os guardiões da semente

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Este arquivo compõe a coletânea Mega Cursos

– www.megacursos.com.br -

OS

GUARDIÕESDA

SEMENTE

Sergio Pavan 

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Capítulo 1

Antônio de Azevedo entrou com o seu carro noestacionamento que ficava bem perto da Praça Mauá, no Riode Janeiro. Estava muito ansioso, pois teria uma reunião como Dr. Roberto de Alencar, presidente e sócio majoritário daCompanhia Brasileira de Engenharia, a maior e mais forteempresa de engenharia e obras de arte do país. A CBE, comoera chamada, nos últimos 10 anos tinha vencido as maiores

concorrências para a construção de estradas, pontes erodovias do governo federal. Com um patrimônio avaliadoem alguns bilhões de reais e com a tecnologia que possuía,era a empresa ideal para financiar o seu projeto de descobrir,no meio da grande floresta amazônica, a cidade Semente que,segundo a lenda, era o berço e a origem da raça indígena daAmérica do Sul.A lenda indígena dizia que, vários milhares de anos antes dodescobrimento do continente pelos portugueses, os deusesdesceram do céu, numa imensa nave e fundaram uma cidadeque deram o nome de Semente. Esses deuses estavamfugindo de deuses mais poderosos ainda e escolheram oplaneta Terra como refúgio. Esconderam-se no meio da selvaamazônica.Mas, foram descobertos e mortos. Alguns poucosconseguiram fugir, embrenhando-se na mata e lá vivendo,durante séculos, fundaram várias nações como os Tupis,

Guaranis e Botocudos.A involução natural das divindades foi graças à artimanhados sobreviventes que deixaram de usar, propositadamente,qualquer peça de metal, pois era através do metal que osdeuses maus conseguiam localizar os fugitivos.

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Assim, eles perderam ao longo do tempo, toda a cultura dosalienígenas. Com medo dos deuses maus voltarem, toda a

história da raça foi considerada tabu. A cidade nunca mais foivisitada, ao contrário, todos fugiam dela com medo de seremdetectados e o tabu foi passando de geração a geração.Mas, segundo essa mesma lenda, a Semente estava intacta ecom toda a parafernália de equipamentos e motores de umatecnologia muito mais avançada que a atual raça humanapoderia sonhar. Lá estavam em livros, aparelhos ecomputadores as curas de todas as doenças, as chaves da

longevidade e, enfim, a decodificação, estruturação eordenação do genoma da raça humana, entre outros incríveisavanços, como por exemplo, um motor movido à força dagravidade que não precisava de combustível, não enguiçava efazia com que veículos pudessem se locomover não só emterra, como no ar, a velocidades incríveis.No entanto, treze sacerdotes sobreviventes, voltaram aprotegê-la. Eles não deixavam ninguém se aproximar dacidade e guardavam com um fervor religioso toda a culturados deuses bons. Eram os Guardiões da Semente.Obviamente, não eram assim que os nativos falavam, nempoderiam. Mas, era a tradução e a hipótese que o Antonio deAzevedo acreditava.Daí a ansiedade do Antônio, ele teria que convencer oempresário que a lenda era real e conseguir o dinheironecessário para montar uma expedição com o objetivo dedescobrir a cidade.

A passos largos, entrou no prédio onde funcionava a CBE. Oendereço era o da Av. Rio Branco, número 2, o maismoderno e luxuoso prédio comercial da cidade. A CBEocupava dez andares e a presidência ficava no vigésimoquinto andar. Ao descer do elevador e entrar na recepção,

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Antônio ficou deslumbrado. O chão era todo de mármore decarrara azul claro e os acabamentos de aço escovado. No

centro ficavam as recepcionistas vestidas com um tailler azulmarinho, cercadas por vários computadores.Antônio não estava acostumado a aquele luxo. Professor dacadeira de paleontologia da Universidade Federal da Cidadedo Rio de Janeiro, o seu escritório era pequeno, malarrumado, com móveis antigos e desgastados, paredesdescascadas e ainda por cima dividido com mais doiscolegas. O ar condicionado deixara de funcionar a anos e um

imenso ventilador de teto amenizava um pouco o calor quefazia no verão.Antônio intimidou-se com a riqueza e opulência daquelarecepção. Quase que voltou atrás. Mas, enfim, tomoucoragem e aproximou-se da bela recepcionista que oencarava:- Bom dia.- Bom dia, respondeu a moça com um sorriso nos lábios.- Eu tenho uma reunião marcada com o Dr. Roberto deAlencar.- Qual é o seu nome, por favor?- Antônio de Azevedo.- Um minutinho, por favor.A recepcionista ligou para a secretária do presidente.- Bom dia, dona Rita, está aqui um senhor dizendo que temuma reunião marcada com o Dr. Roberto. O nome dele éAntônio de Azevedo.

Após escutar alguns segundos, ela agradeceu, saiu do seulugar e voltou-se para o Antônio.- Sr. Antônio, o Sr. pode me acompanhar?Entraram por um longo corredor que cruzava várias salas,todas elas com dezenas de pessoas em seus computadores,

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até que chegaram em frente a uma grande porta onde estavaescrito Diretoria. Abriu-a e deu passagem para o Antônio.

Era uma nova recepção, ainda mais luxuosa, com vários sofásde couro. A moça fez sinal para o Antônio sentar-se em umdeles e foi falar com uma loira exuberante, que era arecepcionista da diretoria. Depois, voltou e passou pelopaleontólogo, dando-lhe um largo sorriso.- Um momento, Sr. Antônio. O Sr. será atendidoimediatamente.Antônio pegou o jornal do dia, que estava na mesinha ao lado

do sofá e procurou pela página de esportes, para ver se tinhaalguma novidade no time de seu coração que era o Botafogo.Ainda estava procurando as notícias quando uma mulher deseus quarenta anos, morena, de olhos verdes, tão linda quantoàs demais, saiu da porta que dizia presidência e foi em suadireção.- Sr. Antônio, bom dia. O senhor pode, por favor, me seguir?Antônio a seguiu e entraram numa imensa sala, que pelosseus cálculos, deveria ter uns 100 metros quadrados.No fundo da sala, numa imensa mesa de mármore, estava umsenhor, de cabelos brancos, vestindo um impecável terno azulmarinho. Ele olhou para o Antônio, como que o analisandoda cabeça aos pés, e com um largo sorriso o cumprimentou.Apontou para um sofá, pedindo que sentasse e saindo de suamesa veio se sentar ao seu lado.- Bem, Antônio, até que enfim nos encontramos.Antônio lembrou-se que a reunião tinha sido marcada várias

semanas antes, por falta de espaço na agenda do presidente.- Bom dia, Dr. Roberto.- Pode me chamar de Roberto. Infelizmente tenho umareunião de diretoria daqui a meia hora. Por isso peço queentremos logo no assunto.

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- Bem, Roberto, vou tentar ser o mais sucinto possível.- Eu lhe agradeço.

Antônio, então, contou ao Roberto toda a lenda da Semente.- Muito interessante, disse o Roberto, mas em que posso lheajudar?- Como você sabe, o governo federal está sem verbas para aeducação. Muito menos ainda para bancar uma expedição dedescobrimento baseada em lendas. Desta forma, o meuobjetivo nesta reunião e tentar junto a CBE o patrocínio destaexpedição.

- Mas o que a CBE ganharia com isso, Antônio?- Muitas coisas Roberto. Eu posso listá-las para você.- Pois então comece.- Em primeiro lugar, essa expedição, por ser cultural, contariacom o incentivo do governo. Todo o gasto poderia serdeduzido do imposto de renda a pagar.Em segundo, a mídia. Uma expedição com esse vultoganharia espaço em todos os meios de comunicação do país,e o nome da CBE, como patrocinadora, apareceria em todasas reportagens a respeito. Um publicitário poderia calcular,melhor que eu, o que valeria em dinheiro, toda a exposiçãoque a marca de sua empresa teria. Acho que o retorno seriamuito maior que a verba gasta na expedição.Em terceiro, a imagem de sua marca, ganharia muito com oêxito desta expedição.Em quarto, por fim, o mais importante, se descobrirmos aSemente, o senhor terá em mãos descobrimentos e por

conseqüência, tesouros arqueológicos inestimáveis etecnologias inimagináveis ao seu alcance. Os lucros compatentes seriam astronômicos para a sua empresa.- Isso se essa lenda for verdadeira - disse o Roberto.- Eu tenho certeza, Roberto.

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- Bem, Antônio, a sua proposta é bem interessante. Voupassá-la aos meus diretores para analisá-la e, pode estar certo,

em no máximo uma semana lhe darei a resposta.

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Capítulo 2

Antônio estava em sua mesa preparando a prova de fim deano de sua turma, quando o telefone tocou.- Alô - atendeu.- Sr. Antônio?- Sim?

- Aqui é a Rita, secretária do Dr. Roberto da CBE. Ele quefalar com o senhor.- Pode passar, dona Rita.Antônio levantou-se da cadeira e cruzou os dedos. Apesar deincrédulo, fez uma prece: meu Deus, por favor, faça com quea CBE tenha aprovado a expedição.- Bom dia Antônio. Tenho uma ótima notícia para você. Anossa diretoria aprovou o seu plano. Você poderia, aindahoje, vir aqui? Gostaríamos de discutir os detalhes daexpedição.- Claro Roberto, a que horas?- Pode ser às seis horas? Desculpe, mas é o horário em quepoderemos reunir todos os diretores diretamente interessadosao assunto.- Claro que sim. Estarei aí pontualmente.Quando o telefone foi desligado o Antônio deu um berro:- Consegui!

Imediatamente os seus colegas o parabenizaram e oabraçaram. Foi uma festa no pequeno e mal arrumadoescritório do paleontólogo.Antônio não conseguia tirar os olhos de seu relógio. Tinhacalculado em sair uma hora e meia antes da reunião. Não

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- Claro que não. Ela fica numa espécie de ilha, se podemoschamar de ilha. Mas do alto, será impossível para qualquer

helicóptero ou avião, vislumbrar se a região é seca ousubmersa. Desta forma, não temos alternativa senão a deviajarmos por terra esses 50 quilômetros.- E, como vocês vão entrar numa selva submersa?- Levaremos barcos infláveis, com motor de popa. Depois,quando atingirmos terra seca, iremos a pé.- E quantas pessoas vocês vão levar?- Bem, se vocês concordarem, serei o chefe da expedição.

Além de mim, precisamos de dois médicos e doisenfermeiros. Os médicos serão um cirurgião geral e umespecialista em doenças tropicais. Teremos que ter tambémum biólogo, um arqueólogo e um botânico.- E quem mais?- Dois navegadores especialistas em selva, que recrutaremosna aeronáutica, dois seguranças, um cinegrafista, seuajudante, o cozinheiro e mais 49 carregadores, o que dá umtotal de 64 pessoas.- Mas para que tantos carregadores?- Porque teremos que ter 12 barcos, visto que cada barcocomporta seis pessoas e são necessárias quatro pessoas paracarregá-los. Os mantimentos e aparelhos ficarão dentro dosbarcos, quando estivermos nos movendo em terra seca.- E quanto vai custar à expedição?- O total estimado é de 25 milhões de reais, contando comtudo: planejamento, salários, equipamentos e mantimentos.

- Pois bem, Antônio, está verba estará à sua disposiçãoamanhã. Você pode começar a sua expedição. - falou oRoberto. Vamos chamá-la de Expedição Semente - CBE.

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Capítulo 3

Manaus, capital da Amazônia, era o ponto de partida daexpedição. Os dois primeiros helicópteros que iriam abrir aclareira que serviria de base da expedição já tinham partido

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no dia anterior. O local mapeado tinha sido plotado pelosGPS e ficava a 450 quilômetros da vila chamada de Moura e

a 1050 quilômetros de Manaus. Três dias depois, pelo rádio,Antônio teve a confirmação de que a clareira já tinha sidoaberta e que os helicópteros voltariam no dia seguinte, umasegunda feira, para se juntar aos outros para levarem osexpedicionários. A CBE tinha alugado oito helicópteros parao transporte da expedição. Assim, foi marcada para terçafeira o início, propriamente dita, da grande aventura.A terça feira amanheceu, para alegria de todos, com um lindo

dia e um céu azul sem nenhuma nuvem, o que era raro naregião. A viagem decorreu sem nenhum incidente e setehoras depois, todos estavam atarefados em erguer as suasbarracas, colocar os equipamentos em seus lugares o quedemorou até o anoitecer.Depois do jantar, todos continuaram na barraca grande,conversando. Claro que o tema principal era a aventura queeles estavam participando e, como não poderia deixar de ser,histórias sobra à selva. Raimundo, que era o chefe dasegurança, era o que mais falava. Conhecia tudo sobre aAmazônia e suas histórias encantavam os cientistas,especialmente a Letícia que era a bióloga da expedição.- Vocês já ouviram falar do Chupa-Cabra, né? Perguntava oRaimundo.- Claro que sim, seu Raimundo - respondeu a Letícia. Essalenda apareceu, se não me engano, em Varginha. Disseraminclusive, que poderiam ser extraterrestres. Eles mostravam

bichos, especialmente cabras, daí o nome, com um buraco nopescoço e totalmente sem sangue. Mas, nada foi comprovado,o que pareceu ser uma grande invenção do povo de lá.

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- Lá, pode ser, dna. Letícia, mas aqui não. O bicho realmenteexiste, se parece com um cachorro, mas com o focinho de um

tamanduá bandeira.- Você já viu, seu Raimundo? Perguntou a Letícia.- Vi sim senhora.A Letícia então ficou quieta. Não queria desmentir oRaimundo. Principalmente na frente dos outros.O Raimundo também não continuou com o assunto, aocontrário, passou para outro:- Tem também o Aparí-Parú. A senhora conhece? Perguntou

em tom de desafio.- Conheço não seu Raimundo. O que é isso?- E eu espero que a senhora não o conheça. Pois ninguém queo conheceu viveu para contar a história.- Ué, então como o Sr. sabe da existência dele?- Pelos crânios... Falou o Raimundo, deixando de propósito afrase no ar, esperando pela pergunta da Letícia, que veio emseguida:- Como pelos crânios, seu Raimundo?- É que o bicho só deixa o crânio de suas vítimas. O resto, elecome tudo.- Mas se ninguém o viu, como sabemos que o crânio foideixado por esse bicho? Não poderia ser por uma sucuri, porexemplo? Essa cobra faz exatamente isso com suas vítimas.Só deixa o crânio. O resto ela engole.- Mas eu nunca vi uma sucuri comer um homem adulto.Criança até pode ser.

- Mas existem relatos de sucuris de até oito metros decomprimento. Um bicho desse tamanho poderia,tranqüilamente, comer um homem adulto. E, não se esqueça,seu Raimundo, que estamos nas terras delas. Essa região é deigarapés, o habitat natural dessas grandes cobras.

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- E como a doutora explica os rastros deixados? Pelo que eusaiba, cobra não tem pernas.

Todo mundo riu da afirmação do Raimundo. A Letícia ficoumeio sem jeito, mas, mesmo assim, perguntou:- Que rastros seu Raimundo?- Ué, a senhora não sabia?- Sei não seu Raimundo. Estou ouvindo esta história, pelaprimeira vez, de sua boca.- Pois bem, ele deixa enormes pegadas ao lado de suasvítimas. As pegadas mais parecem de um jacaré gigante.

A bióloga ficou pensativa e, depois, perguntou:- E de que tamanho são as pegadas?- Enormes, doutora. Muito grandes, mesmo.- E nunca ninguém viu esse bicho?- Pelo menos ninguém vivo. Se alguém já o viu não está maisvivo para contar como ele é.- E onde essas pegadas aparecem?- Como assim, doutora?- Em que lugar elas foram achadas?- Bem, as poucas pessoas que viram essas pegadas disseramque foram na ilha do Alemão.- E onde fica essa ilha, seu Raimundo?- É para onde nos vamos, doutora. É a nossa ilha.- O senhor quer dizer que a ilha que vamos é o lugar ondefica esse seu bicho?- Exatamente.- Então o senhor está me dizendo que a ilha que achávamos

virgem do ser humano já foi visitada?- Mais ou menos.- Como mais ou menos, seu Raimundo? Perguntou muitointeressado o Antônio.

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- Porque ele foi com dez empregados e desarmados. Agorasomos mais de cinqüenta e temos seguranças armados até os

dentes. Além do mais eu trouxe a minha jurubeba para o casode encontrar o bicho.- O que é a jurubeba?- É essa aqui - disse o Raimundo mostrando e alisando acoronha de uma espingarda calibre 12. - E ainda existe apossibilidade de encontrarmos o alemão. Se ele estiver vivo,deve estar cheio de madeiras. Aí vou até o final da expediçãocom vocês e depois volto para ajudar o meu antigo patrão e

ganhar um bom dinheirinho extra.- E o Aparí-Parú?- Bem, se ele estiver vivo é que o bicho não está lá, né?- E se acharmos só o crânio dele? Falou brincando a Letícia.- Aí os nossos seguranças vão ter que ficar bem atentos, né?Quando ele acabou de falar todos riram, mas notava-se queeram risos nervosos. Afinal, todos sem exceção, estavam commedo.Aos poucos os participantes foram se recolhendo as suastendas para dormirem, expulsos pelo sono e pelos insetos queestavam infernizando a vida deles. Afinal as tendas tinham osmosquiteiros que os protegiam dos insetos alados.Bem tarde da noite um urro rouco e forte fez com que oscientistas saíssem de suas tendas apavorados e armados. Elesestranharam que os nativos continuassem a dormir. O urrorepetiu-se mais duas vezes, o que aumentou o medo dogrupo.

O Antônio foi para a tenda dos seguranças.- Acordem, berrou, desesperado.- Calma, seu Antônio, esse urro é apenas de uma onça queestá caçando - falou o Raimundo.- E ela não pode nos caçar?

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- Caça não seu Antônio. Pode dormir sossegado. As onçasevitam os homens. Além de estar muito longe, está, com

certeza, caçando alguma anta ou porco do mato. Ela não virápara cá, com certeza.O Antônio voltou para o grupo de seus colegas e falou,fazendo cara de entendido:- Podem dormir. É apenas uma onça caçando antas ou porcosdo mato. Ela não vai nos incomodar.- Todos voltaram para as suas barracas para dormir. Masnenhum deles guardou a sua arma. Todos eles, inclusive as

mulheres dormiram com suas armas bem à mão.

Capítulo 04

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No meio da selva amazônica, onde nenhum homem brancoainda tinha colocado os pés, entre o Rio das Mortes e o lugaronde Antônio havia plotado em seu mapa como sendo o localda Sementes, anoitecia.Uma pantera, nome dado ao maior felino das Américas, umaonça toda preta com mais de 200 quilos, preparava-se para asua caçada noturna. Tinha acabado de acordar e estava commuita fome. Há mais de três dias que não tinha conseguido

caçar nada. Os animais de médios e grandes portes, como acapivara e o porco de mato, tinham sentido a presença de seuterrível predador e afastaram-se do local.A pantera espreguiçou-se e pôs-se, calmamente a andar,cheirando e olhando o chão à procura de odor ou rastros desuas vítimas. Todos os seus sentidos estavam em alerta. Amáquina de matar estava preparada. Apesar do seu peso, nãoproduzia quase que nenhum som ao pisar.De repente sentiu o cheiro característico de um índio.Normalmente o felino desviava-se. Sabia que o encontropoderia ser desastroso. Era o único ser que ela,instintivamente, sabia que poderia ser perigoso. Mas, destavez, com a fome que estava, resolveu caçar o intruso.Avançou rapidamente ao encontro do índio. Ele estava aalgumas centenas de metros.A pantera, quando avistou o indígena parou. Começou apesquisar o local. A sua pretensa vítima estava deitada numa

rede, bem no centro de uma pequena clareira. Ao lado, nochão uma pequena fogueira que servia, não só para esquentaro índio, como para espantar algum animal mais afoito.Normalmente a fera teria ido embora, mas ela estava commuita fome. Assim, rodeou a clareira, de forma que o fogo

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ficasse atrás do índio, deixando livre a sua investida. Parou eolhando fixo para a sua presa ficou mais alguns minutos

observando, até ter a certeza que ele estava dormindo.Há muito tempo atrás, quando ainda era jovem, tinha sentidoo gosto da carne humana. Mas quase morrera por isso.Atacou e matou um jovem índio e quando estava comendo,outro apareceu e lhe deu uma flechada. Com muitas doresfugiu do local e durante duas semanas sofreu muito. Quasemorreu. Mas como era muito forte, acabou sobrevivendo.Aprendeu, com isso, que não deveria enfrentar os índios,

apesar de ter gostado muito da carne, que era macia e doce.Ainda com essa lembrança, deu outra volta na clareiracertificando-se, através do cheiro, que o índio estava sozinho.Quando teve certeza, voltou para a posição inicial e retesou-se. Num único salto pulou em cima do índio. Com o impactode seu peso a rede foi para o chão e o índio caiu para o lado.Ainda atordoado, o índio tentou levantar-se, mas a panterapulou em seu pescoço e enfiou os caninos, que dilaceraram,imediatamente, carnes, ossos e jugulares. O índio caiu morto,com a fera em cima. Antes de comer a pantera urrou. Era oseu grito de vitória. A selva ficou muda.Calmamente o felino começou a satisfazer a sua fome. Nisso,como que saindo do nada, um vulto enorme pulou em cimada onça e, numa só dentada, comeu a metade do bicho. Emoutra dentada comeu o restante, cuspindo para fora o crâniodo animal, que rolou para onde estava o que sobrou docadáver do índio. Da mesma forma que tinha aparecido,

desapareceu. Só ficando no chão as marcas de suas pegadas,enormes, como que a confirmar que ele existia.

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O dia amanheceu chovendo muito. Parecia que o céu iadesabar, de tanta água que caia. Para desespero do Antônio a

expedição não pôde sair. As barracas não foramdesmanchadas e todo o pessoal reuniu-se na grande barraca.A conversa do dia, claro, era sobre os urros da onça na noitepassada. Ninguém declarou que tinha ficado com medo,muito pelo contrário, alguns cientistas, inclusive, afirmaramque tiveram vontade de ir caçar a onça, mas como choviamuito desistiram.Os nativos riam muito da suposta valentia dos cientistas, pois

tinham visto como eles ficaram com medo.A chuva parecia que não ia acabar nunca. Era impressionantea quantidade de água que caia. O barulho das gotas em cimadas barracas era ensurdecedor. O chão não mais conseguiaabsorver tanta água e começava a empossar. Por sorte aclareira em que eles estavam ficava num ponto um poucomais alto do que o restante da floresta que, a essa altura,parecia um lago.Os nativos começaram a ficar nervosos, o que chamou aatenção do Antônio. Este se aproximou do Raimundo eperguntou:- O que está havendo, Raimundo? Estou notando que vocêsestão ficando impacientes.- É que as águas estão subindo muito e se continuar assim osinsetos peçonhentos e as cobras virão procurar abrigo aqui,que está seco. Temos que ficar muito atentos, principalmentepelas cobras coral e jararaca. Mas não é só isso. Se a chuva

não abrandar nós vamos acabar perdendo todos osequipamentos, pois tudo aqui será invadido pelas águas. Todaa região vai virar um lago só.O Antônio voltou aos cientistas e contou o que estavaacontecendo. Tomaram então uma decisão:

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- Nós temos os botes infláveis. Vamos então colocar todos osequipamentos neles.

