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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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COLÉGIO ESTADUAL ANTONIO XAVIER DA SILVEIRA:

História Biográfica de seu Patrono

Yeda Carla Zanlorensi1

Jair Antunes2

RESUMO

Este artigo abordará um problema investigativo em torno da história e identidade do Colégio

Estadual Antonio Xavier da Silveira e a importância da preservação da memória do patrono,

Antonio Xavier da Silveira. Ainda referente ao tema, busca-se descrever a história da vida de

Xavier que está ligada à origem da cidade de Irati, fazendo com que os alunos percebam a

importância da preservação da memória como patrimônio cultural.Conhecer a nossa história

é reconhecer-se como sujeito e não como objeto da história. Assim para assimilar a história

da construção de outros povos, deve-se primeiro conhecer a história da própria cultura,

saber como se deu essa construção e como foi o processo de evolução e desenvolvimento

da mesma.

PALAVRAS CHAVE: história, memória e comunidade escolar.

1 Professora efetiva da Rede Pública Estadual do estado do Paraná. Especialista em Perspectiva do Ensino de História do Brasil e História do Paraná.

2Professor Orientador- Unicentro.

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INTRODUÇÃO

O PDE- Programa de Desenvolvimento Educacional - é uma política pública

da Secretaria de Educação do Estado do Paraná que objetiva a capacitação do

professor efetivo da rede pública, dando-lhe a oportunidade de produzir seu próprio

material didático-pedagógico e promover no âmbito escolar o debate para construir

coletivamente o saber.

Esse Programa, é portanto, uma parceria entre Secretaria Estadual de

Educação, Universidades públicas do Estado e professores efetivos da rede pública.

A UNICENTRO – Universidade na qual tal projeto está sendo desenvolvido – é um

desses centros de desenvolvimento científico ligados ao PDE.

As Diretrizes Curriculares do Paraná de 2008 e a lei nº 13 381/01, para a

disciplina de História, tornam obrigatório o ensino da História do Paraná, assim como

a história local. A partir daí, desenvolveu-se o projeto na tentativa de valorizar o

próprio indivíduo, o qual, ao pesquisar a cotidianidade à qual está inserido

redescobre sua história e cultura como parte de um todo no qual elabora seu sentido

existencial. O objetivo desse artigo é pensarmos na investigação histórica local por

meio das informações do Colégio Estadual Antonio Xavier da Silveira, localizada na

região central da cidade de Irati. Busca-se a identidade não apenas de seu Patrono,

mas também dos professores, funcionários, alunos e de toda a comunidade iratiense

em geral, pois o Colégio faz parte do presente/passado de grande parte dos

munícipes.

Um ponto importante no ensino da história concerne à articulação da história individual do aluno com a história coletiva de grupos, classes e sociedades (...) um dos objetivos do ensino da História consiste em fazer o aluno ver-se como partícipe do processo histórico. (SCHMIDT e CAINELLI. 2004. p.125).

A iniciativa de estudar o porquê do nome do Colégio ser uma homenagem ao

já falecido Antonio Xavier da Silveira, veio do fato de que lecionando a disciplina de

História nesse colégio, e as constantes perguntas dos alunos sobre quem foi essa

pessoa que legou seu nome à Instituição, nos levou a buscar informações nos

arquivos da escola, onde foi a maior dificuldade encontrada, pois não havia

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nenhuma referência sobre o assunto. Foi então que, oportunizada a possibilidade de

ingressar no programa PDE, decidiu-se pesquisar tal história do Colégio e seu

Patrono.

Para tal empreendimento investigativo, lançou-se mão de algumas

metodologias da História Cultural, tais como da metodologia da Memória Histórica,

da História Biográfica e da História Oral.3 Assim, Ecléa Bosi, Peter Burke, Jacques

Le Goff, Paul Thompson entre outros, são alguns historiadores utilizados para a

fundamentação teórico-metodológica. Abordar-se-á também as fontes escritas como

jornais, atas e livros comemorativos, além das entrevistas, materiais estes que

servirão de fonte e inspiração para os educandos se sentirem participantes da

história que os envolve.

