os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016-06-10 · há várias interpretações...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
1. Professora PDE de Química, pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Paranaense – UNIPAR, atua no CEEBJA – Colorado. Rua Prefeito Rafael Gil, 560, Centro. CEP: 86690-000. Colorado, PR. 2. Professora Dra em Educação para a Ciência e a Matemática - UEM. Av. Colombo, 5790 – Campus Universitário. CEP: 87020-900. Maringá, PR.
DESCOBRINDO E ENTENDENDO A QUÍMICA NO ESTUDO DAS
SOLUÇÕES
Maria Aparecida Torres Fachin [email protected]
Marilde Beatriz Zorzi Sá2 [email protected]
Resumo: Este artigo é o resultado de uma implementação pedagógica que foi realizada com alunos da disciplina de Química do Ensino Médio do CEEBJA – Colorado, com objetivo estudar soluções e suas concentrações relacionando-as com produtos de seu cotidiano. O foco do mesmo foi trabalhar de forma contextualizada e diferenciada utilizando para tal, análise das especificações contidas em rótulos das embalagens dos produtos químicos de uso doméstico, de medicamentos, de bebidas e outros produtos comerciais. Para tanto, fez-se uso de diferentes estratégias didáticas, tais como: questionamentos investigativos, vídeos, imagens, experimentos, pesquisas, painéis, cartazes, palestras, procurando relacionar o assunto com saúde e meio ambiente. Percebeu-se que os resultados foram satisfatórios, pois a metodologia utilizada provocou maior envolvimento e interesse dos alunos com as atividades desenvolvidas contribuindo assim, com a construção do conhecimento de forma significativa.
Palavras-Chave: soluções, estratégias de ensino, análise de rótulos.
INTRODUÇÃO
A Química está presente no cotidiano das pessoas, mas há uma grande
dificuldade por parte delas em reconhecê-la nas substâncias presentes em suas
vidas. Um dos fatores que gera essa dificuldade é como os conceitos químicos são
trabalhados ao longo da Educação Básica. Muitas vezes são apresentados
totalmente descontextualizados da vida dos alunos e estes não conseguem
compreendê-los e relacioná-los com sua realidade (MORTIMER; MACHADO;
ROMANELLI, 2000).
De acordo com Maldaner (2003), a atuação dos professores está vinculada a
formação recebida na universidade para o exercício do magistério. Em muitos
cursos de licenciatura, os alunos concluem, sem terem problematizado o
conhecimento específico da disciplina que vão atuar e recorrem, na maioria das
vezes, aos livros didáticos e apostilas disponíveis no mercado.
A maioria dos educadores, por uma série de razões – salários defasados,
número excessivo de aulas, pouco tempo para dedicar-se aos estudos e
atualização, falta de oportunidades para seu aperfeiçoamento profissional, falta de
infraestrutura escolar – não conseguem preparar e ministrar suas aulas de forma
contextualizada e adotam metodologias de ensino que se enquadram na sua
realidade e se obrigam a utilizar os livros didáticos como único instrumento
metodológico.
Além disso, alguns professores de Química também apresentam dificuldades
em relacionar os conceitos químicos com atividades da vida cotidiana. Suas práticas
pedagógicas, na maioria das vezes, priorizam a reprodução do conhecimento, a
memorização, a cópia, a resolução de exercícios (SOARES, 2006; TREVISAN;
MARTINS, 2006).
Portanto, torna-se um desafio para muitos professores superar suas
limitações de formação, buscando alternativas que propiciem a realização de um
trabalho contextualizado, procurando evitar a fragmentação do conhecimento
químico nos processos de ensino e de aprendizagem.
Abordagens do processo de ensino e aprendizagem
O processo de ensino e de aprendizagem tem sido estudado por diversos
pesquisadores, que formalizam suas teorias como forma de explicar e compreender
como ocorre a construção de conhecimentos. Há várias interpretações sobre o
conhecimento dos fenômenos educativos (SANTOS, 2005).
