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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
O GÊNERO DISCURSIVO “CARTA ABERTA” E A TEMÁTICA DO MEIO AMBIENTE NA SALA DE RECURSOS
Sueli de Jesus Rodrigues1 Clóris Porto Torquato2
Resumo:
Considerando que o trabalho com a língua materna é um campo fértil e inesgotável, buscamos por meio deste artigo, apresentar atividades que auxiliaram alunos da sala de recursos a expandir e refletir sobre sua capacidade de escrita nas produções de textos, familiarizando-se com diferentes gêneros discursivos textuais. O trabalho teve como tema o “meio ambiente” e se apoiou numa metodologia de pesquisa bibliográfica com coleta de dados; na plataforma moodle, o GTR- Grupo de Trabalho em Rede, que se constitui uma das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e se caracteriza pela interação a distância entre o professor PDE e os demais professores da rede pública estadual de ensino; e no presencial, com a turma da Sala de Recursos do Colégio Estadual Dr. Claudino dos Santos, da cidade de Ipiranga-PR. Teve ainda, como apoio didático-pedagógico uma sequência didática desenvolvida pela professora pesquisadora para esse fim, que visou auxiliar o aluno a desenvolver suas capacidades de linguagem e familiarizar-se com determinados gêneros orais ou escritos. Ao final do trabalho, os resultados possibilitaram observar, por parte dos alunos de sala de recursos envolvidos, o desenvolvimento de habilidades com a estruturação do gênero discursivo “Carta Aberta”, além da ampliação de conhecimentos acerca do tema meio ambiente.
Palavras – chave: escrita; meio ambiente; gêneros textuais; sequência didática.
Introdução
Observam-se, no universo escolar da atualidade, as constantes reclamações
acerca das dificuldades apresentadas pelos alunos no ensino de Língua Portuguesa,
mais especificamente em relação à prática de escrita, aliada à falta de
interesse/motivação em superar as eventuais defasagens. Tais queixas não são
infundadas, e, diante disso, muitas vezes, o fato de o aluno passar de ano e até
mesmo concluir o curso não significa que ele tenha alcançado êxito na superação de
tais dificuldades.
Essas ponderações levam-nos a refletir sobre a qualidade do processo
educativo que desenvolvemos com nossos alunos e a eficácia das atividades
realizadas.
Além disso, devemos ter em mente também que a educação não acontece por
si só, pois depende da interferência qualificada dos profissionais de ensino. Assim,
compreendemos a necessidade de buscar estratégias que convidem o aluno a
pensar, refletir, comparar, estabelecer relações, visando sempre despertar o desejo
de aprender.
1 Sueli de Jesus Rodrigues: Professora PDE do Quadro Próprio do Magistério, lotada no Colégio Estadual Dr.
Claudino dos Santos- EFMNP, em Ipiranga- Pr. e.mail [email protected] 2 Clóris Porto Torquato: Professora Adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR.
Objetivamos, portanto, propiciar atividades que envolveram o aluno com o tema
trabalhado e ao mesmo tempo com diferentes gêneros textuais que culminariam no
gênero carta aberta, todas as atividades visaram fazer do aluno figura integrante e
protagonista nas atividades relacionadas, motivando-o a novas possibilidades e
descobertas por meio das vertentes necessárias à comunicação humana: linguagem
oral (falar e escutar) e escrita (ler e escrever).
Pretende-se portanto, neste artigo apresentar o projeto “O Gênero Discursivo
Carta Aberta e a Consciência sobre o Meio Ambiente”, o qual desenvolveu atividades
por meio das quais o aluno pode expandir sua capacidade de escrita, familiarizando-
se com diferentes gêneros ligados ao tema “Educação Ambiental”.
Observa-se, na prática docente, a dificuldade encontrada pelos alunos em
produzir e interpretar textos, que é ainda mais afetada pelo mau desempenho na
leitura e escrita. A dificuldade na escrita, em especial, pode acompanhar o aluno por
toda a vida, em situações de emprego, vestibular, cursos formadores, entre outros.
Sem esquecer que a dificuldade na interpretação é também um dos fatores geradores
do fracasso na maioria das disciplinas, pois sem saber interpretar ele não conseguirá
resolver as questões.
Evidencia-se, portanto a necessidade de serem implementadas novas técnicas
e estratégias, já que escrever e entender o que está escrito é pré-requisito para o
avanço acadêmico do aluno.
