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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PARA FAVORECER O
ENVOLVIMENTO DE PAIS NA ESTIMULAÇÃO DE SEUS FILHOS
COM DEFICIÊNCIA VISUAL
SOUZA, Vanda Fátima Vinhotte1
VITALIANO, Célia Regina2
RESUMO
Este artigo tem como objetivo descrever o desenvolvimento de um programa de intervenção realizado
com pais de crianças com deficiência visual visando ampliar seu envolvimento no processo de
desenvolvimento e aprendizagem de seus filhos. Participaram do projeto quatro mães e um pai dos
alunos atendidos em um Centro de Atendimento Especializado em Deficiência Visual, localizado no
Colégio Estadual Hugo Simas no município de Londrina. Os procedimentos de intervenção
desenvolvidos foram: Palestras sobre patologias que acometem a visão; depoimento de uma mãe
sobre sua trajetória com um filho com deficiência visual; discussões com uma psicóloga sobre os
sentimentos dos familiares frente à deficiência de seus filhos. Também foi realizada uma oficina para
elaboração de brinquedos. Durante o processo as crianças foram avaliadas e atendidas em sessões
de estimulações juntamente com suas famílias. Ao término do projeto os pais participaram de uma
avaliação na qual puderam expor suas opiniões sobre os procedimentos aplicados, os resultados
obtidos evidenciaram que os pais os avaliaram de forma positiva, relataram por meio deles tiveram a
oportunidade de aprender como estimular seus filhos, especialmente a partir da utilização de
brinquedos e brincadeiras.
Palavras-chave: Deficiência Visual; Avaliação; Intervenções; Família.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo descrever o processo de intervenção
realizado junto a pais que têm filhos com deficiência visual, atendidos no Centro de
Atendimento Especializado em Deficiência Visual (CAEDV) da cidade de Londrina.
Este projeto visou proporcionar aos pais uma reflexão sobre a importância da
interação e do envolvimento da família no processo de estimulação de seus filhos, a
fim de que, em casa, as crianças continuem sendo estimuladas melhorando assim o
seu desenvolvimento e aprendizagem.
1 Especialista em Educação Especial na Área Visual. Psicopedagoga. Graduada em Estudos Sociais.
Professora do Centro de Atendimento Especializado em Deficiência Visual - CAEDV de Londrina da
Rede Regular de Ensino do Estado do Paraná.
2 Professora Doutora e mestre em Educação Especial- Departamento de Educação da Universidade
de Londrina- UEL, graduada em Psicologia. Contato: [email protected]
A atuação da família frente ao desenvolvimento das crianças que apresentam
NEE é primordial. “A brincadeira é uma atividade importante na infância que auxilia
as crianças a dominarem todas as suas necessidades de desenvolvimento” (MAXIM,
1997, p.261).
Bruno (1992) observou que, em crianças com deficiência visual, o brincar
surge de um simples exercício para a representação do vivido pelo jogo simbólico,
ou seja, o brincar aproxima de fatos reais. Considerando isso é importante que o
professor utilize brinquedos e brincadeiras que podem ser confeccionados ou
adaptados pelos pais, pois assim a criança pode ser estimulada, tanto no espaço
escolar como em sua casa.
Sobre a denominação de estimulação, alguns autores utilizam a expressão
precoce para referir-se à intervenção prévia de criança com atraso de
desenvolvimento. Para a leitura e elaboração e compreensão desse artigo será
utilizado o termo estimulação essencial, expressão análoga à estimulação precoce.
A estimulação essencial refere-se: “ao atendimento prestado a partir do
nascimento da criança que apresenta problemas evolutivos decorrentes de fatores
orgânicos ou ambientais, por uma equipe multidisciplinar, com a participação efetiva
da família, com objetivo de proporcionar o desenvolvimento integral da criança”
(BRASIL, 1984, p.26).
