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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior. A evolução dos investimentos diretos de empresas gaúchas no exterior Beky Moron de Macadar * INTRODUÇÃO Grande parte dos investimentos diretos no exterior (IDEs) é realizada pelos países desenvolvidos; no entanto, há evidências de que empresas originárias dos países em desenvolvimento (PEDs) e das economias em transição 1 estão tendo uma presença internacional cada vez maior em função do seu crescimento acelerado durante as duas últimas décadas. Apenas entre 2003 e 2008, a saída de IDEs desse grupo de países passou de US$ 56,2 bilhões para US$ 351 bilhões, destacando- se no conjunto a expansão Sul-Sul das transnacionais dos PEDs. O estoque de IDEs desses países atingiu US$ 1,9 trilhão em 2007, o que representava 11,9% do total mundial (WIR, 2009). As fusões e aquisições (F&A) transfronteiras configuram outro indicador do crescimento dos IDEs. As F&A converteram-se em um importante meio para ingressar em outro país, e essa modalidade também está sendo utilizada pelas transnacionais dos PEDs e das economias em transição. Entretanto a crise internacional atual — cujo ápice foi em setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos — teve um impacto negativo sobre os fluxos globais de IDEs. Segundo estimativas da UNCTAD (2010), o fluxo mundial de IDEs caiu 30% em 2009, passando de US$ 1,7 trilhão em 2008 para pouco mais de US$ 1,0 * Técnica da FEE, Economista e Doutora em Administração pelo PPGA da UFRGS. A autora agradece as colegas Sônia U. Teruchkin e Teresinha Bello pelas críticas e sugestões. Erros e omissões remanescentes são de responsabilidade da autora. 1 A UNCTAD considera os países da Europa Sul-Oriental e da Comunidade de Estados Independentes (CEI) como economias em transição (WIR, 2006). O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 160

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

A evolução dos investimentos diretos de empresas gaúchas no

exterior

Beky Moron de Macadar*

INTRODUÇÃO

Grande parte dos investimentos diretos no exterior (IDEs) é

realizada pelos países desenvolvidos; no entanto, há evidências de que

empresas originárias dos países em desenvolvimento (PEDs) e das

economias em transição1 estão tendo uma presença internacional cada

vez maior em função do seu crescimento acelerado durante as duas

últimas décadas. Apenas entre 2003 e 2008, a saída de IDEs desse grupo

de países passou de US$ 56,2 bilhões para US$ 351 bilhões, destacando-

se no conjunto a expansão Sul-Sul das transnacionais dos PEDs. O

estoque de IDEs desses países atingiu US$ 1,9 trilhão em 2007, o que

representava 11,9% do total mundial (WIR, 2009).

As fusões e aquisições (F&A) transfronteiras configuram outro

indicador do crescimento dos IDEs. As F&A converteram-se em um

importante meio para ingressar em outro país, e essa modalidade também

está sendo utilizada pelas transnacionais dos PEDs e das economias em

transição.

Entretanto a crise internacional atual — cujo ápice foi em setembro

de 2008, com a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos — teve

um impacto negativo sobre os fluxos globais de IDEs. Segundo

estimativas da UNCTAD (2010), o fluxo mundial de IDEs caiu 30% em

2009, passando de US$ 1,7 trilhão em 2008 para pouco mais de US$ 1,0

* Técnica da FEE, Economista e Doutora em Administração pelo PPGA da UFRGS. A autora agradece as colegas Sônia U. Teruchkin e Teresinha Bello pelas críticas e

sugestões. Erros e omissões remanescentes são de responsabilidade da autora.1 A UNCTAD considera os países da Europa Sul-Oriental e da Comunidade de Estados Independentes (CEI) como economias em transição (WIR, 2006).

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 160

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trilhão naquele ano. Conforme o World Investment Report de 2009

(WIR, 2009), a perspectiva é a de uma lenta recuperação em 2010 e uma

volta aos níveis de 2008 apenas em 2011.

Os crescentes desinvestimentos das empresas transnacionais no

mundo todo contribuíram para a retração dos fluxos globais de IDE. A

partir de meados de 2008, tais desinvestimentos, seja na forma de

repatriação de investimentos, seja na de reversão de empréstimos entre

empresas do mesmo grupo, ou na de reembolso de dívidas com a matriz,

superaram os fluxos brutos de IDE em vários países. No Brasil, esse

fenômeno começou a manifestar-se em 2009, quando, de janeiro a julho,

os retornos superaram as saídas em US$ 5,4 bilhões.

O objetivo deste artigo é analisar a relevância dos IDEs realizados

pelas empresas gaúchas de capital nacional ao longo das três últimas

décadas, os principais tipos de IDEs, os países de destino e a

funcionalidade desses investimentos para o crescimento da empresa. Para

tanto, além desta Introdução, o artigo conta com três seções e as

Considerações finais. Na primeira seção, analisam-se os motivos para a

expansão internacional dos IDEs. A segunda trata dos IDEs brasileiros e

gaúchos no exterior, com foco na repercussão dos possíveis custos e

benefícios sobre a renda e o emprego nacionais. A terceira descreve

brevemente a inserção externa das empresas gaúchas mais

internacionalizadas. Por último, discutem-se as tendências futuras dos

IDEs de empresas gaúchas e suas possíveis repercussões econômicas.

O artigo tem caráter exploratório de cunho qualitativo, com base em

informações contidas em monografias, estudos de caso, livros e artigos

acadêmicos, anais de congressos, jornais e páginas da web das empresas.

1 MOTIVOS PARA A EXPANSÃO INTERNACIONAL DOS IDES

Quais são os motivos que levam as empresas a realizarem

investimentos diretos no exterior? Os motivos geralmente são diversos e,

muitas vezes, complementares. O tema da internacionalização da firma é O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 161

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tratado tanto na literatura da área da administração e de negócios como

na análise econômica. Na primeira, predomina o modelo

comportamentalista, que considera o processo de internacionalização

como sendo gradual ou evolutivo, e seus maiores expoentes são Johanson

e Vahlne (1977; 2001), da Escola de Uppsala. Na segunda, o paradigma

principal é o da teoria eclética da internacionalização, que utiliza o

conceito de custos de transação para explicar as decisões de

internacionalização da firma, e está associada a Dunning (1979; 2001).

