investimentos estrangeiros diretos no …...tabela 7 - fluxos estimados de ide recebido no mundo,...

80
Brasília 2014 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013 Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil

Upload: others

Post on 25-May-2020

7 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

Brasília2014

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil

Page 2: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 3: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil

Page 4: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Robson Braga de AndradePresidente

Diretoria de Desenvolvimento Industrial

Carlos Eduardo AbijaodiDiretor

Diretoria de Comunicação

Carlos Alberto BarreirosDiretor

Diretoria de Serviços Corporativos

Fernando Augusto TrivellatoDiretor

Diretoria Jurídica

Hélio José Ferreira RochaDiretor

Diretoria de Políticas e Estratégia

José Augusto Coelho FernandesDiretor

Diretoria de Relações Institucionais

Mônica Messenberg GuimarãesDiretora

Diretoria de Educação e Tecnologia

Rafael Esmeraldo Lucchesi RamacciottiDiretor

Page 5: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

Brasília2014

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil

Page 6: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

FICHA CATALOGRÁFICA

C748

Confederação Nacional da Indústria Investimentos estrangeiros diretos no Brasil – 2013 : Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil / Confederação nacional da Indústria. – Brasília: CNI, 2014. 74 p.:il. ISBN 000000000

1. Comércio Exterior – Brasil. 2. Investimentos Estrangeiros - Brasil. 3. Mercado de Financeiro. I. Título.

CDU: 382

© 2014. CNI – Confederação Nacional da Indústria.Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CNIUnidade de Negócios Internacionais - NEGINT

CNIConfederação Nacional da Indústria

Setor Bancário Norte

Quadra 1 – Bloco C

Edifício Roberto Simonsen

70040-903 – Brasília – DF

Tel.: (61) 3317- 9000

Fax: (61) 3317- 9994

http://www.cni.org.br

Serviço de Atendimento ao Cliente – SAC

Tels.: (61) 3317-9989 / 3317-9992

[email protected]

Page 7: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

5

LISTA DE TABELAS,GRáFIcOS E QuADROS

GRáFICO 1 - ENtraDa IED: 20 maIorEs, 2013 .................................................................................... 24

GRáFICO 2 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl – 1994-2013 .................................. 32

GRáFICO 3 - ComPosIção Do INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl: PartICIPação No CaPItal E EmPréstImos INtErComPaNhIas – 2005-2013 ................................ 34

GRáFICO 4 - valor Das ExPortaçõEs Das EmPrEsas – 2005-2012 ............................................ 52

GRáFICO 5 - valor Das ExPortaçõEs Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras E Das outras EmPrEsas ExPortaDoras E ProDutos Dos NovE sEtorEs sElECIoNaDos (2005-2012) .................................................................................................................... 55

GRáFICO 6 - valor Das ExPortaçõEs E Das ImPortaçõEs Em us$ BIlhõEs E razão m/x Em PErCENtagENs Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras DE NovE sEtorEs sElECIoNaDos – 2005-2012 .................................................................................................. 62

TAbELA 1 - Fluxos aNuaIs DE ENtraDa DE IED, Por PaísEs E rEgIõEs (2007-2013) ................ 20

TAbELA 2 - Fluxos DE ENtraDa DE IED Por PaísEs E rEgIõEs – méDIa aNual Dos trIêNIos .................................................................................................................................................... 22

TAbELA 3 - Fluxos DE ENtraDa DE IED Como PErCENtual Da FBCF (aNos sElECIoNaDos ENtrE 1990-2012) (PErCENtual) ........................................................................................................... 24

TAbELA 4 - EstoQuEs DE IED rECEBIDos, Por PaísEs E rEgIõEs: méDIa aNual Dos trIêNIos .................................................................................................................................................... 26

TAbELA 5 - EstoQuEs DE IED rECEBIDos, Por PaísEs E rEgIõEs (aNos sElECIoNaDos ENtrE 1990-2012) ..................................................................................................................................... 27

TAbELA 6 - EstoQuE EstImaDo DE IED rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE, 1990 E 2011 ................................................................................................................................................ 28

TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE ........ 29

TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl, sEguNDo sEtorEs DE atIvIDaDE – 2001-2013 (BIlhõEs DE DólarEs) ................................................................................... 33

Page 8: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

TAbELA 9 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl, sEguNDo sEtorEs DE atIvIDaDEs E DIvIsõEs sElECIoNaDas (1) – 2007-2013 ..................................................................... 35

TAbELA 10 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl, sEguNDo PaísEs DE orIgEm sElECIoNaDos(1) (2002-2013) ................................................................................................................ 37

TAbELA 11 - EstoQuE DE CaPItal EstraNgEIro Em 2010 .............................................................. 39

TAbELA 12 - PartICIPação Das EmPrEsas Com CaPItal EstraNgEIro Nos Fluxos DE ComérCIo Do País – 2010 ...................................................................................................................... 39

TAbELA 13 - DIstrIBuIção Do EstoQuE DE IED Na Forma DE PartICIPação No CaPItal, sEguNDo o sEtor Em QuE Está ClassIFICaDa a EmPrEsa INvEstIDa – 2010 .......................... 40

TAbELA 14 - DIstrIBuIção Do EstoQuE Do IED, sEguNDo a orIgEm Do INvEstImENto – 2010............................................................................................................................................................. 42

TAbELA 15 - DIstrIBuIção Do EstoQuE Do IED Na INDústrIa DE traNsFormação, sEguNDo a orIgEm Do INvEstImENto soB a Forma DE PartICIPação NaCIoNal – 2010 ...... 43

TAbELA 16 - PartICIPaçõEs Das EmPrEsas Dos NovE sEtorEs sElECIoNaDos E Da INDústrIa DE traNsFormação No total Das ExPortaçõEs BrasIlEIras Nos trIêNIos 2005-2007 E 2010-2012 .............................................................................................................................. 52

TAbELA 17 - ExPortaçõEs Das PrINCIPaIs EmPrEsas, ExPortaDoras Dos NovE sEtorEs sElECIoNaDos, sEguNDo ProPrIEDaDE Da EmPrEsa – 2010-2012 ............................ 54

TAbELA 18 - PartICIPação Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras No valor total Das ExPortaçõEs Das EmPrEsas Dos NovE sEtorEs sElECIoNaDos Nos trIêNIos 2005-2007 E 2010-2012 (1) ....................................................................................................... 55

TAbELA 19 - valor E taxas aNuaIs DE CrEsCImENto Das ExPortaçõEs Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras Dos sEtorEs sElECIoNaDos ................................. 56

TAbELA 20 - PEso Do valor Das ExPortaçõEs No valor Bruto Da ProDução INDustrIal Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras DE NovE sEtorEs sElECIoNaDos – 2007-2011 .................................................................................................................... 58

TAbELA 21 - PEso Do valor Das ExPortaçõEs No valor Bruto Da ProDução INDustrIal Das outras EmPrEsas ExPortaDoras DE NovE sEtorEs sElECIoNaDos – 2007-2008 E 2010-2011 .............................................................................................................................. 59

TAbELA 22 - razão ENtrE os valorEs Das ImPortaçõEs E Das ExPortaçõEs Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras DE NovE sEtorEs sElECIoNaDos – 2005-2012 ................................................................................................................................................... 61

TAbELA 23 - razão ENtrE os valorEs Das ImPortaçõEs E Das ExPortaçõEs Das PrINCIPaIs EmPrEsas ExPortaDoras EstraNgEIras E Das outras EmPrEsas DE NovE sEtorEs sElECIoNaDo – 2005-2012..................................................................................................... 61

TAbELA 24 - PartICIPação Das PEEs DE máQuINas E EQuIPamENtos roDovIárIos E agríColas Nas ExPortaçõEs Do sEtor DE máQuINas E EQuIPamENtos ............................... 64

TAbELA 25 - DIstrIBuIção gEográFICa Das ExPortaçõEs DE máQuINas E EQuIPamENtos roDovIárIos E agríColas (1) ................................................................................. 65

TAbELA 26 - ExPortaçõEs, ImPortaçõEs E ProDução BrasIlEIra DE tElEFoNEs Para rEDEs CElularEs ................................................................................................................................... 67

TAbELA 27 - DIstrIBuIção gEográFICa Das ExPortaçõEs DE ProDutos FarmaCêutICos (1) (2007-2012) ............................................................................................................ 69

Page 9: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

7

SuMáRIO

SumÁRIO ExECuTIvO............................................................................ 9

1 InTROduçãO .....................................................................................17

2 TEndênCIAS RECEnTES dO IEd nO mundO: dESTInOS GEOGRÁFICOS, SETORES E mOdALIdAdES .......................................19

2.1 OS FLuxOS dE IEd: dESTInOS GEOGRÁFICOS ........................................21

2.2 ESTOquE E FLuxOS dE IEd: SETORES dE dESTInO E mOdALIdAdES .28

3 IEd nO BRASIL: EvOLuçãO, SETORES dE dESTInO E ORIGEm GEOGRÁFICA ........................................................................................ 31

3.1 O FLuxO dE IEd ..........................................................................................31

3.1.1 A EvOLuçãO dO IEd .........................................................................31

3.1.2 A COmpOSIçãO dO IEd ....................................................................31

3.1.3 O dESTInO dO IEd ............................................................................34

3.1.4 A ORIGEm GEOGRÁFICA dO IEd ......................................................35

3.2 O ESTOquE dE IEd .....................................................................................37

3.2.1 A dISTRIBuIçãO SETORIAL dO ESTOquE dE CApITAL ESTRAnGEIRO ............................................................................................39

3.2.2 A dISTRIBuIçãO GEOGRÁFICA dO ESTOquE dE CApITAL ESTRAnGEIRO ............................................................................................41

Page 10: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

4 IEd E COméRCIO ExTERIOR ............................................................ 45

4.1 IEd E ExpORTAçõES: A ExpERIênCIA dE pAíSES Em dESEnvOLvImEnTO ..........................................................................................47

4.1.1 TRAnSFORmAçãO dAS ESTRuTuRAS pROduTIvAS E dAS pAuTAS dE ExpORTAçõES ........................................................................47

4.1.2 IEd E InSERçãO nO COméRCIO InTERnACIOnAL .........................48

4.1.3 IEd E upGRAdInG dE ExpORTAçõES .............................................49

4.2. IEd E COméRCIO ExTERIOR: TEndênCIAS RECEnTES nO BRASIL .......50

4.2.1 A pARTICIpAçãO dAS SuBSIdIÁRIAS dAS EmpRESAS muLTInACIOnAIS nAS ExpORTAçõES .....................................................50

4.2.2 O dESEmpEnHO ExpORTAdOR dAS pRInCIpAIS EmpRESAS ExpORTAdORAS ESTRAnGEIRAS .............................................................54

4.2.3 A ImpORTânCIA dAS ExpORTAçõES pARA AS EmpRESAS ExpORTAdORAS .........................................................................................57

4.2.4 AS ImpORTAçõES dAS pRInCIpAIS EmpRESAS ExpORTAdORAS ESTRAnGEIRAS...........................................................................................59

4.2.5 IEd E COméRCIO: dInâmICAS SETORIAIS ......................................62

5 COnCLuSõES ................................................................................... 71

REFERênCIAS ....................................................................................... 73

Page 11: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

9

SuMáRIO ExEcuTIVO

A crise financeira internacional interrompeu a trajetória de forte crescimento dos fluxos de investimen-tos estrangeiros diretos (IEd) no âmbito global que havia se iniciado na década de 1990. mas a principal mudança registrada no período pós-crise foi a queda no IEd direcionado aos países desenvolvidos, compensada pelo dinamismo dos investimentos dirigidos aos países em desenvolvimento e à Rússia.

O Brasil está entre os países que mais aumentaram sua participação nos fluxos globais de IEd recebido no pós-crise – de 1,7% em 2007 para 4,3% em 2013. Entretanto, nos dois últimos anos observa-se pe-quena retração no ingresso de IEd no Brasil, o que poderia indicar interrupção desse ciclo de expansão.

Embora a indústria de transformação ocupe lugar de destaque como destino do IEd recebido no Brasil, registra-se uma queda acumulada de 33% nos fluxos dirigidos para esse ramo de atividade no último biênio. Essa contração está, todavia, concentrada em alguns segmentos que têm peso expressivo na composição do IEd no Brasil – metalurgia, produtos alimentícios e bebidas. Esses são setores com coeficientes de exportação relativamente elevados para os padrões brasileiros – com exceção de be-bidas – e nos quais o investimento estrangeiro tem desempenhado papel relevante em termos de sua contribuição para o desempenho exportador do país.

A relação entre investimento estrangeiro direto e comércio tem merecido a atenção de analistas e for-muladores de políticas públicas, particularmente nos países em desenvolvimento. Em geral, os fluxos de IEd são considerados como importante vetor de indução à maior participação dos países no comér-cio mundial, e muitos países desenvolvem políticas voltadas para a atração de investimentos com o objetivo de aumentar sua inserção na economia internacional.

TEndênCIAS RECEnTES dO IEd nO mundO: dESTInOS GEOGRÁFICOS, SETORES E mOdALIdAdES

A crise financeira internacional teve efeitos negativos sobre a tendência de forte crescimento dos fluxos globais de IEd ao longo das últimas décadas. Apesar disso, avaliações pessimistas devem ser ponde-radas pela análise das médias trienais de evolução destes fluxos no período imediatamente anterior e

Page 12: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

10 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

posterior à eclosão da crise. no triênio 2005-2007, a média anual dos fluxos de IEd no mundo alcançou uS$ 1,49 trilhão, caindo marginalmente, em 2008-2010, para uS$ 1,48 trilhão e voltando exatamente ao nível do triênio imediato pré-crise em 2011-2013.

Destinos geográficos

nos anos imediatamente anteriores à emergência da crise, os países em desenvolvimento respondiam por algo em torno de 30% dos investimentos diretos recebidos no mundo. Esta participação cresce no triênio 2008-2010, atingindo em média 44%, e mais ainda nos três anos seguintes, quando supera a dos países desenvolvidos e alcança 52% do total.

Entre os países em desenvolvimento que aumentaram, entre 2007 e 2013, sua participação nos fluxos de IEd recebidos, destacam-se a China (cuja participação passa de 4,2% para 8,7%), o Brasil (de 1,7% para 4,3%), além de méxico e Chile. O conjunto dos BRICS ganhou peso como destino dos IEd globais, especialmente no período mais recente – 2012 e 2013 –, atingindo 22% do total neste último ano.

O Brasil tem sido um dos principais destinos dos IEd entre os países em desenvolvimento, ocupando também posição de destaque no total mundial. Em 2012, o país ocupou a quinta colocação mundial entre os países receptores de IEd, caindo duas posições em 2013. Ao contrário, portanto, do que ocor-re com os fluxos de saída de IEd – em que o Brasil tem desempenho bastante inferior ao de outros BRICS e economias emergentes –, o país apresenta resultados significativamente positivos entre estes países, quando se trata de IEd recebidos.

composição setorial

O estoque de IEd recebido no mundo é nitidamente dominado pelos investimentos em serviços, e esta característica vem se acentuando ao longo do tempo. Em 2011, a participação dos serviços no estoque total de IEd recebido no mundo era de 63,7%. Os serviços prestados às empresas e os financeiros são os principais responsáveis pelo crescimento da participação dos serviços no total, que ocorre “às custas” da participação da indústria, reduzida a 25%, em 2011.

As informações mais recentes da Conferência das nações unidas sobre Comércio e desenvolvimento (unCTAd) sobre a distribuição setorial dos fluxos de IEd recebido se referem a 2012. nesse ano, a unCTAd registra queda nos fluxos dirigidos aos três grandes setores (primário, indústria e serviços), com destaque para a redução observada no setor primário, em que investimentos em mineração e pe-tróleo dominam. O setor menos afetado pelas reduções observadas no ano foi o de serviços.

IEd nO BRASIL: EvOLuçãO, SETORES dE dESTInO E ORIGEm GEOGRÁFICA

dois ciclos de forte expansão marcam a evolução do ingresso de IEd no Brasil nos últimos vinte anos. O primeiro tem início em 1995 e se estende até o final dos anos 1990. Essa expansão se interrompe no início da década passada, marcada por redução acentuada do IEd. O segundo ciclo de expansão tem início em 2006 e, superando rapidamente a forte queda ocorrida em 2009, se estende à década atual. Os anos de 2012 e 2013, no entanto, registram quedas anuais do IEd de 2% que sugerem a interrupção desse ciclo de expansão.

setores De Destino

O atual ciclo de expansão do IEd é comum aos três setores de atividade. O ciclo relativo às atividades primárias e ao setor de serviços antecede, no entanto, de dois anos o ciclo da indústria de transforma-ção (2004 e 2006, respectivamente). A recuperação do IEd após a queda de 2009 é mais rápida no caso da indústria de transformação.

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Page 13: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

11SuMáRIO ExEcuTIVO

por outro lado, a contração recente desses investimentos ocorre antes e com mais intensidade tam-bém nesse segmento, cuja queda acumulada em 2012 e 2013 foi de 33%, contra redução de 6% do setor de serviços. Essa contração do IEd destinado à indústria de transformação deve, no entanto, ser qualificada, uma vez que está concentrada em alguns de seus segmentos.

na indústria de transformação, o IEd está fortemente concentrado em três divisões — metalurgia, produtos alimentícios e bebidas —, que respondiam por metade dos investimentos no setor no triênio 2011-2013. A evolução dessas três divisões no último triênio responde, na verdade, por 120% da con-tração do IEd na indústria de transformação registrada nesse período. por outro lado, os valores do IEd destinado às indústrias de produtos químicos, veículos automotores, equipamentos de informática e produtos eletrônicos, máquinas e materiais elétricos, produtos farmacêuticos e máquinas e equipamen-tos foram em 2013 superiores aos observados em 2011.

origem geográfica

A distribuição do IEd segundo sua origem revela, em geral, a origem imediata dos recursos aplicados, que não corresponde necessariamente ao país da matriz da empresa investidora. de acordo com esses dados, a participação dos países Baixos, Luxemburgo e das Ilhas Cayman oscilou, no período de 2002 a 2013, entre 27% e 38% do investimento realizado. Os países Baixos e os Estados unidos, nessa ordem, representam pelo menos um terço do IEd realizado nesse período — a exceção é o período 2008-2010, no qual Luxemburgo substitui os países Baixos como principal investidor.

A posição relativa dos demais países varia de forma significativa. Em alguns casos, notadamente nos originários de alguns países da união Europeia, o fluxo do IEd se expandiu mesmo nos anos 2008 e 2009. Contudo, quando se examina a evolução do IEd no último triênio, constata-se uma redução generalizada: embora os investimentos dos Estados unidos, Luxemburgo, méxico, Chile, Suíça e Itália tenham crescido significativamente, essa expansão não foi suficiente para impedir o declínio do IEd total entre 2011 e 2013. O investimento conjunto dos dois países latino-americanos no último triênio os situa na 4ª posição entre os investidores estrangeiros no Brasil (8,3% do total).

IEd E COméRCIO ExTERIOR

na economia mundial, os fluxos de comércio estão intimamente relacionados aos fluxos de investi-mentos diretos. O IEd é considerado um vetor importante para impulsionar os fluxos de comércio no mundo. no Brasil, como no mundo, apenas uma parcela muito pequena das empresas se envolve no comércio e, dentre estas, uma fatia importante é formada por multinacionais.

Há quatro motivações principais para uma firma realizar investimentos diretos no exterior, e na maioria dos casos elas tendem a aumentar o comércio: (i) busca de novos mercados; (ii) busca de recursos de produção mais baratos do que no país de origem; (iii) fragmentação da produção em busca de redução de custos e eficiência, fomentando a criação de cadeias de valor; (iv) aquisição de ativos considerados estratégicos para a operação da firma.

Às motivações tradicionais para o IEd veio somar-se, nos últimos anos, a tendência à terceirização glo-bal e à organização da produção em cadeias globais de valor.

Apesar do elevado potencial para fomentar as exportações, o grau em que em que o IEd está relacio-nado ao comércio depende, em boa medida, de características do país receptor do investimento. Tendo em vista as características econômicas e institucionais dos países em desenvolvimento, o investimento estrangeiro direto nesses mercados esteve historicamente associado à busca de matérias-primas e mão de obra pouco especializada. Esses investimentos tendem a gerar comércio.

Page 14: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

12 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

por outro lado, países emergentes com mercados domésticos relativamente grandes e protegidos, como Brasil, índia e África do Sul, receberam nos últimos cinquenta anos fluxos importantes de IEd de firmas que buscavam ampliar os mercados consumidores de seus produtos, embora no Brasil e África do Sul os investimentos em busca de recursos naturais também sejam bastante significativos. Os investimentos motivados por busca de mercados em economias com nível de proteção relativamente elevado têm menor propensão a fomentar exportações.

ieD e comércio exterior: tenDências recentes no Brasil

O debate sobre a contribuição dos investimentos diretos estrangeiros para o fomento das exporta-ções atraiu a atenção de estudos sobre o caso brasileiro. A maioria dos autores centrou a análise na correlação entre IEd e comércio exterior no período que vai da segunda metade da década de 1990 ao início dos anos 2000. de modo geral, os estudos concluíram que as empresas multinacionais atuando no Brasil nesse período tiveram uma participação no comércio exterior superior às empresas de capital nacional, embora essa diferença fosse maior para as importações que para as exportações no período estudado.

Este trabalho examina o fluxo de comércio associado ao investimento estrangeiro no Brasil para o perío-do 2005-2012, com foco no comportamento das subsidiárias de empresas multinacionais exportadoras. Esse exame concentrou-se em nove setores industriais, relacionados abaixo — na verdade, nove divi-sões da classificação a 2-dígitos da CnAE 2.0 —, selecionados dentre aqueles que se destacam pelo fluxo de IEd recebido nos últimos anos e pelo estoque de capital estrangeiro investido:

• produtos alimentícios

• produtos químicos

• produtos farmoquímicos e farmacêuticos (daqui em diante, produtos farmacêuticos)

• produtos de minerais não metálicos

• metalurgia

• Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (daqui em diante, equipamentos de informática)

• máquinas, aparelhos e materiais elétricos (daqui em diante, máquinas e materiais elétricos)

• máquinas e equipamentos

• veículos automotores, reboques e carrocerias (daqui em diante, veículos automotores).

Esse conjunto de setores recebeu, no triênio 2010-2012, 34% do fluxo de investimento direto no país, e 78% da parcela desse fluxo destinado à indústria de transformação. Ele responde também por 20% do estoque de capital das empresas estrangeiras em 2010, conforme contabilidade do Censo de Capital Estrangeiro realizado pelo Banco Central, e por 56% da parcela desse estoque associada à indústria de transformação.

