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OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS PRODUZIDOS POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Paulo Ricardo Soares PEREIRA [email protected] Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE Universidade Federal de Campina Grande Maria Augusta Gonçalves de Macedo REINALDO [email protected] Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE Universidade Federal de Campina Grande A intenção do texto dissertativo-argumentativo é convencer o receptor das ideias apresentadas pelo autor, logo, o reconhecimento e a utilização adequada em um texto ou sequência textual, de um operador argumentativo que indique ou mostre a força argumentativa do enunciado, assim como promova a continuidade linguístico-temática, é fundamental para o produtor de texto que busca uma efetiva progressão/coesão textual desde o nível semântico, linguístico até o contextual. Esse reconhecimento e adequação de uso se torna relevante principalmente quando a articulação desses elementos é critério de avaliação em provas, processos seletivos, vestibulares, concursos e exames, como o Exame Nacional no Ensino Médio (ENEM). Este trabalho tem como objetivo averiguar o comportamento dos operadores argumentativos na organização textual de redações. Fundamenta-se nos aportes teóricos da Linguística Textual, a saber nos apontamentos de Koch (1984, 2015, 2016). O corpus é constituído de redações de alunos do 3° ano do Ensino Médio, de uma escola da rede estadual de ensino, situada na cidade de Campina Grande-PB. Foram analisadas as recorrências dos operadores argumentativos, bem como os efeitos de sentido que esses recursos argumentativos assumem em textos da ordem do expor e do argumentar, contribuindo para adesão ou não do interlocutor às ideias propostas. Os dados revelam que um texto semanticamente bem elaborado exige, por parte do usuário da língua, uma seleção adequada de elementos argumentativos a partir do repertório de que se dispõe. Assim, a tradição de descrever apenas a estrutura presente na norma padrão por si só não é mais suficiente. É necessário levar os alunos a refletirem sobre a língua em uso, o que contempla também os operadores argumentativos. Palavras-chave: Operador Argumentativo. Articulação e Progressão Textuais. Argumentação. Texto dissertativo-argumentativo.

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OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS

DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS PRODUZIDOS POR ALUNOS DO

ENSINO MÉDIO

Paulo Ricardo Soares PEREIRA

[email protected]

Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE

Universidade Federal de Campina Grande

Maria Augusta Gonçalves de Macedo REINALDO

[email protected]

Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE

Universidade Federal de Campina Grande

A intenção do texto dissertativo-argumentativo é convencer o receptor das ideias

apresentadas pelo autor, logo, o reconhecimento e a utilização adequada em um texto ou

sequência textual, de um operador argumentativo que indique ou mostre a força

argumentativa do enunciado, assim como promova a continuidade linguístico-temática,

é fundamental para o produtor de texto que busca uma efetiva progressão/coesão textual

– desde o nível semântico, linguístico até o contextual. Esse reconhecimento e

adequação de uso se torna relevante principalmente quando a articulação desses

elementos é critério de avaliação em provas, processos seletivos, vestibulares, concursos

e exames, como o Exame Nacional no Ensino Médio (ENEM). Este trabalho tem como

objetivo averiguar o comportamento dos operadores argumentativos na organização

textual de redações. Fundamenta-se nos aportes teóricos da Linguística Textual, a saber

nos apontamentos de Koch (1984, 2015, 2016). O corpus é constituído de redações de

alunos do 3° ano do Ensino Médio, de uma escola da rede estadual de ensino, situada na

cidade de Campina Grande-PB. Foram analisadas as recorrências dos operadores

argumentativos, bem como os efeitos de sentido que esses recursos argumentativos

assumem em textos da ordem do expor e do argumentar, contribuindo para adesão ou

não do interlocutor às ideias propostas. Os dados revelam que um texto semanticamente

bem elaborado exige, por parte do usuário da língua, uma seleção adequada de

elementos argumentativos a partir do repertório de que se dispõe. Assim, a tradição de

descrever apenas a estrutura presente na norma padrão por si só não é mais suficiente. É

necessário levar os alunos a refletirem sobre a língua em uso, o que contempla também

os operadores argumentativos.

Palavras-chave: Operador Argumentativo. Articulação e Progressão Textuais.

