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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
FÁBULAS EM SALA DE AULA: PRODUZINDO SENTIDOS
Autora: Dulcimara Batista
Orientadora: Viviane Schier Martins
RESUMO
O presente artigo apresenta e discute os resultados obtidos durante a implementação de
um projeto de leitura a partir do gênero fábula. O presente projeto faz parte do Programa
de Desenvolvimento do Estado do Paraná –PDE e desenvolveu-se com alunos do 6º ano
no Colégio Estadual Alberto de Carvalho na cidade de Prudentópolis- Paraná. A proposta
de leitura contemplou a concepção sociointeracionista, tendo como linha de leitura autor-
texto-leitor, por considerarmos o leitor como sujeito ativo capaz de gerar mudanças
significativas no meio em que vive. Dessa forma, acreditamos que os alunos precisam
aprender a ler atribuindo sentindo ao texto, fazendo as inferências necessárias para a
construção textual e não apenas uma leitura mecânica, como muitas vezes acontece no
âmbito escolar. A escolha do gênero fábula ocorreu por considerar este gênero apropriado
à idade dos alunos, por ser um texto curto e apresentar histórias gostosas de ler. Além
disso, esses textos, na maioria das vezes, trazem como personagens os animais e
apresentam um cenário próximo do imaginário das crianças dessa fase idade e isso instiga
nos alunos o interesse pela leitura de textos impressos. Apesar de apresentar uma
estrutura simples as fábulas oportunizam uma leitura crítica, onde se pode explorar
assuntos de diferentes esferas sociais, familiares, econômicas, políticas, etc. Os resultados
evidenciaram que os objetivos estabelecidos nesse projeto foram almejados. Constatação
feita ao observar a mudança de comportamento dos alunos em relação à leitura e ao
reconhecimento dela como elemento essencial à formação do leitor proficiente.
PALAVRA-CHAVE:fábula; ensino; leitura; sentido.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado do projeto de leitura desenvolvido durante o
primeiro bimestre de 2014, no Colégio Estadual Alberto de Carvalho, no município de
Prudentópolis, núcleo de Irati. Este projeto surgiu como uma oportunidade de
proporcionar aos alunos momentos de leitura crítica, por meio dainteração entre o leitor e
o texto, a fim de levar os alunos a construírem novas aprendizagens e a reconhecerem a
leitura como um elemento essencial na formação intelectual para que o homem possa agir
socialmente nas mais diversas situações as quais se depara em seu percurso de vida, seja
profissional, familiar, etc. É importante fazer com que os educandos percebam que a
leitura é um caminho, uma ferramenta poderosa para ampliação e aquisição de novos
saberes e, assim, gerar mudanças significativas no comportamento humano.
A experiência em atuação no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa tem
revelado a crescente falta de interesse dos alunos pela leitura. A troca de experiências
com outros professores de língua materna, bem como o conhecimento de diversas
pesquisas no âmbito do ensino de leitura na escola, forneceram indícios de que a falta de
interesse dos alunos pela leitura é quase uma unanimidade no contexto escolar.
Não é possível precisar os motivos que tem levado a esse desinteresse, mas, em
meio às novas tecnologias, os alunos permanecem horas em frente a jogos e redes sociais,
mas não sentem o mesmo prazer na leitura de um bom livro. Parece-nos que os alunos
não tem enxergado um propósito real nas leituras que fazem e isso acaba por desmotivá-
los. Em sala de aula, a leitura é feita pelo aluno sempre para responder às perguntas do
professor.
Diante dessa realidade, faz-se necessário resgatar o interesse dos alunos pela
leitura interativa por meio de um projeto ancorado na perspectiva sociointeracionista. A
concepção de leitura que subjaz o presente trabalho supera a visão tradicionalista da
leitura como mera decodificação dos sinais gráficos. Aqui,quando se fala de leitura,
refere-se àquela leitura que traz alguma contribuição intelectual ao leitor.
Para obtermos êxito ao oferecer atividades que enfocam a leitura é importante
levarmos em consideração o perfil do público alvo, primeiramente com textos mais
simples para, depois, inserirtextos que exigem um entendimento mais apurado, conforme
afirma Cafiero (2010):
“nas aulas de leitura, que devem ocupar a maior parte de nossa carga horária,
começamos pelos textos com estrutura sintática mais simples, com palavras
conhecidas, com temas próximos do universo do aluno, para ir gradativamente
ampliando as possibilidades de leitura com a introdução de textos mais
complexos”. (p.88)
O projeto de leitura surgiu fundamentado nessa concepção, e, para tanto, toma
como objeto de ensino o gênero textual fábula, que apresenta uma estrutura menos
complexa, com um vocabulário fácil, não muito distante do repertório vocabular dos
alunos. Além disso, a fábula compreende textos curtos o que não exige muito tempo para
ler. O fato de as personagens serem animais também facilita a interação dos alunos com o
texto, haja vista que, na idade em que se encontram (10 e 11 anos) narrativas com
conteúdo infantilizado ainda fazem parte da realidade dos alunos. A narrativa é simples,
gostosa de ler e sua história sempre termina com uma moral que possibilita fazer reflexão
acerca da intenção textual sempre direcionada à atitude humana. A moral, presente nas
fábulas, não é objeto do estudo, aqui, a escolha pelo gênero fábula não tem vistas à
moralização dos alunos, mas foi feita considerando que a fábula é um texto curto que
possibilita ao professor fazer as intervenções necessárias.
Cafiero (2010) afirma que para a escola cumprir seu papel social, que é de
formar com qualidade, precisa disponibilizar aos alunos o contato com os mais diversos
gêneros textuais:
“um compromisso a ser assumido pela escola é o de possibilitar ao aluno a
aprendizagem da leitura dos diferentes textos que circulam socialmente. A
leitura de jornais, revistas, livros e o contato com o teatro, cinema e música
alargam os limites da mente e das possíveis leituras de um mesmo objeto.
Ampliar esses limites pode contribuir (embora não garanta) para que a
capacidade da escrita também se desenvolva na forma ( ortografia, morfologia
e sintaxe ) e no conteúdo (ideias e argumentação). Assim fazendo, a escola
estará contribuindo para ampliar o grau de letramento de seu aluno,
contribuindo também para que ele possa atuar efetivamente como cidadão”.(p.