Usar o tema “Meio Ambiente” e a riqueza de materiais que invadem a mídia
escrita e falada como fator motivador da “escrita” foi o desafio principal deste trabalho,
pois presenciamos constantemente em nosso espaço educacional cenas resultantes
de atos errôneos por parte de nossos alunos, como por exemplo: lixos jogados fora
das lixeiras, árvores com galhos quebrados, mudas arrancadas, pisoteadas. Tais
ações nos levam a refletir sobre o nosso papel como educadores, pois essas
pequenas ações, se não forem consideradas como relevantes, poderão gerar adultos
irresponsáveis e alienados quanto ao meio ambiente.
Assim sendo, até que ponto será possível, através da contribuição do tema “Meio
Ambiente” e das estratégias aqui sugeridas, melhorar esse quadro?
Diante da questão levantada, foram organizados os objetivos da pesquisa, sendo
os específicos: favorecer a familiaridade com gêneros textuais em situações de
interação por meio do tema “Meio Ambiente”; proporcionar situações reais de leitura e
escrita envolvendo o tema “Meio Ambiente”; estimular o pensamento crítico acerca do
tema “Meio Ambiente”, idéias, discussões do contexto social por meio da oralidade e
escrita. E como objetivo geral, a pesquisa intencionou desenvolver nos alunos e
alunas, através de atividades variadas e com diferentes gêneros discursivos, o senso
de argumentação visando a escrita de uma “carta aberta”.
A concepção norteadora da proposta fundamentou-se na sequência didática de
de Schneuwly & Dolz:
O trabalho com sequências didáticas permite a elaboração de contextos de produção de forma precisa, por meio de atividades e exercícios múltiplos e variados com a finalidade de oferecer aos alunos noções, técnicas e instrumentos que desenvolvam suas capacidades de expressão oral e escrita em diversas situações de comunicação, (Dolz,2004).
Schnewly e Dolz (2004, p.75) alertam para a importância de se trabalhar na
escola com os gêneros discursivos, sem os quais “ o objeto do ensino da leitura e
escrita estará limitado ao código e não à compreensão do texto”. O ensino de leitura
e produção de texto, torna-se mais claro ao aluno quando ele sabe o que dele se
espera. E foi isso que se buscou neste trabalho. Uma rota foi traçada e esclarecido a
eles qual seria a finalização.
Após o reconhecimento do gênero em questão, foram colocadas aos alunos
diferentes ações com a finalidade de prepará-los para a atividade argumentativa
direcionada à produção final da carta aberta. As ações relacionadas foram: vídeo do
filme Wall3. E, leitura de imagens, análises de charges, audição e interpretação de
músicas referentes ao tema meio ambiente; ainda, foram utilizados os gêneros
discursivos: debate, entrevistas, confecção de cartazes e palestra. Finalizou-se com
a escrita e reescrita da carta aberta direcionada à população mundial, expondo e
solicitando ajuda no sentido de se preservar o meio ambiente como forma de
sobrevivência em nosso planeta.
As atividades foram trabalhadas de forma reflexiva, buscando envolvê-los
com a realidade em suas casas, comunidade, escola. Lembramos Ezequiel Teodoro
da Silva (1995, p.24) quando diz: (...) mais diálogo, mais liberdade para os alunos se
expressarem, mais escuta e partilha de significados atribuídos aos textos, mais
ligação entre aquilo que se vê e aquilo que se vive”.
1 GÊNEROS TEXTUAIS
3 WALL·E é um filme de animação americano de 2008 produzido pela Pixar Animation Studios e dirigido por Andrew Stanton. A história segue um
robô chamado WALL·E, criado no ano de 2100 para limpar a Terra coberta por lixo. Data de lançamento: 27 de junho de 2008 (EUA. Duração: 1h 38m. Direção: Andrew Stanton. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/WALL%C2%B7E. Acesso: 01/02/2016.
1.1 ORALIDADE E ESCRITA
Ao observarmos que uma das tarefas da escola é garantir aos alunos o domínio
da língua oral e escrita, somos levados a uma reflexão que se estende através dos
tempos, quando então era comum nas salas de aula a prática da aprendizagem e
análises de orações isoladas, descontextualizadas, em que o aluno se via obrigado a
decorar as intermináveis regras e exceções às regras, mas na prática tinha dificuldade
em aplicá-las. Os PCNs (1997,p.31) referem-se a essa prática como “emblemática
de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve para ir bem na prova e
passar de ano”.
