os desafios da escola pÚblica paranaense na … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino...

17
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Upload: lamdieu

Post on 23-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

OBRAS DE PORTINARI: GEOGRAFIA, ARTE E CONHECIMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Adriane de Fátima Borges1

Julio Manoel França da Silva2

RESUMO Este trabalho busca a interdisciplinaridade entre Geografia, Arte e História na prática de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados em alguns conteúdos de Geografia a partir de algumas Obras de Cândido Portinari. Trabalhar as obras de arte, como forma de articulação entre Geografia e Arte enriquece a compreensão de tais conteúdos. O ensino da Geografia escolar durante muito tempo foi marcado por aulas meramente expositivas e decorativas. Por isso, a necessidade de repensar as aulas buscando na Arte, especialmente as pinturas, uma forma de dinamizar as aulas, pois esta possui um grande conjunto de abordagens capazes de serem trabalhadas. Para as DCE's (...) explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas especialidades, chamam umas as outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento (PARANA, 2008, p. 27). Para o ensino da Geografia é extremamente importante à formação de um aluno capaz de analisar, refletir e compreender o espaço geográfico, por isso que a leitura de diferentes linguagens faz parte da construção no processo de ensino e aprendizagem. Neste sentido, objetiva-se contextualizar conteúdos básicos de geografia a partir das obras: Retirantes, Café e Favela do artista Cândido Portinari. Palavras-Chave: Geografia e Arte; Cândido Portinari; Interdisciplinaridade.

RESUMEN Este trabajo busca la interdisciplinariedad entre la Geografía, el Arte y la Historia en la práctica de enseñanza con alumnos del séptimo año de primaria, centrándose en el estudio de la contextualización de los aspectos sociales trabajados en algunos de los contenidos de Geografía con base en las Obras de Cândido Portinari. Trabajar con obras de arte como una forma de articular Geografía y Arte enriquece la comprensión de estos contenidos. La enseñanza de Geografía durante mucho tiempo ha sido marcada por clases meramente expositivas y de memorización. Por lo tanto, la necesidad de repensar las clases que buscan en el arte, especialmente en las pinturas, una forma de dinamización, ya que este tiene un gran conjunto de enfoques capaces de ser trabajado. Las DCE’s(...) expresan que las disciplinas

1 Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2000). Especialista em

Geografia e Desenvolvimento Regional Pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora da rede pública estadual desde 2002. 2 Professor Orientador, Mestre e Doutorando em Geografia, Departamento de Geografia da

Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), Campus Irati. Email: [email protected]

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

escolares no son herméticas, cerradas en sí mismas, sino que desde sus especialidades, se llaman entre sí y, juntas, amplian el enfoque de los contenidos de manera que cada vez más se encuentre la totalidad, en una práctica pedagógica que tenga en cuenta las dimensiones científicas, filosóficas y artísticas del conocimiento(Paraná, 2008, p. 27). Para la enseñanza de geografía es sumamente importante la formación de un estudiante que sea capaz de analizar, reflexionar y comprender el espacio geográfico, así que la lectura de diferentes lenguajes forma parte del proceso de construcción de la enseñanza y del aprendizaje. Por todo lo antes dicho, el objetivo es contextualizar los contenidos básicos de la geografía con base en las obras: Retirantes, Café e Favela do artista Cândido Portinari.

Palabras Clave: Geografía y Arte; Cândido Portinari; Interdisciplinaridad.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como título Obras de Portinari: Geografia, Arte e

Conhecimento no ensino fundamental, dando enfoque à produção de um caderno

pedagógico, sendo esta, uma das atividades propostas no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), utilizada no momento da implementação do

projeto na escola. Este, por sua vez, foi desenvolvido na Escola Luíza Rosa

Zarpellon Pinto, com a turma do 7º ano do ensino fundamental.

O presente trabalho surgiu com a intenção de provocar reflexões, utilizando

obras de arte de Cândido Portinari, como linguagem não verbal na comunicação dos

conteúdos geográficos, pois o conjunto de reflexões que compõem essa pesquisa

estabelece uma busca de agregar geografia, arte e história na aprendizagem dos

conteúdos geográficos. O interesse por essa interligação tem sua gênese na prática

docente diária, na qual vem se buscando possibilidades interdisciplinares,

procurando explorar a vertente da produção artística nacional, como uma alternativa

para trabalhar os conteúdos da geografia.

