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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

ENSINANDO GEOGRAFIA PELO ESPAÇO DE VIVÊNCIA

SASAKI, Rosana Claudia Ribeiro 1 MOURA, Jeani Delgado Paschoal2

RESUMO

O objetivo é descrever o resultado das experiências vivenciadas na implementação do projeto de Geografia, realizado no Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto, do Distrito de Ribeirão Bonito, em Grandes Rios, Paraná, junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) na escola. Tal experiência apresentou uma abordagem sobre Ensinar Geografia pelo Espaço de Vivência voltada para os alunos do Ensino Fundamental. Do ponto de vista da educação geográfica o tema tem relevância na medida em que se analisa o que se ensina, o porquê e como se ensina, articulando-o com as concepções fundamentadas das teorias de aprendizagens. Objetiva-se desenvolver o ensino da Geografia a partir da percepção do espaço de vivência do educando, que pode ser o seu bairro, a sua comunidade ou o seu município. Assim, analisa-se a compreensão do educando em relação ao seu espaço de vivência, utilizando-se de instrumentos como aula de campo, mapas mentais, análise e leitura de fotografia, dados cartográficos para orientação e localização geográfica do município entre outros recursos. Estes instrumentos e referenciais foram utilizados como um diagnóstico para verificar o nível de compreensão do educando em relação ao seu espaço local. A compreensão de aspectos significativos da realidade pode mudar alguns parâmetros do processo de ensino e da aprendizagem de Geografia. Nesse contexto, espera-se que o aluno compreenda o conteúdo trabalhado pelo professor, como também, se aproprie do sentido de identidade e pertencimento em relação ao lugar onde vive. Como resultado verificou-se que estudar o lugar é um importante aliado na construção de conceitos com maior significado. Palavras-chave: Geografia. Lugar. Espaço. Identidade. Cotidiano.

1 INTRODUÇÃO

Os resultados apresentados neste artigo foram obtidos a partir da proposta

“Ensinando Geografia Pelo Espaço de Vivência” aplicado no Colégio Estadual

Marechal Floriano Peixoto do Distrito de Ribeirão Bonito, Grandes Rios, Paraná, em

2014, tendo como ponto de partida, o estudo do município, como forma de tornar o

1 Professora do Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto Ensino Médio. aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE, 2013. E-mail [email protected] 1 Professora do Curso de Geografia, Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina/UEL. E-mail: [email protected]

ensino de Geografia mais atrativo e dinâmico, capaz de inserir o educando como

agente de transformação da realidade vivenciada.

Considerando que lugar é uma parte do espaço geográfico onde vivemos e

interagimos com uma paisagem, pretendeu-se a partir deste conceito levar o aluno a

perceber as transformações ocorridas no espaço ao seu redor, por meio de leituras

e observações que permitam identificar, descrever ou comparar os elementos e os

arranjos que a compõem e lhes atribui significados. O ponto de partida são os

espaços familiares do aluno e seu local de vivência, e as suas relações com a

região, o estado, o país e o mundo.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia

(DCE/PARANÁ, 2008), o aluno deve compreender que no lugar são observadas as

influências, a materialização e também as resistências ao processo de globalização,

lembrando-se da relevância em não reduzir o conceito de lugar ao de localização.

Segundo as DCEs a abordagem dos conteúdos torna-se mais significativa quando

se estabelecem relações entre o que é estudado e o lugar onde o aluno vive, com a

intenção de reconhecer a importância do patrimônio natural e cultural do município e

a necessidade de preservá-los.

A partir dessas considerações é que essa pesquisa se estrutura, propondo

uma estratégia de ensino que utilize as metodologias como ferramentas para

contribuir com a aprendizagem da dimensão econômica, política, cultural,

demográfica e socioambiental do espaço geográfico do município de Grandes Rios,

no Paraná. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo possibilitar ao educando, a

partir da percepção do espaço de vivência, compreender o espaço local como

integrante de uma realidade maior (estado, região, país). Entendendo a sociedade

em que vive, a sua história e o espaço por ela produzido como resultados da vida

dos homens.

2 LUGAR, ESPAÇO E COTIDIANO

De acordo com as DCEs (PARANÁ, 2008), o conceito de lugar,

tradicionalmente tomado sob perspectivas teóricas e políticas conservadoras, foi,

mas recentemente, ressignificado. Para o pensamento geográfico da escola

francesa de La Blache, a Geografia era a ciência dos lugares (e não dos homens).

