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MIL0CA. CONTINUAÇÃO. odrigo ficou reduzido a um completo monólogo. Elo- giava elle o drama, soltava exclamações, interrogava inutilmente as senhoras, e parecia engolfado na idéa de tudo que vira quando sentio que o carro desçam- bava docemente para o lado esquerdo. 0 cocheiro passara a casa e dera uma volta com o fim de chegar mais á porta; n'essa oceasiao as rodas da frente ficaram debaixo e isto produzio a queda suave do vehiculo. Os tres passageiros deram um grito, que foi o prelúdio de muitos ou- tros gritos, principalmente de D. Pulcheria que misturava atrapalhada- mente preces e pragas. Felizmente havia na vizinhança um baile, e os cocheiros de outros carros acudíram depressa para impedir que os burros disparassem. Esta providencia era de todo ponto inútil porque os burros, em cujo animo parece que tambem influíra o drama, aproveitaram a queda para dormir completamente. 0 cocheiro saltou no chão e tratou de salvar os náufragos; mas en- controu junto da portinhola que ficara voltada para cima um rapaz des- conhecido, que parecia ter a mesma idéa. Dizer-lhes que esse rapaz era Adolpho seria suppôr que os leitores nunca leram romances. Adolpho não passara por acaso ; estava alli havia muito aguardando a volta de Miloca para ter a satisfação de a ver de 12 T. XII. Dezembro de 1874.

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MIL0CA.CONTINUAÇÃO.

odrigo ficou reduzido a um completo monólogo. Elo-

giava elle o drama, soltava exclamações, interrogavainutilmente as senhoras, e parecia engolfado na idéade tudo que vira quando sentio que o carro desçam-bava docemente para o lado esquerdo. 0 cocheiro

passara a casa e dera uma volta com o fim de chegar

mais á porta; n'essa oceasiao as rodas da frente ficaram debaixo e isto

produzio a queda suave do vehiculo.Os tres passageiros deram um grito, que foi o prelúdio de muitos ou-

tros gritos, principalmente de D. Pulcheria que misturava atrapalhada-

mente preces e pragas. Felizmente havia na vizinhança um baile, e os

cocheiros de outros carros acudíram depressa para impedir que os burros

disparassem. Esta providencia era de todo ponto inútil porque os burros,

em cujo animo parece que tambem influíra o drama, aproveitaram a

queda para dormir completamente.0 cocheiro saltou no chão e tratou de salvar os náufragos; mas já en-

controu junto da portinhola que ficara voltada para cima um rapaz des-

conhecido, que parecia ter a mesma idéa.Dizer-lhes que esse rapaz era Adolpho seria suppôr que os leitores

nunca leram romances. Adolpho não passara por acaso ; estava alli havia

muito aguardando a volta de Miloca para ter a satisfação de a ver de12

T. XII. — Dezembro de 1874.

354 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

longe. Quiz a fortuna d'elle que houvesse desastre do carro. Levado porum duplo sentimento de humanidade e de egoísmo, o bom rapaz atirou-

se ao vehiculo e começou a pescar as victimas.A primeira pessoa que sahio foi D. Pulcheria , que apenas se achou sã

e salva, deu graças a Nossa Senhora e descompôz em termos brandos ocócheiro. Em quanto ella fallava, estendia Adolpho a mão para dentro docarro, para tirar Miloca. A moça estendeu-lhe a mão, e o rapaz estreme-

ceu. D'ahi a dois minutos sahia ella do carro, e Adolpho tirava a terceira

victima, que gemia com a dôr de uma ferida no nariz. Miloca apenasteve uma contusão no rosto. D. Pulcheria parece que por ser gorda offe-receu mais resistência ao choque.

Rodrigo estancava o sangue com o lenço ; Miloca entrará no corredorda casa, o cócheiro tratava de levantar o carro ajudado por alguns colle-

gas, quando D. Pulcheria, que já durante alguns minutos tinha os olhos

pregados em Adolpho, exclamou :Foi o senhor quem nos salvou! Ó mano Rodrigo, aqui está a pes-

soa que nos salvou... Olhe!Mas não. me salvou o nariz 1 objectou Rodrigo com máo humor.

Pois que! é o senhor! continuou elle aproximando-se do rapaz.É verdade, respondeu modestamente Adolpho.

Rodrigo estendeu-lhe a mão.Oh! fico-lhe muito obrigado!Devemos-lhe a vida, observou D. Pulcheria, e creia que lhe sere-

mos eternamente gratos. Quer descançar *Obrigado, minha senhora.Mas ao menos prometta que ha de vir á nossa casa , disse D. Pul-

cheria.Se me permittem essa honra...Não permittimos, exigimos; disse Rodrigo.O meu serviço não vale nada, respondeu Adolpho; fiz o que faria

outra qualquer pessoa. Todavia, se me permitte, virei saber da saude dosenhor...

Da saude do meu nariz, emendou galhofeiramente Rodrigo; venhaque nos dará grande prazer. Deixe-me apresental-o a minha filha...

Era tarde. Miloca, menos grata que os dois velhos, ou mais necessi-tada de descanço que elles, tinha subido havia já cinco minutos.

Adolpho despedio-se de Rodrigo e de D. Pulcheria e foi esperar'naesquina a passagem do carro. Chamou o cócheiro e deu-lhe uma notade cinco mil reis.

JORNAL DAS FAMÍLIAS. 35oAqui está o que você perdeu quando o carro tombou.Eu? perguntou o cocheiro que sabia não ter um vintém na algi-

beira.É verdade, disse Adolpho.

E sem mais explicações foi andando.O cocheiro era sagaz como bom cocheiro que era. Sorrio e guardou o

dinheiro no bolso.Adolpho não era tão pouco fino que fosse logo apresentar-se em casa

de Rodrigo. Esperou quarenta e oito horas antes que desse signal de si.E não foi á casa da familia, mas á loja de Rodrigo, que já lá estava comum pequeno emplastro no nariz. Rodrigo agradeceu outra vez o serviçoque lhe prestara assim como á sua familia na noite do desastre e procu-rou estabelecer desde logo uma salutar familiaridade.

Não sabe, lhe disse elle quando o rapaz se dispunha a sahir , nãosabe como minha cunhada ficou morrendo pelo senhor...

Parece ser uma excellente senhora, disse Adolpho.É uma pérola, respondeu Rodrigo. E se quer que lhe falle franco,

eu estou sendo infiel á promessa que lhe fiz.Como assim?Prometti a minha cunhada que o levaria lá a casa apenas o encon-

trasse, e separo-me do senhor sem desempenhar a minha palavra.Adolpho curvou levemente a cabeça.

Muito agradeço essa prova de bondade, disse elle, e sinto realmentenão poder corresponder ao desejo de sua cunhada. Estou prompto po-rem a lá ir apresentar-lhe os meus respeitos no dia e hora que me desi-gnar.

Quer que lhe diga uma cousa? disse alegremente o commerciante.Eu não sou homem de etiqueta; sou cá do povo. Sympathiso com osenhor, e sei a sympathia que minha cunhada lhe tem. Faca uma cousa :Venha jantar comnosco domingo.

Adolpho não pôde conter a sua alegria. Evidentemente não contavacom tamanha maré de felicidade. Agradeceu e acceitou o convite de Ro-drigo e sahio.

