reconhecer diferencas construir resultados

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Setembro de 2004

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Setembro de 2004

edies UNESCO Conselho Editorial Jorge Werthein Cecilia Braslavsky Juan Carlos Tedesco Adama Ouane Clio da Cunha Comit para a rea de Desenvolvimento Social Julio Jacobo Waiselfisz Carlos Alberto Vieira Marlova Jovchelovitch Noleto Edna Roland Assistente Editorial: Rachel Gontijo de Arajo Apoio Tcnico: Luiz Siveres Reviso: Olga Maria Alves de Sousa e Cida Ribeiro Diagramao: Paulo Selveira Projeto Grfico: Edson fogaa UNESCO, 2004 (Re)conhecer diferenas, construir resultados. Organizado por Edison Jos Corra, Eleonora Schettini Martins Cunha, Aysson Massote Carvalho. Braslia: UNESCO, 2004. 576p. ISBN: 85-7652-022-2 1. Educao SuperiorInterao SocialBrasil 2. UniversidadesTransformao SocialBrasil 3. UniversidadesPluralismo CulturalBrasil 4. Extenso Universitria Brasil I. Corra, Edison Jos II. Cunha, Eleonora Schettini Martins III. Carvalho, Aysson Massote IV. UNESCO CDD 378

Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar. 70070-914 Braslia DF Brasil Tel.: (55 61) 21063500 Fax: (55 61) 322-4261 E-mail: [email protected]

Colaboradores

Avaliao Institucional da Extenso UniversitriaFernando Setembrino Cruz Meirelles Universidade Federal do Rio Grande do Sul Flaviano Agostinho de Lima Universidade de Sorocaba Maria Auxiliadora Jacy Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Maria da Consolao Gomes de Castro Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Maria das Dores Pimentel Nogueira Universidade Federal de Minas Gerais Snia Regina Mendes dos Santos Universidade do Estado do Rio de Janeiro

ComunicaoIvone de Lourdes Oliveira Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Mrcio Simeone Henriques Universidade Federal de Minas Gerais Sandra de Deus Universidade Federal do Rio Grande do Sul Therezinha Maria Novais de Oliveira Universidade da Regio de Joinville

CulturaAndrea Ciacchi Universidade Federal da Paraba Fabrcio Jos Fernandino Universidade Federal de Minas Gerais Jos Leo da Cunha Filho Universidade Catlica de Braslia Rosilene Martins Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Vera Lcia de Souza e Lima Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais

Desenvolvimento RegionalDimitri Fazito de A. Rezende Universidade Federal de Minas Gerais Herbe Xavier Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Lcia Helena Ciccarini Nunes Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Roberto Nascimento Rodrigues Universidade Federal de Minas Gerais Virgnia da Costa Liebort Nina Universidade So Marcos

Direitos HumanosAdalva Maria Galindo Universidade de Cuiab Adilson Moraes Seixas Pontifcia Universidade Catlica do Paran Edite da Penha Cunha Universidade Federal de Minas Gerais Eleonora Schettini Martins Cunha Universidade Federal de Minas Gerais Maria de Nazar Tavares Zenaide Universidade Federal da Paraba Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho Universidade Federal de Ouro Preto

EducaoCarmem Elvira Flores Mendonza Prado Universidade Federal de Minas Gerais Cristina Gouveia Universidade Federal de Minas Gerais Edite Mafra Universidade Federal de Minas Gerais Eduardo Lyra Universidade Federal de Alagoas Elisia Terezinha Megaco de Afonseca Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Erondina Leal Barbosa Centro Universitrio do Sul de Minas Gladys Rocha Universidade Federal de Minas Gerais Irlen Gonalves Universidade Fumec Isabel Campos Arajo Pdua Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Isabel de Oliveira e Silva Universidade Fumec Juliana Gonzaga Jayme Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Leideana Galvao B. de Farias Faculdade de Natal Luciano Mendes de Faria Filho Universidade Federal de Minas Gerais Luiz Sveres Universidade Catlica de Braslia Maria da Consolao Azevedo Oliveira Centro Universitrio UniBH Meily Linhales Universidade Federal de Minas Gerais Paulo Csar Santos Ventura Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Rose Maria Belim Motter Universidade Estadual do Oeste do Paran Sandra de Faria Universidade Catlica de Gois Srgio Dias Cirino Universidade Federal de Minas Gerais Silvia Maria de Contaldo Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

Gesto da ExtensoEdison Jos Corra Universidade Federal de Minas Gerais Jacqueline Costa Azevedo Centro Universitrio Newton Paiva Joo Maurcio de Andrade Goulart Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Jorge Hamilton Sampaio Universidade Metodista de Piracicaba Maria de Ftima da Rocha Brekenfeld Universidade Catlica de Pernambuco Vera Lcia P. Carneiro Soares Universidade da Amaznia

Meio AmbienteEugnio Batista Leite Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Gisele Brando Machado de Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais Jadergudson Pereira Universidade Estadual de Santa Cruz Janice Pereira de Arajo Carvalho Universidade Estadual de Minas Gerais Jos Angel Silva Delgado Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Osvaldo Campos Jnior Centro Universitrio So Camilo

SadeAlysson Massote Carvalho Universidade Federal de Minas Gerais Andra Maria Duarte Vargas Universidade Federal de Minas Gerais Ari de Pinho Tavares Universidade Federal de Minas Gerais Cassandra Pereira Frana Universidade Federal de Minas Gerais Edison Jos Corra Universidade Federal de Minas Gerais Efignia Ferreira e Ferreira Universidade Federal de Minas Gerais Emanuel Vtor Guimares Faculdade de Cincias Mdicas de Minas Gerais Geraldo Cunha Cury Universidade Federal de Minas Gerais Izabel Friche Passos Universidade Federal de Minas Gerais

Leandro Mallory Dinil Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte Lindalva Armond Universidade Federal de Minas Gerais Lcia Horta Figueiredo Goulart Universidade Federal de Minas Gerais Mara Vasconcelos Universidade Federal de Minas Gerais Maria Elice Nery Procpio Faculdade de Cincias Mdicas de Minas Gerais Marisa Maia Drumond Universidade Federal de Minas Gerais Natanael Atilas Aleva Universidade Vale do Rio Verde de Trs Coraes Oswaldo Frana Neto Universidade Federal de Minas Gerais Paulo Csar de Carvalho Ribeiro Universidade Federal de Minas Gerais Paulo Srgio Miranda Universidade Federal de Minas Gerais Rebeca Duarte Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Rita de Cssia Lopes Universidade Federal do Paran Zally Pinto Vasconcellos de Queiroz Centro Universitrio So Camilo

TecnologiaEugnio Daniel Centro Universitrio Claretiano Jorge A. Onoda Pessanha Universidade Cruzeiro do Sul Marco Antnio Faria Universidade Federal do Rio de Janeiro Patrcia Romero Soares Jota Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Srgio Mauri Fabri Universidade Tuiuti do Paran Targino de Arajo Filho Universidade Federal de So Carlos

TrabalhoAntnio Moreira de Carvalho Neto Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Jacqueline Moreno Theodoro Silva Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Jder dos Reis Sampaio Universidade Federal de Minas Gerais Luciane Pinho de Almeida Universidade Catlica Dom Bosco Manuel Esteves Universidade Salgado de Oliveira Ricardo Augusto Alves de Carvalho Universidade Federal de Minas Gerais Valria Helosa Kemp Universidade Federal de So Joo delRei

RevisoresRegina Maria de Moraes Miranda Adelmar Pereira Damasceno Luzia Amrica Avelar dos Santos

Comisses Organizadoras do 2 Congresso Brasileiro de Extenso Universitria GeralEdison Jos Corra Universidade Federal de Minas Gerais Jorge Hamilton Sampaio Universidade Metodista de Piracicaba Jorge Onoda Pessanha Universidade Cruzeiro do Sul Luiz Sveres Universidade Catlica de Braslia Vera Maria Victer Ananias Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Neide Wood Almeida Universidade do Estado de Minas Gerais Janice Pereira de Arajo Carvalho Universidade do Estado de Minas Gerais Geraldo Antnio dos Reis Universidade Estadual de Montes Claros

Valria Helosa Kemp Universidade Federal de So Joo delRei Edina E. Casali Meireles de Souza Universidade Federal de Juiz de Fora Maria das Dores Pimentel Nogueira Universidade Federal de Minas Gerais Maria da Consolao Gomes de Castro Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Jacqueline Costa Azevedo Centro Universitrio Newton Paiva Maria Ceclia Diniz Nogueira Universidade Federal de Minas Gerais Alysson Massote Carvalho Universidade Federal de Minas Gerais Ana Ins Sousa Universidade Federal do Rio de Janeiro Linda Bernardes Universidade Federal de So Paulo Joo Maurcio de A. Goulart Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais Eleonora Schettini M. Cunha Universidade Federal de Minas Gerais

ComunicaoBeatriz Lima Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Ceres Maria Pimenta Spnola Universidade Federal de Minas Gerais Marcelo Almeida Centro Universitrio Newton de Paiva Otvio Ramos Universidade Federal de Minas Gerais Silvestre Random Universidade do Estado de Minas Gerais

CulturaFabrcio Fernandino Universidade Federal de Minas Gerais Haroldo Marques Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Vicente Oliveira Universidade do Estado de Minas Gerais Valnei Pereira Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

InfraestruturaMaria Clia Nogueira Lima Coordenao de Assuntos Comunitrios/Universidade Federal de Minas Gerais