1.1 O modelo comportamentalista da Escola de Uppsala

Para os autores da Escola de Uppsala, a internacionalização da firma

é um processo no qual o envolvimento internacional é gradual. A interação

entre a aquisição de conhecimentos sobre os mercados externos, por um

lado, e o crescente comprometimento de recursos nesses mercados, por

outro, dita a evolução do processo (Macadar, 2009).

Segundo Johanson e Wideersheim-Paul (1975), as firmas seguem

dois padrões nos seus processos de internacionalização. Pelo primeiro

deles, o comprometimento da firma em um determinado país evolui

conforme um processo sequencial, ou seja, inicialmente inexistem

atividades de exportação para aquele mercado; depois, a exportação faz-

se através de representantes independentes; a seguir, através de uma

subsidiária de vendas; e, eventualmente, poderá chegar-se à produção

local. Essa evolução gradativa denota um comprometimento cada vez

maior de recursos relacionado com a aprendizagem e a redução da

incerteza decorrente de um melhor conhecimento do mercado. As formas

organizacionais desse maior envolvimento podem assumir o formato de

joint ventures, licenciamento ou subsidiárias, tanto para o atendimento

comercial como para a produção industrial.

O segundo padrão identificado é que as firmas entram inicialmente

em mercados que apresentam uma menor distância psíquica. A distância

manifesta-se, por exemplo, nas diferenças de idioma, de educação, de O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 162

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cultura, de sistemas políticos, de práticas de negócios e de

desenvolvimento industrial. Por isso, as empresas que se

internacionalizam iniciam o processo preferencialmente naqueles

mercados que mais se assemelham ao país de origem.

Um dos pressupostos subjacentes ao modelo da Escola é que a

internacionalização da firma é uma consequência de seu crescimento.

Quando o mercado interno fica saturado para o produto da firma, as

oportunidades lucrativas para ampliar a produção local diminuem, e a

firma vê-se compelida a buscar novos segmentos de produção ou novos

locais para se expandir. Descartada a expansão vertical, a firma deverá

procurar sua expansão geográfica (Hilal; Hemais, 2001).

Uma das principais críticas à Escola de Uppsala é a de ser muito

determinista, não reconhecendo que uma empresa possa querer manter-

se em um estágio sem avançar para o seguinte, ou que uma empresa faça

uma escolha diferente quanto aos modos de entrada e expansão no

mercado internacional.

1.2 A teoria eclética da internacionalização da firma

A teoria eclética da internacionalização da firma foi desenvolvida

principalmente por Dunning (1979; 1988; 2001) através do seu

paradigma eclético e tenta explicar por que uma empresa toma a decisão

de produzir no exterior. Essa proposta considera que determinadas falhas

de mercado, tais como custos de informação e de transação, oportunismo

dos agentes e especificidades de ativos conduziriam uma empresa a optar

pelo investimento direto no exterior, ao invés de atender a determinado

mercado através de exportações ou licenciamento. No entanto, para a

empresa comprometer-se com um IDE, ela deve contar com vantagens

que a diferenciem de outras firmas. Para Dunning (1979), há três tipos de

vantagens que impulsionam os IDE: as de propriedade, as de

internalização e as de localização.

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Em primeiro lugar, a empresa deve possuir vantagens de

propriedade, as quais geralmente estão relacionadas com ativos

intangíveis, tais como patentes, marcas, capacidades tecnológicas e de

gestão, habilidade para a diferenciação de produtos. Essas vantagens lhe

permitirão enfrentar outros concorrentes no mercado-alvo.

Segundo, deve ser mais favorável para a empresa explorar seus

ativos diretamente do que os vender ou os ceder na forma de

licenciamento para empresas estrangeiras, ou seja, internalizar as

vantagens como parte de suas atividades.

Terceiro, deve ser mais lucrativo para a empresa fazer uso dessas

vantagens em associação com algum fator externo ao país doméstico (por

exemplo, recursos naturais, mão de obra de baixo custo, mercado

protegido), para que seja mais vantajoso produzir no exterior do que

exportar (vantagens de localização).

Para Dunning (2001), os motivos que levam as empresas a instalar

unidades produtivas no exterior podem ser classificados como segue:

a) busca de recursos (resource seeking) - o investimento tem como

objetivo explorar vantagens locacionais de menores custos, tais

como mão de obra mais barata, recursos naturais abundantes, ou

capacidades comerciais e tecnológicas;

b) busca de mercados (market seeking) - o IDE volta-se para o

atendimento do mercado interno do país hospedeiro e,

marginalmente, para a exportação a outros países da região. Esse

tipo de investimento é muito influenciado pelo crescimento dos

mercados locais, pelas barreiras ao comércio, pelos custos do

transporte e pelas semelhanças ou diferenças entre o país de origem

e o país de destino;

c) busca da eficiência (efficiency seeking) - com essa estratégia

procura-se racionalizar os investimentos já realizados,

concentrando a produção para a exportação em alguns mercados,

aproveitando as economias de escala e de escopo e diversificando

riscos. A intenção é explorar racionalmente as diferenças entre os O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 164

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diferentes países hospedeiros quanto a políticas econômicas,

ambiente institucional, benefícios fiscais, fornecedores, etc. Em

um grau mais avançado de internacionalização, a empresa busca

distribuir as várias etapas de sua cadeia produtiva entre países

diferentes que possuam vantagens para a produção de uma fase

específica do processo produtivo;

d) busca de capacidades (asset/capability seeking) - os IDEs são

realizados com base em considerações estratégicas de longo

prazo. Os ativos adquiridos viabilizam, por exemplo, a entrada em

um novo mercado, a ampliação das sinergias comerciais e

tecnológicas ou a redução de custos. As fusões e aquisições

(F&A), por sua vez, podem ampliar o poder de mercado para

enfrentar os concorrentes e aumentar a participação de mercado.