Exigia-se no ambiente escolar o respeito à norma culta no falar e escrever.
Evidenciava-se então um trabalho que isolava a oralidade da escrita, e todo o
conhecimento que o aluno trazia nada significava.
O erro era corrigido de forma traumatizante e muitas vezes o aluno sentia-se
incapacitado de prosseguir, pois a realidade da escola e a sua não eram a mesma.
Porém podemos hoje vislumbrar novas práticas, alertados principalmente sobre o erro
cometido no passado de separar a oralidade da escrita e não respeitar a bagagem
cultural que o aluno já traz quando chega na escola.
Alertados por autores como Bakhtin (2000, p.282) que lembra que “aprender a
falar é aprender a estruturar enunciados e não por meio de orações isoladas e menos
ainda, por palavras isoladas”, entendemos a importância de trabalhar em conjunto a
oralidade e escrita, prática essa também confirmada por Fávero (1999, p.13) que diz
que “o ensino da oralidade não pode vir isoladamente, isto é, sem relação com a
escrita, pois mantém entre si, relações mútuas”.
Sendo assim, torna-se necessário apresentar ao aluno os diferentes gêneros
textuais tanto os que envolvem a escrita como os que se amparam na oralidade.
Schneuwly e Dolz (2004, p.77) os definem como “instrumentos culturais disponíveis
nas interações sociais.[...] mutáveis e relativamente estáveis. Emergem em diferentes
domínios discursivos e se concretizam em textos, que são singulares”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (Brasil, 1997),
fazem referência aos gêneros mais adequados ao trabalho com a linguagem oral e
escrita, respeitando o interesse e peculiaridade de cada série, lembrando, porém, que
o aluno precisa sentir que aquilo que escreve tem uma finalidade. Pois, segundo
Vygotsky (1989, p.33) “a escrita deve ter significado para as crianças, uma
necessidade intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a
uma tarefa necessária e relevante para a vida”.
1.2 CARTA ABERTA
O gênero textual argumentativo “carta aberta”, tem como objetivo principal atingir
um número máximo de pessoas através de um apelo, em que o emissor expõe sua
preocupação a respeito de determinado assunto visando alertar, protestar, reivindicar.
Apresenta a seguinte estrutura seqüencial: título, introdução, desenvolvimento e
conclusão.
1.3 TEMA TRANSVERSAL: MEIO AMBIENTE
Objetivamos então a questão ambiental como ponto de reflexão para as
atividades propostas, devido ao fato de este ser um tema atual e preocupante, pois,
assistimos a mídia alertar a todo momento sobre a necessidade urgente de
conscientização e tomadas de decisões que visem minimizar o desequilíbrio ambiental
e suas consequências para o futuro da humanidade.
Mas torna-se evidente nos dias atuais que o futuro, em termos de mudanças
ambientais, já se faz presente em nossas vidas de maneira alarmante a ponto de
sentirmos na própria pele a necessidade de trabalharmos a educação ambiental nas
escolas como a única forma de mudarmos o quadro impactante que ora se apresenta,
uma vez que temos em mãos o potencial humano que gerará as ações das gerações
futuras.
Este tema nos permite vencer um gratificante desafio que é o de romper o
paradigma do saber teórico não incorporado pelo aluno de maneira a mudar o seu
comportamento, o que então não caracteriza o verdadeiro aprendizado. Observamos
através dos tempos a ineficiência do ensino tradicionalmente aplicado em salas de
aula em relação a este tema, porque os efeitos devastadores do meio ambiente são
realizados por tantos que já estiveram nas salas de aula, ouviram as informações mas
não colocaram em prática o que aprenderam. Afinal, há décadas o assunto vem
sendo abordado com certa regularidade.
Os resultados da falta de educação ambiental, com os quais a sociedade atual
colabora de maneira inconsequente (ainda que às vezes não consciente), e a sua
conivência e contribuição para que o futuro da humanidade fique comprometido no
que se refere à qualidade de vida no planeta Terra, nos mostram a necessidade da
incorporação do tema na disciplina de Português de maneira enfática, contínua, com
estímulos à interdisciplinaridade. Segundo os PCNs (1997,p.49),” os conteúdos de
Meio Ambiente são tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a
impregnar toda prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e
abrangente da questão ambiental”.
