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Os Maias Resumo da obra A acção de "Os Maias" passa-se em Lisboa, na segunda metade dos séc. XIX. Conta-nos a história de três gerações da família Maia. A acção inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro da Maia – de carácter fraco, resultante de um educação extremamente religiosa e proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem dois filhos – um menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para fugir com um Napolitano, levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho – Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia. Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos regressa a Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como o João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébiozinho, o maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de Gouvarinho, que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda, que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempos sem êxito, mas acaba por conseguir uma aproximação quando é chamado Maria Eduarda para visitar, como médico a governanta. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante. Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não era sua mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela. Entretanto, chega de Paris um emigrante, que diz ter conhecido a mãe de Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse, continha documentos que identificariam e garantiriam para a filha uma boa herança. Essa mulher era Maria Mão Forte – a mãe de Maria Eduarda era, portanto, também a mães de Carlos. Os amantes eram irmãos... Contudo, Carlos não aceita este facto e mantém abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã. Afonso da Maia, o velho avô, ao receber a notícia morre desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo. O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - "falhamos a vida, menino!". Críticas – o poeta Bulhão Pato achou que a personagem Tomás de Alencar pretendia ser uma crítica a ele próprio. Publicou então várias sátiras dirigidas a Eça, intituladas O Grande Maia e Lazaro consul, onde mordazmente ridiculariza as obras do romancista.

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Os Maias

Resumo da obra

A acção de "Os Maias" passa-se em Lisboa, na segunda metade dos séc. XIX. Conta-nos a

história de três gerações da família Maia. A acção inicia-se no Outono de 1875, altura em que

Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro

da Maia – de carácter fraco, resultante de um educação extremamente religiosa e

proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem

dois filhos – um menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para fugir com

um Napolitano, levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho –

Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia.

Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos

regressa a Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como

o João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébiozinho, o maestro Cruges,

entre outros. Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de

Gouvarinho, que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda,

que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempos sem êxito,

mas acaba por conseguir uma aproximação quando é chamado Maria Eduarda para visitar,

como médico a governanta. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que

Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a

amante. Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não

era sua mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela. Entretanto, chega de

Paris um emigrante, que diz ter conhecido a mãe de Maria Eduarda e que a procura para lhe

entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse, continha documentos que identificariam e

garantiriam para a filha uma boa herança. Essa mulher era Maria Mão Forte – a mãe de Maria

Eduarda era, portanto, também a mães de Carlos. Os amantes eram irmãos... Contudo, Carlos

não aceita este facto e mantém abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã. Afonso da

Maia, o velho avô, ao receber a notícia morre desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria

Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo. O

romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com

Portugal e com Ega, que lhe diz: - "falhamos a vida, menino!".

Críticas – o poeta Bulhão Pato achou que a personagem Tomás de Alencar pretendia ser uma

crítica a ele próprio. Publicou então várias sátiras dirigidas a Eça, intituladas O Grande Maia e

Lazaro consul, onde mordazmente ridiculariza as obras do romancista.

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Ação

Crónica de costumes - ação

aberta

Intriga - ação fechada

Intriga Principal

Intriga Secundária

O que é um romance?

O romance é um género narrativo que se diferencia dos seus pares pela sua extensão e que

apresenta as seguintes caraterísticas:

Ação extensa, podendo apresentar ramificações secundárias;

Construção das personagens implicando componentes de ordem social, cultural,

psicológica – complexidade e densidade psicológica;

Multiplicidade de espaços, caraterizados pela sua amplidão e pormenor;

Organização temporal complexa: conjugação de diversos tratamentos temporais.

De acordo com Wolfgang Kayser existem vários tipos de romance:

Romance de ação ou de acontecimento – intriga concentrada e fortemente desenhada

com princípio, meio e fim bem estruturados;

Romance de personagem – existência de uma única personagem central, que o autor

desenha e estuda demoradamente e à qual obedece todo o desenvolvimento do

romance;

Romance de espaço – representa uma época, traduzindo não apenas o ambiente

histórico, mas apresentando também vários quadros sociais.

Os Maias podem ser considerados um romance de personagem, uma vez que existe uma

personagem central, Carlos da Maia e a ação centra-se sobretudo na vivência dessa

personagem e da sua família. Mas também é importante referir o espaço físico – Lisboa, que o

narrador vai descrevendo ao longo da narrativa, não deixando de caraterizar outros espaços –

Santa Olávia, Coimbra e Sintra. As mundividências rural e citadina vão sendo veiculadas pela

obra através das caraterísticas das personagens-tipo e de relações codificadas, da descrição do

espaço, e também pelo confronto e diálogo entre personagens e culturas.