- E as pessoas, perguntou a Letícia?- Alguém tem uma idéia?- Tenho sim, seu Antônio - respondeu o Raimundo.Raimundo, apesar de ter nascido no Ceará, tinha ido com osseus pais para Manaus, aos dois anos de idade, fugidos dafome e da seca.- Lá, pelo menos, não vamos morrer de sede - dizia o pai, quese chamava Severino, para a sua mulher. Água é o que não

falta.Raimundo serviu ao exército aos dezoito anos, tendo sidodesignado para um batalhão especialista em guerrilhas naselva. Aprendeu quase tudo sobre a sobrevivência na selva e,quando deu baixa, foi trabalhar como guia e segurança doAlemão.Era um moreno alto e forte e muito inteligente. Fazia umsucesso enorme com as mulheres e, quando não estavatrabalhando era certo encontrá-lo nos prostíbulos da cidade.- Então, seu Raimundo, nos diga qual a sua idéia?- Vamos cortar uns bambus e fazer uma jangada tendo comobase dois botes. Assim, colocamos os equipamentos na

 jangada, cobrimos com as lonas das barracas e os outrosbarcos, usamos para o pessoal. Molhados nós vamos ficar dequalquer maneira, pelos menos assim não perderemos osequipamentos.- Ótima idéia, seu Raimundo - disse o Antônio.

E, assim foi feito. As águas subiram como o previsto pelosnativos e as embarcações foram amarradas nas árvores.A chuva durou todo o dia e parte da noite. O dia seguinteamanheceu com um lindo sol, mas eles tiveram que continuarnos barcos até as águas abaixarem. Estavam todos muito

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cansados, molhados e com fome. Mas não podiam fazer nadaa não ser esperar. Só no fim da tarde é que a água abaixou,

mas o local era lama pura. Mesmo assim, completamentesujos e enlameados, conseguiram fazer uma sopa de legumes.Foi um manar dos deuses para eles. De noite, com a terramais seca, armaram de novo as barracas e foram dormir,abençoando por estarem, de novo, em seus sacos de dormir,sem a chuva em cima deles.O dia seguinte veio com sol, novamente. Todo o grupoacordou bem tarde. Mas como dormiram bem, estavam bem

humorados.Tomaram o café da manhã, arrumaram tudo e, finalmente,começaram a caminhada em direção a ilha do alemão. Emfila indiana andaram seis horas seguidas até chegarem asmargens do igarapé que circundava a ilha do Alemão.Montaram de novo os botes e empurrados pelos motores depopa foram em direção à ilha. Quando atingiram terra firme,abriram uma clareira com as moto-serras e montaram o novoacampamento. As barracas foram erguidas e, num clima dealto-astral, por estarem perto de seus objetivos, reuniram-sena grande barraca à espera do jantar. Tinha sido um dia muitoprodutivo. Os guias calcularam que tinham progredido, pelomenos, uns 30 quilômetros.A conversa estava animada e um dos carregadores pegou asua viola e começou a tocar uma música sertaneja. Todos queconheciam a música cantaram juntos, fazendo coro. A noiteestava estrelada e com lua cheia e uma sensação gostosa

tomou conta do grupo. Parecia uma grande família. Depoisda janta, voltaram a conversar e, como sempre, Raimundocomeçou uma nova história.- Ainda bem que passamos de helicóptero pela região deareias movediças.

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- Elas são tão perigosas assim? - perguntou a bióloga.- Muito, doutora. São extremamente traiçoeiras. Parece terra

firme, mas quando a gente pisa, afunda. Aí não tem maiscomo sair. Se não tiver alguém por perto para socorrer, nãotem salvação, vai morrer da pior maneira possível, sendoenterrado vivo.- Não dá para sair mesmo?- Dá não, doutora. E, quanto mais a gente se mexe, maisrápido afunda. Eu mesmo vi um touro morrer em menos decinco minutos.

- Mas que terrível.- Terrível mesmo. Deu muita pena e não pude fazer nada. Oanimal pesava mais de 400 quilos e não tive forças para tirá-lo de lá. No final, quando a cabeça ficou de fora e o bichovendo que ia morrer, chorou feito gente.- É mesmo? Perguntou incrédula a bióloga. Ele chorava?- Chorava, doutora. Feito gente. Pode acreditar. Não saiamlágrimas, é verdade, mas o mugido que ele soltava eraigualzinho a um choro.- Que triste.- Muito. A doutora precisava ver o olhar que ele me lançou.Fiquei dois dias sem dormir, pensando no triste fim do bicho.- Bem, atalhou o Antônio, a conversa está muito boa, masamanhã vamos sair bem cedinho. Se tudo der certo,deveremos encontrar a nossa cidade no fim do dia.- Isso se o Aparí-Parú não nos pegar antes. Falou oRaimundo.

- Você acredita mesmo nessa história do Aparí-Parú?Perguntou o Antônio.- Acredito sim, doutor.- Isso é lenda, Raimundo.- Não é não, doutor.

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- Então nós vamos ver, Raimundo. Segundo você estamosnas terras dele, né?

- Estamos sim, doutor e espero que a gente não dê de caracom ele.- Por que tanto medo Raimundo?- Porque ninguém que o tenha visto sobreviveu para contar ahistória.- Mas Raimundo, esta expedição está bem armada. Nenhumbicho vai nos meter medo. Se ele existir, o que não acredito,nós vamos capturá-lo.

Raimundo não disse nada. Apenas olhou para a Letícia que,instintivamente se aproximou dele.Aos poucos, os expedicionários foram para as suas barracas.Menos o Raimundo que armou a sua rede num dos cantos dabarraca central. Ele preferia dormir ao ar livre, em sua rede.Principalmente, como agora, quando estava contrariado.Achava que o Antônio não devia desacreditar dele.- Bem, veremos - falou em voz alta antes de dormir.De madrugada, quando todos já estavam dormindo, ouviu-seum grito estridente. O grito parecia que tinha saído do meiodo acampamento. Imediatamente todos acordaram e saíramde suas barracas para verem o que tinha acontecido. Todos oshomens, sem exceção, estavam com suas armas em mãos. Aconfusão era geral. Ninguém se entendia.- Calma, berrou o Raimundo, vamos nos organizar.O grito de Raimundo teve um efeito imediato. Todospararam.

- O que aconteceu? - perguntou o Antônio para o Raimundo.- Não sei doutor. Apenas ouvi o grito.Nisso, um dos carregadores apontou para a barraca docozinheiro.- Olha a barraca do Expedito.

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O expedito era o cozinheiro da expedição. Ele era o únicoque dormia sozinho. A barraca dele, que ficava numa das

extremidades do acampamento, estava destruída, todarasgada e no chão. De branca, estava toda pintada devermelho. Era sangue puro.Os seguranças correram imediatamente para o local ecomeçaram a levantar os panos rasgados, em busca doExpedito. Mas, aparentemente, não havia nada, só muitosangue, até que um deles viu um crânio, todo ensangüentadoe ainda com o couro cabeludo e apenas um dos olhos,

esbugalhado.- Vixi, meu Deus do céu!... Berrou o segurança, dando umpulo para trás.Todos se aproximaram e viram a cena: no meio da confusãoda barraca, panelas, mantimentos, panos rasgados, estava ocrânio do cozinheiro.- É o Aparí-Parú, berrou o segurança em desespero. Vamostodos morrer.- Vê se acalma, Tião, berrou o Raimundo, segurando ocaboclo pelos ombros.- É o Aparí-Parú, Raimundo. Ninguém vai sair vivo daqui,falou o caboclo, começando a se mijar nas calças.- Calma, Tião. Não vai acontecer nada disso. Nos todosestamos bem armados e podemos enfrentar qualquer bichoque apareça, inclusive, se for, o Aparí-Parú.O caboclo começou a tremer convulsivamente.Nisso a Letícia se aproximou e deu um calmante para o

caboclo.- Ele agora vai se acalmar. Dei 20 miligramas de Lexotanpara ele. Daqui há uns vinte minutos, no máximo, ele estarádormindo.Virando-se para o Raimundo, perguntou;

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- É o Aparí-Parú mesmo, Raimundo?- Acho que é, Mary. Vamos ver se achamos alguma pegada

dele.Quando viu que a Mary estava conversando com oRaimundo, o Antônio imediatamente se acercou deles efalou:- Vamos procurar pelas pegadas, é o melhor que podemosfazer agora.Raimundo ia dizer para o Antônio que era exatamente issoque estava falando com a Letícia, mas desistiu. Saiu de perto

dos dois, ligou a sua lanterna para poder ver melhor ecomeçou a rodear o local, onde antes, a barraca se erguia.Não demorou muito.- Doutora, venha cá, por favor, pediu.A Letícia se aproximou, com o Antônio colado a ela.- O que foi, Raimundo?- Olha só. Se você estava em dúvida que esse bichorealmente existia, poderá comprovar agora.No chão, em frente ao Raimundo, estava uma monstruosapegada. Ela tinha uma circunferência de pelo menos meiometro.- É bem parecida com a de um jacaré gigantesco, disse oRaimundo.- Não pode ser, revidou a Letícia. Um jacaré que fizesse umapegada deste tamanho teria que ter, no mínimo,15 metros decomprimento. Isso não existe.- Doutora, esta floresta tem coisas que a senhora jamais

suspeitaria existir. Nós estamos praticamente em outromundo. Tudo aqui é possível.- A Letícia, como bióloga, começou a estudar a pegada.Pediu ao Raimundo que a acompanhasse e começou a

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examinar o local, num raio de uns trinta metros. O Antônionão largava os dois.

- Não disse, Raimundo, não é um jacaré.- Como você pode ter tanta certeza?- Olha só Raimundo, se fossem pegadas de um jacaré,veríamos pegadas intercaladas, direita, esquerda, pois é umanimal que anda em quatro patas. Mas aqui, vemos duas, umespaço e mais duas.- O que isso quer dizer, Doutora?- Que o animal, seja ele qual for, anda em duas pernas. E,

veja aqui, temos três dedos e mais um atrás e o de trás, fezum sulco mais profundo na terra.- E? - perguntou o Antônio?- É um espigão. Não, não pode ser - exclamou aflita abióloga.- O que foi? Perguntaram ao mesmo tempo os dois homens.- Eu não sou uma paleontóloga, mas pelo que conheço, essapegada parece mais de um Tiranossauro Rex.- O que é isso? Perguntou o Raimundo?- É o mais terrível dinossauro que já viveu na terra.- Mas isso foi na era Jurássica, há mais de 100 milhões deanos atrás. Disse o Antônio.- Isso mesmo, Antônio.- Mas como um réptil desse poderia ter sobrevivido tantotempo? Perguntou o Antônio.- Não poderia Antônio.- Doutora, atalhou o Raimundo, aqui pode tudo.

- Vamos voltar para o acampamento - pediu a Letícia.- Calma Letícia, estamos bem armados - disse o Raimundo.- Raimundo, você não tem idéia do tamanho e da ferocidadede um bicho desse. Nenhuma das armas que temos seriasuficiente para acabar com ele.

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- Não posso acreditar nisso, Letícia. Nenhum bicho resistiriaa um tiro calibre doze. Mata até um elefante.

- Você apenas o feriria, Raimundo e não teria tempo de daroutro tiro. Ele o comeria antes disso.- O que podemos fazer então?- Acho que de imediato, uma grande fogueira. Isso, comcerteza, não deixaria o animal se aproximar. Assim,passamos a noite e, de manhã, vamos voltar o mais rápidoque pudermos. Temos que abortar essa expedição.Os três, rapidamente voltaram ao acampamento.

Enquanto falavam, todos os membros da expedição se juntaram para ouvir.- Temos que abortar a expedição, Antônio.- Tá maluca, Letícia? Já gastei mais de dez milhões dedólares e cinco anos da minha vida preparando essaexpedição e não vai ser um bicho qualquer que vai me fazerdesistir dela.- Mas não é um bicho qualquer, Antônio. É um TiranossauroRex.- De onde tirou essa idéia, menina? Falou o Antôniocomeçando a se exaltar. - Esse réptil não existe há mais demilhões de anos.- Eu também achava, Antônio.- Letícia, olha bem o que você está dizendo - respondeu oAntônio, alterando a voz - tem certeza absoluta disso?- Bem, Antônio, eu sou apenas uma bióloga, não umapaleontóloga especialista em dinossauros, mas pelo que vi,

acho que é. Mas, antes de você dar outro tiro ele o comeria.- O que podemos fazer então?- Acho que de imediato, uma grande fogueira. Isso, comcerteza, não deixaria o animal se aproximar. Assim,

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passamos a noite e, de manhã, vamos voltar o mais rápidoque pudermos. Temos que abortar essa expedição.

- Pois é, Letícia, apenas por achar, você quer que eu joguefora todo o sonho de uma vida?- Mas...Antônio não deixou a Letícia terminar.- Chega, Letícia. Deixe de sonhar a amedrontar os outros.- Doutora, falou um dos carregadores, o seu Antônio aquitem toda a razão. Não é esse bicho que a senhora falou não. Émuito pior, é o Aparí-Parú.

Um murmúrio se elevou no acampamento. Os caboclos e osíndios começaram a falar alto, até que um deles, como se foraum líder, disse.- Seu Antônio, vamos voltar. Não dá para continuar tendo oAparí-Parú em nosso encalço. Eu não vou ficar aqui, de jeitonenhum.- Nem eu, repetiram como se fosse uma única voz, os outros.- Calma, calma - pediu o Antônio. Eu dobro o pagamento devocês.- Que adianta tanto dinheiro para morrer? Perguntou o líder.Antônio começou a entrar em desespero.-Tudo bem, eu triplico o pagamento.Os nativos e índios voltaram a conversar.- Tá certo, seu Antônio - voltou a falar o líder - mas se oAparí-Parú voltar a atacar, nós vamos embora e o senhor nospaga triplicado.- Antônio pensou um momento e respondeu:

Tudo bem está certo. Eu pago.Virando para o Raimundo, perguntou:- O que temos que fazer para nos livrar desse bicho?- Bem, segundo a Doutora, o melhor é fazer uma grandefogueira.

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Não vamos fazer uma só, não. Vamos fazer quatro grandesfogueiras, uma em cada canto do acampamento. E manhã,

quando seguirmos viagem, vamos caminhar bem juntos ecom as armas preparadas. Ordenou o Antônio.E assim foi feito. Quatro grandes fogueiras foram acessas. ORaimundo deixou um vigia em cada uma delas e todos forampara suas camas. Mas, naquela noite, ninguém conseguiudormir.Ao primeiro raio de Sol, todos já estavam prontos. Ninguémmudou de roupa para dormir e, para todos foi um alívio

quando o dia clareou a mata. O ânimo, com a claridade,melhorou bastante e todos ajudaram na feitura do café damanhã. A grande mesa foi posta e os membros da expediçãocomeçaram o desjejum. Nisso, a mata começou a se mexer,como se estivesse viva e um grande número de pássaroscomeçou a revoar, como se estivessem loucos. Os homens,imediatamente pegaram e engatilharam as suas armas e todosficaram de prontidão.- É o Aparí-Parú que vem nos pegar, berrou um índio. Oacampamento começou a entrar em pânico e o Raimundoteve que tomar uma atitude rápida, antes que todoscomeçassem a correr.- O primeiro que se mexer, eu mato - falou. Vamos nos juntare esperar. Gritou.O grupo todo se juntou e ficou olhando, quase que comohipnotizado, para o local que a mata se mexia. Nesse ínterim,o acampamento foi invadido por sapos, cobras e inúmeros

insetos, como se todos estivessem enlouquecidos.Todas as pessoas se juntaram ainda mais. De repente,perpendicularmente ao acampamento, uma coisa preta,rasteira, começou a aparecer e aumentar de volume. Aomesmo tempo, um barulho indefinido, como se fossem

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gravetos quebrando ao fogo, apareceu. A coisa pretaaumentou, parecendo um rio de piche, escorrendo por dentro

da floresta. Quando chegou mais perto, todos viram que eramformigas, milhões de formigas, numa coluna de uns 50metros de largura, que iam comendo tudo que encontravampela frente. Subiam pelas árvores e em minutos asdesfolhavam, só deixando intactos os galhos e troncos, comoque criando uma floresta fantasma.- O que é isso Letícia? Perguntou o Antônio.- Que maravilha, Antônio, eu nunca em minha vida pensei

que fosse presenciar uma coisa dessas.- Mas o que é isso? Voltou a perguntar o Antônio.- É a “army ants”, falou em inglês.- Fale em português, pediu o Raimundo.- São as formigas de correição, do gênero “Eciton burchelli”que ocorre do Brasil ao México. Elas andam aos milhões, emcolunas de quilômetros, destruindo tudo o que encontrampela frente. Esta colônia deve ter mais de cinco milhões deoperárias. Nada as detém. Ainda bem que não veio em nossadireção, senão teríamos que abandonar tudo e sair correndo.Que maravilha - Exclamou.- Maravilha? Disse o Antônio - essa exclamação só poderiater saído mesmo da boca de uma bióloga.A coluna levou mais de cinco horas para passar, todosestavam estupefatos com o ocorrido. Até os índios,habituados à selva.Quando, finalmente, as formigas passaram, todos se deram

conta que estavam felizes. Felizes por não ter sido o Aparí-Parú.- Vamos embora, falou o Antônio. Essas formigas nosprestaram um favor.- Favor como? Perguntou a Mary.

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- Ora, disse matreiramente o Antônio. Elas foram na direçãoque temos que tomar e nos fizeram o favor de construir uma

estrada para nós.Todos riram muito da observação do chefe da expedição,pois era a pura verdade. As formigas limparam o mato e acaminhada seria muito mais tranqüila sem a vegetação.- Apanhem os barcos - ordenou o Raimundo – vamos seguircaminho.Enquanto os carregadores foram apanhar os barcos quetinham ficado na margem da ilha, os demais começaram a

arrumar as tralhas da expedição.Meia hora depois chegaram os carregadores.- Mas já? Perguntou o Raimundo. Cadê os barcos?- Foram comidos pelas formigas.- Como assim?- Quando chegamos lá, só tinham trapos. Elas comeram tudoque não era de plástico ou de metal.- Sim, mas os barcos eram de plástico.- Mas as costuras de fibras vegetais.Raimundo foi, imediatamente, contar o acontecido aoAntônio. Ele em vez de ficar aborrecido, ficou alegre.- Agora, disse, ninguém mais pode abandonar a expedição.Um desânimo abateu a expedição. Todos eles sabiam que,agora, não tinham mais volta. O jeito era seguir em frente.O Antônio tinha dado uma ordem ao Raimundo:- Raimundo, você sabe o que representa para mim o sucessodesta expedição. Não podemos voltar ao menor desânimo.

- Mas, não podemos voltar mais, doutor.- Podemos sim, Raimundo. Temos três rádios que podempedir socorro. E os GPS podem nos dar a localização exatade onde estamos. E, em pouco tempo os helicópteros podemchegar aqui. Assim, tenho uma missão especial para você.

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- Qual, Doutor?- Eu quero que você dê cabo dos três rádios.

- Mas, doutor, assim caso aconteça alguma coisa, ninguémvai nos achar.- Mas é isso mesmo que quero, Raimundo. Eu quero queninguém nos ache.- Mas o que você está achando que vai acontecer?- Os carregadores e os seguranças estão com muito medodesse bicho. Se ele aparecer de novo, vai haver umainsurreição e vão nos obrigar a pedir socorro. Eles vão

preferir fugir a enfrentar esse tal de Aparí-Parú.- Mas se for mesmo esse tal do Tiranossauro Rex, como dissea doutora?- Ela está morrendo de medo Raimundo. E não sabe o queestá dizendo. Deve ser um grande jacaré, nada mais. E jacaré,a gente mata a tiros. Além do mais, quanto mais nosafastarmos daqui, mais longe ficaremos desse bicho que deveviver no alagado que passamos.- Mas essa região é cheia de rios e alagados.- Você está com medo Raimundo?- Tou sim, doutor- Mas vai fazer o que pedi?O Raimundo ficou em silêncio.- Bem Raimundo, para aumentar a sua valentia, lhe dou ummilhão de reais quando voltarmos. Você ficará rico. Muitorico.Raimundo quando ouviu a cifra, não pestanejou:

- Então está feito, Doutor. Pode contar comigo.

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Capítulo 05

Antônio reuniu todo o pessoal, na grande barraca:- Tenho uma notícia importante para lhes dar: estamos semnenhuma comunicação com a nossa base.- E os rádios? Perguntou aflita a Letícia.- Pois é justamente isso que estou falando. Os aparelhossumiram. Já procuramos por toda à parte e não encontramosnem sombra deles.- Mas quem teria interesse em colocar a expedição semcomunicação com a base? Perguntou a Letícia.- Eu não sei, respondeu o Antônio.- Pois eu sei, Antônio. A única pessoa que teria interesse nosumiço dos rádios é você.- Respondeu a Letícia, nervosa emuito zangada.- Mas por que eu faria isso, Letícia?- Muito simples Antônio. Você está obcecado com a idéia deachar essa cidade perdida e, desta forma, aconteça o queacontecer, não teremos outra alternativa a não ser seguir em

frente.- Você está fazendo uma acusação muito séria Letícia. Afinaleu estou correndo o mesmo risco que todos nós.- Mas você é o único obcecado. Você faria qualquer coisapara continuar a expedição.

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- Você tem razão, em parte. Eu faria quase que qualquercoisa. Mas, também não poria a minha vida em risco. Tenho

família, como todos nós e não pretendo morrer tão cedo. Aperda dos rádios e dos barcos nos coloca numa situaçãocrítica.- Muito mais crítica do que você pensa, Antônio. Se o tal doAparí-Paru for, realmente, o Tiranossauro Rex, não teremos amínima chance de continuarmos vivo.- Pense bem, Letícia: o Tiranossauro Rex foi à criatura maisselvagem que a natureza criou. Ele foi o mais perfeito

predador que já viveu na Terra. Você concorda comigo?- Claro que concordo.- Então você acha que se fosse esse o bicho que matou onosso cozinheiro, ele pararia aí, ou teria atacado a todos nós?- Realmente ele não pararia. Teria nos comido a todos.- Então Letícia? Esse bicho deve ser um grande jacaré.- Não é um jacaré não, Antônio. O jacaré não tem o quartodedo em forma de espigão.- E que bicho temos na Terra com o espigão?- As aves predadoras, como as águias e os gaviões.- Então Letícia, você acha que poderia ser uma avegigantesca?- Claro que não Antônio. O simples bater de asas de uma avecom 15 metros seria ouvida num raio de vários quilômetros.- E nós não ouvimos nada, não foi?- Foi.- Então só pode ser um jacaré gigante, que não conhecemos e

tem um espigão no quarto dedo. Uma espécie desconhecida.- Não é não Antônio. Por que o jacaré andaria em duas patas?Não faz sentido. Anatomicamente seria impossível.- Letícia estamos, provavelmente, diante de uma novaespécie.