Os lugares eram definidos por características naturais e culturais próprias, cuja

organicidade os diferenciava uns dos outros. O conceito de lugar estava ligado a

uma noção de localização absoluta e à individualidade das parcelas do espaço. As

vertentes humanística e crítica da Geografia ultrapassaram a concepção de lugar

como localização absoluta e, de diferentes modos, trouxeram a discussão dos

aspectos relativo e relacional dos lugares.

Para a Geografia Humanística, o lugar é conceito chave, entendido como o

espaço vivido, dotado de valor pelo sujeito que nele vive. Enquanto o espaço se

caracteriza pelo indiferenciado, abstrato e amplo, o lugar é onde a vida se realiza, é

familiar, carregado de afetividade, o que o torna subjetivo em extensão e conteúdo,

bem como em forma e significado. Essa conceituação não poderia ser de outra

forma, pois algumas características fundamentais do humanismo foram retomadas

por essa vertente do pensamento geográfico, a saber: a visão antropocêntrica do

saber; a posição epistemológica holística, o homem considerado como produtor de

cultura e o método hermenêutico pelo qual o geógrafo é um observador privilegiado,

capaz de interpretar (GOMES, 2005, p. 310-311 apud PARANÁ, 2008).

De fato, apesar das características do humanismo terem perpassado obras

de diversos autores desde a Geografia Clássica, apenas com o humanismo

fenomenológico é que essa linha teórica busca claramente legitimidade. “É somente

a partir do início dos anos setenta, com a publicação sucessiva dos artigos de Relph

e de Yi-Fu Tuan, que a aplicação da fenomenologia à Geografia se manifesta com

clareza” (GOMES, 2005, p. 326 apud PARANÁ, 2008).

A Geografia Humanista fenomenológica acusa a ciência clássica de

minimizar a importância da consciência humana para o conhecimento. Por meio do

estudo do lugar, sem ambição de formular leis ou chegar a generalizações, a

fenomenologia “dá a possibilidade de restabelecer o contato entre o mundo e as

significações, por possuir a verdadeira medida da subjetividade; [...] conhecer o

mundo é conhecer a si mesmo” (GOMES, 2005, p. 328 apud PARANÀ 2008). Assim,

volta-se, de certa forma, a uma Geografia dos lugares, sem ambição a priori de

análises do espaço geográfico em escalas mais amplas.

A Geografia Crítica, por sua vez, tem outra interpretação do conceito de

lugar. Em suas mais recentes elaborações teóricas, não desprezou a dimensão

subjetiva desse conceito, mas valorizou suas determinações político-econômicas em

relação às demais escalas geográficas. Assim, os lugares podem ser, a um só

tempo, espaços do singular e locais da realização do global, o que possibilita

tornarem-se arenas de combate. Desta perspectiva teórica, a singularidade dos

lugares pode ser um atrativo para investimentos econômicos globais, pode mantê-

los como reserva para o futuro, ou ainda, pode ser motivo de desinteresse que os

condene ao abandono. Quando alvos de forte intervenção econômica externa ou de

abandono absoluto, os lugares podem se tornar espaços de confrontos políticos se

houver mobilização social para isso. Nesse caso, os lugares transformam-se em

territórios quando as relações de poder que se evidenciam em função de conflitos

de interesses (PARANÁ, 2008, p. 60-61).

Nestas Diretrizes, adota-se o conceito de lugar, desenvolvido pela vertente

crítica da Geografia, porque por um lado é o espaço onde o particular, o histórico, o

cultural e a identidade permanecem presentes, revelando especificidades,

subjetividades e racionalidades. Por outro lado, é no espaço local que as empresas

negociam seus interesses, definem onde querem se instalar ou de onde vão se

retirar, o que afeta a organização socioespacial do(s) lugar(es) envolvido(s) pela sua

presença/ausência.