Optou-se por restringir o exame às maiores empresas exportadoras, responsáveis por 80% do valor das exportações das empresas de cada um daqueles setores no triênio 2010-2012. no conjunto de 310 empresas identificadas segundo esse critério, 131 foram caracterizadas como nacionais e 179 como estrangeiras (chamadas aqui de pEEs).

a participação das subsidiárias das empresas multinacionais nas exportações

As 179 pEEs identificadas respondem por 61% do valor total exportado pelas nove divisões seleciona-das e representam 23% do total das exportações brasileiras no triênio 2010-2012.

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Page 15: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

13SuMáRIO ExEcuTIVO

no tocante à importância das pEEs nas exportações dos diversos setores, é possível caracterizar três padrões distintos.

• Em quatro setores, as pEEs respondem pela quase totalidade da amostra de 80% do valor ex-portado pelas empresas do setor: equipamentos de informática; veículos automotores; produtos farmacêuticos (nos quais a participação é quase 100%) e máquinas e equipamentos (com parti-cipação de 82%).

• Em três setores — metalurgia; máquinas e materiais elétricos; e produtos de minerais não metáli-cos — a participação das pEEs no valor das exportações da amostra está próxima de 60%.

• Em dois setores, as empresas nacionais respondem pela maior parcela das exportações das em-presas da amostra, cabendo às pEEs parcelas de 48% em produtos alimentícios e 35% em pro-dutos químicos.

o desempenho exportador das principais empresas exportadoras estrangeiras

no tocante ao desempenho exportador das pEEs, nota-se que:

• as pEEs de quatro setores se destacam pelas elevadas taxas de crescimento no período 2005-2012: produtos farmacêuticos (25% ao ano), produtos alimentícios (19%), metalurgia (16%) e pro-dutos químicos (11%);

• as pEEs de três setores apresentam crescimento menos expressivo: máquinas e materiais elétri-cos, máquinas e equipamentos e veículos automotores;

• as pEEs do setor de equipamentos de informática apresentam uma taxa anual negativa de 12,6%.

Cabe notar que as pEEs dos quatro setores que se destacam no período já apresentavam — juntamen-te com as do setor de máquinas e materiais elétricos — as taxas de crescimento mais elevadas antes da crise. Foram também os setores em que as exportações das pEEs foram menos impactadas pela contração do mercado mundial em 2009; as exportações de produtos farmacêuticos e metalurgia che-gam a apresentar crescimento nesse ano. dois dos quatro setores destacados inicialmente, produtos alimentícios e metalurgia, estão ainda entre os que apresentam maior taxa de crescimento no período mais recente (17% ao ano no período 2009-2012), superados, no entanto, por máquinas e equipamen-tos (25%) e seguidos de perto por veículos automotores (15%).

por outro lado, as exportações das pEEs do setor de equipamentos de informática já haviam interrompi-do seu crescimento antes da crise, mantendo-se estáveis entre 2005 e 2008. A partir desse ano, essas exportações apresentam um declínio contínuo, com uma taxa de variação média anual de -20% — seu valor em 2012 é 40% do observado em 2005.

vale notar ainda que a queda do valor das exportações em 2012, como registrado anteriormente, co-mum ao total das exportações e às exportações da indústria de transformação e das nove divisões fo-calizadas, não é observada nos casos das pEEs dos setores de máquinas e equipamentos (crescimento de 6,3%), produtos alimentícios (3,5%) e produtos farmacêuticos (0,5%).

a importância das exportações para as empresas exportadoras estrangeiras

As empresas estrangeiras estão basicamente voltadas para o mercado doméstico. é possível agregar e ordenar as nove divisões em quatro grupos em função do peso das exportações no valor bruto da produção industrial das pEEs:

• As pEEs do setor de produtos alimentícios destinam cerca da metade de sua produção ao mercado externo. A parcela da produção exportada é crescente ao longo do período, aumentando de 45% em 2007 para 64% em 2011.

Page 16: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

14 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

• As pEEs dos setores de metalurgia e de máquinas e equipamentos exportam também parcela significativa de sua produção (cerca de um terço). no entanto, as trajetórias das participações nos dois setores diferem:

• o percentual da produção exportada pelas empresas metalúrgicas mantém-se relativamente es-tável, apresentando pequeno crescimento de 35% para 38% entre 2007 e 2011, enquanto

• o percentual das pEEs do setor de máquinas e equipamentos declina de 38% para 29% entre aqueles anos.

• As pEEs dos setores de produtos de minerais não metálicos, equipamentos de informática, máquinas e materiais elétricos e veículos automotores exportavam, no início do período foca-lizado, entre 20% e 26% de sua produção. Essas percentagens experimentaram, no entanto, redução significativa ao longo do período — de 15 pontos de percentagem (p.p.) no caso de equipamentos de informática e de cerca de 7 p.p. nos demais — , situando-se entre 18% e 10% em 2011.

• por fim, as pEEs dos setores de produtos químicos e de produtos farmacêuticos exportavam me-nos de 15% de sua produção em 2007. As empresas desses setores apresentam, no entanto, evoluções distintas desde então:

• a parcela da produção exportada pelas pEEs de produtos químicos permaneceu estável, enquanto

• a parcela relativa às pEEs do setor de produtos farmacêuticos cresceu significativamente de 15% para 23%.

as importações das principais empresas exportadoras estrangeiras

O crescimento das exportações das pEEs dos nove setores selecionados foi acompanhado de au-mento de suas importações. A evolução relativa desses dois fluxos se reflete na trajetória da razão entre importações e exportações (razão M/X), que aumenta de 62% para 89% entre 2005 e 2008, estabilizando-se nesse nível até 2011, para alcançar 93% em 2012. Esse resultado é afetado, no entanto, pela evolução dos fluxos referentes às pEEs de produtos alimentícios, de peso significa-tivo nas exportações das pEEs do conjunto de setores (35%), cuja razão m/x permanece estável, ao contrário dos demais setores. quando se exclui o setor de produtos alimentícios, a evolução da razão m/x relativa ao conjunto de oito setores cresce de 77% em 2005 para 122% em 2008, e 146% em 2012.

ieD e comércio: dinâmicas setoriais

As pEEs respondem por parcelas significativas da atividade exportadora das respectivas divisões (o setor de produtos químicos é uma exceção). Essa participação ficou estável ou aumentou nos últimos anos, mesmo nos casos em que o valor de suas exportações declinou. no tocante à impor-tância das exportações para a receita das pEEs, com poucas exceções, o mercado externo absorve menos de um terço de sua produção. mais do que isso, essa participação declinou significativa-mente desde 2007 em cinco dos setores considerados.

Esse cenário reflete o papel subsidiário que o mercado externo desempenha na atuação das subsidiá-rias das empresas multinacionais no país. nesse contexto, alguns segmentos merecem um enfoque particular:

• seja pela importância do mercado externo para as pEEs do setor: produtos alimentícios, metalur-gia e máquinas e equipamentos;

• seja pela acentuada contração ou pelo significativo crescimento das exportações de suas pEEs: informática e produtos eletrônicos e produtos farmacêuticos, respectivamente.

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Page 17: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

15

COnCLuSõES

A experiência internacional sugere que os investimentos diretos estrangeiros são importantes induto-res de inserção no comércio mundial para os países em desenvolvimento. Entretanto, a contribuição dos capitais estrangeiros para a melhora do desempenho comercial do país receptor depende da com-binação entre a motivação do investidor estrangeiro para realizar determinada inversão e as característi-cas do país receptor do investimento. no caso do Brasil, observa-se que os investimentos estrangeiros estão, em sua maioria, voltados para a exploração de recursos naturais ou para o aproveitamento do relevante mercado doméstico. Inversões motivadas pelo acesso a recursos baratos e/ou estratégicos tendem a gerar comércio. mas aqueles estimulados pelo acesso a um mercado nacional abrangente e relativamente protegido têm impacto relativamente reduzido sobre exportações e, algumas vezes, tendem a aumentar as importações.

Apesar de sua contribuição expressiva para as exportações brasileiras, as empresas estrangeiras atuan-do nos nove setores selecionados estão principalmente voltadas para o mercado doméstico. Com poucas exceções, o mercado externo absorve menos de um terço da produção dessas empresas. mais relevante do que isso, essa participação declinou significativamente desde 2007 em cinco dos setores considerados. Esse cenário reflete o papel subsidiário que o mercado externo desempenha na atuação das subsidiárias das empresas multinacionais no país.

SuMáRIO ExEcuTIVO

Page 18: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 19: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

17

1. INTRODuçãO

A crise financeira internacional interrompeu a trajetória de forte crescimento dos fluxos de investimen-tos estrangeiros diretos (IEd) no âmbito global, que havia tomado fôlego na década de 1990. nos últi-mos anos, o valor dos fluxos de IEd tem oscilado, ensaiando recuperação em alguns anos e mostrando queda em outros. mas a principal mudança registrada no período pós-crise foi a queda no IEd direcio-nado aos países desenvolvidos, compensada pelo dinamismo dos investimentos dirigidos aos países em desenvolvimento e à Rússia. Essa é a principal marca da dinâmica global dos investimentos diretos no período que se sucedeu à crise.

O Brasil está entre os países que mais aumentaram sua participação nos fluxos de IEd recebido no pós-crise – de 1,7% em 2007 para 4,3% em 2013. Em 2012, o país chegou a ocupar a 5ª posição no ranking mundial, tendo caído para a 7ª posição em 2013. na realidade, o último ciclo de investimentos estran-geiros na economia brasileira tem início em 2006 e se mantém até 2011, apesar da queda registrada no auge da crise, em 2009. Entretanto, nos dois últimos anos observa-se pequena retração no ingresso de IEd no Brasil, o que sugere interrupção desse ciclo de expansão.

Embora a indústria de transformação ocupe lugar de destaque como destino do IEd recebido no Brasil, registra-se uma queda acumulada de 33% nos fluxos dirigidos para esse ramo de atividade no último biênio. Essa contração está, todavia, concentrada em alguns segmentos que têm peso expressivo na composição do IEd no Brasil – metalurgia, produtos alimentícios e bebidas. Esses são setores com coeficientes de exportação relativamente elevados para os padrões brasileiros – com exceção de be-bidas – e nos quais o investimento estrangeiro tem desempenhado papel relevante em termos de sua contribuição para o desempenho exportador do país.

A relação entre investimento estrangeiro direto e comércio tem merecido a atenção de analistas e for-muladores de políticas públicas, particularmente nos países em desenvolvimento. Em geral, os fluxos de IEd são considerados como importante vetor de indução à maior participação dos países no comér-cio mundial, e muitos países desenvolvem políticas voltadas para a atração de investimentos com o objetivo de aumentar sua inserção na economia internacional.

O interesse no tema tem aumentado nos últimos anos com o aprofundamento do processo de frag-mentação da produção no âmbito internacional e com a consolidação da organização da produção em

Page 20: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

18 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

cadeias globais de valor. A atração de investimentos estrangeiros diretos que contribuam para aumentar o valor adicionado da produção doméstica e para a inserção dos países em estágios mais avançados das cadeias internacionais de valor tornou-se objetivo de políticas públicas em diversos países.

Este trabalho é o primeiro de uma série que se pretende anual e que tem o objetivo de acompanhar o desempenho recente do Brasil como receptor de investimentos estrangeiros diretos. neste primeiro número, uma seção especial é dedicada à avaliação da contribuição dos fluxos de IEd para a inserção do país no comércio internacional.

O trabalho está dividido em cinco seções, incluindo esta introdução. A seção 2 apresenta a evolução dos fluxos de IEd no mundo e o lugar do Brasil como receptor de investimentos estrangeiros diretos. A seção 3 traz um detalhamento dos fluxos e do estoque de capital estrangeiro na economia brasileira, incluindo sua distribuição setorial e por origem do investimento. A seção 4 aborda as relações entre investimento estrangeiro direto e comércio exterior no Brasil. para tanto, são selecionados nove seto-res nos quais a participação de capitais estrangeiros é relevante. O trabalho discute a contribuição das subsidiárias de empresas estrangeiras para o desempenho exportador nesses setores, sua propensão a exportar, a relação entre exportações e importações dessas empresas e a dinâmica recente de alguns setores específicos. A seção 5 conclui.

Page 21: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

19

O nível dos fluxos de investimentos estrangeiros diretos (IEd) recebidos no mundo se encontrava, em 2013, longe do máximo alcançado em 2007. Ainda assim, naquele ano, esses fluxos ultrapassa-ram os uS$ 2 trilhões, quase dez vezes o valor registrado em 1990 e 41% acima do resultado do ano 2000. A partir de 2008, os efeitos da crise internacional se fizeram sentir, levando os fluxos de IEd, em 2009, a cerca de 60% do nível alcançado dois anos antes. desde então, o valor total de IEd (fluxos) no mundo oscilou bastante, ensaiando recuperação até 2011, para voltar a se reduzir em 2012 (uS$ 1,32 trilhão, ou seja, dois terços do nível de 2007). Em 2013, dados preliminares da unCTAd indicam crescimento de 11% sobre os resultados do ano anterior, levando o total dos fluxos mundiais de IEd a uS$ 1,46 trilhão (Tabela 1).

2. TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 22: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

20 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Valo

r%

mun

do

Bras

il34

,58

1,7%

45,0

62,

5%25

,95

2,1%

48,5

13,

4%66

,66

3,9%

65,2

74,

9%63

,00

4,3%

Arge

ntin

a6,

470,

3%9,

730,

5%4,

020,

3%7,

850,

6%9,

880,

6%12

,55

1,0%

n.d.

n.d.

Chile

12,5

70,

6%15

,52

0,9%

12,8

91,

1%15

,37

1,1%

22,9

31,

4%30

,32

2,3%

20,4

01,

4%

Méx

ico

31,3

81,

6%27

,85

1,5%

16,5

61,

4%21

,37

1,5%

21,5

01,

3%12

,66

1,0%

38,0

02,

6%

Carib

e61

,45

3,1%

81,7

04,

5%72

,24

5,9%

70,0

25,

0%79

,00

4,7%

82,0

06,

2%11

3,00

7,7%

Tota

l Am

éric

a La

tina*

110,

485,

5%12

8,98

7,1%

77,9

16,

4%11

9,83

8,5%

164,

009,

7%16

9,00

12,8

%18

2,00

12,5

%

Chin

a83

,52

4,2%

108,

316,

0%95

,00

7,8%

114,

738,

1%12

3,99

7,3%

121,

089,

2%12

7,00

8,7%

Hong

Kon

g, C

hina

62,1

13,

1%67

,04

3,7%

54,2

74,

5%82

,71

5,9%

96,1

35,

7%74

,58

5,7%

72,0

04,

9%

Índi

a25

,35

1,3%

47,1

42,

6%35

,66

2,9%

21,1

31,

5%36

,19

2,1%

25,5

41,

9%28

,00

1,9%

Rúss

ia57

,00

2,8%

74,7

84,

1%36

,58

3,0%

43,1

73,

1%55

,08

3,3%

51,4

23,

9%94

,00

6,4%

Áfric

a do

Sul

5,69

0,3%

9,01

0,5%

5,37

0,4%

1,23

0,1%

6,00

0,4%

4,57

0,3%

10,0

00,

7%

Tota

l BRI

CS20

6,15

10,3

%28

4,30

15,7

%19

8,55

16,3

%22

8,76

16,2

%28

7,92

17,0

%26

7,88

20,3

%32

2,00

22,0

%

Turq

uia

22,0

51,

1%19

,76

1,1%

8,66

0,7%

9,04

0,6%

16,0

50,

9%12

,42

0,9%

11,0

00,

8%

Mal

ásia

8,59

0,4%

7,17

0,4%

1,45

0,1%

9,06

0,6%

12,2

00,

7%10

,07

0,8%

n.d.

n.d.

tota

l peD

589,

4329

,4%

668,

4436

,8%

530,

2943

,6%

637,

0645

,2%

729,

0043

,1%

715,

0054

,2%

759,

0052

,0%

tota

l pD

1319

,89

65,9

%10

26,5

356

,5%

613,

4450

,4%

696,

4249

,4%

866,

0051

,2%

516,

0039

,1%

576,

0039

,4%

tota

l mun

do20

02,6

910

0,0%

1816

,40

100,

0%12

16,4

710

0,0%

1408

,54

100,

0%16

91,0

010

0,0%

1320

,00

100,

0%14

61,0

010

0,0%

Font

e: W

IR 2

013

*Não

incl

uir C

arib

e.

Tabe

la 1

- Fl

uxos

anu

ais

de e

nTra

da d

e ie

d, p

or p

aíse

s e

regi

ões

(200

7-20

13)

(BIL

hõES

DE

DóLA

RES)

Page 23: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

21

Esses dados apontam para os efeitos da crise sobre a tendência de forte crescimento dos fluxos globais de IEd observada no triênio anterior a 20081 – e, numa perspectiva de mais longo prazo, ao longo das últimas décadas. Apesar disso, avaliações pessimistas devem ser ponderadas pela análise das médias trienais de evolução desses fluxos no período imediatamente anterior e posterior à eclosão da crise.

O uso de médias trienais reduz o efeito da volatilidade dos fluxos de IEd de um ano para o outro, sendo mais adequado para a avaliação de tendências. Ao recorrer às médias trienais, observa-se uma notável estabilidade entre os dois períodos considerados (Tabela 2).

Assim, no triênio 2005-2007, a média anual dos fluxos de IEd no mundo alcançou uS$ 1,49 trilhão, caindo marginalmente, em 2008-2010, para uS$ 1,48 trilhão e voltando exatamente ao nível do triênio do imediato pré-crise em 2011-2013.

2.1 OS FLuxOS dE IEd: dESTInOS GEOGRÁFICOS

Sob esta ótica, a comparação entre a evolução dos fluxos globais de IEd antes e depois da eclosão da crise indica uma interrupção da forte tendência de crescimento observada entre 2005 e 2007, mas também, depois de 2008, a sustentação dos níveis médios elevados de IEd registrados antes da crise. Em boa medida, a estabilidade dos dados globais no período posterior à eclosão da crise se deve ao dinamismo dos fluxos de IEd dirigidos aos países em desenvolvimento e à Rússia, que têm compensado a forte queda registrada nos fluxos de IEd direcionados aos países desenvolvidos.

Esta mudança na composição do destino dos fluxos de IEd é certamente o aspecto mais notável da evolução recente de tais fluxos em escala global. nos anos imediatamente anteriores à emergência da crise, os países em desenvolvimento respondiam por algo em torno de 30% dos investimentos diretos recebidos no mundo. Esta participação cresce no triênio 2008-2010, atingindo em média 44%, e mais ainda nos três anos seguintes, quando supera a dos países desenvolvidos e alcança 52% do total.

Tabela 2 - Fluxos de enTrada de ied por países e regiões – média anual dos Triênios (1990-1992/2011-2013)

1 Em 2007, estes fluxos foram mais do dobro daqueles observados em 2005.

TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 24: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

22 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

(BIL

hõES

DE

DóLA

RES)

Em

term

os a

bsol

utos

, os

fluxo

s di

rigid

os a

os p

aíse

s em

des

envo

lvim

ento

pas

sam

de

uS

$ 45

2 bi

lhõe

s, n

a m

édia

do

triê

nio

2005

-200

7, p

ara

uS

$ 61

2 bi

lhõe

s, e

m

1990

-199

219

95-1

997

2000

-200

220

05-2

007

2008

-201

020

11-2

013

Valo

r%

mun

doVa

lor

%m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

%m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

%m

undo

Bras

il1,

380,

8%11

,40

2,8%

23,9

42,

5%22

,82

1,5%

39.8

37,7

42,

7%64

,98

4,4%

Arge

ntin

a12,

901,

7%7,

241,

8%4,

910,

5%5,

760,

4%7,

200,

5%11

,22

0,8%

Chile

0,81

0,5%

4,35

1,1%

3,87

0,4%

9,03

0,6%

14,5

91,

0%24

,55

1,6%

Méx

ico

3,93

2,2%

10,5

12,

6%24

,05

2,5%

25,3

71,

7%21

,93

1,5%

24,0

51,

6%

Carib

e0,

790,

5%4,

301,

1%12

,00

1,3%

31,9

42,

1%74

,65

5,0%

91,3

36,

1%

Tota

l Am

éric

a La

tina*

11,4

46,

5%45

,42

11,1

%67

,10

7,0%

84,1

55,

6%10

8,91

7,4%

171,

6711

,5%

Chin

a6,

293,

6%41

,50

10,2

%46

,78

4,9%

76,2

15,

1%10

6,02

7,2%

124,

028,

3%

Hong

Kon

g, C

hina

2,73

1,6%

9,35

2,3%

36,1

83,

8%49

,33

3,3%

68,0

14,

6%80

,90

5,4%

Índi

a0,

190,

1%2,

770,

7%4,

900,

5%17

,77

1,2%

34,6

42,

3%29

,91

2,0%

Rúss

ia0,

390,

2%3,

170,

8%2,

980,

3%36

,70

2,5%

51,5

13,

5%66

,83

4,5%

Áfric

a do

Sul

0,06

0,0%

1,96

0,5%

3,08

0,3%

3,94

0,3%

5,20

0,4%

6,86

0,5%

Tota

l BRI

CS8,

304,

7%60

,79

14,9

%81

,68

8,5%

157,

4410

,6%

237,

2016

,0%

292,

6019

,6%

Turq

uia

0,78

0,4%

0,80

0,2%

1,81

0,2%

17,4

21,

2%12

,49

0,8%

13,1

60,

9%

Mal

ásia

13,

932,

2%6,

481,

6%2,

520,

3%6,

240,

4%5,

890,

4%11

,14

0,7%

tota

l peD

42,5

424

,2%

152,

9737

,5%

219,

2822

,9%

452,

0230

,3%

611,

9341

,3%

734,

3349

,3%

tota

l pD

132,

5675

,4%

247,

9660

,8%

729,

8976

,2%

975,

7565

,4%

778,

7952

,6%

652,

6743

,8%

tota

l mun

do17

5,73

100,

0%40

7,71

100,

0%95

8,42

100,

0%1.

490,

9710

0,0%

1.48

0,47

100,

0%1.

