viver com qualidade? Ter saúde, viver economicamente bem, ter segurança, viver com harmonia com as pessoas ao seu redor? Vê bem a realidade de cada pessoa, de outras pessoas que estão ao nosso redor, 99% das pessoas ou 100% não tem qualidade de vida. Não tem 100% de qualidade de vida, do que ela necessita, do que ela merece. Mas dá para as pessoas ter um pouco. Essa qualidade de vida engloba isso tudo e algumas pessoas sem acesso a ela, à saúde, à educação. Sem acesso a ela por não ter oportunidades. Outros já não têm acesso aos estudos. Dá para passar umas duas horas falando, sobre isso, sobre essa palavra né?” (fala 3)

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Palavra geradora: Compreender a diversidade

“Escolhi essa palavra não só por ser bióloga pela vontade de preservar o que é nosso, proteger o nosso meio ambiente, mas pela vontade de proteger o ser humano, que tem esperança que as coisas melhorem.” (fala 4)

Palavra geradora: Relações humanas e solidarias “Acredito que ainda não foi trabalhado a solidariedade nas relações humanas, né? E assim que li esse trechinho me deu um estalo: o que é a educação se não a solidariedade? Eu acho que é quando se está na sala de aula não só por dinheiro, não só pelo dinheiro, não só pela paixão, estragando tempo. Eu estava ouvindo uma conversa, uma mãe conversando - é necessário que você eduque decisões a serem tomadas pela pessoa. Ai isso demanda uma solidariedade que você tem que ter – você precisa dar seu tempo, pra ta ensinando a pessoa todo o processo e não fazer pela pessoa mas por solidariedade. E outra coisa, que eu lembrei aqui e fiquei pensando assim: é que a questão da solidariedade é muito exposta nas catástrofes naturais e ali todo mundo se liga no próximo e você desliga a televisão vai pra fila do terminal, sai empurrando todo mundo,não quer saber se tem criança, idoso. E ai é interessante uma discussão num momento que for propicio né? É rever essa abstração esse conceito: o que é solidariedade? “ (fala 5)

Palavra geradora: Respeito a diversidade

“É mais que a diversidade biológica, é a diversidade animal também, um pouco da preservação da proteção. Mas também respeito para com cada pessoa seu pensamento a sua religião, a orientação sexual. E cada vez mais estão mais abertas a esse tipo de coisa e não totalmente 100%. Mas eu acho que deve haver uma maior abertura ainda nesse aspecto. Você não pode exigir respeito a si, se você não considera a opinião ou o jeito de ser da outra pessoa. Você não tem direito de exigir respeito, se você não respeita o outro em qualquer sentido e você consegue ver melhor as pessoas”. (fala 6)

Palavra geradora: Dialogo “Eu escolhi o dialogo porque se encaixa nas outras palavras escolhidas e, principalmente, na qualidade de vida. Porque sem o dialogo é quase impossível conviver amigavelmente. Você tem que aprender a escolher as palavras para dialogar melhor. Assim é possível fazer uma sociedade mais justa, com consciência terrena, como ele falou para gente viver melhor no dialogo também a gente consegue respeitar e conversar de forma bem franca. Isso é o básico.” (fala 7)

Palavra geradora: Cegueira do conhecimento

“Eu queria só tomar esse pensamento de proteger a diversidade. Muita gente não tem consciência do que é o meio ambiente do que ele pode proporcionar,

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o que dele se pode levar e quais os seus limites, porque muita gente vive sem conhecimento. Isso é cegueira de conhecimento. Eu acho que falta muito conhecimento sobre isso.” (fala 8)

2.2) Grupo de fora

Palavra geradora: Cegueira do conhecimento

“É como se a pessoa estivesse sozinha,fechada para aprender sobre a nossa realidade, sobre novos conhecimentos. Ela estaria cega ao conhecimento. Talvez falta a compreensão intelectual”. (fala 9)

Palavra geradora: Dialogo

“Acredito eu que na sociedade em que vivemos, está havendo um grande avanço em relação a época de nossos pais, em que não havia muito dialogo, era meio ditatorial, funciona tudo no sim é sim e não é não, sem questionamentos. Hoje em dia, através do dialogo estamos rompendo questões sobre diversidade sexual, cultural de vários modos. Eu acredito que o dialogo vem trazendo avanços nesse sentido”. (fala 10)

Palavra geradora: Relações humanas

“Por que hoje em dia não se trata de viver por viver, mas. Principalmente, exercitar a qualidade de vida, principalmente, se cuidar mais e dos outros que convivem conosco. Ter saúde também é ter relações menos conflituosas com as pessoas. Para isso é preciso aprender o respeito a piedade o ficar no lugar do outro. Colocar o poder para servir e não para oprimir”. (fala 11)