Urge recordar pensamentos de educadores renomados no que se refere ao
verdadeiro aprendizado: “O principal objetivo da Educação é criar pessoas capazes de
fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram”
(Jean Piaget). “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para sua própria produção ou construção”.(Paulo Freire). E ainda, “O saber que não
vem experiência não é realmente saber”. (Lev Vygotsky).
A aplicação destas verdades no sistema educacional gerando resultados, torna-
se particularmente visível com o tema meio ambiente, bem como evidencia o papel da
escola em orientar o trabalho educativo para estágios de desenvolvimento ainda não
alcançados pelo aluno, fazendo-o descobrir-se protagonista de uma importante
modificação social na sua comunidade escolar com ampliação de ações no ambiente
onde vive.
Segundo os PCNs (1997, p.75) “cabe à escola garantir meios para que os
alunos possam por em prática sua capacidade de contribuição. [...] “A escola é uma
instituição social com poder e possibilidade de intervenção na realidade”, portanto
sabemos da importância desse tema ser trabalhado nas escolas, intensificando o
poder conscientizador na formação de cidadãos responsáveis e colaboradores com a
sustentabilidade do planeta.
Desse modo, trabalhamos no sentido de conscientizar nossos alunos que por
meio de pequenos gestos como, por exemplo, procurar uma lixeira para jogar seu
papel de bala, sorvetes, papéis amassados, entre outros, cuidados básicos com a
higiene do corpo e do lugar onde vivemos, (casa, comunidade e escola) cultivar ações
que envolvam esse olhar diferenciado sobre o nosso “habitat”, farão a diferença
quando relacionarmos nossa participação como defensores de um meio ambiente
equilibrado.
Sem esquecer que dependemos dessa participação se quisermos garantir um
futuro sustentável, não somente para nós, mas e principalmente para os futuros
habitantes deste planeta, ou seja, nossos descendentes. Lembramos Fuck (1994,
p.14) quando diz: “é preciso que a educação seja o processo através do qual o
indivíduo toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma”.
Este tema foi trabalhado por meio de textos, envolvendo diferentes gêneros textuais
que levaram o aluno a refletir sobre suas ações tornando-o um cidadão crítico e
participativo, consciente de que seus atos serão relevantes para a sobrevivência
saudável das futuras gerações.
2. MÉTODO
O trabalho foi realizado dentro da proposta metodológica “Sequência Didática”
que os pesquisadores genebrianos (Dolz, Noverraz; e Schneuwly, 2004, p.97) definem
como “um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática em
torno de um gênero discursivo oral ou escrito” e culminou com a estruturação de uma
“carta aberta” à população mundial, alertando sobre a necessidade de proteger o
“meio ambiente”.
A organização da Sequência Didática apresenta-se da seguinte forma:
Apresentação da Situação de Comunicação: A proposta é apresentada,
onde então é possível investigar o conhecimento que o aluno tem sobre o gênero a
ser trabalhado. Neste momento após pesquisas e leitura de materiais selecionados e
o professor(a)apresentará o gênero em questão.
Produção Inicial: Será proposta aos alunos uma primeira produção de texto,
que servirá como sondagem sobre os conhecimentos que os alunos apresentam
naquele momento. Nesta situação será possível verificar os conteúdos que deverão
ser retomados em novas atividades em consequência de os alunos ainda não os
dominarem.
(cf. Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 98):
Módulos: Consistem em um conjunto de atividades por meio das quais o
aluno entrará em contato com as características do gênero em questão.
Produção Final: Através da Produção Final será possível avaliar o que o
aluno aprendeu e o que deverá ser retomado.
(Barros e Rios, 2014, p.36 ) comentam sobre a importância da Produção Final
neste processo: “Após as atividades desenvolvidas por meio de módulos, os alunos
são estimulados a reescrever seus textos, atentando principalmente para os
conteúdos abordados”. Feita a reescrita, o professor(a) revisa quais foram as
alterações realizadas e se ainda há necessidade de novas intervenções.
Circulação do Gênero: Nesta etapa, o texto deve circular e cumprir sua
função. O professor(a) deverá observar como isso pode ocorrer: através da
publicação dos textos em um Blog, jornal da escola etc.