A ação

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Peripécia Reconhecimento Catástrofe

Estes dois níveis de acção – crónica de costume e intriga – que justificam a existência de título

e subtítulo nesta obra. O título – Os Maias – corresponde à intriga, enquanto que o subtítulo –

Episódios da Vida Romântica – corresponde à crónica de costumes.

Intriga secundária – história de Afonso da Maia (época de reação do Liberalismo ao

Absolutismo), história de Pedro da Maia e Maria Monforte (época de instauração do

Liberalismo e consequentes contradições internas), história da infância de Carlos da Maia

(época de decadência das experiências Liberais).

Intriga principal – romance incestuoso entre Carlos e Maria Eduarda que terminam com a

desagregação da família – morte de Afonso e separação dos irmãos/namorados.

A ação d’Os Maias desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica:

Peripécia – revelaçõe casuais de Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda;

Reconhecimento – as revelações de Guimarães sobre Maria e Carlos serem irmãos;

Catástrofe – morte desgostosa do avô e separação definitiva dos irmãos/namorados.

Ação vs. Intriga

Por ação entende-se normalmente qualquer facto ou conjunto de factos cuja execução implica

uma passagem mais ou menos extensa do tempo da história, ex.: o jantar do Hotel Central e o

episódio das corridas que se desenrolam no curto espaço de tempo, os comportamentos de

Dâmaso, os caprichos da condessa de Gouvarinho, a atividade literária e crítica de Ega, a

existência diletante e ociosa de Carlos.

Por isso, a crónica de costumes constitui uma ação aberta porque nenhum dos episódios

impõe um desenlace inultrapassável. Numerosas cenas poderiam ser omitidas sem que a

verosimilhança da história fosse prejudicada.

A intriga é também uma forma de ação, mas de modo específico, já que se identifica com a

ação fechada – pretende-se insistir em duas noções: os eventos da intriga se sucedem por uma

relação de causalidade e que existe nela um acontecimento final, o desenlace, que inviabiliza a

sua continuação. A intriga d’Os Maias é constituída pelos amores de Carlos e Maria Eduarda

assim como o seu desfecho trágico, a descoberta de serem irmãos e a morte de Afonso. Com a

morte de Afonso a intriga está praticamente finalizada, mas isto não quer dizer que a ação

esteja. Todo o capítulo XVIII é um prolongamento da ação 10 anos depois.

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Verifica-se muitas vezes que a intriga é completada e justificada por intrigas secundárias que

vão desaguar na principal: os amores, casamento e separação de Pedro da Maia e Maria

Monforte. Procedendo cronologicamente as relações de Carlos com Maria Eduarda. As

relações de Pedro e Maria apesar de fazerem parte da intriga secundária são uma condição

necessária para que se desse a intriga principal.

Estrutura actancial

Sujeito – empenhado numa procura ou na perseguição de um objetivo – Carlos da Maia

Objeto – desejado pelo sujeito – Maria Eduarda

Destinador – que atribui (ou recusa) o êxito à procura do sujeito – Guimarães

Destinatário – beneficia ou é prejudicado por essa atribuição ou rejeição – Carlos e Afonso da

Maia, Maria Eduarda

Oponente – contraria os desígnios do sujeito – Afonso da Maia

Adjuvante – auxiliar do sujeito na obtenção do objeto – João da Ega

Estrutura da intriga

Os acontecimentos encadeados por uma relação de causalidade correspondem às funções

cardinais ou núcleos. Com as funções cardinais alternam normalmente as catálises,

acontecimentos de extensão variável que, não fazendo avançar a intriga, preenchem os seus

momentos de pausa.

É importante definir as relações da intriga d’Os Maias com o cânone naturalista. Existe uma

desvalorização da representatividade social das personagens incumbidas das funções

actanciais descritas. Maria Eduarda, Afonso da Maia, João da Ega e Guimarães não se

identificam com qualquer forma de comportamento, pensamento ou cultura, nem com uma

situação socioeconómica que faça deles personagens socialmente estereotipadas, à maneira

de Gouvarinho, Palma «Cavalão» ou Alencar. E no caso de Guimarães (destinador) esta

caraterística é ainda mais importante: o desfecho da intriga não depende (como nos romances

naturalistas) de condicionamentos culturais, económico ou educacionais, nem das imposições

do meio ambiente; neste caso o deselance deflui apenas do aparecimento inusitado de uma

figura bizarra que parece surgir só para revelar a verdade acerca dos laços familiares que unem

Carlos e Maria Eduarda.