2 OS INVESTIMENTOS DIRETOS BRASILEIROS E GAÚCHOS NO EXTERIOR

2.1 Custos e benefícios da internacionalização de empresas brasileiras

Considerando que uma boa parte do comércio internacional consiste

em comércio intrafirma, o desempenho exportador de um país tenderá a

aumentar, quando suas empresas instalam subsidiárias no exterior. A

influência das subsidiárias nas exportações da matriz é exercida de

diversas maneiras, tais como vincular-se com canais de comercialização,

adaptar os produtos às demandas de mercados específicos, ampliar

mercados, facilitar o acesso a fontes de recursos financeiros mais baratos,

ou absorver tecnologias não disponíveis no mercado interno (De Negri;

Salerno; Castro, 2005).

Apesar dos benefícios possíveis da internacionalização através dos

IDEs, existe o receio de que o estabelecimento de subsidiárias no exterior

gere empregos em outros países, em detrimento da geração de empregos

no próprio país. Por esse motivo, no caso do Brasil, é importante analisar

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 165

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os resultados de pesquisas que investigaram alguns aspectos do impacto,

na economia brasileira, dos investimentos diretos do País no exterior.

Arbix, Salerno e De Negri (2004) demonstram que os investimentos

diretos de empresas brasileiras com unidades no exterior, cuja principal

fonte de informação para a inovação origina-se nessas unidades, têm um

efeito positivo no desempenho exportador. A pesquisa conclui que as

empresas internacionalizadas com foco na inovação pagam melhores

salários, empregam pessoas com maior escolaridade e,

consequentemente, geram empregos de melhor qualidade. Além disso,

utilizam uma proporção mais elevada de recursos em treinamento da mão

de obra em relação ao faturamento, contribuindo, assim, para a maior

qualificação da mão de obra doméstica.

Há evidências de que a inovação tecnológica está positivamente

relacionada com o crescimento da firma (Arbache, 2005). Assim sendo, as

firmas que utilizam IDEs para ampliar seus mercados no exterior teriam

maiores possibilidades de expansão e crescimento, já que a

internacionalização facilita a captação de inovações tecnológicas no

exterior, as quais são repassadas e absorvidas pela matriz e, inclusive,

difundidas às filiais domésticas. Desse modo, o crescimento da firma no

exterior aumenta seu potencial de geração de empregos no mercado

interno, e a geração de empregos no exterior pode ocorrer de forma

simultânea com a ampliação de empregos no Brasil.

De Negri, Salerno e Castro (2005) mostram que o faturamento

médio das firmas brasileiras com IDE supera não só o das demais firmas

brasileiras, mas, também, o das subsidiárias das empresas transnacionais

industriais instaladas no Brasil. Isso é atribuído à escala de produção

obtida pelas firmas nas indústrias onde o Brasil tem vantagens

comparativas, tais como celulose, metalurgia, siderurgia e petroquímica. A

escala constitui um ativo específico de algumas firmas industriais

brasileiras que incursionam no exterior e facilita a captação de recursos,

pois o peso de seus ativos serve de garantia para o financiamento dos

novos investimentos. O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 166

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Pesquisa conduzida por Arbix, Salerno e De Negri (2005) confirma a

hipótese de que há uma relação entre a inovação tecnológica, a

internacionalização das firmas industriais brasileiras e a obtenção de

preço-prêmio nas exportações. O preço-prêmio consiste no valor adicional

que a firma consegue cobrar pelo seu produto exportado, quando

comparado ao preço obtido pelos demais exportadores domésticos do

setor. Ou seja, há evidências de que a inovação tecnológica de produto

novo para o mercado produz ativos específicos, que possibilitam a

internacionalização da empresa e a obtenção de preço-prêmio por suas

exportações. Entretanto há diferenças entre os mercados de destino. Para

o total das exportações brasileiras e para os mercados da América Latina,

a relação entre internacionalização via IDE e preço-prêmio nas

exportações não foi significativa. Já, para as firmas brasileiras com IDE

nos mercados dos Estados Unidos e da Europa, as chances de exportar

com preço-prêmio são maiores.

A explicação dessa diferença estaria em que as firmas brasileiras

acumulam ativos específicos em setores mais relacionados com a maior

disponibilidade de recursos naturais e mão de obra. Nesses segmentos

industriais, a capacidade de diferenciação de produto e inovação da firma

tende a ser menor, e o que determina sua internacionalização são a escala

de produção e a capacidade de produzir produtos padronizados de menor

custo e preço. Nos mercados dos países desenvolvidos, a exposição das

firmas a demandas de consumidores mais exigentes e o enfrentamento

com outras firmas concorrentes provocam a adequação dos produtos às

novas condições, acarretando uma maior diferenciação e melhorias na

qualidade.

Algumas consequências indiretas da internacionalização de

empresas brasileiras dizem respeito ao efeito-demonstração, à projeção

externa da cadeia de valor e à criação e consolidação da marca Brasil

(Frischtak, 2008). O efeito-demonstração para outras empresas do

mesmo setor é um tipo de externalidade não desprezível que se difunde O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 167

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entre os concorrentes locais, principalmente em um contexto de limitada

experiência internacional. Já a projeção externa da cadeia de valor ocorre

quando os fornecedores de insumos acompanham a empresa

internacionalizada, instalando subsidiárias nas mesmas localidades que o

cliente. Da mesma forma, as transnacionais brasileiras têm um papel

muito importante, ao contribuir para tornar a marca Brasil conhecida e

consolidada no exterior.

Outro benefício das empresas brasileiras com IDE — principalmente

daquelas com ações cotadas em bolsas internacionais — é o acesso a

recursos financeiros de mais longo prazo e a taxas de juros mais baixas

do que no mercado interno. Esses recursos, muitas vezes, são os que

permitem o crescimento da firma e as economias de escala indispensáveis

para enfrentar os concorrentes no mercado internacional.

Entretanto os IDE podem apresentar efeitos indesejados, quando

ocorre uma “transnacionalização espúria” (Frischtak, 2008, p. 24), ou

seja, em vista dos elevados custos sistêmicos para produzir no Brasil,

relacionados à infraestrutura física, à incerteza regulatória, à

complexidade do regime tributário, à elevada carga tributária, ao custo do

trabalho qualificado, dentre outros, as empresas desativam suas plantas

industriais no Brasil e deslocam suas operações para outros países.