Alguns lugares se destacam economicamente por seus (conteúdos) objetos – equipamentos e conhecimentos – e pelas ações que neles se realizam, como, por exemplo, os centros financeiros das grandes cidades, as áreas de importante concentração industrial ou os centros de pesquisa e desenvolvimento científico. Outros lugares caracterizam-se por suas configurações socioespaciais simples, pouco atraentes para os interesses econômicos, por se situarem à margem das intensas relações de produção e exploração. Entretanto, essa diferenciação entre os lugares como espaços econômicos pode ser transitória, porque a qualquer momento outro lugar pode oferecer ao capital atrativos maiores quanto a equipamentos, localização,

recursos naturais, humanos etc (PARANÁ, 2008, p. 61-62).

Nessa relação com o global, então, os eventos locais suscitam a discussão

dos conceitos de lugar, de território, de natureza, de técnica, de política, entre

outros, tão ricos e necessários às análises mais amplas do espaço geográfico. Hoje,

os aspectos particulares dos lugares tornam-se visíveis e singulares pela sua

relação dialética com o global ao qual estão conectados.

Essa relação local-global traz, em suas contradições próprias, a

possibilidade tanto de os lugares se tornarem espaços onde se realizam os

interesses hegemônicos quanto de, por meio de uma mobilização social,

contraporem-se a esses interesses, o que fortaleceria a prática da política (relações

de poder). É importante abordar, também, em sala de aula, como as identidades

espaciais são construídas e mantidas nos lugares frente ao processo de

globalização. O aluno deve compreender que no lugar são observadas as

influências, a materialização e também as resistências ao processo de globalização.

A abordagem dos conteúdos específicos torna-se mais significativa quando se

estabelece relações entre o que é estudado e o que faz parte do lugar onde o aluno

está inserido. Lembrando-se, ainda, da relevância em não reduzir o conceito de

lugar ao de localização.

Considero esta a falha mais grave de nosso ensino, desprezar o ser

histórico da Geografia e consequentemente o ser histórico do aluno.

Acolhê-los seria, de certa forma redefinir relação mesmo de ensino-

aprendizagem, construir o caminho do conhecimento e descoberta, a

da realidade vivenciada pelo aluno. (RESENDE, 1989, p.20)

Segundo Rezende (1989), deixamos de valorizar o conhecimento prévio

que o aluno traz de seu espaço geográfico, valorizando primeiro e inserindo o saber

desconhecido, negando o espaço histórico do aluno. Na abordagem da Geografia, o

aluno deve partir primeiro do estudo do seu ambiente mais próximo: o lugar onde

mora, a percepção que se tem desse lugar. Em virtude dessas considerações, ele

aprenderá a localizar e representar o espaço que o cerca.

De acordo com Callai (2000) na literatura geográfica, o lugar está presente

de diversas formas. Sendo assim, estudá-lo é fundamental, pois ao mesmo tempo

em que o mundo é global, as coisas da vida e as relações sociais se concretizam

nos lugares específicos. Significa que entender o que acontece no espaço onde se

vive para além das suas condições naturais ou humanas. Muitas vezes as

explicações podem estar fora, sendo necessário buscar motivos tanto internos

quantos externos para se compreender o que acontece em cada lugar, assim

conhecer o lugar em que se vive, permite que o sujeito conheça sua história e que

consiga entender as coisas que ali acontecem. Isto resgata a questão da identidade

e a dimensão de pertencimento. É fundamental, neste processo, que se busque

reconhecer os vínculos afetivos que ligam as pessoas aos lugares, às paisagens e

tornam significativo seu estudo (CALLAI, 2000).

Ao tratar da produção do conhecimento pelo próprio estudante, no que se

refere à construção de conceitos para a formação de uma linguagem própria da

Geografia, Cavalcanti (1998) discute que “[...] o ensino [de geografia] visa à

aprendizagem ativa dos alunos, atribuindo-se grande importância a saberes,

experiências, significados que os alunos já trazem para a sala de aula incluindo,

obviamente, os conceitos cotidianos [...]”. (MOURA; ALVES apud CAVALCANTI,

1998, p.88). Nesse sentido, lugar faz referência a uma realidade de escala local ou

regional e pode estar associado a cada indivíduo ou grupo e pode ser entendida

como parte do espaço apropriado para a vida, área onde se desenvolvem as

atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas

pelos homens.