No domingo seguinte, apresentou-se iVdolpho em casa do commenciante. Ia de ponto em branco, sem que esta expressão se deva entendertio sentido da alta elegância fluminense. Adolpho era pobre e vestia comapuro relativamente á sua classe. Estava longe porém do rigor e da opu-lfcncia aristocrática.

D. Pulcheria recebeu o pretendente com aquellas caricias que as velhas

3S6 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

de bom coração costumam ter. Rodrigo desfez-se em solícitos compri-

mentos. Só Miloca parecia indifferente. Estendeu-lhe a ponta dos dedos,

e nem olhou para elle em quanto o misero namorado murmurou algumas

palavras relativas ao desastre. 0 introito foi máo. D. Pulcheria perce-

beu isso, e tratou de animar o rapaz, fallando-lhe com animada familia-

ridade.Nunca a filha de Rodrigo parecera tão formosa aos olhos de Adolpho.

A mesma severidade lhe dava um ar distineto e realçava a incomparavel

belleza das suas feições. Mortificava-o, é verdade , a indifferença; mas

podia elle esperar mais alguma cousa logo da primeira vez?

Miloca tocou piano a convite do pae. Era excellente pianista, e enthu-

siasmou deveras o pretendente, que não pôde disfarçar a sua impressão

e murmurou um respeitoso comprimento. Mas a moça, limitou-se a um

gesto da cabeça, acompanhado de um olhar que parecia dizer :

— O senhor entende d'isto?Durante o jantar, a velha e o cunhado fizeram galhardamente as hon-

ras da casa. Adolpho ia perdendo a pouco e pouco as maneiras ceremo-

niosas, comquanto a attitude de Miloca lhe acanhasse o espirito. Era

intelligente, polido e galhofeiro •, a boa vontade dos velhos e as qualidades

reaes d'elle, venceram em pouco tempo grande caminho. No fim do jantarera um conhecido velho.

— Tenho uma idéa , disse Rodrigo quando chegaram á sala. Vamos

dar um passeio ?A idéa foi acceita por todos, excepto por Miloca que declarou estar

incommodada, pelo que a idéa ficou sem execução.Adolpho sahio de lá mal impressionado; e teria desistido da empreza,

se o amor nao fosse engenhoso em derrubar imaginariamente todas as

diíficuldades d'este mundo. Continuou a freqüentar a casa de Rodrigo,

onde era recebido com verdadeira satisfação, menos por Miloca que pa-recia cada vez mais indifferente ao namorado.

Vendo que a situação do rapaz não melhorava , e parecendo-lhe que a

sobrinha não acharia melhor marido do que elle, interveio D. Pulcheria,não por meio da autoridade, mas com as armas dóceis da persuasão.

Acho singular, Miloca a maneira por que tratas o Sr. Adolpho.De que maneira o trato? perguntou a moça mordendo os beiços.Seccamente. E não comprehendo isto porque elle é um excellente

moço, muito bem educado, e alem d'isso já nos prestou um serviço em

oceasião seria...Tudo isso é verdade, respondeu Miloca, mas eu não sei como quer

JORNAL DAS FAMÍLIAS. 357

que o trate. Meu modo é esse. Não posso affectar o que não sinto; e asinceridade creio que é uma virtude.

É tambem a virtude do Sr. Adolpho, observou D. Pulcheria sem

parecer abalada com a sequidão da sobrinha; devias ter reparado que óum moço muito sincero, e eu...

Aqui parou D. Pulcheria por um artificio que lhe pareceu excellente :esperou que a curiosidade de Miloca lhe pedisse o resto. Mas a sobrinha

parecia completamente ausente d'alli, e não deu mostras de querer sabero resto do periodo.

D. Pulcheria fez um gesto de despeito, e não disse palavra, em quantoMiloca folheava os jornaes em todos os sentidos.

Não acho casa, disse ella depois de algum tempo.Casa? perguntou D. Pulcheria admirada.

„ — É verdade, minha tia, disse Miloca sorrindo, eu pedi a papae paraque nos mudássemos d1 aqui. Acho isto muito feio : não faria mal quemorássemos em algum bairro mais bonito. Papae disse que sim , e euando a ler os annuncios...

Ainda agora sei disso, disse D. Pulcheria.Casas apparecem muitas, continuou a moça, mas as ruas não pres-

tam. Se fosse no CatteteEstás douda? perguntou D. Pulcheria; lá as casas são mais caras

do que aqui, e além d'isso transtornaria o negocio de teu pae. Admira

como elle consente em semelhante cousa!Miloca pareceu não attender ás objecções da tia. Esta, que era sagaz,

e vivia com a sobrinha havia muito tempo, atinava com a razão do recente

capricho. Levantou-se e poz a mão na cabeça da moça.Miloca, por que has de ser assim ?Assim como ?Por que has de olhar tanto para cima?Se titia está de pé, respondeu maliciosamente a moça, eu hei de

por força olhar para cima.D. Pulcheria achou graça á resposta evasiva que a sobrinha lhe deu e

não pôde reter um sorriso.Tonta 1 lhe disse a boa velha.

E acerescentou :Tenho pensado muito em ti.Em mim ? perguntou ingenuamente Miloca.Sim; nunca pensaste no casamento?Nunca.

"""y... -'•

358 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

.» i

E se apparecesse um noivo digno de ti ?Digno de mim? Conforme; se eu o amasse,0 amor vem com o tempo. Ha bem perto de nos alguém que te

ama, um moço digno de toda a estima , laborioso , grave , um marido

como não ha muitos.Miloca desatou a rir.

Etitia vio isso primeiro que eu? perguntou ella. Quem é esse

achado?Não adivinhas ?Não posso adivinhar.0 Adolpho, declarou D. Pulcheria depois de um minuto de hesi-

tação.Miloca franzio o sobr'olho; depois deu uma nova risada.

De que te ris?-Acho engraçado. Com que então o Sr. Adolpho dignou-se olhar

para mim? Não tinha percebido; não podia esperar tamanha felicidade.

Infelizmente, não o amo... e por mais digno que seja um noivo , se eu

o não amar vale para mim o mesmo que um vendedor de phosphoros.Miloca, disse a velha contendo a indignação que lhe causavam

estas palavras da sobrinha, o que acaba de dizer não é bonito, e eu...Perdão, titia interrompeu Miloca, não se dê por offendida; res-

pondia gracejando a uma noticia que tambem me pareceu gracejo. Averdade é que eu não desejo casar-me. Quando vier a minha hora, sabe-.rei tratar seriamente o noivo que o ceo me destinar. Creio porém quenão ha de ser o Sr. Adolpho, um pó rapado...

Aqui a boa velha cravou um olhar de indignação na sobrinha, e sahio.Miloca levantou os hombros e foi tocar umas variações de Thalberg.

(Continuar-se-ha.) j. j.

_*VÍ.

^V-s » Cy*^

'JF.

A FIGUEIRA.continuação.

VIII.