Lindstedt (1997) entende que a intervenção essencial minimiza a perda visual
através correção ótica adequada e estimulação visual, resultando, portanto em um
melhor desenvolvimento capaz de aprimorar a capacidade visual das crianças.
Considerando o objetivo deste artigo apresentaremos uma breve revisão
sobre os principais temas abordados.
1.1 A Deficiência Visual
A visão é um órgão essencial para o ser humano. Por meio desta habilidade o
indivíduo consegue enxergar o mundo em sua infinidade de detalhes, cores,
espécies, formas. Segundo documento oficial de decreto nº 3.298, de 20 de
dezembro de 1999, no seu artigo 4º, inciso III que define a deficiência visual como
acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção,
ou campo visual inferior a 20º grau (Tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de
ambas as situações (International Councial for Educationan of People with Visual
Impairment, 1992).
A visão é utilizada em qualquer atividade humana, sem ela, a pessoa
necessita aprender a ver o mundo utilizando outros sentidos, e isto é algo um tanto
quanto complexo. Segundo Zin (2009):
A visão tem um importante papel organizador na comunicação e aprendizagem. A informação visual é constantemente combinada com informações de outras modalidades e seu uso requer o desenvolvimento de numerosas funções neurológicas que precisam ser avaliadas quando se examina um lactente visual [...] A experiência visual é o principal motivador do desenvolvimento global do lactente e a presença de uma alteração retiniana nesse período constitui uma barreira para consolidação do aprendizado visual pode apresentar mecanismos compensatórios desejáveis tais como sinal óculo-digital, desvios do comportamento que devem ser trabalhados na estimulação (ZIN, 2009.).
A deficiência visual é um quadro heterogêneo, com casos irreversíveis e
outros reversíveis e outros com melhora de seu padrão visual. Estas condições
estão diretamente ligadas ao comprometimento do estado da estrutura da visão,
dependendo do trauma ou grau do déficit visual e da parte comprometida, podendo
ocorrer desde a diminuição da acuidade ou do campo visual até a cegueira total.
Hoje muitas destas dificuldades são estudadas e já existe tratamento. É
preciso conhecer as patologias que integram essa deficiência. Algumas das
patologias que causam deficiências visuais são: Ambliopia, Retinopatia da
Prematuridade, Retinose Pigmentar, Glaucoma, Coloboma, Estrabismo entre outras.
É por meio da identificação das características destas doenças que os
encaminhamentos necessários devem ser realizados a fim de diagnosticar o quanto
antes o problema e promover os encaminhamentos.
1.2 A Importância da Avaliação
É necessário conhecer as patologias para realizar intervenções que possam
colaborar no desenvolvimento das crianças com deficiência visual.
Sendo assim, a avaliação é o ponto inicial de todo tratamento. Quanto antes
isso acontecer melhor será o processo de intervenção e o desenvolvimento da
criança.
Para Bruno (2002) as avaliações das necessidades educacionais seriam o
registro das competências e habilidades do aluno e as dificuldades encontradas no
processo de aprendizagem e construção do conhecimento. A avaliação, segundo as
Diretrizes Curriculares da Educação deve ser compreendida como:
[...] processo permanente de análise das variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem, para identificar as potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e as condições da escola para responder a essas necessidades. (BRASIL, 2002, p. 34)
Saul (2000) afirma que a tarefa da avaliação é facilitar um processo plural e
democrático mediante o esclarecimento de informações. O mesmo autor ainda
ressalta que os pais de crianças com múltipla deficiência assumem um papel
fundamental. As crianças precisam ser estimuladas constantemente, somente desta
maneira os resultados serão melhores.
