os desafios da escola pÚblica paranaense na … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
OBRAS DE PORTINARI: GEOGRAFIA, ARTE E CONHECIMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL
Adriane de Fátima Borges1
Julio Manoel França da Silva2
RESUMO Este trabalho busca a interdisciplinaridade entre Geografia, Arte e História na prática de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados em alguns conteúdos de Geografia a partir de algumas Obras de Cândido Portinari. Trabalhar as obras de arte, como forma de articulação entre Geografia e Arte enriquece a compreensão de tais conteúdos. O ensino da Geografia escolar durante muito tempo foi marcado por aulas meramente expositivas e decorativas. Por isso, a necessidade de repensar as aulas buscando na Arte, especialmente as pinturas, uma forma de dinamizar as aulas, pois esta possui um grande conjunto de abordagens capazes de serem trabalhadas. Para as DCE's (...) explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas especialidades, chamam umas as outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento (PARANA, 2008, p. 27). Para o ensino da Geografia é extremamente importante à formação de um aluno capaz de analisar, refletir e compreender o espaço geográfico, por isso que a leitura de diferentes linguagens faz parte da construção no processo de ensino e aprendizagem. Neste sentido, objetiva-se contextualizar conteúdos básicos de geografia a partir das obras: Retirantes, Café e Favela do artista Cândido Portinari. Palavras-Chave: Geografia e Arte; Cândido Portinari; Interdisciplinaridade.
RESUMEN Este trabajo busca la interdisciplinariedad entre la Geografía, el Arte y la Historia en la práctica de enseñanza con alumnos del séptimo año de primaria, centrándose en el estudio de la contextualización de los aspectos sociales trabajados en algunos de los contenidos de Geografía con base en las Obras de Cândido Portinari. Trabajar con obras de arte como una forma de articular Geografía y Arte enriquece la comprensión de estos contenidos. La enseñanza de Geografía durante mucho tiempo ha sido marcada por clases meramente expositivas y de memorización. Por lo tanto, la necesidad de repensar las clases que buscan en el arte, especialmente en las pinturas, una forma de dinamización, ya que este tiene un gran conjunto de enfoques capaces de ser trabajado. Las DCE’s(...) expresan que las disciplinas
1 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2000). Especialista em
Geografia e Desenvolvimento Regional Pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora da rede pública estadual desde 2002. 2 Professor Orientador, Mestre e Doutorando em Geografia, Departamento de Geografia da
Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), Campus Irati. Email: [email protected]
escolares no son herméticas, cerradas en sí mismas, sino que desde sus especialidades, se llaman entre sí y, juntas, amplian el enfoque de los contenidos de manera que cada vez más se encuentre la totalidad, en una práctica pedagógica que tenga en cuenta las dimensiones científicas, filosóficas y artísticas del conocimiento(Paraná, 2008, p. 27). Para la enseñanza de geografía es sumamente importante la formación de un estudiante que sea capaz de analizar, reflexionar y comprender el espacio geográfico, así que la lectura de diferentes lenguajes forma parte del proceso de construcción de la enseñanza y del aprendizaje. Por todo lo antes dicho, el objetivo es contextualizar los contenidos básicos de la geografía con base en las obras: Retirantes, Café e Favela do artista Cândido Portinari.
Palabras Clave: Geografía y Arte; Cândido Portinari; Interdisciplinaridad.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como título Obras de Portinari: Geografia, Arte e
Conhecimento no ensino fundamental, dando enfoque à produção de um caderno
pedagógico, sendo esta, uma das atividades propostas no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), utilizada no momento da implementação do
projeto na escola. Este, por sua vez, foi desenvolvido na Escola Luíza Rosa
Zarpellon Pinto, com a turma do 7º ano do ensino fundamental.
O presente trabalho surgiu com a intenção de provocar reflexões, utilizando
obras de arte de Cândido Portinari, como linguagem não verbal na comunicação dos
conteúdos geográficos, pois o conjunto de reflexões que compõem essa pesquisa
estabelece uma busca de agregar geografia, arte e história na aprendizagem dos
conteúdos geográficos. O interesse por essa interligação tem sua gênese na prática
docente diária, na qual vem se buscando possibilidades interdisciplinares,
procurando explorar a vertente da produção artística nacional, como uma alternativa
para trabalhar os conteúdos da geografia.