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- Ou então de frente com uma espécie que já viveu há maisde 100 milhões de anos.

- Lá vem você novamente com o seu dinossauro. Lembre-seque você já deu essa resposta quando afirmou que um T.Rexnão teria parado só no cozinheiro.- Quanto a isso você tem razão.- Então, Letícia, acalme-se. Não estamos diante de nenhumdinossauro. Pode ser um réptil, sim, o mais provável. Mas umbicho da nossa época, que podemos matar tranqüilamentecom um calibre 12.

- Espero que sim. Respondeu Letícia.A discussão dos dois foi acompanhada atentamente portodos da expedição. Como, aparentemente, os argumentos doAntônio tinham sido mais convincentes, todos se acalmaram.- Bem, voltou a falar o Antônio, as formigas nos fizeram umgrande favor. Vamos dormir cedo, pois amanhã de manhã,logo quando o sol raiar, vamos seguir em direção a Semente.A primeira providência dos carregadores foi a de arrumar asquatro grandes fogueiras que iriam proteger o acampamentodurante a noite. Só depois disso é que eles sossegaram.Assim que começou a escurecer as fogueiras foram acessas.Depois do jantar, todo o grupo continuou na barraca grande aconversar. Ninguém saíra do seu lugar. A impressão que setinha é que todos estavam com medo de ir para as suasbarracas.Eles sentiam-se mais seguros juntos. Mas o sono começou achegar e, aos poucos, em grupos, os expedicionários foram

para suas barracas.Eram três horas da madrugada. O bicho aproximou-se doacampamento. Parou a uns 20 metros e olhou para o fogo quecrepitava nas quatro grandes fogueiras. Como todo animal,tinha um medo instintivo do fogo. Levantou o grande focinho

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e expirou o ar. Sentiu o cheiro dos humanos. O que lhedespertou, mais ainda, a sua fome. Chegou mais perto e foi

para o lado de uma das fogueiras que estava quase queapagada. Bem devagar, tomando o cuidado em não fazernenhum barulho, acercou-se da barraca que estava mais longedo fogo. Absorveu, novamente o ar. A sua visão era muitofraca, mas o olfato era admirável. Reconheceu o cheirodiferente de seis humanos. Mas novamente ficou indecisocom o cheiro do invólucro que protegia os homens. Com asua língua em ponta de vê, experimentou a lona da barraca. O

seu cérebro não conseguia a resposta. Não tinha nada nafloresta que se comparava a aquilo. Mas sabia, porexperiência, quando comeu o cozinheiro, que não lheofereceria a mínima resistência.Deu uma nova fungada. Pelo cheiro localizou os seis corposque dormiam.Wanderlei, um dos carregadores, era um crioulo de quasedois metros de altura. Durante uma grande parte de sua vidafora estivador do porto de Manaus. Por isso era muito forte.Os seus músculos cresceram a custa de muito peso quelevava nas costas, descarregando os grandes navios. Ele, commedo, não tinha ainda conseguido dormir. Por mais quetentasse não deixa de pensar no Aparí-Parú. Estava chateadoconsigo mesmo, pois era muito valente. No entanto o medodaquele bicho era mais forte que ele. Pela milésima vez,mudou de posição em seu saco de dormir. De repente ouviuum barulho esquisito. Era como o fungar de um porco, só que

muito mais alto. Imediatamente o seu cérebro mandou para osangue uma dose enorme de adrenalina e o seu coração,respondendo a química, disparou.O Wanderlei, quase sem poder respirar, todo arrepiado, olhoupara a direção do barulho. Viu uma grande sombra projetada

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pela luz da fogueira. Instintivamente a sua mão procurou pelaespingarda que tinha deixado ao seu lado. Achou-a e levando

ao seu peito, armou-a. Nisso, a parede da barraca mexeu-secomo se fora chicoteada por fora. O susto que levou foi tãogrande, que deixou a espingarda cair no chão. Tentouapanhá-la de volta. Foi o último movimento que fez em suavida.O bicho, numa única bocada, engoliu o Wanderlei. Aomesmo tempo fugiu do local, cuspindo em seguida o crâniodo crioulo.

A barraca, toda rasgada, desabou em cima dos outrosocupantes que começaram a berrar de terror. Todo oacampamento acordou. Alguns, sem saberem o que fazer,começaram a atirar em todas as direções. A situação caóticadurou uns cinco minutos.A cidade era toda de pedras. As paredes formadas porenormes paralelepípedos de granito, que a deixava meioazulada e o chão de um mármore verde da cor da selva. Sóque as paredes, e os tetos, formados por pedras justapostas,estavam revestidos de eras, de forma tal que, só muito deperto é que se poderia ver que era uma construção. De longe,mesmo aos olhos mais apurados, a cidade, que na realidadeera só um prédio, estava totalmente camuflada. Ela secompunha tanto à vegetação que um avião, ou mesmo umhelicóptero, que passasse por cima dela, não a veria.Ela só tinha dois andares e a sua altura não chegava ao topodas árvores que a rodeavam. Uma única e grande entrada, em

arco romano, mas sem porta para fechá-la, dominava a suafrente. No térreo não haviam janelas, só no segundo andar emuitas. Eram tantas que mais pareciam flecheiras de grandescastelos. Mas eram apenas vãos livres, sem nada que asfechassem.

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Quem entrasse, veria um enorme salão, ocupando toda aextensão da construção e duas escadas que davam para o

segundo andar. Cada escada ficava ao lado oposto da outra.No meio do salão, uma grande pedra redonda, como se fosseum altar, com um diâmetro de 5 metros, num tom azulmarinho, brilhante, mais parecendo uma grande safira. Emvolta, seis cadeiras de pedras brancas, opacas. Apesar de nãoter nenhuma abertura para a luz entrar, o salão estava clarocomo se estivesse ao ar livre, só que a luz era azul clara,parecendo à iluminação de lâmpadas fosforescentes. O

silêncio era profundo.Um vulto pequeno, vestindo uma túnica azul marinho, desceupor uma das escadas e sentou-se em uma das cadeiras.Imediatamente a cadeira acendeu-se numa brilhante coramarela. Um amarelo puro e totalmente transparente, comoum vidro iluminado, deixando transparecer a túnica doocupante.O vulto era um ser franzinho, com braços e pernas muitofinos e uma cabeça desproporcionalmente grande em relaçãoao seu corpo. As orelhas eram pequenas, assim como a suaboca e os olhos pretos e rasgados como se fossem de um

 japonês. Não havia nenhum pêlo. Nem cabelos nemsobrancelhas. Também não tinha nada que determinasse osexo.O ser, assim que se sentou, colocou as duas mãos,espalmadas, sobre a enorme pedra e abaixou a cabeça.Minutos depois, outro ser desceu as escadas, com a mesma

vestimenta e sentou-se na cadeira à sua frente. A cadeirailuminou-se, da mesma forma, só que num tom verdeesmeralda. Ele ficou na mesma posição que o outro.- Chamou-me Aba Epyak? Perguntou. Só que sem falar. Portelepatia.

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- Chamei, Aba Ibi. Estou muito preocupado.Eles eram dois dos seis guardiões da Semente. Há muitos

séculos atrás, o universo tinha duas raças que predominavamsobre todas as outras. Os Guaranis e os Zorkos. Ambas deformas humanas e com uma tecnologia muito acima da atualraça terrestre. Cada uma dominava uma parte do universoconhecido e viviam numa paz extremamente nervosa, vistoque os Zorkos eram seres beligerantes. Um dia, uma princesaZorkoiana apaixonou-se perdidamente por um príncipeGuaraná. O Imperador guaraná viu o fato como uma

oportunidade única de unir os dois povos e obrigou o seufilho, que se chamava Kunumim, a se casar com a princesaZorkoiana.Mas Kunumim estava apaixonado pela Yaci, filha de umgovernador de um dos planetas sobre o domínio dosGuaranis. A muito custo, depois de pedidos incessantes deseu pai, lembrando-lhe que um príncipe tinha deveres com oseu povo, acima dos seus pessoais, concordou em se casarcom a princesa.No dia do casamento, no planeta sede dos guaranis, que sechamava Tupi, o príncipe na hora de dizer o sim, olhou paraa Yaci e não teve coragem. Disse não.O Imperador Zokorniano sentiu-se profundamente ofendido echegando em seu planeta declarou guerra aos guaranis.A guerra durou mais de duzentos anos, tal o equilíbrio queexistia entre os dois povos. Mas, aos poucos, osZorkonianos foram vencendo, graças a uma estratégia pouco

convencional de um dos seus generais: num dos planetasmais distantes e primitivos do domínio Zorkoniano, existiaum inseto, chamado de Aparí-Parú, extremamente voraz, quecrescia até 6 metros de altura e se reproduzia de uma formaincrivelmente acelerada. Um único inseto, hermafrodita,

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colocava mais de mil larvas que se desenvolviam paraadultos em apenas duas semanas, quando se tornavam em

condições de se reproduzir novamente.Esses insetos foram introduzidos pelos Zorkonianos nosplanetas da nação guaraná e, em pouco tempo, dizimaram aspopulações. Os guaranis, desesperados tentaram, em vão,controlar a praga, mas não conseguiram. Nenhum defensivoconseguiu ser desenvolvido que acabasse com os Aparí-Parú,sem acabar também com os guaranis.Como última alternativa, embarcaram em suas naves para

habitarem outros planetas, mas as larvas existentes em seusmeios de transporte, acabavam na maioria das vezes com astripulações. Pouquíssimas naves conseguiram chegar nosplanetas virgens. Mesmo assim, quando conseguiam, a pragaacabava, rapidamente, com as populações.Os Zorkonianos, por sua vez, agora com grande vantagemespacial, verificavam os mundos onde os guaranis tentavamsobreviver - através do radar que localizava metais - ebombardeavam os planetas. Um por um, eles foramacabando com os guaranis.Somente num planeta os guaranis conseguiram sobreviver: aTerra. Por dois motivos. O primeiro é que os guaranisabandonaram todos os metais e se adentraram na selva. Osegundo é que na terra existia um inseto, a formiga, quecomia todas as larvas que o Aparí-Parú produzia. Por maisque colocasse. As larvas eram adocicadas e, por esse motivo,facilmente localizadas pelas formigas. Assim, o Aparí-Parú

foi controlado nesse planeta.A cidade primitiva dos guaranis, erguida no meio da selvaamazônica, não foi totalmente abandonada. Ficaram seissábios, como guardiões da cultura guaraná. Eram três homense três mulheres. A cidade, construída propositadamente de

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pedra, ocultava dentro dela os instrumentos de metal dosguaranis. Assim, geração após geração, eles continuaram se

desenvolvendo e se clonando, aperfeiçoando cada vez mais asua raça. O DNA responsável pelo desenvolvimento docérebro foi identificado e utilizado nas clonagens, obtendo-seassim gerações cada vez mais inteligentes. Odesenvolvimento foi tão grande que, em determinadomomento, eles se tornaram mutantes, conseguindo apenaspelo pensamento, o domínio físico. Desta forma, conseguiammover e transformar objetos, comunicarem-se através da

telepatia e outros poderes inimagináveis aos terrestres.Decidiram então que cada guardião, além dos poderesbásicos, se especializasse em determinados assuntos, com oobjetivo final de derrotarem os Zorkonianos e poderemvoltar, enfim, ao seu planeta original.Mas, precisavam de tempo. Por isso, através da meditaçãopura, continuavam os desenvolvimentos de seus poderes.Já que estavam numa ilha, cercada por igarapés, deixaramalguns Aparí-Parú para proteger a cidade dos terrestres.Fizeram um estoque das larvas e substituíam os grandesinsetos quando morriam, por outros, controlando dessa formaa população dos bichos.- O que o aflige, Aba Epyak?Aba Epyak, na língua guaraná, significava o homem que vê.Era o poder maior dele: conseguia ver tudo o que acontecianum raio de 100 quilômetros ou, se fosse o caso, numapessoa que conhecesse, estivesse onde estivesse.

O Aba Ibi era o protetor da terra. Em sua língua significava ohomem da terra. Ele tinha poderes sobre todos os seres vivosda terra.- Uma expedição de terráqueos está vindo em nossa direção.No momento eles estão à apenas 10 quilômetros da cidade.

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- E o Aparí-Parú?- Já os encontrou e fez duas vítimas.

- Espero que consiga afugentá-los.- Acho que dessa vez vai ser mais difícil. Eles estão bemarmados e são pessoas de um bom nível intelectual. Creioque acharão um meio de passarem pelo Aparí-Parú.- Você não acha que chegou a hora de termos os primeiroscontatos com os terráqueos?- Tenho minhas dúvidas. Eles ainda estão muito primitivos.- Mas temos que tomar uma posição. Caso eles passem pelos

Aparí-Parú, com certeza chegarão a Semente.- Vamos convocar o conselho.- Vamos então.Dois minutos depois os outros membros começaram a desceras escadas. Todos eles com a mesma túnica.Cada um sentou em sua cadeira. Dependendo do poder delesas cadeiras acendiam uma cor. Quando todos estavamsentados, cada cadeira tinha uma cor e cada cor representavaum poder específico.Eram as cores do arco-íris, resultado da refração da luzbranca do Sol. As cores eram o violeta, o azul, o vermelho, olaranja, o amarelo e o verde.A grande pedra do centro, que originalmente era azul,transformou-se numa intensa luz branca que era o resultadoda mistura de todas as cores.

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Capítulo 06

- Calma, calma, berrava o Raimundo. Assim vamos nosmatar a todos.O acampamento era um pandemônio. Dois dos carregadoresmorreram pelas armas disparadas a esmo, por seus

companheiros. Por fim, a balburdia acalmou.- Alguém viu o bicho? Perguntou a Letícia.- Eu vi e consegui atirar nele, falou um dos seguranças.- Como ele era? Perguntou aflita a bióloga.- Era horrível.- Eu posso imaginar. Mas, acalme-se e tente descrever-me.- Ele era imenso e tinha a cara de uma mosca.- Uma mosca?- Isso mesmo. Uma mosca no corpo de um lagarto. E tinhauma língua enorme.- Você tem certeza?- Tenho sim senhora. Eu atirei nele, duas vezes.- E acertou?- Acertei sim senhora. Mas o bicho não morreu e foi emboracom o Wanderlei em sua boca.- Então vamos ver se o encontramos ferido ou mesmo morto.- Eu não vou agora, não. Só quando amanhecer.

- Então está bem. Vamos esperar o dia amanhecer e quandoficar claro, vamos atrás do bicho.O grupo ficou junto, com as armas carregadas esperando osol nascer. A primeira providência foi a de enterrar os

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companheiros mortos pelos disparos feitos pelos seuscolegas.

Depois do enterro, um grupo ficou limpando e organizando oacampamento, que tinha sido quase que totalmente destruído,enquanto o outro, liderado pelo Antônio, mais o Raimundo ea Letícia, foi procurar o Aparí-Parú.- Em que direção ele foi? Perguntou o Raimundo aosegurança que tinha atirado.- Nesta direção, apontou com o dedo.Com as armas engatilhadas foram na direção apontada. A

selva era fechada com capins altos e cheia de cipós e outravegetações que dificultava muito o andar. Depois de andaremuns dez metros, a Letícia encontrou um líquido branco, opacoe viscoso em uma planta.- Olha isso aqui! Falou para o Antônio.- Mas que gosma, parece vômito. Será que o bicho vomitou?Perguntou o Antônio.O Raimundo chegou perto e examinou detalhadamente olíquido.- E como fede, disse ele. Parece sangue de barata.- Isso Raimundo, disse a Letícia, acho que você acertou. Issonão é vômito. É sangue de inseto. Acho que o nosso bichonão é um réptil é um inseto.- Olha outro aqui, exclamou o Antônio. Seja o que for estámuito ferido mesmo.- Vamos seguir o sangue. Quem sabe vamos encontrá-lo?Falou o Raimundo.

Pista atrás de pista o grupo foi avançando.- Aqui, seu Antônio. Matei o Aparí-Parú. Berrou o André,que era quem tinha atirado no bicho.Todos, rapidamente, se dirigiram ao local.

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- Meu Deus, exclamou a Letícia. Nunca vi coisa igual. Pareceum Louva-Deus com rabo.

Realmente. O Aparí-Parú era enorme. Tinha uma altura deuns 6 metros. O corpo era totalmente verde e a pele parecidacom plástico. A cara era igual à de um Louva-Deus, com doisgrandes e salientes olhos. Os membros dianteiros erampequenos, em relação ao corpo, com duas garras, em vez dededos, e os traseiros eram compridos e fortes. O pescoço erafino e longo, desproporcional, também, ao corpo do bicho. Orabo era pequeno e grosso.

- É mesmo um inseto, Letícia. Exclamou o Antônio.O bicho estava deitado, com dois enormes furos no corpo,causados pelos tiros do André, de onde saia o sangue típicodos insetos.- André, pediu a Letícia, volte, por favor, ao acampamento eapanhe uma máquina fotográfica.O rapaz foi e voltou num pé só, trazendo com ele todos osmembros da expedição, mortos de curiosidade, de enfimconhecerem o famoso Aparí-Parú.O André chegou perto do Antônio e lhe fez um pedido:- Seu Antônio, por favor, deixe-me fotografar junto com obicho. Eu quero provar a todo mundo que matei o Aparí-Parú.O bicho foi fotografado pela Letícia de todos os ângulospossíveis e imaginários e depois, sob o riso de todos o Andréfez a pose clássica do caçador, de cócoras, com a espingardasobre o ombro e com o bicho por trás.

- Essas fotos vão dar o que falar quando voltarmos, disse aLetícia.- Com certeza, confirmou o Antônio.

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O grupo, de moral alto, voltou ao acampamento. Todosestavam felizes e sorridentes. Afinal, o bicho que os

aterrorizavam estava morto.Rapidamente arrumaram as suas tralhas e foram, novamenteem direção ao seu objetivo. Escolheram o caminho dasformigas e avançaram vários quilômetros, facilitados pelalimpeza dos insetos. Depois de dez horas de caminhadachegaram em frente à Semente. O grupo parou estupefato.- Não acredito, berrou o Antônio. Chegamos ao nossoobjetivo. Descobrimos a Semente. Sinto-me como se fosse o

Pedro Álvares Cabral descobrindo o Brasil, disse rindo echorando ao mesmo tempo.Ninguém conseguia dar mais um passo. Todos, como queparalisados, ficaram de boca aberta olhando para aconstrução.- Mas é apenas um prédio, falou a Letícia.- O que você queria encontrar, respondeu o Antônio, NovaIorque?- Não Antônio, desculpe-me. Na minha imaginação euachava que iria encontrar uma cidadezinha e não um prédio.Mas é uma descoberta sensacional. Estou tão emocionadacomo você.- Mas tem uma coisa esquisita, falou o Raimundo. Não sei sevocês repararam.- O que foi? Perguntou o Antônio.- O silêncio. Não escuto mais o barulho da selva.- É mesmo, disse o Antônio, não escuto passarinhos, o gritos

dos macacos, nada. Parece que estamos numa câmara desom.- Vamos lá, disse a Letícia. Vamos ver o que achamos.- Não Letícia, daqui a pouco vai escurecer. Acho melhor,apesar da minha enorme curiosidade, acamparmos e

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esperarmos o amanhecer. Vai ser mais prudente. Na realidadenão sabemos o que vamos encontrar e, seja o que for, prefiro

saber na clara luz do dia.O novo acampamento foi então montado, o jantar servido e,como sempre, o grupo ficou na barraca grande contandohistórias. Só que o ambiente era o melhor possível. Além deterem matado o Aparí-Parú, tinham encontrado a cidadeprocurada.Raimundo então pediu a palavra:- Vocês conhecem um bicho chamado...

Letícia não deixou ele continuar.- Chega seu Raimundo, com esses seus bichos. Já não basta oAparí-Parú? Não agüento mais...Todos riram muito. O André, eleito o herói do grupo por termatado o bicho, pegou a sua viola e começou a tocar asmúsicas sertanejas, sendo acompanhado por todos quesabiam as letras.No dia seguinte, a ansiedade de todos era tão grande, que malo sol raiou todos já estavam de pé e prontos para a aventurada exploração do prédio. O café da manhã foi praticamenteengolido por todos, pois ninguém queria se atrasar na entradada cidade.Mas, além da ansiedade, havia uma espécie de medo nosemblante de cada um. A expectativa era grande. Estavam aponto de realizaram o descobrimento do século 21, comoafirmava o Antônio e, quem sabe, conhecerem técnicas eciências inimagináveis para a raça humana.

Com o Antônio na frente, tendo a Letícia ao seu lado, ogrupo dirigiu-se à cidade. Mas nem tinham dado dez passos epararam. Do grande portal da cidade apareceu um pequenoser, vestido de uma túnica azul marinho.

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Todos ficaram imobilizados com a visão. Ninguém se mexiaou falava. O silêncio era total. Os carregadores e os

seguranças, que eram as pessoas mais simplórias daexpedição, se ajoelharam.De repente, outros seres apareceram. Todos vestidos damesma forma. Num total de seis.O que pareceu primeiro falou:- Bem vindos amigos e em paz. Já estávamos lhes esperando.Mas, todos se deram conta que o estranho ser não falava. Elesouviram e compreenderam através do cérebro.

- Quem são vocês, perguntou o Antônio?- Somos os últimos guaranis. Os sobreviventes. Mas, vamosentrar.Antônio chamou os cinco cientistas da expedição e mais osdois seguranças.- Só os cientistas, falou o ser. Vocês não vão precisar dosseguranças. Aliás, não adiantaria nada. Além do mais o nossoobjetivo é a paz. É o nosso primeiro encontro.Os cientistas entraram dentro do prédio e se depararam com agrande pedra azul. Rodeada, agora, por doze cadeiras. Osseres sentaram de um lado e os cientistas do outro.Imediatamente cada cadeira tomou a cor de cada ser e ascadeiras dos cientistas ficaram brancas.Os corações dos cientistas batiam aceleradamente. Aexpectativa era muito grande.- Quem são vocês? Repetiu o Antônio.- Como já dissemos, somos os remanescentes da raça

Guarani.- Os índios?- Não Antônio. Ou melhor, dizendo sim. Só que os índios sãoos representantes da nossa raça que involuíram.- Como você sabe o meu nome? Perguntou o Antônio.

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- Nós lemos os pensamentos de vocês.- Vocês são, então, telepatas?