88)
Que a leitura é um fator importante na vida das pessoas ninguém discorda.
Existem inúmeraspesquisas a esse respeito. Entretanto, a abordagem dinâmica da leitura
na ação pedagógica para que haja um resultado satisfatório na interação entre o leitor e o
texto requer do professor alguns conhecimentos. Vejamos o que o autor Trevizan fala a
respeito:
“autor e leitor, sujeitos históricos inseridos num determinado contexto,
momento e espaço sociais, são elementos igualmente determinantes dos efeitos
de sentido de um texto. Ao estabelecer as relações dos signos de um texto com
os próprios usuários destes signos (quem diz? para quem diz? quando diz?
onde diz? com que ponto de vista ideológico – contextual diz? ) o leitor estará
na verdade realizando um exercício de preenchimento ativo dos espaços
vazios, ou seja, das malhas do texto” ( p.20)
Este projeto de leitura em sala de aula tem a pretensão de ampliar os níveis de
conhecimento dos alunos para que tenham condições de construir sentido ao texto,
tornando-se leitores que saibam fazer a compreensão do que lêem com domínio
linguístico, sentindo-se mais segurose atuantes no seu meio social.
Ao assumir um caráter interventivo, no sentido de contribuir para um ensino de
leitura mais produtivo e interessante aos alunos, o presente projeto está orientado por
alguns objetivos, os quais nortearam o desenvolvimento geral da pesquisa a fim de
desenvolver as habilidades de leitura dos alunos por meio do gênero textual Fábula
mostrando aos alunos a importância da mesma para a vida em sociedade, bem como
despertar neles o gosto e o interesse da leitura. Assim desenvolver a capacidade de
compreensão textual e o domínio linguístico dos alunos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Sabe-se que a leitura faz parte da vida das pessoas, que ela é condutora de
conhecimentos e geradora de aprendizagem. Assim, a leitura é necessária a todo
indivíduo que queira fazer parte da sociedade letrada.
Meurer e Roth(2002) afirmam que a vida social contemporânea exige que cada
um de nós desenvolva habilidades comunicativas que possibilitem a interação
participativa e crítica no mundo de forma a inferir positivamente na dinâmica social,
nesse âmbito, à escola (principal instituição de ensino formal) cabe cumprir seu papel
social de promover um ensino de leitura com diferentes gêneros textuais, atendendo as
necessidades atuais que a sociedade exige. Saber ler criticamente nos dias de hoje é pré-
requisito para ingressar nas ações do mundo como sujeito ativo. Segundo Silva (2005):
a leitura ocupa sem dúvida, um espaço privilegiado não só no ensino de língua
portuguesa, mas também no de todas as disciplinas acadêmicas que objetivam a
transmissão de cultura e de valores para as novas gerações. Isso porque a
escola é, hoje e desde há muito tempo, a principal instituição responsável pela
preparação de pessoas para o adentramento e a participação no mundo da
escrita (...) Mais especificamente, a leitura, enquanto um modo peculiar de
interação entre os homens e as gerações, coloca-se no centro dos espaços
discursivos escolares, independentemente da disciplina ou área de conteúdo
(p.16).
A leitura aos longos dos anos vem sendo objeto de estudo de vários estudiosos
da linguagem e é um assunto que intriga por sua complexidade. A todo momento surgem
novas teorias e a impressão que se tem é a de que todo o trabalho de ensino em sala de
aula anda equivocado. Felizmente não há quem diga que a leitura não tenha seus méritos
intelectuais, vejamos o que Cosson (2009) diz a respeito:
Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não
apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja
prazerosa, mas sim, e sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo
de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com
proficiência o mundo feito linguagem (p. 30 ).
Dentre as principais teorias que abordam o ensino da língua materna, está a
abordagem sóciointeracionista, que subsidia as Diretrizes Curriculares da Educação
Básica do estado do Paraná e, segundo a qual o discurso é sempre uma prática social.
ensinar a língua materna, a partir dessa concepção, requer que se considerem os
aspectos sociais e históricos em que o sujeito está inserido, bem como o
contexto de produção do enunciado, uma vez que os seus significados são
sociais e historicamente construídos. (DCEs, 2008, p. 49).
De acordo com as DCEs (2008) esta concepção interacionista trabalha a língua
como algo vivo, ela é dinâmica e está em constante movimento atendendo e se adequando
às mudanças sociais. Esta teoria explica que a aquisição da linguagem se dá na interação,
depende do outro, daí a função social da fala. Este processo onde o leitor dialoga com o
texto valoriza o conhecimento de mundo do possível leitor e a partir de então ocorre a
inclusão de novos saberes construindo de modo gradativo a aprendizagem:
Ensinar a língua materna, a partir dessa concepção, requer que se considerem
os aspectos sociais e histórico em que o sujeito está inserido, bem como o
contexto de produção do enunciado, uma vez que os seus significados são
sociais e historicamente construídos. (DCEs 2008, p. 49 )
Koch e Elias (2012) abordam três tipos de leitura: a) leitura com foco no autor;
b) leitura com foco no texto; c) leitura com foco na interação autor-texto-leitor. A
primeira abordagem, que tem como foco o autor, compreende a ideia de que o autor é um
sujeito que constrói uma representação mental que deve ser captada pelo leitor. Nessas
condições, a leitura nada mais é do que a captação das ideias do autor, sem se considerar
os conhecimentos e as experiências do leitor.
A segunda abordagem, cujo foco está no texto, entende que a língua é um código
onde leitura é a habilidade de decodificação. Assim, qualquer sujeito que domine o
código pode realizar leitura, já que ela é apenas decodificação, cabe ao sujeito o
reconhecimento dos sentidos das palavras.
Considerando que a leitura é uma atividade dialógica/ interativa, a terceira
abordagem evidencia a leitura como uma atividade em que os sujeitos envolvidos são
vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que se constroem e são
construídos no texto.
