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OS HINOS DE SANTO EFRÉM O SÍRIO SOBRE O PARAÍSO HINO I. Moisés, que instrui todos os homens com seus escritos celestiais, Ele, o mestre dos hebreus, nos instruiu em seu ensinamento, a Lei, Que constitui um verdadeiro tesouro de revelações, Onde está revelada a história do Jardim, Descrita através de coisas visíveis, mas gloriosa pelo que está oculto, Comunicada em poucas palavras, Mas magnífica em suas muitas plantas. RESPONSÓRIO Louvada seja a Tua justiça, Que exalta aos que são dignos da vitória.

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OS HINOS DE SANTO EFRÉM O SÍRIO

SOBRE O PARAÍSO

HINO I.

Moisés, que instrui todos os homens com seus escritos celestiais,

Ele, o mestre dos hebreus, nos instruiu em seu ensinamento, a Lei,

Que constitui um verdadeiro tesouro de revelações,

Onde está revelada a história do Jardim,

Descrita através de coisas visíveis, mas gloriosa pelo que está oculto,

Comunicada em poucas palavras,

Mas magnífica em suas muitas plantas.

RESPONSÓRIO

Louvada seja a Tua justiça,

Que exalta aos que são dignos da vitória.

Tomei o meu lugar numa posição intermediária,

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Entre o temor e o amor;

Um desejo pelo Paraíso me convidou a explorá-lo,

Mas o temor por causa de sua majestade,

Impediu a minha busca.

Com sabedoria, entretanto,

Reconciliei os dois; respeitei o que está oculto,

E meditei no que foi revelado.

O objetivo de minha busca era ganhar algo,

O objetivo de meu silêncio era conseguir ajuda.

Com grande alegria embarquei

Na lenda do Paraíso, uma lenda que é curta para o leitor

Mas rica para o explorador.

Minha língua leu a narrativa da história,

Enquanto meu intelecto tomou asas

E foi em direção ao alto, temeroso,

Assim que percebeu o esplendor do Paraíso,

Não como é realmente,

Mas dentro dos limites em que a compreensão humana

É capaz de compreendê-lo.

Com o olho da mente vislumbrei o Paraíso;

O cume de todas as montanhas

É mais baixo do que o seu cume,

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As ondas do dilúvio

Somente atingiram o sopé de suas colinas

Que beijaram com reverência,

Antes de se voltarem,

Para subirem e cobrirem o cume

De toda colina e de toda montanha.

O sopé do Paraíso ele beijou,

Enquanto cobria todos os cumes.

Não que a subida até o Paraíso

Seja árdua por causa de sua altura,

Pois aqueles que o herdam

Não experimentam ali nenhuma dificuldade.

Com sua beleza ele alegremente convida aqueles que sobem.

Entre raios gloriosos ele espera resplandecente,

Cheio de aromas e fragrâncias;

Nuvens magníficas embelezam as moradas

Daqueles que são dignos dele.

Os filhos da luz descem de suas moradas

E se regozijam no meio do mundo

Onde foram perseguidos;

Eles dançam na superfície do mar e não afundam,

Pois Simão, apesar de ser Pedro, não afundou.

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Bendito é aquele que viu, junto deles, aos seus amados,

Em baixo, em seus grupos de discípulos,

E em cima, em suas câmaras nupciais.

As nuvens,

Cada um deles tornou-se o líder daqueles que ensinou;

Sua carruagem corresponde a seus trabalhos,

Sua glória corresponde aos seus seguidores.

Bendita a pessoa que viu, enquanto voam

As bandas dos profetas,

Os apóstolos com suas multidões;

Porque aqueles que agiram e ensinaram

São grandes no reino.

Mas porque a visão do Paraíso

É muito distante, e o alcance dos olhos

Não pode alcançá-lo

Eu o descrevi de maneira muito simples,

Me gloriando um pouco.

Parecendo-se àquela auréola que circunda a lua

Devemos olhar para o Paraíso

Como sendo um círculo também,

Tendo o mar e a terra seca

Dentro de seu compasso.

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E porque minha língua transborda

Como uma pessoa que se nutriu da doçura do Paraíso,

Vou descrevê-lo de diversas formas.