Secretaria e ReceptivoAna Mrcia de Oliveira Fonseca Universidade Federal de Minas Gerais Ana Maria Jernyma de Lima Universidade Federal de Minas Gerais Antnio Augusto de Freitas Universidade Federal de Minas Gerais Camila Mendona Carisio Universidade Federal de Minas Gerais Glorimar Pereira Rocha Universidade Federal de Minas Gerais Luiz Henrique Martins Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Tnia Miranda Centro Universitrio Newton Paiva

Comisso CientficaAlysson Massote Carvalho Universidade Federal de Minas Gerais Presidente Mara Vasconcelos Universidade Federal de Minas Gerais

Apoio/PatrocinadoresCopiadora Exata, Caixa de Assistncia Sade da Universidade, Banco do Brasil, UNESCO, Fundep, Ministrio da Sade, Ministrio da Educao, Telemig Faculdade Senac, Unisol, Coopmed

SumrioApresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 Prefcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 Avaliao Institucional da Extenso Universitria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Avaliao do processo didtico-pedaggico do Internato Rural IR: construo de um modelo para avaliao de experincias de integrao universidade-servio de sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Contribuio para a avaliao institucional da extenso universitria: tcnica quali-quantitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 A avaliao da extenso universitria na UERJ: resultados e desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37 A construo de categorias e indicadores para avaliao institucional de cursos, projetos e atividades de extenso universitria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44 Avaliao institucional da extenso na PUC Minas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Avaliando o Programa de Bolsas de Extenso PBEXT/UFMG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62

Comunicao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71 Dicas de sade pelo rdio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71 Comunicao e mobilizao para a cultura do Vale do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80 Registro Urbano Audiovisual RUA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87 Comunicao cidad: projeto de assessoria a entidades populares e instituies voltadas para projetos de mdias comunitrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95 Crtica de mdia e formao da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105 Grupo de mdia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .112

Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .121 Educao patrimonial: revisitando Ouro Preto por meio da cantaria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .121 Tertlia literria dialgica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .129 A exposio o caminho: desafios e discusses na implantao da ao educativa em espaos de cincia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139 Gerais de Minas: a expresso popular nas manifestaes culturais do povo mineiro . . . . . . . . . . .146 Percepo e cultura na periferia de Salvador: o bairro em imagens, uma experincia de ensino, extenso e pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .154 Teatro e rdio comunitria como instrumentos de mobilizao social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .162

Desenvolvimento Regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171 O espao e sua memria: desafios para a ao acadmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171 A formao de rede como estratgia de desenvolvimento comunitrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .179 Extenso Universitria na Amaznia: aes socioeducativas de arte e cultura nas comunidades ribeirinhas dos Municpios de Coari e Carauari AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .186

Programa de alfabetizao e formao profissional no Vale do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . . . . . . .193 Programa Trilhas Potiguares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .201 Projeto UniCampo uma experincia de extenso no Cariri paraibano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .209

Direitos Humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Acessibilidade e cidadania: barreiras arquitetnicas e excluso social dos portadores de deficincias fsicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .219 Projeto Cortio Vivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .227 Rede de proteo s pessoas em situao de violncia intrafamiliar: a experincia de Blumenau/SC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .235 Aes educativas e a construo da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .242 Programa Rede Universitrios de Espaos Populares Ruep Niteri e So Gonalo . . . . . . . . . . .251 Rede e Incluso Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .260

Educao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .271 Educao e cultura no Riacho Fundo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .271 Comunidades de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .280 Reminiscncias: trs encontros com a intergeracionalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .289 Incluso socioeducacional no ensino de cincias integra alunos e coloca a clula ao alcance da mo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .297 Internato rural da Faculdade de Medicina da UFMG 25 anos de integrao docente-assistencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .305 Elaborando uma proposta curricular para o ensino de Libras e Lngua Portuguesa no ensino de surdos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .314

Gesto da Extenso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .323 Extenso universitria: uma possibilidade de formao mais emancipadora na rea da sade . . . .323 As prticas curriculares da extenso universitria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .332 Cooperao internacional: a interface com a extenso universitria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .340 Do desejo do (re)conhecimento de diferenas gesto de resultados: anlise de uma proposta de poltica substantiva de extenso universitria . . . . . . . . . . . . . . . . . . .347 Extenso universitria e suas mediaes poltico-pedaggicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .356 A experincia de autofinanciamento da extenso na Universidade Federal de Santa Catarina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .363

Meio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .371 Educao ambiental como instrumento de insero social e gerao de renda no Municpio de Esperana PB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .371 Tecendo o tup: a extenso universitria na construo da gesto ambiental de uma reserva de desenvolvimento sustentvel amaznica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .380 Projeto Ju, voc e o porco: rdio e teatro para uma agropecuria sustentvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . .389 Educao ambiental e reciclagem de lixo um exerccio de cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .399 Projeto Manuelzo de Bem com a Vida promoo de sade e meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .406 Programa Estao Ecolgica/UFMG a extenso, o ensino e a pesquisa integrados para a conservao de uma rea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .415

Sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .423 Mos Amigas: ensino, pesquisa, extenso e interveno em cncer de mama resultados e avaliao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .423 Mudanas na ateno sade mental no Amazonas: projeto para subsidiar a implantao dos servios residenciais teraputicos . . . . . . . . . . . . . . . . . .432 Internato Rural de Farmcia da Faculdade de Farmcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .440 Programa de extenso interdisciplinar da Universidade Federal de So Paulo no municpio de Canania So Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .448 Grupo CicloBrasil, parceria Udesc/UFSC, Santa Catarina, ncleo de extenso e pesquisa sobre o uso da bicicleta como meio de transporte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .456 Afetividade e sexualidade na adolescncia a experincia da construo de uma oficina . . . . . . .465

Tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .473 A ao de extenso universitria interdisciplinar e articulada com a comunidade rural: a nova experincia do Projeto Solo Planta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .473 Da fabricao de tijolos ecolgicos construo da cidadania coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .481 Extenso universitria na Amaznia para acesso a servios sociais: na comunidade ribeirinha de N. Sra. das Graas, em Manacapuru/AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .491 Difuso do uso de plantas medicinais anti-helmnticas na produo de caprinos do sistema de produo da regio de Patos/PB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .498 Papel das pr-incubadoras de empresas no desenvolvimento do empreendedorismo: o caso do Gene-Blumenau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .507 Aplicao de msculos artificiais pneumticos em uma rtese para quadril . . . . . . . . . . . . . . . . . .515

Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .523 Das hortas domsticas para a horta comunitria: um estudo de caso no bairro Jardim Oriente em Piracicaba, SP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .523 Organizao comunitria como pressuposto para gerao de renda no assentamento rural Cocal Dgua Quente Planaltina/GO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .532 Processo socioeducativo de organizao comunitria para cidadania nas comunidades ribeirinhas do Municpio de Maus Estado do Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . .541 O programa de implantao de micros e pequenas agroindstrias no semi-rido paraibano: um instrumento de incluso social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .549 Programa de incubadora tecnolgica de economia solidria (empreendimentos solidrios ES) UFMG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .559 Trabalho, solidariedade e autonomia: a Associao de Catadores de Material Reciclvel de So Joo del-Rei Ascas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .567

ApresentaoA Universidade Federal de Minas Gerais coordena, com a participao de outras universidades pblicas, comunitrias e privadas, a realizao do 2 Congresso Brasileiro de Extenso Universitria, em Belo Horizonte, de 12 a 15 de setembro de 2004, aberto a docentes, discentes e tcnico e administrativos das Instituies de Ensino Superior brasileiras e comunidade em geral. O evento, organizado pela Pr-Reitoria de Extenso da UFMG, iniciativa do Frum de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas Brasileiras, com o apoio do Frum Nacional de Extenso das Universidades e Instituies de Ensino Superior Comunitrias e do Frum de Extenso das IES Brasileiras, que congrega instituies particulares. O Congresso objetiva reforar a interao social das instituies de ensino superior no Brasil, tendo como linha norteadora a metodologia dos trabalhos de extenso universitria, voltados para a reduo das vulnerabilidades e a promoo da incluso social. Pensar a universidade a partir dessa interao atende necessidade premente do debate quanto produo e difuso do conhecimento e retoma tema muito presente nas universidades, o do compromisso de buscar caminhos para a transformao social e o enfrentamento dos problemas que perpetuam as desigualdades e levam vulnerabilidade e excluso de grandes parcelas da populao brasileira. O Congresso adotou como lema (Re)conhecer diferenas, construir resultados, o que espelha a complexidade e diversidade tanto das questes a serem abordadas como das organizaes sociais includa a Universidade que se propem a um trabalho transformador, ou seja, de construir resultados. A Unesco, tantas vezes presente no debate sobre a Universidade que o nosso sculo exige, alia-se a esse empreendimento, apoiando a organizao e edio do presente livro, que incorpora, no ttulo, o tema do congresso. Entre os trabalhos aprovados, os 66 melhores, 6 por rea temtica, foram selecionados para essa publicao. Embora sem expressar o quantitativo da produo universitria na extenso, trazem a dimenso da diversidade, da qualidade e da interao social. Nesse sentido foi solicitada comunidade acadmica a apresentao de suas experincias, sob a forma de trabalhos completos, em reas temticas de 790 trabalhos recebidos, 741 que atenderam estritamente s normas publicadas foram submetidos a pareceristas ad hoc, que aprovaram 653. De acordo com as reas temticas, os artigos ficaram assim distribudos: Avaliao Institucional da Extenso Universitria 12; Comunicao 15; Cultura 28; Desenvolvimento Regional 30; Direitos Humanos 68;

