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Os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil: uma visão de longo prazo: 1950-2002 1 Gentil Corazza 2 1. Introdução O objetivo deste texto é analisar a questão dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs), numa perspectiva histórica mais ampla, bem como o papel dos mesmos para o crescimento da economia brasileira, no período 1950-2002. Desde que o capitalismo se constituiu e se desenvolveu como economias nacionais, a questão relativa às relações externas dessas economias, em suas diferentes dimensões, a comercial, a produtiva e, mais recentemente, a financeira, sempre foi alvo de grandes polêmicas, envolvendo tanto seu papel para o desenvolvimento econômico como sua ameaça às soberanias políticas nacionais. Neste trabalho, o tema a ser analisado diz respeito apenas à dimensão produtiva ou às exportações de capitais e sistemas produtivos, na forma de investimentos estrangeiros diretos. Na história mais recente do capitalismo, especialmente na segunda metade do Século XX, em quase todos os países do mundo, o tratamento dado aos IEDs pode ser dividido em duas fases bem diferenciadas: a primeira, que vai da década de 1950 até final dos anos 1970, e pode ser caracterizada como fase de “restrições” ao ingresso dos capitais estrangeiros, e a segunda, que começa a se definir no final da década de 1980 e se consolida nos anos 1990,a qual pode ser denominada de fase de “atração” dos IEDs pelas economias nacionais. Neste contexto mais amplo, o Brasil também acompanhou a tendência de outros países em relação ao tratamento dado ao capital estrangeiro. Houve claramente uma fase em que se impunham restrições ao seu ingresso no país e outra, em que o Brasil passou a submeter-se às exigências dos capitais externos e a oferecer incentivos para atrair seu ingresso na economia brasileira. Analisar as características e os argumentos desses “códigos de restrições”, bem como da abertura e dos incentivos aos investimentos estrangeiros revela-se importante para a compreensão dos fluxos desses capitais e de seu papel no desenvolvimento das economias nacionais como a brasileira. 1 Este texto fa parte do Projeto de Pesquisa financiado pelo CNPq, que se chama « Relações Financeiras Externas da Ecomonia Brasileira » e sua elaboração contou com a participação da Bolsista Ana Paula Ebeling (PIBIC/UFRGS/CNPq). 2 Professor Titular do Departamento de Economia e do PPGE da UFRGS. Pesquisador do NEPq. E-mail : [email protected]

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Page 1: Os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil...Os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil: uma visão de longo prazo: 1950-20021 Gentil Corazza2 1. Introdução O objetivo

Os Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil: uma visão de longo prazo: 1950-20021

Gentil Corazza2

1. Introdução

O objetivo deste texto é analisar a questão dos investimentos estrangeiros diretos

(IEDs), numa perspectiva histórica mais ampla, bem como o papel dos mesmos para o

crescimento da economia brasileira, no período 1950-2002.

Desde que o capitalismo se constituiu e se desenvolveu como economias nacionais, a

questão relativa às relações externas dessas economias, em suas diferentes dimensões, a

comercial, a produtiva e, mais recentemente, a financeira, sempre foi alvo de grandes

polêmicas, envolvendo tanto seu papel para o desenvolvimento econômico como sua ameaça

às soberanias políticas nacionais. Neste trabalho, o tema a ser analisado diz respeito apenas à

dimensão produtiva ou às exportações de capitais e sistemas produtivos, na forma de

investimentos estrangeiros diretos.

Na história mais recente do capitalismo, especialmente na segunda metade do Século

XX, em quase todos os países do mundo, o tratamento dado aos IEDs pode ser dividido em

duas fases bem diferenciadas: a primeira, que vai da década de 1950 até final dos anos 1970,

e pode ser caracterizada como fase de “restrições” ao ingresso dos capitais estrangeiros, e a

segunda, que começa a se definir no final da década de 1980 e se consolida nos anos 1990,a

qual pode ser denominada de fase de “atração” dos IEDs pelas economias nacionais.

Neste contexto mais amplo, o Brasil também acompanhou a tendência de outros países

em relação ao tratamento dado ao capital estrangeiro. Houve claramente uma fase em que se

impunham restrições ao seu ingresso no país e outra, em que o Brasil passou a submeter-se às

exigências dos capitais externos e a oferecer incentivos para atrair seu ingresso na economia

brasileira.

Analisar as características e os argumentos desses “códigos de restrições”, bem como

da abertura e dos incentivos aos investimentos estrangeiros revela-se importante para a

compreensão dos fluxos desses capitais e de seu papel no desenvolvimento das economias

nacionais como a brasileira.

1 Este texto fa parte do Projeto de Pesquisa financiado pelo CNPq, que se chama « Relações Financeiras Externas da Ecomonia Brasileira » e sua elaboração contou com a participação da Bolsista Ana Paula Ebeling (PIBIC/UFRGS/CNPq). 2 Professor Titular do Departamento de Economia e do PPGE da UFRGS. Pesquisador do NEPq. E-mail : [email protected]

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O presente texto, depois desta Introdução, procura analisar mais os seguintes tópicos:

o item segundo trata das razões e as formas de restrição ao ingresso de IED, no contexto geral

e no Brasil; o terceiro analisa as mudanças ocorridas em favor do ingresso desses

investimentos e o quarto faz uma análise empírica do papel desempenhado pelo capital

externo no desenvolvimento brasileiro, ao longo do período 1950-2002. No final, procura-se

avançar algumas conclusões sugeridas pela análise do tema proposto.

2. Um “código de restrições” ao capital estrangeiro

O capitalismo se expandiu historicamente a partir de bases nacionais em direção a um

capitalismo tipicamennte mundial. A lógica interna desse processo histórico pode ser melhor

compreendida se o mesmo for dividido historicamente segundo algumas fases/configurações

características: a fase/configuração “inter-nacional,’ a fase/configuração “multi-nacional” e a

fase/configuração global.

A configuração “inter-nacional” estava fundada sobre o princípio da soberania

nacional e se caracterizava pelo movimento de mercadorias exportadas e importadas. Nessa

fase não existia, ainda, qualquer deslocamento significativo das atividades industriais, mas, ao

contrario, tudo convergia para o reforço da competitividade das capacidades nacionais

existentes. Os territórios nacionais ocupavam o ponto central do sistema de trocas, que

também supunha a imobilidade dos fatores de produção. Neste período da evolução histórica

do capitalismo, as fronteiras nacionais foram, inicialmente, transpostas pela exportação de

mercadorias dos países mais desenvolvidos em direção aos menos desenvolvidos. Aqui, a

“invasão de mercadorias” estrangeiras já era vista como uma ameaça à soberania nacional. A

abertura comercial era sempre vista como uma ameaça aos interesses nacionais. A fixação da

taxa de câmbio da moeda nacional era considerada um direito do Estado nacional que a

emitia. Neste momento, os fluxos financeiros eram ainda determinados pelas trocas reais de

mercadorias e serviços. Assim, na medida em que a circulação internacional de mercadorias

ameaçava os interesses nacionais, medidas comerciais protecionistas eram tomadas, em graus

diversos, conforme a gravidade das ameaças, para proteger as economias nacionais.