É importante priorizar aos alunos o acesso a uma escola de qualidade, que

oportunize a construção de uma sociedade justa, igualitária e que assuma seu papel

como lugar de socialização do conhecimento, com conteúdos disciplinares

contextualizados e relações interdisciplinares. Assim:

(...) explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas especialidades, chamam umas as outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento (PARANA, 2008, p. 27).

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

A ênfase do trabalho incide no desenvolvimento de um conjunto de

processos metodológicos, cujo objetivo é promover a leitura e a percepção,

contextualizando conteúdos básicos de Geografia a partir das Obras: Retirantes,

Café e Favelas do artista Cândido Portinari.

A Arte, especialmente as pinturas, possui um grande potencial de

abordagem didática, podendo promover dinamismo e ludicidade nas aulas de

Geografia. Neste sentido, torna-se importante permitir o uso de ferramentas

alternativas tais como música dança, cinema, arte, entre outros, visando sempre o

desenvolvimento da aprendizagem do aluno. As obras do artista Cândido Portinari

apresentaram-se de forma significativa para trabalhar as questões sociais

brasileiras, de forma contextualizada e criativa.

Nesse sentido, a imagem é de fundamental importância, uma vez, que está

presente em praticamente todas as atividades que são desenvolvidas no cotidiano

dos alunos, possuindo grande conjunto de informações e significados, tal como

pondera Pontuschka, 2009, p. 278):

As imagens estão a invadir nossas casas, os painéis e outdoors, acompanhando-nos onde quer que estejamos. Vivemos no mundo das imagens e pouco sabemos sobre elas (...) às vezes elas são tantas e passam tão rapidamente diante de nossos olhos, que mal podemos vê-las e ter a oportunidade de selecioná-las com propriedade.

Portanto, faz-se necessário trabalhar a imagem não somente como

ilustração, mas como complementação, articulando-a com os conteúdos escolares.

Todavia, a linguagem imagética vem de maneira a auxiliar as aulas, indicando de

que maneira podemos olhar e interpretar a materialidade geográfica existente,

permitindo aos professores e alunos explorar diferentes formas de trabalhar em sala

de aula, uma vez que esta nos proporciona saberes, nos ensina através de sua

simbologia, transmite mensagens cumprindo com seu papel, assim como as

palavras os fazem, ou seja, “as imagens passam mensagens com uma configuração

próxima da oralidade, o que explica em parte por que os conteúdos das imagens são

mais fortes para as pessoas do que o conteúdo de um texto” (PONTUSCHKA apud

ALMEIDA, p.281).

Desta forma, a linguagem imagética tem como proposta pedagógica a

articulação nas diferentes fases do processo ensino aprendizagem, possibilitando a

interpretação e ao mesmo tempo estimulando um ser crítico em busca de

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

conhecimento.

Diante do exposto, o presente estudo pretende aliar as disciplinas de

geografia e arte, procurando trabalhar de forma agradável e com possibilidades de

construir conhecimento de forma alternativa e dinâmica.

Para Kaercher apud Castrogiovanni, (2003, p.11), “entender a dinâmica

social é fundamental, pois é a partir dela que se constroem as paisagens”.

Esse é um conceito em que a Geografia e a arte interagem, promovendo um

diálogo possível de interpretar, analisar, avaliar e compreender melhor a sociedade e

o meio onde vivem.

Objetivamos com as obras de Cândido Portinari, um artista brasileiro, com

obras de caráter expressionista, chamar a atenção dos alunos para diferentes

problemas sociais que existiam no passado e que ainda permanecem no século XXI

como a pobreza, as condições de vida, o trabalho pesado no campo, à seca, entre

outros. Contextualizar estes e outros conteúdos de Geografia utilizando suas obras é

enriquecedor para o professor e os alunos. “A Arte pode intrigar porque sugere

várias interpretações ao espectador. A arte pode também ensinar quando a obra

apresenta imagens históricas, retratos ou temas sociais” (ROSA e SCLÉA, 2006,

p.15).

Acreditamos que trabalhar a Geografia a partir das obras de Cândido

Portinari, poderá propiciar aos alunos uma nova leitura de mundo, de sociedade, um

entendimento do espaço geográfico, uma vez que somos agentes transformadores

deste mesmo espaço, considerando ainda que “a geografia tem como objetivo

compreender a vida de cada um de nós desvendando os sentidos, os porquês das

paisagens que vivemos e que vemos serem como são” (KAERCHER, 2003, p.13).