Das abordagens do processo de ensino e aprendizagem, vamos destacar três
abordagens teóricas conhecidas no meio educacional: a tradicional, a cognitivista e
a sociocultural, para melhor compreendermos o fenômeno educativo do país nas
últimas décadas.
A abordagem tradicional, segundo Santos (2005), caracteriza-se pela
transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade, centrado na figura do
professor. Somente ele detém o saber e cabe ao aluno absorver todos os
conhecimentos (MIZUKAMI, 1986). Para Saviani (1984, p.9), o papel da escola “é
difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade”.
Nesta abordagem predomina no processo de ensino e aprendizagem, aulas
expositivas com exercícios de fixação, leituras e cópias (SANTOS, 2005).
A abordagem cognitivista propõe analisar a mente, o ato de conhecer, como o
homem desenvolve seu conhecimento acerca do mundo, analisando os aspectos
que intervém no processo “estímulo/resposta”. Seguindo esse modo de
compreensão, Moreira (2011, p. 15) afirma que “a filosofia cognitivista preocupa-se
com os processos de compreensão, transformação, armazenamento, e usa das
informações envolvidas no plano da cognição”.
Estudos teóricos, na área da Psicologia Cognitiva, desenvolvidos por Piaget e
Vigotsky, serviram de pressupostos para teóricos do campo educacional, que
baseados nas teorias cognitivas desenvolveram a teoria de aprendizagem
denominada construtivismo.
De acordo com Santos (2005), na abordagem cognitivista o aprendizado é
decorrente da assimilação do conhecimento pelo sujeito e também pelas
modificações mentais já existentes. O professor deve criar situações desafiadoras e
desequilibradoras, visando desenvolver a inteligência, considerando o contexto
social no qual o aluno está inserido. O processo de ensino e de aprendizagem deve
ser baseado no ensaio e no erro, na pesquisa, na investigação, na solução de
problemas, facilitando o “aprender a aprender”, dando ênfase nos trabalhos de
pesquisa e em jogos (SANTOS, 2005).
A abordagem sociocultural tem origem no trabalho de Paulo Freire e no
movimento de cultura popular, com ênfase na alfabetização de adultos,
caracterizada abordagem interacionista, considerando o sujeito como elaborador e
criador do conhecimento (SANTOS, 2005). A educação é vista como um ato político,
deve criar condições para que o indivíduo se desenvolva, tenha uma consciência
crítica de sua realidade, procurando transformá-la e melhorá-la (SANTOS, 2005).
Para Moreira (2011), o professor deve assumir o papel de mediador no
processo de ensino e aprendizagem. Os objetivos educacionais devem ser definidos
a partir das necessidades concretas dos sujeitos, considerando o contexto histórico-
social no qual estão inseridos (SANTOS, 2005).
Após reflexões das abordagens de ensino e aprendizagem, entendemos que
se torna necessário buscar uma ação pedagógica que valorize o conhecimento que
o aluno traz de seu cotidiano, como ponto de partida para o ensino de Química,
tendo como objetivo prepará-lo para viver e atuar na sociedade no qual está
inserido. Além disso, precisa-se trabalhar de forma contextualizada para dar
significado aos assuntos abordados e para atender às novas tendências de ensino e
aprendizagem principalmente na educação de jovens e adultos.
Educação de jovens e adultos
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), como modalidade de ensino, tem
como objetivo o compromisso com a formação de educandos jovens, adultos e
trabalhadores, que não tiveram acesso ou não deram continuidade aos estudos na
idade considerada própria para que ocorresse (PARANÁ, 2006).
A proposta curricular para a formação do educando na modalidade EJA, deve
fornecer subsídios necessários para que esses educandos se afirmem como sujeitos
ativos, críticos, criativos e democráticos (PARANÁ, 2006).