2.2 Os investimentos diretos brasileiros no exterior

O surgimento das multinacionais de países emergentes é uma

sequência natural da expansão das exportações daqueles países, uma vez

que, num mundo globalizado, a experiência adquirida na fase exportadora

e as novas formas de organizar a produção estimulam o acesso a novos

mercados e ativos. O Brasil conta com um conjunto crescente de

empresas cujo processo de expansão internacional tem como principal

motivação a necessidade de sustentar e acelerar o seu crescimento. Ao

que tudo indica, esse movimento tem fortalecido as empresas e

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 168

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proporcionado ganhos de produtividade, avanço tecnológico, bem como

vantagens no custo e na estrutura do capital (Frischtak, 2008).

De acordo com dados registrados no Censo de Capitais

Brasileiros no Exterior, elaborado pelo Banco Central do Brasil, o

estoque de investimentos diretos brasileiros no exterior atingiu, no ano de

2007, o valor de US$ 103,9 bilhões, dos quais US$ 28,5 bilhões na forma

de empréstimos intercompanhias. Considerando que, no Balanço de

Pagamentos brasileiro de 2008, constam IDEs líquidos do Brasil de US$

20,5 bilhões naquele ano (Bacen, 2009), o estoque total, no final de 2008,

estaria no patamar de US$ 124,4 bilhões.

A partir da década de 90, as saídas de IDEs brasileiros cresceram

significativamente no País. Assim sendo, o Brasil consolidou-se, na

primeira década deste século, como a principal fonte latino-americana de

investimentos diretos, porém apresentando bruscas oscilações nos anos

recentes.

Os paraísos fiscais prevalecem como primeiro destino do IDE

brasileiro, principalmente as ilhas Cayman, Virgens Britânicas e Bahamas,

o que é explicado pelos benefícios financeiros obtidos nesses locais.

Contudo a circulação de IDEs que utilizam a intermediação de paraísos

fiscais dificulta a elaboração de estatísticas do volume real de

investimentos realizados em cada país e por cada empresa. Como mais da

metade do estoque de IDEs brasileiros foi direcionado para esses destinos,

presume-se que boa parte desses investimentos foi redirecionada para

outros países. Levando-se em conta outras fontes de informação, além do

Censo de Capitais, conclui-se que algumas economias latino-

americanas, assim como os Estados Unidos, destacam-se como os

principais receptores de IDEs brasileiros.2

2 No que diz respeito ao ramo de atividade da empresa receptora dos investimentos diretos brasileiros declarado por sua primeira destinação, o Censo de Capitais de 2007 registra uma concentração de 89,4% no Setor Terciário, onde as atividades de serviços financeiros (US$ 40,5 bilhões), serviços de escritório, de apoio administrativo e outros serviços prestados às empresas (US$ 7,9 bilhões) e outras atividades profissionais, científicas e técnicas (US$ 6,6 bilhões) respondem por 73,0% do total do investimento direto (Bacen, 2009).

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O investimento direto no exterior envolve a aquisição e a construção

de ativos no exterior, sejam estes para apoiar a estrutura de produção e

venda desde o país de origem (centros de distribuição, centros de serviços

pós-venda, centros de distribuição, escritórios comerciais, centros de

P&D), seja para instalar linhas de produção adicionais (plantas próprias,

joint-ventures com empresas estrangeiras, aquisição de empresas

estrangeiras).

De todas as empresas brasileiras com IDE, apenas três delas

figuram na lista das 100 maiores empresas transnacionais de países em

desenvolvimento compilada pela UNCTAD: Petrobrás, Companhia Vale do

Rio Doce (CVRD) e Gerdau. Da América Latina, além das brasileiras,

somente constam na lista outras cinco mexicanas e uma venezuelana,

enquanto a grande maioria é asiática (WIR, 2009). Ou seja, a presença

internacional das transnacionais latino-americanas e das brasileiras, em

particular, ainda é muito limitada.

O Brasil tem, atualmente, uma baixa relação entre o estoque de

investimento no exterior e o produto interno bruto, e, embora essa

relação seja crescente, sua evolução ainda é mais lenta do que no caso da

média dos países em desenvolvimento, principalmente os asiáticos.

Pesquisa realizada por Iglesias e Veiga (2002) confirma a

importância do setor serviços nos investimentos realizados pelas

empresas exportadoras brasileiras de capital nacional com investimento

direto no exterior. Para o conjunto da amostra estudada, cerca de 85%

das filiais eram utilizadas em atividades de comércio e distribuição de

produtos, enquanto os investimentos em unidades produtivas

representavam 12% do total e estavam concentrados nos setores têxtil,

químico, de metalurgia básica e de autopeças. Assim, pode-se inferir,

como o fazem Coutinho, Hiratuka e Sabbatini (2003), que uma parte

significativa dos investimentos registrados, no Banco Central, no setor

serviços é voltada para dar apoio às exportações de empresas industriais

brasileiras.

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 170

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A maioria das empresas brasileiras que realizaram investimento

direto no exterior o fez a partir de 1990. Anteriormente, porém, nas

décadas de 60 e 70, algumas poucas empresas pioneiras, como as

estatais Petrobrás e Companhia Vale do Rio Doce, alguns conglomerados

financeiros e algumas grandes empresas exportadoras já tinham instalado

subsidiárias no exterior, mas era basicamente com a finalidade de dar

suporte comercial e logístico às operações de comércio exterior.

Na década de 80, aumentou a participação das empresas

manufatureiras e das empresas de engenharia e construção, que tinham

acumulado conhecimento e experiência com as grandes obras públicas e

também passaram a atuar no exterior, uma vez que o número de

contratos no Brasil começou a escassear. Naquela época, a penúria

cambial e as restrições à exportação de capitais desestimulavam as

intenções de realizar investimentos diretos no exterior. A economia

brasileira era muito fechada, e as firmas estavam mais voltadas para o

mercado interno. A participação das exportações no faturamento das

firmas brasileiras industriais exportadoras ainda era, em média, muito

baixa, não gerando estímulos para alcançar outros patamares de

internacionalização.