No entanto, esta ameaça se tornou mais real e efetiva na fase histórica seguinte,

denominada de configuração “multi-nacional”, onde predominam não mais as exportações de

mercadorias, mas as exportações de capital, na forma de investimentos estrangeiros diretos

(IED). Neste período, ao lado dos Estados nacionais, surge um novo ator, a empresa “multi-

nacional” (EMN) e a partir daí se acentua a separação do espaço das atividades das EMN e a

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dos Estados nacionais. Se na configuração “inter-nacional” se exportam apenas mercadorias e

serviços, na configuração “multi-nacional” se exportam os próprios sistemas produtivos, na

forma de IEDs, sistemas produtivos esses que se tornam eles próprios multinacionais. Na

verdade, os IEDs são apenas outra forma de penetração e conquista de mercados nacionais,

antes atingidos diretamente elas exportações de mercadorias e agora fechados pelas políticas

de industrialização via substituição de importações, nas quais os IED tiveram papel

importante. Na configuração “multi-nacional”, a espacialização das economias nacionais

repousa cada vez mais sobre a estratégia e a organização produtiva das grandes firmas

multinacionais e não mais sobre as dotações diferentes de fatores de produção imobilizados

nos espaços fechados dos territórios nacionais. (Michalet, 1999:31).

Em face de uma ameaça real e efetiva, a proteção veio na forma de um “código de

restrições”, cujas principais características procuramos reproduzir a seguir. Deve-se lembrar

que a elaboração desse código não é coisa do passado distante, pois ainda nas décadas de

1960 e 1970, multiplicavam-se os apelos pela criação de um “código de boa conduta” para as

EMNs. Nos anos 1970, economistas como Golberg e Kindleberger reforçavam a defesa dessa

necessidade. Em setembro de 1973, Helmut Schmidt, Ministro das Finanças da Alemanha

também fazia apelo nesse sentido. Dois anos mais tarde, o secretário de Estado norte-

americano Henry Kissinger, engrossava o coro, ao propor à Assembléia geral da ONU um

“código de conduta” para as EMNs.

Em face de tantas pressões, em 1974, um comitê da ONU tomava medidas mais

concretas ao propor a criação do General Agrément um Multinacional Interpretes (GAME).

No entanto, todas essas propostas ficaram apenas no papel. Só em 1976, a OCDE tomou a

iniciativa de estabelecer um código de boa conduta, mas as pressões continuaram até o

começo dos anos 1980.

Cinco problemas pareciam cruciais nesse tema: a fiscalidade, a política antitruste, os

controles das exportações e da balança de pagamentos e a regulação das trocas internacionais

de ativos financeiros.

As características dos códigos restritivos variavam muito, pois envolviam desde as

condições restritivas e draconianas definidas em códigos específicos, até códigos restritivos

com cláusulas constitucionais. Havia também um número considerável de países que recusava

os IEDs, como foi o caso do México e o Japão. Este último proibiu os investimentos externos

na década de 1920, mas a proibição foi abolida pela pressão americana no final da década de

1940, voltando a ser reintroduzida, em 1952. O exemplo japonês foi imitado por grande parte

dos países recém industrializados do sudeste asiático. Na França, as restrições duraram até

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meados da década de 1980. Nos próprios Estados Unidos, a compra do Rockfeller Center por

grupos japoneses na decai de 1990 levantou protestos contra a “invasão nipônica”. Apesar de

diferenças especificas, os códigos de cada país continham elementos comuns, tais como

podem ser observados no quadro abaixo:

Tipos de políticas restritivas aos investimentos diretos estrangeiros Medidas relativas aos inputs usados pelas EMN

• Restrições de conteúdo local

• Restrições de substituição • Restrições de trocas • Obrigação de participação local no capital • Obrigação de emprego local, cota de

expatriados e participação local na gestão.

• Obrigação de R&D • Obrigação de transferência de tecnologia Medidas relativas aos produtos finais fabricados pelas EMN • Obrigação de exportações mínimas • Obrigações relativas ao balanço de

pagamentos

• Reserva de mercado interno • Obrigação de licenças • Transferência de tecnologia

Obrigações exigidas

• Uma certa proporção do valor adicionado ou dos produtos intermediários deve ser fabricada localmente;

• A EMN deve utilizar um substituto local, se existir, em vez do importado;

• Restrições à importação de produtos intermediários;

• Uma parte do capital da EMN deve ser detida localmente;

• A EMN deve empregar certo número

de pessoas locais;

• Apoio a pesquisas no local; • Obrigação de transferir tecnologias

atuais ao país recebedor dos investimentos;

• Obrigação de exportar uma

quantidade mínima de produtos fabricados

• Obrigação de ter um balanço externo equilibrado ou superavitário

• Reserva do mercado interno aos produtos nacionais

• Obrigação de produzir localmente sob licença

• Obrigação de revelar a tecnologia contida no produto

Fonte: Kyklos, n° 2, 1992.

Em primeiro lugar, as EMNs, que desejassem investir num determinado país,

deveriam ter seus projetos de investimento aprovados pelo governo do país receptor. Através

de questionários detalhados deviam informar a identidade do investidor, o conteúdo dos

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projetos e suas intenções futuras no país, previsão a médio prazo das necessidades de

financiamento, recursos humanos, equipamento, materiais e matérias primas, previsão de

importações e compromissos de exportações.

Os projetos eram avaliados por uma Comissão Especial, passando por Ministros da

área econômica e de outras áreas relativas à segurança, pois diziam respeito também à

segurança nacional, recebendo a sanção presidencial. Esse processo era demorado, os prazos

estabelecidos não eram respeitados e a recusa não precisava ser justificada. Sua longa e difícil

tramitação criava oportunidades de jogos de influência e de corrupção.

Até receber autorização para se instalar no país, o investidor deveria percorrer um

longo e tortuoso caminho, ao longo do qual deveria ir cumprindo todas as exigências legais,

que diziam respeito à “taxa de integração local”, ou seja, à associação com empresas

nacionais, que deveriam ter participação majoritária no controle do capital e nos conselhos de

administração, exigências de desempenho, compromisso de transferência de tecnologia,

assistência técnica aos fornecedores, cooperação com instituições nacionais de pesquisa, etc, .