- Somos Antônio. Adquirimos este dom há uns quinhentosanos.- Mas, por favor, pediu o Antônio, continue a sua história.O ser contou aos cientistas toda a saga de sua raça e a lutamortal contra os Zorkos.- Agora entendo, disse o Antônio. Mas precisamos nosapresentar.- Nós já conhecemos vocês. Mas vocês precisam nos

conhecer. O meu nome é Aba Epyak. Em nossa língua querdizer o homem que vê. Eu tenho esse nome, pois tenho afaculdade de ver o que está acontecendo num raio de 100quilômetros ou então, se a pessoa for minha conhecida, ondeela estiver, não importando a distância. Desta forma, tenhoacompanhado a expedição de vocês desde que desceram doshelicópteros em nossa selva.- Vocês viram então o ataque do Aparí-Parú?- Eu vi.- E não nos ajudaram?- Não tínhamos certeza se era a hora certa de mantermos oprimeiro contato. Desculpe o que vamos dizer, mas vocêsainda são muito primitivos e poderíamos ter problemas. Anossa aparição, com certeza, vai causar muitos distúrbios emsua sociedade. A partir de agora, tudo vai mudar,inexoravelmente. Espero que para melhor. Vocês vão ter querever toda a estrutura social de sua raça.

Assim, decidimos deixar o destino resolver. E a chegada devocês a Semente quer dizer que chegou a hora. Nós, algumdia, vamos voltar ao nosso planeta natal e esperamos que,quando chegar esse dia, tenhamos contribuído para odesenvolvimento de sua raça e que sejamos amigos.

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Por isso é que não interferimos no caso do Aparí-Parú,deixamos nas mãos de Tupana.

- Tupana?- Deus.- A minha direita, continuou Aba Epyak, o guardião Aba Ibi.O antropólogo da expedição não se conteve e falou:- O homem da terra.- Isso mesmo Eliberto. O homem da terra. Ele tem poderessobre todos os seres da terra. Sejam eles animais ou vegetais.- Como é que você sabia, perguntou o Antônio ao Eliberto.

- Os nomes são Tupi-Guarani.- Exatamente, respondeu Aba Epyak. A nossa língua natal.- Quer dizer então que a língua Tupi-Guarani é uma línguaextraterrestre? Perguntou o Antônio.- É, respondeu Aba Epyak. Quero lhe apresentar a Kuyã Ci.Ela é a mulher mãe. Ou seja, tem os poderes sobre oselementos naturais da terra: o ar, o fogo, a água e o vento. Elaé a que tem mais trabalho com vocês.- Por que? Perguntou a Letícia.- Porque vocês estão destruindo o planeta.- Ela é uma mulher?- É.- Mas desculpe, disse a Letícia, eu não vejo nenhumadiferença física entre ela e vocês. Melhor dizendo, não vejanada que a identifique como uma mulher.- Isso é muito fácil de responder. Mas, para explicar tenhoque, a contragosto, voltar a afirmar que vocês são muito

primitivos. Daí a necessidade das fêmeas de vocês teremdiferenças físicas que são, na realidade, atrativos para osmachos. Mas nós não precisamos disso.- Vocês não fazem sexo, então?

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- Claro que fazemos. Mas ele é bem melhor que o de vocês,pois ele é mental, apesar de ter as conseqüências físicas que

vocês conhecem. Mas ele é muito mais intenso, poisaprofunda no ser de cada um de nós. Nós vibramos células,por células.- Então tanto faz se um homem faz sexo com outra mulher oucom outro homem.- Engano seu. As ondas mentais são femininas ou masculinas.E a atração corresponde às ondas cerebrais.- Mas se vocês não tem contato físico, como que procriam.

- Há muitos séculos que a nossa procriação não é, comovocês chamam, de natural. Nós somos clonadosartificialmente, daí os nossos genes serem puros e perfeitos.Vocês já estão nesse caminho, apesar de, ainda inicialmente,com animais.- Vocês devem viver, então, muitos anos.- A nossa idade média é de quinhentos anos.- Vocês são diferentes, fisiologicamente, de nós?- Somos exatamente iguais. A diferença está na pureza dosgenes e no desenvolvimento cerebral.- Mas fisicamente são diferentes.- A natureza adapta os corpos de acordo com a necessidadedas espécies. A teoria Darwiniana está certa. Descendemosdos macacos. E todos viemos do mar. Mas, assim como,quando descemos das árvores perdemos os rabos, porinutilidade desse apêndice, os nossos corpos atrofiaram pornão dependermos tanto dos esforços físicos. E, claro, o nosso

crânio teve que aumentar para suportar o desenvolvimentocerebral.- Mas vocês ficaram muito feios, disse a Letícia sem pensar.Depois tentou consertar: - desculpe é que...Aba Epyak não deixou ela acabar de falar.

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- Não precisa se desculpar, Letícia. Tudo é uma questão dereferência. Nós nos acostumamos a esta aparência e achamos

vocês também muito feios. Mas, como já disse, tudo érelativo. Apenas nos acostumamos e achamos o que édiferente, feio. Mas deixa-me continuar as apresentações: aminha esquerda apresento-lhes a Kuyã Kuwaab. A mulher dosaber. Ela guarda todos os conhecimentos da nossa raça.- E os computadores?- Para que?- Ora para guardar, com segurança, todo o conhecimento.

- Existe computador melhor que o cérebro?- Mas se acontecer alguma coisa com ela? Se ela morrer?- Isso não pode acontecer.- Como não? E se a matarem, ou ficar doente? Ou tiveralgum acidente ou for picada por uma cobra, por exemplo?- Vamos por parte: cada guardião tem, como vocês estãocomeçando, a saber, um dom específico. Mas, além dessesdons, a soma dos poderes de cada um de nós, nos tornamtotalmente seguros. Nós não ficamos doentes, pois os nossosgenes são perfeitos, assim como somos imunes a venenos. Etambém não sofremos acidentes, pois sabemos de antemão oque pode nos acontecer. Assim, evitamos qualquer tipo deacidentes.- Então vocês são invencíveis?- Bem, não sabemos.- Como assim?- Aqui na Terra, podemos dizer que sim. Mas, já se fazem

mais de cinco mil anos que perdemos o contato com osZorkos e não sabemos como eles evoluíram. Desta forma nãosabemos. Mas em alguns anos eles estarão de volta. Aí saberemos.

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- E se perderam o contato com os Zorkos, como sabem queeles voltarão?

- Os Zorkos deixaram sondas em todos os sistemas solaresque poderiam ter vida. Eles pensam que nos dizimaram. Nãosabem da existência da Ainy- Desculpe interromper, mas quem é Ainy?- Não é quem, mas o que é. Ainy é onde estamos. É esta casa.- Quer dizer a Semente?- Bem nós chamamos de Ainy, que em nossa língua querdizer semente. Pois este local foi uma semente da nossa raça,

que plantamos aqui na Terra.- Agora o nome faz sentido para mim. É o recomeço de suaraça. Mas, continue, por favor.- Bem, a raça humana está evoluindo muito. Vocês jádeixaram, através de naves tripuladas e de sondas, o planetaTerra. Logo, logo, a sonda Zorkoiana pegará uma destasnaves e mandará a informação para Zorkos. Eles então, comcerteza, virão aqui para destruir vocês. E nesse dia, teremos oconfronto final entre a raça Guarani e a Zorkos.- E a nossa também, pelo visto.- Com certeza. Por isso é que deixamos que Tupanadecidisse. Se vocês estão aqui é porque existe um motivopara isso. Talvez o dia do confronto esteja mais perto do quepensávamos. Infelizmente.- Por que infelizmente? Se é inevitável, porque não logo?- Esse é um dos grandes defeitos da raça humana. Aimpaciência. Nós estamos nos esforçando para evoluir do

estado físico para o espiritual. Quando esta etapa for atingida,que esperamos nos próximos cem anos, os Zorkos, pois maisevoluídos que estejam, não poderão nos atingir. Aí,voltaremos ao Tupi, nosso planeta natal.- E nós?

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- Antes, nós lutaremos por vocês. Por isso é que desejamosque os Zorkos demorem a nos descobrir.

Voltando as apresentações: ao lado da Kuyã Kuwaab está aKuyã Aysu. É a mulher do amor. Ela tem os poderes do bem.Ela é a mais poderosa de todos nós, pois é através dela que oamor é difundido. Tudo que é de bom na Terra pertence a ela.E, por fim, Aba Yuka. É o homem que mata. Ele tem o poderdo mal.- Mas, Aba Epyak, tudo que vi de vocês até agora é bom.Terra, elementos, amor, clarividência, saber. Agora você nos

apresenta o senhor do mal? Por que?- O mal e o bem são absolutamente necessários. Um nãopode viver sem o outro. Como poderíamos nos defender, oque quer dizer guerrear, dos Zorkos, sem o mal? Ficaríamosindefesos. O mal é útil.

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Capítulo 07

A esquadra Zorkoiana entrou no sistema Solar. Ocomandante perguntou ao navegador:- Qual deles?- É o terceiro planeta. Aquele azul.- E os outros?- Não tem vida superior. Só em alguns, bactérias.- Vamos então entrar em órbita nele.- Em órbita de 35 quilômetros, senhor.- Ligue o analisador, ordenou o comandante.- Ligado, senhor.- Vamos ver o que ele nos diz.Na grande tela do computador da nave apareceu a seguinteinformação:PLANETA COM ATMOSFERA TENDO O PREDOMÍNIODE OXIGÊNIO. SUPERFÍCIE COMPOSTA DE DOISTERÇO DE ÁGUA PARA UM TERÇO DE TERRA.

HABITADA POR VÍRUS, BACTÉRIAS, INSETOS,PEIXES, BATRÁQUIOS, AVES E MAMÍFEROS. RAÇAPREDOMINANTE: MAMÍFEROS. CLASSIFICAÇÃOHUMANOS. ESTÁGIO DE DESENVOLVIMENTONÍVEL QUATRO.

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POPULAÇÃO HUMANA: TRÊS BILHÕES E CEMMILHÕES DE SERES.

INTELIGÊNCIA NÍVEL SETE.- Desenvolvimento nível quatro e inteligência nível sete?Temos que exterminá-los. É um perigo para nós. Eles estão aum ponto acima no nível de desenvolvimento e 4 pontosacima do nível máximo de inteligência. Não temosalternativa, segundo a nossa Carta. Disse o comandante. -Plote as 100 maiores cidades e as destrua. Depois mande asonda com 10 milhões de larvas de Aparí-Parú. Não quero

me arriscar. Esses seres, em mais 100 anos, poderiam ser umobstáculo para a nossa raça.

CASA BRANCA - EEUU.

- Por favor, preciso falar urgente com o Secretário deSegurança.- Quem deseja? Perguntou a telefonista.- Diga que é o Artur Nestein. Chefe do Observatório dePaloma.O Observatório de Paloma, no Novo México, era o maiorcentro de pesquisas astronômicas dos Estados Unidos.Composto de seis telescópicos e vários rádios-telescópiossondava dia e noite o universo.- Vou-lhe passar para o seu assistente, senhor, disse a

telefonista. Um momento.- Pois não? Atendeu o Smith Claven.- Quem fala?- Smith Claven, chefe do gabinete do Secretário deSegurança.

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- Sr. Smith, tenho que falar urgentemente com o Secretário.- Quem fala?

- Artur Nestein, chefe do Observatório de Paloma.- O senhor poderia informar o assunto?- É confidencial.- Sinto muito senhor. O Sr. Secretário está em reunião com oPresidente.- Mas é urgente, muito urgente.- Tão urgente assim que possa interromper uma reunião como Presidente?

- Muita, senhor Smith. Aliás, é tão grave que na realidadedevia falar diretamente com o Presidente.- Sinto muito, senhor Artur, mas eu não devo interromper,principalmente sem saber o assunto.- Mas já lhe disse que é confidencial.- Então senhor Artur mande um e-mail ou um telegramapedindo uma audiência.O Artur desesperou-se.- Você não está entendendo, Sr. Smith. O assunto é deextrema gravidade. Preciso falar urgente com o Secretário.- Desculpe, Sr. Artur, mas não posso fazer mais nada.Dizendo isso o chefe do gabinete desligou o telefone. Emseguida, discou para o número da central do FBI que, dedentro da Casa Branca, controlava todas as ligações recebidasno prédio do Presidente.- Marcos?- Sim Smith, pode falar.

- Acabo de receber uma ligação muito esquisita de um tal deArtur, que se diz chefe do Observatório de Paloma. Podiaconfirmar, por favor?- Ligo-lhe em seguida, Smith.

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Smith recebia, diariamente, dezenas de ligações de pessoasque queriam falar com o Secretário de Segurança. A maioria

de pessoas malucas, falando de óvnis e outras besteiras, emseu entender. Mas aquela o deixou intrigado. Não sabia o porque, por isso, pediu a confirmação da origem para o FBI. Narealidade o Secretário de Segurança estava trancado em suasala, falando com a sua amante, que o estava notificando dasua gravidez. O que era um problema muito grave para oministro, visto que ele estava candidato a senador pelo estadode Nova Iorque.

Amigo de infância do Secretário e seu confidente, sabia doproblema de seu chefe e não o iria interromper, de modoalgum, a não ser que fosse, realmente, um assunto muitosério.O telefone toca. Smith, de um salto, atende:- Pois não?- Smith, é o Marcos.- Oi Marcos, identificou?- É mesmo do Observatório. E o Artur é realmente o chefe.- Obrigado Marcos. Você pode vir a minha sala?- Estarei num minuto.Smith, impaciente, ficou esperando pela vinda do Marcos.Não sabia por que, mas intuitivamente achava que o assuntoque o astrônomo queria falar poderia ser, realmente, sério.Marcos bateu suavemente duas vezes na porta do gabinete eentrou na sala do Smith.- O que você quer, Smith?

- Você escutou a gravação da minha conversa com o Artur?- Escutei.- Eu não sei, mas alguma coisa me diz que o cara estavafalando sério.- Eu também acho e a ficha dele é admirável.

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- É mesmo?- PHD e doutorado em Harvard. Há cinco anos chefe do

Observatório, tendo descoberto vários corpos celestes. Émembro também da Academia de Ciências dos EstadosUnidos e Membro da Comissão de Estudos Astronômicos daONU. Não é um cara qualquer. Aliás, tem um cometa com oseu nome, por sua descoberta.- Que tal a gente ligar para ele e você fala como se fosse oSecretário. Assim ele diria o que quer e nós poderíamosavaliar se perturbamos o Secretário ou não.

- Por que você não fala diretamente com o Secretário e deixa-o decidir? Assim você tira a responsabilidade de suas costas.- É que o Secretário está tratando de um assunto pessoal epediu-me para não o interromper. A não ser que fosserealmente muito importante ou o Presidente.- Mas nós estaríamos cometendo um ato ilegal.- Eu banco esse ato, Marcos.- Então está bem.- Dona Judith, pode, por favor, fazer-me uma ligação para oObservatório de Paloma? Quero falar com o Sr. ArturNestein.Dois minutos depois a ligação foi completada.- Sr, Artur? Aqui quem falar é o Smith, Chefe de Gabinete doSecretário da Defesa. Ele vai falar com o senhor.- Até que enfim, respondeu o Artur.- Bom dia, senhor Artur, o que o senhor deseja?- Bom dia Secretário. O senhor vai me desculpar, mas tenho

que ir direto ao assunto: cinco naves extraterrestes entraramem órbita na Terra.- O senhor tem certeza disso? Perguntou o Marcos.- Absoluta.- Um momento, por favor.

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Tampando o fone com a mão, o oficial do FBI falou para oSmith:

- Ele está dizendo que cinco naves extraterrestres entraramem órbita na Terra.- Tem certeza?- Ele disse que absoluta.- Então temos que falar com o Secretário, mesmo.- Fala que o ligamos em seguida.- Sr. Artur, ligaremos de volta em uns minutos. Dizendo issodesligou o telefone sem dar tempo para o Artur responder.

- Agora está em suas mãos, falou o Marcos.Smith ligou para o Secretário.- Andrews, desculpe interrompê-lo.- Pode falar, Smith.- Recebi um telefonema do chefe do Observatório de Paloma,que diz que cinco naves extraterrestes entraram em órbita naTerra.- Você confirmou a veracidade do telefonema?- Verifiquei. Aliás, estou com o Marcos aqui na minha sala.- Dê-me, por favor, cinco minutos e venham os dois na minhasala.Impacientemente esperaram cinco minutos e foram para oGabinete do Andrews.- Como é o nome dele, perguntou o Andrews?- Artur.- Ligue para ele, ordenou.- Antes, quero lhe dizer que, em seu nome ligamos para ele,

para saber o assunto, pois ele só queria falar com você.- Tudo bem. Complete a ligação.- Sr. Artur? O senhor Secretário vai lhe falar.Em seguida, entregou o telefone para o Andrews.

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- Sr. Artur, como posso confirmar o que o senhor estádizendo?

- Senhor Secretário, entre no nosso site www.observatorio depaloma.org aplique a senha op1313 que o senhor verá,pessoalmente, o que estou lhe dizendo.Andrews digitou o endereço em seu computador. No linkfoto, clicou e depois, quando pedido, aplicou a senha.Apareceu em seu monitor a imagem de cinco navesestranhas. Pareciam charutos cinzas.- Muito bem, Artur, falou o Secretário, não conte isso a

ninguém e deixe a imagem no ar. Considero o assuntoextremamente confidencial. Falarei com o Presidente e emseguida voltaremos a falar com você.Andrews desligou o telefone, pediu aos dois que osesperassem e foi para o Gabinete do Presidente.

NAVE ZORKONIANA

- Comandante, a principal cidade deles, Nova Iorque, já estáplotada.- Execute.Um raio azulado saiu da nave em direção a Nova Iorque. Nãodemorou mais do que três segundos para atingi-la. A cidadefoi envolvida por uma bola azul que, em décimos desegundos a arrasou. Não ficou pedra sobre pedra.

- Plote a segunda.- Plotada, senhor.- Execute.

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CASA BRANCA

O Presidente e o Secretário de Defesa estavam conversandosobre o aparecimento das naves extraterrestres. Estavamligados na internet no site do Observatório de Paloma, vendoas imagens geradas pelo principal telescópico, quando umraio azul intenso saiu de uma delas em direção a Terra.- O que foi isso? Perguntou o Presidente.Segundos depois toca o telefone. O Presidente atendeu.- Como? Disse ele. Impossível, você tem certeza? Está certo.

Desligou.- Nova Iorque foi riscada do mapa.- Como assim?- Eles estão nos atacando, Andrews. Aquele raio destruiuNova Iorque.- Olha outro, falou o Andrews.Outro raio saiu da nave principal.Novamente o telefone toca.- Meu Deus, Tóquio agora?Nisso vários helicópteros do exército estavam descendo naCasa Branca.- Vamos Andrews, temos que nos esconder no bunker doArizona. Eles estão atacando as nossas cidades.- E a minha família, Presidente?- As nossas famílias já estão sendo deslocadas para lá, dehelicópteros. Temos que sair o mais rápido possível.Novamente o telefone toca. O Presidente atende.

- Sim, General, pode contra-atacar. Tem a minha permissão.Andrews olhou para o Presidente como a lhe perguntar o queestava acontecendo.

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- Ordenei ao General MacArtur Ponds que contra-atacasse osmiseráveis. Ainda bem que o nosso projeto Guerra nas

Estrelas já está pronto. Agora eles vão ver.

SAN DIEGO - CALIFÓRNIA

Dentro do quartel general da maior base aeronaval dosEstados Unidos, o Almirante de Esquadra Mikie Stevensdesligou o telefone em que estivera falando com o General

MacArtur. Virou-se para o seu lugar tenente, o Contra-Almirante Jayme Androme e ordenou:- Lance os mísseis, Jayme.Um a um os enormes silos que guardavam sobre a terra ospoderosos mísseis Lobos Alados, pertencentes a maisavançada tecnologia bélica foram abertos.Na sala de comando, os operadores trabalhavam febrilmentenos computadores, ativando as armas de defesa.- Número um, pronto, falou o operador principal.- Lançar, ordenou o Almirante de Esquadra.A contagem regressiva começou:- dez, nove, oito...No zero, o primeiro míssil, guiado pelos satélites artificiais,carregando em sua ogiva uma poderosa bomba atômica, foilançado em direção as naves extraterrestres. Segundosdepois, um a um, todos os vinte poderosos artefatos foramlançados.

Na enorme tela da sala, todos acompanhavam o caminho dosmísseis.

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NAVE ZORKOIANA

- Comandante, os humanos contra-atacaram.- Com que armas?- Primitivos foguetes, com primitivas armas atômicasdisse rindo o operador.- Destrua-os.Vários raios saíram das naves e um, por um, os foguetes

foram explodidos, ainda no meio do caminho. Enormesexplosões atômicas mancharam de vermelho a atmosferaterrestre.- Destruídos, informou o operador.

BUNKER DO ARIZONA

Vinte andares abaixo da terra, o Presidente dos EstadosUnidos, chamado pelos seus pares de The Fox - A raposa,pela sua esperteza, estava reunido com todo o seu ministério,observando na grande tela à sua frente, o lançamento dosmísseis, que acreditava, iriam destruir os alienígenas.Um por um, à sua vista, os mísseis foram destruídos. Adesolação foi total. Impotentes, cabisbaixos, ocupavam emouvir, através do rádio, as informações sobre a destruição das

principais cidades do planeta.Nova Iorque, Tóquio, Londres, Moscou, Pequim, Cidade doMéxico, São Paulo, São Francisco, já tinham sido destruídos.O Presidente ordenou a todos os navios de guerra que fossempara o mar aberto e, principalmente, a todos os submarinos

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nucleares que submergissem em mares profundos e ficassemà espera de uma nova ordem.

Todos os maiores cientistas do mundo, que ainda estavamvivos, estavam sendo encaminhados para o bunkerpresidencial.- Eles vão nos destruir. A raça humana está em perigo. Falouo Andrews.- O que podemos fazer? Perguntou o Presidente.- Só esperar, disse o Andrews.- Eles estão acabando com as nossas principais cidades e

depois?- Provavelmente vão desembarcar.- E aí?- Com a tecnologia superior que eles tem, não teremosnenhuma chance.- Mas lutaremos até o final. Disse o presidente.- Sem dúvida, Presidente, mas será o final da raça humana.Não temos condições de competir com eles.- Sempre encontraremos um jeito, Andrews.- Senhor Presidente, acho que não. Desta vez, será o fim.Teremos o mesmo destino dos dinossauros.Voltando para a grande tela que ainda continuava passandoas imagens das naves, visto que os satélites artificiais aindafuncionavam e o observatório, por estar no meio do deserto,não tinha sido atingido, perguntou:- Quantas cidades já foram destruídas?- Exatamente, as 100 maiores cidades em população, senhor

Presidente. Mas eles pararam há mais de uma hora.- Não fizeram mais nada?- Lançaram mais de 1000 bolas, para todos os lugares daTerra.- Eram bombas?

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- Acho que não, Presidente, pois não explodiram.- Então, o que serão?