490,

6710

0,0%

Font

e: W

IR 2

013

*Não

incl

ui C

arib

e

1 Da

dos

para

o tr

iêni

o 20

11-2

013

rela

tivos

ao

biên

io 2

011-

2012

dev

ido

à fa

lta d

e di

spon

ibili

dade

de

dado

s pa

ra o

ano

de

2013

Page 25: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

23

2008-2010, e para uS$ 734 bilhões, em 2011-2013. O contraste com os resultados dos países desenvol-vidos é notável: fluxos de IEd dirigidos a esses países alcançaram, na média do triênio 2005-2007, uS$ 976 bilhões, reduzindo-se para uS$ 778 bilhões em 2008-2010, e para uS$ 653 bilhões em 2011-2013 – ou seja, cerca de dois terços do valor anual médio no período que precedeu a crise. na realidade, os resultados dos países desenvolvidos em 2012 e 2013 foram os mais baixos desde 2005.

dentre os países em desenvolvimento que aumentaram, entre 2007 e 2013, sua participação nos fluxos de IEd recebidos, destacam-se a China (cuja participação passa de 4,2% para 8,7%) e o Brasil (de 1,7% para 4,3%), além de méxico e Chile. A Rússia também registrou aumento expressivo em sua partici-pação, que atingiu 6,4% em 2013, contra 2,9% em 2007. O conjunto dos BRICS ganhou peso como destino dos IEd globais, especialmente no período mais recente – 2012 e 2013 –, atingindo 22% do total neste último ano. Em 2000, a participação conjunta dos BRICS era de 5,7%, e no triênio pré-crise (2005-2007) de 10,7%, em média.

O Brasil tem sido, desde meados dos anos 1990, um dos principais destinos dos IEd entre os países em desenvolvimento, ocupando também posição de destaque no total mundial. Assim, em 2012, o país ocupou a quinta colocação entre os países receptores de IEd, caindo duas posições em 2013, de acordo com os dados preliminares divulgados em janeiro de 2014 pela unCTAd (Gráfico 1). Chama a atenção, no ranking de países receptores de IEd, a posição dos BRICS, em 2013. nesse ano, há três países do BRICS nas dez primeiras posições (e dois nas cinco primeiras), além da índia, em 16º lugar. Além disso, aparecem entre os 20 maiores destinos de IEd o méxico (em 11º lugar) e o Chile (em 18º lugar).

Este desempenho contrasta fortemente com os resultados dos países desenvolvidos no ano, à exceção dos EuA (em 1º lugar, em 2013 e 2012) e do Canadá (10º em 2012 e 6º em 2013). Há apenas sete países europeus no ranking dos vinte principais destinos dos IEd, e quatro deles podem ser considerados “países-SpE”, que adotam regimes fiscais específicos e favorecidos para a instalação de sociedades de propósito específico (SpEs) em seus territórios.2 de acordo com dados da unCTAd, os fluxos de IEd dirigidos à união Europeia em 2013 correspondiam a apenas 60% do nível alcançado em 2011, ele mesmo inferior aos níveis de pré-crise.

Ao contrário, portanto, do que ocorre com os fluxos de saída de IEd – em que o Brasil tem desempenho bastante inferior ao de outros BRICS e economias emergentes –, o país apresenta resultados significa-tivamente positivos entre estes países, quando se trata de IEd recebidos. O gap entre investimentos recebidos e emitidos pelo Brasil mantém-se, neste sentido, bastante elevado – inclusive na compara-ção com os demais emergentes. no triênio 2010-2012, a relação entre investimentos emitidos desde o Brasil e recebidos pelo país era de 4,3%, em contraste com aquela observada em outros países emer-gentes, como a China (62,3%), índia (44,6%), Rússia (113,9%) e méxico (95,4%). O contraste entre os dois fluxos também é notável no que diz respeito, de um lado, à tendência ao crescimento sustentado observado nos fluxos de entrada no país e, do outro, à ainda elevada volatilidade dos fluxos de saída de investimentos brasileiros – característica que também diferencia o Brasil dos outros emergentes.3

2 As SPEs são “entidades estabelecidas para um objetivo específico (administração, gestão de risco cambial, facilitação do financiamento do investimento) ou uma estrutura específica (por exemplo, holdings). Elas tendem a se estabelecer em países com baixos impostos ou que oferecem benefícios fiscais específicos para SPEs” (UNCTAD, 2013). Entre países que se enquadram na categoria de loci privilegiados para SPEs, encontram-se os Países Baixos, Luxemburgo, Áustria e Hungria. Países como Portugal e Dinamarca também têm se destacado de forma crescente na atração de SPEs, segundo a UNCTAD.3 Relatório dos Investimentos Brasileiros no Exterior 2013 – Recomendações de políticas públicas para o Brasil, CNI, 2013.

TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 26: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

24 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

gráFico 1: enTrada ied: 20 maiores, 2013

(x) = ranking em 2012Fonte: Global Investment Trends Monitor

A importância dos fluxos de IEd recebidos pelo país para a economia brasileira também se expressa na participação significativa destes na formação bruta de capital fixo (FBCF) do país – ou seja, em sua taxa de investimento (Tabela 3). Em 2012, os fluxos de IEd contribuíram com 15,1% da FBCF, confirmando tendência de crescimento observável desde 2005. Este nível de participação é bastante superior ao registrado, no período mais recente, nos demais BRICS – exceção feita à Rússia, onde a contribuição do IEd para a FBCF não tem diferido muito daquela registrada pelo Brasil. Ao contrário do que ocorria em 1990 e 1995, quando a relação entre fluxos de IEd e FBCF era inferior no Brasil à observada no conjunto de países em desenvolvimento, na primeira década do século e nos primeiros anos da segunda década, o peso do IEd na taxa de investimento do Brasil supera o registrado nos países em desenvolvimento e no mundo.

Tabela 3: Fluxos de enTrada de ied como percenTual da FbcF (anos selecionados enTre 1990-2012

(PERcENTuAL)

1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012

% % % % % % %

Brasil 1,2 3,1 30,3 10,7 11,6 14,0 15,1

Argentina 9,3 12,1 22,6 13,4 9,6 9,8 12,3

Chile 7,6 15,3 29,4 26,8 33,1 39,8 46,0

México 5,1 18,8 13,4 14,3 10,5 9,3 5,2

China 3,5 15,0 10,0 8,0 4,2 3,7 3,3

Hong Kong, China 16,3 14,4 158,1 110,2 173,5 180,5 118,2

Índia 0,3 2,2 3,3 2,9 3,9 5,9 4,3

159

127

94

92

72

64

63

56

53

46

40

38

37

32

31

28

22

20

19

19

1 Estados Unidos (1)

2 China (2)

3 Federação Russa (9)

4 Ilhas Virgens Britânicas (4)

5 Hong Kong, China (3)

6 Canadá (10)

7 Brasil (5)

8 Cingapura (7)

9 Reino Unido (6)

10 Irlanda (11)

11 Australia (8)

12 México (19)

13 Espanha (13)

14 Alemanha (40)

15 Luxembrgo (198)

16 Índia (15)

17 Holanda (26)

18 Chile (12)

19 Bélgica (200)

20 Indonésia (16)

Economias desenvolvidas

Economias em desenvolvimento

continua na próxima página

Page 27: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

25

1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012

% % % % % % %

Rússia 0,0 2,4 6,1 11,3 13,3 13,9 12,0

África do Sul -0,4 5,2 4,5 16,0 1,7 7,8 6,1

Turquia 1,6 1,8 1,8 9,9 6,5 9,5 7,6

Malásia 15,4 12,9 14,1 12,7 16,5 19,1 13,0

Total PED 3,9 7,9 16,2 12,0 10,2 10,1 9,0

Total PD 4,2 4,3 20,1 9,0 9,7 10,5 7,2

Total Mundo 4,2 5,1 19,1 10,0 10,2 10,6 8,3

Fonte: WIR 2013

Comparados às informações relativas aos fluxos de investimentos, os dados de estoque de IEd apresentam uma inércia muito maior e tendência de crescimento ininterrupto, embora a taxas bastante heterogêneas. é nesta heterogeneidade que se captam os efeitos sobre o estoque de IEd da crise e do ambiente de incerteza que tem caracterizado os últimos anos (Tabela 4). de fato, no período pré-crise observam-se não apenas altas taxas de expansão do estoque global de IEd, mas também a aceleração desse processo – a taxa de crescimento do estoque passando de 76%, entre 1990-1992 e 1995-1997, para 95%, entre 2000-2002 e 2005-2007. Já no período que se inicia em 2008, as taxas de crescimento do estoque de IEd se reduzem para 23% (em 2008-2010, em comparação com 2005-2007), e mais ainda, para 20,7%, no triênio mais recente.

continuação

TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 28: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

26 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Tabe

la 4

: esT

oque

s de

ied

rece

bido

s, p

or p

aíse

s e

regi

ões:

méd

ia a

nual

dos

Tri

ênio

s (1

990-

1992

/201

1-20

12)

(BIL

hõES

DE

DóLA

RES)

1990

-199

219

95-1

997

2000

-200

220

05-2

007

2008

-201

020

11-2

012

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Valo

r%

mun

doVa

lor

% m

undo

Bras

il41

,00

1,8%

57,4

81,

4%11

5,02

1,5%

237,

211,

6%45

6,95

2,5%

698,

663,

2%

Arge

ntin

a12

,30

0,5%

34,5

50,

9%63

,42

0,8%

60,9

90,

4%81

,80

0,5%

104,

410,

5%

Chile

16,9

70,

7%29

,40

0,7%

43,8

50,

6%90

,24

0,6%

129,

980,

7%18

9,17

0,9%

Méx

ico

29,6

31,

3%47

,95

1,2%

127,

841,

7%25

7,80

1,8%

279,

681,

5%30

8,64

1,4%

Carib

e6,

500,

3%15

,91

0,4%

87,1

11,

2%17

9,25

1,2%

384,

132,

1%58

4,33

2,7%

Tota

l Am

éric

a La

tina*

120,

445,

3%22

0,72

5,5%

451,

516,

0%81

8,03

5,6%

1.19

3,68

6,6%

1.63

0,14

7,5%

Chin

a27

,27

1,2%

127,

723,

2%20

4,33

2,7%

297,

252,

0%47

9,66

2,7%

772,

343,

5%

Hong

Kon

g, C

hina

203,

638,

9%23

8,29

5,9%

445,

255,

9%85

9,53

5,8%

1.00

9,98

5,6%

1.30

3,44

6,0%

Índi

a1,

790,

1%8,

150,

2%20

,61

0,3%

73,2

90,

5%16

7,34

0,9%

216,

391,

0%

Rúss

ia0,

000,

0%9,

120,

2%52

,00

0,7%

312,

382,

1%36

1,72

2,0%

483,

182,

2%

Áfric

a do

Sul

10,0

20,

4%14

,99

0,4%

34,8

70,

5%92

,39

0,6%

112,

850,

6%13

6,68

0,6%

Tota

l BRI

CS80

,08

3,5%

217,

465,

4%42

6,84

5,6%

1.01

2,52

6,9%

1.57

8,52

8,7%

2.30

7,25

10,6

%

Turq

uia

11,9

70,

5%15

,68

0,4%

19,3

10,

3%10

7,20

0,7%

137,

030,

8%16

0,54

0,7%

Mal

ásia

13,2

10,

6%35

,70

0,9%

41,4

20,

5%57

,98

0,4%

84,7

40,

5%12

3,73

0,6%

tota

l peD

559,

1024

,5%

983,

5424

,6%

1.80

7,93

23,9

%3.

621,

9624

,6%

5.39

2,93

29,8

%7.

320,

7433

,5%

tota

l pD

1.72

0,94

75,5

%3.

002,

5675

,0%

5.65

8,88

74,9

%10

.635

,33

72,3

%12

.092

,98

66,8

%13

.716

,25

62,8

%

tota

l mun

do2.

280,

2910

0,0%

4.00

5,57

100,

0%7.

554,

9010

0,0%

14.7

05,7

410

0,0%

18.0

92,6

810

0,0%

21.8

43,0

910

0,0%

*Não

incl

ui C

arib

eFo

nte:

WIR

201

3

Page 29: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

27

no caso dos estoques, também se observa a queda de participação dos países desenvolvidos como receptores de IEd, mas em proporção menos acentuada do que a que se observou nos fluxos. de fato, do início dos anos 1990 até o triênio imediatamente anterior à eclosão da crise, a participação dos países desenvolvidos no estoque de IEd recebido pouco variou, registrando pequena queda, mas mantendo-se próxima a três quartos do total. no período pós-crise a redução se acelera, até a parti-cipação daqueles países cair para pouco menos de 63%. Simetricamente, o crescimento observado do lado dos países em desenvolvimento somente ocorre a partir do triênio 2008-2010, tendo este conjunto de países respondido, em 2011/2012, por um terço dos IEd recebidos no mundo.

Os BRICS triplicaram, entre 1990-1992 e 2011-2012, sua participação no estoque de IEd recebido, alcançando 10,6% no último biênio, mas esta participação equivale a pouco mais da metade do peso dos BRICS nos fluxos de IEd neste biênio. Além do Brasil, que representava, em 2011-2012, 3,2% do estoque mundial de IEd recebido (contra 1,5% dez anos antes), os destaques, entre os BRICS, são a China (3,5%, em 2011-2012) e a Rússia (2,2%, no mesmo biênio).

Em 1990-1992, a Rússia não registrou entrada de capitais estrangeiros, mas a crise terminal do regi-me socialista e a abertura da economia ao mundo levaram o país a ocupar posição crescentemente relevante entre os receptores de IEd, de tal maneira que, em 2011-2012, a Rússia detinha 2,2% do estoque global de IEd recebido.

O crescimento do estoque de IEd recebido no mundo, ao longo das duas últimas décadas, se evidencia no aumento significativo de sua participação no produto interno bruto dos países (Tabela 5). Em nível mundial, tal participação passa de 9,7%, em 1990, para 32,1%, em 2010, caindo um pouco em 2011, mas recuperando-se em 2012. Ou seja, no início da segunda década deste século, o estoque de IEd no mundo representava cerca de um terço do produto mundial. E é interessante observar que, ao contrário do que se observava nos anos 1990, quando a relação estoque de IEd recebido / pIB era maior nos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos, percebe-se, a partir de 2000, tendência de convergência nos níveis de participação observados nos dois grupos de países.

Tabela 5: esToques de ied recebidos, por países e regiões (anos selecionados enTre 1990-2012)

(PERcENTuAL)

1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012

% % % % % % %

Brasil 10,1 6,2 19,0 20,6 31,8 28,1 31,2

Argentina 6,4 10,8 23,8 30,1 23,9 21,9 23,2

Chile 46,7 33,0 59,1 63,9 74,1 69,1 77,7

México 7,8 13,1 16,0 26,8 32,0 26,2 26,8

China 5,1 13,4 16,2 11,9 9,9 9,9 10,3

Hong Kong, China 262,3 157,8 290,9 319,9 518,6 486,8 552,8

Índia 0,5 1,5 3,5 5,2 12,2 10,9 12,2

Rússia 0,0 1,4 12,4 23,6 33,0 24,6 25,7

África do Sul 8,2 9,9 32,7 32,0 42,1 32,9 35,6

Turquia 5,5 6,6 7,1 14,8 25,6 18,1 22,9

Malásia 21,7 29,9 54,1 31,0 41,2 40,0 43,6

continua na próxima página

TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 30: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

28 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012

% % % % % % %

Total PED 13,4 14,4 25,3 25,8 31,2 28,6 30,4

Total PD 8,9 11,0 22,8 25,5 32,4 30,5 33,4

Total Mundo 9,7 11,5 23,3 25,5 32,1 29,8 32,2

Fonte: WIR 2013

no período mais recente (de 2010 a 2012), o Brasil registra níveis de participação do estoque de IEd recebido no pIB bastante próximos aos do conjunto de países em desenvolvimento e do mundo como um todo, como resultado de uma trajetória sólida de crescimento, que levou o ratio, no caso brasileiro, de 6,2%, em 1995, para 31,2%, em 2012. À exceção da África do Sul, os níveis observados no Brasil nos últimos anos são em média superiores aos dos demais BRICS, apesar do recente crescimento deste ratio na Rússia.

2.2 ESTOquE E FLuxOS dE IEd: SETORES dE dESTInO E mOdALIdAdES

O estoque de IEd recebido no mundo é nitidamente dominado pelos investimentos em serviços, e esta característica vem se acentuando ao longo do tempo. Em 1990, a participação dos serviços no estoque total de IEd recebido no mundo era de 48,7%, passando, em 2011, a 63,7%, de acordo com as estima-tivas da unCTAd. Os serviços prestados às empresas e os financeiros são os principais responsáveis pelo crescimento da participação dos serviços no total, que ocorre “às custas” da participação da in-dústria, reduzida de 41,1%, em 1990, para 25%, em 2011. Estas evoluções na composição do estoque de IEd recebido dizem respeito aos países desenvolvidos e em desenvolvimento, com pouca diferença entre eles (Tabela 6).

Tabela 6: esToque esTimado de ied recebido no mundo, por seTor de aTividade, 1990 e 2011 parTicipação sobre o ToTal (%)

Setor/indústria1990 2011

mundo mundo

primária 9,3 7,4

Agricultura, caça, extração florestal e pesca 0,4 0,3

Mineração 8,8 7,0

Não especificados 0,1 0,1

indústria 41,1 25,0

Químicos e produtos químicos 8,9 4,6

Alimentos, bebidas e tabaco 4,2 3,2

Veículos automotores e outros equipamentos de transporte 3,0 2,1

Metal e produtos de metal 3,4 2,0

Equipamentos elétricos e eletrônicos 4,5 1,8

continuação

continua na próxima página

Page 31: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

29

Setor/indústria1990 2011

mundo mundo

Outras manufaturas 17,1 11,3

serviços 48,7 63,7

Finanças 19,6 24,1

Serviços a empresas 7,3 16,7

Comércio 11,8 9,6

Transporte, estocagem e comunicações 1,6 5,5

Eletricidade, gás e água 0,5 2,5

Outros serviços 8,0 5,4

compra e venda de imóveis 0,0 0,1

não especificados 0,9 3,9

Fonte: WIR 2013

Tendência semelhante se observa a partir da análise dos fluxos de IEd recebido nos triênios 1990-1992 e 2009-2011. A participação majoritária dos serviços, já identificável no primeiro triênio, se reforça no segundo, chegando a 63% do total. A queda de participação da indústria ocorre, mas é menos intensa do que a observada no estoque; de 29,7%, no primeiro triênio, para 23,3%, no segundo. A perda de participação da indústria reflete a evolução observada na grande maioria dos setores que a compõem no período. de fato, dos cinco setores com maior participação no segundo triênio, apenas o químico e o de carvão e produtos derivados de petróleo registram aumento de participação no total entre os dois triênios considerados. O setor primário tem um pequeno crescimento em sua participação, que se mantém, em 2009-2011, abaixo de 10%, refletindo essencialmente o peso do IEd recebido em setores de mineração (Tabela 7).

Tabela 7: Fluxos esTimados de ide recebido no mundo, por seTor de aTividade parTicipação sobre o ToTal (%)

(1990-1992 E 2009-2011)

Setor/indústria1990-1992 2009-2011

mundo mundo

primária 8,7 9,4

Agricultura, caça, extração florestal e pesca 0,4 0,4

Mineração 8,3 9,0

Não especificados 0,0 0,0

indústria 29,7 23,3

Químicos e produtos químicos 4,4 5,0

Alimentos, bebidas e tabaco 3,7 3,2

Coque, produtos de petróleo e combustível nuclear -0,5 1,8

Metal e produtos de metal 1,8 1,3

continuação

continua na próxima página

TENDêNcIAS REcENTES DO IED NO MuNDO: DESTINOS GEOGRáFIcOS, SETORES E MODALIDADES

Page 32: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

30 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Setor/indústria1990-1992 2009-2011

mundo mundo

Veículos automotores e outros equipamentos de transporte 1,9 1,3

Outras manufaturas 18,4 10,7

serviços 54,5 63,0

Serviços a empresas 12,2 22,6

Finanças 16,1 19,8

Comércio 10,9 8,9

Eletricidade, gás e água 2,0 3,6

Transporte, estocagem e comunicações 2,9 2,9

Outros serviços 10,3 5,3

compra e venda de imóveis 0,0 0,7

não especificados 7,1 3,5

Fonte: WIR 2013

As informações mais recentes da unCTAd sobre a distribuição setorial dos fluxos de IEd recebido se referem a 2012, mas não incluem dados estatísticos publicados pela instituição. nesse ano, a unCTAd registra queda nos fluxos dirigidos aos três grandes setores (primá-rio, indústria e serviços), com destaque para a redução observada no setor primário, em que investimentos em mineração e petróleo dominam. Esta contração, que diz respeito a investi-mentos greenfield e a fusões e aquisições, teria sido particularmente expressiva nos países em desenvolvimento (unCTAd, 2013). O setor menos afetado pelas reduções observadas no ano foi o de serviços, o que indica que a participação desses nos fluxos de IEd recebido mantém tendência de crescimento, conforme se observou ao longo das duas últimas déca-das. no caso da indústria, setores produtores de bens de consumo duráveis – mais sujeitos aos efeitos do ciclo econômico – tiveram o pior desempenho, no que se refere aos fluxos de IEd, em contraste com setores de bens de consumo não duráveis, como alimentos, bebidas e farmacêuticos, que tiveram quedas menores nos valores dos fluxos de IEd recebidos.

continuação

Page 33: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

31

3. IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

3.1 O FLuxO dE IEd

A série de investimento estrangeiro direto (IEd) no Brasil, divulgada no World Investment Report (WIR) da unCTAd, é calculada pelo Banco Central e corresponde à soma do ingresso líquido de re-cursos para participação no capital de empresas instaladas no Brasil com o saldo dos empréstimos intercompanhias.4

3.1.1 A EvOLuçãO dO IEd

O Gráfico 2 apresenta a evolução dos fluxos de IEd nos últimos vinte anos, evidenciando a existência de dois ciclos de forte expansão do IEd. O primeiro tem início em 1995 — após um período de mais de uma década de relativa estabilidade desse fluxo — e se estende até o final dos anos 1990. Essa ex-pansão se interrompe no início da década passada, marcada por redução acentuada do IEd. O segundo ciclo de expansão tem início em 2006 e, superando rapidamente a forte queda ocorrida em 2009, se estende à década atual. Os anos de 2012 e 2013, no entanto, registram quedas anuais do IEd de 2%, que sugerem a interrupção desse ciclo de expansão.

4 O saldo dos empréstimos intercompanhias é igual: (i) a diferença entre desembolso e amortizações dos créditos concedidos pelas matrizes e suas subsidiárias em terceiros países a suas subsidiárias no Brasil menos (2) a diferença entre desembolso e amortizações dos créditos concedidos pelas subsidiárias no Brasil a suas matrizes e subsidiárias no exterior.