É característica dessa modalidade de ensino (EJA), a diversidade do perfil
dos alunos, com relação à idade, ao nível de escolaridade, a sua situação
socioeconômica e cultural, ao trabalho e as razões pelo qual procuraram a escola
para concluírem seus estudos. Visando atender a diversidade desses educandos, é
preciso que a Educação de Jovens e Adultos proporcione seu atendimento por meio
de formas diferenciadas de socialização dos conhecimentos e culturas (PARANÁ,
2006).
A rede Estadual de Educação, na redefinição da proposta pedagógica-
curricular da EJA, buscou manter as características de organização que melhor
atendem essa modalidade de ensino que permitissem ao educando percorrer
trajetórias de aprendizagens não padronizadas, respeitando o ritmo de cada um; e
organizando o tempo escolar a partir do tempo disponível do aluno-trabalhador.
Os conteúdos escolares devem ser abordados integralmente, mas com
encaminhamento metodológico diferenciado, levando em consideração as
especificidades dos alunos da EJA; não esquecendo que esse alunado possui
bagagem cultural e conhecimentos adquiridos em outras instâncias sociais
(PARANÁ, 2006).
Assim, buscando seguir as orientações contidas nas Diretrizes Curriculares
da Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná e atender as especificidades
desse educando, propomos o desenvolvimento de alternativas metodológicas que os
auxiliem na compreensão do conceito químico soluções.
O ensino de Química: Concentração de Soluções
Para que o aluno possa desenvolver uma aprendizagem com significados, o
ensino de Química deve relacionar os conteúdos propostos com fatos concretos do
dia a dia, promovendo aprendizagens que sejam úteis em sua vida diária. O aluno
precisa sentir a importância, necessidade e utilidade de aprender Química como
algo que está inserido em sua vida, como algo que lhe desperte a vontade de
aprender. Segundo Demo (1998, p.17), “(...) o que se aprende na escola deve
aparecer na vida”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1999) nos lembram de que
atualmente o ensino de Química,
(...) pressupõe um número exagerado de conteúdos, muitas vezes com um detalhamento exagerado desconsiderando-se a participação efetiva do aluno no diálogo mediador da construção do conhecimento (BRASIL, 1999, p.32).
É preciso formar alunos críticos, que possam interferir na sociedade na qual
estão inseridos, a fim de melhorarem sua qualidade de vida. E para que isso ocorra
é necessário que disponham de informações a respeito dos produtos químicos
utilizados em seu cotidiano (SANTOS & SCHNETZLER, 2003).
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná de Química orienta que a
abordagem dos conteúdos no ensino da Química deve priorizar a construção e
reconstrução dos conceitos científicos, vinculada a contextos históricos, econômicos,
sociais e culturais, fundamentado em resultados de pesquisas (PARANÁ, 2008).
Considerando os objetivos anteriormente colocados, acreditamos que a
contextualização no ensino de Química constitui uma alternativa para a formação do
aluno. Assim:
O ensino para a cidadania não se restringe ao fornecimento de informações essenciais ao cidadão, tarefa necessária, mas não suficiente. Aliada à informação química, o ensino aqui defendido precisa propiciar condições para o desenvolvimento de habilidades, o que não se dá por meio simplesmente do conhecimento, mas de estratégias de ensino muito bem estruturadas e organizadas. Assim o ensino para o cidadão precisa levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos, o que pode ser feito por meio da contextualização dos temas sociais, na qual se solicita a opinião dos alunos a respeito do problema que o tema apresenta antes mesmo de o mesmo ser discutido do ponto de vista da química (SANTOS & SCHNETZLER, 2003, p.113).
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná de
Química, crítica à valorização do formalismo matemático dado ao ensino de
concentração de soluções, o que muitas vezes dificulta a compreensão do
significado das concentrações das soluções no contexto social em que seus valores
são aplicados (PARANÁ, 2008).