- Acho que estão desembarcando. Devem ser naves dedesembarque.- Os satélites podem focalizar, com zoom, os locais onde asnaves caíram?- Já fizemos isso, Presidente.- E?- Nada Presidente. Não saiu um alienígena sequer.- Então para que servem essas naves?

- Não posso lhe responder, Presidente, disse o oficialencarregado das imagens.- Olha Presidente! Gritou um outro oficial.As naves estavam indo embora. Uma a uma elas tomaram adireção da estrela Ursa Maior e, aos poucos, foramdesaparecendo da vista do telescópico.- Não entendi nada, disse o Presidente. Eles vêm aqui,destroem as nossas maiores cidades, matam setecentosmilhões de pessoas e vão embora? Qual é o objetivo deles,afinal?- Não dá para entender, disse o Andrews. Mas Presidente,ainda não acabou.- Não acabou como, Andrews? O que você quer dizer? Afinaleles não foram embora?- Foram presidente. Mas e as naves que eles deixaram? Qualé o significado delas?- É uma boa pergunta. Vocês localizaram os lugares que elas

desceram?- Estão todas plotadas no GPS.- Então vamos sair e verificar o que eles deixaram.- Ainda é cedo, Presidente, falou o General chefe do estadomaior das forças armadas.

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- Por que, General?- E se forem bombas relógios?

Tem razão, general. Não tinha pensado nisso e, pela lógica ébem provável que sejam.- O que podemos fazer então?- Vamos mandar o exército verificar.- Mas se forem bombas relógios, vão todos morrer.- Presidente, se forem bombas relógios, serão, com certeza,de uma magnitude tal, que matarão todos os seres vivos doplaneta. Senão, porque jogariam aqui?

- Tem razão general. Mande verificar. Quem sabe nãoteremos a chance de mandar essas bombas para o espaço,num foguete, antes que explodem? Por falar nisso, como estáa NASA?- Destruída, Presidente.- Então não tem jeito. Temos que esperar que explodem eacabem com a humanidade?- Temos uma saída, Presidente.- Qual Andrews?- Cinco dos nossos submarinos atômicos estão preparadospara a guerra nas estrelas. Eles têm mísseis capazes demandar objetos pequenos para o espaço, em vez da bombaatômica.- Bem lembrado Andrews.Virando-se para o oficial que manipulava os satélites,perguntou:- Qual é o tamanho das naves que eles lançaram?

- Pequenas, Presidente.- Pequenas como, oficial? Perguntou irritado o Presidente.- Com uns trinta centímetros de diâmetro. Elas têm o formatode uma bola.- Pode calcular o peso?

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- Impossível, Presidente.- Bem, temos uma informação importante. Preciso de mais

uma. General, quanto pesa uma bomba atômica levada pelosmísseis dos submarinos?- Em torno de uns quatrocentos quilos, Presidente.- Bem, sabemos que, pelo diâmetro podemos carregar umasvinte bolas em cada míssil. Agora só dependemos do peso,para saber se os mísseis comportam.- Exatamente, Presidente.- Então General, vamos tomar duas providências: a primeira

é mandar o exército localizar as naves. Como temos todasplotadas, não vai ser difícil. Vamos pedir a todos os paísesque nos ajudem, já que estão espalhadas em todo o planeta enão teremos muito tempo. A segunda é mandar que ossubmarinos voltem o mais rápido possível. Para que otrabalho seja agilizado, já que corremos contra o tempo, sefor uma bomba relógio, os submarinos devem aportar emcada um dos cinco continentes.- Quantos mísseis temos em cada um dos nossos submarinos,General?- Dez, Presidente.- Quantas naves foram lançadas, oficial?- Mil, Presidente.- Bem, como são cinco os submarinos que dispõem dessesmísseis, temos um total de 50 mísseis. Divididos por mil,temos vinte naves para cada míssil. Será que dá?- A princípio, Presidente, se a nave for pouco pesada e só

levando em consideração o tamanho, acho que cada míssilpode levar 10 naves.- Bem, pelo menos podemos mandar a metade para o espaço.- Mais Presidente.- Como assim?

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- Devemos ter outro tanto em nosso arsenal.- Então poderemos nos livrar de todas?

- Se tivermos tempo, Presidente.- Então general, vamos providenciar logo.

SEMENTEAba Epyak tremeu em sua cadeira, que ficou mais amarelaque do costume. Ergueu seus pequenos e rasgados olhos parao Antônio e falou:

- Eles chegaram.- Eles quem? Perguntou aflito o Antônio, sentindo o medo noser.- Os Zorkoianos.- Estão aqui? Na Semente?- Não, estão em órbita em torno da Terra.- E o que eles estão fazendo?- Destruindo a Terra.- Meu Deus, Aba Epyak. Como?- Destruindo as suas maiores cidades.- E não podemos fazer nada?- Ainda não.- Então quando? Quando não sobrar mais ninguém?- Antônio, eu sei que isto é terrível, mas se tentarmos algumacoisa agora eles verão que ainda existimos e então destruirãoa Semente. O que será, aí sim, o fim de todos nós.- Mas eles não nos acharão de qualquer maneira?

- Não Antônio. Eles não desembarcarão. A estratégia deles éa de destruir as maiores cidades, desorganizando, destaforma, toda a estrutura do planeta e, depois, disseminando aslarvas do Aparí-Parú em todos os lugares. Os Aparí-Parúsentão, acabam com os sobreviventes.

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- Mas os Aparí-Parús, como você mesmo disse, serãocontrolados pelas formigas.

- Engano seu, Antônio. Aqui na selva isso vai acontecer. Masnas cidades não existem formigas suficientes para controlaressa praga. Assim, bandos enormes desse inseto vão devoraras populações remanescentes.- Mas que desgraça. Mas nós temos os exércitos.- No início, o exército vai resistir. Milhões de insetos vão sermortos, mas a proliferação deles é tão grande que outrosmilhões aparecerão. E, pouco a pouco, eles começarão a

ganhar a luta. E o final já sabemos, o extermínio da raçahumana. Foi assim em todos os planetas.- Mas pelo menos teremos uma chance.- Sem dúvida. Alguns sobreviventes se refugiarão nas selvase ficarão escondidos e a salvo, pelas formigas. Mas, vocêsacabarão como nós. Involuindo. Esse é o objetivo dosZorkos. Involuir a raça humana a um ponto tal, que eles nãomais se preocuparão com vocês.- E vocês, não podem fazer nada?- Esta é a nossa estratégia. Daqui a alguns anos eles voltarãopara ver se os humanos estão controlados pelos insetos. Aí,agiremos. Será a grande luta.- Mas vocês terão condições de ganhar?- Esperamos que sim.

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Capítulo 08

BUNKER DO ARIZONA

- Senhor Presidente, já localizamos a primeira navealienígena. Falou o general.- E?- A bola abriu-se como uma flor, em seis partes. E é oca, nãotem nada dentro.- Como assim? Não é uma bomba relógio?- Presidente, já a examinamos exaustivamente. Não tem nadadentro. Passamos o raioX e não encontramos absolutamentenada. Não tem nenhum mecanismo. Não emite nenhum som.- Então para que serve?- Não sabemos senhor. A única coisa que podemos dizer éque é feita de um material desconhecido por nós. É um metalplastificado ou um plástico metalizado.Tentamos cortá-la, mas não conseguimos. Aplicamos umabroca de diamante e ela nem arranhou. Ao contrário, quebrouo diamante. Estamos com uma equipe de físicos e químicosestudando-a.

- Bem, qualquer novidade, me informe.- Mais uma coisa, Presidente:- Diga, General.- Ela foi colocada num alto-forno siderúrgico a umatemperatura de 20.000 graus centígrados, que derreteria o aço

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mais duro e não aconteceu nada. E o mais incrível, o materialde que é feito, não esquentou.

- Bem General, continue com as análises. Se descobrirmos deque é feito será muito bom para nós. O importante ésabermos se ela oferece algum perigo. Estou ansioso para sairdesse buraco. De qualquer forma, vamos continuar o nossoplano e mandar todas essa naves para o espaço. Vamos deixarapenas uma para estudos.- Claro, senhor Presidente.

DOIS DIAS DEPOIS

- Senhor Presidente, as naves já foram lançadas ao espaço.Conforme suas ordens retemos apenas uma para estudos.Creio que já podemos sair do bunker em segurança.- Que bom General. Vamos enfim respirar o ar puro e ver osol novamente.

SAN GERMAIN DE PRÉS - PEQUENA CIDADE DOINTERIOR DA FRANÇA.

Jean Pierre de Piró era o mais famoso arquiteto da França.Com apenas 40 anos de idade, os seus projetos arquitetônicostinham inúmeros prêmios internacionais. Recém casado comuma bela apresentadora da televisão estatal francesa, estavainaugurando a sua casa no mais famoso bairro de sua cidade.

A mansão de 10 quartos ficava no centro de um terreno devinte mil metros quadrados, todo gramado e ajardinado, comum lindo lago à sua frente. O salão principal, com trezentosmetros quadrados, estava sendo preparado para a grande festade inauguração. Foram convidados as pessoas mais

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proeminentes da sociedade francesa e alguns artistasinternacionais.

Jean Pierre estava preocupado, pois os preparativos estavamatrasados e faltavam apenas duas horas para o início da jantarque estava marcado para as dez horas da noite. O Chef,responsável pela comida, ainda não tinha chegado, apesar deque os seus auxiliares já estavam preparando os pratos queseriam servidos.Jean Pierre, como forma de se acalmar, pegou a sua lindamulher, Madeleine e a convidou para dar um passeio pelos

 jardins. Pararam diante do lindo lago e ficaram vendo aevolução das carpas douradas, que nadavam quase que nasuperfície.- Jean, disse ela puxando-o pela mão, quero lhe mostra umasurpresa.- Que surpresa, querida?- Mandei vir do Brasil, uma planta chamada Dama da Noite,que à noite exala um perfume maravilhoso. Conhece?- Não, nunca ouvi falar.- Então vamos lá. Plantei-a bem de frente ao nosso quartopara sentirmos o perfume.Os dois de braços dados foram caminhando em direção aplanta.- Já está sentindo o perfume?- Já, mas que gostoso. Como você descobriu?- Foi uma amiga brasileira que me deu a muda. Enquantoestávamos construindo a casa plantei-a aqui, de forma tal

que, pudéssemos sentir o perfume quando nos mudássemos.- Eu estou muito feliz, disse o arquiteto. Inaugurando a nossacasa, com a mulher que amo ao meu lado, nesta linda noitetoda estrelada e sentindo esse perfume maravilhoso. Quemais um homem poderia querer da vida?

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- Um filho, disse ela, sorrindo.- Um filho? Seria maravilhoso.

- Pois estou grávida, querido.Jean Pierre ficou tão emocionado que as lágrimas começarama correr de seus olhos. Puxou a sua mulher de encontro aoseu peito e lhe deu um beijo apaixonado. O longo beijoexcitou os dois e Jean Pierre colocou a mão direita nas coxasde sua mulher e começou a levantar o seu vestido.- Agora não, Jean Pierre, os convidados devem estarchegando.

- Que se danem eles. Quero você aqui e agora.- Tudo bem, querido, mas vamos para trás daquelas árvores,senão poderiam nos ver.Jean Pierre a puxou para o local e ela pulou em seu pescoço ese ajeitou para que ele não tivesse dificuldades em tirar assuas calcinhas.- Pare, Jean Pierre, disse ela em tom firme, sussurrando emseu ouvido, ao mesmo tempo em que cravava as suas unhasem seu ombro.- Ui, gemeu o marido. O que aconteceu?- Silêncio, disse ela. Olha só aquilo.Jean Pierre olhou na direção que ela apontava e ficoupetrificado. O seu coração disparou.- Que bicho é esse? Perguntou.- Não sei, parece um louva-deus gigante, respondeu a mulher.- Fica quieta, disse ele.O bicho olhou na direção que eles estavam. Os dois gelaram,

mas não se mexeram. O bicho voltou a sua cabeça ecaminhou em direção a casa.- Vamos nos esconder atrás das árvores, sussurrou o Jean.Nisso, o Chief de Cousin, que tinha se atrasado, vinhachegando a passos largos, esbaforido, pela alameda principal

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que dava para a entrada da mansão. O Aparí-Parú, andandoereto em suas duas patas, foi ao seu encontro. O Chief,

quando o viu, soltou um grito, que foi logo abafado peladentada do monstro. Não teve nem tempo de correr. O seucorpo foi cortado ao meio.A mulher ia soltar um grito, mas o marido rapidamente oabafou, colocando a mão em sua boca.Em outra bocada o inseto comeu o restante do corpo,cuspindo em seguida o seu crânio. Não satisfeito, foi emdireção à entrada que estava cheia de serviçais nos

preparativos finais da grande festa.Jean pegou a mão de sua mulher e puxando-a, foramcorrendo para o portão de entrada da casa. Chegando à rua,correram para a esquina à espera de algum carro quepassasse. Mas a rua estava deserta. Com medo do bichocorreram mais duas quadras quando viram um ônibus.Jogaram-se em cima, obrigando o veículo a parar.- Vocês estão malucos? Disse o motorista, abrindo a porta dafrente do veículo.- Por favor, nos leve a delegacia mais próxima. Falou o Jean,

 já berrando.- Mas o que aconteceu? Estou com passageiros. Não possodesviar do meu caminho.- Por favor, não discuta comigo, faça o que estou pedindo.passasse. Mas a rua estava deserta. Com medo do bichocorreram mais duas quadras quando viram um ônibus.Jogaram-se em cima, obrigando o veículo a parar.

- Vocês estão malucos? Disse o motorista, abrindo a porta dafrente do veículo.- Por favor, nos leve a delegacia mais próxima. Falou o Jean,

 já berrando.

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- Mas o que aconteceu? Estou com passageiros. Não possodesviar do meu caminho.

- Por favor, não discuta comigo, faça o que estou pedindo.- Mas o que houve, afinal? Vocês viram algum fantasma?- Antes fosse. Por favor, nos leve a delegacia. Berrou.Nisso, o delegado de plantão que tinha ouvido, de sua sala, osgritos, chegou.- O que está acontecendo aqui? Perguntou.- Os dois estão em estado de choque, delegado, e ainda nãoconseguiram falar nada.

O delegado, mais experiente, falou baixo e devagar para osdois:- Acalmem-se, por favor. Vocês agora estão protegidos. Oque aconteceu afinal?Jean Pierre acalmou-se e começou a falar:- Delegado, estávamos nos jardins de nossa casa quandovimos um bicho que parecia com um louva-deus, masgigante, com uns 10 metros de altura.- Mas esse bicho não existe, amigo.- Existe sim, delegado e comeu o nosso Chief de Cousin, queestava chegando para preparar o jantar que íamos dar deinauguração de nossa casa.- Vocês beberam? Perguntou, incrédulo, o delegado.Jean Pierre começou a ficar nervoso, de novo.- Delegado, eu sou o arquiteto Jean Pierre Piró, já ouviufalar? Berrou.- Calma, amigo. Já ouvi sim, é um famoso arquiteto.

- Pois sou eu.- Pode me mostrar a sua carteira de identidade, por favor?Jean Pierre não se agüentou. Soltou um palavrão.- Merda, delegado. Um monstro está em nossa casa,provavelmente comendo todos que lá estão e o senhor aqui

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com essa burocracia. Dito isso, tirou e entregou a sua carteiraao delegado.

O delegado olhou calmamente a carteira, para desespero doJean e pediu a um dos policiais que trouxesse o bafômetro.O Jean exasperou-se.- Porra, mas que merda, delegado. Enquanto o senhor brincade policial aqui, eu tenho como convidado dois ministros deestado, alguns senadores, vários deputados, com suasmulheres, que estão chegando e provavelmente serãocomidos pelo monstro. E o senhor aqui perdendo tempo.

- Calma, amigo, preciso tomar as minhas providências.- Calma coisa nenhuma, delegado. O senhor ainda nãoentendeu o que está acontecendo?O policial chegou com o bafômetro e entregou ao Jean, queimediatamente soprou no lugar indicado. O teste deunegativo.- Negativo, delegado.- Vocês agora vão me ouvir?- É difícil de acreditar o que você está me dizendo, amigo.Disse o delegado.- Então vá ver, delegado. Berrou, novamente, o Jean.- Bem, vamos lá, mas se o senhor estiver inventado essahistória, famoso ou não, vou trancafiá-lo numa cela.O delegado chamou seus policiais e em dois carros forampara a casa do arquiteto. Chegando lá, encontraram o grandeportão aberto, as luzes da casa todas acessas, mas nenhumbarulho ou movimento. Entraram com as sirenes ligadas,

estacionaram os carros e, com o delegado na frente,invadiram a casa.O grande salão estava totalmente bagunçado, com sanguepara todos os lados. Vários crânios, ainda ensangüentados,estavam espalhados pelo chão.

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- Meu Deus, exclamou o delegado, o que aconteceu aqui?- Não lhe disse, delegado? E o senhor achando que eu estava

mentindo.- Mentindo não, amigo, delirando. Como é que poderiaacreditar que existia um bicho que estivesse comendo genteem sua casa?- E agora, delegado?- Peço-lhe desculpas, amigos. Vamos ver se achamos o talmonstro. Como é mesmo que você disse que ele se parece?- Ele se parece com um louva-deus gigante, só que com rabo.

O delegado deu ordens para os policiais procurarem pelomonstro. A casa foi vasculhada em todos os cantos, mas nãoacharam nada. Só acharam as pegadas no terreno ao fundo dacasa e um total de vinte crânios.

HANFRED GARDEN - PEQUENA CIDADE DOINTERIOR DA AUSTRÁLIA.

Thomas Nicks era um rico fazendeiro plantador de soja emsua fazenda de mais de cinco mil hectares, no interior daAustrália. Ultimamente as suas plantações tinham sidoatacadas e todos os grãos comidos por bandos de cangurusfamintos.O governo australiano, tendo em vista o grande crescimento

da população desses bichos, autorizou e mesmo fomentou amatança, como forma de reprimir o rápido crescimento dessaespécie.Assim, vários fazendeiros, como hobby, organizavamcaçadas noturnas aos cangurus.

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Thomas Nicks não fugia a regra. Todo fim de semana ele emais dois amigos saiam em sua caminhonete Toyota a

procura dos marsupiais.- Aí, Dick, berrou chamando o amigo, está atrasado!- Desculpe, Thomas, mas custei a achar a minha munição. Aminha mulher fez uma arrumação lá em casa e escondeu asbalas.O amigo cumprimentou os dois, pois o terceiro parceiro jáestava sentado dentro do veículo.- Olá, Fred, tudo bem? A noite promete. Está linda. A lua

cheia vai nos ajudar.Thomas ligou a sua Toyota e, impaciente, acelerou rumo aestradinha que os levaria ao centro de sua fazenda ondeviviam os cangurus.No caminho, já alegres pelas cervejas que tinham tomado,falavam sobre mulheres, armas, soja, a classificação do timeaustraliano para o campeonato mundial de futebol e, comonão poderia deixar de ser, sobre o desastre que tinha abatidoa Terra pelo ataque dos alienígenas.Depois de uma hora de viagem chegaram finalmente ao local.Thomas diminuiu a velocidade da Toyota e, como semprefazia, ligou os faróis sobressalentes que os ajudavam nacaçada, localizando os bichos. Mas, apesar de rodarem pormais de uma hora não avistaram nenhum canguru.- Mas que coisa esquisita, disse Thomas, semana passadatinha tanto cangurus nesta área que quase os atropelávamos.Hoje não tem nenhum. O que será que aconteceu?

- Realmente é muito estranho, respondeu o Fred.- Olha lá um, avisou o Dick, apontando para o lado direitoem que estavam.- Nossa, nunca vi um canguru daquele tamanho, disse o Fred.Meta o farol, nele, Thomas.

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Thomas, imediatamente, apontou o carro na direção do vulto.O que viu deixou os três amigos apavorados.

- Meu Deus, que bicho é esse?- Mete fogo nele, Dick.Dick apontou a sua arma e disparou. O bicho recebeu odisparo e estremeceu, mas em vez de fugir, foi de encontroaos três amigos.Dick disparou mais duas vezes e o mesmo fez o Fred. Obicho então caiu no chão.Os três amigos, ainda assustados, desceram do carro e foram

verificar de perto.- Eu nunca vi nada igual. Parece um louva-deus gigante.- Olha só essas garras. Iguais a dois canivetes de corte.- E a pele? Verde e parece de plástico.- Vamos embora daqui pediu o Thomas, não estou gostandonada disso. Não gostaria de dar de cara, a pé, com um bichodesse.Os três amigos então, se levantaram o foram em direção aoToyota. Nisso o Fred cai no chão.- O que houve, perguntou o Thomas?- Pisei em alguma coisa...- Olha, disse o Dick, você pisou num crânio de canguru.- Vejam, o chão está cheio de crânios de cangurus. É por issoque não tínhamos visto nenhum aqui.- Vamos logo para o carro, isto não está me cheirando bem.O três, então, correram para a caminhonete.- Liga logo isso, Thomas.

Thomas colocou a chave na ignição e deu a partida. Passou aprimeira marcha e quando ia sair, pisou no freio.- O que houve, Thomas?- Olha em frente, respondeu o fazendeiro. O carro estácercado por aqueles bichos.

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- Mete bala neles, gritou o Fred.Os três armaram as suas espingardas e dispararam contra os

Aparí-Parú. Mas, quanto mais matavam, mais apareciam.- E agora, o que faremos?- Eu tenho uma cabana a uns 500 metros daqui. Vamos paralá, assim estaremos protegidos.- Mas como vamos passar por eles?- Atirando. Atirem nos que estão a nossa frente. Assimabrimos caminho e vamos nos refugiar na cabana.E assim fizeram. Enquanto Thomas dirigia, os dois amigos

abriram caminho a balas. Thomas teve que dirigir em zique-e-zaque, fugindo do encontro de dezenas de insetos, atéchegar na cabana. Thomas parou o Toyota bem em frente àporta e os três, correndo se refugiaram na casa.- Feche bem essa porta, berrou o Fred para o Thomas.A porta foi fechada e, por precaução, empurraram um móvelbloqueando aquela entrada. Depois correram para trancar asduas janelas da habitação.Quando acabaram sentaram-se nos sofás da sala.- E agora o que faremos?- Pegue o celular e peça socorro.Thomas ligou para a sua casa:- Mary, ligue imediatamente para a polícia e peça socorro.- O que houve, Thomas? Perguntou a mulher.- Mary, estamos cercados por uns bichos enormes, que maisparecem louva-deus.- Mas onde vocês estão afinal?

- Na cabana, Mary, na cabana. E, por favor, deixe de fazerperguntas e ligue logo para a policia. Dizendo isso, desligouo telefone.Nisso a porta foi arrombada por um dos bichos. Os três seajoelharam no chão e, em posição de tiro, abriram fogo

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contra o bicho. Mas assim que ele caiu outro apareceu. E,quanto mais eles matavam, mais apareciam. De repente, uma

das janelas estourou e um Aparí-Parú meteu a cabeça paradentro da casa. Aconteceu à mesma coisa com a outra janela.Os amigos se dividiram, protegendo a porta e as duas janelas.A luta continuou por uns quinze minutos.- Quanto mais munição temos, Thomas?