Moisés fez uma coroa para aquele altar resplandecente

Com uma coroa toda de ouro ele coroou

O altar em toda sua beleza.

Assim gloriosamente geminada

É a coroa do Paraíso, que encompassa toda a criação.

Quando Adão pecou, Deus o expulsou do Paraíso,

Mas em Sua graça Ele lhe deu

As terras baixas além dele, permitindo que morasse

No vale debaixo do sopé do Paraíso;

Mas quando a humanidade, mesmo ali,

Continuou a pecar, foram removidos,

E porque não eram dignos de serem vizinhos do Paraíso

Deus mandou que a arca os deixasse no monte Ararat.

Ali as famílias dos dois irmãos se separaram,

Caim seguiu por conta própria

E foi morar na terra de Nod, um lugar ainda mais baixo

Daquele de Set e Enós;

Mas aqueles que moravam numa terra mais alta,

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Que eram chamados de filhos de Deus,

Deixaram sua região e desceram para procurarem esposas

Dentre as filhas de Caim, nas regiões inferiores.

Os filhos da luz habitam nas alturas do Paraíso,

E além do abismo espiam o homem rico;

Ele também, quando levanta os olhos,

Contempla Lázaro, e chama por Abraão

Para que tenha misericórdia dele.

Mas Abraão, esse homem tão misericordioso,

Que teve pena até de Sodoma,

Desistiu de ter piedade daquele que não teve piedade.

O abismo acaba com qualquer amor

Que possa atuar como intermediário,

Impedindo assim que o amor dos justos

Fique preso aos perversos,

Para que os bons não sejam torturados pela visão

De seus filhos, irmãos ou familiares no inferno;

Uma mãe, que negou a Cristo,

Implorando misericórdia de seu filho, de sua filha ou de sua serva,

Que sofreram aflições por causa dos ensinamentos de Cristo.

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Lá os perseguidos riem de seus perseguidores,

Os afligidos daqueles que os afligiram,

Os degolados daqueles que causaram sua morte,

Os profetas daqueles que os apedrejaram,

Os apóstolos daqueles que os crucificaram.

Os filhos da luz residem em suas elevadas moradas

E quando olham para os perversos

E contam suas más ações,

Ficam espantados de como essas pessoas conseguiram

Destruir qualquer esperança, cometendo tais iniquidades.

Ai daquele que tenta esconder suas más obras no escuro

Que age mal e depois tenta enganar aos que viram;

Depois de realizarem alguma obra reprovável

Mentem e enganam aqueles que ouviram.

Que as asas de Tua graça me protejam,

Porque lá o dedo acusador aponta e diariamente proclama

A vergonha do pecador e seus negócios ocultos.

O que eu disse deve ser o suficiente para minha presunção;

Mas se alguém se atreve a ir adiante e a dizer

“Quanto às pessoas simples e de entendimento lento,

Que realizaram o mal por ignorância,

Depois de punidas e de saldada a dívida,

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Ele que é bom permite que elas habitem

Em alguma parte remota do Paraíso

Onde elas podem se deliciar

Com aquela abençoada comida das ‘migalhas’.”

Este lugar, desprezado e desdenhado

Pelos habitantes do Paraíso, aqueles que ardem no inferno

Desejam desesperadamente; o tormento deles dobra

Com a visão de suas fontes,

Eles estremecem violentamente, porque estão do lado oposto;

O homem rico também clama por socorro,

Mas não há ninguém que possa refrescar a sua língua,

Porque o fogo está dentro deles,

Enquanto a água está em oposição.

HINO II.

Bendito é aquele que o Paraíso deseja.

Sim, o Paraíso deseja o homem cuja bondade o embeleza;

Ele o engolfa em seus portões,

Ele o abraça no seu colo,

Ele o acaricia em seu próprio ventre;

Porque ele se abre e o recebe

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Em suas partes mais íntimas.

Mas se há alguém que ele aborrece,

Ele o remove e o joga para fora;

Este é o portão da prova

Que pertence ao que ama a humanidade.