Mas foi na década de 90 que, com a introdução da abertura

econômica, das privatizações e da desregulamentação, o ambiente

econômico mudou radicalmente, levando à reestruturação da indústria e à

busca da competitividade. A maxidesvalorização cambial de 1999 permitiu

aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e motivou

os IDEs de apoio às exportações, tais como instalações comerciais, de

distribuição e de armazenagem (Iglésias; Veiga, 2002; Macadar, 2008;

2009).

No entanto, o maior surto de investimentos diretos brasileiros no

exterior foi registrado na década iniciada no ano 2000, quando o processo

de internacionalização envolveu não só grandes, mas, também, médias e

pequenas empresas. Nessa década, o câmbio valorizado dificultou as

exportações, especialmente de industrializados, mas, em compensação, O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 171

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favoreceu os investimentos no exterior, fazendo que aumentassem as

transnacionais do País.

Algumas empresas brasileiras, como a Petrobrás e a CVRD,

investem no exterior com o propósito de obter um maior acesso a

recursos naturais. Outras, como a Gerdau e a Cutrale, procuram evitar as

barreiras ao comércio levantadas, principalmente, pelos países

desenvolvidos. Têm aquelas que se deslocam seguindo os passos de seus

clientes, ou visam ficar próximas dos grandes clientes no exterior, para

atender a suas demandas in loco (Marcopolo, Embraer). E, ainda, algumas

empresas de serviços investem no exterior para atender aos mercados

locais, já que seus produtos não são facilmente comercializáveis.

2.3 Os investimentos diretos do Rio Grande do Sul no exterior

Conforme o ranking de 2009 das transnacionais brasileiras mais

internacionalizadas elaborado, anualmente, pela Fundação Dom Cabral

(2009), sete empresas gaúchas figuram entre as 39 selecionadas. A

Tabela 1 mostra a posição das sete empresas gaúchas nesse ranking.

O índice transnacionalidade (IT) calculado pela Fundação Dom

Cabral — variando entre 0 e 1 — é composto por três indicadores: (a)

receitas brutas de subsidiárias no exterior em relação às receitas totais;

(b) valor dos ativos no exterior em relação ao valor dos ativos totais da

empresa; e (c) número de funcionários no exterior em relação ao número

de funcionários totais. O IT de cada empresa é calculado com base na

média desses três indicadores.

Vale salientar que a distância entre o índice de transnacionalidade

da primeira e o da última colocada é abismal. A Gerdau apresenta um IT

de 0,570, enquanto o IT da Arezzo é 0,002. Considerando que o ranking

calculado pela Fundação Dom Cabral relaciona as 39 empresas mais

internacionalizadas do Brasil, os dados revelam que, das sete empresas

gaúchas listadas, apenas quatro possuem IT acima de 0,100, ou seja, são

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 172

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

poucas as empresas gaúchas que possuem um elevado nível de

internacionalização.

A Gerdau é a empresa brasileira e gaúcha com o mais elevado índice

de transnacionalidade no ranking de 2009. Seus ativos no exterior já

superam os ativos no País e representam 63% dos ativos totais. O

número de empregados no exterior é equivalente ao do mercado interno

(50%), e as vendas externas (57,7%) superam as internas.

Em 2008, 46% das subsidiárias das transnacionais brasileiras

listadas no ranking da Fundação Dom Cabral (2009) estavam localizadas

na América Latina, mas, para algumas transnacionais gaúchas, como a

Gerdau, a Artecola e a Lupatech, a concentração nessa região é mais

elevada: 69%, 100% e 67% respectivamente. Tavares (2006) observa

que, quando as empresas se especializam em bens primários, bens

intermediários ou serviços intermediários, há uma dispersão de

investimentos para todas as regiões, mas, quando se trata de

investimentos em bens e serviços de consumo de massa, eles, via de

regra, são feitos em nível regional. Essa preferência pelo investimento

regional pode ser decorrente da menor distância psíquica, como sugerido

pela Escola de Uppsala, ou da maior familiaridade com ambientes

turbulentos, institucionalmente precários e com infraestrutura deficiente,

mas, também, devido a menores custos de logística e a benefícios de

acordos comerciais. Além disso, grande parte das exportações gaúchas de

produtos industrializados tem como destino a América Latina, o que

favorece os IDEs regionais.

A partir das informações contidas no Quadro 1, constata-se que,

desde o momento do início das atividades da empresa até o primeiro IDE,

o tempo transcorrido é bastante prolongado. Algumas vezes, antes de

iniciarem os IDEs, as empresas passam por um processo de absorção de

tecnologia do exterior através de licenciamento e transferência de

tecnologia de empresas reconhecidas internacionalmente, ou por joint

ventures para explorar o mercado interno, no que se convencionou

chamar de internacionalização para dentro. Três empresas que utilizaram O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 173

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

intensivamente esse procedimento são a Agrale, a Artecola e a Randon.

Em uma etapa posterior, com o conhecimento adquirido, o aprimoramento

dos produtos e a experiência exportadora, ingressam na etapa dos

investimentos diretos no exterior.

Os primeiros IDEs das empresas gaúchas internacionalizadas

geralmente atendem à necessidade de dar apoio às exportações, e, por

isso, inicialmente, concentram-se na abertura de escritórios comerciais,

centros de distribuição, atendimento pós-venda e joint ventures para

montagens, conforme o padrão descrito pela Escola de Uppsala

(Johanson; Wideersheim-Paul, 1975). São poucas as empresas que, como

a Gerdau, a Marcopolo e a Randon, estabeleceram unidades produtivas no

exterior, nas décadas de 80 e 90. Excluindo essas empresas pioneiras, a

maioria instalou suas plantas industriais no exterior na primeira década

deste século, na tentativa de manter ou ampliar seus mercados externos e

adaptar-se à globalização produtiva.

Uma característica distintiva das empresas listadas no Quadro 1 é a

elevada concentração das cidades de origem no eixo Porto Alegre—Caxias

do Sul. Outra característica dos IDEs em análise é o setor que os origina.

Apesar de alguma diversificação de setores, um elevado número de

empresas com sede em Caxias do Sul concentra-se no setor de veículos e

autopeças, implementos rodoviários e materiais de fricção, o que leva a

crer que há externalidades decorrentes do efeito demonstração (Frischtak,

2008).