Koch e Elias (2012) afirmam que
“(...) o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo
que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa
altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente
com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua
forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de
saberes no interior do evento comunicativo”. (p. 11)
Para Solé (1998) a leitura é o processo mediante o qual se compreende a
linguagem escrita. Esta afirmação vem reforçar a ideia de que entendimento do texto não
depende só do conhecimento da escrita, mas o leitor carregado de suas vivências também
se torna responsável pelo sentido que vai atribuir ao texto:
“Nesta compreensão intervêm tanto o texto, sua forma e conteúdo, como leitor,
suas expectativas e conhecimentos prévios. Para ler necessitamos,
simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de codificação e aportar
ao texto nossos objetivos, ideais e experiências prévias; precisamos nos
envolver em um processo de previsão e inferência contínua, que se apóia na
informação proporcionada pelo texto e na sua própria bagagem, e em processo
que permita encontrar evidência ou rejeitar as previsões e inferências antes
mencionadas”. (SOLÉ, 1998, p. 23).
De acordo com Solé (1998), se na atividade de leitura, na escola, o leitor não for
capaz de gerar sentido, se ele perceber que não lê no mesmo nível dos seus colegas ou
como o professor espera, aí pode ocorrer uma rejeição pela leitura por conta da sensação
de fracasso, de desânimo do leitor. E é difícil para este leitor reconhecer o significado
social da leitura. Para sanar esse problema é preciso que o aluno, atividade de leitura,
sinta que é capaz de ler, de compreender o texto que tem em mãos, tanto de forma
autônoma como contando com a ajuda de outros mais experientes que atuam como
suporte e recurso (SOLÉ, 1998, p.42)
Antunes (2009) aponta três pontos que a atividade de leitura favorece:
“num primeiro plano, a ampliação dos repertórios de informação do leitor. Na
verdade, por ela, o leitor pode incorporar novas ideias, novos conceitos, novos
dados, novas e diferentes informações acerca das coisas, das pessoas, dos
acontecimentos, do mundo em geral.Num segundo plano, a leitura possibilita a
experiência gratuita do prazer estético, do ler pelo simples gosto de ler. Para
admirar. Para deleitar-se com as ideias, com as imagens criadas, com o jeito
bonito de dizer literalmente as coisas. Sem cobrança, sem a preocupação de
qualquer prestação de contas posterior. Num terceiro e último plano, e de
forma mais específica, a atividade da leitura permite, ainda, que se compreenda
o que é típico da escrita, principalmente o que é típico da escrita formal dos
textos da comunicação pública” ( p. 71- 75)
Já discorremos sobre o quanto a leitura é imprescindível na formação do sujeito
em cidadão letrado. É através da linguagem que a humanidade se transforma, é na
interação social, fazendo uso de algum gênero textual dependendo da área de
conhecimento ou profissão que exerce, que o homem age como sujeito crítico e social.
O gênero fábula, tomado como instrumento de ensino deste projeto, apesar de ter
um conteúdo considerado por muitos ingênuo ou infantilizado é uma ferramenta muito
produtiva no desenvolvimento da capacidade de leitura. Segundo Fernandes (2001), a
princípio, as fábulas não eram contadas para crianças, mas para adultos, como um jeito de
aconselhá-los e distraí-los e, ao longo dos anos tem mostrado grande contribuição no
ensino-aprendizagem.
As fábulas sempre abordam em suas histórias termos como inteligência,
esperteza, força, poder, riqueza, forte, fraco, injustiça, etc., temas que tratam de assuntos
decorrentes na sociedade naquele momento. Quem escreve ou conta uma fábula faz por
alguma razão, parte de um motivo existente, há uma intenção implícita no texto seja de
denunciar, criticar, aconselhar, convencer, etc.
As fábulas são muito antigas e eram contadas de boca em boca, de geração para
geração, não se sabe ao certo quem as criou, mas se sabe que para criá-las era necessária
muita sabedoria. Mais tarde elas continuaram a ser contadas e passaram a serem também
escritas. No século XVII, o francês Jean de La Fontaine, escritor muito importante na
época, começou a reescrever e adaptar as fábulas de Esopo e também criou suas próprias
fábulas. No Brasil, merece destaque Monteiro Lobato.
2.1 Concepções de leitura
A leitura sem dúvida sempre foi considerada muito importante para a formação da
inteligênciahumana,com frequência temos estudos que falam sobre os benefícios que a
leitura traz para o desenvolvimento intelectual da pessoa, condição essencial na formação
do sujeito como cidadão ativo a apropriado de conhecimentos e mais preparado para atuar
no meio em que vive. Há algumas décadas a leitura baseava-se em apenas decodificação
das letras, pronúncia correta das palavras e entonação de voz observando os sinais de
pontuação,a interpretação ficava na superficialidade do texto,a leitura tinha maisobjetivo
escolar do que social. Hoje sabemos, portanto,que a leitura vai muito além do que
decodificação de letras, pois é preciso compreender as partes implícitas dentro do texto,
uma vez quea leitura tem uma finalidade social, o leitor precisa apreender o que lê e usar
desse conhecimento para sua vivência e exigência social, quem não domina a leitura com
sentido corre o risco de ficar a mercê da influência da sociedade, sem condição de
colocar-se como cidadão consciente de seus atos e da tomada de atitude.
Koch (2012)falasobre a leitura a partir de questões como: O que é ler? Para que
ler? Como ler? Essas indagações parecem tão óbvias, mas,quando fazemos um estudo
sobre leitura vemos que o processo de ler não é tão simples e que há vários fatores
determinantes na leitura. A autorainicia a discussão sobre essas questões abordando sobre
asseguintes concepções de leitura:Foco no autor, Foco no texto, Foco na interação autor-
texto-leitor. Cada concepçãotraz uma abordagem sob diferentes aspectos da leitura
dependendo do elemento considerado, sujeito, língua, texto e sentido.Vejamos
essasconsiderações. A leitura com foco no autor é entendida como a atividade de
captação das ideias do autor, sem se levar em conta as experiências e os conhecimentos
do leitor. O foco de atenção é, pois, o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no
autor, bastando, não somente ao leitor captar essas intenções. (KOCH, 2012, p.11).
Nesse tipo de leitura vemos que o leitor deve apenas reconhecer o que o autor
quis dizer. Lembramos aqui daquelas questões de interpretação textual encontradas em
alguns livros didáticos: O que o autor quis dizer? Cabe ao leitor tentar captar o
pensamento do autor, as possíveis ideias explícitas no texto. Esse tipo de leitura não
considera o conhecimento do leitor, o importante é entender o pensamento do autor sem
fazer indagações, não precisa e não se permite o leitor colocar-se como participante do
texto, fazendo suas análises críticas.