RESPONSÓRIO

Bendito é Ele, que foi perfurado

E assim removeu a espada da entrada do Paraíso.

Trabalha aqui na terra e leva contigo

A chave do Paraíso;

A Porta que te dá as boas vindas

Te sorri radiante; a Porta, que tudo discerne,

Se conforma à medida daqueles que entram por ela;

Em sua sabedoria, ela cresce e diminui.

De acordo com a posição e a estatura

Que cada pessoa alcança,

Ela mostra, por suas dimensões,

Se elas são perfeitas, ou se lhes falta alguma coisa.

Quando as pessoas enxergam

Que perderam tudo

Que as riquezas não duram,

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E que o desejo carnal não existe mais,

Que a beleza e o poder

Desaparecem e viram fumaça,

Então elas voltam a si mesmas

E ficam cheias de remorso,

Porque, carregadas de cuidados,

Ouviram com desprezo aquelas palavras,

“Vossas riquezas não passam de um sonho,

Vossa herança, escuridão.”

Aquilo que um dia possuíram eles perderam,

E encontraram o que nunca tiveram;

Eles desejaram a felicidade, mas ela fugiu,

E aquilo que temiam chegou;

Sua esperança provou ser uma ilusão,

E aquilo que nunca procuraram, agora encontraram.

Eles gemem, porque foram humilhados e “roubados”

Porque seu modo de vida os enganou,

Enquanto que seu tormento é muito real.

Sua vida luxuriosa se esfumaçou,

E sua punição não termina nunca.

Os justos também percebem

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Que suas aflições não existem mais,

Seus sofrimentos não perduram,

Seus fardos não permanecem,

E é como se suas angústias

Nunca os tivessem assaltado.

Seus jejuns se parecem com um sonho,

Porque acordaram como que de um sono

Para descobrirem o Paraíso

E a mesa do Reino

Estendida diante deles.

O seu cume não pode ser escalado

Pelos que estão do lado de fora,

Mas desde o seu interior

O Paraíso se inclina

Para todos os que empreendem a subida.

Todo o seu interior observa os justos com alegria.

O Paraíso cinge os lombos do mundo,

Circundando o grande mar;

Vizinho dos seres celestes,

Amigo de seus habitantes,

Hostil para os que estão de fora.

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Em seus limites eu vi figos,

Crescendo em um lugar protegido,

Dos que foram feitas coroas que adornaram

A fronte do casal culpado,

Enquanto suas folhas brotavam

Para cobrirem aquele que estava nu.

Suas folhas foram necessárias

Para aqueles dois que perderam suas vestimentas.

Apesar de terem coberto Adão,

Ainda assim elas o fizeram ruborizar-se

Com vergonha e arrependimento,

Porque num lugar tão esplendoroso,

Um homem nu fica coberto de vergonha.

Quem é capaz de contemplar o esplendor do jardim,

Vendo como é glorioso em todo o seu desenho,

Suas proporções harmoniosas, espaçoso

Para todos os que o habitam,

Radiante em suas muitas moradas?

Suas fontes deliciam com suas fragrâncias,

Mas quando chegam até nós,

Ficam empobrecidas por nossa terra,

Porque adquirem os seus sabores

Quando as bebemos.

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De fato, aquela Vontade,

Para a qual tudo é fácil,

Limita aquelas abundantes fontes do Paraíso,

Cercando-as de terra, como canais de água;

Ele ordenou que elas viessem em nossa direção,

Assim como juntou as águas no seio de suas nuvens,

Prontas para serem mandadas pela atmosfera,

Ao comando de Sua Vontade.

Quando Ele criou este intricado desenho

Variou suas belezas, para que alguns níveis

Fossem muito mais gloriosos do que os outros.

Na mesma escala em que um nível é mais alto do que o outro,

Também sua glória é mais sublime.

Desta maneira Ele designa os sopés para os mais humildes,

As encostas para os que ficam no meio,

E as alturas para os exaltados.

Quando os justos sobem por seus vários níveis

Para receberem sua herança,

Com justiça ele eleva cada um

Para o lugar que merecem seus trabalhos;

Cada um é detido naquele lugar

Que corresponde ao seu valor,

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Porque no Paraíso existem lugares suficientes para todos

As partes mais baixas para os arrependidos,

As intermediárias para os justos,

As alturas para os vitoriosos,

Enquanto o cume é reservado para a presença de Deus.