Argumentação. Texto dissertativo-argumentativo.

1 INTRODUÇÃO

Os Operadores Argumentativos – O. A. pertencem à gramática da língua,

veiculam e direcionam variados sentidos, porém são tratados pela tradição gramatical,

em alguns casos, como elementos periféricos. Advérbios, conjunções e locuções

conjuntivas, além das chamadas palavras expletivas, ou denotativas. Koch (1984)

aponta para a força argumentativa de tais palavras, a despeito da relativa

desconsideração que recebem da tradição.

A construção adequada em um texto ou sequência textual, de continuidades

linguístico-temáticas feitas pelos operadores argumentativos é fundamental para o aluno

que busca uma efetiva coesão textual – nível linguístico (KOCH & ELIAS, 2016).

Principalmente, quando o uso/a articulação desses elementos – os operadores

argumentativos – é critério de avaliação em provas, processos seletivos, vestibulares,

concursos e exames, como o Exame Nacional no Ensino Médio – ENEM.

Na redação do ENEM, texto do tipo dissertativo-argumentativo, uma das

competências avaliadas que o candidato deve apresentar ao produzir sua redação é a de

―demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção

da argumentação‖, Competência 04. (BRASIL, 2017, p. 22) Segundo as orientações

para a redação do exame, contidas na Cartilha do Participante – Redação do ENEM

20171, essa competência se propõe a avaliar se o aluno sabe construir um texto coeso

utilizando corretamente os mecanismos de encadeamento textual disponíveis na Língua

Portuguesa, tanto na ―estruturação dos parágrafos‖, como ―dos períodos‖ e na

―referenciação textual‖ (BRASIL, 2017, p. 22). Assim, conforme as recomendações do

instituto organizador do ENEM para os estudantes, os aspectos a serem avaliados nessa

Competência remetem à estruturação lógica e formal entre as partes da redação,

exigindo que as frases e os parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta a

sequenciação coerente do texto e a interdependência entre as ideias.

1 BRASIL, 2017.

Assim, na produção da redação, o aluno-candidato ―deve utilizar variados

recursos linguísticos que garantam as relações de continuidade essenciais à elaboração

de um texto coeso. Na avaliação da Competência 4, será considerado, portanto, o modo

como se dá o encadeamento textual.‖ (BRASIL, 2017, p. 22). E esse encadeamento

poderá ser realizado, dentre outros elementos, pelos operadores argumentativos.

Como percebido, incoerências quanto ao uso dos operadores argumentativos

prejudicarão diretamente a coesão do texto. No caso das produções dos alunos, essas

incoerências afetam a relação lógica entre segmentos do texto em termos de

compreensão do sentido, consequentemente o desempenho desses alunos de acordo com

os critérios de correção do próprio exame.

Desse modo, é necessário levar os alunos a refletirem sobre a língua – e sobre a

língua em uso – fato que contempla, obviamente, também, os operadores

argumentativos, sobre os quais Koch & Elias (2016, p. 64) discutem:

Os operadores ou marcadores argumentativos são, pois,

elementos linguísticos que permitem orientar nosso enunciados

para determinadas conclusões. São, por isso mesmo,

responsáveis pela orientação argumentativa dos enunciados

que introduzem, o que vem a comprovar que a

argumentatividade está inscrita na própria língua. (grifo do

autor)

Diante desse contexto, esta pesquisa, de modo geral, pretendeu averiguar o

comportamento dos operadores argumentativos na organização textual de redações,

especificamente, em textos dissertativos-argumentativos.

A temática enfocada para pesquisa mostra-se relevante, pois o estudo de

recursos linguísticos que orientam a construção textual e, em consequência, a produção

dos sentidos, significa uma maior ênfase e cuidado no trabalho de seleção e combinação

desses elementos para a garantia das relações essenciais à elaboração da tessitura do

texto – textualidade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Dentre os mecanismos de textualização, especificamente da conexão, chama-nos

a atenção os que envolvem a infraestrutura textual dos organizadores do texto, mais

precisamente dos Operadores Argumentativos – O.A, pois, são eles os ―elementos

linguísticos que orientam os enunciados para determinadas conclusões, razão pela qual

são denominados operadores ou marcadores argumentativos, bem como contribuem

para coesão e a coerência do texto.‖ (KOCH & ELIAS, 2016, p. 26).