A concepção de leitura cujo foco está no texto é outraconcepção bem presente nas
interpretações textuais nas salas de aulas. Essa visão de leitura entende que leitor é um
mero decodificador de letras, apenas reproduz o que lê, não se considera a emissão de
opinião do leitor. Este tipo de leituranão valoriza os conhecimentos e a capacidade de
argumentação do leitor.
Conforme Koch (2012) os livros didáticos têm melhorado suas edições, todavia,
ainda trazem propostas de leitura e interpretação que não dão ao leitor a chance de
colocar-se como interlocutor, de interagir com o texto. Essa proposta, contudo, vai de
encontro à concepção de leitura cujo foco está na interação autor-texto-leitor. Nessa
vertente de análiseo leitor é visto como sujeito construtor do seu conhecimento e por isso
existe uma inter-relação entre o autor-texto-leitor. O leitor é sujeito ativo no processo da
leitura. A partir dos seus conhecimentos adquiridos anteriormente ele é capaz de fazer as
inferências necessárias no momento da leitura, sujeito capaz de julgar o texto, de
formular opinião a respeito do tema do texto. Essa concepção constitui-se interacionista,
o texto não é fechado, acabado em si mesmo, o leitor vai fazendo inferências a partir da
sua formação intelectual e o texto deixa de pertencer ao autor e passa a interagir com o
leitor. Segundo Koch:
Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto-
sujeitos e não algo que preexista a essa interação. A leitura é pois, uma
atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se
realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na
superfície textual e na sua forma, mas requer a mobilização de um vasto
conjunto de saberes no anterior do evento comunicativo.( p, 11 )
Apoiado em Koch, Menegassi (2011) também ressalta sobre os tipos de leitura
que norteiam as aulas de leitura no ensino brasileiro e a importância de considerá-las no
trabalho com a leitura, o professor precisa saber qual concepção é mais eficaz e
contribuirá para o desenvolvimento das habilidades de leitura do aluno. Em relação à
leitura com foco no autor:
o texto é visto como um produto lógico do pensamento, como uma
representação mental do autor que vai para o papel, nada mais cabendo ao
leitor senão "captar" essa representação mental materializada, juntamente com
as intenções(psicológicas) do produtor. Assim o leitor exerce um papel passivo
de apenas ser receptor.( Menegassi, 2011 p. 2)
Nesta concepção o texto é acabado, pronto, fechado, não dando oportunidade do
leitor interagir, colocar-se como sujeito agente. Esta concepção de leitura representa o
pensamento do autor, é uma transcrição das ideias do autor. o foco principal é o autor,
ignora a presença do leitor, seu papel aqui é apenas ler e captar a intenção do autor tal
qual ele escreveu. Não se considera o leitor como participante, como sujeito agente do
processo comunicativo da linguagem.
Por outro lado, para Menegassi (2011), na leitura com foco no texto o leitor
também assume um papel passivo, fica em segundo plano, pois desconsidera -se todo o
conhecimento do leitor, uma vez que ele só precisa decodificar as letras, palavras, todas
as informações estão presentes no texto, não precisa o leitor "buscar" outras informações.
Para o autor:
A leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua
linearidade, uma vez que "tudo está dito no texto" não precisamos sair dele, já
que as informações armazenadas pelo leitor não são consideradas. (...) Cabe ao
leitor o reconhecimento dos sentidos das palavras e estruturas do texto apenas
(...).(2011, p. 3)
Nesse caminho, vemos que o importante é o que o texto traz, então, o leitor não
precisa se dar ao "trabalho" de fazer as inferências textuais, pois precisa apenas ter um
conhecimento linguístico para entender as informações contidas no texto, e ter o
conhecimento da estrutura composicional. Trabalhar leitura nessa concepção é tirar do
leitor a oportunidade de questionar, indagar e interagir com o texto, formar suas
hipóteses,etc.
A terceira concepção de leitura, cujo foco está na interação autor - texto- leitor,
conforme Menegassi (2011), considera que o leitor participa do processo de interpretação
tornando-se também responsável pelo texto, tendo em vista que autor e leitor são sujeitos
ativos que dialogam, que se constroem e são construídos no texto, que é considerado o
próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores.
Valoriza-se todo o conhecimento prévio ou de mundo do leitor, e esse
conhecimento armazenado em sua memória é ativado no momento da leitura, o leitor
busca-os em suas lembranças, e vai fazendo as inferências necessárias para completar o
sentido do texto. Muitas informações às vezes não estão expressas no texto, mas o leitor
experiente vai percebendo nas entrelinhas e vai fazendo as amarrações durante a leitura.
Esse tipo de leitura exige do leitor uma formação intelectual mais elaborada e por
conseguinte torna-o mais crítico, eficiente na leitura de diferentes tipos de textos que
encontra no seu dia a dia.
2.2 Inferências na produção de sentido
Atualmente existem muitos estudos a respeito do sentido da leitura, e esse assunto
aborda diretamente os textos e atividades de compreensão textual que os livros didáticos
trazem como proposta de estudo. A pesquisa aponta falhas na elaboração das questões de
compreensão textual porque essas questões não permitem ao sujeito/leitor fazer as
inferências necessárias. São perguntas óbvias que estão na superficialidade do texto,
desconsiderando todo o conhecimento de mundo do leitor, não precisando fazer nenhum
"esforço" para responder as questões. Esse tipo de questão não traz benefício intelectual
ao leitor, não acrescenta mais conhecimento, uma vez que todas as informações estão
contidas no texto, bastando ao sujeito/leitor apenas localizá-las. Vejamos as
considerações de Menegassi (2010) sobre inferência:
A construção das inferências ocorre quando, "nesse processo ativo, os
espaços textuais serão ocupados pelo eu/sujeito/leitor/ ser do mundo a seu
modo: ele pode produzir do mesmo texto diferentes leituras, possíveis de
variação de momento para momento, pois a relação leitor/mundo/contexto
também é passível de mudanças", já que o leitor preenche as lacunas
deixadas pelo autor, associando seus conhecimentos de mundo com as
ideias oferecidas pelo autor, dando origem a inferências, por conseguinte, a
sentidos diferenciados que são possíveis de produção num único texto.