13

Educao 183; Gesto da Extenso 15; Meio Ambiente 57; Sade 203; Tecnologia 14; e Trabalho 32. Embora tenha sido adotado o recurso de organizao dos trabalhos nessas 11 reas, a leitura dos 66 integrantes desse livro leva constatao da intensa abordagem interdisciplinar. Assim, rea temtica deve ser entendida como o tema desencadeador ou articulador da ao, com mltiplas interfaces. Essa questo era esperada, e desejada, porque interdisciplinaridade uma das diretrizes colocadas, hoje, para a ao da extenso universitria. Outras diretrizes o impacto social e a contribuio transformao social, a relao dialgica com outros setores da sociedade e a indissociabilidade ensino, pesquisa e extenso devem ser identificadas nos artigos. Duas das reas abordam a questo da Gesto da Extenso Universitria e a Avaliao Institucional. Esses temas remetem necessria sistematizao e institucionalizao da extenso e obrigatria avaliao de todas as etapas das aes extensionistas. Os trabalhos nessas reas relatam a experincia de algumas universidades na organizao geral da extenso e de alguns programas especficos. Interfaces importantes so abordadas em alguns artigos: a articulao com o ensino, as mediaes poltico-pedaggicas e a interface com a cooperao internacional. Na rea da Sade que somada rea de Educao recebeu cerca de 59% dos trabalhos as contribuies versam essencialmente sobre a integrao de projetos de extenso com a ateno sade, articulada ao Sistema nico de Sade, com experincias de regies diferentes do pas. Na Educao, alm da interface do trabalho da universidade com o sistema de Ensino especialmente o pblico e organizaes sociais, os processos de alfabetizao e educao continuada so relatados em vrios artigos. As contribuies na rea de Meio Ambiente focalizam a questo da educao ambiental: um dos artigos se refere a um programa de base regional, atingindo 55 municpios e a bacia do mais importante afluente do Rio So Francisco o Rio das Velhas. So relatadas as experincias de gesto ambiental feita por universidades em duas reservas ecolgicas, uma no Sudeste, outra na Regio Amaznica. Insero social, gerao de renda e exerccio de cidadania so questes tambm abordadas nos trabalhos da rea de Meio Ambiente. Tecnologia em Sade, transferncia tecnolgica rural, tijolos ecolgicos, incubadores de empresas, empreendedorismo e acesso a servios sociais so temas abordados na rea de Tecnologia. A rea de Trabalho uma das que vm, progressivamente, ampliando o nmero de projetos de extenso nas universidades brasileiras. Nesse livro, os artigos representativos se relacionam, principalmente, a questes de organizao comunitria para gerao de renda e de incubadoras tecnolgicas de economia solidria, na vertente da autonomia. Os artigos em Comunicao tm uma tnica: a assessoria a entidades populares, nos chamados projetos de mdia comunitria. As experincias relatadas vo do Vale do Jequitinhonha ao Norte e Sul do pas.14

(Re)conhecer diferenas, construir resultados

Em Direitos Humanos, trs dos trabalhos se referem a redes sociais. Todos perpassam a ao educativa, a construo da cidadania e da incluso social. Aspectos focais so abordados em relao a pessoas portadoras de deficincias fsicas e em situao de violncia familiar. Na rea de Cultura, teatro, literatura e rdio so abordados como instrumentos de mobilizao; a expresso popular nas manifestaes culturais captada e relatada em dois trabalhos. Educao patrimonial e correlao cultura e cincia so abordadas em dois outros. O tema Desenvolvimento Regional, embora destacado como uma das reas para a inscrio dos trabalhos, pode ser identificado em, praticamente, quase todos os artigos aqui publicados. Nessa seo especfica, o Cariri, a Amaznia, o Jequitinhonha esto representados, bem como questes integrantes, como a alfabetizao e a construo de redes sociais. O conjunto de todos os trabalhos os aqui publicados e os restantes que comporo os Anais, com trabalhos completos em verso eletrnica , bem como uma viso geral da produo da extenso e localizao de referncias institucionais, pode ser pesquisado no endereo eletrnico . Um desafio lanado aos pesquisadores da extenso. A extenso universitria brasileira, ao apresentar, publicamente, suas experincias, cumpre uma etapa de democratizao do conhecimento conceitual e processual que tem desenvolvido e de ampliao da misso da Universidade de interao social, com qualidade e pertinncia. A partir dos trabalhos apresentados ao Congresso, da correlao com os setores de origem universidades pblicas, particulares e comunitrias , com as regies, com a participao por reas temticas, e outras variveis, um estudo dever ser feito para orientao prospectiva da poltica acadmica e social de extenso. Os Fruns de Extenso e a comunidade universitria agradecem Unesco o apoio, no s a essa publicao, mas sua presena em importantes momentos de reflexo, como em sua participao durante o 2 Congresso Brasileiro de Extenso Universitria, contribuindo para o tema o que a sociedade e o novo sculo esperam da universidade brasileira.

Edison Jos CorraPr-Reitor de Extenso da Universidade Federal de Minas Gerais Presidente do 2 Congresso Brasileiro de Extenso Universitria Belo Horizonte Campus da Universidade Federal de Minas Gerais Setembro de 2004.

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PrefcioA realizao do 2.o Congresso Brasileiro de Extenso coincide com um momento em que o Ministrio da Educao est preparando, aps muitos debates pblicos, a sua proposta de reforma universitria para apresentar ao Congresso Nacional. Assim, se tornam oportunas algumas reflexes em torno do tema com vistas ao objetivo de oferecer subsdios para que a universidade de modo geral e, em especial, a universidade brasileira, possa reexaminar-se para se consolidar como instncia capaz de operar a sntese entre o seu objeto central de produo de saberes e conhecimento e as necessidades sociais. Como disse certa vez Celso Furtado, criticando a quase inexistncia da atividade criadora nas escolas de ensino superior da regio Nordeste, o futuro da regio refletir em boa medida a forma como se comportem suas universidades(1). Em outras palavras, esse pensador estava procurando ressaltar a importncia da educao e a responsabilidade social da universidade. Sem dvida, nenhuma regio, nenhum pas, consegue avanar sem o substrato do conhecimento. No aquele conhecimento que produzido e depositado nas bibliotecas e centros de documentao. Mas o conhecimento contextualizado, que circula e interage com a sociedade, de forma a penetrar e se tornar relevante em todas as camadas sociais. Nisso reside a importncia da extenso universitria, sobretudo devido ao fato de a globalizao ter colocado o conhecimento no ponto mais alto da hierarquia dos fatores que condicionam o progresso. Por isso mesmo, a Declarao Mundial para a Educao Superior no sculo XXI, da UNESCO, aprovada em Paris, em outubro de 1998, deu destaque ao papel da extenso. Esse documento, que passou a ser uma referncia mundial, sublinha que se deve tomar todas as medidas necessrias para reforar o servio de extenso, especialmente nas atividades que objetivam a eliminao da pobreza, do analfabetismo, fome e enfermidades. Observe-se, nessa passagem do plano de ao da Declarao Mundial, a preocupao da UNESCO com os excludos. Sobre essa questo, no h mais necessidade DE citar dados, pois a imprensa cuida disso quase que diariamente. O que importa chamar a ateno nesta oportunidade, que a reforma universitria que est em discusso no pas no pode deixar de considerar o problema da excluso. E no basta somente dizer que ele importante. Torna-se necessrio uma nova postura da comunidade acadmica, uma verdadeira mudana de mentalidade eu diria, sem o que, ser difcil manter e ampliar a credibilidade que ela conquistou ao longo da histria. Para operar essa mudana, certamente que os servios de extenso, pela experincia e conhecimento que possuem sobre a conjuntura e as circunstncias da comunidade, tero um papel renovado a cumprir, qual seja, o

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de alimentar o processo de reexame da universidade, condio indispensvel para ampliar a sua relevncia. E quando falo em relevncia, refiro-me tanto dimenso cientfica quanto social, pois ambas devem convergir para a misso maior e compartilhada que a de ajudar o pas a combater as desigualdades e a pobreza. No caso desta, h de se ter em mente que no se trata somente da pobreza econmica, quanto das demais que decorrem de se manter margem dos avanos da educao e da cincia milhes de pessoas, impedindo que elas conheam os seus direitos e se apropriem das condies mnimas para lutar pela sua cidadania. Por ltimo, quero enfatizar que, percorrendo, ainda que de forma lacnica, os diversos trabalhos que sero discutidos nesse Congresso, pude ver, com real otimismo, relatos de experincias e textos tericos que apontam em direo a uma nova universidade. Estou seguro de que a generalizao dessa tendncia poder retirar a universidade brasileira da encruzilhada, colocando-a em rotas que assegurem o pleno exerccio de sua funo tica, criadora e socialmente relevante. Jorge WertheinRepresentante da UNESCO no Brasil

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Avaliao Institucional da Extenso Universitria

Avaliao do processo didtico-pedaggico do Internato Rural IR: construo de um modelo para avaliao de experincias de integrao universidade-servio de sadeGeraldo da Cunha Cury, Professor Adjunto Doutor Elza Machado de Melo, Professora Adjunta Doutora Marcos Vinicius Polignano, Professor Adjunto Doutor Antnio Alves Leite, Professor Adjunto Doutor