Koch (1984, p. 109) acrescenta que os operadores constituem parte integrante da

língua, logo,

[...] todos os operadores [...] essas instruções, codificadas, de

natureza gramatical, supõem evidentemente um valor retórico da

construção, ou seja, um valor retórico – ou argumentativo – da

própria gramática. O fato de se admitir a existência de retóricas

ou argumentativas inscritas na própria língua é que leva a

postular a argumentação como ato linguístico fundamental.

(grifos da autora)

Em torno dos Operadores Argumentativos, destaca-se o fato de que

[...] se trata, em alguns casos, de morfemas que a gramática tradicional

considera como elementos meramente relacionais – conectivos, como

mas, porém, embora, já que, pois, etc. e, em outros, justamente de

vocábulos que segundo, a N.G.B.2, não se enquadram em nenhuma

das dez classes gramaticais. Rocha Lima chama-as de palavras

denotativas e Bechara de denotadores de inclusão (até, mesmo,

também, inclusive); de exclusão (aliás, mesmo, também, inclusive);

de retificação (aliás, ou melhor, isto é; de situação (afinal, então,

etc.). Celso Cunha diz que se trata de palavras ―essencialmente

efetivas‖, às quais a N.G.B. ―deu uma classificação à parte, mas sem

nome especial‖. (KOCH, 1984, p. 105). (grifos da autora)

2 Entenda-se Nomenclatura Gramatical Brasileira.

No entanto, muito além do que descreve a gramática tradicional,

Os operadores ou marcadores argumentativos são, pois,

elementos linguísticos que permitem orientar nossos enunciados

para determinadas conclusões. São, por isso mesmo,

responsáveis pela orientação argumentativa dos enunciados

que introduzem, o que vem a comprovar que a

argumentatividade está inscrita na própria língua. (KOCH &

ELIAS, 2016, p. 64). (grifo das autoras)

Nesse sentido, é imprescindível reconhecer que quando interagimos por meio da

linguagem, estabelecemos sempre finalidades, objetivos que pretendemos alcançar,

motivar atitudes nos outros. Assim, é possível entender que o uso da linguagem é

essencialmente argumentativo fazendo dos enunciados verdadeiros instrumentos

argumentativos, sendo, portanto, ―o resultado textual‖ (KOCH & ELIAS, 2016, p. 24)

de elementos contextuais e linguísticos – nos quais, incluem-se os Operadores

Argumentativos.

O termo ‗operadores argumentativos‘ foi cunhado por O. Ducrot,

criador da Semântica Argumentativa (ou Semântica da Anunciação),

para designar certos elementos da gramática de uma língua que têm

por função indicar (‗mostrar‘) a força argumentativa dos enunciados, a

direção (sentido) para o qual apontam. (KOCH, 2015, p. 30).

Entre tantos conectivos, os Operadores Argumentativos cabem a essa função,

pois são

[...] elementos que fazem parte do repertório da língua. São

responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os

em texto e determinando a orientação argumentativa, o que vem a

comprovar que a argumentatividade está inscrita na própria língua.

(KOCH & ELIAS, 2016, p. 76). (grifo das autoras)

Com fundamental função no estabelecimento da coesão, da orientação

argumentativa e da coerência textual, entendemos também que os Operadores

Argumentativos podem atuar em diferentes níveis das articulações textual, a saber:

no da organização global do texto, em que explicitam as articulações

das sequências ou partes maiores do texto. [...]

no nível intermediário, em se assinalam os encadeamentos entre

parágrafos ou períodos. [...]

no nível microestrutural, em que indicam os encadeamentos entre as

orações e termos da oração.

(KOCH & ELIAS, 2016, p. 121). (grifo das autoras)

Tal compreensão se justifica quando compreendemos que as forças

argumentativas podem ocorrer entre orações de um mesmo período, entre dois ou mais

períodos e também entre parágrafos de um texto, ou seja, uma coesão intraparágrafos

(dentro do parágrafo) e/ou interparágrafos (entre parágrafos). Os Operadores

Argumentativos desempenham assim funções pragmáticas, retóricas ou argumentativas

(KOCH & ELIAS, 2016).