(p.74)
Podemos dizer que fazer inferência é ir preenchendo as lacunas que o autor deixa
no texto, e isto demanda do leitor muita habilidade de leitura, maturidade e certo domínio
linguístico. Dessa forma lemos não só o que está escrito, mas também o implícito, que
completa o sentido do texto. O leitor que não tiver essa habilidade não entenderá o texto e
pode fazer uma compreensão textual equivocada. Segundo Menegassi, um texto pode ser
lido várias vezes e a cada nova leitura é possível fazer novas inferências e essas
inferências textuais dependem da faixa sociocultural, dos costumes e hábitos regionais,
numa esfera mais ampla, e dos costumes e hábitos familiares, numa esfera mais restrita.
É importante trabalhar em sala de aula com os alunos estratégias de leitura com o
uso de inferências textuais e inferências extratextuaisno intuito de formar bons leitores,
desenvolvendo suas habilidades de leitura com a maioria dos gêneros textuais.
Menegassi(2010) aponta que há três níveis de inferências primordiais na prática de leitura
que permitem o desenvolvimento de um leitor mais criativo: nas conexões textuais, nas
relações extratextuais, e nas relações extratextuais que retomam as conexões textuais
dando origem a novas informações.
No momento da leitura o leitor ativa, busca no banco de dados da memória os
conhecimentos armazenados e os utiliza naquele momento completando o que não está
explícito no texto e assim forma o sentido de leitura. Vemos que Kleiman, considera essa
busca de conhecimento na memória de conhecimento de mundo. Tudo o que vamos
adquirindo ao longo de nossa vida, vamos agregando informações, conhecimentos,
experiências, vivências.
3. ANÁLISES: O GÊNERO FÁBULA EM SALA DE AULA
Diante da constatação do desinteresse de uma grande parte de nossos alunos por
leitura em livros convencionais, fez-se necessário resgatar o apreço dos educandos pela
leitura, e, para tanto, tomamos objeto de ensino o gênero fábula, por considerar este
gênero apropriado à idade/série dos alunos. As atividades propostas foram desenvolvidas
no 2º bimestre de 2013 implementadas no primeiro semestre de 2015 em uma turma de 6º
ano, com 28 alunos, no Colégio Estadual Alberto de Carvalho, onde atuamos como
docente. Escolhemos a turma de 6º ano por considerar que eles estão iniciando o ensino
fundamental, séries finais, e nesta faixa etária permanece ainda o encanto pelas histórias
imaginárias, infantilizadas.
Para desenvolver o projeto de leitura em sala de aula produzimoso material
didático, no segundo semestre de 2013,formando um Caderno Pedagógico com 10
unidades didáticas ancoradas em atividades de leitura. Cada unidade trazia uma proposta
pedagógicade trabalho acerca de uma fábula com questões de compreensão textual
elaboradas de uma forma bem diversificadas, como jogo da memória, caça - palavras,
pintura, verdadeiro ou falso, completar o texto, completar sequência narrativa, completar
tabela, além das questões discursivas, a fim de tornar as atividades atrativas aos alunos,
perfazendo um total de 32 horas/aulas. O Caderno Pedagógico ficou organizado
conforme abaixo descrevo de forma resumida.
3.1As atividades desenvolvidas
Aula 1 - 2 h/a Ações desenvolvidas
Motivação para leitura
Imagem da fábula :A cigarra e a formiga
Propusemos uma circunstância de
motivação aos alunos, através de uma
imagem da fábula A cigarra e a formiga,
na tv multimídia, evidenciando o
conhecimento prévio dos alunos por meio
de questionamento como por exemplo:
alguém conhece os animais que aparecem
nessa imagem? Eles lembram alguma
história? Qual? Quem gostaria de contar a
história?
Distribuímos recortes em texto da fábula
aos alunos para eles montarem o texto e
fazerem uma ilustração.
Aula 2 - 2h/a
Conhecendo o gênero fábula
Texto: Assembleia dos ratos
Nessa aula estabelecemos o contato do
aluno com o gênero a ser trabalhado, a
partir da discussão sobre as condições de
produção. Quem são os leitores de
fábulas? Onde encontramos textos como
esse? Quem escreve textos como esse?
Leitura do texto "Assembleia dos ratos" e
exploração das questões escritas de
interpretação textual.
Aula 3 - 2h/a
Analisando o texto para construir sentidos
Texto: O galo que logrou a raposa
Esta atividade trabalhou com elementos da
análise linguística e buscou fazer com que
os alunos percebessem que os recursos
expressivos utilizados no texto funcionam
como pistas para a compreensão.
Aula 4 - 3h/a
Montando o texto e interpretando
Texto: O lobo velho
Buscamos aguçar a atividade dos alunos
através de uma atividade de completar a
história com vocábulos retirados do texto.
Em duplas eles completaram a fábula
descobrindoo lugar das palavras retiradas
de modo que estabeleça sentido na
sequência da narrativa.
Aula 5 - 3h/a
Aprendendo a sequência da narrativa
Texto: As duas cargas
Esta atividade trabalhou com a sequência
narrativa, a fim de possibilitar aos alunos a
compreensão da ordem das ações na
compreensão textual. Cada aluno recebeu
uma cópia da fábula e enumera em ordem
crescente a narrativa descobrindo a ordem
do desenvolvimento das ações.
Aula 6 - 3h/a
A intertextualidade na construção de
sentido.
Texto: A pomba e a formiga
Esta atividade tem por finalidade a
intertextualidade através dos gêneros
poema e prosa, mostrando aos alunos
como esses gêneros se cruzam entre si
abordando a mesma temática.
Aula 7 - 2h/a
Construindo inferências
Texto: O rato do campo e o rato da cidade
Esta atividade buscava apresentar dois
espaços sociais diferentes a fim de
socializar os conceitos estabelecidos além
do texto, reconhecendo,respeitando e
valorizando as particularidades de cada
espaço como condição de vida em
sociedade.
Aula 8 - 2h/a
Estabelecendo relação de causa e
consequência.
Texto: A galinha reivindicativa
A proposta de trabalho com esta narrativa
foia transposição dos sentidos do texto da
ficção para a realidade através do estudo
dos elementos linguísticos presentes no
texto.
Aula 9 - 3h/a
Relacionando ficção com a realidade
Texto: O caracol e a pitanga
As atividades propunham aos alunos a
transposição do ficcional para o real
através da análise e observação das ações
das personagens da história.