Universidade Federal de Minas Gerais UFMG

Resumo

Atividade de integrao docente-assistencial denominada Internato Rural desenvolvida pelo DMPS/FM da UFMG (Faculdade de Medicina da UFMG) h vinte e seis anos, buscando construir um novo Sistema de Sade que trate da promoo da sade e da qualidade de vida. Constitui-se numa experincia mpar em Educao Mdica. Importante parte dessa histria ficou e ainda permanece sem registro aquela em que ocorreu um efetivo envolvimento com o movimento dos trabalhadores rurais e das comunidades de base. O resgate destas memrias foge ao escopo deste trabalho, mas no pode deixar de ser mencionado, pois produziu a insero social necessria para guiar e dar durabilidade ao trabalho ora apresentado. O posicionamento frente luta dos trabalhadores faz parte do leque de relaes estabelecidas pelo Internato Rural, as quais so elementos essenciais na formao dos nossos alunos inseridos na construo do SUS, objeto principal desta atividade. Para avaliao de um programa de tamanho porte, foi elaborado o trabalho denominado Avaliao do Processo Didtico19

Pedaggico do Internato Rural a Construo de um Modelo. Foi feita avaliao do programa no aspecto quantitativo, realizando-se tambm a abordagem qualitativa. Os resultados foram analisados apontando uma avaliao positiva das vrias etapas que constituem o Internato Rural.Palavras-chave: integrao docente-assistencial Introduo e objetivos Como decorrncia do novo currculo mdico implantado em meados da dcada de 70 na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM/UFMG), os Servios de Sade, particularmente os pblicos, passaram a ser reconhecidos como parceiros da Universidade no direcionamento da Educao Mdica. O pice deste processo representado pela implantao do Internato Rural em 1978, uma das mais antigas experincias de integrao docente-assistencial existente no pas onde Sistema de Sade torna-se um local privilegiado de trabalho. importante recordar que a implantao do Internato Rural na regio do Centro Regional de Sade de Montes Claros foi possvel porque, em 1974, um convnio celebrado entre o Governo Brasileiro e a United States Agency for International Development (USAID) liberou recursos num montante de quatro milhes de dlares, com os quais foi construda uma rede de Postos (180) e Centros de Sade (55), sendo treinadas cerca de 580 pessoas para trabalhar nestes locais, os Agentes de Sade. Esta regio contava com 1.078.000 habitantes, dispersos por 128.816 km2 (CAMPOS, 1980). O Internato Rural, uma disciplina obrigatria, hoje denominada Internato em Sade Coletiva, desenvolvida em rodzios trimestrais sucessivos, atendendo, por trimestre, a 80 alunos do 11 perodo do curso de Graduao em Medicina da UFMG, com uma carga horria de 330 horas. Estes alunos organizam-se em duplas que so designadas para as cidades do interior do Estado, onde iro morar e trabalhar no perodo determinado. Para a implantao e pleno funcionamento do estgio curricular, a princpio, firmavam-se convnios tripartites envolvendo a Secretaria de Estado da Sade SES, a UFMG e as Prefeituras Municipais. Com o advento do Sistema nico de Sade SUS e o processo de municipalizao em curso, os convnios passaram a ser bipartites, sendo mantido o convnio UFMG/SES e realizados convnios entre a UFMG e as Prefeituras. Trimestralmente, todos os alunos e supervisores do Internato Rural participam da Reunio Geral para avaliao da Disciplina, sendo regularmente convidados o diretor e o vicediretor da Faculdade de Medicina, o Coordenador do Colegiado de curso Mdico e os chefes de departamentos da Faculdade de Medicina. Em vrias oportunidades compareceram tambm representantes dos Servios Municipais e Estaduais de Sade, das comunidades envolvidas nos trabalhos, bem como diretores e docentes de outras unidades da UFMG. Alm dessas reunies gerais, todas as duplas apresentam um relatrio ao final da disciplina no qual avaliam seu estgio, as condies de trabalho, as atividades desenvolvidas e a superviso recebida em termos de periodicidade, qualidade e eficincia.20

(Re)conhecer diferenas, construir resultados

O Colegiado do curso Mdico da UFMG reafirma a ementa curricular da disciplina: Colocar o aluno em contato com a realidade de sade local para a compreenso e transformao da mesma, atravs de atendimento ambulatorial, do reconhecimento dos determinantes do processo sade-doena e da organizao dos servios de sade (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, Colegiado de curso de Medicina, 1993). O Internato Rural tem sido objeto de dissertaes de mestrado ou tese de doutoramento de docentes da disciplina (ALVES, 1996; BARBOSA, 1995) e apresentou demandas que influenciaram a realizao de dissertaes de mestrado e teses de doutoramento de outros docentes da Disciplina (CURY, 1985; CURY, 1992; PINHEIRO, 1985; MELO, 1999). Apesar das inmeras dificuldades vividas, ele representa o maior, mais permanente e slido programa Docente-Assistencial da Universidade Brasileira. importante lembrar que o Projeto Manuelzo, reconhecido em nvel da UFMG e de outras instituies como importante atividade de extenso da Universidade relacionada questo meio ambiente e sade, teve sua origem e tem importante insero no Internato Rural, seja atravs dos docentes ou dos estagirios do IR que nele atuam. Espao concreto onde todas as questes referentes sade se apresentam e se fazem sentir; universo que se efetiva num territrio delimitado e acessvel, perpassado por todas as relaes e contedos que so prprios da vida humana em sociedade. Constitui tambm um espao trabalhado a partir das relaes entre a Universidade, servios de sade, administraes municipais e populao, englobando processo de ensino, produo de saber e aplicao do mesmo na soluo de problemas, enfim, processos de aprendizado no seu mais pleno sentido, no poderia ser conhecido, total, ou parcialmente, se qualquer um destes aspectos for ignorado. Durante o Internato Rural, os acadmicos desenvolvem diversas aes: atendimento ambulatorial; atividades referentes ao meio ambiente e organizao do Sistema de Sade e outras relacionadas sade pblica tais como palestras e formao de grupos de hipertensos, de diabticos, de gestantes e outros, e trabalhos em creches. Apesar desta diversidade de atividades dos acadmicos do Internato Rural, o atendimento ambulatorial a que mais prevalece em quase todos os municpios, em detrimento das aes preventivas. Esta constatao e outros importantes relatos sobre este programa de integrao docenteassistencial levaram os profissionais envolvidos neste programa docente-assistencial, nacional e internacionalmente reconhecido, a realizar a presente avaliao. Esta se deu em duas etapas definidas: avaliao quantitativa e qualitativa, com a participao todos os atores envolvidos direta ou indiretamente no desenvolvimento da atividade. Durante os dois perodos pretendeu-se construir instrumentos que permitam a avaliao quanto : metodologia utilizada para o desenvolvimento do Programa; viso dos vrios atores do processo (alunos, docentes, secretrios de sade municipais e conselheiros);21

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A autora faz distino entre categorias analticas e categorias empricas. Salienta que as categorias analticas podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Elas mesmas comportam vrios graus de abstrao, generalizao e aproximao. As categorias empricas so aquelas construdas com finalidade operacional, visando ao trabalho de campo (...) ou a partir do trabalho de campo. Elas tm a propriedade de conseguir apreender as determinaes e as especificidades que se expressam na realidade emprica. A partir das respostas apresentadas pelos alunos, procurou-se avaliar o processo didtico pedaggico do Internato Rural, considerando diferentes aspectos relacionados Disciplina. Um total de 146 alunos (dentre 156) responderam ao questionrio elaborado pela equipe do Internato Rural, sendo que 75 deles realizaram a disciplina no terceiro trimestre de 1998 e 71 no quarto trimestre de 1998. Para anlise, o questionrio dos alunos foi reorganizado formando seis blocos contendo as questes relacionadas disciplina; formao mdica; ao docente do IR; ao modelo de assistncia sade em nvel local; relao do IR com a Prefeitura; conjuntura poltico-social. No segundo momento da pesquisa foi avaliado o teor qualitativo da Disciplina numa abordagem mais direcionada e aprofundada do impacto do Internato Rural sobre a formao dos alunos: a contribuio que traz para a aquisio de seus saberes e habilidades para o desenvolvimento de sua autonomia como profissionais prestes a se formar e, sobretudo, para a incorporao de uma nova concepo de sade e de tomada de atitudes ticas e responsveis, compatveis com uma atuao respeitosa, criativa e inovadora. A metodologia utilizada foi o instrumento Grupo Focal, uma tcnica de coleta e anlise de dados em pesquisas qualitativas, mercadolgicas e de opinio que envolve pessoas que ocupam os mesmo lugares sociais e vivendo experincias que se assemelham. Neste contexto, os participantes, ao serem levados a discutir sobre temas apresentados, explicitam seus consensos atingindo, desta forma, o objetivo que levou o pesquisador a utilizar esta estratgia. As idias e valores extrados dos Grupos Focais no so produtos de uma reflexo consciente, mas de uma situao focalizada, onde, a partir de um roteiro previamente estabelecido, uma pessoa do grupo capaz de ouvir de outra, o que ela prpria sente, pensa ou diria, s que com outras palavras. A partir deste conhecimento terico, foram realizados seis grupos focais, envolvendo os estagirios que estavam em pleno desenvolvimento do Internato Rural, sendo dois na Capital e os outros quatro em municpios do interior do Estado, envolvendo todos os estagirios que estavam cumprindo o Internato Rural. Aps anlises de todos estes grupos focais foram tirados consensos sobre a Disciplina e suas implicaes: a fase que antecede o Internato Rural; a falta de continuidade das atividades; o papel do supervisor; o currculo de graduao; o envolvimento entre Internato Rural e poltica local; a relao estagirios com a populao usuria e agentes de sade; a concepo do estagirio sobre o Internato Rural e a inferncia da atividade na vida pessoal e profissional do aluno; as crticas e as sugestes apontadas ao Internato Rural.