No Centro de Atendimento Especializado em Deficiência Visual (CAEDV),
local de realização da intervenção aqui descrita, é feita a avaliação de todos os
alunos matriculados com laudo médico. Um dos instrumentos utilizados é o
Inventário Operacional Portage Adaptado que avalia o desenvolvimento visual, bem
como as áreas relacionadas à socialização, linguagem, cognitiva, motora e autos
cuidados. Este instrumento serve para verificar as dificuldades apresentadas pelos
alunos de forma global. Os resultados obtidos oferecem subsídios para se buscar
as metodologias específicas que devem ser aplicadas para auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento global da criança.
Segundo Bruno (2009) avaliar alunos com deficiência visual, principalmente
aqueles que possuem baixa visão, é uma tarefa que exige competência técnica,
sendo assim, por meio da avaliação é possível perceber as dificuldades das crianças
em relação aos seus comprometimentos visuais.
Após a avaliação são elaborados procedimentos metodológicos que
contemplem a necessidade de cada criança. Este diagnóstico permite elaborar um
currículo adaptado para superar as dificuldades apresentadas.
1.3 Estimulação Essencial
Todo ser humano se desenvolve e aprende, alguns com mais facilidades,
outros com menos. O que vai ajudar esse processo ocorrer de modo mais adequado
depende não exclusivamente da estrutura biológica de cada indivíduo, mas também
da qualidade e quantidade de estímulos que ele for exposto. Para entender melhor,
é preciso compreender o que é um estímulo.
O estímulo pode ser conceituado como a adaptabilidade do cérebro à
capacidade de aprendizagem, ou seja, é uma forma de orientação do potencial
e das capacidades que a pessoa tem (CARLETTO, 2007).
A Estimulação essencial foi desenvolvida nos Estados Unidos em 1960 e na
Europa em 1970. O programa foi elaborado a partir da perspectiva médica de
amenização dos déficits de pessoas com necessidades especiais. Criado com um
objetivo assistencial. Em 1980, surge em diversos países, inclusive no Brasil, uma
legislação voltada para o diagnóstico e estimulação essencial de crianças que
apresentavam déficit de desenvolvimento, integrando a área da educação especial.
(BRASIL, 2003).
Mussen (1998) ressalta que:
O sucesso das crianças na escola e na vida adulta depende não apenas de suas capacidades, mas também de sua motivação, atitudes e reações emocionais à escola e a outras situações onde se pode ser bem sucedidos. Um dos primeiros preceitos propostos pelos psicólogos para descrever este aspecto foi: motivação para a realização. (MUSSEN, p.270, 1998).
Os estímulos são captados pelas pessoas por meio da vivência com o outro e
o meio. A teoria de Vygostsk (1998) vem explicar como isso acontece. O autor
defende a ideia do sociointeracionismo, no qual, por meio das interações e vivências
sociais as crianças estabelecem relações com a aprendizagem, ou seja, o meio
social contribui para que as pessoas aprendam, eles funcionam como estímulos
para conhecimentos posteriores.
O pensamento de Vygotsky (1995) sobre o processo de aprendizagem
ressalta que o que deve ser observado não é o que a criança aprendeu, mas sim o
que ela está aprendendo. A criança constantemente está passando por um processo
de aprendizagem, que auxilia no seu desenvolvimento.
Os estímulos essenciais são aqueles que têm como objetivo evitar alguns
tipos de distúrbios que a criança possa a vir a desenvolver. Segundo Perin (2010):
O objetivo principal da estimulação essencial é proporcionar o desenvolvimento e potencializar todos os seus aspectos por meio de situações mediadas e desafiadoras com a intenção de promover a aprendizagem e a adaptação da criança com necessidades especiais ao seu meio de forma ativa, eficiente, lúdica e pontual (PERIN, 2010, p. 7).