Noé fez com que os animais vivessem

Na parte mais baixa da arca;

No meio, ele acomodou os pássaros,

Enquanto que Noé, representando a divindade

Residiu na parte superior.

No Monte Sinai foi o povo que habitou em baixo,

E Aarão um pouco mais acima,

Enquanto Moisés estava na parte alta,

E o Deus glorioso no cume.

Um símbolo das divisões daquele jardim da vida

Moisés traçou na descrição da arca,

Assim como no Monte Sinai.

Ele descreveu para nós os tipos do Paraíso

Com todas as suas preparações;

Harmonioso, lindo e desejável em todas as coisas,

Em sua beleza, sua altura, suas fragrâncias

E suas diferentes espécies.

Aqui é o porto de todas as riquezas,

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Onde a Igreja é descrita.

HINO III.

Quanto àquela parte do jardim, meus amados,

Que fica tão gloriosamente situada

No cume daquelas alturas

Onde reside a glória,

Nem mesmo o seu símbolo

Pode ser apreendido pelo pensamento do homem;

Pois qual é a mente que possui a sensibilidade

Para contemplá-la, ou as faculdades para explorá-la

Ou a capacidade de atingir este jardim

Cujas riquezas estão além da compreensão.

RESPONSÓRIO

Louvada seja a tua justiça

Que coroa aos vitoriosos.

Talvez aquela árvore abençoada, a árvore da vida,

Seja, através de seus raios, o sol do Paraíso;

Suas folhas brilham, e nelas estão impressas

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As graças espirituais daquele jardim.

Quando sopra a brisa as outras árvores

Se curvam como se adorassem

Aquela árvore, líder e soberana das outras.

Bem no meio Ele plantou

A árvore do conhecimento,

Dotando-a de um respeito temeroso,

Cercando-a de um certo terror,

Para que pudesse servir como limite

Para a região interior do Paraíso.

Duas coisas Adão ouviu

Naquele único decreto:

Que não deveriam comer dela

E que, afastando-se dela,

Eles perceberiam que seria uma transgressão da lei

Que fossem adiante, além daquela árvore.

A serpente não pôde entrar no Paraíso,

Porque nenhum pássaro ou animal

Tinha permissão para se aproximar

Da região exterior do Paraíso,

E Adão teve que sair para encontrá-los;

Assim a serpente astutamente aprendeu,

Questionando Eva, como era o Paraíso,

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O que era e como estava ordenado.

Quando o amaldiçoado aprendeu

Que a glória daquele tabernáculo interior

Como num santuário, estava escondida deles,

E que a árvore do conhecimento,

Revestida de uma injunção,

Servia de véu para o santuário,

Percebeu que seu fruto era a chave da justiça

Que abriria os olhos dos presunçosos

E lhes causaria um grande remorso.

Seus olhos se abriram, e ao mesmo tempo estavam fechados

Para que não vissem a glória, ou o seu próprio estado,

Para que não vissem a glória daquele tabernáculo interior,

E para que não vissem a nudez de seus próprios corpos.

Estes dois tipos de conhecimento Deus escondeu na árvore,

Estabelecendo-a como juiz entre as duas partes.

Mas quando Adão despudoradamente correu

E comeu de seus frutos, este duplo conhecimento

Imediatamente avançou sobre ele,

Rasgando e removendo ambos os véus de seus olhos.

Ele viu a glória do Santo dos Santos e tremeu;

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Ele viu também sua própria vergonha e corou,

Gemendo e se lamentando, porque o duplo conhecimento

Que adquirira provou ser um tormento para ele.

Quem quer que coma desse fruto

Ou enxerga e fica cheio de alegria,

Ou enxerga e começa a gemer.

A serpente incitou-os a comerem em estado de pecado

Para que assim se lamentassem;

Tendo visto o estado abençoado,

Não puderam experimentá-lo,

Como aquele herói antigo

Cujo tormento redobrava

Porque estando faminto,

Não podia experimentar as delícias que contemplava.