É importante priorizar aos alunos o acesso a uma escola de qualidade, que
oportunize a construção de uma sociedade justa, igualitária e que assuma seu papel
como lugar de socialização do conhecimento, com conteúdos disciplinares
contextualizados e relações interdisciplinares. Assim:
(...) explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas especialidades, chamam umas as outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento (PARANA, 2008, p. 27).
A ênfase do trabalho incide no desenvolvimento de um conjunto de
processos metodológicos, cujo objetivo é promover a leitura e a percepção,
contextualizando conteúdos básicos de Geografia a partir das Obras: Retirantes,
Café e Favelas do artista Cândido Portinari.
A Arte, especialmente as pinturas, possui um grande potencial de
abordagem didática, podendo promover dinamismo e ludicidade nas aulas de
Geografia. Neste sentido, torna-se importante permitir o uso de ferramentas
alternativas tais como música dança, cinema, arte, entre outros, visando sempre o
desenvolvimento da aprendizagem do aluno. As obras do artista Cândido Portinari
apresentaram-se de forma significativa para trabalhar as questões sociais
brasileiras, de forma contextualizada e criativa.
Nesse sentido, a imagem é de fundamental importância, uma vez, que está
presente em praticamente todas as atividades que são desenvolvidas no cotidiano
dos alunos, possuindo grande conjunto de informações e significados, tal como
pondera Pontuschka, 2009, p. 278):
As imagens estão a invadir nossas casas, os painéis e outdoors, acompanhando-nos onde quer que estejamos. Vivemos no mundo das imagens e pouco sabemos sobre elas (...) às vezes elas são tantas e passam tão rapidamente diante de nossos olhos, que mal podemos vê-las e ter a oportunidade de selecioná-las com propriedade.
Portanto, faz-se necessário trabalhar a imagem não somente como
ilustração, mas como complementação, articulando-a com os conteúdos escolares.
Todavia, a linguagem imagética vem de maneira a auxiliar as aulas, indicando de
que maneira podemos olhar e interpretar a materialidade geográfica existente,
permitindo aos professores e alunos explorar diferentes formas de trabalhar em sala
de aula, uma vez que esta nos proporciona saberes, nos ensina através de sua
simbologia, transmite mensagens cumprindo com seu papel, assim como as
palavras os fazem, ou seja, “as imagens passam mensagens com uma configuração
próxima da oralidade, o que explica em parte por que os conteúdos das imagens são
mais fortes para as pessoas do que o conteúdo de um texto” (PONTUSCHKA apud
ALMEIDA, p.281).
Desta forma, a linguagem imagética tem como proposta pedagógica a
articulação nas diferentes fases do processo ensino aprendizagem, possibilitando a
interpretação e ao mesmo tempo estimulando um ser crítico em busca de
conhecimento.
Diante do exposto, o presente estudo pretende aliar as disciplinas de
geografia e arte, procurando trabalhar de forma agradável e com possibilidades de
construir conhecimento de forma alternativa e dinâmica.
Para Kaercher apud Castrogiovanni, (2003, p.11), “entender a dinâmica
social é fundamental, pois é a partir dela que se constroem as paisagens”.
Esse é um conceito em que a Geografia e a arte interagem, promovendo um
diálogo possível de interpretar, analisar, avaliar e compreender melhor a sociedade e
o meio onde vivem.
Objetivamos com as obras de Cândido Portinari, um artista brasileiro, com
obras de caráter expressionista, chamar a atenção dos alunos para diferentes
problemas sociais que existiam no passado e que ainda permanecem no século XXI
como a pobreza, as condições de vida, o trabalho pesado no campo, à seca, entre
outros. Contextualizar estes e outros conteúdos de Geografia utilizando suas obras é
enriquecedor para o professor e os alunos. “A Arte pode intrigar porque sugere
várias interpretações ao espectador. A arte pode também ensinar quando a obra
apresenta imagens históricas, retratos ou temas sociais” (ROSA e SCLÉA, 2006,
p.15).
Acreditamos que trabalhar a Geografia a partir das obras de Cândido
Portinari, poderá propiciar aos alunos uma nova leitura de mundo, de sociedade, um
entendimento do espaço geográfico, uma vez que somos agentes transformadores
deste mesmo espaço, considerando ainda que “a geografia tem como objetivo
compreender a vida de cada um de nós desvendando os sentidos, os porquês das
paisagens que vivemos e que vemos serem como são” (KAERCHER, 2003, p.13).