Duas perguntas podem ser colocadas a respeito desse conjunto de restrições ao

ingresso do capital estrangeiro: a primeira diz respeito às razões dessas dificuldades, se, em

princípio, os novos investimentos estrangeiros deveriam contribuir para o desenvolvimento

econômico do país, como afirmavam seus defensores? Pode-se dizer que, antes de tudo, esses

códigos restritivos aos investimentos estrangeiros procuram preservar a independência

econômica das Nações, muitas das quais recém haviam conquistado sua independência

política. Na verdade, tais ameaças á soberania política não eram irreais, pois era conhecido de

todos o engajamento político das EMNs em processos eleitorais ou em golpes de Estado como

foi o caso da ITT, no Chile, em 1973. Os episódios de intervenção nos assuntos políticos de

países menos desenvolvidos eram tão abundantes que, inclusive, levaram a ONU a criar a

Comissão das Empresas Transnacionais, a qual elaborou um código de conduta para essas

empresas, cujas cláusulas foram muitas vezes adotadas por códigos nacionais. Havia, assim,

razões concretas a justificar tais restrições, como bem ressalta Michalet, (1999: 6):

“No ambiente passional dos anos 1970, não é surpreendente que os governos que

admitiam a implantação de multinacionais sobre o solo nacional exigissem em contrapartida

que elas contribuíssem, de bom ou mal grado, com os objetivos de desenvolvimento político

do país que as acolhia”.

Mucchielli (1998: 311) também ressalta as mesmas razões que justificavam as

restrições às EMNs e os motivos de sua aceitação:

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“As multinacionais eram às vezes consideradas potencialmente perigosas pelos

Estados, pois elas podiam ameaçar a soberania nacional. Depois, estas firmas tornaram-se

aliados potenciais, pois elas tornavam possível o desenvolvimento do emprego local, a

transferência eventual de tecnologia e o crescimento econômico”.

A segunda pergunta que se coloca diz respeito às razões pelas quais as EMNs

aceitavam submeter-se a condições tão restritivas para ingressar no país? A resposta a este

aparente paradoxo está na lógica da própria economia “multi-nacional”, que era compatível

com os modelos de desenvolvimento econômico dos países em via de industrialização, como

afirmam Sunkel e Jones (1990: 65):

“As políticas de substituição de importações dos países latino-americanos

proporcionaram a essas empresas um negócio lucrativo. Os investimentos, na época, estavam

protegidos por barreiras tarifárias elevadas, e o crédito era obtido em condições favoráveis. As

companhias multinacionais esquivaram-se das barreiras tarifárias desses países estabelecendo

ou comprando empresas na América Latina”.

O sobre custo imposto às filiais estrangeiras era compensado ou afetava pouco a

rentabilidade garantida dessas empresas, que, uma vez instaladas no país, eram protegidas da

concorrência externa pelas políticas protecionistas vigentes em quase todos os países nessa

época. Aceitar tais condições, portanto, implicava de fato participar de uma situação de

rendimentos garantidos. No caso do Brasil, a “lei do similar nacional” garantia o mercado

cativo aos produtos aqui fabricados. Valia a pena submeter-se a todas as exigências dos

códigos restritivos, pois, uma vez superados esses obstáculos, podia-se produzir e vender sem

ter de enfrentar concorrentes.

“Evidentemente todo esse sistema vai desabar a partir do momento em que as trocas

comerciais vão ser liberalizadas e em que os produtos fabricados localmente serão

confrontados com os produtos importados”. (Michalet, 1999: 8). Como sabemos, os produtos

locais tinham custos mais altos, porque, dentre outras razões, o tamanho do mercado

doméstico limitava as economias de escala, além de serem de menor qualidade e enfrentarem

consumidores menos exigentes.

O Brasil também se inseriu neste contexto de restrições ao capital estrangeiro

vigorante a nível mundial. Nesta perspectiva, o capital estrangeiro sempre foi visto com certa

desconfiança, ao longo da história brasileira, tanto por parte do Governo, como por uma

parcela significativa da população. O argumento de cunho nacionalista era que ele vinha para

explorar os recursos nacionais e remeter lucros para o exterior. Este tema motivou intensos

debates, especialmente no início da década de 1950.

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O Decreto Lei n° 9025, de 1946, pode ser considerado como o primeiro código legal

que trata do problema do capital estrangeiro no Brasil. Este decreto já limitava os retornos de

capital ao máximo de 20% por ano do capital registrado, e as demais transferências de juros,

lucros e dividendos a 8% do mesmo capital.

Em fins de 1951, o governo Vargas denunciava a remessa de lucros para o exterior

como uma espoliação. Em 1953, a tributação sobre a remessa de lucros e dividendos baixa

para 10%, sob a condição de que os capitais externos fossem investidos em atividades de

interesse nacional. Outro momento importante foi o da Lei n° 4131, de 1962, e da Lei n° 4390

de 1964. As mudanças mais recentes foram introduzidas pela Lei n° 8383, de 1991. No

entanto, toda essa legislação posterior manteve o espírito básico do DL n° 9025, de 1946.

No entanto, ao lado dessa desconfiança e controle, sempre houve a preocupação em

não fechar as portas aos investimentos estrangeiros, sob o argumento da necessidade de

poupança externa para financiar o crescimento da economia nacional. Neste sentido, a

legislação foi evoluindo com o objetivo de aprimorar o tratamento legal do problema, de

modo que fosse possível compatibilizar os interesses nacionais e os do capital estrangeiro.

Assim, na década de 1990, acompanhando o movimento geral de liberalização, a

legislação e o comportamento do Brasil mudam radicalmente no sentido não mais de

restringir, mas de “seduzir” o capital estrangeiro a ingressar no país, como veremos no

próximo tópico.

3. Abertura e atração aos capitais estrangeiros

Os anos da segunda metade da década de 1980 se caracterizaram por uma ampla

liberalização à entrada de investimentos estrangeiros diretos em todo mundo. Assim, no início

dos anos 1990, a maioria dos paises passou a substituir os “códigos de boa conduta” pela

“política de sedução” e de atração dos investimentos estrangeiros diretos. Efetivamente, em

meados dos anos 1980, operou-se uma mudança radical em relação aos investimentos diretos

estrangeiros, passando-se de uma atitude de reticência, suspeição e de controle para uma

atitude de atratividade e mesmo para uma política de promoção desses investimentos, em

todos os paises do mundo, mas principalmente nos paises em via de desenvolvimento.

Esta mudança radical em relação aos IEDs coincidiu com a dominância da

configuração global e decorre de duas tendências: a mudança de estratégia de localização de

atividades das EMNs, em função da exacerbação da concorrência no mercado mundial,

decorrente da maior rentabilidade exigida pelo novo acionariado constituído pelos Fundos de

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Pensão e a mudança dos modelos de desenvolvimento, que deslocou sua centralidade dos

setores estratégicos estatais para os investimentos privados. Ou seja, essa mudança radical foi

conseqüência da pressão das EMNs e da reação política dos Estados nacionais, o que veio a se

solidificar numa “nova aliança”, que define a convergência micro e macroeconômica entre

EMNs e Estados nacionais, uma das características da configuração global. A partir daí,

empresas e governos se adequam e promovem a lógica da globalização. Assim, a noção de

atratividade adquire não só uma dimensão econômica, mas também uma dimensão política.

