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OS ÓCULOS DE PEDRO ANTAO. FIM. /^aB«*^5vlMg?..pSW8iilf*B-> u carregava com ella. Bem; mas elle hesitou; pareceu-lhe que não podia santiíicar uma união condemnada pela sociedade. Não queria perturbar o destino da moça que talvez fosse melhor do que se lhe afigurava Telia. Que fez então ? disse-lhe que se casasse. Cecília recusou o conselho; teu tio insistio; ella chorou. Que fazer diante das lagrimas de uma mulher? O homem pedio um adiamento de vinte e quatro horas. Terrível foi a noite e o dia que se seguio a esta en- trevi*4a Jogava-se o destino de Antão e de Cecilia. Raptando a moça, elle ia constituir-se réo perante Deus e os homens. O momento era solem- ne A crise da vida chegara ao seuauge. Sobre a tarde tomou elle uma resolução suprema; raptar a moça, isto é salval-a das garras de um noivo a quem ella não amava , e dar-lhe a felicidade que ella almejava n este mundo. Communicou o seu plano á rapariga; e assentou-se que d'ahi a tres dias se executaria o plano. A moça dormio alegre como se no dia seguinte devesse entrar na bemaventurança. Oh! o amor é capaz de gran- des cousas 1 e quanta vez se commetteu crimes com alma alegre porque é o amor que nos impelle para o mal! T. XII. Maio de 1874.t '*-../ 5

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OS ÓCULOS DE PEDRO ANTAO.

FIM.

/^aB«*^5vlMg?..pSW8iilf*B->

u carregava com ella.— Bem; mas elle hesitou; pareceu-lhe que

não podia santiíicar uma união condemnada

pela sociedade. Não queria perturbar o destino da

moça que talvez fosse melhor do que se lhe afigurava

Telia. Que fez então ? disse-lhe que se casasse. Cecília recusou

o conselho; teu tio insistio; ella chorou. Que fazer diante das

lagrimas de uma mulher? O homem pedio um adiamento de

vinte e quatro horas. Terrível foi a noite e o dia que se seguio a esta en-

trevi*4a Jogava-se o destino de Antão e de Cecilia. Raptando a moça,

elle ia constituir-se réo perante Deus e os homens. O momento era solem-

ne A crise da vida chegara ao seuauge. Sobre a tarde tomou elle uma

resolução suprema; raptar a moça, isto é salval-a das garras de um noivo

a quem ella não amava , e dar-lhe a felicidade que ella almejava n este

mundo. Communicou o seu plano á rapariga; e assentou-se que d'ahi a

tres dias se executaria o plano. A moça dormio alegre como se no dia

seguinte devesse entrar na bemaventurança. Oh! o amor é capaz de gran-

des cousas 1 e quanta vez se commetteu crimes com alma alegre só

porque é o amor que nos impelle para o mal!

T. XII. — Maio de 1874. t

'*-../

5

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}.•

130 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Bonito! murmurou Mendonça.Irritou-me a interrupção e levantei-me.

Onde vás?Não me queres ouvir.Quero; continua. Applaudi a tua exclamação. Quero saber em

que parou tudo isso.Quando o tio voltou para casa, encontrou junto á janella o criado.

Todo o corpo lhe tremeu; estava descoberto. 0 criado tinha ouvidobulha e suppondo serem ladrões subio ao sotão, vio a janella aberta, eespantado, vio um vulto ao longe, e esperou. Quando descobrio queera o tio, comprehendeu que alguma cousa havia, e arrependeu-se deter subido. Quanto ao tio, passado o primeiro momento, voltou em sidesceu tranquillamente e disse ao criado que se fosse deitar. 0 criadodesceu sem dizer palavra; o teu tio veio tranquillamente para esta sala eentrou a meditar no que devia fazer. Era forçoso confessar tudo ao criado;estando descoberto, já lhe não aparentava a discrição; antes tel-o poramigo mostrando confiança. Assentou nisso. Mas d'ahi a pouco entrou oreceio a torturar-lhe a alma. Podia acaso contar com a discrição decriado, ainda quando lhe mostrasse confiança? 0 medo de ver-se desço-berto lhe obumbrou a razão; o crime chama o crime. 0 relâmpago docrime lhe fuzilou na alma...

Que fez ?Decretou a morte do criado. Quem poderá dizer que longos foram

os instantes passados n'aquella combinação de um crime que era o pri-meiro na escala dos crimes futuros! Ao cabo de uma hora, tomou umavela, desceu a escada de mansinho, encaminhou-se ao quarto do criado.Este dormia profundamente; Pedro Antão lembrou-se de que o melhormeio era suffocal-o ; subio outra vez e foi buscar um travesseiro. Desceu ;o criado ainda dormia. Teu tio poz-lhe o travesseiro sobre o pescoço ecalcou com todas as forças. Surprehendido no somno com este ataque, o'criado

procurou defender-se; quiz lutar; impossível... por um movimentoenérgico Pedro Antão concluio a morte começada.

Onde viste signaes d'esse crime ?Não vi signaes; mas é' um crime lógico. Por que razão morreria o

criado logo na véspera do rapto? Teu tio quiz arredar um testemunha ouum complice ; mas vae ouvindo.

—- Triste morte foi essa !Terrível; teu tio subio, atirou-se á cama, mas não dormio; a noite

foi cruel; quando chegou a madrugada elle respirou; podia ao menos

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. *31

afastar a memória do facto terrível da véspera. Do f«r*-«.

vizinho, e pedio-lhe que fosse cuidar do enterro do criado. Atarde foi

este enterrado levando para a sepultura o segredo do crime...

1 Ma, Pedro, é impossivel qne tu não saibas disto pov outro modo

que não o conjectural. Estás fallando de maneira que pareces ter assistido

a tudo... Sabias alguma cousa?— Nada._ Mas então não comprehendo._ Meu amigo; ehama-se a isto penetrar alem da supernere dos acto .

Vae ouvindo. A noite do enterro do criado, era a noite do rapto de Ce-Vae ouvinao. aguardou silenciosamente acilia; tudo estava preparado. Pedro Antao.aguaraou

n -ní. a moia no te. 0 leitor tacümente caicu-hora marcada por elle, isto e, meia none. u

lará...Que leitor ,' np flmnílflpQFoi engano. Quero dizer que tu facilmente calcularas as emoções

do namorado antes do commettor o rapto. Entretanto ehegoua^hora;

Pedro Antão que estava lendo para passar o tempo, apenas ouvio bater

mtó no o ao quarto, pegou ua osoada... Aqoi entram os óculos do

ZXmi Mo, e para .er puuba os ooulos adm de ,*ar os =

da luz Com a pressa e a preoccupação do acto que ia commetter, nem

Íu de '__

os óculos; loi oom eües até ^£g^

nella, saltou ao telhado e aprovimou-so da casa do (ted .Tudoe*va¦w.n<n- nenhum signal de vida. Que aconteceria? Estaria descooer o

rTidoÍra Lat N'esta incerteza estovo Pedro Autuo durante

da sala. Entrou a preta e teu tio esperou.-:: z^zz __r£—, - - *. «- _*-— Ouve. _sperou uju conveniente-+rt rt r. VinrYiPm atirou a extremidade aa escaud t-uc

a preta e o homem atirou da deu amm0 a0mente prosa em otma. Cec1"P^1

^^ , descid» wtir«- uamorado. D_se-lbe elle que, P«aJ*

duas Mims, Conlinhamumas oalças do premo ¦ e at ou para .

roupa e vanos »bJecteftf;d™,o quando a moça se preparava a

pequena ,ue desoesse. Ora, **-M- deu um it0

descer, ouvio-se uma voz que dizia . Miserável

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'<?

132 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

e entrou fechando a janella. Picou em baixo Pedro Antão a procurar comos olhos d'onde vinha a voz, até que um vulto se lhe aproximou. Era nemmais nem menos o pae de Cecilia.