Muitas substâncias com as quais os alunos se deparam no seu dia a dia se
apresentam como soluções, como por exemplo: água mineral, ar atmosférico,
produtos de limpeza, bebidas, medicamentos. Segundo Carmo (2010), entender as
soluções sob o ponto de vista qualitativo poderia levar os alunos a compreender
melhor alguns aspectos de seu cotidiano, além de proporcionar uma melhor
compreensão de outros assuntos de química.
Assim, buscando alternativas metodológicas que auxiliem os alunos na
compreensão dos conceitos químicos, elaboramos e colocamos em prática esse
trabalho, que aborda concentração de soluções de maneira contextualizada,
procurando dar significado aos conceitos científicos no ensino de química.
DESENVOLVIMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Para atender ao exposto elaboramos um projeto de intervenção pedagógica
que foi implementado com uma turma de vinte e dois alunos do turno da noite, da
disciplina de Química do Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos
de Colorado – Pr, com o seguinte perfil:
a- faixa etária: entre 18 e 41 anos;
b- ocupação: 86,36% são trabalhadores desempenhando as mais variadas
funções, entre elas: babá, montador de móveis, auxiliar de eletricista, eletricista,
auxiliar de mecânico, mecânico, auxiliar de informática, manicure, operador de caixa,
operador de máquinas agrícolas, vendedor, trabalhador rural, 13,63% não
trabalham;
c- escolaridade: 54,54% dos alunos concluíram a educação básica, segunda
fase, no ensino regular e 45,45% concluíram na EJA.
d- motivos pelo qual desistiram do ensino regular e estão estudando na EJA:
40,90% conciliar trabalho com estudos; 31,81% muita dificuldade no entendimento
dos conteúdos e reprovas consecutivas; 13,63% falta de incentivo familiar; 9,09%
casamento precoce; 4,54% gravidez.
As atividades do projeto de implementação foram organizadas em cinco
momentos de aprendizagem, num total de 32h/a. As estratégias de aprendizagem
utilizadas na abordagem dos conteúdos químicos possibilitaram a participação e
valorização dos conhecimentos prévios dos alunos. Realizamos questionamentos
iniciais, levantamento de hipóteses, observação, leituras, experimentos, vídeos,
pesquisas, análise de rótulos de produtos químicos domésticos, de medicamentos,
exames de sangue, entre outras que possibilitaram atingir os objetivos propostos.
A seguir, descrevemos brevemente cada momento da implementação do
projeto:
MOMENTO I: Reconhecimento das soluções no cotidiano
A. Levantamento do conhecimento prévio dos alunos
No primeiro momento trabalhamos com questionamentos orais visando
identificar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito dos produtos químicos de
uso domésticos e de medicamentos que fazem parte de seu cotidiano e que
consideram “solução”. As informações foram anotadas e discutidas servindo,
portanto de orientador para outras atividades.
A seguir foram apresentadas imagens de produtos de limpeza, bebidas,
medicamentos e outros. Em duplas classificaram as imagens consideradas soluções
preenchendo uma tabela. Cada dupla apresentou sua classificação e a professora
fez as devidas intervenções.
B. Experimento
Antes de iniciar o experimento, foram realizados alguns questionamentos
orais, tais como: É possível dissolver sal de cozinha em água? Se colocar uma
medida de sal de cozinha em um copo de água, o sal vai dissolver? E se colocar
duas medidas de sal de cozinha em um copo com água o que vai acontecer? E se
utilizar três medidas? Substituindo o sal por açúcar, o que acontece com o
procedimento? E se usarmos areia? Qualquer substância é solúvel em água? É
possível dissolver apenas sólido em líquido? Com o objetivo de levantar os
conhecimentos prévios dos alunos. Suas respostas indicaram conhecimento sobre o
assunto.
Divididos em grupos, os alunos utilizando os materiais disponíveis realizaram
misturas do tipo: homogênea: líquido + sólido; homogênea: líquido + líquido;
heterogênea: líquido + sólido; heterogênea: líquido + líquido.