Vários são os operadores argumentativos que estão inseridos na língua. Além de

promover os encadeamentos dos enunciados, indicam a orientação argumentativa que

introduzem e desempenham no enunciado, possibilitando que os interlocutores

elaborem determinadas conclusões.

Dessa forma, na tentativa de exemplificar, ao máximo, os usos desses

operadores para que assim seja possível observar a ―estrutura‖ – forma – pelo qual eles

se configuram na organização textual, por exemplo, de textos dissertativos-

argumentativos, alvo maior desta pesquisa; e, no intuito, de reconhecer as orientações

argumentativas – funções – por eles desenvolvidas, uma vez que, os alunos –

vestibulandos – têm como um das competências a desenvolver na redação do ENEM, a

de demonstrar o conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a

construção da argumentação3, dentre esses, os Operadores Argumentativos, elaboramos

o quadro apresentado a seguir.

Salientamos que, com esse quadro, não temos a intenção de delimitar, saturar as

variadas formas e funções pelas quais os Operadores Argumentativos podem expressar

a sua força argumentativa. Assim, para compô-lo, pautamo-nos nas descrições de Koch

(2015), Koch & Elias (2016) dos O.A. e na análise4 desses elementos coesivos em

redações nota 1000 disponibilizadas na Cartilha do participante do ENEM 20165. A

busca desses elementos nessas redações se justiça pelo fato de, nesta pesquisa,

trabalharmos com os O.A em textos dissertativos-argumentativos modelo ENEM.

Destacamos também que, para fins didáticos e de como se considerada a

―proximidade‖ de valor da força/orientação argumentativa – função – desenvolvida no

contexto de uso do O.A, algumas funções foram agrupadas, por exemplo: Introduzem

uma conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência; Introduzem

argumentos indicando tempo, frequência, duração, ordem ou sucessão. Além disso,

convém notar que um mesmo O.A. pode ter funções diferentes e assim assumir um

papel de comparação (como = igual a), ou de causa (como = uma vez que), ou até

mesmo de conformidade (como = conforme) por exemplo.

Desse modo, temos:

Quadro 1: OPERADORES ARGUMENTATIVOS: FUNÇÃO E FORMA

Função (orientação argumentativa) Forma (“estrutura”)

Introduzem argumentos que se somam a

outros

e, nem (= e não), não só/apenas/somente...

mas/como/senão (também, ainda)..., tanto...

quanto/como, além de, além disso, também,

ainda, demais, ademais, outrossim

3 Competência 4. (BRASIL, 2017).

4 A análise se deu por meio da identificação dos O.A. no tocante à sua ocorrência – forma e nível de

articulação (intra/interpagrágrafos) – bem como à função argumentativa empregada no enunciado. 5 BRASIL, 2016.

Introduzem argumentos que se opõem a

outros (contraste, oposição, restrição,

ressalva)

mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no

entanto, não obstante... (conjunções

adversativas); embora, ainda que, mesmo

(que), apesar de (que), a despeito de,

conquanto, se bem que, por mais que, sem

que... (conjunções concessivas); salvo, exceto

(preposições); já, quando, agora, antes, ao

contrário... (advérbios)

Introduzem uma

conclusão/desfecho/sintetizam uma

ideia anterior ou consequência

logo, portanto, por isso, por conseguinte,

então, afinal, assim, em vista disso, sendo

assim, consequentemente, pois (depois do

verbo), de modo/forma/maneira/sorte que...

Em suma, em síntese, enfim, em resumo,

dessa forma, dessa maneira, desse modo,

pois, assim sendo, nesse sentido.

Introduzem argumentos com ideia de

explicação ou causa

porque, que, porquanto, senão, pois (antes do

verbo), visto que/como, uma vez que, já que,

dado que, posto que, em virtude de, devido a,

por motivo/causa/razão de, graças a, em

decorrência de, como...