Donde surgio elle ?.Tinha percebido que a pequena tramava alguma cousa; foi esprei-

tar pelo buraco da fechadura, e vio-a preparar as trouxas; desceu ao quin-tal e de lá ouvio a voz de teu tio; por meio de uma escada de mão trepouao telhado no momento em que a moça ia pôr o pé fora da casa. Avalie-seo drama que se passou alli no telhado. O pae, armado com uma pistola,apontou-a ao peito de Pedro Antão ; este vio imminente o seu üm. Quempoderia salval-o?— «Eu! gritou uma voz no meio das sombras. »'* X

—- Quem era ?Espera. O vulto desarmou o pae de Cecilia e intimou-lhe a reti-

rada; o velho quiz recalcitrar, mas teve de obedecer á voz imperiosa dosalvador de Pedro Antão. Tendo escapado por milagre á morte que oesperava, o homem voltou-se para o vulto e agradeceu-lhe aquella inter-venção providencial. Depois pedio que entrasse com elle em casa paralhe explicar a razão de achar-se alli. Pedro Antão meditava uma mentira.O vulto respondeu simplesmente. — Eu sei tudo!'— Sabe tudo? —Quem é o senhor? — Ninguém.

Parodiou o Garrett.Convidou teu tio ao vulto para ir descançar alguns minutos em

casa. O vulto acceitou. Atravessaram o telhado e entraram pela janella.Como estivesse escuro, Pedro Antão tomou um phosphoro , que levaracomsigo para a volta e á luz quem havia elle de ver ?

Quem?Adivinha.

Não sei.O criado ?]Sim.

O defunto?Nem mais nem menos, o defunto.Essa agora!...Imagina o rosto do pobre homem, deu um grito e correu; o criado

segurou-o ainda pelas abas do paletó; Pedro Antão fez um esforço, esca-pou-se-lhe das mãos, cahiram-lhe os óculos, e elle foi rolando pelaescada abaixo até cahir morto.

Que horror!•*-* Aqui tens, conclui eu nem mais nem menos a historia do tio , dos

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. *33

seus motivos de reclusão, e da sua morte desastrosa; ahi tens explicados

os óculos no corredor, a escada de seda na outra sala. Queres mais

claro '-Realmente, disse Mendonça, fallas com uma segurança que pareces

ter visto tudo isto !! $Para que serviria a perspicácia então ?

_ Safa! Eras capaz de provar que eu hontem matei um homem !

-Questão de perspicácia; nada mais. Queres apostar uma cousa? •

O que? , •_. . ,_ Queres apostar que eu acho n'esta secretaria algum indicio do que

estive a referir?Então sabias alguma cousa?Eu, nada. Mas tenho um presentimento de que aqui dentro acha-

rei cousa que nos guie e me prove a veracidade do que te acabei de con-

tar. Vamos abril-a.Com que?Não tens nada? ,

_ Nada. Sabes que mais? vamos embora. Amanhã, abriremos isto.

_ Não, agora mesmo. ._ Quali olha; são tres horas quasi. Vamos dormir; amanha voltarei

comtigo e de manhã; virá comnosco um homem que entenda d'isto...

Pois sim. . .Sahimos da casa de Pedro Antão; e eu confesso que não dormi a noite

inteira, porque o pouco que d'ella restava, gastei-o eu a pensar na histo-

ria do homem. Se eu achasse na secretaria alguma cousa, uma cartinha

de amores, uma lembrança de mulher, tinha ganho a gloria de ter adi-

vinhado uma historia que ninguém descobriria nem exporia com. tanta

lucidez. . tv/tNo dia seguinte ás dez horas da manhã fui ter com o meu amigo Men-

donça que ainda estava dormindo; esperei que acordasse e almoçasse.,

depois do que fomos buscar um ferreiro, encarregado de arrombar a

secretaria de Pedro Antão.A fechadura não resistio muito tempo.

Quando nos achámos sós, entrámos a examinar o conteúdo d aquelle

velho movei, testemunha insuspeita da vida do tio.• Muitos objectos íamos encontrando que não serviam para o caso ; pa-

peis velhos; cartas de amigos, contas de cre fores, notas de leitura , etc.

Nada vimos que servisse ao caso.— É impossível, disse eu; vejamos nas gavetinhas.

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134 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Nas gavetinhas tambem nada se encontrou que pudesse ter relação com

a minha versão da morte de Pedro Antão,"

De repente, disse-me Mendonça ter achado uris cabellos.Ah l exclamei, emfim !

. — Mas são cabellos brancos, acerescentou Mendonça.Em resumo, nada encontrámos que nos pudesse guiar no assumpto, e

eu senti deveras porque o menor indicio era naquelle caso uma prova;aò menos eu assim o entendia.

No meio do trabalho em que estávamos, não demos por uma gavetaescondida por traz de uma taboinha.

Abrio-se a gaveta por si e graças a um acaso. Querendo eu arrancarum folheto, apertei uma mola e a gaveta abrio-se.

Dentro havia um rolo fino de papel com esta nota por fora. « — Paraser entregue a meu sobrinho Mendonça. »

Vejamos.Mendonça abrio o rolo. Continha uma folha de papel com as seguintes

palavras -« Meu sobrinho. Deixo o mundo sem saudades. Vivo recluso tíinto

tempo para me acostumar á morte. Ultimamente li algumas obras de phi-losophia da historia, e taes cousas vi, taes explicações encontrei de factosaté aqui reconhecidos, que tive uma idéa excêntrica. Deixei ahi uma es-cada de seda, uns óculos verdes, que eu nunca usei, e outros objectos,afim de que tu ou algum pascacio igual inventassem a meu respeito umromance, que toda agente acreditaria até o achado d'este papel. Livra-teda philosophia da historia. »

Calcule agora o leitor o effeito .(Teste escripto, espécie de dedo invisívelque me deitava por terra o edifício da minha interpretação !

D'ahi para cá não interpretei á primeira vista todas as apparencias.

j. j.

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'!***

CONTOS MACAHENSES

HISTORIA DE DOIS VIÚVOS

I.

-, ite e chuvoso raiou na cidade de Macahé o dia

2 de Novembro de 1872.

Comtudo, ás 9 para as 10 horas, começaram a affluir ao

cemitério da irmandade do Santíssimo Sacramento nume-

rosas famílias, que ito por certo chorar e orar sobre a sepul-

tura dos seus parentes ou amigos, que ahi dormem o somno

Tal era ao menos o fim apparente d*essa visita â morada

. - dos mortos. Mas se possivel fosse haver uma lente que devas-

sasse os segredos do coração e do pensamento, talvez que bem amarga

,::::. & ^ **». ***«• <* • «-¦— °vCTdaae,romobil da maior parte d'essas pessoas.

A verdadeira dôr é muda e reservada : a dôr que faz garbo em sei

conhecida não pôde ser sincera.

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O isolamento e o silencio são que convém á maguoa e á tristeza.A ninguém, em verdade pungido por negro pezadume, pôde agradar

os lugares de ajuntamento. A palavra de um semelhante, ainda mesmoconsoladora, é um aguilhão, que mais nos atormenta.

Demais, quem nutre vera saudade de outrem e sente a sua perda,não carece de dia determinado, nem de lugar, para carpil-o. A todos osinstantes a imaginação apresenta a sua imagem a quem o deplora è fal-oprantear.

A visita ao cemitério é pois, na minha opinião, o meio de ostentar osricos vestidos e adereços, o meio de aparentar-se um sentimento quese não possue.

ii.

Pequeno e bem disposto é o cemitério da irmandade do SantíssimoSacramento. No fim tem uma capellinha de medíocres proporções e emfrente a este, no meio da funerea mansão, ha uma cruz de madeira.

Além disto, ha diversos monumentos particulares, de mármore, ondejazem os restos de pessoas pertencentes a ricas famílias, que d'este modoentenderam dever distinguir os seus parentes d'aquelles a quem a faltade dinheiro não permitte esse esbanjamento.