Os experimentos e resultados foram socializados e discutidos. Os grupos
apresentaram as soluções preparadas indicando o volume e a medida (colheres)
utilizada. Houve intensa participação dos alunos na realização da atividade.
C. Texto explicativo/informativo
Em trios, os alunos leram e discutiram o texto: Soluções, Colóides e
Agregados, (SANTOS e MÓL, 2010) que aborda os conceitos referentes a esses
assuntos. Após leitura elaboraram um cartaz explicativo com os conceitos
estudados.
Com a mediação da professora elaborou-se um texto coletivo conceituando-
se mistura, solução, sistema heterogêneo, homogêneo, solvente, soluto.
D. Reconhecendo soluções no dia a dia
Nessa atividade, foram selecionados e analisados vários rótulos de produtos
de limpeza, bebidas, medicamentos e outros. Em grupos, completaram a tabela a
seguir com o nome do produto, sua composição química, utilização, modo de usar,
precauções com o seu manuseio dos produtos classificados de soluções.
Nome do
produto
Composição
química
Utilização Modo de usar Precauções
As informações obtidas pelas equipes foram comparadas e discutidas com os
demais. Foi uma atividade produtiva, os alunos observaram que algumas
substâncias são comuns em diferentes produtos de limpeza.
MOMENTO II: Compreendendo rótulos de produtos químicos presentes no
cotidiano
A. Compreendendo o rótulo de água sanitária
Os alunos, após leitura do rótulo de água sanitária responderam oralmente
alguns questionamentos relacionados às informações contidas na embalagem, tais
como: a importância dos rótulos; a realização da leitura dos mesmos; as informações
mais importantes; por que as embalagens devem ficar protegidas da luz e calor do
sol; por que não se deve misturar o produto com ácidos ou produtos a base de
amônia; as providências que devem ser tomadas em caso de acidentes domésticos
com produtos químicos. Dadas às respostas, as considerações mais importantes
foram analisadas e discutidas, sempre ressaltando a necessidade de seguir as
orientações do fabricante.
B. Compreendendo riscos e cuidados com produtos de limpeza
Nessa atividade, os alunos assistiram uma reportagem apresentada no Jornal
Bom Dia Brasil que fala dos riscos e cuidados que devemos ter com produtos de
limpeza. http:/www.youtube.com/watch?v=gJor46YJ1Hk
Em seguida, divididos em grupos responderam as seguintes questões: Que
cuidado devemos tomar para evitar acidentes domésticos com produtos de limpeza?
Como deve ser seu armazenamento? Qual o destino dado às embalagens vazias
dos produtos de limpeza? Que atitudes devemos ter para minimizar os problemas
ambientais provocados pelo descarte de embalagens?
Relataram diversas situações com acidentes domésticos e ações
desenvolvidas em suas comunidades com o descarte de embalagens. As respostas
foram apresentadas e discutidas com os demais.
C. Compreendendo a composição da água sanitária
Retomando as informações contidas no rótulo de água sanitária, em duplas,
os alunos responderam por escrito questionamentos relacionados à sua composição
química, as funções químicas das substâncias, suas fórmulas químicas, substância
responsável pelo alvejamento e a concentração de cloro ativo da solução.
As respostas foram socializadas e a partir delas outros questionamentos
realizados com o objetivo de conceituar concentração de soluções.
Complementando a atividade os alunos leram o texto: Concentração
Percentual (MORTIMER, 2005), a professora fez as orientações necessárias. Em
seguida, realizaram exercícios envolvendo cálculo de concentração.
D. Compreendendo o conceito de concentração e diluição
Inicialmente os alunos leram as instruções “modo de usar” contidas no rótulo
da água sanitária. Realizamos sete perguntas orais, com o objetivo identificar os
conhecimentos prévios dos alunos em relação aos conceitos: solução diluída e
solução concentrada e a relação que estabelecem entre esses conceitos e as
substâncias utilizadas em seu cotidiano.