Buscando uma reflexão sobre a prática em sala de aula, sentimos que é

necessário e ao mesmo tempo desafiador almejar espaços criativos, uma vez que, o

processo ensino aprendizagem também ocorre pelo contexto escolar lúdico. Para

isso, é necessário que os nossos alunos participem e sintam-se parte do processo,

promovendo valores e atitudes na construção de uma sociedade, ou seja, de um

espaço geográfico melhor para todos.

Desta forma, elaboram-se diferentes estratégias com o propósito de

contribuir com o aprendizado. Este trabalho além de cooperar com o ensino

possibilitou o entendimento de expressões culturais em diferentes períodos

históricos existentes.

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

O material pedagógico foi desenvolvido com alunos do 7º ano da Escola

Estadual Luíza Rosa Zarpellon Pinto. Primeiramente foi desenvolvida uma avaliação

diagnóstica com os alunos sobre o tema que seria abordado, analisando assim, o

conhecimento deles em relação à temática proposta.

O tema proposto foi trabalhado a partir de pesquisas na biblioteca e no

laboratório de informática onde puderam averiguar a vida e algumas obras do artista

Cândido Portinari, realizando uma visita virtual pelo Museu Cândido Portinari.

Foram realizadas leituras, questionamentos, releituras das imagens,

produção textual, aula de campo e produções de painéis que, permitiram identificar

algumas situações relevantes constatadas a partir do uso das obras selecionadas

como forma de auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que, esta

faz pensar e refletir situações cotidianas no contexto do espaço geográfico.

2 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

No mundo globalizado em que vivemos, onde a informação acontece de

forma extremamente rápida, o educador deve ter sempre em mente a preocupação

de estar sempre mudando e refletindo a sua prática de ensino, buscando novas

alternativas metodológicas e didáticas. Para isso, faz-se necessário explorar os mais

variados recursos disponibilizados pelas escolas como a TV multimídia, laboratório

de informática, projetores, lousa interativa, entre outros, que venham a contribuir

para a motivação da aprendizagem dos alunos, principalmente dos conteúdos de

Geografia, para que ocorra de maneira mais prazerosa. Dessa forma, professores e

alunos têm a oportunidade de juntos adquirirem conhecimentos, bem como

socializá-los de maneira crítica, buscando a compreensão do espaço em que se vive

e a possibilidade de mudanças significativas para a transformação da sociedade.

Dantas e Morais (2007) enfatizam que não se pode mais negar que a

imagem, a forma como é produzida e interfere no cotidiano, é um grande patrimônio

cultural legado do Século XX para o XXI. Ela tornou-se uma espécie de carimbo

existencial que acompanha o educador em seu oficio, mesmo que não faça parte do

seu repertório de ações e reflexões no exercício de leitura do mundo. A imagem

ultrapassa o código da escrita e se instaura no seio do processo educativo, trazendo

à superfície o que já se sabia, mas pouco se explorava, ou seja, o fato de que “ver

precede as palavras”.

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

Sobre o exposto, cabem as palavras de Paulo Freire (1988), em que a leitura

do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua

experiência existencial. A leitura do mundo foi sempre fundamental para a

compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e

transformá-lo através de uma prática consciente. Berger (1999, p.09), complementa

quando enfatiza que “o ato de ver estabelece nosso lugar no mundo circundante.

Ainda, segundo Berger (apud ZATTA, 2009), o olhar chega antes da palavra,

significando que os seres humanos antes de aprenderem a falar, comunicam-se com

o mundo por meio da visão. Estudos indicam que o aprendizado ocorre através do

gosto em cerca de 1%, do tato 1,5%, do olfato 3,5%, da audição 11% e da visão

83%.

Diante disso, pode-se perceber que o ensino por meio de imagens torna a

aprendizagem mais atrativa para os alunos, visto que sua utilização tem forte apelo

emocional quebrando o ritmo da sala de aula, pois se altera a rotina da sala de aula

quando se utiliza algo diferente, bem como, facilita a apresentação dos conteúdos

pelo professor.

Para Dantas e Morais (2007), vive-se em um mundo imerso de imagens e o

ensino da Geografia tem nelas um campo aberto a ser desbravado. Para além dos

registros cartográficos que se revelam por meio de mapas ou imagens de satélites,

forma-se outro conjunto abrangente de dados e informações que podem ser

perscrutados nas e pelas imagens. Levar a iconografia para a sala de aula se

constitui numa possibilidade de ensinar Geografia numa perspectiva contemporânea

e complexa.