-  Está acabando Fred.-  Meus Deus, disse o Dick, nunca pensei que ia morrer

comido por um louva-deus.

-  Calma, Dick. Ainda temos umas cem balas. Acho quevamos poder agüentar até o socorro chegar.Mais dez minutos de tiroteio e a munição chegou ao fim.

-  Só temos mais seis balas, Thomas. E não quero morrerna boca desse bicho.

-  Só tem uma solução, Dick, matamos uns aos outros.-  Mas vai sobrar um.-  Bem, o que sobrar decide se suicida ou morre comido

pelo bicho.-  Então, vamos logo.

E assim fizeram.

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Capítulo 09

FORTE FÊNIX – UM ANO DEPOIS

Os Aparí-Parús, em hordas assassinas, estavam dizimando apopulação terrestre. Algumas ilhas, tanto do oceano Pacífico,como do Atlântico e do Índico, não estavam infectadas. Essasilhas estavam com superpopulação, visto que as pessoas commaior posse, tinham fugido para lá. Logo, os governosproibiram a entrada de mais gente, visto que começou a faltaralimentos e medicamentos para a população. Ao longo dotempo a situação nessas ilhas piorou, havendo saques e, porfim, guerra civil o que causou o caos e mortandade.As grandes nações montaram zonas de refúgio, que sechamaram de Forte Vital, fechando quarteirões inteiros desuas cidades com muros altos, guarnecidos por artilharia etanques de seus exércitos. Mas, só pessoas com influência oudinheiro suficiente para subornar os guardas, conseguiram opassaporte para esses refúgios. O restante da populaçãoestava sendo, gradativamente, dizimado pelos insetos.

Logo, logo, as populações dos países que ainda tinhamflorestas em seus territórios descobriram que os insetos nãoconseguiam se reproduzir na selva. Assim, as populações dospaíses das Américas do Sul e Central e os países asiáticos,embrenharam-se em suas florestas, fugindo das cidades. Lá

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montaram os seus governos. Mas os serviços básicos comoeletricidade e telefone, que necessitavam de manutenção,

entraram em colapso. Por sorte, devido as suas grandesextensões territoriais e as suas grandes florestas, essaspopulações abriram grandes clareiras na selva, protegidas porcinturões de matas, e conseguiam através da agriculturacomida suficiente para sobreviver.Mas a globalização acabou. Sem como se comunicar, ospaíses ficaram isolados e ninguém mais conseguia saber oque estava acontecendo no restante do mundo.

Os demais países entraram em colapso total devido à falta decomida. Mas só os países com grandes extensões de florestase com clima tropical conseguiam sobreviver. O Canadá, porexemplo, que tinha grandes florestas, foi um dos primeiros aser dizimado, visto que a população que tinha se escondidoem suas florestas, acabava morrendo de frio no inverno. Omundo, no que diz respeito à raça humana, virou um montede ilhas, através de seus Fortes Vitais. Mas esses fortescomeçaram a sucumbir pela fome e também pela sede, vistoque, por falta de reparo, as grandes tubulações de água, queabasteciam as cidades foram se rompendo. No desespero,essas populações, sem alternativas, foram a campo abertolutar contra os insetos. O resultado foi que, no espaço de umano, nove décimos da população mundial tinha morrido. Oupela fome, ou pelo frio, ou pela sede ou através dos Aparí-Parú.Alguns tentaram comer o inseto, mas a sua carne era

extremamente venenosa e em poucas horas matavam, os quea ingeriam, com infecções generalizadas e fortes dores.A raça humana entrava em colapso. Em compensação, oplaneta Terra, livre da poluição, estava melhor do que nunca.Os seus rios e mares estavam limpos e os cardumes de peixes

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aumentavam numa proporção geométrica. Os grandesanimais tinham sido erradicados pelos insetos, mas os

pequenos e ágeis, como coelhos, castores, ratos e aves, assimcomo os insetos nativos, sem o homem e os demaispredadores, prosperavam. A Terra, como que renascia, sem agrande presença da raça humana.Os Estados Unidos, graças às imediatas e enérgicasprovidencias de seu governo, era o único país, tirando ospaíses tropicais de grandes florestas, que conseguiasobreviver. A África foi o primeiro grande continente a

perecer. Depois a Europa e por fim a Oceania.Os Estados Unidos assim que perceberam a situação e viramque seria impossível eliminar os insetos, tomaram umaatitude defensiva, tendo como objetivo único sobreviver.Em primeiro lugar transferiram o seu governo para a cidadede Las Vegas, no estado de Nevada, aproveitando toda ainfra-estrutura dos grandes hotéis. Para lá também foramtransferidos os mais proeminentes cientistas e osgrupamentos de elite da Marinha e do Exército. Protegidospelos batalhões de tanques e lança mísseis, os soldadosconstruíram, trabalhando noite e dia, num esforço incomum,tubulações subterrâneas que ligavam, simultaneamente osgrandes poços de petróleo do Texas, as águas da represa doNiágara e a usina termoelétrica do mesmo nome. Assim,garantiram de uma só vez, água, energia e combustível.Depois, ergueram uma enorme muralha de cimento em voltada cidade. Por fim, construíram enormes silos e através da

técnica da hidrogenia cultivaram as sementes, hortaliças efrutas necessárias à sobrevivência da população da cidade.Quando tudo ficou pronto, a cidade fortificada, com umapopulação de dez mil pessoas, tornou-se auto-suficiente.

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Em homenagem a mitologia Grega, rebatizaram a cidade deFênix, como a ave que ressurgiu das cinzas.

Depois, com a ajuda dos grandes helicópteros de guerra,reabriram os aeroportos das cidades que tinham conseguidoerguer os Fortes Vitais. Com os aeroportos limpos dosinsetos, pelo menos momentaneamente, os aviões tanquesreabasteciam os helicópteros que voavam então para o Fortevital da cidade. Assim, conseguiram restabelecer umacomunicação do governo dos Estados Unidos, com os fortesque ainda resistiam.

- A situação é a seguinte, Presidente, falava o Secretário deDefesa: os Fortes, por falta de comida não poderão resistirmais do que 30 dias. O que vamos fazer?- Bem, não temos comida para abastece-los, não é?- Exatamente, Presidente. O que temos é essencial para aFênix.- Mas não podemos deixá-los morrer.- Eu tenho uma idéia, Presidente, disse o General.- Fala, General, toda idéia é bem vinda.- Que tal transferirmos a população dos Fortes para navios?- Mas aí continuaremos com o problema da comida e aindateremos outra que é a de água doce. Disse o Secretário deDefesa.- Negativo Secretário. Comida é que menos falta no mar. Ospeixes estão todos lá.

- Realmente, mas e a água doce?- Simples Secretário. Os navios podem atracar na foz dosnossos rios. Assim, através de balsas podemos captar a águae transferi-las para os navios. Assim, teremos água e comida.- Grande idéia, General, disse o Presidente. Vamos fazer isso.

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- Bem, Presidente, continuou o Secretario, mais ainda vamoster um problema.

- Qual Secretário?- Ainda existem vinte e sete Fortes Vitais, nos EEUU não é?- Exatamente. Os outros já capitularam, respondeu o General.- Qual a média da população de cada Forte?- Cinco mil habitantes, em média.- O que dá uma população de cento e vinte e cinco milpessoas.- É muito triste, disse o Presidente.

- O que é muito triste, Presidente? Perguntou o General.- Saber que o nosso país, que já teve duzentos e cinqüentamilhões de habitantes, hoje está reduzido a cento e vinte ecinco mil, mais os dez mil de nossa cidade.- Ainda demos sorte, Presidente. A maioria dos países jáacabou. Morreram todos.- Sorte não, Secretário. Fomos capazes.- Realmente Presidente.- Mas, continue com o seu raciocínio, Secretário.- Muito simples Presidente: Quantos navios vamos ter queter, para abrigar cento e vinte e cinco mil pessoas?- Almirante, falou o Presidente, você pode nos responder anossa pergunta?- Bem Presidente, tenho que confirmar os meus dados. Masacredito que esse plano é executável.- Impossível, atalhou o Secretário de Defesa. Não temosnavios suficientes para abrigar essa população.

- Desculpe, secretário, mas temos sim. Disse o Almirante.- Então o senhor pode nos explicar como vai conseguir tantosnavios? Perguntou o Secretário.- Bem, no mundo existem trinta grandes navios de turismo,com uma capacidade média de cinco mil turistas, cada um, o

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que dá cento e cinqüenta mil. Só isso já resolveria oproblema.

- Mas Almirante, pelo que eu saiba os EEUU não tem tantonavios de turismo assim.- Eu falei o mundo. Estou contando os navios escandinavos,suecos, gregos, etc.- Mas não são nossos. Além do mais, não sabemos em quecondições eles estão. Provavelmente a maioria deve estarcheia de sobreviventes de seus países de origem.- Mas o mundo está em estado de sítio, disse o Presidente. E

a minha obrigação é com os americanos. Eu tenho o dever demanter a minha nação viva.- O que o senhor vai fazer então, Presidente? Atacar osnavios?- Se for necessário, vou.- Mas isso seria pirataria, exclamou o Secretário.- Secretário, disse o Presidente irritado, vou repetir: a minhaobrigação é manter vivo os americanos. Farei tudo o que fornecessário para isso, inclusive à guerra.- Pois que seja, Presidente. Concordou o Secretário.- Almirante, quanto tempo o senhor levaria para me dar umplano completo dessa operação e quanto tempo o senhor achaque levaríamos para ter os navios disponíveis?- Bem, Presidente preciso de dois dias para planejar aoperação. Acredito que a operação total levaria uns vintedias.- Bem, Almirante, vamos trabalhar logo esse projeto.

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SEMENTE

Todo o pessoal da expedição tinha se instalado no prédio daSemente. Os quartos ficavam em cima, mas eram maisausteros que as celas dos seminários dos padres católicos.Não existiam camas nem armários. Nenhum móvel. Eram

cubículos de seis metros quadrados com aberturas como sefossem janelas.- Mas não tem cama nem móveis? Perguntou o Antônio.- Nós não necessitamos disso. Disse o Aba Epyak.- Mas vocês dormem no chão?- Não, nós levitamos.- Vocês levitam? Exclamou admirado o Antônio.- É muito mais cômodo.- E onde guardam as suas roupas?- Nós só temos essa.- E quando ficam sujas, o que vocês fazem?- Elas nunca ficam sujas.- Como assim?- Elas não existem.- Como assim? Vocês vestem uma túnica azul.- Há muito tempo que não usamos mais roupas. O que vocêsvem, na realidade é o nosso halo de proteção.

- O que é isso?- É difícil explicar para vocês mais é, mais ou menos, umaforça gravitacional que protege os nossos corpos.- E de onde vem essa força?- Do nosso cérebro.

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- Quer dizer que é uma espécie de armadura telepática?- Isso mesmo.

- Nada os atingem então?- Nada físico.- Como nada físico?- Nada que seja matéria pode nos atingir. Só uma forçatelepática maior que a nossa pode penetrar no que vocêchama de nossa armadura.- Quer dizer que se eu jogar uma pedra, por exemplo, ela nãovai lhe atingir?

- Isso.- Não acredito.- Você está carregando um cantil de água, né? Pois jogue eleem cima de mim para provar.- Não vou ser descortês com você fazendo isso.- Pode fazer, estou pedindo.Antônio então, meio sem jeito, atirou o seu cantil de encontroao guardião. Mas o cantil não o atingiu. Parou por frações desegundo no ar e depois foi ao chão.- Incrível disse o Antônio. Só vendo para acreditar. Sealguém me contasse eu não acreditaria.- Vocês vão aprender muitas coisas ainda conosco.- Com certeza, concordou o Antônio. Só mais uma coisa, semquerer ser indelicado, mas estou com muita fome, quando vaiser servido o jantar?- Nós não comemos. Nem bebemos.- E como vocês se alimentam?

- Do ar. Tiramos do ar todos os elementos que necessitamospara viver.- Incrível. Mais uma coisa inacreditável. Realmente vamoster que aprender muitas coisas de vocês, mesmo. Bem, nesse

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caso temos, nós mesmo, que providenciar o sustentoenquanto estivermos aqui.

- Vocês terão sim. Mas lhe pedimos uma coisa. Não comamnada que tenha alma.- Só vegetais, então?- Exatamente.- E os vegetais não têm alma?- Não, eles vivem, mas não tem alma.- Só mais uma pergunta?- Pois não.

- Reparei que o prédio não tem porta nem janelas.- Ele tem porta e janelas.- Mas como? Não vi nada.- Você viu algum bicho ou inseto aqui dentro?- Não.- Viu alguma corrente de ar?- Também não.- Então?- Mas eu entrei pelo vão que seria de uma porta e não vi portaalguma.- A nossa porta e as nossas janelas não são físicas.- Como assim?- Nos só deixamos entrar o que queremos.- Como as suas túnicas?- Exatamente.- Força mental?- Isso.

- Inacreditável.Aba Epyak sentou-se no chão e pediu que o Antônio fizesse omesmo.Começou então a falar:

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- Antônio, a raça humana está reduzida hoje há um poucomais de um milhão de seres. Os continentes como África,

Austrália e Europa capitularam de vez. Não existem maishumanos vivendo naquelas terras. Só alguns países da Ásia edas Américas do Sul e Central, que ainda tinham florestastropicais, sobrevivem. Mas não estão mais organizados comogovernos. A população, que restou, refugiada nas florestas,sobrevive organizada em pequenos grupos de cinco a dez milhabitantes, como se fossem tribos. A única exceção são osEstados Unidos, que ainda se mantêm como governo, através

da cidade de Fênix e dos poucos Fortes Vitais. Mas estesFortes Vitais não resistirão por muito mais tempo, nascondições atuais. A tendência é a de só ficar, como últimobaluarte de sua civilização, a cidade de Fênix. Mesmo assim,ela sofre um risco muito grande.- Qual Aba Epyak?- Como eu já lhe disse, a qualquer momento os Zorkos vãovoltar. E quando voltarem, a primeira coisa que vão fazer édestruir a Fênix. Será o fim da civilização da raça humana,pois só restarão as tribos escondidas nas florestas, queinvoluirão, como aconteceu com a nossa raça, a índios, aolongo do tempo.- Mas que desastre.- Pois é. Mas tem o seu lado positivo.- Lado positivo? A destruição da raça humana?- Bem, em primeiro lugar, a raça humana continuará, graçasàs formigas existentes nas florestas. O que será uma dádiva,

em relação aos outros planetas cujas raças nativas e mesmoas nossas, que foram extintas. Por outro lado, o planeta Terra,sem a poluição que vocês provocam, vai reviver. Os mares eos rios voltarão a ser puros, beneficiando a natureza. Ospeixes, as aves, os pequenos animais terrestres e a vegetação,

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voltarão a crescer, como era antes. E a Terra não correrá maiso risco de acabar.

Desculpe, Antônio, mas vocês são como uma espécie decâncer para o seu planeta. Aos poucos, vocês a estavamdestruindo. A ganância, a cobiça e o poder de vocêsdesenvolveram uma tecnologia podre. Vocês não respeitam anatureza. O dinheiro é o objetivo final. Do jeito que estão sedesenvolvendo, em mais um século, terão acabado com todosos espécimes deste planeta e se auto-destruídos, pois oshumanos não conseguem ver que o bio-sistema é único, e

cada espécime depende da outra para sobreviver.Quando vocês acabassem com as florestas, estariamacabando também com a água potável. Quando acabassemcom os mares, estariam acabando com os peixes. E aí, semágua doce e sem comida, por conseqüência, vocês tambémacabariam.Seria um desastre muito maior do que está acontecendo. Poisnão teriam a chance de recomeçar. Agora, pelo menos,mesmo sendo a Fênix destruída, acabando com a atualcivilização, vocês terão a chance de sobreviver, recomeçandotudo. Talvez em outra direção.Por isso é que, a cada dia, mais certeza tenho, de que esteplaneta é especial. Em relação a todos os outros do universo.- Eu concordo com tudo o que você falou, Aba Epyak. Mas oque podemos fazer?- Eu estou muito indeciso, Antônio. Não sei bem o que fazer.- Indeciso em que Aba Epyak?

- Se ajudamos vocês ou não?- Como assim, Aba Epyak? Vai deixar os Zorkos destruir anossa civilização?- Talvez seja o melhor para vocês. O ponto crucial é sedeixamos a raça humana sobreviver com a atual tecnologia

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ou deixamos os Zorkos acabarem com a Fênix e, porconseguinte, com a sua civilização, propiciando a raça

humana um novo recomeço, talvez em outra direção.

Capítulo 10

O submarino atômico US Califórnia entrou no marMediterrâneo costeando a África, mais a frente passou aolargo da grande ilha Siciliana, ao sul da Itália, e tomou orumo de vinte e cinco graus de longitude e trinta e sete emeio graus de latitude até chegar na costa da Grécia e indo adireção oeste situou-se no arquipélago que formava as ilhasgregas.- Profundidade de telescópico, gritou o imediato.- Subir telescópico, ordenou o comandante.O comandante Smith Lerson colocou os seus olhos nosóculos do telescópico e, lentamente, o girou. Após ummovimento de 90 graus localizou o navio. Era o PapanaikosGR, um dos maiores navios de turismo do mundo, comcapacidade para dez mil turistas e de bandeira grega.- Leme a bombordo, noventa graus, falou para o seu piloto.O gigantesco submarino, de ultima geração, o mais novo dos

EEUU, girou lentamente, apontando a sua proa para o navio.- Um quarto à frente, ordenou o comandante.Quando chegou a cem metros parou as suas máquinas eemergiu. A grande nave quando chegou a superfície deslocouuma enorme massa de água fazendo uma grande marola.

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O Papanaikos estava poitado e quando o submarinoamericano apareceu, todos os que estavam a bordo correram

para o tombadilho e se dependuraram nas grades, gritandosaudações e acenando para o barco americano.A alegria era geral. Sujos, esfomeados e com sede, há maisde noventa dias não tinham contato com ninguém de fora, asimples aparição do submarino os deixavam felizes. Era umsentimento estranho, de felicidade, por encontrarem outrosseres humanos como eles. Eram como náufragos encontrandoos seus salvadores. Depois de meses de luta com os insetos,

de fuga, finalmente, para navio, o poder bélico do submarinoos faziam sentirem fortes como raça.O capitão do submarino, pelo rádio, pediu a presença docomandante do navio.- Bem vindo comandante Smith, falou.- Para você também, comandante Sparus. Solicito a suapresença em meu submarino.- Com todo o prazer, respondeu feliz o comandante do navio.Imediatamente o comandante Sparus mandou descer um dosbotes salva-vidas do Papanaikos e foi em direção a naveamericana.- Permissão para subir a bordo.- Permissão concedida, disse o Smith.O comandante Sparus, junto com o seu imediato, entrou nosubmarino. Após as continências de praxe, foram direto paraa cabine do comandante americano.O comandante grego estranhou quando, além do americano,

três guardas também entraram no camarote do comandante.A porta foi fechada. O comandante americano sentou-se econvidou os dois gregos a também sentarem.- Quantas pessoas o senhor tem a bordo?

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- Tenho mil e duzentos tripulantes e mais oito mil pessoas.Mas estamos quase que sem água e de comida só temos os

pescados. Estamos passando fome...O comandante americano não deixou o grego terminar.- Comandante, estamos em missão de guerra!- Missão de guerra? Que mal pergunte, contra quem?- Bem, contra ninguém propriamente, mas a favor do povoamericano.- Não estou entendendo. Disse o grego.- Em nome dos EEUU estou confiscando o seu navio.

- Como assim, comandante. O que o senhor quer dizer comisso?- Quero dizer que a partir de agora o seu navio pertence aopovo dos EEUU.- É? E que o senhor vai fazer com ele? Disse incrédulo ocomandante grego.- Vou levá-lo para a América.- E a minha tripulação? E os meus passageiros?- Vão ser transferidos para um navio cargueiro que chegaráaqui em dois dias.- O senhor tá maluco, capitão? O senhor sabe bem o que estádizendo?- Sinto muito, comandante, mas são minhas ordens.- Que ordens malucas são essas? De quem afinal?- Do governo dos EEUU. Do nosso presidente.- Mas como o senhor acha que vamos ajeitar nove mil eduzentas pessoas num navio cargueiro? Não tem lugar.

- Ficam no tombadilho.- No tombadilho como, comandante? Ao ar livre? Ao sol, achuva? O senhor vai nos matar a todos. Como é que vamosnos ajeitar?- Isso é problema seu, comandante. Coloque-os nos porões.

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- Presidente, falou o Almirante, já arrastamos os naviosnecessários à operação.

- Algum problema?- Nenhum presidente. Os navios já foram reabastecidos e emno máximo uma semana teremos todos eles aqui.- Espero que a história não me trate como um assassino.- Claro que não Presidente. O senhor será retratado como umgrande herói americano que salvou o seu povo da mortecerta.- Assim espero. Pois esse é o meu dever.

Virando para o seu General, comandante geral das forçasarmadas, falou:- General, temos que preparar a transferência da populaçãodos Fortes Vitais para os navios.- O plano já está feito, Presidente. Aqui está para a suaaprovação. Dizendo isso, o general passou para as mãos dopresidente.

SEMENTE

Aba Epyak convocou todos os membros da expedição para agrande sala da pedra azul.- Antônio, disse ele, temos que recolher o sangue de todosvocês.- Para que? Estranhou o Antônio

- Temos que desenvolver, ou adiantar, melhor falando, oscérebros de vocês.- Como assim, Aba Epyak?

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- Lembra-se da nossa última conversa? Na qual eu falava queestávamos em duvidas se ajudávamos a vocês contra os

Zorkos ou não?- Lembro-me bem, Aba Epyak.- Pois bem, decidimos por três votos a dois, que vamos ajuda-los. Decidimos também que é chegada a hora decombatermos os Zorkos. Assim, as nossas duas raças têm quese juntar contra os Zorkoianos. Será a batalha final. Casopercamos, a sua raça, mesmo involuindo, permanecerá, mas anossa acabará.

- E para que o sangue?- Vamos fazer com vocês o que fizemos conosco.- E o que vocês fizeram?- A nossa evolução, como raça, se deu através dodesenvolvimento dos nossos genes, num processo de seleçãoe ou transformação dos genes.- Como assim?- A adaptação dos seres vivos de um planeta está na relaçãodireta dos problemas que ele enfrenta. Como já dissemos,quando o macaco desceu das árvores, os nossos rabosatrofiaram, pois não tínhamos mais necessidade deles paranos prendermos ou equilibrarmos nos galhos. Assim como anossa posição ficou ereta, pois era necessário para noslocomovermos mais rápido e deixar os nossos membrossuperiores livres para outras tarefas. A transformação físicafoi o resultado direto das transformações de alguns dosnossos genes. Mas isso leva muito tempo para acontecer.