Page 34: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

32 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

gráFico 2: invesTimenTo esTrangeiro direTo no brasil – 1994-2013

(BILhõES DE DóLARES)

10,1

32,8

45,1

25,9

66,7

64,0

?uxo anual média do triênio encerrado no ano

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

0

10

20

30

40

50

60

70

Fonte: Para o período anterior a 2001: Ipeadata, “Conta financeira - investimentos diretos estrangeiros no país” a partir de dados do Balanço de Pagamentos do Banco Central; para o período 2001-2013: Banco Central, “Indicadores econômicos consolidados. Tabela. V.2. Saldo de transações correntes e necessidade de financiamento externo”. [http://www.bcb.gov.br/?indeco]

A evolução do IEd, segundo os setores de atividade a que se destina, está apresentada na Tabela 8. A indústria de transformação e as atividades de serviços se alternam na posição de principal destino setorial do IEd no período 2001-2013, cabendo aos serviços essa liderança no último triênio (46% versus 40%).

O atual ciclo de expansão do IEd, apontado anteriormente, é comum aos três setores de atividades. O início do ciclo relativo às atividades primárias e ao setor de serviços antecede, no entanto, de dois anos o ciclo da indústria de transformação (2004 e 2006, respectivamente). A recuperação do IEd após a queda de 2009 é mais rápida no caso da indústria de transformação.

por outro lado, a contração recente desses investimentos ocorre antes e com mais intensidade também nesse segmento, cuja queda acumulada em 2012 e 2013 foi de 33% contra queda de 6% do setor de serviços. O IEd na indústria retorna em 2013 ao nível de 2010, enquanto no setor de serviços é, em 2013, mais do que o dobro do observado naquele ano. Essa contração do IEd desti-nado à indústria de transformação deve, no entanto, ser qualificada, uma vez que está concentrada em alguns de seus segmentos, como se indicará adiante. O fluxo do IEd para as atividades primá-rias apresentou forte aumento (167%) entre 2011 e 2013, basicamente em virtude dos recursos destinados à extração de petróleo (que incluem uS$ 4 bilhões do bônus de assinatura decorrente do leilão de Libra).

Page 35: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

33

Tabe

la 8

: inv

esTi

men

To e

sTra

ngei

ro d

ireT

o no

bra

sil,

seg

undo

seT

ores

de

aTiv

idad

e –

2001

-201

3

(BIL

hõES

DE

DóLA

RES)

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

tot

al

22,

5 16

,6

10,1

18

,1

15,1

18

,8

34,6

45

,1

25,9

48

,5

66,7

65

,364

,0

Prim

ário

1

,4

1,4

1

,3

0,6

1

,7

2,2

4

,8

1

5,1

7,5

18,

4

6

,3

9,0

16,

8

Indú

stria

6

,2

6,1

4

,1

1

0,0

5,4

7

,9

1

6,1

1

5,8

1

2,8

2

0,7

3

1,7

2

5,6

2

1,1

Ser

viço

s

14,

6

9

,0

4,7

7

,4

7,9

8

,6

1

3,2

1

3,8

6,2

12,

8

30,

0

32,

7

28,

2

Imóv

eis

-

-

-

-

-

-

-

-

-

0,2

0

,2

0,2

0

,1

Não

cla

ssifi

cado

0

,2

0,0

0

,0

0,1

0

,0

0,2

0

,5

0,4

(0,

5)

(3,

6)

(1,

5)

(2,

2)

(2,

2)

Font

e: E

labo

rado

a p

artir

de

dado

s do

Ban

co C

entra

l div

ulga

dos

nas

“Not

as e

conô

mic

o-fin

ance

iras

para

a im

pren

sa”

[http

://w

ww.

bcb.

gov.b

r/htm

s/in

feco

n/no

tas.

asp?

idio

ma=

p]

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 36: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

34 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

3.1.2 A COmpOSIçãO dO IEd

A recente interrupção do ciclo de expansão do IEd no país está associada a uma queda mais acentua-da (24%) do volume de recursos destinados à participação no capital de empresas instaladas no país nos dois últimos anos, como evidenciado pelo Gráfico 3, que apresenta a evolução dos componentes do IEd a partir do início da década passada. Essa redução é particularmente acentuada no tocante à indústria de transformação, para a qual esse fluxo de recursos cai 49% entre 2011 e 2013.

nesse contexto, o peso dos empréstimos intercompanhias — que fora inexpressivo até a metade da década, mas crescera desde então — praticamente dobra entre 2012 e 2013, correspondendo a 35% do IEd no último ano, percentual só alcançado nessa década em 2008. Esse aumento da participação dos empréstimos intercompanhias no IEd é comum aos diversos setores de atividade.

gráFico 3: composição do invesTimenTo esTrangeiro direTo no brasil – parTicipação no capiTal e emprésTimos inTercompanhias (2005-2013)

0%10%20%

30%

40%50%

60%

70%80%

90%

100%

Participação no capital Empréstimo intracompanhia

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Fonte: Elaborado a partir de dados do Banco Central divulgados nas “Notas econômico-financeiras para a imprensa” [http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/notas.asp?idioma=p]

3.1.3 O dESTInO dO IEd

A Tabela 9 apresenta um quadro mais detalhado da distribuição do IED na economia brasileira no período 2007-2013, indicando o fluxo de investimento destinado aos setores que absorveram maior volume de IED no triênio 2011-2013.5

no tocante à indústria de transformação, o IEd está fortemente concentrado em três setores — me-talurgia, produtos alimentícios e bebidas —, que respondiam por metade dos investimentos no setor no triênio 2011-2013. A presença da indústria de bebidas entre os principais receptores de IEd é um

5 A distribuição do IED segundo a CNAE 2.0 só está disponível a partir de 2007.

Page 37: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

35

fenômeno recente; no biênio 2007-2008, sua participação era de apenas 1%. por outro lado, a indústria metalúrgica respondia por 45% do IEd da indústria naquele biênio, contra 21% no último triênio.

A evolução desses três setores no último triênio responde, na verdade, pela contração do IEd na indús-tria de transformação registrada anteriormente. de fato, a redução do investimento nesses segmentos corresponde a 120% daquela contração. por outro lado, os valores do IEd destinado às indústrias de produtos químicos, veículos automotores, equipamentos de informática e produtos eletrônicos, má-quinas e materiais elétricos, produtos farmacêuticos e máquinas e equipamentos foram, em 2013, superiores aos observados em 2011.

no tocante ao IEd nas atividades terciárias, os setores de comércio e telecomunicações respondem por 42% do total no triênio 2011-2013, seguidos dos segmentos de serviços financeiros e de seguro e previdência complementar (cada um com 10% do total). A maior redução do IEd no último triênio ocorre justamente nesses segmentos (à exceção do comércio), notadamente no setor de telecomunicações. no entanto, em todos os segmentos selecionados, o IEd de 2013 é ainda maior do que o registrado em 2010; nesse sentido, o declínio observado no último ano está associado a um crescimento excepcional nos dois primeiros anos do triênio.

Tabela 9: invesTimenTo esTrangeiro direTo no brasil, segundo seTores de aTividades e divisões selecionadas (1) (2007-2013)

(BILhõES DE DóLARES)

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013Média

2011-13

total 34,58 45,06 25,95 48,51 66,66 65,27 64,05

agricultura, pecuária e extrativa mineral 4,81 15,08 7,50 18,38 6,30 9,04 16,78 100%

Extração de petróleo e gás natural 1,24 2,08 4,55 11,05 1,56 4,47 10,89 53%

Extração de minerais metálicos 3,04 11,80 2,16 5,42 2,66 2,87 3,34 28%

Demais 0,52 1,21 0,79 1,91 2,07 1,70 2,55 20%

indústria de transformação 16,07 15,79 12,81 20,72 31,66 25,61 21,14 100%

Metalurgia 7,94 6,29 4,26 6,11 7,80 5,86 2,42 21%

Produtos alimentícios 1,55 3,02 2,26 5,24 5,91 5,19 2,20 17%

Bebidas 0,13 0,28 -0,80 0,12 5,64 0,60 2,29 11%

Produtos químicos 1,62 0,56 2,24 3,29 1,17 2,12 3,62 9%

Veículos automotores, reboques e carrocerias 0,11 0,14 -0,33 0,37 1,84 1,42 2,71 8%

equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 0,17 0,35 0,35 0,86 1,06 0,77 1,69 4%

Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis 1,88 1,93 1,41 1,41 2,02 0,46 0,96 4%

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 0,11 0,55 0,14 -0,13 0,55 1,58 1,04 4%

Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 0,19 0,16 0,65 0,86 0,47 1,62 1,03 4%

Produtos minerais não metálicos 0,56 0,79 0,21 1,59 1,73 0,95 0,28 4%

Máquinas e equipamentos 0,46 0,60 0,56 0,32 0,76 1,24 0,92 4%

Demais 1,35 1,13 1,86 0,67 2,73 3,80 1,98 11%

serviços 13,16 13,79 6,16 12,76 30,04 32,67 28,21 100%

continua na próxima página

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 38: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

36 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013Média

2011-13

total 34,58 45,06 25,95 48,51 66,66 65,27 64,05

Comércio, exceto veículos 1,36 -0,14 1,72 2,85 7,32 6,47 8,49 24%

Telecomunicações -1,53 0,05 -1,13 3,01 8,19 4,47 3,25 18%

Serviços financeiros e atividades auxiliares 3,18 1,05 0,31 0,21 2,68 4,84 1,86 10%

seguros, resseguros, previdência complementar e planos de saúde 0,44 -0,38 1,29 -0,10 2,39 4,63 1,69 10%

Atividades imobiliárias 0,70 1,94 0,50 0,83 1,91 2,25 1,45 6%

Transporte 0,44 1,31 0,26 0,90 0,78 1,23 2,22 5%

Demais 8,57 9,96 3,22 5,06 6,77 8,78 9,24 19%

aquisição e venda de imóveis 0,22 0,21 0,16 0,12

não classificado (2) 0,54 0,40 -0,53 -3,57 -1,54 -2,21 -2,20(1) As divisões CNAE 2.0 selecionadas são as responsáveis pelos maiores volumes de IED no triênio 2011-13 e estão ordenadas segundo o volume de seus investimentos nesse triênio.

(2) Inclui as operações de desembolso e amortização de empréstimos intercompanhias e valor igual ou inferior a US$1 milhão e as amortizações em mercadoria.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Banco Central divulgados nas “Notas econômico-financeiras para a imprensa”. [http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/notas.asp?idioma=p]

3.1.4 A ORIGEm GEOGRÁFICA dO IEd

A distribuição do IEd segundo sua origem está resumida na Tabela 10. Cabe destacar, no entanto, que os dados disponíveis indicam a origem imediata dos recursos aplicados, que não corresponde necessa-riamente ao país da matriz da empresa investidora. de fato, a participação conjunta dos países Baixos, Luxemburgo e Ilhas Cayman oscilou, nos quatro triênios, entre 27% e 38% do investimento realizado. Os países Baixos e os Estados unidos, nessa ordem, representam pelo menos um terço do IEd realiza-do nesses triênios — a exceção é o período 2008-2010, no qual Luxemburgo substitui os países Baixos como principal investidor.

A posição relativa dos demais países varia de forma significativa. no entanto, exceto por ocorrências pontuais, o volume de investimento de todos os países selecionados cresce ao longo de todo o pe-ríodo. Em alguns casos, notadamente nos originários de alguns países da união Europeia, o fluxo do IEd se expandiu mesmo nos anos 2008 e 2009. Contudo, quando se examina a evolução do IEd no último triênio, constata-se uma redução generalizada: embora os investimentos dos Estados unidos, Luxemburgo, méxico, Chile, Suíça e Itália tenham crescido significativamente, essa expansão não foi suficiente para impedir o declínio do IEd total entre 2011 e 2013.

Alguns países se destacam por apresentar um crescimento continuado e significativamente acima da média ao longo dos quatro triênios: Espanha, méxico e Chile. O investimento conjunto dos dois países latino-americanos no último triênio os situa na 4ª posição entre os investidores estrangei-ros (8,3% do total). dentre os outros países latino-americanos, que não aparecem na Tabela 10, destacam-se o uruguai, cujos investimentos cresceram até o triênio 2008-2010, mas declinaram ligeiramente no último triênio, e a Argentina, cujo fluxo de IEd no Brasil tornou-se negativo a partir do triênio 2008-2010.

continuação

Page 39: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

37

Tabela 10: invesTimenTo esTrangeiro direTo no brasil, segundo países de origem selecionados (1) (2002-2013)

parTicipação média no Triênio

(BILhõES DE DóLARES)

2002-04 2002-04 2005-07 2005-07 2008-10 2008-10 2011-13 2011-13

Valor % Valor % Valor % Valor %

total 14,96 22,82 39,84 65,33

Países Baixos 3,85 25,8% 3,98 17,4% 3,64 9,1% 14,34 22,0%

Estados Unidos 2,84 19,0% 3,52 15,4% 4,11 10,3% 9,27 14,2%

Luxemburgo 0,60 4,0% 2,07 9,1% 4,98 12,5% 6,47 9,9%

Espanha 0,18 1,2% 0,70 3,1% 1,99 5,0% 4,72 7,2%

Japão 0,49 3,3% 0,49 2,2% 2,82 7,1% 3,94 6,0%

França 0,79 5,3% 0,92 4,0% 2,45 6,1% 3,37 5,2%

Suíça 0,43 2,9% 0,92 4,0% 2,64 6,6% 3,24 5,0%

México 0,18 1,2% 0,57 2,5% 0,95 2,4% 3,02 4,6%

Chile 0,04 0,3% 0,33 1,4% 0,98 2,5% 2,40 3,7%

Reino Unido 0,31 2,1% 0,59 2,6% 1,33 3,3% 2,32 3,5%

Canadá 0,52 3,5% 1,19 5,2% 0,89 2,2% 1,46 2,2%

Alemanha 0,54 3,6% 1,07 4,7% 1,27 3,2% 1,38 2,1%

Noruega 0,02 0,1% 0,40 1,7% 0,72 1,8% 0,75 1,1%

Bélgica 0,03 0,2% 0,49 2,1% 1,57 3,9% 0,68 1,0%

Áustria 0,05 0,3% 0,04 0,2% 1,24 3,1% 0,65 1,0%

Austrália 0,02 0,1% 0,53 2,3% 0,85 2,1% 0,54 0,8%

Portugal 0,48 3,2% 0,07 0,3% 0,12 0,3% 0,42 0,6%

Ilhas Cayman 1,21 8,1% 1,35 5,9% 2,30 5,8% 0,39 0,6%

Bermudas 0,73 4,9% 0,80 3,5% 0,87 2,2% 0,33 0,5%

Bahamas 0,07 0,5% 0,27 1,2% 1,01 2,5% 0,24 0,4%(1) Os países selecionados são aqueles que, em algum dos triênios considerados, estão incluídos entre os responsáveis por 80% do IED no Brasil. Os países estão ordenados segundo o volume de seus investimentos no triênio 2011-13. Os valores sublinhados indicam que o país, naquele triênio, não estava entre aqueles responsáveis por 80% do IED.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Banco Central divulgados nas “Notas econômico-financeiras para a imprensa” [http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/notas.asp?idioma=p]

3.2 O ESTOquE dE IEd

O Censo de Capitais Estrangeiros no país de 2010 identificou 13.858 empresas nas quais ao menos um investidor não residente possui, individualmente, 10% ou mais do poder de voto, estimando em uS$ 670 bilhões o estoque do investimento estrangeiro direto realizado nessas empresas — 88% sob a forma de participação no capital e 12% como empréstimos intercompanhias (Tabela 11). Ele apurou também um estoque de investimento em carteira — isto é, em empresas em que não há investidor não residente que possua, individualmente, 10% ou mais do poder de voto — de uS$ 282 bilhões.

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 40: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

38 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Box 1 – Questões metoDológicas na mensuração Do ieD

O Banco Central tem realizado, desde 1996, Censos de Capitais Estrangeiros no Brasil quinque-nais, com objetivo de mensurar o estoque de investimentos estrangeiros diretos, identificando sua origem geográfica e alocação setorial. Em 2011, o censo foi objeto de mudanças metodo-lógicas significativas, sendo ainda introduzida uma pesquisa anual (Censo Anual), realizada no intervalo entre dois censos quinquenais, cuja coleta de informações se concentra nos maiores investidores (empresas, inclusive fundos de investimento, com patrimônio líquido igual ou su-perior a uS$ 100 milhões).

A metodologia adotada a partir de 2011 caracteriza e mensura o IEd observando os seguintes critérios:

• Os recursos investidos na participação no capital de empresas instaladas no país são com-putados como investimento direto quando a participação do investidor não residente na empresa investida lhe propicia 10% ou mais de poder de voto nas deliberações sociais e na eleição dos administradores da empresa. [nos censos de 1995, 2000 e 2005, o critério adotado requeria que investidores não residentes detivessem, no mínimo, 10% das ações ou quotas com direito a voto, ou 20% de participação direta ou indireta no capital total.]

• quando observado esse critério, as relações de crédito entre investidor direto e empresa investida, bem como operações de crédito da empresa investida com outras empresas sob esse mesmo controlador, são também computadas no estoque de investimento direto, na modalidade empréstimo intercompanhias.

• O valor da participação no capital da empresa do investidor não residente é computado com base, preferencialmente, no valor de mercado da empresa ou, quando não for possível mensurá-lo, no valor do seu patrimônio líquido; no censo de 2010, 89% das empresas fo-ram valoradas pelo patrimônio líquido e 11% pelo valor de mercado. [nos censos de 1995, 2000 e 2005, o estoque era valorado tendo como referência o capital social da empresa.]

A mudança de metodologia compromete a comparação dos resultados de 2010 com os compu-tados nos censos de 1995, 2000 e 2010, uma vez que diferem a caracterização do universo da pesquisa e o critério de aferição do valor do IEd. por outro lado, o estoque de IEd computado no censo difere também do estoque correspondente ao fluxo acumulado de IEd ajustado pela variação cambial, uma vez que incorpora também a variação do valor de mercado ou do valor patrimonial da empresa investida.

A metodologia adotada tem como referência o Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimentos (BPM6) do Fundo monetário Internacional, sexta edição, e as Definições de Referência de IED (BD4), da Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico (OCdE), quarta edição.

Page 41: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

39

Tabela 11: esToque de capiTal esTrangeiro em 2010

(MILhõES DE DóLARES)

No empresas US$ milhõesParticipação no Investimento

Estrangeiro Total

Participação

no IED

Investimento Estrangeiro Direto (1) 13 858 670 043 70% 100%

Participação no capital 587 209 88%

Empréstimos intercompanhias 82 834 12%

Investimento em carteira (2) 1 799 281 582 30%

Investimento Estrangeiro Total 15 657 951 625 100%(1) Ao menos um investidor não residente possui, individualmente, 10% ou mais do poder de voto.(2) Não há investidor não residente que possua, individualmente, 10% ou mais do poder de voto.As 15.657 empresas com capital estrangeiro — IED e investimentos em carteira realizados — tiveram receita da ordem de R$ 1.590 milhões e empregavam 2.260 mil pessoas em 2010. O valor de suas exportações de bens e serviços correspondia a cerca de 10% daquela receita.

Fonte: Censo de Capitais Estrangeiros no País 2010

A participação dessas empresas no comércio externo do país está indicada na Tabela 12. Essa participa-ção é significativa em relação ao comércio de bens, respondendo pela metade das importações do país e por quase 40% de suas exportações. O saldo comercial dessas empresas foi ligeiramente positivo no caso dos serviços e negativo no caso dos bens.

Tabela 12: parTicipação das empresas com capiTal esTrangeiro nos Fluxos de comércio do país – 2010

(BILhõES DE DóLARES)

Empresas com capital

estrangeiro

Fluxo de comércio do

paísPercentagem

Exportação de bens 77,2 201,9 38%

Importação de bens 86,9 181,8 48%

Exportação de serviços 9,4 24,4 39%

Importação de serviços 9,0 43,1 21%

Exportação de bens e serviços 86,6 226,3 38%

Importação de bens e serviços 95,9 224,9 43%

Fonte: Censo de Capitais Estrangeiros no País 2010 e Balanço de Pagamentos

3.2.1 A dISTRIBuIçãO SETORIAL dO ESTOquE dE CApITAL ESTRAnGEIRO6

A Tabela 13 apresenta a distribuição setorial da parcela do IEd correspondente à participação no capital da empresa investida. A indústria de transformação e as atividades de serviços têm participação da mesma ordem de grandeza (40% e 44%, respectivamente), significativamente maior do que o setor primário (16%). O IEd nesse último setor está fortemente concentrado na indústria extrativa mineral, em particular na extração e petróleo e gás.

6 Os “setores” industriais examinados nessa seção correspondem, na verdade, a divisões da classificação a 2-dígitos da CNAE 2.0. Essas divisões são, no entanto, referidas no texto como setores.

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 42: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

40 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

O estoque de IEd na indústria de transformação está menos concentrado: os quatro principais desti-nos — as indústrias de bebidas, veículos, produtos químicos e metalurgia – respondem por 57% do total. Cabe notar que os 15 setores que apresentam maior estoque de IEd, relacionados na Tabela 13, são os mesmos que absorveram maior fluxo de IEd no último triênio, à exceção da indústria de produtos de fumo, que foi substituída pela de outros equipamentos de transporte. Embora o orde-namento desses setores segundo o estoque e o fluxo de IEd apresente alterações, os deslocamen-tos de posição não são expressivos, exceto pelas indústrias de coque e derivados de petróleo e de equipamentos de informática e produtos eletrônicos, que passam das 15ª e 14ª posições, no caso do estoque, para as 7ª e 6ª posições no caso dos fluxos, respectivamente, e da indústria de produtos de metal, que tem evolução inversa.

no setor de serviços, o estoque de IEd apresenta maior concentração, com os quatro principais setores respondendo por 76% do investimento no setor. Aqui também os cinco setores que apresentam maior estoque de IEd, relacionados na Tabela 13, são os mesmos que absorveram maior fluxo de IEd no últi-mo triênio, à exceção do setor de eletricidade e gás, substituído por atividades imobiliárias.

A Tabela 13 procura, também, em relação à indústria de transformação, qualificar a importância de IEd em seus diversos setores, confrontando o estoque de IEd ao valor bruto da produção industrial do setor. O peso do IEd aparece como mais significativo nas indústrias de produtos do fumo, bebidas, pro-dutos farmacêuticos, produtos diversos (não incluídos na tabela), metalurgia e produtos químicos, nos quais a razão entre o estoque de IEd sob a forma de participação no capital e o valor bruto da produção industrial é superior à média da indústria de transformação, e ainda celulose e papel e veículos automo-tores, nos quais a razão está logo abaixo daquela média. O significado da comparação dos resultados relativos aos diversos setores é afetado, no entanto, pelas diferenças entre as relações capital-produto dos setores. A comparação tende a subestimar o peso dos setores com relação capital-produto mais elevada.

A Tabela 13 apresenta ainda o coeficiente de exportação dos setores selecionados. O confronto dessa informação com aquela que se refere à importância do IEd nos diversos setores revela que, dos oito setores nos quais o IEd tem maior peso, destacados no parágrafo anterior, seis apresentam um coefi-ciente de exportação superior à média da indústria (as duas exceções são as indústrias de bebidas e de produtos farmacêuticos).