No Brasil, na década de 70 a estimulação essencial começa a ser utilizadas
em hospitais, com o serviço voltado para crianças especiais em fase de
desenvolvimento. De acordo com o direito constitucional, a estimulação essencial é
garantida pela Constituição Federal de 1988 e nas Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial e na Educação Básica (BRASIL, 2001). Visando efetivar tal
processo o Ministério da Educação estabeleceu as Diretrizes Educacionais sobre a
Estimulação Essencial, com intuito de uniformizar os seus princípios, definir sua
abrangência e avaliar sua eficácia. Também foi elaborado o Referencial Curricular
para Educação Infantil com objetivo de subsidiar a realização do trabalho educativo
com crianças de zero a seis anos com necessidades especiais. Nesta perspectiva, o
atendimento com as crianças com deficiência visual foi contemplado.
1.4 O Lúdico Como Forma de Estimulação
A dúvida de muitas pessoas é como desenvolver a estimulação de maneira a
garantir a aprendizagem. Para Bruno (1992) o lúdico é básico para desenvolver um
trabalho de ensino aprendizagem.
Toda criança gosta de brinquedos, brincadeiras e jogos, esses são forte
aliados para o desenvolvimento da criança. Kishimoto (2010) fala que:
O brinquedo coloca a criança na presença de reprodução: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los. (KISHIMOTO, 2010, p. 21)
Partindo da mesma ideia, Oliveira (1993) enfatiza a importância das
brincadeiras na formação da criança. Ele pontua que:
Numa situação imaginária como a da brincadeira de “faz-de-conta” (...) a criança é levada a agir num mundo imaginário (o “ônibus” que está dirigindo na brincadeira, por exemplo) em que situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira (O ônibus, o motorista, o passageiro e etc) e não pelos elementos reais concretamente presentes (as cadeiras da sala onde estão brincando de ônibus, as bonecas etc.) (...) Mas além de ser uma situação imaginária, o brinquedo é também uma atividade regida por regras. Mesmo no universo de “faz-de-conta”, há regras que devem ser seguidas (OLIVEIRA, 1993, p.67).
Desta forma, fica evidente que o trabalho com o lúdico é um potencializador
de conhecimento, é facilitador de aprendizagem, é garantia de estímulo e
aprendizagem.
Os jogos, as brincadeiras, e os brinquedos são desafiadores, e aborda uma
gama de assuntos, portanto, pais e professores devem ter consciência desse fato e
inserir na rotina da criança momentos de estimulação por meio do lúdico.
Kishimoto (2010, p. 27), ainda diz que “Quando brinca, a criança toma certa
distância da vida cotidiana, entra no mundo imaginário”. Isso significa que com um
simples ato de brincar a criança assume seu papel social, explorando suas
habilidades e incorporando seu conhecimento.
Baseado na teoria sociointeracionista de Vygostsky, Rodrigues (2005) afirma
que os brinquedos criam zonas de desenvolvimento proximal à medida que colocam
a criança em situações de reprodução dos papéis, regras sociais e repetição dos
valores.
Kishimoto (2003) reforça que:
O brinquedo educativo [...] entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores; nos brinquedos de tabuleiro, que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas; nos brinquedos de encaixe, que trabalham a noção de sequência, de tamanho e de forma; nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e materialização da função psicopedagógica: móbiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que encaixam para desenvolver a coordenação motora; parlendas para expressão da linguagem; brincadeiras envolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica. (KISHIMOTO, 2003, p.36)
Fica evidente que as brincadeiras e os brinquedos facilitam a interação com o
meio social, favorecem as habilidades motoras, cognitivas, perceptivas e da
linguagem, ocorrendo de forma agradável, auxilia na elevação da autoestima do
aluno (CORSI, 2001). Esta é a estimulação que o ser humano necessita. Portanto,
quanto antes esse processo for iniciado, melhor será o desenvolvimento da criança.
Brincando a criança entra em contato com o ambiente e desenvolve suas
capacidades físicas, mentais, de autoestima, da afetividade, transformando sua vida
social, escolar e familiar mais prazerosa.