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Açã

o T

rági

ca Temática do

Incesto

Destino

Presságios

Fábula Trágica

Peripécia

Reconhecimento

Catástrofe

Não obstante os seus contactos com o meio social em que se insere, Carlos distancia-se

cultural e mentalmente desse meio – ex.: Afonso fá-lo ainda a maior escala, se tirvermos em

conta o deliberado isolamento que o carateriza.

As relaçõe sentimentais Carlos/Maria Eduarda partem de uma situação de incompatibilidade

parcial:

Atributos/Atores Carlos Maria Eduarda

Qualidades físicas + +

Educação + –

Percurso biográfico + –

Meio familiar – –

Isto significa que dois fatores fundamentais para a dinamização de uma intriga naturalista (a

educação e o percurso biográfico e respetivo envolvimento socioeconómico) não aproximam

as personagens. À educação inovadora, metódica e saudável de Carlos, corresponde em Maria

Eduarda uma educação irregular e desordenada, Carlos tem uma origem socioeconómica

desafogada e destacada, Maria Eduarda vive uma existência de atribulações, dificuldades

económicas e ligações sentimentais de circunstância.

Restam dois atributos em comum: as qualidades físicas – ambos são dotados de uma elegância

invulgar no universo social lisboeta e as irregularidades familiares – só muito mais tarde Carlos

tem conhecimento das anomalias na vida de Maria Eduarda e isso em nada contribui para a

aproximação de ambos.

Apenas a beleza física constitui um elemento de compatibilidade entre sujeito e objeto. O que

é pouco para provocar uma relação sentimental e uma intriga tão vigorosamente encadeada

como a que se desenrola: razão pela qual haverá que descortinar uma força responsável pela

atração de Carlos por Maria Eduarda e, mais tarde, pelo desenlace final.

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Personagens

Eça utiliza dois tipos de caracterização das suas personagens: a caracterização directa e a

caracterização indirecta. A primeira é usada de forma privilegiada para todas as personagens à

excepção de Carlos. Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a

autocaracterização mista de Maria Eduarda. A caracterização indirecta é utilizada para a

personagem Carlos da Maia, do qual apenas se apresentam, inicialmente, pequenos traços

físicos, deixando que as suas acções demonstrem a sua personalidade.

Personagens Centrais:

Afonso da Maia

Caracterização Física: Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua

cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba

branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas

heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".

Caracterização Psicológica: Provavelmente o personagem mais simpático do romance

e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de

carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do

Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas,

falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida

ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu

gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do

país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é

pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando

descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que

contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho de

um Portugal impossível por falta de homens capazes.

Pedro da Maia

Caracterização Física: Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos –

"assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.

Caracterização Psicológica: Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso,

fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia

negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho".

O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos

Runa e à sua semelhança psicológica com estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta

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e de uma educação retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão

pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como

demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha

como homem.

Carlos da Maia

Caracterização Física: Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído,

de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba

fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos

cantos da boca. Como diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da

Renascença".

Caracterização Psicológica: Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao

contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do

seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a

sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto

sério). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas

falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita,

ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a

cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis

personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as

Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é

um bom exemplo.

Maria Eduarda: Era uma bela mulher, alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com

um passo soberano de deusa".

Maria Monforte

Caracterização Física: É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa

curta e clássica, o colo ebúrneo".

Caracterização Psicológica: É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu

carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu

pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleans.

Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos. Mais

tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e

abandonando o marido e o filho - Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a

culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade.

Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria. Deixa

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um cofre a um conhecido português – o democrata Guimarães – com documentos que

poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as origens.

Personagens Planas e/ou Tipo:

Personagens Planas: Personagens estáticas porque não alteram o seu comportamento, sem

densidade psicológica, ou seja, não evoluem psicologicamente ao longo da acção. São

personagens definidas de um modo linear por um ou vários traços que as acompanham ao

longo de toda a obra. Normalmente, são caracterizadas aquando da sua introdução na narativa

e não sofrem, posteriormente, qualquer evolução.

Personagens Tipo: São personagens definidas de um modo linear por um ou vários traços que

as acompanham ao longo de toda a obra. Representam, frequentemente, um grupo

profissional ou social.

João da Ega

Caracterização Física: Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco,

pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de

Eça.