Porque Deus não havia permitido que visse

Seu estado de nudez, para que caso desprezasse o mandamento,

Sua ignomínia lhe fosse revelada.

Também não lhe mostrou o Santo dos Santos,

Para que, caso obedecesse o mandamento,

Pudesse contemplá-lo com alegria.

Estas duas coisas Deus escondeu, como duas recompensas,

Para que Adão recebesse, através de seus trabalhos,

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Uma coroa que correspondesse a suas ações.

Deus estabeleceu a árvore como juiz,

Para que caso Adão dela comesse,

Ela lhe mostrasse a dignidade que perdera

Por causa de seu orgulho, e lhe mostrasse também

A baixa condição que adquirira, para seu tormento.

De tal maneira que, caso vencesse e conquistasse,

Ela o vestisse de um manto de glória

E lhe revelasse também a natureza da vergonha,

Para que adquirisse, em seu saudável estado,

Um entendimento da doença.

De fato, um homem que adquiriu um estado saudável para si mesmo

E que conhece em sua mente o que é a doença,

Ganhou uma coisa boa, e conhece algo proveitoso;

Mas um homem que está doente, e conhece em sua mente

O que é a boa saúde, se envergonha por causa de sua doença,

Que é causa de tormento para sua mente.

Caso Adão tivesse vencido, teria adquirido

Glória para seus membros,

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E saberia discernir o que é o sofrimento,

E seus membros seriam radiantes,

E seu discernimento cresceria.

Mas a serpente inverteu tudo isso

E fez com que ele experimentasse

Uma humilhação verdadeira,

E com que a glória ficasse confinada a seus pensamentos,

Para que ele se envergonhasse do que descobriu

E chorasse por causa do que perdeu.

A árvore era para ele como um portão;

Seu fruto era o véu que cobria aquele tabernáculo escondido.

Adão arrebatou aquela fruta, desprezando o mandamento.

E quando ele contemplou aquela glória interior,

Brilhando com seus raios, correu para longe,

Correu e procurou refúgio entre as modestas figueiras.

No meio do Paraíso Deus plantou a árvore do conhecimento

Para que separasse o terreno do celestial,

O santuário do Santo dos Santos.

Adão foi descuidado e presunçoso,

E foi assolado como Ozias: o rei ficou leproso,

E Adão ficou desnudo.

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Ferido como Ozias, apressou-se em fugir:

Ambos os reis fugiram e se esconderam,

Com vergonha de seus corpos.

Mesmo que todas as árvores do Paraíso

Estejam revestidas cada uma com sua glória correspondente,

Cada uma se inclina diante da glória;

Os serafins com suas asas, as árvores com seus ramos,

Todos cobrem suas faces para que não vejam o seu Senhor.

Todos se envergonharam de Adão,

Que subitamente se viu desnudo;

A serpente havia roubado suas vestimentas,

E por isso foi privada de seus pés.

Deus não permitiu que Adão entrasse

No tabernáculo interior; isto foi diferido,

Para que primeiro ele se mostrasse agradável

Em seu serviço naquele tabernáculo exterior;

Como um sacerdote com seu incenso aromático,

A obediência daquele mandamento seria seu incenso.

E então lhe seria permitido entrar diante do Deus escondido

Naquele tabernáculo escondido.

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O símbolo do Paraíso foi descrito por Moisés,

Que construiu os dois santuários,

O santuário e o Santo dos Santos;

Naquele primeiro a entrada era permitida,

Mas naquele interior somente uma vez ao ano.

Assim também com o Paraíso,

Deus fechou a parte interior,

Mas abriu a parte exterior,

Para que Adão pudesse habitá-la.

HINO IV.

O Deus justo viu que Adão tinha se tornado audacioso

Porque Ele havia sido indulgente,

E Ele sabia que ele transgrediria de novo

Se Ele continuasse assim;

Adão ultrapassou aquele limite agradável e leniente,

Então Deus fez para ele um limite guardado pela força.

As palavras do mandamento tinham sido

O limite para a árvore, mas agora o querubim

E a espada flamejante serviam de cerca para o Paraíso.