Ainda, para as autoras, a iconografia se impõe à sociedade moderna como

fonte inesgotável de revelações e possibilidades de aprendizagem, da anunciada

unidade terrestre; e, o olhar como caminho para adentrar e compreender o labirinto

espacial em que se transformou a Terra.

Sobre o exposto, La Blache (1985), ao eleger a observação/descrição como

caminho para interpretar a realidade, transforma o geógrafo em um sujeito

privilegiado para olhar e encontrar aquilo que apenas se mostra, sem jamais falar.

Em outras palavras, o geógrafo está imerso no mundo das imagens, estejam elas

grafadas em suportes diversificados, estejam elas disponíveis no grande cenário que

é a paisagem. Ensinar a olhar as imagens do mundo se constitui o desafio do

professor de geografia.

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

Ausubel (1968 apud ZATTA, 2009), ao trabalhar com a psicologia da aprendizagem,

afirma que o indivíduo dá significado ao que aprende quando ocorreram as

quatro condições a seguir: O material a ser estudado deve ser significativo, ou seja,

os elementos devem ter sentido próprio e não estar sobrepostos. Um exemplo de

quando isso ocorre é buscar a aprendizagem em geografia das capitais dos países

sem estabelecer nenhuma relação desse conhecimento com a população que as

habitam. O autor considera ainda que:

O aluno deve ter predisposição para a aprendizagem significativa. Essa

predisposição pode ser gerada pela utilização de materiais que movam a

vontade do aluno para que aprenda. Como exemplo disso, tem-se a

aprendizagem de conceitos de cidade com a utilização de imagens em que o

aluno possa comparar o fenômeno tratado e também fazer uso da fala,

diferentemente do que aconteceria se fosse realizado com cópias de livros ou

explicações descontextualizadas.

O aluno deve ter uma estrutura cognitiva que permita relacionar o novo

material a ser aprendido com o que já possui. Ou seja, não se pode exigir que

o aluno soubesse.

O professor deve organizar o conteúdo de forma que contemple os itens a

interpretar uma planta cartográfica se ainda não tem noções de orientação.

Para isso, é necessário fazer uso dos organizadores prévios, ou seja, dos

materiais e conhecimentos que servem para conexão entre o indivíduo que já

sabe e o que ele deve saber. Esses materiais têm maior nível de

generalização e permitem ao aluno que incorpore em sua estrutura cognitiva

o novo material com menor generalização.

Com o exposto, percebe-se que a metodologia, o material didático, a

predisposição do professor e do aluno no processo de ensino aprendizagem são

determinantes para que ocorra uma melhor compreensão sobre o conteúdo, bem

como, para a aprendizagem do conhecimento escolar.

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

3 RESULTADOS

3.1 ATIVIDADES REALIZADAS NA ESCOLA LUÍZA ROSA ZARPELLON PINTO

Nas atividades relacionadas com a obra Retirantes, no geral os alunos

entendem que as pessoas expressam sofrimento, cansaço, angústia. No entanto,

almejam uma vida melhor, já que muitos vão à busca de trabalho. Mas relatam

também, que eles os retirantes, devem ter sensações como tristeza de deixar os

familiares, amigos, vizinhos, bem como saudades, medo de enfrentar o

“desconhecido”.

Na obra Café, por sua vez, o que chamou atenção foi às mãos e pés, dos

trabalhadores, segundo a maioria dos alunos que participaram das atividades esta

se da devido ao uso da força em ter que levantar “carregar” as sacas de café em

seus braços, por isso, a desproporcionalidade em relação ao corpo, destacando

também uma fisionomia de cansaço e dor.

Finalmente na obra Favela, os alunos relataram que a localização destes

espaços se da em áreas mais distantes do centro da cidade, bem como são lugares

com menor infraestrutura, dando destaque também, sobre o poder aquisitivo destas

pessoas, onde dizem que são mais “pobres”. Outro fator que destacam, é que as

pessoas das favelas correm maiores riscos, se referindo à violência de maneira

geral. Porém, tais dificuldades não impediriam que os moradores destes lugares

vivam bem e felizes.

As figuras 1 a 4 referem-se a releitura das obras mencionadas a partir de

ilustrações elaboradas pelos alunos.