Espera-se através deste trabalho contribuir com todos os colegas e pessoas
envolvidas no processo ensino aprendizagem, proporcionando enriquecimento às
suas práticas pedagógicas por meio das sugestões.
A proposta foi desenvolvida com alunos da “Sala de Recursos Multifuncional”
do Colégio Estadual “Dr. Claudino dos Santos- EFMN - Ipiranga - Paraná. A turma é
composta por 20 alunos matriculados, assim divididos: 6º ano = 09 alunos/ 7º ano=
08 alunos/ 8º ano= 02 alunos / 9º ano = 01 aluno.
Os encaminhamentos foram divididos em Módulos num total de cinco, com
encontros semanais de 02h perfazendo um total de 32h. A implementação ocorreu
anteriormente à participação como professora tutora no GTR, (Grupo de Trabalho em
Rede), que tem como objetivo socializar as produções do professor PDE com os
demais professores da Rede Pública do Estado.
1º ENCONTRO – Apresentação da Proposta
I. Apresentação da proposta de trabalho e o desenvolvimento da mesma.
II. Análise dos dois tipos de correspondências: carta simples e aberta para
comparação entre ambas.
2º ENCONTRO - Reconhecimento do gênero discursivo
I. Análise dos elementos estruturais do gênero discursivo “carta aberta”.
II. Apresentação do personagem Sugismundo.
III. Produção Inicial para definir o que deve ser aprimorado.
3º ENCONTRO – Motivação do tema
I. Apresentação do filme Wall.E
II. Interpretação oral de algumas questões sobre o filme.
III. Resumo escrito sobre o filme.
4º ENCONTRO – Reflexões
I. Apresentação de imagens da Internet relacionando o desequilíbrio da
natureza como conseqüência da ação do homem.
II. Apresentação de vídeos em forma de desenho animado sobre a
conservação da natureza.
III. Leitura de textos de gêneros diversos relacionados ao tema.
5º ENCONTRO
I. Análise de charges sobre o Meio Ambiente.
II. Pesquisa no Google sobre palavras relacionadas ao Meio Ambiente.
6º ENCONTRO – Trabalhando a argumentação
I. Apresentação e comentários das respostas encontradas.
II. Análise por grupos, de músicas com o tema em questão.
III. Interpretação por escrito da música “Planeta Água”.
7º ENCONTRO – Aprendendo a argumentar através do debate
I. Preparação através de pesquisas na Internet, revistas e jornais para
organizar os argumentos para o debate: “No Futuro poderá faltar água no planeta”.
Por que, se a Terra é o Planeta Água?
8º ENCONTRO
I. Elaboração das perguntas para as entrevistas com o Secretário do Meio
Ambiente e pessoa idosa da comunidade.
9º ENCONTRO – Produção Coletiva
I. Produção de um texto coletivo em forma de “carta aberta” pela não
agressão e conservação do meio ambiente.
10º ENCONTRO
I. Palestra com um representante da Secretaria do Meio Ambiente
11º ENCONTRO
I. Apresentação de novos vídeos do personagem Sugismundo.
II. Saída para observação da limpeza da escola.
12º ENCONTRO
I. Confecção de cartazes para a campanha da escola limpa.
13º ENCONTRO – Produção Final
I. Produção de texto: carta aberta à população mundial em favor
do meio ambiente.
14º ENCONTRO – Reescrita de textos
I. Reescrita de dois textos no quadro com auxílio dos alunos.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Iniciaram-se as atividades com a apresentação da proposta aos alunos e a
forma como ela seria desenvolvida. Realizou-se a sondagem sobre o conhecimento
que eles já possuíam sobre o gênero discursivo a ser trabalhado e para ampliá-lo e
desenvolver maior interesse, foram apresentados exemplares dos dois tipos de
correspondências para análises e comparação entre ambas evidenciando os
elementos estruturais do gênero discursivo “carta aberta”.
De modo geral o grupo demonstrou entender que para manter o ambiente
educacional limpo haveria a necessidade da colaboração de todos indistintivamente,
pois é indispensável a utilização das lixeiras cooperando assim com os funcionários
da limpeza para manter o ambiente mais agradável.