Dóe a um coração verdadeiramente christão ver que nem no sepulchro,asylo dos desenganos, a vaidade humana deixa de alçar o collo cominaudito desprezo ás sublimes máximas do Evangelho.

O pobre tem por leito mortuario o humido solo; em magníficos mau-soleus descansa o cadáver do rico.

Louca vaidade essa, á qual a morte cruelmente encarrega-se de cas-tigar.

Em matéria putrefacta e após em nada são igualmente convertidos oscorpos do pobre e do rico.

Ao deixar a alma este mundo, nada mais de commum tem com elle :o dinheiro pois que se gasta em custosos moimentos é um roubo feitoaquelles que sobrevivem á sua fuga d'este valle de angustias e pra-zeres. . JÉ|.'

Nenhuma diíferença devia haver no dormitório final : ahi devera-serepresentar a igualdade que reina no Paraíso.

Mas aonde me leva a inconseqüente penna? Desejava escrever umconto alegre, tão alegre como a moça de trinta annos que ainda encon-

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 137

tra um noivo e estou escrevendo considerações tão enfadonhas como as

rabusens de uma velha tia. .Não admira : quem pôde beber ledas inspirações onde somente o nada

e o luto dominam?

iii:

Ajoelhado junto á cruz do cemitério, uma linda joven de 20 a 2 an-

nos, clara como o alabastro, esbelta, d'um talhe magestoso, soluçava fre-

neticamente e debulhava-se em amargo prantoPor sob um denso véu preto, via-se-lhe brilharem dois grandes olhos

^ST-àT-. ver a pena tento lavar o fu.gor de sentes olhos.

O.iasi aue se tinha vontade de chorar tambem.QX

..Lo es—...o eslava a sua fogosa bocca; prova,

era' quc orasse por aquelle que «o copiosas lagrimas faz.a verter a sua

T .-o em quando porem lançava furtiva e rapidanrente.olhares

«bm nm moço de ph,sionomia sjmpalhica. que .se achava a par d ella,

d\r-e,ri;-de contínuos soluços , a cada momento volvia

para ella os olhos.

IV.

fcminada a missa , começaram a retirar-se todas ns pessoas, que a

este acto solemnemente religioso tinham concorrido

íatuovo ideando solitária e .dente a habitação dos mortos.

O luxo cessava de aflronUr a morte occupo_-_oS aEntre os que se retiravam achava-se a moça que mais o

attençã0" • • a . __.ilc. r, hraco a um ancião de aspecto agra-Nr. rmríãn do cemitério deu ella o maço a um rNo portão do cemiiei estacionavam os dois uni-

davel e com elle seguio a pe ate o lugar ouu.

™_ hnnds do Ferro Canil Macahense.

No eatil tinha-a encontrado um rapa, leviano, que compnmen-

tou-a e indagou^ eua.mtj* ^ ^ioO moço que d ella nao tirara o» umu. ^

T. XII.

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138 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

o ensejo para tirar informações a seu respeito, pois conhecia quem atinha saudado.

Accelerou por isso o passo e foi aò encontro d'elle, depois de ter pas-sado pela desconhecida, a quem, digamol-o francamente, já amava.

Comprimentáram-se e trocáram-se reciprocos sorrisos.Depois, adiantado alguns passos -e apertando a mão do seu conhecido,

disse-lhe :Adeus, Alberto, como vás ?Sempre bem, respondeu aquelle; e tu ?Bem até ha pouco e muito mal agora.Como assim?Eu te explico; mas antes dize-me uma coisa : quem é aquella

moça com quem acabas de fallar?Ah! maganão, já te agradaste d'ella?'É verdade. Mas responde : quem é ella ?Filha d'aquelle velho.

E quem é elle?Um negociante retirado do commercio.Como se chama a filha ?Elisa.Que idade tem?Pergunte-lhe : a idade da mulher é um mysterio.Deixe-se de graças; qual o estado d'ella ?Bom, como está vendo.Falle sério : é solteira, casada ou viuva?Viuva e... de fresco. .

Mas...Basta, basta; não estás satisfeito ainda? Pareces um confessor, ou

um juiz formador de culpa.Está bem; responde-me somente a isto : és meu amigo ?Devotado, como sabes; e até a morte, sob uma condição.Qual?

¦— A de nunca seres jesuita.—¦ Por esse lado não ha duvida. Tu te dás com eüd?

Dou-me : Elisa é prima de minha mulher.Podes apresentar-me ao pae?

, — Com immenso prazer.Quando?Quando qüizeres.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 139ff

Hoje de noite.Pois bem; eu vou buscar-te á casa.

E despedíram-se.

V.

Eram sete horas da noite quando os dois moços apresentara m-se em

casa de Elisa.Apresento-lhes, disse ao pae e á filha o primeiro político d'esta, o

meu melhor amigo o Sr. Paulo Magalhães, distineto guarda-livros e

moço de verdadeiro mérito.Muito folgamos por conhecel-o e teremos indizivel júbilo se dignar-

se de freqüentar a nossa casa, respondeu sorrindo o bondoso ancião, que

se chamava João Ribeiro, dirigindo-se ao apresentado.

Este, inclinando-se, replicou :Creia que me domina o mesmo sentimento e que, visto me ser

franqueada esta casa, sempre que me fôr possível, procurarei gozar de

tão amável companhia.Dar-nos-há muito gosto, disse Elisa.Ohi minha senhora..., balbuciou Paulo confuso.

Alberto de Faria (tal é o nome do amigo de Paulo) olhou, com um

sorriso significativo, para ambos os moços.

O seu olhar parecia dizer :Assim... assim... vão a caminho.

Depois travou-se entre todos uma conversação de tal modo divertida,

que quem a surprehendesse julgara que todos os presentes eram amigos

velhos. , ,As dez horas da noite retirou-se Paulo, prometendo voltar na tarde do

dia seguinte.Muito porém lucrara com esta visita.

Foi ella germem de muitas esperanças, pois adquirio algumas eer-

tezas.Prima í Que Elisa era uma moça agradável e prendada;Segunda : Que a lembrança do seu defunto (phrase dos viúvos) já

bastante tinha-se-lhe varrido da memória, pois nem uma só vez fallára

n'pllp •

Tertia : Que das suas palavras, olhares e sorrisos podia inferir que

Elisa tambem já amava-o.

„..*r*í7~

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140 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Esta tambem por seu turno soube :Primo : Que Paulo era um moço que lhe con vinha;Segundo : Que pertencia ao seu mesmo estado e que, como ella, já se

consolara do profundo golpe que soffrêra;Tertio : Que dera mostras de corresponder ao seu amor.

Quanto ao Sr. João Ribeiro inferio unicamente que muito convinha

que os dois jovens apaixonassem-se e promettia aos seus botões auxi-lial-os.

Só Alberto nada adiantou com esta visita; já tinha formado o seu juizoa esse respeito.

VI.

No dia seguinte Paulo cumprio a sua promessa.Apresentou-se sozinho em casa da sua amada e, depois de recíprocos

cumprimentos, disse Elisa com uma voz tão maviosa como as notas queos seus alvos dedos extrahiam dos teclados do piano :

0 Sr. foi pontual: eu gosto d'isto.Tenho-me habituado, respondeu elle, a cumprir exactamenle o que

prometto, salvo o apparecimento de insuperável obstáculo.É muito bom, proferío sentenciosamente o ancião : conserve sem-

pre este habito que jamais arrepender-se-ha.Assim como, acerescentou Paulo, tenho-me tambem habituado a

decidir todos os meus negócios com promptidão e até hoje não me deimal.

A promptidão é a alma dos negócios, continuou no mesmo tom oterno pae da seduetora Elisa.

0 Sr. gosta então de effectuar tudo depressa? interrogou esta.Sim, minha senhora.

E procede da mesma forma com o amor?Tambem, e é por isso que cá vim.