O artigo apresentará uma breve história do município de Irati e da importância

de se preservar a memória e a história local. Busca-se despertar o interesse do

educando pela história de sua escola, através de um estudo sobre o surgimento da

escola no Brasil e em nossa cidade e apresentou-se aos alunos do 2º ano do Ensino

Médio uma síntese sobre a Instituição escolar Antonio Xavier da Silveira e a partir

daí a história biográfica de Antonio Xavier.

Neste artigo apresentam-se várias atividades e possibilidades de estudo e

espera-se que estas, contribuam para a construção de novos conhecimentos,

despertando nos educandos a importância e a valorização da história local, do meio

em que vivem.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Durante muito tempo o interesse da história estava voltada para aquilo que foi

chamado de “história oficial”, que evidenciou somente os interesses da classe

dominante, principalmente da Europa. História de grupos, famílias, pessoas que não

interessaram às classes dominantes, ficaram marginalizadas. Na atualidade vários

3 A diretriz curricular para a disciplina de História no Ensino fundamental e médio tem em sua organização os conteúdos sobre a história do Paraná de acordo com a Lei nº 13381/01, que servirá juntamente com as demais metodologias para embasar nosso trabalho.

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países, inclusive o Brasil, criaram leis que obrigam as escolas a trabalhar conteúdo

sobre as culturas afro-brasileira e indígena e a história local.

A partir do momento em que estudamos a história local, valorizamos novos

conceitos, além de criarmos uma identidade cultural mais forte, visto que o agente

histórico estaria mais próximo dos fatos.

Reznick citado por Filho, afirma sobre a história local:

Ao eleger o local como circunscrição de análise, como escala própria de observação, não abandonamos as margens (...), as normas, que, regra geral, ultrapassam o espaço local ou circunscrições reduzidas. A escrita da história local costura ambientes intelectuais, ações políticas, processos econômicos que envolvem comunidades regionais, nacionais e globais. Sendo assim, o exercício historiográfico incide na descrição dos mecanismos de apropriação — adaptação, resposta e criação — às normas que ultrapassam as comunidades locais. (Filho, 2005: p. 7)

Trabalhar a história local como estratégia de aprendizagem leva o educando a

criar sua própria historicidade e identidade. Além de fazê-lo refletir sobre o sentido

da realidade social e perceber a importância da história plural.

A transmissão de conhecimentos do passado através da oralidade, é uma

abordagem que procura representar a memória coletiva ou individual, atribuindo

sentido aos fatos relembrados.

Toda história depende, basicamente, de sua finalidade social. Por isso é que, no passado, ela se transmitia de uma geração a outra pela tradição oral e pela crônica escrita, e que, hoje em dia, os historiadores profissionais são mantidos com recursos públicos, as crianças aprendem história na escola, florescem sociedades amadoras de história, e os livros populares de história estão entre os mais vigorosos Best-sellers. (THOMPSON, 1992, p.20)

O conceito de memória nos permite entrelaçar passado e presente, ela faz

parte de nossos sentimentos, pensamentos e tudo o que sabemos ou iremos

aprender, deve-se a ela.

A memória é a capacidade que o indivíduo tem de carregar e armazenar

informações ao longo da sua história, mas nem sempre essas informações estão

claras, pois com o passar do tempo ela se deteriora,é apenas uma recordação

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parcial, não reproduz fielmente o que aconteceu, vem filtrada. Por isso a importância

de se preservar a memória que é a base do conhecimento. É através dela que

damos significado ao cotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a

vida.

Nossa memória além de ser seletiva, envolve o esquecimento de muitos fatos

que nos são imprescindíveis. Ela está presente em nós e em objetos que guardam a

memória, a história, através de lendas, monumentos. Mas é através da memória que

podemos obter conhecimento, embora muitas vezes, seja falha e incompleta.

De acordo com Le Goff “...a falta ou a perda, voluntária ou involuntária, da

memória coletiva nos povos e nas nações...pode determinar perturbações graves da

identidade coletiva” (p.367).