Introduzem argumentos com ideia de

comparação, analogia, semelhança

(do) que (após mais, menos, maior, menor,

melhor, pior), qual/ como (após tal), como/

quanto (após tanto, tão), como (= igual a),

assim como, como se, feito... igualmente, da

mesma forma, assim também, do mesmo

modo, similarmente, semelhantemente,

analogamente, por analogia, de maneira

idêntica

Introduzem argumentos com ideia de

condição, hipótese

se, caso, contanto que, exceto se, desde que

(verbo no subjuntivo), a menos que, a não ser

que, exceto se...

Introduzem argumentos indicando

conformidade

conforme, consoante, segundo, de acordo

com, como (= conforme)

Introduzem argumentos indicando tempo,

frequência, duração, ordem ou sucessão

Então, enfim, logo, logo depois,

imediatamente, logo após, a princípio, no

momento em que, pouco antes, pouco depois,

anteriormente, posteriormente, em seguida,

afinal, por fim, finalmente, agora,

atualmente, hoje, frequentemente,

constantemente, às vezes, eventualmente, por

vezes, ocasionalmente, sempre, raramente,

não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente,

nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato,

enquanto, quando, antes que, depois que,

logo que, sempre que, assim que, desde que,

todas as vezes que, cada vez que, apenas, já,

mal, nem bem.

Introduzem argumentos indicando

finalidade, propósito e intenção

Com o fim de, a fim de, como propósito de,

com a finalidade de, com o intuito/objetivo

de, para que, a fim de que, para, ao

propósito.

Introduzem ideias de proporcionalidade

ou concomitância

à proporção que, à medida que, ao passo

que, quanto

mais/menos/menor/maior/melhor/pior...

Introduzem argumentos com ideia de

prioridade, relevância, visando também

à ênfase, à focalização

primeiramente, precipuamente, em primeiro

lugar, primeiro, antes de mais nada, acima

de tudo, sobretudo, por último...

Introduzem argumentos que esclarecem,

exemplificam ou retificam

,ou seja, isto é, vale dizer ainda, a saber,

melhor dizendo, quer dizer, ou melhor, ou

antes, na realidade, aliás, por exemplo...

Introduzem argumentos que indicam

certeza e buscam enfatizar o

pensamento:

Por certo, certamente, indubitavelmente,

inquestionavelmente, sem dúvida,

inegavelmente, com certeza.

Indicam dúvida

Talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá,

quem sabe, é provável, não certo, se é que.

Fonte: Elaborado pelo autor6

A construção desse quadro vem para reforçar a compreensão, a ideia de que os

Operadores Argumentativos promovem diferentes funções – orientações

argumentativas, conforme eles criem, entre dois ou mais pontos do texto – coesão

intraparágrafos e/ou interparágrafos – uma relação de conexão ou sequenciação,

distinguindo um determinado tipo de relação semântica, não interessando-nos, neste

momento, classificar, morfológica ou sintaticamente tais expressões. É de destacar

assim a função geral dos O.A. de marcar as operações textuais e argumentativas que

ocorrem ao longo do texto.

Admite-se assim que os O.A. unem mais de dois pontos do texto, estabelecendo

entre eles construções argumentativas distintas, e no texto dissertativo-argumentativo,

não é diferente.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa, quanto à forma de abordagem, é qualitativa; com relação à fonte

de dados, é documental. É qualitativa porque, segundo Tozoni-Reis (2007), busca a

compreensão, os significados do objeto analisado, em detrimento da mera descrição

e/ou explicação dos conteúdos; é documental, porque ainda de acordo com o autor

6 Baseado nos tipos de Operadores Argumentativos propostos por Koch e Elias (2017) e em redações nota

1000 modelo ENEM (BRASIL, 2017).

supracitado, ―a fonte de dados, o campo onde se procederá a coleta de dados, é um

documento.‖ (p.30).

Como corpus de pesquisa, utilizamo-nos inicialmente de quinze (15) produções

escritas do gênero dissertativo-argumentativo modelo ENEM; realizadas estudantes do

3° ano do ensino médio de uma escola pública da rede estadual de ensino da cidade de

Campina Grande que se configuraram como participantes para a consecução da

pesquisa.