Sendo assim, pode-se dizer o brincar estimula e motiva as crianças, dando-
lhes oportunidade da interação social e de ficarem felizes, trocar experiências,
ajudarem-se mutuamente; as que têm visão e as cegas, as que ouvem e as que são
surdas-mudas, as que podem se movimentar e as que não podem se movimentar
(SIAULYS, 2005). O lúdico permite a observação e a investigação o que auxilia no
desenvolvimento da criança.
2 Desenvolvimento do Processo de Intervenção Junto as Famílias.
O programa de intervenção foi desenvolvido por meio de vários
procedimentos que consistiram em: reuniões, palestras, oficina, sessão de filme com
debate, orientações direta aos pais junto aos seus filhos nos horários do
atendimento especializado, bem como a disponibilização de textos com orientações.
Inicialmente foi realizada uma reunião com os pais para esclarecimento sobre a
proposta, apresentando os objetivos pretendidos.
Os pais foram informados sobre o cronograma proposto no projeto e nesse
momento foram convidados a participar. Todos aceitaram e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido.
O processo de intervenção foi desenvolvido da seguinte forma: no primeiro
encontro do projeto os pais preencheram um questionário que continha questões
sobre: como a família atua frente à deficiência de seus filhos, seus anseios, dúvidas,
necessidades e expectativa sobre o processo de estimulação de seus filhos. As
informações obtidas foram tomadas como base para o desenvolvimento das
sessões de intervenção junto às famílias.
Em um segundo momento os alunos foram avaliados pelo professor
especialista em educação especial - área visual, utilizando formulários Portage
adaptado e materiais específicos para identificar suas dificuldades e potencialidades
visuais. As avaliações realizadas permitiram conhecer os alunos em relação ao seu
desenvolvimento visual, linguagem, socialização, área cognitiva, motora, autos
cuidados. Os resultados dessas avaliações foram tomados como base para o
planejamento das atividades de estimulação que foram realizadas junto com seus
familiares durante os atendimentos.
Os pais participaram de uma palestra que tinha como foco o relato de uma
mãe sobre sua trajetória de atendimento ao seu filho com deficiência visual. Durante
a palestra ocorreram diálogos entre as famílias e a palestrante que permitiram
reflexões sobre a temática abordada.
Também foi realizada uma palestra de duas horas com uma psicóloga com o
tema: “Famílias e suas reações frente ao filho com deficiência”, nessa ocasião as
mães expuseram suas dúvidas, aflições e inseguranças em relação ao impacto
sofrido ao receber o laudo da deficiência de seus filhos.
Buscando ampliar o conhecimento de como atuar frente a um filho com
deficiência visual foram destinadas duas horas para apresentação de um filme
denominado “O Milagre de Anne Sullivan” com o objetivo de os levarem a refletir
sobre a questão educacional de seus filhos. Muitas cenas do filme os participantes
puderam associar as suas vivências.
Visando proporcionar aos pais uma melhor compreensão sobre as patologias
que envolvem a deficiência visual, os mesmos participaram de uma palestra que
apresentou as principais patologias. Esta palestra teve a duração de duas horas, e
pontuou que é necessário conhecer as patologias para saber como desenvolver
atividades que possam colaborar no desenvolvimento das crianças com deficiência
visual.
Com o objetivo de informar os pais sobre os tipos de patologias existentes
que acometem seus filhos, foi elaborado um material específico com a patologia de
cada criança e foi entregue aos pais. Sendo assim, cada pai recebeu um material
impresso que permitia tirar as dúvidas existentes oportunizando conhecer as
características de cada criança. As mães puderam aprofundar mais sobre as
patologias de seu filho e ainda experimentaram óculos específicos que remetiam a
sensação de algumas patologias.
Em outro momento as famílias participaram de uma oficina de brinquedos e
brincadeiras. Para esta atividade foram destinadas quatro horas. Isso evidenciou
que com medidas simples como o brincar, os pais podem proporcionar uma
ampliação na percepção sensória motor da criança contribuindo para seu
desenvolvimento.