A liberação das trocas comerciais vai permitir confrontar os produtos locais e os

importados e esse confronto constitui a passagem da economia multinacional para a economia

global. Com efeito, as características da globalização são pouco compatíveis com a

manutenção de regimes discricionários em relação aos investimentos diretos estrangeiros. A

partir do momento em que as mercadorias não se destinam mais unicamente ao mercado

interno protegido e sim ao mercado mundial, ou, a partir do momento em que o modelo de

desenvolvimento deixa de centrar-se nos setores estratégicos estatais e se volta aos

investimentos privados e às exportações e, ainda, a partir do momento em que se liberalizam

as trocas externas e os regimes cambiais, desde então: “nada pode justificar os regimes

proteladores e discricionários para os investimentos estrangeiros. Eles devem submeter-se às

mesmas regras que os investimentos nacionais com direitos e deveres idênticos”. (Michalet,

1999, p. 9).

Com efeito, não se trata mais de restringir a entrada, mas de favorecer a

competitividade no mercado mundial das empresas locais e das EMNs. Só isto poderá garantir

a permanência dos IEDs e a difusão interna das “vantagens comparativas”, agora de natureza

intangível, pois, talvez, mais importantes que a própria entrada dos IEDs, em si mesmos, seja

o conteúdo tecnológico dos produtos ali fabricados, tecnologias de produção e gerência e o

reforço às empresas locais. As EMNs permitem também um acesso privilegiado aos mercados

mundiais. Assim, “a dicotomia entre o doméstico e o estrangeiro se elimina na definição de

produtos e processos de produção. Ela é substituída pela unicidade das normas do mercado

mundial” (Michalet, 1999:10).

A “dialética da atratividade” repousa sobre a iteração e a convergência da estratégia da

EMN e a política econômica do país receptor. Não seguir o movimento de liberalização

significa correr o risco de ficar isolado, enfraquecendo sua atratividade, pois não se trata mais

de “conquistar o mercado interno” de um país, e sim de reforçar a competitividade das

empresas nacionais e multinacionais para conquistar o mercado mundial. No entanto, deve ser

ressaltado que a mudança dos governos em relação ao capital estrangeiro não foi voluntária e

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deliberada, mas forçada pelo grau de endividamento externo em que estavam grande parte dos

países da periferia.

Dessa forma, para ter uma chance de figurar na restrita lista de paises mais atrativos, o

país deve preencher um conjunto de condições prévias e necessárias. Isto implica também que

o país melhore sua credibilidade e sua visibilidade junto à comunidade dos investidores

estrangeiros. O poder público enfraquecido se esforça para “entender” as estratégias das

EMNs e maximizar sua competitividade, melhorando as condições de atratividade. Maximizar

a competitividade das empresas, esse é o novo papel dos Estados na globalização e isto

porque as condições de atratividade e a escolha de localização dos investimentos desempenha

papel importante na concorrência das EMNs.

Assim, ao definir os termos da política de promoção dos investimentos, a globalização

muda também o papel econômico dos Estados nacionais. Na configuração global, as

vantagens comparativas dos territórios não existem mais ex-ante da abertura das fronteiras

nacionais, pois são os investimentos estrangeiros que revelam as vantagens comparativas, mas

eles o fazem ex-post, quando a economia que os acolheu já se abriu para recebê-los.

(Michalet, 1999: 41).

Resumindo, podemos caracterizar as três configurações históricas e suas respectivas

políticas. Assim, na configuração “inter-nacional” prevalecia a lei das “vantagens

comparativas”; na configuração “multi-nacional” preponderava a “lei da competitividade”

entre as EMN na conquista do mercado mundial e, na configuração global, vigora a “lei da

atratividade”, que não exclui nem “as vantagens comparativas, nem a “competitividade”, mas

estabelece uma verdadeira dialética entre elas.

Como afirma mais uma vez Michalet, (1999: 45), a “atratividade” não é uma noção

estática, como a das “vantagens comparativas” do modelo ricardiano, mas resultado dialético

entre a demanda das firmas e a oferta de condições de competitividade global por parte dos

países acolhedores, ou seja, a atratividade não depende somente das condições oferecidas pelo

país, mas também da estratégia das EMNs; assim, fazer parte da short list não é uma decisão

exclusiva do país, mas depende sobretudo das decisões das empresas multinacionais.

Três estratégias das EMNs dominam suas decisões de investir fora de seu país de

origem: o acesso aos recursos naturais de um país, a conquista de mercados e a minimização

de custos. As firmas globais buscarão reforçar sua competitividade procurando, ao mesmo

tempo, minimizar seus custos e o acesso a mercados em forte crescimento.

Na verdade, não se trata de uma concorrência universal entre países, pois estes estão

hierarquizados em círculos de atratividade: no primeiro círculo, figuram os “paises da tríade”,

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Estados Unidos, Europa e Japão, os quais são tanto países de origem quanto de destino de um

terço dos IEDs. No segundo círculo, figuram os “paises da nova fronteira” das economias da

tríade, da qual fazem parte Malásia, Tailândia, Hungria, Polônia, Portugal e Turquia. No

terceiro círculo, figuram os “países potenciais” a ingressar na short list. Finalmente, no quarto

círculo figuram os “países periféricos”, cuja atratividade repousa sobre um fator local

abundante. Na verdade, as vantagens de localização de um país só contam se contribuem para

reforçar a competitividade global das EMN.

As condições de atratividade de um território: (não necessariamente coincidente com

as fronteiras de um país)3 se dividem em duas categorias:

1) Pré-condições para inscrição na long list:

Nestas pré-condições incluem-se os seguintes fatores: a estabilidade do regime político

e a “boa imagem” do país junto à opinião pública do país de origem da EMN; a estabilidade

econômica, que inclui equilíbrio fiscal e do balanço de pagamentos, controle da inflação, grau

de endividamento externo, estabilidade da taxa de câmbio; outro fator importante é a

liberdade de transferência de capitais e rendimentos ao exterior, legislação social aceitável,

flexibilização da legislação salarial, etc; por último, o Estado de direito, as garantias legais de

respeito aos contratos, eficiência administrativa e judiciária;

2) Condições necessárias, para inscrição na short list:

Dentre tais condições, incluem-se fatores como: tamanho e taxa de crescimento do

mercado regional, aberto e livre; infra-estrutura de transportes e comunicações;

disponibilidade de recursos humanos qualificados, condição mais importante do que a

existência de mão-de-obra barata; existência de um tecido de empresas locais capazes de

atender as necessidades das EMNs;

Como afirma Michalet (1999: 98), os incentivos financeiros têm um papel secundário

na decisão das empresas, pois “a decisão de se implantar é tomada de forma independente aos

incentivos” oferecidos pelos países interessados em atrair os novos investimentos diretos

estrangeiros.

O Brasil, acompanhando a tendência geral de liberalização e atração dos capitais

externos, também muda radicalmente sua atitude em relação aos IDEs, no início dos anos

1990. Na verdade, logo depois da promulgação da Constituição de 1988, começa a ser

3 Com a globalização, a concepção do território que se confundia tradicionalmente com o Estado Nação certamente perdeu uma boa parte de sua pertinência em favor de novas configurações, cujas fronteiras não obedecem mais a uma racionalidade política, mas a uma racionalidade que remete, em fins de contas, à da globalização.