**)*» —

WMmÊé

m verdade — quanto a philologia, — já não

querendo reportar-nos á sycomanda, celebradamagia de que já vos falíamos, nem aos appel-

lidos de Melichius e de Gaprotina dados a Baccho e a

Juno, enem mesmo á locução— dormir sob a figueira,T[ue deixámos em outro lugar analysada —, não nos occupare-

mos, para poupar-vos a paciência, com outros vocábulos, como

Figueredo, Sycose, Gaprificação, etc, etc, e só trataremos aqui

de uma palavra derivada, do grego e com freqüência empregada pelos

nossos escriptores nacionaes, sobre tudo políticos.Queremos fallar do vocábulo sycophanta, o qual, como sabeis, sigiii-

fica calumniador, malsim, e delator.A ira politica, tal qual vos dissemos, vibra freqüentemente em nossa

terra este sonoro vocábulo contra a opposiçao, e se fossemos prestar fé a

todos os papeluchos que se arrogam o titulo de interpretes ou órgãos

36o JORNAL DAS FAMÍLIAS.

d'ãquella sciencia, contado seria o vulto político nosso que não tivesse

ainda merecido tal designação.Seja porém como fôr o que não padece duvida , e o que agora nos

interessa é saber que o vocábulo - sycophanta - é derivado de duas

palavras gregas:Sykon — que significa — figo:Phaino, primeira pessoa do singular do tempo presente do verbo -

mostrar, ou indicar.Porque deve o vocábulo sycophanta sua existência a estas duas rai-

zes, que importam apenas esta locução : — eu indico os figos?A historia encarrega-se de nól-o explicar, e eis aqui como o faz.

Citemos as palavras textuaes de um autor contemporâneo :

« Attendendo a que a venda dos figos e sua exportação para o estran-•

geiro se. fazia em tal escala que prejudicava a satisfação das necessida-

des do consumo nacional, os Athenienses confeccionaram e promulga-ram uma lei prohibindo, sob grave penalidade, o transporte de figos parafora do território da Attica. »

Esta lei, como era fácil de prever , abrio logo espaço ás denuncias,

plantando entre os cidadãos, e especialmente entre os industriaes a des-

confiança e a rivalidade.Estas denuncias, porém, a principio verdadeiras foram pouco a pouco

degenerando em armas de aleivosia e vinganças mesquinhas. A calumniaapoderou-se d'ellas,e envenenou-as, envenenando tambem o vocábulo, o

qual, tendo começado por designar o que indicava o figo, isto é, o de-nunciador do contrabando, acabou por designar o que imputava aleivo-samente o crime, isto é o calumniador.

E assim lançou a figueira raizes no uberrimo campo da philologia !

Quanto á historia internacional em que figura a figueira eil-a em todaa sua simplicidade, invocando nós para sua authenticidade, alem do tes-temunho do veneravel Martens, já citado , o do não menos venerandoPe du Tertre, na sua — Histoire des Antilles. -.

A ilha de S. Christovão foi a primeira das Antilhas que recebeu colo-nisação franceza. Por oceasiao de enviar o governo essa primeira colônia,levantou-se grande contestação entre a França e a Inglaterra, que se

julgava com direitos absolutos á posse de toda a ilha. A contestação,porém, terminou-se pela divisão da ilha entre as duas nações e uma

figueira br ana, de tamanho descommunal, servio de marco ou termino áseparação dos terrenos nacionaes.

Mas, decorridos alguns annos, voltaram os Inglezes á carga, e a figueira

JORNAL DAS FAMÍLIAS. 361

que já havia representado tão solemne papel, veio de novo tomar partena segunda crise internacional.

Estas cousas se passavam pelos annos de mil e seiscentos e vinte etantos, e governava então as possessões francezas na ilha Mr D'Enambuc,militar valente, e homem de brios a todo a prova.

Não sendo, pois, Mr D'Enambuc homem para graças — queixou-seamargamente do procedimento dos inglezes, pedio reparação, e ameaçoualto e bom som se nao lh'a dessem, com todas as condições que esti-pulara.

Tornou-se, em vista destas reclamações, indispensável uma conferen-cia diplomática, e com effeito teve esta lugar, — extensa e prolongada,como consta ter sido , precisamente debaixo dos ramos da gigantéafigueira.

O resultado da conferência foi, graças á energia e justiça que assistiama Mr D'Enambuc uma accommodação internacional, e o tratado que fir-mou legalmente esta accommodação passou á sciencia e á historia debaixodo nome de — Tratado da figueira. Veja-se o Pc Du Tertrc, Histoire desAntilles, sobre o Traité du Figuier.

IX.

Ha mais de uma anecdola que também anda ligada á figueira em si e

nos seus fructos.Para deleite e aprazimento de nossas benignas leitoras contaremos

algumas.Eliano, nas suas Histoires diverses, nos refere que um rapazinho da

cidade de Sybaris passeava um dia com seu mestre e encontrou no meio

de uma rua um bello figo intacto e maduro.O rapazinho ao aceno de tão seductora tentação deixou em meio uma

ligressão do professor e correndo precipitadamente para o frueto aban-

donado ou esquecido, apanhou-o e foi levando-o aos dentes...

Antes, porém, que elle lá chegasse o mestre deteve o, e affeclando ar*?everissimo, passou-lhe uma tremenda repreheníão. O menino corrido do

que não supposêra crime vergou a fronte diante dos olhares e das pala-vras severas do pedagogo. E-itâo este, gesticulando sempre e aprovei-

tando o desvio do olhar do discípulo, abocou o figo c o engulio quasi sem

mastigar!...Quantos mestres ainda hoje dão lições d'esta ordem !...

T. XII.

I

3G2 JORNAL DAS FAMÍLIAS."'¦'.¦','¦¦¦ '* *

¦'¦Contam outros autores que o philosopho e sábio Chrysippo morreu

rindo-sc descompassadamente, ou por causa de um frouxo de riso, como

e costume dizer-se entre nós.Dc que depende muitas vezes a vida de-um homem... e o que mais é...

a vida de um sábio ....O que, porém , não adivinham por certo as nossas leitoras, ó a causa

d'esse riso mortifero!Pois bem : saibam que o douto Chrysippo, o sábio stoico que mereceu

de seus contemporâneos o nome de — columna do pórtico, o illustre

successor de Cieanto , e feliz adversário de Carneades, o inventor, em-

fim, do notável sophisma conhecido, no mundo philosophico pelo — ero-

codilo, morreu ás gargalhadas porque... porque... vio um burro comendo

figos n'um prato!Ü que não lhe teria acontecido se tivesse ouvido contar isso de ou-

trol...Outro sábio, porém incapaz de morrer de riso, porque era misanthropo

de caracter e de nome, possuía nos terrenos que cercavam sua habitaçãoem Athenas uma grande figueira brava, a cujos rijos galhos costumavamvir suspenderem-se os suicidas.

Timon, que assim se chamava o philosopho misanthropo, tendo neces-sidade de derribar a figueira, entendeu que devia prevenir d'isso o povoAtheniense e com effeito fez um singularissimo annuncio <que a historiacommemora, embora alguns autores, entre elles Bouillet, lhe conteste averacidade.

N'esse annuncio o philosopho avisava a quem interessasse que , tendode arrancar a sua figueira dava o prazo de oito dias para aproveitamentodaquelles que se quizessem enforcar, pois expirado esse prazo fatal maisninguém a acharia para o desejado fim !

Mas o que é mais do que tudo isso singular, é que Timon veio a mor-rer de uma queda dada dos altos ramos de uma outra figueira , vizinhada que servio de forca a tantos loucos!

O philosopho, corno todos sabem, vivia só, litteralmente só, e por issocahindo da figueira e tendo quebrado uma perna , expirou abandonadoe no mesmo lugar em que tocara a terra!...

Este ao menos não era poeta... para quem parece reservadas as mortesno abandono!