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RESPONSÓRIO.

Faz-me digno, por Tua graça,

De entrar no Teu Paraíso.

Adão em toda sua sujeira tentou entrar

Naquele Santo dos Santos, que só ama

Aos que se parecem com ele;

E porque teve a presunção de entrar

Naquele tabernáculo interior,

Deus não permitiu que entrasse nem no exterior.

Quando aquele mar cheio de vida

Viu um cadáver em seu meio,

Não permitiu que ali ficasse,

Mas jogou-o para fora.

Moisés descreveu-nos o tipo

Entre o povo dos hebreus;

Quando um homem ficava leproso

Dentro do acampamento, era retirado dali

E jogado para fora; mas se ficasse livre da lepra

E suplicasse, o sacerdote o purificaria

Com o hissopo, água e sangue,

E ele retornaria para seu antigo lugar

E entraria em sua herança.

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Adão foi criado num estado de grande pureza

E colocado naquele belo jardim,

Mas se tornou leproso e repulsivo

Porque a serpente respirou sobre ele.

O jardim o expulsou de seu meio;

Todo brilhante, jogou-o para fora.

O Sumo Sacerdote, o Exaltado,

Viu que ele havia sido expulso para longe d’Ele.

Ele se inclinou e desceu, lavou-o com o hissopo,

E o trouxe de volta para o Paraíso.

Adão era belo e estava nu, mas sua diligente esposa

Trabalhou e fez para ele uma vestimenta coberta de manchas.

O jardim, vendo-o assim, vil, expulsou-o.

Através de Maria Adão teve uma nova vestimenta

Que adornou o ladrão, e quando este ficou resplendente

Com a promessa de Cristo, o jardim, observando,

Abraçou-o no lugar de Adão.

Moisés, que duvidou, viu mas não entrou

Naquela terra prometida; o Jordão serviu de limite.

Adão se desviou e deixou aquele jardim da vida;

O querubim se tornou uma cerca.

Ambos os limites foram estabelecidos

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Pela mão do Senhor, mas na ressurreição ambos entraram,

Moisés naquela terra, e Adão no Paraíso.

A língua não pode relatar a descrição

Do Paraíso interior, e nem mesmo é suficiente

Para as belezas da parte exterior;

Porque até mesmo os simples adornos

Da cerca do jardim, não podem ser descritos

De uma maneira adequada. Porque as cores do Paraíso

São cheias de alegria, seus aromas por demais maravilhosos,

Suas belezas por demais desejáveis, e seus adornos gloriosos.

Mesmo que o tesouro que está junto à cerca seja pequeno,

Ainda assim supera todos os tesouros do mundo inteiro;

E mesmo que os tesouros das encostas também

Sejam poucos em comparação com aquele tesouro

Que está no cume das alturas, o abençoado estado

Perto da cerca é mais glorioso e exaltado do que tudo

Que experimentamos como abençoado,

Nós que vivemos no vale inferior.

Não fiqueis irritados porque minha língua

Presumiu de descrever um tema

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Grande demais para ela,

E porque através de sua inadequação,

Diminuiu aquela grandeza.

Assim como não há um espelho adequado

Para refletir suas belezas,

E pinturas que possam representá-las

Que meu intento não seja rejeitado,

Porque trabalhei para a composição,

Em minha descrição do Paraíso,

De algo proveitoso.

O que está de luto pode encontrar nela consolo,

A criança será por ela educada,

Os castos ficarão radiantes através dela,

Os necessitados encontrarão provisões nela.

Assim, que cada um me atire sua moedinha,

E que todos eles façam súplicas por mim no Éden,

Para que eu possa entrar naquele lugar

Do qual falei dentro de minhas limitações;

E para que os abatidos fiquem desejosos

Das riquezas que foram prometidas.

Que meu propósito não seja julgado por Ti,

Que conheces todas as coisas; que minha busca

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Não seja considerada culpável por Ti, escondido de todos;

Porque não me atrevi a falar de Tua geração, oculta de todos;

Em silêncio limitei a palavra. E porque honrei Teu nascimento,

Permite-me habitar em Teu Paraíso.