Já no setor de calçados, as estratégias para manter-se no mercado

diferem de uma empresa para outra. A Azaléia, a Dilly e a Paquetá, diante

das barreiras comerciais enfrentadas nas exportações para a Argentina,

optaram por abrir plantas industriais naquele país, para produzir para o

mercado interno argentino. A Arezzo e a Via Uno trilharam um caminho

diferente: concentraram seus esforços no desenvolvimento do produto,

gestão de marca e distribuição; terceirizaram a produção e

estabeleceram, no exterior, lojas com sua própria marca no regime de

franquias. Até o momento, os produtos da Arezzo e da Via Uno ainda O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 174

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

estão sendo manufaturados somente no Brasil, mas há manifestações de

que, futuramente, poderão ser produzidos no exterior. Desse modo, o tipo

de internacionalização que as empresas calçadistas estão adotando possui

feições de uma transnacionalização espúria (Frischtak, 2008), conforme

explicado anteriormente.

No que diz respeito ao setor de móveis, vale registrar que, assim

como está acontecendo com algumas empresas calçadistas, várias

empresas moveleiras gaúchas (Bontempo, Dell Anno, Florense, Marelli,

SCA) adotaram a estratégia de inserção internacional via instalação de

franquias exclusivas no exterior. A franquia recebe os pedidos dos

clientes, adaptados a suas necessidades, e encomenda os móveis

planejados à planta industrial no RS, a qual fabrica os móveis e os remete

para a franquia, prontos para serem instalados pela equipe de montagem

local.

3 ESTUDOS DE CASO DAS PRINCIPAIS TRANSNACIONAIS GAÚCHAS

Conforme o ranking da Fundação Dom Cabral (2009) referido

anteriormente, a Gerdau, a Artecola, a Lupatech, a Marcopolo, a DHB, a

Randon e a Arezzo foram as empresas gaúchas mais internacionalizadas

em 2008 (Tabela 1). No entanto, a análise aqui empreendida não se limita

apenas àquele grupo de empresas, pois contempla outras firmas

industriais exportadoras gaúchas, de capital nacional, que realizaram

algum tipo de investimento direto no exterior, visando alavancar as

exportações ou a produção em um outro país. Desse modo, o estudo

contempla investimentos em franquias, centros de serviços, centros de

distribuição, escritórios comerciais, joint ventures para montagem, plantas

industriais greenfield (inteiramente novas) ou aquisição de plantas

existentes em parceria com empresas locais ou não. O Quadro 2

apresenta uma síntese dos tipos de IDEs realizados pelas empresas

gaúchas e a indicação dos países que receberam esses investimentos.

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 175

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

Algumas dessas empresas possuem apenas um ou dois investimentos no

exterior e, em alguns casos, como a Arezzo, a DHB, a Via Uno e a

Tramontina, não possuem plantas industriais no exterior. O caso das

empresas calçadistas já foi discutido anteriormente. No que diz respeito

aos investimentos da DHB e da Tramontina em instalações comerciais e

de distribuição e armazenagem, eles respondem, essencialmente, à

necessidade de dar apoio às exportações. Isto é, confirma-se a hipótese

de Coutinho, Hiratuka e Sabbatini (2003) sobre a importância dos

investimentos brasileiros no setor de serviços para apoiar exportações.

Apenas em 2006, a filial da Tramontina nos Estados Unidos iniciou a

montagem de uma linha de panelas, pois, até esse momento, o foco era

somente comercial.

3.1 Artecola e Lupatech

A Artecola e a Lupatech são empresas cuja produção é intensiva em

tecnologia. Ambas podem ser consideradas transnacionais de nova

geração e de internacionalização tardia, e ambas escolheram países

culturalmente próximos para sua expansão externa.

A internacionalização para dentro da Artecola iniciou em 1980,

quando a empresa decidiu absorver tecnologia do exterior mediante

parcerias internacionais. No ano 2000, a empresa escolheu a América

Latina para crescer e implantou centros de distribuição no Chile e no

México. A partir de 2001, começaram as aquisições de empresas na

América Latina e, simultaneamente, aceleraram-se as parcerias de

transferência de tecnologia com empresas européias de ponta no

desenvolvimento tecnológico, reconhecidas internacionalmente. Visando

ampliar seus mercados (Dunning, 2001), as operações industriais da

Artecola no exterior estão localizadas na Argentina, no Chile, no Peru, na

Colômbia e no México. Com as aquisições feitas no México a partir do ano

O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 176

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Macadar, B. M. de. A evolução dos investimentos diretos se empresas gaúchas no exterior.

2000, a empresa reforçou sua presença naquele mercado e passou a ser

uma das quatro maiores fabricantes de adesivos do País.

A Lupatech possui três segmentos de negócios: é líder, no Mercosul,

na produção e na comercialização de válvulas industriais; oferece

produtos de alto valor agregado e serviços para a indústria de petróleo e

gás; e especializa-se no desenvolvimento e na produção de peças, partes

complexas e subconjuntos direcionados principalmente para a indústria

automotiva mundial (Bovespa, 2009). Possui seu próprio centro de

pesquisa e desenvolvimento no Brasil, inaugurado em 2005, e também

desenvolve produtos em parceria com seus clientes. As operações

industriais da empresa no exterior começaram tardiamente, mas, uma vez

iniciadas as aquisições, em poucos anos, os ativos externos passaram a

ter um peso significativo nos ativos totais da empresa. No período 2006-

08, foram compradas cinco empresas na Argentina e formada uma joint

venture para adquirir a sexta. A empresa é fornecedora da Petrobrás no

Brasil, e os investimentos na Argentina estão relacionados com a

necessidade de acompanhar um de seus melhores clientes nas atividades

desenvolvidas no vizinho país, bem como ampliar seu market share, ou

seja, verifica-se o que Frischtak (2008) classifica como uma projeção

externa da cadeia de valor, onde o fornecedor de insumos precisa ficar

próximo do seu cliente também no exterior.