Esta oficina aconteceu nas imediações do CAE DV no qual foram reunidas as
mães. Alguns modelos de brinquedos foram apresentados, os mesmos foram
construídos com materiais reaproveitáveis e outros materiais, havendo ajuda mútua
entre os participantes.
Paralelo a todos os procedimentos anteriormente descritos ocorreram
momentos de intervenções e orientações no qual, eram atendidas as crianças
juntamente com os pais. Os atendimentos aconteciam duas vezes por semana em
sessões de cinqüenta minutos, ao todo somaram setenta e oito horas de
atendimentos. As crianças eram estimuladas de acordo com suas necessidades
tendo como suporte metodológico os brinquedos confeccionados especificamente
para o projeto.
Durante esses atendimentos, os pais acompanhavam , observando a postura
do profissional de educação especial, de modo aprender como lidar com cada
situação. Após cada sessão, eram orientados para realizar estimulação de seus
filhos em sua rotina diária com brinquedos adaptados.
Para alicerçar as atividades do dia a dia, os pais receberam um material
apostilado com explicação de como confeccionar brinquedos, os objetivos
específicos de cada brinquedo e o processo de estimulação.
Após o desenvolvimento do processo de intervenção os pais foram
convidados a preencher uma ficha de avaliação do trabalho desenvolvido. Esta ficha
solicitava a avaliação de todos os procedimentos implementados. A seguir
apresentaremos os resultados obtidos a partir do desenvolvimento das atividades
descritas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando os objetivos propostos e os procedimentos desenvolvidos os
resultados serão apresentados a seguir de acordo com a sequência desenvolvida.
Durante a palestra de uma mãe que apresentou a sua trajetória de
atendimento ao seu filho com deficiência visual, os pais puderam perceber que a
participação no programa de orientação junto aos familiares, favorece o processo de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças com baixa visão.
As participantes se emocionaram com o depoimento da palestrante, pois
recordaram que também vivenciaram esses momentos e relataram que as mães
sofrem quando recebem a notícia da deficiência de seu filho. A palestra lhes
possibilitou refletir que seus filhos são crianças com potencial, que para superarem a
deficiência precisam de acompanhamento de profissionais especializados e do
envolvimento da família. A mãe palestrante ressaltou que ninguém pode perder a
esperança e sempre acreditar no potencial de seu filho.
O depoimento da mãe pode ser confrontado com o filme O milagre de Anne
Sullivan que fala sobre a vida de Elen Keller relacionando a intercessão da escola
com a família e reforçar a percepção de como a integração entre ambos auxilia no
desenvolvimento da criança. Segundo o depoimento dos pais, o filme permitiu
entender a importância da rotina diária e das regras no desenvolvimento de seus
filhos. Destacaram também que analisando as cenas apresentadas compreenderam
a importância do profissional habilitado junto às orientações para assim, atingir os
objetivos propostos na aprendizagem e desenvolvimentos de seus filhos.
Quanto à palestra com a psicóloga, as mães expuseram suas dúvidas,
aflições e inseguranças. Comentaram que foi um impacto quando receberam o
diagnóstico da deficiência de seus filhos e em diálogo com a psicóloga sentiram-se
acolhidas e perceberam que todas as mães presentes passaram por essa mesma
situação.
Para Fuertes; Palmero (1995):
Quando nasce um bebê com necessidades especiais, pai, mãe e demais familiares vivenciam o impacto da notícia de diferentes maneiras, mas, geralmente, tal fato gera uma crise permeada de sentimento de dor, tristeza, angústia, rejeição, revolta, entre outros, que podem desintegrar a harmonia familiar e comprometer o desenvolvimento infantil (FUERTES; PALMERO 1995, p. 241).
Segundo apontamentos sobre a palestra disseram ser de grande relevância,
pois permitiu tirar dúvida existente em cada família.