E hão se diga que o nosso continente não fornece n'este capitulo as-sumpto ao nosso empenho !

De muito mais recente data e passada na America é a seguinte aneedota

.;

JORNAL DAS FAMÍLIAS. 363

que nos transmitte M™ de Genlis, em umas das suas obrinhas já pormais de uma vez citadas e aproveitadas.

Eis aqui como a illustre escriptora nol-a conta : •Nos primeiros tempos que se seguiram a descoberta da America, os

simples e ignorantes habitantes d'esta parte do Universo, alheios aoconhecimento das nossas artes e sciencias, acreditavam quando viamalguém ler um livro, ou um manuscripto que o livro ou o manuscriptofallava. Conta-se então uma anecdota originada d'essa errada crença.

Um escravo indígena foi encarregado por' seu senhor de levar a umamigo distante um paneiro com figos, e uma carta em que se explicavao mimo.

O escravo não sabendo o valor do escripto que levava, e não podendoresistir á tentação de comer alguns dos aveludados fruetos que eramdestinados ao amigo do seu senhor, comeu effectivamente e sem receioalgum de indiscrição, uns tres ou quatro figos.

Chegado porém ao seu destino, e tendo entregado a carta indiscreta,o mimoseado contou os figos, e perguntou ao portador pelos que falta-vam.

Este interiormente admirado, kporém apparentcmente tranquillo, res-pondeu que não tinha recebido do seu senhor mais do que aquelles queentregara.

— Pois não ó isto o que me diz a carta , acerescentou naturalmente oamigo defraudado.

Esta expressão : — o que me diz a carta ! — deslumbrou, como luzmágica, o caboclo, que todavia continuou a sustentar até o fim que eramentira da tal carta.

Mas semelhante mysterio não lhe cahio ao chão : gravou-se lhe namemória, e prometteu aos seus Deuzes que se o acaso lhe deparassesegunda emergência daquellas havia de tomar as necessárias precau-ções, nunca porém renunciando a culposa goludice, que tanto o deleitara.

Com effeito, como se o demo as armara, repetio-se o caso , e o nossocaboclo foi segunda vez encarregado de levar figos contados em carta quedirigia o presente.

Logo que se vio em paragem deserta e segura, o caboclo parou e des-tinou*se a comer os quatro figos de costume. Antes porém que os tirassedo paneiro, desviou-se um pouco da estrada e tendo encontrado uma

grande pedra levantou-a quanto poude e escondeu debaixo d'ella a cartade que era portador. Voltando então ao sitio em que deixara o paneirosaboreou tranquiilamente os quatro fruetos, apagando os vestígios mate^

364 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

riaes do roubo no cabaz, e intimamente certo de que , uão o tendo a

carta visto comer, não poderia mais pregar-lhe das suas, e n'estas dispo-

sições de uma consciência-fácil de accommodar, pôz-se de novo a cami-

nho em direcçao ao cumprimento de sua incumbência.

Que pasmo, porém, não foi o do simplório indígena quando ouvio,

depois de lida a maldita carta , reclamar-lhe o desfalcado amigo do seu

senhor os quatro íigos que comera , e isto tão exactamente como se os

contara na occasião em que os via comer !...

Tentou o pobre tolo ainda uma vez negar : mas foram tão precisos os

pormenores que do roubado lhe deu o amigo , que, vencido e acabru-

nhado pelo que julgava magia, confessou a culpa e ainda mais o poderextraordinário e divino da tremenda accusadora , a carta do seu senhor,

homem que bem o avaliava quando enumerava os objectos com que rega-

lava seus amigos!

X.

Não são, porém, os figos fructo de mero regalo.Os Gregos alimentavam especialmente com figos os seus athletas, e isso

por que consideravam o fructo da figueira altamente nutritivo e fortifi-

cante.Os Caraibas dão-lhe a mesma importância, e tão supersticiosamente

exageram estas qualidades que deixam de comêl-os por que, costumandodormir em redes, acreditam que arrebentariam se por ventura se ali-mentassem de figos.

0 que é, porém , verdade é que a medicina os considera peitoraes erefrigerantes e que ainda hoje muitos povos, como por exemplo os ilhéosdo Archipelago e de Malta, fazem d'elles principal alimento, seccando- osao forno.

]_ sendo assim era natural que procurassem todos os meios não só demultiplical-os pelo plantio, como augmentar o volume e o sabor dos indi-viduos. D'e§te empenho é que nasceu, com effeito, a caprificação, tão

gabada pelos antigos, e hoje tão commum no Levante.ê

Nossas leitoras, embora já estirado este artigo, não levarão a mal quenos demoremos um pouco a fallar da caprificação, porque quando outrautilidade não tirem d'esta leitura, tirarão pelo menos a de poderem deci-dir sobre assumpto que muitos homens lidos ignoram completamente.

Isto não importa dizer que vamos dizer novidades, nem que as prevê-nimos contra o narcótico de uma prelecção de botânica. Não... são ape-

JORNAL DAS FAMÍLIAS.

nas duas palavras : mas duas palavras curiosas no seu tanto, e na suaesphera. Eil-as.

Em que consiste a caprificação ? A que empregavam os antigos é amesma que hoje se emprega usualmente no Levante ? Quantas espéciesde caprificação são conhecidas desde a antigüidade ? Qual é a mais pro-veitosa ao fim a que se destina? Qual é esse fim ?

Estas cinco perguntas resumem a curiosidade possível n'esta matéria:a sua resposta baseada na experiência, e no testemunho autorisado desérios escriptores importará, por tanto , uma verdadeira elucidação doassumpto proposto.

Comecemos porém pela ultima pergunta : qual é o fim da caprifi-cação?

0 fim que tem e sempre teve em visita a caprificação foi e é augmen-tar a fructificação da figueira, isto é, augmentar o tamanho do frueto,apressar a sua maturidade, e tornal-o mais saboroso.

Para obter este triplice resultado os antigos empregavam o Cynips.0 que 6, porém, o Cynips? 0 cynips é uma especie de insecto que

abunda nas figueiras silvestres, d'onde os antigos os ião tirar parar oscollocar depois, em grande numero, sobre os ramos das figueiras mansasou cultivadas.

*

Apenas ahi o cynpis procura os fruetos verdes, e por elles penetra im-mediatamente, accelerando por esta forma a maturidade, e o desenvolvi-mento do figo.

Tal era entre os antigos, e tal é ainda presentemente no Levante averdadeira caprificação, assim chamada de caprificus, ou figueira brava.

Não é esta, porém, a única especie de caprificação conhecida.No Egypto os naturaes contestam a excellencia da caprificação do Le-

vante e adoptam geralmente outra que consiste em cercear o olho oucoroa do figo quando elle está verde, porém já pouco novo. Affirmamser muilo mais proveitoso este methodo, o que , seja dito de passagem,ainda não abalou a merecida reputação dos figos da Turquia e do Archi-

pelago.Em outros lugares da Europa usam de uma terceira especie de capri-

ficação, ainda mais fácil e prompta do que as duas primeiras.Consiste esta terceira especie, particularmente em voga na França , e

na Itália, em picar os figos verdes com agulhas embebidas em azeite doce.E comp variante desta especie aconselham encher de azeite doce o olhoou a coroa do figo.