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ConclusoCom base no marco terico estabeleceram-se as bases para a discusso inicial do tipo de avaliao a ser feita. A questo da anlise qualitativo x quantitativo, muito bem tratada por Minayo (1993), subsidiou o projeto no sentido de se determinar as caractersticas da avaliao a ser desenvolvida em duas etapas. Na primeira, a base foi o trabalho com relatrios detalhados relativos ao Internato Rural, preenchidos por todos os estagirios e questionrios semi-estruturados aplicados aos vrios atores do processo. A segunda etapa tem sido desenvolvida com a anlise qualitativa propriamente dita, onde entre outras tcnicas utilizadas, esto as de anlise do discurso. A elaborao dos questionrios aplicados aos vrios atores do processo e a remodelao e informatizao do Relatrio Final de Estgio do Internato Rural representaram os primeiros produtos da pesquisa, sendo a anlise destes instrumentos a fonte bsica dos dados produzidos. O relato fornecido, anonimamente, pelos alunos, demonstrou que o IR oferece uma oportunidade mpar de crescimento pessoal e profissional; de estabelecimento de parcerias com instituies e grupos organizados do municpio; de reunies com lideranas; de realizao de visitas domiciliares; de implantao de campanhas enfocando a nosologia prevalente; de apresentao de palestras sobre temas diversos (meio ambiente, sade, DST e Aids, sexualidade, mulher, adolescente, criana, higiene, etc.); de avaliao do Sistema de Sade local e proposio das mudanas cabveis. Os relatos dos outros atores do processo (Docentes do IR, Secretrios e Conselheiros Municipais de Sade), corroboram as impresses levantadas pelos discentes e fornecem as opinies que nos levam concluso de que o Internato Rural um local de praxis em que todos os envolvidos podem ser reconhecidos como sujeitos, capazes de agir e falar, donos de um saber e importantes nos processos de tomada de deciso a partir das relaes estabelecidas na Disciplina, o que est de acordo com as conceituaes tericas de vrios autores contemporneos, entre as quais as apresentadas por Habermas, 1996. A metodologia adotada permitiu, alm das consideraes sobre a Disciplina em questo, apontar caminhos a serem perseguidos e percorridos na construo de um novo modelo de desenvolvimento desta atividade didtico-assistencial. O mtodo qualitativo confirmou a abordagem quantitativa que apontou a tima imagem do Internato Rural junto aos alunos. Poder-se-ia dizer que o seu grau de aprovao surpreendente O Internato Rural fantstico. O IR est consolidado como programa, o seu mtodo pedaggico um sucesso e propicia uma experincia pessoal e profissional extraordinria para os alunos. Uma concluso desta natureza obrigaria os pesquisadores a reconhecer que o resultado da pesquisa contraditrio com as suas premissas tericas, principalmente aquelas referentes a um certo fracasso da chamada Medicina Comunitria e ao que se chama de crise do Modelo de Ateno Sade. Entretanto opta-se por um outro ngulo mais crtico de abordagem desta concluso. Santos (1997) em Pela mo de Alice afirma que Marx nos ensinou a ler o real existente24

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segundo uma hermenutica da suspeio.... Se a hermenutica o estudo da relao entre o sentido da obra e o seu contexto, a concluso principal partir da grande contradio que a pesquisa demonstrou, ou seja, o Internato de Sade Coletiva tem predominncia da clnica e da sade individual. A sade coletiva marginal, eventual na prtica dos alunos. At a abordagem da Medicina Preventiva feita nos Grupos de Discusso predominantemente conceitual, contraditando com a pedagogia do aprender fazendo preconizada pela Disciplina. A sade pblica encontra-se, ainda, diante do dilema preventivista, expresso cunhada por Sergio Arouca h mais de vinte anos. Esta abordagem no implica em desconhecer a grande obra pedaggica que o Internato Rural, ainda hoje referncia nacional e internacional para o ensino mdico. No se pretende desconsiderar a importncia da clnica, pelo contrrio, partindo dela, principalmente do seu contedo de tecnologia leve, superar o dilema preventivista. O caminho escolhido apenas obriga os pesquisadores a penetrar no contexto da realizao da Disciplina na atualidade, no s promovendo os ajustes citados, mas ousando transformar a sua prtica e a dos alunos, isto , localizando e superando as dificuldades estruturais e identificadas. O Internato de Sade Coletiva deveria oferecer para o aluno a possibilidade de adquirir conhecimentos e habilidades daquilo que se convencionou chamar cuidados primrios. Estes implicam em pelo menos quatro tipos de atividades quais sejam, atividades curativas, preventivas, gerenciamento e planejamento e promoo de sade. A pesquisa constatou, inequivocamente, a predominncia das atividades curativas, ou seja a abordagem individual do paciente dentro do consultrio. Entretanto, mesmo em relao clnica, a vivncia dos alunos muito mais rica que a realizada no Hospital das Clnicas em estgios extra-curriculares ou mesmo nos ambulatrios perifricos. O Internato possibilita a realizao da clnica por inteiro, recuperando as dimenses do acolhimento, da fala, da escuta, da responsabilizao, do vnculo com o paciente e tambm da autonomizao. At ento os acadmicos conheciam a medicina de procedimentos, tecnologia-dura dependente, realizada em plantes hospitalares e mesmo em ambulatrios da regio metropolitana de Belo Horizonte, prtica que viabiliza o contato com o paciente no mximo uma vez, rompendo a possibilidade da responsabilizao e do vnculo com os pacientes. A Disciplina permite o que se est chamando de clnica por inteiro porque as cidades sob responsabilidade dos alunos so, em geral, pequenas ou mdias, o que permite a criao do vnculo com o paciente e o seu acompanhamento cotidiano. H de se ressaltar o fato, comprovado pela Pesquisa, que o currculo de graduao de medicina prepara bem os alunos para a prtica clnica. Eles rapidamente adquirem segurana dentro do consultrio e realizam com competncia a abordagem individual do paciente. Alm disto a possibilidade de realizao da clnica por inteiro enfrentando problemas reais e estabelecendo vnculo com os pacientes ao mesmo tempo gratificante e rica para seu aprendizado. Mesmo a tendncia especializao precoce no os faz rejeitar a ao curativa do cuidado primrio, pelo contrrio, os atrai para a medicina geral pelo menos durante o estgio. Finalmente a ao curativa permite-lhes perceber a autonomizao dos pacientes, ou seja, na medida em que seus clientes ganham autonomia no seu modo de andar a vida, o resultado e a eficcia da clnica passam a ser vivenciados no cotidiano do Internato Rural.25

A surpresa que eu tive em Internato assim grau de resoluo em nvel ambulatorial. muito grande, eu ponho a em torno 80 a 90% atendimentos que ns conseguimos resolver a nvel ambulatorial. Com uma simples consulta nem retorno. As atividades preventivas realizadas pelos alunos giram em torno de trs aes mais freqentes, educao para a sade, grupos operativos e campanhas de vacinao. As razes do predomnio da atividade curativa no Internato podem ser encontradas no currculo, muito centrado na clnica, ou nas prprias disciplinas do Departamento de Medicina Preventiva, que tm um enfoque essencialmente conceitual e no se preocupam em desenvolver, ao longo do curso, habilidades ligadas s atividades preventivas de gerenciamento/ planejamento e promoo de sade. A realidade dos servios onde a Disciplina atua tambm pode fornecer pistas que justifiquem a hegemonia da clnica. A municipalizao do SUS recente e as prefeituras ainda no absorveram as novas tcnicas de gesto e realizao dos chamados cuidados primrios. Assim, realizar consultas e vacinar as crianas o mximo de universalizao alcanada pelo SUS. Eis o dilema preventivista de nossos dias. No se formam profissionais aptos plena realizao dos cuidados primrios e, ao mesmo tempo, no se encontram servios que permitam ao aluno aprender fazendo atividades preventivas, de gerenciamento/planejamento e promoo de sade. Em um ponto permanece-se como h vinte anos, na implantao do Internato Rural: o movimento ainda essencialmente contra-hegemnico. Portanto, preciso mudar o Modelo de Ateno a Sade. Um redirecionamento baseado nesta avaliao passa pelo enfrentamento das tenses sofridas pela Disciplina resumidas numa s: a Tenso do Modelo j referida no quadro terico desta pesquisa. A transformao da Disciplina vai exigir mais trabalho de investigao, apesar de j contar-se com informaes que permitem sinalizar para algumas mudanas. Um caminho seria dedicar ateno especial ao Programa de Sade da Famlia PSF, uma estratgia governamental de mudana do Modelo de Ateno. Para ele foi criado um Sistema de Informaes o Siab que facilita a utilizao das ferramentas da epidemiologia em cuidados primrios. O PSF valoriza a tecnologia leve, reativando prticas antigas da clnica, como as visitas domiciliares, agora partilhadas com toda a equipe de sade e estimula aes coletivas como os Grupos Operativos e mesmo intervenes multissetoriais no meio ambiente, atividades de promoo da sade. Alm disto, o PSF est interferindo no mercado de trabalho e despertando interesse entre os estudantes. Sabemos que na prtica o PSF enfrenta dificuldades. O modelo hegemnico mdico centrado define a conduta dos alunos, das equipes dos centros de sade e at mesmo a postura da populao. Finalmente a experincia do Manuelzo tem sido muito rica na medida em que sua metodologia possibilita uma atuao real no meio ambiente, alm de introduzir o saneamento bsico na formao do aluno de medicina. Portanto conclui-se que ajustes podem e devem ser feitos imediatamente na Disciplina, mas a sua transformao vai depender da continuidade de pesquisas que buscam criar e facilitar a introduo das novas tecnologias do cuidado primrio nos locais onde o Internato Rural26

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atua e no prprio SUS. A integrao maior com o PSF e uma melhor sistematizao da experincia recm-adquirida pelo grupo do Internato Rural so os caminhos antevistos pelo presente trabalho como potencializador da experincia em curso.