Tabela 13: disTribuição do esToque de ied na Forma de parTicipação no capiTal, segundo o seTor em que esTá classiFicada a empresa invesTida – 2010

ValorIED / VBPI

Indústria=100

Coeficiente de

exportação

Agricultura, pecuária e extrativa mineral 92,78 100%

Extração de petróleo e gás natural 49,58 53%

Extração de minerais metálicos 27,33 29%

Extração de minerais não metálicos 9,00 10%

Indústria 236,38 100% 100 13,6

Bebidas 52,41 22% 772 1,0

Veículos automotores, reboques e carrocerias 28,69 12% 93 11,9

Produtos químicos 25,45 11% 118 11,2

Metalurgia 27,57 12% 159 23,2continua na próxima página

Page 43: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

41

ValorIED / VBPI

Indústria=100

Coeficiente de

exportação

Produtos do fumo 13,82 6% 908 44,0

Produtos alimentícios 14,66 6% 34 21,5

Máquinas e equipamentos 11,19 5% 86 15,1

Produtos farmoquímicos e farmacêuticos 8,93 4% 218 8,2

Produtos de metal 6,71 3% 72 5,6

Produtos de borracha e de material plástico 6,95 3% 72 7,3

Celulose, papel e produtos de papel 7,19 3% 98 22,8

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 5,34 2% 70 9,9

Produtos minerais não metálicos 4,57 2% 56 5,5

Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 5,45 2% 66 8,0

Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis 5,78 2% 31 5,6

Serviços 258,06 100%

Serviços financeiros e atividades auxiliares 99,21 38%

Telecomunicações 40,65 16%

Eletricidade, gás e outras utilidades 29,15 11%

Comércio, exceto veículos 27,22 11%

Seguros, resseguros, previdência complementar e planos de saúde 10,16 4%

Fonte: IED - Censo de Capitais Estrangeiros no País 2010; VBPI – IBGE Pesquisa Industrial Anual – Empresa (2010); Coeficiente de exportação – CNI/FUNCEX.

3.2.2 A dISTRIBuIçãO GEOGRÁFICA dO ESTOquE dE CApITAL ESTRAnGEIRO

As informações disponíveis sobre a origem do fluxo de IEd, como apontado anteriormente, têm como referência o investidor imediato, a pessoa jurídica ou física que adquiriu a participação no capital de empresa investida, que é frequentemente subsidiária de empresa residente em um terceiro país. As informações coletadas pelo Censo de Capitais Estrangeiros permitem a identificação desse investidor final nas participações de capital em empresas brasileiras (mas não no caso do empréstimo intercom-panhias). A Tabela 14 apresenta a distribuição do estoque de IEd fazendo essa distinção.

Sob a ótica do investidor final, Estados unidos (18,5%), Espanha e Bélgica respondem por 42% do esto-que de capital estrangeiro investido em empresas do país. A 4ª posição, responsável por 7,9% do total, corresponde a investimento cujo investidor imediato é uma empresa localizada em outro país, que tem como controlador final uma pessoa jurídica ou física residente no Brasil — vale dizer, o quarto maior inves-tidor final no país é o próprio Brasil7. Os países da união Europeia detêm, em conjunto, 51% do estoque.

A distribuição do estoque segundo o investidor imediato apresenta maior grau de concentração, com os três principais investidores respondendo por 58% do total (os países Baixos, que substituem a Bélgica, na lista acima, é o maior investidor, com 28% do total).

O confronto dos montantes investidos pelos países como investidor final e como investidor imediato evidencia algumas características do fluxo de investimento estrangeiro para o país. A identificação dos países cujo estoque como investidor imediato supera significativamente o estoque como investidor final os caracteriza como países que canalizam investimentos de empresas residentes em terceiros

7 Ou seja, são subsidiárias de empresas brasileiras no exterior investindo no Brasil.

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 44: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

42 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

países para o Brasil. é o caso, dentre os investidores de maior porte, dos países Baixos (estoque como investidor imediato 11 vezes maior do que como investidor final), Luxemburgo (duas vezes maior) e Ilhas Cayman (que não tem aplicação como investidor final no Brasil). O estoque como investidores imedia-tos desses três países, em conjunto, excede em uS$ 174 bilhões seus estoques como investidores finais (os países Baixos respondem por 85% desse valor).

para a maioria dos outros países, os valores dos estoques de IEd como investidor final e como inves-tidor imediato estão próximos. quatro países se destacam, no entanto, por investirem no Brasil princi-palmente por meio de subsidiárias em terceiros países: Bélgica, cujo estoque como investidor imediato corresponde apenas a 8% do estoque como investidor final, e Alemanha, Reino unido e Itália, para os quais essa percentagem está entre 45% e 30%. O estoque como investidores finais desses quatro países, em conjunto, excede em uS$ 101 bilhões os estoques como investidores imediatos (os países Baixos respondem por 46% desse valor).

no tocante aos empréstimos intercompanhias, a distribuição do estoque segundo o investidor final não difere da relativa aos estoques segundo o investidor imediato, apresentando, no entanto, menor concentração nos três principais credores, basicamente em virtude do menor volume das operações dos países Baixos.

Tabela 14: disTribuição do esToque do ied, segundo a origem do invesTimenTo – 2010

(BILhõES DE DóLARES)

Participação no capital Empréstimo intercompanhia

país do investidor final país do investidor imediato país do credor

Valor % Valor % Valor %

Total 587,2 100,0 Total 587,2 100,0 Total 82,8 100,0

Estados Unidos 109,7 18,7 Países Baixos 163,3 27,8 Estados Unidos 14,5 17,5

Espanha 85,4 14,5 Estados Unidos 108,1 18,4 Espanha 8,9 10,7

Bélgica 50,3 8,6 Espanha 72,0 12,3 Países Baixos (Holanda) 7,0 8,5

Brasil 46,2 7,9 Luxemburgo 30,1 5,1 Bélgica 4,9 5,9

Reino Unido 41,6 7,1 França 28,6 4,9 Suíça 4,7 5,7

França 30,7 5,2 Japão 28,1 4,8 Reino Unido 4,3 5,2

Alemanha 30,4 5,2 Reino Unido 16,0 2,7 Luxemburgo 3,8 4,6

Japão 29,0 4,9 México 15,9 2,7 Ilhas Cayman 3,6 4,3

Itália 18,2 3,1 Alemanha 13,7 2,3 México 3,6 4,3

México 15,7 2,7 Canadá 13,7 2,3 Áustria 2,5 3,0

Países Baixos 14,9 2,5 Ilhas Cayman 11,1 1,9 Alemanha 2,5 3,0

Canadá 14,4 2,5 Suíça 10,2 1,7 Bermudas 2,0 2,4

Luxemburgo 13,2 2,2 Bermudas 8,1 1,4 Ilhas Virgens Britânicas 2,0 2,4

Suíça 13,1 2,2 Chile 7,3 1,2 França 1,8 2,2

Bermudas 9,1 1,6 Portugal 6,3 1,1 Portugal 1,8 2,2

China 7,9 1,3 Itália 5,5 0,9 Japão 1,8 2,2

Fonte: Censo de Capitais Estrangeiros no País 2010

Page 45: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

43

A distribuição dos estoques de IEd segundo a origem do investidor final e do investidor imediato é retomada na Tabela 15, com foco agora nos investimentos na indústria de transformação. nesse setor, os principais investidores finais são Bélgica, Estados unidos e Alemanha, respondendo por 51% do estoque, sendo as participações da Bélgica e Estados unidos praticamente iguais (20,2% e 19,6%, respectivamente). O confronto dos resultados relativos ao IEd total dos diversos países e a seus investimentos na indústria de transformação revela o maior peso das inversões industriais nos casos da Bélgica (mais 11,6 pontos de percentagem) e da Alemanha (mais 5,6 p.p.) e, em contraste, a maior importância dos investimentos não industriais nos casos da Espanha (12,8 p.p.) e Brasil (5,6 p.p.). Os resultados relativos à distribuição do estoque de IEd na indústria de transformação segundo a origem do investidor imediato não diferem significativamente daqueles referentes à totalidade dos IEd no país.

Tabela 15: disTribuição do esToque do ied na indúsTria de TransFormação, segundo a origem do invesTimenTo sob a Forma de parTicipação nacional – 2010

(BILhõES DE DóLARES)

País do investidor final País do investidor imediato

Valor % Valor %

Total 234,4 100,0 Total 234,1 100,0

Bélgica 47,3 20,2 Países Baixos 92,5 39,5

Estados Unidos 45,9 19,6 Estados Unidos 23,2 9,9

Alemanha 25,2 10,8 Espanha 20,3 8,7

Reino Unido 16 6,8 Japão 15,4 6,6

Japão 15,7 6,7 França 13,6 5,8

França 12,5 5,4 Alemanha 10,1 4,3

Luxemburgo 10,7 4,6 Luxemburgo 9 3,8

Bermudas 8,5 3,6 Canadá 6,3 2,7

Suíça 6,8 2,9 Bermudas 5,5 2,3

Países Baixos 6,3 2,7 Suíça 5,2 2,2

Brasil 5,4 2,3 Itália 4,4 1,9

Itália 5,1 2,2 Suécia 3,4 1,5

Espanha 3,9 1,7 Áustria 3,1 1,3

Suécia 3,2 1,4 Reino Unido 2,8 1,2

Fonte: Censo de Capitais Estrangeiros no País 2010

IED NO BRASIL: EVOLuçãO, SETORES DE DESTINO E ORIGEM GEOGRáFIcA

Page 46: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 47: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

45

na economia mundial, os fluxos de comércio estão intimamente relacionados aos fluxos de investi-mentos diretos. O IEd é considerado um vetor importante para impulsionar os fluxos de comércio no mundo. de acordo com a unCTAd,8 apenas uma parcela muito pequena das empresas se envol-ve no comércio, e, dentre estas, uma fatia importante é formada por multinacionais.

nos Estados unidos, em 2010, filiais de empresas estrangeiras responderam por 20% das ex-portações. na França, no mesmo ano, as exportações de empresas estrangeiras a partir do país representaram 34% do total. na China, em 2012, 50% das exportações foram realizadas por filiais de empresas estrangeiras. de acordo com a unCTAd, nos países em desenvolvimento a tendência é que essa participação seja ainda mais elevada, por dois motivos: (i) o comércio tende a ser mais concentrado em um pequeno número de grandes firmas com produtividade acima da média, ge-ralmente multinacionais; (ii) a participação de indústrias extrativas nas exportações desses países (cerca de 25%) tende a ser maior do que a média mundial (cerca de 17%) e as atividades de extra-ção e comércio de recursos naturais são realizadas, frequentemente, por empresas multinacionais.

Há quatro motivações principais para uma firma realizar investimentos diretos no exterior, e na maioria dos casos elas tendem a aumentar o comércio:9

• Busca de novos mercados para produtos e serviços da firma (market-seeking strategy);

• Busca de recursos de produção mais baratos do que no país de origem (recursos naturais ou hu-manos – resource-seeking strategy);

• Fragmentação da produção em busca de redução de custos e eficiência, fomentando a criação de cadeias de valor (efficiency-seeking strategy);

• Aquisição de ativos considerados estratégicos (recursos naturais, tecnologias, etc.) para a operação da firma e para ganhos de competitividade (strategic assets-seeking strategy).

8 (UNCTAD,2013).9 (DUNNING, 1993).

4. IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 48: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

46 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Às motivações tradicionais para o IEd veio somar-se a tendência à terceirização global e à organização da produção em cadeias globais de valor. A disseminação da nova organização do processo de produção em escala mundial adiciona novos elementos às tradicionais motivações para as decisões de investi-mentos no exterior das firmas. para os países em desenvolvimento, esse processo traz novas oportuni-dades, mas também novos desafios na atração de investimentos estrangeiros.

Apesar do elevado potencial para fomentar as exportações, o grau em que o IEd está relacionado ao comércio depende, em boa medida, de características do país receptor do investimento. Entre essas características estão:10

• O grau de desenvolvimento econômico e sua capacidade de gerar condições para que as firmas aí localizadas integrem-se em cadeias globais de valor;

• As características do setor em que se realiza o investimento: em alguns setores, como o auto-motivo e de tecnologia da informação, por exemplo, o IEd é mais fortemente correlacionado ao comércio do que nos demais;

• O tamanho do mercado doméstico: quanto maior e mais protegido o mercado do país receptor, maior será o seu peso na decisão de investir, tornando a opção de exportar menos relevante;

• A participação do país em acordos preferenciais de comércio que possam gerar um mercado am-pliado para o IEd localizado no país; e

• A dotação relativa de fatores de produção, particularmente os custos do trabalho e os níveis de produtividade.

Tendo em vista as características econômicas e institucionais dos países em desenvolvimento, o investi-mento estrangeiro direto nesses mercados esteve historicamente associado à busca de matérias-primas e mão de obra pouco especializada. Essa estratégia de resources-seeking ainda explica parcela importan-te do IEd direcionado a esses países, sobretudo nas áreas de recursos primários e manufatura básica.11

por outro lado, países emergentes com mercados domésticos relativamente grandes e protegidos, como Brasil, índia e África do Sul, receberam nos últimos cinquenta anos fluxos importantes de IEd de firmas que buscavam ampliar os mercados consumidores de seus produtos, embora no Brasil e África do Sul, investimentos em busca de recursos naturais também sejam bastante significativos. nos três países, os investimentos estrangeiros têm presença expressiva em setores produtores de bens de consumo e de serviços.

Ao longo da década de 2000, a emergência da Ásia – da China, em particular –, combinada à consolida-ção da fragmentação da produção em cadeias de valor, promoveu mudanças nos padrões de comércio dos países emergentes, com reflexos nas relações entre IEd e exportações nesses países. Coreia do Sul, China e méxico, entre outros, tornaram-se exportadores relevantes de produtos manufaturados. Brasil, África do Sul e Rússia expandiram de forma significativa suas vendas externas de commodities, mas passaram por processos de “primarização” e concentração de suas pautas de exportação.

Também nesse período observou-se uma notável expansão dos fluxos de investimentos diretos originá-rios de países em desenvolvimento. Em 2000, a participação desses países nos fluxos globais de IEd era de 11,8%. Em 2012, eles já respondiam por 30,6% dos investimentos globais. Embora China e Rússia tenham sido os principais protagonistas deste movimento, países como índia, méxico, Chile, Indonésia e malásia tornaram-se também investidores relevantes no exterior. O Brasil seguiu esse movimento, mas, à diferença dos demais países, tem tido dificuldades para sustentar fluxos crescentes de investimen-tos no exterior ao longo dos anos, mesmo no período de maior dinamismo na emissão de tais fluxos.

10 (UNCTAD, 2009).11 (RIBEIRO; SILVA FILHO, 2013).

Page 49: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

47

parte relevante dos investimentos dos países em desenvolvimento em outros países em desenvol-vimento tem sido motivada por busca de recursos (naturais e/ou humanos) e contribui para reforçar o comércio Sul-Sul e as tendências de especialização do comércio apontadas acima. é o caso, por exemplo, de investimentos diretos chineses em países africanos ou sul-americanos.

4.1 IEd E ExpORTAçõES: A ExpERIênCIA dE pAíSES Em dESEnvOLvImEnTO

4.1.1 TRAnSFORmAçãO dAS ESTRuTuRAS pROduTIvAS E dAS pAuTAS dE ExpORTAçõES

uma das principais contribuições do ingresso de investimentos estrangeiros em países em desen-volvimento tem sido a introdução de novas indústrias e sua capacidade de mudar a composição da produção e das exportações nesses países.12 diversos autores mostram como os investimentos dire-tos norte-americanos contribuíram para mudar o perfil das exportações dos países do Leste da Ásia entre as décadas de 1970 e 1990. papel relevante, por exemplo, foi desempenhado pelas filiais de empresas dos Estados unidos na indústria eletroeletrônica dessa região. Essas empresas chegaram a representar três quartos das exportações dos produtos do setor em alguns casos, com a partici-pação declinando ao longo do tempo. Enquanto a participação de produtos do setor eletroeletrônico ganhava importância na pauta de exportações desses países, setores tradicionais e intensivos em recursos humanos, como têxteis e vestuário, perdiam relevância.13

O desenvolvimento da manufatura e das exportações de madeira compensada na Indonésia, a partir de investimentos com origem na Coreia do Sul e Taiwan na década de 1980, é um caso de IEd originá-rio de países em desenvolvimento introduzindo novos setores na estrutura produtiva do país receptor. Coreia e Taiwan haviam desenvolvido habilidades para a produção de manufaturas de madeira com-pensada a partir de investimentos realizados pelo Japão e, quando seus níveis salariais começaram a aumentar, transferiram a produção para a Indonésia. Relações positivas e significativas entre IEd e exportações são encontradas em vários estudos para países do Leste Asiático.

A Irlanda é hoje um exemplo importante de transformação substancial promovida por reformas pró-investimentos estrangeiros diretos. Reformando as políticas tributárias, liberalizando o acesso ao IEd e se incorporando à união Europeia, a Irlanda passou por uma radical mudança em seus padrões de produção e de comércio, deixando de ser uma economia predominantemente agrícola. no início da década de 2000, as empresas estrangeiras exportavam 70% de sua produção na Irlanda com elevada participação de produtos de alto conteúdo tecnológico.14

um estudo sobre as relações entre o IEd e o comércio exterior da China com parceiros individuais concluiu que as importações chinesas de determinado país tendem a preceder o IEd deste país na China e que o IEd, por sua vez, precede as exportações chinesas para esse país. Ou seja, o ciclo começa com importações, passa para IEd e avança para exportações.15 O efeito inicial do IEd foi uma redução das exportações chinesas para o país de origem do investimento, mas os efeitos po-sitivos posteriores foram muito maiores, resultando em um efeito líquido muito favorável para as exportações chinesas.

12 (LIPSEY, 2002).13 (LIPSEY, 2000).14 (RUANE; GÖRG, 1999).15 (LIU; WANG; WEI, 2001).

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 50: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

48 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

4.1.2 IEd E InSERçãO nO COméRCIO InTERnACIOnAL

A grande maioria dos estudos de caso mostra que um dos efeitos do ingresso de investimentos estrangeiros no país receptor é o fortalecimento de seus laços com o comércio mundial. A princi-pal contribuição das empresas estrangeiras seria o conhecimento, particularmente a informação sobre a demanda internacional e como o país receptor pode se inserir nas cadeias globais de valor.16 Embora haja evidências de que, em muitos países, o conhecimento trazido pelas empre-sas multinacionais gera externalidades positivas para as empresas domésticas, facilitando seu ingresso no mercado internacional, há estudos para diversos países que não conseguiram encon-trar tais evidências.

Essas conclusões, entretanto, não podem ser generalizadas. A contribuição do investimento estrangei-ro para a expansão das exportações depende das características do país receptor e das motivações do investidor.

A ideia de atrair investimentos diretos para transformar o país receptor em plataforma de expor-tações motivou a adoção de políticas de atração de investimentos estrangeiros em muitos países em desenvolvimento em busca de ampliar sua inserção no mercado internacional. Alguns auto-res mostram que investimentos voltados exclusivamente para exportações acontecem com maior frequência em casos em que os capitais são originários de economias com custos elevados (de-senvolvidas), que têm produção própria e que investem em outro país com custos reduzidos (em desenvolvimento), para abastecer um terceiro país com custos elevados.17

Esse arranjo tende a acontecer quando os custos do comércio de produtos intermediários, assim como os custos de montagem no país em desenvolvimento, são moderados. por outro lado, o sur-gimento de plataformas exportadoras, como resultado de IEd, tende a ser desencorajado quando o mercado do país receptor é relativamente grande. nesse caso, predomina o investimento voltado para o abastecimento do mercado interno.18

Estudos sobre a relação entre IEd e exportações na índia e na Turquia, por exemplo, não encon-traram evidências de que exista correlação relevante entre os dois fluxos. para a Turquia, um dos estudos encontrou correlação indicando que o crescimento de exportações atraiu investimento direto, mas não encontrou evidência de que o IEd esteve voltado para o fomento de exportações.

no caso da índia, diversos autores chamam a atenção para o fato de que a experiência do Leste Asiático não pode ser transladada para o país, em função do baixo grau de desenvolvimento da infraestrutura e da rigidez nos mercados de bens e fatores de produção aí prevalecentes. Além disso, como mencionado acima, a motivação para o investimento é relevante. Se o objetivo do in-vestimento é driblar o elevando grau de proteção de um país com um mercado interno relevante, o IEd pode não contribuir para aumentar exportações. A índia promoveu um movimento de abertura comercial e de investimentos no início da década de 1990, mas continua um país muito mais fecha-do que seus vizinhos asiáticos. Os estudos mostram que o país falhou na atração de investimentos voltados para a exportação e que o desempenho desta está mais associado a outros fatores.19

O sucesso da China em atrair investimentos estrangeiros voltados para exportações deve ser visto também sob a perspectiva do elevado poder de barganha que um país com as características chinesas tem para negociar com empresas multinacionais. políticas nacionais e poder de barganha para atrair multinacionais voltadas para exportações, além da centralização do poder, são alguns dos fatores que

16 (LIPSEY, 2002).17 (EKHOLM; FORSLID; MARKUSEN, 2003).18 (HANSON; MATALONI; SLAUGHTER, 2001).19 (SRINIVASAN, 1998;SHARMA, 2000).

Page 51: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

49

contribuíram para o sucesso chinês em relacionar atração de IEd com crescimento de exportações.20 Essa capacidade era ainda mais relevante antes da adesão da China à OmC, em 2001. desde então, as políticas domésticas tiveram que ser adequadas à regulação multilateral que proíbe incentivos à atração de investimentos condicionados ao desempenho exportador da empresa.

A negociação de acordos comerciais envolvendo países de diferentes graus de desenvolvimento tam-bém tem elevada capacidade para atrair investimentos com objetivo de exportação. Esse é o caso de empresas europeias que se instalaram no méxico para atender ao mercado norte-americano, sob as preferências do nAFTA, ou de empresas norte-americanas que investiram na Irlanda para ter acesso ao mercado da união Europeia. pode também ser o caso de empresas norte-americanas ou cana-denses investindo no méxico para servir a todo o mercado do nAFTA e ainda vender para a Europa.