Buscando uma reflexão sobre a prática em sala de aula, sentimos que é
necessário e ao mesmo tempo desafiador almejar espaços criativos, uma vez que, o
processo ensino aprendizagem também ocorre pelo contexto escolar lúdico. Para
isso, é necessário que os nossos alunos participem e sintam-se parte do processo,
promovendo valores e atitudes na construção de uma sociedade, ou seja, de um
espaço geográfico melhor para todos.
Desta forma, elaboram-se diferentes estratégias com o propósito de
contribuir com o aprendizado. Este trabalho além de cooperar com o ensino
possibilitou o entendimento de expressões culturais em diferentes períodos
históricos existentes.
O material pedagógico foi desenvolvido com alunos do 7º ano da Escola
Estadual Luíza Rosa Zarpellon Pinto. Primeiramente foi desenvolvida uma avaliação
diagnóstica com os alunos sobre o tema que seria abordado, analisando assim, o
conhecimento deles em relação à temática proposta.
O tema proposto foi trabalhado a partir de pesquisas na biblioteca e no
laboratório de informática onde puderam averiguar a vida e algumas obras do artista
Cândido Portinari, realizando uma visita virtual pelo Museu Cândido Portinari.
Foram realizadas leituras, questionamentos, releituras das imagens,
produção textual, aula de campo e produções de painéis que, permitiram identificar
algumas situações relevantes constatadas a partir do uso das obras selecionadas
como forma de auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, esta
faz pensar e refletir situações cotidianas no contexto do espaço geográfico.
2 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
No mundo globalizado em que vivemos, onde a informação acontece de
forma extremamente rápida, o educador deve ter sempre em mente a preocupação
de estar sempre mudando e refletindo a sua prática de ensino, buscando novas
alternativas metodológicas e didáticas. Para isso, faz-se necessário explorar os mais
variados recursos disponibilizados pelas escolas como a TV multimídia, laboratório
de informática, projetores, lousa interativa, entre outros, que venham a contribuir
para a motivação da aprendizagem dos alunos, principalmente dos conteúdos de
Geografia, para que ocorra de maneira mais prazerosa. Dessa forma, professores e
alunos têm a oportunidade de juntos adquirirem conhecimentos, bem como
socializá-los de maneira crítica, buscando a compreensão do espaço em que se vive
e a possibilidade de mudanças significativas para a transformação da sociedade.
Dantas e Morais (2007) enfatizam que não se pode mais negar que a
imagem, a forma como é produzida e interfere no cotidiano, é um grande patrimônio
cultural legado do Século XX para o XXI. Ela tornou-se uma espécie de carimbo
existencial que acompanha o educador em seu oficio, mesmo que não faça parte do
seu repertório de ações e reflexões no exercício de leitura do mundo. A imagem
ultrapassa o código da escrita e se instaura no seio do processo educativo, trazendo
à superfície o que já se sabia, mas pouco se explorava, ou seja, o fato de que “ver
precede as palavras”.
Sobre o exposto, cabem as palavras de Paulo Freire (1988), em que a leitura
do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua
experiência existencial. A leitura do mundo foi sempre fundamental para a
compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e
transformá-lo através de uma prática consciente. Berger (1999, p.09), complementa
quando enfatiza que “o ato de ver estabelece nosso lugar no mundo circundante.
Ainda, segundo Berger (apud ZATTA, 2009), o olhar chega antes da palavra,
significando que os seres humanos antes de aprenderem a falar, comunicam-se com
o mundo por meio da visão. Estudos indicam que o aprendizado ocorre através do
gosto em cerca de 1%, do tato 1,5%, do olfato 3,5%, da audição 11% e da visão
83%.
Diante disso, pode-se perceber que o ensino por meio de imagens torna a
aprendizagem mais atrativa para os alunos, visto que sua utilização tem forte apelo
emocional quebrando o ritmo da sala de aula, pois se altera a rotina da sala de aula
quando se utiliza algo diferente, bem como, facilita a apresentação dos conteúdos
pelo professor.