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produzido grande número de leis, decretos e resoluções sobre o tema, flexibilizando as

entradas e saídas de capital, em sintonia com a nova realidade internacional dominada pelas

operações de securitizacão. Mas, na prática, o processo de liberalização inicia com o governo

Collor e se consolida com o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Prates (1997, 2000) analisa a mudança do marco legal que regula o ingresso de

capitais estrangeiros no contexto do Plano Real. Um dos aspectos mais importantes em

relação ao ingresso de capital estrangeiro diz respeito à abertura da conta de capital do BP,

que mede o aprofundamento das relações financeiras de uma economia nacional com o

exterior. A convertibilidade da conta de capital ou a abertura financeira de um país pode ser

definida como o grau de liberdade segundo o qual os fluxos de capitais estrangeiros circulam

num país ou a facilidade com que os residentes podem adquirir ativos e passivos em moeda

estrangeira e o acesso de não residentes ao mercado financeiro domestico.

Outras facilidades legais estimularam os movimentos de capital, tais como a

eliminação do imposto de renda suplementar sobre remessas de lucros e dividendos, maiores

facilidades administrativas para a remessa, a revogação da proibição de pagamento de

royalties entre matriz e filial, o estímulo à captação de recursos esternos por parte de bancos e

empresas brasileiras.

Em relação ao acesso dos investidores estrangeiros ao mercado financeiro brasileiro,

houve mudanças importantes facilitando o ingresso de capitais para investimentos de portfolio

na Bolsa de Valores. Esses investimentos, em geral são voláteis e de curto prazo, já que a

legislação não determina nenhum prazo mínimo de permanência no país.

Em relação aos investimentos estrangeiros diretos, novas e lucrativas oportunidades

foram abertas com a privatização dos setores de infra-estrutura, onde pouca ou nenhuma

restrição foi imposta a esses investimentos, a abertura do mercado de informática e o registro

de patentes no setor de bioquímica. Destaque-se também a emenda constitucional de 1994,

que equiparou a empresa nacional e a empresa estrangeira, dando a esta última via de acesso

ao sistema de crédito público, incentivos fiscais, flexibilização das exigências administrativas

e redução da tributação para remessa de lucros, suprimindo-se a proibição de remessas por

marcas e patentes.

Em função dessas mudanças legais internas e da pressão externa exercida pela alta

liquidez dos capitais internacionais, na década de 1990, um novo fluxo de capitais

estrangeiros se dirigiu ao Brasil, em sua maior parte constituída de investimentos de portfólio,

mas o volume de investimentos estrangeiros diretos também foi muito significativo, se

comparado com o dos períodos anteriores.

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12

4. O Papel dos IEDs no crescimento econômico brasileiro

O objetivo deste tópico é analisar o papel dos IEDs no crescimento econômico

brasileiro dos últimos cinqüenta anos. Embora esse papel não deva ser avaliado unicamente

em termos quantitativos, pois outros aspectos de natureza mais qualitativa, de ordem

tecnológica e estratégica, também devam ser levados em conta, a análise aqui feita ficará mais

restrita aos seus aspectos quantitativos. Far-se-á, primeiro, uma análise mais global e, depois,

uma análise dos IEDs por ramos de atividade.

Assim, uma análise preliminar das taxas médias de crescimento do PIB e a relação

IED/PIB, nas últimas cinco décadas (1950 –2002), conforme Tabela 1 e Gráfico 1, abaixo,

permite fazer algumas observações: primeiro, no período de restrições à entrada dos

investimentos diretos estrangeiros, sua participação no PIB brasileiro foi realmente muito

baixa e o período de abertura e atração ao capital estrangeiro coincidiu também com um

aumento significativo de seu ingresso no país; segundo, observa-se que o período de maior

crescimento dos IEDs (1990-2002) foi também o de menor crescimento do PIB; terceiro, isto

permitiria concluir que, aparentemente, não há relação positiva direta entre o ingresso de

novos investimentos produtivos externos e o crescimento real do produto interno brasileiro,

ou seja, que o capital produtivo externo não interfere na trajetória do crescimento do País.

Tabela 1: Taxas médias de crescimento do PIB e relações dos investimentos estrangeiros/PIB

Período Crescimento* IED/PIB (%) IEP/PIB(%) RIED/PIB (%) RIEP/PIB (%)

1950-60 7,41 0,15 0,00 0,58 0,00 1960-70 6,51 0,23 0,00 0,44 0,00 1970-80 8,67 0,69 0,10 0,65 0,00 1980-90 2,35 0,36 0,03 0,65 0,12

1990-2002 1,97 2,12 4,77 0,68 0,88 Legenda : Crescimento* :Taxa de cresimento do PIB real, média do período ; IED : investimento estrangeiro direto ; IEP : investimento estrangeiro de portfólio ; RIED : rendimento do IED ; RIEP : rendimento do IEP Fonte: cálculos do autor com dados do Banco Central e IPEADATA.

Com efeito, nas décadas de 1950, 60 e 70, quando a relação IED/PIB era muito baixa,

menos de meio por cento, em média, o produto apresentou altas taxas de crescimento, uma

média superior a 7% ao ano. E, ao contrário, na década de 1990, quando a relação IED/PIB se

elevou para 2,12%, o PIB cresceu apenas 1,97%, em média.

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13

Gráfico 1: Taxas de crescimento do PIB e relações IED/PIB e IEP/PIB (%): 1950-2002.

F

A

produtiv

tiveram

elevadas

praticam

econôm

4,77% d

conform

observa

toda dé

como um

crescent

indepen

D

especula

brasileir

632): “O

fazendo

demand

onte: cálculos do autor com dados do Banco Central e IPEADATA.

-10,00

-5,00

0,00

5,00

10,00

15,00

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

PIB (var. % real) IED/PIB (%) IEP/PIB (%)

ssim, se for verdadeiro o papel secundário atribuído aos investimentos diretos, ou

os, em seu conjunto, muito mais verdadeiro parece ser o papel secundário que

os investimentos de portfólio, o chamado capital especulativo, pois o País teve

taxas de crescimento no período 1950-1980, quando esta categoria de capital era

ente inexistente, enquanto que, no período 1990-2002, quando o crescimento

ico foi muito baixo, os ingressos de capital especulativo chegaram a representar

o PIB, em média, sendo que no ano de 1997 essa relação chegou a quase 9%,

e pode ser observado com mais detalhe na Tabela 2, no final do texto. Como pode ser

do no Gráfico 1, o ingresso de grandes volumes de investimentos de portfólio, durante

cada de 1990, não influenciou as variações do PIB, mas seguiram essas variações

a espécie de sombra da evolução do PIB. Ao contrário, os IEDs mantém um ingresso

e e constante em relação ao PIB, ao longo de toda década de 1990,

dentemente das variações deste último.

eve ser ressaltado, também, que na década de 1990, além do avanço do capital

tivo, em média dois terços do IED dirigiu-se ao setor de serviços da economia

a, gerando problemas para as contas externas. Assim, como acentua Lacerda (2004:

IED destinado ao Brasil concentrou-se basicamente em setores não tradables,

com que, do ponto de vista do impacto do Balanço de Pagamentos, essas atividades

am remessas de lucros e dividendos, sem geração de receita adicional exportadora”.