3.2 Randon

No que diz respeito à Randon, a empresa iniciou seu processo de

internacionalização para dentro na década de 70, com a compra de

tecnologia da empresa sueca Kockum para a produção de veículos

automotores e uma joint venture com a francesa Nicolas para a fabricação

de plataformas com eixos modulados para o transporte de cargas. Na

década de 80, a Randon continuou com a estratégia de joint ventures com

empresas estrangeiras, como forma de adquirir tecnologia de ponta. A

primeira fábrica no exterior foi instalada na década de 90, na Argentina. O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 177

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Atualmente, a Randon possui centros de distribuição na Argentina e

nos Estados Unidos, parcerias para montagem de produtos completely

knocked down (CKD)3 no Quênia, em Marrocos e na África do Sul, bem

como escritórios comerciais em várias regiões do mundo. Depreende-se

do exposto que a Randon, inicialmente preocupada com sua participação

no mercado interno, procurou acrescentar tecnologia a seu produto. Para

tanto, fez parcerias para absorver conhecimento de empresas

tecnologicamente mais avançadas oriundas dos países desenvolvidos.

Com a abertura econômica dos anos 90 e os acordos do Mercosul,

sobreveio a necessidade de ampliar seus mercados de atuação. Assim, em

1998, foi criada a primeira fábrica da Randon no exterior, na Argentina,

país com o qual a distância psíquica era menor. Entre as empresas

controladas pela Randon S/A Implementos e Participações, a Fras-le é a

mais internacionalizada. A Fras-le tem como atividade a produção de

materiais de fricção, exporta para mais de 80 países, e seu processo de

internacionalização está em expansão. No exterior, possui fábricas na

China e nos Estados Unidos, centros de distribuição na Argentina e na

Europa e escritórios comerciais nos Estados Unidos, no Chile, na Europa,

no México, nos Emirados Árabes Unidos, na África e na China. A unidade

industrial da China foi constituída em 2008, e sua finalidade é atender

exclusivamente ao mercado asiático.

3.3 Marcopolo

A Marcopolo é uma das empresas gaúchas em estágio mais

avançado de operações internacionais. A principal motivação para sua

internacionalização está relacionada com os anseios de aumentar o

desempenho através da ampliação do mercado e da diluição de riscos.

Inicialmente, na década de 70, passou a utilizar contratos de licença de

tecnologia e assistência técnica para montagem de carrocerias e de micro-

3 O sistema CKD é um sistema em que as peças são embarcadas totalmente desmontadas e estão prontas para serem montadas no destino.O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 178

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ônibus no exterior pelo sistema CKD. A empresa local comprava o CKD da

Marcopolo e fazia a montagem final em suas dependências. O problema

com esse tipo de contrato é que ele tem um determinado prazo, por

exemplo, 10 anos, finalizado o qual, a Marcopolo ficava sujeita a perder o

poder sobre sua tecnologia naquele mercado, uma vez que o parceiro já

teria absorvido todos os detalhes da produção e poderia transformar-se

num concorrente (Rosa, 2006).

Para evitar esses problemas, a Marcopolo mudou de estratégia e

passou a estabelecer joint ventures em diversos países. Assim, no lugar

de ter um contrato com validade determinada, a Marcopolo passou a ter

um contrato societário, de tal forma que aumentou o compromisso do

parceiro estrangeiro. A primeira joint venture é de 1991, quando a

empresa fez uma parceria, em Portugal, com o grupo Evicar e instalou sua

primeira fábrica no exterior, onde o idioma foi um fator determinante. A

escolha de mercados onde realiza investimentos diretos parece ter sido

influenciada pela proximidade psíquica e pela experiência anterior.

Inicialmente, apenas as operações de montagem eram transferidas

para o exterior. A Marcopolo tinha como prática a produção no Brasil dos

componentes para a montagem das carrocerias, os quais, posteriormente,

eram exportados para as subsidiárias. Desse modo, aproveitavam-se os

custos de produção menores no País e preservava- -se a tecnologia de

fabricação. Nos anos mais recentes, entretanto, as oscilações do câmbio

provocaram uma modificação no comportamento da empresa, a qual

acelerou seu processo de global sourcing, montando uma cadeia mundial

de fornecedores, ou seja, segundo a classificação de Dunning (2001),

estaria na busca de redução de custos e de maior eficiência. Essa política

favorece a empresa, mas reduz o envio de ônibus completos e

componentes a partir do Brasil, afetando as exportações.

Atualmente, a Marcopolo possui operações em oito países — África

do Sul, Argentina, China, Colômbia, Egito, Índia, México e Rússia. Em

2007, começou a operar na Rússia e na Índia e, em 2008, abriu um

centro de manufatura de componentes na China. Contudo, em função do O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 179

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impacto da crise financeira na atividade econômica européia, a unidade de

Portugal foi desativada em 2009.

3.4 Gerdau

A Gerdau — consagrada como uma das grandes transnacionais

brasileiras — é a maior produtora de aços longos nas Américas e um dos

maiores fornecedores de aços longos especiais do mundo. Em 2008, sua

produção de aço atingiu o patamar de 19,5 milhões de toneladas anuais.

Na estratégia de internacionalização adotada, a empresa não

percorreu as etapas descritas pela Escola de Uppsala (Johanson; Vahlne,

1977), mas passou diretamente de uma condição de exportadora para a

aquisição de uma planta industrial no Uruguai, em 1980. Essa compra

respondia à necessidade de contornar as barreiras ao comércio, para

continuar atendendo aos clientes que anteriormente eram servidos pelas

exportações.

No entanto, o fator responsável pelas aquisições subsequentes foi o

esgotamento das oportunidades de crescimento no mercado interno. Esse

movimento foi bastante tímido no início, transcorrendo nove anos antes

da próxima aquisição, dessa vez, na América do Norte. Em 1989, foi

comprada a siderúrgica Courtice Steel, no Canadá, que hoje leva o nome

de Gerdau Ameristeel. Contudo o objetivo de mais longo prazo, do ponto

de vista estratégico, era a expansão em direção ao mercado norte-

americano, para aumentar as possibilidades de crescimento e obter

economias de escala.