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

Figura 01: Releitura da obra Retirantes

Figura 02: Releitura da obra Favela

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

Figura 03: Releitura da obra Favela

Figura 04: Releitura da obra Café

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

3.2 ATIVIDADES VINCULADAS AO GTR (GRUPO DO TRABALHO EM REDE)

Faz- se aqui uma análise sobre a prática docente com relação à temática

abordada, realizada pelos professores de Geografia que se inscreveram para

realizar o curso do GTR (Grupo do Trabalho em Rede) PDE 2013.

A prática docente proporcionou-nos socializarmos ideias e experiências

sobre o conteúdo proposto, sendo assim, é importante destacar alguns aspectos

comentados e que vivenciamos em muitas das escolas paranaenses e brasileiras.

A primeira temática foi focada sobre o estudo do projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola, Obras de Portinari: Geografia, Arte e Conhecimento no

Ensino Fundamental. As discussões proporcionaram aos cursistas uma visão de

como utilizar a Arte neste caso às pinturas como forma de auxiliar nossas aulas.

O fórum possibilitou uma discussão com muita interação sobre as

possibilidades de desenvolver diferentes metodologias, trabalhar de forma

interdisciplinar levando uma maior dinamicidade, despertando no aluno uma

imaginação e uma melhor compreensão e contextualização dos conteúdos

trabalhados na Geografia, proporcionando assim, um resultado mais significativo no

processo de ensino- aprendizagem. Foi elencado também, que os alunos podem

compreender melhor as aulas, evitando aquela metodologia onde os eles precisam

decorar os conteúdos sem saber relacionar os fatos com seu cotidiano.

“A observação informal e também a observação sistemática de fatos ou fenômenos do cotidiano, a capacidade de registrá-los, usando diferentes recursos e linguagens, bem como de ouvir as pessoas sobre determinados objetos para conhecer as representações...são procedimentos que alargam e aprofundam a reflexão, porque ensejam a passagem de uma representação metafórica a uma representação cada vez mais conceitualizada, na qual as relações resultantes permitem a produção de novos conhecimentos”. (PONTUSCHKA, 2009, p.109).

Com base na atividade do diário, onde foi proposto um texto para analisar as

possibilidades de trabalhar as obras de Portinari propostas no projeto, percebi que

os cursistas concordam e trabalham com diferentes formas de linguagens, dando

enfoque a interdisciplinaridade, pois esta forma de trabalhar colabora para um

melhor entendimento do espaço geográfico. A arte, neste caso a pintura nos

possibilita usar o imaginário e a partir disso fazer uma relação contextualizada com o

passado e o atual. Sendo assim, vejo que é possível trabalhar de forma mais lúdica

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

possibilitando uma melhor compreensão onde estas contribuirão para a formação do

aluno, bem como percebendo as particularidades da sociedade, como questões

naturais, sua formação cultural, as relações de poder, política, econômica e social

que acontecem no processo de construção do espaço geográfico.

A segunda parte foi focada sobre o estudo da Produção Didática Pedagógica.

As discussões proporcionaram uma análise em relação a viabilidade de aplicação

desta.

O Fórum e o Diário permitiram uma socialização possibilitando uma interação

sobre as possibilidades de desenvolvimento deste trabalho, onde os professores

fazem alguns questionamentos em relação às dificuldades que podem ocorrer, uma

vez que muitas escolas enfrentam problemas sobre o laboratório de informática,

como dificuldade produção de conexão, falta de equipamentos para todos os alunos,

outro obstáculo é o setor financeiro para realizar visita de campo, entre outras...

Outra questão levantada é a falta de acesso relacionada a esta forma de

conhecimento histórica e cultural (Obras de Arte, Pinturas). No entanto, a escola tem

como objetivo iniciar estas descobertas e incentivar nossos alunos a perceberem e

valorizarem nossa cultura através da arte, sendo esta uma forma de sensibilizar e

possibilitar o desenvolvimento do senso crítico.

Durante as discussões dos cursistas percebeu-se que todas as atividades

podem ser desenvolvidas, em algumas escolas com maior facilidade outras menos.

Dentre as atividades propostas a visita ao Museu, foi bastante comentada, pois

muitos alunos não têm oportunidade de conhecer esses espaços ricos em

conhecimento. Interessante também que os professores comentam as várias

possibilidades de reflexão, compreensão despertando o desenvolvimento da

criticidade no processo de construção de cidadania.