Le Goff descreve que mesmo a memória escrita muitas vezes, é difícil de

compreender, mas através do registro de quem faz isso passa a ter um valor e é

compreensível e acessível a todos.

A passagem da memória oral à memória escrita é certamente difícil de compreender. Mas uma instituição e um texto podem talvez ajudar-nos a reconstruir o que se deve ter passado na Grécia arcaica. (LE GOFF, 1990, p.377)

Busca-se através da memória elementos necessários para compreender o

presente a partir das reconstruções que são feitas do passado. As lembranças ou

formas de registro ou mesmo o “... “ouvir contar”: apurar o ouvido e reconhecer

esses fatos que muitas vezes podem passar despercebidos.” (p. 10), segundo Alberti

(2004), são processos delicados que cabem ao historiador reconstituir o passado

através da herança que o mesmo deixou em nós.

Assim como afirmou Le Goff, Amado e Ferreira também descrevem a

importância da intermediação do historiador para reescrever a história da memória e

tornar o teor fácil de ser compreendido por todos, mas deve-se ter atenção maior à

questão da subjetividade implícita no discurso, para que a essência da memória não

seja perdida.

...:ao recolocar a história erudita simplesmente em seu lugar, ao ser forçado a reconhecer que nenhum historiador jamais escapa às indagações de seu

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tempo, inclusive quando escreve uma história da memória-como se vê pela escolha dos temas mais frequentemente estudados nessa nova tendência historiográfica-, ele reafirma energicamente que a história pertence sobretudo àqueles que a viveram e que ela é um patrimônio comum que cabe ao historiador exumar e tornar inteligível a seus contemporâneos. (AMADO e FERREIRA, 2004, p.98)

Portanto, buscou-se desenvolver durante o processo de implementação do

projeto foi recuperar a memória do patrono do Colégio, que permanecia sem

identidade, pois muito pouco se conhecia a seu respeito. Através das ações

investigativas dos alunos e da professora, conseguiu-se informações necessárias

para a elaboração de material didático que está a disposição da comunidade

escolar.

METODOLOGIA

Ao iniciar a aplicação do projeto, levantou-se os conhecimentos prévios que

os alunos tinham a respeito da história do Colégio e do patrono Antonio Xavier e,

como já se esperava, eram muito poucas as informações que se sabia a respeito da

Instituição escolar e do seu patrono.

O momento seguinte foi trabalhar com os educandos o conceito de memória e

para isso, Bosi (2008) afirma que “As identidades individuais e coletivas têm forte

suporte na memória, uma vez que a memória é uma construção presentificada do

passado, sendo ela renovada no tempo e nas representações de seu processar nos

diversos ritmos, individualidades e coletividades”. (p.74). Discutiu-se a possibilidade

de utilizar diversas fontes como atas, entrevistas, notícias de jornais como fonte de

preservação da memória local, o que constituiu o ponto de partida para a

implementação do projeto.

Segundo Le Goff:

[...] a história deve fazer-se com documentos escritos que há [...] e [...] com tudo o que a engenhosidade do historiador permite utilizar para fabricar seu mel quando faltam as flores habituais: com palavras, sinais paisagens e telhas; com formas de campos e com maiservas; com eclipses de lua e com arreios. [...] em suma com tudo o que, sendo próprio do homem, dele depende, lhe serve, o exprime e torna

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significante sua presença, atividades,gostos e maneiras de ser. (LE GOFF, 1994, p. 107).

Além do conceito de memória trabalhou-se na Unidade 1, uma breve história

de Irati e do bairro onde o Colégio está localizado. O objetivo foi mostrar aos alunos

que todos constroem e fazem parte da história. Esta atividade desenvolveu-se em

sala de aula.