Não me consta que no Brazil, onde medram lindos e saborosos figos,

$

36e JORNAL DAS FAMÍLIAS.

e onde são esses fruetos tão apreciados, se pratique qualquer d'estas

espécies de caprificação. Mas como o arbusto é alem de formoso, de faci-

lima cultura, sempre brando, e próximo da habitação, ao alcance da mais

delicada botina, e digno dos cuidados da mais faceira mãosinha, deixa-

mos de propósito, expostas aqui estes processos de caprificação a fim de

que nossas amáveis leitoras possam utilisar-se de qualquer d'elles, com

especialidade dos dois últimos de engraçado e divertido trabalho.

E quando não seja para alguma novidade, e para todas, serviço-o que,

n'esta intenção, colhemos e aqui lhes damos, valha-nos ao menos a boa

intenção, pois n'este caso podemos do coração exclamar com o poeta

Guerreiro:Tomei este trabalho em teu respeito

Se é útil... para ti é o proveito;Se inútil... para mim é o castigo

Que o trabalhar em vão fica commigo!

[Continuar-se-ha.)J)T CAETA1SO F1LGUEIRAS.

J ^* » f S^^t^S^L^. ^L' «a"**aV*"* k- _^ -*s * ^t3 Y~ ~fai ^'a^^*""*. "^^ ^^ Ljr^-^t A^ajja^Ja^-^J^i*/"^. ^ i) *w --~^mmmií9^^mmTsLT^B^mmVm^^m^ScS!L.

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VALERIO. /

I.

Valerio era fluminense; veio á luz com a revolução de 1831. 0 paeestava no campo, em quanto elle nascio humildemente, entre as lagrimasde sua mãe e os cuidados de uma velha comadre. Quando o pae voltouá casa, encontrou esse augmento-na familia. Beijou o filho, consolou amulher, comeu alguma cousa, e foi passar a noite n'um dos clubs dotempo.

A paternidade é anterior á sociedade; mas* os amores novos fazemesquecer os velhos, e a paixão politica domina, em certos casos, os pri-meiros instinctos da natureza. é

Nascido entre lagrimas, foi Valerio criado entre penas. 0 pae, que eraum pobre militar, não tinha recursos de sobra para deixar á familia, emorreu pouco depois da revolução. A mãe educou como pôde o pequenoaté á idade de sete annos; a pobre senhora morreu sem poder vel-on'um collegio. Valerio passou então á casa do padrinho, que era um

general conhecido n'aquelle tempo por suas façanhas e mentiras, masno fim de contas boa alma e amigo de servir. 0 general mandou ensinarao afilhado os primeiros rudimentos da lingua e um pouco de latim.

Vendo os progressos do pequeno, determinou mandal-o estudar direito, en'esse propósito estava quando falleceu sem testamento. Os poucos bens

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368 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

que tinha cahíram nas mãos dos parentes, o Valerio ficou senhor das

calçadas da rua, na idade de quatorze annos.Como não é nossa intenção contar dia por dia a vida do rapaz, corra-

mos um véo sobre os acontecimentos da sua adolescência até encontral-o

em 1861, com trinta annos de idade, sem mais fortuna do que quandonascera, nem recurso certo para occorrer ás necessidades da vida. Ten-

tara estudar direito, mas não conseguira alcançar os meios precisos parauma curso regular. Não tinha officio nenhum, e tinha cousa peior, que

era ser incapaz de adoptar qualquer officio manual não só porque não o

arrastava para ahi a vocação, como porque , sentindo-se apto para uma

carreira litteraria, temia perder a sua utilidade no mundo, adoptando um

meio de vida em que nada podia fazer.Desistio do intento de estudar direito; fechou os livros n'uma caixa, e

contentando-se com o pouco que sabia de latim, geographia e historia,

entregou-se todo aos dois empregos de que tirava escassos recursos;

escrevente de cartório e revisor de provas de typographia.Não consta em memória de homem que estes dois empregos tenham

dado grandes rendas a quem os exerce. Valerio vivia pobremente ; rece-

bia um mesquinho ordenado da typographia e cobrava pela rasa o tra-

balho do cartório. De quando em quando algum traslado de inventario

lá lhe dava cóm que comprar um paletó. Mas, como nem sempre havia

traslado, nem sempre havia paletó novo. Os cotovellos, amigos da liber-

dade, operavam-lhe ás vezes soluções de continuidade nas mangas. Nem

era raro ver um botão solitário na cintura, tendo o outro cahido de velhice.Uma das cousas que Valerio estudara com proveito era a grammatica

portugueza. Por isso, sabendo que vagara uma cadeira de grammatican'um collegio publico, Valerio propoz-se á cadeira, e foi pedil-a do func-cionario competente. A cadeira foi dada a outro peticionario que escre-vera nestes termos ao director : « Não consta-me que haja candidatoserio ao lugar que vagou n'essa escola. Desejava consultar V. Exc. á res-

peito. »Valerio contentou-se com a typographia e o cartório. Dividia o tempo

entre esses dois empregos, e o pouco que lhe restava mal chegava paradormir. Oecupava um aposento n'uma casa da rua das Flores e facilmentese imaginará que o aposento não primava pelo luxo. 0 mesmo espaçoservia de sala e alcova; a mobília era escassa e pobre.

Tal era ávida de Valerio aos trinta annos; abundância de appetite eescassez de jantares, isso é a segunda classe de Ghamfort; muito tra-balho e pouquíssimos recursos. Nullo passado, escasso presente , tristis-

JORNAL DAS FAMÍLIAS. 369

simo porvir. Quando Valerio meditava sobre as condições da sua exis- .tcncia, a sua mocidade sem risos, o seu futuro sem esperanças,. lançavaum olhar melancólico para o suicídio, como a solução razoável do pro-blema da vida, e perguntava entre si se a moral que desarma o braço dohomem não era simplesmente uma moral de convenção. Immediatamente,porém, volvia a sentimentos melhores; encarava severamente a respon-sabilidade que lhe corria de carregar a vida dignamente, sem violêncianem rebeldia; adiava o suicídio para o próximo desanimo.

Contribuíam para esta philosophia severa, algumas horas de ambiçãoe devaneio, em que Valerio esquecia provas e traslados, e lançava o espi-rito por esses espaços fora em busca de felicidades sonhadas e imagina-das grandezas. Não tinha objecto sua ambiciosa imaginação : ora viviauma vida de amores, ora oecupava um throno de gloria; agora imagi-nava-se Petrarca, mais tarde acreditava-se Pitt; construía castellos noar, embriagava-se com perfumes do Oriente, dominava as turbas pasma-das, vivia um romance e repousava na historia.

• Quando descia d'essas alturas vertiginosas, Valerio tinha ao menosesquecido a miséria actual, porque sonhar e esquecer, e esquecer é muitavez toda a felicidade da vida.

ii.

Costuma a fortuna complicar estas misérias com amores impossíveis;d'esta vez foi propicia, arredando do caminha do rapaz qualquer dessasaventuras que podessem aggravar-lhe o mal. Além d'isso, Valerio era

um tanto e artista e poeta na maneira de apreciar as mulheres; amariaSapho, porque era musa, — desdenharia a princeza de Talleyrand, ape-

zar de formosa, porque era parva. Queria as mulheres intelligentes e

instruídas, — não as mulheres sabichonas, que é a peior casta de mulhe-

res d'este mundo, e Valerio odiava o pedantismo , qualquer que fosse o* .

seu sexo.Odiar o pedantismo é entrar em luta com uma boa parte da gente que

n'este mundo dá cartas. Valerio conheceu praticamente esse mal uma

vez que sorrio á socapa, ouvindo no Carceller, onde almoçava, uma pre-. tenção politica feita por um sujeito a vários amigos, um doutor entre

doutores. Q orador de café percebeu o sorriso do extranho, levantou-se e

disse-lhe dois improporios litterarios, que "Valerio

supportou com uma

paciência mais stoica que evangélica, porque não era humilde, senão phi-

losopho.