Devemos estar preparados para reforçar o entendimento do aluno. Neste

contexto, partir de uma visão a qual o aluno perceba o espaço a sua volta, já que ele

possui experiências vivenciadas no espaço local, como o escolar ou em sua própria

casa. Segundo Callai (2005), temos que compreender o lugar em que vivemos e

procurar entender o que ali acontece, pois todos os lugares têm muitas histórias e

situam-se em um tempo, em um espaço delimitado. O espaço que vivemos é

resultado da história de nossas vidas.

Entender o lugar em que se vive possibilita ao aluno conhecer a sua história

e conseguir entender as coisas que ali acontecem. Santos (2006) destaca que

nenhum lugar é neutro, pelo contrário, é repleto de história e com pessoa

historicamente situada num tempo e num espaço maior, mas por hipótese alguma é

isolado, independente.

Para compreensão deste conceito evoca-se a valorização das relações de

afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente. O lugar

significa muito mais do que, simplesmente uma localização geográfica, ele está

relacionado aos diversos tipos de experiências e envolvimento com o mundo. Além

disso, o lugar também associa ao sentimento de pertencer a determinado espaço,

de identificação pessoal com uma dada área. Cada localidade possui características

próprias que, em conjunto, conferem ao lugar uma identidade própria e cada

indivíduo que convive com o lugar, com ele se identifica. Dessa forma, o lugar

garante a manutenção interna da situação de singularidade.

No lugar - um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, firmas e instituições -cooperação e conflito são a base da vida em comum. Porque cada qual exerce uma ação própria, a vida social se individualiza; e porque a contiguidade é criadora de comunhão, a política se territorializa, com o confronto entre organização e espontaneidade. O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais

diversas manifestações espontaneidade e da criatividade. (SANTOS, 2006, p.218)

Além disso, é importante que os alunos reconheçam que essas condições

não dizem respeito particularmente à vida deles e de seus familiares, mas a de um

grupo mais amplo de pessoas que tiveram de se adaptar às transformações

ocorridas no lugar. É importante que os alunos percebam que as suas condições de

moradias, estudo, lazer, saúde refletem o processo de ocupação e organização do

espaço em que vivem, de acordo com as relações sociais que se desenvolveram.

De acordo com Carlos (1996), o lugar não deve ser concebido como

autônomo, mas como parte integrante de uma totalidade espacial, consubstanciada

na divisão espacial do trabalho. Na era das redes, os avanços nos meios de

transporte e comunicação estão cada vez mais velozes e procuram encurtar a

distância entre os espaços e o tempo.

O lugar contém sempre o global, sendo específico e mundial, ao mesmo

tempo em que se articula a uma rede de lugares. O lugar pode se apoiar numa rede

de difusão – de fluxos de informação, bens e serviços -, processo que tem como

pano de fundo a mundialização da sociedade, da economia, da cultura e do espaço,

que se constitui cada vez mais num espaço mundial articulado e conectado, o que

implica um novo olhar sobre o local (CARLOS, 1996).

O estudo do município permite que o aluno que constante a

organização do espaço, que possa perceber nele a influência e/ou

interferência dos vários segmentos da sociedade, dos interesses

políticos e econômicos ali existentes e também de decisões externas

ao município, confrontando-se inclusive com interesses locais e da

população que ali vive. (CALLAI, 1988, p.81).

De acordo com Callai, a Geografia pode contribuir para que a população

conheça o ambiente em que vive e as relações estabelecidas no espaço, relações

estas que podem ser sociais, econômicas, culturais, de poder, entre outros como

salienta Carlos (1996, p. 21-22):

O lugar só pode ser compreendido em suas referências, que não são

especificas de uma função ou de uma forma, mas de um conjunto de

sentidos e usos. Assim, o lugar permite pensar o viver, o habitar, o

trabalho, o lazer enquanto situações vividas, revelando, no nível do

cotidiano, os conflitos que ocorrem ou ocorreram no mundo.

Cavalcanti (1998) ao trabalhar com o cotidiano e o conhecimento geográfico,

diz que: “Ao manipular as coisas do cotidiano, os indivíduos vão construindo uma

geografia e um conhecimento geográfico”. Nessa linha de análise a mesma autora

diz mais:

A consciência dessa geografia produzida, individual e

genericamente, provoca alterações na prática social cotidiana. O

distanciamento das ações cotidianas […] para refletir sobre as coisas

manipuladas cotidianamente, é uma pratica necessária quando se

quer elevar as ações ao nível do humano genérico, quando se quer

dar um sentido social a essas ações. (CAVALCANTI, 1998, p. 123).