Caracterização Psicológica: João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É um

personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro,

progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de

Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em

Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de

Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista

sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo (concebe

grandes projectos literários que nunca chega a executar). Terminado o curso, vem

viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele

teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Um falhado, corrompido pela sociedade.

Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na

prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de

grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É

juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a

Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.

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Eusébiozinho

Eusébiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por

Silveirinha, era o morgado de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de

infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada

continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão,

tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis

ou aventureiras de ocasião pagas à hora.

Alencar

Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob

o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos". Era calvo, em toda a

sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o

romantismo piegas. O paladino da moral. Eça serve-se desta personagens para

construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão

caricatural da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e

generoso. É o poeta do ultra-romantismo.

Conde de Gouvarinho

Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta. Era voltado

para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de cultura. Não

compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do poder político

(principalmente dos altos cargos). Fala de um modo depreciativo das mulheres.

Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.

Sousa Neto

Deputado, representa os altos funcionários públicos. É inculto, defende a imitação do

estrangeiro. Muitas vezes, por falta de cultura, coloca-se à margem das discussões,

acatando todas as opiniões alheias, mesmo as mais absurdas.

Palma Cavalão

Cavalão por alcunha, era baixo, gordo, sem pescoço. É o director do jornal "A Corneta

do Diabo", cuja redacção é um antro de porcaria. Símbolo do jornalismo de escândalo

e corrupto, é um imoral sem qualquer carácter. É ele que publica um artigo injurioso

contra Carlos por dinheiro, vendendo mais tarde, a tiragem desse número do jornal,

uma vez mais por dinheiro. Publica folhetins de baixo nível.

Dâmaso Salcede

Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem

dignidade. É dele a carta anónima a Castro Gomes, que revela o envolvimento de

Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n'A Corneta do

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Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação

na vida o "chic a valer”. Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda

metade do séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio, como um

bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos. Era baixo, gordo, "frisado como

um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem,

respectivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.

Steinbroken

Retrato do diplomata solene, formal, bacoco, sempre receoso de afirmações políticas

comprometedoras. É em tudo um medíocre, contribui para a atmosfera de

"gentlemanliness" que se vive no Ramalhete. Ministro da Finlândia, representa o

diplomata inútil. É um entusiasta da Inglaterra. É também um grande conhecedor de

vinhos.

Cohen

Banqueiro, representa as altas finanças. Considera que ainda há gente séria nas

camadas dirigentes. É calculista, cínico e embora tenha responsabilidades pelo cargo

que desempenha, lava as mãos e afirma alegremente que o país vai direitinho para a

banca rota.

Craft

É um personagem com pouca importância para o desenrolar da acção, mas que

representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem. Defende a

arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza. É culto e

forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com rectidão". Inglês rico e

boémio, coleccionador de brique-a-braque.

Condessa de Gouvarinho

Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele

clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante

inglês do Porto. É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer

tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o

casal se desentenda. Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa.

Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse,

demasiado fútil. No final, depois de ter levado uma sova do marido, que descobriu a

traição, tudo fica bem entre o casal.

Cruges

Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era

demasiado chegado à sua velha mãe. "De grenha crespa que lhe ondulava até à gola

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do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado. Segundo Eça, "um diabo adoidado,

maestro, pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao meio

lisboeta – "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".

Tancredo

É um incidente onde é atingido por um tiro, que o leva até à casa de Maria Monforte.

Esta acaba por se apaixonar pelo hóspede, com quem foge, subitamente, levando

consigo a filha. Tancredo acabará, mais tarde, por morrer num duelo.

Sr. Guimarães

Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830. Conheceu a mãe de

Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que identificavam a

filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da trágica verdade que destruirá a

felicidade de Carlos e de Maria Eduarda. Dizia-se o democrata Mesieur Guimaran, que

vivia em Paris e era amigo de Gambetta, o comunista. Mas na realidade, vivia

miseravelmente num sótão e era redactor do "Rapel", para onde traduzia notícias de

jornais espanhóis.

Rufino

"De pêra grande, deputado por Monção e sublime nessa arte (...) de arranjar, numa

voz de teatro e de papo, combinações sonoras de palavras". De retórica balofa e oca,

faz-se ouvir no Sarau Literário do Teatro da Trindade, o que levou Ega a classificá-lo de

"besta" e Carlos de "horroroso". A sua poesia demonstra um desfasamento entre a

realidade e o discurso, e uma grande falta de originalidade (recorre a lugares comuns),

mas apesar disso é muito aclamado pelo público, tocado no seu sentimentalismo.