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Contribuio para a avaliao institucional da extenso universitria: tcnica quali-quantitativaAna Lcia Caetano dos Santos, Graduanda em Estatstica Regina Serro Lanzillotti, Professora Adjunta do curso de Estatstica

Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ

Resumo Esta proposta diz respeito a uma forma alternativa de avaliao de projetos vinculados s reas temticas da Extenso Universitria da UERJ. Este estudo, de carter quali-quantitativo, visa analisar os projetos de uma forma holstica, identificando as reas temticas que detm a maior probabilidade de ocorrncia ou no de projetos que alcanaram os objetivos propostos. Nesta avaliao sero utilizadas as tcnicas estatsticas: Anlise Exploratria de Dados, Anlise de Agrupamento, Tabela de Contingncia e Modelo Loglinear. A Anlise Exploratria de Dados serve para avaliar os atributos inerentes aos produtos e servios que resultam na resposta s metas propostas. A Anlise de Agrupamento permite grupar os projetos segundo as reas temticas e seus respectivos retornos comunidade, consubstanciados nos objetivos, classificandoos qualitativamente de acordo com o desempenho aferido pelos instrumentos construtos da avaliao. Esta classificao dos projetos base para o desenvolvimento de etapas subseqentes, visando identificar as reas temticas com maior ndice de projetos que atenderam as propostas formuladas no cadastramento, utilizando-se a Tabela de Contingncia e o modelo Loglinear, que estabelece a distribuio esperada de ocorrncia para associao dos atributos. A qualificao dos projetos em funo do desempenho alcanado ser uma informao de entrada para a distribuio de bolsas para universitrios.Palavras-chave: anlise exploratria de dados, anlise de grupamento e modelo Loglinear

Introduo e objetivosA Extenso Universitria prescinde de uma forma alternativa de avaliao dos projetos vinculados s reas temticas que agregam as linhas programticas. Este fato levou busca de uma tcnica de avaliao que prestigie simultaneamente a integrao do Ensino, da Pesquisa e da Extenso, privilegiando os produtos, a realizao de eventos, a divulgao tcnico-cientfica e a educao continuada, no negligenciando os segmentos que contemplam o papel da Universidade junto Comunidade. O Plano de Trabalho de Extenso Universitria avana na concepo de Extenso ao ampliar as formas por meio das quais ela se processaria, ou seja, cursos, servios, difuso de trabalhos e pesquisa, projetos de ao comunitria ou cultural e outras. Indica que o compromisso social da Universidade se daria em direo s populaes de modo geral e introduz dois elementos novos: a relao entre as atividades acadmicas de Ensino, Pesquisa e Extenso, sendo esta o componente pelo qual se faria o repensar das outras duas.

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E, por ltimo, registra a comunicao entre Universidade e Sociedade, no mais num sentido elitista de transmisso de conhecimento, mas no sentido de troca entre saberes acadmicos e popular, que teria como resultado a produo de um conhecimento j confrontado com a realidade (NOGUEIRA, 2003). A Extenso Universitria tal qual processos educativos, culturais e cientficos que articula o ensino e a pesquisa de forma indissocivel viabilizam, a relao transformadora entre Universidade e Sociedade (PR-REITORES DA UERJ, 2000). O carter multi, inter ou transdisciplinar e interprofissionais dificulta a anlise simplificada, pois a modelagem impe modelos multivariados. O levantamento do estado da arte mostrou que os ensaios trabalhados para a Avaliao da Extenso Universitria no conseguiram implementar a interao entre os atributos quantitativos e os qualitativos. O estudo uma proposta do projeto final do curso de Estatstica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, que busca um procedimento para avaliar projetos de forma holstica, visando implementar o acompanhamento dos mesmos para o desenvolvimento, de acordo com as reas temticas, sem que haja fuga dos objetivos tomados como meta dentro dessas reas. Esta modelagem tem como meta avaliar a probabilidade da ocorrncia ou no do alcance dos objetivos propostos, agrupar os projetos de acordo com as caractersticas dos atributos e propiciar um mtodo que auxilie na distribuio das bolsas de Extenso Universitria, privilegiando o empenho dos Coordenadores de Projetos e de Ncleos.

MetodologiaA Sub-Reitoria de Extenso e Cultura da UERJ SR3 possui um cadastro dos projetos com as respectivas caractersticas de identificao, tipo, componentes da equipe, das parcerias constitudas e dos procedimentos implementados e de auto-avaliao. Os atributos inerentes aos produtos e servios nos projetos permitem que se efetive a Anlise Exploratria dos Dados, tcnica que viabiliza reconhecer padres e tambm auxiliar na construo dos grupos para a aplicao da Anlise de Agrupamento (GENGRELLI, 1963). A Anlise de Agrupamento tem como objetivo separar dados e constituir agregados, permitindo classificar e agrupar indivduos de um conjunto em grupos homogneos segundo caractersticas de interesse. Esta tcnica tambm utilizada para verificar a existncia de homogeneidade em populaes. No presente caso, estas correspondem aos projetos que tem similaridade quanto aos fatores qualitativos e quantitativos. No caso dos quantitativos, estes sero padronizados em desvios padres para que se elimine a diferena de mensurao de cada varivel envolvida. Nos atributos categricos utilizam-se as variveis Dummy, pois transformam adjetivos em valores numricos. A caracterizao da ausncia de variabilidade nos grupos estabelecida de acordo com uma distncia calculada entre os valores atribudos a cada varivel, podendo-se optar pela Distncia Euclidiana ou Distncia de Mahalanobis. A Distncia Euclidiana uma mtrica estatstica utilizada para comparar os desvios individualizados e identificar o comportamento mais prximo entre eles, ou seja, a menor distncia, sendo que as observaes sero agregadas de acordo com estas distncias. No caso da Distncia de Mahalanobis, esta medida utiliza os desvios de cada valor observado para um nico ponto, o centride. Esta distncia ressalta a30

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variabilidade por meio da matriz de covarincia, agregando grupos de menor varincia em contraposio aos de expressiva variabilidade. A anlise destes grupos de projetos permitir proceder taxionomia, privilegiando os que alcanaram os objetivos propostos. A princpio, o estudo no estabelece o nmero de classificaes, que podem ser aumentadas de acordo com a necessidade identificada na Anlise de Agrupamento. A ttulo de mostrar a aplicao desta modelagem foi utilizado o banco de dados/2001 da avaliao dos projetos da Sub-Reitoria de Extenso da UERJ SR3/UERJ. Na etapa seguinte, utilizar-se- a Tabela de Contingncia, que relacionar os cruzamentos de reas temticas da Extenso com as classificaes dos grupos de projetos obtidas na Anlise de Agrupamento. Este tipo de tabela construda levando-se em considerao os agrupamentos estabelecidos que foram classificados pelos produtos desenvolvidos e servios prestados, estes estruturados nos objetivos propostos. Este modo de apresentao tabular serve como entrada para a aplicao da tcnica de modelagem estatstica do Modelo Loglinear (DOBSON, 1990), modelo que descreve padres de associao entre variveis categricas. Com a aproximao Loglinear, modela-se contagem de celas em uma tabela de contingncia em termos de associao entre variveis. Nesta proposta, o Modelo Loglinear ser desenvolvido para que seja determinado em quais reas temticas h maior incidncia de projetos com objetivos no atingidos. Este procedimento tem por finalidade resumir as caractersticas mais importantes de um conjunto de dados, descrevendo-as da maneira mais simples possvel, usando para isto a transformao de valores individuais em funes matemticas com um nmero restrito de parmetros. Tambm permite avaliar a distribuio esperada (probabilidade condicional) do cruzamento da gradao dos objetivos atingidos e das reas temticas e, ainda, estabelece a razo de chance da ocorrncia dos eventos do perfil linha e do perfil coluna da Tabela de Contingncia. Isto significa que tomada uma categoria como padro, deve-se verificar qual a razo de chance das demais categorias terem o mesmo perfil. Se uma rea temtica selecionada como referncia, a razo de chance indica se outras reas temticas se comportam de maneira similar. Esta tcnica de modelagem, baseada nas freqncias observadas, deve ser validada por meio de Estatstica Teste. Primeiramente, pensou-se em trs classificaes: Projetos que no atingiram os objetivos, Projetos que atingiram parcialmente os objetivos e Projetos que atingiram plenamente os objetivos. A seguir foi exemplificada uma Tabela de Contingncia, destacando-se que no corpo da tabela esto as freqncias dos projetos segundo classificaes da pertinncia da consecuo dos objetivos a serem alcanados e a rea Temtica em que so implementados. Consubstanciada na valorao dos atributos, identificar-se- se existe uma interao significativa entre fatores qualitativos e quantitativos, transformando escalas de razo e intervalares em categricas. A Anlise de Agrupamento ressalta a homogeneidade intragrupo, isto , aquele projeto que no alcanou o objetivo, no pode estar compartilhando dos grupos que atingiram ou esto atingindo suas metas. Os projetos estaro sendo avaliados sob a tica de funes condicionais de razes de vantagens, ressaltando de forma simultnea a Classificao de Projetos em relao s reas Temticas, utilizando-se a freqncia de ocorrncia dos projetos.31