3-0 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

O incidente não alterou as opiniões do escrevente de cartório; pelo

contrario, confirmou-lh'as.Não encontrara até então nenhuma mulher nas condições em que elle

a desejava, e se encontrasse seria o remate do seu infortúnio. Ainda

quando viesse a ser amado por ella, que futuro podia oíferecer-lhe um

pobre rapaz sem eira nem beira, sem protecção nem amizade n'este

mundo?Pensava em tudo isto Valerio , e, se tinha em si mundos de ternura,

recalcava-os no mais intimo de coração. Como não freqüentava nenhuma

casa, não tinha oceasiao de ser tentado pelo amor.

Aconteceu uma vez que o escrivão do cartório onde elle trabalhava,

reunindo em casa algumas pessoas para jantar e dansar, convidou os seus

escreventes, entre os quaes o nosso Valerio, que recusou o convite. Of-

fendido no seu melindre de amphytrião, o escrivão frauzio a testa e mur-

murou :Está bem*

Comprehendeu o pobre escrevente a causa d'aquelle movimento, e nao

convindo zangar-se com o homem que lhe dava meios de vida, confessou

ingenuamente que a causa da recusa era simplesmente uma questão de

sapateiro. 0 escrivão desrugou a lesta, metteu a mão no bolso, tirou dez

mil reis e entregou-os ao escrevente, dizendo-lhe :Podia dizebo logo ; sabe que não sou senhor de fome, e alem d'isso

temos contas entre nós. Descontaremos isto no traslado de fallencia quelá tem comsigo.

Sahio Valerio com os dez mil reis no bolso e dirigio-se a um sapateiro

para munir-se de um par de botas que substituíssem os sapatos velhos

que fingiam calçar-lhe os pés. Ia pensando no aborrecimento que lhe

.causaria passar a tarde e a noite em casa do escrivão, sem conhecer nin-

guem, quando foi detido por um individuo que lhe disse :Ia agora mesmo procural-o. Quando me dá aquella continha?

A continha de que fallava o sujeito era o resto de um paletó, que Va-lerio comprara quinze dias antes : cinco mil reis.

Valeriobalbuciou algumas palavras de desculpa, e o individuo acostu-mado a ouvil-as de muita gente nao se abalou com ellas, e insistio na

pergunta. No fim de dez minutos, o devedor não tinha conseguido abalaro credor^ puxou do bolso a nota de dez mil reis e com ella pagou os cincoque devia.

Estava pois reduzido a cinco mil reis. Não era difficil comprar Com essedinheiro um par de sapatos, nem os seus eram de maior preço. Dirigio-

t JORNAL DAS FAMÍLIAS. 371«e a um sapateiro de décima classe, e ahi mercou um par de sapatos debezerra, que o sapateiro affirmava serem novos, mas que Valerio suppozterem já alguma experiência do mundo e das calçadas. Com um bilhetede gondola, perdido no bolso do collete, pagou Valerio a um barbeiroque lhe limpou a cara; depois foi vestir-se como pôde, e ás quatro horasestava em casa do escrivão.

Sabem todos com que cara apparece um homem quando vai pela pri-meira vez dam le monde. 0 acanhamentoé visível; não dá um passoque não olhe para todos; esconde-se voluntariamente e sempre que pode.Valerio estava n'essa situação accrescendo que o seu vestuário augmen-tava o contraste da sua pessoa no meio da sociedade em que se achava.Não havia luxo nem elegância nas pessoas convidadas pelo escrivão; areunião era familiar, e o escrivão não estava em grandes relações comBotafogo. Mas, apezar de tudo, havia entre a sociedade e Valerio umabysmo. 0 escrivão recebeu o rapaz com certa affabilidade de superior,que mostrava da parte do homem um vicio de educação ou de caracter,— por quanto o escrevente do cartório era um convidado da casa, e, comotal, estava nivelado com os outros. Nem o escrivão notava essa differença

nem Valerio deu por ella; o comprimento do escrivão causou grandeprazer ao rapaz, que já estava ernbaraçadissimo quando se vio alvo dosolhares das moças e dos rapazes. .

O jantar foi animado, e Valerio achava-se satisfeito vendo a alegria detodos. Dentro de uma hora cederam os estômagos a palavra ás línguas, ecomeçou uma serie de brindes ao dono de casa que foi designado porvarias metaphoras descabelladas, entre outras a de um funccionario ma-nicipal que lhe chamou camarista de Themis. 0 escrivão sorrio com umar de quem ignorava o que era Themis; mas a palavra camarista soou-lhe bem ao ouvido. 0 orador de sobremesa é um typo universal; entrenós tem já alcançado uma posição solida e brilhante. Valerio que nãoconhecia o typo, admigou muito a loquela dos oradores e a compridezdos speeches, e mais ainda os applausos e risadas dos circumstantes con-forme os discursos fossem patheticos ou gaiatos. Todos tiveram partenas saúdes; e o ultimo brinde foi levantado pelo escrivão, que fallounestes termos ;

~ Meus senhores! Se ha na vida de um homem instantes de felici-dade ó certamente este em que os amigos se reúnem á roda de nós, paracomprimentar-nose partilhar comnosco as affeições sinceras e profundas.(Muito bem!) Folgo de ver-vos esquecer outros cuidados para entregaivos todos a festejar o meu dia, que, como é natural e usual na sociedade^

JORNAL DAS FAMÍLIAS,

é o primeiro dia da existência, d'esta existência, Senhores, que, apesar

e ama.di. ada, é sempre cara ao nosso coração, cara rcprto pnncrpa,

.nente. quando os amigos aos servem de lemtivo. Eu bebo aos meus

"ÍS' um bebeu _ soa saude e prelúdio* a debandada. Seguio-se

_ais tarde um pequeno concerto om que um flautista arrebatou „ aud-

Torio tocando u__ variações sobro o ja sec cante Carnaval _ Vmm; o

ás nove horas começou a primeira quadrilha.Valerio foi simples espectador do baile; não sabia dansar nem que

soubesse dansaria logo da primeira v_ que se achava em soe.edade.En-

costou-sc a um, porta que dava para a sala e contemplou os mov,ment

de toda aquella gente alegre. A única pessoa, que apezar de tudo, estava

nm tanto inquieta, era o dono da casa. Esperava um convidado que nao

viera. Um convidado que era a verdadeira cúpula do edifício festival, o

coronel Borges, militar reformado,,-«-deputado, ex-quasi-ministro,

figura que devia impor á reunião e levantal-o muito alto no animo dos

con\idados.0 tempo corria com essa rapidez máxima que costuma ter em certas

occasiôes, e o escrivão, semelhante á celebre esposa do conto, perguntava

á irmã Anna, que era iveste caso um moleque , se não via nen venir

là-bas.N'esta anciã forão ouvidas as dez horas.

[Continuar-se-ha.),1013.