De acordo com Cainelli:

É sobretudo interessante pensar que esta forma de entender os conteúdos e a aprendizagem dos alunos está acontecendo conjuntamente com as teorias que preconizam a importância dos conhecimentos prévios dos alunos e a inclusão deste como sujeito do conhecimento não apenasrecebendo informação mas também construindo conhecimentos. (2009,p.178)

Trabalhar a história local na escola cria as condições necessárias para que a

história evolua como instrumento de conhecimento a serviço da comunidade. De

acordo com Ricardo Oriá, a escola é

O lócus privilegiado para o exercício e formação da cidadania, que se traduz, também, no conhecimento e na valorização dos elementos que compõem nosso patrimônio cultural. Ao socializar o conhecimento socialmente produzido e ao preparar as atuais e futuras gerações para a produção de novos conhecimentos, a história está cumprindo o seu papel social. (p. 130)

A escola deve fornecer aos educandos instrumentos necessários para

compreender melhor o mundo onde vive e valorizar a história patrimonial da

comunidade é um elemento indispensável para a formação do aluno como cidadão.

A primeira etapa foi de extrema importância para levar os alunos a se

interessarem pela própria história, visto que para completar essa Unidade, os alunos

deveriam ter mais informações a respeito de seu próprio nome. Muitos ficaram

admirados pela escolha e quiseram saber mais fatos sobre a vida de cada um.

Na etapa seguinte, trabalhou-se com a história da educação no Brasil e em

Irati. Os alunos não sabiam que no ano de 1920, meninos e meninas estudavam

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aqui em Irati em turnos distintos e, que geralmente, professores homens lecionavam

para os meninos e as professoras para as meninas. Fato curioso que chamou a

atenção dos alunos.

Passadas essas informações para os alunos, organizou-se grupos que

deveriam elaborar questões para a realização de pesquisa de campo com

funcionários e a comunidade em geral que participou da construção da história da

Instituição escolar. As entrevistas foram acompanhadas pela professora.

A importância do estudo da história local está na tentativa de valorizar o próprio indivíduo que redescobre sua história e cultura.O aluno quando entra na escola já é um cidadão, porém precisa conhecer as bases da cidadania, se conhecer e conhecer a sociedade onde vive. A escola é a mediadora de fazer lembrar ou esquecer de fatos que são pertinentes a vida do aluno como cidadão. Essa história passa a ter um novo sentido. Dessa maneira, é possível se reconhecer como sujeito da história e não como objeto. Assim, para assimilar a história da construção da cultura de outros povos, deve-se primeiro conhecer a história da própria cultura, saber como se deu essa construção e como foi o processo de evolução e desenvolvimento da mesma.

Para trabalhar a história de vida de Antonio Xavier em sala de aula eram

poucas as informações que tínhamos a respeito do mesmo. Sabia-se apenas que

ele era da Lapa, havia trazido a primeira bola, a primeira bicicleta, que foi fundador

do Iraty Sport Club, do Rotary Club, da Associação de Pais Cristãos. Isso não era

suficiente. As informações coletadas sobre Antonio Xavier foram difíceis de serem

encontradas pois, documentos oficiais a seu respeito são poucos. Essa pesquisa

realizou-se no primeiro ano do PDE tendo a participação da professora e algumas

pessoas que tinham conhecimento sobre a história de Irati.

A partir das entrevistas realizadas e das informações recolhidas, pode-se

construir um material didático escrito e com imagens, para servir de fundamentação

teórica sobre a história do Colégio e do patrono, que está disponível no Colégio para

ser usado por professores e alunos do município, bem como da comunidade local.

Junto a esse material pedagógico, elaborou-se um vídeo, interpretado pelos alunos

do Ensino Médio, que retratou em 12 minutos a vida de Antonio Xavier, o treino de

bola que fazia com os meninos e homens da época e a manipulação que o mesmo

fazia na farmácia, da qual era proprietário.

Na etapa final da Implementação do Projeto, junto com as demais colegas do

PDE, apresentou-se as produções para a comunidade escolar e para aqueles que

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contribuíram com as entrevistas concedidas. Foi uma manhã cultural que contou

com a presença de todos que colaboraram com o trabalho desenvolvido.

Outra atividade que aconteceu durante o PDE, foi a de intervir como

professor-tutor do curso GTR aos professores do Estado do Paraná.

O PDE disponibiliza aos professores da Rede Estadual de Ensino participar

do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que promove discussões acerca do tema

proposto pelo professor que está implantando o Projeto no estabelecimento onde

leciona, seja com os alunos, professores ou comunidade escolar. É um momento

privilegiado para socialização das produções do Professor PDE e interação entre os

colegas da Rede Estadual de Ensino.