A escolha desse gênero se deu pelo fato de ser o texto exclusivo de produção

escrita desses alunos, já que, naturalmente pelo ano de ensino em que encontram (3°

ano do ensino médio), estejam se preparando para o respectivo vestibular – o ENEM.

O plano de sistematização e análise do corpus se desenvolveu, essencialmente,

sob o seguinte procedimento:

a) A ocorrência dos operadores argumentativos: formas e funções textuais-

discursivas.

Diversidade; ausência e/ou repetição de O. A. intra/interparágrafos; e

(in)adequação no uso dos O.A. no que se refere à orientação argumentativa por eles

construídas entre as orações, períodos e parágrafos compuserem esta categoria de

análise.

4 ANÁLISE DOS SADOS

Na observação das 15 (quinze) redações produzidas inicialmente (P1) no

primeiro encontro, em linhas gerais, percebemos que há operadores argumentativos que

se repetem, isto é, são bem comuns para os alunos e, a depender do contexto de uso, o

que mudam são os sentidos por eles desenvolvidos, construções que de certa forma, nos

auxiliam enquanto ―avaliador‖ dos textos como os textos de melhor uso desses recursos

coesivos daqueles que não o fazem de maneira tão satisfatória. Para melhor

compreender o uso dos operadores argumentativos, a partir das formas e funções

presentes nas P1, elaboramos dois grupos de ocorrência: (A) Articulação precária e

pouca variedade de operadores; e (B) Articulação adequada e variedade mediana de

operadores.

Ressaltamos que esses grupos de ocorrência surgiram como fruto da análise das

redações em função do repertório coesivo (ausência e repetição) e da (in)adequada

articulação desenvolvida pelos operadores argumentativos, mais precisamente da: pouca

variedade/ diversidade; repetição de O. A.; ausência de O. A. intra/interparágrafos; e

inadequação no uso dos O.A. quanto à orientação argumentativa por eles estabelecidas

entre as orações, períodos e parágrafos.

Apresentaremos cada grupo de ocorrência seguido pelo exemplar analisado e de

sua respectiva avaliação. Selecionamos exemplos prototípicos com a intenção de ilustrar

cada ocorrência.

A. Articulação precária e/ou pouca variedade de operadores

Exemplo 01:

Exemplo 02:

Nesses exemplos 01 e 02, as redações escritas se assemelham quanto à forma

que foram escritas: a redação 7, em parágrafo único; a redação 10, em dois parágrafos.

Essas formas de produção dos textos tornam explícito o desconhecimento por parte dos

alunos da paragrafação do texto, o que pode afetar diretamente a coesão. Nesses

exemplos, temos, portanto, redações constituídas de ―parágrafos únicos‖, configurando

blocos maciços de períodos sem qualquer organização paragráfica identificável, ou seja,

não há Operadores Argumentativos que demarquem principalmente a coesão

interparágrafos.

Vemos redações não articuladas, em que períodos intraparágrafos aparecem, ao

longo do texto, desligados uns dos outros: na primeira redação, da linha (l.) 01 até a l.

08 e entre a l. 08 e a l. 09, por exemplo; na segunda redação, na l. 06, da l. 15 até a l. 21,

por exemplo. Ou seja, períodos em que não se consegue saber exatamente do que trata o

participante. Essa configuração confusa, um tanto perdida e caótica, configura aquilo

que popularmente se denomina ―frases jogadas no texto‖.

Observamos, em ambos os exemplos, palavras e períodos justapostos e

desconexos devido à ausência de Operadores Argumentativos na maior parte do texto,

havendo articulação apenas em momentos pontuais: na primeira redação, uso do

―porque‖ (l. 14); ―dessa forma‖ (l. 17); na segunda, ―porque‖ e ―para‖ (l. 1). Porém,

esses O. A. são articulados de forma muito precária, já que são empregados entre

enunciados curtos não havendo uma progressão entre as ideias dos períodos, além de

outros problemas de língua (pontuação) e até mesmo de uso de outros recursos

coesivos, o que provoca um não encadeamento temático, por assim dizer, argumentativo

dos textos.