É preciso, portanto, descobrir formas capazes de articular a formação do

sujeito com a construção de sua identidade, reconhecendo seu pertencimento e

realizando um trabalho cognitivo capaz de situá-lo no contexto de uma produção

intelectual realizada pela humanidade. Segundo Santos (1994), a concepção de

lugar está intimamente relacionada à própria definição de espaço: “Tudo que existe

num lugar está em relação com os outros elementos desse lugar. O que define o

lugar é exatamente uma teia de objetos e ações com causa e efeito, que forma um

contexto e atinge todas as variáveis já existentes, internas; e as novas, que se vão

internalizar” (SANTOS, 1994, p. 97).

A educação escolar tem como meta principal fazer com que o aluno supere

o senso comum, desenvolvendo a consciência crítica, provocando alterações de

concepções e atitudes permitindo a interpretação de mundo e das relações sociais

no contexto no qual está inserido.

3 RELATO DA EXPERIÊNCIA

- O lugar onde vivemos

A partir da importância de estudar o lugar de vivência é que foi proposto o

presente estudo. No 1º momento, foi feita a apresentação da proposta e

levantamento do conhecimento prévio dos alunos. Para demonstrar aos alunos que

a Geografia está presente no nosso dia a dia, foi selecionada uma música para

trabalhar o conhecimento que tinham sobre o espaço onde eles vivem, alguns não

conheciam a letra da música, após análise, começaram a fazer associações com o

tema “O Lugar que Vivemos”.

- Música escolhida: Se Essa rua Fosse minha

Após análise da música saímos a um passeio no bairro, onde se localiza o

colégio, momento em que observaram várias características procurando identificar e

questionar aspectos relevantes do local, levando-os a refletir a importância de saber

observar, sendo que o modo de vida das pessoas que vivem no bairro revela um

modo de ser no bairro. Para conclusão da atividade redigiram um texto com a

pergunta. Quais as necessidades do nosso bairro hoje?

O meu bairro O meu bairro é muito bonito todos as pessoas se conhecem, aqui podemos andar na rua brincar, conversar com todo mundo não tem tanto perigo igual na cidade grande, acontece pouco roubo só roubo de coisinhas pequenas, poucas brigas. Mas mesmo assim ele precisa ser cuidado melhor, ainda existe muito lixo nas ruas, mas o prefeito pois lixeira só que tem umas pessoas que arranca durante a noite, tem pessoas usando drogas precisa melhorar a saúde, segurança mais policiais, o nosso colégio tá até interditado temos que estudar em poucas salas a cozinha tá no meio da quadra de jogar bola. Então só falta os políticos trabalharem direito para resolver os problemas que o nosso bairro vai ficar melhor ainda que é, mas mesmo assim adoro morar aqui. (Aluna D.S.M)

Alguns alunos apresentaram dificuldades em redigir o texto outros fizeram

mais rápido, mas todos conseguiram realizar a atividade proposta que era falar

sobre as necessidades do bairro.

- Os Mapas Mentais

O mapa mental permite observar se o aluno tem uma percepção efetiva da

ocorrência de um fenômeno no espaço e condições de fazer a sua transposição

para o papel. Ela vai trabalhar com todos os elementos essenciais que a cartografia

postula no tocante a sua forma de expressão a linguagem gráfica. Ele possibilita

analisar a representação oblíqua e vertical, o desenho pictórico ou abstrato, a noção

de proporção, a legenda, as referências utilizadas (particular, local, internacional e

inexistente) e o título (SIMIELLI, 2001, p.107).

1º passo: explicação aos alunos o que é um mapa mental;

2º passo: elaboração do mapa individual de cada aluno;

3º passo: trocar os elaborados entre os alunos para realizar uma discussão.

Assim que realizaram seus desenhos trocaram entre si e começaram a

explicar um para o outro as diferenças nas paisagens apresentadas por cada um,

pois um morava numa fazenda que plantam soja, milho, outro aluno que vive onde

só tem a pecuária, no sitio onde moro cultivamos café, tomate, os que moram no

distrito também apresentam seu lugar fazendo observações como: aqui tem praça,

igrejas, escola, emprego no laticínio na prefeitura”. Alguns dados chamou atenção a

maioria soube descrever de forma perfeita a saída de sua casa até a escola e

quando esqueciam os outros alunos já falava que faltou tal plantação, estrada, rios,

entre outras.