Por todos aqueles que Te amam,

Seja glorificada Tua presença!

HINO V.

Considerei a palavra do Criador, e a comparei com a rocha

Que marchou com o povo israelita no deserto;

Não que ela tivesse um reservatório de água em seu interior,

Que manasse abundantes fontes para aquele povo.

Não havia água na rocha, e mesmo assim

Oceanos manaram dela; do mesmo modo

A Palavra criou todas as coisas do nada.

RESPONSÓRIO.

Bendita é a pessoa considerada digna

De herdar o Teu Paraíso.

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Em seu livro Moisés descreveu a criação do mundo natural,

Para que tanto a natureza como a escritura

Testemunhassem do Criador;

A natureza, pelo uso que o homem faz dela,

A escritura, pela leitura que o homem faz dela.

Estas são as testemunhas que tudo alcançam,

Elas podem ser encontradas em todo tempo,

Estão presentes a toda hora,

Confundindo o que não crê, que difama o Criador.

Eu li o começo deste livro, e fiquei cheio de alegria,

Porque seus versos e linhas abriram seus braços

Para me darem as boas vindas; o primeiro

Correu e me beijou, e me levou até seu companheiro;

E quando cheguei àquele verso onde está escrita

A história do Paraíso, ele me elevou e me transportou

Do seio do livro para o seio do próprio Paraíso.

O olho da mente viajou pelas linhas

Como por uma ponte, e chegou

Até a história do Paraíso.

Enquanto o olho lia, a mente foi transportada;

A mente, por sua vez, deu descanso ao olho,

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De sua leitura, porque uma vez lido o livro,

O olho descansou, mas a mente estava atenta.

A ponte e o portão do Paraíso

Encontrei neste livro.

Fui adiante e entrei;

Meu olho, de fato, ficou de fora

Mas minha mente entrou.

Comecei a divagar, entre coisas

Que não estavam descritas.

Esta é uma luminosa altura, clara, sublime e bela;

A escritura chamou-a de Éden, o cume de todas as bênçãos.

Ali também vi os lugares de repouso dos justos

Destilando unguentos, fragrantes com seus aromas,

Embelezados com frutas, coroados com brotos.

De acordo com as obras de cada um,

Assim eram suas moradas;

Um tinha uns poucos adornos

Enquanto que outro era resplendente em sua beleza;

Um era um tanto opaco em suas cores,

Enquanto que outro brilhava em sua glória.

Indaguei quanto a isso também,

Se o Paraíso era grande o suficiente

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Para que todos os justos nele morassem.

Indaguei sobre o que não está escrito na escritura,

Mas minha instrução saiu do que está escrito nela:

“Considera o homem onde estava uma legião

De todo tipo de demônios; eles estavam ali,

Apesar de invisíveis, pois seu exército

É feito de uma substância mais fina e mais sutil

Do que a própria alma.

O batalhão inteiro estava em um único corpo.

Cem vezes mais fino e mais sutil

É o corpo dos justos depois que ascenderam,

Na ressurreição eles se parecem com a mente,

Que é capaz, se quiser, de se expandir e de se esticar,

Ou, se assim quiser, de encolher e se contrair;

Se encolhe, está em algum lugar,

Se se expande, está em todos os lugares.

Continua ouvindo e aprende,

Como lâmpadas com mil raios

Podem existir numa única casa,

Como dez mil aromas podem existir

Num único broto; mesmo que estejam

Dentro de um espaço pequeno,

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Têm amplo espaço para se propagarem.

Assim é com o Paraíso:

Mesmo estando cheio de seres espirituais,

É amplamente espaçoso para sua fruição.

Os pensamentos, também, infinitos em número,

Moram todos no pequeno espaço do coração,

E mesmo assim possuem um amplo espaço.

Eles não se esbarram uns com os outros,

E não estão sufocados ali.

Em que medida o glorioso Paraíso

Não será suficiente para os seres espirituais

Cuja substância é tão refinada

Que nem mesmo os pensamentos podem tocá-los!”