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instrumentos de estmulo ao alcance das metas a serem alcanadas, porque se ocorrer a classificao Atingiu parcialmente os objetivos, denota que nem todos os atributos alcanaram nveis desejveis pela avaliao. Os coordenadores de projetos mais experientes, que fazem parte do grupo que Atingiu plenamente os objetivos, podero ser os disseminadores dos atributos que conduziro posio bem acima da linha de corte, e ainda contribuir na formao de novos gestores de Ncleos e de Projetos. A interao das reas Temticas um desafio muito grande para a Extenso Universitria; neste mister, ser privilegiado o carter multi, inter ou transdisciplinar e, interprofissional entre os participantes dos projetos de Extenso. Ressalta-se que para o bolsista o aprendizado torna-se cada vez mais interativo e facilitador da sua insero no mercado de trabalho. A implementao desta proposta o objeto do projeto final do curso de Estatstica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como pr-requisito para obteno do ttulo de bacharel em Estatstica. A colaborao que este estudo pretende no s identificar as falhas, mas apontar os atributos, que devem ser perseguidos para melhorar o desempenho dos projetos. A agregao do Ensino e Pesquisa Extenso incentiva a maturidade profissional do estagirio de Extenso, pois h uma troca de experincias interdisciplinares nas Unidades Acadmicas com surgimento de novas linhas de Pesquisa originadas de Projetos de Extenso que levaram seus resultados a encontros tcnico-cientficos com propagao por meio de artigos em revistas especializadas. A Extenso uma via de mo dupla, com trnsito assegurado comunidade acadmica, que encontrar, na sociedade, a oportunidade da elaborao da prxis de um conhecimento acadmico. No retorno Universidade, docentes e discentes traro um aprendizado que, submetido reflexo terica, ser acrescido quele conhecimento. Este fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadmico e popular, ter como conseqncia: a produo de um conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira, a democratizao do conhecimento acadmico e a participao efetiva da comunidade na universidade. Alm de instrumentalizadora deste processo dialtico de teoria/prtica, a Extenso um trabalho interdisciplinar que favorece a viso integrada do social. Avaliar a Extenso Universitria implica em processos complexos, porm essenciais como instrumento de autoconhecimento e de indicao do caminho que oriente a instituio no cumprimento de sua misso social. Atividades extensionistas, nas atuais diretrizes curriculares, caracterizam-se por atividades complementares possveis de serem agregadas ao currculo em seu conceito ampliado. Possibilita um processo contnuo de troca entre o saber erudito e o saber popular na construo de um novo paradigma. O carter quali-quantitativo da modelagem permite avaliar holisticamente as atividades extensionistas.

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A avaliao da extenso universitria na UERJ: resultados e desafiosSonia Regina Mendes dos Santos, Professora Adjunta da Faculdade de Educao Luciana M. Cerqueira Castro, Professora Adjunta do Instituto de Nutrio

Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ

Resumo Este trabalho apresenta uma sntese do percurso da metodologia de avaliao adotada pela UERJ, em especial, os seus objetivos e as principais etapas elaboradas e os primeiros resultados alcanados. A proposta de avaliao da extenso universitria na UERJ teve como pressuposto que ela no seria utilizada com o propsito de controle e fiscalizao, mas que teria como objetivo fundamental fornecer subsdios que permitissem viabilizar o processo de tomada de decises da Sub-reitoria de Extenso e Cultura, valorizando as aes bem sucedidas, e, muitas das vezes, apresentando alternativas que se revelassem necessrias, de forma a propiciar que os objetivos traados para a extenso na UERJ pudessem ser alcanados. Para isso as propostas e os instrumentos de avaliao foram elaborados a partir da discusso com os participantes da extenso. Um aspecto importante foi manter em todo o processo de elaborao da proposta de avaliao as linhas bsicas do Frum Nacional de Extenso Universitria. Ao final, identificamos alguns desafios que se apresentam para a gesto da extenso universitria tais como a necessidade de se investir em financiamento da extenso; de estimular as parcerias e de fomentar a articulao ensino-pesquisa e extenso.Palavras-chave: avaliao, extenso universitria, universidade

Sobre a construo do processo de avaliao na UERJA avaliao um processo poltico. Tanto as polticas para o ensino superior, em especial para a extenso, quanto a avaliao no se do em um vazio poltico. A avaliao, como processo de investigao, lida com ideologias, perspectivas sociais para a educao e interesses de grupos distintos, que confluem para um processo avaliativo e para a atuao de um grupo que tem o poder de planejar as polticas da avaliao e os meios como ela se desenvolver. A avaliao tambm uma tcnica, caracterizada por uma elaborao prpria, de acordo com as decises polticas. Alm disso, por meio dela as instituies podem responder como esto sendo aplicados os recursos e que resultados esto sendo alcanados. por essa via de entendimento que pudemos pensar algumas possibilidades da avaliao da extenso na UERJ tornar-se mais do que um processo de aferio de situaes, o que j vem sendo realizado, mas um processo crtico de anlise das mudanas que ocorrem no mbito da atividade extensionista na universidade, enfatizando uma perspectiva mais participativa entre os coordenadores das atividades extensionistas e o processo avaliativo. Um dos aspectos centrais no processo de construo da avaliao foi localizar de imediato as questes que pretendamos

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responder, quais sejam: em que medida programas e projetos existentes se aproximam dos objetivos da extenso na UERJ? Quais os resultados obtidos pelos programas/projetos desenvolvidos na universidade? Que conceito, concepes e prticas nas atividades deveriam ser intensificadas? Que programas/projetos seriam incentivados? Quais deveriam ser redimensionados? At que ponto as atividades extensionistas interferem no processo formativo dos alunos, na dinmica de organizao e funcionamento dos cursos de graduao e na constituio da autonomia econmica e social das populaes envolvidas? (MENDES e CASTRO, 2001, p. 12). A resposta a tais questes no foi tarefa fcil, exigia que a avaliao da extenso universitria tivesse um carter contnuo e adotasse uma forma mista de procedimentos de aferio das atividades desenvolvidas a partir das suas proposies realizadas no mbito dos departamentos das unidades acadmicas, seu planejamento, sua execuo e resultados, de forma a permitir a realizao de anlises quantitativas e, principalmente, qualitativas. As primeiras iniciativas da avaliao no pretendiam ser confundidas com procedimentos de mero controle e fiscalizao, mas almejavam ser identificadas como uma atividade que buscava fornecer subsdios que permitissem confirmar decises e aes bem sucedidas, introduzir outras que se revelassem necessrias, tendo como referncia os objetivos da extenso na universidade quais sejam: as atividades de extenso devem dar especial ateno s oportunidades que oferecem aos estudantes, professores e tcnicos para ao e reflexo em torno de questes da rea de estudo a que se dedicam; estabelecer prioridades de acesso Universidade de grupos dela excludos; realizar transferncia de tecnologia, produo e difuso do saber e contribuir na formulao e avaliao de polticas pblicas (LZARO, 2000). Um outro aspecto importante foi conceber uma proposta de avaliao na UERJ, atrelada s diretrizes gerais da poltica nacional de avaliao, definidas para a extenso atravs do Frum Nacional de Pr-Reitores de Extenso das Universidades Pblicas. De posse desses parmetros, demos incio elaborao de uma proposta de avaliao pautada em trs etapas de acordo com o fluxo de registro e acompanhamento das atividades extensionistas na UERJ. As etapas do processo que do suporte para avaliao foram assim concebidas: a) a avaliao do projeto/programa no momento de sua proposio, onde se avaliava a identidade com a natureza das aes extensionistas; a relevncia social, econmica e poltica dos problemas abordados, em especial, as necessidades a que o projeto espera responder; a relevncia acadmica, ou seja, as possibilidades proclamadas de: articulao com a pesquisa e o ensino, os segmentos sociais envolvidos, a interao com rgos pblicos e privados; a possibilidade de disseminao de conhecimentos; a disponibilidade de recursos materiais, financeiros, tcnicos e humanos, e a estrutura do projeto seus nveis de autoridade e procedimentos incluindo a promoo de mecanismos de avaliao; e por ltimo, suas possibilidades de concretizao; b) a avaliao da implementao dos projetos/programas da extenso universitria na universidade que procura detectar as dificuldades encontradas no desenvolvimento do38

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projeto, a busca de solues e gesto dos coordenadores sobre o projeto, as articulaes desenvolvidas com o ensino e a pesquisa, a interao com os rgos pblicos e privados e outros segmentos organizados sociais envolvidos. A gesto do projeto nesse processo inclui a definio de critrios de acompanhamento e avaliao adotados, seus recursos materiais e humanos e as suas condies operacionais. Privilegiou-se como fonte principal dessas informaes o resultado da avaliao realizada na Mostra de Extenso realizada anualmente na UERJ; c) a avaliao dos efeitos, onde se avalia em que medida o projeto alcana seus resultados, quais foram os seus efeitos previstos e no previstos. A avaliao dos resultados alcanados; apropriao, utilizao e reproduo do conhecimento envolvido na atividade de extenso pelos parceiros. Procura captar, em suma, o efeito da interao resultante da ao da extenso nas atividades acadmicas. A fonte principal de informao so os relatrios finais elaborados anualmente pelos coordenadores de projetos (MENDES e CASTRO, 2001). Os trs aspectos da avaliao se interligam, sendo que no h um privilegiar de um olhar sobre cada um deles sem considerar as relaes postas com os demais momentos do processo. Realizar a avaliao sobre cada um desses momentos tem representado muito esforo, desde a elaborao de documentos at a preparao de equipes atravs do convite de avaliadores ad hoc, pois cada uma das etapas pressupe uma srie de implicaes tanto de ordem conceitual como operacional, quanto a seleo das estratgias metodolgicas e dos procedimentos tcnicos que vo ser utilizados na coleta de dados e, ainda mais, pressupe sistematicamente, a reviso de procedimentos e instrumentos de coleta de dados. preciso destacar que tivemos, como prtica, o incentivo para que a avaliao inicial do projeto ocorresse dentro das prprias unidades acadmicas, nos departamentos e rgos colegiados e no Conselho Departamental de forma que a proposta seja aprovada quanto a pertinncia do seu contedo. Ao ser encaminhada ao Departamento de Projetos de Extenso Depext, este designava um avaliador, membro da Comisso de Assessoramento e Avaliao do Depext, que apreciaria o projeto sob os aspectos apontados anteriormente. A comunicao dos resultados do processo avaliativo, de modo geral, se constituiu como momento privilegiado para o debate sobre o papel das atividades de extenso realizadas na universidade.