Enfim é uma atividade que todos os alunos participaram, querendo saber

como é o espaço geográfico de vivência do colega. A percepção sobre a importância

de conhecer os lugares significativos permite, aos alunos, reconhecer que são parte

desse espaço.

- Ilustrações dos mapas mentais

Figura 1: Percurso casa / colégio

Fonte: arquivo pessoal.

A imagem representa o percurso do local onde o aluno mora, na zona rural,

até a chegada na escola. O aluno traça seu percurso mostrando, todas as

propriedades rurais, igreja do bairro, e cemitério, até a chegada no colégio. Nota-se

que este representa pouco as paisagens naturais, apesar de mostrar a percepção da

organização espacial do espaço.

Figura 2: percurso casa / colégio Fonte: arquivo pessoal.

Na sua representação o aluno mostra ter um certo conhecimento da

organização espacial do espaço. Mostrando seu percurso sendo também morador

da zona rural, mas apresenta maior percepção detalhes, principalmente, nas

paisagens naturais como o rio, as pontes, as plantações de eucalípitos, soja,

pastagens, a rodovia e as estradas rurais e algumas casas por onde passa, até a

sua chegada ao colégio, com detalhe de árvore que fica na frente do prédio do lado.

Esta representação pode revelar que este aluno possui uma relação ativa com o

lugar, quando mapeia elementos fundamentais de seu lugar de vivência.

- Geografia local

Nesta atividade os alunos se dividiram em grupos e foram até o laboratório de

informática onde fizeram a pesquisa levantando alguns dados sobre o município,

cada grupo ficou responsável para pesquisar um tema: localização geográfica o

aspectos humanos, aspectos físicos e econômicos. A pesquisa foi realizada no site

“Cidades” do IBGE.

Assim que terminaram a pesquisa cada grupo confeccionaram cartazes com

dados pesquisados para apresentar na próxima aula num seminário organizado pelo

professor. Após apresentação de cada grupo houve vários questionamentos de um

grupo com o outro, demonstrando que desconheciam alguns dados referentes ao

município, alguns não conheciam os limites do município, outros não sabiam

quantos habitantes tinha o município, por exemplo.

Esse desconhecimento se explica, porque a maioria dos alunos não conhecia

seu próprio espaço de vivência, e, via de regra, nós, professores. trabalhamos pouco

esse espaço local, levando a concluir que estudar o município é muito importante,

pois desenvolve o processo de conhecimento e de crítica da realidade em que o

aluno está inserido. Adquirir mais conhecimento altera a cultura, o modo de pensar e

de agir.

Na próxima atividade os alunos fizeram leitura e a interpretação da letra do

hino do município, levando em consideração alguns questionamentos:

- Os rios que atravessam a área onde você mora e estuda estão poluídos?

- Houve mudanças na economia retratada no hino?

- Como se encontra o município na atualidade?

Hino do Município Grandes rios – cidade ternura coração deste meu Paraná és presente futura a segura condição que o trabalho te dá. Estribilho: os bravos homens que aqui chegaram a selva rude desvirginaram não mediram labor nem revés pra que fosses um dia o que és. grandes rios que matas circundam rio Branco, do Peixe e Ivaí d’águas fartas que as terras fecundam dando vida ao café e ao rami Estribilho: grandes rios torrão onde o povo pode livre viver no que é seu ao calor de um amor sempre novo sob olhar de São Judas Tadeu. grandes os rios, largos os céus benção caídas das mãos de deus sob a terra que é e será sempre orgulho do meu Paraná.