Dei graças dentro de minha capacidade

E estava a ponto de partir,

Quando do meio do Paraíso,

Ouvi um súbito e estrondoso som,

E como o clangor de trombetas em um campo,

Uma voz que gritava “santo” três vezes.

Assim fiquei sabendo que a divindade

Recebe louvores no Paraíso;

Eu que pensei que estava vazio,

Mas compreendi que não, pela voz estrondosa.

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O Paraíso me deliciou por sua beleza e sua paz;

Nele reside uma beleza sem mancha,

Uma paz que não conhece temor.

Como é abençoada a pessoa

Considerada digna de recebê-lo,

Se não pela justiça, pelo menos pela graça;

Se não por causa de suas boas obras,

Pelo menos pela misericórdia.

Estava maravilhado quando cruzei

As fronteiras do Paraíso

De como o bem estar, como um companheiro,

Se voltou e ficou para trás.

E quando cheguei às costas da terra,

A mãe dos espinhos,

Encontrei todo tipo de dor e sofrimento.

Aprendi como, comparada com o Paraíso,

Nossa morada não passa de um calabouço;

E ainda assim os seus prisioneiros

Choram quando a deixam!

Fiquei surpreso de como mesmo as crianças

Choram quando deixam o útero,

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Chorando porque saem da escuridão para a luz,

E deixando a sufocação, entram neste mundo!

De maneira parecida, também a morte

É para o mundo um símbolo do nascimento,

E ainda assim as pessoas choram quando nascem

Deixando este mundo, a mãe dos sofrimentos,

Para entrarem naquele jardim esplendoroso.

Tem piedade de mim, ó Senhor do Paraíso,

E se não for possível que eu entre em Teu Paraíso,

Concede que eu habite fora, perto da cerca;

Que a mesa para os “diligentes” seja estendida dentro,

Mas que pelo menos os frutos que estão dentro da cerca

Caiam para fora como as “migalhas” para os pecadores,

Para que vivam por Tua graça!

HINO VI.

As chaves da doutrina, que abrem todos os livros da Escritura,

Abriram diante dos meus olhos o livro da criação,

A casa do tesouro da arca, a coroa da lei.

Este é um livro que, acima de seus companheiros,

Tornou o Criador perceptível com sua narrativa

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E transmitiu Suas ações; nos deu a visão de toda a Sua criação,

Manifestou Suas obras de arte.

RESPONSÓRIO:

Bendito seja Ele, que por Sua cruz

Abriu as portas do Paraíso.

A Escritura me levou até o portão do Paraíso,

E a mente, que é espiritual, ficou maravilhada e pasma

Quando entrou; o intelecto fraco e confuso

Quando os sentidos já não conseguiam mais

Conter os seus tesouros, tão magníficos eles eram,

Ou discernir os seus sabores, e encontrar alguma comparação

Para suas cores, ou abarcar suas belezas,

Para descrevê-las usando palavras.

O Paraíso cerca os órgãos com seus muitos deleites:

Os olhos, com suas muitas obras, os ouvidos com seus sons,

A boca e as narinas, com seus aromas e sabores.

Bem-aventurada é a pessoa que juntou para si

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A companhia de todos os que fizeram jejuns e vigílias;

Estes, em retorno por seus jejuns, terão o prazer

De se deliciarem com suas luxuriosas pastagens.

Assim que o percebi, o Paraíso me elevou,

Ele me enriqueceu enquanto meditava sobre ele;

Me esqueci de minha pobre condição,

Porque ele me inebriou com sua fragrância.

Me tornei como que uma nova pessoa,

Pois ele me renovou com sua natureza variada.

Nadei por suas magníficas ondas; E no mesmo lugar que

Queimando como uma fornalha deixou Adão nu,

Fiquei tão inebriado que me esqueci de todos os meus pecados.

Embora eu não pudesse conter todas as ondas de sua beleza,

O Paraíso me pegou e me levou para um mar ainda maior;

Em sua grande beleza eu vi aqueles que são ainda mais

Belos do que ele, e refleti: se o Paraíso é tão glorioso,

Qual não seria a glória de Adão, que é a imagem

De seu agricultor, e quão mais gloriosa a cruz,

Na qual o Filho de seu Senhor passou.

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