Realizou-se na escola uma “palestra” em que se fez presente um representante
da secretaria do “Meio Ambiente”. Inicialmente ele relacionou as ações necessárias
para combater o “desequilíbrio ambiental” e discorreu sobre vários temas, mas se
fixou em alguns como lixo, água e cuidados necessários com o ambiente. Realizou
ações reflexivas em que os alunos em grupos organizaram e apresentaram formas de
se cuidar do meio ambiente. Ao finalizar distribuiu- se cartilhas confeccionadas pela
própria Secretaria do Meio Ambiente contendo atividades lúdicas sobre o que foi
trabalhado como cruzadinhas, caça-palavras, labirintos, adivinhas etc. e marcou -se
para uma data próxima outras duas atividades: cineminha e teatrinho
Finalmente os alunos foram convidados a produzir individualmente a “carta
aberta” dirigida à população mundial alertando sobre a necessidade de se cuidar do
Meio Ambiente. Para realizar este trabalho retomou-se a atividade da escrita coletiva
trabalhada anteriormente para então iniciar-se a escrita individual. Observou-se nesta
atividade que as ações trabalhadas nos cinco módulos surtiram o efeito esperado,
pois de maneira geral eles souberam argumentar relacionando os motivos pelos
quais existe a necessidade urgente do homem cuidar do meio ambiente se quiser
garantir um futuro saudável neste planeta.
Faz-se necessário acrescentar que ao convidar o representante da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente para a palestra, o mesmo lançou um convite à escola
para participar de um Projeto mensal desenvolvido pela Prefeitura Municipal sobre o
Meio Ambiente. Através da participação nesse projeto da prefeitura veio o
enriquecimento de conhecimentos, aumentando o interesse pelo meio ambiente e a
necessidade de preservá-lo. Aproveitando este interesse, foi desenvolvida a
sequência didática visando o domínio do gênero discursivo “carta aberta” de forma
gradual. Por se tratar de um gênero argumentativo, a maioria das atividades foram
direcionadas no sentido de desenvolver no aluno o exercício da argumentação e
posicionamento na defesa de suas ideias elaborando uma sequência de itens
necessários à conservação ambiental, como verificaremos a seguir ao analisarmos os
trabalhos em questão:
Texto 1. Fonte: a autora.
Observa-se nesse texto, que a estruturação da carta aberta está coerente. Na
introdução o aluno já evidencia o assunto a ser tratado e a seguir expõe os
argumentos, fundamentando-os sob seu ponto de vista. Após uma indagação,
conclama a população mundial explicitando o que deve ser feito para que o pior não
aconteça. Todos os elementos da carta aberta estão presentes no texto: o título, a
introdução, o desenvolvimento com a análise do problema e a conclusão apelativa
para a resolução do mesmo. Do ponto de vista estético, os parágrafos estão corretos
e a pontuação também, atividades estas que foram trabalhadas de forma intensa
durante a formulação do texto coletivo no Módulo 4.
Texto 2. Fonte: a autora.
Nesse texto o aluno faz uma introdução direta sobre o motivo de seu apelo e já
aponta culpados, argumentando a seguir porque os considera assim. Seu apelo busca
ser convincente e em determinado momento relaciona a escola em sua
argumentação, demonstrando entender a possibilidade e necessidade de também
colaborar nos cuidados com o meio ambiente no espaço educacional em que está
integrado. E concluiu com um apelo direcionado aos destinatários. Observa-se que
embora apresente alguns erros ortográficos, trocas de letras e paragrafação, o texto
apresenta os elementos estruturais da carta aberta, onde podemos concluir que o
objetivo foi alcançado, pois eles souberam se posicionar na defesa de suas ideias,
argumentando com convicção. Elaboraram uma sequência de itens necessários à
conservação ambiental, contrapondo-os aos atos errôneos que culminaria com a
destruição ambiental se os mesmos não forem seguidos.
De modo geral, é possível observar que eles souberam colocar no papel o que
aprenderam, porém vale ressaltar que perdurou a necessidade de trabalhar de forma
mais abrangente questões de gramática e ortografia especificamente. Embora o
trabalho com a sequência didática envolva inicialmente o domínio de determinado
gênero na produção textual, fazendo com que o aluno saiba se posicionar em
diferentes situações de comunicação, abemos que durante esse processo o professor
irá se deparar com erros de sintaxe e ortografia, o que se reverterá em informações
preciosas para que ele possa elaborar uma intervenção em momento oportuno.