LETRA: Francisco Pereira de Almeida Jr. / MÚSICA: Maria Cecília de Souza e Silva. FONTE: ACERVO DO MUNICÍPIO DE GRANDES RIOS

Em seguida foi explicado para os alunos que seria realizado um concurso

com a melhor ilustração do hino, foi montado um painel com os desenhos

produzidos e deixados em exposição no pátio do colégio. Diante disso, como os

alunos já tinham feito a pesquisa na atividade anterior e estavam de posse de

alguns dados que levaram a concluir que do período que foi escrito a letra do hino

aos dias atuais as diferenças foram enormes, que o desmatamento ocorreu de

forma severa e que hoje os rios se encontram poluídos com pouca mata ciliar; em

alguns lugares foi necessário o plantio de mata. Sobre a economia questionaram

que não conheceram o rami descrito na letra do hino, pois conheciam só o café,

onde expliquei que a cultura de rami foi extinta nos anos de 1980 dando lugar para a

pecuária de corte e leiteira. Como resultado da pesquisa, os alunos comentaram que

nos dias atuais a soja e a plantação de tomates ocupam o lugar da produção de

café, pois quase ninguém quer produzir este produto, devido ao preço baixo, as

geadas e a falta de mão-de-obra.

O município encontra na atualidade com menos propriedades rurais

pequenas, a população diminuiu muito, as pessoas vão embora para a cidade em

busca de emprego e melhores condições de vida. Sendo que a nossa cidade não

oferece oportunidades de emprego. A análise da letra do hino teve o objetivo de

desenvolver e aprofundar a compreensão sobre o espaço local, onde conseguiram

perceber a brusca mudança no decorrer do tempo.

- Trabalho de Campo

Segundo as DCE (PARANÁ, 2008, p.80-81):

A aula de campo é um importante encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo (urbana ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar, por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade local bem delimitada para investigar a sua constituição histórica e realizar comparações com os outros lugares, próximos ou distantes. Assim, a aula de campo jamais será apenas um passeio, porque terá importante papel pedagógico no ensino de Geografia.

O trabalho de campo foi realizado em três etapas: pré-campo, campo e pós

campo. No pré-campo, etapa de planejamento do trajeto e preparação da turma e

explicações dos objetivos da saída, a participação dos alunos foi de 100%, durante o

passeio cada aluno observou e fotografou aquilo que chamou a atenção no seu

espaço de vivência. No pós-campo cada aluno escolheu uma fotografia, justificando

com uma frase a sua escolha, onde as fotografias foram colocadas em exposição no

pátio do colégio para conhecimento do trabalho feito por eles para as outras turmas

do colégio.

Figura 3: Plantação de café

Lugar: Rodovia Miguel Silva Lino Autor: D.A.S

Frase: Café: cultura que dá beleza e renda para o município.

Figura 4: Trajeto percorrido durante o trabalho de campo

Fonte: google maps

O trabalho de campo teve como finalidade levar o aluno a compreensão in

loco do espaço do município, bem como coletar informações para representá-lo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao implementar a proposta pedagógica na escola, foi possível constatar o

quanto é importante o ensino da Geografia pelo espaço de vivência do aluno,

observou-se o quanto foi importante a construção e elaboração de conhecimentos a

partir do espaço que conheciam, contribuiu-se para a superação de dificuldades e a

concretização da aprendizagem dos alunos.

Esta proposta utilizou-se instrumentos de aprendizagem como aula de campo,

mapas mentais, análise e leitura de fotografia dados cartográficos para orientação e

localização geográfica do município entre outros recursos, possibilitando aos

educandos um ensino mais significativo e contextualizado. Portanto, podemos

afirmar que o ensino da Geografia pode ser realizado em amplas dimensões

utilizando várias metodologias, despertando novas perspectivas de aprendizagem.

REFERÊNCIAS PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná. Disciplina Geografia, Secretaria de Estado da Educação, Curitiba, 2008. CALLAI, Helena C. O estudo do município ou a Geografia nas séries iniciais. In: CASTROGIOVANI, Antonio C (org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4ed. Porto Alegre: UFRGS/AGB-Seção Porto Alegre, 2003.

CASTROGIOVANI, Antonio C; CALLAI, Helena Copetti; SCHAFFER, Neiva Otero, KAERCHER, Nestor André (org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4ed. Porto Alegre: UFRGS/AGB-Seção Porto Alegre, 2003. ______. (org). Práticas e Textualizações no Cotidiano. 7ed.Porto Alegre Mediação, 2000. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. 2ed Campinas/SP: Papirus, 1998. NIDELCOFF, Maria Tereza. A Escola e a Compreensão da Realidade. 11ed.Brasiliense 1985. SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2001. p.92-108. Geopoemusica. Disponível em: https://sites.google.com/site/geopoemusica/ Acesso em: 09-11-2013