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14

Uma análise do ingresso dos IEDs, no Brasil, por ramos de atividade, no período

1980-2004, (Tabela 2 e Ggráfico 2) indica algumas tendências:

Gráfico 2: Distribuição dos IEDs no Brasil por Ramo de Atividade Econômica (1980-2004)

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

1980 1985 1990 1995 2000 2004Ano

IED

's n

o se

tor/T

otal

dos

IED

's n

o B

rasi

l (%

)

Agricultura, pecuária e extração mineral Indústria Serviços

* Fonte: cálculos do autor com base em dados do Banco Central

Tabela 2: Distribuição dos IEDs no Brasil por Ramo de Atividade Econômica (1980-2004)

Atividade Econômica 1980 1985 1990 1995 2000 2004

AGRICULTURA, PECUÁRIA E EXTRAÇÃO MINERAL 3,73% 3,79% 3,45% 2,64% 2,33% 5,32%

INDÚSTRIA 74,40% 74,74% 69,08% 53,22% 33,71% 52,82%

Metalurgia 7,94% 7,54% 8,13% 5,59% 3,02% 4,48%

Mecânica 9,75% 9,21% 8,15% 5,70% 3,23% 1,54%

Material Elétrico, Eletrônico e Comunicação 7,98% 7,68% 8,44% 6,36% 3,34% 2,57%

Material de Transporte 13,41% 13,80% 9,94% 10,23% 6,51% 6,49%

Química 13,93% 13,99% 13,57% 9,60% 5,87% 6,75%

SERVIÇOS 19,85% 19,40% 25,03% 42,63% 63,96% 41,86%

Bancos 3,12% 3,46% 4,42% 3,37% 10,36% 4,18%Comércio em Geral, Importação e Exportação 3,66% 3,85% 4,13% 3,46% 9,94% 6,18%Consultoria, Representações e Administração de Bens 10,28% 9,67% 13,21% 7,63% 10,70% 4,36%

Outras atividades 2,02% 2,07% 2,44% 1,51% 0% 0%

TOTAL 100 100 100 100 100 100 * Fonte: cálculos do autor com base em dados do Banco Central

A primeira é que apenas uma pequena parcela dos IEDs foi aplicada no setor primário

da economia, ou seja, um percentual que varia entre 2,3% e 5,5% do total desses

investimentos. Observa-se, também, um decréscimo progressivo dos mesmos investimentos,

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15

que vai dos 3,7% a 2,3% entre 1980 e 2000, mas que a pardtir deste último ano a tendência se

inverte, passando de 2,3% para 5,3%, em 2004.

Em segundo lugar, a mesma tendência declinante ocorre com relação ao setor

industrial, que, em 1980, recebia nada menos que 74,4% dos ingressos de IEDs, no Brasil e,

em 2000 passou a receber apenas 33,7%. No entanto, depois disso, a participação da indústria

volta a crescer, chegando a 52,8% do total dos IEDs, em 2004. Com mais precisão, pode-se

ver que a queda da participação da indústria começa no final da década de 1980, mas se

concentra a partir de1990, e de forma mais acentuada, ainda, entre 1995 e 2000.

Ainda, no âmbito do setor industrial, o segmento da metalurgia reduziu pela metade

sua participação, passando de 7,9%, em 1980, para 4,4%, em 2004. A indústria de material

elétrico, eletrônico e comunicações apresentou um comportamento parecido com o da

indústria metalúrgica. Já a indústria mecânica apresentou uma queda progressiva mais

acentuada, passando de 9,7%, em 1980, para apenas 1,5%, em 2004. Os segmentos de

material de transporte e indústria química tiveram também uma participação declinante ao

longo de todo o período, chegando, em 2004, com aproximadamente metade da participação

eu detinha em 1980.

Já o setor de serviços apresentou uma tendência inversa ao da agricultura e da

indústria, ou seja, ele triplicou sua participação no total dos IEDS, entre 1980 e 2000,

passando de 19,8%, para 63,9%. A partir de 2000, esse percentual se reduz, chegando a

41,8%, em 2oo4. No âmbito dos serviços, dois segmentos merecem destaque, o setor

financeiro (bancos) e o comércio em geral, importação e exportação. O salto de participação

do setor financeiro, com receptor dos IEDs, ocorreu no período 1995-2000, que passou de um

percentual de 3,3% para nada menos que 10,3%. Trata-se do período de maior

internacionalização do sistema bancário nacional. Entre os anos 2000 e 2004, tanto o setor

financeiro, quanto o comércio de importação e exportação reduziram significativamente sua

participação no recebimento dos IEDs vindos ao Brasil.

Por fim, pode-se dizer que foi na década de 1990 e, mais precisamente, no período

1995-2000 que ocorreram as grandes mudanças na direção dos investimentos estrangeiros

diretos ingressados no Brasil, os quais se deslocaram do setor industrial para os serviços, e

especialmente para o setor financeiro.

A análise desses dados globais e por ramos de atividade recoloca em discussão o papel

dos investimentos estrangeiros, ou da poupança externa, para o crescimento da economia

brasileira. As opiniões se dividem. Por exemplo, de um lado, Fritsch e Franco (1991:13 e 23)

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16

sustentam a importância dos investimentos estrangeiros, para suprir os “níveis insuficientes de

poupança doméstica”, de modo que “o investimento externo direto tornou-se um forte

contribuinte para o elevado crescimento industrial do pós-guerra”, e ainda, “não há dúvida de

que o capital externo teve uma influência decisiva em cada etapa da industrialização

brasileira”. Para apoiar sua posição, os autores acima referidos apontam os significativos

percentuais da participação dos IEDs em alguns setores, no período, 1949-1962: nos

investimentos industriais, 27,8%, nos materiais de transporte, 60,9%, na borracha, 91,1% e

nos investimentos da indústria química, 56,2%.

Embora não se possa negar a importância do papel que os IEDs tiveram no

crescimento desses setores industriais, nesse período, os dados mais globais apresentados

acima atenuam fortemente esse impacto. Neste sentido, Bresser Pereira e Nakano (2003)

destacam a tese, evidenciada através de dados afirmativos, de que o principal fator

responsável pelo crescimento da economia brasileira sempre foi a poupança interna e não a

externa. Para esses autores, ciclos de expansão de fluxos de capitais, que geralmente estão

associados a baixas taxas de juros ou superávits em conta corrente nos países desenvolvidos.

Normalmente, o ingresso de capital aumenta ligeiramente a taxa de investimento, num

primeiro momento, mas não cria as condições para o pagamento futuro da dívida. O que se

pode observar, muitas vezes, é que o ingresso de poupança externa está associado a uma

redução de poupança interna. Dessa forma, e a longo prazo, o ingresso de poupança externa

não aumenta necessariamente a taxa de investimento da economia que a recebe.