Milhares e milhares de anos.Da mesma forma os nossos cérebros levariam milhares emilhares de anos, para atingir o nosso desenvolvimento atual.Então, para acelerarmos esta transformação, tivemos que

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modificar os nossos genes relativos ao desenvolvimentocerebral. Temos que fazer a mesma coisa com vocês.

Vamos mapear o código genético da sua raça para podermosacelerar o desenvolvimento cerebral de vocês, a ponto deficarem ao mesmo nível em que estamos.- Mas como vocês vão fazer isso? Nós levamos mais de dezanos para mapear os nossos códigos, em nossoscomputadores. E a única coisa que temos, na realidade é omapa, propriamente dito. Não sabemos fazer mais do queisso.

- Mas a nossa civilização é muito mais avançada. Em poucashoras teremos o mapa do DNA de vocês e poderemos entãoinjetar o gen desenvolvido do seu cérebro, em seu sangue.Em poucos dias os seus cérebros terão um desenvolvimentoformidável.- Mas isso é possível?- Com certeza. Foi o que fizemos conosco.- Seremos então iguais a vocês?- Quase. Pois a sua raça tem algumas características que anossa raça não tem e vice-versa.- Como, por exemplo?- A agressividade.- Mas isso, no futuro, não pode representar um perigo paravocês?- Não. Pois a partir do momento em que vocês ficarem maisinteligentes, seus valores mudarão. E, com certeza, ficarãomais pacíficos.

- Então também a nossa agressividade diminuirá, o que daráno mesmo.- Não, a agressividade será a mesma, só que seráencaminhada em outra direção.- Por exemplo?

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- Na vontade.- Não entendi.

- Vocês serão, naturalmente, mais obstinados que nos.Lutarão mais por seus objetivos.- Mas, Aba Epyak, pelo que eu saiba, vocês abandonaramtoda a tecnologia física em função do desenvolvimentocerebral. Como é que vocês farão para tirar o nosso sangue,mapear o nosso DNA, etc., sem nenhum aparelho, comoseringa, computador...?- A centena de anos que não precisamos mais de nenhum

aparelho, pois a nossa mente é suficiente, mas isso não querdizer que não o tenhamos.- Então vocês ainda os têm?- Claro que temos. Venham comigo.Aba Epyak então conduziu o grupo a uma sala tambémenorme, que ficava no segundo andar, em lado oposto aosdos quartos. A sala era cheia de equipamentos que eles nuncatinham visto. Mas, aparentemente, os aparelhos que láestavam não eram feitos de metal, mas sim de um materialque parecia uma mistura de plástico e cristal. E eram cheiosde luzes, de várias cores.Aba Epyak acenou para o Antônio sentar em uma cadeirabranca que parecia de cristal. Em frente à cadeira ficava umatela que mais parecia de cristal líquido, igual à utilizada nosnotebooks.A cadeira tinha apenas um encosto para o braço esquerdo. Nolado direito, em seu lugar, um tubo transparente, também do

mesmo material que parecia uma mistura de plástico e cristal.- Por favor, pediu o Aba Epyak, enfie o seu braço no tubo.Antonio, meio receoso, enfiou o braço. No mesmo instante otubo como que se acendeu. Apareceu um fio vermelho, da

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largura de um lápis fino, que aumentou o seu cumprimentoaté uns trinta centímetros.

- É o seu sangue, falou o Aba Epyak.Depois o fio vermelho desapareceu e uma bola que ficava emcima do tubo, aparentemente sem alguma ligação com ele,ficou também vermelha. Imediatamente na tela a frente,apareceram milhares de caracteres totalmente desconhecidospara os cientistas, que rolavam de cima para baixo na tela,num frenesi.- Pode se levantar, Antônio, o nosso computador - disse

apontando para a tela - já está decodificando o seu DNA.

FORTE FÊNIX

O plano para a evacuação dos Fortes Vitais estava sendoexecutado. Os navios, tanto nas costa do Pacífico quanto nado Atlântico, estavam ancorados nos portos mais perto dosfortes, à espera dos sobreviventes. Mas a tarefa era difícil,visto que os Aparí-Parús, quando pressentiram amovimentação dos humanos, concentraram-se ao redor dosfortes na tentativa de come-los.Não dava para retirar a população através dos helicópteros,pois demandaria muito tempo e eles já estavam com falta deágua e comida. Tinha que ser por terra mesmo.Conforme o planejamento dos generais, os oito porta-aviõesamericanos se deslocaram para os portos mais perto dos

fortes. Estes porta-aviões foram abastecidos por helicópterosde guerra. Os helicópteros, por sua vez, localizavam osônibus que estavam perto dos fortes e os tomavam. Os ônibusentão, dirigiam-se para os fortes, escoltados peloshelicópteros que davam cobertura aos mesmos, atirando nos

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Aparí-Parús que atacavam os ônibus. Era uma tarefa árdua,pois a quantidade de insetos era enorme. Muito dos ônibus

tomados não conseguiam chegar ao forte.Depois os sobreviventes entravam nos ônibus que saiam emcomboio de dez unidades, em direção aos portos, sempreescoltados pelos helicópteros, que travavam uma incrívelbatalha com os insetos. Nos portos, os sobreviventes eramtransferidos para os navios.A operação durou três dias e foi um sucesso.- A operação foi realizada com êxito, Presidente.

- Parabéns, general. Estão todos salvos?- Bem, Presidente, tivemos uma baixa em torno de dez porcento, o que nessas condições, foi muito boa.- Perdemos então mais doze mil americanos?- Foi Presidente.O Presidente sentou em sua poltrona e ficou quieto. Dos seusolhos desceram lágrimas.- Bem, disse ele, não tinha outro jeito, não é? Os navios jásaíram dos portos?- Já, Presidente, estão indo para a foz dos rios para sereabastecerem de água. E os navios pesqueiros já estão indo àdireção deles para o abastecimento de peixes.- Bem, pelo menos, agora, eles não correrão mais perigo.- Mas nos estamos, Presidente.- Como assim, General?- Os insetos, cada dia que passa, estão com mais fome. Estãoatacando a Fênix noite e dia e a nossa munição está

acabando. Do jeito que a coisa vai, só conseguiremos resistirpor mais três meses.- Então vamos ter que ir, também, para um navio?- Com certeza, Presidente.- Uma prisão flutuante...

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- Mas eu tenho um plano, Presidente.- Pode falar, Secretário.

- Como o senhor sabe, algumas ilhas ficaram a salvo dessesinsetos. Podemos escolher uma delas e lá refazermos o nossopaís.- Com certeza, Secretário. Uma ótima idéia. Vamos criar umnovo Estado Unidos, reunindo todos os nossos sobreviventes.- Mas onde será essa ilha?- Bem, tem que ser grande o suficiente para suportar umapopulação de cento e vinte mil americanos e terra suficiente

para o cultivo.- Mais, senhor presidente, falou o almirante.- Como assim?- Temos mais cem mil americanos nos navios de guerra queirão se juntar a nos.- Isso, Almirante, vamos refazer o nosso país.A empolgação tomou conta do grupo. Finalmente elesficariam livres da ameaça dos insetos e poderiamtranqüilamente, em terra, reconstruir a nação.- Mas que ilha será essa?- Bem, de preferência nos trópicos, pois não teremoscondições de sobreviver um inverno rigoroso.- Tem que se grande o suficiente para suportar a nossapopulação.- E de preferência que já esteja edificada, para nosacomodarmos.- Mas essa ilha existe? Perguntou o Presidente.

- Claro, Presidente, e é nossa.- Qual almirante?- O Havaí.- Mas ela não está infectada pelos insetos?- Está limpa, Presidente.

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- Então vamos para lá!- Mas temos um problema, Presidente.

- Qual almirante?- Como o senhor sabe, ela é habitada.- Qual a população dela, almirante?- Duzentos mil habitantes, originalmente. Mas quando fomosinvadidos pelos insetos, a população quase que dobrou.- Muito bem. Originalmente, quantos americanos estavam nailha?- A metade, Presidente. A outra metade é formada por

nativos e estrangeiros. Hoje, eu não sei.- Pois muito bem, expulsamos todos os estrangeiros enativos. A partir de agora se chamará Novo Estados Unidos.- E o que faremos com a população expulsa?- Ora, almirante, colocaremos nos navios.

SEMENTES

Aba Epyak chamou o Antônio- Antônio, o DNA de vocês já está decodificado.Impressionante como é semelhante ao nosso. A diferençaentre as nossas duas raças é de apenas um por cento.- E isso é bom?- Muito, Antônio, pois facilitará a nossa tarefa namodificação do gen relativo ao desenvolvimento cerebral. Eo processo pode ser o mesmo. Ganharemos muito tempo comisso. Amanhã poderemos implantar o gen alterado, em vocês.

Creio que vai dar tudo certo.- E você poderia me dizer em que esse um por cento nos fazdiferentes de vocês?- Os neurônios, Antônio.- Como assim, são diferentes em que?

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- Na velocidade. O crescimento e a interação entre eles sãomuito mais velozes que os nossos.

- O que isso quer dizer?- Que em pouco tempo vocês serão mais inteligentes e, porconseguinte, poderão desenvolver poderes maiores que osnossos. Vocês, realmente, são privilegiados. O planeta Terraé o único no universo conhecido que tem as formigas e, porisso, com esse controle natural, conseguirão sobreviver aosAparí-Parus. E, como se isso não bastasse, vocês são os seresque têm as maiores possibilidades de desenvolvimento

cerebral. É incrível.- Bem, apesar de toda essa tragédia, pelo menos uma boanotícia, não é?- Com certeza, Antônio. Bem, amanhã, faremos a inoculaçãoem vocês.

FORTE FÊNIX

O presidente estava preocupado. Dali a pouco começaria aevacuação dos habitantes do Forte Fênix para o Havaí. Omaior e mais luxuoso navio de passageiros já estava no portoà espera deles. O presidente e as autoridades seriamtransportados diretamente ao navio pelos helicópteros. Masos restantes teriam que ir mesmo de ônibus e, conforme aexperiência dos fortes vitais, pelo menos dez por cento nãoiriam sobreviver, acabariam nas garras dos terríveis insetos.

O que queria dizer que mais americanos iriam morrer.Como no Forte Fênix a maioria da população era de homens,soldados e cientistas, o presidente resolveu que, mesmo quelevasse mais tempo, as mulheres e as crianças seriamtransportadas por helicópteros. Somente os soldados e os

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cientistas iriam de ônibus. O que, talvez, reduzisse as mortes,pois diferentemente dos civis, eles estavam bem armados e

treinados.O primeiro grande helicóptero pousou na grande praça emfrente ao quartel general da cidade. O presidente e seusfamiliares ocuparam os seus lugares e a aeronave partiu. Doalto, o presidente teve a noção exata da situação: centenas demilhares de Aparí-Parús cercavam a cidade, ávidos porcomerem os seus habitantes. Seria um milagre, pensou, quenoventa por cento da população conseguisse passar pelos

bichos e chegasse, salvo, ao porto. Tomou então umadecisão. Pediu ao piloto para falar pelo radio com o generalcomandante chefe das forças armadas.- General. A situação é muito crítica. Dificilmenteconseguiremos passar pelos insetos, por terra. Vamostransporta-los por helicópteros.- Mas, presidente, levaremos dias com a operação.- General nos temos todo o tempo do mundo. E a vida dosnossos é muito mais preciosa.Satisfeito com a sua decisão, o presidente se acalmou e podeapreciar com mais calma a situação. As cidades e os campospor onde passavam, pareciam cenas de um filme de ficção.Só se viam insetos. Milhões deles, como numa colméia deabelhas, andando de um lado para o outro a procura decomida. Aquela cena o deixou angustiado. A terra não eramais deles, dos seres humanos, pertencia aos insetos. Eraincrível como, com toda a tecnologia que tinham,

principalmente no que diz respeito às armas, tivessemcapitulado aos insetos. Mas eles eram milhões, talvez bilhões.E, se reproduziam de uma forma tão incrível que, por maisque os matassem, a população deles crescia. Imagine,

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pensou, se eles tivessem asas, se voassem, sem dúvidaalguma não restaria mais ninguém vivo, na Terra.

SEMENTES

Antônio e o seu grupo voltaram à sala do laboratório, comoeles chamavam, para serem inoculados com o gen de

desenvolvimento cerebral. Era a mesma máquina, se assimpoderiam chamar, que eles tinham tirado sangue. Não doeunada, não sentiram nada. Só depois de algumas horas, todoseles, sem exceção, começaram a ter dor de cabeça e a sentiruma moleza, como se estivem gripados.Sem ter o que fazer, os humanos deitaram em seus quartos eassim ficaram por vários dias. Não tinham fome, só muitasede. Todos eles perderam peso e a sensação de doençapermaneceu. Eles estavam sonolentos e passavam a maiorparte dormindo. Pareciam dopados. Não tinham ânimo paranada. Até que entraram num sono profundo. Só acordavampara beber água.Aba Epyak vinha visitá-los freqüentemente com um aparelhoque parecia uma pedra azul. A pedra, ao ser passada no corpode cada um, ficava vermelha como um rubi. Depois de váriassemanas, a pedra começou a perder a cor vermelha. Devermelho sangue passou a rosa, depois para branco e por fim

para um verde bem claro. Dia a dia, o verde foi ficando maisforte até que a pedra ficou verde esmeralda. Quando isso sedeu, eles começaram a sair da letargia.- Como você está se sentindo hoje, Antônio, perguntou o AbaEpyak?

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- Bem melhor. Inclusive com muita fome. O que aconteceu?- A inoculação foi um sucesso.

- Mas eu me senti muito mal. Pensei que ia morrer.- É assim mesmo, Antônio. Houve uma transformação muitogrande no seu cérebro. O seu cérebro, com a entrada do novogen, teve que se reorganizar totalmente. Mas a fase crítica jápassou. Agora a mutação está em andamento. Estávamoscom medo que desse errado, mas foi tudo bem.- O que vai nos acontecer?- Bem, vocês ficarão muito mais inteligentes, num tempo

bastante curto, em relação ao tempo que levamos. Agora, sevão ter outros poderes e quais serão, só com o tempo é quesaberemos. Mas, você não reparou numa coisa...- Que coisa, Aba Epyak?- É que estamos conversando e você não pronunciou umapalavra. Percebeu?- Não tinha percebido. Mas é verdade.- Pois bem, vocês agora, como nós, são seres telepáticos.Nesse momento Kuyã Aysu entrou no aposento, trazendouma vasilha com uma pasta verde.Antônio nem perguntou o que era. Já sabia, pois tinhasentido, que era a sua comida. Era uma sensação totalmentenova para ele. Não precisava perguntar mais nada. Lia noscérebros dos Guaranis o que se passava. Tomou, em fraçõesde segundos, noção de tudo o que tinha acontecido.Soube que a pasta verde era um conjunto de raízes e plantasmedicinais. Comeu avidamente. Depois agradeceu e sentou-

se a meditar, maravilhado que estava com o novo sentido queacabara de conhecer.De repente Antônio começou a ficar angustiado, umsentimento estranho o acolheu. Sentia uma agonia vinda deseus companheiros e depois, um silêncio absoluto.

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- Letícia, chamou apavorado.- Sim, Antônio, respondeu.

- Você está sentindo a mesma coisa que eu?- Estou, Antônio, respondeu telepaticamente a bióloga. É umgrande sentimento de tristeza. Um vazio absoluto, como sefosse a morte.O Raimundo entrou no cérebro deles.- Eu estou sentindo a mesma coisa. E não consigo mecomunicar com os nossos.- O que está acontecendo, Aba Epyak? Perguntou aflito o

Antônio.- Seus companheiros morreram, só sobraram vocês três.- Morreram de que, Aba Epyak?- Antônio, deixe-me explicar: quando nos inoculamos o gendo desenvolvimento cerebral, a maioria morreu. Só nos seissobrevivemos. O mesmo aconteceu com vocês.- Mas por que?- Não sabemos ao certo. Parece que só alguns cérebrosprivilegiados conseguem sobreviver a essa grandetransformação.- Corremos então risco de vida?- Vocês três, não mais. Passaram do momento crítico.- Mas se você sabia que isso poderia acontecer, por que fez?- Porque era necessário. Fundamental mesmo. Nós estamosnuma luta de vida e morte com os Zorkos e precisávamos devocês.- Mas eles morreram.

- Não havia alternativa. Era preciso. Vocês, agora, tambémsão guardiões da Semente.Os três humanos ficaram quietos. Acabavam de sentir aaflição dos Guaranis. Era uma questão de sobrevivência. Aluta final contra os Zorkos se aproximava.

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 UM ANO DEPOIS

O planeta Terra estava reduzido há um pouco menos de ummilhão de habitantes. A maioria se concentrava no Havaí. Ailha, com quatrocentas mil pessoas tinha se transformado noNovo Estado Unidos. Era o único lugar onde existia umgoverno organizado. Os outros habitantes sobreviviam emgrupos, como se fossem tribos, no meio das grandes florestastropicais e em navios de turismo, comerciais e de guerra.

Por outro lado, o planeta, sem a ação predadora do homem,tinha como que renascido. A natureza, sem a poluição, estavaexuberante. Parecia o paraíso. Os rios voltaram a ter as suaságuas limpas, as florestas começaram a reconquistar os seusespaços perdidos e o mar voltara ao que era. Comoconseqüência, os animais marinhos e fluviais voltaram aabundar nas águas. Cardumes de peixes, crustáceos e outros,recuperavam as suas populações. O mesmo se dava nasflorestas, sem a ação dos homens. O planeta voltava a seequilibrar e a mostrar toda a sua exuberância.Na Semente, Antônio, Letícia e Raimundo tinham sedesenvolvido velozmente a ponto de se equipararem aosGuaranis. Eles estavam maravilhados com a nova perspectivaque os seus, agora, poderosos cérebros, lhes davam. Aperspectiva da vida era outra. Sumiram de suas almas osrancores, o ódio, a inveja e os demais males tão comuns àcivilização de onde vieram. As suas vidas eram muito mais

felizes. Filosofavam, muito, com os Guaranis.Telepaticamente sentiam que os povos que tinham fugidopara as florestas estavam felizes. Uma nova ordem tinha sidoestabelecida. Eles viviam harmonicamente, sem a tecnologia.Por mais paradoxal que fosse, a falta da tecnologia e o seu

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conforto, só vieram beneficiar. Estavam mais magros e commais saúde. As grandes doenças, como o câncer, o infarto e o

derrame tinham sido reduzidas a expressões mínimas. Ostrees não mais existia. Em vez de destruírem a naturezatinham se incorporado a ela.Ao contrário, os humanos que estavam no Havaí e nosnavios, apresentavam os mesmos problemas de antes. Nasembarcações os problemas eram ainda maiores. Obrigados aconviver juntos, num espaço ultra-reduzido, como se fosseuma prisão, criaram um inferno. Um barril de pólvora.

Rebeliões acudiam a toda a hora. Facções eram formadas e aluta pelo poder ensejava guerrilhas. Mortes, roubos eassassinatos eram constantes. A convivência era infernal.E era justamente sobre esse assunto que os três filosofavamcom os Guaranis.- Aba Epyak, estou desconcertado. Disse o Antônio. A vidainteira pensei que estávamos evoluindo, tendo como base anossa tecnologia. Mas na realidade estávamos involuindo.Quanto mais avançávamos mais infelizes ficávamos e maisproblemas arranjávamos. Agora, comparando as duassituações, podemos ver que estávamos no caminho errado.- Sem dúvida, Antônio. Vocês confundiam tudo. Oimportante não é a riqueza, o poder. O importante é afelicidade, a tranqüilidade. Vocês estavam se matando ematando este planeta. Vocês não viviam mais, vocêslutavam. Lutavam até para coisas básicas como comer e teronde morar. A perspectiva de sua raça estava toda errada.

- Estou chegando a conclusão que este desastre todo, que seabateu sobre nós, foi intencional.- Nada é ocasional, Antônio. Tudo tem uma razão de ser.Existe uma força que regula a natureza, que vocês chamamde Deus. Quando há um desvio, seja qual for, ela

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imediatamente toma as providencias necessárias para voltarao equilíbrio. Vocês estavam destruindo o planeta e, do jeito

que estava, vocês inexoravelmente teriam um fim muito pior.Agora, pelo menos, o planeta renascerá e vocês, com certeza,tomarão o caminho certo. Em resumo, tudo voltará aonormal, ao que deveria ser.- Nesse caso, Aba Epyak, fico achando que, se em vez delutarmos contra os Zorkos, não deveríamos deixar como está.- Tenho pensado muito nisso Antônio. Afinal, a nossa raçafoi exterminada. Só nos seis restamos. O nosso planeta

acabou. Nele, só existem os Aparí-Parús. O que vamos fazerlá?- Por falar nisso, Aba Epyak, tenho uma curiosidade. Se osAparí-Parús comem todos os animais de médio e grandeporte, como eles sobrevivem depois que acabam com essesanimais?- Muito simples, Antônio. Eles quando não tem o que comerviram canibais.- Então eles acabam se exterminando?- Isso não acontece. Como você sabe, a proliferação é muitogrande. Assim, eles se auto-alimentam. Você se lembra dalenda do moto-perpétuo? Pois eles assim o são.- Voltando ao nosso assunto, Antônio, voltar ao nossoplaneta, nestas condições, seria inviável. Por duas grandesrazões: a primeira pelo lado sentimental. Sofreríamos muitolembrando tudo o que aconteceu e como ele era. Uma coisa évocê lembrar-se de como era, daqui. Outra é voltar ao local.

Seria muito penoso para todos nós.- Mas vocês não viveram lá, estão há séculos aqui. Nasceramaqui.- Aí é que está a maior diferença entre nossas raças. Nós narealidade não morremos.

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- Vocês não morrem?- Bem, morremos sim, mas a diferença é que quando

nascemos voltamos com toda a memória de um de nossosantepassados. Assim, podemos dizer que estamos revivendoquando nascemos. Continuamos a vida. Eu, por exemplo, souo Aba Epyak número 3.157. E tenho a memória da vida detodos eles. Assim, eu sou também o Aba Epyak número 1.- Mas isso pode ser muito ruim.- Porque?- Se um de vocês comete uma injustiça, por exemplo, vão

viver por todas as gerações com o sentimento dearrependimento.- Por isso é que somos absolutamente corretos. Pois sabemosque teremos que conviver, ad eternum, com as conseqüênciasde nossas ações. O que não acontece com vocês.A segunda grande razão, para não voltarmos ao nossoplaneta, é o Aparí-Parú. Lá não existem as formigas e elessão incontroláveis. Desta forma, achamos que devemos ficaraqui mesmo. Com vocês.Mas, ao mesmo tempo, pensamos nos mais de meio milhãode pessoas, que estão no Havaí e nos navios. Eles serãodestruídos pelos Zorkos, quando voltarem.- Depois os Zorkos irão embora e, provavelmente, só voltarãodaqui a alguns séculos.- E os povos das florestas evoluirão novamente.- E criarão novas tecnologias, que serão captadas pelosZorkos, que voltarão e os exterminarão.