A Arte é aliada no processo educacional, dando destaque para as pinturas

neste caso as Obras de Portinari, pois estas proporcionam trabalhar de forma

contextualizada relacionando-as com o espaço geográfico, possibilitando um ensino

mais significativo para nossos alunos.

Segundo Filizola (2009,p.88),“a leitura e interpretação dessas formas de

expressão das linguagens nas nossas aulas devem estar a serviço do

desenvolvimento do olhar geográfico, da interpretação geográfica do mundo que nos

cerca, e não o inverso”.

Na sequencia a proposta foi socializar as ações já desenvolvidas do projeto e

Page 14: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

caderno pedagógico, bem como destacar algumas idéias referente ao fórum

Vivenciando a Prática. Todavia os professores contribuíram de forma bastante

significativa, onde a participação dos mesmos é muito importante para analisar e

compartilhar idéias sobre a prática pedagógica, em especial o de geografia. Num

primeiro momento, percebi que os professores encontram muitas dificuldades

estruturais no desenvolvimento de atividades diferenciadas, no que diz respeito ao

laboratório de informática, pois este ainda carece de ajustes no sentido de

funcionamento das máquinas, velocidade, números de computadores, etc. Outra

questão que merece destaque é a realização de uma aula de campo, dando

exemplo à visita ao museu se torna muito difícil, uma vez que, esta necessita de

recursos financeiros, sendo este o principal problema enfrentado pela escola e o

professor. Outras questões também foram comentadas, como falta de um espaço

para a maioria das escolas, onde estas pudessem desenvolver atividades mais

lúdicas e assim um ensino mais significativo.

É preciso ressaltar também que houve avanços importantes na educação,

onde o próprio PDE surge como forma de melhorar o nível de conhecimento dos

professores, como consequência melhorar a aprendizagem de nossos alunos, mas

ainda precisamos avançar.

Importante destacar também que os professores, embora encontrando tantas

dificuldades, ainda buscam formas diferenciadas de trabalhar com os alunos,

acreditam que é possível mudar a qualidade do ensino. Pensando assim e, agindo

desta forma acredito que teremos uma melhoria em nossas aulas, lembrando

sempre que, a educação deve ser um esforço de todos: Governo, pais, professores

e sociedade. Quando todos os envolvidos trabalharem com um único objetivo que a

formação de todos com qualidade, a cidadania acontecerá de fato.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou novos olhares, pois a interação desenvolvida com

os professores e alunos enriquecem a temática e oferece sempre um novo

aprendizado. Ressalta-se que a busca por novas metodologias se dá pela atuação

dos docentes e que estas são fundamentais para a melhoria das aulas,

consequentemente do ensino. A participação e a socialização em todas as temáticas

demonstraram que a interdisciplinaridade contribui para o processo educacional.

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

O conjunto de reflexões que proporcionou este trabalho, estabelecendo uma

interconexão entre a Geografia, arte e demais disciplinas, possibilitou novos olhares

e uma metodologia alternativa para se trabalhar os conteúdos de geografia de forma

mais dinâmica e significativa.

Com o avanço crescente da internet e das chamadas mobilidades virtuais,

que promovem uma rapidez na circulação de informações acabam muitas vezes,

tornando a escola desinteressante para os alunos. Sendo assim, todo esforço para

envolver o aluno no processo de ensino e aprendizagem torna-se importante e se

faz necessário à reconstrução de novas formas de ensinar.

Nesse contexto, busca-se resgatar o encanto do ensino da geografia para os

alunos, sendo necessário explorar temas e áreas pouco conhecidas, relacionando-

as aos conteúdos a serem trabalhados considerando as experiências cotidianas dos

alunos.

Entretanto, é importante a utilização de ferramentas alternativas como: a

pintura, a música, a dança, o cinema, o teatro, entre outros, visando sempre o

desenvolvimento da aprendizagem.

As obras do artista Candido Portinari, contribuíram de forma expressiva para

trabalhar as questões naturais, econômicas, políticas, históricas, culturais, sociais

brasileiras, de forma contextualizada e criativa, proporcionando assim, a melhoria e

a qualidade do processo educacional de nossos alunos.