A seguir os alunos em grupos receberam uma embalagem de suco de frutas
concentrado e leram as informações contidas no rótulo. As informações foram
socializadas. Solicitamos que preparassem três copos de suco: o primeiro usando os
valores sugeridos pelo fabricante para o preparo do suco; o segundo utilizando
menor quantidade de suco; o terceiro utilizando maior quantidade de suco. Os
volumes utilizados no preparo do suco foram expressos em linguagem matemática.
Questionamentos orais foram realizados com o objetivo de formular os
conceitos de: solução, solvente, soluto, solução concentrada, solução diluída.
As respostas foram socializadas com a mediação da professora e anotadas
nos cadernos.
MOMENTO III: Compreendendo o preparo de soluções
A. Preparo de soro caseiro
Os alunos leram o texto Desidratação:
http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/desidratacao/ que aborda as causas,
sintomas, diagnósticos e tratamento da doença. Após a leitura, discutimos o texto e
realizamos questionamentos orais enfatizando o uso e preparo do soro caseiro.
Em grupos os alunos prepararam um copo de soro caseiro utilizando a colher
medida.
B. Relacionando medidas
Em grupos, os alunos estabeleceram uma proporção entre a colher medida
utilizada no preparo do soro caseiro e outras medidas conhecidas, propondo nova
receita de soro caseiro. As proporções sugeridas foram socializadas.
Na sequência, utilizando a balança, estabeleceram a relação entre os valores
da colher medida e o grama, indicando a “receita” do soro caseiro em valores de
massa.
Os procedimentos foram discutidos, socializados e mediados pela professora.
C. Preparando soluções em laboratório
Vários materiais foram disponibilizados. Em grupos, os alunos realizaram o
preparo do soro caseiro utilizando as massas indicadas na atividade anterior. Em
seguida, prepararam uma solução aquosa de cloreto de sódio (NaCl), utilizando uma
massa de soluto de 30g, num volume de 100mL de solução, descrevendo seu
preparo e expressando a concentração em g/L. Outras soluções foram sugeridas e
realizadas pelos grupos.
Houve envolvimento dos alunos na realização da atividade. Os experimentos
foram apresentados, socializados e discutidos com a mediação da professora.
IV. MOMENTO: Compreendendo a concentração de soluções
A. Compreendendo o resultado de exames de sangue
Por meio de questionamentos orais fez-se um levantamento prévio dos alunos
sobre diabetes. A seguir, os alunos assistiram a um vídeo sobre diabetes.
http://www.youtube.com/watch?v=V_KhsJe4vnc. Os principais pontos do vídeo
foram discutidos e anotados.
Em duplas, os alunos receberam cópias de exames de glicemia, analisaram
as taxas de glicose comparando com os valores de referência, observando a
concentração. Foram questionados sobre a unidade mg/dl e solicitado que
expressassem a concentração da glicose do exame analisado em mg/L.
As respostas foram anotadas em papel cartaz e socializadas. Em seguida
outros exames foram apresentados e analisados pelas duplas com a mediação da
professora. Os alunos demonstraram interesse na realização da atividade e fizeram
várias perguntas buscando sanar suas dúvidas.
B. Concentração de soro fisiológico e soro glicosado
Com o objetivo de conhecer as concepções prévias dos alunos a respeito de
soro fisiológico e soro glicosado, realizamos alguns questionamentos orais. A seguir
os alunos pesquisaram sobre os soros. As pesquisas foram apresentadas e
socializadas, destacando suas concentrações.
Em grupos, os alunos prepararam uma solução de soro glicosado
descrevendo o procedimento. Outros volumes de solução foram sugeridos e
realizados experimentalmente.
Em seguida os alunos expressaram as concentrações em g/mL, g/L.