Aula 10 - 10h/a
Interagindo por meio da encenação
Teatro de Fantoches.
Esta atividade correspondeu à finalização
do estudo de leitura com o gênero fábula.
Aqui os alunos fizeram a interação através
do teatro de fantoches com as outras
turmas do 6º ano demonstrando os
conhecimentos e conceitos que abarcaram
sobre o gênero elencado.
Salientamos que os textos selecionados foram retirados de livros didáticos e
livros literários de fábulas, bem como as sugestões das atividades de leitura e
compreensão textual , que foram elaboradas especialmente para esse projeto a fim de
subsidiar a prática pedagógica com o trabalho de leitura com sentido, em sala de aula.
Cada texto foi escolhido e selecionado pensando na receptividade e na aceitabilidade dos
alunos, visando a interação deles na execução em cada unidade didática desenvolvida,
proporcionando dessa forma uma aprendizagem significativa para os educandos a fim de
alcançar os objetivos elencados com o trabalho de leitura crítica e com sentido.
3.2 A implementação
A implementação iniciou no mês de fevereiro estendendo-se até o final do mês de
abril. As unidades didáticas foram divididas em 2h/aula, 3h/aula e a última unidade em
10h/aula, finalizando com a apresentação do teatro de fantoches para outras turmas de 6º
ano do mesmo colégio. Para a apresentação do teatro, os alunos foram divididos em
equipes, e cada equipe escolheu a fábula, confeccionou os fantoches dos personagens e
adaptou o texto para o gênero teatro a partir da mediação da professora. O material
necessário para as atividades foi fornecido pelo colégio, como folhas de sulfite, cartolina,
cola, tesoura, etc. A janela para a apresentação dos fantoches foi confeccionada de
madeira por um pai de um aluno da turma participante do projeto. Cada atividade era
impressa e os alunos colavam os textos e as questões em um caderno pequeno de
linguagem formando um caderno de leitura e compreensão textual. Algumas atividades
foram realizadas individualmente, outras em grupos, dependendo da necessidade
pedagógica.
Para iniciar o projeto conversamos com os alunos explicando sobre o que se
tratava, o que é PDE, qual a necessidade de se desenvolver um trabalho dessa extensão, o
motivo da escolha da turma, do assunto, o processo do desenvolvimento do projeto, a
metodologia aplicada no decorrer das atividades, a importância da participação e o
envolvimento deles na execução das atividades.
Como motivação apresentamos aos alunos uma imagem da fábula A cigarra e a
formiga, disponível no portal diaadiaeducacao.gov.pr.br, na TV multimídia. Os alunos r
econheceram com facilidade os animais presentes na imagem e a que fábula pertenciam.
Identificaram também qual parte da história referia-se tal imagem, comentaram sobre as
duas versões mais conhecidas da fábula: a formiga má e a formiga boa, porém, não
souberam informar o nome dos autores dessas versões. Fizeram referência sem
dificuldade sobre a característica atribuída à formiga tida como trabalhadeira, precavida,
e a cigarra como despreocupada, irresponsável com a sua própria vida, embora
ressaltaram que faz parte da natureza da cigarra cantar no verão. Sobre a moral da história
todos concordaram que a atitude mais correta é da versão em que a formiga acolhe a
cigarra e lhe dá abrigo.
Sobre o gênero fábula, quando questionados, os alunos responderam o seguinte:
“é uma história com desenho, não baseada em fatos reais”, “é uma história para crianças”.
Não falaram sobre as personagens que geralmente são animais, não souberam comentar
sobre a escolha do tema da fábula relacionando-o com as atitudes e comportamentos das
pessoas. Sobre os autores das fábulas não souberam citar nenhum nome.
Após essa introdução e apresentação do gênero fábula, os alunos receberam
recortes da fábula A cigarra e a formiga de La Fontaine (adaptada). A maioria deles
montou o texto na ordem correta da narrativa, alguns inverteram essa ordem. Em seguida
fizemos a leitura da narrativa para que os alunos acompanhassem a sequência correta da
história. Então colaram o texto no caderno e fizeram uma ilustração para a mesma.
Na sequência, eles assistiram ao vídeo da fábula A cigarra e a formiga, produção
de Walt Disney, disponível em diadiaeducacao/recursos didáticos - animações - Língua
Portuguesa. Depois que assistiram ao vídeo os alunos tiveram um momento de conversa,
reflexão, indagações e fizeram comentários relacionando o conteúdo entre texto, a
imagem e o vídeo. Nesta versão as formigas acolhem a cigarra dentro do formigueiro,
colocam um balde de água quente em seus pés congelados para aquecê-los. Os alunos
gostaram do desenho animado, do cenário, da música, demonstraram mais interesse pelo
vídeo do que pelo texto impresso, tanto que pediram para vê-lo novamente.
Com a fábula Assembleia dos Ratos, estabelecemos o contato do aluno com o
gênero em estudo, gerando discussão sobre as condições de produção levando os alunos a
refletirem sobre: Onde encontramos textos como este? Quem são os leitores de fábulas?
Qual é a finalidade de um texto como este? O que aprendemos com ele? Entre outras
questões. A atividade desenvolveu-se com a exploração de questões discursivas levando
os alunos a refletirem sobre o escritor do texto, omotivo da escolha dos animais,entender
o significado de certas expressões presentes no texto, relacionar a situação da história
com a situação de vida real. Na resolução dessa atividade os alunos apresentaram
dificuldade com a compreensão implícita e com as expressões contidas no texto como por
exemplo "fazendo sonetos à lua", " pomo-nos ao fresco a tempo", " casmurro" "dar nó".
Eles não sabiam o que significava essas expressões e que sentido tinham no texto.
Apresentaram dificuldades para entender a finalidade e a intencionalidade do texto.
A fábula “O galo que Logrou a Raposa”,teve como proposta de trabalho a análise
do texto para construção de sentidos considerando os elementos da análise linguística. O
que mais os alunos gostaram foi das atividades de recorte e colagem e do jogo da
memória, o lúdico sempre é mais atrativo. Faz-se necessário a mediação do professor
para os alunos reconhecerem os elementos linguísticos essenciais na construção de
sentido.