4.1.3 IEd E upGRAdInG dE ExpORTAçõES

nos últimos anos, o debate sobre as políticas de atração de investimentos diretos estrangeiros voltadas para fomentar as exportações evoluiu da mera preocupação com o crescimento para a composição das exportações. A literatura sobre cadeias globais de valor estimulou esse debate com a disseminação da ideia de que os países que exportam bens mais sofisticados crescem mais rápido.21

O ingresso de capitais estrangeiros no país pode melhorar sua estrutura exportadora por duas vias: (i) as multinacionais que se instalam em um país para usá-lo como plataforma exportadora tendem a produzir produtos mais sofisticados e de melhor qualidade, alterando a pauta de exportações do país e (ii) a presença de multinacionais pode gerar externalidades positivas em termos de conhecimento para firmas nacionais operando no mesmo setor. diversos países em desenvolvimento passaram, então, a orientar suas políticas públicas e o trabalho de suas agências de atração de investimentos por objetivos voltados a atrair capitais para setores – ou produtos – específicos.

Estudo empírico envolvendo 105 países mostrou que existe uma associação positiva e significativa entre IEd e o valor unitário das exportações em setores que se tornaram alvo de políticas de atra-ção de IEd. Os resultados mostraram que as empresas multinacionais podem mover a produção doméstica, exportando maiores quantidades de bens de maior valor agregado do que as firmas nacionais. As empresas estrangeiras podem induzir movimentos de upgrading, produzindo versões de maior relação qualidade/preço – do que as firmas domésticas – de produtos que já eram expor-tados ou introduzindo novos produtos na cesta de exportações do país. O estudo concluiu também que as multinacionais contribuem para o movimento das empresas nacionais em direção a exporta-ções de maior valor unitário, principalmente pelos efeitos de externalidades sobre a disponibilidade de conhecimento.

Outra ideia bastante difundida não foi comprovada pelos estudos mencionados acima. Trata-se da hipótese de que o crescimento do IEd em um país em desenvolvimento aproximará o padrão de exportações desse país do que prevalece nos países de renda elevada. Estudo realizado compa-rando a evolução da pauta de exportações da China com a de países desenvolvidos concluiu que o IEd não teve papel na convergência dos padrões de exportações chinesas em direção aos dos países desenvolvidos, embora tenha contribuído para aumentar o valor unitário das exportações do país.22

20 (ZHANG; MARKUSEN, 1999).21 (HARDING; JAVORCIK, 2011).22 (WANG; WEI, 2008).

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 52: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

50 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

4.2. IEd E COméRCIO ExTERIOR: TEndênCIAS RECEnTES nO BRASIL23

O debate sobre a contribuição dos investimentos diretos estrangeiros para o fomento das exportações também atraiu a atenção de estudos sobre o caso brasileiro. A maioria dos autores centrou-se na aná-lise da correlação entre IEd e comércio exterior no período que vai da segunda metade da década de 1990 ao início dos anos 2000. de modo geral, os autores concluíram que as empresas multinacionais atuando no Brasil nesse período têm uma participação no comércio exterior superior às empresas de capital nacional, embora essa diferença fosse maior para as importações que para as exportações no período estudado.

Esta seção examina o fluxo de comércio associado ao investimento estrangeiro no Brasil para o período 2005-2012, com foco no comportamento das subsidiárias de empresas multinacionais expor-tadoras.

Esse exame concentrou-se em nove setores industriais, que estão relacionados a seguir — na verdade, nove divisões da classificação a 2-dígitos da CnAE 2.0 —, selecionados entre aqueles que se destacam pelo fluxo de IEd recebido nos últimos anos e pelo estoque de capital estrangeiro investido:

• produtos alimentícios

• produtos químicos

• produtos farmoquímicos e farmacêuticos (daqui em diante, produtos farmacêuticos)

• produtos de minerais não metálicos

• metalurgia

• Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (daqui em diante, equipamentos de informática)

• máquinas, aparelhos e materiais elétricos (daqui em diante, máquinas e materiais elétricos

• máquinas e equipamentos

• veículos automotores, reboques e carrocerias (daqui em diante, veículos automotores).

Esse conjunto de setores recebeu, no triênio 2010-2012, 34% do fluxo de investimento direto no país, e 78% da parcela desse fluxo destinado à indústria de transformação. Ele responde também por 20% do estoque de capital das empresas estrangeiras em 2010, conforme contabilidade do Censo de Capital Estrangeiro realizado pelo Banco Central, e por 56% da parcela desse estoque associada à indústria de transformação.

A caracterização de uma pessoa jurídica constituída no país como uma empresa estrangeira, ou seja, como uma subsidiária de empresa do exterior (daqui em diante, subsidiária de empresa multinacio-nal), nem sempre é trivial, uma vez que depende de definição relativamente arbitrária do percentual de participação acionária que caracteriza o controle da empresa — critério que, de resto, pode ser afetado por eventual acordo de acionistas, nem sempre de conhecimento público. nesse contexto, não se dispõe de um cadastro que identifique as subsidiárias de empresas multinacionais no país.24

A identificação das exportadoras estrangeiras requer, portanto, o exame, caso a caso, das empresas exportadoras nos nove setores selecionados. para viabilizar esse processo, optou-se por restringir o exame às maiores empresas exportadoras, responsáveis por 80% do valor das exportações das em-presas de cada um daqueles setores no triênio 2010-2012 (denominadas, daqui em diante, principais

23 Os “setores” industriais examinados nesta seção correspondem, na verdade, a divisões da classificação a 2-dígitos da CNAE 2.0. Essas divisões são, no entanto, referidas no texto como setores.24 O único cadastro existente, o resultante do Censo de Capital Estrangeiro do Banco Central, não é disponibilizado a terceiros.

Page 53: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

51

empresas exportadoras do setor — pEs). no conjunto de 310 empresas identificadas segundo esse critério, 131 foram caracterizadas como nacionais e 179 como estrangeiras.

Box 2 – metoDologia para classificação Das empresas e fontes Das informações

A identificação das empresas exportadoras, responsáveis por 80% do valor das exportações, no triênio 2010-2012, das nove divisões selecionadas teve como base a relação de empresas elaborada pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) com base em seu banco de dados.

As 310 empresas selecionadas segundo esse critério — dentre as 6.100 empresas das nove divisões que realizaram exportações no triênio 2010-2012 — foram caracterizadas como na-cionais ou estrangeiras, com base na classificação apresentada nas publicações “valor 1000 maiores Empresas” e “Exame melhores e maiores: as 1000 maiores empresas do Brasil” (139 empresas), e em avaliação própria informada em material coletado na internet (172 empresas), restando 14 empresas que, por falta de informação, foram classificadas como nacionais.

Com base nessa classificação, a Funcex processou as tabulações relativas a exportações e im-portações apresentadas nesse trabalho.

Essas tabulações referem-se ao valor das exportações (ou das importações) da empresa, que é integralmente computado na divisão na qual a empresa é classificada pelo IBGE, com base na composição setorial do valor de sua produção. Cabe enfatizar, portanto, que o valor das expor-tações associado à divisão x nessa tabulação não corresponde necessariamente ao valor das exportações dos produtos enquadrados nessa divisão. pode diferir desse valor, seja por incluir produtos enquadrados em outras divisões exportados por empresa classificada na divisão x, seja por não considerar produtos enquadrados na divisão x que são exportados por empresas classificadas em outras divisões.

A avaliação da importância das exportações para as empresas exportadoras teve como referência o valor bruto de sua produção industrial (vBpI), que corresponde à soma de vendas de produtos e serviços industriais (receita líquida industrial), variação dos estoques dos produtos acabados e em elaboração, e produção própria realizada para o ativo imobilizado da empresa. Os resultados apresentados provêm de tabulação especial do IBGE de dados da pesquisa Industrial Anual - Em-presa (pIA-Empresa) relativos às 6.100 empresas das nove divisões selecionadas que realizaram exportações no triênio 2010-2012, identificadas com base no banco de dados da Funcex.

O exame do comportamento das exportações brasileiras ao longo dos últimos anos revela evoluções semelhantes (i) do conjunto de nove setores selecionados neste estudo, (ii) da indústria de transforma-ção e (iii) do total das exportações do país (Gráfico 4):

• forte crescimento até 2008;

• queda expressiva em 2009;

• recuperação em 2010 que ultrapassa o nível de 2008 no caso do total das exportações e perma-nece apenas 5% abaixo daquele nível no caso da indústria de transformação e dos nove setores selecionados; e

• crescimento mais lento a partir de então, com um ligeiro declínio em 2012.

A análise do desempenho exportador das subsidiárias das empresas multinacionais terá como referên-cia o triênio 2010-2012, posterior à crise do final da década passada, que será comparado com o triênio 2005-2007, imediatamente anterior.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 54: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

52 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

gráFico 4: valor das exporTações das empresas – 2005-2012

(BILhõES DE DóLARES)

67,2 76,687,2

104,2

79,998,9

120,5114,6

95,5110,9

128,7

155,0

116,1144,9

173,6 168,3

118,3137,6

160,3

197,6

152,7

201,9

255,6242,1

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Total das 9 divisões Indústria de transformação Total das exportações

US

$ b

ilhões

Fonte: Elaborado segundo a tabulação especial da Funcex e dados da Secex.

Os nove setores selecionados respondem por uma parcela significativa das exportações brasileiras no triênio 2010-2012: 48% do total das exportações e 70% das exportações da indústria de transformação (Tabela 16). Os pesos dos nove setores são, no entanto, bastante diferenciados — produtos alimen-tícios, metalurgia e veículos automotores respondem por cerca de três quartos das exportações do conjunto.

As exportações dos nove setores selecionados cresceram, entre 2005 e 2012, a uma taxa anual seme-lhante à da indústria de transformação (7,9% e 8,4%, respectivamente), mas inferior à do total das ex-portações (10,8%), o que acarretou um declínio de 7,8 pontos de percentagem na participação desses setores no total das exportações brasileiras entre os triênios anterior e posterior à crise.

Tabela 16 - parTicipações das empresas dos nove seTores selecionados e da indúsTria de TransFormação no ToTal das exporTações brasileiras nos Triênios

2005-2007 e 2010-2012

(PERcENTuAL)

Triê

nio

Prod

. alim

ent.

Prod

. quí

m.

Prod

. Far

mac

.

Prod

. min

.

Met

alur

gia

Equi

p. in

form

.

Máq

. / m

at. e

létr.

Máq

. e e

quip

.

Veíc

ulos

au

tom

otor

es

Os

9 se

tore

s

Ind.

Tra

nsf.

2005-07 18,3 4,8 0,5 1,4 10,9 2,6 1,6 4,2 11,2 55,5 80,5

2010-12 21,3 4,2 0,6 0,9 8,2 0,8 1,4 3,2 7,1 47,7 69,6

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX

Page 55: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

53

4.2.1 A pARTICIpAçãO dAS SuBSIdIÁRIAS dAS EmpRESAS muLTInACIOnAIS nAS ExpORTAçõES

O exame do desempenho exportador das subsidiárias brasileiras de empresas multinacionais tem como referência as 179 subsidiárias que estão entre as principais empresas exportadoras dos nove setores referidos acima — isto é, entre as empresas responsáveis por 80% do valor das exportações das empresas desses setores no triênio 2010-2012. Essas subsidiárias serão, daqui em diante, denominadas principais empresas exportadoras estrangeiras do setor — ou pEEs; por outro lado, as 131 empresas nacionais listadas entre as empresas responsáveis por 80% do valor das exportações dos nove setores são denominadas principais empresas exportadoras nacionais do setor — ou pEns.

A Tabela 17 indica que 61% do valor total exportado pelos nove setores provêm das 179 pEEs iden-tificadas.25 Esse resultado, que se refere apenas às pEEs e a 80% do valor das exportações das empresas dos setores selecionados, sugere, consequentemente, um piso de 48% para a participa-ção de empresas estrangeiras na totalidade das exportações desses setores no triênio 2010-2012. por outro dado, esse resultado indica que as 179 pEEs respondem por 24% e 23% do total das exportações brasileiras nos triênios 2005-2007 e 2010-2012, respectivamente.

São escassas as estimativas da participação das empresas estrangeiras nas exportações bra-sileiras. um resultado recente é a indicação do último Censo de Capital Estrangeiro do Banco Central de que o valor das exportações de bens das empresas com capital estrangeiro em 2010 foi de uS$ 77,2 bilhões (contra uS$ 86,9 bilhões de importações). Esse resultado corresponde a uma participação de 38% no total das exportações brasileiras naquele ano (uS$ 202 bilhões). por outro lado, significa que as 179 pEEs aqui focalizadas, que exportaram uS$ 47,1 bilhões em 2010, foram responsáveis por 61% das exportações das empresas com capital estrangeiro nesse ano.

no tocante à importância das pEEs nas exportações dos diversos setores, é possível caracterizar três padrões distintos.

• Em quatro setores, as pEEs respondem pela quase totalidade da amostra de 80% do valor expor-tado pelas empresas do setor: equipamentos de informática; veículos automotores e produtos farmacêuticos (nos quais a participação é quase 100% e nos quais se contam apenas quatro pEns) e máquinas e equipamentos (com participação de 82%). Tais resultados indicam um piso para a participação de empresas estrangeiras na totalidade das exportações desses setores de quase 80% nos três primeiros casos e de 65% em máquinas e equipamentos.

• Em três setores — metalurgia; máquinas e materiais elétricos; e produtos de minerais não metáli-cos — a participação das pEEs no valor das exportações da amostra está próxima de 60%, o que indica um piso para a participação de empresas estrangeiras na totalidade das exportações das empresas desses setores da ordem de 45%.

• Em dois setores, as empresas nacionais respondem pela maior parcela das exportações das em-presas da amostra, cabendo às pEEs parcelas de 48% em produtos alimentícios e 35% em pro-dutos químicos.

25 Uma empresa incluída entre as PEEs é uma pessoa jurídica registrada no CNPJ. Suas exportações não correspondem necessariamente ao total das exportações da empresa multinacional que a controla, uma vez que a multinacional pode contar com outras subsidiárias (diferentes CNPJ) exportadoras no país.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 56: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

54 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Tabela 17: exporTações das principais empresas, exporTadoras dos nove seTores selecionados, segundo propriedade da empresa – 2010-2012

Empresas exportadoras Exportações médias 2010-2012

no de empresas percentual Valor us$ milhões percentual

nac. estr. nac. estr. nac. estr. nac. estr.

26. Equip. informática 2 19 10 90 20 1.540 1 99

29. Veíc. Automotores 1 16 6 94 253 13.061 2 98

21. Prod. farmac. 1 14 7 93 29 1.096 3 97

28. Máq. e equip. 21 40 34 66 1.087 4.790 18 82

24. Metalurgia 10 13 43 57 6.357 9.031 41 59

27. Máq./mat. elétricos 6 16 27 73 1.037 1.482 41 59

23. Prod. min. não met. 39 25 61 39 713 926 44 56

10. Prod. alimentícios 31 14 69 31 20.528 19.287 52 48

20. Prod. químicos 20 22 48 52 5.109 2.728 65 35

Total dos nove setores 131 179 42 58 35.134 53.941 39 61

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX

4.2.2 O dESEmpEnHO ExpORTAdOR dAS pRInCIpAIS EmpRESAS ExpORTAdORAS ESTRAnGEIRAS

Esses resultados referentes ao triênio 2010-2012 apresentam algumas alterações em relação àque-les observados antes da crise de 2008. O Gráfico 5 compara o desempenho das pEEs e das outras empresas exportadoras (OEEs)26 dos nove setores nesse período. As exportações das pEEs, que já apresentavam taxas de crescimento ligeiramente superiores às das demais empresas do setor no período 2005-2008, experimentaram declínio significativamente menor em 2009 e ampliaram seu diferencial de crescimento nos anos posteriores à crise. nesse contexto, a participação das pEEs nas exportações dos nove setores examinados aumentou de 44% para 48% entre os triênios 2005-2007 e 2010-2012.

26 As OEEs compreendem as PENs e as empresas, nacionais e estrangeiras, não incluídas entre as principais empresas exportadoras, responsáveis, portanto, pelo restante 20% das exportações do setor.

Page 57: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

55

gráFico 5: valor das exporTações das principais empresas exporTadoras esTrangeiras e das ouTras empresas exporTadoras e produTos dos nove seTores selecionados (2005-2012)

(BILhõES DE DóLARES)

29,5

33,4

38,3

46,6

37,7

47,1

58,756,5

37,7

43,1

48,9

57,6

42,2

51,8

61,958,1

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

US

$ b

ilhões

PEEs OEEs (1)

(1) Corresponde às exportações das principais empresas exportadoras nacionais e das empresas responsáveis pelo restante 20% das exportações do setor.

Fonte: Elaborado segundo tabulação especial da Funcex e dados da Secex.

A Tabela 18 evidencia que esse maior crescimento relativo das pEEs é comum à quase totalidade dos setores, registrando-se, em particular, aumento significativo da participação dessas empresas nas ex-portações dos produtos dos respectivos setores, entre aqueles dois triênios, em produtos farmacêu-ticos (18 pontos de percentagem), metalurgia (17 p.p.), produtos de minerais não metálicos (10 p.p.), produtos alimentícios (9 p.p.) e produtos químicos (6 p.p.). Apenas no setor de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, observa-se um ligeiro declínio da participação das pEEs (3 p.p.).

Tabela 18: parTicipação das principais empresas exporTadoras esTrangeiras no valor ToTal das exporTações das empresas dos nove seTores selecionados nos Triênios 2005-2007 e 2010-2012 (1)

(PERcENTuAL)

Triê

nio

Equi

p. in

form

.

Veíc

ulos

auto

mot

ores

Prod

. Far

mac

.

Máq

. e e

quip

.

Máq

/ m

at. e

létr.

Met

alur

gia

Prod

. min

. não

met

al.

Prod

. alim

ent.

Prod

.quí

m.

Os

9 se

tore

s

2005-07 79 75 60 62 50 30 35 30 22 44

2010-12 79 78 78 65 47 47 45 39 28 48

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX

(1) Esses percentuais indicam ainda o piso da participação das subsidiárias de empresas multinacionais nas exportações dessas divisões.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 58: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

56 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

A Tabela 19 detalha o desempenho exportador das pEEs:

• as pEEs de quatro setores se destacam pelas elevadas taxas de crescimento no período 2005-2012: produtos farmacêuticos (25% ao ano), produtos alimentícios (19%), metalurgia (16%) e produtos químicos (11%);

• as pEEs de três setores apresentam crescimento menos expressivo: máquinas e materiais elétricos; máquinas e equipamentos e veículos automotores;

• as pEEs do setor de equipamentos de informática apresentam uma taxa anual negativa de 12,6%.

Tabela 19: valor e Taxas anuais de crescimenTo das exporTações das principais empresas exporTadoras esTrangeiras dos seTores selecionados

Valor das exportações (US$ milhões)

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Prod. aliment. 6.347 6.833 9.291 14.034 13.481 15.083 20.939 21.664

Prod.quím. 1.241 1.411 1.754 2.082 1.948 2.502 3.039 2.644

Prod. Farmac. 233 429 586 749 840 1.023 1.129 1.135

Prod. min. não met. 612 660 730 855 687 869 996 914

Metalurgia 3.341 4.898 5.163 5.825 5.906 7.814 9.901 9.378

Eqp. Inform./ eletr. 2.838 3.096 2.775 2.853 2.154 1.923 1.593 1.104

Máq /mat elétr. 778 1.107 1.520 1.692 1.484 1.564 1.475 1.409

Máq. e equip. 3.245 3.405 4.023 4.854 2.796 3.878 5.087 5.406

Veículos auto. 10.855 11.598 12.452 13.662 8.365 12.312 14.268 12.602

Total dos 9 setores 29.490 33.436 38.294 46.606 37.703 47.103 58.675 56.543

Taxas anuais de crescimento

prod

. alim

ent.

prod

. quí

m.

prod

. far

mac

prod

. min

.

met

alur

gia

equi

p. in

form

./ el

etrô

n.

máq

. / m

at. e

létr.

máq

. e e

quip

.

Veíc

ulos

aut

omot

ores

os 9

set

ores

2005-08 30,3 18,8 47,6 11,8 20,4 0,2 29,5 14,4 8 16,5

2008-09 -3,9 -6,4 12,2 -19,6 1,4 -24,5 -12,3 -42,4 -38,8 -19,1

2009-12 17,1 10,7 10,5 10 16,7 -20 -1,7 24,6 14,6 14,5

2005-12 19,2 11,4 25,4 5,9 15,9 -12,6 8,8 7,6 2,2 9,7

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX

Cabe notar que as pEEs dos quatro setores que se destacam no período como um todo já apresen-tavam — juntamente com as do setor de máquinas e materiais elétricos — as taxas de crescimento mais elevadas antes da crise. Foram também os setores em que as exportações das pEEs foram me-

Page 59: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

57

nos impactadas pela contração do mercado mundial em 2009; as exportações de produtos farmacêu-ticos e metalurgia apresentam mesmo crescimento nesse ano. dois dos quatro setores destacados inicialmente, produtos alimentícios e metalurgia, estão ainda entre os que apresentam maior taxa de crescimento no período mais recente (17% ao ano no período 2009-2012), superados, no entanto, por máquinas e equipamentos (25%) e seguidos de perto por veículos automotores (15%).

por outro lado, as exportações das pEEs do setor de equipamentos de informática já haviam interrompi-do seu crescimento antes da crise, mantendo-se estáveis entre 2005 e 2008. A partir desse ano, essas exportações apresentam um declínio contínuo, com uma taxa média anual de 20% — seu valor em 2012 é 40% do observado em 2005.

vale notar ainda que a queda do valor das exportações em 2012, como registrado anteriormente, é comum ao total das exportações e às exportações da indústria de transformação e dos nove setores focalizados, mas não é observada nos casos das pEEs dos setores de máquinas e equipamentos (cres-cimento de 6,3%), produtos alimentícios (3,5%) e produtos farmacêuticos (0,5%).

4.2.3 A ImpORTânCIA dAS ExpORTAçõES pARA AS EmpRESAS ExpORTAdORAS

A importância da exportação para as ppEs está indicada na Tabela 20, que apresenta a participação das exportações no valor bruto da produção industrial (vBpI) dessas empresas nos nove setores considera-dos no período 2007-2011.27

Apesar de a tabela indicar graus diferenciados de comprometimento com o mercado externo das pEEs dos distintos setores, os resultados evidenciam que, de modo geral, tais empresas estão basicamente voltadas para o mercado doméstico. é possível agregar e ordenar os nove setores em quatro grupos em função do peso das exportações no vBpI das pEEs:

• As pEEs do setor de produtos alimentícios destinam cerca da metade de sua produção ao mercado externo. A parcela da produção exportada é crescente ao longo do período, aumentando de 45% em 2007 para 64% em 2011.