Como podemos observar, os períodos de alto crescimento da economia brasileira

foram obtidos sem ou com baixa poupança externa, pois esta, como fica claro no trabalho

desses autores, vem em substituição à poupança nacional e não aumenta a taxa de

investimento no Brasil, mas ao contrário, ao lado de um baixo crescimento se acumulam os

estoques de dívida para o governo e para o País, pois todo fluxo de capital significa, no

momento seguinte, uma remessa de rendimentos, na forma de juros, lucros e dividendos ao

exterior e um estoque de dívida a ser paga pelo país.

O papel secundário atribuído aos IEDs no crescimento da economia brasileira pode ser

explicado, de um lado, pela sua baixa participação no total dos investimentos nacionais,

conforme mostra a Tabela 3 (no final do texto) e o Gráfico 3, e por outro, por razões mais de

natureza estrutural. Com efeito, essa participação pode ser dividida em dois períodos bem

distintos: entre 1950 e 1980, sua participação média foi de apenas 1,76%. Desagregando as

três décadas, temos uma participação de 0,95%, na década de 1950, 1,42% na de 1960 e de

2,99% nos anos 1970. Nesse período, esses baixos percentuais provavelmente tiveram seu

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17

papel no crescimento do PIB potencializado pela canalização desses investimentos para áreas

estratégicas no contexto dos Planos Nacionais de Desenvolvimento, como foi o Plano de

Metas e o II PND, conforme sinalizaram Lessa (1981) e Serra (1982). Já no período 1990-

2002, a participação média dos investimentos diretos estrangeiros no total dos investimentos

brasileiros elevou-se para 14,27%, tendo chegado a 27,93%, em 1999, e 30,12%, em 2000.

No entanto, essa elevação dos investimentos estrangeiros foi impotente para alavancar o

crescimento econômico brasileiro, que foi muito baixo nesse período. Ao contrário do que

ocorreu nas décadas de 1950 e 1970, quando os investimentos estrangeiros estiveram voltados

para o setor industrial, o forte ingresso desses investimentos, na década de 1990, como

destaca Lacerda (2004: 633), esteve voltado principalmente para o setor de serviços. Este

aumento dos IEDs, na verdade, está associado à queda acentuada do nível dos investimentos

totais ao longo de toda década de 1990, quase sempre abaixo dos 20% do PIB.

Gráfico 3: Evolução das relações FBKF e IED / PIB (%) e IED/FBKF: 1950-2001.

Fonte: Cálculos do autor com dados do IPEADATA.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

FBKF/PIB (%) IED/PIB (%) IED/FBKF

Laplane e Sarti (1997: 175-176) sugerem que o baixo poder indutor dos investimentos

industriais estrangeiros no crescimento econômico brasileiro, na década de 1990, se deve à

sua concentração nos setores de bens de consumo duráveis e que o poder indutor de

investimentos da expansão do consumo tem sido, de fato, modesto. Parte do seu impulso

dinâmico é direcionada ara o exterior. Por sua vez, os “efeitos de encadeamento desses

investimentos sobre a estrutura industrial são mais fracos que em outras etapas do processo de

industrialização”. Por isso, a capacidade dos IEDs em realimentar endogenamente o

crescimento é limitada.

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Se o papel dos investimentos estrangeiros pode ser considerado secundário para o

crescimento econômico brasileiro, pois relevantes mesmo são os investimentos internos, os

rendimentos auferidos pelo capital estrangeiro podem ser considerados muito elevados, dado

que em geral foram maiores que o próprio volume de ingresso, como indicam os dados das

Tabelas 1 e 3 e do Gráfico 4.

Gráfico 4: Relações dos IED, IEP e LD / PIB (%): 1950-2002.

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

9,00%

10,00%

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

IED/PIB IEP/PIB Lucros e Dividendos/PIB

Fonte: cálculos do autor com dados do Banco Central e IPEADATA. Legenda : IED : investimento estrangeiro direto ; IEP : investimento estrangeiro de portfolio ; LD :

lucros e dividendos ;

Com efeito, se compararmos a relação IED/PIB com a relação LD/PIB (rendimentos

auferidos pelos IEDs como proporção do PIB) verificamos a alta rentabilidade do capital

estrangeiro investido no Brasil. Na década de 1950, enquanto o ingresso médio de IEDs foi de

apenas 0,15% do PIB, seus rendimentos representaram nada menos de 58% do mesmo. Na

década de 1960, o volume de rendimentos foi quase o dobro (0,44%) do volume de ingressos

(0,23%). Na década de 1970, as relações foram respectivamente de 0,69% para o ingresso e

de 0,65% para os rendimentos. Na década de 1980, quando o volume de ingresso foi de

apenas 0,36% do PIB, em virtude da crise da dívida externa, mesmo assim seus rendimentos

foram quase o dobro desse percentual, ou seja, 0,65%. Já no período 1990-2002, quando o

volume de IEDs chegou a 2,12% do PIB, seus rendimentos representaram apenas 0,68%. Ou

seja, vemos que os ganhos são consideráveis e os custos desses investimentos externos são

rapidamente recuperados pelos países de origem desses capitais.

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19

5. Conclusão

Este texto procurou analisar as mudanças de tratamento dado aos IEDs em dois

períodos distintos da história recente do capitalismo: o primeiro, que vai dos anos 1950 a

1980, se caracterizou pelas medidas restritivas ao ingresso de capital estrangeiro, e o segundo,

que abrange sobretudo os anos 1990, se caracterizou pela abertura e pelos incentivos ao

ingresso desse capital no país.

Em relação ao período de restrições, alguns aspectos podem ser destacados: de modo

geral, as empresas multinacionais (EMNs) se sujeitaram aos códigos de restrições, pois

sabiam ter depois um mercado interno cativo para seus produtos; no período de restrições,

havia uma relativa escassez de capitais e as economias nacionais, sobretudo as periféricas,

careciam muito desses capitais, pois seus mecanismos internos de financiamento eram ainda

incipientes; mesmo assim, este foi um período de crescimento econômico acentuado, no qual

o Brasil ocupou um lugar de destaque, com taxas extraordinárias de crescimento.

Já no período de abertura e atração, o cenário internacional sofre mudanças

acentuadas: além de uma abundante liquidez internacional, muda a natureza dos

investimentos externos, com os capitais de portfolio superando largamente os investimentos

diretos, mas estes últimos também aumentaram consideravelmente; por outro lado, em vez de

serem as EMNs que se sujeitam a todo tipo de restrições dos Estados nacionais para ingressar

no país, agora são estes últimos que se submetem às exigências daquelas; no entanto, seu

papel na promoção do crescimento foi muito menor do que aquele exercido no período

anterior.

Em relação ao Brasil, o que se pode observar foi que não há correspondência direta

entre volumes de ingresso dos IEDs e crescimento econômico nacional, seus rendimentos são

muito elevados e, em muitos períodos, os lucros e dividendos reenviados aos países de origem

superam os ingressos na economia brasileira. A conclusão maior talvez seja de que o ingresso

de poupança externa não afeta necessariamente o investimento interno, pois em geral ela o

substitui. A análise histórica tem mostrado que mais decisivos são os investimentos nacionais.