A proposta do curso foi à apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica

na Escola onde se deveria ressaltar o levantamento da problemática do objeto de

estudo. As contribuições dos colegas, reforçaram a importância e a pertinência em

estudar a história local e oral. Muitos alunos não sentem prazer em estudar história

porque entendem que a mesma sempre está atrelada ao passado e não tem ligação

nenhuma com o presente, ou que está muito distante, não conseguem se perceber

como sujeitos capazes de mudar a própria história, por isso a importância em se

estudar a história local.

A socialização da produção didático- pedagógica, possibilitou a troca de

idéias, entre os professores da Rede, sobre a fundamentação teórica e a

metodologia empregada na Produção Didático Pedagógica. Foi questionada a

possibilidade de se trabalhar com o 6º ano, mas fez-se a opção com o Ensino Médio,

porque era necessário fazer pesquisas em campo, e a responsabilidade com os

alunos pequenos era maior. Comentou-se ainda que trabalhar com a história local e

oral demanda um tempo que não dispomos em sala de aula, mas para que

pudéssemos colher resultados, trabalhamos em contra turno.

Socializar os avanços e desafios encontrados durante a Implementação

Pedagógica, foi outro objetivo do GTR. A maior dificuldade encontrada na

Implementação, foi a de fazer os alunos transcreverem as entrevistas na íntegra,

para que não se perdesse nenhum detalhe. Desde o início da Implementação até a

finalização, tudo ocorreu dentro do esperado e o resultado foi satisfatório.

Conseguimos acumular vários dados os quais nos deram suporte para escrever e

organizar o material didático, em forma de um pequeno livro, que está a disposição

do Colégio e da comunidade.

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Através da pesquisa e coleta de todo o material, pode-se resgatar a história

do nosso Colégio que estava esquecida e motivar professores e alunos a se

tornarem pesquisadores, além de preservar a memória local. Assim, despertamos

nos alunos a consciência de pertencimento, de identidade e de participação na

construção da história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apresentados neste artigo tiveram como objetivo sensibilizar a

comunidade escolar e os professores para a importância de se preservar a memória

local. As memórias analisadas neste trabalho, embora construídas sobre o passado,

não foram capazes de dar conta do que aconteceu no passado. As memórias são

falhas porque apresentaram como referência acontecimentos parciais do passado,

mas todas trazem dados significativos sobre a memória local.

Os temas relacionados à história local, permite que o professor faça uso dos

mesmos, desde o Ensino Fundamental e Ensino Médio, isso é o que desejamos com

nossa pesquisa, que ela possa atingir a todas as séries do nosso Colégio, pois

permite que possam os conhecer a história do patrono.

O trabalho com a documentação sobre a história local, não se dissocia dos

conteúdos formais, visto a necessidade de se trabalhar a História do Paraná,

obrigatório em nosso currículo escolar. Este é um ensino que não está preso aos

livros didáticos, mas está aberto ao debate, isso faz o aluno pensar, refletir, intervir

na história.

Através das entrevistas realizadas pelos alunos, conseguimos perceber que

tudo isso contribuiu para o desenvolvimento da consciência histórica dos alunos.

Pois quando entraram em contato com os moradores do bairro, professores,

funcionários que participaram da construção do Colégio e daqueles que conviveram

com o patrono, os alunos transformaram o seu modo de perceber o bairro, o

Colégio.

O desenvolvimento das atividades buscou trabalhar a história local como um

“lugar” que nos dá identidade e o sentimento de pertencimento. Passamos a ver a

mesma história com outros olhos. O trabalho com entrevistas, pesquisas, mostrou

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aos educandos que os acontecimentos da região estão interligados aos

acontecimentos mundiais, o que torna a aprendizagem mais interessante.

Podemos concluir que quando resgatamos o passado a partir do presente,

das falhas de nossas memórias, da nossa limitação, guardamos dele aquilo que foi

importante para nós e permaneceu importante.

REFERÊNCIAS

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