^^^^I^Rí3_^lfièsi"ÍÍ^^?K_Ss_^kIÍ^í_3^__í_#^Í " i ÁiQàaWuaÊÊÊ^iisM^S^

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POESIA.

QUE TEMES?

Temes e tremes, anjinho,Como as vergonteas do arbusto ?Temes o que? esse mundo ?— Temes o publico injusto ?Temes, anjinho, esse espectro,Essephantasma de susto?

Temes que os homens conheçamQue és tu só meu seraphim ?Temes que os homens nos vejamTão abraçados assim?Temes que os homens invejemNossa ventura por fim?

Nao temas! esse phantasmaExiste sim, mas é vão.Não digas quando eu te beijo,Não digas — o que dirão ? —

Não digas; — porque não sabes

Quantas dores soffro então.

i

374 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

Não digas — porque não sabes,

Que me tranze, o coração,— Qual setta que vara o peitoE cai, tremendo, no chão :

Não digas — porque me agito

Em horrível contorsão.

Não temas! vem dar-me um beijo

Có os teus lábios de carmim :

Deixa que os homens murmurem,

Como a fusão de um festim :

Deixa que os homens invejem

Que sejas meu seraphim.**#

MODAS.

DESCRIPCAO DO FIGURINO DE MODAS.

"..'¦¦¦¦ ¦ ' ¦¦ ¦ ¦¦ ¦ ¦¦¦ ;,-.',-. ... ¦' ¦

¦¦'.¦¦¦ ; . ¦ ¦'¦¦' .'¦¦¦¦•'¦ ¦¦¦.¦:'¦

Primeiro vestuário. — Cossolete dito couraça de veludo azul ferrete, ves-tido de tafetá azul paon, manga com canhão formado de dois folhos de tafetáammello da China, tendo por cima um macheado com conchinhas forradocom veludo azul.

Vestido arregaçado no cinto do lado direito sobre uma saia com íôlhos detafetá amarello da China; sete laços azueis guarnecem os folhos em tiras(quilles); a saia apresenta um concheado dobrado forrado com fazendaescura.

Segundo vestuário. — Confection de caehemira beige, forma de pelerinaredonda e um pouco mais comprida sobre os lados, guarnecida com umgalão e passamanaria.

Saia da mesma côr amarrada atraz deixando ver duas extremidades qua-dradas com franjado, galão ou passamanaria, alto franzido na saia com-prida,

TRABALHOS.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE BORDADOS E TRABALHOS.

Esta estamparepresenta unicamente um modelo te filet que pode servir

para colcha ou cobertor. A obra toda é em ponto de serzido sobre filet um

pouco encorpado. Depois da obra acabada, forra-se ella com um transpa-rente de setim ou de tafetá irmanado com as cortinas do aposento.

376 JORNAL DAS FAMÍLIAS.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE MOLDES.

VERSO DA PRECEDENTE ESTAMPA DE BORDADOS.

Molde d'ma camisa bordada para senhora.

N° 1. — Frente.N» 2. — Metade das costas.No 31 _ Pedaço do hombro; ívmie.)n° — Pedaço do hombro; metade das costas.N° 5. - Pedaço do hombro; parte inferior da manga.

No 6. _ fira para os botões.N° 7. _ Debuxo da camisa. . ,N» 8. - ítonAo peqneno que pode servir para ™brt.tnir todas as

coroas bordadas da camisa querendo que ella seja mais r.ca e manw tom*

parente. N'este caso a cercadura tambem é feita com ilhos e todos estes de

senhos são de ilhós e plumetis. nAWPHiPá rhataPode este molde servir tambem para camisa simples com ?™f^«

e uma orla festoada unicamente. A peça bordada pode ser como o mode o

separada da camisa ou querendo pode-se ajuntar o molde do pedaço Dor

dado com os moldes í« 1 e 2 antes de cortar e bordar sobre a dita

camisa.O pedaço que, por falta de lugar, dividimos em tres partes, se corta d'um

pedaço só; ajuntar-se-hão os moldes nos lugares marcados por lettras

assim as tres partes formarão uma peça só. mAi,ip.A frente da camisa corta-se pondo a fazenda dobrada sobre o mome,

sobre o lado o viez continua na mesma direcçao até a parte ^enoi ,camisa da qual damos unicamente o molde da parte superior, se pooewiajuntar o comprimento desejado desde a linha em pontos que acaba o moine.

o alto é aberto no meio. Sobre o lado esquerdo, prolonga-se a lmha direua

até á parte superior e cose-se a tira n° 6 cortada dobrada para fixar os botões^

Essa tira está cosida no avesso sobre o quadrado formado pelas letras A ,oe H. As costas são cortadas tambem em parte dobrada sobre o moiae

n° 2. 0 viez continua-se como já se diz para a frente.N° 9. — Alphabeto para guardanapos e fronhas. .N° 10. — Escudo para o dito alphabeto.N°H. — Outro alphabeto do mesmo estylo para guardanapos e len-

çóes.N° 12. — Escudo para o dito alphabeto maior.

EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TAPEÇARIA.¦

.;!.' ."...¦:¦¦¦¦

TRABALHOS DIVERSOS DE CROCHET OU FILET....jr

NM. — Tira para cordão de campainha.N°s2, 3,4e5. — Desenhos para] fundo de tapeçaria ou de cortinas de

filet.

X.

\í. ,:

JORNAL DAS FAMILIAS. 377

N° 6. — Este modelo pode servir para almofada ou mocho para pianosendo executado de tapeçaria. Pode ser também bordado de cerzido sobre

filet para véo de poltrona, cobertor de cama, etc. A orla também é bordadaem ponto de serzido.

Sendo executado de tapeçaria, o fundo pode ser de lã de côr escura, odesenho de retroz d'uma côr mais clara ou sobresahindo sobre o fundo;

para a orla, as cores são designadas pelas differentes indicações principiandopela côr mais escura^ com grande cuidado de bem graduar e harmonisaras outras cores.

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EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TAPEÇARIA (COLORIDA).

Duas tiras para cortinas, reposteiros, cadeiras, poltronas, cordões paracampainha, etc. Execução mui fácil e que não precisa explicação.

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ÍNDICE

DO DUODEGIMO ANNO.

W

ROMANCES E NOVELLAS.

Ua terra ao inferno (fim), por José da

Costa. • A menina dos olhos pardos (continuação),

por OttoContos Macahenses. — Virgilio. — Ame-

lia, porL.L.F. Pinheiro Jr.A menina dos olhos pardos (íim), porOtto '••"•;

Contos Macahenses* — Funesto desen-

gano. — Üm naufrágio , por L. L. F.Pinheiro Jr...*..........•.»».••' • »

Úm duello, por Victoria Colonna. .......Contos Macahenses. -¦- Üma victima da

vaidade, por L. L. F. Pinheiío J*A Catteiía, por Êgo.Os óculos de Pedro Antâo, por J. Os óculos de Pedro Antâo (continuação),

por J. J....Contos Macahenses.— Thereza, por L.

L. F. Pinheiro JrAs Flores, pelo Dr Caetano Filgueiras —Os óculos de Pedro Antâo (fim), porJ.J

Contos Macahenses. — Historia de doisviúvos, por L. L. F. Pinheiro Jr

Guilhermina, por L. de Guilhermina (fim), por L. de A........