Desafios e questes enfrentadasDefinidas as etapas do processo avaliativo, seus principais procedimentos e instrumentos, uma das questes enfrentadas foi ampliar a discusso sobre as dimenses da avaliao adotada, de forma a mobilizar a comunidade acadmica explicitando que permaneceriam as necessrias autonomia e liberdade de ao para a realizao das atividades. Nessa perspectiva, no podemos ignorar que as referncias mais significativas do processo de avaliao incidem sobre o planejamento da extenso na UERJ, sua gesto e os resultados do trabalho que se39

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As avaliaes nos mostram, portanto, um avano na formalizao da pesquisa junto aos projetos, fato que os tem tornado mais consistentes teoricamente, mostrando tambm a incorporao da reflexo sobre seu fazer. Este fato refora a tese de que a extenso no est somente centrada no ativismo, que tanto caracterizou suas atividades ao longo dos anos. Quanto integrao com o ensino formal, ainda temos muito que avanar. Apesar de nossos projetos j servirem de campo de prtica para as disciplinas do currculo e terem, a partir de suas experincias, elaborado disciplinas eletivas, possvel perceber que a indissociabilidade mais freqente quando os coordenadores das propostas so tambm professores de disciplinas afins. Assim, ainda nos falta tornar as atividades de extenso mais orgnicas e integradas consistentemente na vida da unidade acadmica. Esta desagregao passa tambm pelo fato de se ter tempos diferenciados. A idia do ensino articulado extenso baseia-se em atitudes de reflexo, anlise, tomada de deciso, articulao com o outro, escuta atenta, parcerias. A lgica de organizao de um currculo que contemple a extenso universitria no pode ser a que a est, a qual o separa em caixinhas. Deve prever um tempo e um acontecer diferentes. Um tempo dos parceiros, um tempo dos contatos, um acontecer de revisitas s propostas (CASTRO, 2004, p. 159). As possibilidades de integrao so grandes e podem ser profcuas, mas dependem de novas redefinies, aprendizagens e de novos tipos de gestes da extenso, da pesquisa e do ensino de nvel superior (BOTOM, 2001, p. 159). Sabemos tambm que a dissociao entre as trs funes est intimamente ligada lgica que preside os projetos pedaggicos das Universidades, ou seja, alicerados numa concepo de conhecimento decorrente de um paradigma de cincia e de mundo fragmentados, portanto a tarefa mais ampla que a extenso, da concepo dos currculos. Outro ponto percebido, atravs das avaliaes, foi que os projetos ainda no incorporaram de forma efetiva a avaliao de suas aes e dos seus alunos. Entendemos que a avaliao uma oportunidade para se refazer os caminhos traados para o projeto, em parceria com a equipe. Ela deve estar prevista em cada etapa de trabalho e permite que, ao final da atividade, se tenha a possibilidade de avaliar a proposta como um todo. importante salientar que no havia, por parte da gerncia da extenso, uma orientao de como se fazer avaliao e sim o estmulo para que cada proposta desenvolvesse um tipo de avaliao que fosse mais condizente com seu trabalho. Percebeu-se tambm que as propostas desenvolveram como atividades do projeto algum tipo de produto, sendo a maioria a elaborao de artigos cientficos e a realizao de eventos. Outro fator importante a ser destacado foi a apresentao da proposta em eventos cientficos. Estes fatos indicam que os projetos de extenso podem disseminar os conhecimentos produzidos por eles. Em relao s parcerias, verificou-se que a maioria dos projetos desenvolvem suas atividades sem parceiros internos, de outros departamentos ou unidades. Estas dificuldades apontam para a necessidade de desenvolvimento de estratgias gerenciais para o fomento da articulao interna. Acreditamos que o fortalecimento das reas temticas, com coordenaes especficas, pode trazer resultados nesta rea. Quanto s parcerias externas Universidade, verificamos que esta se d, em sua maioria, com rgos pblicos. O fato de realizar tais atividades41

com rgos pblicos, contudo, parece no significar que os projetos incorporem uma postura avaliativa em relao s polticas pblicas ou tenham influncia na sua elaborao ou reformulao. De um modo geral, a parceria conflui para a realizao de aes identificadas como significativas para a formao do aluno e o desenvolvimento do projeto naquela rea especfica. O processo avaliativo tambm detectou as dificuldades enfrentadas pelos coordenadores. Dentre elas, destaca-se sobremaneira o financiamento da extenso. Apesar da UERJ oferecer 420 bolsas de extenso, ter normatizado a alocao de carga horria dos professores em extenso (Sub-Reitoria de Extenso..., 2003), pontuar as atividades de extenso para obteno de Bolsa do Procincia modalidade de bolsa recebida por professores com 40 horas semanais e com produtividade reconhecida atravs da anlise de seu currculo , e ter conseguido possibilitar a participao de professores e tcnicos em atividades cientficas, no existe um financiamento especfico e freqente, em moeda, para a realizao das atividades.

guisa de conclusoA extenso universitria, diferentemente do ensino e da pesquisa, pouco foi regulamentada pelos rgos de governo, tanto no que diz respeito normalizao de suas prticas, quanto ao financiamento de suas atividades. Este distanciamento imposto permitiu que ela se organizasse por dentro e pudesse se dedicar a construir uma relao mais prxima da sociedade (CASTRO, 2004, p. 48), e, no caso da avaliao, desenhar seu prprio processo avaliativo. Porm o que se percebe que ainda parece difcil conseguir ingressar de forma mais consistente nas arenas de deciso de assuntos relevantes. O distanciamento, se por um lado facilita o desenho de uma extenso que se deseja para cada universidade, por outro impe uma tarefa rdua de construo de processos e assim de constantes adaptaes e revisitas s propostas. A avaliao uma funo da gesto universitria destinada a auxiliar o processo de deciso, visando a torn-lo o mais efetivo possvel. No campo da extenso, o processo de avaliao tambm se constitui uma exigncia contempornea, ou seja, uma exigncia no caminho de tentar alcanar a complexidade que avaliar prticas e aes no campo da extenso. Nesse sentido, a avaliao da extenso tem se constitudo um campo de trabalho propcio para a anlise de processo de trabalho implementado pela extenso, os resultados alcanados com esse processo de trabalho e as repercusses das aes na comunidade interna e externa da universidade. A avaliao exige, cada vez mais, a utilizao de uma srie de tcnicas abrangentes adequadas ao que se vai avaliar, que permitam dar voz a todos os participantes do processo visando, principalmente, ao avano no processo de anlise, aprofundamento do conhecimento dado pelas informaes coletadas e gerao de novas questes. No contexto atual, podemos apontar para algumas anlises significativas; uma delas nos remete a aspectos que j foram introduzidos nos projetos, que, muitas das vezes, redirecionaram suas aes, em suma, reorganizaram-se em funo da avaliao. Do outro lado, estamos cada vez mais cnscios de que a extenso universitria na UERJ realiza relevante produo de conhecimentos e se alicera no conceito de teoria-prtica, conscincia/autoconscincia dos participantes, sendo importante instncia formadora dos nossos discentes. Assim, h de se42

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considerar a extenso como uma das formas que a universidade tem de produzir, e de disseminar conhecimento, alicerado principalmente na experincia. Nessa perspectiva, emerge a discusso da flexibilizao curricular, onde a extenso no s suscita a criao e o desenvolvimento de novas reas de conhecimento necessrias para a formao integral dos estudantes, mas reconhece o desafio de garantir como preocupao inicial o registro das atividades extensionistas no histrico escolar dos seus alunos, que de forma independente e autnoma participam dos inmeros projetos extensionistas da UERJ. Os projetos que congregam tais preocupaes so potencialmente os projetos que fazem com que a extenso reafirme seu lugar na universidade, uma Universidade que se quer sintonizada e comprometida com os problemas cruciais da sociedade. Em suma, sabemos por nossa experincia que a avaliao que produz conhecimento aproprivel pela comunidade, no o faz de forma descontextualizada. A avaliao da extenso no tem sentido se estiver desconectada do cenrio que hoje a extenso universitria, e que gera a prpria necessidade de avaliao da funo. Contudo, de tal monta essa variao do ponto de vista da extenso universitria, que no se pode abord-la como se fosse nica, como uma possibilidade mpar de pens-la e viv-la nas universidades pblicas do pas, mas h que se considerar as vrias extenses existentes dentro de uma mesma universidade. Por todo esse percurso, a avaliao da extenso, na UERJ, tornou-se mais do que um processo de aferio de situaes, pois caminha para um processo crtico de anlise das mudanas que ocorrem no mbito da atividade extensionista na universidade, o que no a isenta de enfrentar algumas questes de extrema importncia para o seu processo de aprimoramento tais como: aprofundar a articulao entre as trs funes da universidade a partir da extenso universitria, bem como instigar que cada projeto incorpore a dimen