Fugitivo rubor purpureou as faces da moça , ao passo que o seu pae,com a boca aberta e os olhos arregalados, soltava um formidável —Ah!

Reinou durante cinco minutos um silencio sepulchral.Foi Elisa quem primeiro o perturbou, exclamando :

Haja de explicar-se, senhor; nós não o comprehendemos.Nem era de esperar outra cousa : nada ha que possa embaraçar uma

Viuva. Tendo já perdido a timidez da donzella e acostumado-se a respon-

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. «*

der por si, quando casada, ficando absolutamente senhora de suas acções,

qabe sahir-se bem de todas as emergências.ToLa Paulo, que lambem não era eiuea 4 tt., apressou-se em safa-

"'s bem. A minha visita tem por fim pedir a sna mio, em pri-

meiro lugar á senhora e após ao seu digno pae.A este inesperado ataque é que , apesar de vmva, nao te a moça face

^ÉSÍKS* • «* ^l-as— sem du,ida ,uea palavra paterna plhe antecipasse.

NSO foi debalde. «o-radava0 Sm do Sr. Ribeiro era um velho patusco, aquém ua agrad v

.'«muito a presença d-uma moça, forquem fosse responsável, em sua

í 1Ü tinha de respe&v a sua pudieia e de reduzir d*um modo eon-ci<WavM

os seus inconvenientes hábitos.

S nSo ídando mesmo ao trabalho de fingir que c.ns,derava,

¦ fiüpf minha parte nao ponho duvidas, se Elisa, depois de pesar bem

M pi: BA —to, julgar que deve annuir ao seu ped.do9 Elle procurava (eomo de Caljpso dia Fenelon) occultar com estas pala

,«s aaiogria que, apcsac sou, Inzia-lho no semblante

pilo eÉào; inclinando.se ante a beUa moça, disse com uma

^S^roCo, ga^ou Pau!o, uo auge da «dade,abundo a níã„.do sna quenda ae far q„alquer' ^Snti: obC -tque tinha alcançado, despedio-se

nSS^ » *«* * «lamente ch—

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142 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

VII.

Quinze dias depois, ás quatro horas da tarde, na capella do Santis-simo Sacramento, o reverendissimo vigário*de vara interino, o Sr. padreJosé de Araújo Coitinho, unio pelos laços matrimoniaes Elisa e Paulo.

Chegando á casa fizeram elles as honras de um banquete aos seus nu-merosos convidados e á noite deram um esplendido baile, a que assistirammais de duzentas pessoas. *

Delirantes de prazer, nem uma só vez viram perpassar pelo espírito aimagem dos fallecidos esposos, por quem tanto haviam chorado no dia dofallecimento e no dia de finados, quando vimol-os pela priméira*vel.

No entanto haviam jurado que a lembrança e a saudade d'elles seriameternas.

Mysterios do coração!

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Eis-ahi, ó leitores de ambos os sexos, como o travesso,,arhor, zomba dafrágil e vaidosa humanidade.

E o sexo feio não se peja de dizer-se forte, quando é certo que éèlle oque mais depressa deixa-se vencer pelo menino alado. • ^

Não quero terminar sem dar-vos um conselho : quando amareles, casai-vos logo. A desculpa dos nossos erros está na sua prática repentina e não

*» * ¦

premeditada. feDepois, conheceis cousa mais ridícula do -que um noivo, sempre Jílcho-

ramingar, a dizer asneiras á sua bella, sem nada atar ou desatar ? f*Eu não.E por isso acho razão e espirito em não sei que escriptor que éompara

o noivo a um gato miando em frente d'um armário fechado^ ^

Tenho concluído. "ffiL. L. FERNANDES PINHEIRO JÚNIOR.

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ílli_Rr__B»V WM/3w_sw_r^- OF^2&&%-x8^È ___7Í0__#

GÜILHERMINA.

£

Tout est mystère dans 1'amour :* '

Ses flèches, son carquois, son flambeau, son enfance,Ce n'est pas Touvrage <Tim jourQue cVcpuiser cette science.

LA FONTAINE.

a-..

x~

I.

ue tens tu Guilhermiua? Porque, pallida e triste,

não tens nos lábios um sorriso de felicidade para asP

alegrias do mundo ? Que indifferença; é essa com

q0e _s a mocidade que passa roidosa e Mg»

L juoto de ti, oorreodo sôfrega í festa eembna-

ganao-se das volupíuosidades da valsa? Que cora-

lj_2_^£"i ° - ^~* "pindo sauWesdo regato e_ cuias águas sofitarie te mtravas 4 . .

f * -" -f jr;—Te^uo earu» de tua «da desfo-

ft_SXs:a^inuc.inaS)comoSe_a,erga_e_ue,eSÉlo inverno! ' , '"iP £L

Foste infeliz em teu primeiro amor ?

Não amaste nunca ?

_s_>

:_* ;.«__>.. $J v X áfe?

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UA JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Ha um mvsterio em tua vida?Que coração é o teu, Guilhermina?

ii.

fíA

¦¦'vyX':

V.

¦,'lií*/>'VV ;' .

VVVV.

6b'.:

« Já me disseram, disse Garrett, que eu tinha o gênio jdo fraáí, gjuenão podia fazer conto, drama ou romance sem lhe metter o meu frlijUnho » e deu suas razões porque isso lhe acontecia; agqr_tf%a^ lertom^observar que lhe não impinio uma historia sem qííé veúhaüao ^pririíeiraplano do quadro uma rapariga pallida, triste, scismáddía V^liltò ,poeMçode outros tempos enchertado em um século de proga comoiÊSte^^de bucólica inspirada pelo movimento ruidoso de uma éãtapãt) dé caminhode ferro, não sei que lhe hei de responder. # Wyíf&-

Verdade é que eu podia contar trinta episódios 4ivepos^ de^ lapaiMâsbem nutridas, bem rosadas, e capazes de enganar qualquer^ se tçpcassema crinolina ou os puffs por umas calças e um paletó, tao çljgití é q metalde sua voz, tão desenvolto seu gesto; porem prefiro as õütras

Judith com a cabeça d'Holophernes mettida em im sadco^ ou Joanna ^d Are de capacete e coiraça são heroinas e bellas; ijiis eu^ nao sei!ipor-

víf& ' Xu%A*A.:' . -•;.• ':X'^W Xa ¦¦

que, engraço mais com aquella princeza de Lambais, súplice, afron-tando a morte; ou Eponina, que depois de acompaí%£o;ina%o^|or>espaço de nove annos nas cavernas em que viveu escopidí^^É-(^lagrimas, ladeada por seus dois filhos, dizer a Vespasipo V

— Como uma leoa criei estas duas creanças em uma caveraa#.para qi|fossemos mais a implorar piedade. "#. # è JÉ ' WOra vejam que historia tão comprida pr uma pergunta que niifuem

íez!

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Voltemos a GuilherminaFoi uma vez, um dia...

v; 7#pi!vvr.-¦. >"''-

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III.

Um dia, sim... mas eu não me refiro no espaço de vintf e Quatro ho-ras; uma noite, é o que eu quero dizer. .

V*X -S 3 v

' ' *.Era uma d'essas festas de familia, em que o apr^ado |^nsip||o da

formalidades aristocráticas nada tem que ver com É*uas mesmasmteJmittentes e phrases obngativas e obrigadas, f "r ' '

Ain o tom humor, sentindo-se dê rédea solta , corria a boni»er, e

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 145

os moços folgavam na intimidade respeitosa, que, sem consentir a descor-

tezia, permitte as innocentes loucuras porque todos passam.