Durante a apresentação das patologias e da dinâmica com os óculos, as
mães ficaram emocionadas em vivenciar situações que simulam como as pessoas
com deficiência visual enxergam o mundo através daquela patologia. Elas não
tinham esclarecimento sobre a patologia do seu filho e por meio desses
procedimentos puderam perceber o grau de dificuldades que esta deficiência traz.
Mencionaram que a partir da aquisição desses conhecimentos, iria pô-los em prática
em seu cotidiano, para melhor atender seus próprios filhos.
Alguns pontos elencados durante a palestra sobre as patologias não eram de
conhecimento dos pais, como por exemplo, as características das doenças, as
formas de intervenções que ajudam no tratamento do problema da visão, tais
atitudes ajudam no processo de estimulação, portanto, a abordagem deste assunto
permitiu ampliar conhecimento sobre as patologias de seus filhos.
Quanto à oficina de confecção de brinquedos houve muita empolgação e
envolvimento por parte das mães, podendo trocar experiências e produzir
brinquedos para seus filhos. Com materiais simples, de baixo custo e de fácil acesso
perceberam que é possível estimular de forma intensa seus filhos. As mães
ressaltaram que momentos como esses deveriam acontecer sempre, pois por meio
dele, além, de descontrair puderam contribuir para o desenvolvimento de seus filhos.
A oficina de brinquedos fez com que os pais percebessem que podem
construir o próprio brinquedo que estimulará a visão de seus filhos. Eles perceberam
que com medidas simples e acessíveis é possível criar situações de estimulação.
Quando solicitado à família que escrevesse sobre a contribuição do projeto
para ampliação do conhecimento sobre o processo de estimulação de seus filhos a
maioria ressaltou que por meio do projeto foi possível compreender situações antes
desconhecidas e aprender de forma mais precisa como interagir com os próprios
filhos.
Tendo em vista que ao final do processo de intervenção os pais preencheram
um questionário de avaliação final, apresentaremos os principais resultados que
permitiram análises quantitativas obtidos na tabela 1 a seguir:
Avaliação dos procedimentos desenvolvidos
Excelente bom Satisfatório Insatisfatório
Depoimento da mãe sobre sua trajetória 5
Apresentação e Comentários sobre filme. “O Milagre de Anne Sullivan”
5
Palestra com Psicóloga 3 2
Estudos das Patologias 5
Oficinas Confecção de brinquedos 5
Intervenções e Estimulação das crianças com brinquedos e Orientações para os pais (Atendimento individualizado)
5
Os procedimentos foram avaliados como excelentes, exceto a palestra da
psicóloga, que segundo duas mães não atingiram as expectativas esperada, pois
elas gostariam que a abordagem fosse de forma mais dinâmica e queria receber
materiais impressos sobre a temática.
O questionário aplicado também continha uma questão aberta referente à
avaliação do programa de intervenção desenvolvido, a seguir a tabela 2 contempla
as respostas apresentadas pelos participantes.
Famílias Depoimento
F1 “Eu gostei muito de participar e estar por dentro visualizando o trabalho, e assim,
aprendendo a respeito das atividades trabalhadas e me informando.”
F2 “Para mim este projeto foi bom. Eu aprendi algumas coisas para ensinar minha
filha.”
F3 “Para mim foi um projeto importante porque a criança aprende muito mais e
desenvolve o motor e o raciocínio e se sente bem melhor.”
F4 “Foi muito especial este projeto, porque eu tenho que pensar no meu filho, para
depois ele não falar que eu não ajudei em seu desenvolvimento.”
F5 “O projeto me ajudou muito a compreender as atitudes e reações do meu filho.
Conseguimos em pequeno tempo a tirar pequenos traumas que ele tinha: medo de
escuro, socialização com outras crianças, só brincava sozinho”.
Para mim, foi um excelente projeto, pois ajudou a cuidar melhor do meu filho. “Hoje
ele superou as dificuldades apresentadas.”