Palavra geradora: Futuro imprevisível

“É uma palavra que persegue agente aqui na faculdade onde você vai passar quatro, cinco anos e mesmo assim, com uma formação imprevisível porque que a sociedade não vai absorver todos esses profissionais que estão na faculdade. seguindo o capitalismo segundo o que eles ditam só os melhores, os melhores conseguem um lugar ao sol. Eu não sei como é. Se são melhores para sociedade ou para o lucro para os empresários. Então agente fica sempre nessa reflexão desse futuro. Se a gente vai fazer um mestrado, um doutorado, um concurso, como a gente vai ganhar dinheiro, se vai estar satisfeito, se isso vai influenciar na minha qualidade de vida nas minhas relações. Existe um dialogo uma idéia absorvida na universidade que agente absorve sem pensar muito para a gente ficar confortável ou conformado não pensar nesse futuro imprevisível”. (fala 12)

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Palavra geradora: Cidadania terrestre

“Porque eu acho que está associada com a democracia. Eu vejo que hoje em dia as pessoas não se enganam só com as atividades sociais das ONGS por elas terem descrédito. O governo tem por obrigação fazer pelas. Geralmente as pessoas não tem consciência de cidadania e como elas vem o desenvolvimento social ações bem mais aprofundadas bem mais eficientes, a atuação delas é bem mais eficiente do que a do próprio governo, essa experiência não deveria tirar o dever dos partidos políticos mesmo o dever do estado. deveria ser um reforço para melhorar e eu acho que essa palavra esta relacionando também a cegueira do conhecimento”. (fala 13)

Palavra geradora: Compreender a diversidade

“Eu acho que hoje em dia é muito importante você aceitar as diferenças, você ter uma abertura a respeito de determinados temas, determinadas opiniões. Você acreditar que não é apenas a sua ideologia que é a correta a ideologia mais certa. Você ser uma pessoa mais maleável à opiniões dos outros, ter uma ampla visão. Eu acho que é com visões diferentes que a gente pode chegar perto de uma verdade mais concreta, principalmente nas ciências. Abrir mais a mente”. (fala 14)

Palavra geradora: Consciência terrena

“É o que a sociedade esta precisando em diversos aspectos, seja no profissional, no pessoal na relação com outros seres humanos e com a natureza. A gente perde um pouco essa característica de ser pessoa consciente em relação aos outros às diversas espécies que com a gente habita a terra. Assim temos que parar e refletir o mundo não tava tão embaralhado como esta hoje em dia, as pessoas não demonstram consciência do que estão fazendo, numa profissão por exemplo a gente tem que ter consciência de qual o objetivo da nossa profissão e procura realizar as coisas da melhor forma possível e tudo na nossa vida”. (fala 15)

Palavra geradora: Respeito à diversidade

“Eu acho que falta respeito ao próximo tentar compreender as diversas opiniões escolhas religiões é muito discutido isso, mas pouco se faz. Pessoas falam em solidariedade respeito ao próximo, mas na hora de pegar uma fila empurra pessoa do mesmo jeito que você quer entrar outras também querem não é praticado como deveria. (fala 16)

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Palavra geradora: Futuro imprevisível

“A questão ecológica, em relação ao ser humano, em estar preocupado com o que estar por vir a questão do meio ambiente, eu nem ligava. Quando eu fazia a 5ª e 6ª serie estava conversando com meus amigos e eles diziam: olha se vocês não tiveram cuidado a camada de ozônio tá diminuindo, vai diminuir. Só que eu pensava que seria em 50 anos, 30 anos. Em relação ao meio ambiente à poluição eu não os via assim tão perto de mim. Não sentia uma coisa tão próxima em relação à catástrofes. E agora está ai. Eu pensava que fosse acontecer daqui a muito tempo e é uma coisa que estou sentindo muito próximo. É a minha realidade, a nossa realidade. Eu acredito que a sociedade esta guiando as nossas relações tanto entre seres humanos quanto com o meio ambiente. No geral tá fazendo com que não tenhamos uma certeza do que tem por vir”. (fala 17)

3. Imagem Síntese

4. Proposta de educação do grupo

“Queremos uma educação que leve apensar no outro, solidaria e humanista, para a cidadania, que leve à consciência de diretos e deveres, que considere a pessoa em todas as suas dimensões priorizando a qualidade de vida de todo ser vivo, educação ampla que não tenha visão limitada que considere a sociedade, o ser humano e a natureza, que seja libertadora construtora dos conhecimentos, que não seja reprodutivista, mas interdisciplinar associada à vida das pessoas”.

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5. Análise e avaliação da escuta pedagógica

No grupo de alunos da licenciatura em Biologia, de acordo com as fichas

preenchidas, todos afirmaram não conhecer a obra Os sete saberes. Iniciamos a analise

dos resultados da pesquisa com essa informação por considerar que os participantes não

manifestam dificuldade em explicar idéias, emoções e perspectivas de ações

relacionadas ao que propõe Morin como saber pertinente para o presente, embora sem

se dar conta disso. Essa constatação leva a pensar que de, alguma forma, a proposição

de Morin já se faz presente entre os participantes deste grupo. Considerando-se, ainda, a

relevância deste fato para educação presente e futura já que se trata de um grupo

formado por alunos de licenciatura em Biologia, professores e professoras em potencial

e em processo de formação.