Para Dantas e Morais (2007), vive-se em um mundo imerso de imagens e o
ensino da Geografia tem nelas um campo aberto a ser desbravado. Para além dos
registros cartográficos que se revelam por meio de mapas ou imagens de satélites,
forma-se outro conjunto abrangente de dados e informações que podem ser
perscrutados nas e pelas imagens. Levar a iconografia para a sala de aula se
constitui numa possibilidade de ensinar Geografia numa perspectiva contemporânea
e complexa.
Ainda, para as autoras, a iconografia se impõe à sociedade moderna como
fonte inesgotável de revelações e possibilidades de aprendizagem, da anunciada
unidade terrestre; e, o olhar como caminho para adentrar e compreender o labirinto
espacial em que se transformou a Terra.
Sobre o exposto, La Blache (1985), ao eleger a observação/descrição como
caminho para interpretar a realidade, transforma o geógrafo em um sujeito
privilegiado para olhar e encontrar aquilo que apenas se mostra, sem jamais falar.
Em outras palavras, o geógrafo está imerso no mundo das imagens, estejam elas
grafadas em suportes diversificados, estejam elas disponíveis no grande cenário que
é a paisagem. Ensinar a olhar as imagens do mundo se constitui o desafio do
professor de geografia.
Ausubel (1968 apud ZATTA, 2009), ao trabalhar com a psicologia da aprendizagem,
afirma que o indivíduo dá significado ao que aprende quando ocorreram as
quatro condições a seguir: O material a ser estudado deve ser significativo, ou seja,
os elementos devem ter sentido próprio e não estar sobrepostos. Um exemplo de
quando isso ocorre é buscar a aprendizagem em geografia das capitais dos países
sem estabelecer nenhuma relação desse conhecimento com a população que as
habitam. O autor considera ainda que:
O aluno deve ter predisposição para a aprendizagem significativa. Essa
predisposição pode ser gerada pela utilização de materiais que movam a
vontade do aluno para que aprenda. Como exemplo disso, tem-se a
aprendizagem de conceitos de cidade com a utilização de imagens em que o
aluno possa comparar o fenômeno tratado e também fazer uso da fala,
diferentemente do que aconteceria se fosse realizado com cópias de livros ou
explicações descontextualizadas.
O aluno deve ter uma estrutura cognitiva que permita relacionar o novo
material a ser aprendido com o que já possui. Ou seja, não se pode exigir que
o aluno soubesse.
O professor deve organizar o conteúdo de forma que contemple os itens a
interpretar uma planta cartográfica se ainda não tem noções de orientação.
Para isso, é necessário fazer uso dos organizadores prévios, ou seja, dos
materiais e conhecimentos que servem para conexão entre o indivíduo que já
sabe e o que ele deve saber. Esses materiais têm maior nível de
generalização e permitem ao aluno que incorpore em sua estrutura cognitiva
o novo material com menor generalização.
Com o exposto, percebe-se que a metodologia, o material didático, a
predisposição do professor e do aluno no processo de ensino aprendizagem são
determinantes para que ocorra uma melhor compreensão sobre o conteúdo, bem
como, para a aprendizagem do conhecimento escolar.
3 RESULTADOS
3.1 ATIVIDADES REALIZADAS NA ESCOLA LUÍZA ROSA ZARPELLON PINTO
Nas atividades relacionadas com a obra Retirantes, no geral os alunos
entendem que as pessoas expressam sofrimento, cansaço, angústia. No entanto,
almejam uma vida melhor, já que muitos vão à busca de trabalho. Mas relatam
também, que eles os retirantes, devem ter sensações como tristeza de deixar os
familiares, amigos, vizinhos, bem como saudades, medo de enfrentar o
“desconhecido”.
Na obra Café, por sua vez, o que chamou atenção foi às mãos e pés, dos
trabalhadores, segundo a maioria dos alunos que participaram das atividades esta
se da devido ao uso da força em ter que levantar “carregar” as sacas de café em
seus braços, por isso, a desproporcionalidade em relação ao corpo, destacando
também uma fisionomia de cansaço e dor.
Finalmente na obra Favela, os alunos relataram que a localização destes
espaços se da em áreas mais distantes do centro da cidade, bem como são lugares
com menor infraestrutura, dando destaque também, sobre o poder aquisitivo destas
pessoas, onde dizem que são mais “pobres”. Outro fator que destacam, é que as
pessoas das favelas correm maiores riscos, se referindo à violência de maneira
geral. Porém, tais dificuldades não impediriam que os moradores destes lugares
vivam bem e felizes.