A fábula “O Lobo Velho” teve uma ótima receptividade pelos alunos, eles
completaram o texto com algumas palavras que foram retiradas e que estavam no banco
de dados, então era só encontrar o lugar certo para cada palavra dando sentido à narrativa.
Os alunos tiveram dificuldade de concentração e mostraram-se impacientes na realização
da atividade, não queriam pensar, reler o texto, refletir, queriam logo que a professora
completasse o texto para eles. Acharam difícil ter que pensar, analisar e encaixar a
palavra no lugar devido, queriam colocá-las em qualquer lugar mesmo sem nexo, sem
sentido, o importante para os alunos era terminar a tarefa, não importando se estava certa
ou errada.
O texto “As Duas Cargas”, tinha como proposta a apresentação da sequência da
narrativa, a fim de possibilitar aos alunos a compreensão da ordem das ações na
composição textual. Cada aluno recebeu uma cópia da fábula e enumerou em ordem
crescente descobrindo a ordem do desenvolvimento das ações. A maioria acertou a
sequência da história, foram enumerando pela lógica dos acontecimentos, alguns, porém,
não conseguiram completar sozinhos a atividade, precisaram da mediação da professora
ou de colegas que já tinham terminado a atividade. Movimentou bastante os alunos,
indagaram sobre a sequência, participaram com interesse.
As questões discursivas foram bem pertinentes à reflexão. Uma das atividades
solicitava a construção de um acróstico tendo como palavra centrala palavra LEITURA e
a partir de cada letra dessa palavra criar outras que tivessem relação com o tema leitura.
Os alunos tiveram dificuldade em formar outras palavras,frases ou um pequeno texto,
alguns escreviam qualquer palavra não tendo ligação com o contexto, mas a maioria dos
alunos conseguiu completar todas as letras com insistência e um pouco mais de
dedicação. Percebe-se que os alunos de forma geral não gostam de desafios que os faça
pensar, que tenham que se concentrar, são muito imediatistas, se não conseguem resolver
de primeira, querem desistir. Nas questões de compreensão textual foram bem
participativos, opinaram bastante a respeito das atitudes dos dois personagens da fábula,
foram críticos em seus comentários.
Para trabalhar a intertextualidade na construção de sentido, tomamos como apoio
o como texto“A Pomba e a Formiga” em prosa e um texto em forma de poema tratando
do mesmo tema, para mostraraos alunos como esses gêneros se cruzam entre si
abordando a mesma temática. Um aluno por livre vontade fez a declamação do poema na
versão de autoria de La Fontaine. O texto em prosa é de autoria de Esopo - adaptada.
Após a leitura dos textos, iniciou-se uma discussão com a turma sobre as
diferenças de produção dos textos e dos autores. Os alunos gostaram mais do texto em
prosa porque a linguagem é mais simples, a estrutura é mais do cotidiano deles, e na
prosa eles percebem o desenrolar das ações, já no poema, não conseguiram perceber a
ordem dos fatos e não entenderam alguns vocábulos que não são do repertório dos alunos.
Quanto à característica da pomba nomundo animal não foi de fácil percepção dos alunos,
visto que muitos não tinham nenhum conhecimento sobre este pássaro, sendo de leitura
informativa ou através de histórias, ou de conversa de adulto, então assimilar a ação da
pomba na história de salvar a formiga não fez muito sentido por falta desse
conhecimento. Eles fizerem inferência em relação a ação da formiga dessa história com a
narrativa trabalhada anteriormente “A Cigarra e a Formiga”, que em ambas as histórias a
formiga foi prestativa.
Na realização das questões de compreensão escrita a mediação da professora foi
necessária para que os educandos tivessem um conhecimento mais apropriado e coerente
a respeito da intencionalidade e funcionalidade textual. Na questão de desembaralhar as
letras para formar os nomes dos animais que fazem parte de alguma fábula conhecida, os
alunos mostraram-se interessados na realização da atividade, ficavam alegres quando
conseguiam decifrar o nome de algum animal, mais uma vez percebe-se que o lúdico atrai
mais a atenção dos alunos, desde que haja grau de dificuldade que os faça pensar ou que
precisem repetir mais vezes a execução da tarefa.
Para o trabalho de construção de inferências optou-se pela fábula “O Rato da
Cidade e o Rato do Campo”por apresentar dois espaços sociais diferentes, socializando os
conceitos que vão além do texto. O assunto tratado na fábula foi bem de acordo com a
realidade de muitos alunos, isto é, uma grande parte deles mora, morou ou tem parentes
que moram no interior, denominação regionalpara campo. Segundo relato dos alunos a
vida no interior não é mais tão tranquila como há algum tempo , um aluno relatou que
seus avós foram vítimas de assalto, e que hoje em dia não se pode deixar a casa fechada e
ir para a roça, existe uma onda de assaltos no interior, e o perfil dos assaltantes são jovens
que conhecem a rotina dos proprietários, e praticam o roubo porque querem ganhar
"dinheiro fácil", isto é, sem trabalho honesto. Os educandos reconhecem que é importante
o trabalho das pessoas que moram no campo e que não são valorizadas como mereciam,
afinal é da roça que vem muitos dos alimentos para a cidade. Também discutiram sobre a
questão da alimentação ser mais saudável no campo. Na fábula, o rato da cidade tinha
mais opções de alimentos, não sendo necessariamente mais saudável. Foi um texto onde
os alunos tinham conhecimento do assunto e por isso participaram bastante, opinando,
relatando, contando experiências vividas.
“A Galinha Reivindicativa”, apresentava uma proposta de trabalho com a relação
de causa e consequência. Para começar questionamos os alunos sobre o significado da
palavra reivindicativa, eles não faziam ideia do que significava, mas deram alguns
palpites, depois consultaram o dicionário e conferiram o significado com a resposta deles.