Porem alli, onde? - me perguntara a leitora. - O que importa o

lugar?Corria o sarau, e no meio de todo o phrenesi dansante de que estavam

os convivas possuídos, um vulto de mulher apparecia-me sempre isolada

e triste; parecia que não respirava aquella atmosphera que a todos em-

briagava; não a alcançava o contagio d'aquella febre de que os outros

estavam affectados. Se alguém a procurava, recebia com um sorriso

meigo e triste, escusava-se a alguma solicitação, dizendo pura e simples-

mente que não gostava de dansar. Aquella natureza negligente e mor-

bida, aquelles olhos pardos e languidos, e aquellas faces pallidas emol-

duradas nas negras e bastas madeixas de um cabello corredio e lustroso ,

pendiam-me mais que toda a festa, e faziam-me curioso como verda-

deiro filho de Eva.Seria uma rapariga namoradeira?Seria orgulhosa ?Seria •A leitora parecerá talvez demasiada liberdade este modo de apresentar

uma senhora; porem eu respondo .

Ha pessoas que não precisam de recommendações de outrem, porque

teem comsigo a maneira de se fazerem amar por Ioda parle por onde ,ao

Como os outros eu fui ter com ella-, pedir-lhe uma <«*>*£"

valsa, nma polka. O qne cu queria era sentir a proxumdade d aque«

natu eza encantadora, achegar-me do lume orando amertecdo q eU

o!hos tio lindos, colher per minha ,e_ uma pétala a rosa.£***

lábios que se esfolhava em sorrisos de tão poético condao. Nunca em m

Tm com * grande contentamento ouvi_ uma^ «cnsa, .,J

,aque„a mulher Unha em si alguma c= =

era *-*

SH*£_:_r.--=SK="rá

a alguém que procuro alambicar o estylo oom preguices e

está acabado.

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146 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

IV.

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Guilhermina tinha uma irmã, que lhe era perfeito contraste, na figuranos olhos, no gesto > em tudo : chamava-se Leonor. Ao contrario d'a-quella, alta e esguia como um vime, esta era pequena, loira, de olhosazues, folgazã e namoradeira. Sei que devia dizer coquette, porem nãofaçamos questão de palavras, ou antes de lingua, se não é de moda.

Leonor era uma d'essas raparigas que a natureza crea acintemente áhumanidade masculina para atormental-a. Quem a encontrava e ouviaqueria-lhe bem por força, e ella a todos ia insinuando a crença de retri-buidos affectos sem os sentir por ninguém. Enganava o coração como afigura. Vista sentada em um sofá, meio reclinada , com a face descahidanegligentemente sobre a mão e perdida na nuvem dos folhos de seu ves-tido diaphano, dir-se-hia uma rapariga alta e vistosa; de pé era um mimoem que a natureza não poderá alongar os traços.

Muita mariposa foi na chamma d'aquelles olhos queimar as azas; a quede todos mais se fascinou foi Júlio.Quanto tempo adejou-lhe em torno o pobre moço, nem eu o sei dizer;

verdade é que o temor ou o acanhamento por bem largos dias contou-lheas horas, que o separaram do momento decisivo.

Todas as atenções de Júlio eram para Guilhermina; com é|a era assi-duo, palrador e jovial; para com Leonor, arredio, acanhado e pensativo.Daria um anno de sua vida por uma hora da companhia da moça, equando ella se lhe vinha sentar ao lado, dava tratos á imaginação paraencontrar um pretexto com que se afastasse d'ella.

Quem entende lá segredos do coração humano ? Bem fazem os médicosque não o tem senão na conta de agente principal da circulação, e o quen'elle estudam são as endocardites e pericardites e hipertrophias e não seimais quantas enfermidades atacam essa pobre víscera. Eu porem creioque de todas ellas a peior ó o amor; porque tão depresso affecto esse órgãocomo desarranja a cabeça. A cabeça! a parte predominante no homem...depois do estômago.

Leonor por mais de uma vez dissera á sua irmã :Júlio está apaixonado por ti. Guilhermina.E esta respondia-lhe :

Se não fosses tão maliciosa, eu te dizia que és innocente.Depois riam-se ambas. O riso , porem, de cada uma d'ellas tinha umasignificação diversa.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 147

0 riso nem sempre é a expressão do contentamento; assim como as

lagrimas nem sempre o são de magoa.

V.

Ninguém já se enganaria com os soffrimentos de Julio, tão visiveis

eram os estragos que iam todos os dias fazendo; somente Leonor não se

apercebia d'isso, ou não o queria perceber.Era sempre ella quem o provocava a fallar, porem com certa maldade,

cujo prazer é impossivel comprehender. Ás vezes dizia-lhe ella :

Tinha vontade de ver um homem apaixonado por mám para tirar

uma vingança.Como assim? respondeu-lhe Julio.

_ Pois não comprehende? É fácil. Tinha vontade de ver um homem

soffrer por minha causa, para vingar-me do que soffro por causa^e um

homem. Comprehende agora ?Comprehendo. Precisas de uma victima para offereceres em holo-

causto ao teu orgulho offendido.Exactamente.

Mas isso não te parece uma injustiça ?

_- Não Cada homem representa o seu sexo e eu tenho ouvido um sem

numero de juramentos que ter-me-biam causado indignação, se me nao

fizessem rir; e esses mesmos homens dizem e fazem esses mesmos jura-

mentos a todas as mulheres que vão encontrando. 0 que parece-lhe isto?

Parece-me ridículo. _Não é só ridículo; tem inconveniente de despoeüsar o cora ao de

uma moça muito cedo; de sorte que de decepção em decepção ella vae

gastando seus tesouros de sensibilidade c nao chega a amar nunca.&

_ Não creias, Leonor; o amor é necessário ás mulheres, como a üor e

"T^bt^m fugiriam das flores, desde o momento em que o

mC„:7-^ Po^a sahir o pobre rapar depo, d'es.e cofloquio.

Ou tudo aauillo não passaria de gamdice ?

A" lhe estado dúbio, aquella dolorosa e.pecbjtiva de .nho «^

cont nuar eternamente. Er» preciso romper os d.quos aqüelles anhel

tel-os sobrepujar tanto temor. Um dia sahio resoluto c d,.,g,o-se a casa

de Leonor como quem vae jogar a vida em um d uello.

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148 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

VI. ¦-

A condolência de Guilhermina era o balsamo para as feridas queabriam no coração de Júlio as palavras malévolas de Leonor. Quando ellechegou, a primeira pessoa que lhe appareceu foi Guilhermina : bôa esolicita como sempre.

Que tens que estás tão pallido, Júlio?É que sem duvida o coração está adivinhando o que lhe vae acon-

tecer.Não te comprehendo.Eu te vou dizer tudo, escuto : tu sabes que amo Leonor ?

Guilhermina desmaiou ligeiramente e respondeu :Sei.E sabes como me paga o amor que lhe tenho?Pois já lh'o disseste ?Não.N'esse caso...Ella já o sabe, e ha dois dias disse-me que amava a alguém.Esse alguém serás tu.

' — Não sou, não.Não creias.Verdade, ou mentira, disse-me que amava a alguém que lhe não

correspondia, e que o seu maior empenho era vingar-se n'um homem daoffensa que recebe de outro., — Loucuras de minha irmã, Júlio ; não faças caso.

Para isso fora necessário que não a amasse eeu amo-a doidamente.Venho hoje resolvido a offerecer-me para remir as culpas de outrem.Venho dizer-lhe que amo-a.

Entrava Leonor no momento em que elle pronunciava as ultimas pala-vras; ouvio-as e empallideceu. Quando Júlio se apercebeu «Telia, já umsorriso malicioso brincava nos lábios da moça.

Adeus, Júlio; não sabia que estavam aqui — disse ella.Não passou desapercebido a Guilhermina o tom epigrammatica das

palavras da irmã; lançou-lhe um olhar de.reprehensão, que Leonor fingionão perceber e disse-lhe :

Estamos aqui, é verdade, e por signal que fallando a teu respeito.Júlio que se ia dirigindo para Leonor, dando-lhe a mão a apertar,

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 149

deixou-a cahir inerte e estremeceu com a idéa de que tudo fosse dito

n'aauelle momento. t1 É uma felicidade termos quem se lembre de nós. Pois continuem.