A partir de 1989, o processo de internacionalização da Gerdau

respondeu aos desafios postos pela transformação do setor siderúrgico em

uma indústria global e altamente concentrada e à vontade de transformar-

se em um dos principais players mundiais. Desse modo, o acesso a

recursos e ativos estratégicos externos é fundamental para explicar a

expansão internacional da empresa. Exemplo desse enfoque é a aquisição,

em 2008, de uma participação acionária em empresa colombiana O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 180

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controladora de unidades de produção de coque metalúrgico e detentora

de reservas de carvão coqueificável, matéria-prima indispensável para a

produção de aço.

Em 2005, pela primeira vez, foi anunciada uma operação de compra

no continente europeu, com a aquisição de 40% do capital social da

empresa espanhola Sidenor, que, por sua vez, possui uma participação de

58,0% na Aços Villares (Brasil). A aquisição da GSB Acero, situada em

Guipúzcoa, na Espanha, por parte da Sidenor, no ano de 2006, atendeu à

estratégia da Gerdau de crescer em aços longos e especiais, produtos

siderúrgicos de alto valor agregado demandados, principalmente, pela

indústria automotiva para a produção de autopeças. Desse modo, a

participação na Sidenor trouxe benefícios em dose dupla, tanto no

mercado interno, com a participação majoritária na Aços Villares, como no

mercado externo, com o ingresso nos aços especiais para a indústria

automotiva.

Entre 2006 e 2008, foram incorporadas à Gerdau 32 empresas nas

Américas, na Europa e na Ásia. Nesse conjunto de novas empresas,

destacam-se as companhias norte-americanas Chaparral Steel, focada no

segmento de perfis estruturais, e a Macsteel, voltada para a produção de

aços longos especiais, as quais fabricam produtos de maior valor

agregado. Os investimentos realizados nos Estados Unidos a partir de

1999 permitiram contornar as barreiras protecionistas daquele país aos

produtos siderúrgicos brasileiros e tornar-se um importante ator naquele

mercado.

A estratégia de compra de unidades produtivas nos países da

América Latina tem como principal objetivo atender à demanda dos

respectivos mercados internos, mas a entrada nos países desenvolvidos

visa não apenas produzir para esses mercados, mas, também, adquirir

tecnologia que permita entrar em segmentos de maior valor agregado e

concorrer com os grandes players do setor. O conhecimento assim

adquirido está sendo repassado a outras plantas do Grupo, configurando

um claro exemplo de como o País pode ganhar com a internacionalização O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 181

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de suas empresas, já que a expansão da Gerdau no exterior, além de

permitir a transferência de tecnologia para o mercado interno, não a

impediu de continuar crescendo no Brasil. No final de 2008, a Gerdau

operava, no estrangeiro, em 14 países, através de 33 unidades de

transformação, 98 unidades de corte e dobra, 101 unidades comerciais,

quatro empresas associadas e duas joint ventures. Entretanto,

considerando apenas a localização geográfica e não os valores investidos,

a América Latina ainda predomina na localização geográfica das

subsidiárias da empresa (69%), seguida pela América do Norte (15%),

pela Europa (8%) e pela Ásia (8%).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns dos motivos para a internacionalização produtiva

identificados neste trabalho estão relacionados com a necessidade de

ampliar o mercado, acompanhar o cliente, reduzir os custos de produção e

contornar barreiras ao comércio. A abertura econômica dos anos 90 e as

pressões competitivas exercidas pelos produtores de baixo custo da Ásia

nos anos mais recentes criaram um ambiente propício para a adoção de

estratégias reativas de internacionalização.

O avanço dos IDEs de países em desenvolvimento é inexorável e

reflete o surgimento de grandes empresas que ganharam fôlego com o

próprio mercado interno e competência para dominar a tecnologia de

determinados setores. Os IDEs de empresas brasileiras de capital

nacional, por exemplo, estão concentrados na extração e processamento

de recursos naturais, tais como a Petrobrás e a CVRD, ou na produção de

determinados bens manufaturados, principalmente produtos siderúrgicos,

material de transporte e bens intermediários. Já no Rio Grande do Sul, a

maior concentração ocorre apenas nos três últimos grupos.

Durante décadas, o baixo coeficiente de exportação da maioria das

firmas industriais exportadoras de capital nacional tornou a

internacionalização pouco atraente ou desnecessária. Além disso, muitos O movimento da produção. (Três décadas de economia gaúcha, v. 2). 2010 182

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dos produtos exportados por essas firmas são pouco diferenciados, não

requerendo instalações no exterior, o que reduz o número de empresas

potencialmente interessadas em realizar IDEs.

No entanto, na primeira década deste século, o crescimento da

economia mundial — que se estendeu de 2002 até a eclosão da crise em

2008 — favoreceu o maior comprometimento com as exportações, as

quais, nesse intervalo de tempo, cresceram 170%, passando de US$ 73,2

bilhões para US$ 197,9 bilhões. Desse modo, algumas empresas

aumentaram seus coeficientes de exportação, o que as levou a um maior

envolvimento com as vendas externas e a investirem na expansão

internacional. Houve também a influência da valorização do real, que

tornou atraente o preço dos ativos externos em dólares e estimulou a

diversificação dos locais de produção para diminuir os riscos.

Apesar de as empresas brasileiras e gaúchas que ingressaram com

operações produtivas no mercado externo ainda fazerem parte de um

grupo muito restrito, o número dessas empresas, bem como seus setores

de abrangência, tende a aumentar, até porque se trata de uma tendência

mundial. No entanto, isso vai depender muito de condições mais

favoráveis por parte do Estado, pois todos os países em desenvolvimento

que têm um número significativo de empresas transnacionais apoiaram

sua internacionalização. Atualmente, o BNDES tem uma linha de apoio à

expansão de empresas brasileiras para o exterior, mas está atrelada a um

comprometimento com exportações, e são poucas as empresas que a

utilizam.

Além das dificuldades para financiar projetos de investimento no

exterior, outro aspecto que inibe os IDEs de empresas brasileiras e

gaúchas é a bitributação, ou seja, a incidência de impostos sobre o lucro

líquido tanto no país onde é feito o investimento como no Brasil. Para

contornar essa situação, o País precisa negociar acordos de investimentos

com os principais parceiros comerciais, em especial com aqueles onde já

existam IDEs brasileiros.

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