1

11

18

33

3746

657L80

97

102111

129

135143161

Contos Macahenses, — O Anjo da Soli-

duo, por L. L. F. Pinheiro Jr

Um dia de entrudo, por Lara—,Contos Macahenses. -: Segredos d'um co-

ração, por L. L» F. Pinheiro Jr

Estrella do Norte, por Gratulino Coelho..Um dia de entrudo (continuação), porLara.

Um dia de entrudo (fim), por Lara

Contos Macahenses. — Uma historia

curta.— Justiça de Deus,por L. L. F.

Pinheiro J1'Uma noite, pelo D* Caetano Filgueiras...Ser visto, por Contos Macahenses. — Coração de mu-

lher, por L. L. F. Pinheiro Jr •. •

A Beneficência delicada (traduzido do ita-

liano) por Emilia A. Gomide Penido..Ser Visto (fim), por Muitos annos depois, por LaraA Figueira, pelo Dr Caetano Filgueiras».Muitos annos depois (fim), por Lara..»»A Figueira (continuação), pelo Dr C. Fil-

gueiras..Miloca, por J. J * •

Miloca (continuação), por J. A Figueira (continuação), pelo Dr Caetano

Filgueiras Valerio, por Job

167177

193198

207225

230236257

267

271289292 •304321

330338353

359367

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p7»

u*>M'.'Vi .

*.'*¦"¦¦¦;¦!

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JORNAL DASPOESIAS.

Glosa (a pedido), por Vicente de MouraP. 27

Devaneio, por José Elisiario 90Harmonias, pelo Dr Caetano Filgueiras.. 122A Ignez (Childe-Harold), por V. da S... 151A Cismadora, por B. Guimarães 215Heidenróslein (Goethe), por V. da S..... 251Lembrança, por J. F. Taboca filho 281A mulher (recitativo), por Honorata M.

Carneiro de Mendonça 3í3Branca Rosa (recitativo), por J. NorbertodeS.S 346

O Crepúsculo, por L. L. Fernandes Pi-nheiro Jr. 347

Que temes? por #**•'_•¦•'•

.':.'•'¦-...-• «•»«

37.3

VARIEDADES.

Resumo do systema métrico, por L. L. F.Pinheiro J* .. 202

CONCELHOS.

Linhas que as criadas não devem ler, porVictoria Colonna 343

MOSAICO.

Anecdotas, por Paulina Philadelphia 56Anecdotas, por Paulina Philadelphia.... 153Anecdotas, por Paulina Philadelphia..... 249Anecdotas, por Paulina Philadelphia— 275Anecdotas, por Paulina Philadelphia 311

ECONOMIA DOMESTICA.

Remédio contra a dôr de dente. — Re*médio contra o rheumatismo lombar.-*. Remédio contre a tosse e a rouqui-dão. — Outro contra o delluxo. -*Re-médio contra a enxaqueca» — Remédiocontra cortes, ou pelladuras, por Pau-lina Philadelphia »... 88

MEDICINA POPULAR.

Girasol: sua acção hygienica, peloDr P.L. N. Chernoviz 185

Remédio contra as queimaduras. — Re-médio contra o suor dos pés. — Reme-dio contra as torceduras. — Remédiocontra a tosse simples e a coqueluche.— Conservação dos dentes. — Hemor-rhagia nasal, por Paulina Philadelphia. 279

FAMÍLIAS. 379

MODAS.

Descripção do figurino de Janeiro 29de Fevereiro..... 60

— de Março.. 92— de Abril 124—- de Maio 156— de Junho 187—' de Julho... 219— de Agosto 253_ de Setembro 283

— de Outubro 315de Novembro.... 349de Dezembro.... 375

EXPLICAÇÃO DOS TRABALHOS.

De Janeiro 29De Fevereiro 60De Março 92De Abril 124De Maio 156De Junho 187De Julho 219De Agosto i\ 253De Setembro 283De Outubro 315De Novembro 349De Dezembro......, 375

EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS

SOBRE MADEIRA J MAPPAS E VARIEDADES.

Descripção d'uma estampa dourada. —Descripção da estampa de objectos parasala 32

Explicação do Jogo do Viajante 94Mappa do systema planetário (explicação) 95La Madona delia Gatta ¦* 128

"N. S. Jesus-Christo no sepulchro 160A Virgem da tenda. 256Illuminaçao das estampas. 286S. Jeronymo por A. Allegri 288Illuminaçao das efctampas. 318A Santa Familia, por Raphael 320Explicação do Jogo da Mudança» 351La Donna (quadro do Titiano) 351

ANNEXO S. ' ¦

JAfiElRO.

Um figurino de modas (colorido). — Uma es-tampa de bordados e trabalhos. — Uma es-tampa de moldes. — Uma estampa grandede moldes. — Uma estampa dourada. —

Uma estampa de objectos para sala.

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JORNAL DAS FAMÍLIAS.

FEVEREIRO.¦j"-'fT'

Um figurino de modas (colorido). - Uma

estampa de bordados e trabalhos. - Uma

estampa de moldes. - Uma grande estampa

de moldes. - Uma estampa de bordado

colorido. .

MARÇO.

Um figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa : O jogo

do Viajante. - Uma estampa : Mappa do

systema planetário. - Duas peças de. mu-

sica : Io Tristeza; 2o Marcha funerea.

ABRIL.

Um figurino de modas (colorido). - Uma

estampa de bordados e trabalhos. - Uma

estampa de moldes. - Uma estampa de ta-

pecaria. - Uma segunda estampa de traba-

ihos diversos. - Uma gravura sobre ma-

deira : La Madona delia gatta.

MAIO.¦

Um figurino de modas Colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes.- Uma estampa de tape-

caria.- Uma segunda estampa de trabalhos

diversos. - Uma gravura sobre madeira •

N. S. Jesus-Christo no sepulchro.

JUNHO.

Um figurino de modas (colorido). - Uma

estampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa grande

de moldes. - Uma estampa de tapeçaria. -

Outra estampa de trabalhos diversos.

JULHO.

Um figurino de modas (colorido). — Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. — Uma

estampa de moldes. - Uma estampa grande

de moldes. - Uma segunda estampa de

trabalhos diversos. - Uma estampa de tape-

caria.AGOSTO.

Um figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados é trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa de tape-

caria.— Uma gravura sobre madeira : A

Virgem da tenda.

SETEMBRO.

üm figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa de tape-

caria. - Uma estampa -. Illuminaçao das'

estampas. - Uma gravura sobre madeira :

S. Jeronymo por A. Allegri.

outubro.

üm figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma

estampa de moldes. - Uma estampa de

tapeçaria. - Uma estampa s Illuminaçao das

estampas. - Uma gravura sobre madeira:

A Santa Familia, por Raphael.

NOVEMBRO. ':$-V.

Um figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa de tape-

caria. - Uma estampa grande de tapeçaria.

- uma gravura sobre madeira : La Donna,

quadro do Titiano.

DEZEMBRO.

Um figurino de modas (colorido). - Uma es-

tampa de bordados e trabalhos. - Uma es-

tampa de moldes. - Uma estampa de tape-

caria de crochet ou filet. - Uma estampa de

tapeçaria (colorida). - Duas pecas de mu-

sica : Io Hymno nacional da Republica Ar-

gentina j 2o Minuete.

Pansis..- Typographia de G. Chamerot, rua dos Santos, adres, 19.

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