A opinião exposta pela família 5 revela quão importante foi a sua participação
no projeto para o seu contexto familiar. Ele contribuiu para um novo direcionamento
de como a família pode e deve auxiliar no processo de estimulação de seus filhos,
com este suporte, a criança consegue superar seus limites contribuindo para seu
desenvolvimento.
Para Lapassade (1983, p. 15) a família constitui-se no cimento mais firme da
ordem social estabelecida, sendo o lugar da interiorização da representação, o que
terá sua continuidade na escola. Isso evidencia que a família é uma instituição de
afetividade, mas, ao mesmo tempo de direcionamentos aos aspectos sociais.
Sendo assim, ao analisar os relatos de F5 verificamos que é possível
observar que quando os pais compreendem e se envolvem no processo de
estimulação global de seus filhos e seguem as orientações do professor especialista,
seus filhos apresentam melhoras no seu desempenho.
Os pais relataram que a participação deles nesse projeto proporcionou uma
nova visão em relação aos seus filhos e puderam compreender como é importante
elaborar uma rotina diária para deles, suas necessidades, seus limites e suas
dificuldades. Frisaram que o projeto permitiu enxergar novas possibilidades
primordiais para sua vida.
De modo geral os pais avaliaram que os temas abordados durante o processo
de intervenção foram importantes e significativos para auxiliá-los no atendimento aos
seus filhos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração deste artigo permitiu a reflexão sobre o papel da família no
desenvolvimento de seus filhos, assim como entender os mecanismos que podem
facilitar este processo. A estimulação por meio do lúdico é um mecanismo que
corrobora para tal ação.
Por meio da avaliação realizada pelos pais em relação ao desenvolvimento do
programa de intervenção realizado foi possível perceber que os procedimentos
desenvolvidos levaram as famílias se conscientizarem da importância de
estimularem seus filhos. Este fator é relevante e faz toda a diferença na evolução da
criança com deficiência visual.
Os procedimentos desenvolvidos tiveram o objetivo de levarem os pais a
perceberem que podem encontrar em atividades simples, como brincar, recursos
para estimular a visão de seus filhos e que a rotina dessas crianças deve ser
organizada com brincadeiras e os brinquedos, que favoreçam o seu
desenvolvimento e aprendizagens de habilidades importantes para sua faixa etária.
Consideramos que os pais de criança com déficit visual devem subsidiar seus
filhos, proporcionando por meio de brinquedos e brincadeiras formas lúdicas
capazes de estimular percepção sensória motora, percepção visual, coordenação
motora ampla, linguagem entre outras, de forma que a aprendizagem das crianças
com deficiência visual ocorra de forma satisfatória.
Desenvolver projetos escolares que visam orientações aos pais não é uma
tarefa fácil, porém é preciso iniciar esse trabalho para garantir o pleno
desenvolvimento da criança com essa deficiência. O movimento de inclusão da
família, como apoio e base para o desenvolvimento humano reforça que o
atendimento com estimulação possibilita a construção efetiva das aprendizagens e a
promoção global do desenvolvimento da criança, facilitando a inclusão social e
escolar.
Segundo Bolsanello (2003) o atendimento da estimulação desprovido da
participação da família é uma forma fragmentada de ensino que pouco infere no
desenvolvimento, por isso a importância da interação da família.
Destacamos que na fase anterior a implementação desse projeto foi
constituído um grupo de estudo entre os professores do Paraná denominado de
GTR (Grupo de Trabalho em Rede) desenvolvido por meio de fóruns e outras
atividades na modalidade à distância. Nesse espaço foi discutido o presente projeto,
especialmente os procedimentos de intervenção e seus fundamentos tendo como
mediador o professor PDE, salientamos que a participação dos professores no GTR
contribuiu com sugestões que auxiliaram na efetivação do projeto e por
consequência nos resultados ora apresentados.
REFERÊNCIAS
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