As figuras 1 a 4 referem-se a releitura das obras mencionadas a partir de
ilustrações elaboradas pelos alunos.
Figura 01: Releitura da obra Retirantes
Figura 02: Releitura da obra Favela
Figura 03: Releitura da obra Favela
Figura 04: Releitura da obra Café
3.2 ATIVIDADES VINCULADAS AO GTR (GRUPO DO TRABALHO EM REDE)
Faz- se aqui uma análise sobre a prática docente com relação à temática
abordada, realizada pelos professores de Geografia que se inscreveram para
realizar o curso do GTR (Grupo do Trabalho em Rede) PDE 2013.
A prática docente proporcionou-nos socializarmos ideias e experiências
sobre o conteúdo proposto, sendo assim, é importante destacar alguns aspectos
comentados e que vivenciamos em muitas das escolas paranaenses e brasileiras.
A primeira temática foi focada sobre o estudo do projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola, Obras de Portinari: Geografia, Arte e Conhecimento no
Ensino Fundamental. As discussões proporcionaram aos cursistas uma visão de
como utilizar a Arte neste caso às pinturas como forma de auxiliar nossas aulas.
O fórum possibilitou uma discussão com muita interação sobre as
possibilidades de desenvolver diferentes metodologias, trabalhar de forma
interdisciplinar levando uma maior dinamicidade, despertando no aluno uma
imaginação e uma melhor compreensão e contextualização dos conteúdos
trabalhados na Geografia, proporcionando assim, um resultado mais significativo no
processo de ensino- aprendizagem. Foi elencado também, que os alunos podem
compreender melhor as aulas, evitando aquela metodologia onde os eles precisam
decorar os conteúdos sem saber relacionar os fatos com seu cotidiano.
“A observação informal e também a observação sistemática de fatos ou fenômenos do cotidiano, a capacidade de registrá-los, usando diferentes recursos e linguagens, bem como de ouvir as pessoas sobre determinados objetos para conhecer as representações...são procedimentos que alargam e aprofundam a reflexão, porque ensejam a passagem de uma representação metafórica a uma representação cada vez mais conceitualizada, na qual as relações resultantes permitem a produção de novos conhecimentos”. (PONTUSCHKA, 2009, p.109).
Com base na atividade do diário, onde foi proposto um texto para analisar as
possibilidades de trabalhar as obras de Portinari propostas no projeto, percebi que
os cursistas concordam e trabalham com diferentes formas de linguagens, dando
enfoque a interdisciplinaridade, pois esta forma de trabalhar colabora para um
melhor entendimento do espaço geográfico. A arte, neste caso a pintura nos
possibilita usar o imaginário e a partir disso fazer uma relação contextualizada com o
passado e o atual. Sendo assim, vejo que é possível trabalhar de forma mais lúdica
possibilitando uma melhor compreensão onde estas contribuirão para a formação do
aluno, bem como percebendo as particularidades da sociedade, como questões
naturais, sua formação cultural, as relações de poder, política, econômica e social
que acontecem no processo de construção do espaço geográfico.
A segunda parte foi focada sobre o estudo da Produção Didática Pedagógica.
As discussões proporcionaram uma análise em relação a viabilidade de aplicação
desta.
O Fórum e o Diário permitiram uma socialização possibilitando uma interação
sobre as possibilidades de desenvolvimento deste trabalho, onde os professores
fazem alguns questionamentos em relação às dificuldades que podem ocorrer, uma
vez que muitas escolas enfrentam problemas sobre o laboratório de informática,
como dificuldade produção de conexão, falta de equipamentos para todos os alunos,
outro obstáculo é o setor financeiro para realizar visita de campo, entre outras...
Outra questão levantada é a falta de acesso relacionada a esta forma de
conhecimento histórica e cultural (Obras de Arte, Pinturas). No entanto, a escola tem
como objetivo iniciar estas descobertas e incentivar nossos alunos a perceberem e
valorizarem nossa cultura através da arte, sendo esta uma forma de sensibilizar e
possibilitar o desenvolvimento do senso crítico.
Durante as discussões dos cursistas percebeu-se que todas as atividades
podem ser desenvolvidas, em algumas escolas com maior facilidade outras menos.