Dizendo isto sahio a correr.

Guilhermina e Júlio se entre olharam um momento sem dizer pala-

vra sentiam-se em posição de todo falsa.1 Espera um momento - disse a primeira - é preciso que minha

irmã tenha ao menos uma vez juizo , pois nos está pondo a todos tres em

uma posição ridícula. ,Ouando Júlio se vio só, entrou a reílectir e pensou comsigo que Gui-

lhermina tinha razão e concluio que o amor o estupidificava de um modo

assombroso.Já era tempo. '

, A.

Tambem nos podemos bem concluir que se o amor produz na verdade

couTtaes, Deus noa defenda Mie. Verdade é que Camões e Petrarcha

C o wsos fariam inspirando-se um da sua Gadrarina e ouroda sua

Laura- porem não é menos verdade que affirmam com boas razoes nunca

tremexisüdo nem Laura nem Catharina de Athayda , se no na rmag.

ZZ do dl poetas. E demais dhsso o aoauhamento de Jul.o sd era nanação Q b

d-ella tinha seus rompantes como bem

:z o o"sr.;»;; ,u * « *» «etmiM;9

C Z1 Deixemo-lo som aggra,ar-lhe a posição, que as mui eres sao

cap»! de tudo transforma,- n um homem , com as traqumadas de seus

olhos.

VIL

Guilhermina foi encontrar a irmã no quarto deitada a chorar.

— O aue tens Leonor?Esta enchugou as lagrimas e respondeu de mao modo.

— Nada.— i\au.a. • i

Porem se tu choras, é que sentes alguma coisa ¦

fallas? . , , t • íta e disparou- Ora... impressões de um passeio a sala de visita... V

a rir nervosa e convulsa.

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150 JORNAL DAS FAMÍLIAS.Agora digo-te eu que estás effectivamente doente, minha irmã , e

convém que mea pae o saiba para que isso se não aggrave.Prohibo-te que lhe digas a menor coisa a tal respeito, sob pena de

fazer uma doidice.Já não a podes fazes peior do que essa; eu vou chamar meu pae e

contar-lhe tudo.¦¦*¦<¦.

Tens razão, isso te convém; e um meio muito natural de concluiruma scena de amor...

Leonor!... exclamou Guilhermina dirigindo á irmã um olharsevero.

O que ha de novo em tudo isso ? Acho muito natural acabar-se umnamoro com o casamento.

Ai, minha irmã! — disse Guilhermina a chorar e abraçando Leo-nor. — Não és tu de nós duas a que mais soffre n'este momento e porisso te queixas!

Üma extranha sensação percorreu o corpo de Leonor que entrou a tre-mer n'um calafrio.t-*-• E dizes que não soffro! - replicou ella. - Vê se ó possível fingirassim! Oh! meu Deus! esta gente é toda muito m á; elles julgam que sóeu não tenho coração !...

D'ahi a pouco a moça delirava n'um accesso de febre e Guilherminacurava d'ella á cabeceira do leito, dedicada e bôa como sempre.E Júlio? ..'..,Esse soffria também, mas ninguém curava d'elle.A leitora, porem, comprehende que não era nenhum d'esses dois o quesoffria mais. 4

[Continuar-se-ha.)L. DE A.

"*•- _, _.. mr^^mw^^mmmmmm*m* ,_, "^^_Í_^^^HJ^^^^^^^**_^-»**'"^

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\ POESIA.

A IGNEZ

CHILDE-HAROLD (Byron)

£>'ra mim nao roce os lábios teus um riso !

Que eu jamais poderei tornar-me a rir.

Ah! praza aos céos que tu tambem não chores,

E pôde ser que em vao lá no porvir.

E tu queres saber quaes os pezares,

Que soffro, e que fazem definhar ?

Para que conhecer esse tormento

Que em vão talvez procuras adoçar ?

Não é o amor, e nem tambem é o ódio,

Ou a baixa ambição que me atormenta*

Que tão mesquinha a minha sorte torna,

E do que mais amava me afugenta.

É porem esse tédio que resulta

De tudo quanto encontro ou ouça ou veja;

De modo que a belleza não me agrada,

Nem mesmo um teu olhar meu peito almeja.

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152 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

É a tristeza que constante e fixaAo errante judêo sempre persegue;Que não quer enxergar alem do túmulo,E que nenhum repouso antes consegue.

Exilar-se de si quem é que pôde!N'outras zonas embora ao soffrimentoEu fuja, mesmo assim alli me segueA morte no terrível pensamento.

Vivam outros embora de prazeres,Gozando tudo quanto eu hei deixado !E possam sempre assim viver sonhando,Nunca tendo como eu sido acordado.

A differentes climas o destinoHoje me leva cheio de amargor;Consola-me saber que já conheçoEm quanto soffrer possa o que é peior.

Qual seja esse peior, ah I não perguntes;Poupa te peço a triste confissão !E não sorrias, nem sondar procuresO inferno dentro em nosso coração.

i|j55-B9^a_____í.^^^_rllw9__\\\vS

_tí^^-^-'-^"^?í*§sfelft-^________È_S_^V\^

^"^^F^V^I^i^^^TÈr^BKggJit^ 'ltttfôtáw_mm^i*__^ ^

V. DA S.

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MOSAICO.

ANECDOTÀS.

Um velho a quem perguntavam qual era sua idade, disse com ar cluvi-doso : creio ter 6G ou 70 annos, ao certo porém nao sei.

Como, lhe perguntaram, pois não sabe o numero de annos quetem?

Confesso, disse o velho, que nunca me occupo a contal-os, como

faço com o dinheiro, porque sei que ninguém m'os tira.

üm general perguntava ao seu ajudante de campo que o importunava

para obter-lhe uma promoção : onde estara vossas feridas, são os únicos

attestados que admitto para dar adiantamento.— Não as tenho, respondeu o ajudante de campo, porque nos dias de

batalha nunca sahi d'ao pé de V. Excellencia.

r

Um pobre que andava pedindo esmola, pedio a um barbeiro que o

barbeasse pelo amor de Deus pois não tinha um real de seu.

Como não sei recusar nada que se me pede em nome de Deus, disse

o barbeiro com máo modo, vou barbear-te, mas marca bem a porta para

me não tomares a pedir n'outra oceasião a mesma esmola.

Dito isso, tomou a mais velha e ruim de suas navalhas, e começou a

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N

154 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

barbear o pobre homem sem ensaboar-lhe a cara, nem attender que oesfolava em v^z de barbear.

O pobre soffria horrivelmente mas não ousava queixar-se.Os prolongados gritos d'um gato açoitado pela mulher do barbeiro, por

ter furtado um pedaço de carne, fizeram elle suspender por um momentoa navalha e perguntou : que tem esse gato para gritar assim?

O poÍBre que até então não ousará dizer palavra, apressou-se em res-ponder : estão o barbeando pelo amor de Deus.

N'uma reunião intima lia um autor uma de suas tragédias, em quefazia figurar vinte pessoas na primeira scena, quarenta na segunda, eassim por diante, sempre augmentando-as por dezenas.

Um dos ouvintes aterrado com a enormidade das personagens obser-vou no fim do primeiro acto : que só um general de divisão poderia con-duzir todo esse povo até o fim.

O elevado preço porque sempre pagara Jorge Io dlnglaterra tudo oque consumira nas diversas hospedarias da Hòllanda resolveu-o a não en-trar mais em nenhuma d'essa terra. N'uma de suas viagens teve de pararem Alkmar para que mudassem os cavallos da carruagem, em quantoesperava, entrou na hospedaria chamada : do Carneiro, e pedio dois ovosquentes. Mal acabou de tomal-os pedio a conta.

Dois.mil florins, disse o estalajadeiro.Dois mil florins, tornou o rei?! são tão raros os ovos n'esta terra?!Os ovos não são raros, tornou o dono da hospedaria, os reis é quenão são communs. \

Vários meninos escarnecendo d'um pobre homem alejado e carcundadiziam um ao outro : Olha como elle anda, olha como é torto, parece umEsopo.