Alguns tiveram suas respostas aproximadas com a definição do dicionário, o que os
deixou confiantes e satisfeitos. Os alunos responderam por escrito às questões de
interpretação textual, dando o parecer deles sobre quando e como reivindicar os direitos,
valores da profissão, certas profissões não são valorizadas porque as pessoas não têm
estudo, outras profissões as pessoas ganham pouco, ou seja,o salário deveria ser melhor
pela função que desempenham, citaram como exemplo os que recolhem o lixo da cidade,
o que seria do povo se não tivesse quem fizesse a coleta do lixo. Reconheceram que as
pessoas não sabem usar dos direitos que têm, entretanto, algumas se acham cheias de
direito sem ao certo tê-lo. Com isso, os alunos puderam concluirque não se deve exercer
uma profissão só pelo dinheiro, sem gostar daquilo que faz, mas procurar exercer uma
profissão que se sinta feliz, porque muitas pessoas não gostam do que fazem e tratam os
outros mal, sem respeito e educação. Citaram como exemplo motoristas de ônibus,
atendentes de balcão de lojas, postos de saúde, entre outros. Alguns alunos deram razão
pra galinha da narrativa e acharam que ela estava certa em reivindicar seus direitos, e que
todos são iguais independendo do que faz.
A partir da narrativa o“Caracol e a Pitanga”levamos para os alunos atividades de
transposição do ficcional para a realidade, com questões diversificadas como caça-
palavras, pintar as características referentes a cada animal da fábula, questões discursivas
indagando sobre as atitudes e o comportamento dos personagens, como por que o título
não leva o nome dos personagens como na maioria das fábulas, comparando e analisando
o comportamento da formiga com os das pessoas que vivem apressadas, sem tempo para
aproveitarem a vida de uma forma mais saudável e com qualidade. Os alunos acharam o
texto filosófico, e debateram sobre o caracol não ter dado importância para os
comentários da formiga, seguiu seu curso atrás do objetivo que queria alcançar, no caso
as pitangas, muitas vezes na vida real as pessoas deixam de fazer o que querem por "dar
ouvidos" aos comentários dos outros, muitos não têm opinião própria, não são firmes em
seus propósitos.
Como finalização do projeto os alunos apresentaram um teatro de fantoche sobre
fábulas que eles mesmos escolheram. Com o teatro, foi possível perceber a interação dos
alunos com outras turmas do 6º ano do mesmo colégio, demonstrando os conhecimentos
e conceitos que abarcaram sobre o gênero elencado. Foi uma atividade muito prazerosa,
os alunos participaram com desenvoltura e entusiasmo, foram bem dinâmicos e
comunicativos.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Consideramos o resultado da implementação positivo, os alunos foram bem
participativos, interagiram nas leituras dos textos e na execução das atividades,
mostraram-se interessados, leram as fábulas selecionadas e outras fábulas leram por
iniciativa própria. Não houve imprevisto como chuva, falta de aluno ou outro motivo que
interferisse no andamento do projeto, tudo ocorreu conforme o planejado. Finalizamos no
tempo previsto e tivemos o apoio da direção, equipe pedagógica, pais e dos colegas
professores. Além disso, o projeto foi muito bem aceito no Colégio, considerado de
grande valia no processo educacional e que só veio a somar para a melhoria da
aprendizagem dos alunos. As atividades foram bem aceitas pelos alunos, que gostaram da
maneira como foi conduzido o trabalho de leitura e com frequência perguntavam quando
iam apresentar novamente o teatro de fantoche. Gostaram da metodologia, pois eles
entendiam o que faziam, o que estava acontecendo, uma vez que a sequência das
atividades como um todo e seus objetivos estavam claros, fazendo com que eles
conseguissem tomar ciência do que estava acontecendo e o que aprendiam em cada
atividade.
Em algumas atividades os alunos tiveram mais dificuldades do que em outras.
Observamos que, quando o texto era mais próximo da realidade deles, eles interagiam
melhor e com mais entusiasmo. A fábula “As Duas Cargas” não era um texto conhecido
deles e por isso alguns tiveram dificuldade em enumerar a sequência da narrativa e
interagir nas questões de interpretação. Quanto ao texto“O Rato do Campo e o Rato da
Cidade”, por ser um texto que trata de um tema do conhecimento dos alunos, a interação
foi muito mais produtiva. Fica evidente o que a autora Kleiman(2010), afirma que o
leitor só consegue interagir com as partes do texto dependendo do nível do conhecimento
prévio. E como o assunto era a vida do campo, bem de acordo com a realidade da
maioria dos alunos, a participação com comentários, relatos de experiência, de fatos
verídicos que se sucederam com pessoas próximas dos alunos, fez o texto ter sentido para
eles e a interação sem dúvida foi produtiva, teve um significado. Isso confirma o que
Silva(2002), afirma que a leitura crítica só acontece se o leitor consegue assumir uma
posição perante o texto fazendo considerações pertinentes ao texto, se o texto traz alguma
contribuição para o crescimento cultural do leitor.
Enfim, com este trabalho, buscamos contribuir com as discussões sobre leitura na
escola, a fim de buscar alternativas para suprir as dificuldades no trabalho com leitura em
sala de aula visto que hoje nas escolas, o grande desafio dos professores de Língua
Portuguesa especificamente, é ver seus alunos tornando-se leitores ativos, interagindo
com o texto, questionando e dominando a leitura dos mais diversos gêneros.
5. Conclusão
Ao assumir um caráter interventivo, no sentido de contribuir para um ensino de
leitura mais produtivo e interessante aos alunos, pode-se afirmar que os objetivos
estabelecidos nesse projeto foram almejados. Fazemos essa afirmação ao observar a
mudança de comportamento dos alunos em relação à leitura. Eles estão sempre lendo, e,
aqueles que terminam a atividade em sala de aula antes dos outros colegas, ficam lendo
em sua carteira, enquanto esperam os outros terminarem a atividade. É uma turma que
gosta de ler e compartilha o que leem, uma vez que os alunos sempre nos vem mostrar o
que estão lendo e perguntam se conhecemos tal história, se já lemos tal livro. Claramente
,oportunizamos que eles relatem o que estão lendo, façam a socialização das leituras, até
deem sugestão de leitura em sala de aula. É gratificante ver os resultados de um trabalho
de leitura que deu certo e que mostrou a importância da leitura na construção de sujeitos
ativos, formadores de uma sociedade melhor. Percebemos também que, através deste
trabalho, os alunos aprenderam a diferenciar os diferentes gêneros textuais, reconhecendo
com facilidade o gênero fábula, gênero em estudo no projeto. Este projeto de leitura em
sala de aula ofereceu aos alunos momentos de leitura crítica a fim de levá-los à
construção de novas aprendizagens e ao reconhecimento da leitura como elemento
essencial para a formação do leitor proficiente capaz de agir socialmente nas mais
diversas situações do meio em que vive.
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