Dentre as atividades propostas a visita ao Museu, foi bastante comentada, pois
muitos alunos não têm oportunidade de conhecer esses espaços ricos em
conhecimento. Interessante também que os professores comentam as várias
possibilidades de reflexão, compreensão despertando o desenvolvimento da
criticidade no processo de construção de cidadania.
A Arte é aliada no processo educacional, dando destaque para as pinturas
neste caso as Obras de Portinari, pois estas proporcionam trabalhar de forma
contextualizada relacionando-as com o espaço geográfico, possibilitando um ensino
mais significativo para nossos alunos.
Segundo Filizola (2009,p.88),“a leitura e interpretação dessas formas de
expressão das linguagens nas nossas aulas devem estar a serviço do
desenvolvimento do olhar geográfico, da interpretação geográfica do mundo que nos
cerca, e não o inverso”.
Na sequencia a proposta foi socializar as ações já desenvolvidas do projeto e
caderno pedagógico, bem como destacar algumas idéias referente ao fórum
Vivenciando a Prática. Todavia os professores contribuíram de forma bastante
significativa, onde a participação dos mesmos é muito importante para analisar e
compartilhar idéias sobre a prática pedagógica, em especial o de geografia. Num
primeiro momento, percebi que os professores encontram muitas dificuldades
estruturais no desenvolvimento de atividades diferenciadas, no que diz respeito ao
laboratório de informática, pois este ainda carece de ajustes no sentido de
funcionamento das máquinas, velocidade, números de computadores, etc. Outra
questão que merece destaque é a realização de uma aula de campo, dando
exemplo à visita ao museu se torna muito difícil, uma vez que, esta necessita de
recursos financeiros, sendo este o principal problema enfrentado pela escola e o
professor. Outras questões também foram comentadas, como falta de um espaço
para a maioria das escolas, onde estas pudessem desenvolver atividades mais
lúdicas e assim um ensino mais significativo.
É preciso ressaltar também que houve avanços importantes na educação,
onde o próprio PDE surge como forma de melhorar o nível de conhecimento dos
professores, como consequência melhorar a aprendizagem de nossos alunos, mas
ainda precisamos avançar.
Importante destacar também que os professores, embora encontrando tantas
dificuldades, ainda buscam formas diferenciadas de trabalhar com os alunos,
acreditam que é possível mudar a qualidade do ensino. Pensando assim e, agindo
desta forma acredito que teremos uma melhoria em nossas aulas, lembrando
sempre que, a educação deve ser um esforço de todos: Governo, pais, professores
e sociedade. Quando todos os envolvidos trabalharem com um único objetivo que a
formação de todos com qualidade, a cidadania acontecerá de fato.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho possibilitou novos olhares, pois a interação desenvolvida com
os professores e alunos enriquecem a temática e oferece sempre um novo
aprendizado. Ressalta-se que a busca por novas metodologias se dá pela atuação
dos docentes e que estas são fundamentais para a melhoria das aulas,
consequentemente do ensino. A participação e a socialização em todas as temáticas
demonstraram que a interdisciplinaridade contribui para o processo educacional.
O conjunto de reflexões que proporcionou este trabalho, estabelecendo uma
interconexão entre a Geografia, arte e demais disciplinas, possibilitou novos olhares
e uma metodologia alternativa para se trabalhar os conteúdos de geografia de forma
mais dinâmica e significativa.
Com o avanço crescente da internet e das chamadas mobilidades virtuais,
que promovem uma rapidez na circulação de informações acabam muitas vezes,
tornando a escola desinteressante para os alunos. Sendo assim, todo esforço para
envolver o aluno no processo de ensino e aprendizagem torna-se importante e se
faz necessário à reconstrução de novas formas de ensinar.
Nesse contexto, busca-se resgatar o encanto do ensino da geografia para os
alunos, sendo necessário explorar temas e áreas pouco conhecidas, relacionando-
as aos conteúdos a serem trabalhados considerando as experiências cotidianas dos
alunos.
Entretanto, é importante a utilização de ferramentas alternativas como: a
pintura, a música, a dança, o cinema, o teatro, entre outros, visando sempre o
desenvolvimento da aprendizagem.
As obras do artista Candido Portinari, contribuíram de forma expressiva para
trabalhar as questões naturais, econômicas, políticas, históricas, culturais, sociais
brasileiras, de forma contextualizada e criativa, proporcionando assim, a melhoria e
a qualidade do processo educacional de nossos alunos.
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