— Devo sel-o, tornou-lhe o giboso, porque faço fallar os animaes.

Gomo sabeis, sem duvida, Carlos II deveu a coroa dlnglaterra a mui-tos de seus subditos e sobre todos a lord Shaftesbury: esqueceu porém es-

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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 155

ses serviços, e nunca fez nada em favor Me. Um dia annunciaram ao

rei que lhe queriam fallar os deputados da Escossia; elle cançado das re-

petidas pretenções dos Escossezes disse a Shaftesbury que estava alli:

Fazei as vezes de rei que eu farei o vosso papel.O lord arengou os deputados e terminou dizendo-lhes *. Não vos admi-

reis si ainda nada fiz em vosso proveito, porque alli vedes lord Shaftes-

bury, a quem devo minha coroa, que ainda não obteve de mim o mais

pequeno signal de reconhecimento.

Contava-se n'uma sala que um capuchinho fora comido pelos lobos.

_ Coitados! exclamou uma moça, a fome deve ser cousa bem terrível

para que elles não repugnassem comer um barbadinho.

Dois procuradores querendo escarnecer d'um pobre carroceiro que vi-

nha puxando dois burros sendo um magro e um gordo, perguntaram-lhe

em ar de riso : 0 que significa este cavallo magro e este gordo?- Significa, respondeu o carroceiro (com affectada humildade) que o

gordo é procurador e o magro seu cliente.

Um inglez tinha a excentricidade de não crer em nada que se lhe dizia

para se não affligir. Se lhe referiam alguma desgraça acontecida a um

amigo negava-a; chegou a ponto de haver fallecido sua mulher e elle or-

demnar que se continuasse a pôr dois talheres á mesa como se ainda exis-

-tisse.Indo visital-o um dia Lord V. este foi mordido por um cachorrinho

do excêntrico dono da casa. Não vos incommodeis disse elle ao visitante

meu cachorrinho nunca morde. #_ Não façais' caso, tornou-lhe o Lord matando o animalzinho com

uma forte bengalada, eu nunca dou nos cachorros.

PAUXINA PHII.ADELPH1A.

i

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- p*

MODAS.

X.

DESCRIPÇÃO DO FIGURINO DE MODAS.

Primeiro vestuário* — Toilette para noiva : Saia de tafetá com fofos pe-quenos de crepe; túnica muito comprida de faille ornada com uma rendasobre o lado; penteado e enfeites de flores naturaes.

Segundo vestuário. — Toilette para moça : Saia de poult de soie côr dcmalva, com folhos de dois matizes. Túnica muito comprida e pouff presopor um laço da mesma fazenda. Chapéo de setim irmanado assim como asplumas com as cores do vestido.

TRABALHOS.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE BORDADOS E TRABALHOS.

N° 1. -T- Collarinho á marujo para menina ou menino. Bordado inglez ,ilhós, festões e cordãozinho.N° 2. — Trajo para menina de 3 para 6 annos : o vestido é depopeline azul

e a guarniçao de galão de lã azul e branco.N° 3. — Trajo para menina de 5 para 10 annos. Pode ser feito este bonito

trajo de qualquer fazenda e serve para o inverno como para o verão. Nossomodelo era de cachemira azul marinha, bordado com cordãozinho mais es-curo do que o vestido. As costas do corpinho são bordadas como a frenteA parte trazeira da túnica não tem pouff, e cahe como uma polaca sem pre-gas. A saia pôde ser da mesma fazenda ou mais escura como o bordado. Afrente da túnica e do corpinho se abotoam de lado. (Ver o molde.)

N° 4. — Outro trajo para menina de 7 para _2 annos. Saia inteiramentecoberta com folhos áe foulardcòv de malva. O corpinho que forma casa-

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quinha atraz e mantelete adiante, 6 guarnecido com um macheado de fitascinzentas e laços da mesma fita.

N°5. — Paletó para menino de 6 para 12 annos. O nosso modelo era depanno leve cinzento bordado com preto. Estes bonitos paletós hão de sermuito em moda na primavera e de grande utilidade, seja para o campo oua estação dos banhos.

TN° 6. — Trajo para campo ou viagem para menino de 5 para 10 annos. Estetrajo pode ser de qualquer fazenda, porem forte e leve no mesmo tempo. Acalça é cosida á camisinha e um cinto de couro natural aperta o corpo;guarnece-se o trajo com galão de algodão branco.

No 7# — Collarinho com pontas. Paraexecutal-o é preciso tirar contra provado desenho sobre cassa, e o trabalho todo se faz em ponto de cordãozinhobem apertado. Depois de acabado, recorta-se a cassa nas partes pretas dodesenho.

pjo gt — Cercadura para cortinas. O trabalho todo é em ponto de festão :depois de acabado, recorta-se a cassa debaixo das barrinhas que podem serde algodão simples encorpado.

N° 9. — Banquinho de pés de madeira esculpida , com tiras de reps encar-nado. (Ver a explicação do n° 15.)

N° 10. — Entremeio para roupa fina, plumetis, grãos e cordãozinho.No nt _ Outro entremeio. Bordado inglez e cordãozinho ou grãos eplu-

me tis.N° 12. — Bordado para saia ou vestido para criança. Bordado inglez, cor-

dãozinho e festão. A segunda fileira de palmas pode ser suppressa; assimcomo se pode fazer uma terceira fileira, querendo ter uma cercadura maislarga.

N°13.— Entremeio de vestido para criança e roupa fina. Plumetis e cordão-zinho.

N° U. — Cercadura entremeio de cordãozinho inglez. Para executal-a re-corta-se o desenho sobre papel finíssimo que se colloca depois sobre umpedaço de fazenda de linho encorpada; alinhava-se o cordãozinho inglez,seguindo os contornos indicados, e os circulos assim como os abertos, exe-cutam-se da maneira indicada pelo desenho. Depois de acabado, tira-se otrabalho da fazenda de linho que levava o desenho e torna-se a principiarmais longe.

N» j5. _ Tira para o banquinho de pés N° 9. Esta tira no nosso modelo erade pannô prelo bordado com trancelim de ouro de duas larguras diversas.O trancelim indicado por pontinhos era duas vezes mais largo de que ooutro cuja largura era regular. Essa tira poderia ser tambem feita de tran-celim da còr do reps que forma as duas outras tiras de lado e que devem serirmanadas com as cores do papel da sala.

No 16. — Desenho para chinellas. O nosso modelo era de panno azul bor-dado com cordãozinho de ouro. Os desenhos indicados por pontinhos eramlaços de seda encarnada. Depois de acabada, essa chinella faz uma lindavista.

N° 17. — Pontas de gravata; plumetis, ponto de armas e cordãozinho.N° 18. — Almofadas para espaldar de cadeira. O usô de amarrar almofadi-

nhas no espaldar das cadeiras é hoje mui em voga; são feitas de reps ou ve-ludo irmanado com os trastes e cortinas ; são enfeitadas com tiras de tape-

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caria ou applicaçao de panno. Esta almofada ^àee^^^nn rrina ata-se ao espaldar da cadeira com cordões de passamanana.°

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« paVaPa almofada n- 18. O fundo é de talagarça ,ava, o bo,

dado de lã e de seda de cores naturaes; isto é que as bonmas sao de Ia

branca as folhas e hastes de retroz verde.Paía o fundo, as ílorzinhas são de lã côr de rosa e as duas pequenas fo-

lhas de retroz. As linhas que as dividem são de lã como a orla.

N» 20. - Cercadura para calças, saia, vestido para criança, etc. llhos, plu-metís

^°gobremaca de esti0 para menino de 5 para 10 annos, vista na

frN»te22 - A mesma, vista para traz. O ramalhete bordado que orna a pe-

lerina e a frente, acha-se no n° 6 no verso da estampa de bordados.N° 23 até 28. — Nomes e iniciaes ornados.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE MOLDES.