- E isso não vai ter fim. Os humanos serão sacrificados,gradativamente, à medida que evoluírem.- Exatamente.- Então chegamos a conclusão que teremos que enfrenta-los.- Não temos outra alternativa.

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Capítulo 11

A nave de guerra Zorkoniana saiu do hiper-espaço bem pertodo sistema solar. O capitão deu ordens ao seu piloto paradirigir-se ao terceiro planeta. Minutos depois entrou em

órbita.- Ligue o observador, falou.O observador era uma espécie de radar, só que muito maisavançado. Ligado ao computador de bordo, verificava,imediatamente, qualquer objeto de metal. O computadoranalisava detalhadamente os metais encontrados e quandoreconhecia pela quantidade e tamanho, que eram tecnologiasde uma civilização mais avançada, dava o alarme e plotavano mapa de cristal líquido, que ficava na cabine de comando,o local.- Impressionante, falou o comandante, a raça que habita esteplaneta conseguiu, num espaço ínfimo de tempo, sereorganizar. Eles estão concentrados numa pequena ilha numdos oceanos.- O que vamos fazer, comandante? Perguntou o capitão daartilharia?- Enquadre o local na mira e destrua-os.

SEMENTES

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Aba Epyak, aflito, entrou em contato com os outros Guaranise com os humanos, habitantes da Semente.

- Vocês estão sentindo o mesmo que eu?- Os zorkos voltaram, respondeu o Antônio.- E já armaram os raios Z5 e os apontaram para o Havaí.- Chegou a hora. Este é o momento por que tanto tínhamosmedo. Agora saberemos se podemos enfrentar os Zorkianos.Uma vitória deles e será o fim de nossa raça.- E da nossa também.- Nem tanto Antônio. Vocês sobreviverão nas florestas.

- Até nos desenvolvermos e sermos abatidos de novo, como já conversamos. Tantas vezes quanto eles acharemnecessário. Na realidade seremos controlados por eles,eternamente.Um silêncio abateu sobre eles. Todos foram para a sala dapedra azul e sentaram nas cadeiras. Diferentemente daprimeira vez, as cadeiras dos humanos não ficaram brancas,acenderam-se com a luz vermelha.Todos se concentraram. Era a hora da verdade.

NAVE ZORKOIANA

- Disparar, ordenou o comandante.Um feixe de luz branca saiu da cauda da nave em direção aTerra. Mas, diferentemente do que os Zorkaianos esperavamnão houve nenhuma destruição. A luz branca como que se

espalhou, envolvendo a Terra e, depois, esvaeceu-se.- O que houve? Perguntou o comandante?- Não sei dizer. Respondeu o capitão. Parece que falhou.- Como que falhou? O que dizem os controles?- Que está tudo certo. Não tem nenhum erro.

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- Então dispare, outra vez.A ordem foi obedecida e, como da vez anterior, o mesmo

aconteceu.- De novo? Gritou o comandante. O que está acontecendo?- Não sei dizer senhor. Os raios partem mas não atingem osseus objetivos. Parece que uma força desconhecida osbloqueiam.- Droga, berrou o comandante. Disparem de novo.Mais cinco tentativas foram feitas. Todas sem êxito.- Não adianta, os raios estão sendo bloqueados.

- Mas que força é esta? Vocês conseguem identificar?- Não conseguimos. Nada está errado. No entanto nãofunciona.- Então vamos lá. Dirija a nave para o local e vamos destruí-los pessoalmente. Mande preparar o batalhão de infantariapara o desembarque.A nave colossal, pelos padrões da Terra, rumou em direçãoao Havaí e, lá chegando, planou bem em cima de umas dasgrandes praias da ilha. Uma grande porta se abriu e, por ela,vários veículos escaparam e aterraram nas areias. De dentrodesses veículos saíram centenas de soldados, com as armasem punho, todos eles vestidos de uma roupa amarela colante,que mais parecia uma roupa de mergulho.

NOVO ESTADOS UNIDOS

O general de exército comandante em chefe das forçasarmadas dos Novos estados Unidos estava sentado na mesade reunião do gabinete do presidente da república, discutindosobre as rebeliões que se sucediam na ilha, devido à fome. A

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ilha era pequena demais para ter terras o suficiente para aagricultura produzir o necessário para o sustento da

população. Assim, havia um grande racionamento e a quotade alimentação passada à população era o mínimo necessáriopara garantir a sobrevivência.Enquanto discutia, o general, que se sentava em frente agrande janela do gabinete, levantou os olhos e viu o primeiroclarão do raio que foi desfeito.- Veja só, presidente. Olha o que está acontecendo no céu.- Mas que coisa. O céu de azul ficou branco e depois, se

esvaineceu, como se fosse uma neblina, voltando a sua cororiginal. O que está acontecendo general?- Não tenho a mínima idéia, presidente. Parece uma explosão.Mas não ouvi nenhum barulho.O fenômeno voltou a acontecer várias vezes. O presidenteficou lívido. Uma estranha sensação apossou-se dele.- Será que são os extra-terrestres novamente? Será que elesvoltaram?- Meu Deus do céu, falou com medo o general. Se forem elesestamos perdidos, presidente. Não temos como enfrenta-los.- Reze para que não seja, general. Pois se for, seremosexterminados, como aconteceu da primeira vez.- Mas, o que fizemos a eles para nos destruírem dessamaneira?Nisso o telefone toca na mesa do presidente. A secretáriaatende e passa o telefone para as mãos do governante. Eleescuta com atenção e depois coloca o aparelho no gancho.

Vira-se para o general e, branco como uma cera, e diz:- General, estamos sendo atacados nas praias ao sul dacidade. Parece que uma grande nave por lá pousou e osalienígenas desembarcaram Acho melhor você tomar ocomando.

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O general fez uma rápida continência e saiu correndo dogabinete para assumir o comando da situação. Já no carro, em

direção à praia, pegou o seu celular e entrou em contato como almirante chefe de esquadra:- Bill, falou ele, o que está acontecendo aí?- Estamos sendo atacados por alienígenas, na praia.- E qual é a situação?-Terrível, MacArthur, as nossas armas não tem o menorefeito contra eles. Parecem balas de festim. No entanto, asarmas deles nos destroem. Para você ter uma idéia, os nossos

tanques parecem ser feitos de papelão. Eles não resistem aum único tiro dos alienígenas.- Não é melhor recuar?- É o que estamos fazendo.- Quantos eles são?- Apenas algumas centenas.- Já chamou reforços?- Já general. Dentro de poucos minutos teremos todos osnossos efetivos na praia.- Vê se agüenta. Daqui a alguns minutos estarei chegando aí.O general pediu ao seu chofer que aumentasse a velocidade.Quando chegou ao local, parecia um pesadelo. Milhares desoldados americanos mortos na praia. Dezenas de tanquesdestruídos jaziam nas redondezas. Eles pareciam que tinhamsido furados por uma broca gigantesca. Ostentavam enormesburacos redondos em suas couraças. Parecia o apocalipse. Osbatalhões tomavam as suas posições e, logo em seguida, eram

arrasados pelos raios vermelho-alaranjados que saiam dasarmas de uns homens vestidos de amarelo.Vários lança mísseis lançaram os seus petardos em direçãoaos alienígenas. Os mísseis estouravam em cima, formandograndes bolas de fogo. Em seguida, a fumaça envolvia os

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alienígenas. Quando dissipava, os inimigos continuavam depé, avançando como se nada tivesse acontecido.

Foi justamente nesse momento que o general encontrou-secom o almirante.- Não adianta, general, as nossas armas, mesmo as maispoderosas, como os mísseis, não surtem o menor efeitocontra eles. O que faço?- Continue, almirante. Já que vamos morrer, pelo menosmorreremos lutando, como verdadeiros soldados.- E os aviões, dos porta-aviões?

- Foram todos destruídos, general. De qualquer forma,também não adiantou nada.- Que fim vamos ter, almirante. Seremos destruídos, varridosda face da Terra, sem ao menos sabermos quem são osnossos inimigos e por que estão nos atacando.- E a bomba atômica?- Bem, é a nossa última alternativa. Será um suicídio, maspelos menos acabamos, também, com a raça deles. Mas essaordem só o presidente pode dar.O general pegou o seu celular e ligou para o presidente.Contou toda a situação e perguntou;- Devemos lança-la?- Não general. Não posso autorizar o extermínio da nossaraça. Vamos nos render. Veremos então o que eles querem eo que poderemos fazer. Pelo menos teremos uma alternativa.O general voltou-se para o almirante:- A nossa ordem é a de nos rendermos.

- Mas isso é uma loucura, general. Como vamos ter certezaque eles aceitarão a nossa rendição? E se o fizerem, o quevão querer de nós? Do jeito que nos atacaram, assim semmais nem menos, você acha que vão nos dar alguma guarita?

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Provavelmente nos aniquilarão, sem dó nem piedade, se éque não farão algo pior?

- O que pode ser pior que isso almirante? O que pode ser piorque a morte?- Eles podem nos comer vivos.- Mas que loucura é essa almirante?- Não é o que fazemos com as vacas?- Mas não somos vacas!- Será, general? Será que, para eles, não somos?- Mas eu não posso desrespeitar uma ordem direta do

presidente e, afinal de contas estamos apenas conjeturando epode não ser nada disso. Eles não podem ser tão terríveisassim.- O que faço então, general?- Renda-se!O almirante, seguindo a ordem do general, mandou que assuas tropas se rendessem. Os tiros pararam e uma grandebandeira branca foi erguida no campo de batalha. Mas foicomo se nada tivesse acontecido. Os alienígenas continuaramatirando e dizimando os soldados.Os soldados então, desesperados, debandaram totalmentedesordenados, cada um fugindo a sua maneira, para o interiorda ilha.O general voltou a ligar para o presidente, contando asituação.- Reuna a tropa, general. Tragam todos para cá. Vamosresistir até o último homem.

Com muito trabalho, os soldados remanescentes foramreagrupados e recuaram até o prédio da presidência. Opresidente, pegando uma bandeira dos Novos Estados Unidosfoi de encontro aos seus soldados e, ficando na frente, junto

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com o general, o almirante e os demais oficiais generais,esperou a chegada dos inimigos.

Minutos depois, chegaram os alienígenas. Eles tomaramposição de tiro. O presidente começou a cantar o hino dosNovos Estados Unidos, o que foi seguido por todos. Umalágrima desceu dos olhos dele que, instintivamente, colocou asua mão direita no peito, bem em cima do coração. Fechou osolhos e esperou o tiro final.Ninguém sentiu nada. A morte foi instantânea.Os Zorkos então continuaram com a matança. Bairro por

bairro, rua por rua, casa por casa, os alienígenas continuavamcom a sua caçada aos seres humanos. Ninguém sobreviveu.Como se não bastasse, todas as construções também foramdestruídas, assim como as plantações. A grande ilha do Havaí transformou-se numa imensa fogueira. Não ficou pedra sobrepedra.Os Zorkos, então, voltaram para as suas naves e embarcaramem direção à grande nave mãe.- Missão cumprida, comandante.- Não sobrou ninguém?- Nenhum nativo sobreviveu.- Tem certeza?- Absoluta, comandante.

SEMENTE

Todos os Guardiões sentiram o holocausto. Os humanos,mais sensíveis ao fato, começaram a chorar. Lágrimas saíramde seus olhos.- Aba Epyak, nós temos que enfrentar esses Zorkos. Eles nosmataram como se fossemos animais, se dó nem piedade.

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Mais de meio milhão de pessoas sucumbiram a essesmonstros.

- O melhor é deixar como está. A sua raça, no final,sobreviverá. Vocês ainda têm o povo das florestas.- Para que? Para eles voltarem daqui há uns séculos e nosmatarem novamente? Vamos deixar isso acontecer, de novo?- Você está cheio de ódio, Antônio.- Estou sim, Aba Epyak. Você mesmo nos disse que essa erauma diferença fundamental entre nós. Eu quero vingança.Quero acabar com esses assassinos.

- Mas, vamos por em risco a nossa sobrevivência. É melhordeixar como está.- Eu não sou covarde, Aba Epyak e estou disposto asacrificar-me em prol da minha raça. Não quero ver maismulheres e crianças serem mortas. Não agüento isso.- Vamos votar então. E, seja qual for a decisão, que Tupanaesteja conosco. Quem quiser a guerra que o diga.Um vazio profundo aflorou na mente de cada um. Era comoum silêncio. Quem primeiro votou foi o Aba Epyak:- Eu prefiro deixar como está. Vamos dar tempo ao tempo.As três mulheres Guaranis também votaram a favor dadecisão de Aba Epyak. Eram quatro votos a zero, num totalde nove. Antônio ficou preocupado. A sua sede de vingançatomava conta de todo o seu ser. Já tinha decidido que, mesmoque perdesse e ficasse sem os Guaranis ele iria enfrentar, dequalquer maneira, os Zorkos.

-  Eu voto na vingança, disse Aba Yuka.

Antônio tinha quase que certeza que esse voto era seu. ComoAba Yuka era o homem do mal, estava claro que ele iriavotar no confronto.Letícia e Raimundo votaram a favor do Antônio. Ele sabiaque isso iria acontecer. Afinal eram seres como ele. Da raça

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humana. Estava empatado. Quatro votos a quatro. Faltava ovoto de Aba Ibi, o homem da Terra. Antônio não sabia como

ele iria votar. Ficou ansioso à espera.- Eu, como o homem da Terra, tenho o dever de protegertodos os seres vivos. Dessa forma, voto a favor do Antônio.Antônio ficou aliviado. Eles iriam enfrentar os Zorkos. E eleteria a sua vingança.- Bem, disse o Aba Epyak, você ganhou, Antônio. Vamos aoconfronto final. Só espero que estejamos em condições deenfrenta-los. Nos últimos séculos eles tiveram um

desenvolvimento técnico-científico muito grande. Masfelizmente para nós, pelo que pude sentir, o desenvolvimentoespiritual foi muito pouco.- Como você sabe? Perguntou o Antônio.- Quando entramos em guerra, há séculos atrás, eles nãotinham as armas que têm hoje. Elas são muito maispoderosas. Mas só pessoas primitivas, espiritualmente,podem realizar matanças, como eles fizeram hoje. É a nossavantagem.- Bem, o que temos que fazer, agora?- Em primeiro lugar, temos que os trazer para cá.- E como vamos fazer isso?- Tirando a proteção dos equipamentos que guardamos. Ossensores da nave Zorkiana imediatamente vão nos localizar.

NAVE ZORKOIANA

O comandante ordenou ao seu piloto que tomasse asprovidências para voltar ao seu sistema solar. Nisso, oobservador da nave Zorkoiana deu o alarme.- O que está acontecendo? Perguntou o comandante.

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- O observador localizou outro grupo de nativos desteplaneta.

- Mas será possível? Não destruímos todos?- Aparentemente sim, mas parece que descobrimos outrogrupo.- Nós não tínhamos feito uma varredura geral nesse planeta?- Tínhamos, comandante, não existia mais nenhum, mas derepente apareceu outro.- De repente?- Foi.

- Já está localizado?- Positivo, comandante. No meio da maior selva deles.- Ah, eles estavam se escondendo, né? Mas que raçaobstinada é essa? Vamos destruí-los. Aponte o raio Z5 eacabe logo com isso.O capitão da artilharia focou o local e acionou a arma.Novamente um raio azulado partiu da nave em direção aSemente. Mas como da vez anterior, nada aconteceu. O raiose desfez numa grande luz branca.- Nada, comandante. Acho que a nossa arma está comdefeito, apesar de que, os computadores dizerem que estátudo normal.- Lembre-me de quando chegarmos a nossa base verificarmosisso, disse o comandante de mau humor. Capitão prepare asnaves de embarque. Vamos acabar logo com isso. Querovoltar logo para casa.

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SEMENTE

Os guardiões saíram do prédio e ficaram esperando do ladode fora. Minutos depois a primeira nave pousou em frente eos soldados Zorkianos, de amarelo, saíram com suas armas.Assim que viram os guardiões, atiraram. Mas, nada adiantou.Os raios não surtiram o menor efeito, por mais que atirassem.O capitão pegou o comunicador e falou com o comandante:- Comandante, disse ele, alguma coisa muito estranha estáacontecendo. É melhor o senhor vir para cá.

- O que está acontecendo, capitão?- Encontramos nove nativos e atiramos, mas as nossas armasnão os mataram.- Como assim?- Não acontece nada, comandante. Os raios saem das armas,mas encontram uma espécie de barreira invisível, que nãodeixa atingirmos os nativos.- Nenhum nativo desse planeta possui uma tecnologia queenfrente as nossas armas. Nem nós mesmos temos.Nesse instante, um dos homens de túnica azul adiantou-se dogrupo e falou:- Zorkos!- Quem é você? perguntou o capitão admirado. Como vocêsabe quem somos?- Nós somos os Guardiões da Semente.- Nunca ouvimos falar de vocês.- Nós somos os seus maiores inimigos.

- Nós não temos inimigos. Nós somos uma raça superior e sótemos vítimas, falou em tom de deboche.- Engano seu, Zorko. Vocês não se lembram dos Guaranis?- Essa raça não mais existe. Foi extinta por nós a milhares deanos.

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- Novamente você se enganou, Zorko. Nós somos osremanescentes da raça que vocês pensaram que tinha sido

extinta.- Atirem neles, ordenou o capitão. Novamente o mesmo sedeu. Os raios viraram fumaça sem atingir ninguém.O capitão, nervoso, pegou o comunicador:- Comandante, gritou, estou diante de um homem que se dizGuarani.- Mate-o.- Não consigo, comandante. O que aconteceu com os raios da

nave, acontece aqui.- Ah, então foi por isso. Temos, de novo, os Guaranis pelafrente? Espere um pouco que vou descer. Quero acabar comeles pelas minhas próprias mãos.Aba Epyak e os outros Guardiões ouviram telepáticamente aresposta do comandante.Ambos os lados, frente a frente, ficaram a espera da nave docomandante que não demorou mais de cinco minutos parapousar. De dentro saiu um homem vestido com uma roupa decor prata, que colava no seu corpo como se fosse uma pele,igual aos soldados de amarelo.- Quem é você? Perguntou o comandante assim que desceuda nave.- Eu sou Aba Epyak.O rosto do comandante ficou ruborizado.- Aba Epyak está morto a mais de seis mil anos.- Novo engano, Zorkint. Estou bem vivo. Vivo o suficiente

para acabar com você.- Você está blefando. O príncipe Aba Epyak não mais existe.Aba Epyak levantou uma das mãos e, um fino raio brancoazulado saiu de seu dedo indicador em direção ao céu.

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Segundos depois uma grande explosão tingiu a atmosfera deum vermelho vivo.

- A sua nave acaba de explodir, Zorkint. Disse Aba Epyak.- Não é possível! Berrou o Zorkoiano olhando para o céu.Imediatamente ele pegou o seu comunicador e tentou, emvão, falar com a sua nave.- Não adianta, Zorkint. Ela não mais existe.O Zorkoiano, como um louco, pegou a sua arma e atirouvárias vezes no Aba Epyak. Mas sem resultado. Parecia queuma barreira invisível o protegia.

Os guardiões, como que ensaiados, levantaram seus braçosem direção aos soldados Zorkoianos. Novamente raiosbrancos saíram de seus dedos e atingiram a tropa alienígena.Todos eles caíram mortos, no chão. Só restou o Zorkint.- Agora você será o meu refém. Será a garantia que o seupovo não mais nos importunará. Duvido que o imperadortente alguma coisa sabendo que o seu filho é nossoprisioneiro.

Depois da luta com os Zorkoianos, os três humanos iniciaramuma longa peregrinação em busca dos sobreviventes.Primeiro entraram em contato com o povo das florestas. Mas,nenhum deles quis voltar para a civilização. Estavam muitosfelizes em sua nova situação. Finalmente tinham se livradodos males da civilização. Viviam em paz.Depois saíram em busca dos povos dos mares, era como se

chamava a população que vivia nos navios. Telepaticamenteconseguiram entrar em contato com eles. Combinaram oprimeiro encontro na foz do rio Amazonas. Os povos dosmares, depois de várias insurreições nos navios, finalmentetinham se organizados em uma espécie de país. Isto foi

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possível graças às comunicações por rádio. Pouco a poucoeles foram se unindo até que formaram um governo. O navio

onde se instalou o governo era o grego Papaniakos, que tinhasido arrastado pelo então governo do Novo Estados Unidos.Os três Guardiões humanos explicaram tudo o que tinhaacontecido.Os povos dos mares receberam dos Guardiões, rainhas emachos de formigas de correição. Com todo o cuidadoconseguiram desenvolver colônias desses insetos, que foramdistribuídos pelos navios. Cada navio, democraticamente,

decidiu por onde aportar. A principio, as formigas foramintroduzidas nesses locais. Os navios ficaram ao largo pormais cinco anos, deixando as formigas se desenvolverem emultiplicarem. Quando as larvas dos Aparí-Parú foramcontroladas, os insetos que já se canibalizavam por falta decomida, entraram numa redução de população. Paraacelerarem esse processo, os povos dos mares realizavamcaçadas sistemáticas. Ao fim de nove anos a Terra estavalivre deles. Os povos dos mares, então, puderam voltar aviver em terra e se concentraram em pequenas cidadeslitorâneas. Mas, não quiseram viver como antigamente.Aproveitaram o conforto de viver em casas, cultivaramterras, mas preferencialmente, viviam da pesca.Abandonaram por completo a tecnologia. Consideraram queas vidas deles eram felizes o suficiente para prescindirem detelevisão, computadores, telefones e outros equipamentos davida antiga. Finalmente acabaram com o dinheiro. O que um

tinha a mais, distribuía para os que tinham a menos e vice eversa. Mantinham contato via radio com as outras colônias.Mas o governo central foi abandonado. Os Guardiõeshumanos foram eleitos como uma espécie de conselheiros e

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serviam como juízes nas pequenas causas que precisavam deuma decisão. Eles eram respeitados e venerados como heróis.

Os Guardiões Guaranis continuaram a viver na florestaamazônica. O gen de agressividade foi retirado de Zorkint eele teve o mesmo tratamento de desenvolvimento cerebral.Cinco anos mais tarde uma nova nave Zorkaiano voltou aSemente. Desta vez vinha em paz, querendo recuperar opríncipe Zorkint, visto que o pai dele tinha morrido e eleherdado o trono.Ele, pacificamente voltou ao seu planeta e, sem o gen da

agressividade, tornou-se um imperador da paz. O universo,como um todo, se desenvolveu em direção aos direitos e aoamor. A guerras acabaram e o objetivo único era o conforto ea felicidade.Antônio e Letícia se uniram. Apesar de preferirem fazer sexotelepáticamente, pois era muito melhor, quando queriam terfilhos os faziam fisicamente. Desta forma, tiveram cincofilhos que nasceram evoluídos como os pais.

Fim