Descreveram os procedimentos e socializaram os resultados com a mediação da
professora.
C. Concentração de medicamentos
Distribuímos embalagens do medicamento Dipirona sódica (gotas, solução
oral, comprimidos). Os alunos preencheram uma tabela com as especificações das
embalagens. Em seguida analisaram e discutiram as informações da bula do
medicamento.
Em duplas, realizaram as atividades a seguir: 1) Suponha que o médico
prescreveu para um paciente 1 comprimido de dipirona sódica 500mg de 8/8 horas,
mas ele possuía a solução oral na concentração 50mg/mL. Quantos mL do
medicamento em solução oral ele deve tomar para corresponder à concentração
prescrita pelo médico? Descreva as suas conclusões. 2) O médico prescreveu para
uma criança de 15Kg, dose de 5mL de solução oral de dipirona sódica 50mg/mL
sabor framboesa, de 8/8h. A mãe possuía dipirona sódica (gotas) 500mg/mL.
Quantas gotas ela deve dar para a criança que correspondam a 5mL? 3) Um
comprimido de dipirona sódica 500mg corresponde a quantas gotas do
medicamento?
As duplas discutiram e analisaram as situações problema apresentadas.
Hipóteses foram levantadas e soluções apresentadas. As respostas foram
socializadas com a sala.
D. Automedicação.
Nessa atividade, os alunos entrevistaram um profissional da saúde sobre os
riscos da automedicação. Após entrevista, cada aluno elaborou um relato
destacando os principais tópicos da mesma.
V. MOMENTO: Compreendendo o teor alcoólico em bebidas destiladas e não
destiladas
A. Concentração de álcool em bebidas alcoólicas
Em duplas, realizaram uma pesquisa entre os estudantes das diversas áreas
da escola com o objetivo de tabularem o consumo de bebidas alcoólicas, a
frequência, a bebida mais consumida e o seu teor alcoólico. Após pesquisa, os
dados foram tabulados e divulgados em cartaz.
Num segundo momento, a turma foi dividida em quatro grupos, e realizarem a
seguinte pesquisa: Grupo 01: Classificar as bebidas alcoólicas em destiladas e não
destiladas, teor alcoólico e matéria- prima para sua fabricação. Grupo 02:
Concentração de álcool etílico no sangue em função da massa corporal, da
quantidade e do tipo de bebida ingerida. Grupo 03: Alcoolismo e a síndrome de
abstinência. Grupo 04: As penalidades previstas Código Nacional de Trânsito por
dirigir embriagado e o índice de mortes no trânsito provocadas por motoristas
infratores.
Cada grupo organizou sua pesquisa em cartaz e socializou com os demais.
Em seguida, organizou-se um painel com as informações mais importantes da
pesquisa e foi exposto para toda comunidade escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início deste trabalho, um aspecto observado foi a passividade dos alunos.
Raramente se manifestavam durante os questionamentos orais, chegando a dizer:
“quem tem que responder é a professora”, mas com o encaminhamento dado, foram
se envolvendo com as atividades propostas, participando ativamente na realização
das mesmas e assim construindo aprendizagem significativa.
Ressaltamos na introdução, que muitas vezes, os alunos não compreendem
os conceitos químicos por eles se apresentarem totalmente descontextualizados. O
estudo das soluções, a partir da analise dos rótulos de produtos químicos de uso
doméstico, como foi trabalhado no primeiro momento da implementação, possibilitou
ao aluno a compreensão do conceito químico e a identificação das diferentes
soluções presentes em seu cotidiano.
Com relação ao segundo momento da implementação, destacamos que a
maior parte dos alunos não lê as instruções contidas no rótulo da água sanitária,
desconhecendo informações como: o porquê devem proteger as embalagens da luz
e do calor do sol e não misturar água sanitária com ácidos ou produtos à base de
amônia. Com as discussões realizadas compreenderam a necessidade do
conhecimento dessas informações e os cuidados necessários com o manuseio
desse produto.