REFERÊNCIAS BERGER, John. Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

BARTH, Glauce Maris Pereira. A leitura do café: suas possíveis relações matemáticas e a perspectiva de gênero. Curitiba: UFPR, 2009. BENTO, Antonio. Portinari. Rio de Janeiro: Léo Christiano, 2003. BRITO, Fausto. O deslocamento da população brasileira para as metrópoles. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142006000 200017&script=sci_arttext>. Acesso em: 09 Set. 2013. CASTROGIOVANNI, Antonio C. et. al. Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4. ed. Porto Alegre-RS: UFRGS, 2003.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4. ed. São Paulo: Ática, 2002. DANTAS, Eugênia Maria; MORAIS, Ione Rodrigues Diniz. O ensino de geografia e

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

a imagem: universo de possibilidades. Disponível em: <http://www.ub.edu/ geocrit/9porto/eugenia.htm>. Acesso em: 05 Nov. 2013. FERREIRA, Alvaro. Favelas no Rio de Janeiro: nascimento, expansão, remoção e, agora, exclusão através de muros. 2009. Disponível em: <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-828.htm.>. Acesso em: 10 Nov. 2013. FILIZOLA, Roberto. Didática da Geografia: proposições metodológicas e conteúdos entrelaçados com a avaliação. Curitiba: Base Editorial, 2009. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo: Cortez, 1988. HERICKS, Tânia Cássia de Lima. Mário de Andrade e Cândido Portinari: amizade, um estudo de relação. Rebouças, 2011. 28 folhas. Monografia. Pós Graduação em Arte, Educação e Terapia. Universidade UNAR. INCRA. Políticas públicas evitam êxodo rural no Paraná. 2007. Disponível em: <http://www.incra.gov.br/index.php/noticias-sala-de-imprensa/noticias/5348-polaticas-pablicas-evitam-axodo-rural-no-parana-aponta-ibge>. Acesso em: 11 Set. 2013. LA BLACHE, Paul Vidal. As características próprias da Geografia. In: CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. São Paulo: DIFEL, 1985. MAGALHÃES, João Carlos Ramos. Histórico das favelas na cidade do Rio de Janeiro. 2010. Disponível em: <http://www.ess.ufrj.br/monografias/104058894.pdf>. Acesso em: 10 Nov. 2013. MARTINS, Ana Luiza. Império do café: a grande lavoura no Brasil – 1850 a 1890. 11. ed. São Paulo: Atual, 1997. MUSEU CASA DE PORTINARI. A vida: Cândido Portinari. Secretaria da Cultura. Brodowski-SP. Governo do Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: <http://museucasadeportinari.org.br/candido-portinari/a-vida>. Acesso em: 17 Set. 2013. OLIVEIRA, Luiz Antonio Pinto de, & OLIVEIRA, Antônio Tadeu Ribeiro de. Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil. 2011. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/reflexoes_ deslocamentos/deslocamentos.pdf>. Acesso em: 12 Out. 2013. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Geografia. Curitiba-PR: SEED, 2008. PONTUSCHKA, Nídia Nacib et. al. Para ensinar e aprender Geografia. 3. ed. São Paulo-SP: Cortez, 2009.

PORTAL BRASIL. Volume de migração dentro do país desacelera desde 1999. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/governo/2011/07/volume-de-migracao-dentro-do-pais-desacelera-desde-1999-aponta-ibge>. Acesso em: 18 Ago. 2013.

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · de ensino com alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo como foco de estudo a contextualização dos aspectos sociais trabalhados

REVISTA CAFEICULTURA. A história do café. 2008. Disponível em: <http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=15312>. Acesso em: 29 Out. 2013.

RIBEIRO DA SILVA, W. O migrante sob a dominação do capital. Opressão e impactos sociais. (Ensaiando a reflexão). Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, nº 119 (29), 2002. [ISSN: 1138-9788]. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-29.htm>. Acesso em: 18 Ago. 2013.

ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2009. SANTA ROSA, Nereide Schilaro; SCALÉA, Neusa Schilaro. Arte-educação para professores: teorias e práticas na visitação escolar. 1. ed. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2006. SILVA CALDAS, Andréa Regina; SILVA, Harley Pedroso; SILVA, Pollyana Coeli Sacilotti da; OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. A obra “retirantes” de Cândido Portinari e as possibilidades de leitura da realidade: aproximando e conhecendo uma área periférica de São José dos Campos e suas formas de organização. 2006. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006 /inic/inic/05/INIC0000711%20ok.pdf>. Acesso em: 12 Set. 2013. ZATTA, Célia Inês. O uso de imagens como recurso metodológico para ensinar Geografia. 2009. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/ pde/arquivos/2375-8.pdf>. Acesso em: 05 Nov. 2013.