• As pEEs dos setores de metalurgia e de máquinas e equipamentos exportam também parcela significativa de sua produção (cerca de um terço). no entanto, as trajetórias das participações nos dois setores diferem:

• o percentual da produção exportada pelas empresas metalúrgicas mantém-se relativamente estável, apresentando pequeno crescimento de 35% para 38% entre 2007 e 2011;

• o percentual das pEEs do setor de máquinas e equipamentos declina de 38% para 29% entre aqueles anos.

• As pEEs dos setores de produtos de minerais não metálicos, equipamentos de informática, máqui-nas e materiais elétricos e veículos automotores exportavam, no início do período focalizado, entre 20% e 26% de sua produção. Essas percentagens experimentaram, no entanto, redução significa-tiva ao longo do período — de 15 pontos de percentagem no caso de equipamentos de informática e de cerca de 7 p.p. nos demais —, situando-se entre 18% e 10% em 2011.

• por fim, as pEEs dos setores de produtos químicos e de produtos farmacêuticos exportavam me-nos de 15% de sua produção em 2007. As empresas desses setores apresentam, no entanto, evoluções distintas desde então:

27 O VBPI provém de tabulação especial do IBGE de dados da Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-Empresa). O período apresentado decorre da última PIA divulgada ter como referência o ano de 2011 e da PIA só apresentar seus resultados segundo a CNAE 2.0 a partir de 2007. O valor anual das exportações das empresas exportadoras classificadas em uma divisão CNAE 2.0 foi convertido em reais, para comparação com o VBPI, com base em taxa de câmbio calculada como a média das taxas médias mensais de compra do dólar, ponderadas pelo valor mensal das exportações dos produtos associados a essa divisão CNAE 2.0.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 60: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

58 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

• a parcela da produção exportada pelas pEEs de produtos químicos permaneceu estável;

• a parcela relativa às pEEs do setor de produtos farmacêuticos cresceu significativamente, de 15% para 23%.

A evolução da participação das exportações no vBpI das pEEs dos diversos setores reflete, de modo geral, o crescimento das exportações: as pEEs dos setores que registraram taxas de crescimento ele-vadas apresentam também aumento do peso das exportações na produção e vice-versa. As exceções são as pEEs dos setores de metalurgia e produtos químicos: apesar do ritmo elevado de crescimento das exportações, sua participação na produção apresenta pequeno acréscimo (3 p.p. e 1 p.p.), o que reflete expansão igualmente elevada do vBpI dessas empresas.28

Tabela 20: peso do valor das exporTações no valor bruTo da produção indusTrial das principais empresas exporTadoras esTrangeiras de nove seTores selecionados – 2007-2011

(PERcENTuAL)

2007 2008 2009 2010 2011

Prod. aliment. 45 54 57 51 64

Prod.quím. 12 11 13 14 13

Prod. farmac 15 17 20 21 23

Prod. min. ñ met. 23 19 18 17 16

Metalurgia 35 30 38 33 38

Eqp.inform./eletr. 25 21 21 14 10

Máq. /mat. elétr. 20 20 17 14 13

Máq. e equip 38 36 30 26 29

Veículos auto. 26 23 16 17 18

Os 9 setores 28 27 26 24 27Nota: A tabulação especial teve como referência as empresas exportadoras identificadas a partir do banco de dados da FUNCEX. A caracterização das empresas estrangeiras é do CINDES.

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-Empresa), Tabulação Especial.

A Tabela 21 apresenta também, como um contraponto às informações sobre as pEEs, a participação das exportações das outras empresas exportadoras (OEEs) dos nove setores no valor bruto da produ-ção industrial nos biênios 2007-2008 e 2010-2011. Essa participação é inferior à das pEEs em todos os setores, à exceção de produtos químicos, apresentando maior diferencial nos casos das empresas dos setores de produtos alimentícios, produtos farmacêuticos, máquinas e equipamentos, metalurgia e veículos automotores. Além disso, a participação das exportações no valor da produção das OEEs, de maneira geral, declina ao longo do período, sendo a queda mais significativa nos casos dos setores de metalurgia (17 p.p.), produtos alimentícios (13 p.p.) e produtos de minerais não metálicos (11 p.p.) — no caso de produtos alimentícios em contraste com a evolução das pEEs, cujo peso das exportações na produção avançou 20 p.p.

28 Essa expansão da produção das PEEs é consistente com o aumento do consumo doméstico (aparente) do setor de produtos químicos no período. No caso da metalurgia, no entanto, a pequena expansão do consumo aparente sugere um aumento do market share dessas PEEs no mercado doméstico.

Page 61: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

59

Tabela 21: peso do valor das exporTações no valor bruTo da produção indusTrial das ouTras empresas exporTadoras de nove seTores selecionados –

2007-2008 e 2010-2011

(PERcENTuAL)

Prod

. alim

ent.

Prod

.quí

m.

Prod

. Far

mac

.

Prod

. min

. não

met

.

Met

alur

gia

Equi

p. in

form

.

mat

. elé

tr.

Máq

. e e

quip

.

Veíc

ulos

Os

9 se

tore

s

OEEs - 2007-08 53 21 8 25 39 4 16 17 7 25

OEEs – 2010-11 40 17 6 14 22 3 10 13 5 19

PEEs – 2010-11 58 13 22 17 36 12 14 28 18 26

Fonte: IBGE, Pesquisa Industrial Anual - Empresa (PIA-Empresa), Tabulação Especial.

4.2.4 AS ImpORTAçõES dAS pRInCIpAIS EmpRESAS ExpORTAdORAS ESTRAnGEIRAS

Os fluxos de exportação e importação das pEEs examinados a seguir diferem dos fluxos de exporta-ção e importação usualmente associados ao exame dos saldos comerciais setoriais ou de coeficien-tes setoriais de importação e de exportação. Essas variáveis consideram os fluxos de exportação e importação de produtos de uma mesma natureza e são pertinentes às questões associadas a mer-cados. Aqui, no caso de uma empresa industrial, o fluxo de importação compreende basicamente os bens de capital e intermediários utilizados pela empresa e, apenas complementarmente, os bens semelhantes aos produzidos e exportados pela empresa (apenas quando esses são eventualmente adquiridos para revenda). Assim, o exame conjunto dos fluxos de exportação e importação reflete a cadeia de valor da empresa.

O crescimento das exportações das pEEs dos nove setores selecionados foi acompanhado de aumento de suas importações, como evidenciado no Gráfico 6. A evolução relativa desses dois fluxos se reflete na trajetória da razão entre importações e exportações (razão m/x), que aumenta de 62% para 89% entre 2005 e 2008, estabilizando-se nesse nível até 2011, para alcançar 93% em 2012.29 Esse resultado é afetado, no entanto, pela evolução dos fluxos referentes às pEEs de produtos alimentícios, de peso significativo nas exportações das pEEs do conjunto de setores (35%), cuja razão m/x permanece está-vel, ao contrário dos demais setores. quando se exclui o setor de produtos alimentícios, a evolução da razão m/x relativa ao conjunto de oito setores cresce de 77% em 2005 para 122% em 2008, e 146% em 2012 (Gráfico 6).

29 Embora a divisão do coeficiente de importação pelo coeficiente de exportação resulte em uma razão entre importação e exportação, a razão M/X aqui utilizada, pelos motivos indicados acima, não tem nenhuma relação com aqueles coeficientes.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 62: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

60 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

gráFico 6: valor das exporTações e das imporTações em us$ bilhões e razão m/x em percenTagens das principais empresas exporTadoras esTrangeiras de nove seTores

selecionados – 2005-2012

(BILhõES DE DóLARES)

29 3338 47

38

4759

57

18 2229

41

31

43

52 5262%66%

75%

89%81%

91%89%

93%

77% 80%

96%

122% 121%130% 133%

146%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

140%

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

-

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

US

$ b

ilhões

Exportações Importações Razão M/X Razão M/X 8 setores

Fonte: Elaborado com base em tabulação especial da Funcex e dados da Secex.

A tendência de crescimento mais rápido das importações das pEEs é, de fato, observada em sete dos nove setores — as exceções são os setores de produtos alimentícios e de produtos farmacêuticos, cuja razão m/x declina (Tabela 22). no tocante ao sinal do saldo comercial das pEEs, no entanto, os resulta-dos diferem mais acentuadamente entre os setores.

nesse contexto, é possível identificar três situações distintas.

• Os fluxos de comércio das pEEs dos setores de produtos alimentícios, produtos de minerais não metálicos, metalurgia e máquinas e equipamentos apresentam saldo comercial positivo (m/x<100) em todo o período; no entanto, à exceção do setor de produtos alimentícios, as importações cres-cem mais do que as exportações, elevando a razão m/x.

• As pEES dos setores de veículos automotores e máquinas e materiais elétricos apresentam tam-bém saldo comercial positivo no período inicial, mas o diferencial de crescimento das importações e das exportações reverte essa situação a partir de 2010.

• por fim, as pEEs dos setores de produtos farmacêuticos, produtos químicos e equipamentos de informática apresentam saldo comercial negativo em todo o período.

Page 63: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

61

Tabela 22: razão enTre os valores das imporTações e das exporTações das principais empresas exporTadoras esTrangeiras de nove seTores selecionados – 2005-2012

(PERcENTuAL)

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2005-2007 2010-2012

Prod. aliment. 8 10 12 12 9 10 11 9 10 10

Metalurgia 29 22 23 38 25 56 48 43 24 49

Prod.min. ñ met.. 36 37 42 51 57 53 69 71 38 65

Máq. e equip. 48 50 65 75 78 95 88 85 55 89

Veículos auto. 50 57 70 91 124 115 118 141 59 124

Máq. /mat. elétr. 83 71 62 82 73 104 146 163 70 137

Prod. farmac. 428 301 315 293 270 259 262 281 332 268

Prod. quím. 268 254 323 439 297 273 294 348 286 305

Eqp. Inform./ eletr. 168 198 234 291 266 405 555 793 200 549

Total 62 66 75 89 81 91 89 93 68 91

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX.

A tendência apontada de maior crescimento das importações não é específica das pEEs. A razão m/x relativa às OEEs desses setores — que compreende as pEns e as empresas responsáveis pelo restante 20% das exportações do setor — cresce significativamente até 2008, embora se estabilize a partir de então. de todo modo, a razão m/x média nos anos 2010-2012 é superior à registrada no triênio anterior a crise.

Tabela 23: razão enTre os valores das imporTações e das exporTações das principais empresas exporTadoras esTrangeiras e das ouTras empresas de nove seTores

selecionado – 2005-2012

(PERcENTuAL)

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2005-2007 2010-2012

PEEs 62 66 75 89 81 91 89 93 68 91

OEEs 53 56 67 80 78 90 78 79 59 82

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX.

não se dispõe de informações sobre a composição das importações das pEEs, não sendo possível identificar em que medida o aumento dessas importações reflete (i) importações de bens de capital de-correntes de novos investimentos, (ii) aquisição de matérias-primas, partes e componentes associada à expansão das exportações e a vendas no mercado doméstico; (iii) substituição de matérias-primas, partes e componentes adquiridos no país por produtos importados; ou (iv) importação de bens acaba-dos para serem vendidos no mercado doméstico.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 64: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

62 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

4.2.5 IEd E COméRCIO: dInâmICAS SETORIAIS

A análise dos fluxos de comércio associados ao investimento estrangeiro no Brasil focalizou nove se-tores da indústria de transformação que se destacam pelos fluxos e/ou pelo estoque do investimento recebido. O exame do desempenho exportador das principais empresas exportadoras estrangeiras (pEEs) desses setores procurou explicitar:

• a importância dessas subsidiárias para as exportações do país e, em particular, para as exportações dos respectivos setores; e

• a importância das exportações para as essas subsidiárias.

Além disso, foi examinada a evolução desse quadro no período 2005-2012, confrontando-se assim o cenário observado antes e depois da crise de 2008. O quadro a seguir resume essas informações.

quadro 1: imporTância relaTiva enTre pees e exporTações

Importância das PEEs para as exportações das divisões (1)

antes de 2008 Depois de 2008

alta

>50%

média

30-50%

Baixa

<30%

alta

>50%

média

30-50%

Baixa

<30%

impo

rtânc

ia d

as e

xpor

taçõ

es p

ara

as p

ees

(2)

Alta

>33%Máq e equip

Prod aliment Prod aliment

Metalurgia Metalurgia

Media

20-33%

Eqp inform Máq /mat elét Máq e equip

Veículos Prd min n mt Prod farmac

Baixa

< 20%Prod farmac Prod quím

Eqp inform Prod min n- mt

Prod quím

Veículos Máq /mat eiét

1) Razão entre valor das exportações das PEEs e o valor das exportações de todas as empresas das divisões nos triênios 2005-07 e 2010-12.2) Razão entre o valor das exportações das PEEs e do valor bruto de sua produção industrial em 2007 e 2011.

O quadro revela que:

• no tocante à sua importância para as exportações do país:

• as pEEs respondem por parcelas significativas da atividade exportadora dos respectivos seto-res (o setor de produtos químicos é uma exceção); e

• essa participação ficou estável ou aumentou nos últimos anos, mesmo nos casos em que o valor de suas exportações declinou;

• no tocante à importância das exportações para a receita das pEEs:

• com poucas exceções, o mercado externo absorve menos de um terço de sua produção; e

• mais do que isso, essa participação declinou significativamente desde 2007 em cinco dos se-tores considerados.

Page 65: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

63

Esse cenário reflete o papel subsidiário que o mercado externo desempenha na atuação das subsidiá-rias das empresas multinacionais no país.

nesse contexto, alguns segmentos merecem um enfoque particular:

• seja pela importância do mercado externo para as pEEs do setor: produtos alimentícios, metalurgia e máquinas e equipamentos;

• seja pela acentuada contração ou pelo significativo crescimento das exportações de suas pEEs: informática e produtos eletrônicos e produtos farmacêuticos, respectivamente.

4.2.5.1 os setores em Que o mercaDo externo é releVante para os granDes exportaDores estrangeiros

produtos alimentícios e metalurgia

O desempenho das pEEs das indústrias de produtos alimentícios e de metalurgia apresenta alguns traços em comum. Suas exportações respondem por parcelas importantes, e semelhantes, das expor-tações de seus setores, parcelas que aumentaram ao longo do período analisado: de 30%, em ambos os casos, no triênio anterior à crise de 2008, para 47%, no caso da metalurgia, e 39%, no dos produtos alimentares, no triênio imediatamente posterior.

da mesma forma, as exportações são relevantes para essas pEEs, absorvendo parcela significativa de sua produção; essa importância se acentua nos anos mais recentes para as pEEs de produtos alimen-tícios, passando de 45% em 2007 para 64% em 2011. desse último ponto de vista, as pEEs se distin-guem das dos demais setores analisados. distinguem-se também das outras empresas exportadoras dos setores de produtos alimentícios e de metalurgia para as quais a participação das exportações na produção cai significativamente entre aqueles anos (9 pontos de percentagem no caso de produtos alimentícios e 17 no da metalurgia).

nesse sentido, embora o mercado doméstico tenha relevância para essas empresas, a atividade expor-tadora não é mero complemento desse mercado, mas constitui elemento central de suas estratégias de atuação no país.

O exame das pautas de exportação das pEEs das indústrias de produtos alimentícios e metalurgia explicita outra semelhança relevante, que mais uma vez os distingue dos demais setores analisados. São basicamente exportadoras de commodities e se situam nas etapas iniciais de cadeias produtivas.

de fato, as pEEs do setor de produtos alimentícios exportam, basicamente, grãos e seus derivados (café, milho, arroz e soja, torta e óleo de soja); algodão, não cardado; carnes de aves; açúcar de cana, em bruto e álcool etílico; sucos de laranjas; e derivados de leite e preparações para alimentação de crianças para venda a varejo. Apenas essa última classe de produtos não se caracteriza como commo-dity com baixo grau de transformação industrial. nesse caso, no entanto, embora não se disponha de informação sobre a receita da pEE responsável pela exportação desse produto, a magnitude do valor de suas exportações, comparada à dimensão da empresa, permite afirmar que essas exportações são pouco relevantes para a empresa, ao contrário do indicado pelos percentuais relativos à média das pEEs do setor.30

por outro lado, a inserção das pEEs do setor de produtos alimentares no comércio externo se restringe às exportações: o valor de suas importações ao longo do período analisado corresponde a 10% do valor das exportações.

30 O valor das exportações da empresa corresponde a cerca de 3% da receita do grupo multinacional, com suas vendas no mercado brasileiro indicadas no seu relatório anual de 2013.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 66: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

64 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

As pEEs do setor de metalurgia incluem empresas siderúrgicas (responsáveis por 55% das exporta-ções do grupo), produtores de alumínio (30%) e mineradoras de ouro (15%). Suas exportações con-sistem também de commodities situadas nas etapas iniciais das cadeias produtivas metal-mecânicas: produtos semimanufaturados, produtos laminados planos, barras de ferro, fio-máquina e tubos flexíveis de ferro ou aço; alumínio não ligado e ligas de alumínio, em formas brutas, folhas e tiras de alumínio e óxidos de alumínio; e ouro semimanufaturado.

máquinas e equipamentos

O peso das exportações na produção das pEEs de máquinas e equipamentos em 2007 (38%) é da mesma ordem de grandeza do observado para produtos alimentares e, embora tenha caído 9 pontos de percentagem no triênio 2010-2012, é ainda o terceiro mais elevado dentre os nove setores analisados. O resultado é, de certa forma, surpreendente, tendo em vista a natureza diversificada do setor e o número elevado de empresas (61) requeridos para acumular 80% das exportações do setor.

não se dispõe de informações sobre o valor de produção das pEEs ao nível de empresas que permitam qualificar esse resultado. O exame da natureza das pEEs do setor revela, no entanto, uma forte concen-tração das exportações dessas pEEs em empresas produtoras de máquinas e equipamentos rodoviá-rios e agrícolas: as dez empresas que produzem esses itens respondem por 59% das exportações das 40 pEEs do setor no triênio 2010-2012. A concentração é elevada também entre essas dez empresas: os quatro principais exportadores desses produtos — que são, aliás, os quatro principais exportadores do setor de máquinas e equipamentos — são produtores de máquinas rodoviárias e agrícolas e respon-dem por 54% dessas exportações, cabendo ao maior exportador a parcela de 33%.

Tabela 24: parTicipação das pees de máquinas e equipamenTos rodoviários e agrícolas nas exporTações do seTor de máquinas e equipamenTos

Participação nas exportações

PEEs de máquinas e equipamentos rodoviários e agrícolas Outras PEEs

maior exportador Quatro maiores exportadores Dez pees 30 pees

Participação nas exportações das PEEs do setor de máquinas e equipamento

33% 54% 59% 41%

Participação das exportações do setor de máquinas e equipamento

22% 34% 38% 27%

Fonte: Elaborada a partir de tabulação especial da Funcex e dados da SECEX.

nesse contexto, é lícito assumir que a importância das exportações para as pEEs de máquinas e equi-pamentos, sugerida pelo percentual de 38% associado a esse setor, reflete, em grande medida, a rea-lidade dos grandes exportadores de máquinas e equipamentos rodoviários e agrícolas.

As subsidiárias de produtores mundiais de máquinas e equipamentos rodoviários e agrícolas implanta-ram-se no Brasil a partir de meados do século passado com o objetivo de participar de mercados em expansão, em decorrência, em um caso, dos elevados investimentos governamentais em infraestrutu-ra, notadamente rodovias e hidrelétricas, e, no outro, do crescimento e sofisticação do setor agrícola, notadamente do seu segmento voltado para a exportação. A presença dos produtores estrangeiros pró-ximos a esses mercados era induzida pela existência de barreiras tarifárias significativas, mas também pelas vantagens competitivas decorrentes dessa proximidade em mercados nos quais a assistência pós-venda é critério relevante na escolha do fornecedor.

Page 67: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

65

O crescimento desse mercado propiciou aumento da escala de operação dos produtores de máqui-nas e equipamentos rodoviários e agrícolas instalados no país, bem como induziu a constituição de um segmento de produtores locais de peças e componentes, consolidando a implantação das duas indústrias no país. As perspectivas de longo prazo favoráveis do mercado brasileiro desses produtos não excluem, no entanto, as flutuações de curto prazo da demanda, o que propicia a utilização da ca-pacidade produtiva instalada para exportar. Essa atividade exportadora intermitente, comum a outros setores industriais, induziu, no entanto, nesse caso, algumas empresas multinacionais a atribuir às subsidiárias brasileiras um papel mais permanente no atendimento de mercados nacionais específi-cos, e mesmo do mercado doméstico da própria matriz. Há pelo menos um caso em que a empresa multinacional concentrou no Brasil sua produção de uma linha de produto — motoniveladoras.

não se dispõe de informações relativas ao destino das exportações das pEEs do setor de máquinas e equipamentos. Contudo, no caso das pEEs de máquinas e equipamentos rodoviários e agrícolas, o peso dessas empresas permite que se analise esse destino com base nas estatísticas relativas às ex-portações desses produtos (posições 84.29 e 84.33 da TEC).

Esses resultados indicam que a distribuição geográfica das exportações de máquinas rodoviárias é bastante diversificada e estável nos dois triênios considerados. A participação da América Latina é da ordem de 40%, percentual relativamente próximo ao relativo à América do norte; a parcela restante se distribui de forma razoavelmente uniforme entre as demais regiões. As exportações de máquinas agrícolas estão mais concentradas na América Latina (75%), mas sua distribuição geográfica é igual-mente estável.

Tabela 25: disTribuição geográFica das exporTações de máquinas e equipamenTos rodoviários e agrícolas (1)

(2005-2012)

Máquinas e equipamentos rodoviários Máquinas e equipamentos agrícolas

2005-07 2010-12 taxa (2) 2005-07 2010-12 taxa (1)

América

Latina37,5 42,1 9,70% 75 73,5 7,80%

Mercosul 9,9 9,2 5,80% 55,6 49,8 5,80%

ALADI 24,8 31,1 12,20% 16,6 20,9 13,20%

Estados Unidos

e Canadá 28,1 22,8 2,90% 4,2 5,5 14,10%

União

Europeia 7,5 5,9 2,40% 8,4 4,6 -4,20%

Ásia 4,4 4,5 7,50% 1 6,5 56,20%

Oriente Médio 8 8,3 7,90% 0,7 0,9 16,30%

África 6,1 6,7 9,30% 6,3 4,8 2,60%

Demais 8,4 9,7 10,30% 4,5 4,1 6,60%

Total 100 100 7,20% 100 100 8,20%

(1) Posições 84.29 e 84.33 da TEC.(2) Taxa de crescimento do valor médio das exportações nos dois triênios, anualizada com referência nos anos intermediários de cada triênio

Fonte: MDIC, Secretaria de Comércio Exterior, Aliceweb

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 68: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

66 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

A queda do peso das exportações no valor da produção do setor de máquinas e equipamentos aponta-da anteriormente não parece decorrer de uma mudança de política dos produtores estrangeiros, cujas exportações, aliás, cresceram significativamente no último triênio. vale notar que o mercado brasileiro continua atraindo investidores externos: um produtor sul-coreano acaba de entrar no país e há perspec-tivas de inversões de produtores chineses.

nesse contexto, embora a entrada dos produtores estrangeiros de máquinas e equipamentos rodo-viários e agrícolas no Brasil certamente reflita uma market-seeking strategy, as subsidiárias brasileiras parecem cumprir hoje uma nova função nas estratégias de algumas empresas multinacionais.

não por acaso essa inflexão ocorre nesse segmento da indústria de bens de capital. Como se men-cionou anteriormente, ela está associada ao fluxo elevado de investimentos governamentais em in-fraestrutura e à forte e continuada demanda do setor agrícola, que propiciaram escalas expressivas de produção desses bens e a constituição de um segmento de produtores locais de peças e componentes, consolidando a implantação das duas indústrias no país. Essas demandas refletem, por sua vez, certas características do país e de sua economia, notadamente sua dimensão territorial e sua dotação de re-cursos naturais, que, de um lado, propiciaram a constituição do forte setor agrícola-exportador operando em condições favoráveis à mecanização e, de outro, exigiram a construção de extensa malha rodoviária para assegurar a integração territorial e possibilitaram, por muitas décadas, suprir a demanda de energia elétrica do país a partir de seus recursos hídricos.