No estudo da composição da água sanitária e compreensão do teor de cloro
ativo, os alunos encontraram dificuldades no entendimento de concentração
percentual. Foi necessário retomar o conceito de porcentagem, utilizando exemplos
simples para podermos dar sequência ao trabalho. Aproximadamente 50% dos
alunos necessitaram de auxílio na resolução das atividades propostas nessa
unidade.
É interessante destacar que os estudantes apresentaram certa facilidade na
compreensão dos conceitos de concentração e diluição, realizando corretamente as
atividades expressando os volumes utilizados e as concentrações em valores
matemáticos.
Os resultados das atividades envolvendo preparo de soluções de soro
caseiro, relacionando medidas e preparo de soluções em laboratório mostrou que os
alunos conseguiam explicar os questionamentos, com diferentes níveis de
entendimento, a relação entre massa e volume no preparo de diferentes soluções.
Considerando o nosso objetivo de relacionar o estudo da concentração das
soluções com o cotidiano do aluno, de forma a conscientizá-lo de seus direitos e
deveres de cidadão, a análise dos resultados de exames de sangue foram
relevantes para que reconhecessem a interação de aspectos químicos relacionados
ao metabolismo de seu organismo e sua saúde.
Ao fazermos o uso da análise e diferenciação da concentração das soluções
de soro fisiológico e soro glicosado possibilitamos ao aluno condições de realizar
cálculos de concentração de maneira significativa, sem exigir a memorização das
fórmulas específicas para o cálculo das concentrações.
Cabe ressaltar que o trabalho desenvolvido com a concentração expressa nas
embalagens de medicamentos possibilitou ao aluno compreender que um
medicamento apresenta diferentes concentrações e que as doses administradas ao
paciente estão relacionadas a essas concentrações. Assim, estabelecendo a relação
entre as diferentes concentrações podemos esclarecer os riscos da automedicação
para sua vida.
Constatamos pelo envolvimento dos alunos, nas atividades relacionadas ao
teor alcoólico nas bebidas destiladas e não destiladas, aos efeitos do álcool no
organismo e as penalidades legais previstas no Código Nacional de Trânsito o
quanto é importante abordar conceitos químicos relacionando-os ao contexto social
do aluno, pois possibilitam uma mudança de atitude e revisão de valores.
É também importante destacar que a maioria das atividades realizadas pelos
alunos foi desenvolvida em grupos. Além de mudar o ambiente usualmente
encontrado em sala de aula, o trabalho em grupo favorece as discussões, a
comunicação e a colaboração entre os pares, aspectos essenciais na aprendizagem.
Assim, com os resultados obtidos no desenvolvimento desse trabalho,
acreditamos que estratégias diferenciadas de aprendizagem, partindo do
conhecimento prévio dos alunos e refletindo situações de seu cotidiano,
proporcionam condições dos alunos se apropriarem de conceitos químicos com
significado, além de contribuir para a construção de sua cidadania.
Durante todo o processo de implementação foi-se refletindo sobre a prática
pedagógica adotada. Observou-se que trabalhar de forma contextualizada exige do
professor maior envolvimento no preparo de suas aulas. Ele deve estar atento a
cada atividade desenvolvida pelos alunos e refletindo sobre cada uma dela, para
que as mediações sejam adequadas e proporcionem novas aprendizagens.
Esse material foi disponibilizado para o GTR (Grupo de Trabalho em Rede)
atividade executada em ambiente virtual com a participação de professores da Rede
Estadual de Educação. Ficamos satisfeitos com as discussões que ocorreram entre
os professores durante a apresentação do projeto pedagógico e da unidade didática.
REFERÊNCIAS
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ECHEVERRIA, Agustina Rosa. Como os estudantes concebem a Formação de Soluções. Química Nova na Escola, n.3, p.15-18, 1996.
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