Sem querer negar a importância da ortografia, é necessário atribuir-lhe seu devido
lugar: um problema de escrita, sem dúvida, mas que, como tal, deve ser tratado, de
preferência, no final do percurso, após o aperfeiçoamento de outros níveis textuais.
Isso permite não só centrar os esforços em problemas textuais, mas também evita
sobrecarregar o aluno com a correção de palavras ou de passagens que serão
suprimidas. Entretanto, uma revisão fina, de um ponto de vista estritamente
ortográfico, é necessária. Porém, ela deve ser realizada na versão final do texto.
Deve-se insistir, particularmente, na importância dessa higienização ortográfica nos
textos que serão lidos por outros, seja na sala de aula seja onde for. Este é o texto de apresentação da Coleção de Livros Didáticos Exprimir-se em
francês Seqüências Didáticas para o Oral e a Escrita, Joaquim Dolz, Michèle
Noverraz e Bernard Schneuwly (dirs.).
Mas, enfim, os alunos de modo geral empenharam-se para fazer o melhor e ao
mesmo tempo perceberam a necessidade de preservar o meio ambiente pensando no
futuro que virá.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve por objetivo comprovar até que ponto é possível estimular
nos alunos e alunas, avanços nos níveis da escrita, tendo como apoio o tema Meio
Ambiente. Intencionou-se trabalhar conjuntamente as duas questões que mostram -se
fragilizadas na escola: a escrita e as ações dentro do espaço educacional que
demonstram desinteresse de nossos jovens por causas que dependerão futuramente
deles como cidadãos atuantes, para serem sanadas.
Ao longo deste estudo percebeu-se a necessidade de se buscar novas técnicas
e estratégias que visassem despertar nos alunos o interesse pela prática da escrita,
pois vivemos numa época em que o mundo fora dos muros escolares apresenta-se
mais atrativo para eles.
A indiferença e apatia de nossos adolescentes reflete-se também no seu dia a
dia, através de assuntos que embora inicialmente eles demonstrem não conhecer,
estão diretamente ligados a sua vida e bem estar, sem esquecer que são eles, os
jovens, a peça chave para as transformações que se almeja principalmente quando o
assunto é meio ambiente.
Nesse sentido com um tema que eles conhecem, pois faz parte de seu cotidiano
buscou-se reverter esse quadro. E quando a intenção é conquistar o aluno para a
atividade trabalhada nada melhor do que fazê-los participar como personagem ativo
da história. Neste caso, objetivou-se levá-los a reflexão sobre seu comportamento em
relação ao meio ambiente na escola, incluindo-os como responsáveis pela reversão
de uma situação implantada em nosso meio. E isso foi possível através das ações
realizadas com a “sequência didática”, de Schneuwly e Dolz (2004), que permite um
trabalho em etapas envolvendo diversos gêneros textuais, mas focando num
especificamente, que neste caso foi a carta aberta, um gênero argumentativo, que
embora ainda seja desconhecido para a maioria dos estudantes do ensino
fundamental, é um instrumento valiosíssimo nos dias atuais, pois oportuniza ao
cidadão mostrar sua indignação diante dos problemas que o preocupam e visa atingir
o maior número de pessoas ao mesmo tempo.
O resultado deste trabalho foi positivo, pois os alunos souberam colocar no
papel sua indignação pelos maus tratos do homem ao meio ambiente, entendendo
que para que mudanças ocorram é preciso cuidar inicialmente de sua casa, sua
comunidade e escola, percebendo a necessidade de adequar seu discurso à escrita,
através do gênero discursivo propício para o momento.
Trazer o aluno como personagem atuante na história, significa ouvir o que ele
tem para contar, aceitar a bagagem cultural que ele traz consigo, ou seja, conquistá-lo
para o trabalho da escrita, fazendo- o entender que o que ele escreve faz sentido, tem
uma finalidade, um objetivo.
É possível então concluir que os objetivos traçados foram alcançados pois
houve um avanço na escrita dos alunos envolvidos, levados principalmente pelo
entendimento e vontade de participar como cidadãos atuantes no meio em que vivem.
Nesse desafio foi possível focar o comportamento “leitor” e “escritor” de nossos
alunos, incentivando-os a reflexões. Essa prática serve como suporte aberto a
intervenção, ampliação e/ou criação de outras.
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal
maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática”. (Paulo Freire, 2007,
p.47)
REFERÊNCIAS:
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