VERSO DA PRECEDENTE ESTAMPA DE BORDADOS.

Molde de uma polaca bordada para menina de 6 para 8 annos.No i, _ Frente com peito bordado; a outra metade corta-se como esta;

porém,'não se borda e a casa do lado direito é só linginda. •

N° 2. — Costas. O meio não tem costura, corta-se com a fazenda dobradae a flo direito. 0 bordado repetir-se ha sobre a outra metade.

N° 3. — Pequeno Mo. As lettras indicam como deve ser elle collocado.N° 4. — Manga que se corta de dois pedaços; a parte inferior é indicada.N° 5*. — Desenho da polaca, vista na frente. Este bonito trajo pode ser feito

de fazenda leve ou incorpada, conforme a estação : o nosso modelo era de

popeline azul escuro, bordado em ponto de chainette com lã branca. Podeelle egualmente ser bordado com trancelins de lã ou de seda da côr que se

quizer*Para executar o bordado, tira-se contraprova do desenho sobre cassa ou

sobre papel transparente que se põe depois por baixo da fazenda que se de-seja bordar, alinhavando todos os contornos do desenho de maneira queseja elle reproduzido exactamente do sentido direito da fazenda. Quando odesenho for reproduzido , cobrir-se-ha elle inteiramente em ponto.de ckai-nette ou com trancelins.

N° 6. — Ramalhete para bordar o paletó e a sobrecasaca para meninon° 5 e 21 do recto, Borda-se elle em ponto de chainette com lâ preta. Esteramalhete repetir-se-ha como já fica indicado nos desenhos n08 5, 21 e 22.Para tirar contraprova e executar este desenho, olhar o que explicámosacima n° 5.

N° 7. — Alphabelo inglez, plumetis e cordãozinho.N° 8. — Escudo para o dito alphabeto.N° 9. — Pequeno alphabeto minúsculo no estylo do precedente. Pode elle

servir para bordar qualquer nome. Toma-se então a majuscula no alphabeton° 7 e o resto n'este.

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EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TAPEÇARIA.

N° 1. — Desenho para tiras. Este desenho pode se fazer seja de crochet,seja de filet ou de tapeçaria : no primeiro caso, o fundo é claro e o desenhocheio; no segundo, borda-se sobre o filet em ponto de serzido; no terceiro,faz-se o fundo da tira de lã de côr escura e o desenho de retroz de côr clara.Esta tira serve para cortinas, reposteiros, poltronas, almofadas, etc.

Nc 2. — Desenho para lambrequim. Pôde ser executado seja de filet, seja detapeçaria. No primeiro caso os dois desenhos de grifão e da orla são feitosem ponto de serzido, com algodão muito encorpado nas marcas brancas, efino nas cruzinhas. Sendo para tapeçaria, o branco faz-se de côr mais clara,as cruzes mais escuras e o fundo mais escuro ainda ou d'uma côr que sobre-saia de tudo sobre o desenho ; essas cores se podem irmanar com as doquarto.

No 3§ _ Desenho para lambrequim. Este debuxo pôde substituir o que levao n° 2 ou pôde alternar-se com elle. Para o trabalho é o mesmo que o don° 2. (Ver a explicação que demos acima.)

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TRABALHOS DIVERSOS.

No |# _ Thermometro. Altura 30 centímetros, largura 20 centimetros. Osornatos e cercadura do thermometro são de madeira preta esculpida. Ofundo de talagarça regular ponto de viez sobre o qual põe-se um fio de ouro,de maneira a formar um ponto atravessando o quadradinho. A obra searma sobre um papelão coberto com panninho de algodão e o thermometrofixa-se no meio com solidez.

N° 2. — Caldevrinha. Materiaes : cruz de tartaruga, Christo de marfim,concha, palhetas de ouro, talagarça, lã preta, retroz de Argel verde. O fundose faz sobre a talagarça. Na orla fazem-se oito pontos em ponto encruzadoregular de lã preta e cosem-se por cima as palhetas de ouro; enfia-se uma

pérola de ouro e passa-se a agulha no buraco do meio da palheta que secose assim sobre a tapeçaria. O resto se fazcom retroz verde em ponto en-viezado formando quadradinhos. Fixam-se por cima o crucifixo. a conchaservindo de caldeirinha assim como as tres estreitas. A armação se faz sobrecartão forrado com panninho de algodão. ;

N° 3. — Porta-diario. Materiaes : Talagarça, lã de cores variadas, pérolasbrancas, pérolas douradas. O fundo faz-se com retroz de Argel da cor quese quizer; ponto quadrado regular. A cercadura é de lã preta mesmo pontoque o fundo, com uma fileira de pérolas douradas dos dois lados. As ioiiiasde vinha são de pérolas pequenas brancas e as uvas se fazem com pero as

grandes igualmente brancas : as nervuras, as hastes e os ellos com pérolasdouradas. Este trabalho deve ser executado sobre um bastidor, arma-se ellesobre .papelão forrado com panninho. Põe-se cordão de seda ao redor assimcomo sobre as costuras.

N° 4. - Tapete para candieiro. Materiaes : 80 grammas de la de baxoma10 fios, encarnada, 18 grammas de lã branca; 4 grammas de retroz de Argel

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côt» de milho. Esta obra se faz de crochet \ é preciso principiar pelo centrocom a lã encarnada e um crochet de osso. Fazer 4 malhas chainette , reunira primeira com a ultima. Em cada uma d'essas malhas fazer duas de crochetcheio regular; continuar assim augmentando regularmente a todas as fileiraso que dá quatro augmentações e forma o quadrado.

Quatorze fileiras de crochet dão um quadrado d'uma dimensão sufficiente.Depois da sexta fileira será preciso pôr tres malhas para as augmentações

nem lugar de duas. Para a cercadura faz-se uma fileira de barrinhas dobradasduas em todas as malhas e uma malha chainette na parte superior entre cadabarrinha. Acaba-se por uma fileira de crochet. malhas simples, com o retrozcôr de milho. A cercadura vira-se para formar a disposição indicada sobreo modelo e a cada canto fixa-se um narciso branco. Fazem-se seis pelalos for-mados com seis barrinhas cada um com lã branca. O interior é de retrozamarello. No meio do quadradinho, borda-se em ponto lançado uma es-

. trella de lã branca.N° 5. — Quadrado para almofada, tiras, tapetes, etc. Este quadrado.é feito

de crochet tunisio de lã de Saxonia da côr que se deseja. A flor do meio bor-da-se aò.passe com retroz de côr viva. Alterna-se este quadrado com outrospara formar com elles almofadas, tiras, tapetes para mesa, etc.

No e# Li. Quadrado servindo para o mesmo uso que o precedente. Faz-sesobre um fundo de talagarça java. Os quadradinhos são marcados com umcordão de lã de dois matizes, preso por pontinhos de retroz de outro matiz.As flores são bordadas ao passe com lã de dois matizes; cada quadradinhotem uma flor de côr differente. Pode elle ser alternado com outros quadra-dos bordados sobre talagarça Java.

N. S. JESUS-CHRISTO NO SEPULCHRO. -

GRAVURA SOBRE MADEIRA.

Depois de Raphael, o pintor por excellencia, devemos collocar Andréadei Sarto o primeiro mestre da escola Florentina, e um dos artistas mais ce-lebres da Itália.

A galeria Pitti em Florença possue dezeseis quadros d'este pintor que re-cebeu o appellido de Senza errori (sem erros) pela pureza do seu desenho, obrilho e suavidade do colorido, emfim pela harmonia de suas composições.

Entre os painéis mais notáveis do palácio Pitti, é preciso nomear : N. S.Jesus-Christo no sepulchro , quadro insigne pela nobreza do estylo e a im-portancia do assumpto.

Paris, — Typographia de G. Chamerot, rua dosSantos-Padres, 19.