A maior quantidade de palavras geradoras escolhida pelo grupo foram

associadas “a ética do gênero humano”, qual sejam: respeito a diversidade; proteger a

diversidade; dialogo e cidadania terrestre, sendo o respeito a diversidade escolhida duas

vezes, proteger a diversidade duas vezes. A aproximação das falas com que propõe

Morin pode ser constatada analisado-se as falas manifestadas pelas pessoas do grupo

pesquisado.

Na fala 1 é possível identificar o que Morin denomina pertencimento

mutuo (2000, p.75-76),em especial quando o participante se referindo à “consciência

terrena”, diz: “nós, como, pertencente à espécie humana, não somos os únicos seres

vivos desse planeta. Existem outros seres vivos, que da mesma forma que nós, merecem

respeito e, acima de tudo, merecem viver no nosso planeta do mesmo jeito que nós

também vivemos. Precisamos preservar o ser humano, os seres vivos, o ambiente e nós

mesmos”. Em seguida, o mesmo participante destaca a solidariedade, a necessidade se

vivenciar a solidariedade uma atitude coerente com a consciência terrena quando se

trata do aprendizado de aprender a estar no planeta terra junto com outros, aprendendo a

conviver. O mesmo sentimento\pensamento parece se refletir também na fala 15,

quando o outro participante escolhe a mesma palavra geradora e faz comentários na

mesma perspectiva da fala 1.

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Na fala 15 é possível, ainda, perceber uma maior integração de sentimento,

conhecimento e ação. O participante manifesta seu sentimento de insatisfação com o

mundo, reflete a respeito do como deveria ser a convivência e aponta um devir em

relação ao fazer profissional. Quando se fala na necessidade de aprender a condição

humana, esta integração, conhecimento, sensibilidade e ação se torna imprescindível em

qualquer esfera da vida. Quando o participante diz “é preciso realizar as coisas da

melhor forma possível” nos faz refletir sobre a idéia de que as pessoas realizam coisas

num contexto e vão dando sentido a essas coisas consolidando cultura, junto com

outros. Isso parece remeter à idéia da tríade bioantropológica: cérebro/mente/cultura que

são instâncias antagônicas e, ao mesmo tempo complementares (MORIN: 2000, p.53)

Nas falas 6 e 16, os participantes enfatizam suas idéias sobre o respeito à

diversidade. Enquanto o primeiro faz referência ao que seria esse respeito, o outro

argumenta a necessidade de que se pratique este respeito. As falas trazem a idéia de

respeito à diversidade não só associada aos humanos, mas a todas as espécies, assim

como às diferentes opiniões religiões, expressões e orientações sexuais, como diz

Morin:“o respeito à diversidade significa que a democracia não pode ser identificada com a ditadura da maioria sobre as minorias; deve comportar o direito das minorias e dos contestadores à existência e à expressão, e deve permitir a expressão das idéias heréticas e desviantes. Do mesmo modo que é preciso que é preciso proteger a diversidade das espécies para salvaguardar a biosfera, é preciso proteger a diversidade de idéias e opiniões”[...] (2000: p. 108)

Na mesma perspectiva das falas anteriores estão, também, as falas 4 e 14

referindo-se à compreender a diversidade. Sendo que a 4 destaca o cuidado e a própria

vontade de proteger o ser humano e o planeta, demonstrando sensibilidade direcionada

para um fazer direto, pautado “ na esperança de que as coisas melhorem”.

Compreendemos que é assim que “A consciência de nossa humanidade nesta era

planetária deveria conduzir-nos à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo

para indivíduo, de todos para todos”. (MORIN: 2000, p.78) A fala 14 ressalta a

abertura , maleabilidade em relação a aceitar o diferente e a ampliar a visão de mundo o

que caracteriza “a verdadeira racionalidade que conhece os limites da lógica, do

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determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana não poderia ser onisciente,

que a realidade comporta mistério”. (MORIN: 2000, p.23).

Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. 11 ed. SP: Brasiliense, 1986.

CAVALCANTE, Ruth. A educação biocêntrica dialogando no círculo de cultura. Revista Pensamento Biocêntrico. Pelotas - nº 10 jul/dez 2008 (p. 96-125)Disponível em http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/revista-10-06.pdf

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, DF: UNESCO, 2000.

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ESQUEMA DO POSTER

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS A EDUCAÇÃO DO “PRESENTE” EM FOCO: VIVÊNCIAS DA ESCUTA PEDAGÓGICA NA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

Profa. Dra. Ana Maria Bezerra de Almeida (Orientadora)

Profa. Ms. Helena de Lima Marinho Rodrigues Araujo

1. Introdução (justificativa, objetivos e metodologia)

2. Detalhamento da escuta pedagógica

3. Considerações finais (Análise e avaliação da escuta pedagógica)

4. Referências

5. Fotos (distribuídas no painel)