Observe-se, por fim, que a razão entre as importações e as exportações das pEEs do setor de má-quinas e equipamentos cresce ao longo do período. Em face da inexistência de informações sobre a composição das importações das pEEs, não é possível identificar o significado desse aumento relativo das importações. uma hipótese é que ele reflita a substituição de matérias-primas, parte e componentes adquiridos no país por produtos importados, o que poderia indicar uma maior integra-ção das subsidiárias brasileiras do setor em cadeias globais de valor das empresas multinacionais. O custo elevado de alguns insumos nacionais utilizados na indústria poderia estimular esse movi-mento, que resultaria em maior competitividade da subsidiária brasileira no mercado internacional. A exigência de conteúdo local na concessão de financiamentos dos bancos públicos constitui, no entanto, em face da importância do mercado doméstico para essas empresas, um obstáculo a essa evolução.

4.2.5.2 os setores em Que as exportações Dos granDes exportaDores estrangeiros Variaram significatiVamente no períoDo recente

equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos

As pEEs respondem por 80% das exportações do setor de equipamentos de informática (o maior percentual entre os nove setores analisados). A participação das exportações no valor da produção dessas pEEs nunca representou uma parcela muito expressiva (25% em 2007), mas experimentou queda de 15 pontos de percentagem até 2011, queda que ocorre basicamente em 2010 e 2011. A forte redução de suas exportações em 2012 (ano para o qual não se dispõe de informação sobre o valor da produção) sugere que essa participação nesse ano deve ser inferior aos 10% do ano anterior.

Os produtores de celulares, suas partes e componentes respondem por 80% do valor das expor-tações das pEEs do setor de equipamentos de informática nos anos iniciais do período analisado. nesse sentido, os resultados associados anteriormente às pEEs do setor refletem basicamente o desempenho e a evolução dessas exportadoras de celulares.

Os investimentos para produção de celulares no Brasil tiveram por objetivo o atendimento do cres-cente mercado doméstico, utilizando basicamente partes e componentes importados (a pequena

Page 69: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

67

parcela de itens de produção local restringiu-se ao necessário para atender aos requisitos da políti-ca de incentivo à produção local). A redução das importações de celulares decorrente da expansão da produção doméstica foi acompanhada do crescimento dos gastos com importação de partes e componentes.

Houve, no entanto, intenção de parte dos produtores estrangeiros de utilizar a base produtiva ope-rando no Brasil para suprir a demanda de países latino-americanos. Em decorrência disso, as ex-portações de celulares alcançaram o valor de uS$ 2,2 bilhões em 2008; a quantidade de aparelhos exportados nesse ano correspondeu a 36% da produção local. Essas exportações concentravam-se nos países do mercosul (60%) e nos demais países da Aladi (25%), com uma parcela de 10% des-tinada aos Estados unidos.

Esse quadro se altera em 2009, quando as exportações caem 35%. A contração das exportações se acentuou nos anos seguintes, e em 2013 o valor das exportações de celulares correspondia a 7% do valor alcançado em 2008. O declínio foi mais acentuado, nesse primeiro ano, nas vendas para os países da Aladi e Estados unidos, mas, nos anos seguintes, atingiu mais fortemente as exportações para o mercosul, que absorveu apenas 3% das exportações brasileiras em 2013.

Tabela 26: exporTações, imporTações e produção brasileira de TeleFones para redes celulares

(2007-2013)

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

exportação (1)

Valor (US$ milhões) 1.930,90 2.207,20 1.432,80 1.007,30 538 264,4 153,7

Quantidade (milhões) 21,5 24,6 16,3 13,2 7,4 3,4 1,9

Valor unitário (US$) 89,6 89,8 87,9 76,5 72,9 77 81,2

Destino das exportações (percentagem) (1)

América Latina 86,1 87,7 85,1 91,5 94,3 79,5 63,6

Mercosul 60,9 58,3 63,5 67 64 21,6 3,4

Aladi 22,4 26,7 18,1 22,4 29 57,5 59,9

Estados Unidos 12,6 10,1 8,6 5,3 3,6 12,9 15,8

importação (1)

Valor (US$ milhões) 374,6 59,5 469,8 562 964,7 426,9 565,7

Quantidade (milhões) 4,7 0,7 4 7,3 15,7 16,8 11,9

Valor unitário (US$) 80,1 83,2 118,1 77,5 61,3 25,4 47,6

produção

Quantidade (milhões) 68,8 66,5 55,8 57,6 60,8 ... ...

Fontes: MDIC, Secretaria de Comércio Exterior, Aliceweb; IBGE, Pesquisa Anual da Indústria Produto.

Posição 85.17 da TEC.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 70: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

68 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Embora a queda das exportações coincida com a crise de 2008, o declínio tem causas próprias. Em primeiro lugar, resulta da expansão da produção local de alguns países da América do Sul, notada-mente venezuela e Argentina, decorrente de políticas e incentivos implementados pelos respectivos governos. por outro lado, a disseminação mais rápida dos smartphones afetou, no curto prazo, a capacidade de exportação das subsidiárias instaladas no Brasil. é interessante observar que as im-portações de celulares crescem acentuadamente e que a produção doméstica declina no período 2009-2011 (em 2013, no entanto, a produção de smartphone já superou a de celulares tradicionais). Além disso, a elevação dos custos de produção nos últimos anos afetou a competitividade da indús-tria brasileira; para pelo menos uma empresa, sua planta no méxico passou a ser o fornecedor de celulares para a América Latina.

A integração, como etapa produtiva final, das subsidiárias brasileiras de alguns produtores mundiais de celulares em cadeias globais de valor voltadas para o mercado latino-americano resultou, assim, em experiência de curta duração. Embora o efeito do processo de inovação tecnológica da indústria possa eventualmente ser superado com a consolidação da produção de smartphones no Brasil (se os custos de produção local do novo produto não forem um impedimento), o obstáculo decorrente de políticas industriais nacionais parece mais difícil de se superar no atual cenário político e econômico da região.

produtos farmacêuticos

A produção da indústria farmacêutica do país está voltada basicamente para a formulação de medicamentos (produtos originais e genéricos), a partir de princípios ativos importados (a produ-ção local de princípios ativos é estimada em apenas cerca de 4% da demanda doméstica). Essa produção tem como foco o mercado interno.

As exportações das 14 pEEs do setor — que correspondem a 12 grupos multinacionais — experi-mentaram uma rápida expansão nos últimos anos, alcançando uma taxa média anual de 25% no período 2007-2012, bastante superior à média do setor. por conseguinte, a participação das pEEs nas exportações do setor aumentou de 60% no triênio 2005-2007 para 78% no último triênio da série. Embora não se disponha de informações sobre a composição do valor das exportações das pEEs, a quase totalidade dos principais itens exportados é constituída por medicamentos.31

As exportações das pEEs correspondem ainda a uma parcela pouco expressiva de sua produção (23% em 2011), parcela, no entanto, significativamente superior à registrada em 2007 (15%).

As importações das pEEs experimentaram também expansão significativa, crescendo a uma taxa média anual de 18% entre 2005 e 2012, taxa, no entanto, inferior ao crescimento das expor-tações. A razão importação/exportação dessas empresas caiu, em consequência, de 332% no triênio 2005-2007 para 268% em 2010-2012. As importações das pEEs do setor compreendem, além dos princípios ativos utilizados em sua produção, medicamentos produzidos pela matriz ou por outras subsidiárias. variações nessas importações refletem, assim, não apenas o volume de insumos demandados pela produção da empresa, mas também sua política comercial, em par-ticular a introdução de novos produtos no mercado e a substituição de produção local por perda de competitividade.

não se dispõe de informações relativas ao destino das exportações. Contudo, o peso das pEEs nas exportações do setor permite que se analise esse destino com base nas estatísticas relativas às exportações dos produtos farmacêuticos (capítulo 30 da TEC).

31 Incluídos no capítulo 30 da TEC, principalmente na posição 30.04 - Medicamentos constituídos por produtos misturados ou não misturados, preparados para fins terapêuticos ou profiláticos, apresentados em doses ou acondicionados para venda a retalho.

Page 71: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

69

Tabela 27: disTribuição geográFica das exporTações de produTos FarmacêuTicos (1) (2007-2012)

2007 2008 2009 2010 2011 2012

Destino das exportações (percentual)

América Latina 70 66,8 58,5 50,6 50,2 52,2

Mercosul 19,6 17,3 16,4 14,7 14 12,9

Aladi 47,6 47,1 40,7 34,4 34,7 38

Estados Unidos e Canadá 13,5 12,3 11,6 11,2 11,1 10,5

União Europeia 10,5 13,9 20,9 25,7 28 25,1

Ásia (excl. Oriente Médio) 2 3 4,4 6,8 5,2 6

Demais países 4 4 4,4 5,8 5,5 6,1

Valor das exportações (us$ milhões)

Total das PEEs 745,7 961,5 1.078,60 1.276,20 1.453,30 1.494,80

Fonte: MDIC, Secretaria de Comércio Exterior, Aliceweb

(1) Capítulo 30 da TEC.

Essas estatísticas indicam que o crescimento do valor das exportações das pEEs foi comum a todas as regiões até 2011, registrando-se um pequeno declínio também generalizado em 2012, que é, no entanto, mais do que compensado com o significativo aumento das exportações para os países da Aladi. do ponto de vista da importância dos diversos mercados para as pEEs, constata-se, porém, uma redução na concentração na América Latina, cuja participação cai de 70% para 52% entre 2007 e 2012, e também um pequeno declínio nas vendas para a América do norte. Em contrapartida, a participação da união Europeia aumenta de 10% para 25% no mesmo intervalo.

Resta por explicar o significado, do ponto de vista das estratégias das empresas multinacionais farma-cêuticas com subsidiárias no Brasil, do forte crescimento das exportações de medicamentos nos últi-mos anos, associado a um aumento de 15 pontos de percentagem da participação da união Europeia nesse fluxo e a um declínio de 18 p.p. na participação da América Latina.

IED E cOMéRcIO ExTERIOR

Page 72: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 73: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

71

O Brasil está entre os países que mais aumentaram sua participação nos fluxos de investimentos diretos recebidos no pós-crise. Ainda assim, nos últimos dois anos (2012-2013) observa-se uma pe-quena retração no ingresso de IEd no país, o que pode sinalizar uma interrupção no fluxo de forte expansão que vinha se mantendo desde 2006. Essa retração deu-se com maior intensidade nos investimentos direcionados à indústria de transformação, e esta contração esteve concentrada em al-guns segmentos com peso importante na composição do IEd no Brasil: metalurgia, produtos alimen-tícios e bebidas. Esses são setores com coeficientes de exportação relativamente elevados para os padrões brasileiros e nos quais os investimentos estrangeiros têm desempenhado papel importante em termos de sua contribuição para o desempenho exportador do país.

A experiência internacional sugere que os investimentos diretos estrangeiros são importantes indu-tores de inserção no comércio mundial para os países em desenvolvimento. Essa constatação tem motivado a adoção de políticas de atração de investimentos em diversos países em desenvolvimento. O processo de organização da produção em cadeias globais de valor aumentou o interesse nessas políticas, uma vez que os países em desenvolvimento veem na atração de investimentos diretos uma ferramenta para aumentar a captura do valor adicionado e melhorar o perfil de sua inserção no comércio internacional.

Entretanto, a contribuição dos capitais estrangeiros para a melhora do desempenho comercial do país receptor depende da combinação entre a motivação do investidor estrangeiro para realizar determinada inversão e as características do país receptor do investimento. no caso do Brasil, observa-se que os investimentos estrangeiros estão, em sua maioria, voltados para a exploração de recursos naturais ou para o aproveitamento do relevante mercado doméstico. Inversões motivadas pelo acesso a recursos baratos e/ou estratégicos tendem a gerar comércio. mas aqueles estimulados pelo acesso a um mer-cado nacional abrangente e relativamente protegido têm impacto relativamente reduzido sobre expor-tações e, algumas vezes, tendem a aumentar as importações.

O exame do fluxo de comércio associado ao investimento estrangeiro no Brasil para o período 2005-2012, realizado nesse estudo, com foco em nove setores industriais que responderam por 78% dos investimentos direcionados à indústria de transformação no triênio 2010-2012, mostrou que, de fato, as empresas multinacionais dão uma contribuição relevante para as exportações bra-

5. cONcLuSõES

Page 74: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

72 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

sileiras. As 179 empresas estrangeiras selecionadas respondem por 61% do valor total das expor-tações dos nove setores analisados.

As multinacionais respondem por parcelas significativas da atividade exportadora de seus respectivos setores na

grande maioria dos casos analisados. Em quatro setores, as empresas estrangeiras responderam pela quase totalidade da amostra de 80% do valor exportado pelas empresas do setor: equipa-mentos de informática, veículos automotores, produtos farmacêuticos e máquinas e equipa-mentos. Em três setores – metalurgia, máquinas e materiais elétricos e produtos de minerais não metálicos – a participação das multinacionais está próxima a 60%. Em dois setores – pro-dutos alimentícios e químicos – as nacionais respondem pela maior parcela das exportações.

Em termos do seu desempenho recente, também é relevante notar que as exportações das empresas estrangeiras atuando em oito dos nove setores selecionados cresceram no período 2005-2012. por outro lado, registra-se uma queda importante das exportações das empresas estrangeiras do setor de equipamentos de informática, que já haviam interrompido seu cres-cimento antes da crise e a partir de 2008 apresentam declínio contínuo. Ainda assim, a parti-cipação das empresas estrangeiras nas exportações do setor cresceu ou ficou estável, como é o caso do setor do setor de informática.

O crescimento das exportações das empresas estrangeiras dos nove setores selecionados foi acompa-nhado de aumento de suas importações. A evolução relativa desses dois fluxos se reflete na trajetória da razão entre importações e exportações, que aumenta de 62% para 89% entre 2005 e 2008, estabi-lizando-se nesse nível até 2011, para alcançar 93% em 2012.

Apesar de sua contribuição expressiva para as exportações brasileiras, as empresas estrangeiras atuan-do nos nove setores selecionados estão principalmente voltadas para o mercado doméstico. Com poucas exceções, o mercado externo absorve menos de um terço da produção dessas empresas. mais relevante do que isso, essa participação declinou significativamente desde 2007 em cinco dos setores considerados. Esse cenário reflete o papel subsidiário que o mercado externo desempenha na atuação das subsidiárias das empresas multinacionais no país.

A dinâmica da atuação das empresas estrangeiras no comércio exterior no Brasil reflete principalmente as características estruturais da economia brasileira. Em setores intensivos em recursos naturais, como é o caso de metalurgia e produtos alimentícios, as exportações são relevantes para essas empresas, absorvendo parcela significativa de sua produção. nesse sentido, cabe afirmar que, embora o mercado doméstico tenha relevância para as empresas, a atividade exportadora não é mero complemento desse mercado, mas constitui elemento central de suas estratégias de atuação no país.

Já nos outros setores analisados, o tamanho do mercado interno e o crescimento da demanda domés-tica nos últimos anos têm papel preponderante na atração e nas estratégias de atuação das empresas no Brasil. nesses casos, embora as multinacionais continuem tendo maior propensão a exportar que as empresas nacionais atuando nos mesmos setores, o componente market-seeking é predominante nas suas estratégias para o país.

Page 75: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

73

REFERêNcIAS

dE nEGRI, F. Desempenho comercial das empresas estrangeiras no Brasil na década de 90. Rio de Janeiro: BndES, 2004. 26º prêmio BndES de Economia, 2004.

dunnInG, J. H. Multinational enterprises and the global economy. Reading, Wokingham: Addison Wesley publishing Company, 1993.

EKHOLm, K.; FORSLId, R.; mARKuSEn J. R.Export-platform foreign direct investment. 2003. (nBER Working paper Series, 9517). disponível em: <http://www.nber.org/papers/w9517>. Acesso em: 20 maio 2014.

ExAmE. Mellhores & Maiores: as 100 maiores empresas do Brasil. Jul. 2013. Edição especial de 40 anos.

FERnAndES, E. A.; CAmpOS, A. C. Investimento direto estrangeiro e o desempenho das exportações brasileiras. Revista de Economia Política, v. 28, n. 3 (111), p. 490-509, jul.-set. 2008.

HAnSOn, G. H.; mATALOnI, R. J.; SLAuGHTER, m. J. Expansion strategies of u.S. multinational firms. In: ROdRIK, dani; COLLInS, Susan (Eds.). Brookings trade forum. 2001.

HARdInG, T.; JAvORCIK, B. S. FdI and export upgrading. Discussion Paper Series, n. 526, jan. 2011. department of Economics. university of Oxford.

HIRATuKA, C. Foreign direct investment and transnational corporations in Brazil: recent trends and impacts on economic development. Working Group on development and Environment in the Americas, 2008.

HIRATuKA, C.; dE nEGRI, F. Influencia del origen del capital sobre los patrones del comercio exterior brasileño. Revista de la CEPAL, n. 82, abr. 2004.

LApLAnE, m. F. et al. El caso brasileño. In: CHudnOvSKY, d. (Ed.). El boom de las inversiones ex-tranjeras directas en el MERCOSUR. Buenos Aires: Siglo xxI, 2001.

LIpSEY, R. E. Foreign direct investment and the operations of multinational firms: concepts, history, and data. In: HARRIGAn, James (Ed.). Handbook of international economics. Oxford: Blackwell, 2000.

Page 76: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

74 INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

______. Home and host country effects of FDI. 2002. (nBER Working paper Series, 9293). disponível em: <http://www.nber.org/papers/w9293>. Acesso em: 20 maio 2014.

LIu, x.; WAnG, C.; WEI, Y. Causal links between foreign direct investment and trade in China. China Economic Review, n. 12, p. 190-202. 2001.

mOREIRA, m. m. Investimentos Estrangeiros em uma economia aberta: impactos recentes sobre produtividade, concentração e comércio exterior. In: GIAmBIAGI, F.; mOREIRA, m. m. (Orgs.) A Econo-mia Brasileira nos Anos 90. Rio de Janeiro: BndES, 1999.

RIBEIRO, E. J.; SILvA FILHO, E. B. da. Investimento externo direto no Brasil no período 2003-2012: as-pectos regionais e setoriais. Boletim de Economia e Política Internacional, n. 14, p. 29-46. Ipea. 2013

RuAnE, F.; GÖRG, H. (1999). Irish FdI policy and Investment from the Eu. In: BARRELL, Ray; pAIn, nigel (Eds.). Innovation, investment and the diffusion of technology in Europe. Cambridge: Cam-bridge university press, 1999. p. 44-67.

SHARmA, K. Export growth in India: has FDI played a role? [Yale]: Yale university, 2000. (Center discussion paper, 816).

SRInIvASAn, T. n. India's Export performance: A Comparative Analysis. In: AHLuWALIA, I. J.; LITTLE, I. m. d. (Eds.). India's economic reforms and development essays for Manmohan Singh. delhi: Oxford university press, 1998.

unITEd nATIOnS COnFEREnCE On TRAdE And dEvELOpmEnT. Investment Advisory Series. Ge-neva, Series A, n. 4, 2009.

______. World investment report. Global value chains: investment and trade for development. Ge-neva: united nations, 2013.

vALOR. Valor 1000 maiores empresas e as campeãs em 25 setores e 5 regiões. Ano 13, n. 13, ago. 2013.

WAnG, Zhi; HAnG-JIn, Wei. What accounts for the rising sophistication of China’s EXPORTS? 2008. (nBER Working paper, 13771.).

ZHAnG, K.H.; mARKuSEn, J. R. vertical multinationals and host-country characteristics. Journal of Development Economics, n. 59, p. 233-252, 1999.

Page 77: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 78: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

Unidade de Negociações Internacionais – NEGINTSoraya RosarGerente-Executivo

Fabrizio Sardelli PanziniDaniel Rabelo AlanoIana SilvestreBruno MoraesEquipe Técnica

DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO – DIRCOM

Carlos Alberto BarreirosDiretor de Comunicação

Gerência Executiva de Publicidade e Propaganda – GEXPP

Carla GonçalvesGerente Executiva

Armando UemaProdução Editorial

DIRETORIA DE SERVIÇOS CORPORATIVOS – DSC

Fernando Augusto TrivellatoDiretor de Serviços Corporativos

área de Administração, Documentação e Informação – ADINF

Maurício Vasconcelos de CarvalhoGerente-Executivo de Administração, Documentação e Informação

Gerência de Documentação e Informação – GEDIN

Mara Lucia GomesGerente de Documentação e Informação

Alberto Nemoto YamagutiRevisão Pré e Pós-Textual

________________________________________________________________

Eduardo Guimarães, Sandra Rios e Pedro da Motta VeigaElaboração

Roberto Azul | MC&G Gráfca & DesignRevisão Gramatical

Soraya Lacerda | CRB1 – 1320 | MC&G Gráfica & DesignNormalização

ShutterstockImagens

DUO DesignProjeto Gráfico

MC&G Gráfca & DesignEditoração Eletrônica

Page 79: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,
Page 80: INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO …...TAbELA 7 - Fluxos EstImaDos DE IDE rECEBIDo No muNDo, Por sEtor DE atIvIDaDE..... 29 TAbELA 8 - INvEstImENto EstraNgEIro DIrEto No BrasIl,

Brasília2014

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS DIRETOS NO BRASIL 2013

Fluxos recentes de IED e sua contribuição para o comércio exterior no Brasil