B. Articulação adequada e variedade mediana de operadores

O entendimento do aspecto da repetição para os grupos de ocorrência (A) ou (B)

foi diferenciado e isso se deu por conta de uma característica-chave: a diversificação do

repertório coesivo. Dessa forma, ainda que um mesmo recurso coesivo tenha se repetido

algumas vezes nos textos deste grupo de ocorrência (B), nos atentaremos àqueles que o

aluno apresentou uso variado em seu texto e o quanto isso contribui para as relações

estabelecidas e para a fluidez da escrita.

A seguir, averiguemos um exemplo:

Exemplo 3:

Exemplo 4:

As redações anteriores, de modo geral, apresentam repertório coesivo pouco

diversificado se considerarmos: a quantidade de O. A. disponibilizados por seus

produtores; e também pela ausência, por exemplo, desses recursos em alguns momentos

do texto — como entre os parágrafos 1° e 2° em ambas as redações. No entanto, ainda

que haja poucos, são O. A. que ―fogem‖ ao comum encontrado na maioria das redações

e são O.A. diversos – não repetidos – em uma mesma redação, a saber:

Exemplo 3:

• ou seja (l.5) → Introduz argumento que

esclarece/exemplificam/retificam.

• é notável (l. 16) → Introduz argumento que indicam certeza e buscam

enfatizar o pensamento;

• diante disso (l.26) / dessa forma (l.29) → Introduzem uma

conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência.

Exemplo 4:

• De igual forma (l. 16) → Introduz argumentos com ideia de

comparação, analogia, semelhança;

• Assim (l. 13) / pois (l. 3) / Portanto (l. 22) → Introduzem uma

conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência;

• Para (l. 22) / para que (l. 24) → Introduzem argumentos indicando

finalidade, propósito e intenção.

Como dito, mesmo que em pouca quantidade, os textos dos exemplos 9 e 10

apresentam avanços em relação às demais redações quando nela são encontrados O. A.

que divergem quanto à forma e até mesmo, em alguns casos, a função daqueles

identificados no grupo de ocorrência (A). Ou seja, os redatores apresentam certo

reconhecimento variado, mesmo que mediano, dos Operadores Argumentativos e

quando os utilizam, assim o fazem de acordo com a função – relação de sentido –

pedida pelos enunciados. Logo, cumprem eficazmente a orientação argumentativa

pretendida.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propusemo-nos, neste trabalho, a averiguar o comportamento dos operadores

argumentativos na organização textual de redações. Constatou-se assim: pouca

variedade/ diversidade e repetição de O. A.; ausência de O. A. intra/interparágrafos; e

inadequação no uso dos O.A. quanto à orientação argumentativa por eles estabelecidas

entre as orações, períodos e parágrafos. Em outras palavras, redações com: articulação

precária e/ou pouca variedade de operadores; e articulação adequada e variedade

mediana de operadores. Ainda referente a essa análise inicial, os O. A. mais recorrentes

eram: ―pois‖; ―porque‖; ―portanto‖; ―assim‖; ―para (que)‖; ―e‖; ―também‖; ―além de

(disso)‖.

É fato, pois, que incoerências quanto ao uso dos Operadores Argumentativos

afeta diretamente a coesão do texto. No caso das produções de alunos do ensino médio,

no 3° ano do ensino médio, essas inadequações de forma e função afetam a relação

lógica entre segmentos do texto em termos de compreensão do sentido e de construção

argumentativa, consequentemente o seu desempenho avaliado quanto à Competência 04

do referido exame.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Redação no Enem 2016 – Cartilha do participante. /

Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (Inep). Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb). – Brasília - DF: MEC,

2016.

______. Ministério da Educação. Redação no Enem 2017 – Cartilha do participante. /

Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (Inep). Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb). – Brasília - DF: MEC,

2017.

KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.

______, Ingedore. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999.

______, Ingedore Villaça. A inter-ação pela Linguagem. 11 ed. – São Paulo: Contexto, 2015.

KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. – São Paulo: Contexto,

2013.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Escrever e argumentar. – São Paulo:

Contexto, 2016.

TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Metodologia da Pesquisa Científica. – Curitiba:

IESDE Brasil S.A., 2007.