Os investimentos externos parecem ter tido um papel mais relevante na medida em que sua

aplicação interna se dava de acordo com as prioridades traçasdas pelas políticas de

desenvolvimento nacional. Mais importante do que seu volume possivelmente seja a natureza

e a direção dada aos mesmos. Talvez seja mais importante ter políticas específicas para o

capital estrangeiro do que simplesmente oferecer incentivos para atrair esses investimentos

externos.

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20

Resumo – O objetivo deste texto é analisar a questão dos investimentos estrangeiros diretos, numa perspectiva histórica mais ampla, bem como o papel dos mesmos para o crescimento da economia brasileira, no período 1950-2002. Na história mais recente do capitalismo, há duas fases distintas em relação ao tratamento dado aos investimentos estrangeiros diretos: a primeira, que vai da década de 1950 até final dos anos 1970, pode ser caracterizada como fase de “restrições”, e a segunda, que vai do final da década de 1980 e se consolida nos anos 1990, pode ser denominada de fase de “atração” dos investimentos estrangeiros pelas economias nacionais. Neste contexto mais amplo, o Brasil também acompanhou a tendência de outros países em relação ao tratamento dado ao capital estrangeiro. A análise empírica indica uma marcante assimetria entre o ingresso de investimentos estrangeiros e o crescimento econômico, pois o crescimento da economia nacional é maior na fase de restrições e de baixo ingresso de investimentos e menor na fase de atração e de maior ingresso do capital externo. O texto procura explicar essa contradição. Palavras-chaves: Economia brasileira; Investimento direto estrangeiro; Economia internacional Abstract – This paper aims to analyze the relevance of direct foreign investment for the Brazilian economic growth from 1950 to 2002. Recently, the history of capitalism and, specifically, the history of Brazilian economy have showed us that there are two different periods related to the dinamic behavior of direct foreign investment: a period of restrictions and a period of attraction. The empirical analysis for the Brazilian economy has indicated a strong assimetry between the inflow of direct foreign investment and the Brazilian economic growth. In this context, the paper aims to discuss and explain this contradiction. Key-words: Brazilian economy; direct foreing investment; International economy

Tabela 3 - Relações com o PIB

Anos IED/PIB (%) IEP/PIB (%)

LD / PIB (%) RIED/PIB (%) RIEP/PIB (%) IED/FBKF

1950 0,13% 0,00% 0,55% 0,55% 0,00% 0,99%

1951 0,11% 0,00% 0,74% 0,74% 0,00% 0,69%

1952 0,03% 0,00% 0,45% 0,45% 0,00% 0,22%

1953 0,15% 0,00% 1,07% 1,07% 0,00% 0,97%

1954 0,10% 0,00% 0,83% 0,83% 0,00% 0,62%

1955 0,11% 0,00% 0,70% 0,70% 0,00% 0,78%

1956 0,23% 0,00% 0,51% 0,51% 0,00% 1,61%

1957 0,18% 0,00% 0,29% 0,29% 0,00% 1,17%

1958 0,22% 0,00% 0,40% 0,40% 0,00% 1,30%

1959 0,20% 0,00% 0,38% 0,38% 0,00% 1,12%

1960 0,21% 0,00% 0,47% 0,47% 0,00% 1,34%

1961 0,35% 0,00% 0,41% 0,41% 0,00% 2,70%

1962 0,18% 0,00% 0,41% 0,41% 0,00% 1,16%

1963 0,05% 0,00% 0,24% 0,24% 0,00% 0,29%

1964 0,10% 0,00% 0,27% 0,27% 0,00% 0,68%

1965 0,29% 0,00% 0,45% 0,45% 0,00% 1,94%

1966 0,22% 0,00% 0,44% 0,44% 0,00% 1,36%

1967 0,23% 0,00% 0,36% 0,36% 0,00% 1,42%

1968 0,27% 0,00% 0,46% 0,46% 0,00% 1,44%

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1969 0,36% 0,24% 0,44% 0,44% 0,00% 1,91%

1970 0,30% 0,11% 0,93% 0,93% 0,00% 1,57%

1971 0,33% 0,17% 0,90% 0,90% 0,00% 1,65%

1972 0,54% 0,19% 0,62% 0,62% 0,00% 2,65%

1973 0,98% 0,28% 0,71% 0,71% 0,00% 4,80%

1974 0,82% 0,13% 0,57% 0,57% 0,00% 3,75%

1975 0,80% 0,08% 0,41% 0,41% 0,00% 3,41%

1976 0,64% 0,12% 0,52% 0,52% 0,00% 2,85%

1977 0,56% 0,02% 0,75% 0,75% 0,00% 2,62%

1978 0,60% 0,01% 0,77% 0,76% 0,00% 2,69%

1979 0,92% 0,02% 0,65% 0,61% 0,04% 3,95%

1980 0,69% 0,01% 0,40% 0,37% 0,03% 2,93%

1981 0,73% 0,01% 0,51% 0,47% 0,04% 2,98%

1982 0,51% 0,02% 0,89% 1,02% 0,13% 2,20%

1983 0,32% 0,00% 0,77% 0,82% 0,16% 1,59%

1984 0,25% 0,00% 0,67% 0,70% 0,17% 1,30%

1985 0,30% 0,01% 0,80% 0,81% 0,17% 1,65%

1986 0,41% 0,01% 0,71% 0,71% 0,16% 2,06%

1987 0,23% 0,04% 0,55% 0,56% 0,12% 0,98%

1988 0,17% 0,07% 0,74% 0,74% 0,10% 0,70%

1989 0,17% 0,09% 0,70% 0,55% 0,12% 0,63%

1990 0,16% 0,05% 0,40% 0,41% 0,09% 0,76%

1991 0,19% 0,24% 0,26% 0,27% 0,09% 1,02%

1992 0,39% 1,56% 0,21% 0,24% 0,13% 2,09%

1993 0,36% 5,60% 0,50% 0,70% 0,17% 1,85%

1994 0,55% 7,92% 0,55% 0,87% 0,18% 2,64%

1995 0,85% 6,52% 0,54% 0,47% 0,69% 4,15%

1996 1,32% 5,85% 0,55% 0,47% 0,72% 6,86%

1997 2,46% 8,81% 0,78% 0,68% 0,90% 12,37%

1998 3,72% 6,93% 0,92% 0,77% 1,07% 18,92%

1999 5,28% 5,31% 1,03% 0,96% 1,58% 27,93%

2000 5,81% 5,58% 0,71% 0,70% 1,56% 30,13%

2001 3,75% 3,63% 1,02% 0,98% 2,17% 19,27%

2002 2,71% 4,02% 1,33% 1,32% 2,17% 14,79% Fonte: Banco Central do Brasil. Legenda : IED : investimento estrangeiro direto ; IEP : investimento estrangeiro de portfolio ; LD : lucros e dividendos ; RIED : rendas de IED ; RIEP : rendas de IEP ; FBKF : formação bruta de capital fixo.

6. Bibliografia

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